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SIMP.TCC/Sem.IC. 2018(13); 2119-2134 FACULDADE ICESP / ISSN: 2595-4210

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CURSO DE JORNALISMO

O PRODUTO CULTURAL NA ERA DIGITAL E NO WEBJORNALISMO THE CULTURAL PRODUCT IN THE DIGITAL AGE AND IN WEBJOURNALISM

Guilherme Alexandre Silva Aguiar Leite

Marta Mencarini

Resumo O jornalismo cultural, com o surgimento de novos meios de comunicação, tornou-se mais ágil devido ao advento da internet, ferramenta que trouxe novidades para os críticos. Isso também influencia o produto cultural e como o público se relaciona com ele. Com os avanços das tecnologias digitais e a popularização da internet, a divulgação e produção de conteúdo em rede reconfigurou a indústria cultural, e deu novas possibilidades de construção de carreira aos artistas, que hoje não só se responsabilizam pela parte artística, mas também têm que está inteirados com todo o processo de construção do conteúdo, de público e divulgação do produto. Com base nesses aspectos, o artigo presente visa analisar o produto cultural Dona Cislene – banda de rock brasiliense que gerencia sua carreira pelas mídias digitais -, visando fazer uma análise qualitativa de como as mídias digitais e o webjornalismo modificam a forma como o público se relaciona com o produto cultural. Baseado em pesquisa bibliográfica de autores como Pierre Levy (2008), Daniel Piza (2008), Marina Magalhães (2010), Pollyana Ferrari (2008), entre outros, o trabalho pretende analisar a qualidade da produção do conteúdo online a respeito do produto e também como as potencialidades que as novas mídias e a internet oferecem à área cultural são utilizadas. Palavras-Chave: jornalismo musical; jornalismo cultural; jornalismo online; cultura. Abstract Cultural journalism, with the emergence of new media, became more agile due to the advent of the internet, a tool that brought news to critics. This also influences the cultural product and how the public relates to it. With the advances of digital technologies and the popu-larization of the internet, the dissemination and production of network content reconfigured the cultural industry, and gave new possibili-ties for career building to artists, who nowadays not only take responsibility for the artistic part, but also have to is acquainted with the whole process of content construction, audience and product dissemination. Based on these aspects, the present article aims to ana-lyze the cultural product Dona Cislene - Brazilian rock band that manages its career through the digital media -, in order to analyze how digital media and webjournalism modify the way the public relates to the cultural product . Based on a bibliographical research of au-thors like Pierre Levy (2008), Daniel Piza (2008), Marina Magalhães (2010), among others, the work intends to analyze the quality of the production of the content produced online with respect to the product and to analyze how the potential that new media and the internet offer to the cultural area are used. Keywords: musical journal;cultural journalism; online journalism; culture

EMAIL: [email protected]

Introdução

Diante a transição do jornalismo impresso ao digital, o jornalista teve que se adaptar às novas realidades tecnológicas, e com o surgimento da cibercultura e outras ferramentas tecnológicas, consequentemente teve que entender o que as mudanças proporcionavam na sua forma de trabalhar.

Segundo Daniel Piza (2008), apesar de grande preferência entre o público de jornais e revista por gênero jornalístico ligado às atividades das artes e ao entretenimento, é dada pouca importância ao pequeno espaço cedido em periódicos. Isso fez com que o jornalismo cultural fosse muitas vezes relegado a segundo plano, além também da carência de profissionais especializados.

Com o advento da internet, o âmbito jornalístico passou a enxergar o surgimento da rede como uma nova e rica ferramenta de trabalho. Quando o jornalismo entrou no universo digital,

passou a ser mais interativo e atrativo, pois convergiu diversas mídias em um só meio. Texto, vídeo e áudio uniram-se, dando uma demanda de informação maior ao leitor, mas em tempo menor, portanto, trouxe também instantaneidade. Ademais, o novo meio de se fazer jornalismo, passou a não delimitar espaço como nos periódicos impressos.

Inevitavelmente, diante do novo quadro de imprensa na era digital, os produtos culturais migraram para o universo da cultura digital, onde modificou-se o processo de construção de produto e público, e a forma como o artista trabalha, tendo esse também, assim como o jornalista, se adaptar às novidades e aprender a ser multifuncional. O jornalista passou a não só escrever, mas também a diagramar, editar foto, ter ótima noção sobre informática, dominar o universo das redes sociais, entre outras exigências do novo contexto que estão inseridos. Hoje, o artista também não se responsabiliza só pela qualidade de seu conteúdo, encarando uma jornada árdua de encontrar a própria voz artística por meio de estudos, treinos,

Como citar esse artigo:

Leite GASA, Mencarini M. O PRODUTO CULTURAL NA ERA DIGITAL E NO

WEBJORNALISMO. Anais do 13 Simpósio de TCC e 6 Seminário de IC da Faculdade ICESP.

2018(13); 2119-2134

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entre outras dificuldades, e depois encontrar (ou pagar) algum produtor e gravadora que se responsabilize pela venda e formato de seu produto.

Baseado nesses pontos, o artigo presente tem como principal objetivo analisar o processo de trabalho e construção de produto da banda Dona Cislene nas mídias digitais, tendo como base a 1entrevista realizada com o guitarrista, líder e responsável pela organização administrativa da banda, Guilherme de Bem. Será também analisada a relação da banda com a imprensa, levando em conta a questão de se hoje o jornalismo cultural serve apenas como meio de publicidade para o produto cultural, ou se há textos embasados sobre o conteúdo do produto, o que acaba também colaborando para o amadurecimento dos artistas. Para isso, serão analisados três textos sobre a banda publicados no espaço online. No total, serão dois textos do portal 2Correio Brasiliense e um no 3G1, publicados no período de fevereiro a maio de 2018. Também será necessário levantar aspectos do jornalismo online, para que se alcance melhor compreensão sobre as potencialidades oferecidas pelo meio. Além de pesquisa realizada com autores que estudam a área, também foi feita uma análise do livro da jornalista e professora especializada em webjornalismo da Universidade de Brasília (UnB), Ana Carolina Kalume. Esse livro serviu como base neste trabalho para algumas questões do jornalismo online e o jornalista da era digital. O título da obra é O Jornalista Brasileiro: convergência e mudança provocada pelas Tecnologias da Informação e Comunicação. Trata-se de uma pesquisa que problematiza as mudanças experimentadas pelo trabalho jornalístico e pelo sistema informativo na atual ordem econômica e cultural e as alterações sofridas pelos profissionais de Comunicação no âmbito laboral, provocadas, principalmente, pela inserção das Tecnologias da informação e Comunicação. 2. Jornalismo Cultural

É necessário que tenhamos

conhecimento do que é cultura, para se alcançar uma compreensão sobre jornalismo cultural e suas abordagens. O antropólogo britânico Edward Tylor, trouxe a primeira definição de cultura, dizendo que ela seria “todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer

1 Apêndice 2 Correio Braziliense é um jornal brasileiro com sede em Brasília, e que a partir

de abril de 2008, passou a ter seu site totalmente reformulado visando torná-lo

mais interativo. Desde lá, o seu portal na internet passou a fazer um jornalismo

outra capacidade ou habilidades adquiridas pelo homem como membro de uma sociedade” (Tylor apud LARAIA, 2001, p.25).

