curso de especialização em psicologia do trânsito

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UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO RICARDO PARANHOS MARQUES ASPECTOS DA PERSONALIDADE NO TESTE PALOGRÁFICO DE CANDIDATOS Á CARTEIRA DE HABILITAÇÃO. MACEIÓ - AL 2014

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Esta pesquisa objetivou comparar as avaliações e os pareceres realizados no teste Palográfico por dois peritos examinadores, assim como verificar possíveis características de personalidade que diferenciem os candidatos considerados aptos e inaptos na Avaliação Psicológica Pericial. Participaram 60 candidatos à obtenção da Carteira Nacional de Habilitação que passaram pelo processo de Perícia Psicológica numa clínica credenciada pelo DETRAN do interior de Minas Gerais, no período entre 01/10/2012 a 31/10/2012. Nesta pesquisa foram avaliados dados quantitativos referentes aos aspectos de: Produtividade Total, Níveis de Oscilação Rítmica (NOR), Agressividade, Emotividade e Impulsividade. Para a avaliação da Emotividade e da Agressividade também foram considerados dados qualitativos. Os protocolos foram corrigidos por dois psicólogos e os resultados comparados. Houve uma grande concordância entre os pareceres dados, assim como correlações altas e significativas na mensuração dos traçados avaliados. Em relação aos candidatos aptos e inaptos, a variável Produtividade total apresentou diferenças mais significativas, sendo que os inaptos apresentaram uma Produtividade mais rebaixada, em relação aos aptos. Ainda, verificou-se que os candidatos considerados inaptos mostraram-se mais passivos e com dificuldade de tomar decisões.

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  • 1

    UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA

    CURSO DE ESPECIALIZAO EM PSICOLOGIA DO TRNSITO

    RICARDO PARANHOS MARQUES

    ASPECTOS DA PERSONALIDADE NO TESTE PALOGRFICO

    DE CANDIDATOS CARTEIRA DE HABILITAO.

    MACEI - AL

    2014

  • 2

    RICARDO PARANHOS MARQUES

    ASPECTOS DA PERSONALIDADE NO TESTE PALOGRFICO DE CANDIDATOS

    CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAO.

    Monografia apresentada Universidade Paulista / UNIP, como parte dos requisitos necessrios para a concluso de Curso de Ps-Graduao Latu Sensu em Psicologia do Trnsito. Orientador: Prof. Robson Lcio da Silva Meneses.

    MACEI - AL

    2014

  • 3

    RICARDO PARANHOS MARQUES

    ASPECTOS DA PERSONALIDADE NO TESTE PALOGRFICO DE CANDIDATOS

    CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAO.

    Monografia apresentada Universidade Paulista / UNIP, como parte dos requisitos necessrios para a concluso de Curso de Ps-Graduao Latu Sensu em Psicologia do Trnsito.

    APROVAD0 EM: ______/______/______

    __________________________________________________

    PROF. MS. ROBSON LCIO DA SILVA MENESES

    ORIENTADOR

    __________________________________________________

    PROF. DR. MANOEL FERREIRA DO NASCIMENTO FILHO

    BANCA EXAMINADORA

    __________________________________________________

    PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA

    BANCA EXAMINADORA

  • 4

    DEDICATRIA

    Aos meus pais,

    Darclio Marques Filho

    Maria Natalina Paranhos Marques.

    minha esposa,

    Noelle Fonseca Cabral.

    Em especial,

    Minha av.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Meus agradecimentos a todos que, de alguma forma, contriburam para a

    realizao deste trabalho. Em especial:

    A Deus, por me conceder a oportunidade de receber uma educao que,

    infelizmente, ainda um privilgio de poucos.

    Aos meus pais, pelo apoio e amor incondicional em todos os momentos.

    minha esposa, pelo suporte e incentivo constantes.

    Aos coordenadores e colaboradores do curso de Ps-Graduao em

    Psicologia de Trnsito de Macei / AL, pela dedicao e trabalho.

    E a todos os professores do curso, pelo aprendizado. Em especial, o Prof. Dr.

    Manoel Ferreira do Nascimento Filho pela ajuda fundamental na concluso deste

    trabalho.

  • 6

    Ns no vemos o que vemos, ns vemos o

    que somos. S vem as belezas do mundo,

    aqueles que tm belezas dentro de si.

    (Rubem Alves)

  • 7

    RESUMO

    Esta pesquisa objetivou comparar as avaliaes e os pareceres realizados no teste Palogrfico por dois peritos examinadores, assim como verificar possveis caractersticas de personalidade que diferenciem os candidatos considerados aptos e inaptos na Avaliao Psicolgica Pericial. Participaram 60 candidatos obteno da Carteira Nacional de Habilitao que passaram pelo processo de Percia Psicolgica numa clnica credenciada pelo DETRAN do interior de Minas Gerais, no perodo entre 01/10/2012 a 31/10/2012. Nesta pesquisa foram avaliados dados quantitativos referentes aos aspectos de: Produtividade Total, Nveis de Oscilao Rtmica (NOR), Agressividade, Emotividade e Impulsividade. Para a avaliao da Emotividade e da Agressividade tambm foram considerados dados qualitativos. Os protocolos foram corrigidos por dois psiclogos e os resultados comparados. Houve uma grande concordncia entre os pareceres dados, assim como correlaes altas e significativas na mensurao dos traados avaliados. Em relao aos candidatos aptos e inaptos, a varivel Produtividade total apresentou diferenas mais significativas, sendo que os inaptos apresentaram uma Produtividade mais rebaixada, em relao aos aptos. Ainda, verificou-se que os candidatos considerados inaptos mostraram-se mais passivos e com dificuldade de tomar decises. Palavras-chave: Palogrfico, Avaliao Psicolgica, Motoristas, Psicologia do Trnsito.

  • 8

    ABSTRACT

    This study aimed to compare the analysis and conclusions in the Palographic carried out by two expert investigators, as well as to verify possible personality characteristics that differ from able to unable drivers in the Expert Psychological Evaluation. The period from 01/10/2012 to 31/10/2012, 60 applicants to driver's license that were in the Expert Psychological process in a authorized clinic by DETRAN in a city from Minas Gerais participated in the study. In this study were evaluated the values about Palographic Total Productivity, ROL Rhythm Oscillation Levels, Emotionality, Aggressively and Impulsivity. The protocols were corrected by two psychologists and the results were compared. There was a great agreement among the given conclusions, as well as high and significant correlations in the measurement of the evaluated plots. In respect to able and unable applicants, the Productivity variable showed more significant differences; the unable ones presented a lower productivity, with no proper control of it. It was also noted that the unable applicants showed themselves as more passive and difficulty in making decisions. Key-words: Palographic, Psychological evaluation, Drivers, Traffic psychology.

  • 9

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Classificao dos Aspectos da Personalidade ........................................ 39

  • 10

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1. Esquema do Simbolismo do Espao. ......................................................... 30

    Grfico 1 Percentil de concordncia entre Pareceres de dois Psiclogos Peritos. 41

    Grfico 2 Percentil da Produtividade entre os candidatos aptos. ........................... 43

    Grfico 3 Percentil da Produtividade entre os candidatos inaptos. ........................ 44

    Grfico 4 Percentil do Nvel de Oscilao Rtmica entre os candidatos aptos. ...... 45

    Grfico 5 Percentil do Nvel de Oscilao Rtmica entre os candidatos inaptos. ... 45

    Grfico 6 Percentil da Agressividade entre os candidatos aptos. ........................... 46

    Grfico 7 Percentil da Agressividade entre candidatos inaptos. ............................. 47

    Grfico 8 Percentil da Emotividade entre os candidatos aptos. ............................. 48

    Grfico 9 Percentil da Emotividade entre os candidatos inaptos. ........................... 49

    Grfico 10 Percentil da Impulsividade entre os candidatos inaptos. ...................... 50

    Grfico 11 Percentil da Impulsividade entre os candidatos inaptos. ...................... 50

  • 11

    LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS

    AP Avaliao Psicolgica

    AT Acidentes de Trnsito

    CFESP Centro Ferrovirio de Ensino e Seleo Profissional (extinto)

    CFP Conselho Federal de Psicologia

    CRP Conselho Regional de Psicologia

    CMTC Companhia Municipal de Transporte Coletivo

    CNH Carteira Nacional de Habilitao

    CONTRAN Conselho Nacional de Trnsito

    CRP Conselho Regional de Psicologia

    CTB Cdigo de Trnsito Brasileiro

    DENATRAN Departamento Nacional de Trnsito

    DNIT Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes

    DETRAN Departamento Estadual de Trnsito

    EP Entrevista Psicolgica

    IDORT Instituto de Organizao Racional do Trabalho (extinto)

    ISOP - Instituto de Seleo e Orientao Profissional (extinto)

    PMK Psicodiagnstico Miocintico

    PPET Psiclogo Perito Examinador de Trnsito

    SATEPSI Sistema de Avaliao de Testes Psicolgicos

    SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido

  • 12

    SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................................. 13

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ............................................................................. 17

    2.1 A Psicologia do Trnsito no Brasil ............................................................ 17

    2.2 Avaliao Psicolgica Aplicada ao Trnsito ............................................ 23

    2.3 Principais Problemas Enfrentados pela Avaliao Psicolgica da Personalidade em Contexto de Trnsito ............................................. 25

    2.4 O Teste Palogrfico .................................................................................... 29

    2.5 Pesquisas sobre Aspectos da Personalidade e Trnsito ........................ 33

    3 MATERIAIS E MTODOS .............................................................................. 37

    3.1 tica ............................................................................................................. 37

    3.2 Tipo de Pesquisa ........................................................................................ 37

    3.3 Universo ...................................................................................................... 37

    3.4 Sujeitos da Amostra ................................................................................... 37

    3.5 Instrumentos de Coleta de Dados ............................................................. 38

    3.6 Procedimentos para Coleta de Dados ...................................................... 38

    3.7 Procedimentos para Anlise dos Dados .................................................. 39

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ..................................................................... 41

    4.1 Produtividade .............................................................................................. 42

    4.2 Nvel de Oscilao Rtmica NOR ............................................................ 44

    4.3 Agressividade ............................................................................................. 46

    4.4 Emotividade................................................................................................. 47

    4.5 Impulsividade .............................................................................................. 49

    5 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................. 53

    REFERNCIAS ..................................................................................................... 56

    ANEXO ................................................................................................................. 58

  • 13

    1 INTRODUO

    Acidente de Trnsito (AT) toda ocorrncia, fortuita ou no, decorrente do

    envolvimento em propores variveis do homem, do veculo, da via e demais

    elementos circunstanciais, da qual tenha resultado: morte, ferimento, dano, estrago,

    avaria, runa, etc. Atribui-se gravidade do acidente o tipo do resultado produzido,

    podendo aquela ser dividida em: 1) acidente com morto, em que tenha ocorrido pelo

    menos uma fatalidade, independentemente da quantidade de pessoas e de veculos

    envolvidos; 2) acidente com ferido, em que tenha havido pelo menos um ferido

    (leso leve ou grave) e; 3) acidente sem vtimas, onde todas as pessoas envolvidas

    tenham sado com ausncia de leses (DNIT, 2010). De acordo com dados do

    Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes, em 2011 ocorreram

    182.900 acidentes de trnsito no Brasil, sendo que desses, 7.073 resultaram em

    mortes. Segundo dados do Ministrio da Sade, em 2010 foram 40.989 bitos

    resultantes de acidentes em vias terrestres.

