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CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA WESLANY SORAYA VIEIRA GRAMOSA SÍNDROME DO NAVICULAR Brasília-DF 2013

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CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

WESLANY SORAYA VIEIRA GRAMOSA

SÍNDROME DO NAVICULAR

Brasília-DF

2013

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WESLANY SORAYA VIEIRA GRAMOSA

SÍNDROME DO NAVICULAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Integradas Promove - UNICESP, como quesito parcial para a obtenção do título Médico Veterinário.Orientador: Prof. Esp. M.V. Juliano Veiga de Oliveira

Brasília-DF

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2013

WESLANY SORAYA VIEIRA GRAMOSA

SÍNDROME DO NAVICULAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Integradas Promove - UNICESP, como quesito parcial para a obtenção do título de Médico Veterinário.

Data da defesa: _________________________________

Resultado: _____________________________________

Aprovado por:

_______________________________________Prof.

Faculdades Integradas Promove de BrasíliaOrientador

_______________________________________Prof(a).

Faculdades Integradas Promove de BrasíliaAvaliador(a)

_______________________________________Prof(a).

Faculdades Integradas Promove de BrasíliaAvaliador(a)

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Dedico este trabalho aos meus pais, Manoel Benício de Sousa Gramosa e Arlete Maria Vieira

Gramosa que sempre foram meus grandes incentivadores.

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço a Deus, por ter me dado a vida, a saúde e os meios necessários à obtenção

desta vitória.

Agradeço, imensamente, aos meus pais, pela vida, pela estrutura familiar, pelo incentivo e,

principalmente, pelo exemplo.

Agradeço a todos os meus familiares, amigos e colegas que acreditaram em mim, me

incentivaram e que contribuíram para a realização deste trabalho, especialmente à tia Kaká, à

família Mororó e ao Fernando Mattos.

Agradeço ao meu orientador, Professor Juliano Oliveira, pelos ensinamentos e pela paciência na

condução da pesquisa.

Aos meus professores por todo o conhecimento que me foi passado.

Aos meus amigos de pelos, patas e fucinho.

Enfim, agradeço a todos que me ajudaram de alguma forma.

Muito obrigada!

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Há medicamentos para toda a espécie de doenças, mas, se esses medicamentos não forem dados

por mãos bondosas, que desejam amar, não será curada a mais terrível das doenças: a doença de

não se sentir amado.

Madre Teresa

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RESUMO

O presente trabalho versou a respeito da síndrome do navicular, que é uma das causas

mais comuns de claudicação nos membros dos equinos atletas. O objetivo geral da pesquisa foi

elaborar um estudo dos aspetos clínicos, diagnósticos e terapêuticos da síndrome do navicular.

Para a realização da pesquisa, foi aplicado o método indutivo e a pesquisa caracterizou-se como

revisão bibliográfica, visto que foi baseada em material já publicado a respeito do tema.

Palavras-Chave:

Síndrome do navicular. Claudicação. Equinos.

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ABSTRACT

This work talked about navicular syndrome, which is one of the most common causes of

lameness in the forelimbs of equine athletes. The research´s objective was to develop a study of

the clinical aspects, diagnosis and treatment of navicular syndrome. To conduct the study, we

applied the inductive method and research was characterized as literature, since it was based on

previously published material about the objetct.

Keywords:

Navicular syndrome. Claudication. Equine.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Exemplo de situação em que a concussão é aumentada ......................................... 11

Figura 2 - Superfície Flexora de um osso navicular sem alterações ........................................ 12

Figura 3 – Corte sagital da porção distal do membro torácico ................................................ 13

Figura 4 – Imagem ilustrando membros torácicos sem alteração e com alteração .................. 14

Figura 5 - Teste da Pinça de Casco. Diversas posições objetivando pressionar as estruturas do aparelho podotroclear .......................................................................................................... 20

Figura 6 - Bloqueio do nervo digital palmar ............................................................................ 21

Figura 7 - Exame com a pinça de casco para revelar a localização da dor .............................. 22

Figura 8 - Posições radiográficas dorsoproximal-palmarodistal oblíqua, ilustrando algumas diferenças entre um animal normal e um animal acometido pela síndrome navicular ............

25

Figura 9 - Posições radiográficas palmaroproximal-palmarodistal oblíqua, também conhecida com “skyline”, ilustrando algumas diferenças entre um animal normal e um animal acometido pela síndrome navicular .............................................................................. 25

Figura 10 - Posições radiográficas látero-medial, ilustrando a diferença entre um animal normal e um animal acometido pela síndrome navicular ........................................................ 25

Figura 11 - Cintilografia nuclear óssea dos membros anteriores de um equino. A seta indica maior atividade óssea nesta região ........................................................................................... 26

Figura 12 – Exame ultrassonográfico do aparato podotrolear ................................................. 27

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10

2 SÍNDROME NAVICULAR ............................................................................................... 112.1 ANATOMIA ..................................................................................................................... 122.2 ETIOLOGIA .................................................................................................................... 142.3 PATOLOGIA ................................................................................................................... 152.3.1 Alterações macroscópicas ............................................................................................. 152.3.2 Histopatologia ................................................................................................................ 152.3.3 Patogenia ........................................................................................................................ 162.4 SINTOMATOLOGIA ..................................................................................................... 172.5 EPIDEMIOLOGIA .......................................................................................................... 192.6 DIAGNÓSTICO ............................................................................................................... 192.7 RADIOLOGIA ................................................................................................................. 232.8 CINTILOGRAFIA, TERMOGRAFIA E ULTRASSONOGRAFIA .......................... 262.9 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL .................................................................................. 272.10 TRATAMENTO ............................................................................................................ 282.11 PROGNÓSTICO ............................................................................................................ 29

CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 32

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho versou sobre a síndrome do navicular, que consta de uma das causas

mais comuns de claudicação nos membros dos equinos atletas. A claudicação, por sua vez, é a

manifestação de um distúrbio estrutural ou funcional em um ou mais membros, que pode ser

demonstrada pela assimetria nos movimentos de uma forma constante.

