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1 Material Teórico Direito Civil Parte Geral Tema 1 Sistema de Normas no Direito Brasileiro cod Civil_PGeral1701_a01 Conteudista Responsável: Profª Marlene Lessa

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Material Teórico

Direito Civil Parte Geral

Tema 1

Sistema de Normas no Direito

Brasileiro

cod Civil_PGeral1701_a01

Conteudista Responsável: Profª Marlene Lessa

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Introdução O ser humano é cercado por regras que são a base de comportamentos verificados na própria natureza: das mais simples reações químicas até os mais diversos mistérios que constituem a matéria. Tanto os fenômenos naturais como os comportamentos humanos seguem padrões que merecem relevância. Toda norma se constitui como resultado da observação de comportamentos que se repetem e dão origem à uma “regra abstrata”. As normas de cunho físico e de cunho ético são as que captam a atenção do ser humano, dada a relevância que possuem para as sociedades e para seu futuro. Interessa, para nossa aula, as normas de comportamento humano, eis que serão estas as que tratam da sociedade. Estão elas dispostas, desde os primórdios da civilização, como padrão do homem médio, como o ideal do corpo societário, como o “dever ser” do comportamento individual frente ao social. As normas jurídicas, por sua vez, são caracterizadas, no que tange à sua incidência, pela determinação e obrigatoriedade de seus comandos. Para Ritinha A. S. Georgakilas “em outras palavras, se considerarmos a norma do direito positivo como um signo discursivo,veremos que existe algo de muito peculiar na situação comunicativa que se instaura, a partir do momento em que a norma está apta a incidir, podendo produzir os seus efeitos típicos, vinculativos. Este “algo” peculiar, que distingue a situação comunicativa normativa das demais espécies de comunicação humana, vem a ser, justamente, a imperatividade da norma, ou seja, a obrigatoriedade da obediência aos seus comandos pelas pessoas a quem eles se dirigem”1.

Direito é a palavra que revela aquele que não se desvia, que mantém o curso reto, que se encaixa no padrão, no caso, da norma.

1 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia / Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo: Atlas, 1989, p. 98.

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Daí podermos afirmar que Direito é o conjunto de normas jurídicas e se destina a promover o controle da sociedade, permitindo que haja adequada inserção do indivíduo no corpo social. O Direito permite a pacificação social, a medida que traça regras que delimitam a esfera individual de cada um, em respeito ao seu próximo, impondo sanções em caso de descumprimento. O Direito organiza o ente social ao proporcionar: estabilidade nas relações jurídicas, direção para objetivos de alcance social e atendimento das necessidades humanas. Nas palavras de Tercio Sampaio Ferraz Júnior: “a ciência dogmática do direito costuma encarar seu objeto, o direito posto e dado previamente, como um conjunto compacto de normas, instituições e decisões que lhe compete sistematizar, interpretar e direcionar, tendo em vista uma tarefa prática de solução de possíveis conflitos que ocorram socialmente. O jurista contemporâneo preocupa-se, assim, com o direito que ele postula ser um todo coerente, relativamente preciso nas suas determinações, orientado para uma ordem finalista, que protege a todos indistintamente2.”. É sabido, que foi entregue ao Estado. O Poder Legislativo tem a atribuição constitucional, no Brasil, de elaborar as leis velando pela sua conformação com o sistema jurídico vigente. A lei, no nosso país, é uma norma escrita e aprovada por um processo legislativo que tramita perante o Poder Legislativo. Nos lembra Kelsen que “norma é o sentido de um ato através do qual uma conduta é prescrita, permitida ou, especialmente, facultada, no sentido de adjudicada à competência de alguém3”.

2 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução do estudo do direito – técnica, decisão, dominação. São Paulo: Altas, 1988, p. 83. 3 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1987, p.5.

A quem foi incumbida a tarefa de discutir e

aprovar estas regras tão importantes ao ser

humano no ente social?

