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CURSO DE VERÃO – ANO XXXIII

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CURSO DE VERÃO – ANO XXXIII

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Coleção Teologia PoPular

Curso de verão — Ano I: Introdução ao AT; Êxodo; Cristologia; leigos e ministérios; fé e política; culturas oprimidasCurso de verão — Ano II: Profetismo; eclesiologia; religião do povo; movimento popular; comunicaçãoCurso de verão — Ano III: NT e evangelho de Marcos; batismo e eucaristia; história da Igreja no Brasil; a mulherCurso de verão — Ano IV: At, 1Cor, Ap; liturgia; ecumenismo; educação e trabalhoCurso de verão — Ano V: Gn 2-3; feminismo; sexualidade; culturas e juventudeCurso de verão — Ano VI: Comunidade; Espírito Santo; ética; ecologia e moradiaCurso de verão — Ano VII: Cidadania; pentecostalismo e novos movimentos religiososCurso de verão — Ano VIII: A cidade: um desafio para as Igrejas e movimentos popularesCurso de verão — Ano IX: Trabalho — Crise e alternativasCurso de verão — Ano X: Por uma ética da liberdade e da libertaçãoCurso de verão — Ano XI: Espiritualidade e MísticaCurso de verão — Ano XII: Culturas e inculturaçãoCurso de verão — Ano XIII: Brasil, 500 anos: por um jubileu de justiça e de esperançaCurso de verão — Ano XIV: Construir e celebrar a justiça e a paz em tempos de exclusão e violênciaCurso de verão — Ano XV: Produzir a esperança: Projetos de sociedade e utopia do ReinoCurso de verão — Ano XVI: Saúde: Cuidar da vida e da integridade da criaçãoCurso de verão — Ano XVII: Água é vida: Dom de Deus e responsabilidade humanaCurso de verão — Ano XVIII: Educar para a justiça, a solidariedade e a pazCurso de verão — Ano XIX: Comunicações: Ética e CidadaniaCurso de verão — Ano XX: Ecologia: Cuidar da vida e da integridade da criaçãoCurso de verão — Ano XXI: Juventude: Caminhos para outro mundo possível Curso de verão — Ano XXII: Arte e Educação PopularCurso de verão — Ano XXIII: Política e Comunidades Humanas: por uma prática popular transformadoraCurso de verão — Ano XXIV: A vida: desafio à Ciência, Bíblia e Bioética: do genoma humano às células-troncoCurso de verão — Ano XXV: Religiões construtoras de justiça e de pazCurso de verão — Ano XXVI: Redes Digitais: tecendo relações, construindo comunidades, exercendo cidadaniaCurso de verão — Ano XXVII: Juventudes em foco: por políticas públicas inclusivas em trabalho, educação e culturaCurso de verão — Ano XXVIII: Juventude e relações afetivas Curso de verão — Ano XXIX: Economia promotora dos direitos humanos e ambientaisCurso de verão — Ano XXX: Educar para a paz em tempos de injustiças e violênciaCurso de verão — Ano XXXI: Ética e participação popular na política a serviço do bem comumCurso de verão — Ano XXXII: Por uma cidade acolhedora: somos todos migrantesCurso de verão — Ano XXXIII: Espiritualidades na cidade: por uma dimensão libertadora

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CURSO DE VERÃO — ANO XXXIII

ESPIRITUALIDADES NA CIDADE

Por uma dimensão libertadora

José Oscar Beozzo eCecília Bernardete Franco (orgs.)

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CENTRO ECUMÊNICO DE SERVIÇOS À EVANGELIZAÇÃO E EDUCAÇÃO POPULAR — CESEEPAv. Brigadeiro Luís Antônio, 993 cjto. 205 – Bela Vista01317-001 São Paulo – SPtel./fax: (11) [email protected]

Direção editorialPe. Sílvio Ribas

OrganizaçãoPe. José Oscar Beozzo

Coordenação editorialCecília Bernardete Franco

Revisão técnica e texto da contracapaPe. José Oscar Beozzo

CapaFernando Marinho Fernandes da Silva

Editoração, impressão e acabamentoPAULUS

© PAULUS – 2019

Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 – São Paulo (Brasil)Tel.: (11) 5087-3700 • Fax: (11) 5579-3627paulus.com.br • [email protected]

ISBN 978-85-349-5105-0

Seja um leitor preferencial PAULUS.Cadastre-se e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções: paulus.com.br/cadastroTelevendas: (11) 3789-4000 / 0800 16 40 11

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Curso de verão ano XXXIII: espiritualidades na cidade: por uma dimensão libertadora / José Oscar Beozzo e Cecília Bernardete Franco, (orgs.). – São Paulo: Paulus, 2019. 128 p. – Coleção Teologia Popular.

ISBN 978-85-349-5105-0

1. Religiões – Comunidade urbana 2. Religião e sociologia 3. Espiritualidade 4. Pluralismo religioso 5. Teologia pastoral I. Beozzo, José Oscar II. Franco, Cecília Bernardete

19-1660 CDD 261.8

Índice para catálogo sistemático:1. Sociologia cristã 261.8

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Sumário

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................ 7José Oscar Beozzo

SEÇÃO I - MAPEANDO A REALIDADE .......................................................... 23

1. Influência das mídias no campo religioso: disputas e confrontos em nome da fé 25 Magali Cunha – Coordenadora do Grupo de Pesquisa Comunicação e Religião, colaboradora do CMI.