A síndrome do navicular (SN), descrita pela primeira vez em 1752, descreve uma

condição clínica, não existindo uma definição universalmente aceita baseada somente em

achados patológicos ou radiográficos. Esta patologia é uma das causas mais frequentes de

claudicação intermitente, afetando os membros anteriores de cavalos dos 4 (quatro) aos 15

(quinze) anos de idade. A SN apresenta uma predisposição racial, sendo as raças Quarto de Milha

e Puro-sangue Inglês as mais afetadas.

A patologia, para além de início insidioso, com claudicação bilateral, lenta e progressiva,

pode apresentar um início agudo, relativamente severo e unilateral, com uma grande variedade de

manifestações radiológicas, que poderão, contudo, não existir.

Este trabalho teve como principal objetivo a elaboração de um estudo dos aspetos

clínicos, diagnósticos e terapêuticos da síndrome navicular.

Para a realização da pesquisa, foi aplicado o método indutivo e a pesquisa caracterizou-se

como bibliográfica, visto que foi baseada em material já publicado a respeito do tema, tais como

livros, artigos científicos e material da Internet, quanto a este último tomando-se o cuidado de

selecionar fontes confiáveis e reconhecidas no mundo acadêmico.

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2 SÍNDROME DO NAVICULAR

A síndrome do navicular é uma das causas mais comuns de claudicação nos membros dos

equinos atletas.

A claudicação é a manifestação de um distúrbio estrutural ou funcional em um ou mais

membros, que pode ser demonstrada pela assimetria nos movimentos de uma forma constante

(STASHAK, 2006).

É chamada de “síndrome” por ter um grupo de sintomas comuns, porém de causa

desconhecida (DA KUR, 2013), é de patogenia complexa e não tem uma entidade patológica

específica (AMSTUT, 2009).

O início da claudicação pode ser agudo (traumatismo) ou insidioso (doença degenerativa)

e pode variar em gravidade, desde discreta e/ou temporária, até total incapacidade de sustentar o

peso do corpo sobre o membro afetado (STASHAK, 2006).

O problema foi descrito como uma doença degenerativa crônica e progressiva que afeta o

osso navicular (osso sesamóide distal), bolsa navicular e tendões flexores (ADAMS, 1994).

A hereditariedade da síndrome do navicular ocorre com mais frequência em cavalos que

realizam trabalhos duros como corridas, provas de laço, lida, esbarros, vaquejadas e provas de

tambor. Se o trabalho for realizado em superfícies irregulares ou duras, como mostradas na figura

1, a concussão é muito aumentada, de modo que a possibilidade do aparecimento da doença é

maior (ADAMS, 1994).

Figura 1 – Exemplo de situação em que a concussão é aumentadaFonte: VETNIL, 2013

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A síndrome do navicular também pode ser chamada de podotrocleose, doença do

navicular, enfermidade do navicular (THOMASSIAN, 2005) ou podotroclite (AMSTUT, 2009).

2.1 ANATOMIA

O sesamóide distal ou osso navicular, tem a forma de lançadeira e está em situação palmar

à junção das falanges média e distal. A face articular direciona-se proximal e distalmente, já a

face flexora (figura 2) está dirigida distal e palmarmente (GETTY, 1986).

Figura 2 - Superfície Flexora de um osso navicular sem alterações(Fonte:http://hometown.aol.co.uk/arfryn1/Horsetalk/farrier3.htm

Os ligamentos sesamóideos colaterais (suspensório navicular) são cintas fortes e um tanto

elásticas que formam uma espécie de aparelho suspensório para o osso sesamóide distal. Eles

estão inseridos próximo às depressões da falange proximal e na figura acima estão parcialmente

unidos aos ligamentos colaterais da articulação da quartela (GETTY, 1986).

A bolsa podotroclear da pata, ou bolsa navicular, é encontrada entre o tendão do músculo

flexor profundo dos digitais e o osso navicular. Ele estende-se aproximadamente 1,0 a 1,5 cm

próximo ao osso navicular e distalmente até a inserção do tendão (GETTY, 1986).

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Figura 3 – Corte sagital da porção distal do membro torácicoFonte: CIELO, 2012

Uma conformação muito vertical definitivamente aumenta a concussão na região do

navicular. O osso navicular transmite uma parte do peso, distribuindo-o pela falange média, para

a falange distal. Quando faz isso, o sesamóide é forçado em direção palmar, de encontro ao

tendão do flexor profundo. Uma pressão ainda maior sobre o tendão ocorre quando o peso

corpóreo passa por esse membro durante o movimento. A pressão do osso navicular de encontro

ao tendão pode ser um fator incitante. A característica de patas pequenas de alguns cavalos, que

foi provocada por criação seletiva, pode ser um fator que aumenta a concussão. A pata pequena

possui menor área para distribuir a concussão e o peso, portanto, a pressão por unidade de área é

maior (ADAMS, 1994).