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Ainda, conforme as lições de Tércio Sampaio Ferraz Júnior4 “todo ato de legislação, realizado pelo poder competente e obedecidos os requisitos do ordenamento, é lei. (...) Leis materiais são caracterizadas por sua natureza (produção solene e institucionalizada de normas gerais) e leis formais ou caracterizadas pela forma (conteúdos que adquirem o caráter de lei porque obedecem à sua forma de produção)”. Enfatiza, também, Miguel Reale que “lei, no sentido técnico da palavra, só existe quando a norma escrita é constitutiva de direito, ou esclarecendo melhor, quando ela induz algo de novo com caráter obrigatório no sistema jurídico em vigor, disciplinando comportamentos individuais ou atividades públicas5”. As leis brasileiras passam por controle orgânico, sendo elaboradas de acordo com ditames constitucionais. Estudaremos a importância das leis e suas facetas neste encontro.

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro O Decreto 4.657, de 1942 é o diploma que estabeleceu todo o regime de princípios norteadores das leis e normas do direito. A denominação “Lei de Introdução ao Código Civil” foi utilizada por conta do então Código de 1916 que tratava de um código de normas (ou “a lei das leis”) em seu início. Posteriormente alterada pelo Decreto de 1942, não perdeu o caráter de regular situações jurídicas de todos os ramos do nosso ordenamento. Em 2010, com o advento da Lei 12.376/10, passou a ter expresso reconhecimento para alcance de todos os tipos normativos e não apenas no ramo do Direito Civil, como alguns argumentavam - que era o que lhe conferia o nome. Atualmente recebe o nome de LINDB, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. A função primordial da LINDB é explicitar a aplicação das normas em nosso sistema jurídico, como nos ensina a Prof. MARIA HELENA DINIZ6:

1. Início da obrigatoriedade legal – art.1o 2. Tempo da obrigatoriedade legal – art. 2o; 3. Eficácia da Ordem Jurídica – art. 3o; 4. Integração de lacunas – art. 4o; 5. Interpretação – art. 5o; 6. Direito Intertemporal – art.6o; 7. Direito Internacional Privado brasileiro – arts. 7º a 17; 8. Atos civis, no estrangeiro, das autoridades consulares brasileiras – arts.

18 e 19;

4 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução do estudo do direito – técnica, decisão, dominação. São Paulo: Altas, 1988, p. 211. 5 REALE, Miguel. Lições Prelimianres de Direito. – 17 ed rev e atual – São Paulo: Saraiva, 1990, p.163. 6 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1989, p.45.

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Início da Obrigatoriedade Legal

Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em

todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

Vigência É a aptidão para a lei incidir, para dar significação jurídica aos fatos. Se a Lei é vigente, ocorrem os fatos e efeitos nela previstos. A lei é apta para incidir sobre a sociedade. Se a lei é vigente sua observância é obrigatória. Para Hans Kelsen “a norma pode valer (ser vigente) quando o ato de vontade de que ela constitui o sentido já não mais existe”7. Nas lições de Miguel Reale8 “a vigência ou validade formal é a executoriedade compulsória de uma regra de direito, por haver preenchido os requisitos essenciais à sua feitura ou elaboração (...) o primeiro (requisito) se refere à ordem das competências do poder político, legitimidade do órgão emanador da regra. É necessário que o órgão que promulgou a regra tenha legitimidade pra fazê-lo, por ter sido constituído para tal fim”. Há ainda uma importante conceituação de Maria Helena Diniz no que diz respeito à vigência, a saber, “designaria, então, a existência específica da norma em determinada época, caracterizando o preceito normativo, que rege relações sociais aqui e agora (hic et nunc)9”. Também é necessário que tenha a competência para legislar sobre a matéria enfocada e que o procedimento de elaboração da lei tenha sido respeitado.

7 KELSEN, Hans. Op. cit p. 11. 8 REALE, Miguel. Op. cit p. 108. 9 FERRAZ, Júnior; Tércio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia / Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo: Atlas, 1989, p.68.

