curso de tupi antigo 1

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CURSO DE TUPI ANTIGO 1,2 e 3 PROF. Joubert Di Mauro Primeira Aula 2007 Meus Caros Alunos, Eis a primeira aula. Necessariamente grande, as prximas pretendo que sejam menores. Considerando nossas limitaes espero que voces gostem. Essa primeira sesso importante - veja meus comentrios no final - e se baseia nos textos antigos e conhecidos dos primeiros e ilustres estudiosos da lingua, como o Padre Anchieta, Padre Lemos, Jean Lry, Couto Magalhes e , pincipalmente na beleza literria dos textos de Plinio Ayrosa, fundamentado em Theodoro Sampaio, que ela se articula. Todos eles concordariam em gnero, nmero e grau com o seu contedo.

AULA INTRODUTRIA Sesso 1 MORANDUBA TUPI ou A VIDA DO POVO BRASLICO EM 1500 Antes de comear o estudo da lingua tupi preciso primeiro conhecer um pouco de um povo que viveu outrora nas matas e florestas muito grandes do nosso Brasil e que falava uma lingua estranha, que a gente ouve dizer que complicada, mas que a gente tem certeza que bonita porque sabemos que ela j foi a nossa lingua. Em 1500 quando os portugueses tomaram conta das terras brasileiras, elas estavam ocupadas pelas inmeras tribos selvagens que constituam a nossa gente, a gente braslica. Em todos os pontos do nosso territrio onde o europeu aportava encontrava sempre o indio brasileiro, assustado e generoso. Era o homem brasileiro, povoando toda a costa e o serto, todo o

interior, do nosso imenso,formidvel e extenso pas. Alguns poucos milhes de habitantes, calcula-se uns cinco, e que se concentravam grandemente no litoral. DE ONDE TERIAM VINDO? Uma pergunta que at hoje no respondemos: de onde teria vindo essa gente morena, forte de corpo e ingenua de esprito? Da Asia, dos Andes, da Polinsia? Das tribos da Atlantida,Sumria ou Judia, que teriam trazido a grafia primitiva de Brasil, equivalente a BE-RA-ZIL, "Domnio dos Cantores Tostados"? Ou de outras regies? Viessem de onde fosse, o certo que aqui estavam inteiramente adaptados terra e falando uma lingua diferente das velhas linguas europias ou asiticas e, sobretudo, sem tradio alguma que permitisse um raio de luz nas sombras de seu passado longnquo. UMA VIDA DE FARTURA Eram apenas caadores e pescadores e passaram direto fase da agricultura. No conheceram o pastoreio simplesmente porque no havia no Brasil animais para pastorear. No havia boi,carneiro,cavalo, etc...nada. O maior animal existente era a anta. Dedicavam-se, pois, a caa, a pesca e a agricultura ao mesmo tempo. As matas e os rios eram abundantes em caa e pesca e a terra era produtiva e existia em larga escala. Passavam a vida na rudeza primitiva de seus afazeres e na justa alegria de sua imensa liberdade. A floresta lhes dava tudo: o arco, a flecha, penas, cordas, troncos e cascas para canoas, palhas para as esteiras, canios para a pesca, folhagens para cobrir as choupanas, estacas para cercar as aldeias, peles de animais contra o frio. Como no eram apenas caadores e pescadores, tinham agricultura, no eram habitualmente nmades, por conseguinte, enquanto as terras e guas lhes dessem alimento farto e sadio sem exigir grandes esforos ou caminhadas, no se transferiam para um novo local. Plantavam milho, inhame, batata e mandioca apenas para suas necessidades e

como subsdio caa e pesca. TRABALHO TECNOLOGIA e RELIGIO Conheciam o fogo e dele se utilizavam para tudo. Conheciam a cermica, produzindo panelas e reservatrios grandes para depsito de gua e cozimento de alimentos. No conheciam o uso do ferro, da prata, do ouro e muito menos seu valor. Exmios canoeiros e pescadores se habitassem junto aos rios; andarilhos e caadores adestrados se morassem nas infindveis florestas do interior. Viviam prontos e adestrados para o combate em razo das rixas entre tribos. No tinham nenhuma religio formal, mas eram tementes ao trovo, relmpago, chuvas e ventanias. As superties eram as mais ingnuas e baseadas como em qualquer crena, no premio e no castigo. No tinham ritual religioso de qualquer espcie e era natural que os mais velhos, como alis acontece at hoje entre os matutos do interior, se transformassem em conselheiros, feiticeiros e orculos. VIDA COMUNITRIA e FAMILIAR O indio que entregava tribo o produto de seus esforos pessoais na caa ou na pesca, assim o fazia, porque a experincia lhes mostrava que h dias felizes e infelizes e que o dever de dar hoje era compensado pelo direito de receber amanh. O pai que no permitia o casamento da filha antes da adolescncia visava a uma prole sadia e necessria. Jamais o indio se entregou aos vcios, sensualidade promscua, indolncia ou a vaidades fteis. Se assim tivessem procedido no teriam resitido vida das selvas e no seriam os homens adestrados, puros, fortes e generosos que os portugueses aqui encontraram. Vivendo em cabanas, os homens dedicavam-se diriamente coleta de alimentos, ao preparo de arco e flechas, de redes e engenhosas armadilhas para a caa e pesca e plantio dos produtos; s mulheres cabia preparar a alimentao e as bebidas fermentadas, a farinha e os adornos que usavam. O indio brasileiro dedicava-se inteiramente sua familia e ao seu