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Figura 4 – Imagem ilustrando membros torácicos sem alteração e com alteração

Fonte: MCCLURE, 2000

2.2 ETIOLOGIA

Esta afecção é, principalmente, distúrbio dos membros torácicos. Fatores hereditários

podem estar envolvidos na etiologia, porém na maioria dos casos é provável que certos fatores de

manejo tenham, pelo menos, a mesma importância (KNOTTENBELT et al., 1998).

A causa exata é desconhecida, sugere-se que a trombose arterial e necrose isquêmica dentro do

osso navicular estejam envolvidas. Observada em cavalos de 3 anos (AMSTUT, 2009).

Pode-se implicar como determinantes a conformação defeituosa originária de razões

genéticas ou de manejo inadequado, com relação aos cuidados com os pés e, concomitantemente,

a prática dos exercícios em superfícies duras (KNOTTENBELT et al., 1998).

Cavalos de pinças longas e de talões baixos têm propensão ao problema

(KNOTTENBELT et al, 1998). A pressão do tendão do músculo flexor digital profundo de

encontro ao osso navicular pode ser aumentada por casqueamento e ferrageamento incorretos. É

comum apararem os talões muito baixos em cavalos que possuem as quartelas muito verticais.

Isso quebra o eixo da quartela com a pata e provoca maior pressão do tendão flexor profundo

contra o osso navicular (ADAMS, 1994).

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A concussão entre o tendão flexor e o osso navicular pode causar uma bursite local que leva à

hiperemia e rarefação óssea com alteração resultante na superfície flexora do osso (AMSTUT,

2009).

2.3 PATOLOGIA

Os achados patológicos são variados, existindo lesões macro e microscópicas.

2.3.1 Alterações macroscópicas

Nas alterações macroscópicas podem ser observadas linhas sulcadas na superfície flexora,

ou linhas flexoras de desgaste, associadas a alterações da coloração do osso e tendão que passa a

ser amarelo-amarronzado (SMITH, 1994). Estas alterações refletem, provavelmente, um processo

de envelhecimento e desgaste, mas não uma manifestação clínica da doença (ADAMS, 1994).

Maiores lesões resultam na exposição do osso subcondral do navicular, especialmente nas

proximidades da crista mediossagital (SMITH, 1994). A cartilagem torna-se delgada sobre a

superfície flexora, podendo expor o osso subcondral. O diâmetro e número de canais vasculares

que passam pela superfície flexora podem aumentar (ADAMS, 1994). Em casos avançados

podem ocorrer aderências entre o osso subcondral exposto e o tendão flexor profundo desfiado

(SMITH, 1994). Conforme a superfície do tendão do flexor digital profundo torna-se

progressivamente destruída, pode ocorrer uma ruptura espontânea, especialmente após a

realização de uma neurectomia. A METAPLASIA óssea do ligamento sesamóideo distal ocorre

ocasionalmente, podendo levar a uma artrite (ADAMS, 1994).

2.3.2 Histopatologia

Na histologia pode ocorrer trombose das artérias naviculares distais e pode ser relatada a

mudança de forma do forame nutrício para uma forma arredondada ou afunilada (COLLES,

1979). As falhas na fibrocartilagem da superfície flexora incluem a formação de pano, perda de

condrócitos e de substância intercelular. Os condrócitos remanescentes se apresentam inchados,

com núcleos picnóticos e coram-se mal (ADAMS, 1994).

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Nos estágios iniciais, o osso subcondral contém numerosos canais vasculares aumentados,

preenchidos por tecido de granulação rodeado por osteoclastos e osteoblastos (lesões morango).

A formação de substância óssea nova é evidente devido às superfícies dos canais cobertas por

osteóides. Conforme essa lesão osteoclástica se aproxima do córtex flexor, ela se torna delgada,

podendo ocorrer microfraturas do córtex palmar (ADAMS, 1994).

Nos estágios finais a lesão erosiva pode se estender através do córtex flexor e

comprometer o tendão do flexor profundo, com desenvolvimento de adesões. As adesões têm

frequentemente o formato de faixas cilíndricas de tecido de granulação que penetram no osso

através das áreas de erosão (ADAMS, 1994).

2.3.3 Patogenia

A concussão entre o tendão flexor e o osso navicular pode causar uma bursite que, por sua

vez, leva a uma hiperemia e rarefação do osso, com alterações na superfície flexora do mesmo.

Uma má conformação, quartela muito vertical, patas pequenas, corpo grande, talões curtos e

pinça longa são considerados fatores que contribuem para o quadro (ADAMS, 1994).

A trombose das artérias digitais resulta em uma necrose isquêmica do osso. Em resposta a

isso há um aumento do número de anastomoses e arteríolas nos forames nutrícios distais do osso

navicular. A vascularização aumentada leva a uma osteoporose da ponta dos forames que os torna

circulares. A isquemia que ocorre causa claudicação. É provável que um trauma local possa

provocar a liberação de tromboplastina tecidual (ADAMS, 1994; TURNER, 1987).

A doença do navicular representa uma grande taxa de renovação óssea sem evidência de

isquemia ou trombose. A renovação óssea é demonstrada pela reabsorção e formação de

substância óssea nova. A doença do navicular é uma consequência de uma ativação aumentada da

remodelação óssea causada por uma pressão alterada do tendão do flexor digital profundo no

osso e aumento da carga na sua face palmar (ADAMS, 1994).