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Elaboração da Lei A lei para poder incidir deve ser submetida a processo de elaboração. A Lei Complementar 95/1998 determina as regras para estruturação legal:

Art. 3o A lei será estruturada em três partes básicas: I - parte preliminar, compreendendo a epígrafe, a ementa, o preâmbulo, o enunciado do objeto e a indicação do âmbito de aplicação das disposições normativas; II - parte normativa, compreendendo o texto das normas de conteúdo substantivo relacionadas com a matéria regulada; III - parte final, compreendendo as disposições pertinentes às medidas necessárias à implementação das normas de conteúdo substantivo, às disposições transitórias, se for o caso, a cláusula de vigência e a cláusula de revogação, quando couber. Art. 8o A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. § 1o A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. § 2o As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial. Art. 9o A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas.

Assim, a lei federal formalmente elaborada, incide sobre todo o território nacional. Alguns doutrinadores apontam esta incidência nacional da lei como resultado do “princípio da vigência síncrona” da lei, a saber, ao mesmo tempo ela deve ser obedecida no Brasil e onde for obrigatória a norma brasileira no exterior. Prazo Se nada estiver estipulado a lei começa a viger 45 dias após sua publicação. No estrangeiro o prazo é de 3 (três) meses:

LINDB, Art. 1O, § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.

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Vacatio Legis É a “vacância da lei”, ou seja, o período, o lapso temporal entre a PUBLICAÇÃO da lei (em Diário Oficial) e sua vigência. Não adianta a lei ser publicada e todos desconhecerem seu conteúdo - no mundo real. Para que a coletividade possa ser cientificada da lei há este prazo para cumprimento do preceito que vigorará.

LINDB, Art. 1O, § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

Interessante é observação do fenômeno descrito por Kelsen acerca da cronologia entre a vigência e a eficácia da norma jurídica: “uma norma jurídica entra em vigor antes ainda de se tornar eficaz, isto é, antes de ser seguida e aplicada. (...) Porém uma norma jurídica deixa de ser considerada válida quando permanece por muito tempo ineficaz. A eficácia é, nesta medida, condição da vigência, visto que ao estabelecimento de uma norma deve seguir a sua eficácia para que ela não perca sua vigência”. Acerca da eficácia da norma, deve ser enfatizado que esta qualidade “diz respeito às condições fáticas, axiológicas e técnicas da atuação da norma jurídica. A eficácia vem a ser a qualidade do preceito normativo vigente de produzir efeitos jurídicos concretos, supondo, não só a questão de sua condição técnica de aplicação, observância ou não, pelas pessoas a quem se dirige, mas também de sua adequação em face da realidade social, por ele disciplinada, e aos valores vigentes nesta sociedade10” (como Maria Helena Diniz bem detalha).

10FERRAZ, Júnior. Tércio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia / Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo: Atlas, 1989, p. 68.

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Tempo da Obrigatoriedade Legal

Caracteriza o caráter temporal, o período em que uma lei está em vigor - já que ela pode ser criada para existir durante certo período (que são as chamadas leis de vigência temporária) ou por período indeterminado (que são as leis de vigência permanente).

LINDB - Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

Portanto, o tempo da lei rege sua vigência. Na lei temporária, finalizado seu prazo de “validade”, ela também cessará. Ex. leis orçamentárias. Na lei permanente ela só deixará de existir se for REVOGADA (Princípio da Continuidade). Há que se esclarecer que uma norma, mesmo que não esteja mais em vigor, poderá continuar vinculando seus destinatários, uma vez que já teve seus efeitos cumpridos no mundo concreto, em atendimento ao art. 6o. Da LINDB e à Constituição Federal (art. 5o, XXXVI). Revogação É o fim, a extinção da norma, a perda da vigência da lei. Ela se torna sem efeito, sem obrigatoriedade. Espécies de revogação:

a. TOTAL ou “ab-rogação” – Exemplo: Lei 10.406/2002 – Novo Código Civil revogou totalmente a Lei 3.071/1916, o antigo Código Civil e a Primeira Parte da Lei 556/1850, o Código Comercial.

b. PARCIAL ou “derrogação” – Exemplo: Lei 11.698 de 2008 revogou

parcialmente o Novo Código Civil nos artigos 1583 e 1584, mas atribuiu a esses artigos nova redação, sobre a guarda compartilhada.