trabalho, amava extremadamente aos seus filhos, jamais lhes aplicando castigos fsicos e treinava-os desde cedo na arte da pesca, da caa e da guerra. Domesticava com grande pacincia os animais prximos como araras, saguis e porcos do mato. Esmerava-se na confeco de armas e objetos. Alimentava-se com notvel sobriedade, suportava dias e dias sem comer se fosse necessrio e quando da fartura alimentava-se regaladamente, nada guardando para depois. Espantavam-se os portugueses diante da higiene dos indios, que banhavam-se constantemente, pintando o corpo por vaidade, mas tambm como proteo ao sol e aos insetos. Curava-se das doenas por processos prprios, usando o fogo, folhas e razes medicinais. Dormia em redes ou esteiras sob a proteo de um teto comum. ESTADO SOCIAL Sem noo de ptria ou de dinheiro, sem rei e sem lei, rarssimamente atritavam-se entre eles, desconheciam as competies em torno de vaidades pessoais, ambies, ou desavenas por motivos de amor. Guerreavam contra triboos diferentes, mas no convvio entre os da mesma tribo a paz era constante e o trabalho benfico e constante. Jamais foram antropfagos e nunca mataram um inimigo que fosse para saciar a fome. Tal mentira no tem a menor lgica diante da fartura existente de alimentos e da evidncia da impossibilidade de que a carne de um prisioneiro bastasse para alimentar durante um dia que fosse toda uma tribo composta de mais de mil indgenas. Matavam ou sacrificavam um prisioneiro de guerra sim, mas como vingana ou demonstrao de fora e bravura. VIGOR MORAL, UMA TICA NATURAL Os nossos indios, no dizer dos jesuitas que muito os amaram e compreenderam, eram moralmente muito superiores ao europeu que aqui chegou. Os vcios aos quais depois se entregaram, as misrias que praticaram e os crimes que cometeram logo aps o incio da colonizao foram apenas os primeiros frutos de uma rvore maldita, aqui plantada por degredados sados dos presdios de Lisboa, pelos escorraados de uma civilizao corrupta,

e por aventureiros de toda espcie, vidos de ouro, escravos e libertinagem. A GRANDE TRAGDIA Se os indios tivessem podido escrever a sua tragdia, que se iniciou naquele ano de 1500 e que se prolonga dolorosamente at hoje, no teriam encontrado, mesmo na mais civilizada das linguas, palavras bastante duras para dar uma vaga idia da vergonha, do achincalhe e da dor, do despotismo e da infmia, da traio e da violncia que sofreram, como que condenados pelo crime nico de serem ingnuos e leais. Recordemos sim estas misrias passadas para que elas no continem a se repetir em nossas terras e para que nos orgulhemos sempre dos nossos primeiros, maiores e honrados habitantes. O destino quiz que os nossos primeiros brasileiros fossem assim massacrados, seviciados, atirados escravido ou ao trabalho mercenrio; e que seus lares fossem transformados em prostbulos e suas tradies ridicularizadas; mas a sua lingua foi escrita e guardada como a um tesouro. E nele esto as prolas de uma lingua suave, elegante e copiosa, falada pelo mais infeliz e desgraado dos povos. UMA LINGUA SUAVE,ELEGANTE E COPIOSA Mas como podiam ele dispr de uma lingua que os jesuitas comparavam grega? Provinha ela de um foco primitivo irradiador, onde a cultura intelectual de seus habitantes deveria ser indiscutivelmente superior. O nosso indio foi uma espcie de depositrio de um imenso e valioso patrimnio lingustico e o entregou quase intacto aos que vieram dominar a nossa terra. Falava-se no Brasil vrias linguas subdivididas em dialetos, mas o colonizaor europeu adotou apenas aquela que mais ou menos era entendida ao longo de toda a costa brasileira e a que lhe prestava mais servios no contacto com o indio. Assim tambm fizeram os padres para catequiz-los.

As outras linguas que se falava pelo interior do Brasil eram chamadas linguas travadas. Eram speras e difceis de se aprender. Assim o tupi predominou e era realmente a lingua geral do Brasil. A lingua que todos entendiam e falavam por toda a colnia. ELEMENTOS DESAGREGADORES: EUROPEUS E JESUITAS Dois elementos desagregadores influiram logo aps a descoberta para arrrasar e pertubar o povo indgena que aqui habitava. O europeu que deixava na Europa os preceitos morais e sociais e aqui chegava com os olhos e o corao voltados para a miragem das riquezas e o anseio incontido de ser livre. E o jesuita que vinha impr sua religio para salvar aquelas almas em nome da maior glria de Deus. O europeu deu vazo aos seus instintos e intitos. Conspurcando a honra das familias indgenas, enganando, escravizando e matando os indios, assim como se escraviza e mata uma fera qualquer. Outro, o padre, por meios brandos, impondo-se e condenando, ao menos formalmente, as atitudes do europeu. A DIVISO E O EMBARALHAMENTO DAS TRIBOS Os indios, influenciados por uns e outros, dividiram-se em grupos, aliando-se de um lado e de outro, tornaram-se inimigos entre eles prprios. Novos europeus vieram, novos religiosos vieram e novas divises ocorreram entre os indios. Indios adeptos de franceses, indios dominados por portugueses e indios obedientes aos padres. Se o estrangeiro nestas lutas perdiam alguma coisa, o indio perdia quase tudo: a tradio, os usos e costumes, a unidade dos seus povos, a pureza da lingua e, em geral, a vida. Perdendo tanto claro que tinham que ganhar alguma coisa, e ganharam: dios, molstias, sde de vingana, despudr, ambies e venalidades. Desde ento implantou-se a anarquia geral. Retiradas em massa para o interior e o embaralhamento completo das tribos, que continuaram at os nossos dias. O colonizador e o padre provocaram a diviso e a disperso das tribos e criaram para eles mesmos um ambiente horrvel no nosso Brasil. Um ambiente de hostilidade, de perigos e de total desconfiana. A EXPANSO DA LINGUA TUPI

A lingua tupi, adotada por europeus e padres para se aproximar e dominar o indio expandiu-se pela ao dos prprios conquistadores, principalmente pelos bandeirantes que a levaram para o serto. As grandes bandeiras difundiam o tupi e os padres falavam, estudavam e escreviam o tupi, facilitando o aprendizado. O portugues era a lingua oficial, mas a lingua do povo, a lingua dos lares, a lingua da catequese, a lingua do comrcio, era a lingua tupi. At o comeo dos anos 1700, ou seja menos de trezentos anos atrs, a proporo entre as duas lingas faladas na colonia era, mais ou menos, de tres para um do tupi para o portugues. Em cada quatro brasileiros tres falavam tupi e um falava portugues. As duas linguas se influenciaram mutuamente. Os fonmas speros foram abrandados e o domnio total dos portugueses acabou por mascarar por completo termos e frases que hoje com grande dificuldade se consegue interpretar. No incio o invasor s ouvia a lingua, foneticamente pura e intacta. Depois passou a falar a lingua com a pronncia alterada e finalmente a lingua foi escrita pelos jesuitas que, alm de registrar a pronncia alterada no encontra letras para registrar os sons caractersticos do indio. O tupi que hoje comeamos a estudar o tupi amoldado ao modo brasileiro de falar o portugues.

