curso: direito processual civil aula: fontes normativas do ......2. fontes normativas primÁrias do...

29
Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do Processo Civil Professor: Rodolfo Hartmann Resumo 1. DIFERENÇA ENTRE DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL Primeiramente é preciso fazer uma diferenciação entre as normas do direito material e as normas do direito processual. Nesse sentido, temos que: Normas de Direito Material Normas de Direito Processual Interesse primário: são aquelas que indicam quais os direitos de cada um Interesse secundário — Instrumento para fazer valer o direito material desrespeitado Em regra: estão presentes no Código Civil Em regra: estão presentes no CPC/15 Donizetti (2017, p. 92) afirma que “quando a norma de direito material prescreve determinada obrigação e esta é descumprida, é fundamental que o Estado proporcione ao jurisdicionado meios para resguardar o seu direito”. De tal forma, as normas processuais visam instrumentalizar e sistematizar a atividade estatal, permitindo a resolução dos litígios. Ademais, Gonçalves (2018, p. 80) estabelece que NORMA PROCESSUAL cuida da relação processual (como aquelas relativas aos poderes do juiz, aos ônus e direitos das partes) ou do procedimento (como as que regulam a sucessão dos atos na audiência). É válido salientar que além das normas materiais e das normas processuais, há as normas heterotópicas, que são aquelas que estão situadas em uma codificação, mas que possui outra natureza. Por exemplo, há normas do Código Civil que são de cunho processual, algumas delas foram revogadas pelo art. 1.072 do CPC/15. Outro exemplo é o artigo 240, §1º do CPC/15 que trata de norma material: Art. 240. § 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação. O Código de Defesa do Consumidor (LEI Nº 8.078/90) dispõe de normas materiais e processuais em seu texto, aplicando-se até mesmo em outros processos, como por exemplo nas questões de direito coletivo.

Upload: others

Post on 05-Sep-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

Curso: Direito Processual Civil

Aula: Fontes Normativas do Processo Civil

Professor: Rodolfo Hartmann

Resumo

1. DIFERENÇA ENTRE DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL

Primeiramente é preciso fazer uma diferenciação entre as normas do direito material e as normas do

direito processual. Nesse sentido, temos que:

Normas de Direito Material Normas de Direito Processual

■ Interesse primário: são aquelas que indicam quais

os direitos de cada um

■ Interesse secundário — Instrumento para fazer

valer o direito material desrespeitado

■ Em regra: estão presentes no Código Civil ■ Em regra: estão presentes no CPC/15

Donizetti (2017, p. 92) afirma que “quando a norma de direito material prescreve determinada

obrigação e esta é descumprida, é fundamental que o Estado proporcione ao jurisdicionado meios para

resguardar o seu direito”. De tal forma, as normas processuais visam instrumentalizar e sistematizar a

atividade estatal, permitindo a resolução dos litígios.

Ademais, Gonçalves (2018, p. 80) estabelece que NORMA PROCESSUAL cuida da relação processual

(como aquelas relativas aos poderes do juiz, aos ônus e direitos das partes) ou do procedimento (como as

que regulam a sucessão dos atos na audiência).

É válido salientar que além das normas materiais e das normas processuais, há as normas

heterotópicas, que são aquelas que estão situadas em uma codificação, mas que possui outra natureza. Por

exemplo, há normas do Código Civil que são de cunho processual, algumas delas foram revogadas pelo art.

1.072 do CPC/15. Outro exemplo é o artigo 240, §1º do CPC/15 que trata de norma material:

Art. 240. § 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação,

ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.

O Código de Defesa do Consumidor (LEI Nº 8.078/90) dispõe de normas materiais e processuais em seu

texto, aplicando-se até mesmo em outros processos, como por exemplo nas questões de direito coletivo.

Page 2: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL

Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático de Direito, “o processo não é

regido apenas pelas leis processuais propriamente ditas”. Há toda uma sistemática normativa processual

inclusive dentro da Constituição, dispondo do “acesso à Justiça e os mecanismos do devido processo legal

(processo justo) entre os direitos fundamentais (direitos do homem)”.

Derivado do Civil Law, a fonte formal das normas processuais por excelência é a lei (fonte formal

primária, criada pelo Legislativo), seja ela Lei Ordinária ou Lei Complementar.

CRIAÇÃO DE NORMAS PROCESSUAIS

Poder Legislativo – cabe ao Poder Legislativo criar leis sobre processo (Art. 22 da CRFB/88)

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

Poder Executivo – atualmente não pode criar Medida Provisória sobre Processo Civil.

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de

lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de

2001)

§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

I - relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

Poder Judiciário – atualmente não pode criar normas processuais nos seus regimentos internos. (alguns tribunais

antigos tem regimentos internos dotados de normais processuais – dispondo por exemplo do agravo regimental). Agora

pelo CPC/15 há o agravo interno.

O regimento interno do Tribunal pode dispor sobre normas processuais quando a Lei Específica não for detalhada e

faltar elementos: por exemplo, o art. 5º da Lei nº 10.250/01 (Juizados Especiais Federais) não diz qual é o recurso, nem

qual é o prazo.

Art. 4º O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para

evitar dano de difícil reparação.

Art. 5° Exceto nos casos do art. 4º, somente será admitido recurso de sentença definitiva.

3. FONTES NORMATIVAS SECUNDÁRIAS DO PROCESSO CIVIL

LINDB: Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a

analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

Page 3: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

a) ANALOGIA: Não é uma forma de interpretação! A analogia é forma de auto integração da norma,

consistente em aplicar a uma situação não regulada a disposição legal relativa a um caso semelhante.

ELEMENTOS:

1. Não existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto (caso não regulado)

2. Caso semelhante

3. Juiz: aplica previsão legal empregada à outra situação similar.

EXEMPLO: PROVAS ORAIS – AUDIÊNCIA DE INSTRUNÇÃO E JULGAMENTO

- CASO REGULADO NO CPC/15: prova testemunha pelo sistema cross-examination (as partes/ advogados

diretamente realizarem perguntas à parte adversa ou às testemunhas por esta arroladas).

Art. 459. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, começando pela que a

arrolou, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com as questões

de fato objeto da atividade probatória ou importarem repetição de outra já respondida.

- AS DEMAIS PROVAS ORAIS (Depoimentos pessoais, prova técnica simplificada do art. 464,§3º do CPC) NÃO

ESTÁ NA LEI SE DEVEM SEGUIR O SISTEMA CROSS-EXAMINATION

b) Costume: regra de conduta praticada de forma geral, constante e uniforme, com a consciência de

sua obrigatoriedade.