A revogação só existe se há conflito entre os textos das normas. Se o conteúdo se complementa ou um detalha o que o outro generaliza não é caso de revogação. A revogação expressa define quais leis ou disposições legais ela está revogando (art. 9o. da Lei Complementar 95/98), enquanto a tácita

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incompatibiliza o texto anterior com o posterior, prevalecendo o que a lei nova modificou. Repristinação É o “restabelecimento” da lei revogada. Ele é vedado, em regra, no nosso ordenamento jurídico. Está detalhado no § 3o do art. 2o da LINDB:

A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.

Eficácia da Ordem Jurídica

Para que o ordenamento jurídico seja eficaz, ele deve ser obedecido.

Diz Miguel Reale que “reconhecido o Direito, é ele incorporado à maneira de ser e de agir da coletividade (...) Não há norma jurídica sem um mínimo de eficácia, de execução ou aplicação no meio do grupo. (...) a regra de direito deve, por conseguinte, ser formalmente válida e socialmente eficaz”11. Arremata Theodor Viehweg12, que é possível utilizar a tópica como técnica de argumentação na análise da vigência e eficácia de uma norma. A tópica, neste caso “é uma técnica que busca assinalar sugestões, indicar possibilidades, desvendando caminhos ou vias, tendo por finalidade uma decisão”. Para saber se uma lei mostra-se eficaz são enfatizadas “premissas (topoi), sistemas e fundamentos que levam a uma conclusão plausível, mas não única”. Portanto, o interessado é levado a conhecer – de modo dinâmico, o conjunto de condições que estão sendo utilizadas – mas permitindo que o mesmo seja adaptado e maleável à outras mudanças necessárias.”. A eficácia vem a ser a qualidade do preceito normativo vigente de produzir efeitos concretos, supondo, não só a questão de sua condição técnica de aplicação, observância, ou não, pelas pessoas a quem se dirige, mas também de sua adequação em face da realidade social, por ele disciplinada, e aos valores vigentes nessa sociedade. (...)

11 MIGUEL, Reale. Op. cit. p. 113. 12 VIEHWEG, Theodor apud DINIZ, Maria Helena. FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia / Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo: Atlas, 1989, p 84.

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Por exemplo, a lei que determina a possibilidade de utilização de equipamento de vigilância indireta de condenado (tornozeleira eletrônica) – Lei 12.258/2010: a eficácia do uso de equipamento de monitoração eletrônica está sempre passando por aperfeiçoamentos para verificar se há condições, na realidade, de abranger mais pessoas condenadas que devem ficar à parte do sistema carcerário, mas com restrições à liberdade. O uso da tópica é relevante para soluções. Havendo perguntas, que ficam sempre abertas, há condições de se indicar mais premissas e, deste modo, ajustar às mudanças comportamentais do grupo social em questão. Em sentido técnico a eficácia de uma norma indica que ela teria possibilidade de ser aplicada, de produzir efeitos jurídicos, porque foram cumpridas as condições para isto requeridas (eficácia jurídica), sem que haja qualquer relação de dependência de sua observância ou inobservância pelos seus destinatários. Daí a necessidade de APLICAÇÃO DA LEI no mundo fático. Lei Neste contexto, pode ser definida como uma regra geral de direito, abstrata e permanente, dotada de sanção, expressa pela vontade de uma autoridade competente, de cunho obrigatório e forma escrita (VENOSA13).