Sesso 2 COMENTRIOS Convido voces, partindo dos tpicos que foram focalizados, a fazer um esforo de imaginao e pensar o Brasil tal qual ele seria em 1500. importante mesmo, fazer isto. Comear imaginando o ambiente e a vida do nosso ndio naquela poca, j nos d uma idia da lngua deles. Claro que o vocabulrio era simples e pequeno. Era em torno da familia, dos afetos, das brincadeiras, das atividades econmicas deles, caa, pesca e alguma agricultura, do mato, dos rios e dos animais. A lingua realmente suave e elegante. Basta ver que o tupi no tem fonemas correspondentes a d,f,l,v,z

e no admite duas consoantes juntas como o portugues que tem br,cl,tr, e outros. Quando se diz que uma lngua copiosa e extensa porque ela estava em sua fase aglutinante quando os portugueses aqui chegaram e interromperam sua futura evoluo. Aglutinante no caso significa que se pode formar um sem nmero de vocbulos justapostos. Por exemplo, os jesuitas pegaram oca=casa e tup=deus, juntaram as duas e disseram aos indios que tupanaroca=igreja. O indio entendia. E assim formaram-se uma infinidade de palavras tupis que o indio nunca falou, nem falaria. preciso refletir tambm sobre o ltimo pargrafo da nossa aula. Autores que usam grafias diferentes, cada um a seu modo, contribuiram muito para confundir e limitar a difuso do tupi. Por exemplo: itatiba,itatyba,ytatyba,ytatiba. A mesma palavra com quatro grafias. Iguau,Iguassu,Yguau,Yguassu. E assim por diante. Ke,Ki,Ky,Que,Qui,Quy, usa-se indiscriminadamente. Prefiro adotar uma simplificao que Luis Caldas Tibiria adaptou para seu alfabeto, bastante lgica e livre de complicaes. O ttulo desta aula em tupi, Moranduba Tupi, significa notcias do povo tupi. Moranduba notcia, isto , ao p da letra: ouvindo ou sentindo a alma do povo tupi. moro-anga-enduba o outro-alma-ouvir VOCABULRIO: Abaixo um pequeno vocabulrio alfabtico pr quem quizer formar palavras e at algumas frases: abaporu aba-poru (homem que come gente, antropfago) butantan (terra muito dura) copacabana enseada que se yby-tan-tan terra-dura-dura homem-comer

cu-cocaba-ana enseada-encostar-que(

encosta (a canoa) essuna guaraciaba ess-una cuaracy-aba olhos-negros sol-cabea/cabelos

ou( raios de sol, cabelos louros) ipanema y-panema gua-ruim(imprestvel para pesca) existe uma outra verso : y-ape-nena gua-caminho-curvo(gua que faz um caminho curvo) (nena leva til no e e vem do guarani) jacy ya-cy fruta-me (a lua, a me de todos os frutos) moraussuba moro-a-suba o outro-desejo-visita (a visita do desejo pelo outro) amor, afeio, benquerer. nheengatu nheenga-catu linguagem-boa (lingua

boa, a lingua tupi, a lingua dos tupis) e nheennheennheen tagarela,falador - nhengara canto,cantiga,cantador oje pindaiba hoje pinda-aiba anzol-ruim (que no

pesca, que fica sem pescar) rura trazer,vir com

sy me, origem, semente e syyra ( tia materna, ou seja, irm da me) tapejara senhor dos caminhos, o guia) usseia tape-jara caminho-senhor ( o

desejar, querer comer ou beber, sede

xar xe-rer eu-semelhante (omnimo, semelhante a mim, ao meu, o mesmo que) e Xu=Joo e xy=me e xi!(psiu!,silncio!) y gua,rio,bebidas,estado lquido em geral e Ybytu=vento e yby=terra,cho

EXERCCIOS: Fazer frases com o vocabulrio acima. Exemplo de frase: oje xe nheengara. (hoje eu canto.)

Para discusso: Ser que saudade uma palavra tupi? Dizem que no, mas...quem sabe?: ess-y-nda-nde = olho-gua-ela-no (tenho gua nos olhos porque ela est ausente) falando rpido: essindind, virou saudade. ser?

Sesso 3

ESPAO PARA CONSULTAS Neste espao colocarei sempre uma das muitas consultas que me fazem em funo do meu vocabulrio. Esta primeira de uma aluna do curso: "Prezado Joubert, Gostaria de saber qual a traduo: tupeiaba e guaxima (so arbustos que eram utilizados, no sculo passado, para fazer vassoura, na regio sul-fluminense). Tenho desconfiana que estas palavras devam ser indgenas. Se possvel me fornecer tal informao, agradeo desde j. Obrigada Resposta: Oi Simone, primeiro muito obrigado pela consulta que s me d prazer e depois parabns pelo seu interesse nas palavras indgenas. No caso voce acertou em cheio. As duas palavras no apenas so indgenas, mas so palavras da lingua tupi. A lingua geral falada no Brasil at 1700. O tupi antigo. Guaxima uma corruptela das palavras originais: Gua-syma que

significam: o que liso ou lustroso e no caso se refere fibra sedosa da planta que tem este nome e cujo nome cientfico (urena lobata).ok? Tupeiaba uma corruptela das palavras originais: tu-pera-saba que significam: instrumento que serve para varrer. ainda detalho mais para voc: pera=varrer, saba= com que, instrumento que, o que serve para (em suma um sufixo instrumental) e o tu= meio prefixo, muito til na lingua tupi que serve para compor a palavra e mostrar tambm que atividade superior, ou seja, de homem. Posso te dar um exemplo disto: endy saliva, mas se fr saliva de bicho sendy se fr de homem tendy. Viu? entrou o homem eles colocavam t. Outra coisa: vassoura peissaba, portanto acho que voc devia grafar a palavra com dois ss, ou seja tupeissaba e no tupeiaba, mas isto muito comum no tupi, uma infinidade de palavras que deviam estar com ss esto com , uma pena porque confunde o aprendizado da lngua. Adorei sua consulta e tambm aprend muito com ela. No sabia que eram arbustos da regio sul-fluminense." FIM DA AULA INTRODUTRIA

Caros alunos, estou aguardando as crticas e sugestes, comentrios e dvidas. Quem tambm no gostar, ou no puder ou quiser continuar recebendo as aulas s me comunicar. J somos, repito, por volta de 4000 os integrantes da nossa tribo de internautas estudiosos do tupi antigo. As aulas seguiro a cada primeiro dia do mes. So ao todo doze aulas. Divulguem o curso vontade, podem e devem divulgar as aulas pr amigos, famlia, instituies, etc., formaremos assim uma bela corrente pedaggica em prol da Nheengatu, bela, suave,elegante e copiosa...