O jornalismo cultural não chega a incluir

todas essas ações a qual Tylor traz em sua definição, ele está mais contíguo às artes e ao entretenimento. Manifestações populares, teatro, cinema, música, são pautas mais assíduas do jornalismo cultural. Do ponto de vista antropológico, qualquer tipo de jornalismo pode ser visto como cultural, mas o nome dado à área nasceu com referência à subjetividade da abordagem do meio:

“Todo jornalismo, em definitivo, é um fenômeno ‘cultural’, pelas suas origens, objetivos e procedimentos, mas foi consagrado historicamente com o nome de jornalismo cultural uma zona muito complexa e heterogénea de meios, gêneros e produtos que abordam com propósitos criativos, críticos, reprodutivos ou divulgatórios os terrenos das belas artes, belas letras, correntes de pensamento, ciências sociais e humanas, a chamada cultura popular e muitos outros aspectos que têm que ver com a produção, circulação e consumo de bens simbólicos, sem importar a sua origem ou destino”. (LOPES, apud RIVERA, 1995, p.48)

Fazer uma relação de cultura

baseando-se com o conceito antropológico do termo, mostra um pouco da subjetividade desse campo jornalístico, desde o princípio do jornalismo cultural, até enxergá-lo como um âmbito mais sólido. Mas, apesar de seus dilemas, é intrínseco ao setor a caraterística crítica, mais analítica, e que busca por analises mais profundas dos acontecimentos e feitos dos personagens inseridos na esfera cultural. A subjetividade não lhe tira credibilidade, porém, exige dos emissores da informação mais propriedade e compromisso com o conhecimento.

Segundo Piza (2008), além de informar, o jornalismo cultural deve abraçar o dever do senso crítico, para assim avaliar melhor as obras culturais, oferecendo também um jornalismo mais analítico,

adaptado ao universo digital, fazendo assim webjornalismo. 3 G1 é um portal de notícias brasileiro que se destaca por seu conteúdo

multimídia que tira proveito das vantagens da internet sobre os meios

tradicionais de comunicação.

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crítico e opinativo aos leitores. É de suma importância também para se ter

como parâmetro, entender o conceito de cultura e entretenimento, para poder diferenciá-los. Uma das discussões que norteiam a área, é a confusão que há entre esses conceitos, e de que muitos que escrevem nesse contexto, colaboram para a proliferação do entretenimento disfarçado de jornalismo cultural.

O volume 1 do dicionário Michaelis 2000, nas páginas 623 e 824, respectivamente, traz os seguintes significados para os termos cultura e entretenimento:

cul.tu.ra sf (lat cultura) [...] 7 Aplicação do espírito

a uma coisa; estudo. 8 Desenvolvimento que, por cuidados assíduos, se

dá às faculdades mentais. 9 Desenvolvimento intelectual. 10 Adiantamento,

civilização. [...] 14 Antrop Estado ou estágio do desenvolvimento cultural de um povo ou período, caracterizado pelo conjunto das obras, instalações e objetos criados pelo homem desse povo ou período; conteúdo social. [...]

en.tre.te.ni.men.to sm (entreteni + mento) 1 Ato de entreter. 2 Distração,passatempo, divertimento; entretém. Var: entretimento.

2.1. Nascimento do Jornalismo Cultural

Não existe nenhuma definição exata que

determine a data do nascimento do jornalismo cultural, mas o marco de seu princípio é em 1711. Nesse ano, os ensaístas ingleses Richard Steele (1672-1729) e Joseph Addison (1672-1719) criaram a revista diária The Spectator. Essa revista foi lançada com o intuito de mudar o paradigma de a filosofia só estar presente no campo intelectual e acadêmico, e levá-la também a contextos sociais mais despretensiosos e informais, como clubes, casas de chá e café, e assembleias. (Piza, 2003, p.11). Os diversos temas abordados pela revista, como música, política, teatro, livros, entre outros, na definição de Piza (2008), acabou provindo “num tom de conversação espirituosa, culta sem ser formal, reflexiva sem ser inacessível, apostando num fraseado charmoso e irônico” (Piza, 2003, p.12).

No século XVIII, passaram a ser cedidos espaços pequenos para a cultura no jornalismo. Os britânicos Samuel Johnson (1709-1784) – considerado o pai de todos os críticos, pois foi o primeiro grande crítico cultural -, e Daniel Defoe, que escreveu durante nove anos (1704-1713) um periódico da corte chamado The Review, e é autor do romance Robinson Crusoé, foram pioneiros nesses primeiros espaços de cultura.

O jornalismo europeu chegou a ser tão influente na modernidade quanto as descobertas

científicas e revoluções políticas da época. Naquele momento, ele era produto de uma era que se iniciava após o Renascentismo – ciclo em que as máquinas começaram a transformar a economia.

O jornalismo cultural chega a países como Brasil e Estados Unidos no século XIX, época em que se tornava fluente. Consequentemente, nos EUA, os críticos se multiplicavam em um momento que o país crescia e solidificava sua cultura.

O jornalismo cultural no Brasil amadureceu a partir do século XX, mesmo com os temas e discussões culturais estando sempre presente no fazer da imprensa. É nesse século que começa a aparecer no país os primeiros cadernos especializados em cultura.

No final do século XIX, o jornalismo cultural brasileiro ganhou destaque com os renomados escritores José Veríssimo (1857-1916) e Machado de Assis (1839-1908). A partir dali o âmbito passou a ter mais solidez, e deu mais espaço ao crítico profissional e informativo. Precisamente, é em 1928 que o jornalismo cultural ganha maior força no Brasil, com o surgimento da revista O Cruzeiro, que de acordo com Piza (2008, p.13), viria a ser a mais influente do país, por sua habilidade de se comunicar com públicos heterogêneos. Grandes nomes como Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz, dentre outros, colaboraram com a revista.

A partir dos anos de 1950, as seções culturais passaram a ser obrigatórias na grande imprensa diária e semanal. Nessa época, acompanhava-se os principais momentos do crescimento da indústria cultural, de tal forma que transformou o setor de entretenimento como um dos mais atuantes e promissores da economia global. (Piza, 2003, p.44). Nota-se que dentro do campo do jornalismo cultural, desde o início havia potencial e uma participação importante do meio na imprensa, tendo em vista que os jornalistas estavam em um contexto de expectativas, de transformações, e onde a indústria cultural, apesar de ser um marco de mudanças promissoras para o futuro da sociedade mundial, deixou cicatrizes em um povo que sofreu mudanças dramáticas com a ruptura de estilo de vida, do estilo rural ao urbano, e explorações de trabalho. No meio do híbrido problemático e promissor, o papel da imprensa seria entreter ou analisar até o âmago do quadro da época para informar os leitores de maneira imparcial e concisa? Talvez dependa dos interesses da economia global.

2.2. Discussões e problemáticas do jornalismo cultural

Passado um período do jornalismo cultural

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brasileiro considerado rico em textos críticos, com respeitadas e conceituadas publicações de críticos culturais de um exímio legado, como José Veríssimo e Machado de Assis, por exemplo, as crises de identidade no jornalismo cultural moderno no Brasil começam a ser identificadas a partir dos anos 50 do século XX. Isso aconteceu devido ao surgimento dos meios de comunicação de massa, como a televisão, rádio, e o cinema, levando o âmbito do jornalismo cultural a ter necessidade de discutir a respeito do seu papel perante a nova realidade.

Em seu conceito mais puro, jornalismo cultural dedica-se à avaliação de ideias, valores e artes. Atualmente, alguns grandes jornais veiculam, normalmente no fim de semana, uma agenda cultural, onde informam sobre espetáculos, exposições, shows, etc. O segmento ganha espaço também em revistas, com publicações específicas sobre arte, e pequenas seções culturais, havendo também blogs, sites, e até mesmo redes sociais que divulgam notícias e dedicam um espaço para o gênero.

Alguns pesquisadores de jornalismo cultural afirmam que o caderno de cultura é uma das partes mais lidas nos jornais, outros já discutem o fato de que boa parte da população ainda confunde cultura com mero entretenimento. Há uma discussão de que com a prática de apenas informar os acontecimentos da agenda cultural, a produção dispensa a análise eficaz desses acontecimentos. Com isso, há um revés (inserido principalmente no contexto atual) de que os cadernos de cultura se tornam apenas meios de publicidade - mesmo sendo da forma mais sútil possível - dos eventos noticiados.

O jornalista Daniel Piza (2008), em seu livro Jornalismo Cultural (2004), não deixa dúvidas sobre sua preocupação com o quadro atual, onde ele afirma que esse, nada contribui para o crescimento de uma população carente por textos que façam refletir.