Exemplo: nome das petições, ação de cobrança, ação monitoria, ação de indenização.

A estrutura de uma petição inicial, prevista no art. 319 do CPC/15, não coloca o nome da petição como um

requisito obrigatório. Todavia, o costume jurídico, visando facilitar o desenvolvimento dos atos processuais,

estabelece que a petição deve conter um espaço destinado ao nome.

Alguns sistemas de processo eletrônico agrupam as ações de acordo com o tipo informado na hora do

peticionamento, facilitando o andamento dos processos.

c) Princípios Gerais do Direito: normas fundamentais ou generalíssimas do sistema. Exemplos:

- Princípio da eventualidade: Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa,

expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que

pretende produzir.

Lembre-se de EVENTO, MOMENTO, pois a contestação é o evento certo, correto, adequado para o

Page 4: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

réu trazer as suas alegações de defesa. Vejam que não pode o réu apresentar a sua defesa “aos poucos”, ao

longo do processo, pois cabe ao mesmo trazer ao processo todas as suas alegações naquele determinado

momento – contestação – sob pena de preclusão, ou seja, sob pena de perder a possibilidade de alegar as

suas matérias de defesa.

- Princípio que veda a reforma para pior – não está expresso – quando se impetra um recurso, este será

mantido ou melhorado, mas não será piorado.

4. PRECEDENTES/SÚMULAS/JURISPRUDÊNCIA

A súmula vinculante foi instituída pela EC no 45/2004 como um instrumento de uniformização de

jurisprudência do STF sobre matéria constitucional e aponta uma relação mais próxima do Direito brasileiro –

construído pela influência do sistema romano-germânico, no qual a lei é a fonte formal de maior destaque

nas decisões judiciais – com o Direito norteamericano de common law, que possui um sistema de

precedentes mais destacado do que o da produção legislativa.

Segundo Duarte(2016) “súmula é um compêndio de enunciados criados a partir da jurisprudência

dominante de determinado Tribunal, eis que ao proferir diversas decisões em igual sentido, a Corte acaba

por transcrever sua orientação em verbetes que transmitam às partes e às instâncias inferiores esse exato

entendimento, de forma sintética e de fácil visualização”. Pode ser súmula vinculante ou não.

Exemplo: Súmula Vinculante 25 - É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a

modalidade de depósito

Jurisprudência é o conjunto reiterado de decisões judiciais proferidas no mesmo sentido sobre igual

matéria. (Não tem um quantitativo, se é 10, 15, 20 decisões)

Precedente é qualquer julgado que seja utilizado como fundamento em outro julgamento que lhe

sucede. O precedente pode ou não ser vinculante.

O disposto no art. 927 do CPC traz certa perplexidade. Ele determina aos juízes e tribunais que

observem: I — as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II

— os enunciados de súmula vinculante; III — os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de

resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV —

os enunciados de súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de

Justiça em matéria infraconstitucional; e V — a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais

estiverem vinculados.

Page 5: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

IMPORTANTE: antes de utilizar determinada súmula/jurisprudência/precedente, é preciso tomar cuidado e

ler os fundamentos que foram colocados naquela decisão judicial, visto que a simples síntese do caso não é

capaz de expor o seu real entendimento.

EXEMPLO:

- CASO 1:

SÍNTESE: CACHORROS SÃO PROIBIDOS DE ENTRAR EM RESTAURANTES/CINEMA

FUNDAMENTOS: FAZEM BAGUNÇA E BARULHO, ATRAPALHANDO OS DEMAIS

- CASO 2: CÃO-GUIA PARA UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Nesse caso, poderia utilizar o precedente do caso 1? Se levarmos em consideração apenas a síntese do caso,

diríamos que o cão-guia é proibido de entrar em um cinema com seu dono. Todavia, é preciso analisar não

apenas a síntese, mas também os fundamentos. Nesse caso, o cão-guia não faz bagunça, nem barulho; assim,

não poderia ser aplicado.

Princípios no CPC/15

1. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL NA CONSTITUIÇÃO

Conforme Donizetti (2017), o Neoconstitucionalismo influenciou o direito constitucional sobre todos

os demais ramos do Direito. Dessa forma, o processo deve ser examinado, estudado e compreendido à luz

da Constituição. Isso não quer dizer que ao julgador é concedida ampla e ilimitada discricionariedade, pois as

suas decisões são passíveis de controle, por meio da análise de sua necessária fundamentação e motivação.

Consoante Gonçalves (2018), a maior parte dos princípios que rege o processo civil está na

Constituição Federal, e alguns deles foram reproduzidos nos primeiros artigos do CPC. Como princípios são

diretrizes que devem nortear a aplicação e a interpretação das normas, é impossível estudar/compreender o

processo civil sem recorrer à CF.

2. DEVIDO PROCESSO LEGAL

CF, art. 5º, LIV: “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal”.

Page 6: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

O devido processo legal é o princípio constitucional que busca assegurar a existência mínima dos

demais princípios. O princípio do "devido processo legal" é considerado o princípio mãe de todo o

processo! Ele norteia a aplicação justa do processo, que tem como fim a pacificação social. É utilizado, em

seu seio, para evitar abuso de poder por parte daqueles que participam do processo.

Segundo Gonçalves (2018), a Constituição preserva a liberdade e os bens, garantindo que o seu

titular não os perca por atos não jurisdicionais do Estado. Além disso, o Judiciário deve observar as garantias

inerentes ao Estado de direito, bem como deve respeitar a lei, assegurando a cada um o que é seu.

Entretanto, ocorreu certo receio na aplicação do instituto da “IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO

PEDIDO”, se tal instrumento violaria o princípio do devido processo legal, já que não analisaria o mérito da

questão. Todavia, é preciso salientar que na improcedência limitar do pedido, o juiz não está fazendo nada

antes da hora; não há razões para se aguardar, diante da plena possibilidade de se resolver a lide ; e

principalmente, estará agindo pensando na eficiência processual, custo e duração, além de ser conducente

a uma tutela adequada e efetiva. Nesse sentido, temos o artigo 332:

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da

citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:

I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;

II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça

em julgamento de recursos repetitivos;

III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de

assunção de competência;

IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.

§ 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde

logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.

3. ACESSO À JUSTIÇA/INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO – art. 3º, caput

Art. 5º, XXXV, CF: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a

direito.”

Art. 3º, caput, CPC/15: “não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a

direito”.