2. Panorama das religiões e da expressão das diferentes espiritualidades na cidade 47 Faustino Teixeira - Professor convidado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), Pesquisador do CNPq e Consultor do ISER Assessoria (RJ).

SEÇÃO II - BÍBLIA E TEOLOGIA ....................................................................... 63

3. Por que sete é mais do que doze? A Espiritualidade Libertadora de Jesus, o Cristo ................................................... 65 Maria Soave Buscemi – Missionária leiga, assessora das CEBs e do CEBI.

SEÇÃO III - PASTORAL ....................................................................................... 81

4. A dimensão libertadora da espiritualidade na militância social e pastoral ........... 83 Marcelo Barros - Monge beneditino, teólogo e escritor. Assessor de movimentos sociais e das CEBs.

5. O Sínodo: Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral ................................................................................ 107

6. Pacto das Catacumbas pela Casa comum: Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana ............................................................ 121

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A P R E S E N T A Ç Ã O

José Oscar Beozzo1

“Depois, derramarei o meu espírito sobre TODOS:vossos FILHOS e FILHAS profetizarão,

Vossos ANCIÃOS terão sonhos,Vossos JOVENS verão visões.

Também sobre vossos ESCRAVOS e ESCRAVASderramarei naquele dia o meu espírito”

(Joel 3,1-2).

ESPIRITUALIDADES NA CIDADE: POR UMA DIMENSÃO LIBERTADORA é a temática do XXXIII Curso de Verão do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESE-EP). Foi escolhida por nos convocar para levantar nosso olhar para horizontes sem fronteiras em direção ao futuro. Adverte-nos, ao mesmo tempo, muito concretamente, para deitar raízes capazes de se entrelaçarem com as árvores vizinhas, para resistirem a ventos e tempestades e buscarem veios d’água mais profundos e perenes, na arriscada travessia que nos toca viver.

Em tempos de catástrofe socioambiental, pela praga de gafanho-tos que dizima as plantações e traz fome e desalento, o profeta Joel

1 José Oscar Beozzo, com formação em filosofia, teologia, ciências sociais e história social, é vigário da paróquia São Benedito em Lins, membro da Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina (CEHILA) e coordenador geral do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP). Autor, entre outros livros, de A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulinas/EDUCAM/CAALL/UVA, 2005 e Tecendo memórias e gestando futuro – História das Irmãs Negras e Indígenas Missionárias de Jesus Crucificado – MJC (livro preparado conjuntamente com Ir. Maria Raimunda R. Costa, Ir. Maria Fidêncio Espírito Santo e Ir. Geralda F. Silva). São Paulo: Paulinas, 2009; prefácio e verbetes do Dicionário do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 2015.

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anuncia um tempo novo com a efusão do Espírito de Deus, sem dis-criminação alguma, e o retorno da prosperidade agrícola. O Espírito será derramado sobre todos, sem exceção: homens e mulheres do povo profetizarão; anciãos terão sonhos, os jovens, visões e os mais excluídos, os escravos e escravas, receberão igualmente o Espírito (Jl 3,1-2). Joel antecipa Paulo, que afirma na carta aos Gálatas que, com o batismo, não poderá mais haver distinção e muito menos discrimi-nação de caráter cultural e religioso – nem judeu, nem grego -; em razão do gênero – nem homem, nem mulher -, ou por condição econômica, social e jurídica – nem escravo, nem livre -, pois com Cristo Jesus, sois todos um só (Gl 3,28).

O estar em comunhão com Deus, com os irmãos irmãs e com todo o criado é sempre um dom, mas ao mesmo tempo algo que se revela nos acontecimentos, como interpelação a que somos chamados a res-ponder, pelo encantamento e louvor, pela gratidão e ação de graças, pelo cuidado e atenção, pela conversão e o perdão, a retomada do caminho e o reencontro com a esperança.

Ultimamente, alguns acontecimentos ao longo do Sínodo Amazô-nia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral foram se convertendo para mim em parábolas acerca da espiritualidade, e que desejo compartilhar.

ENCONTRO DA AZINHEIRA COM UM PÉ DE GUARANÁ

O Sínodo que aconteceu em Roma, de 06 a 27 de outubro de 2019, foi colocado sob a proteção do poverello, o pobrezinho de Assis, São Francisco, cuja festa se celebrava no dia 4 de outubro. Seu xará, o Papa Francisco, convidou os que vinham chegando a Roma, de modo particular indígenas de todos os recantos da Amazônia, para uma cerimônia e uma prece singela nos jardins do Vaticano, a fim de ali se plantar uma árvore, uma azinheira, trazida de Assis.

A azinheira, que os botânicos descrevem como resistente, de grande longevidade e capaz de sobreviver a condições extremas, estava sendo colocada ali para contrastar com os grandes interesses que, em vez

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de cuidar e preservar, vinham mais e mais agredindo e devastando a Amazônia, nossa frágil Casa comum.