Neal Gabler (1998), em seu livro Vida, o Filme - Como o Entretenimento Conquistou a Realidade discute a submissão da cultura à tirania do entretenimento, e como a vida se torna um filme. Ele busca entender como o jornalismo cultural foi sugado pelo jornalismo de celebridades, e traz à tona o fato da vida dessas personalidades se tornar mais importante do que a obra delas.

Marina Magalhães (2018) enfatiza que levando em conta a relevância da relação do leitor com argumentos de um poder de influência, o

4 Entrevista disponível em: https://www.revistabula.com/369-a-

ultima-entrevista-de-vinicius-de-moraes/

jornalismo cultural é um meio substancial para o estímulo da cena cultural:

“Diante de tamanha importância na relação com o leitor e de um poder de influência através de argumentos, o Jornalismo Cultural ainda é um instrumento essencial para a fomentação da cena cultural mundial” (Magalhães, 2018, p.6).

É certo o que diz Marina Magalhães, pois o poder das palavras de um crítico bem embasado e que tem poder de influência e credibilidade no que escreve, pode sim ser diferencial no estímulo da cena cultural. Isso é muito pertinente, e serve como comparativo dois exemplos, de épocas bem diferentes, que podem ser referência no sentido de relação do artista com o crítico, considerando o contexto de ambos. A última 4entrevista que Vinícius de Moraes deu, concedida meses antes de sua morte ao jornalista Narceu de Almeida Filho, em 1979, ele contou algo interessante quando foi questionado sobre a precoce fama de poeta, quando acabara de ganhar prêmios literários muito importantes na época. O poeta disse que não foi muito bom, pois lhe deu uma certa soberba, na qual ele mesmo se convenceu de que era um poeta genial, mas que alguns críticos o puseram em seu lugar, e um deles era Mário de Andrade, que segundo Vinícius, lhe deu umas “podadas muito bem dadas”, e que isso ajudou muito. Já na era digital, no ano de 2015, o crítico Regis Tadeu, em seu espaço no portal Yahoo onde escreve sobre shows e lançamentos de artistas musicais, escreveu uma crítica contundente sobre o show da banda Suricato com o músico americano Raul Midon no Rock in Rio. Em textos curtos, nada imparciais e pouco aprofundados, Regis Tadeu escreveu sobre todos os shows daquela edição do Rock in Rio, com o título “Minhas impressões a respeito do que assisti do “Rock in Rio 2015”. Resultado: o líder e vocalista da banda Suricato trocou ofensas com o crítico por meio das redes sociais, onde um tentou diminuir o outro. 3. Jornalismo online

Para se atingir boa compreensão da

proposta do artigo presente, é necessário que se

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relacione e caracterize o jornalismo online e o webjornalismo.

Nísio Teixeira (2008), em seu artigo Impacto da Internet Sobre a Natureza do Jornalismo Cultural, explica sobre o que é jornalismo online, e diz que é um termo que se adequa talvez a todo suporte digital eletrônico, e não é adaptado somente ao conteúdo produzido especificamente para internet, mas também as edições impressas adaptadas ao online. (Teixeira, 2008, p.4 e ,5). Por sua vez, o webjornalismo tem o conteúdo produzido e adaptado à internet, onde é explorado os recursos e potencialidades oferecidas ao meio, e que também tem linguagem adequada ao campo digital.

O francês Pierre Lévy, no livro Cibercultura (2001), apresenta como principais características do jornalismo online: interatividade, instantaneidade, hipertexto, multimídia e memória.

Com a interatividade, a web proporciona espaço que faz com que a notícia atinja seu ponto máximo de interação com o leitor, e há uma transação de informação e participação ativa dos receptores das informações. Desde então, os leitores podem interagir com outros leitores e também jornalistas através de chats, fóruns e e–mails.

A instantaneidade faz com que a informação digitalizada tenha processamento automático, e absoluto grau de precisão, em grande escala qualitativa e de forma muito rápida.

O hipertexto é um texto reconfigurável e fluído que tem formato digital. Por meio desse formato, é estabelecido ligações entre outros textos, mídias e registros. Com isso, a leitura torna-se não-linear, o que pode tornar também o texto mais peculiar e aprofundado.

A partir da multimídia, é possível utilizar vários tipos de mídia em uma notícia publicada na internet, como áudio, vídeo e imagem, dentre outros. Com essa convergência midiática, são empregados também vários suportes ou veículos de comunicação.

Já a memória, além de possuir grande capacidade de armazenamento, há também rapidez de acesso e um baixo custo econômico, o que possibilita o armazenamento de informações por tempo indefinido e em grandes quantidades.

É nítido o quanto a internet proporcionou mudança ao jornalismo e ao acesso à informação. Pollyana Ferrari, em seu livro Jornalismo Digital (2014), diz que a nova mídia passou a ser um instrumento essencial para o jornalismo contemporâneo, e isso por conta de seu potencial, que acabou possibilitando também que os produtos editorias se aperfeiçoem, o que os tornam ainda mais interativos e atraentes aos usuários. 4. Jornalismo cultural no webjornalismo

Entre as pesquisas e análises bibliográficas

realizadas até aqui neste trabalho, percebe-se que entre os diversos dilemas enfrentados pelo jornalismo cultural, no contexto da era digital, destaca-se as superficialidades das notícias desse setor do jornalismo, com exceções, claro. Existem bons textos, mas no panorama geral, os textos especializados tornam-se exceções. Segundo Piza (2008), o pouco espaço cedido em impressos, colabora com as superficialidades contínuas nos cadernos de cultura. Porém, não é o objetivo do presente artigo analisar todas as problemáticas e dilemas presentes na esfera cultural do jornalismo, mas é importante indicar alguns desses dilemas, para, a partir deles, impelir um olhar sobre o jornalismo cultural praticado no 1Correio Braziliense, já que as três matérias selecionadas sobre o produto analisado neste artigo, enquadram-se na editoria do jornalismo cultural. Respaldando-se nisso, pretende-se também analisar se com o surgimento do webjornalismo, o jornalismo cultural sofreu mudanças substanciais em seu conteúdo, considerando que a potencialidade da internet deu possibilidades ao trabalho dos jornalistas, podendo ser para os profissionais da imprensa um espaço inovador e produtivo em seus trabalhos.

O jornalismo cultural, com a internet, encontrou um caminho alternativo, e a partir desse contexto, muitos sites dedicam-se a livros, artes e ideias, onde formam fóruns e prestam serviços de uma forma que pela falta de espaço e interatividade, a imprensa escrita não pode.

As diversas possibilidades que hoje a internet oferece, faz com que o jornalismo cultural seja mais atraente. A convergência midiática, como também a articulação de linguagens, traz possibilidades. Por exemplo, trechos de uma entrevista podem ser disponibilizados em áudio, como também podem ser incluídos vídeos para reforçar ou ilustrar estabelecidas passagens de algum texto interpretativo ou informativo sobre algum material audiovisual. Também é possível que o conteúdo e o roteiro cultural sejam atualizados, diariamente ou não, nos mais diversos setores, do teatro ao cinema, de um show a um filme em cartaz, e uma crítica desenvolvida em uma estreia pode ficar disponível durante toda a temporada. (Teixeira, 2002, p.5).

Segundo Ferrari (2008), o jornalismo cultural produzido para web ou de forma online, pode ter resultados muito satisfatórios:

“Os elementos que compõem o

conteúdo online vão muito além

dos tradicionalmente utilizados

na cobertura impressa – textos,

fotos e gráficos. Pode-se

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adicionar sequencias de vídeo,

áudio e ilustrações animadas.

Até mesmo o texto deixou de

ser definitivo – um e-mail como

comentários sobre determinada

matéria pode trazer novas

informações ou um novo ponto

de vista, tornando-se, assim,

parte da cobertura jornalística.”

