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Curso Intensivo de Viveiros e Produção de Mudas Ivar Wendling Márcio Pinheiro Ferrari Fernando Grossi 1 .Planejamento e instalação de viveiros O viveiro de produção de mudas é uma área ou superfície de terreno, com características próprias, destinada a produção, ao manejo e a proteção das mudas até que tenham idade e tamanho suficientes para serem transplantadas no local definitivo, resistindo às condições adversas do local de crescimento e apresentar um bom desenvolvimento. O êxito de um projeto, quer tenha a finalidade de ornamentação, produção de frutos, florestas ou arborização, depende diretamente da qualidade das mudas produzidas. Mudas com sistema radicular e parte aérea bem formada, com bom estado nutricional, livres de pragas e doenças, têm altas taxas de sobrevivência e desenvolvimento após o plantio. 1.1 Instalação de um viveiro 1.1.1 Tipos de viveiro Quanto à sua duração, os viveiros podem ser classificados em temporários e permanentes, e quanto a proteção do sistema radicular, em viveiros com mudas de raiz nua ou em recipientes.

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Curso Intensivo de Viveirose Produção de MudasIvar WendlingMárcio Pinheiro FerrariFernando Grossi

1 .Planejamento e instalação deviveiros

O viveiro de produção de mudas é uma área ou superfície de terreno, comcaracterísticas próprias, destinada a produção, ao manejo e a proteção das

mudas até que tenham idade e tamanho suficientes para serem transplantadasno local definitivo, resistindo às condições adversas do local de crescimento e

apresentar um bom desenvolvimento.

O êxito de um projeto, quer tenha a finalidade de ornamentação, produção de

frutos, florestas ou arborização, depende diretamente da qualidade das mudasproduzidas. Mudas com sistema radicular e parte aérea bem formada, com bom

estado nutricional, livres de pragas e doenças, têm altas taxas de sobrevivênciae desenvolvimento após o plantio.

1.1 Instalação de um viveiro

1.1.1 Tipos de viveiro

Quanto à sua duração, os viveiros podem ser classificados em temporários epermanentes, e quanto a proteção do sistema radicular, em viveiros com mudas

de raiz nua ou em recipientes.

10 Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

Os viveiros temporários destinam-se à produção de mudas em determinadolocal durante apenas certo período e, cumprindo as finalidades a que sedestinaram, são desativados. Esses viveiros são de instalações simples,geralmente dentro da área de plantio, visando a redução de custos detransporte das mudas e melhor adaptação das mesmas às condições climáticasdo local.

Os viveiros permanentes têm por finalidade produzir mudas durante muitosanos, e por isso requerem planejamento muito mais cuidadoso, uma vez quesuas instalações são mais sofisticadas e onerosas, para suportar o maiorperíodo de produção de mudas. Geralmente, esse tipo de viveiro é instaladopróximo aos centros consumidores de mudas. A área física é dividida embenfeitorias, área de produção de mudas e área de crescimento ou viveiro deespera, que objetiva conduzir as mudas até maiores tamanhos para objetivosespecíficos (arborização urbana, praças, jardins, pomares, florestas etc.).

As mudas de raízes nuas são aquelas que não possuem proteção para o sistemaradicular no momento do plantio. A semeadura é feita diretamente noscanteiros e as mudas são retiradas para o plantio, tendo-se apenas o cuidadode evitar danos às raízes, insolação direta, vento, evitando-se o ressecamentodas raízes e posterior morte das mudas.

As mudas produzidas em recipientes apresentam o sistema radicular protegido,ou seja, envolto em um substrato que o recipiente contém. Os recipientes,quando biodegradáveis (palha, papel, embalagens hidrossolúveis), podem serplantados com as mudas. Porém, para embalagens não biodegradáveis, oprocedimento correto para o plantio é o de retirar a muda da embalagem paraliberar as raízes e facilitar o pegamento.

1.1.2 Escolha do local

Na escolha do local para instalação do viveiro, os principais pontos a seremconsiderados são:

1) disponibilidade de água em qualidade e quantidades satisfatórias;

2) facilidade de acesso;

3) proximidade da área de plantio e/ou comercialização;

11Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

4) ausência de ventos fortes;

5) boa disponibilidade de mão-de-obra;

6) local bem arejado e ensolarado;

7) solo com boa drenagem;

8) localização à meia encosta;

9) a área do viveiro deve ser plana ou com até 3% de declividade;

10) área deve ser livre de ervas daninhas de difícil controle e de plantas quepromovam o sombreamento das mudas.