Mesmo quando não existir norma geral e abstrata sobre o direito material em discussão, o Estado-

juízo não pode se furtar à prestação jurisdicional, podendo recorrer a outras fontes do direito que não a lei

para solucionar o conflito. Conforme Bueno(2018), qualquer forma de “pretensão”, isto é, “afirmação de

Page 7: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

direito” pode ser levada ao Poder Judiciário para solução. Uma vez provocado, o Estado-juiz tem o dever de

fornecer àquele que bateu às suas portas uma resposta, mesmo que seja negativa, por exemplo no sentido

de que não há direito nenhum a ser tutelado.

Além disso, vemos a judicialização excessiva, em que todos os conflitos são levados para o judiciário,

congestionando os órgãos estatais. Para tentar desafogar o número de processos no Judiciário, o CPC dá

ênfase ao Sistema extrajudicial, podendo resolver determinadas situações em cartório, bem como ao Sistema

multiportas, porque, além do aparato judiciário, o próprio sistema incentiva a conciliação, a mediação, a

arbitragem e outros meios de solução de conflitos

4. JUIZ NATURAL

Incisos XXXVII e LIII, art. 5º, CF: não haverá juízo ou tribunal de exceção” e

“ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade

competente”.

Consoante Gonçalves(2018), o juiz natural é aquele cuja competência é apurada de acordo com

regras previamente existentes no ordenamento jurídico, e que não pode ser modificada a posteriori. Seria

muito perigoso se o Estado pudesse criar juízos ou tribunais excepcionais para julgar um fato ocorrido

anteriormente.

Tal princípio visa: conter eventual arbítrio do poder estatal; e o de assegurar a imparcialidade do juiz,

impedindo que as partes possam ter qualquer liberdade na escolha daquele que julgará o seu processo.

Não é um juiz neutro. Imparcial é aquele que não é impedido nem suspeito.

Para tanto, o juiz deve estar com a investidura regular. Isto é, só exerce jurisdição quem ocupa o

cargo de juiz, tendo sido regularmente investido nessa função. A ausência de investidura implica óbice

intransponível para o exercício da jurisdição, pressuposto processual da própria existência do processo.

5. MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS

CRFB/88: Art. 93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão

públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei

limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,

ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do

interessado no sigilo não prejudique o interesse público à

informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

CPC: Art. 11 - Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e

Page 8: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.

Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença

somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério

Público

É expressa a necessidade de toda e qualquer decisão judicial ser explicada, fundamentada e justificada

pelo magistrado que a proferiu, levando em conta o direito aplicável e as vicissitudes do caso concreto. Com

isso, conforme dispõe Bueno(2018), o princípio assegura não só a transparência da atividade judiciária, mas

também viabiliza que se exercite o adequado controle de todas e quaisquer decisões jurisdicionais.

A fundamentação legitima a atuação do magistrado, afastando-o de qualquer arbitrariedade.

Outrossim, o art. 489, §1º elenca as hipóteses de não fundamentação das decisões judiciais.

Art. 489. § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela

interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua

relação com a causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua

incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,

infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus

fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta

àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela

parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação

do entendimento.

O STJ, em sede de embargos de declaração, na interpretação do art. 489, §1°, do CPC, decidiu que o

juiz deve fundamentar bem as decisões, no que tange aos aspectos relevantes para julgamento da questão,

mas não há necessidade que seja de forma exaustiva como prevê o art. 489, §1°, do CPC.

Nesse sentido o STJ:

Page 9: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

“... O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes,

quando já tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. A prescrição trazida

pelo art. 489 do CPC/2015 veio confirmar a jurisprudência já sedimentada pelo Colendo

Superior Tribunal de Justiça, sendo dever do julgador apenas enfrentar as questões

capazes de infirmar(enfraquecer) a conclusão adotada na decisão recorrida.” (STJ. 1ª

Seção. EDcl no MS 21.315-DF, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF

da 3ª Região), julgado em 8/6/2016 - Info 585).

O enunciado n. 9 do ENFAM diz que é ônus da parte argumentar e isso sendo feito, o juiz tem o dever

de fundamentar.

9) É ônus da parte, para os fins do disposto no art. 489, § 1º, V e VI, do CPC/2015,

identificar os fundamentos determinantes ou demonstrar a existência de distinção no

caso em julgamento ou a superação do entendimento, sempre que invocar jurisprudência,

precedente ou enunciado de súmula.

Por fim, vale destacar, que há o princípio do livre convencimento motivado, positivado pelo art. 371,

do CPC/15, o qual estabelece que o juiz possui livre convicção para apreciar as provas constantes dos autos,

devendo indicar as razões da formação de seu convencimento.

6. ISONOMIA

CPC, Art. 7º - assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício

de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à

aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo

contraditório.

Consoante Neves (2018), a regra de que a lei deve tratar todos de forma igual (art. 5.º, caput e inciso

I, da CF) aplica-se também ao processo, devendo tanto a legislação como o juiz no caso concreto garantir às

partes uma “paridade de armas” (art. 139, I, CPC), como forma de manter equilibrada a disputa judicial entre

elas.

O Estado-juiz (o magistrado, que o representa) deve tratar de forma igualitária os litigantes. Seja

dando-lhes igualdade de condições de manifestação ao longo do processo, seja criando condições para que

essa igualdade seja efetivamente exercitada.

Isonomia real: tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida da sua

desigualdade. O legislador, na criação das normas (buscando aplainar as diferenças), e o juiz, na sua aplicação

Page 10: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

(levando em conta as peculiaridades de cada sujeito).

Exemplos em que o CPC/15 tenta garantir a Isonomia real:

A prioridade de tramitação para o idoso tem previsão no art. 148 do CPC.

A Defensoria Pública e o Ministério Público, quando atuam em juízo, tem prazo em dobro. No caso

da Defensoria Pública tem previsão no art. 186 do CPC.

A Fazenda Pública em juízo tem certas prerrogativas processuais e peculiaridade relacionada ao

pagamento via precatório e RPV.

Tem prazo em dobro para sua atuação, conforme art. 183 do CPC.

A Fazenda Pública tem restrição, na qualidade de ré, ter a favor do autor tutela provisória deferida,

nos termos do art. 1059 do CPC.

Fica dispensada do recolhimento de custas para instauração de demandas para recorrer, tal qual se

observa no §1°, do art. 1007 do CPC.

Tem remessa necessária, em algumas situações do art. 496 do CPC.

Quando ré, em execução, tem procedimento próprio, quando envolver obrigação pecuniária, na

forma dos artigos 534, 535 e 910 do CPC.

7. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA (art. 5º, LV da CRFB/88 e arts. 9º e 10 do CPC)

Pelo princípio do contrário, conforme Neves(2018), as partes devem ser devidamente comunicadas

de todos os atos processuais, abrindo-se a elas a oportunidade de reação como forma de garantir a sua

participação na defesa de seus interesses em juízo. Costuma-se também empregar a expressão

“bilateralidade da audiência”, representativa da paridade de armas entre as partes que se contrapõem em

juízo.

Art. 5º, LV, da CF: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos

acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e

recursos a ela inerentes”.

Art. 9º, NCPC: Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja

previamente ouvida.

Page 11: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:

I – à tutela provisória de urgência;

II – às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;

III – à decisão prevista no art. 701.

Art. 10, NCPC: O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em

fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se

manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

Contraditório é a possibilidade de uma parte se manifestar quanto a algo, para que a argumentação

seja importante para influenciar, de forma decisiva, uma decisão judicial melhorando a qualidade da

prestação jurisdicional.

O contraditório pode ser tanto para o autor, quanto para o réu. Se o réu apresenta uma contestação,

o autor eventualmente se manifesta em réplica, conforme prevê os artigos 350 e 351 do CPC.

Ampla defesa é específica do réu. O autor busca pretensão e cabe ao réu se defender.

O art. 20 do Decreto Lei 3365/41 aduz que nos casos de processos judiciais de desapropriação por

utilidade pública, o réu só pode arguir certas teses defensivas. E essa norma vem sendo aplicada, seria licita a

legislação restringir certas teses defensivas. E não há violação da ampla defesa, uma vez que o autor, se

sentindo prejudicado, pode propor uma ação para impedir que se desenvolva a desapropriação. Traz como

causa de pedir, nesse novo processo autônomo.

O CPC propôs a linha de que o contraditório deve ser sempre prestigiado. A parte deve ser

consultada sobre aquilo que a outra afirma ou até mesmo, pelo art. 10, o juiz deve consultar a parte sobre

um tema que vai ser enfrentado, mesmo se tratando de matéria de ordem pública.

O art. 9 do CPC traz algumas exceções ao contraditório prévio em seu parágrafo único, em que será

suprimido ou postergado. Por exemplo, deferimento de tutela provisória de urgência sem oitiva da outra

parte. Outro exemplo, a hipótese da penhora on-line (854 CPC), traz a possibilidade de contraditório

postergado.

Quando uma decisão for omissa há possibilidade da parte usar embargos de declaração, com

previsão entre os artigos 1022 e 1026. Quando os embargos de declaração são interpostos pela parte, o juiz

decide sem dar contraditório. Mas se o juiz vislumbrar que ao acolher os embargos de declaração, terá efeito

modificativo ou infringente da decisão, o juiz deve prestigiar o contraditório, na forma do art. 1023, §2° do

Page 12: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

CPC.

ELEMENTOS DO CONTRADITÓRIO:

Ci Ciência: dar ciência aos réus, executados e interessados, da existência do processo, e aos litigantes de tudo o

que nele se passa.

A Audiência: O juiz tem de ouvir aquilo que os participantes do processo têm a dizer, e, para tanto, é preciso

dar-lhes oportunidade de se manifestar e ciência do que se passa, pois, sem tal conhecimento, não terão

condições adequadas para se manifestar.

OBS: Contraditório diferido: as exceções do par. único do art. 9º representam hipóteses de

prestação de tutelas jurisdicionais que, por sua própria natureza, seriam frustradas pelo tempo necessário

ao estabelecimento do prévio contraditório ou se mostram aprioristicamente desnecessárias pela evidência

do direito afirmado (e comprovado) pelo autor.

InIInfluência: participação efetiva, capaz de influenciar o convencimento do magistrado. Não adianta

simplesmente ouvir a parte. A manifestação há de ser capaz de influenciar na formação da decisão. A seu

turno, o juiz tem o dever correspondente de levar a manifestação na decisão.

OBS: Veda-se a decisão-surpresa, em que o juiz se vale de fundamento cognoscível de ofício, que não havia

sido anteriormente suscitado, sem dar às partes oportunidade de manifestação.

8. DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO

CF, art. 5º, LXXVIII: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a

razoável duração do processo e os meios que garantem a celeridade de sua

tramitação”. EC. 45/2004

CPC, art. 4º: “As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral

do mérito, incluída a atividade satisfativa”.

Conforme Donizetti(2017) e Gonçalves(2018) o processo devido é o processo tempestivo, capaz de

oferecer, a tempo e modo, a tutela jurisdicional adequada ao caso concreto. A demora na solução dos

conflitos traz ônus gravosos àquele que ingressa em juízo, o que estimula o adversário a tentar prolongar

indefinidamente o processo. Devem-se buscar mecanismos que repartam esses ônus.

A celeridade processual não pode ser levada a extremos. O processo pressupõe uma série de atos e

procedimentos (contraditório, ampla defesa, produção de provas, recursos), diligências que inevitavelmente

Page 13: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

impedem a rápida solução do litígio, mas que, mesmo assim, hão de ser observadas.

O julgador deve, sempre que possível, priorizar o julgamento do mérito, superando ou viabilizando a

correção dos vícios processuais e, consequentemente, aproveitando todos os atos do processo. Dessa forma,

deve o órgão julgador priorizar a decisão de mérito, tê-la como objetivo e fazer o possível para que ocorra.

Decorrente disso, surge também o princípio da Instrumentalidade das formas, em que a existência

do ato processual é um instrumento utilizado para se atingir determinada finalidade. Assim, ainda que com

vício, se o ato atinge sua finalidade sem causar prejuízo às partes, não se declara sua nulidade.

- REFERÊNCIAS

BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz do novo CPC –

Lei n. 13.105, de 16-3-2015 / Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo: Saraiva, 2018.

Donizetti, Elpídio. Curso didático de direito processual civil / Elpídio Donizetti. – 20. ed. rev., atual. e ampl. –

São Paulo: Atlas, 2017.

DUARTE, Lucas de Araújo. Precedentes judiciais e o artigo 927 do novo Código de Processo Civil. In: Âmbito

Jurídico, Rio Grande, XIX, n. 152, set 2016. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-

processual-civil/precedentes-judiciais-e-o-artigo-927-do-novo-codigo-de-processo-civil/. Acesso em abr 2020.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado® / Marcus Vinicius Rios Gonçalves. –

9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. - 10. ed., rev., ampl. e atual. –

Salvador: JusPODIVM, 2018.

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil,

processo de conhecimento e procedimento comum – vol. I / Humberto Theodoro Júnior. 57. ed. rev., atual. e

ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016.