(FERRARI, 2008, p.39).

Diferentes setores do jornalismo cultural

sofrem com alguns dilemas, como o pequeno espaço reservado nas edições impressas, a carência de recursos técnicos e de profissionais críticos e especializados, porém, o jornalismo online não seria capaz de ser a solução imediata para todos os dilemas do âmbito. Contudo, com o custo econômico baixo e a grande capacidade de memória que o campo online possibilita, podendo assim armazenar uma quantidade bem maior de materiais, e sem ter a preocupação de as matérias jornalística serem reduzidas por questões de espaço, o jornalismo online, com a internet tendo o diferencial da multimediacao, além da interatividade, tem estrutura para produzir conteúdo muito mais rico.

5. Mudanças do trabalho jornalístico na era digital

A professora de comunicação da

Universidade de Brasília (UnB) Ana Carolina Kalume, com mestrado e doutorado concluídos na mesma Universidade, onde também é pesquisadora do Núcleo de Multimídia e Internet (NMI/FT/UNB), e realiza diversas pesquisas sobre comunicação e mídias digitais, lançou pela Editoria UnB e pelo FAC o livro O Jornalista Brasileiro: convergência e mudança provocada pelas Tecnologias da Informação e Comunicação, que é resultado de sua tese de doutorado. O trabalho problematiza as mudanças experimentadas no mundo do trabalho jornalístico e no sistema informativo na atual ordem econômica. Kalume investigou como que o profissional muda suas competências e habilidades a partir da inserção das Tecnologias da Informação e Comunicação, e como elas influenciam uma mudança no contexto profissional do jornalista brasileiro. No total, foram entrevistados 1.102 jornalistas, dentro de uma pesquisa que misturou métodos quantitativos e qualitativos, para a partir disso tentar entender qual foi a mudança provocada. A pergunta que norteou o trabalho foi uma bem simples: “o que muda na passagem do impresso para o online?”.

Segundo Ana Kalume (2014), uma das conclusões que foi alcançada no trabalho foi de que a grande maioria dos entrevistados diz que a mudança tecnológica é irreversível e que ela não vai parar, pelo contrário, tem que está sempre se atualizando e se adaptando, e que deve existir um contexto de alteração. Uma outra mudança, é que as competências e habilidades desse profissional vão sendo requeridas de outra maneira, e isso também envolve uma discussão da precarização na profissão, de que é necessário entender como que ela afeta o setor. A precarização a qual Kalume se refere, é a do indivíduo ter a perspectiva de estar 24 horas trabalhando, onde ele sai da redação e continua ligado ao que estar acontecendo nela, um trabalho que não para e que vem desde a perspectiva do online. Também foi estudado como que o Sindicato discute isso, que envolve questões como o aumento da carga horária, a precarização das condições, e de um profissional que tinha que fazer cobertura para o impresso e agora tem que fazer uma cobertura para o impresso e o online, fazer rádio, e ser um multitarefa.

De acordo com o trabalho de Kalume, as transformações no jornalismo na era pós-digital remete-se a múltiplos fenômenos, como a alteração das rotinas de trabalho, a mudança nas práticas profissionais e no fazer cotidiano, e certa dificuldade de inserção profissional dos jovens por falta de qualificação, diluição das competências e categorias que servem para definir os outros e se definir.

Segundo a autora, uma das tarefas mais perigosas e difíceis que uma pessoa tem de conduzir, é a mudança. De acordo com a mesma, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) tem um papel muito significativo nas transformações do trabalho jornalístico na era digital:

“mais de 80% dos jornalistas participantes do estudo perceberam mudanças significativas na profissão e as atribuem ä introdução das TICs nas redações. Esse percentual de respondentes entende que as TICs alteraram de alguma forma suas rotinas profissionais, pelo desenvolvimento de novas competências e novos fluxos de trabalho, dinamizados pela abertura de novos canais de comunicação, e pela utilização de dispositivos móveis nos processos de apuração e comunicação com a equipe e com os superiores e nas transmissão da notícia, que passou a ser feita “em tempo real”, tendo em vista o dinamismo proporcionado pelas TICs.” (KALUME, 2014, p.311).

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Na perspectiva do trabalho da Kalume,

percebe-se que apesar de dinamismo e aprimoramento na profissão do jornalista brasileiro na era digital, a sobrecarga de tarefas a absorção de muita informação em um espaço muito curto de tempo, faz com que o profissional de comunicação tenha o hábito em sua rotina laboral de solucionar seus afazeres de maneira rápida e prática, tendo assim uma forma diferente de apuração, onde muitas vezes não tem o tempo adequado para trazer uma informação mais aprofundada. Porém, o não se aprofundar não pode se confundir com levar informações vagas ao leitor. Portanto, diante da estrutura favorável para construir informações mais dinâmicas e completas por questões das ferramentas que o espaço online proporciona ao produtor da informação, apesar de ela ser mais curta, deve ser completa, e, principalmente, de interesse público e compromissada com o conhecimento. Adequar isso a uma linguagem universal e que atinja a todos os públicos deve ser o foco do quadro digital do contexto de trabalho do jornalista.

6. As mídias digitais e a indústria fonográfica

No livro do americano Roger Parry (2017),

intitulado “A Ascensão da Mídia: A História dos Meios de Comunicação de Gilgamesh ao Google”, o autor explica a transição da indústria fonográfica, de como o rádio e as gravações domésticas aos poucos foram afetando a venda dos discos, e como a indústria fonográfica também foi prejudicada por conta das novas mídias que facilitaram o acesso do público ao som, onde o disco acabou podendo ser digitalizado e intangível, se proliferando assim de uma forma mais rápida. O livro de Parry explica como que as primeiras formas dos meios de comunicação influenciaram as modernas mídias digitais, trazendo um retrospecto histórico da mídia de 416 páginas, onde também ajuda a compreender como que ela afeta os pensamentos e emoções.

Apesar da completa e bem embasada análise de Roger em sua obra, não cabe a este trabalho todas as questões abordadas pelo autor em seu livro. Porém, é imprescindível abordar algumas questões históricas do processo de transição da indústria fonográfica para se alcançar uma compreensão de que da mesma forma como o jornalismo passou pela transição do impresso ao online, a indústria e a cena artística passaram também pelo processo de transição do disco e CDs físicos, ao digital. Isso reconfigurou toda a forma e processo que o artista divulga seu produto e a formação da cena cultural, fazendo também ela ser mais diversa e com mais possibilidades.

A partir dos anos de 1980, houve o impacto do CD. De acordo com o livro de Parry (2017), o crescimento da rádio FM de ótima qualidade e das gravações caseiras, fez com que as vendas de discos fossem prejudicadas. Foi aí que o advento do compact disc salvou a indústria, e ao menos por um período, passou a ser um dos bens de consumo de mais rápida adoção. Os CDs têm facilidade de armazenamento, assim, para a época, já era algo muito inovador, e rapidamente já superaram os vinis e cassetes, e passaram a ser preferência de mídia pelo público. Nesse contexto, as pessoas acabaram sendo estimuladas a substituir uma antiga coleção de álbuns em discos, por exemplo, com as mesmas músicas no novo formato digital, com qualidade superior. Com isso, o varejo e a indústria se beneficiaram significativamente, porém, não houve muito estímulo na criação musical, e apesar do CD ter sido possível por conta da digitalização, a mesma foi responsável pelas mudanças drásticas da economia da indústria musical. (PERRY, 2012, p.231).