1.1.3 Área do viveiro

A área necessária para instalação de um viveiro depende do número e tipo deplantas a serem produzidas, do tamanho das embalagens a serem utilizadas, dopercentual de germinação da semente ou de enraizamento, das perdasprovenientes das seleções, da repicagem (quando for o caso) etc.

Num viveiro bem planejado, a área produtiva, ou seja, a área dos canteiros oude recipientes, deverá possuir sempre em torno de 50 a 60% da área total,sendo o espaço restante destinado a caminhos, ruas, estradas, galpões,construções em geral e área para preparo do substrato e enchimento dasembalagens.

1.1.4 Instalações necessárias

O tipo e tamanho da infraestrutura necessária para a instalação de um viveirovaria de acordo com o objetivo a que se propõe. Algumas estruturas, como ascasas de vegetação (estufa) e as casas de sombra (sombreadas) oferecemcondições climáticas controladas para o crescimento das mudas, o que éextremamente importante, principalmente para as espécies mais sensíveis nasépocas mais frias e nas mais quentes do ano. Entre as principais instalaçõespode-se citar:

• casa do viveirista;

• galpão semi-aberto para trabalho em dias chuvosos;

12 Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

• tanque ou caixa d’água para irrigação;

• depósito para insumos;

• almoxarifado para ferramentas e equipamentos;

• local de produção (sementeiras e/ou embalagens);

• casa de vegetação e casa de sombra.

1.1.5 Ferramentas, máquinas, equipamentos e outrosmateriais necessários

Variam de acordo com a tecnologia utilizada, local, espécies a seremproduzidas, tamanho do viveiro etc. Entretanto, os mais comuns são:

Ferramentas e utensílios:

- Pás (quadrada e de concha) - Sacho- Machado, enxada, enxadão, foice, facão - Serrote, martelo, alicate, torquês- Tesoura de poda e podão - Chaves de boca, de fenda, de cano- Ancinho - Lima- Regadores, baldes, mangueira plástica - Peneiras

Máquinas e equipamentos:

- Carrinho-de-mão - Balança comercial- Conjunto moto-bomba - Pulverizador costal- Máquina para encher tubetes - Máquina lavadora de tubetes- Máquina para semeadura - Misturador de substratos

Outros materiais:

- Sistemas para irrigação - Agrotóxicos registrados para uso- Depósito de sementes - Madeira para confecção de caixas- Plásticos e sombrites para cobertura - Grampos, pregos, arames, barbantes- Adubo mineral e orgânico

13Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

1.1.6 Recipientes usados para a produção de mudas

Com o objetivo de melhorar a qualidade das mudas produzidas (sem defeitos emais vigorosas) e a produtividade dos viveiros, o sistema de produção demudas em recipientes está sendo cada vez mais utilizado.

Existem diversos tipos de recipientes disponíveis no mercado ou que podem ser

confeccionados com certa facilidade, destacando-se: canudos de bambu oulaminado de madeira, latas e copos descartáveis, sacos e tubetes de plástico.

Os tubetes ou potes plásticos rígidos apresentam algumas vantagens emrelação aos demais tipos de recipientes, a saber: menor diâmetro (ocupando

menor área no viveiro), menor peso, maior possibilidade de mecanização dasoperações de produção de mudas e redução considerável no custo de

transporte e distribuição das mudas. Contudo, os sacos plásticos ainda são osrecipientes mais usados em função de seu menor preço, maior disponibilidade no

mercado e da grande variedade de dimensões disponíveis, possibilitando aprodução de qualquer tipo de muda.

O tamanho do recipiente varia em função da espécie a ser produzida, do tamanho

final que a muda deverá atingir e do tempo de permanência das mesmas no viveiro.

1.1.7 Substratos usados para a produção de mudas

A principal função do substrato é sustentar a muda e fornecer-lhe nutrientespara seu adequado crescimento. O substrato a ser utilizado no enchimento dosrecipientes deve ser isento de sementes de plantas invasoras, pragas e fungospatogênicos, evitando-se assim a necessidade de desinfestação dos canteiros ereduzindo-se sensivelmente os riscos de competição e doenças. Desse modo, écomum o uso de terra do subsolo, misturada com materiais orgânicos (estercos,casca de arroz carbonizada, composto orgânico) ou minerais (vermiculita,fertilizantes). Um cuidado todo especial deve ser tomado quando se utiliza oesterco de curral, pois este pode conter sementes de ervas daninhas epatógenos, que contaminam o substrato, devendo ser curtido para evitar danosàs sementes ou às estacas.