Page 14: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

Curso: Direito Processual Civil

Aula: Fontes Normativas Primárias do Processo Civil

Professor: Rodolfo Hartmann

Resumo

Nesta aula tratou-se das fontes normativas primárias do Direito Processual Civil, iniciando a

abordagem pela apresentação da visão tradicional do tema, sem olvidar o enfoque dado ao assunto pelo

Novo Código de Processo Civil.

Como cediço, o ordenamento jurídico pátrio adota, tradicionalmente, a visão do “Civil Law”, motivo

pelo qual a primeira fonte do Direito Processual Civil é a LEI.

A lei considerada como fonte primária é a sentido amplo, ou seja, considera-se tanto as leis ordinárias,

como as complementares, e também a Constituição Federal.

Veja-se, a Constituição Federal em algumas passagens traz disposições processuais, ao tratar, por

exemplo, da competência:

Do Supremo Tribunal Federal, no seu art. 1021: “Compete ao Supremo Tribunal Federal,

precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:”

Do Superior Tribunal de Justiça, no seu art. 1052: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça:”

Dos Tribunais Regionais Federais, no seu art.1083: “Compete aos Tribunais Regionais

Federais:”

Dos Juízes Federais, no seu art. 1094: “Aos juízes federais compete processar e julgar:”

Certamente, a competência é matéria processual.

Além da competência, a Constituição Federal traz outras normas processuais, ao dispor sobre os

requisitos de admissibilidade dos recursos especial e extraordinário, determinado, especificamente, quanto a

este, a necessidade da presença da repercussão geral, nos termos do seu art. 102, §3º5: “No recurso

extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas

no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo

recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.”

Apesar de a Constituição trazer normas processuais, de fato, tem-se que é mais comum a utilização da

1 BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federal do Brasil. Brasília: Presidência da República, 1988.

2 Idem.

3 Idem.

4 Idem.

5 Idem.

Page 15: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

lei ordinária para dispor sobre as normas de Direito Processual Civil, sendo o maior exemplo a Lei nº

13.105/15, que é justamente o Código de Processo Civil.

Ademais, demonstrando que lei complementar também pode dispor sobre norma processual, traz-se à

memória a Lei Complementar nº 80/94, a qual dispõe em seu art. 44, I, que a Defensoria Pública Federal tem

o prazo recursal em dobro. Sabe-se que o Código de Processo Civil (lei ordinária) trata da matéria em seu art.

186, mas assim o foi a partir de 2015, data do referido legal, o que demonstra o tratamento de prazo por

legislação complementar desde o ano de 1994.

Não obstante ser considerado como fonte primária a lei em sentido amplo, verifica-se que Medida

Provisória não pode dispor sobre norma processual, uma vez que cabe ao Congresso Nacional tal medida, por

força do art. 22, I, da CF/88, ademais, há vedação constitucional de tal espécie legislativa tratar sobre norma

processual, senão, veja-se, o art. 62, §1º, I, “b” da CF/886:

Art.62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com

força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

§1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre a matéria:

a) [...]

b) direito penal, processual e processual civil

Destarte, já se pode concluir que a lei é a fonte normativa primária do Direito Processual Civil é a lei

em sentido amplo, mas quem pode criá-la é o Congresso Nacional, ou seja, o Poder Legislativo, não podendo,

assim, o Poder Executivo criar norma processual.

Da mesma forma, o Poder Judiciário também não pode criar norma processual.

Destaca-se que não se está tratando das Súmulas Vinculantes, da jurisprudência, dos precedentes, mas

sim de vedação de inovação da ordem jurídica, criando normas processuais, conforme se dá no casos dos

Regimentos Internos dos Tribunais.

No caso, os Regimentos Internos (Regulamentos) dos Tribunais não podem criar normas processuais.

É evidente que ante a referida afirmação, pode ocorrer questionamentos tais como o citado na aula:

“Mas, professor, eu vi no Regimento de um Tribunal a possibilidade de interposição de embargos

infringentes em processo penal, e tal hipótese não está prevista no Código de Processo Penal.”

Explica-se: tal fato se dá em virtude de que alguns Tribunais são antigos, não se trata dos Tribunais

criados com a CF/88, como o Superior Tribunal de Justiça e os Tribunais Regionais, posto que estes são

considerados novos, mas sim os anteriores a CF/88, uma vez que as Constituições da época permitiam que os

Regimentos Internos dos Tribunais criassem normas processuais, tendo em algumas a permissão de até

mesmo o Poder Executivo criar decreto-lei sobre processo.

Dessa forma, ressalta-se que é muito comum encontrar nesses Regimentos Internos o recurso

6 BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federal do Brasil. Brasília: Presidência da República, 1988

Page 16: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

denominado Agravo Regimental, comumente com o prazo de 05 (cinco) dias para a sua interposição, cujo

objeto da impugnação é a decisão monocrática do Desembargador do Tribunal, pelo fato do Código de

Processo Civil de 1973 não ter feito tal previsão.

Ocorre que o Novo Código de Processo Civil dispõe sobre o recurso que deve ser utilizado para a

impugnar as decisões monocráticas do Desembargador Relator do Tribunal, qual seja, o Agravo Interno,

previsto no seu art. 1.0217: “Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo

órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal.”

Destacando-se, outrossim, que quando se trata de decisão do Presidente ou Vice Presidente do

Tribunal em sede de Recurso Especial ou Recurso Extraordinário, tem-se o agravo previsto o art. 10428, do

Código de Processo Civil: “Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal

recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de

entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos.”

Demais disso, o Código de Processo Civil unificou o prazo para interposição do recurso de Agravo,

determinando o prazo de 15 (quinze) dias para tanto, conforme preceituado no seu art. 1.0709: “É de 15

(quinze) dias o prazo para a interposição de qualquer agravo, previsto em lei ou em regimento interno de

tribunal, contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal.”

Destaca-se, inclusive, que a unificação do prazo para interposição do recurso de agravo abrange até

mesmo o Agravo Regimental, o qual, repita-se, não deveria nem existir, em virtude de ser vedado ao

Regulamento Interno do Tribunal criar norma processual.

Nesse diapasão, sendo Agravo de Instrumento, Agravo Interno, Agravo em Recurso Especial e Recurso

Extraordinário, ou até mesmo Agravo Regimental, a interposição deve se dá no prazo de 15 (quinze) dias.

Logo, deve ser utilizado o Agravo Interno previsto no Código de Processo Civil, no prazo de 15 (quinze)

dias (art. 1.070, CPC).