LINDB - Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que

não a conhece.

A publicação da lei tem como finalidade marcar o momento de obrigatoriedade da lei. Publicar é tornar conhecido, público. A publicação determina que não será aceita a desculpa de ignorância do conteúdo legal14. Entre a publicação da lei e o prazo de vigência, temos a vacância da lei (vacatio legis), como vimos, para preparar a população para cumprir as exigências ou determinações que lhe serão impostas. Exemplo: Necessidade de uso de farol baixo, durante o dia – Lei 13.290/2016 -foi aprovada e publicada em Diário Oficial em 24 de maio de 2016 e entrou em vigor 45 dias depois para todos os motoristas se adaptarem.

13 VENOSA, Sílvio de Salvo.Direito Civil:parte geral – 2a ed. – São Paulo: Altas, 2002, p.37. – (Coleção direito civil; V.1). 14 É o princípio da irrelevância do desconhecimento da lei, o qual afasta a “exceptio ignorantiae juris”.

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Integração de Lacunas

Nem toda a situação jurídica pode ser antecipada pelo legislador ou prevista pela lei. E então, como agir em caso de omissão, falta de previsão da lei? Podemos exemplificar a questão dos danos causados por “hackers”, questões sobre “barriga de aluguel”, aplicação de células tronco, enfim, um infinito mundo de novos fatos e conflitos que podem ocasionar dúvidas sobre a aplicação da lei.

Como o Poder Judiciário não pode se eximir de julgar, em observância ao Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, há um sistema para equacionar os possíveis “brancos” na legislação. O artigo 4o da LINDB justamente aponta para a Teoria das Lacunas:

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a

analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

Analogia É o processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende o preceito legal a casos não diretamente compreendidos na descrição legal (VENOSA)15. Por exemplo, no caso da lei de arrendamento mercantil ou leasing, aplica-se o instituto da compra e venda e locação caso haja omissão de previsão expressa no caso concreto (analogia legal). Em havendo dificuldade para encontrar textos semelhantes é possível extrair de um complexo de normas a razão de identidade entre a norma encontrada e o caso a ser solucionado (analogia jurídica). Exemplo: mesmo antes de haver o Código Civil (1916) era utilizado o Decreto No. 2.681/1912 (das estradas de ferro) para casos em que se precisava aferir indenizações decorrentes de responsabilidade civil e culpa (art. 20 do Decreto). Portanto, como leciona Maria Helena Diniz16 “para integrar lacunas o juiz recorre, preliminarmente, à analogia, que consiste em aplicar, a um caso não regulado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma prescrição normativa prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado, fundando-se na identidade do motivo da norma e não na identidade do fato”.

15 VENOSA, Sílvio de Salvo. Op. Cit. p.48. 16 DINIZ, Maria Helena. As lacunas do Direito – 2 ed aum e atual – São Paulo: Saraiva, 1989, p.142.