Plantada a azinheira, para surpresa geral, um casal de indígenas Sateré-Mawé, Honorato Trinidade e Maria de Lourdes, vindos das cercanias do Rio Tapajós, adiantou-se com um pé de guaraná, a planta sagrada e principal sustento econômico do seu povo, para também plantá-la ao lado da azinheira. O tuxaua Sateré-Mawé Manuel assim descreveu a planta no passado: “O guaraná é bom para fazer chover, para proteger a roça, para curar doenças e prevenir outras, para vencer a guerra, no amor, quando dois rivais pretendem a mesma mulher”.

Dois dias depois, na procissão de ofertório da missa de abertura do Sínodo na Basílica de São Pedro o mesmo casal Sateré-Mawê caminhava lado a lado de uma indígena da tribo Munduruku, tradicional inimiga do seu povo, seguido de Francisco do povo Apurinã do Rio Purus e ainda de Elza Nâmnãdi, do povo Xerente no Tocantins numa sinfonia de línguas, culturas, tradições e espi-ritualidades diferentes.

No grande cataclisma que se abateu em 2019 sobre a Amazônia, com o dobro de áreas desmatadas em relação ao ano anterior, o triplo de focos de incêndio e a declarada política governamental anti-indíge-na, o novo presidente fez promessa abertamente anticonstitucional de não se demarcar mais um palmo sequer de terra indígena. Em vários territórios da Amazônia, lideranças de diferentes povos, tradicional-mente hostis entre si, reuniram-se em assembleia, seja em Roraima, seja no Xingu no Pará, com declarações coincidentes, como a de um cacique Kaiapó: “Viemos em socorro de nossos irmãos. Eles não são mais nossos inimigos. Nossos inimigos são outros”.

Aquela procissão de ofertório celebrava a diversidade reconciliada dos povos da Amazônia diante de inimigos maiores e mais podero-sos e seu propósito de trabalhar conjuntamente com quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, moradores das cidades e das matas, pelo bem da Casa Comum.

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SANTIDADE E ESPIRITUALIDADES DECLINADAS NO FEMININO

Brasileiros e brasileiras, principalmente os que vinham da Bahia e que se apinhavam na manhã ensolarada do domingo, 13 de outubro, ondeando bandeiras do Brasil na Praça São Pedro, tinham olhos ape-nas para a figura Ir. Dulce, Dulce Lopes Pontes (1914-1992), baiana e a primeira mulher nascida no país, prestes a ser declarada santa.

O grande banner que pendia da fachada da Basílica, com sua figura pequena e encurvada, era o primeiro da esquerda para a direita e es-tava acompanhado de quatro outros. Três eram mulheres: Giuseppina Vannini (1859-1911), fundadora na Itália das Filhas de São Camilo; Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan (1876-1926) do estado de Kera-la na Índia, que cuidava de pobres, enfermos, moribundos e excluídos e fundou a Comunidade da Sagrada Família para acompanhá-la no seu ministério; Margherite Bays (1815-1859), leiga, catequista de crianças e de jovens do cantão de Friburgo na Suíça. Apenas o quarto era de um homem, o inglês John Henry Newman (1801-1890). Nascido numa família de fé anglicana, ordenado reverendo nessa Igreja, participou intensamente do Movimento ecumênico de Oxford. Tornou-se pa-dre católico e foi fundador e reitor da primeira universidade católica no reino britânico, em Dublin, na Irlanda. Como simples padre, foi investido do cardinalato pelo Papa Leão XIII.2

Aquela canonização espelhava profunda mudança de paradigma. A vocação à santidade de vida proposta por Jesus é para todos e todas: Sede, portanto, perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5,48). Nesse sentido, a Constituição Lumen Gentium (LG) do Vaticano II coloca o capítulo da vocação universal à santidade (cap. V), antes do capítulo dedicado às religiosas e religiosos no seguimento de Jesus em pobreza, obediência e castidade (cap. VI). Vincula a santidade ao Espírito que nos é dado para praticar o amor e a compaixão, como

2 Breve apresentação das beatas e do beato, com suas fotos reproduzidas igualmente nos banners expostos na fachada da Basílica de São Pedro, encontram-se no livreto da celebração: Cappella Papale, XXVIII Domenica del Tempo Ordinario. Santa Messa celebrata dal Santo Padre Francesco, con il Rito della Canonizzazione. Piazza San Pietro, 13 ottobre 2019.

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fez o samaritano com o homem assaltado e abandonado ferido no meio da estrada.

Naquela manhã, uma leiga suíça, catequista na sua aldeia, foi reco-nhecida como santa. Três outras mulheres, neste caso, religiosas, uma do Brasil, outra da Itália e outra da Índia foram também canonizadas. Todas elas praticaram a virtude escondida do socorro aos doentes e aos pobres e foram capazes de suscitar em muitas pessoas compaixão e generosidade, criando espaços de acolhida, atendimento corporal e espiritual dos necessitados. Mariam do Kerala, na Índia, era do rito sírio malabar, daquela antiquíssima tradição plantada naquelas terras pelo fervor missionário da comunidade de Antioquia, a mesma que enviou em missão Paulo e Barnabé para a Ásia menor e depois para a Europa. Na Índia, essas comunidades reivindicam o apóstolo Tomé, como aquele que lhes trouxe a fé e se autodenominam: Saint Thomas christians, Cristãos de São Tomé.