    Arajo, Malloy-Diniz e Rocha (2009) afirmam que diversos fatores interagem

    para a ocorrncia de acidentes de trnsito: os que influenciam a exposio ao risco,

    como fatores econmicos e demogrficos; os que influenciam diretamente no

    envolvimento em acidentes, como velocidade excessiva ou inapropriada para a via,

    uso de substncias psicoativas e/ou entorpecentes, ser usurio vulnervel (como

    idosos, crianas), dirigir no escuro, fatores mecnicos, defeitos e outros problema

    relativos via de trfego e; os que influenciam na gravidade do acidente e na

    gravidade das leses.

    Shinar (19781) citado por Lamounier e Rueda (2005) afirma que de todos os

    fatores envolvidos, 80% dos acidentes de trnsito so causados por fatores

    humanos. Sabey e Staughton (19752), tambm referenciados por Lamounier e

    Rueda (2005), corroboram essa afirmao, ressaltando que 57% deles so devidos

    unicamente ao fator humano. As infraes de trnsito so percebidas como uma

    penalidade ao mau comportamento que pode expor o condutor e os demais usurios

    da via situaes de risco e, por sua vez, ocasionar em acidentes. Desse modo, as

    1 SHINAR, D. (1978). Psychology on the road: The Human Factor in Traffic Safety. Nova York: Wiley & Sons.

    2 SABEY, B.E. & STAUGHTON, G.C. (1975). Interacting roles of road environment, vehicle and road users in accidents. Paper presented at the 5th International Conference of the International Association for Accident and Traffic Medicine. Londres.

  • 14

    investigaes dos fatores humanos como responsveis pelas ocorrncias de

    acidentes de trnsito se torna relevante.

    A Psicologia do Trnsito surgiu na dcada de 1950 dcada do crescimento

    automobilstico no Brasil com a finalidade de estudar, por meio de mtodos

    cientficos vlidos, o comportamento de motoristas e os fatores que os alteram, na

    tentativa de minimizar o impacto negativo dos mesmos no contexto de trnsito.

    Trata-se de uma rea aplicada da Psicologia com muitas interfaces,

    predominantemente com a Avaliao Psicolgica (AP) que, por sua vez, j era

    utilizada no pas, desde a dcada de 1930, como instrumento de seleo profissional

    de futuros trabalhadores das ferrovias de So Paulo.

    Porm, um dos maiores problemas atualmente diz respeito aos poucos

    estudos que so realizados, no que concerne aos instrumentos psicolgicos e sua

    capacidade de atuar de forma preventiva e preditiva no comportamento dos

    motoristas. Alm disso, existe uma outra dificuldade vivenciada pelo prprios

    profissionais que utilizam a AP que refere-se falta ou insuficincia de critrios para

    considerar um motorista ou candidato motorista como inapto temporrio a exercer

    essa funo.

    De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2000), a Psicologia de

    Trnsito uma rea da Psicologia que investiga os comportamentos humanos no

    trnsito, os fatores e processos externos e internos, conscientes e inconscientes que

    os provocam ou os alteram (p.10). Desse modo, as tcnicas da Avaliao

    Psicolgica devem ser empregadas pelos psiclogos de trnsito com a finalidade de

    auxiliar a identificar adequaes mnimas para o correto e seguro exerccio da

    atividade (remunerada ou no) de conduzir veculo automotor, devendo tentar

    garantir a segurana do condutor, do trnsito e dos demais envolvidos. Portanto,

    deve haver uma preocupao por parte dos psiclogos em atuar de forma preventiva

    e preditiva durante o processo de avaliao, considerando os processos internos e

    externos do indivduo que possam refletir na ao e na reao do motorista em

    situaes de trnsito, evitando assim, que este se exponha a situaes de riscos e a

    outrem.

    Para Lamounier e Rueda (2005) as informaes cientficas que se tem at os

    dias atuais ainda no so suficientes para a compreenso do (mau) comportamento

    do condutor associados s caractersticas da personalidade. Embora existam muitos

    estudos que investigam fatores humanos que possam estar influenciando a

  • 15

    ocorrncia de acidentes, ainda no existe um estudo que defina claramente um perfil

    para a funo de motorista, seja no exterior ou no Brasil, em virtude da dificuldade

    de realizao desse tipo de trabalho. Contudo, os autores admitem que muito j se

    tem caminhado no sentido de traar um perfil psicolgico prximo do ideal. Os

    psiclogos de trnsito tm trabalhado de forma adequada ao longo desses anos,

    utilizando critrios medida que representam o atendimento dos objetivos da

    avaliao e feito uso dos estudos disponveis e dos prprios estudos conduzidos em

    suas clnicas, com motoristas infratores ou no, de diversas categorias, que exercem

    atividade remunerada ou no.

    Dentre os instrumentos de Avaliao Psicolgica utilizados pelos

    profissionais para avaliar os motorista e os candidatos Carteira Nacional de

    Habilitao (CNH), destaca-se o Palogrfico, como o teste de Personalidade mais

    utilizado no Brasil (CFP, 2006). Trata-se de um teste expressivo-grfico que avalia

    algumas caractersticas do rendimento e da personalidade do indivduo. Proporciona

    a investigao de aspectos da personalidade, como: emotividade, agressividade,

    impulsividade, forma de buscar e estabelecer contatos, constncia da conduta,

    adaptabilidade, entre outros, por meio do estudo dos impulsos psquicos e do

    simbolismo do espao, abrangendo os comportamentos adaptativos, expressivos e

    projetivos (Alves e Esteves, 2009).

    Diversos estudos como os de Alchieri e Stroeher (2002), Lamounier (2005),

    Johnson (1997), Mira (1984) citados por Lamounier e Rueda (2005), verificaram

    relao entre algumas caractersticas da personalidade, como a agressividade,

    emotividade (e outros aspectos afetivos do motorista, como irritabilidade, hostilidade

    e estresse) com a ocorrncia de infraes e acidentes de trnsito. Alves, Colosio,

    Custdio, Gotlieb, Meneses e Megale (1989), mencionados por Lamounier e Rueda

    (2005), realizaram um estudo com motoristas profissionais em uma Universidade e

    verificaram que 31% deles foram considerados inaptos na percia para motoristas.

    As caractersticas avaliadas e ponderadas para tal deciso foi agressividade, maior

    emotividade e excitabilidade em relao aos aptos.

    Com base nisso, pesquisas realizadas com candidatos CNH, relacionadas

    com caractersticas no Palogrfico podero fortalecer os estudos anteriores

    relacionados aos critrios para se considerar um candidato inapto temporrio. Nesse

    contexto, o presente trabalho teve dois objetivos, quais sejam, comparar as

    avaliaes e os pareceres realizados no teste Palogrfico por dois peritos

  • 16

    examinadores, assim como verificar possveis caractersticas de personalidade que

    diferenciem os candidatos considerados aptos e inaptos na Avaliao Psicolgica

    Pericial. A relevncia do estudo proposto se mostra evidente, pois pesquisas com o

    objetivo de apontar possveis caractersticas de personalidade que podem influenciar

    no envolvimento de acidentes de trnsito so necessrias, com a finalidade de

    aprimorar os critrios de avaliao dos candidatos obteno da CNH.

  • 17

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 A Psicologia do Trnsito no Brasil

    Os primeiros registros da Psicologia aplicada aos estudos dos transportes

    terrestres, inicialmente s ferrovias e, posteriormente, aos transportes sobre rodas,

    remontam ao incio do sculo XX, mais precisamente, dcada de 1920. Na dcada

    seguinte, se iniciaram as primeiras aplicaes de instrumentos psicolgicos de

    orientao e seleo profissional dos futuros trabalhadores das ferrovias em So

    Paulo, dando incio histria da Psicologia aplicada ao trnsito no Brasil. O

    surgimento e crescimento da indstria automobilstica no final da dcada de 1950 e,

    conseqentemente, o aumento da demanda por segurana, formao e orientao

    de motoristas impulsionaram os estudos e a aplicao da Psicologia do Trnsito

    para o transporte rodovirio, com o principal objetivo de tentar frear os crescentes

    ndices de acidentes (HOFFMANN, CRUZ e ALCHIERI, 2003; SILVA e ALCHIERI,

    2007).

    No final da dcada de 50, um marco importante na histria da Psicologia do

    Trnsito se consolidou: a contratao de psiclogos pelo Departamento Estadual de

    Trnsito do Rio de Janeiro (DETRAN RJ) com a finalidade de estudar o

    comportamento dos condutores. De acordo com Rozestraten (1983), isso ocorreu

    em virtude de o diretor do DETRAN RJ, na poca, se interessar por conhecer as

    causas humanas que provavelmente estavam envolvidas na ocorrncia de

    acidentes. A professora Alice Mira y Lopez3 seria contratada posteriormente para

    prestar assessoria e treinamentos aos psiclogos do trnsito.

    Em 1946 foi sancionada a Lei n 9.545 que instituiu o exame Psicotcnico

    para candidatos Carteira Nacional de Habilitao (CNH), sendo o Instituto de

    Seleo e Orientao Profissional (ISOP) o responsvel por realizar tais exames

    (atualmente extinto). A criao do ISOP nos anos 50, instituio vinculada

    respeitada Fundao Getlio Vargas do Rio de Janeiro fortaleceu a Avaliao

    Psicolgica no Brasil. O principal objetivo do instituto era desenvolver os mais

    modernos e eficazes recursos de psicologia aplicada, tendo sido o precursor do

    3 Alice Madelleine Galland de Mira y Lopez foi psicloga, casada com o psiquiatra e psiclogo espanhol Dr. Emlio Mira Y Lopez criador do Psicodiagnstico Miocintico (PMK) e do Instituto de Seleo e Orientao Profissional ISOP. Aps a morte do marido, passou a coordenar o setor do PMK no instituto.

  • 18

    desenvolvimento de atividades preventivas para condutores e profissionais da

    conduo, atravs do uso de testes psicolgicos.