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Costume Significa aplicar o uso e a convicção jurídica, sendo portanto a norma jurídica que deriva da longa prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato com a convicção de sua necessidade (MARIA HELENA DINIZ)17. Podem ser secundum legem (aqueles previstos na lei); praeter legem (aquele que não está previsto na lei, mas é admitido em caráter supletivo). Exemplo: cheque pós-datado = o cheque é ordem de pagamento à vista, mas tornou-se costume a sua emissão pós-datada; contra legem (aquele se forma em sentido contrário à lei) - SHIKICIMA18. Miguel Reale afirma que o costume jurídico é caracterizado por elementos fundamentais: “um é a repetição habitual de um comportamento durante certo período de tempo; o outro é a consciência social da obrigatoriedade deste comportamento (tal conduta é vista como necessária ou conveniente ao interesse social). De maneira mais objetiva poderíamos dizer que um costume adquire a qualidade de costume jurídico quando passa a se referir intencionalmente a valores do Direito, tanto para realizar um valor positivo, considerado de interesse social, como para impedir a ocorrência de um valor negativo, um desvalor”19. Alf Ross20 enfatiza que os costumes deram origem às regras tradicionais que o juízes se utilizavam para julgar, mas que aos poucos situações novas exigiram que os julgadores fossem descobrindo o que era adequado e correto para ser aplicado: “o costume é o ponto de partida natural da evolução jurídica (...). Uma decisão norueguesa refere-se ao caso do proprietário de um sítio em Trysil que apresentou uma demanda sustentando que, segundo o costume daquela região, os pequenos proprietários tinham o direito de se apropriarem da madeira caída que se encontrava em terra alheia. A existência desse costume não foi aceita”. Conclui o doutrinador que este caso seria um típico exemplo de costume jurídico, se tivesse sido acolhido. Não o foi porque o que regula a propriedade é a lei. Princípios Gerais de Direito São as regras antiquíssimas que se originam de valores e fundamentos inseridos, implícita ou explicitamente, nas sociedades de que se tem notícia e que acabaram se incorporando ao nosso sistema jurídico. Roberto Senise Lisboa nos lembra que se resumem a: honestae vivere (viver de modo honesto); neminem laedere (não prejudicar ou lesionar o próximo) e suum cuique tribuere (dar a cada um o que é seu).

17 DINIZ,Maria Helena. Op. Cit.p. 55. 18 SHIKICIMA, Nelson Sussumu et al. Direito civil – 3.ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: DJP Editora, 2008. – Coleção lições do direito para exame da OAB. 19 REALE, Miguel. Op. cit. p. 158. 20 ROSS, Alf. Direito e Justiça – tradução Edson Bini – revisão técnica Alysson Leandro Mascaro – Bauru, SP: EDIPRO, 2000. p. 121.

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Pablo Jimenez Serrano21 aponta outros cuja relevância os incorporou ao nosso sistema legal: “A ignorância da lei não exime de seu cumprimento”; “ninguém deve fazer justiça com as próprias mãos”; “liberdade é a faculdade natural de agir livremente em tudo o que a lei não proíbe”. Podemos, ademais, exemplificar a aplicabilidade de outros princípios gerais: Por exemplo: a Teoria da Aparência e o princípio da segurança jurídica. No próprio direito administrativo, a teoria da aparência encontra aplicação, como acontece em relação ao funcionário de fato, cuja validade de seus atos é reconhecida em relação aos terceiros de boa-fé. Na verdade a exigência da preservação da segurança das relações jurídicas e o registro da boa-fé de terceiro devem justificar o acolhimento da teoria da aparência22(NERY). Interpretação É o método no qual é perseguido o significado e o alcance da lei que se pretende aclarar, detalhar. Interpretar compreende aplicar “a hermenêutica” jurídica, ou seja, realizar uma atividade lógica de aplicação de regras e normas que solucionarão um caso concreto. As regras viabilizam entender o significado da norma, sem acrescentar, sem inovar, sem exceder o sentido legal. Segundo Pablo Jimenez Serrano23 a interpretação “é o processo pelo qual se determina o sentido e alcance da norma, ao ser identificada com uma relação jurídica. A hermenêutica é parte da ciência jurídica que tem por objeto o estudo e a sistematização de processos interpretativos.” A doutrina24 aponta como Métodos de Interpretação: a verificação gramatical (pelo sentido, pela etimologia e sintaxe das palavras), o histórico (comparação entre os projetos de lei, debates parlamentares, enfim, a história da aprovação da norma), sistemático (leva em conta todo o regramento, o conjunto, e não a norma isoladamente considerada) e o teleológico (o fim, o objetivo da norma):

21 SERRANO, Pablo Jimenez. Interpretação jurídica – 1 ed – São Paulo: Desafio Cultural, 2002, p.66. 22 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Novo código civil e legislação extravagante anotados: atualizado - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 1081. 23 SERRANO, Pablo Jimenez. Op. cit. p. 21. 24 Já mencionada: Maria Helena Diniz, Silvio Venosa, Ada Pellegrini Grinover.

