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INSTITUTO MATERNO INFANTIL PROFESSOR FERNANDO FIGUEIRA – IMIP – PE DIRETORIA DE PESQUISA V Curso de Metodologia Científica

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INSTITUTO MATERNO INFANTIL PROFESSOR FERNANDO FIGUEIRA –

IMIP – PE

DIRETORIA DE PESQUISA

V Curso de Metodologia Científica

Recife – 2006

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PLANEJAMENTO DO V CURSO DE METODOLOGIA CIENTÍFICA

DO IMIP

Público alvo: residentes, especializandos e profissionais do IMIP.

Carga horária: 15 horas/aula.

Datas e horários: dias 07, 13, 21 e 27 de Julho, no horário das 13:30h às 17:30h.

Local: IMIP (Auditório Alice Figueira).

Objetivos gerais: Sensibilizar os participantes sobre os fundamentos de metodologia

científica e apresentar as ferramentas básicas necessárias para o desenvolvimento de

trabalhos acadêmicos e de pesquisa. Prover oportunidade de prática docente para pós-

graduandos do programa de Mestrado em Saúde Materno Infantil do IMIP.

Objetivos específicos: - Ao final do curso espera-se que o participante esteja apto a:

Identificar as características do conhecimento científico e seus fundamentos;

Listar os passos necessários para a elaboração de um projeto de pesquisa,

considerando aspectos éticos, de planejamento, metodológicos e logísticos;

Conhecer as ferramentas para elaboração de uma pergunta de pesquisa e

delimitação do objeto de estudo, e identificar os métodos apropriados para estudar o

problema levantado;

        Reconhecer os principais desenhos de estudo e suas aplicações;

Utilizar ferramentas de acesso à literatura em saúde e compreender os fundamentos

da leitura crítica de artigos científicos;

Conhecer as formas de divulgação científica e suas características.

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PROGRAMA

Sexta-feira 07/07/2006 

HORA TEMA13:30 h Abertura e considerações gerais.

13:40 h Pré-teste

14.9:00 h O que é ciência afinal? O conhecimento científico e seus fundamentos.

14.9:45 h Ética da pesquisa em seres humanos

15:30 h Intervalo (lanche)15:45 h Literatura em saúde: como acessar com qualidade?

16:30 h Conceitos básicos em epidemiologia

Quinta-feira 13/07/2006

13:30 h Da idéia ao projeto I: delimitação e proposição do problema de pesquisa. Estrutura do projeto.

14.9:15 h Da idéia ao projeto II: planejamento e etapas da pesquisa.

15:00 h Intervalo (lanche)15:15 h Divulgação científica: monografia, apresentação oral e pôster.

16:00 h Publicar ou perecer. Elementos da redação científica.

Sexta-feira 21/07/2006

13:30 h O estudo certo para o problema: qualitativos x quantitativos.

14.9:15 h Desenhos de estudo I

15:00 h Intervalo (lanche)15:15 h Desenhos de estudo II

16:00 h Organização e descrição de dados. Conceito de normalidade.

16:45 h Testes estatísticos. Significância, valores de p e intervalos de confiança: que é isso?

Quinta-feira 27/07/2006

13:45 h Leitura crítica de artigos científicos (discussão em subgrupos)

15:00 h Intervalo (lanche)15:15 h Leitura crítica de artigos científicos (discussão em grupo)

16:30 h Pós-teste e avaliação do curso

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MATERIAL DIDÁTICO PARA PRÉ-LEITURA

ÍNDICE

1. O que é ciência afinal? O conhecimento científico e seus fundamentos

2. Ética da pesquisa em seres humanos

3. Conceitos básicos em epidemiologia

4. Literatura em saúde: como acessar com qualidade?

5. Da idéia ao projeto I: delimitação e proposição do problema de pesquisa (estrutura do

projeto)

6. Da idéia ao projeto II: planejamento e etapas da pesquisa

7. Divulgação científica: monografia, apresentação oral e pôster

8. Publicar ou perecer: elementos da redação científica

9. O estudo certo para o problema: qualitativos x quantitativos

10. Desenhos de estudo I

11. Desenhos de estudo II

12. Organização e descrição de dados: conceito de normalidade.

13. Testes estatísticos - significância, valores de p e intervalos de confiança: o que é isso?

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2. ÉTICA DA PESQUISA EM SERES HUMANOS

Gilliat Falbo

Josiana Gouveia

Da crescente necessidade de novas descobertas para cura de doenças existentes ou

de sua prevenção advém a necessidade de novas pesquisas, sejam estas de novos

medicamentos, vacinas e diagnósticos, possibilitando investigações para o aperfeiçoamento

terapêutico. Para tanto, faz-se necessário experimentações incluindo estas também em seres

humanos. Entretanto, para todos os tipos de pesquisas que envolvam seres humanos faz-se

necessário ser feitos dentro dos padrões aceitos da ética em pesquisa, de maneira a não

confundir pessoas com cobaias, trazendo riscos para a vida humana e posterior

conseqüências sob forma de penalidades.

A ética surge como uma resposta a problemas, não há uma definição exata, é uma

reflexão baseada em ações na realidade da existência humana.

Nunca se falou tanto sobre ética no comportamento humano com o objetivo de

buscar um modelo de vida inspirado no respeito ao homem, como nos últimos dias,

preocupação esta saindo do setor filosófico gerando reflexões no cotidiano das pessoas

sobre o que é certo ou errado, sobre como se colocar diante de situações adversas, sobre

nossas escolhas diante de imposições da sociedade, sobre o avanço da ciência, até onde esta

poderá ir? Sobre o que é dignidade? E o que fazer para ter respostas a essas perguntas a não

ser se baseando no aprimorar do saber, visando melhoria da qualidade de vida, usando para

tanto o direito de existir como ser humano, como sujeito, como cidadão.

As normas éticas exigem responsabilidades na relação intersubjetiva, mas não

coerção. Não se deve confundir norma ética com lei, pois essa última necessita de

aprovação formal dos órgãos legislativos e cria obrigações externas mediantes, muitas

vezes, de coerção física, além de apresentar um grau menor de universalidade, pois obriga

as pessoas a cumprirem o ordenamento jurídico do país em que vivem. No entanto pode

não haver comportamento não condenáveis penalmente, mais sim comportamentos

reprováveis do ponto de vista ético.

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A ética pode ser entendida como um modo de enfocar os problemas e as condutas da

sociedade, e para cultivar esse procedimento, é preciso construir a capacidade de considerar

criticamente as circunstancias em que os sujeitos estão inseridos.

Sendo assim a ética não determina comportamentos, ela conduz a definição de

normas morais e até legais, quando essas gozam de consenso e também são admitidas ou

estimuladas pela sociedade ou por grupos.

2.1 CONTEXTUALIZANDO A ÉTICA NA HISTÓRIA

A ética sem entendimento do contexto histórico faz pouco sentido. O Código de

Hamurabi, a mais antiga coleção de leis que se tem notícia, já previa experimentação com

seres humanos e estabelecia prêmios para os cirurgiões que obtinham êxito em suas

experiência e castigo que os casos de insucesso. Estes variavam desde o simples pagamento

de multa (a morte de um escravo era paga com outro escravo igual) até a amputação das

mãos do cirurgião (maneira drástica de evitar outros erros).

O escorbuto até meados de 1800 era a grande causa de morte em viagens marítimas

longas. Em geral metade da tripulação de um navio morria de escorbuto durante as viagens.

Em 1601 partiu uma esquadra inglesa para a Ìndia com cinco navios. Na tripulação de um

dos navios foram administradas três colheres de chá de limão/homem. Quando a esquadra

atingiu o Cabo da Boa Esperança havia tantos marinheiros com escorbuto nos quatro navios

onde não foi administrado limão que foi preciso transferir homens do primeiro navio para

os demais. Entretanto esta descoberta só foi realmente utilizada 200 anos depois

As epidemias de varíola, muito temidas porque dizimavam populações inteiras,

fizeram surgir já na antiguidade, a idéia de uma inoculação preventiva. O “método grego”

usado no oriente médio consistia em fazer desenhos cruziformes no queixo e bochecha das

pessoas com uma agulha molhada no líquido das lesões pustulosas da varíola. Este método

foi introduzido na Europa pela mulher do embaixador inglês em Constantinopla LADY

WHIRTLEY-MONTAGUE que o aplicou nos próprios filhos e nos filhos da princesa de

Gales, tendo obviamente testado o experimento em 6 criminosos antes.

Os anestésicos foram introduzidos na prática clínica de maneira curiosa. Conta-se

que em meados do século XVIII o cidadão Gardner Quincy Colton, que se arrogava o título

de professor de química, andava pela Nova Inglaterra promovendo grandes espetáculos

públicos. Nesses espetáculos, oferecia às pessoas o óxido nitroso, mais conhecido como gás

hilariante, porque produz embriaguês eufórica. Na platéia havia sempre alguns homens

fortes disponíveis, para segurar aqueles que se excediam sob o efeito do gás.Num desses

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espetáculos, um indivíduo de nome Samuel Cooley tornou-se agressivo após inalar o gás e

se machucou. Mas não percebeu que havia ferido, a perna, apesar do sangramento. O

dentista Horace Wells, presente ao espetáculo, interessou-se vivamente pelo caso.

Interrogou Cooley prolongadamente e resolveu fazer um experimento consigo mesmo.

Wells precisava que lhe extraíssem um dente. Pediu então ao seu colega John Monkey

Riggs que fizesse a extração, mas sob o efeito do gás hilariante. Achou a experiência tão

boa que passou a usar o gás hilariante em sua clínica. Dado o enorme sucesso, Wells

resolveu mostrar o efeito anestésico do gás hilariante em uma cirurgia médica, no Hospital

Geral de Massachussets. Não deu certo. O paciente acordou no meio da cirurgia, gritando

de dor. Wells foi muito ridicularizado, passou a se embriagar e morreu em um hospital

psiquiátrico de Nova York.

Também no Brasil, ocorreram histórias sobre ética:

D. Pedro II, então imperador, conhecia Louis Pasteur pessoalmente e convidou-o

para vir ao Brasil estudar a febre amarela. Pasteur, em uma de suas cartas insinuou que caso

fosse rei ou imperador, ou mesmo presidente da república, exerceria o direito de graça

sobre os condenados a morte oferecendo a escolha entre a morte iminente ou a

experimentação sobre raiva. Em caso de sucesso, a vida do condenado seria poupada e este

ficaria sobre rigorosa observação durante sua vida. Entretanto D. Pedro II delicadamente

recusou a experiência perigosa, sendo esta a primeira documentação sobre defesa dos

interesses dos sujeitos da pesquisa no Brasil.

2.2 EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS?

O uso de seres humanos em experimentos científicos traz inegáveis benefícios

sociais. Contudo é preciso admitir que existe um conflito virtual entre o interesse do

indivíduo submetido à experiência e o interesse da ciência. Este conflito, porém, pode

chegar a ser insuportável como atestam os experimentos conduzidos nos campos de

concentração nazistas, inspirados no desprezo à pessoa, criando uma ciência

completamente equivocada em que se utilizavam seres humanos como cobaias onde

prisioneiros sociais, políticos e militares foram colocados a disposição dos médicos e

cientistas para todo e qualquer tipo de experiência. As experimentações levadas a cabo pelo

regime nazista da Alemanha e a subseqüente condenação pelo Tribunal de Nuremberg em

1947, de médicos considerados culpados de conduta contrária aos valores do

humanitarismo, assentaram uma nova fase da bioética. As recomendações estabelecidas

ficaram conhecidas com o Código de Nuremberg.

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Mais tarde, a associação médica mundial considerou necessário estabelecer outras

recomendações mais completas que pudessem servir de guia para tal experimentação. Essas

recomendações constituem a Declaração de Helsinque. Documento de referência

internacional, já atualizado cinco vezes.

2.3 ABUSOS

Mesmo fora do nazismo, temos outros exemplos espantosos. Um caso clássico foi o

estudo da sífilis entre negros americanos. Antes da descoberta da penicilina, a sífilis era

tratada com injeções de drogas que continham metais pesados. Para levantar dados sobre a

história natural da sífilis, foi realizado em 1932 na cidade de Tukesgee - Alabama

experimento que visava estudar a evolução da sífilis. Consistia em manter sem tratamento

408 pacientes, outros 192 não sifilíticos foram usados como controle. Os pacientes

recrutados eram negros de baixo poder aquisitivo e não foram informados do experimento e

em alguns casos era comunicado que os procedimentos realizados eram “um tratamento

especial gratuito”. O ponto agravante da pesquisa é o fato de os participantes não terem

sido informados dos procedimentos adotados, isto é que lhes eram oferecidos apenas

placebo. Esse estudo durou 40 anos e foi mantido mesmo após a descoberta da penicilina,

sendo suspenso apenas em 1972, quando denunciado por um jornalista da imprensa leiga.

Nos anos 90, o presidente dos EUA desculpou-se oficialmente à comunidade negra pelos

danos provocados.

Em 1982, nos EEUU, nasceu uma criança do sexo masculino que apresentava

Síndrome de Down e atresia do esôfago. Seus pais então deliberadamente recusaram a

realização da cirurgia do esôfago respaldados pela legislação em vigor e conseqüentemente

a criança foi a óbito. Este foi conhecido como Baby Doe 1. Caso similar ocorrer com uma

menina nascida em Nova York com espinha bífida e hidrocefalia, os pais recusaram

tratamento cirúrgico, sendo esta a Baby Doe 2. Hospitais e médicos, incluindo o ministro

da saúde na época que também era cirurgião pediátrico mostraram-se contrários a tal lei,

entretanto, nos EEUU, ainda hoje, a suprema corte considera a decisão dos pais legal e

sendo uma forma de tratamento médico. A participação na Eutanásia não somente alterará o

objetivo da atenção à saúde, como poderá influenciar, negativamente, a confiança para

como o profissional, por parte dos pacientes. A Associação Mundial de Medicina, desde

1987, na Declaração de Madri, considera a eutanásia como sendo um procedimento

eticamente inadequado.

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Mais recentemente na África do Sul em uma pesquisa com a proposta de avaliar a

eficácia da administração terapêutica de um medicamento para redução da transmissão

vertical do vírus do HIV, os pesquisadores utilizaram um controle com placebo, no lugar

dos métodos terapêuticos já comprovados e exigidos internacionalmente.

2.4 EXPERIMENTAÇÃO FALHA NA ADEQUAÇÃO EM ANIMAIS

No final dos anos 50 e início dos 60, nasceram aproximadamente 12.000 bebês com

graves deformidades congênitas cujas mães tinham como fator comum o uso da talidomida

durante a gestação para aliviar náuseas e vômitos. Dentre as deformidades, a mais freqüente

era a focomelia. Um dos elementos mais alarmantes foi que durante os estudos em animais

não foi determinado teratogenicidade da substância. Os danos provocados pelo uso da

talidomida por gestantes teriam sido evitados se tivessem sido conduzidos experimentos

adequados com animais. No caso da talidomida não se observou o primado da segurança e

assumiu-se o risco da sua utilização.

2.5 EXPERIMENTAÇÃO EM SERES HUMANOS

A experimentação com seres humanos contribui para melhorar a qualidade de vida

do homem e sua relação com o meio ambiente. No entanto, as pessoas reagem

emocionalmente à idéia de proceder a experimentação em seres humanos. Ora o efeito de

um tratamento sobre o homem só pode ser observado no próprio homem. Assim, depois

que um tratamento é testado em animais, precisa ser aplicado, experimentalmente, no

próprio homem.

É sempre preciso estar alerta para o fato de que a ausência de reações adversas em

animais não constitui garantia de que o tratamento é seguro para o homem. Por isso, faz-se

necessário a experimentação do tratamento no próprio homem.

2.6 CLONAGEM

“Não é permitida qualquer prática contrária à dignidade humana, como a clonagem

reprodutiva de seres humanos” – Art 11 Declaração Universal sobre o Genoma Humano e

os Diretos Humanos.

A discussão sobre clonagem é um dos mais acirrados debates bioéticos. O

insuficiente desenvolvimento da técnica parece ser o principal obstáculo para sua aplicação

a humanos, o que não impediu que, em 26 de novembro de 2001, a empresa americana

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Advanced Cell Technology anunciasse a obtenção do primeiro embrião humano clonado. O

aglomerado de seis células viveu por apenas algumas horas.

A clonagem humana pode ser usada como técnica reprodutiva ou terapêutica. A

clonagem reprodutiva, que serviria em tese a casais inférteis que não desejam recorrer à

doação de gametas, é repudiada pela maioria dos cientistas. Já a clonagem com fins

terapêuticos divide opiniões: seu objetivo é permitir no futuro a produção em laboratório de

tecidos e órgãos para transplantes com menor risco de rejeição. O problema é que tanto a

clonagem reprodutiva quanto a terapêutica implica a destruição de embriões. O tratamento

com células-tronco enfrenta o mesmo obstáculo ético, já que são os embriões que fornecem

as células pluripotentes, que podem se diferenciar conforme o tecido específico em que são

implantadas.