    Hoffmann e Cruz (2003) dividiram a evoluo da Psicologia do Trnsito no

    Brasil em quatro grandes etapas: a primeira compreende o perodo das primeiras

    aplicaes de tcnicas de exames psicolgicos at a regulamentao da Psicologia

    como profisso em 1962; a segunda corresponde consolidao da Psicologia do

    Trnsito como uma disciplina cientfica; a terceira marca o desenvolvimento e a

    presena da Psicologia do Trnsito nos diversos mbitos e meios multidisciplinares

    e; a quarta fase que compreende desde a aprovao do Novo Cdigo de Trnsito

    Brasileiro, em 1997, passando por um perodo de maior sensibilizao da sociedade

    e dos psiclogos de trnsito na discusso sobre polticas pblicas de sade,

    educao e segurana, relacionados circulao humana.

    Entre as dcadas de 1920 e 1930 teriam sido criadas as primeiras condies

    para a germinao da Psicologia como cincia e profisso. Esse desenvolvimento

    seria conseqncia de trs vertentes na poca, a saber: 1) a instrumentalizao do

    conhecimento psicolgico; 2) a produo cientfica produzida no meio acadmico e;

    3) a introduo progressiva dos conhecimentos oriundos da Psicologia Industrial e

    do Trabalho, a exemplo da atuao do engenheiro Roberto Mange 4, na seleo e

    orientao de ferrovirios, em So Paulo, que se constituiu num marco ao

    desenvolvimento da Psicologia do Trnsito. O setor de transportes foi um dos

    primeiros do mundo em que houve a aplicao da psicologia realizada ainda por

    profissionais no especializados, a exemplo do engenheiro Roberto Mange, mas

    precursores nesse tipo de empreendimento.

    Dentre as caractersticas mais importantes dessa primeira etapa da histria

    da Psicologia do Trnsito, se destaca o surgimento de diversas instituies que

    utilizaram a psicologia aplicada, entre elas: o Laboratrio de Psicotcnica na Estrada

    de Ferro Sorocabana; o Instituto de Organizao Racional do Trabalho (IDORT), o

    Centro Ferrovirio de Ensino e Seleo Profissional (CFESP), o Servio Nacional de

    Aprendizagem Industrial (SENAI) e a Companhia Municipal de Transporte Coletivo

    (CMTC) em So Paulo, onde foi instalado o Servio Psicolgico para seleo de

    4 Roberto Mange (nascido Robert Auguste Edmond Mange, La Tour de Peilz, Sua, 31 de dezembro de 1885 So Paulo, 31 de maio de 1955) foi um engenheiro e professor suio naturalizado brasileiro. Veio para o Brasil lecionar Engenharia Mecnica e organizou o Servio de Ensino e Seleo Profissional da Estrada de Ferro Sorocabana. Em 1931, fundou o Instituto de Organizao Racional do Trabalho (IDORT). De 1940 a 1942 organizou, junto com lderes industriais como Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi, a fundao do Servio Nacional de Aprendizado Industrial (SENAI) e foi seu primeiro diretor, tendo exercido o cargo at falecer.

  • 19

    condutores de veculos. Das instituies criadas, destaca-se o ISOP Instituto de

    Seleo e Orientao Profissional que, sob a coordenao do psiquiatra e

    psiclogo espanhol Dr. Emlio Mira y Lopez, se tornou o principal agente

    dinamizador da Psicologia brasileira e instituio modelo na Amrica Latina. O ISOP

    passou a desenvolver pioneiramente atividades preventivas direcionadas a todos os

    condutores e profissionais da conduo. Em 1951, o ISOP passou a avaliar

    candidatos para a obteno da Carteira Nacional de Habilitao por meio de

    entrevistas, provas de aptido e personalidade. Dois anos mais tarde, em 8 de junho

    de 1953, o Conselho Nacional de Trnsito (CONTRAN) aprovou a resoluo que

    tornaria obrigatrio, em todo o pas, o Exame Psicotcnico para todos os aspirantes

    profisso de motorista.

    Por fim, em 27 de agosto de 1962, o Presidente Joo Goulart promulgava a

    Lei n 4.119, que disporia sobre os cursos de formao em Psicologia,

    regulamentando a profisso de psiclogo. A partir dessa poltica, a Psicologia entrou

    no rol das profisses reconhecidas em nosso pas, sendo definido com maior clareza

    o seu campo de ao profissional. O documento legitimou, do ponto de vista legal,

    as prticas psicolgicas j existentes at aquele momento, impulsionadas por suas

    importantes aplicaes s necessidades nos diversos setores da vida social, como

    educao, sade, trabalho e transporte, consolidando o marco histrico mais

    importante dessa primeira etapa da evoluo da Psicologia do Trnsito no Brasil.

    A segunda etapa corresponde consolidao da Psicologia no contexto da

    circulao humana. No que se refere Psicologia como cincia e profisso, o

    conceito de psicologia aplicada passa a ganhar um novo sentido, em que os

    aspectos psicolgicos passaram a ser concebidos segundo condies

    metodolgicas diferenciadas. Assim, o exame das aptides (psicotcnico) comeou

    a ser reconhecido como apenas uma das mltiplas possibilidades de se avaliar a

    personalidade, no sendo o nico mtodo disponvel para o exerccio da Psicologia

    aplicada s demandas da sociedade. Alm disso, a nfase em termos como

    aptides, traos e habilidades especficas diminuiu progressivamente entre os

    psiclogos, dando lugar concepo de mltiplos fatores que concorrem na

    avaliao da personalidade.

    Concomitantemente, a psicologia ampliou seus horizontes de preocupaes

    sociais com o desenvolvimento de um conjunto de estudos e intervenes sobre o

    cotidiano e problemas comunitrios e, tambm, verificou-se um aumento na

  • 20

    produo de pesquisas sobre novos materiais de exame psicolgico, especialmente

    sobre a validao e fidedignidade dos testes psicolgicos comercializados.

    No campo da Psicologia do Trnsito, os eventos mais marcantes dizem

    respeito aprovao do Cdigo Nacional de Trnsito em 1966, em substituio ao

    de 1941, que veio reforar a obrigatoriedade dos exames psicolgicos para a

    obteno da carteira de habilitao em todos os Estados brasileiros. Outro marco

    refere-se criao do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e dos conselhos

    regionais (CRPs) se tornando rgos fundamentais de incentivo luta e ao

    desenvolvimento da Psicologia do Trnsito no Brasil. No final de 1981, o CFP, com

    os propsitos de obter dados e critrios em relao ao exame psicolgico para

    condutores e de oferecer ao CONTRAN uma proposta de reformulao s normas

    vigentes na poca, nomeou os psiclogos Reinier Rozestraten, Efrain Rojas-

    Boccalandro e J.A. Della Coleta para que compusessem a Comisso Especial do

    Exame Psicolgico para Condutores.

    Destaca-se aqui a importncia fundamental do pesquisador Reinier

    Rozestraten para o amadurecimento da Psicologia do Trnsito no Brasil, conferindo-

    lhe um sentido mais amplo, no limitando seu papel natureza instrumental da

    avaliao da personalidade e das habilidades do condutor e, em menor grau, aos

    acidentes de trnsito. Atravs de seus estudos, de suas publicaes nacionais e

    internacionais, participaes em congressos, palestras e cursos nos DETRANs,

    universidades e empresas, a Psicologia do Trnsito passa ento a ser amplamente

    difundida no pas.

    A mobilizao em maior grau dos psiclogos do trnsito com vistas a

    assumirem o papel de profissionais responsveis para pensar a segurana viria

    brasileira e o aumento da conscientizao da sociedade brasileira, assim como do

    setor pblico, em atribuir ao fator humano a responsabilidade pelos acidentes de

    trnsito caracterizam a terceira etapa do processo de evoluo da Psicologia do

    Trnsito no pas, compreendida entre os anos de 1985 a 1998. Nessa fase, o papel

    do psiclogo do trnsito passou a ser discutido, se produzindo uma srie de crticas

    reflexivas acerca do rtulo de testlogo ou psicometrista que se construiu junto

    imagem do profissional.

    Em 1985, foi realizado em So Paulo o III Congresso Brasileiro de Psicologia

    do Trnsito, que contou com o Dr. Rozestraten como seu diretor cientfico. As

    discusses ali promovidas serviram para se repensar as condies tcnicas e

  • 21

    polticas, assim como a necessidade de reformular a Resoluo 584/81. Dois anos

    mais tarde entrou em vigor a Resoluo 670/87 que trouxe no seu texto antigas

    reivindicaes dos psiclogos de trnsito. Em 1988, foi realizado o 1 Congresso

    Internacional de Segurana no Trnsito, na Universidade Federal de Uberlndia, em

    parceria com a Universidade de Valncia na Espanha, que contou com a presena

    dos maiores especialistas da Psicologia de Trnsito dos dois pases. No ano

    seguinte, realizou-se o 5 Congresso Brasileiro de Psicologia do Trnsito e o 1

    Congresso de Educao e Fiscalizao do Trnsito realizados em Goinia em 1989.

    Em ambos os congressos, reuniram-se trs categorias profissionais, estabelecendo

    pela primeira vez uma comunicao interdisciplinar sobre essa temtica. O mesmo

    ano foi considerado o Ano Brasileiro de Segurana no Trnsito. O final da terceira

    etapa foi marcada por trs fatos importantes para a Psicologia do Trnsito: a criao

    da Associao Nacional de Psicologia do Trnsito, a criao do primeiro curso

    interdisciplinar de trnsito na Universidade Catlica Dom Bosco (Campo Grande,

    MS) e o anteprojeto de lei propondo um novo Cdigo de Trnsito Brasileiro, enviado

    ao Congresso Nacional em 1993.

    A quarta e ltima etapa da histria da Psicologia do Trnsito teve incio em

    1998, com a aprovao do Novo Cdigo Brasileiro de Trnsito. Para Hoffmann

    (2000), esse momento trouxe para a sociedade brasileira uma nova forma de se

    pensar sobre a circulao humana no mais a partir do automvel, avio, nibus,

    etc., mas a partir dos seres humanos, estabelecendo uma viso mais humanizada

    da circulao. Os problemas da circulao humana comeam a ser debatidos e

    tratados nas universidades como uma realidade que demanda polticas de sade e

    de educao, e no somente de segurana pblica. Os dados alarmantes sobre

    acidentes no trnsito, problemas de sade e transtornos psicolgicos relacionados

    ao trnsito catico do mundo moderno so fatores que vm motivando a insero da

    Psicologia no debate sobre polticas pblicas da circulao humana.

    Nessa ltima etapa que compreende o incio dos anos 2000 at o momento

    atual, se destacam importantes acontecimentos. Na esfera do ensino, os principais

    fatos so: o maior envolvimento das universidades na rea do comportamento

    humano; a criao de cursos de ps-graduao lato sensu em trnsito nas reas

    da Educao, Administrao e Psicologia e; a oferta de curso para formar

    Psiclogos Peritos Examinadores de Trnsito (condio exigida pelo CTB e

    Resoluo n 80/98 para atuar com avaliao psicolgica em candidatos obteno

  • 22

    da CNH). Alm disso, foram criados vrios ncleos de estudos e pesquisas sobre

    Psicologia do Trnsito em vrias universidades e, tambm, houve um significativo

    incremento de dissertaes e teses em temas ligados ao trnsito em diversas reas

    do conhecimento.