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2.4 SINTOMATOLOGIA

Os cavalos afetados apresentam-se com história clínica de surgimento insidioso de

claudicação progressiva que, em seus estágios iniciais, é caracteristicamente intermitente

(KNOTTENBELT et al., 1998). O cavalo alivia a pressão do tendão flexor profundo na área

dolorida, apoiando o casco na pinça, ou avançando a pata afetada e tirando os talões do solo. O

passo é encurtado e pode haver uma tendência a tropeços (AMSTUT, 2009).

Nos estágios iniciais da doença o repouso levará ao desaparecimento dos sintomas

clínicos, mas estes reaparecem logo que o trabalho pesado é iniciado (ADAMS, 1994). Durante o

movimento a pinça tende a tocar o chão em primeiro lugar reduzindo, então, a fase anterior da

passada, tentando, assim, evitar a pressão sobre o talão (KN OTTENBELT et al., 1998).

Normalmente ambas as patas anteriores estão afetadas pela doença do navicular, no

entanto, geralmente uma das patas mostra mais a claudicação que a outra, podendo apenas notar-

se a claudicação na pata oposta após a anestesia perineural da pata claudicada. Se ambas as patas

estiverem doloridas, o cavalo frequentemente repousa alternadamente uma pata após a outra a

estendendo cranialmente, ou posiciona ambas as patas bem para frente. Se apenas uma pata está

envolvida, ou se uma pata está mais gravemente afetada que a outra, o cavalo “aponta” com a

pata mais gravemente afetada (ADAMS, 1994).

Durante o movimento, o cavalo tende a apoiar primeiro a pinça da pata, para evitar a

concussão na região dos talões. O osso navicular fica sob o terço médio da ranilha, de modo que

o cavalo tente evitar a pressão nessa região. A tentativa de proteger a região dos talões atrasa a

parada de um cavalo de lida e torna um cavalo de corrida mais lento devido à fase cranial do

passo encurtada. Isso pode também predispor o animal a uma lesão no boleto. O esforço que o

animal faz para apoiar primeiro a pinça é mais notado ao passo e ao trote, causando um

encurtamento da fase cranial do passo. A pinça pode mostrar sinais de estar sendo desgastada

excessivamente e o cavalo pode tropeçar ao passo ou ao trote, devido a essa tendência de pisar

primeiro com a pinça, uma claudicação aumentada é evidenciada se o cavalo está sobre terreno

irregular, devido à pressão na ranilha causada pelas irregularidades. Nota-se também um aumento

na claudicação quando o cavalo é virado na direção da pata ou patas afetadas. O exame da pata

com a pinça de cascos vai identificar a dor no terço central da ranilha e, em menor grau, sobre as

extremidades do osso navicular. Os cavalos normais mostram uma variação na resposta à pinça

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de cascos sobre as extremidades do osso navicular e sobre o terço central da ranilha. A pata

claudicada deve ser comparada com a pata oposta, se estiver sã, ou, se não estiver, comparada

com a reação das patas posteriores (ADAMS, 1994).

Não é incomum que um cavalo com doença do navicular desenvolva uma lesão na região

da pinça da sola. Isto pode ser enganador durante o exame, tanto clinicamente quanto com a

pinça de cascos. Se a sensibilidade na região da ponta da pinça da sola for grave o suficiente, o

cavalo passará a andar sobre os talões, uma situação similar à observada na laminite. Há uma

sensibilidade considerável à pinça de cascos na região lesada. Ao se retirar a porção mais externa

da sola com uma rineta, observa-se uma maior vascularidade na mesma. Deve-se ter cuidado para

não permitir que isso confunda o diagnóstico. Se a dor se manifestar no terço central da ranilha, o

cavalo mostrar alguma melhora após o bloqueio do nervo digital palmar e se as radiografias

auxiliarem a identificação positiva de uma doença do navicular, o problema deve ser tratado

como doença do navicular. A sensibilidade na sola irá desaparecer vários meses após o cavalo

passar a andar mais normalmente. Os casos precoces de exostose interfalângica distal bilateral

podem provocar sintomas similares aos da doença do navicular, porém os achados típicos do

exame com a pinça de cascos e o alívio da claudicação após o bloqueio do nervo digital palmar

não são observados (ADAMS, 1994).

O andar bamboleante que acompanha a doença do navicular muitas vezes faz com que o

proprietário acredite que o seu cavalo está com um problema na articulação escapuloumeral. A

fase cranial encurtada do passo torna o animal muito desconfortável para ser montado e, para

observador inexperiente, o cavalo parece estar poupando a região da articulação escapuloumeral

(ADAMS, 1994).

A artrite da articulação interfalângica distal pode ser causada por alterações no osso

navicular que se estendem até a superfície articular da articulação (ADAMS, 1994).

Por um período de tempo, a pata gradualmente altera seu formato. O esforço em evitar a

pressão sobre a ranilha faz com que os talões se contraiam e se elevem. A sola torna-se mais

côncava e a pata se estreita ao longo dos quartos. Se a doença do navicular for unilateral, a pata

tornar-se-á menor devido à contração. Danos ao boleto, como exostoses, podem estar presentes

concomitantemente, pois a conformação muito vertical da quartela predispõe a ambas as doenças

(ADAMS, 1994).

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O exame radiológico do osso navicular revela alterações em menos que a metade dos

cascos iniciais. Alguns autores afirmam que a doença do navicular não está presente se as

alterações radiográficas não forem evidentes, mas isso não pode ser verdadeiro, pois tais

alterações são percebidas apenas após o problema estar bem estabelecido (ADAMS, 1994).