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Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

Direito Intertemporal

Está previsto no art. 6o da LINDB. Envolve entendermos a regra de IRRETROATIVIDADE da lei. Então, uma nova lei que entra em vigor gera seus efeitos a todos (efeito geral) IMEDIATAMENTE, como regra.

Exceção: A lei deve respeitar o ATO JURÍDICO PERFEITO, o DIREITO ADQUIRIDO e a COISA JULGADA:

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.

Vejamos os exemplos...

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RE 205193 / RS - RIO GRANDE DO SUL RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 25/02/1997 Órgão Julgador: Primeira Turma E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO - CADERNETA DE POUPANÇA - CONTRATO DE DEPÓSITO VALIDAMENTE CELEBRADO - ATO JURÍDICO PERFEITO - INTANGIBILIDADE CONSTITUCIONAL - CF/88, ART. 5º, XXXVI - INAPLICABILIDADE DE LEI SUPERVENIENTE À DATA DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE DEPÓSITO, MESMO QUANTO AOS EFEITOS FUTUROS DECORRENTES DO AJUSTE NEGOCIAL - RE NÃO CONHECIDO. CONTRATOS VALIDAMENTE CELEBRADOS - ATO JURÍDICO PERFEITO - ESTATUTO DE REGÊNCIA - LEI CONTEMPORÂNEA AO MOMENTO DA CELEBRAÇÃO. - Os contratos submetem-se, quanto ao seu estatuto de regência, ao ordenamento normativo vigente à época de sua celebração. Mesmo os efeitos futuros oriundos de contratos anteriormente celebrados não se expõem ao domínio normativo de leis supervenientes. As consequências jurídicas que emergem de um ajuste negocial válido são regidas pela legislação em vigor no momento de sua pactuação. Os contratos - que se qualificam como atos jurídicos perfeitos (RT 547/215) - acham-se protegidos, em sua integralidade, inclusive quanto aos efeitos futuros, pela norma de salvaguarda constante do art. 5º, XXXVI, da Constituição da República. Doutrina e precedentes. INAPLICABILIDADE DE LEI NOVA AOS EFEITOS FUTUROS DE CONTRATO ANTERIORMENTE CELEBRADO - HIPÓTESE DE RETROATIVIDADE MÍNIMA - OFENSA AO PATRIMÔNIO JURÍDICO DE UM DOS CONTRATANTES - INADMISSIBILIDADE. - A incidência imediata da lei nova sobre os efeitos futuros de um contrato preexistente, precisamente por afetar a própria causa geradora do ajuste negocial, reveste-se de caráter retroativo (retroatividade injusta de grau mínimo), achando-se desautorizada pela cláusula constitucional que tutela a intangibilidade das situações jurídicas definitivamente consolidadas. Precedentes. LEIS DE ORDEM PÚBLICA - RAZÕES DE ESTADO - MOTIVOS QUE NÃO JUSTIFICAM O DESRESPEITO ESTATAL À CONSTITUIÇÃO - PREVALÊNCIA DA NORMA INSCRITA NO ART. 5º, XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO. - A possibilidade de intervenção do Estado no domínio econômico não exonera o Poder Público do dever jurídico de respeitar os postulados que emergem do ordenamento constitucional brasileiro. Razões de Estado - que muitas vezes configuram fundamentos políticos destinados a justificar, pragmaticamente, ex parte principis, a inaceitável adoção de medidas de caráter normativo - não podem ser invocadas para viabilizar o descumprimento da própria Constituição.