    O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia passaram a

    exercer um papel mais atuante na discusso sobre a responsabilidade social da

    Psicologia em relao s questes do trnsito e da circulao humana,

    especialmente quelas ligadas a polticas de planejamento urbano, meio ambiente,

    sade e educao, de forma a contribuir para uma melhor qualidade da interveno

    profissional. Em decorrncia dessa atuao mais significativa, foram criadas as

    cmaras ou comisses de Avaliao Psicolgica e de Trnsito nos Conselhos

    Regionais de Psicologia, ampliando o espao de interlocuo com os profissionais.

    Entres os eventos ocorridos nessa fase, destacam-se o I Frum Nacional de

    Psicologia do Trnsito, realizado em Braslia em 1999, que objetivou discusses e

    deliberaes polticas a serem implementadas na rea da Psicologia do Trnsito,

    ampliando a noo, at ento construda, de uma Psicologia baseada apenas no

    exerccio do exame psicotcnico; e o Seminrio Psicologia, Circulao Humana e

    Subjetividade, realizado em 2001 na cidade de So Paulo. Esse ltimo evento se

    props a discutir o papel da Psicologia no desenho de um futuro para a circulao

    humana que seja vivel e que promova a cidadania.

    O momento atual da Psicologia do Trnsito no Brasil vem expondo a

    necessidade de se construir novas referncias e perspectivas de avano nas

    questes relativas circulao humana. Embora muito se tenha avanado na

    Psicologia do Trnsito, quanto conscientizao de sua importncia para o

    entendimento dos aspectos acerca da circulao humana e do trnsito, a viso que

    se tem sobre esse profissional e a sua atuao de fato, ainda so muito limitadas. A

    atuao do Psiclogo do Trnsito est, em sua maioria, limitada Avaliao

    Psicolgica de candidatos obteno da CNH e de condutores que exercem

    atividades remuneradas. Isso tambm contribui pela viso limitada que a sociedade

    possui acerca desse profissional. A atuao dos Psiclogos avanou muito dentro

    das universidades e instituies de ensino, com produo de conhecimento e

    debates importantes, porm, a sua atuao efetiva, junto s empresas privadas e

    rgos do governo como um profissional que estuda o comportamento humano

  • 23

    diante das situaes da circulao e da mobilidade no trnsito, ainda pouco

    expressiva.

    Ainda preciso avanar muito qualitativamente na discusso acerca dos

    aspectos sociais, econmicos, ticos e tecnolgicos que envolvem a prtica da

    Psicologia do Trnsito. Para isso, todas as aes e intervenes profissionais

    devero estar sempre pautadas em princpios estruturados em conceitos claramente

    definidos e estrategicamente orientados para possibilitar um quadro de referncia

    terico e tcnico que d suporte prtica profissional daqueles que escolheram

    trabalhar pela promoo de comportamentos seguros no trnsito.

    2.2 Avaliao Psicolgica Aplicada ao Trnsito

    A Avaliao Psicolgica (AP) conceituada pelo Conselho Federal de

    Psicologia (2010) como um processo de construo de conhecimentos acerca de

    aspectos psicolgicos, com a finalidade de produzir, orientar, monitorar e

    encaminhar aes e intervenes sobre a pessoa avaliada, e, portanto, requer

    cuidados no planejamento, na anlise e na sntese dos resultados obtidos. Trata-se

    de uma atividade restrita ao psiclogo e isso implica que seus instrumentos, com

    destaque para os testes psicolgicos, sejam de uso restrito a esse profissional.

    Os princpios ticos que permeiam a AP preconizados pela Associao

    Americana de Psicologia (APA) em 1992 e revisados em 2002 so os seguintes:

    competncia, integridade, responsabilidade cientfica e profissional, respeito pela

    dignidade e pelos direitos das pessoas, preocupao com o bem-estar do outro e

    responsabilidade social. A responsabilidade social da Psicologia se expressa por

    meio de seus mtodos e suas tcnicas, os quais devem ser, obrigatoriamente,

    confiveis, vlidos e fidedignos, exigindo-se o uso de instrumentos especializados

    que passaram por estudos psicomtricos de alta preciso.

    No Brasil, a histria da Psicologia aplicada ao trnsito remonta dcada de

    1930, quando se iniciaram as primeiras aplicaes de instrumentos psicolgicos

    voltados para a orientao profissional e seleo de pessoal, entre os futuros

    profissionais que trabalhariam na expanso das ferrovias em So Paulo. Nas

    dcadas seguintes, principalmente 1950 e 1960, em razo do crescimento da

    indstria automobilstica e do aumento da demanda por segurana, formao e

    orientao de motoristas, a Psicologia do Trnsito direcionou suas atividades para o

  • 24

    transporte rodovirio com o objetivo de tentar reduzir os crescentes ndices de

    acidentes.

    Concomitantemente, a Avaliao Psicolgica (AP) no Brasil ganhou fora nos

    anos 50 com a criao do Instituto de Orientao e Seleo Profissional (ISOP),

    vinculado Fundao Getlio Vargas do Rio de Janeiro, cujo objetivo era

    desenvolver os mais modernos e eficazes recursos de psicologia aplicada e foi

    precursor no desenvolvimento de atividades preventivas para condutores e

    profissionais da conduo, atravs do uso de testes psicolgicos.

    Em 1953, o Conselho Nacional de Trnsito CONTRAN aprovou uma

    resoluo que tornou obrigatrio o exame psicotcnico para motoristas profissionais.

    E, em 1966, foi aprovado o Cdigo Nacional de Trnsito que ampliou a

    obrigatoriedade dos exames psicolgicos para candidatos obteno da primeira

    carteira de motorista em todos os estados do pas.

    Podemos considerar que, entre as dcadas de 60 e 90, a Psicologia do

    Trnsito finalmente se consolidou no Brasil. A partir da dcada de 80, houve um

    importante aumento na sensibilidade da sociedade brasileira e da administrao

    pblica na avaliao do fator humano nos acidentes de trnsito. Na rea de

    aplicao de testes, a preocupao excessiva com traos e aptides foi sendo

    substituda, aos poucos, por uma nfase nos mltiplos aspectos da personalidade,

    tornando o enfoque psicolgico mais humano. Houve, tambm, uma grande

    mobilizao da categoria dos psiclogos do trnsito vinculados aos DETRANS, com

    o objetivo de assumirem o papel de profissionais responsveis por pensar sobre a

    segurana viria brasileira. A partir de 1998, com a entrada em vigor do Novo

    Cdigo Brasileiro de Trnsito, surgiram grandes debates sobre questes ligadas

    circulao humana, que motivaram a insero da Psicologia nas propostas de

    polticas pblicas sobre o tema. Alm disso, houve um maior envolvimento dos

    Conselhos Federal e Regionais na discusso sobre a responsabilidade social da

    Psicologia em relao ao trnsito e a criao de cmaras de Avaliao Psicolgica e

    de Trnsito nos Conselhos Regionais de Psicologia, ampliando a interlocuo com

    os profissionais.

    Desse modo, desde o incio dos anos 50 at hoje, a Avaliao Psicolgica

    (AP) se inseriu no processo de habilitao, sendo atualmente uma etapa preliminar,

    obrigatria, eliminatria e complementar para todos os condutores que exercem (ou

  • 25

    pretendem exercer) atividade remunerada com os veculos e candidatos obteno

    da habilitao.

    Porm, nos ltimos anos tem havido um crescente debate sobre a

    necessidade, ou no, da avaliao psicolgica no processo de obteno da carteira

    de habilitao. Muitas indagaes, que merecem por si s uma ateno especial,

    esto sendo levantadas nesse contexto, entre elas, questes intrnsecas sobre a

    segurana no trnsito, a validade dos testes psicolgicos e a capacidade do

    profissional da Psicologia em avaliar o perfil do futuro motorista.

    2.3 Principais Problemas Enfrentados pela Avaliao Psicolgica da

    Personalidade em Contexto de Trnsito

    Desde 1951 at os dias de hoje, a Avaliao Psicolgica, tambm

    popularmente conhecida como psicotcnico se inseriu no processo de habilitao

    de motoristas, sendo atualmente uma etapa preliminar, obrigatria, eliminatria e

    complementar para todos os condutores e candidatos a obteno da habilitao.

    Porm, o campo da Avaliao Psicolgica de condutores / candidatos marcado por

    dificuldades e algumas limitaes.

    Silva e Alchieri (2007) citam vrios estudos nacionais e internacionais que

    apontam tais dificuldades. Entre elas esto:

    a) A existncia de poucas pesquisas que comprovam a validade e

    fidedignidade da avaliao e dos instrumentos psicolgicos aplicados em

    motoristas;

    b) Ausncia de critrios precisos para avaliar o condutor;

    c) Deficincia na capacitao profissional de psiclogos;

    d) M qualidade do processo de avaliao psicolgica, observados

    em alguns departamentos de trnsito e clnicas credenciadas, como,

    espaos inapropriados para a aplicao, simplificaes e erros no uso dos

    testes, instrumentos copiados e estabelecimento de critrios menos

    rigorosos para alguns candidatos;

    e) Divergncias de posicionamento entre psiclogos peritos

    examinadores; entre outros.

  • 26

    No Brasil, a avaliao psicolgica da personalidade em contexto de trnsito

    largamente difundida e utilizada, sendo os aspectos da personalidade desviantes

    dos padres da normalidade constantemente relacionados com os acidentes de

    trnsito. Embora existam inmeras pesquisas que associam os desvios de

    personalidade com comportamentos inadequados ao trnsito, Alchieri e Stroeher

    (2003) observaram uma diversidade de instrumentos e critrios utilizados pelos

    psiclogos, bem como a falta de padronizao no processo avaliativo, sendo

    identificados 14 instrumentos usados para avaliar personalidade em todo o pas e

    um total de 2.056 indicadores para classificar o indivduo apto/inapto.

    A resoluo n 012, de 20 de dezembro de 2000, do Conselho Federal de

    Psicologia reconhece haver a necessidade de uma sistematizao mais objetiva das

    caractersticas do perfil do condutor que se avalia hoje. Segundo a resoluo,

    existem perfis j provisoriamente definidos pelos psiclogos que atuam na rea de

    Trnsito, que devem ser utilizados na medida em que representem satisfatoriamente

    o atendimento dos objetivos da Avaliao. reconhecida a impossibilidade, nesse

    momento, de estabelecer um perfil diferenciado para condutores amadores e

    profissionais, sendo objeto de investigaes ainda a serem realizadas pelo Conselho

    Federal de Psicologia.