2.5 EPIDEMIOLOGIA

A moléstia do navicular foi reconhecida em cavalos entre os 4 e 15 anos de idade, mais

notavelmente em Quartos de Milha e em Puros-sangues, e raramente em cavalos Árabes.

Contudo os Árabes têm a tendência de sofrer pequenas fraturas por avulsão da borda flexora

distal do osso navicular. Estas fraturas foram observadas em cavalos não demonstrando

claudicação concomitante, sugerindo que a fratura pode terminar por estabilizar-se (SMITH,

1994).

A conformação típica para cavalos com a síndrome é a de um corpo de grandes dimensões

em relação ao tamanho dos cascos, membros pequenos, conformação retilínea da quartela e pinça

longa. Fatores hereditários também podem desempenhar algum papel (SMITH, 1994).

2.6 DIAGNÓSTICO

Quando um cavalo claudica deve-se determinar a causa da claudicação. Quando a suspeita

é de que a manqueira está localizada nos pés ou, principalmente, nas mãos, a doença do navicular

é a primeira patologia que deve ser levada em conta. Existem outras causas de manqueira,

entretanto essas devem ser eliminadas antes de afirmar que se trata da doença do navicular.

A combinação de bloqueio do nervo e de radiografias é a forma mais usada para

estabelecer o diagnóstico. Mesmo assim o diagnóstico da doença do navicular não é certo.

Os sintomas de claudicação são razoavelmente característicos, devendo-se observar

atentamente para perceber se a pinça é apoiada antes dos talões e se a fase cranial do passo está

encurtada (ADAMS, 1994).

Outros sintomas muito úteis são as reações do cavalo à pinça de casco aplicada sobre o

terço central da ranilha. As pinças de casco são instrumentos indispensáveis para detectar dor e

são extremamente úteis para indicar o local exato da dor. É necessária a aplicação de força

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considerável nessa região, pois a pata suporta grandes pressões quando é apoiada, porém pressão

excessiva é dolorosa e pode causar dor falsamente positiva ( SPEIRS et al., 1999).

Outro teste é o teste da prancha, com o intuito de estender a articulação interfalângica

distal e é comum na Europa. Este teste aumenta a pressão no tendão flexor profundo e a carga de

compressão do navicular e sua bolsa. O teste consiste em uma prancha (tábua) de

aproximadamente 2m de comprimento, 15cm de largura e 2.5cm de espessura que será colocada

no chão com uma extremidade adjacente e lateral ao membro a ser testado e com a outra

extremidade estendendo-se diretamente para a frente do animal. Levanta-se o membro a ser

testado e, após a prancha ter sido empurrada sob o cavalo, apóia-se o membro sobre a prancha.

Esta será elevada lentamente até um ângulo de 45º enquanto o veterinário observa se o animal

sente dor. O teste é positivo se o cavalo tenta reagir contra a carga aplicada, recuando seus

membros posteriores ou saltando fora da prancha (SPEIRS et al., 1999).

Figura 5 - Teste da Prancha de Casco. Diversas posições objetivando pressionar as estruturas do aparelho podotroclear

Fonte: MOREIRA, 2013.

Em um pequeno número de casos, as alterações no osso navicular são observadas

radiologicamente na ausência de sintomas de claudicação da doença do navicular. Isto deve ser

mantido em mente quando se está diagnosticando outros tipos de claudicação (ADAMS, 1994).

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O bloqueio do nervo digital palmar pode auxiliar no diagnóstico. O ponto de referência

para o bloqueio destes nervos se localiza entre a borda palmar da falange proximal e a borda

dorsal do tendão flexor superficial. O nervo se localiza mais próximo à borda do tendão do que à

falange proximal, correndo paralelo à borda do tendão flexor digital profundo (ADAMS, 1994).

As técnicas se baseiam fundamentalmente em depositar o anestésico local no perineuro, em torno

de 2ml nos lados medial e lateral (MASSONE, 1999). Para realizar o bloqueio anestésico, caso o

cavalo esteja agitado, pode-se utilizar o cachimbo como método de contenção (SPEIRS, 1999).

Figura 6 – Bloqueio do nervo digital palmarFonte: SILVA, 2009.

Quando a resposta ao bloqueio digital palmar é apenas parcial, pode-se esperar que

qualquer claudicação que esteja presente após o bloqueio estará presente após a neurectomia

digital palmar. Existem várias razões pelas quais o cavalo com doença do navicular não responda

bem ao bloqueio nervoso (ADAMS, 1994).

Quando existem adesões entre o tendão do flexor profundo e o osso navicular, é quase

impossível para o cavalo alterar seu andar. O andar vai melhorar ligeiramente após um bloqueio

devido a algum alívio na dor, mas a pata ainda vai pisar primeiro com a pinça e apresentar a fase

cranial do passo encurtada porque esta é uma interferência mecânica (ADAMS, 1994).

Nos casos graves de doença do navicular, alterações podem se estender para a articulação

interfalângica distal. Se houver artrite, a neurectomia produzirá apenas um alívio parcial na

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claudicação. Pode-se injetar, então, anestésico local no interior da articulação interfalângica

distal. Se for obtido um alívio completo na claudicação pode-se suspeitar de artrite nesta

articulação (ADAMS, 1994).