2.7 PRINCÍPIOS ÉTICOS

A abordagem ética está baseada em quatro princípios:

* Autonomia – toda pessoa tem direito de agir de acordo com os seus próprios

julgamentos e convicções e as decisões tomadas devem ser respeitadas

* Justiça – os riscos e benefícios de uma pesquisa devem ser levados em conta e

distribuição de encargos e benefícios deve ser feita de forma justa. Um grupo específico

não pode arcar com prejuízos enquanto outro desfruta das vantagens. Preocupação com a

relevância social da pesquisa, no sentido de buscar vantagens para os sujeitos pesquisados e

a sociedade.

* Beneficência – obrigação de ajudar a garantir o bem-estar e o desenvolvimento de

informações para tornar mais fácil, no futuro, dar esta garantia. Preocupação com a

relevância social da pesquisa, no sentido de busca vantagens para os participantes da

pesquisa e para a sociedade.

* Não-Maleficência – garantia de que danos previsíveis serão evitados isto é, não

causar dano à outra pessoa.

2.8 BIOÉTICA

A principio, a bioética resumia-se ao juramento de Hipocrates: "Usarei meu poder

para ajudar os doentes com o melhor de minha habilidade e julgamento; abster-me-ei de

causar danos ou de enganar a qualquer homem com ele", ou seja, tinha a função de orientar

as obrigações da classe médica baseando-se no bem-estar do paciente.

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Em 1971, o oncologista e biólogo, Van Rensselaer Potter, estabeleceu a primeira

versão do termo bioética. Em 1979 Tom Beauchamp e James Chldress a definiu em função

da chamada linha principalista, isto é, de acordo com os princípios éticos. A entidade de

maior expressão que promove debates sobre a bioética em âmbito mundial é a Associação

Internacional de bioética, criada em 1992.

2.9 DIRETRIZES ÉTICAS

Os princípios básicos de Autonomia, Beneficência, Não Maleficência e Justiça,

emanados de documentos internacionais tais como Código de Nuremberg, Declaração dos

Direitos do Homem, Declaração de Helsinque, ONS e do Código Penal e Civil Brasileiro,

surgiram como pontos fundamentais nas ações de saúde e pesquisa envolvendo seres

humanos.

No Brasil, a primeira norma sobre ética de pesquisa em seres humanos é a

Resolução número 1 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), de 1988, que determina a

constituição de Comitês de Ética para acompanhar pesquisas envolvendo seres humanos.

Em 1995 a Lei de Biossegurança (Lei 8974) estabelece diretrizes para o controle das

atividades relativas à tecnologia do DNA recombinante e cria a Comissão Técnica Nacional

de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Em 1996 o

CNS estabeleceu a Resolução 196/96 (em anexo). Esse trabalho foi fruto de estudos e

discussões por quase 10 anos que envolveu a contribuição de diversos setores da sociedade,

que determina as Diretrizes de pesquisa em seres humanos e cria o Comitê Nacional de

Ética em Pesquisa (Conep). Hoje, o Conep e a CTNBio representam os principais órgãos de

vigilância para o cumprimento da ética científica no Brasil.

Muitas pessoas ainda confundem ética e legislação. Uma importante distinção a ser

feita entre as exigências regulamentares ou legais e as diretrizes éticas é o fato de que o

descumprimento das primeiras pode conduzir a implicações legais e gerar processos civis e

criminosos contra o pesquisador. As diretrizes éticas, por suas vez, servem para nos

informar e fornecer subsídios sobre quais os procedimentos e cuidados devemos adotar por

razões éticas. Os documentos de teor ético não são de caráter obrigatório uma vez que não

são considerados textos legais. No entanto, o senso de responsabilidade social da prática

científica faz com que os pesquisadores incorporem preceitos éticos mesmo reconhecendo a

ausência de força legal.

2.10 CONSENTIMENTO LIVRE E ESLARECIDO E COMITÊS DE ÉTICA

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Durante boa parte da história da ética em pesquisa, as pessoas que participavam dos

experimentos eram chamados de sujeito da pesquisa. Atualmente, a denominação correta é

participante da pesquisa. A justificativa para a mudança está no reconhecimento do papel

dessas pessoas; de sujeitos passivos passaram a condição de agentes ativos.

Assim, pesquisa só pode ser feita mediante consentimento esclarecido, de maneira a

resguardar a autonomia o indivíduo. Através dele os participantes recebem informações

sobre a pesquisa e esclarecimentos. A sua concordância é uma forma de exprimir que os

propósitos da pesquisa são compartilhados. É este consentimento que transforma o que

seria simples uso da pessoa em participação consciente dessa no experimento científico.

Partiu-se da premissa que o sujeito da pesquisa deve ser suficientemente esclarecido e não

apenas informado quanto a todos os detalhes do projeto da pesquisa que possam envolvê-

lo,e, por isso,ele é livre não apenas para suspender o seu consentimento.Ele é livre também

para não concede-lo,bem como ser assegurado o direito de atuar livre de qualquer tipo de

coação ou constrangimento

Faz-se necessário que o consentimento apresente duas características: linguagem

compreensível de maneira a determinar entendimento da situação e condição adequada do

participante da pesquisa, isso é de preferência em condição não vulnerável.

Por volta de 1960 começa a ter aceitação a idéia de que os experimentos com seres

humanos precisam ser revistos, ainda em sua fase de projeto, por uma equipe

multidisciplinar independente que seria a comissão de ética. Estes CEP têm por objetivo

defender os interesses dos participantes da pesquisa.

O progresso da medicina depende de experimentação em seres humanos. No

entanto, esta experimentação precisa estar de acordo com os valores da sociedade e

obedecer metodologia científica adequada. Mais ainda: é preciso estabelecer normas e

regulamentos para este tipo de atividade. Afinal, a história da experimentação com seres

humanos tem mostrado que, na ausência de restrição, ocorrem abusos. Nessa

regulamentação, dois pontos se afiguram como extremamente importantes: a maneira de

obter consentimento esclarecido do participante da pesquisa e a forma de constituir a

comissão institucional de revisão.

CONCLUSÃO

A prática da bioética não apenas anuncia novas mudanças, novos procedimentos,

mas denuncia a todos aqueles moralmente inadmissíveis utilizados nas instituições

acadêmicas e nas empresas. Tornando assim a bioética uma ética do mundo do homen, da

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pessoa compreendida como societária do gênero humano exigindo iniciativas civilizadas

em que se esboça uma nova visão da política.

A oração do médico, escrita por Maimonides em 1.135 postulava:

“Que eu seja modesto em tudo, menos no que se refere à minha ciência, insaciável

no desejo de conhecimentos”... MAS DE FORMA ÉTICA.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES PARA LEITURA1. Cadernos de ética em pesquisa, publicação da CONEP.

http://conselho.saúde.Gov.br/comissão/conep/publicações_cep.html, acesso em 23/05/06.

2. Enciclopédia livre http://pt.Wikipédia.org.

3. SQUINCA, Flavia. Ética na pesquisa: experiência de treinamento em países sul-africanos. Cad. Saúde

Pública, Mar. 2006, vol.22, no.3, p.693-694. ISSN 0102-311X.

4. Pesquisas clínicas com crianças causam impasses éticos www.comciência.br/reportagens/2005/12/07.shtml,

acesso em 23/05/06.

5. Bioética-Eutanasia, http\://www.ufrgs.br/boética/eutanasi.htm, acesso em 24/0506.

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3. LITERATURA EM SAÚDE: COMO ACESSAR COM QUALIDADE?

Maria do Carmo Duarte

Vilma Guimarães

A comunicação científica é uma forma de transferência de informação e construção

do conhecimento que nasce de uma dupla necessidade, por um lado a de quem deseja

conhecer os avanços da ciência e por outro a de quem quer comunicar os achados e

resultados de pesquisas e/ou estudos dos diversos temas da ciência.

A literatura médica vem desde a época de Hipócrates (460-370 AC) na Grécia,

passando por Ptolomeu no Egito, quando criou a Biblioteca de Alexandria. Galeno (131-

220 DC) foi a figura mais importante do período romano, estudou anatomia, cirurgia,

drogas e influenciou o pensamento médico nos 1500 anos seguintes. Com o advento da

imprensa os achados médicos puderam ser melhores divulgados. Hoje a literatura médica

cresce de forma exponencial, tornando muito difícil acompanhar o progresso do

conhecimento, a National Library of Medicine, a maior biblioteca médica do mundo,

estima que o volume de informação publicado esteja duplicando a cada quatro anos.

3.1 FONTES DE INFORMAÇÕES

- Livros: são muito utilizados, têm alto custo, formato atraente, utilização individual

e leitura fácil. Porém o conhecimento médico é rapidamente disseminado pela internet o

que torna o livro rapidamente ultrapassado, servindo apenas como conhecimento básico.

Atualmente existem livros com base em evidências e alguns em CD- ROM permitindo

atualizações freqüentes como o Up To Date, em medicina geral, que é atualizado a cada 3

meses. O livro texto Harrinson também está sendo melhorado e fornece referências e

resumos na sua versão na Web.

- Material de propaganda: muito utilizado no Brasil, é fonte de atualização de

muitos profissionais, tem formato atraente e conteúdo científico questionável.

- Guidelines: são sugestões de condutas clínicas baseadas nas melhores evidências

científicas existentes, e quando não existem tomam por base o consenso dos especialistas

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no assunto. Tem tornado-se rotina nos países desenvolvidos e são extremamente

necessários nos países em desenvolvimento.

- Revistas: têm opções em diversas áreas, com formato atraente, custo elevado e

rigor científico variável, são excelentes fontes de informação, porém não são completas. Os

periódicos de qualidade estão indexados a base de dados e são categorizados em QUALIS

Internacional A; B e C e nacional A e B.

As revistas cientificas atualmente são produzidas basicamente de três formas:

- Editoras comerciais: produzem periódicos geralmente de alto padrão quanto à

qualidade, à apresentação e à relevância. Os autores podem submeter seus artigos para

publicação. Existe um corpo editorial formado por profissionais de alto gabarito dentro do

tema e uma equipe de revisores. Os artigos, que são publicados e para o qual o autor não

necessita pagar, passam a pertencer à editora. A maioria destas revistas é editada impressa e

disponibilizada em formato eletrônico on line através da Internet. Para se obter este tipo de

publicação é necessário comprar uma assinatura, geralmente anual ou bi-anual, cujo preço

varia, entre outras coisas, de acordo com o fator de impacto da revista. É chamada “acesso

livre”.

- Instituições: universidades, associações, sociedades de classes profissionais e

outras entidades sem fins lucrativos também produzem um grande número de revistas

científicas. As associações e sociedades de classe geralmente cobram uma anuidade ou

mensalidade aos seus sócios e subvencionam assim a editoração. Os autores não precisam

pagar para submeterem e publicarem seus artigos. Quanto à forma de organização destes

periódicos é a mesma que nas editoras comerciais. São também produzidos de forma

impressa e eletrônica ou em formato eletrônico exclusivamente. São às vezes

disponibilizadas gratuitamente on line de forma imediata à sua publicação, ou depois de

certo período de carência que pode ser de seis meses, um ano ou dois. É chamada de

“acesso-gratuito”.

- “Acesso aberto”: forma de publicação de revistas cientificas que surge mais

recentemente como contestação ao atual modelo que, ao dominar o mercado e ditar normas

e preços, coloca o valor da informação cientifica num patamar excludente de grande parte

do mundo. Esta nova forma de publicação somente é possível graças ao desenvolvimento

tecnológico, especificamente a publicação eletrônica e a Internet. Trata-se da revistas on-

line de acesso gratuito, muito das quais de qualidade, sem restrições e para a qual os autores

devem pagar um determinado valor para terem seus artigos publicados. Organizada nos

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padrões tradicionais com corpo editorial e revisão por pares, estes periódicos não detém os

direitos sobre os artigos.

3.2 FONTES PRIMÁRIAS

Devem ser considerados documentos primários aqueles originados como primeiros, do

ponto de vista da procedência, com informação original; são os artigos, as monografias e as

publicações seriadas. Nesse mesmo grupo também são considerados os documentos que

incorporam informações produzidas em todos os níveis governamentais, acadêmicos,

negócios e indústria, em formatos impressos e eletrônicos não controlados por editores

comerciais. Esses tipos de documentos compreendem: anais de congressos e demais

eventos, dissertações e teses, relatórios científicos e técnicos. Geralmente são re-

organizadas com o propósito de concentrar as informações necessárias para serem

facilmente acessadas dando origem às fontes secundárias.

SciELO - Scientific Electronic Library Online (Biblioteca Científica Eletrônica em

Linha)

Periódicos nacionais online : é um modelo para a publicação eletrônica cooperativa de

periódicos científicos na Internet. Especialmente desenvolvido para responder às

necessidades da comunicação científica nos países em desenvolvimento e particularmente

na América Latina e Caribe. O Modelo SciELO contém ainda procedimentos integrados

para medir o uso e o impacto dos periódicos científicos nele inseridos.Todos os periódicos

científicos disponíveis no SciELO podem ser acessados na íntegra, gratuitamente, pelo

endereço http://www.scielo.org/index.php?l

3.3 FONTES SECUNDÁRIAS

Oferecem informação sobre documentos primários e/ou indicativo de diretórios e

serviços constantes de fontes primárias. Incluem todos os índices, base de dados

referenciais, diretórios, entidades, eventos ligados à área da saúde e serviços de informação

associados com estas fontes, conforme arrola o Guia BVS 2003.

LILACS

A LILACS - Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde registra a

literatura científico-técnica em saúde produzida por autores latino-americanos e do Caribe,

e publicada a partir de 1982. Os principais objetivos desta base de dados são o controle

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bibliográfico e a disseminação da literatura científico-técnica latino-americana e do Caribe

na área da Saúde, ausente das bases de dados internacionais.

Na LILACS são descritos e indexados: teses, livros, capítulos de livros, anais de

congressos ou conferências, relatórios técnico-científicos, artigos de revistas, relacionados à

área da Saúde. O acesso é gratuito através do site http://www.bireme.br/bvs/P/pbd.htm

MEDLINE

A base de dados mais conhecida na área médica é a MEDLINE: uma base de dados da

literatura internacional da área médica e biomédica, produzida pela NLM, National Library

of Medicine, USA, que contém referências bibliográficas e resumos de títulos de revistas

biomédicas publicadas nos Estados Unidos e em outros 70 países. Contempla

aproximadamente 11 milhões de registros da literatura, desde 1966 até o momento, que

cobrem as áreas de: medicina, biomedicina, enfermagem, odontologia, veterinária e

ciências afins.

O acesso é gratuito para alguns artigos pela Internet, com uma primeira interface, em

português, a partir de 1966 no endereço http://www.bireme.br/bvs/P/pbd.htm ou em inglês

no pré-Medline conhecido como PubMed http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi.

A Medline indexa apenas 18 revistas correntes do Brasil e num total de 53 na América

Latina o que gera uma não visibilidade das 658 revistas latino-americanas indexadas na

Lilacs. A não representatividade das revistas latino-americanas foi que criou a Lilacs. (as

normas para indexação de revistas ao Medline são rigorosas, necessita de um grande fator

de impacto, o qual é medido pelo número de consultas a determinada revista).

Biblioteca Cochrane (Medicina Baseada em Evidências)

A Biblioteca Cochrane é a melhor fonte de informação de evidência confiável sobre os

efeitos das intervenções em saúde, consiste de uma coleção de fontes de informação

atualizada sobre medicina baseada em evidências, incluindo a Base de Dados Cochrane de

Revisões Sistemáticas - que são revisões preparadas pelos Grupos de Colaboração

Cochrane e que oferecem informação de alta qualidade, tanto para os provedores de atenção

à saúde, assim como para os profissionais que atuam na área de pesquisa, educação e

administração pública, em todos os níveis.

O acesso à Biblioteca Cochrane através da Biblioteca Virtual em Saúde

http://cochrane.bireme.br/ está disponível para todos os profissionais de saúde e de

informação da América Latina e Caribe, e é produto de um contrato firmado entre a

BIREME e a Update Software (UK), com apoio da Colaboração Cochrane e o Centro

Cochrane do Brasil (http://www.centrocochranedobrasil.org/).

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A Biblioteca Cochrane na BVS inclui a versão original completa, com link ao texto

completo de revisões sistemáticas traduzidas ao espanhol, quando disponíveis. Todas as

bases de dados da Cochrane podem ser pesquisadas através de uma interface trilingüe

(português, espanhol e inglês), desenvolvida pela BIREME. Publica os resultados em CD-

ROM na Cochrane Library editado pela British Medical Journal. A Biblioteca Cochrane

tem periodicidade trimestral e é atualizada nos meses de janeiro, abril, junho e outubro.

O acesso à Biblioteca Cochrane é gratuito para usuários individuais, desde que se faça

um registro online no endereço eletrônico do usuário para obter código e senha, ou

disponível para instituições, o acesso é controlado anonimamente, mas com

reconhecimento automático do número de IP do computador do usuário.