A vocação à santidade dessas quatro mulheres nos fala de uma san-tidade feminina, atenta àquelas necessidades quotidianas sem as quais a vida não vinga, não floresce ou não se recupera. A celebração de canonização, daquela manhã, foi o selo eclesial de que suas vidas são um exemplo e nos indicam caminhos, reconhecidos e recomendados, de santidade para o nosso tempo, como reza a fórmula de canonização proclamada pelo ritual: Declaramos e definimos como santos os beatos (seguem-se os nomes acima) e os inscrevemos no Catálogo dos Santos e estabelecemos que em toda a Igreja sejam venerados como tais”.

Aquela massa de fiéis na Praça São Pedro, pela sua diversidade, evocava a visão de João no Apocalipse: ... vi uma multidão enorme, que ninguém podia contar, de toda nação, raça, povo língua... (Ap 7,9). A liturgia procurou ir de encontro àquele povo de muitos rostos e culturas diferentes, como no dia de Pentecostes, vindo de todos os recantos da terra então conhecida (At 2,9-11): a 1ª. Leitura do livro dos Reis (Rs 5,14-17) foi proclamada em inglês; a 2ª. da Carta a Timóteo (2 Tm 2,8-13), em italiano. O evangelho da cura dos dez leprosos (Lc 17,11-19) foi proclamado em latim e depois cantado em grego. As preces dos fiéis começaram em português, certamente numa referência à santa brasileira canonizada nesse dia, a Ir. Dulce,

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e prosseguiram em francês, alemão, espanhol e chinês. Na missa de abertura do Sínodo, no domingo, dia 6 de outubro, as preces haviam sido em chinês, inglês, árabe, francês e lituano. Árabe, em atenção aos fiéis do Marrocos que vieram homenagear o arcebispo de Rabat Cristóbal López Romero elevado ao cardinalato junto com Michel Fitzgerald, que foi núncio no Egito, e dedicou toda sua vida ao diá-logo com o mundo muçulmano. O francês atendia aos milhares de congoleses que vieram festejar o novo cardeal de Kinshasa, Fridolin Ambongo Besungu, O.F.M. CAP, e também contemplavam a língua de Jean-Claude Hollerich, SJ, Arcebispo de Luxemburgo e presidente da Come (Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia). A prece em lituano era uma acolhida direta aos milhares de fiéis, que vieram da Lituânia, para estar junto ao seu arcebispo emérito de Kaunas, Sigitas Tamkevicius, nomeado cardeal.

Notável é que nos domingos do período do Sínodo, nos dias 06, 13, 20 e 27, uma das preces da missa papal foi sempre em chinês, língua de 1,4 bilhão de habitantes da nação mais populosa do mundo, mas dos quais apenas 27 milhões professam o catolicismo. Seria uma maneira discreta de celebrar a normalização das relações entre a Santa Sé e o governo da República Popular da China, rompidas por Mao Tse Tung desde 1949, e de rezar pela população de Hong Kong envolvida em protestos de rua e repressão policial desde 31 de março deste ano?

SANTIDADE TESTEMUNHADA NO MARTÍRIO

O Papa concluiu a homilia da missa de abertura do Sínodo, enfa-tizando a santidade martirial:

Anunciar o Evangelho é viver a oferta, é testemunhar radicalmente, é fazer-se tudo por todos (cf. 1Cor 9,22), é amar até ao martírio.3

Em referência direta ao Cardeal da Lituânia acrescentou:

3 Homilia do papa Francisco - Santa Missa para a abertura do Sínodo dos Bispos para a Amazônia - XXVII Domingo do Tempo Comum, 6 de outubro de 2019, Roma: Basílica Vaticana. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2019/documents/papa-francesco_20191006_omelia-sinodo-amazzonia.html

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A p re s e n t a ç ã o

Agradeço a Deus por haver no Colégio Cardinalício alguns irmãos Car-deais mártires, que provaram, na vida, a cruz do martírio.4

Concluiu a homília evocando a experiência de sofrimentos e mar-tírio nas comunidades da Amazônia:

Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Muitos irmãos e irmãs gastaram a sua vida na Amazônia. Permiti que repita as palavras do nosso amado Cardeal Hummes: “quando fores àquelas pe-quenas cidades da Amazónia, vai aos cemitérios procurar o túmulo dos missionários. Um gesto da Igreja por aqueles que gastaram a vida na Amazónia”. E depois, com um pouco de astúcia, disse ao Papa: “Não se esqueça deles. Merecem ser canonizados”. Por eles, pelos que agora estão a dar a vida, pelos outros que lá gastaram a própria vida, com eles, cami-nhemos juntos.5