O som digital perdia ligeiramente a qualidade quando era feita uma cópia em fita de um som analógico, e com a cópia da cópia, perdia mais ainda, sem contar que demandava um bom tempo. Segundo Perry (2017), a música digital permite que cópias sejam reproduzidas de maneira perfeita e ilimitada, e quase que instantaneamente. Já a partir do avanço da revolução dos computadores pessoais e a ascensão da internet, enviar de uma máquina a outra arquivos de áudio ficou muito fácil. Vendo esse retrospecto e se situando no mundo moderno de hoje, onde vivemos em plena e constante aldeia global a qual McLuhan dizia, onde o mundo tornou-se pequeno e a comunicação é instantânea e imediata o tempo inteiro, é fácil passar a informação e conteúdo cultural para quem quer que seja, mas organizar e segmentar esse conteúdo, ainda exige uma organização e sistematização. Isso exige um certo pragmatismo do artista com o processo de formação de público e emissão de conteúdo. Desta forma, a indústria torna-se ultrapassada, e o artista deve abraçar o novo.

A banda britânica Artic Monkeys pôs em xeque o papel de divulgadora tradicional das gravadoras em 2003. Ainda como uma banda anônima de Sheffield, o grupo gravava CDs de demonstração em suas apresentações e distribuía gratuitamente. Desde então, os fãs passaram a fazer cópias desses CDs e passá-los adiante. Na época, existia uma ferramenta que causava polêmica com artistas da grande indústria por questões de direitos autorais (inclusive foi caso de briga na justiça com a banda Metallica), que se

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chamava 5Myspace – uma rede social da época usada para divulgar trabalhos musicais de artistas. Com isso, os fãs da até então desconhecida banda abriram uma página no Myspace para divulgar mais o som do grupo, sem nem que os integrantes estivessem cientes. Após isso, a banda foi ganhando mais fãs, o que resultou em uma popularidade que chamou a atenção da BBC Rádio One e da imprensa britânica, em 2004. Seus shows lotavam cada vez mais, e um fotógrafo amador local chamado Mark Bull, gravou um show ao vivo da banda, fez um vídeo clipe e divulgou em seu site. Com as inovadoras ferramentas que estavam disponíveis, a banda tirava proveito delas, gravando também um EP e disponibilizando em outra ferramenta da época chamada 6Itunes Music Store. Por meio dos recursos digitais e de forma independente, o grupo foi virando febre na rede e mais a frente assinou com a 7Domino Records, tornando-se uma das maiores bandas de Indie Rock do mundo.

No tempo atual, os recursos para os artistas se lançarem e criarem uma carreira são mais diversos e há uma demanda de escolha de caminho maior. No caso do Artic Monkeys, acabaram assinando com uma gravadora e sendo uma banda de padrão internacional, porém, ainda não era uma época que o meio digital estava tão sólido e panorâmico como agora. Hoje, a demanda de artistas do 8mainstream, das gravadoras, é menor. Portanto, como o produto analisado neste artigo, muitos seguem de forma independente, por outros meios, que apesar de menor estrutura, conseguem criar um bom público e um trabalho sólido, podendo produzir da forma que quer, sem intervenções por questões industriais, onde altera uma obra para ela se tornar mais “popular”. De acordo com Perry, isso é uma tendência que não vai mudar, e o artista da era digital torna-se cada vez mais empoderado:

“Os músicos vão continuar compondo e se apresentando, em parte por seu amor à arte,

5 Myspace é uma rede social que utiliza a Internet para comunicação online

através de uma rede interativa de fotos, blogs e perfis de usuário. Foi criada em

2003. Inclui um sistema interno de e-mail, fóruns e grupos. 6 A iTunes Store é um serviço online de multimídia operado pela Apple Inc.

dentro do software iTunes. Inaugurada em 28 de abril de 2003 nos Estados

Unidos, a loja provou a viabilidade de vendas musicais online 7 Domino Recording Company, também conhecida como Domino

Records é uma gravadora independente sediada em Londres,

Inglaterra. Atualmente também possui uma filial americana para

em parte porque sempre conseguirão ganhar dinheiro com eventos ao vivo. As gravadoras e lojas de discos tradicionais, porém, já experimentaram mudanças drásticas. Ademais, o direito autoral das músicas costumava ser vendido às gravadoras nos primeiros estágios da carreira dos artistas, que se tornavam, assim, funcionários, ou ao menos contratados dos selos. A situação provavelmente mudará, à medida que os artistas cada vez mais retiverem seus direitos e distribuírem sua música de maneira mais direta.” (PERRY, 2012, p.233).

É claro que para iniciar uma produção, ne-

cessita-se de investimentos financeiros, o que faz com que talentos em potenciais da periferia bus-quem recursos por meio da indústria. O Funk brasi-leiro, por exemplo, tem muito artista que vem da po-breza, e que por meio de investimento de terceiros, entra para uma indústria que vem crescendo cada vez mais, e lucrando bastante dinheiro por meio de artistas que saem de uma situação difícil para uma realidade de muita fama, dinheiro e glamour, mistu-rado com uma rotina intensa de viagens, muitos shows e cumprimento de compromissos contratuais em espaço curto de tempo. Com isso, criou-se uma cultura de alienação e divisão artística, onde alguns privilegiados com fama e glamour exacerbados são isentos de empoderamento artístico, e outros de classe social mais alta têm acesso à informação e conseguem se sobressair diante aos recursos que estão disponíveis, podendo inovar mais com sua forma de construir seu produto. Porém, como diz Perry, com o advento da música digital, esse pro-cesso tornou-se irreversível, e é um caminho sem volta. A tendência é que a indústria se enfraqueça cada vez mais.

7. Dona Cislene

lançamentos nos EUA.

8 Mainstream é um conceito que expressa uma tendência ou moda

principal e dominante. A tradução literal de mainstream é "corrente

principal" ou "fluxo principal". Em inglês, main significa principal

enquanto stream significa um fluxo ou corrente.

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A Dona Cislene é uma banda de rock brasili-

ense, podendo também ser incluída na lista das bandas de rock nacional, pois o público é espa-lhado por diferentes regiões de todo o país. For-mada por quatro rapazes, foi profissionalizada em 2013. Nesse mesmo ano, foi selecionada para tocar na etapa de Brasília do Circuito Bando do Bra-sil através do concurso SomPraTodos, destinado a levar artistas independentes para tocar em cada etapa do festival, e indicada ao concurso BandaDa-Galera, que escolheu um artista para tocar no Palco Sunset do Rock in Rio, por um blog musical.

O primeiro álbum oficial da banda, chamado Um Brinde aos Loucos, foi lançado em 2014. No mesmo ano, o grupo foi escolhido para tocar no Po-rão do Rock través de seletiva. O lançamento do ál-bum fez com que a Dona Cislene começasse a se apresentar fora de Brasília e expandir seu público. Em 2015, a Dona Cislene abriu o show da Turnê 20 anos do Raimundos no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e também abriu para o Tihu-ana no O Kazebre, em São Paulo. Além disso, em agosto, lançou o single Ilha, com participação de Dinho Ouro Preto do Capital Inicial e Digão dos Raimundos. Também participou do show em Bra-sília da Turnê de despedida da banda cari-oca ForFun e do Porão do Rock de 2015. Em 2016 lançou o single Multipersona, participou de festivais importantes, como o Festival Mada, o Festival Sai da Lata, o Goyazes Festival e o Festival Rock Sta-tion, com as bandas The Offspring, Dead Ken-nedys e Anti Flag, participou do programa Mix Diá-rio, da Mix TV.

Em março de 2017, se apresentou em cida-des na região metropolitana de São Paulo. Em maio, lançou o seu segundo álbum, o Meninos & Leões. Também em 2017, participou dos festivais Green Move Festival e Porão do Rock de 2017 e de uma série sobre o Rock de Brasília no Bom Dia DF, passado no telejornal local da Rede Globo.

7.1. Análise da entrevista com o guitarrista da

9 Twitter é uma rede social e um servidor para microblogging, que

permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais de outros

contatos, por meio do website do serviço, por SMS e por softwares

específicos de gerenciamento.