    Percebe-se que existem trs tipos de dificuldades e/ou limitaes no campo

    da Avaliao Psicolgica: o primeiro tipo refere-se formao do profissional que

    lida com avaliao. Ou seja, esto includos nesse grupo todos aqueles fatores

    ligados capacidade profissional do psiclogo avaliador, como a qualidade da sua

    avaliao, o conhecimento sobre o uso das condies adequadas para a aplicao

    dos testes, como espaos e condies apropriados, o uso correto e padronizado dos

    testes, sem utilizar cpias nem realizar simplificaes e, tampouco, utilizar critrios

    diferentes para os candidatos. O segundo tipo de dificuldades diz respeito s

    limitaes do prprio instrumento utilizado e s limitaes devido s pequenas

    quantidades de pesquisas e estudos disponveis, a respeito da validade e

    fidedignidade desses instrumentos. Por fim, o terceiro tipo de dificuldades lida com o

    objetivo da avaliao: o que se pretende avaliar? Qual o perfil ideal do bom

    motorista? E do mau motorista? Quais os fatores humanos, observados nos testes,

    que podem influenciar na ocorrncia de acidentes? Quais aspectos da

    personalidade diferenciam candidatos/condutores aptos dos inaptos?

  • 27

    De acordo com Lamounier e Rueda (2005), as informaes cientficas que se

    tem at os dias de hoje ainda no fornecem subsdios suficientes para a

    compreenso do mau comportamento no trnsito associados s caractersticas de

    personalidade. No que se refere ao estudo do perfil de motoristas, o movimento que

    comea a surgir no momento diz respeito a alguns autores que, de modo isolado,

    tem investigado fatores humanos que possam estar influenciando a ocorrncia de

    acidentes. Porm, ainda no existe um estudo que defina claramente um perfil para

    a funo de motorista, seja no exterior ou no Brasil, em virtude da dificuldade de

    realizao desse tipo de trabalho.

    Em contrapartida, importante ressaltar que os profissionais da rea no tm

    realizado a Avaliao Psicolgica sem critrios. Lamounier e Rueda (2005) afirmam

    que os psiclogos avaliadores tm utilizado critrios que representam, de forma

    adequada, o atendimento dos objetivos da avaliao. Segundo os autores, os

    profissionais tm feito uso dos estudos j mencionados e dos prprios estudos

    conduzidos em suas clnicas, com motoristas de diversas categorias, infratores (com

    extensa ficha de infraes) ou no, que exercem atividade remunerada ou no, etc.

    Estudos como o de Alchieri e Stroeher (2002), revelam, nos condutores, algumas

    caractersticas de personalidade predisponentes a acidentes de trnsito. Nesse

    sentido, Campos (1951), citado por Alchieri & Stroeher (2002), relata que a

    inteligncia, a percepo e a personalidade so fatores que podem estar associados

    ocorrncia de acidentes. Ainda, vrios outros estudos verificam uma forte conexo

    entre agressividade e trnsito, principalmente, entre a populao jovem e

    adolescente. Johnson (1997), mencionado por Lamounier e Rueda (2005),

    encontrou altas correlaes entre o ato de dirigir e os aspectos afetivos do motorista.

    Segundo o autor, h indcios de que irritao, agressividade e comportamento

    violento no trnsito esto aumentando. J Mc Guire (1972), referenciado por

    Lamounier e Rueda (2005) observou que o envolvimento em acidentes associava-se

    a sentimentos de hostilidade, agressividade e antecedentes de conflitos familiares.

    Lamounier (2005) desenvolveu uma pesquisa utilizando o Mtodo de Rorschach

    com motoristas infratores que se envolveram em acidentes de trnsito com vtimas

    fatais e motoristas que no possuam histrico de infraes e/ou acidentes e

    encontrou ndices mais altos de agressividade naqueles primeiros.

    Percebe-se, por essas discusses, que embora o campo da Avaliao

    Psicolgica de motoristas seja marcado por dificuldades e limitaes em sua

  • 28

    fundamentao e exerccio, no existindo consenso sobre sua validade em relao

    ao aumento da segurana nos deslocamentos nas vias pblicas, muito se tem

    avanado no sentido de se identificar caractersticas da personalidade humana

    relacionadas com o mau comportamento e acidentes no trnsito.

    A respeito das dificuldades enfrentadas pela Avaliao Psicolgica sobre a

    ausncia de critrios precisos para se avaliar o candidato/condutor ou mesmo

    ausncia de parmetros bem delineados que diferenciem os candidatos aptos dos

    inaptos, a prtica observada nas clnicas credenciadas, envolvendo a avaliao dos

    psiclogos peritos, aponta para uma coerncia das interpretaes e,

    conseqentemente, uma concordncia nas concluses.

    importante salientar que Mira (1984), citado por Lamounier e Rueda (2005),

    recomenda aos profissionais que realizam avaliao psicolgica para motoristas por

    meio do PMK alguns cuidados. A autora menciona que nos casos em que o teste

    deixa dvida quanto a considerar o candidato apto ou inapto havendo um "balano"

    dos dados de adequao ou inadequao do teste, deve-se solicitar a dois outros

    colegas a sua apreciao. Caso a dvida persista, aconselha repetir a prova com um

    intervalo mnimo de 30 dias. O mesmo procedimento pode ser aplicado no teste do

    Palogrfico.

    Nesse sentido, nos casos de inaptido, se esta deciso no se apia na

    concomitncia de vrias provas, o julgamento realizado por um s traado no pode

    assumir um carter absoluto, pois h variabilidade normal em cada personalidade,

    sendo que apenas a repetio da prova pode informar sobre a magnitude e sentido

    dessa variabilidade e qual a rea da personalidade onde ela mais notvel.

    Portanto, a presente pesquisa ganha relevncia justamente porque tem o

    objetivo de comparar as interpretaes e as concluses de dois psiclogos peritos

    avaliadores que utilizam o teste Palogrfico, para verificar quis so as possveis

    caractersticas de personalidade que diferenciam os candidatos aptos dos inaptos.

    Alm disso, vai nos permitir observar ser est havendo uma coerncia na

    interpretao dos dados e na concluso das avaliaes realizadas.

    Contudo, indispensvel que os profissionais da rea da Psicologia

    investiguem e reflitam sistematicamente sobre essa prtica avaliativa e pautem suas

    aes sempre no sentido de sanar e reverter tais deficincias da Avaliao

    Psicolgica. essencial ao psiclogo assumir uma postura mais compromissada e

    buscar aes como: capacitar-se de modo adequado; realizar avaliaes

  • 29

    psicolgicas com mais critrio e qualidade, respeitando risca as normas tcnicas

    dos instrumentos; no favorecer candidatos e; principalmente, produzir pesquisas

    demonstrando os resultados de suas prticas.

    2.4 O Teste Palogrfico

    O Teste Palogrfico foi criado pelo psiclogo Salvador Escala Mil e utilizado

    no Instituto Psicotcnico de Barcelona. No Brasil, foi desenvolvido e divulgado por

    Agostinho Minicucci, tendo sido publicado pela primeira vez em 1976.

    O Palogrfico considerado um teste expressivo que proporciona a

    investigao de aspectos da personalidade por meio do estudo dos sinais grficos,

    no qual, durante o ato de desenhar, esto presentes os comportamentos nos nveis

    adaptativo, expressivo e projetivo (ALVES e ESTEVES, 2009).

    Segundo Allport e Vernon (1933), citado por Alves e Esteves (2009), pode-se

    focalizar o estudo da personalidade em qualquer um de trs diferentes nveis. O

    primeiro o nvel dos traos, interesses, atitudes ou sentimentos considerados como

    compondo uma personalidade interior; o segundo o nvel do comportamento e da

    expresso; o terceiro o nvel da impresso, da percepo e interpretao do

    comportamento pelo outro. E atravs da forma do movimento que se expressa a

    fora do impulso psquico, que pode se manifestar de diversas formas como, a

    amplificao do movimento, a acelerao da velocidade, o reforamento do trao,

    etc.

    Alm das caractersticas grficas, o Palogrfico tambm est focado em

    outros elementos que auxiliam na construo dos aspectos da personalidade. Entre

    eles, est destacada a importncia do simbolismo do espao. Segundo Mira (1987),

    citado por Alves e Esteves (2009), o espao psicolgico no neutro, mas sim

    dotado de sentido onde o movimento adquire uma funo da relao entre o

    indivduo e seu mundo. Esses movimentos executados pelo homem,

    voluntariamente ou no, sempre adquirem uma significao (p. 17).

    De acordo com Hughes (2001), citado por Alves e Esteves (2009), a atividade

    grfica, na qual se inclui a escrita, acontece nos planos: horizontal e vertical. No

    plano horizontal h trs direes: esquerda (ou trs), reta (ou vertical) e direita (ou

    frente). No plano vertical existem trs espaos ou zonas: superior, mdia e inferior.

    Para Hughes (2001), Max Pulver foi o pioneiro no estabelecimento do simbolismo do

  • 30

    espao, considerando a escrita como o caminho que conduz do Eu ao Tu. Pulver

    comparou a escrita ao esquema de uma cruz, dividindo o espao em quatro zonas:

    zonas superiores esquerda e direita e zonas inferiores esquerda e direita. A zona

    superior, como um todo, representa o aspecto intelectual e espiritual. A parte inferior

    simboliza o aspecto material, os instintos, a zona ertica-sexual e os smbolos

    coletivos. O lado esquerdo refere-se s relaes consigo mesmo, com o passado,

    lado introvertido e as fixaes infantis e maternais. O lado direito simboliza as

    relaes com o outro, com o futuro, o lado extrovertido e a autoridade.

    Posteriormente, s diagonais tambm foram atribudas significados, conforme o

    esquema ilustrado na figura 1.

    Figura 1. Esquema do Simbolismo do Espao.

    Fonte: Mas Pulver (1978).

    O teste palogrfico tem sido largamente utilizado no Brasil para a avaliao

    de motoristas e candidatos obteno da CNH, em clnicas credenciadas pelo

    DETRAN, como uma alternativa mais gil e rpida do Psicodiagnstico Miocintico

    PMK, j que ambos utilizam tcnicas que envolvem a realizao de traados

    simples, empregando o aspecto expressivo para a avaliao da personalidade

    (ALVES e ESTEVES, 2009, p.24). Pesquisas apresentadas no Relatrio Final da

    Ao Conjunta de Fiscalizao do Conselho Federal de Psicologia (2006) confirmam

    essa tendncia ao revelar que 49,5% dos psiclogos entrevistados em clnicas do

  • 31

    DETRAN utilizam sempre o Palogrfico como instrumento de Avaliao

    Psicolgica, enquanto que o PMK usado sempre por 23,4% dos profissionais.

    Embora o Psicodiagnstico Miocintico PMK no seja a primeira opo dos

    psiclogos na Avaliao Psicolgica, muitas pesquisas foram feitas com o teste.