No entanto, no que se refere ao processo penal, o entendimento do Supremo Tribunal Federal e do

Superior Tribunal de Justiça é pela não aplicação do art. 1.070 do Código de Processo Civil.

Então, denota-se que o Poder Judiciário não cria norma processual.

Oportunamente, outro detalhe sobre os Regimentos Internos se dá quando se tem leis pequenas,

como por exemplo, a Lei nº 10.259/2001 (que dispõe sobre o Juizado Especial Federal); Lei nº 12.153/2009

(que trata sobre os Juizados Especiais Fazendários); Lei nº 9.099/95 (que regulamenta os Juizados Especiais

Cíveis e Criminal Estaduais), as quais, geralmente, deixam lacunas, por dizer menos do que deveriam,

servindo o Regimento Interno do respectivo Tribunal para integrar a norma de forma subsidiária.

Exemplificativamente, o art. 5º da Lei nº 10.259/2001 dispõe que pode haver recurso, mas não diz

7 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.105/15 – Código de Processo Civil. Brasília: Presidência da República, 2015.

8 Idem.

9 Idem.

Page 17: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

qual, sendo imperioso, assim, que conste a disposição no Regimento Interno, para fins de segurança na

aplicação da lei.

Destaca-se que, na situação supra descrita, o Regimento Interno não está criando lei, mas apenas

explicando, reproduzindo o que está na lei ou no próprio Código de Processo Civil.

Sendo assim, a lei, em sentido amplo, é a principal fonte normativa do Direito Processual Civil.

Fonte primária do Direito Processual Civil: LEI

A permissão para a criação da norma processual é dada ao

Congresso Nacional (Art. 22, I, CF/88)

O Poder Executivo não cria norma processual, não cabendo, assim,

Medida Provisória sobre a matéria, inclusive, há vedação

constitucional para tanto (Art. 62, §1º, "b", CF/88)

O Poder Judiciário também não pode criar norma processual,

sendo permitido ao Regimento Interno apenas integrar a lei, e de

forma subsidiária.

LEI EM SENTIDO AMPLO (Constituição Federal, lei

ordinária, lei complementar)

Page 18: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

Curso: Direito Processual Civil

Aula: Fontes Normativas Secundárias do Processo Civil

Professor: Rodolfo Hartmann

Resumo

LINDB: Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a

analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

CPC: Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou

obscuridade do ordenamento jurídico.

Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

d) ANALOGIA: Não é uma forma de interpretação! A analogia é forma de auto integração da norma,

consistente em aplicar a uma situação não regulada a disposição legal relativa a um caso semelhante.

ELEMENTOS:

1. Não existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto (caso não regulado)

2. Caso semelhante

3. Juiz: aplica previsão legal empregada à outra situação similar.

EXEMPLO: PROVAS ORAIS – AUDIÊNCIA DE INSTRUNÇÃO E JULGAMENTO

- CASO REGULADO NO CPC/15: prova testemunha pelo sistema cross-examination (as partes/

advogados diretamente realizarem perguntas à parte adversa ou às testemunhas por esta arroladas).

Art. 459. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, começando pela que a

arrolou, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com as questões

de fato objeto da atividade probatória ou importarem repetição de outra já respondida.

- AS DEMAIS PROVAS ORAIS (Depoimentos pessoais, prova técnica simplificada do art. 464,§3º do

CPC) NÃO ESTÁ NA LEI SE DEVEM SEGUIR O SISTEMA CROSS-EXAMINATION

Page 19: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

e) Costume: regra de conduta praticada de forma geral, constante e uniforme, com a consciência de

sua obrigatoriedade.

Exemplo: nome das petições, ação de cobrança, ação monitoria, ação de indenização.

A estrutura de uma petição inicial, prevista no art. 319 do CPC/15, não coloca o nome da petição como um

requisito obrigatório. Todavia, o costume jurídico, visando facilitar o desenvolvimento dos atos processuais,

estabelece que a petição deve conter um espaço destinado ao nome.

Alguns sistemas de processo eletrônico agrupam as ações de acordo com o tipo informado na hora do

peticionamento, facilitando o andamento dos processos.

f) Princípios Gerais do Direito: normas fundamentais ou generalíssimas do sistema. Exemplos:

- Princípio da eventualidade: Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa,

expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que

pretende produzir.

Lembre-se de EVENTO, MOMENTO, pois a contestação é o evento certo, correto, adequado para o

réu trazer as suas alegações de defesa. Vejam que não pode o réu apresentar a sua defesa “aos poucos”, ao

longo do processo, pois cabe ao mesmo trazer ao processo todas as suas alegações naquele determinado

momento – contestação – sob pena de preclusão, ou seja, sob pena de perder a possibilidade de alegar as

suas matérias de defesa.

Page 20: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

Curso: Direito Processual Civil

Aula: Súmulas, Precedentes e Jurisprudências

Professor: Rodolfo Hartmann

Resumo

5. PRECEDENTES/SÚMULAS/JURISPRUDÊNCIA

A súmula vinculante foi instituída pela EC no 45/2004 como um instrumento de uniformização de

jurisprudência do STF sobre matéria constitucional e aponta uma relação mais próxima do Direito brasileiro –

construído pela influência do sistema romano-germânico, no qual a lei é a fonte formal de maior destaque

nas decisões judiciais – com o Direito norteamericano de common law, que possui um sistema de

precedentes mais destacado do que o da produção legislativa.

Segundo Duarte(2016) “súmula é um compêndio de enunciados criados a partir da

jurisprudência dominante de determinado Tribunal, eis que ao proferir diversas decisões em

igual sentido, a Corte acaba por transcrever sua orientação em verbetes que transmitam às

partes e às instâncias inferiores esse exato entendimento, de forma sintética e de fácil

visualização”. Pode ser súmula vinculante ou não.

Exemplo: Súmula Vinculante 25 - É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja

a modalidade de depósito

Jurisprudência é o conjunto reiterado de decisões judiciais proferidas no mesmo sentido

sobre igual matéria. (Não tem um quantitativo, se é 10, 15, 20 decisões)

Precedente é qualquer julgado que seja utilizado como fundamento em outro julgamento

que lhe sucede. O precedente pode ou não ser vinculante.

O disposto no art. 927 do CPC traz certa perplexidade. Ele determina aos juízes e tribunais que

observem: I — as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II

— os enunciados de súmula vinculante; III — os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de

resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV —

os enunciados de súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de

Justiça em matéria infraconstitucional; e V — a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais

estiverem vinculados.