Embase - Excerpta Médica

Base de dados produzida pela Elsevier Science, Holanda. Contém a literatura nas áreas

biomédica, médica, farmacológica e de saúde pública. Inclui mais de 4.000 títulos de

periódicos publicados em 70 países, com aproximadamente 450.000 novos registros a cada

ano. O Embase é um banco de dados bibliográficos com cobertura européia desde 1974 até

o presente. O acesso é por assinatura no endereço: http://www.embase.com

3.4 COMPONENTE INTEGRADOR

Serve como meio de integrar as buscas nas bases de dados via Internet. Guia BVS

2003.

DeCS - Descritores em Ciências da Saúde

É a busca adequada e autorizada às palavras-chave (key words / unitermos).

O uso de termos não autorizados ou reconhecidos mudialmente, impedirão o acesso aos

artigos. O vocabulário estruturado e trilingüe DeCS - Descritores em Ciências da Saúde foi

criado pela BIREME para uso na indexação de artigos de revistas científicas, livros, anais

de congressos, relatórios técnicos, e outros tipos de materiais, assim como para ser usado na

pesquisa e recuperação de assuntos da literatura científica nas bases de dados LILACS,

MEDLINE e outras. Foi desenvolvido a partir do MeSH - Medical Subject Headings da U.

S. National Library of Medicine com objetivo de permitir o uso de terminologia comum

para pesquisa em três idiomas, proporcionando um meio consistente e único para a

recuperação da informação independentemente do idioma.

Vocabulários estruturados podem ser usados por uma variada gama de usuários como

profissionais, incluindo médicos, pesquisadores, estudantes, além de profissionais

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bibliotecários que os utilizam nos processos de indexação e recuperação de informação. O

acesso é gratuito: http://decs.bvs.br/

Localizador de Informação em Saúde - LIS

O Localizador de Informação em Saúde (LIS) é o portal da Biblioteca Virtual em Saúde

que contém o catálogo de fontes de informação em saúde disponíveis na Internet e

selecionadas segundo critérios de qualidade. Descreve o conteúdo destas fontes e oferece

links para as mesmas na Internet.

A metodologia LIS é resultado da cooperação técnica entre o Centro Nacional de

Información de Ciencias Médicas (CNICM) em Cuba, a Red Telemática de Salud de Cuba

(INFOMED) e a BIREME. O acesso é gratuito.

http://lis.bvs.br/xml2html/xmlListT.php?xml%5B%5D=http://lis.bvs.br/lis-

Regional/P/define.xml&xsl=http://lis.bvs.br/lis-Regional/home.xsl

3.5 SITES INTERESSANTES

Pubmed - resumos de periódicos indexados.

Amedeo - literatura médica com atualização periódica de artigos.

Periódicos CAPES - site com centenas de revistas na área da saúde com acesso

integral aos artigos. Acesso somente em computadores da universidade via portal da

PUCRS.

PLoS - Public Library of Science - organização de suporte ao livre acesso à

informação científica.

Medstudents - site médico brasileiro com artigos, casos clínicos, informações sobre

concursos e outras utilidades.

INCA - Instituto Nacional do Câncer - site com dados epidemiológicos atualizados

e outras informações valiosas sobre câncer no Brasil.

NCI – Instituto Nacional do câncer – site com dados epidemiológicos atualizados e

outras informações valiosas sobre câncer nos EUA.

3.6 ENDEREÇOS ÚTEIS

MEDLINE/ PUBMED : www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed

BIREME: www.bireme.br

SBP: www.sbp.com.br

MS: www.saude.gov.br

CDC: www.cdc.gov

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OMS: www.who.int

CRESCENDO COM SAÚDE: www.crescendocomsaude.com.br

COCHRANE DO BRASIL: www.centrococharanedobrasil.org

MDCONSULT: www.mdconsult.com

UNIVERSIDADES:

USP: www.usp.br

UFPE: www.ufpe.br

UPE: www.upe.br

UNICAMP: www.unicamp.br

EPM: www.unifesp.br

INSTITUTOS DE PESQUISA:

FIOCRUZ : www.fiocruz.br

IMIP: www.imip.org.br

PORTAIS COM VÁRIAS REVISTAS GRATUÍTAS:

Projeto SCIELO: www.scielo.org

www.biomedcentral.com

www.freemedicaljournals.com

www.pubmedcentral.hih.gov

www.update.cochrane.com

www.guidelines.gov

www.periódicos.capes.gov.br

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES PARA LEITURA1. Relato de experiência. Revista digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Campinas, v.

3, n. 1, p. 131-151, jul/dez. 2005.

2. CRESTANA, M. F., VILHEMA, V., FREDDI. M. J. A. L., O acesso à literatura médica: expansão

das fronteiras através das bases de dados de textos completos e sua importância, no Serviço de

Biblioteca e Documentação da Faculdade de Medicina da USP- FMUSP. Revista Médica. São

Paulo. v. 83, n. 1-2, p. 46-49. 2004.

3. PELLIZZON, R. F., POBLACIÓN, D. A., GOLDENBERG, S. Seleção das principias fontes para

acesso à literatura científica. Acta Cirúrgica Brasileira. v. 18, n. 6, p.493-496, 2003.

4. PROLLA, J. C. Como acessar a literatura biomédica e cruzar o “divisor de águas digital” em

pneumologia. Jornal Brasileiro de Pneumologia. v. 30, n. 5, p. 467-473. 2004.

5. SABBATINE, R. M. E. Pesquisa bibliográfica na internet. Curso continuado de internet em

medicina (2).

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6. SILVEIRA, M. S. M., ODDONE, N. E. Livre acesso à literatura cientifíca; realidade ou sonho de

cientistas e bibliotecários? acesso dia 22/05/2006 às 20 horas.

www.cinform.ufba.br/v_anais/artigos/martaenanci.html.

4. CONCEITOS BÁSICOS EM EPIDEMIOLOGIA

Ariani Impieri de Souza

Emilses Fernandes de Carvalho Freire

4.1 INTRODUÇÃO

A Epidemiologia é conhecida desde a Antiguidade, existindo relatos de Hipócrates

sobre as epidemias e sobre a distribuição de enfermidades nos ambientes. Durante a época

do domínio romano eram realizados censos periódicos, como por exemplo, o conhecido

censo que levou o carpinteiro José e sua esposa Maria a Belém. Desde então, diferentes

formações ideológicas se sucederam no mundo ocidental.

Segundo a tradição anglo-saxônica, Thomas Sydenham é considerado o fundador da

clínica moderna e o precursor da ciência epidemiológica, tendo elaborado o conceito de

“história natural das enfermidades”. Segundo Foucault, os franceses consideram que a

Sociedade de Medicina de Paris é a fundadora da Clínica moderna no século XVIII. Os

Hospitais que na época eram casas de asilo (hospitalidade) passaram a ser locais de

médicos e doentes. Pela primeira vez os médicos podiam examinar muitos pacientes com as

mesmas enfermidades.

O progresso da ciência deu ênfase ao estudo do indivíduo, oferecendo grande

conhecimento à Clínica que se constituiu no primeiro eixo de apoio a Epidemiologia.

Posteriormente, a criação da Estatística proporcionou conceitos matemáticos e métodos de

análise aperfeiçoados à pesquisa científica, se tornando o segundo eixo de apoio. O poder

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político da burguesia emergente na Inglaterra e a revolução na França e nos Estados Unidos

foram fundamentais para o terceiro eixo, formando um tripé de apoio a Epidemiologia.

EPIDEMIOLOGIA

MEDICINA CLÍNICA ESTATÍSTICA MEDICINA

SOCIAL

O fortalecimento da Epidemiologia como ciência foi firmado no começo do século

XX quando foi criado o primeiro curso de saúde pública na Universidade Johns Hopkins

em 1918.

Na década de 50 aparecem novos desenhos de investigação como coortes e ensaios

clínicos controlados e nos anos 60 ocorre verdadeira revolução com a introdução da

computação eletrônica. Surge na década de 70 o aperfeiçoamento da tecnologia para

tratamento e análise de dados e sistematização do conhecimento epidemiológico

Na década seguinte, consolida-se a “Epidemiologia Clínica” com ênfase

metodológica na identificação de casos e na avaliação da eficácia terapêutica – “Medicina

Baseada em Evidências”. E finalmente na década de 90, surgem novas tendências como a

Epidemiologia Molecular, Genética, de Serviços de Saúde e a Etnoepidemiologia.

4.2 DEFINIÇÃO DE EPIDEMIOLOGIA

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A Epidemiologia é a ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades

humanas. Segundo a Associação Internacional de Epidemiologia (IEA), três objetivos

principais norteiam esta ciência:

1.” Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas populações

humanas.

2. Proporcionar dados essenciais para o planejamento, execução e avaliação das

ações de prevenção, controle e tratamento das doenças e estabelecer prioridades.

3. Identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades.”

A Epidemiologia é, portanto, o estudo dos fatores que determinam a freqüência e a

distribuição das doenças nas populações humanas. Um exemplo do alcance da

Epidemiologia foi a descoberta da AIDS, antes mesmo de se conhecer o vírus HIV

causador da doença. A observação epidemiológica notou em 1981, a prevalência de uma

enfermidade que combinava astenia, perda de peso, dermatose, deterioração do sistema

imunológico e o sarcoma de Kaposi, além de infecções oportunistas, como a pneumonia

por Pneumocystis carinii, inicialmente observada em certos grupos da população que

tinham “ comportamento de risco”.

Sabemos que a doença humana não ocorre ao acaso. Ela tem fatores causais e

preventivos que podem ser identificados através da investigação sistemática de diferentes

populações ou subgrupos de indivíduos de uma população.

Definir “Saúde e Doença’’ não é fácil como podemos ver nas seguintes citações:

Saúde é o estado de completo bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de

doença.(OMS, 1978).

Doença é a alteração ou desvio do estado de equilíbrio de um indivíduo com o meio.

(Ministério da Saúde, 1987).

4.3 A HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA

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Segundo Leavell e Clark em 1976 , a História Natural da Doença é o conjunto de

processos interativos que compreende as inter-relações do agente, do suscetível e do meio

ambiente, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente,

passando pela resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito,

invalidez, recuperação ou morte. Existe, portanto dois períodos seqüenciados; o período

epidemiológico e o período patológico.

É importante ressaltar o papel do homem como gerador de condições

socioeconômicas que favorecem as alterações e os danos ecológicos responsáveis por

doenças.d

4.4 MEDIDAS DA SAÚDE COLETIVA

A análise da situação de saúde das populações contribui na definição de políticas

públicas e na avaliação do impacto das intervenções. Desse modo é importante conhecer e

entender conceitos básicos utilizados pela Epidemiologia em Saúde Coletiva.

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Análise da situação de saúde – forma de avaliação em que se utiliza o conhecimento

epidemiológico para a identificação, descrição e análise dos problemas de saúde de uma

determinada população.

Atenção Primária à Saúde – Atenção essencial à saúde, baseada em métodos práticos,

cientificamente evidentes e socialmente aceitos e em tecnologias tornadas acessíveis a

indivíduos e familiares na comunidade por meios aceitáveis e baixos custos.

Morbidade (Incidência e Prevalência) e Mortalidade são os principais indicadores

empregados, entre outros.

Incidência – refere-se à freqüência com que surgem novos casos de uma determinada

doença num intervalo de tempo.

Prevalência – expressa o número de casos existentes de uma determinada doença em uma

determinada população, em dado momento.

Letalidade – Entende-se como o maior ou o menor poder que tem uma doença em

provocar a morte nas pessoas.

Mortalidade – os coeficientes de mortalidade são definidos como quocientes entre as

freqüências absolutas de óbitos e o número de expostos ao risco de morrer.

Mortalidade Infantil – O coeficiente de mortalidade Infantil é um dos mais sensíveis

indicadores de saúde e o mais utilizado dentre os coeficientes de mortalidade.

nº de óbitos de menores de 1 ano na área A, ano T CMI=-------------------------------------------------------------------- X 1000 nº de nascidos vivos, na área A, ano T

A = determinada área ou local

T = determinado ano

Morte Materna – É a morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o

término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez. È

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causado por qualquer fator relacionado ou agravado pela gravidez ou por medidas tomadas

em relação a ela. (MS, 2002).

Expectativa de vida – é a medida do número esperado de anos a serem vividos, em média,

pelos indivíduos.

Anos potenciais de vida perdidos – expressa o efeito das mortes ocorridas precocemente

em relação à duração de vida esperada, para uma determinada população.

Endemia—É a presença constante de uma doença ou de um agente infeccioso em

determinada área geográfica.

Epidemia - Denominação da elevação brusca, temporária e significantemente acima do

esperado para a incidência de uma determinada doença.

Testes diagnósticos – são testes que apontam de maneira inequívoca para uma doença.

Um resultado positivo é uma indicação para tratamento da doença

Testes de rastreamento – devem identificar um problema possível de saúde em pessoas

aparentemente saudáveis. Não confirmam o diagnóstico, mas identificam possíveis doentes

que deveriam ser submetidos a um teste diagnóstico

4.5 RELAÇÃO ENTRE UM TESTE DE DIAGNÓSTICO E A OCORRÊNCIA DE

DOENÇA - PROPRIEDADES DE UM TESTE DIAGNÓSTICO

Sensibilidade (S) → é a proporção de verdadeiros positivos entre todos os doentes.

Expressa a probabilidade de um teste dar positivo na presença de doença.

Especificidade (E) → é a proporção de verdadeiros negativos entre todos os sadios

Expressa a probabilidade de um teste dar negativo na ausência de doença.

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il Pr of. Fernando Figueira

Valor preditivo positivo (VPP) → é a proporção de verdadeiros positivos entre todos os

indivíduos com teste positivo. Expressa a probabilidade de um paciente com o teste

positivo ter a doença.

Valor preditivo negativo (VPN) → é a proporção de verdadeiros negativos entre todos os

indivíduos com teste negativo. Expressa a probabilidade de um paciente com teste negativo

não ter a doença.

Acurácia → é a proporção de acertos de um teste diagnóstico, ou seja, a proporção entre os

verdadeiros positivos e negativos em relação a todos os resultados possíveis.

4.6 O CONTEXTO ATUAL DA EPIDEMIOLOGIA

O desenvolvimento tecnológico (vacinas, antibióticos, técnicas cirúrgicas, métodos

diagnósticos) contribuiu para redução da importância das doenças infecciosas e para o

aumento do papel das doenças não-infecciosas sendo rechaçado o caráter puramente

descritivo da epidemiologia das epidemias. Surgiu a Epidemiologia Experimental

ocorrendo uma ampliação de horizontes e uma abertura de novos territórios de pesquisa e

de prática .Foi ressaltada a importância do papel do ambiente, da nutrição, do “modo de

vida”, sobre o perfil da morbi-mortalidade das populações .

CONCLUSÕESÉ tarefa da Epidemiologia, utilizando-se das técnicas de pesquisa que lhe são

próprias, identificar os fatores de risco nos ambientes físico-químico, biológico e social.

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Isto significa investigar eventos, processos e fenômenos que associados de alguma

maneira, favorecem a que agentes deterioradores de uma fisiologia normal se instalem ou

se desenvolvam em organismos sadios, produzindo doentes em populações, afetando a

Saúde Coletiva.

O objetivo final da Epidemiologia é produzir conhecimento capaz de proteger a

saúde individual por meio de medidas de alcance coletivo e de promover a saúde coletiva

por meio de intervenções sociais e individuais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Epidemiologia & Saúde. Rio de Janeiro: Medsi 6ed. 2003.

2. Medronho RA. Epidemiologia. São Paulo: Editora Atheneu 2004.

3. The Cochrane Reviewers’ Handbook Glossary Version 4.1.2. The Cochrane Collaboration

2001.

4. Epidemiology in Medicine. Hennekens CH, Buring JE. Little, Brown and company First edition

1987.

SUGESTÕES DE LEITURA

1. Introduction to Epidemiology ( University of Texas, Houston)

http://sphnt1.sph.uth.tmc.edu/de/ph2610/

2. Introduction to Epidemiology .Washington State University, 2001

http://www.vetmedwsu.edu./courses-jmgay/EpiMod1. htm

3. Revista de Saúde Pública (Faculdade de Saúde Pública da USP)

http:www.scielo.br/revistas/rsp/iaboutj.htm/

4. Cochrane Collaboration (systematic reviews of the effects of helth care interventions)

http://www.cochrane.org/

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5. DA IDÉIA AO PROJETO DE PESQUISA I: DELIMITAÇÃO E

PROPOSIÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA - ESTRUTURA DO

PROJETO.

Cynthia Braga

Kaline Maciel

5.1 QUESTÃO DE PESQUISA

“A dúvida é a mãe da invenção”

Pesquisar é resolver problemas

Como encontrar um problema de pesquisa? Para detectar problemas, é

necessário se rever à realidade. Por isso é importante o domínio da literatura publicada em

uma determinada área de estudo, como também a participação em congressos e relações

com especialistas da área para discussão dos últimos avanços.