Em todos os dias do Sínodo, numa evocação direta como a Tenda dos Mártires erguida em Aparecida (SP) durante a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, uma Tenda foi plantada na Igreja dos frades carmelitas de Santa Maria in Traspontina na Via della Conciliazione 14, como espaço de acolhida, oração, debate e comunhão com a Aula Conciliar. Foi batizada com o nome de Ten-da Amazônia: nossa Casa Comum. Foi de todos modos, de maneira eminente. a Tenda dos Mártires. Ali foi celebrado, pela manhã e pela tarde, o Ofício dos Mártires da Caminhada: Vidas pela Vida, Vidas pelo Reino, Vidas pela Amazônia.6

O livreto do Ofício, editado pela Verbo Filmes, começava com a Ir. Dorothy Stang (+12-02-2005) de Anapu PA e celebrava o martírio de outros 28 missionários e missionárias, bispos, lideranças indígenas

4 Ibidem.5 Ibidem.6 Irmandade dos Mártires da Caminhada, REPAM, Verbo Divino, Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral – Ofício dos Mártires da Caminhada. São Paulo: Verbo Divino, 2019.

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e comunitárias do Equador, Bolívia, Peru, Brasil, Colômbia e Vene-zuela e terminava com a Ir. Cleusa C. Rody Coelho (+ 28-04-1985) de Tefé, AM.

O Ofício acolheu a cada dia símbolos, ritos e cantos dos diferentes povos indígenas da Amazônia,7 as práticas celebrativas e os cânticos das Comunidades Eclesiais de Base, da Rede Celebra e dos Cursos de Verão, Inverno e Bíblicos do CESEEP.

O novo Pacto das Catacumbas pela Casa Comum. Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana, assinado por mais de 50 cardeais e bispos e por quase duas centenas de participantes da celebração nas Catacumbas de Santa Domitila na manhã de 20 de outubro relembrava, no seu preâmbulo, os bispos do primeiro Pacto das Catacumbas e nossos mártires:

Evocamos com gratidão aqueles bispos que, nas Catacum-bas de Santa Domitila, ao término do Concílio Vaticano II, firmaram o Pacto por uma Igreja servidora e pobre.8 Recorda-mos com veneração todos os mártires membros das comuni-dades eclesiais de base, de pastorais e movimentos popula-res; lideranças indígenas, missionárias e missionários, leigas e leigos, padres e bispos, que derramaram seu sangue, por causa desta opção pelos pobres, por defender a vida e lutar

7 Depois de muitos ataques verbais e na imprensa por parte de grupos católicos conservadores e da extrema direita política que acusavam os símbolos indígenas de serem ídolos introduzidos na Casa de Deus, a Igreja da Traspontina foi alvo de gesto de vandalismo. Três esculturas talhadas em madeira da Amazônia e que representavam a fecundidade e a sacralidade da vida, na figura de uma mulher indígena grávida, foram roubadas e atiradas nas águas do Rio Tibre. Toda a ação foi filmada e espalhada pelas redes sociais, como vitoriosa ação de purificação, ao estilo da antiga “extirpação das idolatrias”, que marcou tristemente a história de um catolicismo parceiro dos estados coloniais e desrespeitador das culturas e crenças dos povos indígenas. O site oficial do Vaticano publicou dias depois a nota abaixo: “O Papa Francisco tomou a palavra na tarde desta sexta-feira (25/10) durante a 15ª Congregação Geral do Sínodo Especial dos Bispos da Região Pan-amazônica, na Sala Sinodal, no Vaticano. Improvisando, disse que “gostaria de dizer uma palavra sobre as estátuas da pachamama que foram retiradas da Igreja Santa Maria in Traspontina, que estavam lá sem intenções idólatras e foram jogadas no Tibre”. “Em primeiro lugar - disse Francisco -, isto aconteceu em Roma e, como bispo da diocese, peço perdão às pessoas que foram ofendidas com este gesto”. “Comunico também - continuou o Papa -, que as estátuas, que criaram tanto clamor midiático, foram encontradas no Tibre. As estátuas não estão danificadas”. Vatican News 25 de outubro de 2019, 19:348 Pacto por uma Igreja servidora e pobre. Catacumbas de Santa Domitila, Roma 16 de novembro de 1965. O Pacto, assinado por 42 concelebrantes, recebeu em seguida a adesão de cerca de 500 padres conciliares.

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A p re s e n t a ç ã o

pela salvaguarda da nossa Casa Comum.9 À gratidão por seu heroísmo unimos nossa decisão de continuar sua luta com firmeza e coragem.

MARTÍRIO NA DEFESA DOS POBRES E MARTÍRIO PELA CASA COMUM

Ao testemunho de fé, consumado em martírio por defender os pobres, seus direitos e suas causas, como foi o de São Oscar Romero em El Salvador, somou-se na Amazônia um novo tipo de martírio em defesa da vida ameaçada dos povos indígenas, posseiros, quilombolas, ribeirinhos e também da floresta, dos rios, das águas, dos animais, das aves e dos peixes. São novos mártires por causa da defesa vida ameaçada da Casa Comum pela ganância e desmesura de um capita-lismo predatório e devastador.