Existem diversos tipos de substratos, dentre os quais cita-se: terra de subsolo,composto orgânico, vermiculita, areia, esterco animal, serragem, casca de

14 Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

árvores decompostas, moinha de carvão, etc. Atualmente, encontram-se nomercado substratos esterilizados, livres de pragas e doenças, formulados

especialmente para a produção de mudas, tais como: composto orgânico,húmus, espuma fenólica (para enraizamento de estacas e cultivo hidropônico),

fibra de coco, entre outros.

Recomenda-se que seja feita a mistura de dois ou mais materiais para aformulação do substrato, visando uma boa aeração, drenagem e fornecimentode nutrientes de forma adequada. O tipo de material e a proporção de cada umna composição do substrato variam de acordo com a disponibilidade local,custo e tipo de muda a ser produzida. Abaixo se encontram exemplos deformulação de substratos. Porém, ressalta-se que cada formulação deverá sertestada nas condições específicas de cada local de produção, e devidamenteajustada, caso haja necessidade.

Para mudas de semente em geral:

No Quadro 1 são apresentados alguns grupos de substratos, com suasvantagens e desvantagens, possibilitando a tomada de decisão sobre qualsubstrato usar, de forma isolada e/ou, preferencialmente em misturas. De modogeral, pode-se recomendar que sejam feitas misturas de materiais de gruposdiferentes, o que resulta em maiores alterações das características e, oupropriedades do substrato final obtido. O tipo de mistura, bem como aproporção de componentes dos diferentes grupos, deve ser feita objetivando oajuste das características e, ou propriedades físicas, uma vez que as químicas(fertilidade), normalmente, podem ser facilmente modificadas somente compráticas de adubação e manejo.

- 80% de composto orgânico

- 20% de moinha de carvão (1 a 3 mm)

- 33% de casca de pinus semi-decomposta e moída

- 33% de humus

- 34% de casca de arroz carbonizada

Para mudas de propagação vegetativa:

- 60 % de terra de subsolo peneirada- 40% de casca de arroz carbonizada

- 60% de terra vegetal- 40% de areia m édia

- 25% de casca de pinus sem i-decom posta e m oída- 25% de casca de arroz carbonizada- 25% de verm iculita fina- 24% de turfa ou húm us- 1% de solo verm elho

15Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

Grupo

Exemplos

Vantagens

Desvantagens

A

Composto orgânico de:

esterco bovino

casca de eucalipto

casca de pinus

bagaço de cana

resíduos sólidos urbanos

outros resíduos

- produzido a partir de processos naturais;

- boa consistência dentro dos recipientes;

- média a alta porosidade e drenagem;

- média a alta capacidade de retenção de água e nutrientes;

- elevada fertilidade (macro e m

icronutrientes);

- fácil obtenção e processamento;

- baixo custo;

- perm

ite boa form

ação e agregação do sistema radicular

das m

udas

- baixa porosidade e aeração, quando puros;

- necessitam

de adubações balanceadas de N e S,

principalmente em cobertura;

- composição química variada em função da origem

do m

aterial;

- podem conter sementes de plantas indesejáveis,

nematóides, pequenos insetos, dependendo da

form

a de produção e exposição.

BTurfas

- form

adas a partir de processos naturais;

- elevada capacidade de retenção de água e nutrientes,

quando bem decompostas;

- médias a altas concentrações de N, P e K;

- alta CTC efetiva, equivalente ou superior ao grupo A.

- apresentam características físicas e químicas muito

variáveis;

- podem sofrer grandes oscilações de volume;

- produto não renovável.

CCasca de arroz carbonizada

Cinza de caldeira de biomassa

Bagaço de cana carbonizado

- baixa densidade global e alta porosidade;

- apresentam boa homogeneidade no tamanho das

partículas;

- fácil obtenção e processamento;

- baixo custo;

- praticamente isentos de inóculos de doenças, plantas

indesejáveis e insetos.

- reduzem a capacidade de retenção de água do

substrato;

- possuem pH m

uito elevado (> 6,5), podendo

provocar deficiências de m

icronutrientes;

- baixas concentrações de N e S;

- relação C/N m

uito alta.