No entanto, não há leitura que substitua a experiência pessoal na tomada de decisões

na pesquisa clínica. Logo, a escolha de um mentor experiente é a decisão mais importante

que um investigador iniciante deve tomar.

Uma atitude cética sobre idéias correntes e o pensamento crítico sobre a prática

clínica na observação cuidadosa de pacientes podem gerar boas questões de pesquisa.

Como também a atividade de docência é uma excelente fonte de inspiração. A criatividade

tem papel importante na proposição de novas respostas p/ questões antigas, assim como a

persistência para retornar a um problema complicado até alcançar uma resolução que

satisfaça.

Algumas idéias surgem durante conversas informais como almoços com

colaboradores; outras surgem em sessões de brainstorming.

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Características de uma boa questão de pesquisa

Uma boa questão de pesquisa deve ser Factível, Interessante, Nova (inovadora),

Ética e Relevante (FINER):

-Factível: É fundamental conhecer desde o início os limites e problemas práticos de

se estudar uma questão: número de sujeitos, domínio técnico, tempo e custos envolvidos e

escopo.

-Interessante: A questão da pesquisa deve ser de interesse do investigador para

conseguir suporte financeiro, na construção de sua carreira e/ou porque chegar à verdade

sobre o assunto lhe seja interessante. Porém, é importante confirmar o interesse sobre uma

questão para a comunidade científica e para os financiadores.

-Nova: Uma questão de pesquisa não precisa ser totalmente original, ela pode

questionar uma informação anterior, verificar se os achados em uma população se aplicam

a outra ou se o avanço das medições pode esclarecer a relação entre fatores de riscos

conhecidos e uma doença.

-Ética: Se existir incerteza sobre se um estudo oferece riscos físicos ou invasão de

privacidade inaceitável, deve-se discutir com o Comitê de Ética em Pesquisa.

-Relevante: É a mais importante característica de uma questão de pesquisa.

Devendo-se ponderar se os desfechos da questão, poderão trazer avanços para o

conhecimento científico.

5.2 DESENVOLVIMENTO DO PROBLEMA

Quando resolvemos problemas, planejamos a abordagem, identificando os

componentes e formulando os passos para resolver cada um destes. Isto é utilizar uma

estratégia, e sabemos que é possível identificar estratégias que permitam chegar mais

rapidamente aos resultados desejados.

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Primeiro passo: Seleção do tema – Atenção: não escolher temas tão gerais que se tornem

inabordáveis.

Segundo passo: Formulação do problema - Ao se formular um problema, o pesquisador

se depara com um conjunto e de interrogações como: Que dados vai coletar? Que

métodos vai utilizar? Como os analisará? Qual é exatamente a questão? Quais são os

conceitos e variáveis a estudar? Terá esta pesquisa uma contribuição importante para

alguém e por quê? Quais as possíveis dificuldades a serem enfrentadas?

Terceiro passo: Resolução do problema - A conclusão da pesquisa tem como função dar

resposta concisa ao problema. Temos alguns requisitos para a resolução de um problema

como: entender o problema, selecionar a informação e definir um enfoque para resolver

o problema.

5.3 DO PROBLEMA AO PROJETO

Um projeto é um instrumento para se avançar até um objetivo, até um resultado em

que se combinam diferentes fatores que influem na pesquisa: A motivação pela viagem

(problema); o lugar de onde partimos (estado de conhecimento); a escolha do caminho a

seguir (método); a luz que iluminará nosso caminho (teoria); as ferramentas a serem

utilizadas (técnicas); a velocidade de acordo com os recursos disponíveis

(operacionalização) e o local aonde queremos chegar (objetivos e resultados).

Um projeto adequadamente estruturado permite ao pesquisador empregar com

eficiência tempo e esforços. E embora não exista um modelo único para formular um

projeto, há componentes que não podem ser omitidos.

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5.4 ESTRUTURA DO PROJETO DE PESQUISA

- Introdução - Neste tópico é que se faz uma descrição da situação inicial. Deve ser

crítica, prendendo-se não aos autores ou ao artigo, mas ao assunto abordado, dando-se

enfoque ao tema, ressaltando-se os méritos e as vantagens, bem como as limitações e

desvantagens dos diversos estudos. Deve-se seguir a estrutura “em funil”, partindo do

geral para o específico, abordando os aspectos do tema na seguinte seqüência: O que se

sabe sobre o tema, o que se disse primeiro, o que se disse melhor, o que se disse mais

recente, quais os pontos controversos, o que não se sabe e o que se precisa saber: sua

questão ou pergunta. A Introdução deve ser finalizada com a justificativa do problema (sua

pergunta) a ser estudado, embasado na revisão apresentada (essa proposição corresponde ao

objetivo geral do estudo).

- Modelo teórico: Consiste em apresentar em forma de organograma os

determinantes do problema de saúde em questão, por níveis de hierarquia. Facilita a escolha

e a operacionalização dos fatores de risco/ variáveis, bem como a elaboração da discussão.

- Justificativa - Explicar a importância de se realizar o estudo. É quando o leitor

deve ser seduzido pelo tema para que ele queira saber quais os métodos utilizados e os

resultados encontrados.

- Objetivos - Deve-se definir o objetivo geral (apresentação do problema ou questão a

ser pesquisada) e os objetivos específicos, que devem ser adequadamente explicitados,

facilitando o desenvolvimento do projeto e a interpretação dos resultados.

- Hipóteses - É o que você espera encontrar no final da pesquisa, baseado nas

pesquisas prévias e no seu entendimento daquilo que está sendo pesquisado..

- Métodos - Deve ser estruturada em sub-tópicos que detalham ordenadamente as

etapas do projeto de pesquisa:

Desenho do estudo: Especificar o tipo do estudo a ser realizado, por e: relato de caso e

série de casos, corte transversal, caso-controle, coorte, ensaio clínico (intervenção) e revisão

de literatura.

Local do estudo: A prevalência das doenças é modificada de acordo com o local

de estudo, assim é necessário definir o local de estudo para que o leitor entenda o cenário no

qual será produzida a pesquisa.

Período de coleta: Referir a data de início e de término para a coleta de dados.

População do estudo: Apresentar a população da qual será retirada sua amostra

Amostra: Descrever o procedimento de amostragem.

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Tamanho amostral: Definir o tamanho da amostra, justifique-o e explique os critérios

utilizados para determiná-lo, apresentando a fórmula empregada.

Seleção de participantes: Especificar quem ou o quê são os participantes ou o

material da pesquisa. Deve-se definir os critérios de inclusão e que são estratégias para

controle de variáveis ou fatores potencialmente confundidores, podendo interferir nas

conclusões de seu estudo.

Definição e operacionalização de variáveis: Defina as variáveis e os conceitos a serem

estudados. Por exemplo, se a variável for hipertensão arterial, é preciso discriminar a partir de

que nível o participante será considerado hipertenso.

Acompanhamento de participantes: Especificar a freqüência com que ocorrerá, o

que será avaliado e o que se fará em cada uma dessas ocasiões.

Critérios para descontinuação do estudo: Definir as circunstâncias nas quais algum

participante poderá ser retirado do estudo como também os critérios para suspender ou

encerrar a pesquisa

Coleta de dados: Informar como serão obtidos os dados ou amostras de material

Instrumentos para coleta de dados: Incluir uma cópia do formulário, ficha e/ou

qualquer outro documento a ser utilizado para registrar informações.

- Processamento e análise dos dados - Descrever os procedimentos a serem

observados para o processamento dos dados coletados. Isto inclui: revisão dos questionários,

organização, arquivo, digitação, codificação e limpeza. Indique o software a ser utilizado.

Listar os métodos estatísticos a serem utilizados para a análise dos dados.

- Resultados - Cada objetivo do estudo deve conter um tópico neste capítulo.

Objetivos de caráter descritivo deverão ser preferentemente apresentados no corpo do texto.

Objetivos de caráter analítico poderão ser apresentados na forma de tabelas ou gráficos.

Os itens restantes serão descritos no capitulo seguinte, são eles: aspectos éticos,

orçamento, cronograma, referências bibliográficas, apêndices e anexos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES DE LEITURA

1. Tobar, Federico e Margot Romano Yalou. Como fazer teses em saúde pública. 1a

edição: 2001. Rio de Janeiro. Editora Fiocruz.

2. CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Critério

para classificação de periódicos no sistema Qualis. Grande área de saúde: triênio

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2004-2006. Brasília, Brasil: CAPES, 2006. Disponível em: URL: http//

www.capes.org.

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6. DA IDÉIA AO PROJETO II : PLANEJAMENTO E ETAPAS DA

PESQUISA

Cynthia Braga

Juliana de Oliveira

6.1 INTRODUÇÃO

Pesquisar é partir em busca do conhecimento.

Para que possa ser chamada de científica, a pesquisa deve obedecer a rigores que

impõe o método científico, sendo sua principal propriedade a reprodutibilidade.

O planejamento da pesquisa deve estar de acordo com as normas e requisitos

estabelecidos para a produção científica, garantindo a validade dos resultados da pesquisa,

possibilitando a reprodutibilidade por outros pesquisadores e tendo como meta um projeto

simples, de baixo custo e de curta duração.

Neste texto abordaremos as etapas da pesquisa, com ênfase na etapa de planejamento.

Focaremos também instrumentos operacionais de gestão, que integram o projeto de

pesquisa, como o cronograma e o orçamento.

Planejar a pesquisa é um extenso processo de previsão, que vai da pergunta de

investigação até à divulgação dos resultados da pesquisa.

A pesquisa científica é dividida em três etapas fundamentais e seqüenciais:

a) Planejamento; b) Execução; c) Divulgação.

Cada etapa deverá iniciar e terminar antes do início da seguinte e corresponde a um

documento com finalidade diversa, como a seguir se explicita:

No final da etapa de planejamento deveremos ter elaborado o Projeto de Pesquisa, da

etapa de execução o Relatório Final da Pesquisa, e da etapa de divulgação o Artigo

Original.

6.2 PLANEJAMENTO

O planejamento da pesquisa é o processo utilizado para produzir resultados de boa

qualidade e resulta na elaboração do projeto de pesquisa. A principal razão para se fazer o

planejamento é evitar vieses. Pode ser subdividido nos seguintes componentes:

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- A formulação da Pergunta de Investigação - é um processo criativo, que inicia

com a Dúvida (gerada pela curiosidade, iniciativa, disposição e raciocínio lógico), passa

pela Idéia brilhante, procura formular a Pergunta de Investigação e gerar Hipóteses para

explicá-la. Etapa fundamental da pesquisa, pois define e delimita o problema a ser

estudado, fornecendo ao pesquisador o elemento principal para estabelecer o objetivo da

pesquisa.

- O Plano de Intenção - É um resumo (dinâmico) da pesquisa que pretendemos

iniciar. Redigido em folha única, deve ter a extensão máxima de 450 palavras e permite-nos

ter as idéias organizadas para procurar o(s) orientador(es) para a pesquisa.

- A Revisão da Literatura – Tem por finalidade definir se a idéia inicial é viável do

ponto de vista teórico. Faz-se o mapeamento teórico do estado atual do conhecimento sobre

o tema e decide se a idéia original é viável sob o ponto de vista teórico. A pesquisa

bibliográfica deve debruçar-se sobre as referências primárias.

- A Identificação de Instrumentos e Procedimentos - Decide se a idéia é viável do

ponto de vista prático.

- O Projeto de pesquisa - É um plano detalhado de um estudo, o documento final e

síntese do processo de planejamento. Documento no qual está a pergunta da investigação, a

justificativa da pesquisa, a situação atual do conhecimento sobre o assunto, o método de

como chegar à resposta da pergunta original e ainda instrumentos operacionais, para a

gestão da pesquisa, como o cronograma e orçamento.

É um documento essencial, para garantirmos a validade dos resultados da pesquisa e

a possibilidade de reprodutibilidade imposta pelo Método Científico. Também é necessário

para se obter a autorização do Comitê de Ética e o financiamento para a pesquisa.

É também um instrumento de controle, tanto para o pesquisador, como para o tutor,

financiadores ou diretores da pesquisa. Um projeto adequadamente estruturado permite ao

pesquisador empregar com eficiência tempo e esforços.

Elaborar um projeto é um processo trabalhoso que está dependente da experiência

em investigação e do domínio que o investigador tiver do tema. Duração em torno de 3

meses.

É importante lembrar que:

“Quanto menos tempo se disponha para desenvolver a pesquisa, mais tempo

convém investir na formulação do projeto”.

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- A submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa - Nenhuma investigação científica

envolvendo seres humanos deve ser implementada sem a autorização do Comitê de Ética

em Pesquisa.

- A submissão a Organismos Financiadores – as principais fontes de financiamento à

pesquisa são: a) o Governo; b) Instituições privadas sem fins lucrativos como as fundações

ou associações profissionais; c) a indústria farmacêutica e de equipamentos médicos; d)

Instituições universitárias. Conseguir financiamento de uma destas fontes envolve um

processo complexo, competitivo que favorece investigadores com experiência e

persistência. O tempo necessário para conseguir financiamento pode levar vários meses.

6.3 A EXECUÇÃO

É o processo utilizado para produzir resultados de boa qualidade que resultam da

execução de tudo que está documentado no projeto de pesquisa. Esta etapa tem por objetivo

implementar a pesquisa e integra as seguintes atividades:

- A Pesquisa Piloto – É a execução da pesquisa com uma amostra reduzida que tem

por objetivos treinar pessoal, validar os instrumentos e procedimentos que serão utilizados.

Antecede à coleta de dados e tem o tempo médio de 1 mês.

- A Coleta de Dados –É o processo que se inicia no recrutamento dos sujeitos da

pesquisa e finaliza com o preenchimento da ficha de coleta de dados, durando cerca de 6 a

7

- O Armazenamento dos dados – É feito paralelamente a coleta de dados, nele

controla-se a qualidade dos dados e arquiva-se em planilhas eletrônicas.

- A Tabulação dos dados – È o processo de apuração e seleção dos dados, podendo

ser feita de 2 formas: apresentação tabular e gráfica. Dura em torno de 1 mês.

- A Análise dos dados – Faz-se a análise estatística dos dados e a apresentação dos

resultados. Tempo médio de 1 a 2 meses.

- A Interpretação dos dados – Tenta-se evidenciar relações entre os fenômenos e

fatores estudados; procura-se dar um significado mais amplo às respostas, vinculando-as a

outros conhecimentos. Dura em torno de 2 a 3 meses.

- O Relatório Final – É o documento síntese dos resultados da pesquisa, decorre em

paralelo com as últimas 3 atividades, dura em torno de 4 a 5 meses.

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6.4 A DIVULGAÇÃO

Etapa importante para tornar público o resultado da pesquisa, compreende 2 itens:

- A Apresentação Pública - Prepara-se a apresentação dos resultados da pesquisa (1

mês), que pode ser oral ou através de pôster. Sua preparação dura em torno de 1 mês.

- O Artigo Original – Élaboram-se artigos originais para colocação em revistas de

investigação. Duração em torno de 1 a 2 meses.

6.4 O plano de trabalho/ cronograma

O cronograma é um instrumento que nos permite prever a alocação do tempo para as

diferentes atividades em função dos recursos disponíveis. Possibilita também

acompanharmos/ avaliarmos a velocidade com que estamos a avançar.

No quadro que se segue vemos como poderão ser distribuídas as principais atividades,

da pesquisa científica, ao longo de unidades de tempo (semanas ou meses):

ATIVIDADES/TEMPO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

a) Pesquisa literatura X X X X X X X X X X X X X X

Etapa de Execução

b) Pesquisa-piloto X

c) Coleta de dados .. X X X X X X X

d) Armazenamento de

dados

.. X X X X X X X

e) Tabulação dos dados X

f) Análise estatística X X

g) Interpretação dos dados X X X

h) Relatório final X X X X X

Etapa de Divulgação

i) Elaboração artigo

original

X X

j) Apresentação pública X

Quadro 1. Cronograma da pesquisa científica

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6.5 DA LISTA DE NECESSIDADES AO ORÇAMENTO...

Nesta etapa devem-se estimar os gastos pessoas, exames, viagens, tudo o que for

utilizado na pesquisa. Não devemos esquecer detalhes silenciosos, como a ocupação de

espaço (energia, telefones, equipamentos de secretariado, etc.), horas de trabalho de

diferentes técnicos e investigadores. Uma listagem exaustiva permite confirmar que

instituições vão suportar os custos da pesquisa.

O tipo de formulário para a elaboração do orçamento é diferente de acordo com a

agência de fomento à pesquisa, no entanto é preciso que este indique os recursos que vão

ser utilizados, fontes e destinação. Uma justificativa do orçamento é obrigatória.

O quadro que se segue pretende apresentar um exemplo de orçamento de um projeto de

pesquisa.