-Ol, segue a segunda aula conforme commbinado. abraos joubert P.S. Havendo interesse imediato no material completo de tupi, > >>> independentemente do curso grtis por email, mande-me um endereo para > >>> que eu possa enviar para voc o CD multimidia, incluindo o Curso, as > >>> Cantigas e o Vocabulario Portugus-Tupi (R$15), pelo Correio, com > >>> instrues. ok? > >>> abrs. > >>> joubert > >>> > >>> > >>> Ol meus carssimos alunos do 39 Curso de Tupi, segue abaixo a segunda. As demais, so doze no total, > >>> devero ser solicitadas > >>> a cada quinze dias. Somos quase 4000 alunos cursando a Lngua > >>> Braslica. > >>> Continuem divulgando o Curso, para que possamos ter o maior nmero > >>> possvel de alunos neste ano de 2007. ok? > >>> abraos > >>> joubert CURSO DE TUPI ANTIGO PROF. Joubert Di Mauro Segunda Aula 2007 SEGUNDA AULA Sesso 1 O ALFABETO Uma das maiores dificuldades quando a gente inicia o estudo do tupi a grafia das palavras, cada autor escreve como est acostumado a escrever no alfabeto da sua lngua e adota uma srie de sinais grficos para interpretar os sons que no percebe bem. O y, principalmente, tem um som tpico. Para pronunci-lo corretamente preciso colocar os lbios na posio de i e a lngua na posio de u, que o inverso do som do u francs, embora muitos digam que parece o u francs. Se depois do y vier uma vogal, como em yara, a impresso que se tem ao ouvir o som de y(g)ara, parece um g. Para este som de y j se viu tudo que grafia possvel: u, com trema, y com circunflexo, i com circunflexo, etc. O Padre Anchieta grafava y(g). Ns vamos procurar ficar fora destas dificuldades e adotar o alfabeto portugus com algumas pequenas alteraes. 1. O som do (R) sempre leve, brando, mesmo no incio de palavras. Nunca tem o som forte que usamos em rato. Rana, Rura, se falar sempre com o som de Paris, arame, etc...

2. O som do (S) meio chiado, no to sibilado e nunca ter o som de z, mesmo que fique entre duas vogais. No caso, como em portugus e para facilitar a nossa pronncia, coloca-se dois ss, como em ess = olho, mas poderia ser es e o som seria o mesmo. Encontra-se e em muitos autores. 3. O u depois do q, como em palavras que soam Que e Qui, lquido, no aparece, portanto, vamos substitu-lo pelo k que o som exato. Ke e Ki. Itaqui ser itaki e em vez de Quera, escreveremos Kera=dormir. (Pitna oKri = A noite adormecida) 4. O d inicial nunca puro, um d nasal, isto , nd e mesmo no meio da palavra o som nasal. O b tem sempre o som nasal, prximo a mb, principalmente no meio das palavras. As consoantes so bastantes dbias e confusas, principalmente o P, o B e o M. Exemplos: Burity, Murity, Maran, Paran, Biri, Piri, so palavras que comumente se confundem. E o c, s vezes, se muda para p, como em Ibiracura para Ibirapura. 5. Ao contrrio das consoantes, as vogais tupis so riqussimas: a,e,i,o,u,y , vogais orais e outras tantas nasais, com til, alm dos sons diferentes que representam quando devidamente acentuadas: , , , , ^i, , , , . 6. No existem no tupi os sons de F,J, L, V e Z, nem compatvel com a lngua os grupos bla, bra, pla, pra, cla, tra, gra e outros, isto , grupos com duas consoantes juntas. Por influncia do portugus algumas daquelas letras entraram na grafia tupi, e assim, as palavras escritas hoje com J, que se pronncia como dj deveriam ser com i, As poucas que tm L tinham r brando. Sesso 2 FUNDAMENTOS A) A maioria das palavras tupis constitudas por razes com uma ou duas slabas que j definem praticamente de que assunto se trata. Por exemplo: CAA mato, planta, SOO animal, bicho, alis no mundo inteiro e em qualquer lngua, qualquer jardim zoolgico tambm Zoo, ou Soo, tanto faz, dependendo da pronncia mais ou menos branda. Y sempre gua, ou um lquido qualquer, A cabea, coisa arredondada, e tambm, semente, raiz. Tais monosslabos se perdem no passado da humanidade e no se sabe deles, a origem. Outras razes importantes so: Sy me Tuba(ruba) pai, tronco Aba pessoa, homem, ndio Yby a terra, o cho Oca a casa, o abrigo An sombra, vulto, fantasma U o talo, a haste It a pedra, objeto duro, metal Ara dia, luz, tempo, clima, hora, nascer. Como se pode observar so substantivos simples e com eles so compostas uma infinidade de vocbulos. muito importante saber estas pequeninas palavras porque elas nos permitem identificar de imediato o assunto sobre o qual se est falando. B) A infinidade de nomes tupis que a gente encontra na geografia brasileira, nas denominaes