DVerm

iculita comercial

- baixa densidade e partículas grandes, elevando a aeração

e drenagem;

- elevada porosidade;

- bem padronizada quanto às características químicas e

físicas;

- praticamente isenta de inóculos de doenças, plantas

indesejáveis e insetos;

- quando predomina no substrato, promove a

form

ação de sistema radicular pouco aderido;

- contrai-se no uso, após vários ciclos de

umedecimento e secagem

;-

baixas concentrações de N, P, K, Ca, S, Fe, Zn, B;

- apresentam deficiências e relações inadequadas

entre alguns nutrientes;

ETerra de subsolo

(características muito variáveis

em função da sua textura)

- média a alta capacidade de retenção de água e nutrientes,

quando não m

uito arenosa;

- baixo custo;

- fácil obtenção e processamento;

- praticamente isenta de inóculos de doenças, plantas

indesejáveis e insetos.

- baixa porosidade e aeração, quando m

ais argilosas;

- baixa capacidade de retenção de água, quando m

ais

arenosas;

- baixas concentrações de nutrientes;

- produto não renovável;

- alta densidade.

Fonte: Wendling e Gatto (2002).

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16 Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

As características e, ou propriedades físicas e químicas dos substratos sãovariáveis em função de sua origem, método de produção/obtenção, proporçõesde seus componentes, entre outras características. No Quadro 2, é apresentadauma relação das características e, ou propriedades físicas e químicas de algunssubstratos para produção de mudas. Caso haja possibilidade, todo substratoutilizado no viveiro deverá ter suas características e/ou propriedades físicas equímicas analisadas, o que embasa melhor a formulação de misturas eadubações.

Estudos resultaram em uma escala de valores para interpretação das principaiscaracterísticas e/ou propriedades físicas e químicas de substratos paraprodução de mudas florestais (Quadro 3). De maneira geral, estasrecomendações também podem ser adotadas para a produção de mudas deplantas ornamentais.

Recomenda-se a adição de nutrientes no substrato para promover o suprimentodos elementos necessários, economizando-se tempo no processo de produçãodas mudas. Sua formulação e dosagem são variáveis em função do tipo desubstrato utilizado e da espécie a ser produzida; é recomendada a realização deuma análise química do substrato, e caso haja necessidade de se proceder acorreção da acidez do substrato (pH < 5,0) e elevar o nível de fertilidade pode-se consultar as tabelas de recomendação de adubação e calagem, elaboradaspor institutos de pesquisas, para a planta que se deseja produzir.

17Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

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Características

Turfa

TS

CAC

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VF

(1)

HM (2)

80% HM

20% CAC

60% HM

40% CAC

60% HM

20% CAC

20% VF

COG

80% COG

20% CAC

60% COG

20% CAC

20%VF

Físicas

Densidade global (g cm

-3)

Densidade real (g cm

-3)

Porosidade total (%

)- macroporosidade (%)

- microporosidade (%)

Retenção m

áxima de água (ml 50 cm

-3)

Retenção m

áxima de água (ml g-1)

Químicas

Matéria orgânica total (g kg-1)

N total (g kg-1)

Relação C total / N total

pH em CaCl 2 0,01 M

P resina (mg dm

-3)

K trocável (m

mol c dm

-3)

Ca trocável (m

mol c dm

-3)

Mg total (m

mol c dm

-3)

Al trocável (m

mol c dm

-3)

C.T.C. efetiva (mmol c dm

-3)

- - - - - - -

773

31

14 4 - 15 - - - -

1,2

2,5 52

10

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10 3 69

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5,9 23

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1,8 76

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1,7 78

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Font

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18 Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

Q uadro 3. Escala de valores para interpretação de características e/oupropriedades físicas e quím icas de substratos usados paraprodução de m udas florestais.

N íveisC aracterísticas

Baixo M édio A lto A dequado

Físicas

D ensidade global (g cm -3)

Porosidade total (% )

- m acroporosidade (% )

- m icroporosidade (% )

C apacidade m áx. de retenção deágua (m L 50 cm -3)

Q uím icas

Relação C total / N total

pH em C aC l2 0,01 M

P resina (m g dm -3)

K trocável (m m olc dm -3)

C a trocável (m m olc dm -3)

M g total (m m olc dm -3)

C .T.C. efetiva (m m olc dm -3)

< 0,25

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< 15

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< 50

< 100

0,25 - 0,50

55 - 75

20 - 40

25 - 50

15 - 25

12 a 18/1

5,0 - 6,0

200 - 400

15 - 30

100 - 150

50 - 100

100 -200

> 0,50

> 75

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> 6,0

> 400

> 30

> 150

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> 200

0,45 - 0,55

75 - 85

35 - 45

45 - 55

20 - 30

8 a 12/1

5,5 - 6,5

400 - 800

30 - 100

100 - 200

50 - 100

> 200

Fonte: G onçalves e Poggiani (1996).