RUBRICA Custo Unitário x NUnidades Total

Recursos Humanos

Pesquisador

Digitador

R$ 500,00 /mês /7 meses

R$ 200,00 x 3 meses

R$ 3.500,00

R$ 600,00

Transporte

Combustível R$ 100,00 x 4 meses R$ 400,00

Material de consumo

Lapiseiras

Envelopes para arquivo

Papel para computador

Cópias xerográficas

Tinta para impressora

R$ 3,00 x 1caixa

R$ 0,80 x 140 unidades

R$ 13,00 x 2 resmas

R$ 0,07 x 3200 cópias

R$ 50,00 x 2 refis

R$ 3,00

R$ 112,00

R$ 26,00

R$ 224,00

R$ 100,00

Outros

impressão/ encadernação do projeto

impressão/ encadernação do relatório

Solicitação de artigos científicos

R$ 10,00 x 6 cópias

R$ 15,00 x 10 cópias

R$ 7,50 x 50 artigos

R$ 60,00

R$ 150,00

R$ 375,00

Despesas imprevistas 5% R$ 277,50

Total R$ 5827,50

Quadro 2. Orçamento da pesquisa (exemplo)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES PARA LEITURA1. Contandriopoulos AP et al. Saber preparar uma pesquisa. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro:

Abrasco, 1999.

2. Clark OAC, Castro AA. A pesquisa. In: Castro AA, editor. Planejamento da pesquisa. São Paulo:

AAC; 2001

3. Disponível em: URL: http://www.evidencias.com/planejamento/pdf/Iv4_00_pesquisa.pdf

4. Cummings SR, Holly EA,Hulley SB. Redigindo uma proposta para solicitar financiamento de

pesquisa. In: Hulley SB.Delineando a pesquisa clínica: uma abordagem epidemiológica. 2ª edição.

ARTMED, editora. 2003

5. Tobar F, Yalour MR. Como fazer teses em saúde pública: conselhos e idéias para formular projetos e

redigir teses e informes de pesquisas. Rio de Janeiro:Editora Fiocruz, 2001

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7. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS DIVULGAÇÕES CIENTÍFICAS

Maria Arleide da Silva

Maria do Carmo Duarte

Comunicar com clareza é uma necessidade, seja no trabalho cotidiano, na relação do

profissional de saúde com seus pacientes, na relação de equipe ou do docente com o seu

alunado. Comunicar verbalmente ou através da escrita é divulgar o que se pensa, se sabe

ou se descobriu, partindo-se sempre do princípio de que quem comunica considera que há

algo importante a ser divulgado. A divulgação científica é um instrumento precioso e deve

ser elaborada e executada com o rigor e precisão que lhes são inerentes.

A divulgação científica utiliza-se de modelos de apresentação oral ou escrito,

respectivamente através de apresentações em congressos, reuniões, conferências, ou

monografia, dissertação, tese, relatório pôster em congresso, resumo em anais ou

periódicos.

A elaboração de qualquer um desses instrumentos de divulgação científica requer que

sejam utilizadas as regras que regem cada tipo de comunicação, seguindo-se sempre o

modelo adotado pela instituição na qual se vai divulgar a comunicação. Segue-se

normalmente um padrão internacional para publicações, sendo que existem peculiaridades

a serem observadas em cada uma delas.

A elaboração de um trabalho científico e sua divulgação exige que o pesquisador

ofereça respostas às perguntas: por que comunicar é importante? Qual o objetivo da

comunicação? Como comunicar? Quem é o público alvo? Onde e quando será a

comunicação?

Qualquer divulgação científica deve ter sempre objetivo, desenvolvimento e

conclusões ou considerações finais. No objetivo pode-se precisar que conste o objetivo

geral e os específicos. O desenvolvimento deve apresentar o método, os resultados e a

discussão, seguindo-se a conclusão.

Neste tipo de divulgação deve-se evitar a prolixidade e os jargões do cotidiano. É

necessário usar a objetividade com clareza e concisão. A começar pelo título do trabalho,

é necessário resumir com precisão aquilo que se deseja comunicar. Se a comunicação é

escrita, o uso de abreviaturas deve ser restrito e carece ser esclarecido na primeira vez que

aparece no texto. A bibliografia ou referência bibliográfica tem normas padronizadas a

serem seguidas e para cada citação deve haver uma referência.

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Assim como a divulgação escrita tem uma delimitação de espaço para a publicação ou

apresentação de relatório, dissertação ou outras, a comunicação oral tem um espaço de

tempo definido para apresentação, é importante cumpri-lo, por isso, deve-se verificar com

antecedência se o tempo está compatível com a disponibilidade que foi oferecida para a

apresentação e checar se há coerência entre os objetivos propostos e os resultados

apresentados.

A melhor divulgação científica é sempre aquela com amplitude e impacto. É por essa

via que o pesquisador poderá participar dos processos de produção científica e

tecnológica, podendo coletivizar as suas descobertas e ter um feedback da sua produção, o

que se torna mais provável se a divulgação científica é realizada em periódicos indexados.

Uma lembrança é sempre necessária na hora de divulgar: a comunicação é para

um público, seja um leitor ou uma audiência para quem se fala ou escreve e ele é

muito importante. O objetivo da divulgação é atingi-lo, fazê-lo ciente daquilo que

pareceu importante ao apresentador e se faz necessário coletivizar, ele precisa

compreender, é para ele que se divulga.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES PARA LEITURA1- Nahas FX, Ferreira LM. A Arte de Redigir um Trabalho Científico. Acta Cirúrgica Brasileira.

2005. Vol 20 9Supl. 2).

2- Duarte M. Como redigir um trabalho científico.

http://www.usp.br/eef/lob/md/emb128/trabalho.htm

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8. PUBLICAR OU PERECER? - ELEMENTOS DA REDAÇÃO

CIENTÍFICA

Cristiane Bresani

João Guilherme Alves

8.1 O QUE É PUBLICAÇÃO?

Os grandes pensadores e filósofos demoram a aparecer e hoje a ciência tem pressa.

Portanto, no mundo acadêmico, o conhecimento é baseado cada vez mais nas evidências

surgidas dos trabalhos de pesquisa. Estes, para que tenham utilidade final, precisam

transformar-se em informação disponível, e para tal, a maneira mais factível é a publicação.

Tais como ovos de tartarugas, milhares de idéias e projetos surgem a todo o

momento no universo científico, mas, de cada nicho de centenas de idéias, apenas uma

minoria sobrevirá. Centenas delas nem chegam a eclodir, morrem ainda como idéia ou

projeto. Uma boa parte começa a sair do invólucro branco, mas infelizmente perde forças e

ali morre presa. Grande parte sai - andando ou correndo - e dessas, algumas pegam a

direção errada, muitas morrem no meio do caminho e apenas duas ou três conseguem

alcançar o seu destino tão esperado: o oceano da comunicação científica – a publicação.

Publicação, tradicionalmente e para fins curriculares, é considerada quando um

trabalho é aceito e então aparece num periódico ou jornal. No seu sentido mais amplo,

publicação é um continuum que se inicia com as primeiras divulgações dos resultados de

uma pesquisa, desde sua apresentação aos colegas em reuniões ou conferências, passando

por pré-publicações (pre-prints e informes) até o aparecimento efetivo de sua versão final

revisada nos veículos de comunicação científica. O último Workshop em Práticas e Padrões

da Publicação Eletrônica Científica, realizado em Paris pela UNESCO (Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), pela Associação Americana para o

Avanço da Ciência e pelo Conselho Internacional da União Científica concluiu que as

várias versões das publicações são desejáveis para a comunicação científica.

Os trabalhos assim surgem, em sua maioria no âmbito dos programas de graduação

e de pós-graduação, através de uma rede de colaboração entre os aspirantes e seus

orientadores, que devem ter em mente a sua finalidade primordial: servir ao conhecimento

científico; caso contrário o caminho rumo à publicação já começará sem muitas

perspectivas.

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8.2 POR QUE PUBLICAR?

Publicar é a maneira mais prática e democrática (teoricamente) de se atingir o que

deveria ser a finalidade primária de um trabalho científico: a comunicação científica. É

através desta que se disponibiliza a informação aos usuários (na nossa área: profissionais de

saúde, formuladores de políticas em saúde e pacientes), produzindo-se assim o

conhecimento científico, a partir do qual se aperfeiçoam as práticas profissionais e as

tomadas de decisão.

A publicação também se presta à reprodutibilidade e à obtenção de títulos, prestígio,

credibilidade e estabilidade do cientista na comunidade acadêmica e ainda funciona como

uma prestação de contas aos órgãos financiadores e como um dos critérios de qualidade dos

programas de pós-graduação frente aos órgãos avaliadores (por exemplo: no Brasil a

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Porém, esses

benefícios devem ser secundários. Deve-se lembrar também dos interesses ilegítimos

sustentados pela indústria científico-tecnológica.

Adicionalmente, as diversas formas de se publicar devem ser entendidas como uma

maneira efetiva de se aprimorar na área acadêmica, visto que resultam de revisões

exaustivas do manuscrito antes da submissão e durante o processo de aceitação pelo(s)

periódico(s) pretendido(s). Depois de publicado, o trabalho pode ainda ser objeto de cartas

e comentários bastante construtivos e, por fim, as citações referentes a ele enriquecem

crescentemente o currículo dos autores.

8.3 O QUE É SUBMISSÃO E INDEXAÇÃO?

Submissão é o ato de submeter o seu artigo à apreciação do grupo de trabalho de

um periódico para aprovação ou não. Os periódicos rejeitam a maioria dos milhares de

trabalhos recebidos e em geral exigem modificações dos que são aceitos. A maioria não

permite submissão simultânea do artigo a mais de um jornal, o que causa retardo adicional

na publicação.

Indexação é o processo que atribui descritores ou palavras-chave ao conteúdo

temático de um documento (dissertações, teses, artigos e outros), após sua leitura técnica e

análise por profissionais especializados no assunto. Descritores e palavras-chave são termos

extraídos de vocabulários que expressam conceitos de uma ou várias áreas do

conhecimento, através dos quais se faz uma busca por assunto nas bibliotecas e bases de

dados.

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A indexação se faz no texto, no seu todo ou em partes, e é realizada por essas

bibliotecas e bases de dados (tais como LILACS, MEDLINE, SCIELO) responsáveis pela

coleção e disponibilização dos documentos. Se o autor do documento atribui corretamente

o título, faz um resumo de modo estruturado, com introdução e conclusão bem elaboradas,

será fácil, para o profissional indexador, selecionar as palavras significativas, facilitando

assim a busca do artigo e favorecendo sua citação por outros autores.

Para um periódico, ser indexado em uma base de dados significa ter seus

documentos analisados e indexados pelo grupo de trabalho desta, ou seja, ser incorporado a

ela após aprovação por critérios próprios, que levam em consideração várias características,

tais como: periodicidade e regularidade de seus exemplares, fator de impacto (citação do

periódico) e percentual de artigos originais por publicação.

Fator de impacto é uma das formas de se quantificar a importância dos jornais no

âmbito da divulgação científica, para que possam ser categorizados e comparados. Ele é

uma medida de freqüência da proporção em que os artigos de um jornal foram citados num

ano ou período particular. É calculado dividindo-se o número de vezes que os artigos dos

dois anos anteriores desse jornal foram citados no ano atual, pelo número de artigos

publicados por ele nesses mesmos dois anos.

8.4 COMO PUBLICAR? (O PROCESSO DE PUBLICAÇÃO)

Tendo-se em mãos um trabalho realizado com todos os cuidados de metodologia

científica e obediente às exigências éticas, o primeiro passo é a escolha do periódico. É

importante saber que cada periódico tem o que se chama de “instruções aos autores”, que é

como uma receita de como o artigo deve ser escrito caso almeje estar em um de seus

exemplares. Portanto, a eleição do periódico deve ocorrer antes de se redigir o trabalho em

forma de artigo, ou, caso contrário, este deve ser adaptado.

Deve-se então enviar o manuscrito ao periódico pretendido, obedecendo todas as

suas exigências burocráticas e aguardar a resposta. Os jornais de maior impacto e

rotatividade levam de 4 a 8 semanas para comunicar a decisão e retardam a publicação em

meses após a aceitação final do artigo corrigido.

Caso a publicação seja rejeitada o autor deve se preparar para a ressubmissão a um

segundo ou terceiro jornal (submissão seqüencial). Surge então o problema do retardo de

publicação, que prejudica a utilidade dos resultados no tempo: uma questão moral e ética, já

que todos os envolvidos no processo de pesquisa têm a obrigação de divulgar os seus

resultados o mais rápido possível. Mas, os veículos de comunicação não são os únicos

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culpados, muitas vezes os próprios pesquisadores demoram a redigir, submeter e

ressubmeter os seus achados, outras vezes superestimam o trabalho e perdem tempo

visando periódicos inadequados ao seu contexto. Portanto deve-se ter bom senso para

escolher onde publicar.

8.5 ONDE PUBLICAR?

Ao escolher o periódico a submeter o seu trabalho, o pesquisador deve levar em

consideração a qualidade e a significância de seus resultados frente à representatividade e

temática usual dos periódicos. Para aqueles trabalhos de alta qualidade e que abordam

temas de interesse geral, jornais de medicina geral, tais como BMJ, JAMA, Lancet, New

England Journal of Medicine, são opções. Os trabalhos com resultados de menor impacto

podem ser mais facilmente aceitos por jornais locais e aqueles com assuntos de interesse

restrito devem procurar as revistas especializadas no tema. 

No Brasil a CAPES criou a classificação Qualis dos periódicos utilizados pelos

programas de pós-graduação, com a finalidade de facilitar o seu processo de avaliação dos

programas, que utiliza a qualidade das publicações como critério. A classificação é feita ou

coordenada por um representante de cada área e passa por processo anual de atualização.

Os veículos de divulgação usados pelos programas de pós-graduação são

enquadrados em categorias de qualidade (A, B ou C) e de âmbito de circulação (local,

nacional ou internacional). As combinações dessas categorias compõem nove alternativas

indicativas da importância do periódico utilizado, e, conseqüentemente, do trabalho

divulgado. O mesmo jornal, ao ser indicado por duas ou mais áreas distintas, pode receber

diferentes avaliações. Isto não constitui inconsistência, mas expressa o valor atribuído, em

cada área, ao que o veículo publica de sua produção. No entanto, não se pretende com essa

classificação, definir qualidade de periódicos de forma absoluta.

De forma prática, para que se mantenha o nível de qualidade da produção científica

dos alunos e docentes dos programas de pós-graduação frente à CAPES, devem-se

objetivar publicações nos periódicos nacional-A ou internacional-A ou B.

8.6 ELEMENTOS DA REDAÇÃO CIENTÍFICA

Seguir com rigor as normas redacionais científicas é um dos pontos-chave para alcançar

a publicação e atingir o interesse do público, que são as duas pontes para a disseminação do

conhecimento científico.

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Em geral, as revistas adotam uma regra universal para o formato dos artigos e também

certas regras peculiares para cada tipo de publicação (comentários, editoriais, revisões,

“mesas redondas”, relato de caso, artigo original, carta ao editor, entre outras). Estas se

encontram detalhadas nas instruções aos autores, que incluem também a missão, os

objetivos e as exigências éticas do jornal, e estão disponíveis nos seus exemplares ou em

suas home-pages.

As instruções devem ser cuidadosamente observadas e seguidas na íntegra. Os

resultados de muitos trabalhos não são inertes, podem tranquilamente ser abordados de uma

forma mais geral ou mais específica, mais universal ou regional, a depender dos objetivos

do jornal pretendido. Portanto o autor deve ter uma visão ampla sobre o assunto para que

possa conduzi-lo em conformidade com o escopo do periódico.

CONCLUSÃO

Para girar a máquina do conhecimento científico, o publicar é necessário, mas não é

tudo. O trabalho publicado precisa ser lido, de preferência na íntegra, e para tal deve

instigar o interesse e prender a atenção dos leitores através de alguns cuidados que

começam com a redação coerente e concisa do trabalho, passam pela escolha do periódico

adequado para submissão e publicação e vão até a indexação nas bases de dados. Os

pesquisadores não devem se ater apenas às características técnicas e ao “brilhantismo” de

seu estudo.