dos animais, das plantas, etc., so quase sempre descries perfeitas e rigorosas das coisas a que se referem e envolvem uma explicao inteira. Cada palavra uma verdadeira frase, o que alis um dos grandes prazeres do estudo da lngua. Decifrar o significado das palavras, recorrendo inclusive a uma visita ao local. Exemplo bom : Paranapiacaba = parana-epiaca-caba , mar-ver-lugar onde. Lugar de onde se v o mar. Quem conhece diz que a descrio perfeita. C) As regras para voc construir uma palavra ou uma frase so bem claras e definidas, e o conhecimento destas regras importante para compreender a lngua. preciso tambm observar e considerar com muito cuidado o fato de que o tempo muitas vezes altera profundamente as razes e os elementos essenciais das palavras, tornando difcil sua traduo. Exemplos conhecidos so Butantan e Botucatu, que na verdade seriam Yby-tt, terra-dura, firme e Ybytu-catu, vento-bom. Algumas regras para composio de palavras: 1. Na reunio de duas palavras a regra geral pode ser observada nos exemplos abaixo: it+piranga itapiranga pedra vermelha (aqui ficou igual) ybaca+oby ybacoby cu azul (aqui caiu a ltima vogal) ybaca+piranga ybapiranga cu vermelho (aqui caiu a ltima slaba) 2. Na reunio de dois substantivos o possuidor vem primeiro e o possudo depois, sem ajuda de preposio: Tupoca ou Tupanaroca Casa de Deus Jaguaress olho de ona, isto , jaguara=ona e ess=lho Abapy p de homem, isto , aba=homem, ndio, pessoa e py=p 3. Na reunio de um substantivo e um adjetivo: guir+tinga pssaro branco (como em portugus) pir+juba peixe amarelo" D) A lngua tupi aglutinante e no flexiona em gnero e nmero. No h artigo definido nem indefinido. Para se distinguir sexos utiliza-se as palavras macho=mena e fmea=cunh. Para o plural usa-se os sufixos et e tyba (muitos) e (grande quantidade). Os pronomes pessoais e que servem de possessivos tambm, so: Xe eu, meu e minha nde tu, teu, tuas e teus i ele, dele, deles e delas or ns, nosso, nossa, nossos e nossas pe Vs e vosso i Eles e deles ATENO: - sobre os pronomes e os prefixos verbais relativos a estes pronomes falaremos com mais detalhes na prxima aula, pois so importantssimos na lngua.

Sesso 3 VOCABULRIO agradvel, bom, bem catu amigo a amor, afeio moraussuba bom ,para comer, maduro auj bom ,tempo aracatu bom! , que bom! ang! bom, afvel angaturama bom, bom dia mocoema bom, coisa boa marangatu bonssimo catuet bonito, belo poranga corao grande, generoso pyaussu corao nhy corao, fgado py coragem, corajoso ecoet corajoso, homem de valor abaet flauta mimby tor flecha Uyba flecha ,envenenada Uybassy mo P Mo, dedo da mo, po Mo ,direita ecatuaba Mo ,esquerda assu Mo, unha poap Mo, cinco xe p Mos, e ps, vinte xe p xe py Mar, rio profundo paraguassu Origem, princpio yaba Origem, semente sy Orqudea ,espcie de Sumar Orvalho yapy os ,outros, a gente moro rio, gua y risonho nhear silncio!, psiu! xi! silencioso, calado kirir sim ,em resposta e, simptico obassia simples, humilde caapora temor, medo, receio xikyssijeba temperar, temperado moee tempestade ,com ventania tor tempestade ,marinha yaba tempestade, chuva torrencial amanassu templo, altar camussit tempo, bom, dia claro cuacatu ver, avistar epiaca ver, olhar ex, mae

vero, sol cuarassy verdade anh, supi, rar verdade, verdadeiro upinduara xar homnimo xar xcara, asa de, pyssycaba Yra senhora das guas Uiara zangado rspido jeasseia zarolho estrondear toror Exerccio: faam pequenas frases, mesmo sem os verbos, que ainda no estudamos...

Sesso 4 Ouvi do ndio Terena numa palestra no Museu do ndio, sobre as festividades dos 500 anos do nosso descobrimento: "CELEBREMOS O FUTURO NO RASTRO DO NOSSO PASSADO " A cultura do ndio era uma cultura oral. O ndio somente falava. No tinha alfabeto, no escrevia, nem lia. Seus conhecimentos, suas tradies, sua sabedoria, seus ensinamentos e principalmente sua lngua foram transmitidos atravs de lendas, contadas por eles, de gerao em gerao. As lendas so como luzes, que iluminam as sombras do passado longnquo desses povos primitivos, mas um passado puro e verdadeiro. Estudando-as, lendo-as e compreendendo sua lngua, reencontramos o caminho natural e autntico do ser humano. Atravs desses estudos a gente fica sabendo como eles amavam a terra, viviam o amor, o casamento, a maternidade, a alegria das suas festas, o respeito devotado s mulheres e a extremada dedicao aos filhos. O ndio era, moralmente, um ser superior. (superior ao europeu no dizer dos jesutas) preciso nunca deixar morrer a cultura dos povos primitivos, porque esses povos estavam muito prximos das verdades primeiras da humanidade. Estes povos foram o que ns autenticamente somos, quando em estado puro. O processo civilizatrio, embora inevitvel, precisa respeitar e integrar-se ao eterno imaginrio dos povos ingnuos, inclume diante da histria. Carlos von Martius considera a lngua tupi como o documento mais geral e mais significativo para quem quiser saber como se deve escrever a histria do Brasil. E sempre alertou para o perigo de sua extino, inclusive porque as lnguas americanas sofreram. e sofrem um permanente e srio processo de fuso. Portanto, estimular a pesquisa e a difuso da lngua tupi nunca ser demais. O General Couto Magalhes, ainda no sculo passado, numa Sesso do Instituto Histrico e Geogrfico apresentou um plano comemorativo do Quarto Centenrio do Descobrimento do Brasil, indicando como principal assunto para essa comemorao o estudo das etimologias braslicas, isto , do brasilianismo. J estamos indo para os 500 anos do Descobrimento e muito pouco se fez. preciso, portanto, primeiro apreciar o carter da lngua tupi e a sua extenso no Brasil e depois estudar sua evoluo atravs da influncia do portugus e o processo de alterao fontica da lngua. importante levantar a ponta desse vu de esquecimento que pesa sobre a memria de um povo quase desaparecido e a quem sucedemos no domnio destas terras brasileiras. A lngua tupi deve sua notvel expanso aos prprios conquistadores europeus, s expedies e s bandeiras que penetraram o serto brasileiro e principalmente catequese, que tornou geral esse idioma indgena e o cultivou. Nossa elite, porm, nossa sociedade moderna e culta , infelizmente, no lhe d valor e coloca a lngua tupi no rol das coisas inteis, incompreensveis e enigmticas. Esqueceram uma lngua comprovadamente rica e bela pelos seus cultores do passado. Uma lngua que nem sequer desapareceu definitivamente como lngua viva no Brasil. Nos nossos vastssimos sertes, na Amaznia e nos campos do Paraguai ainda vagam numerosos contingentes de representantes das naes selvagens, dos quais se podem ainda escutar as vozes tupis. E mais ainda, os nomes tupis esto voltando e existe hoje uma preferncia por colocar nomes