1.1.8 Adubação de cobertura das mudas

Adubações periódicas em cobertura (após a germinação das sementes ouenraizamento das estacas) quase sempre são necessárias para permitir aprodução de mudas de boa qualidade. São realizadas quando o substratoutilizado é de baixa fertilidade ou apresenta baixa concentração de nitrogênio(N) e potássio (K), muitas vezes omitidos na adubação do substrato porapresentaram altos índices salinos, que podem provocar grandes perdas dasmudas recém-germinadas. Esta adubação pode ser feita via fertirrigação (águade irrigação) ou pela aplicação individual na base de cada muda.

Existem diversas formulações de adubação; a mais adequada dependerá do tipode planta, da fertilidade do substrato, do tipo de manejo empregado para aprodução das mudas, da fase de produção das mudas etc. Como sugestão paramudas de pinus e eucalipto, pode-se utilizar 25 gramas de sulfato de amônio +60 gramas de cloreto de potássio em cobertura, diluídos em 10 litros de água,a qual deverá ser ajustada em função do sistema de manejo adotado. Essasolução é suficiente para adubar 3 m2 de canteiro (em torno de 300 mudas).Esta adubação também pode ser utilizada na formulação de pó, ou seja, pelaaplicação de 0,05 gramas por planta da mistura acima, sem a água.

19Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

1.1.9 Parâmetros de qualidade das mudas

A classificação das mudas em termos de qualidade é de fundamentalimportância em virtude da melhor adaptação e crescimento daquelas commelhor padrão de qualidade no plantio definitivo. Reconhecer uma muda de boaqualidade torna-se também prioritário no caso da compra destas de terceiros.Os principais parâmetros que indicam a boa qualidade de uma muda são:

uniformidade de altura entre as mudas;

rigidez da haste principal (diâmetro de colo);

número de folhas e/ou, tamanho de copa;

aspecto visual vigoroso (sintomas de deficiência, tonalidade das folhas);

ausência de estiolamento;

ausência de pragas e doenças na folha, no caule e nas raízes;

ausência de ervas daninhas no substrato;

sistema radicular e parte aérea bem desenvolvida (raiz pivotante nãoenrolada e fixada no solo, fora do recipiente);

relação parte aérea/sistema radicular.

1.1.10 Pragas, doenças e ervas daninhas

É interessante realizar tratamentos preventivos como a desinfestação do solodo canteiro ou substrato a ser utilizado no preenchimento dos recipientes, a fimde evitar a ocorrência de pragas, doenças e a competição por ervas daninhas.Para tanto, utiliza-se métodos químicos e/ou, mecânicos. Dentre os métodosquímicos, cita-se a aplicação de herbicidas, fungicidas e inseticidas e, para osmecânicos, têm-se a catação manual, o revolvimento do solo, a aplicação deágua quente, a exposição ao sol, a inundação, entre outros.

Ressalta-se a grande importância da escolha do local adequado para ainstalação do viveiro, o que evita ou diminui problemas relacionados compragas e doenças. O correto manejo diário do viveiro também é de fundamentalimportância na redução da ocorrência de problemas, devendo-se evitarexcessos de irrigação, adubação e radiação direta logo após a germinação.

20 Curso intensivo de viveiros e produção de mudas

Dentre as pragas mais comuns encontram-se a lagarta-rosca, formigacortadeira, grilos, besouros, cochonilhas, paquinhas, pulgões e formigas.Contudo, no manejo adequado do viveiro, normalmente não se verifica muitosdanos; entretanto, se o nível de infestação for elevado, torna-se necessário ocombate.

As doenças que mais comumente ocorrem nos viveiros são: tombamento,podridão de raízes, ferrugens e manchas foliares. Quando o nível de danos semostrar significativo, torna-se necessário o controle pela aplicação defungicidas, utilizando-se dosagem de acordo com recomendações dosfabricantes.

Tanto em termos de pragas quanto de doenças, recomenda-se consultar umprofissional capacitado quando da sua ocorrência, visando o adequado controle,caso haja necessidade.