10 Facebook é uma mídia social e rede social virtual lançada em 4 de fevereiro

de 2004, operado e de propriedade privada da Facebook Inc.. 11 Spotify é um serviço de streaming de música, podcast e vídeo que foi lançado

banda Dona Cislene

Na época atual, além de ser artista, ofício que exige um trabalho árduo de ter que estudar música, encontrar a própria identidade, ensaiar muito, entre outras coisas, tem o como se lançar. Como já foi visto no decorrer deste trabalho, antes era diferente. O músico tinha que se preocupar somente com a parte artística e depois encontrar alguma gravadora ou produtor que se encarregasse com a parte de construção de produto e público. Hoje, o artista também tem que ter múltiplas funções, em consequência das modernidades e ferramentas tecnológicas, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) que estão disponíveis, e que inevitavelmente faz com que muitos artistas construam e planejem a carreira em torno delas.

A banda Dona Cislene, de Brasília, é um bom exemplo para citar, quando se trata de um produto cultural com solidez no mundo digital. O grupo tem 18,7 mil seguidores no 9Twitter, 29 mil curtidas no 10Facebook, 20 mil ouvintes mensais no 11Spotify e 8.859 inscritos no canal do 12Youtube, onde são lançados material da banda como clipes, álbuns, e alguns vídeos que mostram detalhadamente os integrantes tocando em seus instrumentos algumas de suas músicas, como uma forma de fazer com que os fãs que praticam algum dos instrumentos aprendam a tocá-la. Os clipes são os que geram mais visualizações, alguns variam entre 100 e 200 mil views. No 13Instagram, a banda tem 14 mil seguidores. Todos os integrantes vivem da banda, que segundo o próprio líder, Guilherme de Bem, é uma empresa. Na entrevista realizada com o integrante do grupo, foram focadas as questões do uso das ferramentas digitais para se construir um público e administrar a banda, a relação deles com a imprensa, e como que funciona o trabalho do artista da era digital. Foi observado que todos do grupo tem uma função específica para fazer além de apenas cuidar da parte artística, e que um release, por exemplo, os próprios podem escrever. Porém, apesar de todos fazerem um pouco de tudo, há um

oficialmente em 7 de outubro de 2008. É o serviço de streaming mais popular e

usado do mundo. 12 YouTube é um site de compartilhamento de vídeos enviados pelos usuários

através da internet.

13 Instagram é uma rede social online de compartilhamento de fotos e vídeos

entre seus usuários, que permite aplicar filtros digitais e compartilhá-los em uma

variedade de serviços de redes sociais, como Facebook, Twitter, por exemplo.

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sistema de organização na banda, e ela funciona como uma empresa. Segundo o Guilherme de Bem, a música é o carro-chefe do produto cultural, mas só ela não movimenta ele. A Dona Cislene é toda setorizada, e existem sócios e terceirizados para realizarem serviços específicos, como assessoria de imprensa, por exemplo. O Guilherme fica encarregado da área comercial, venda de show, administrativo, financeiro, logística e equipe técnica. Nota-se que as funções e tarefas são sobrecarregadas, e o músico é multitarefa. Também tem 3 sócios que ficam responsáveis pelo marketing, produtos, redes sociais e relações públicas.

Percebeu-se também que as redes sociais tornam a relação do artista com o público muito mais próxima e direta, deixando os fãs mais inteirados com o produto e o que faz parte dele, e que também torna prático o contato profissional do artista, com os produtores e empresários, e todos do setor musical. A rede social hoje é como a identidade do produto, o porta voz, e por meio dela pode-se fazer estratégias específicas para expandir o público e segmentá-lo. Por exemplo, pode ser pagado alguns patrocínios de posts para controlar o alcance dele. Por meio desse estudo, pode ser controlado a região do público, faixa etária, e até qual o melhor horário, para ter uma fluidez e alcance melhor dos posts. O Facebook é a ferramenta que permite isso, mas segundo o entrevistado, é uma rede social que está prestes a se tornar obsoleta, pois o Twitter e o Instagram são mais utilizados hoje em dia, e que aos poucos as pessoas estão deixando de usar o Facebook com mais frequência. Mas ainda assim, foi ressaltado que o estudo feito nele é fundamental, e que até hoje a banda ainda faz, apesar da ressalva de que diminui a importância dele.

É importante ressaltar como as mídias tornam a relação do público com o produto com mais interatividade e até mesmo informal. A Dona Cislene foi pioneira, por exemplo, de um recurso de fazer grupos no 14WhatsApp com fãs de diferentes regiões do país. Isso tornou a relação bem mais direta e próxima entre público e artista. Apesar do contato ao vivo em shows, que era a única forma de relação do público com o produto antigamente, esse contato ainda faz com que o público estivesse mais distante do artista. É perceptível que com as ferramentas o público torna-se mais próximo e

14 WhatsApp Messenger é um aplicativo multiplataforma de mensagens

instantâneas e chamadas de voz para smartphones. 15 Stream pode ser definido como um fluxo de dados em um sistema

computacional. Quando um arquivo é aberto para edição, todo ele ou

como uma comunidade, estando mais participativo no trabalho da banda.

Foi concluído também que apesar de hoje existir 15strems que podem gerar renda e capital ao produto, a fonte que gera mais dinheiro ao artista ainda são os shows, e que os produtos da banda, como CDs, camisetas e adesivos, por exemplo, podem ser vendidos online, o que gera uma demanda de vendas maior, pois fica sempre disponível, e não fica dependendo somente dos shows para vender fisicamente.

No que se refere à relação do produto com a imprensa, compreendeu-se que ela não teve nenhuma colaboração significativa para a análise do conteúdo do produto. De acordo com o líder do grupo, hoje a imprensa é mais questão de status, e valoriza mais a polêmica do que a qualidade. Questionado sobre alguma recordação de algum jornalista que tenha colaborado para o amadurecimento da banda, Guilherme de Bem contou um causo até um tanto infantil, e que não remete nada sobre o conteúdo de seu produto cultural. Interpelado sobre o jornalista que fez a tal crítica para conseguir contato para também fazer uma entrevista e acrescentar neste trabalho, foi ressaltado que o jornalista era mal-humorado e que iria tentar falar com ele. Depois foi constatado que não houve resposta do tal jornalista, e não foi dado nome nem veículo dele.

8. Análise das matérias sobre o produto nos portais G1 e Correio Braziliense

No período de 7 de fevereiro a 31 de maio foram analisados os textos sobre a banda publicados nos portais G1 e Correio Braziliense, e, no total, apenas 3 textos foram publicados nos portais, sendo 2 no Correio Braziliense e 1 no G1. Os textos remetem a lançamentos de uma música e clipe feita para o carnaval e outro de uma música e clipe recém estreados na rede, publicados em 7 de fevereiro e 31 de maio, no portal do Correio Braziliense, respectivamente, e outro publicado no G1, falando sobre o show que a banda iria fazer naquele período gratuitamente, em um shopping de Brasília

Foi observado como ambos os portais

parte dele fica na memória, permitindo assim alterações, por isto

somente quando ele é fechado, tem-se a garantia de que nenhum dado

se perderá ou será danificado.

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exploram bem as ferramentas oferecidas pelo jornalismo online (interatividade, instantaneidade, hipertexto, multimídia e memória). Também foi considerado a qualidade do conteúdo da informação sobre o produto, levando em conta se houve alguma percepção sobre os lançamentos de forma que emitem alguma observação crítica e analítica.

De acordo com Piza (2008), o jornalismo cultural já não é o mesmo, e ele afirma que “críticos parecem definir cada vez menos o sucesso ou fracasso de uma obra ou evento” e que há um “rebaixamento geral dos critérios de avaliação dos produtos” (P.31). Realmente, nos três textos analisados, nenhum faz alguma ressalva que traz uma análise crítica e reflexiva sobre o conteúdo que está ali sendo exposto, todos são como releases escritos pela própria empresa, trazendo as informações triviais do lançamento, como o que é, onde é, quem é, quando, e de forma vaga, falam um pouco sobre a banda, para dá uma leve contextualizada no leitor. É como se a matéria estivesse sendo divulgada apenas como forma de publicidade para o produto.