indgenas, puros, naturais e significativos nos prdios, nas praas e ruas, nas localidades novas, stios, barcos, lojas, empresas e produtos. Isto motivo de alegria e toca nosso sentimento patritico. Um sentimento nacional diferente, integrado e vivido como aquele que temos pelo nosso esporte e pela nossa msica. A raa indgena que aqui vivia, vencida, perdeu, mas no perdeu tudo. Sua memria vem crescendo exatamente nos nomes tupis dos lugares onde o progresso mais ostenta seus triunfos, mesmo que a dosagem de sangue indgena nas veias de seus descendentes venha diminuindo. Pela boa acolhida que nosso Curso teve e tem tido d para sentir o amor da nossa gente ao passado do Brasil e o desejo de conhecer e de demonstrar estima pelo que herdamos dos ndios, senhores deste pas.

Sesso 5 ESPAO PARA CONSULTAS "Caro Joubert, Valeu. Gostei. Quer dizer que a palavra Brasil tem origem Tupi? E a tal his(es)tria da madeira cr de brasa? Exerccio 1) Bem vai l minha tentativa de formar uma frase: Tan tan Morubixabanheennheennheen abarura pindaiba Ttraduo: Cabea dura de chefe tagarela deixa homem mal de pesca. verso: FHC boca mole deixa famlias na pior Exerccio 2) Py xe: Meu corao emimbo:?? (emimbo : som de flauta?) Um abrao, Mrio" RESPOSTA: "Grande Mrio, j vi que voc ser um excelente emimbo. Primeiro: no, no, eu no quis dizer isso no. a origem da palavra Brasil portuguesa mesmo. no tem nada de tupi. e exatamente se refere madeira cor de brasa. brasil, brasa, braseiro tudo portugus mesmo. O que eu disse que alguns estudiosos, principalmente Peregrino Vidal, pseudnimo de Frei Fidlis, consideram umas inscries rupestres descobertas em vrias regies do Brasil, como indicativas de que h muitssimos anos atrs, quando ainda existia o tal continente Atlntida - que dizem que afundou, mas que nos ligava frica e sia - os atlntidos, sumrios ou judeus teriam sido os que primeiramente vieram para o nosso pas. E na lngua deles, se no me engano, na dos sumrios, be-ra-zil significava "terra dos cantores tostados". Portanto, a palavra Brasil pode tambm ter esta origem sumria, jadaica ou da atlntida. Mas uma especulao, ningum tem certeza. Em tupi, Brasil seria, como j foi dito muitas vezes, Ybyrapitanga, ybyr=madeira pitanga=vermelho. Ou Pindorama, Terra das Palmeiras como disseram outros. Segundo: gostei de sua frase humorsticamente indignada. Quanto forma voc j vai aprender que no tupi, o possessivo igual ao ingls (voc v que o nosso ndio era formidvel) o possuidor vem na frente. o morubixaba que tem a cabea dura e tagarela, logo, vem primeiro. ento seria: Morubixaba abatantan nheennheennheen abarura pindaiba. Sua frase tima. Claro que tem alguns pequenos senes, porque Rura no seria o verbo mais apropriado. Talvez Rass (que significa "nos levou", nos conduziu pindaiba, no verdade?)teramos tambm que aplicar um prefixo designativo do conjunto da tribo,

na palavra Aba, homem. Talvez, jand, que se aplica a "todos ns" e ento a parte final da frase seria: abajand orrass pindaiba. (o or o ns, de nos levou).ok? em suma: "Morubixaba abatantan nheennheennheen abajand orrass pindaiba." e a frase ficaria bem boa! Terceiro: Py xe emimbo = Meus alunos do corao. Como lhe disse acima, o corao, no caso, o possuidor vem na frente. Como os alunos so meus, xe, tambm vem na frente de alunos e emimbo aluno, discpulo. Palavra que o ndio, seguramente, nunca usou. deve ter sido inventada pelos jesutas, voc confundiu, e compreensvel, com flauta. que tem o som parecido, mas tor. Um abrao e obrigado, Joubert

Sesso 6 COMENTRIOS Um total de quase 2000 alunos internautas j participam conosco desta aventura de elevar nossa lngua me, a lngua boa, categoria de importante patrimnio lingstico e cultural brasileiro. Muitos dos nossos ex-alunos tem, j, por conta prpria, feito um trabalho admirvel no sentido da divulgao do nosso curso e do tupi, de modo geral. Peo, portanto, que vocs o divulguem tambm, para que possamos ter o maior nmero possvel de alunos...formaremos assim uma bela corrente pedaggica em prol da Nheengatu, bela, suave,elegante e copiosa... Ok? FIM DA SEGUNDA AULA ................................................................................................................................................................ ......................... TERCEIRA AULA

segue a terceira aula do curso de tupi grtis e por email. As demais, so doze no total, voc poder solicitar a cada quinze dias. Somos quase 4000 alunos cursando a Lngua Braslica. Continuem divulgando o Curso, para que possamos ter o maior nmero possvel de alunos neste ano de 2007. ok? abraos joubert P.S. Havendo interesse imediato no material completo de tupi, independentemente do curso grtis por email, mande-me um endereo para que eu possa enviar para voc o CD multimidia, incluindo o Curso, as Cantigas e o Vocabulario Portugus-Tupi (R$15), pelo Correio, com instrues. ok? abrs.