    Boccalandro (1971, 1983), Mira (1984) e Quintela (1977), referenciados por

    Lamounier e Rueda (2005), afirmaram que o PMK oferece segurana na realizao

    do diagnstico para Avaliao Psicolgica no trnsito. Vieira, Amorim e Carvalho

    (1953), referidos por Lamounier e Rueda (2005), investigaram as principais causas

    de inaptido durante o processo de obteno da CNH. Os resultados apontam como

    causas, traos elevados de emotividade e de heteroagressividade, aliados a outros

    distrbios. Estudos de Mira (1984) com motoristas acidentados tambm constataram

    a presena de uma maior agressividade, com manifestaes de excitabilidade e

    impulsividade; forte inibio; forte emotividade e diminuio do tnus vital.

    (LAMOUSIER e RUEDA, 2005).

    Assim como o PMK, o teste Palogrfico utiliza tcnicas de anlise do

    comportamento expressivo atravs da observao e mensurao de traados

    grficos. Tambm utiliza anlise quantitativa e qualitativa para identificar

    caractersticas da personalidade. Dentre as caractersticas correlatas entre ambos,

    podemos citar algumas: 1) Agressividade, que pode ser classificada em: Auto-

    agressividade, ou seja, a agressividade dirigida para o prprio eu, de forma fsica

    ou racional ou; Hetero-agressividade, aquela que dirigida ao ambiente ou ao outro,

    podendo ser de forma fsica ou verbal; 2) Impulsividade, que constitui as atividades

    irrefletidas que o indivduo no capaz de conter; 3) Emotividade, determinada pela

    intensidade pela qual os choques ou comoes interiores repercutem nas funes

    orgnicas e psicolgicas do indivduo; 4) Instabilidade, ou seja, mudanas

    constantes de nimo que atuam sobre o organismo, excitando ou deprimindo sua

    atividade; 5) Excitabilidade, que constitui um aumento, uma excitao da atividade

    psquica, refletindo-se nos gestos; 6) Energia vital, que corresponde vitalidade,

    canalizao adequada da energia, constncia do nimo, manuteno da atividade e

    a firmeza das atitudes do indivduo, entre outras.

    Alm das caractersticas correlatas, o Palogrfico ainda avalia outros

    aspectos da personalidade que o PMK no estuda. Dentre eles, podemos citar: 1)

    Produtividade, que se refere quantidade de trabalho que o examinando capaz de

    fazer, tanto em termos profissionais como em outros tipos de atividade; 2) Nvel de

  • 32

    Oscilao Rtmica (NOR), que verifica a variabilidade da produtividade do trabalho

    nos diferentes tempos do teste, reproduzindo as possveis flutuaes de

    produtividade no desenvolvimento das tarefas; 3) Rendimento, que representa a

    relao entre a produtividade e o ritmo, permitindo observar, atravs de um grfico,

    o tipo de curva obtida que indica a regularidade ou a irregularidade no ritmo de

    trabalho e a tendncia fadiga; 4) Expansividade no contato, ou seja, a forma como

    o indivduo busca ou evita o contato com o outro; 5) Necessidade de contato,

    compreendido como o grau de vnculo que estabelece com os objetos ou com as

    pessoas; 6) Auto-estima, revelando a valorizao ou depreciao de si mesmo; 7)

    Flutuaes do nimo, do humor e da vontade, que relaciona-se maturidade e

    constncia da personalidade; 8) Depresso, atravs da sinalizao da queda mais

    ou menos brusca da tenso neuromuscular com reduo da atividade fsica e

    psquica; 9) Relacionamento interpessoal, atravs da maior ou menor distncia que

    o indivduo mantm em relao ao outro; 10) Adaptabilidade, ou seja, capacidade

    que o indivduo tem de se adaptar diante da realidade, se posicionar em relao ao

    passado e diante de situaes novas; entre outros aspectos.

    Enquanto que o PMK dispe de muitas pesquisas publicadas, o teste do

    Palogrfico no dispe de estudos expressivos, principalmente, no que concerne a

    relao das caractersticas psicolgicas com fatores ligados a acidentes, infraes

    ou mau comportamento no trnsito.

    Desse modo, a presente pesquisa se mostra importante para a comunidade

    cientfica, no sentido de contribuir com a produo de novos conhecimentos

    envolvendo os processos psicolgicos e o comportamento do motorista. Tambm

    faz-se importante para os profissionais da Avaliao Psicolgica, medida que se

    prope: a identificar as caractersticas de personalidade que diferenciem candidatos

    aptos e inaptos; a discriminar as caractersticas de personalidade mais recorrentes

    nos protocolos dos candidatos inaptos, para se ter uma referncia mais clara sobre

    caractersticas consideradas no-favorveis para a funo de motorista e; fornecer,

    com isso, subsdios para uma possvel elaborao de parmetros tcnicos que

    podero orientar, de forma mais objetiva, os psiclogos na Avaliao Psicolgica

    dos candidatos e condutores submetidos ao Palogrfico.

  • 33

    2.5 Pesquisas sobre Aspectos da Personalidade e Trnsito

    No desenvolvimento do presente estudo, foram abordados para anlise os

    seguintes aspectos de personalidade no teste Palogrfico: 1) Produtividade; 2)

    Nveis de Oscilaes Rtmicas (NOR); 3) Agressividade; 4) Emotividade e; 5)

    Impulsividade.

    A Produtividade se refere quantidade de trabalho que o examinando

    capaz de fazer, tanto em termos profissionais como em outros tipos de atividade. No

    Palogrfico, ela determinada pelo nmero total de palos (traos) que o avaliado

    produz dentro do tempo padro. Uma produtividade alta no teste denota boa

    capacidade para executar as tarefas, maior vivacidade, adaptao fcil s situaes

    e facilidade para resolver problemas, com rapidez na tomada de decises. Por outro

    lado, a produtividade baixa indica uma atividade mental mais tranqila, reflexiva e

    prudente e, muitas vezes, tambm pode revelar lentido mental, torpeza nas idias e

    dificuldades para tomar decises.

    Alm da produtividade, outro dado importante o Nvel de Oscilaes

    Rtmicas (NOR) no teste, que verifica a variabilidade da produtividade do trabalho do

    indivduo no decorrer da avaliao. O NOR reproduz as possveis flutuaes de

    produtividade nos diferentes tempos do teste. Dessa forma, os valores menores do

    NOR indicam regularidade e estabilidade da produtividade, enquanto que valores

    muito altos significam maior irregularidade no ritmo de trabalho.

    A agressividade no deve ser entendida apenas com um fator negativo, pois,

    conforme ensina Mira (1987), trata-se da uma fora propulsora que leva o indivduo

    a uma atitude de afirmao e domnio pessoal perante qualquer situao. Indivduos

    que apresentam nveis de agressividade dentro dos padres mdios, tendem a

    demonstrar maior controle dos seus impulsos agressivos. No Palogrfico, esses

    impulsos so detectados pela presena de ganchos nos palos, caracterizando

    dificuldades do avaliado em conter seus impulsos e agressividade (ALVES E

    ESTEVES, 2009, p. 133). Dessa forma, quanto maior for a incidncia de ganchos,

    maior ser a dificuldade de controle do indivduo.

    A Emotividade se caracteriza por vibraes, choques ou comoes interiores

    das funes psicolgicas e fisiolgicas. Pode ocorrer como um sobressalto ou

    perturbao interior que tem um efeito excitante ou deprimente, determinando um

    estado de nimo mais ou menos duradouro (ALVES e ESTEVES, 2009). Segundo

  • 34

    Mira (1987), a emotividade refere-se reao emergencial que um organismo

    produz quando no tem pautas preestabelecidas para reagir diante de uma situao

    nova. Trata-se de uma repercusso geral com vibrao somatopsquica que mostra

    o sistema adaptativo de uma pessoa. Ela normal quando os acontecimentos no

    repercutem de forma exagerada e as funes orgnicas e psicolgicas esto

    equilibradas, revelando um adequado sistema adaptativo. Quando a emotividade

    forte, os choques e mudanas de nimo so intensos, evidenciando maiores

    instabilidades afetivas e dificuldades de adaptao.

    No palogrfico, a emotividade identificada pela maior ocorrncia de

    irregularidades em vrios aspectos do traado. Entre elas esto: as irregularidades

    no tamanho dos palos, na distncia entre palos e linhas, no alinhamento, na presso

    do lpis, irregularidades generalizadas (que comprometam a qualidade do trao),

    entre outras. Quanto maior for a ocorrncia de irregularidades no protocolo, maior

    ser o valor atribudo intensidade da emotividade do avaliado.

    A impulsividade caracteriza a atividade irrefletida ou aquela que no pode ser

    contida pelo indivduo. Trata-se de uma tendncia imperiosa, irresistvel ao ato

    brusco, explosivo, instintivo, como um reflexo privado de avaliao, de controle e

    freio inibitrio. Nos indivduos que apresentam uma impulsividade elevada, a reao

    impulsiva se produz sem o controle reflexivo da conscincia, ocorrendo uma

    descarga das tenses afetivas de modo descontrolado, desprovido de autodomnio.

    No palogrfico, a impulsividade pode ser avaliada pelas diferenas dos

    comprimentos lineares dos traos. Quanto maior for essa diferena, maior ser o

    valor atribudo intensidade desse aspecto da personalidade.

    Esses cinco aspectos da personalidade no foram escolhidos ao acaso.

    Pesquisas realizadas, desde os anos 50, tm apontado para os principais fatores

    recorrentes em avaliaes da personalidade de candidatos considerados inaptos

    para conduzir veculos automotores.

    O primeiro trabalho identificado na literatura sobre pesquisa e personalidade

    foi o de Vieira e Cols., em 1956 (referenciados por SILVA e ALCHIERI, 2007), que

    investigaram o uso do PMK na seleo de motoristas. A amostra foi aleatria com

    4.935 motoristas. Os autores apontaram que 33,10% dos motoristas foram

    inabilitados no PMK por serem portadores de fortes traos de agressividade e

    emotividade em nveis elevados, aliados a outros distrbios. Chamaram a ateno

  • 35

    para o estudo da personalidade e dos fatores patolgicos, salientando o perigo dos

    emotivos e dos hiperagressivos ao volante.

    Boccalandro, Tolentino, Nogueira, Maia e Lima (1971), mencionados por Silva

    e Alchieri (2007), realizaram estudo com 200 condutores do sexo masculino, com

    nvel de instruo variando da alfabetizao ao ensino superior, para construir tabela

    do PMK para motoristas profissionais de So Paulo. Os autores concluram que os

    dados confirmam a hiptese de que as caractersticas de personalidade do grupo

    estudado difeririam da amostra de padronizao, proveniente de nveis

    socioeconmicos mais altos do Rio de Janeiro. O grupo de So Paulo mostrou-se,

    em geral, ndices maiores de excitabilidade, agressividade e impulsividade em

    relao ao grupo de padronizao.