1.1.10.1 Tombamento ou Damping-off

É a doença mais comum em viveiros, causada por fungos que atacam o colodas mudas originadas de sementes no estádio inicial de germinação. É umadoença que em poucos dias chega a causar a morte de todas as mudas e podeaparecer em qualquer época do ano; sua intensidade depende dascaracterísticas do substrato e das condições climáticas (chuva, insolação).

A infestação e proliferação é favorecida pela grande densidade de mudas noscanteiros, pela utilização de esterco não curtido no substrato, pelo excesso deumidade e pela compactação dos solos. O tombamento também pode serdisseminado de um canteiro para outro, por meio de ferramentas ou pelarepicagem das mudas.

A adubação orgânica com esterco deve ser abandonada quando o mesmo nãoestiver bem curtido. Quando não houver substituto, curtí-lo no mínimo 2 mesesantes da semeadura.

O tombamento é mais severo em viveiros que são excessivamente regados. Umlote de mudas saudáveis pode apresentar um severo tombamento após 1 ou 2dias de chuva. Uma boa medida, quando aparecem os primeiros casos detombamento, é diminuir a rega.

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Como medidas preventivas ao aparecimento do tombamento pode-serecomendar:

a escolha adequada do local;a desinfestação do solo com fungicidas;tratamento da semente com produtos registrados para essa finalidade;seleção do substrato e material de cobertura.

1.1.10.2 Podridão das raízes

É um problema comum e, além de danificar o sistema radicular, também éresponsável pelo tombamento das mudas no seu estádio inicial de crescimento.O ataque ao sistema radicular manifesta-se através de clorose, atrofia e murchada parte aérea e, por vezes, morte da muda.

1.1.10.3 Ferrugem fusiforme

As folhas apresentam-se com aspecto ferruginoso, provocando um baixocrescimento ou morte das mudas.

O combate pode ser feito por meio de pulverizações com fungicidasencontrados nas lojas especializadas.

1.1.10.4 Amarelecimento ou clorose

São termos utilizados para descrever problemas de crescimento, que resultamno amarelecimento ou embranquecimento das folhagens. Todas as plantasverdes estão sujeitas a clorose, podendo causar redução no crescimento oumortalidade das mudas. Os agentes mais comuns causadores de clorose são:

falta ou excesso de nutrientes para as plantas;

níveis tóxicos de produtos químicos nas folhas ou no solo;

presença de pragas sugadoras da seiva, deixando a muda clorótica;

fungos, bactérias e nematóides que causam danos às raízes, provocandoclorose na parte aérea;

a falta ou excesso de umidade; a alta ou a baixa temperatura do solo oudo ar podem causar clorose.

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1.1.11 Transporte das mudas para o plantio ou venda

No transporte as mudas devem ser protegidas por lonas ou outro tipo decobertura, de forma a evitar danos pelo vento, chuva e calor.

Por ocasião do plantio, havendo a necessidade de estocagem das mudas nocampo por alguns dias, deve-se ter o cuidado de mantê-las sempre irrigadas,fazer o controle das formigas e outros agentes nocivos.

2. Produção de mudas

A produção de mudas de espécies ornamentais, frutíferas e arbóreas em geralpode ser realizada pelos métodos sexuado e assexuado. O primeiro refere-se àprodução de mudas por meio de sementes, e o segundo, por propagaçãovegetativa (partes da planta), tais como: estaquia, enxertia, mergulhia,encostia, divisão de rizomas, bulbos e touceiras. Atualmente, com o avanço datecnologia, muitas espécies já podem ser propagadas por meio damicropropagação, que é a propagação vegetativa das plantas, feita emlaboratório sob condições controladas.

2.1. Produção de mudas sexuadamenteO principal insumo para o processo sexuado de produção de mudas é asemente. A boa qualidade das mudas depende da aquisição de sementes deprodutores idôneos e credenciados junto aos órgãos governamentaiscompetentes (MAPA, Secretarias de Agricultura etc.), para se obter garantia daqualidade das sementes. Com a dificuldade de se encontrar sementes dealgumas espécies no mercado, pode-se proceder a coleta dessas em plantasmatrizes previamente selecionadas, observando-se certos critérios de interessepara nosso objetivo (crescimento, formato da copa e tronco, produção desementes, flores e frutos etc.).

Após a obtenção das sementes, estas devem ser armazenadas num lugaradequado, conforme indicação do produtor, o que permitirá manter seu podergerminativo por mais tempo. Sementes que facilmente perdem seu podergerminativo devem ser semeadas logo após a coleta e/ou compra.