Algumas vezes, os ramos acessórios do nervo digital palmar se separam suficientemente

do nervo digital palmar principal. Em outros casos, o nervo digital dorsal se bifurca e envia um

ramo palmar de volta para a região do navicular. Em qualquer destes casos, esta inervação

acessória será responsável pela resposta apenas parcial do bloqueio nervoso digital palmar. A

menos que toda a inervação para a região do navicular seja seccionada, a resposta a neurectomia

digital palmar será ruim (ADAMS, 1994).

As quartelas muito verticais também predispõem o animal a uma artrite traumática da

articulação metacarpofalângica (boleto). A doença do navicular e a artrite traumática da

articulação metacarpofalângica podem estar ambas presentes ao mesmo tempo. Uma injeção de

anestésico local no recesso palmar nesta articulação, após o bloqueio do nervo digital palmar, irá

revelar o quanto da claudicação é devido a cada problema (ADAMS, 1994).

A sensibilidade cutânea pode ser verificada medial e lateralmente na mesma pata e uma

pata pode ser comparada à outra. Deve ser também utilizada a pinça de casco (conforme figura

abaixo) e, se ainda houver sensibilidade evidente sobre o terço central da ranilha, a anestesia é

inadequada. Neste caso, o bloqueio deve ser repetido após confirmar-se os pontos de referência

(ADAMS, 1994).

Figura 7 - Exame com a pinça de casco para revelar a localização da dorFonte: MOREIRA, 2013.

O bloqueio anestésico da bolsa do navicular é mais um teste que pode dar informações

adicionais ao diagnóstico. Espera-se com este bloqueio anestésico que todas as estruturas em

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contato direto com a bolsa sejam anestesiadas, mas não quer dizer que todas as estruturas que

possam estar envolvidas na síndrome sejam bloqueadas (CURRENT, 1990).

Para realizar os bloqueios, é necessário que se faça a anti-sepsia do local e, no caso do

bloqueio da bolsa, deve-se fazer também a tricotomia do local, pois estar-se-á adentrando uma

articulação. A injeção na bolsa pode ser palmar ou lateral. É necessário que seja feito um

bloqueio de pele antes de penetrar a articulação (SPEIRS, 1999). A agulha a ser utilizada deve ter

5cm e calibre 20 (ADAMS, 1994). É sempre interessante que se use a radiografia como

orientação para assegurar que a bolsa foi penetrada (SPEIRS, 1999).

2.7 RADIOLOGIA

Para utilizar a radiologia como método diagnóstico é necessária uma boa preparação das

mãos/pés do animal para ter uma boa radiografia. Após a remoção das ferraduras, deve-se aparar

levemente a ranilha e a sola e deve-se lavar bem toda a pata, especialmente nos sulcos (WYN-

JONES, 1988). Pode-se preencher a sola com sabão ou material similar, para evitar sombras na

radiografia (ADAMS, 1994).

As principais vistas para radiografar o navicular são: dorsoproximal-palmarodistal (vista

oblíqua), dorsopalmar e palmaroproximal-dorsodistal (vista oblíqua) (TICER, 1987). Algumas

das alterações que podem ser observadas são os forames vasculares aumentados. Os forames

aparecerão em forma de pirulito ou cone na borda distal do navicular (WYN-JONES, 1988).

Os cistos acompanhados de forames são evidências da doença do navicular (ADAMS,

1994). Podem ser encontradas áreas de osteopenia, áreas na cortical e medular na face flexora do

osso com surgimento de erosões. Adesões entre o cisto cortical e o tendão flexor podem

acontecer, mas não serão detectadas em radiografia. As presenças dos cistos corticais são

indicativas de avanço na doença (WYN-JONES, 1988).

O adelgaçamento do córtex flexor está associado com um aumento dos canais vasculares.

É melhor observado no aspecto tangencial, sendo mais comumente associado à eminência central

proeminente (crista mediana) da superfície flexora. Conforme ocorre a remodelação óssea, o

córtex torna-se delgado, e isso provavelmente se deve a um suprimento vascular aumentado e a

osteoclasia. A osteofitose marginal resulta de metaplasia óssea no interior do ligamento

suspensório do osso navicular. Como isto pode ocorrer com qualquer tecido ligamentoso, na sua

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inserção, quando sofre estresse, sua significância deve ser cuidadosamente avaliada, pois, em

alguns casos, pode representar um processo de envelhecimento natural (ADAMS, 1994).

A perda do limite corticomedular é um achado normalmente observado em cavalos mais

velhos, com sintomas leves ou moderados da doença do navicular. Isso pode representar um

estágio final no processo de remodelação. A perda do formato normal do osso pode também ser

parte do processo de remodelação (ADAMS, 1994).

As fraturas são usualmente encontradas nas bordas do navicular. Elas frequentemente são

bilaterais. Não costumam ser encontradas nos membros posteriores, apenas na síndrome do

navicular. É necessária uma excelente radiografia para visualizar essas fraturas. Sendo

confirmada a existência de fratura, o prognóstico é pobre e os tratamentos serão apenas paliativos

(WYN-JONES, 1988).

As figuras abaixo mostram exemplos dessas radiografias.