SUGESTÃO PARA LEITURA: Abbasi K et al. Four futures for scientific and medical

publishing. BMJ 2002; 325: 1472 – 1475.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS3. Adamson J, Cockayne S, Dumville J, Petherick E, Torgerson DJ. Submission to multiple journals: a

method of reducing time to publication. BMJ 2005; 330: 305-307;

4. Rosas P. Instruções redatoriais e a indexação em publicação periódica. In: Goldenberg S, Guimarães

Case, Castro AA. Elaboração e apresentação de comunicação científica. São Paulo: Metodologia.org:

2001. Disponível em: URL: http// www.metodologia.org;

5. Smith R. What is publication? BMJ 1999; 318: 142;

6. CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Critérios Qualis e de

conceitos relacionados à publicação. Grande área da saúde: Educação Física, Enfermagem,

Farmácia, Medicina I, Medicina II, Medicina III, Odontologia e Saúde Coletiva. Brasília, Brasil:

CAPES, 2002. Disponível em: URL: http// www.capes.org;

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7. CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Critério para classificação

de periódicos no sistema Qualis. Grande área de saúde: triênio 2004-2006. Brasília, Brasil: CAPES,

2006. Disponível em: URL: http// www.capes.org.

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9. O ESTUDO CERTO PARA O PROBLEMA:

QUALITATIVOS X QUANTITATIVOS

Maria Inês Bezerra de Melo

Murilo Britto

9.1 INTRODUÇÃO

O pesquisador que não sabe exatamente em que campo se insere seu trabalho e não

consegue responder de onde se origina e a que tipo de construção de conhecimento serve,

certamente, estará desempenhando uma prática alienada de pesquisa. É necessário que o

pesquisador saiba explicitar em seu relato de pesquisa a sua opção metodológica e todo

procedimento desenvolvido na construção de sua investigação (Silva, 1998).

Na abordagem quantitativa a análise de conteúdo centra-se na freqüência de

aparecimentos dos elementos considerados, trabalha com dados descritivos através de um

método estatístico. (Rodrigues e Leopardi, 1999).

A pesquisa quantitativa segue etapas que relacionam hipóteses com resultados, para

chegar a generalizações, seguindo o seguinte percurso:

Enunciação de perguntas claramente formuladas e fecundas, delimitando um

campo para a investigação, passando do nível sensorial ou observacional

para um nível objetivo e lógico do conhecimento;

Suposição de conjecturas ou explicações provisórias- as hipóteses- que

interrelacionam variáveis, como possível resposta lógica ao problema

colocado, em termos de premissas ou juízos antecedentes, prováveis ou

inferências, que derivam logicamente das premissas;

Derivação para conseqüências lógicas das conjecturas, a partir das hipóteses,

estruturando o curso da pesquisa em termos de preposições práticas;

Suposição de técnicas para avaliar as hipóteses, apresentando que permitam

a emergência de dados válidos;

Avaliação das técnicas para saber o grau de credibilidade que merecem, por

meio de pré-testes, por exemplo:

Realização da coleta de dados, pela experimentação ou de fontes previstas

no plano, interpretação dos achados, após sua sistematização ou tratamento

estatístico;

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Avaliação da pretensão de verdade da hipótese e da fidelidade dos

resultados;

Determinação do domínio para o qual são válidas a hipótese e as técnicas,

bem como formulação de novos problemas (Leopardi, 2002).

Para Valles (1997), a credibilidade de um estudo quantitativo relaciona-se à

utilização que tenha sido feita de um conjunto de recursos técnicos; a triangulação de

dados, métodos e investigadores; do apoio de uma documentação escrita ou visual

própria ao contexto; das discussões com os colegas; revisões de informações e

interpretação com os componentes do estudo; e dos registros de diários de campo e

diários de investigação.

Na pesquisa qualitativa são trabalhados com indicadores não freqüenciais –

presença ou ausência, que possam permitir inferências, em que a abordagem por sua

vez utiliza procedimentos mais intuitivos, mais maleáveis, mais adaptáveis e o

investigador é o instrumento principal; a investigação tende a ser mais descritiva, há

mais interesse pelos processos que pelos resultados ou produtos e os investigadores

qualitativos tendem a analisar seus dados de forma intuitiva. (Rodrigues e Leopardi,

1999).

9.2 ETAPAS DA PESQUISA QUALITATIVA

- Fase de reflexão

Identificação de tema e questões a serem investigadas.

Identificação de perspectivas paradigmáticas.

- Fase de planejamento.

Seleção de um contexto.

Seleção de uma estratégia.

Preparação do investigador.

Redação de um projeto.

- Fase de entrada em campo.

Seleção de informantes ou casos.

Realização das primeiras entrevistas ou observações.

- Fase de coleta produtiva e analise preliminar de dados.

- Fase de saída de campo e analise intensa de dados.

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- Fase de redação dos resultados.

Durante a pesquisa qualitativa, Silva (1998) afirma que podem ocorrer alguns vieses

ideológicos quando o pesquisador introduzir ou conduzir a investigação e que deve

preocupar-se com a proteção dos direitos humanos e todas as considerações éticas com os

participantes do estudo referindo que “a investigação qualitativa é tão boa quanto sejam as

qualidades de seu pesquisador.” Para a mesma autora o investigador qualitativo tem que ter

as qualidades que ela propõe como decálogo do Investigador Qualitativo:

1. Ë paciente; sabe ganhar a confiança dos que estuda.

2. É polifacético em métodos de investigação social.

3. É meticuloso com a documentação (dados diários).

4. É conhecedor do tema que se propõe a estudar (sendo capaz de detectar

pistas).

5. Ë capaz de detectar perspectivas teóricas úteis a seu estudo.

6. Ë capaz de trabalhar indutivamente.

7. Tem confiança em suas interpretações.

8. Verifica e contrasta, constantemente, sua informação.

Como critérios de avaliação dos estudos qualitativos, devemos lembrar, como

afirma Valles (1997) que existe uma variedade de posturas entre os pesquisadores

da área:

a) Aqueles que consideram que devem ser aplicados os mesmos

critérios de avaliação que são aplicados à avaliação quantitativa, ou

seja, os conceitos de validade interna e externa, confiabilidade

associadas à medição e operacionalização conceitual;

b) Aqueles que argumentam a favor da redefinição desses critérios.

Estes defendem a idéia de que acima de tudo os estudos devem

apresentar consistências nas observações empíricas e produção de

conhecimento transferível a outros contextos;

c) Aqueles que rejeitam qualquer tipo de critério de avaliação da

pesquisa qualitativa alegando que qualquer tipo de investigação não

persegue o conhecimento verdadeiro no sentido de certezas

absolutas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES PARA LEITURA1. Silva RC. Diálogos Metodológicos Sobre Prática de Pesquisa: A falsa dicotomia

qualitativo-quantitativo: paradigmas que informam nossas práticas de pesquisas, pp. 159-

174, R. Preto: Ed. Legis-Summa, 1998).

2. Rodrigues MSP, Leopardi MT. O Método de Análise de Conteúdo. Fortaleza, 1999.

3. Leopardi MT. Metodologia da Pesquisa na Saúde. 2ª ed. Florianópolis, 2002.

4. Valles MS. Técnicas Cualiltativas de Investigacion Social: Reflexion Metodológica Y

Práctica Professional. Madrid: Ed. Sintesis Sociologia, 1997.

10.DESENHO DO ESTUDO I

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Ana FalboKarla Ramos

10.1 INTRODUÇÃODuas questões fundamentais antecedem a escolha ou definição do desenho do

estudo: a pergunta da pesquisa e os objetivos do estudo (que se confundem com a pergunta

do estudo, mas podem ser bem especificados).

Para que a pesquisa tenha qualidade é necessário observar se o estudo a ser

realizado é:

Factível: devem-se conhecer os limites e problemas práticos de uma questão desde o

inicio para que possa ser avaliada a possibilidade de execução.

Interessante (para o pesquisador): aumenta a motivação que cresce a cada fase do

estudo intensificando o esforço, facilitando a superação dos obstáculos e das

frustrações.

Ético

Inovador: um estudo que apenas reitera o que já foi constituído não vale os recursos

e esforços despendidos.

Relevante: que possa trazer avanços para o conhecimento cientifico, direcionar

pesquisas futuras ou ainda influenciar as políticas de saúde publica e o manejo

clinico.2

10.2 DESENHO DE ESTUDO

É utilizado para descrever a combinação das atitudes pelas quais os grupos de

estudos são formados e o período no qual as variáveis serão medidas ou aferidas. A escolha

das variáveis é de suma importância, pois estas, é que representam os fenômenos de

interesse. É importante escolher um desenho apropriado para responder a pergunta da

pesquisa. 1,2

O desenho de um estudo pode ser considerado sob três aspectos, em relação à

aferição da exposição (evento que exerce uma ação no processo que está sendo estudado) e

do desfecho (evento selecionado para o estudo e cuja ocorrência poderá estar relacionada

com a exposição):

- Direção:

Olhando para frente (prospectivo): da exposição → desfecho.

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Os sujeitos são selecionados pela exposição onde são criados subgrupos para

comparação de expostos e não-expostos. Esses grupos serão seguidos por um

determinado período de tempo para se observar aqueles indivíduos que

apresentarão o desfecho. Se existe uma relação causal entre a exposição e o

desfecho, é de se esperar que a exposição seja mais freqüentemente

encontrada no grupo que apresentou o desfecho. (para que esse resultado

seja válido temos que contemplar certos pressupostos, tais como, o tamanho

adequado da amostra estudada, a não ocorrência de vieses, afastar o papel do

acaso, os testes estatísticos, etc.).

Olhando para trás (retrospectivo): do desfecho → para a exposição.

Os sujeitos são selecionados pela presença do desfecho (doença), criando-se

subgrupos de doentes e não-doentes e se olha para o passado desses

indivíduos, identificando-se quem sofreu a exposição. Valendo neste o

mesmo raciocínio descrito acima.

Misto (transversal): a exposição e o desfecho são avaliados juntos num

mesmo ponto no tempo.

No momento do estudo, quando os sujeitos estão sendo avaliados a

exposição e o desfecho já ocorreram e são aferidos num mesmo momento.

Não existi período de seguimento ou observação e não há como definir com

exatidão a seqüência temporal dos eventos estudados.

- Seleção da Amostra: pela exposição ou pelo desfecho

- Período de aferição da exposição e do desfecho: é o tempo atual de realização do

estudo

Histórico: ambos (exposição/desfecho) ocorrem antes do estudo;

Simultâneo: significa que a exposição/desfecho ocorre no mesmo período do

estudo;

Tempo misto engloba o histórico e o simultâneo.

O pesquisador pode desempenhar um papel passivo na observação dos eventos que

dar-se com os sujeitos (apenas observa fenômenos que estão ocorrendo e estuda esse

processo) como ocorre num estudo observacional – ou aplicar uma intervenção e examinar

seus efeitos (como no caso dos ensaios clínicos, as condições do estudo são especificadas

pelo pesquisador, como por exemplo: seleção de grupos de tratamento, natureza da

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intervenção, manejo no acompanhamento dos participantes e aferição dos desfechos) – um

estudo experimental.

Desenhos básicos de estudoDescritivo Observacional Experimental

ObjetivosRegistrar experiências, observações, eventos não usuais, programas, tratamentos.É o início da busca por explicações.

ObjetivosProcurar causas, fatores de risco e preditores. O investigador observa fenômenos.

ObjetivosAvaliar eficácia de uma intervenção ou tratamento.

Exemplos Relato de casos Série de casos Estudos de

prevalência Inquéritos

Exemplos Estudo de caso-

controle Estudo de Coorte

Exemplos Ensaios clínicos Intervenção educacional Intervenção de cuidados

em saúde

10.3 ESTUDANDO CASOS

Grande parte da literatura médica é dedicada ao estudo de casos, sendo, relatos de

caso: narrações descritivas de vários casos, série de casos: análises quantitativas de um

grupo maior de clientes ou estudos de caso-controle: comparações entre grupos de casos –

tem a condição a ser estudada - e grupos de não-casos – não apresentam a condição a ser

estudada.

10.3.1 Relatos de Casos

Os relatos de caso são descrições detalhadas de um só caso ou de poucos

casos;

É uma forma importante de apresentar casos novos ou raros ou ainda

associações de doenças à comunidade científica;

20 % a 30 % dos artigos originais publicados em revistas são estudos de 10

ou menos clientes;

Eles são praticamente o único meio de descrever eventos clínicos raros;

São fontes ricas de idéias (hipóteses) sobre a apresentação, risco,

prognóstico e tratamento de doenças, por apresentarem eventos não

usuais;

Baseado nestes relatos, origina-se estudos mais detalhados;

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Servem para elucidar os mecanismos de doenças e tratamentos, a partir

da comunicação de estudos clínicos e laboratoriais altamente detalhados

e metodologicamente sofisticados de um cliente ou de um grupo pequeno

de clientes;

Representam a ponte entre a pesquisa laboratorial e a pesquisa clínica.

Raramente podem ser usados para testar hipóteses, pois, não possuem

número suficiente para atender aos parâmetros do cálculo do tamanho da

amostra. Não têm grupo de comparação.

10.3.2 Séries de Casos

Uma série de casos é um estudo de um grupo maior de clientes (por

exemplo, 10 ou mais) com uma doença particular, isto é, devem ser

similares para que as conclusões sejam significativas;

Permite ao investigador avaliar a participação do acaso, por meio da

aplicação de alguns testes estatísticos;

É uma maneira bastante comum de delinear o quadro clínico de uma

doença e serve bem a esse propósito.3

Sofre pela ausência de um grupo de comparação;

As suas informações são adquiridas ao longo do tempo;

Com freqüência olham para trás no tempo, o que restringe seu valor

como meio de estudar relações prognosticas ou de causa e efeito;

Descrevem as manifestações clínicas da doença e seus tratamentos em

um grupo de clientes constituído em um ponto no tempo;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÃO PARA LEITURA 1. Ebrahim GJ, Sullivan KR. Métodos de Pesquisa em Saúde Materno Infantil. Recife: Edições Bargaço

Ltda, 1996.

1. Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady D, Hearst N, Newman TB, trad. Duncan MS, Peres

AR. 2 .ed. Delineado a Pesquisa Clínica: Uma Abordagem Epidemiológica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

2. Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH, trad. Duncan, Sshmidt MI. 3.ed. Epidemiologia Clínica:

Elementos Essenciais. Porto Alegre: Artmed,1996.

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11. DESENHOS DE ESTUDO II

Ana FalboPollyanna Patriota

11.1 DEFINIÇÃO DO DESENHO DE ESTUDO

Um desenho de estudo é um plano e estrutura do trabalho de investigação que tem

como objetivo responder a uma questão científica. O conceito de desenho de estudo

envolve a identificação do tipo de abordagem metodológica que se utiliza para responder a

uma determinada questão, implicando, assim, a definição de certas características básicas

do estudo, como seja a população e a amostra a serem estudadas, a unidade de análise, a

existência ou não de intervenção direta sobre a exposição, a existência e tipo de seguimento

dos indivíduos, entre outras. Tendo como base as características básicas do estudo criaram-

se uma série de padrões terminológicos que definem, algumas dessas características e que

constituem aquilo que se designa como tipos ou desenhos de estudo.

11.2 COORTE

O termo Coorte vem do latim cohorte e designava originalmente as unidades de

combate das legiões dos antigos romanos, identificadas nos campos de batalha

pelo uniforme padronizado.

Hoje o termo é utilizado para designar grupos homogêneos da população

Estudo realizado com a criação de dois grupos de indivíduos: os expostos ao

fator de risco em estudo e os não expostos.

São então observados ao longo do tempo para verificar em quais ocorre o

desfecho (ou doença). Assim, é possível comparar os dois grupos e determinar

diretamente o risco da exposição levar ao desfecho.

Pergunta-se: Quais são os efeitos de exposição ao fator de risco?

Aplicações:

Estudos de Coorte são os únicos capazes de abordar hipóteses etiológicas

produzindo medidas de incidência, e por seguinte, medidas diretas de risco.

Bem utilizados para averiguar associação causal de exposições – desfechos que

não poderiam ser feitas em estudos experimentais (riscos do tabagismo,

obesidade, radiações etc.)

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Vantagens:

Produz medidas diretas de risco

Possibilidade de análise de vários desfechos

Simplicidade de desenho

Ausência de problemas éticos dos

estudos experimentais

Facilidade de análise

Limitações:

Sujeito a um maior número de vieses ou erros sistemáticos que os estudos

experimentais.

Se a doença for pouco freqüente necessita que um grande número de indivíduos seja

seguido por longos períodos.

Caro,pouco eficaz,especialmente para desfechos raros

Exige testes sensíveis e específicos para excluir com certeza,a doença,em todos os

indivíduos.

Exige tempos suficientemente longo para permitir que o risco inerente á exposição

se manifeste.

11.3 ENSAIO CLÍNICO

Estudo utilizado para verificar efeitos de uma intervenção.Determina-

se ,inicialmente um grupo .,formado pela população que tenha a doença e outro

grupo,escolhido de forma aleatória,mas com critérios de exclusaõ e inclusaõ

definidos para deixar os grupos o= mais homogêneos possível.

Pergunta-se: Quais são os efeitos da intervenção?

Aplicações:

Avaliação da eficácia ou efetividade de procedimentos diagnósticos, preventivos

ou terapêuticos;

Comparação de novas terapêuticas medicamentosas;

Avaliação de novas vacinas;

Vantagens:

Alta credibilidade como produtor de evidência científica

Os grupos de estudo e controle são homogênios (randomizados), evitando os

fatores de confundimento

Não há dificuldade na formação do grupo controle

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Pode-se fazer uso de placebo e técnica duplo-cega de modo a não influenciar

examinados e examinadores

Muitos desfechos clínicos podem ser investigados simultaneamente

Limitações:

Problemas éticos para pesquisas de exposição a fatores de risco (tabagismo,

radiação, viroses na gravidez etc.)