O urgente chamado do Papa Francisco na Laudato Si’ pela defesa da Casa Comum,10 que o Sínodo exprimiu na sua convocatória para que se buscassem na Amazônia novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, foi apresentado de maneira lapidar por Leonardo Boff em torno a três eixos centrais:

“A rede de relações de todos com todos; o cuidado essencial; a sustentabilidade e a co-responsabilidade coletiva.

A lei do universo é que todos os seres se encontram inter-retro--conectados. Todos estão relacionados, uns com os outros. Nada existe fora da relação. Isto vale para todos os seres existentes, especialmente entre os humanos.

O cuidado é a relação amorosa, respeitosa e não destrutiva em rela-ção aos demais seres, protegendo-os e não permitindo que definhem, esgotem seu capital genético e terminem por desaparecer. Tudo o que cuidamos, amamos e tudo que amamos, cuidamos. Sem cuidado, nenhum ser subsiste por si só.

9 DAp 98, 140, 275, 383, 396.10 FRANCISCO, Carta encíclica Laudato Si’ sobre o cuidado da Casa Comum (Documentos Pontifícios 22). Brasília, Edições CNBB, 2016.9

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A sustentabilidade é toda ação que visa assegurar a existência de cada ser, de modo que possa reproduzir-se, atender às demandas humanas de tal forma que possa regenerar-se para as atuais e futuras gerações. Quanto mais estejam os seres relacionados entre si, mais sustentabilidade carregam.

A responsabilidade coletiva pede o empenho de todos os seres hu-manos para assumirem transformações e comportamentos, de tal modo que as consequências de seus atos e atitudes sejam benignas e não destrutivas em relação à vida. Todos devem dispor-se a esta colaboração e solidariedade, pois só com a colaboração do conjunto dos atores garante-se a perpetuidade da vida na Terra. Se não há esta solidariedade e colaboração de todos, não estará garantido o futuro da vida e da nossa civilização. A Terra pode continuar a existir, mas sem nós, seres humanos”.11

O Curso de Verão deste ano está articulado em três seções: uma pri-meira, destinada a mapear a realidade das espiritualidades na cidade; uma segunda, a aprofundá-la do ponto de vista bíblico-teológico, e uma terceira, a propor compromissos pastorais para a sua transfor-mação e para que as espiritualidades, inspiradas na prática de Jesus, sejam libertadoras de modo particular para os pobres e excluídos.

SEÇÃO I - MAPEANDO A REALIDADE

A professora, jornalista e pesquisadora MAGALI CUNHA, coorde-nadora do Grupo de Pesquisa Comunicação e Religião, colaboradora permanente da revista Carta Capital online e do CMI (Conselho Mun-dial de Igrejas), aborda a onipresente e crescente Influência das mídias no campo religioso: disputas e confrontos em nome da fé.

A esfera cada vez mais complexa do fenômeno religioso nas áreas urbanas é apresentada por FAUSTINO TEIXEIRA, teólogo, professor convidado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da

11 BOFF, Leonardo, Ecologia Integral. Aporte para el Sínodo Panamazonico. Roma: Amerindia, 15-10-2019.

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Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), Pesquisador do CNPq e Consultor do ISER Assessoria (RJ), com o título: Panorama das religiões e da expressão das diferentes espiritualidades na cidade.

SEÇÃO II - BÍBLIA E TEOLOGIA

MARIA SOAVE BUSCEMI, missionária leiga, assessora das CEBs e do Centro de Estudos Bíblicos/CEBI, tece um instigante texto sobre A Espiritualidade Libertadora de Jesus, o Cristo.

SEÇÃO III - PASTORAL

MARCELO BARROS, monge beneditino, teólogo e escritor, assessor de movimentos sociais e das CEBs, aponta-nos A dimensão libertadora da espiritualidade na militância social e pastoral.

Ainda na Seção Pastoral, em comunhão com o grande evento ecle-sial do Sínodo Especial recém-encerrado: Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, foram selecionadas algumas das propostas mais relevantes dentre as cento e vinte aprovadas pelos padres sinodais, e encontram-se no capítulo V.12

Será finalmente compartilhado, para ser meditado, discutido e acolhido, o Pacto das Catacumbas pela Casa comum: Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana. Este desafia--nos a assumir, também nós, compromissos concretos em defesa da nossa Casa Comum.

CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2020

O CV irá consagrar, como a cada ano, um olhar para a Campanha da Fraternidade, cujo tema em 2020 é: Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso, e o lema, tirado da parábola do samaritano em Lucas: Viu, sentiu compaixão e cuidou dele (Lc 10,33-34).

12 Documento final – Sínodo dos Bispos in Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé. 26-10-2019 (BO 820). https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2019/10/26.html

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Diante da deterioração das condições de vida das grandes maiorias, assoladas pelo desemprego, perda de direitos trabalhistas e previden-ciários, abandono das políticas públicas no campo da saúde, moradia, educação, geração de emprego e renda, a Campanha apresenta o Bom Samaritano como anúncio da compaixão e do cuidado com a vida.

Contrasta, na I Parte, o olhar de Jesus, carregado de atenção aos outros, com o olhar da indiferença que gera ameaças à vida.