Page 21: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

NEVES estabelece que: “conforme entende a doutrina amplamente majoritária o art. 927 do Novo

CPC é suficiente para consagrar a eficácia vinculante aos precedentes e enunciados sumulares previstos em

seus incisos. Ou seja, ‘observarão’ significa aplicarão de forma obrigatória.”

A harmonização dos julgados é essencial para um Estado Democrático de Direito. Tratar as mesmas

situações fáticas com a mesma solução jurídica preserva o princípio da isonomia. Além do que a segurança

no posicionamento das cortes evita discussões longas e inúteis, permitindo que todos se comportem conforme

o Direito.”

IMPORTANTE: antes de utilizar determinada súmula/jurisprudência/precedente, é preciso tomar cuidado e

ler os fundamentos que foram colocados naquela decisão judicial, visto que a simples síntese do caso não é

capaz de expor o seu real entendimento.

EXEMPLO:

- CASO 1:

SÍNTESE: CACHORROS SÃO PROIBIDOS DE ENTRAR EM RESTAURANTES/CINEMA

FUNDAMENTOS: FAZEM BAGUNÇA E BARULHO, ATRAPALHANDO OS DEMAIS

- CASO 2: CÃO-GUIA PARA UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Nesse caso, poderia utilizar o precedente do caso 1? Se levarmos em consideração apenas a síntese do caso,

diríamos que o cão-guia é proibido de entrar em um cinema com seu dono. Todavia, é preciso analisar não

apenas a síntese, mas também os fundamentos. Nesse caso, o cão-guia não faz bagunça, nem barulho; assim,

não poderia ser aplicado.

IMPORTANTE: CONHECER DETERMINADOS TERMOS QUE PODEM SER UTILIZADOS EM TAIS PRECEDENTES:

A) Overruling significa superação. É a intervenção no desenvolvimento do direito; renovação; novo

entendimento.

B) Ratio decidendi significa razão de decidir. São os fundamentos do juiz determinantes na decisão. É o

núcleo do precedente, seus fundamentos determinantes, sendo exatamente o que vincula.

C) Distinguishing significa distinção. Aplica-se o precedente quando a questão do caso for idêntica ou

semelhante. Se a questão a ser decidida for diferente, o precedente não se aplica. A distinção pode ser feita

Page 22: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

por qualquer órgão do judiciário, fundamentando sua decisão em razão da questão ser diferente.

D) O obiter dictum refere-se àquela parte da decisão considerada dispensável, que o julgador disse por força

da retórica e que não importa em vinculação para os casos subsequentes. OBITER DICTUM é aquele

verificado numa determinada decisão judicial quando nos deparamos com algum tipo de afirmação feita “de

passagem”, mas sem utilidade para o julgamento em si, mesmo porque não vinculante.

E) Stare decisis significa ficar com as coisas já decididas. Imutabilidade da decisão.

O Distinguishing e o Overruling estão expressos no seguinte dispositivo do CPC:

Art. 489; § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou

acórdão, que: VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela

parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.

- REFERÊNCIAS

DUARTE, Lucas de Araújo. Precedentes judiciais e o artigo 927 do novo Código de Processo Civil. In:

Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIX, n. 152, set 2016. Disponível em:

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/precedentes-judiciais-e-o-artigo-927-do-

novo-codigo-de-processo-civil/. Acesso em abr 2020.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. - 10. ed., rev., ampl. e atual. –

Salvador: JusPODIVM, 2018.

Page 23: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

Curso: Direito Processual Civil

Aula: Princípio do Devido Processo Legal e Livre Acesso a Justiça

Professor: Rodolfo Hartmann

Resumo

1. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL NA CONSTITUIÇÃO

Conforme Donizetti (2017), o Neoconstitucionalismo influenciou o direito constitucional sobre todos

os demais ramos do Direito. Dessa forma, o processo deve ser examinado, estudado e compreendido à luz

da Constituição. Isso não quer dizer que ao julgador é concedida ampla e ilimitada discricionariedade, pois as

suas decisões são passíveis de controle, por meio da análise de sua necessária fundamentação e motivação.

Consoante Gonçalves (2018), a maior parte dos princípios que rege o processo civil está na

Constituição Federal, e alguns deles foram reproduzidos nos primeiros artigos do CPC. Como princípios são

diretrizes que devem nortear a aplicação e a interpretação das normas, é impossível estudar/compreender o

processo civil sem recorrer à CF.

2. DEVIDO PROCESSO LEGAL

CF, art. 5º, LIV: “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal”.

O devido processo legal é o princípio constitucional que busca assegurar a existência mínima dos

demais princípios. O princípio do "devido processo legal" é considerado o princípio mãe de todo o

processo! Ele norteia a aplicação justa do processo, que tem como fim a pacificação social. É utilizado, em

seu seio, para evitar abuso de poder por parte daqueles que participam do processo.

Segundo Gonçalves (2018), a Constituição preserva a liberdade e os bens, garantindo que o seu

titular não os perca por atos não jurisdicionais do Estado. Além disso, o Judiciário deve observar as garantias

inerentes ao Estado de direito, bem como deve respeitar a lei, assegurando a cada um o que é seu.

Entretanto, ocorreu certo receio na aplicação do instituto da “IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO

PEDIDO”, se tal instrumento violaria o princípio do devido processo legal, já que não analisaria o mérito da

questão. Todavia, é preciso salientar que na improcedência limitar do pedido, o juiz não está fazendo nada

Page 24: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

antes da hora; não há razões para se aguardar, diante da plena possibilidade de se resolver a lide; e

principalmente, estará agindo pensando na eficiência processual, custo e duração, além de ser conducente

a uma tutela adequada e efetiva. Nesse sentido, temos o artigo 332:

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da

citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:

I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;

II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça

em julgamento de recursos repetitivos;

III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de

assunção de competência;

IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.

§ 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde

logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.

3. ACESSO À JUSTIÇA/INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO – art. 3º, caput

Art. 5º, XXXV, CF: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a

direito.”

Art. 3º, caput, CPC/15: “não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a

direito”.

Mesmo quando não existir norma geral e abstrata sobre o direito material em discussão, o Estado-

juízo não pode se furtar à prestação jurisdicional, podendo recorrer a outras fontes do direito que não a lei

para solucionar o conflito. Conforme Bueno(2018), qualquer forma de “pretensão”, isto é, “afirmação de

direito” pode ser levada ao Poder Judiciário para solução. Uma vez provocado, o Estado-juiz tem o dever de

fornecer àquele que bateu às suas portas uma resposta, mesmo que seja negativa, por exemplo no sentido

de que não há direito nenhum a ser tutelado.