    Grisci (1991), citado por Silva e Alchieri (2007), investigou a relao entre

    acidentes de trnsito e as variveis agressividade, atuao (acting-out) e culpa no

    teste Gestltico Visomotor de Bender. Participaram da pesquisa 60 motoristas

    profissionais de uma empresa, divididos em dois grupos, um com histrico de

    acidentes de trnsito e outro sem histrico. Os resultados apontaram que o primeiro

    grupo apresentou um nvel significativamente maior de agressividade e atuao em

    relao ao segundo grupo, apresentando ainda indicadores de agressividade em

    maior escala, dificuldade no controle dos impulsos agressivos em relao a si e ao

    meio ambiente, bem como dificuldade em relao a padres e limites

    preestabelecidos quanto s leis de trnsito e suas normas de segurana.

    Por fim, Lamounier e Rueda (2005) realizaram investigao com 110

    candidatos CNH para identificar, atravs do PMK, possveis diferenas de

    variveis de personalidade entre aptos e inaptos para dirigir e comparar as

    avaliaes dadas pelos dois peritos. A varivel agressividade apresentou diferenas

    significativas, os inaptos com auto-agressividade mais elevada e sem um controle

    adequado, sendo tambm considerados mais submissos e passivos, com

    dificuldades de tomar decises. Quanto aos pareceres, houve discordncia em

    apenas dois casos, o que, segundo os autores, refutaria afirmaes de que a

    avaliao psicolgica de motoristas feita sem parmetros preestabelecidos.

    Nas pesquisas citadas, possvel perceber que os fatores relacionados

    agressividade, emotividade e impulsividade so consideravelmente recorrentes em

    grupos de motoristas inabilitados em testes e/ou com histrico de acidentes de

    trnsito, assim como em candidatos considerados inaptos para conduzir. A

  • 36

    agressividade o fator mais recorrente nas pesquisas apresentadas, seguida dos

    fatores emotividade e impulsividade.

  • 37

    3 MATERIAIS E MTODOS

    3.1 tica

    A presente pesquisa segue as exigncias ticas e cientficas fundamentais

    conforme determina o Conselho Nacional de Sade CNS n 196/96 do Decreto n

    93.933 de 14 de janeiro de 1987 a qual determina as diretrizes e normas

    regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.

    Solicitou-se a autorizao para a realizao da pesquisa aos scios-

    proprietrios da clnica em questo, bem como, foi dada a devida autorizao pelo

    responsvel tcnico, para ter acesso aos testes psicolgicos.

    No foi necessrio que os candidatos e condutores assinassem o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, por se tratar de anlise de dados

    arquivados. Os referidos candidatos e condutores no participaram da pesquisa

    diretamente. Apenas foram analisados os protocolos dos testes Palogrficos e sua

    identificao foi preservada. O modelo de Solicitao de Dispensa do Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido encontra-se no anexo I.

    3.2 Tipo de Pesquisa

    A pesquisa utilizada foi exploratria-descritiva, com dupla combinao de

    abordagens, a saber, quanti-qualitativa.

    3.3 Universo

    O presente estudo abrangeu protocolos de testes psicolgicos arquivados em

    uma clnica mdica e psicolgica credenciada pelo DETRAN-MG, da cidade de

    Ipatinga-MG. Os protocolos foram corrigidos por dois Psiclogos Peritos

    Examinadores de Trnsito.

    3.4 Sujeitos da Amostra

    Dois Psiclogos Peritos Examinadores de Trnsito (2 PPETs) participaram da

    pesquisa. Tambm foram analisados os testes Palogrficos de sessenta (60)

  • 38

    candidatos obteno da Carteira Nacional de Habilitao (CNH) e condutores que

    realizaram Avaliao Psicolgica no perodo de 01/10/2012 a 31/10/2012. Do total,

    51 protocolos (85%) foram aprovados na Percia Psicolgica e nove protocolos

    (15%) foram considerados inaptos temporrios.

    Quanto ao sexo, 35 pessoas (58,3%) eram homens e 25 pessoas (41,7)%

    mulheres. A idade variou de 18 a 60 anos.

    3.5 Instrumentos de Coleta de Dados

    Foi aplicado o teste Palogrfico original distribudo pela editora Vetor,

    detentora dos direitos autorias e de comercializao do teste no Brasil.

    Os testes foram aplicados em carteiras tipo estudante, com tampo frontal e

    superfcie lisa. O lpis utilizado no teste pelos candidatos foi da marca Faber Castel

    n 2, de cor preta. Tambm foi usado um cronometro digital para a marcao do

    tempo. As instrues foram dadas na prpria sala, utilizando uma exemplificao na

    lousa branca e pincel atmico.

    O ambiente utilizado foi uma das salas da clnica credenciada pelo DETRAN-

    MG. A sala possui carteiras do tipo estudante com tampo de mesa centralizado,

    superfcie com textura lisa e cor neutra. As paredes e cortinas da sala so de cores

    neutras (brancas). A iluminao adequada, dotada de lmpadas fluorescentes com

    100W de potncia. O ambiente ventilado (possui ventilador de teto silencioso) e

    livre de rudos externos.

    3.6 Procedimentos para Coleta de Dados

    A coleta de dados foi realizada por dois psiclogos que possuam curso de

    Perito Examinador em Trnsito, credenciados pelo DETRAN-MG, em salas isoladas

    e com espao fsico adequado, numa clnica do interior do Estado de Minas Gerais.

    Aps a concluso das aplicaes dos testes, foi solicitado aos peritos,

    separadamente, que fizessem o laudo do teste e registrassem se consideravam os

    candidatos aptos ou inaptos. Posteriormente foram intercambiados os testes a fim

    de que o outro perito fizesse a avaliao e desse o parecer de apto ou inapto. Os

  • 39

    psiclogos deram seus pareceres sem que tivessem conhecimento sobre a

    concluso do outro, para que no fosse sugestionado.

    Nos casos de divergncia entre os pareceres, foi solicitada a avaliao de um

    terceiro Psiclogo Perito Avaliador de Trnsito, consultado especificamente para

    esta finalidade.

    3.7 Procedimentos para Anlise dos Dados

    Na etapa de anlise, foram comparados os testes a fim de identificar as

    caractersticas de personalidade mais recorrentes dentre os candidatos aptos e

    inaptos.

    Todos os 60 protocolos foram avaliados utilizando anlises quantitativa e

    qualitativa, conforme instrui o livro: O Teste Palogrfico na Avaliao da

    Personalidade dos pesquisadores Irai Cristina Boccato Alves e Cristiano Esteves,

    utilizado como livro-referncia na correo do teste.

    Para a presente pesquisa, foram analisados os seguintes aspectos dos

    candidatos, no teste Palogrfico:

    a) Produtividade total;

    b) Nveis de Oscilaes Rtmicas (NOR);

    c) Agressividade;

    d) Emotividade e;

    e) Impulsividade.

    O mtodo de classificao dos aspectos da personalidade utilizado neste

    trabalho seguir a Tabela 1 Tabela de Classificaes dos Aspectos da

    Personalidade (abaixo). As classificaes dos cindo aspectos: Produtividade, Nvel

    de Oscilao Rtmica, Agressividade, Emotividade e Impulsividade foram baseadas

    no Manual do Palogrfico (O Teste Palogrfico na Avaliao da Personalidade) de

    Alves e Esteves (2009). As classificaes aqui utilizadas esto de acordo com as

    Tabelas n 2, 4, 16, 19 e 20 do Manual ( p. 58, 61, 134, 147 e 148 resp.).

    Tabela 1 Classificao dos Aspectos da Personalidade

    ASPECTO DA PERSONALIDADE

    CLASSIFICAO

    PRODUTIVIDADE Inferior N total de Palos at 308.

    Mdio N total de Palos entre 309 518.

  • 40

    Inferior

    Mdio N total de Palos entre 519 781.

    Mdio Superior

    N total de Palos entre 782 1032.

    Superior N total de Palos acima de 1033.

    NVEL DE OSCILAO RTMICA (NOR)

    Muito baixo NOR entre 0 2,1 pontos.

    Baixo NOR entre 2,2 4,1 pontos.

    Mdio NOR entre 4,2 8,6 pontos.

    Alto NOR entre 8,7 13,1 pontos.

    Muito Alto NOR igual ou maior que 13,2 pontos.

    AGRESSIVIDADE

    Diminuda Porcentagem de ganchos abaixo de 11,3%.

    Mdia Porcentagem de ganchos entre 11,3 27,6%, sendo que valores entre 27,7 43,8 sero considerados como tendncia agressividade.

    Aumentada Porcentagem de ganchos entre 43,9 60,1%.

    Muito Aumentada

    Porcentagem de ganchos acima de 60,1%.

    EMOTIVIDADE

    Diminuda Nmero de irregularidades entre 0 a 1.

    Mdia Nmero de irregularidades entre 2 a 3, sendo que valores entre 4 a 5 sero considerados como tendncia emotividade.

    Aumentada Nmero de irregularidades entre 6 a 7.

    Muito Aumentada

    Nmero de irregularidades igual a 8.

    IMPULSIVIDADE

    Muito Diminuda

    Diferena entre maior e menor palo do protocolo, em mm: abaixo de 0,9.

    Diminuda Diferena entre maior e menor palo do protocolo, em mm: entre 0,9 3,3.

    Mdia Diferena entre maior e menor palo do protocolo, em mm: entre 3,4 8,3.

    Aumentada Diferena entre maior e menor palo do protocolo, em mm: entre 8,4 10,8.

    Muito Aumentada

    Diferena entre maior e menor palo do protocolo, em mm: acimda de 10,8.

  • 41

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    Primeiramente, 30 protocolos Palogrficos (50%) foram analisados por um

    Psiclogo Perito Examinador de Trnsito (Avaliador 1) e os pareceres de apto ou

    inapto foram registrados. No mesmo momento, outros 30 protocolos (50%) foram

    avaliados e o parecer registrado pelo outro avaliador (Avaliador 2). Posteriormente,

    os protocolos foram intercambiados para serem analisados e terem definidos os

    pareceres de ambos os profissionais.

    Os 60 protocolos foram reunidos e os resultados comparados. De todos os

    testes, em apenas dois casos, em porcentagem, 3,33% (3%) houve discordncia

    acerca do resultado. Em 58 protocolos, em porcentagem, 96,67% (97%) foi

    verificada a concordncia entre os pareceres dados por cada examinador para o

    critrio apto e inapto temporrio (ver grfico n 1).

    Grfico 1 Percentil de concordncia entre Pareceres de dois Psiclogos Peritos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

    Esses dados mostram que houve uma boa concordncia entre os avaliadores

    na hora de realizar a interpretao dos traados do teste. Esse fato era esperado

    pela experincia que os psiclogos possuam no trabalho com o Palogrfico.

    A discordncia ocorreu em apenas dois casos. Enquanto o Avaliador 1

    considerou as pessoas inaptas, o Avaliador 2 considerou-as aptas. Neste caso, uma

    terceira opinio foi considerada, emitida por um Psiclogo Perito Avaliador de

    Trnsito consultado especificamente para o caso de discordncias. O terceiro perito

  • 42

    considerou as duas pessoas inaptas, concordando com o parecer do Avaliador 1.