Figura 8 - Posições radiográficas dorsoproximal-palmarodistal oblíqua, ilustrando algumas diferenças entre um animal normal e um animal acometido pela síndrome navicularFonte: MOREIRA, 2013

Figura 9 - Posições radiográficas palmaroproximal-palmarodistal oblíqua, também conhecida com “skyline”, ilustrando algumas diferenças entre um animal normal e um animal acometido pela síndrome navicular

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Fonte: MOREIRA, 2013

Figura 10 - Posições radiográficas látero-medial, ilustrando a diferença entre um animal normal e um animal acometido pela síndrome navicular(www.abqm.com.br)Fonte: MOREIRA, 2013

2.8 CINTILOGRAFIA, TERMOGRAFIA E ULTRASSONOGRAFIA

A cintilografia é uma técnica de diagnóstico por imagem que consiste em injeção

intravenosa de uma substância radiofarmacêutica emissora de raios gama, cuja atividade durante

a distribuição pelo organismo é detectada por cristal de iodeto de sódio montado numa câmara

gama ou num dispositivo manual de cintilação. O radionuclídeo comumente usado é o Tecnécio,

que tem meia-vida de 6 (seis) horas. Os aparelhos de cintilação são manejados manualmente.

Deve haver um intervalo de pelo menos 3 (três) dias entre a anestesia e a cintilografia, caso o

veterinário tenha realizado bloqueio anestésico. O animal deverá estar bem contido e até sedado,

se necessário (SPEIRS, 1999). Este exame irá identificar os locais onde há aumento na

radioatividade, o que significa aumento da vascularização (CURRENT, 1990).

A termografia é uma técnica não-invasiva que mede e registra a radiação infravermelha

emitida da superfície corporal. A termografia por contato aplica cristal líquido incluído numa

base deformável que é intimamente aplicada à superfície do corpo.

Os cristais mudam de forma e cor conforme a temperatura incidente. A termografia por

não-contato utiliza um termômetro ou câmara infravermelho para registrar a radiação. O cavalo

deve ser contido sem contenção química e deve ter um período de aclimatação de cerca de 20

(vinte) minutos (SPEIRS, 1999). A termografia irá fornecer informação a respeito da temperatura

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da pele e da vascularização ou inflamação. Cavalos com síndrome do navicular terão a

temperatura da pele mais baixa, indicando perfusão reduzida (CURRENT, 1990).

Figura 11 - Cintilografia nuclear óssea dos membros anteriores de um equino. A seta indica maior atividade óssea nesta regiãoFonte: MOREIRA, 2013

A ultrassonografia dos tecidos moles que envolvem o osso navicular pode ser usada para

avaliar os prejuízos causados no tendão flexor profundo e nos ligamentos, porém essas estruturas

estão em posição complicada para realizar o exame de ultrassonografia (CURRENT, 1990).

A imagem abaixo mostra o exame ultrassonográfico do aparato podotroclear.

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Figura 12 – Exame ultrassonográfico do aparato podotrolearFonte: PEIXOTO, 2013.

2.9 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico diferencial deve incluir os ferimentos perfurantes da sola e da ranilha,

fratura do osso navicular, fratura da falange distal, laminite, sensibilidade na sola, contusões no

casco, talões gastos, osteíte pedal e exostose interfalângica. Um exame físico cuidadoso e as

radiografias podem restringir rapidamente as doenças consideradas. Na laminite, a ação dos

“ombros” é semelhante à sua ação na doença do navicular bilateral, mas o animal pisa primeiro

com os talões e não com a pinça. A doença do navicular é a causa mais comum de claudicação

nesse grupo. A osteoartrite das articulações interfalângicas pode provocar sintomas semelhantes,

mas pode ser diferenciada pelo exame com a pinça de cascos, anestesia perineural e exames

radiográficos (ADAMS, 1994).

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Se houver uma artrite da articulação interfalângica distal complicando o quadro, ela pode

ser determinada pela anestesia intra-sinovial dessa articulação. Quando há inervação acessória

originada no nervo digital dorsal, ela pode ser bloqueada por um bloqueio em anel. Esse tipo de

inervação acessória torna a neurectomia digital palmar apenas parcialmente eficaz (ADAMS,

1994).

2.10 TRATAMENTO

Existem algumas categorias de tratamento, como a redução e alívio da dor, utilização de

drogas para melhorar o suprimento sanguíneo do osso navicular e a utilização de casqueamento e

ferrageamento corretivo (WYN-JONES, 1988). Outra categoria de tratamento seria o cirúrgico

(CURRENT, 1990).

A terapia medicinal para alívio da dor envolve o uso de anti-inflamatórios não-esteroidais

e analgésicos como a fenilbutazona, ácido meclofenâmico, fluxinim meglumina, utilizada nas

dosagens e vias de administração recomendadas pelo fabricante (CURRENT, 1992). Associado

ao uso de medicamentos utiliza-se o repouso do animal que deverá ser confinado à cocheira por 5

(cinco) a 10 (dez) dias e, após esse período, deve-se remover as ferraduras, aparar corretamente

os cascos e soltar o animal em pasto para uma melhor remodelação no interior do osso. Este

tratamento somente com uso de anti-inflamatórios e repouso é, logicamente, apenas na fase aguda

inicial da doença (ADAMS, 1994).