Além disso, vemos a judicialização excessiva, em que todos os conflitos são levados para o judiciário,

congestionando os órgãos estatais. Para tentar desafogar o número de processos no Judiciário, o CPC dá

ênfase ao Sistema extrajudicial, podendo resolver determinadas situações em cartório, bem como ao Sistema

multiportas, porque, além do aparato judiciário, o próprio sistema incentiva a conciliação, a mediação, a

arbitragem e outros meios de solução de conflitos

Page 25: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

- REFERÊNCIAS

Donizetti, Elpídio. Curso didático de direito processual civil / Elpídio Donizetti. – 20. ed. rev., atual. e

ampl. – São Paulo: Atlas, 2017.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado® / Marcus Vinicius Rios

Gonçalves. – 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018.

Page 26: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

Curso: Direito Processual Civil

Aula: Princípio do Juiz Natural, da Motivação das Decisões e da Isonomia

Professor: Rodolfo Hartmann

Resumo

Princípios constitucionais

✓ Do juiz natural: tem previsão no art. 5, XXXVII e LIII da CRFB/88.

De acordo com esse princípio, um magistrado estará naquele órgão jurisdicional, por meio de critérios

objetivos e pontuais. A investidura do magistrado tem que ser regular, de acordo com a forma prevista na

Constituição.

Busca-se evitar a criação de tribunais de exceção para julgar as demandas e manter a imparcialidade do

magistrado.

No direito processual civil, à luz desse princípio, um juiz imparcial é aquele que não é impedimento, nem

suspeito.

Os casos de impedimento estão no art. 144 e os casos de suspeição estão no artigo 145, ambos do CPC.

✓ Motivação das decisões judiciais: tem previsão no art. 93, IX da CFRB/88 e traz a exigência de que haja

uma fundamentação dos atos decisórios, ou seja, o juiz deve indicar o raciocínio utilizado por ele para dar

aquela decisão.

O CPC, em seu artigo 11, prevê que as decisões judiciais devem ser fundamentadas.

A fundamentação legitima a atuação do magistrado, afastando-o de qualquer arbitrariedade,

O STJ, em sede de embargos de declaração, na interpretação do art. 489, §1°, do CPC, decidiu que o juiz deve

fundamentar bem as decisões, no que tange aos aspectos relevantes para julgamento da questão, mas não

há necessidade que seja de forma exaustiva como prevê o art. 489, §1°, do CPC.

Page 27: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

O enunciado n. 9 diz que é ônus da parte argumentar e isso sendo feito, o juiz tem o dever de fundamentar.

✓ Da isonomia: tem previsão no caput, do art. 5 da CFRB/88 e que o CPC também reproduz como norma

fundamental em seu art. 7.

Isonomia é tratar de forma igualitária os iguais e de maneira desigual, os desiguais, na medida da sua

desigualdade.

A prioridade de tramitação para o idoso tem previsão no art. 148 do CPC.

A Defensoria Pública e o Ministério Público, quando atuam em juízo, tem prazo em dobro. No caso da

Defensoria Pública tem previsão no art. 186 do CPC.

A Fazenda Pública em juízo tem certas prerrogativas processuais e peculiaridade relacionada ao pagamento

via precatório e RPV.

Tem prazo em dobro para sua atuação, conforme art. 183 do CPC.

A Fazenda Pública tem restrição, na qualidade de ré, ter a favor do autor tutela provisória deferida, nos

termos do art. 1059 do CPC.

Fica dispensada do recolhimento de custas para instauração de demandas para recorrer, tal qual se observa

no §1°, do art. 1007 do CPC.

Tem remessa necessária, em algumas situações do art. 496 do CPC.

Quando ré, em execução, tem procedimento próprio, quando envolver obrigação pecuniária, na forma dos

artigos 534, 535 e 910 do CPC.

Page 28: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

Curso: Direito Processual Civil

Aula: Princípio do Contraditório, da Ampla Defesa e da Duração Razoável

do Processo

Professor: Rodolfo Hartmann

Resumo

Princípios constitucionais

✓ Do contraditório e da Ampla Defesa: tem previsão no art. 5, LV da CRFB/88 e reproduzido em normas

fundamentais do CPC, como nos artigos 9 e art.10.

Contraditório é a possibilidade de uma parte se manifestar quanto a algo, para que a argumentação seja

importante para influenciar, de forma decisiva, uma decisão judicial melhorando a qualidade da prestação

jurisdicional.

O contraditório pode ser tanto para o autor, quanto para o réu. Se o réu apresenta uma contestação, o autor

eventualmente se manifesta em réplica, conforme prevê os artigos 350 e 351 do CPC.

Ampla defesa é específica do réu. O autor busca pretensão e cabe ao réu se defender.

O art. 20 do Decreto Lei 3365/41 aduz que nos casos de processos judiciais de desapropriação por utilidade

pública, o réu só pode arguir certas teses defensivas. E essa norma vem sendo aplicada, seria licita a

legislação restringir certas teses defensivas. E não há violação da ampla defesa, uma vez que o autor, se

sentindo prejudicado, pode propor uma ação para impedir que se desenvolva a desapropriação. Traz como

causa de pedir, nesse novo processo autônomo.

O CPC propôs a linha de que o contraditório deve ser sempre prestigiado. A parte deve ser consultada sobre

aquilo que a outra afirma ou até mesmo, pelo art. 10, o juiz deve consultar a parte sobre um tema que vai ser

enfrentado, mesmo se tratando de matéria de ordem pública.

O art. 9 do CPC traz algumas exceções ao contraditório prévio, em que será suprimido ou postergado. Por

exemplo, deferimento de tutela provisória de urgência sem oitiva da outra parte.

Page 29: Curso: Direito Processual Civil Aula: Fontes Normativas do ......2. FONTES NORMATIVAS PRIMÁRIAS DO PROCESSO CIVIL Segundo Theodoro Junior (2016, p. 63), seguindo o Estado Democrático

Outro exemplo, a hipótese da penhora on-line (854 CPC), traz a possibilidade de contraditório postergado.

Quando uma decisão for omissa há possibilidade da parte usar embargos de declaração, com previsão entre

os artigos 1022 e 1026.

Quando os embargos de declaração são interpostos pela parte, o juiz decide sem dar contraditório. Mas se o

juiz vislumbrar que ao acolher os embargos de declaração, terá efeito modificativo ou infringente da decisão,

o juiz deve prestigiar o contraditório, na forma do art. 1023,§2° do CPC.

✓ Duração razoável do processo: tem previsão no art. 5, LXXVIII, da CRFB e também criado pela EC.

45/2004.