A II Parte, mostra como a compaixão de Jesus rompe a indiferença. Define a compaixão como ter mais coração nas mãos, ter mais justiça no coração, e o cuidado como ter mais ternura na vida.

A III Parte indica como o cuidar de Jesus se concretiza na dispo-sição para servir.

O texto base da CF já foi publicado nas Edições da CNBB e encon-tra-se disponível nas livrarias.13

AGRADECIMENTOS

Finalizando esta apresentação, queremos exprimir toda nossa gra-tidão às pessoas, famílias, comunidades e instituições que, com sua solidariedade e generosa cooperação sustentam a caminhada do CV.

Exprimimos especial reconhecimento às voluntárias e aos voluntá-rios, que se preparam durante todo o ano e assumem a responsabili-dade pela infraestrutura, organização, animação musical, ambientação artística e coordenação metodológica das Tendas. São eles e elas os pilares desse mutirão de formação dos setores populares na sociedade, nas igrejas e num grande leque de grupos religiosos e sociais.

Sentimos muito a prematura partida do amigo e fiel companheiro de caminhada, Xico Esvael (João Francisco Esvael), monitor do Curso de Verão, integrante da equipe de liturgia, poeta, músico, compositor e que se apresentava, desde sua fé e pertença à Igreja Episcopal Angli-cana do Brasil, como humilde e universal servidor das comunidades neste ministério do canto e da música. Estamos unidos à sua esposa Eliana e filhas na sua dor, mas também na ação de graças por sua vida,

13 CNBB, Texto base da Campanha da Fraternidade de 2020. Brasília: Edições da CNBB, 2019

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rica, generosa e significativa para tantas pessoas e comunidades, que seguem se alimentando com seu testemunho e sua música.

Fazemos também memória agradecida do Konrad Berning, funda-dor da Verbo Filmes, e que registrou em VHS os primeiros cursos de verão, a partir de 1988. Na sua memorável trilogia de filmes sobre as comunidades e a Igreja na América Latina: Pé na Caminhada, Ameríndia e O Anel de Tucum, deixou gravadas cenas das plenárias do Curso de Verão no TUCA, como evento de um grande rio engrossado por muitas águas nascidas de comunidades pobres e combativas, parte de uma rede cujos sonhos e realizações ele filmou com empatia e qualidade documental e artística.

Nossa gratidão estende-se às muitas entidades parceiras do CESEEP, entre as quais destacamos a PUC-SP. Na pessoa de sua Reitora, a Profa. Maria Amália Pie Abib Andery e do Prof. Wagner Lopes Sanchez, co-ordenador do Departamento de Ciências da Religião, designado para acompanhar o CV, reiteramos nossa profunda gratidão à Universidade. Este reconhecimento estende-se à Fundação São Paulo, na pessoa do Pe. José Rodolfo Perazzolo, pelo apoio a esta longa e fecunda par-ceria entre a Universidade e o CV e, igualmente, a Sérgio Rezende, responsável pelo TUCA, que tem atendido sempre com solicitude e prontidão a todas as necessidades do CV.

Parceiros fiéis nessa empreitada de cada ano são os que se ocupam da comunicação e vem aperfeiçoando continuamente essa dimensão do CV: a Paulus Editora, que publica o livro do CV; a Rede Rua de Comunicação, que prepara o DVD com os conteúdos dos/as asses-sores/as e as atividades do CV. A Rede Rua cuida ainda, com a Rádio Cantareira e o grupo Transformar de jovens da zona leste e toda a equipe de comunicação, da transmissão on-line das palestras no TUCA e da interação com os mais de três mil internautas que, à distância, acompanharam o CV no ano passado.

Livro, DVD e o inteiro teor das palestras postadas no YouTube, são instrumentos pedagógicos preciosos para o trabalho de repasse do CV em comunidades e grupos, por todo o país.

São muitas as famílias e comunidades que abrem seus corações e suas casas para receber os participantes do Curso vindos de cidades

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do interior do estado de São Paulo e de outras regiões do país. Deus lhes pague por oferecerem carinho, pouso, alimentação a todos esses participantes.

Enfatizamos que, em todos esses anos, o intuito maior do CURSO DE VERÃO foi, e continua sendo, o de contribuir para a formação de todas as pessoas, em especial dos jovens, e de colaborar para que assumam com entusiasmo e maior preparo, a tarefa de animadores e de formadores de novas lideranças em suas comunidades, movimen-tos sociais, conselhos municipais e na vida política de suas cidades. Podem contar com nossos votos e preces, para que continuem a cami-nhar na fidelidade aos valores da educação popular, do ecumenismo, do respeito ao diferente, no serviço aos setores populares, dentro do espírito de gratuidade do mutirão.