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As normas de ordem pública - que também se sujeitam à cláusula inscrita no art. 5º, XXXVI, da Carta Política (RTJ 143/724) - não podem frustrar a plena eficácia da ordem constitucional, comprometendo-a em sua integridade e desrespeitando-a em sua autoridade. Indexação CV1642, CORREÇÃO MONETÁRIA, ÍNDICE DE ATUALIZAÇÃO, CADERNETA DE POUPANÇA, EFEITOS FUTUROS, LEI NOVA, INAPLICAÇÃO, ATO JURÍDICO PERFEITO, RECONHECIMENTO.

SÚMULA VINCULANTE No.1 (STF): Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante de termo de adesão instituído pela Lei Complementar 110/2001. Para saber mais sobre este assunto: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaSumulaVinculante/anexo/SUV_01_02_03__Debates.pdf

Direito Internacional Privado Brasileiro A LINDB vai tratar também, de regras que nosso país impõe à casos em que pode haver mais de duas legislações regendo uma determinada situação jurídica. O Brasil, por sua lei, vem dar limites ao ordenamento jurídico alheio. É uma forma de equacionar as relações jurídicas - de interesse do país - no cenário internacional. É sabido que existem fatos jurídicos que suplantam limites territoriais dos países. Portanto, nossa legislação vem suprir isso e regulamentar certos casos. A LINDB destina-se a apontar a resolução destas situações frente a conflitos entre normas internas e internacionais, considerando que a maior parte das relações jurídicas regulamentadas pelo Direito Internacional Privado tem natureza civil.

Portanto, os arts.7 a 17 da LINDB destinam-se a regular as situações em que leis de países estrangeiros e leis brasileiras são aplicadas em relações jurídicas que não coincidem exatamente com seus espaços territoriais ou fronteiras.

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São exemplos da eficácia da lei no espaço: herdeiro brasileiro possui bens localizados em diversos países – pode ser aplicada nossa lei; empresas nacionais que celebram contrato com empresas estrangeiras para cumprimento de obrigações em certo país - pode ser aplicada nossa lei ou a do local em que foi realizado o negócio, etc. São basicamente os princípios que regem tais questões: o da Territorialidade (a norma se restringe ao território do país em que foi aprovada) e o da Extraterritorialidade (a norma estrangeira pode ser aplicada por outros países em seus territórios, em casos específicos). O nosso país adotou o Princípio da Territorialidade Moderada, ou seja, o Brasil mescla os dois princípios acima, permitindo aplicação de norma estrangeira com relação ao “estatuto pessoal” do estrangeiro (ou seja, a situação jurídica do estrangeiro é considerada pela lei de seu país de origem, obedecendo, entretanto, o art. 17 da LINDB - soberania nacional, ordem pública e bons costumes).

Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. § 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração. § 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. § 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal. § 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal. § 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro. § 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, de 2009). § 7o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda. § 8o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre.

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Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. § 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares. § 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada. Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. § 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. § 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Art. 10 A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. § 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder. Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem. § 1o Não poderão, entretanto. ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira. § 2o Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptíveis de desapropriação. § 3o Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares. Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. § 1o Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações, relativas a imóveis situados no Brasil. § 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências. Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça. Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência.

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Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos: a) haver sido proferida por juiz competente; b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que, foi proferida; d) estar traduzida por intérprete autorizado; e) ) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal (atualmente a competência é do STJ).Parágrafo único. Revogado Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei. Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.

Atos civis, no estrangeiro, das autoridades consulares brasileiras.

As autoridades consulares brasileiras possuem competência para realização dos atos de Registro Civil e tabelionato para os brasileiros que estejam no exterior:

Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado. § 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo constar da respectiva escritura pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento. (Incluído pela Lei nº 12.874, de 2013). Vigência § 2º É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se dará mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a outra constitua advogado próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do

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advogado conste da escritura pública. (Incluído pela Lei nº 12.874, de 2013). Vigência Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e celebrados pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os requisitos legais. Parágrafo único. No caso em que a celebração desses atos tiver sido recusada pelas autoridades consulares, com fundamento no artigo 18 do mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado renovar o pedido dentro em 90 (noventa) dias contados da data da publicação desta lei.