É importante ressaltar o uso de recursos no campo online pelos dois portais. O Correio Braziliense explorou mais do que o G1. O primeiro direcionou a matéria para a editoria de Arte e Entretenimento, e utilizou hiperlinks que direcionava o leitor para outras matérias relacionadas à banda, inclusive, as duas matérias analisadas no período mencionado acima, estavam ligadas com os hiperlinks, e o link dos clipes também estavam disponíveis. Outro fator importante, é que o Correio utilizou nas duas matérias 16tags com 17rashtags. Nos dois portais, a interatividade por meio de comentários ao final da matéria estava disponível. Já no G1, a matéria estava mais enxuta, e direcionada para a editoria do Distrito Federal, como uma espécie de divulgação de eventos na cidade. Apesar de apenas divulgar quando ocorria e o que iria ocorrer e com quem, não houve cobertura do evento e nem análise do acontecimento. Nas três matérias analisadas, todas continham aspas da banda.

É notável que os recursos estudados neste trabalho que permeiam o campo do jornalismo online estão presentes nos textos analisados. Mas há a ressalva de que tem um lado positivo e negativo. Levando em conta o estudo dos autores em relação ao jornalista e artista da era

16 As tags na internet são palavras que servem justamente como uma etiqueta e

ajudam na hora de organizar informações, agrupando aquelas que receberam a

mesma marcação, facilitando encontrar outras relacionadas. 17 As hashtags são utilizadas para categorizar os conteúdos publicados nas

digital, nota-se que as possibilidades e recursos deixam a informação mais dinâmica e imediata, levando o conteúdo de forma muito rápida ao leitor. Quem não conhecia a banda, por exemplo, ao passar o olho nas matérias, já poderia ter toda a informação necessária para ter um contato direto com o produto cultural, sendo direcionada a buscar conhecer mais a respeito. É claro que existem ainda colunas específicas sobre determinados temas, e jornalistas que escrevem com mais aprofundamento, porém, esse tipo de jornalismo é mais escasso e já tem um público fechado. Tendo em vista a sobrecarga de demandas do jornalista da era digital, é compreensível a forma de passar a informação, mas isso também deveria ser uma preocupação dos artistas, pois ter um olhar conciso sobre seu conteúdo, só acrescenta para seu crescimento profissional, e não se importar com isso, colabora para que o jornalismo cultural seja cada vez mais raso.

9. Considerações finais

A internet proporcionou um amplo e impressionante espaço de trabalho para os jornalistas. O jornalismo hoje pode explorar diversas possibilidades: fotos, vídeos, áudios, textos extensos com hiperlinks, enfim, a convergência midiática torna possível que o profissional de comunicação apresente um conteúdo rico em detalhes e informações. Com isso, o jornalismo cultural passa a ter uma ótima oportunidade de ganhar mais notoriedade por conta do maior espaço que pode ter, podendo assim contribuir de forma efetiva com as artes e até mesmo o entretenimento.

Antes, o âmbito do jornalismo cultural discutia o espaço no impresso para publicar matérias mais elaboradas, hoje, isso já não é problema, pois o jornalismo online consegue proporcionar esse espaço. Porém, foi observado nas matérias analisadas nos portais G1 e Correio Braziliense que o conteúdo do texto se manteve na mesma função de todas as editorias: informar. Ou seja, perdeu-se, pelo menos nesse contexto, a essência do jornalismo cultural crítico e analítico.

É discutível até onde o conteúdo disseminado na imprensa pode ser crucial de maneira eficaz na sociedade vista como um todo. Afinal, jornalismo especializado em revistas geralmente assinadas por pessoas instruídas e

redes sociais, ou seja, cria uma interação dinâmica do conteúdo com os outros

integrantes da rede social, que estão ou são interessados no respectivo assunto

publicado.

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inseridas em classes mais altas, não é tão difícil encontrar. Porém, quando se trata de informações direcionadas para um público heterogêneo, elas não precisam ser simplórias.

O papel do jornalista na cultura é de muita relevância para enriquecer, cultivar, provocar discussão e proliferar conhecimento para a sociedade. É importante que se discuta para acabar com a prática de um jornalismo cultural vago, pois fica a impressão de que hoje é muito raro a mídia especializada se aprofundar em análises críticas dos lançamentos dos artistas. Com as matérias analisadas sobre o produto, conclui-se que geralmente o que acontece é o jornalista replicar o que a assessoria de imprensa do artista envia. Sem percepção pessoal, embasamentos concisos e dividir adequadamente a experiência. Considerou-se também, que os recursos online disponíveis na era digital, faz com que mude toda a organização e estrutura de trabalho tanto do jornalista, como também do artista.

10. Agradecimentos

Primeiramente, agradeço àquele que está

sempre presente em minha vida, e que sem ele,

com certeza eu não iria concluir meu curso e realizar este trabalho: eu mesmo.

Ao meu avô que só chamo de vô porque me ensinaram, pois ele merecia ser chamado de pai. E olha que ele é mais do que isso. Sem ele, também não seria possível realizar este trabalho, pois sempre esteve me ajudando, me buscando incontáveis vezes nas paradas de ônibus a qual descia tarde da noite, e que sempre esteve preocupado com meu bem-estar e fazendo de tudo por mim. A ele, à minha avó, meu muito obrigado, pois foi uma criação que me permitiu ter a sensação de ser criado por um pai e uma mãe.

Agradeço também ao meu pai de sangue e minha madrasta, que no início do meu curso foram fundamentais nas orientações desse universo acadêmico que era tão novo para mim. Minha madrasta foi fundamental nas orientações acadêmicas, muito obrigado. Meu pai tem uma participação fundamental neste curso, afinal, é um investimento dele. Muito grato por isso.

Não posso deixar de agradecer também à minha orientadora, que hoje a vejo como uma amiga, Marta Mencarini. Sua orientação e conselhos foram fundamentais neste trabalho, e, além de acadêmicas, foram humanistas. Isso fez toda diferença no processo de construção deste TCC.

Para finalizar, agradeço muito pela gentiliza da professora Ana Kalume, a qual cedeu uma entrevista sobre seu livro, e que passou

informações muito importantes para complementar o trabalho. Meu muito obrigado pela simpatia.

11. Referências

FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital. 2° ED. São Paulo: Contexto, 2008.

PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. 3º Ed. São Paulo: Contexto, 2008.

TEIXEIRA, Nísio. Impacto da internet sobre a atureza do jornalismo cultural. Disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/teixeira-nisio-impacto-da-internet.pdf

LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2ª Ed. 2000 – 7ª reimpressão. São Paulo: Ed. 34.

Portal G1. Distrito Federal. Disponível em: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/banda-dona-cislene-faz-show-gratuito-nesta-quarta-no-df.ghtml

Portal Correio Braziliense. Diversão e Arte. Disponível em:https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2018/05/31/interna_diversao_arte,685303/dona-cislene-anunnaki-clipe.shtml

KALUME MARANHÃO, Ana Carolina. O Jornalista Brasileiro: Convergência e Mudança Provocada pelas Tecnologias da Informação e Comunicação. 2018. PARRY, Roger. A Ascensão da Mídia. Ed.1. 2012.