O CESEEP oferece aos que, por razão de trabalho, distância, enfer-midade, escassez de recursos, não estão podendo participar presen-cialmente do CV, a possibilidade de acompanhar ao vivo a transmissão do CV/2020. É oferecida ainda a possibilidade, em se tratando dos cursos dos anos anteriores, de inscrever-se para a modalidade de CURSOS A DISTÂNCIA, com acompanhamento e orientação de edu-cadores qualificados. Oito cursos encontram-se disponíveis e o atual encontra-se em preparação, em parceria que durou vários anos entre o CESEEP e a Coordenação Central do Ensino a Distância (CCEAD) da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro (RJ).14

Aos participantes do CV, nossas calorosas boas-vindas, na certeza de que estarão construindo, junto com os assessores/as, as coordenações de suas Tendas e os responsáveis pelas mesas de debate, caminhos para uma espiritualidade libertadora, na escuta, acolhida, respeito e aprendizado de outras espiritualidades, e sincera parceria ecumênica e inter-religiosa a serviço da vida e salvaguarda da nossa Casa comum.

Expressamos ainda nossa sincera gratidão às congregações religio-sas, às comunidades da Arquidiocese de São Paulo, na pessoa dos seus

14 Os interessados num desses cursos de verão on-line podem inscrever-se diretamente pela página web do CESEEP - <http:\\www.ceseep.org.br> - ou entrar em contato com o “CESEEP - Cursos à Distância”, pelo e-mail <[email protected]>.

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párocos e animadores, do seu Cardeal-arcebispo, Dom Odilo Pedro Scherer e de seus bispos auxiliares; aos pastores, pastoras e bispos das Igrejas e Comunidades Evangélicas que emprestam igualmente sua colaboração e apoio ao CURSO DE VERÃO.

Ao CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) vai dirigido um especial agradecimento, colocando-nos desde já à disposição para participar na construção da Campanha da Fraternidade ecumênica prevista para 2021.

Nossa gratidão se estende para além das fronteiras a instituições e pessoas daqui de perto e de longe, que nos apoiam, de modo particular a Missionszentrale der Franziskaner da Alemanha, que contribui para os gastos dos encontros de formação dos monitores e demais voluntários.

Neste ano, o Fundo Nacional de Solidariedade da CNBB, formado com as contribuições para a Campanha da Fraternidade, está de novo colaborando com bolsas de estudo para jovens com dificuldades para cobrir os custos do CV. Outras pessoas também estão solidariamente contribuindo para o FUNDO DE BOLSAS do CESEEP, que permite acudir a outros tantos participantes.

É, pois, em espírito de ação de graças e de gratidão a Deus e a todas e a cada uma dessas pessoas e instituições que generosamente cooperam para a construção deste espaço pedagógico, que entregamos aos participantes do CV e aos nossos muitos leitores o livro do 33º CURSO DE VERÃO.

Em tempos tão desafiadores mundialmente e para o nosso país, queremos assumir os passos de uma espiritualidade comprometida e libertadora, consignados no Pacto das Catacumbas pela Casa comum, de modo especial o oitavo, por seu respiro ecumênico, aberto a todas as crenças e filosofias de vida; o décimo terceiro, por abraçar a cidade e seus desafios, contando com o protagonismo dos jovens leigos e leigas, e o décimo quinto, por colocar-se ao lado dos perseguidos por seu serviço destemido e profético na defesa da terra e dos direitos de migrantes e refugiados:

8. Caminhar ecumenicamente com outras comunidades cris-

tãs no anúncio inculturado e libertador do evangelho, e com

as outras religiões e pessoas de boa vontade, na solidarieda-

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de com os povos originários, com os pobres e pequenos, na

defesa dos seus direitos e na preservação da Casa Comum.

13. Buscar novos caminhos de ação pastoral nas cidades

onde atuamos, com protagonismo de leigos e jovens, com

atenção às suas periferias e aos migrantes, aos trabalhadores

e aos desempregados, aos estudantes, educadores, pesqui-

sadores e ao mundo da cultura e da comunicação.15

15. Colocar-nos ao lado dos que são perseguidos pelo profé-

tico serviço de denúncia e reparação de injustiças, de defesa

da terra e dos direitos dos pequenos, de acolhida e apoio a

migrantes e refugiados. Cultivar amizades verdadeiras com

os pobres, visitar as pessoas mais simples e os enfermos,

exercitando o ministério da escuta, da consolação e do apoio

que trazem alento e renovam a esperança.16

Quero expressar minha profunda gratidão a Deus e a cada uma das pessoas que, na minha família e amizades, no Curso de Verão e nos de Verão, Inverno e Bíblicos, no Flor e Canto, no CESEEP, na paróquia São Benedito, na Diocese de Lins e na Igreja de São Paulo, no Seminário João XXIII e na Paróquia São João Batista dos carlistas, nos hospitais da Prevent Senior, no Sírio-Libanês, no Santa Catarina, no Instituto Avanços em Medicina, com suas equipes médicas e de enfermagem, e em tantos outros lugares tão queridos, daqui do Brasil e do exterior, rezaram incessantemente pela recuperação de minha saúde, acudiram-me nas minhas necessidades, prestaram-me conforto afetivo e espiritual, dando-me ânimo e força, e foram enfim genero-samente solidários para cobrir despesas hospitalares e de tratamento.

Deus lhes pague! Sou-lhes eternamente agradecido pela saúde recuperada e a vida

reencontrada.

São Paulo, 12 de novembro de 2019

15 Cf. DSD 302.1.3.16 Pacto pela Casa Comum, texto citado, Compromissos de números 8, 13 e 15.