A utilização de drogas para melhorar o suprimento sanguíneo do osso é uma outra

alternativa de tratamento medicamentoso. Os medicamentos mais usados são o hidrocloreto de

isoxsuprine, que é um vasodilatador periférico e o warfarin sódico, que é anticoagulante (WYN-

JONES, 1988). O hidrocloreto de isoxsuprine deve ser administrado na dose de 0.6 a 1.8 mg/kg,

administrado por via oral duas vezes ao dia (CURRENT, 1992). O tratamento deve ser feito no

período de 6 (seis) a 14 (quatorze) semanas (ADAMS, 1994). Este medicamento irá promover

uma vasodilatação periférica e reduzir a viscosidade do sangue. A droga só é contra-indicada em

éguas prenhes, por perigo de hemorragia (WYN-JONES, 1988). O warfarin age reduzindo a

viscosidade do sangue. Deve-se estabelecer o tempo de protrombina num primeiro estágio,

calcular a dosagem individualmente, pois cada cavalo terá um tempo de protrombina, e iniciar o

tratamento diário. Deve-se fazer o monitoramento até que o tempo de protrombina se prolongue

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por 2 (dois) a 4 (quatro) segundos. Se o tempo de protrombina não aumentou após 10 (dez) dias a

dosagem deve ser acrescida de 20% (vinte por cento). As doses vão variar entre 0.012-0.75

mg/kg e pode-se levar até 7 (sete) semanas para estabelecer a dose e o cavalo responder ao

tratamento (WYN-JONES, 1988). Não devem ser administradas simultaneamente outras drogas

como a fenilbutazona, pois pode provocar uma hemorragia fatal (CURRENT, 1992).

Injeções locais justabursais ou intrabursais de esteróides e orgoteína foram recomendadas.

Os corticóides intrabursais dão alívio temporário, mas têm pouco valor como cura permanente. A

orgoteína não tem efeito significativo como tratamento (ADAMS, 1994).

O ferrageamento corretivo consiste em elevar os talões com palmilha, grosagem da pinça

e utilização de uma barra no terço médio da ranilha. Os ramos da ferradura podem ser alterados a

partir dos quartos em direção aos talões, ajudando na expansão da parede do casco. A pinça

grosada e os talões elevados auxiliam uma elevação mais rápida do casco. Com os talões

elevados e a barra sobre a ranilha protegem a mesma das pressões do solo (ADAMS, 1994). A

elevação dos talões alivia a tensão do tendão flexor profundo e facilita o restabelecimento da

angulação normal do casco (CURRENT, 1990). Porém, o tratamento mais recomendado é a

utilização da ferradura oval, pois esta apóia a parte caudal do casco, visto que ela é fechada

(CURRENT, 1990).

2.11 PROGNÓSTICO

Segundo ADAMS (1987), o prognóstico deve ser reservado em todos os casos. Isto se

baseia em estudos onde apenas 9 (nove) de 38 (trinta e oito) cavalos ficaram sãos após

tratamento. Porém, com o uso do hidrocloreto de isoxsuprine, Adams (1987) acredita que o

prognóstico pode vir a melhorar futuramente.

Smith (1994) entende que dentre as muitas opções terapêuticas para a síndrome do

navicular, todas se direcionam para tentar reduzir a progressiva degeneração do osso navicular,

porém em nível paliativo, e não como cura efetiva.

Na opinião de knottenbelt (1998), o prognóstico para cavalos afetados pela moléstia do

navicular é reservado. Entretanto, o serviço cuidadoso de ferrageamento provavelmente evitaria

sua progressão.

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Wyn-Jones (1988) considera o tratamento para a doença do navicular paliativos, com uma

melhora temporária independente da escolha da terapia.

Já current (1990) avalia que os resultados descritos com sucesso são difíceis de se repetir.

Futuros melhoramentos em diagnósticos serão necessários para fazer um diagnóstico específico

da doença do navicular. Uma vez que isso seja determinado, terapias específicas serão iniciadas,

associando ferrageamento, medicamentos e cirurgia, quando necessário. Com os tratamentos

mais específicos as taxas de sucesso irão aumentar.

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CONCLUSÃO

Com a realização do trabalho chegou-se à conclusão que o aspecto clínico da síndrome

navicular é um conjunto de sintomas comuns de causas desconhecidas que levam a alterações

degenerativas e crônicas no aparelho podotroclear, sendo uma das causas de maior ocorrência de

claudicação intermitente nos membros anteriores dos cavalos atletas.

Ela é caracterizada por uma dor originada no osso navicular e pode envolver várias

estruturas com ele relacionadas, incluindo a bolsa do navicular e os tendões flexores, pode variar

em gravidade, desde discreta e/ou temporária, até total incapacidade de sustentar o peso do corpo

sobre o membro afetado, atinge o desempenho atlético do animal ocorrendo a diminuição das

passadas como forma de defesa à dor sentida e pode ser agravada se o trabalho for realizado em

superfícies irregulares ou duras.

O diagnóstico deve ser baseado na combinação de imagens radiográficas específicas e no

bloqueio do nervo, os exames radiográficos são muito importantes para sustentar o diagnóstico e

o bloqueio anestésico consiste em neutralizar os nervos, dessensibilizando a zona afetada, após o

bloqueio se houver melhora significa que há doença do navicular, caso as outras claudicações

tenham sido descartadas.

Destaca-se, contudo, que esse diagnóstico ainda não é definitivo, devendo-se observar

atentamente o posicionamento do casco ao tocar o chão para perceber se a pinça é apoiada antes

dos talões. Se a fase cranial do passo está encurtada, os tipos de reações do cavalo à pinça de

casco aplicada sobre o terço central da ranilha. Associados à anamnese, exames clínicos e testes

complementares.

O tratamento terapêutico desta síndrome não é um tratamento curativo. Pode-se diminuir

a dor com a utilização do casqueamento, do ferrageamento corretivo, do uso de anti-inflamatórios

não esteroidais e analgésicos, além da utilização de drogas que melhoraram o suprimento

sanguíneo do osso navicular tudo associado ao repouso do animal. E em último caso o tratamento

cirúrgico com a neurectomia.

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