joubert

CURSO DE TUPI ANTIGO PROF. Joubert Di Mauro TERCEIRA AULA 2007

Sesso 1 "O TUPI NO PODE MORRER NEM MORRER" O Tupi dos nossos primeiros habitantes, to rico, to plstico, harmonioso e castio no evoluu, ao contrrio, podemos falar sim de decadncia, de envelhecimento. Ele foi grandemente adulterado e empobrecido. No temos que nos preocupar, portanto, inicialmente, em falar Tupi, inclusive porque os exemplos atuais de expresso oral e escrita da lngua, assemelham-se mais a um hbrido lingustico neotupi-portugus de pssimo gsto e de cunhagem duvidosa. como se devessemos balbuciar um novo idioma. E no deve ser assim. Primeiro preciso voltar s origens para que possamos, a partir da, elevar o Tupi categoria de um produto verdadeiramente cultural e estimado por todos e no deix-lo na situao em que se encontra hoje, visto pela grande maioria como uma aberrao lingustica ou uma manifestao lamentvel de atraso e incultura. O Brasil um pais bilingue assim como a Espanha dos bascos, a Inglaterra dos galeses, os Thecos e os Eslovacos, a Blgica do flamengo, o Paraguai do guarani e como tantos outros povos. Uma modalidade bilingue que no passageira nem foi criada artificialmente, mas nascida e vivida dentro de um processo evolutivo tnico, racial mesmo, econmico-social e definitivamente arraigado, na nao brasileira. O Tupi nos liga nossa terra e uma parcela pondervel de nossa realidade racial coletiva. Parte essencial da personalidade brasileira. No quer isto dizer que o portugus no seja a porta principal e insubstituvel de comunicao e penetrao cultural entre ns. Mas no se pode destruir o Tupi sem mutilar nossa cultura, nossa personalidade. O Tupi a nossa natureza, a palavra pura que melhor a representa, o canto primitivo dos nossos ancestrais, representa a idade de ouro do homem brasileiro, o ybymareyma, terra sem mal, o Paraso. Sem passado, sem genealogia lingustica, o Tupi filho da raa que o engendrou, filho da noite escura que se perde no passado longnquo, um grozinho de luz em meio ao mistrio csmico, talvez a primeira lngua que um ser humano falou. Poristo ele tem algo de hermtico, como se escondesse um segredo, um mistrio. Sua fra de expresso transcende o vocbulo. Permeia o silncio, comumente, entre suas frases. Tem nada, ou tudo, entre duas palavras, s vezes. Sempre sugere mais do que diz. Quando se analisa profundamente a origem de uma palavra Tupi tem-se a

impresso de que se est tocando no mago mesmo do mistrio que envolve a origem da linguagem humana. preciso sugar no seio desta me lngua para apreender o significado de um vocbulo e para entrar, definitivamente, na sua intimidade. E o portugus? o portugus ao contrrio, se formou sob os holofotes da histria, neo-latina, reproduo, eco de lnguas mais antigas, assim como o espanhol, italiano, francs e outras. Veio sendo forjado nas noites sombrias da Europa medieval, nas conquistas brutais, nas ambies coloniais, coetneo de um amor religioso pelo ouro, cobia, egoismo, inveja... E foi assim... que estes dois idiomas entraram em propores diversas e variadas na formao do nosso povo braslico. Duas formas de expresso, dois impulsos inteiramente diferentes, certos ou errados, mas que podem, quem sabe, esconder o segredo de um grande destino para o nosso pas.

Sesso 2 VERBOS

Em Tupi o verbo se conjuga com partculas que vm antes dele e no como no portugus, por mudanas nas terminaes. Um exemplo clssico do modo indicativo: Em portugus: tu ele ns vs eles Em tupi: nde i ore pe i xe eu mat mat - as mat - a -o

mat - amos mat - ais mat - am - juc re - juc (aqui na segunda pessoa usa-se tambm ere) o - juc ore - juc (aqui na primeira do plural usa-se tambm oro) pe - juc (aqui usa-se tambm pee(~). til sbre o e final) o - juc a

Usa-se tambm jand, ou yan, na primeira do plural quando queremos indicar "ns todos". Com tais partculas precedentes conjugamos os verbos dispensando-se at os pronomes pessoais. No existem verbos auxiliares na lngua tupi. Os verbos aic ou ic, que significa ser, estar e rec que significa ter, possuir, so empregados sem obrigatoriedade, porque quando o indio diz xe catu, ou seja, eu bom, est implcito o eu sou bom. Ic e rec so evidentemente usados como auxiliares quando o sentido de uma frase dbia assim o exigir. Em geral a voz do verbo sempre a mesma para expressar, presente, pretrito, mais que perfeito... mas, dependendo do sentido da frase: ajuc pode ser: eu mato, eu matava, eu matei, matara ou eu tinha morto

ojuc pode ser: ele mata, ele matava...etc. e tambm eles matam, eles matavam...etc. orejuc : matamos, matvamos etc. Para firmar o sentido da frase, porm, quanto ao tempo do verbo e em no se sabendo o contexto da frase, empregam-se partculas e at advrbios esclarecedores. Exemplos de outros tempos verbais: Passado: ajucum=eu matei, acaruram=eu comi (usa-se tambm,coir) Condicional: ajucmo=eu mataria, acarumo=eu comeria Futuro: ajucne=eu matarei, acarune=eucomerei(usa-setambm,rama,reme,mir) Gerndio: jucbo=matando, carubo=comendo Imperativo: ejuc=mate, ecaru=come Para conjugar os verbos na forma negativa, basicamente, coloca-se a partcula negativa nda, que toma, tambm as formas (nd`,na, n`) por eufonia e o sufixo tono i no final do verbo. Ex: nd`ajuci=no mato Para fins de exerccio convm desenvolver os verbos dos exemplos acima. Isto importante porque o captulo mais difcil da gramtica e da prpria ndole da lngua tupi o que trata dos verbos, tantas so as regras, terminaes, partculas, advrbios e formas variadas de construo, das formas verbais, citadas pelos primeiros autores, que mesmo difcil aplic-las com segurana. Os autores mais modernos, pior ainda, quizeram arrolar tantas variaes sutis de formas verbais que criaram mais dificuldade ainda. Entretanto no vale desanimar, com a prtica, na construo de frases e nas tradues, a gente acaba entendendo que, por exemplo: ndacaru-rami significa que ainda no com, que acaru-rama, significa que eu hei de comer e caru-mir comerei depois, ou futuramente. Sem muita regra. No ouvido a gente acaba entendendo que deve ser assim mesmo. meio onomatopico. No adianta muito estudar com meticulosidade todas as regrinhas, excesses e irregularidades dos verbos. Inclusive porque seno a gente no avana. Portugus tambm assim quando a gente estuda gramtica. Qual foi a ltima vez, por exemplo, que um de ns empregou o vs?, segunda pessoa do plural, de um verbo qualquer, na segunda pessoa do plural, no tempo mais que perfeito, digamos: eu matara, tu mataras... vs?... ou eu tinha comido, tu tinhas comido... vs... Talvez nem nunca tenhamos usado, no verdade? Voltaremos ao assunto verbos, apresentando excees e outras construes na prxima aula.