Exigência de grupos estáveis e cooperativos

Possibilidade de participantes deixarem de receber um tratamento

potencialmente benéfico

Impossibilidade de ajustar o tratamento em função da necessidade de cada

indivíduo

Processo geralmente caro e de longa duração

11.4 ESTUDOS TRANSVERSAIS

Estrutura:

Nos estudos transversais todas as medições são feitas num único "momento", não

existindo, portanto, período de seguimento dos indivíduos. São apropriados para descrever

características das populações no que diz respeito a determinadas variáveis e os seus

padrões de distribuição. Podem, também, ser utilizados para descrever associações entre

variáveis.

Aplicações:

Determinar um “diagnóstico rápido” da relação exposição-doença na saúde

de uma população em um determinado momento

Inquéritos de morbidade

Vantagens:

A maior vantagem dos estudos transversais sobre os estudos de coorte deve-

se a prontidão com que se podem tirar conclusões e com a não existência de um

período de seguimento.

Mais rápidos, mais baratos, mais fáceis em termos logísticos e não sensíveis

a problemas como as perdas de seguimento e outros, característicos dos estudos

longitudinais.

A única maneira de calcular a prevalência das doenças e dos fatores de risco.

São também estudos adequados à análise de redes de causalidade.

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Os estudos transversais podem ser tidos como a primeira etapa de um estudo

de coorte ou ensaio clínico sem grandes custos adicionais.

Desvantagens:

A maior desvantagem dos estudos transversais prende-se com a

impossibilidade de estabelecer relações causais por não provarem a existência de

uma seqüência temporal entre exposição ao fator e o subseqüente desenvolvimento

da doença.

São pouco práticos no estudo de doenças raras, uma vez que estas obrigam à

seleção de amostras muito numerosas.

O fato de nos estudos transversais só se poder medir a prevalência, e não a

incidência torna limitada a informação produzida por este tipo de estudos no que

respeita à história natural das doenças e ao seu prognóstico.

São susceptíveis aos chamados vieses de prevalência/incidência que

acontecem quando o efeito de determinados fatores relacionados com a duração da

doença é confundido com um efeito na ocorrência da doença.

11.5 ESTUDOS DE CASOS E CONTROLES

Estrutura:

Num estudo de casos e controles é, inicialmente, selecionado um grupo de

indivíduos - casos - que têm o resultado que pretendemos estudar, geralmente uma doença,

e um grupo de indivíduos que não o têm - controle. A seleção dos controles deve, na

medida do possível, ser feita com o objetivo de obter uma amostra comparável com os

casos, isto é, que pertençam à mesma população de base, para a qual será, depois, feita a

generalização das conclusões. 

Aplicações:

Estudo de causas de doenças ou agravos, principalmente doenças raras ou de

período de latência longos(não possíveis de serem investigados por estudos de coorte ou

ensaios clínicos 

Vantagens:

Os estudos de casos e controles permitem estudar doenças raras, já que, não

dependem da ocorrência natural da doença, mas sim da identificação de casos da

mesma e da sua posterior comparação com um grupo de controles. Por outro lado, e

devido ao seu caráter retrospectivo, este tipo de estudos permite estudar uma

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enorme quantidade de fatores que se suspeite estejam relacionados com a doença

em causa, à custa de um modesto aumento dos custos do estudo.

È um tipo de estudo muito mais barato, mais fácil em termos logísticos e que

permite tirar conclusões mais rapidamente do que os estudos de coorte.  

Desvantagens:

Não permitem estabelecer uma 61eqüência temporal entre a exposição e a

doença, isto é, não se pode ter a certeza sobre qual dos dois, exposição ou doença,

surge primeiro, nem se é a exposição a causar a doença ou a doença a causar a

exposição.

Não há como estimar diretamente a incidência ou prevalência da doença,

nem o risco atribuível ou excesso de risco.

Só é possível estudar uma única doença (uma vez que o critério de escolha

das amostras é precisamente a presença ou não da doença a estudar), apesar de se

poder estudar a sua relação com várias exposições.

As mais importantes limitações deste tipo de estudos, em termos práticos,

prendem-se, no entanto, com a existência de vieses de seleção, que surgem tanto na

seleção dos casos como na dos controles, e vieses na medição das variáveis em

estudo. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Ebrahim GJ, Sullivan KR. Métodos de Pesquisa em Saúde Materno Infantil.

Recife: Edições Bargaço Ltda, 1996.

2. Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady D, Hearst N, Newman TB,

trad. Duncan MS, Peres AR. 2 .ed. Delineado a Pesquisa Clínica: Uma

Abordagem Epidemiológica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

3. Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH, trad. Duncan, Sshmidt MI. 3.ed.

Epidemiologia Clímica: Elementos Essenciais. Porto Alegre: Artmed,1996.

4. Jekel, J. F. Epidemiologia, Bioestatística e Medicina Preventiva. Porto

Alegre: Artes Médicas, 1999.

5. Pereira, M. G. Epidemiologia – Teoria e Prática.

Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

6. Rouquayrol, M. Z. Epidemiologia e Saúde.

Rio de Janeiro: MEDSI, 1999.

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12. ORGANIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DE DADOS - CONCEITO DE

NORMALIDADE

Alex Sandro Rolland de SouzaJosé Eulálio Cabral

12. INTRODUÇÃO

O homem traz consigo a idéia de probabilidade ou de “chance” desde a

antiguidade com seus jogos de apostas. No entanto, até o século XVI, os grandes

pensadores negavam a idéia de “chance” nos fenômenos naturais. Sendo, o mistério da

“chance”, explicado como uma deficiência do nosso conhecimento, que, limitado pela

inteligência, era incapaz de apreender todas as causas de ocorrência dos eventos e suas

possíveis interações simultâneas.

A palavra estatística é derivada de “Staat”, que significa Estado (conjunto dos

poderes políticos de uma nação), que por sua vez vem do latim “status” (estudo do estado).

Atualmente a estatística é definida como sendo a ciência que tem por objetivo

orientar o estudo científico desde a sua coleta dos dados, até a sua síntese, organização,

descrição, análise e interpretação dos resultados. A bioestatística é a aplicação dos

métodos estatísticos para solucionar problemas biológicos, como identificar fatores de

risco para determinados agravos à saúde, determinar prevalência e incidência de

determinadas doenças, etc.

Na estatística, são identificadas duas grandes áreas: a estatística descritiva, que

envolve o resumo e a apresentação dos dados; e a estatística analítica, que envolve a análise

e a interpretação dos dados. A descrição das variáveis é de grande importância para uma

adequada interpretação dos resultados de uma observação.

12.2 CONCEITOS BÁSICOS

Dados: são informações (numéricas ou não) obtidas de uma unidade experimental

(indivíduos, animais, plantas submetidos a uma situação de experimento controlado

– o pesquisador interfere no processo) ou de observação (o pesquisador se limita a

registrar o que ocorre, sem interferir no processo).

Desta forma, imaginem que, ao estudar a freqüência do número de filhos (variável

quantitativa ou numérica discreta) de 25 mães de crianças que se internaram por

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desnutrição grave na enfermaria do 4º andar do IMIP em um determinado período,

um pesquisador obtenha, os seguintes números de filhos – dados (Tabela 1):

Tabela 1: Dados desorganizados obtidos do estudo de desnutrição grave do IMIP.

1 2 2 1 65 5 5 1 87 7 2 9 54 8 1 6 113 1 9 9 5

População: É todo o conjunto de unidades experimentais (ou observacionais) que

apresenta uma ou mais características em comum. Ex: a população de crianças

desnutridas graves atendidas no IMIP no ano de 2005 (Figura 1).

Amostra: uma fração da população, devendo apresentar as mesmas características

da população de origem, para que seja uma amostra “representativa” da mesma.

Para que os resultados obtidos no estudo sejam generalizados para a população,

deve-se calcular o número de indivíduos a serem selecionados, assim como a

técnica de seleção dos indivíduos (Figura 1).

Figura 1: Representação esquemática de população e amostra.

12.3 VARIÁVEIS

As características observadas nos sujeitos de uma determinada pesquisa podem ser

constantes ou variáveis. As características constantes são àquelas que se apresentam de

forma igual a todos os sujeitos da pesquisa, identificando-os como um grupo. As

variáveis são as que podem variar de um indivíduo para outro, ou seja, apresentar

diferenças de natureza ou magnitude. A idade, o índice de massa corpórea, a

escolaridade, o nível de colesterol, a pressão arterial e o estado civil são exemplos de

características variáveis.

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Tipos de variáveis:

Quanto à natureza, as variáveis podem ser classificadas em:

Variáveis quantitativas (ou numéricas)

São aquelas cujos dados são valores numéricos que expressam quantidades, ou seja,

sempre de mesma natureza, diferindo apenas em magnitude. Ex: a idade, o nível

colesterol e a pressão arterial.

Elas podem ser divididas em: discretas, onde os dados somente podem

apresentar valores em números inteiros. Ex.: número de filhos nascidos vivos e

número de partos; e contínuas, onde não existem limites para a diferença entre dois

valores distintos. Ex: peso, altura, volume e temperatura.

Variáveis qualitativas (ou categóricas)

São variáveis cujas manifestações (ocorrências ou realizações) apresentam diferenças

de natureza não-numérica, ou seja, são qualitativamente distintas. Ex: gênero, estado civil,

credo religioso, nacionalidade e tipo de sangue.

Elas podem ser divididas em: nominais, onde se diferencia uma categoria de outra

somente por meio da sua denominação. É uma escala apenas classificatória, não tendo

nenhuma ordenação entre elas. Podem ser dicotômicas ou policotômicas. Ex: gênero -

dicotômicas (masculino, feminino); e estado civil - policotômicas (solteira, casada, união

consensual e divorciada); e ordinais, onde se encontra uma ordenação entre as categorias.

Ex: estágio de câncer de mama, que apresenta uma progressão ordenada: Estágio I <

Estágio II < Estágio III < Estágio IV; e escolaridade: analfabeta < primeiro grau < segundo

grau.

12.4 ORGANIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS

12.4.1 Banco de dados

Banco de dados é uma coleção de realizações ou observações sobre as variáveis

mensuradas numa pesquisa. O formato mais utilizado de um banco de dados é aquele em

que as observações são dispostas em linhas e colunas.

Observe um banco de dados proveniente um estudo hipotético (Tabela 2).

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Tabela 2: Banco de dados de um estudo hipotético.

N Idade Materna N. Gestações Sexo do RN1 20 1 Masculino2 15 2 Feminino3 31 4 Feminino4 30 2 Masculino5 15 1 Feminino6 17 2 Masculino7 24 3 Feminino8 25 3 Feminino9 28 1 Feminino10 29 3 Masculino

O pesquisador precisa então organizar seus dados coletados para que sejam os mais

compreensíveis possíveis. Desta forma, os dados podem ser organizados em tabelas ou

gráficos.

Os elementos constituintes de uma tabela são: o título, onde especifica as variáveis

observadas, o local e a época em que os dados foram coletados; o cabeçalho, que vem logo

após o título, e identifica o conteúdo das colunas; a coluna indicadora, onde especifica o

conteúdo das linhas; e o corpo, que é o conjunto de linhas e colunas que contém as

informações obtidas. Além dos elementos complementares que são as fontes, onde

identifica a entidade responsável pelo fornecimento ou elaboração dos dados e as chamadas

que são as informações de natureza específica sobre de terminada parte da tabela, com a

finalidade de conceituar ou esclarecer dados.

Ressalta-se que a maneira como essas distribuições de freqüências serão obtidas irá

depender do tipo de variável estudada.

12.4.2 Tabelas: grupamento simples por intervalos de classes

Poderemos utilizar tabelas por grupamento simples, para distribuir freqüências de

variáveis quantitativas (ou numéricas) discretas (ex: número de filhos, número de partos),

variáveis qualitativas (ou categóricas) nominais (ex: gênero, estado civil) e variáveis

qualitativas (ou categóricas) ordinais (ex: escolaridade: analfabeta < primeiro grau <

segundo grau).

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Digamos que, a partir dos dados da tabela 1, o pesquisador deseje obter:

quantas mães possuem apenas 1 filho; o percentual com que isso ocorre; quantas mães

possuem 4 filhos ou menos; e qual o percentual com que isso ocorre.

As tabelas de grupamento simples mostram os valores obtidos e o número de

vezes que cada valor foi observado. Para isso, o pesquisador deverá organizar uma

tabela (Tabela 3), listando os valores por ordem crescente. Costuma-se chamar de χ

esses valores, ou seja, os valores da variável quantitativa discreta em estudo (número

de filhos). O total obtido de cada valor de χ é denominado freqüência absoluta

simples, sendo indicada por f. O sinal é usado para indicar “soma”.

Tabela 3. Distribuição de freqüência do número de filhos das mães de crianças desnutridas

graves internadas na enfermaria do 4o andar do IMIP, no período de janeiro a

junho/2005.

Número de filhos(χ)

Freqüência absoluta

simples (f)

Freqüência relativa simples(fr %)

Freqüência acumulada

(F)

Freqüência acumulada

relativa(Fr %)

1 5 20 5 202 3 12 8 323 1 4 9 364 1 4 10 405 5 20 15 606 2 8 17 687 2 8 19 768 2 8 21 849 3 12 24 9610 0 0 24 9611 1 4 25 100

ou soma 25 100 - -Fonte: IMIP

Dividindo-se f por f, obtém-se a freqüência relativa simples (fr), e que,

multiplicada por 100 representa o percentual (fr %) de mães que tenham determinada

quantidade de filhos.

As freqüências absolutas e relativas simples são as mais comumente utilizadas,

porém, se o investigador desejar, a tabela pode, ainda, indicar as freqüências acumuladas

(F), as quais são obtidas somando-se a freqüência simples (f) da linha desejada (χ) com as

freqüências simples subseqüentes.

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A próxima Tabela 4 se refere à distribuição de freqüência de uma variável

qualitativa (ou categórica) ordinal, como o grau de escolaridade das mães dessas 25

crianças desnutridas graves.

Tabela 4. Distribuição de freqüência da escolaridade das mães de crianças desnutridas

graves internadas na enfermaria do 4o andar do IMIP, no período de janeiro a

junho/2005.

Escolaridade (χ ) Freqüência absoluta

simples (f)

Freqüência relativa

simples (fr %)

Analfabeta 10 40

Primeiro grau 10 40

Segundo grau 5 20

ou soma 25 100

Fonte: IMIP

Observe que as categorias desta variável, na tabela 4, estão dispostas em ordem

crescente. Da mesma forma, poderemos construir tabelas para distribuirmos freqüências

com variáveis qualitativas (ou categóricas) nominais dicotômicas ou policotômicas.

No entanto, para distribuir a freqüência de uma característica que varia muito, como

é o caso da estatura, do peso, nível sérico de retinol, etc. (variável quantitativa contínua), se

utilizarmos tabelas dos exemplos acima, tenderia a ser muito extensa. Desta forma,

utilizaremos a tabela de grupamento por intervalo de classe.

Cada intervalo de classe possui um extremo ou limite inferior e um extremo ou

limite superior. O sinal “⊢” indica que o extremo inferior está incluído no intervalo, mas o

superior, não. Intervalos indicados por esse sinal são denominados intervalos abertos à

direita e são os mais comumente usados (Tabela 5).

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Tabela 5. Distribuição de freqüência dos pesos (kg) de 256 enfermeiras da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, obtidos no período de 1980 a 1999.

Peso (kg)(χ)

Freqüência absoluta

simples (f)

Freqüência relativa

simples (fr%)

40 ⊢ 45 9 3,5

45 ⊢ 50 36 14,1

50 ⊢ 55 78 30,4

55 ⊢ 60 55 21,5

60 ⊢ 65 53 20,7

65 ⊢ 70 11 4,3

70 ⊢ 75 7 2,7

75 ⊢ 80 5 2,0

80 ⊢ 85 1 0,4

85 ⊢ 90 1 0,4 256 100

Fonte: Callegari-Jacques, 2003

12.4.3 Gráficos

A representação gráfica fornece uma visão mais imediata de como se distribuem os

indivíduos nos diferentes valores da variável. Nos textos os gráficos devem ser

identificados como figuras. O título deve ser claro, para evitar que o leitor retorne ao texto

para entender a que se refere, sendo colocado na parte inferior da figura, ao contrário da

tabela que tem o título colocado na sua parte superior.

Histograma

O histograma é o gráfico mais utilizado para a variável quantitativa (ou numérica)

contínua. É formado por um conjunto de retângulos justapostos, que são construídos usando

os intervalos de classes como suas bases, e a freqüência, sua altura (Figura 2).

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Fígura 2. Peso (kg) observado em 256 enfermeiras da UFRGS (Fonte: Callegari-Jacques,

2003).