MAGALHÃES, Marina. Polarizações do Jornalismo Cultural. 1ª Ed, 2008. Impresso. 3ª Ed, 2018. Digital. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 22ª Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

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12. Apêndice Perguntas – Dona Cislene – Brasília Guilherme de Bem – Guitarrista e líder da banda

1. Como foi o processo de construção do produto da banda? A Dona Cislene foi construída no decorrer dos anos. Ela surgiu em 2010 e desde lá a gente tenta passar uma mensagem para o público. A música hoje é apenas um dos produtos que uma banda oferece ao público, levamos ela como nosso carro-chefe, é claro, mas só ela, não movimenta a banda. Demoramos um pouco para entender isso e partir de 2013 que começamos a levar a Dona Cislene como uma empresa. Hoje ela é toda setorizada, cada sócio cuida de sua equipe e da sua área. Eu fico encarregado da área comercial, venda de show, administrativo, financeiro, logística e equipe técnica. Outros 3 sócios ficam com o marketing, produtos, redes sociais e relações públicas. Mas claro, todos nós cuidamos do nosso artístico. Temos ainda outras áreas que contratamos pessoas ou empresas para nos auxiliar, como assessoria de imprensa, por exemplo. Mas tudo que acontece, passa primeiro pelos sócios. Demoramos muito para chegar nesse modelo de negócio, não é algo simples e fácil de rolar. Depende muito do perfil de cada sócio, da área que ele tem facilidade e se ele está habituado a desenvolver esse setor. Fazemos reuniões periódicas com pautas previamente escritas para cada setor, e assim vamos desenvolvendo nossa empresa, da nossa maneira, sem intervenção.

2. A relação do artista com a imprensa mudou muito com o quadro atual. Vocês a vê como uma forma de divulgação do produto, ou ela também serve para colaborar com o conteúdo dele? A imprensa está mudando diariamente. Somos de uma nova fase que sair no jornal virou “status”. Sinto que

os jornalistas hoje procuram mais algo chamativo e polêmico do que uma matéria com qualidade.

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Recentemente tive um problema com um dos maiores jornais do Brasil, ele estava procurando polêmica onde

não tinha. Não respondi, desconversei e falei sobre a parte profissional e não pessoal. Ele ficou com raiva por

isso.

3. Você recorda de algum jornalista que escreveu uma m atéria que colaborou para o amadure-cimento da banda? Certa vez recebemos uma crítica de um jornalista de Brasília. Tocamos em um evento aberto ao público em

uma praça. Não me lembro se ele publicou no blog ou se falou pessoalmente, mas ele nos alertou sobre

palavrões e bebidas alcoólicas no local, pois tinham muitas crianças brincando e acompanhadas de seus

pais. No calor do momento eu pensei que era só mais uma pessoa enchendo o nosso saco e nos falando

como temos que nos portar, mas no dia seguinte achei interessante e levei em conta.

4. Conta um pouco como que funciona o trabalho feito n as mídias sociais e a importância dessas ferramentas para a construção do público de vocês. Hoje as redes sociais são as nossas melhores ferramentas de trabalho. Com ela chegamos em fãs,

produtores, empresários e todos os interessados em música. Nas redes sociais colocamos a nossa

identidade, ela é nossa porta voz, mas trabalhamos com muita cautela.

5. Vocês têm até grupo de Whatsapp com fãs de estad os diferentes, certo? Fala um pouco dessa proximidade que esse tipo de ferramenta proporciona na relação do público com o artista. Existe um ponto que atrapalha? Temos, acho que somos uma das bandas pioneiras nisso. É uma ferramenta que ajuda bastante, gostamos

de ter um contato direto com os fãs. Já tivemos alguns problemas, é claro, nossos telefones pessoais estão

lá. Já ligaram de madrugada, trote, entre outros. Mas geralmente a galera respeita.

6. Antigamente, no mainstream, os artistas lucravam mais com os shows que faziam. A venda de discos, por exemplo, a maior parte do lucro ficava para as gravadoras. Hoje existe Spotify, o Youtube, que serve como canal para o artista (se ele for don o dele) tirar uma renda em cima, dependendo da quantidade de views, e também tem o Instagram, que é um meio que hoje a maioria dos artistas usam. Como é administrada a parte financeira? O artista c ontinua tendo que lucrar com os shows ou as ferramentas digitais disponíveis já dão muitas poss ibilidades para criar um bom capital? Isso é complicado. Hoje, com certeza ganhamos mais dinheiro com os shows. Posso dizer que gira em torno

de 60% do nosso faturamento. Os streams pagam muito pouco, tem que saber trabalhar bem dentro das

plataformas, números não dão dinheiro. Mas é uma boa receita, não podemos deixar de trabalhar. Ganhamos

também na parte de direitos autorais e nos nossos produtos. Os produtos têm uma enorme vantagem, eles

divulgam e dão dinheiro.

7. Vocês criaram loja online para vender seus prod utos no site da banda? Sim. É fundamental. Também temos loja física em todos os shows.

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8. O jornalista, no advento da internet, acabou te ndo que se adaptar a uma realidade que ele passou a ser multifuncional. Não é só escrever, tam bém tem que dominar diversas ferramentas e ter outras habilidades. O artista acabou tendo que apre nder a ser multifuncional também. Você mesmo contou um pouco das várias demandas que tem para cu idar. Não é só tocar, certo? Como que organiza essa multifuncionalidade? Acha isso positivo ou ne gativo? Antigamente a banda fazia apenas o artístico, até alguém ver que existe uma possibilidade de vender bem

os produtos. Hoje em dia nós dividimos em inúmeras funções. O artístico é apenas uma delas. Acho isso

extremamente positivo e não me acostumaria a não fazer isso, sinceramente, não sei como as bandas faziam

isso antigamente. Eu não conseguiria. Para você cobrar algo de alguém é preciso que domine esse algo, por

isso fazemos tudo na Dona Cislene, e quando digo tudo, é tudo mesmo. Quando temos muito trabalho

podemos até terceirizar para alguém, mas ficamos em cima dessa pessoa/empresa para que seja do nosso

jeito, como se fôssemos nós fazendo aquilo.

9. O release de vocês, somente um contratado que é profissional de comunicação escreve, ou algum de vocês também escreve release? Sempre escrevemos tudo. Passamos para eles apenas para aprovarem ou mudarem algo. Para passarmos

um conteúdo certo e verdadeiro, preferimos passar tudo pela gente. Tudo que vai para a imprensa, jornal,

blog, tv, é a gente que faz.

10. O Facebook tem um sistema de alcance, algumas estratégias específicas para atingir uma determinada quantidade de pessoas e lugares, tem at é estudos de horários ideais para fazer posts. Também pode-se fazer um mapa de perfis de pessoas, para assim ir criando um público e divulgar o conteúdo e produto aos poucos, e o Facebook delimit a isso, pois tem que pagar uma quantia para liberar por mais tempo. Vocês fazem este tipo de tr abalho no Facebook? Sinceramente, estamos abandonando o Facebook. Creio que até 2020, se o Facebook não fizer algo

importante, acaba. Ainda temos a página porque somos “obrigados”, mas acho que não dura muito. Fizemos

estudos no Facebook e fazemos até hoje, é importantíssimo isso, mas sinto que já deu o que tinha que dar.

Conseguimos alcançar o que achamos importante com as outras redes.

11. E o Twitter? Twitter é a nossa principal fonte de interação com os fãs. Lá conversamos diretamente com eles, é uma

ferramenta muito menos “cordial”, mais indireta. Esse é o nosso público alvo.

12. O Twitter, no jornalismo, por exemplo, é uma f erramenta muito prática, porque transformou a pergunta “o que você está fazendo?”, para “o que es tá acontecendo?”. Para saber o que está rolando no mundo, só ir no Twitter, que dá para se inteirar de maneira rápida e prática. Para vocês, essa ferr a-menta traz qual objetivo, além da interação com os fãs? Nós ainda estamos levantando dados para podermos trabalhar melhor em cima dele. Geralmente é mais para

fazer posts informais, e também divulgamos nossos shows e lançamentos por lá, meio que dizemos também

o que está acontecendo com a banda: lançamentos, próximos shows, eventos, etc.

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13. Vocês o utilizam como uma forma de estarem int eirados com o âmbito profissional artístico para saber o que está acontecendo na área e ficam l igados na imprensa também? Sim, claro. Como você disse, o mundo passa por lá, antigamente as pessoas liam jornal e buscavam a tv.

Claro que ainda existem pessoas que tem esse hábito, mas muitas tiram proveito da praticidade de hoje, e

migram para os portais de notícia Terra, Uol, G1, etc. E é só entrar no Twitter para saber o que estão

noticiando, é bem prático.