Sesso

3

ESPAO PARA CONSULTAS

To: [email protected] Subject: Lenda da mandioca "Estive visitando sua Home Page e achei interessantssima. Como dou aula de artes, eu gostaria que voc me mandasse a Lenda da Mandioca na lngua Tupi

e Portugus, ilustrada para os meus alunos poderem conhec-la. Espero poder ter contacto com a msica indgena tambm. Agradecida: Denise Borges." RESPOSTA Oi Denise, que bom que voc gostou do meu site e desde j te agradeo muito pelo interesse demonstrado em oferecer aos seus alunos as coisas relativas aos nossos queridos primeiros habitantes. Quanto s lendas, existem muitas, algumas interessantssimas como a da noite, a da mandioca, a das estrelas, etc. e eu pretendo coloc-las tambm no meu site. Sbre a lenda da mandioca existem vrias verses e a que mais me encanta uma bem simples: "Mani era uma indiazinha muito triste porque seu pai no gostava dela - ele tinha dois filhos, um menino e uma menina. Ele amava o filho e desprezava a filha. (Aquela histria do pai querer sempre um filho, varo...grande guerreiro...etc.). Quando Mani procurava dirigir-lhe a palavra, o pai virava o rosto, fingia que no lhe ouvia, assobiava e saa de perto dela. Se ela o chamava, ele lhe respondia por meio de assobios, nunca lhe dirigia a palavra. Assim ela foi ficando cada vez mais triste...triste... e sempre pedia sua me para que ela lhe enterrasse viva, porque ela no queria continuar a viver assim sem utilidade nenhuma. A me claro que no lhe atendia o desejo, mas depois de tanta insistncia... um dia... a me concordou... acabou cedendo aos rogos da filha e foram as duas procurar um lugar bem bonito para enterrar Mani... Mani ento, pediu sua me para que depois de enterr-la no voltasse o rosto para v-la, ela tinha que ir embora sem olhar para trs. E assim foi feito, logo depois de enterrada comeou a aparecer um lindo p de mandioca, alto e formoso, mas neste instante, sua me no resistindo e querendo olhar para um ltimo adeus sua filha, virou-se e olhou para o local onde havia enterrado Mani... Imediatamente a linda rvore que nascia, cau, tornando-se um arbusto rasteiro... Esparramou-se pelo cho e poristo at hoje a mandioca nasce enterrada como uma raiz...e foi e , at nossos dias, um produto muito importante na alimentao da tribu de Mani e dos povos indgenas em geral, graas a esta indiazinha triste, Mani, que, deste modo, obteve seu intento de ser til ao seu povo. Bonita no Denise? e voc pode aument-la, fazer teatro, contar de maneiras diferentes... de acordo com sua imaginao... Criana gosta muito mesmo... eu conto e sei que elas gostam muito. Obrigado por me contactar. At breve. Joubert. (Que tal passarmos esta lenda para o tupi, como a Denise pediu.? Tarefa um pouco pesada, por enquanto, mas quem quizer tentar estarei disposio para ajudar.) Outra CONSULTA: To: [email protected] Subject: Exerccios e dvidas Joubert: A segunda aula tambm est tima, parabns e obrigado. Vou te enviar umas frases bem bsicas que tentei contruir. Confesso que estou com dificuldade de construir frases sem ter visto os verbos. Como ns (eu pelo menos) somos bitolados pela estrutura das lnguas europias! a) Xe moraussuba ess-oby (eu gosto da de olhos azuis) ? b) Paraguassoby poranga (lindo mar azul) ?

c) Oje ybytu-catu paraguassu (hoje (havia) um vento bom no mar (na praia) ? d) Ybytu rura guirunatyba (o vento trouxe muitos pssaros pretos) ? e) Oje tup jeasseia toror tor (hoje deus estava zangado e trouxe troves e tempestade) ? Tenho (muitas) dvidas 1a - Se no tinham religio, a palavra tup s passou a existir aps a chegada dos Jesutas? 2a - H uma palavra para a cor verde ou usada a mesma que para azul, OBY ? 3a - O vermelho pode ser sempre pitanga ou piranga ou h casos que se usa uma e casos que se usa a outra? Por hoje s. No sei se ters tempo de me reponder. Em todo o caso, obrigado por ter lido. Um abrao RESPOSTA Cleber, muito obrigado pela gentileza de suas palavras e pela alegria que voc me proporciona enviando-me exerccios e dvidas. Em primeiro lugar devo dizer que voc com sua inteligncia e intuio, praticamente, j est, por voc mesmo, descobrindo a ndole da lngua e a lgica dos nossos indgenas. 1a. Exatamente, a palavra tup, creio, s apareceu, com o sentido que tem, atravs do Padre Anchieta. O indio no era monoteista. De certa forma tinha vrios deuses, ou acreditava em espritos diversos, que , alis, o que mais ou menos caracteriza todo povo primitivo. Depois falamos mais sbre isto e te indico bibbliografia sbre o assunto. 2a. Oby, toby, moroby, indiferentemente, eram usados para verde e para azul, como voc muito bem assinalou. 3a. Pode ser pitanga ou piranga. Suas frases esto excelentes, talvez com alguns senes, os quais indico a seguir. Coloquei abaixo a forma que me pareceu mais correta, mais apropriada para as frases que voc bravamente tentou enfrentar e o fez com muita proficincia. De fato, voc no poderia nem fazer melhor sem conhecer algumas regras que ainda no dei. Nas prximas aulas o sentido das construes abaixo se tornaro mais claros. ( E ateno! muito provvel que existam formas mais adequadas e mais corretas ainda para a construo destas mesmas frases, do que as que eu estou lhe apresentando. ok?) a) amoraussuba cunh essoby sui = eu gosto mulher olhos azuis de b) paran obyporanga = mar azul bonito c) ybytucatu ojey paran pup = vento bom hoje mar no(ou em) d) ybytu rura guirunatyba = vento trouxe pssaros negros muitos e) tup jeasseia oic ruru toror tor rir = Deus zangado estava trouxe troves e tempestade em seguida(depois) FIM DA TERCEIRA AULA

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