Gráfico em barra

É a representação gráfica apropriada para variáveis quantitativas (ou numéricas)

discretas. Esse gráfico é semelhante ao histograma, diferindo pelas freqüências para cada

valor de χ que são representadas por barras e não retângulos, pois inexiste uma

continuidade entre os valores (Figura 3). As variáveis categóricas também podem ser assim

representadas.

Fígura 3. Número de irmãos relatados por 115 estudantes de enfermagem da UFRGS

(Fonte: Callegari-Jacques, 2003).

Polígono de freqüências

Pode ser utilizado para variáveis numéricas contínuas, onde se obtém a partir da

união dos pontos médios dos topos dos retângulos de um histograma (Figura 4).

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Figura 4. Duração de 50 unidades de certo tipos de componentes para computador.

12.5 DESCRIÇÃO DOS DADOSAs medidas descritivas podem ser divididas em: medidas de tendência central ou de

posição (média, moda e mediana); medidas de dispersão (amplitude e desvio padrão); e

medidas de freqüência (prevalência e incidência).

12.5.1 Medidas de tendência central ou de posição

Apresentam com o objetivo de representar os dados de uma forma ainda mais

condensada do que usando uma tabela.

Média aritmética

É a medida mais utilizada, além de ser muito útil nas comparações entre populações.

Ela representa o valor médio de uma variável.

Costuma-se indicar a média pela letra identificadora da variável: x, acrescida de um

traço na parte superior “ x “. Quando é calculada na população, a média é indicada por .

É calculada pela soma de todos os valores do conjunto, dividida pelo número de valores

somados.

x = x , onde x = soma de todos os valores de x. n

A média é mais apropriada para as distribuições simétricas ou aproximadamente

simétricas. Não tendo sentido de falar em média quando a variável é nominal ou ordinal,

sendo utilizada para observações de variáveis quantitativas (ou numéricas) contínuas e

discretas.

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Mediana

É calculada com base na ordem dos valores que formam o conjunto, sendo

fundamental escrever os valores na ordem crescente da magnitude. Seu cálculo é diferente

quando o número de observações (n) é ímpar ou par.

Quando o número de observações é ímpar, a mediana é o valor da posição central.

Ex.: Determinar a mediana dos valores 48, 50, 51, 52 e 103. A mediana = 51.

Quando o número de observações é par, a mediana é definida escolhendo a

média entre os dois valores centrais.

Ex.: Determinar a mediana dos valores 12, 14, 14, 15, 16, 16, 17 e 20.

A mediana = 15 + 16 = 31 = 15,5. 2

A mediana é mais apropriada quando os dados incluem valores aberrantes

ocasionais ou quando a distribuição é marcadamente assimétrica, utilizada para

observações quantitativas (ou numéricas) contínuas e discretas e qualitativas (ou

categóricas) ordinais.

Moda

A moda é a observação que ocorre com maior freqüência em um determinado conjunto

de dados. Ex.: Em um conjunto de dados 1, 3, 4, 5, 5, 5, 7, 9 a moda é 5; no conjunto 1,

3, 4, 5, 5, 5, 7, 7, 7, 9 existem duas modas: 5 e 7; no conjunto 1, 1, 2, 2, 3, 3 não existe

moda.

A moda é útil quando a observação mais freqüente é a que tem relevância. Isto

costuma ocorrer com variáveis categóricas. É muito pouco utilizada como medida de

tendência central de valores de variáveis quantitativas, pois, muitas vezes nem sequer

existe.

12.5.2 Medidas de dispersão ou de variabilidade

As medidas de tendência central são incapazes de representar adequadamente o

conjunto de dados, pois nada revelam sobre sua variabilidade. Ex: dois alunos realizaram 5

verificações, obtendo as notas indicadas abaixo:

Aluno A: 6; 6; 6; 6; 6 Total de pontos: 30, média: 6

Aluno B: 7; 5; 6; 4; 8 Total de pontos: 30, média: 6

Ambos os alunos têm média 6, mas o primeiro apresenta um comportamento

regular, e o aluno B apresenta um desempenho variável. Desta forma é necessário um valor

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que meça a dispersão ou a variabilidade dos valores em ambos os casos. Dentre estas

medidas, temos: a variância; a amplitude de variação; e o desvio padrão.

Amplitude de variação

Representa a diferença entre os valores extremos. Desta forma, a amplitude de

variação para o aluno A é zero (6 - 6 = 0) e para o aluno B é quatro (8 – 4 = 4). Quanto

maior a amplitude, maior a variação. Não é uma boa medida de dispersão porque seu

cálculo baseia-se apenas em valores extremos da amostra e não em todos os dados.

Variância

Mede a dispersão dos dados em torno da média. Desta forma, calcula-se a variância, de

uma amostra, da seguinte forma:

onde, σ 2 = variância

x = dado

x = média

n = número de observações

A variância tem como desvantagem à de apresentar a unidade de medida igual ao

quadrado da unidade da medida dos dados. Ex: se os dados são medidos em metros, a

variância é dada em metros ao quadrado.

Desvio Padrão

É calculado obtendo-se a raiz quadrada da variância, sendo representado pela “σ”.

Desta forma, o desvio padrão possui as propriedades da variância, mas tem a unidade de

medida dos dados. Ex: se os dados são medidos em metros, o desvio padrão será dado em

metros.

12.6 CONCEITO DE NORMALIDADE

σ2 = Σ ( x – x ) 2 n - 1

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As distribuições de freqüências podem apresentar formas variadas. Entretanto muitas

variáveis biológicas apresentam uma distribuição simétrica, onde os valores centrais são

mais freqüentes e os extremos, mais raros.

Uma forma alternativa de descrever graficamente uma distribuição de uma variável

numérica contínua é substituir o histograma pela área definida pelo gráfico de uma função

matemática. Contudo isto apenas pode ser feito quando se dispõem de um número

razoavelmente grande de observações. No histograma a sucessão ascendente e

descendente de “degraus” transforma-se em uma linha contínua, com forma de sino. O

nome desta linha teórica é curva de distribuição normal ou curva de Gauss (Figura 5).

O termo “normal” está consagrado pelo seu uso. Entretanto pode levar a

alguma confusão, ao sugerir que a distribuição normal ocorra apenas nos indivíduos

sadios, o que não é verdade. Pois uma variável em indivíduos doentes, também pode

apresentar distribuição normal.

Figura 5. Exemplo de uma curva de Gauss.

Propriedades da curva de Gauss

A curva tem a forma aproximada de um sino, com caudas assintóticas ao eixo x. Isto

significa que os valores de x podem variar de -∞ até +∞; a curva jamais toca o eixo

x.

A curva é simétrica em relação à perpendicular que passa pela média (μ);

A média, a mediana e a moda são coincidentes;

A curva tem dois pontos de inflexão, que corresponde a valores de x situados,

respectivamente, à distancia de um desvio padrão (σ) acima e abaixo da média

(Figura 6);

A área delimitada pelo gráfico da curva e o eixo horizontal é igual a 1 ou 100%;

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Aproximadamente 68% dos valores de x situam-se entre os pontos (μ – σ) e (μ + σ)

(Figura 6).

Aproximadamente 95% dos valores de x estão entre (μ - 2σ) e (μ + 2σ) (Figura 6).

Aproximadamente 99,7% dos valores de x estão entre (μ - 3σ) e (μ + 3σ) (Figura 6).

O “achatamento” da curva depende do valor do parâmetro σ. Quanto maior for o

valor de σ, mais achatada será a curva de Gauss;

Quando uma curva de Gauss é utilizada para representar a distribuição de uma

variável contínua, os parâmetros μ e σ representam, respectivamente, o valor médio

e o desvio padrão da variável.

Figura 6. Curva normal. A área em amarelo está compreendida entre μ - σ e μ + σ e

corresponde a aproximadamente 68% da área total que fica abaixo da curva normal.

Áreas sob as curvas normais

Na construção de histogramas, observa-se que a proporção de casos cujos valores

estão situados entre dois valores quaisquer, é representada pela área do histograma

compreendida entre esses valores. Quando o histograma é substituído por uma curva de

densidade, a área de interesse no histograma é substituída pela área correspondente sob a

curva.

A curva normal padrão

Também conhecida como curva normal reduzida ou curva normal 0-1. É a curva

normal onde μ = 0 e σ = 1.

Escore z

A partir de qualquer variável numérica é sempre possível construir outra variável Z,

através da fórmula: Z = X – μ σ

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Os valores de Z são chamados de escores z da variável X. O escore z de um dado

valor de x, diz quantos desvios padrão, acima ou abaixo da média, o valor x se encontra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E SUGESTÕES PARA LEITURA1. Almeida Filho N. Uma breve história da epidemiologia. In: Rouquayrol MZ, Almeida Filho N.

Epidemiologia e saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 1-16.

2. Callegari-Jacques SM. Bioestatística - Princípios e Aplicações. São Paulo: Artmed; 2003.

3. Garcia MA. Introdução à Bioestatística [on line]. Disponível em:

http://www.eefd.ufrj.br/biomec/ensino/bioestat/Apostila_bioestat%edstica.pdf.

4. Figueiroa JN. Curso Básico de Bioestatística. Mestrado em Saúde Materno Infantil do Instituto

Materno Infantil Prof. Fernando Figueira. Recife; 2004.

5. Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady D, Hearst N, Newman TB. Delineando a Pesquisa

Clínica. Uma abordagem epidemiológica. São Paulo: Artmed; 2003.

6. Szwarcwald CL, Castilho EA. The paths of statistics and its incursions through epidemiology. Cad.

Saúde Pública 1992; 8:5-21.

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13. TESTES ESTATATÍSTICOS, VALOR P, SIGNIFICÂNCIA E

INTERVALOS DE CONFIANÇA – O QUE É ISSO?

Eduardo Victor

José Natal Figueiroa

José Eulálio

As ciências da saúde vem há tempos dando ênfase cada vez maior as medidas

estatísticas, chamada mensurações, como estratégia de análise científica. Com o incremento

tecnológico e um crescimento progressivo da atividade científica em todos os campos nas

últimas décadas, essa utilização de medidas estatísticas aumentou consideravelmente,

fazendo surgir a bioestatística.

Um dos propósitos da bioestatística é comparar amostras da população, formulando

hipóteses acerca da distribuição desses dados em toda população.

Podem-se definir hipóteses como questões levantadas relacionadas ao problema em

estudo e que se respondidas podem ajudar a solucioná-lo. O papel fundamental da hipótese

na pesquisa científica é sugerir explicações para os fatos. Depois de formulada as hipóteses,

estas devem ser comprovadas ou não através de um estudo com ajuda de testes estatísticos.

Em um teste estatístico são formuladas duas hipóteses, chamadas hipótese nula (H0)

e hipótese alternativa (H1).

Hipótese nula (H0) é, em geral, uma afirmação conservadora sobre uma questão de

pesquisa. Normalmente está associada a uma igualdade entre médias ou proporções que

pode indicar a não associação entre os fatores de interesse. É a hipótese que contradiz a

hipótese alternativa e é a hipótese testada estatisticamente, aquela que é colocada à prova,

podendo ser aceita ou rejeitada.

A hipótese alternativa (H1) é formulada como opção à hipótese nula, é a hipótese de

pesquisa proposta pelo pesquisador. Esta não tem como ser testada diretamente e ela é

aceita caso seja rejeitada a hipótese nula.

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Por exemplo: Um pesquisador começa a observar que a ocorrência de doença coronariana

estaria associada à exposição ao tabagismo e quer verificar se existe associação entre elas.

H0 seria que não existe esta associação e a H1 seria a hipótese que existe.

Após coleta de dados de acordo com o planejamento do seu estudo, o pesquisador vai

utilizar testes estatísticos para aceitar ou rejeitar H0.

Todo teste de hipótese possui erros associados a ele, quando o erro ocorre significa que o

resultado na amostra não corresponde ao resultado na população, levando à inferências

errôneas.

Um dos focos principais do investigador é o erro tipo I, que é quando se rejeita H0

quando na verdade ela é verdadeira (falso-positivo). A probabilidade do erro tipo I chama-

se nível de significância, representado por α (alfa). Este nível é definido arbitrariamente

pelo pesquisador, os níveis usualmente adotados são 5%, 1% e 0,1%.

Seguindo o exemplo dado acima, a ocorrência de um erro tipo I seria admitir que existe

associação entre tabagismo e doença coronariana quando na verdade não existe essa

associação.

Com o uso dos dados coletados e estabelecendo o α previamente, se faz o teste estatístico

apropriado que irá encontrar o valor de p, ou nível descritivo

O outro tipo de erro é o II, que é a probabilidade de aceitar uma hipótese nula, sendo ela

falsa (falso-negativo), também conhecido como β (beta), os níveis usualmente adotados são

0,1 e 0,2.

Fixado o valor de α e calculado o valor p a hipótese nula será rejeitada sempre que o valor p

for menor que α.

O valor p, ou nível descritivo, quantifica a significância, e não apenas informa se é o não

significante. Por exemplo, um valor de p=0,0003 expressa uma significância maior que um

valor de p= 0,04, por isso é muito mais informativo expressar as conclusões através do

valor exato p, em vez de maior ou menor que o α.

O poder de um teste é a probabilidade de rejeitar a H0 sendo ela falsa, ou seja, é a

probabilidade de ser aceita a hipótese alternativa, quando essa for verdadeira. O poder de

um teste também é definido arbitrariamente e é expresso como 1-β, normalmente se adota

80% ou 90% como poder de teste.

O teste ideal teria α e β como zero, eliminando-se resultados falso-positivos falso-

negativos, mas na prática tenta-se torna-los os mais baixo possíveis, como estratégia temos

o aumento do tamanho da amostra. Em geral o pesquisador deve usar um α baixo quando a

questão da pesquisa torna importante evitar erros tipo I, como testar e eficácia de um

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medicamento que apresenta riscos. Deve também usar um β baixo quando for útil evitar um

falso-negativo, como no caso em se deseja fornecer evidências que um medicamento é

efetivo para uma determinada doença.

Exemplo: Foi realizado um estudo para saber se os beta-bloqueadores preveniam varizes

gastro-esofágicas em pacientes cirróticos.

A pesquisa comparou dois grupos de pacientes cirróticos e com hipertensão portal, um usou

beta-bloqueador e o outro, controle, fez uso de placebo, avaliando se eles desenvolviam

varizes gastro-esofágicas.

H0= não há diferença entre os grupos H1= há diferença

α= 5% (estabelecido previamente pelo pesquisador)

Após o período de acompanhamento foi verificado que 39% dos pacientes do grupo com

beta-bloqueador e 40% do controle, desenvolveram varizes.

Após análise estatística o valor p= 0,89.

Interpretação: valor p maior que α então não se pode rejeitar a hipótese nula.

Intervalos de Confiança

Estimação é o procedimento de obtenção de um valor amostral para ser usado como

estimativa populacional.

Existe a estimativa pontual que representa um único valor numérico que estima as

características de um grupo sob estudo. Média, mediana, moda são exemplos de estimativas

pontuais.

Outro método é a estimativa intervalar (intervalo de confinaça) que é formado por um

limite inferior e outro superior entre os quais se acredita estar o verdadeiro valor do

parâmetro. A crença de que o intervalo contém o verdadeiro valor do parâmetro é expresso

através do nível de confiança que é um número entre 0 e 100%.

O intervalo de confiança evita a dicotomia do “sim/não” do teste de hipótese.

Uma de suas utilidades é dar uma idéia de dispersão ou variabilidade das estimativas. Um

intervalo muito grande indica que a estimativa não é tão acurada quanto outro com

intervalo menor.

Eles podem ser construídos com diferentes coeficientes de confiança, sendo os mais

utilizados 95% ou 99%.

Por exemplo, em uma pesquisa eleitoral se estima que 20% do eleitorado vão votar em um

determinado candidato, sendo esta a estimativa pontual. Com métodos estatísticos e

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atribuindo um nível de confiança de 95%, estima-se que entre 18 e 22% do eleitorado está

disposto a votar no tal candidato.

SUGESTÃO DE LEITURA: Barros MVG, ReisRS, Hallal PRC, Florindo AA. Análise de

dados em saúde.2ª.ed : 2002. Recife. Editora EDUPE.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Groszmann RJ, Garcia-Tsao G, Bosch J, Grace, N, et al. Beta-blockers to prevent

gastroesophageal varices in patients with cirrhosis. Nejm 353, 2005(353): 2254-2261.

2. Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, et al. Delineando a pesquisa clínica. 2a edição:

2003. Porto Alegre. Editora Artmed.

3. Medronho AR. Epidemiologia. 1ª ed. 2002. São Paulo. Editora Atheneu.

4. Guyatt G, Jaeschke R, Heddle N, et al. Hypothesis testing. CMAJ, 1995(152):27-32.

5. Guyatt G, Jaeschke R, Heddle N, et al. Interpreting study results: confidence intervals.

CMAJ, 1995(152):169-173.