    Desse modo, para todos os efeitos, os dois protocolos em questo foram

    considerados definitivamente como inaptos temporrios.

    Vale ressaltar que esses dois casos no expressa um nmero significativo,

    representando apenas 3% do total da amostra. Dessa forma, possvel observar

    que, mesmo no havendo um perfil claro do motorista, os Psiclogos Peritos de

    Trnsito esto realizando avaliaes com critrios padronizados, o que corrobora as

    colocaes de Lamounier e Rueda (2005). Eles afirmam que psiclogos avaliadores

    tm conseguido utilizar critrios que representam, de forma adequada, o

    atendimento dos objetivos da avaliao.

    Esse resultado tambm pode ser um reflexo das diversas pesquisas

    desenvolvidas afim de investigar quais as caractersticas de personalidade so mais

    comuns em motoristas infratores e/ou que se envolveram em acidentes graves,

    como o caso das pesquisas de: Vieira e Cols (1956); Boccalandro, Tolentino,

    Nogueira, Maia e Lima (1971); Grisci (1991); Lamounier e Rueda (2005); Silva e

    Alchieri (2007) e outros. Dessa forma, as caractersticas apontadas nestes estudos

    como predisponentes a comportamentos de risco podem estar sendo utilizadas

    pelos avaliadores durante a interpretao dos testes e ponderadas na concluso

    final.

    Esse consenso entre os estudos publicados e a atuao dos psiclogos

    peritos avaliadores de trnsito demonstra que estes profissionais esto sintonizados

    com as pesquisas que surgem e, mais, revela sua preocupao em realizar um

    trabalho de Avaliao Psicolgica pautado nos seus princpios ticos preconizados

    pela Associao Americana de Psicologia (APA) que so: competncia,

    integridade, responsabilidade cientfica e profissional, respeito pela dignidade e

    pelos direitos das pessoas, preocupao com o bem-estar do outro e

    responsabilidade social. A responsabilidade social consiste em utilizar mtodos e

    tcnicas obrigatoriamente confiveis, vlidos e fidedignos.

    4.1 Produtividade

    Quanto ao segundo objetivo desse trabalho, que se props a verificar as

    diferenas entre os candidatos considerados aptos e inaptos, a varivel que mais

    apresentou diferenas significativas entre os grupos foi a Produtividade. As

  • 43

    classificaes do aspecto Produtividade foram baseadas na Tabela 1 -

    Classificao dos Aspectos da Personalidade, que, por sua vez, foi baseada no

    Manual do Palogrfico de Alves e Esteves (2009).

    Os candidatos considerados aptos apresentaram uma produtividade muito

    superior que os candidatos inaptos. Em porcentagem, 64% dos protocolos aptos

    apresentaram uma produtividade mdia e 11% obtiveram uma produtividade

    mdio superior, ou seja, acima da mdia. Dentre os protocolos com produtividade

    abaixo da mdia, tivemos 16% classificados como mdio inferior e apenas 9%

    classificados como inferior (ver grfico n 2).

    Grfico 2 Percentil da Produtividade entre os candidatos aptos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

    J os candidatos considerados inaptos apresentaram uma produtividade

    muito inferior que os candidatos aptos. Em porcentagem, 56% dos protocolos

    inaptos apresentaram uma produtividade considerada inferior e 22,22% mdio

    inferior. Isso significa que 78% dos candidatos inaptos apresentaram uma

    produtividade abaixo da mdia geral da populao, ou seja, abaixo do esperado. Os

    22,23% restantes apresentaram uma produtividade mdia. Nenhum dos protocolos

    inaptos apresentou produtividade acima da mdia (ver grfico n 3).

  • 44

    Grfico 3 Percentil da Produtividade entre os candidatos inaptos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

    4.2 Nvel de Oscilao Rtmica NOR

    O NOR Nvel de Oscilao Rtmica tambm demonstrou diferenas

    significativas entre candidatos aptos e inaptos. O NOR representa as flutuaes de

    produtividade que o candidato apresenta na avaliao. Quanto mais alto for o valor

    do NOR, maiores so as dificuldades do candidato manter um ritmo produtivo

    constante, indicando instabilidades na execuo das tarefas. As classificaes do

    NOR foram baseadas na Tabela 1 - Classificao dos Aspectos da Personalidade,

    que, por sua vez, foi baseada no Manual do Palogrfico de Alves e Esteves (2009).

    Em porcentagem, dentre os candidatos aptos, 47,06% (47%) obtiveram um

    NOR considerado baixo e 3,97% (4%) muito baixo. Isso significa que mais da

    metade dos protocolos aptos (51,03%) demonstraram maior estabilidade no ritmo de

    trabalho. Nveis de Oscilao Rtmica considerados como mdio foram obtidos por

    37,25% (37%) dos candidatos aptos, indicando que, embora possam apresentar

    algumas instabilidades no ritmo de produo, conseguem adaptar-se

    satisfatoriamente s tarefas rotineiras (Alves e Esteves, 2009).

    Apenas 11,72% (12%) dos candidatos aptos demonstraram um Nvel de

    Oscilao Rtmica considerado alto. Nenhum candidato apresentou um valor de

    NOR muito alto (ver grfico n 4).

  • 45

    Grfico 4 Percentil do Nvel de Oscilao Rtmica entre os candidatos aptos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

    Entre os candidatos inaptos, 45% obtiveram um Nvel de Oscilao Rtmica

    considerado como mdio, enquanto que 33% demonstraram oscilaes rtmicas

    altas, revelando maiores instabilidades e variaes no desempenho das tarefas.

    Em 22% dos casos, o NOR foi considerado baixo. Nenhum candidato inapto

    apresentou um NOR muito alto, nem muito baixo (ver grfico n 5).

    Grfico 5 Percentil do Nvel de Oscilao Rtmica entre os candidatos inaptos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

  • 46

    4.3 Agressividade

    A varivel agressividade tambm revelou expressivas diferenas entre

    protocolos aptos e inaptos. Tal fator foi identificado no Palogrfico pela incidncia de

    ganchos no protocolo dos candidatos. Os ganchos, formados por pequenos traos

    que formam um ngulo agudo em uma das extremidades dos palos, funcionam

    como uma conteno ou freio brusco dos impulsos, caracterizando dificuldades do

    avaliado em cont-los, configurando indicativos de agressividade (ALVES e

    ESTEVES, 2009).

    As classificaes referentes ao aspecto agressividade foram baseadas na

    Tabela 1 - Classificao dos Aspectos da Personalidade, que, por sua vez, foi

    baseada no Manual do Palogrfico de Alves e Esteves (2009).

    Em porcentagem, a maioria dos candidatos aptos demonstrou uma

    agressividade considerada mdia (39,22) e como tendncia (27,45%). Embora

    essa classificao tendncia seja considerada como um Desvio Padro da Zona

    Mdia no Manual do Palogrfico, para fins de anlise, ela foi definida aqui como uma

    classificao distinta da mdia. Dessa forma, a tendncia pode ser entendida

    como uma leve propenso ao comportamento agressivo.

    J os candidatos que revelaram uma agressividade considerada aumentada

    (7,84%) e muito aumentada (1,96%) no representam um nmero muito

    expressivo, pois juntos, totalizam apenas 9,8% do total dos protocolos aptos (ver

    grfico n 6).

    Grfico 6 Percentil da Agressividade entre os candidatos aptos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

  • 47

    Os candidatos considerados inaptos apresentaram uma agressividade mais

    elevada em relao aos aptos. Em porcentagem, 34% apresentou uma

    agressividade considerada muito aumentada e 11% aumentada. Isso representa

    quase a metade (45%) dos protocolos inaptos com nveis de agressividade

    significativamente elevados. A tendncia agressividade ocorreu em 22% dos

    casos e a agressividade mdia ocorreu em 33% (ver grfico n 7).

    Tais nmeros evidenciam a agressividade como um dos aspectos de

    personalidade mais elevados dentre os protocolos considerados inaptos. Essa

    constatao corrobora os estudos desenvolvidos com o PMK, por Lamounier e

    Rueda (2005), que apontaram essa caracterstica como a mais elevada dentre os

    candidatos inaptos naquele teste.

    Grfico 7 Percentil da Agressividade entre candidatos inaptos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

    4.4 Emotividade

    A Emotividade se refere intensidade pela qual os choques ou comoes

    interiores repercutem nas funes orgnicas e psicolgicas do indivduo. a reao

    de emergncia do organismo produzida quando este no possui pautas

    preestabelecidas para reagir a uma situao. Trata-se da repercusso geral com

    vibrao somatopsquica que revela o sistema adaptativo de uma pessoa. As

    classificaes do aspecto Emotividade foram baseadas na Tabela 1 -

  • 48

    Classificao dos Aspectos da Personalidade, que, por sua vez, foi baseada no

    Manual do Palogrfico de Alves e Esteves (2009).

    A anlise comparativa entre candidatos aptos e inaptos revelou que, entre os

    primeiros, um percentual de 63% de pessoas apresentou uma emotividade

    considerada mdia. A emotividade classificada como diminuda ocorreu em 21%

    dos protocolos aptos. Esse dado demonstra que mais da metade dos candidatos

    aptos apresentaram comoes interiores que repercutem de forma equilibrada, ou

    seja, no excessiva nas suas funes internas. Apenas 16% revelou uma

    tendncia emotividade e nenhum dos candidatos aptos apresentou emotividade

    aumentada ou muito aumentada (ver grfico n 8).

    Grfico 8 Percentil da Emotividade entre os candidatos aptos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

    Entre o grupo dos candidatos inaptos, a maioria (56%) demonstrou uma

    tendncia emotividade. Embora o Manual do Palogrfico considere os valores

    atribudos tendncia como pertencentes ao Desvio Padro da classificao

    mdia, faz-se interessante, neste caso, desvincul-las com o objetivo de se

    perceber mais minuciosamente as diferenas apresentadas entre os grupos

    avaliados. Desse modo, podemos entender que a tendncia pode sinalizar uma

    leve propenso ao comportamento emotivo, ou ainda, um leve aumento da

    caracterstica mas que ainda no pode ser considerada como aumentada. Os

    demais candidatos inaptos (44%) apresentaram uma emotividade considerada

  • 49

    mdia. Quanto s demais classificaes, nenhum candidato inapto apresentou

    emotividade diminuda. Da mesma forma, no ocorreu nenhum registro de

    emotividade aumentada ou muito aumentada (ver grfico n 9).

    Grfico 9 Percentil da Emotividade entre os candidatos inaptos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

    4.5 Impulsividade

    O ltimo aspecto da personalidade analisado neste estudo foi a impulsividade

    que, conforme j foi mencionado, caracteriza as aes que no podem ser contidas

    pelo indivduo. Traduzem o ato brusco, explosivo, uma ao privada de reflexo, de

    controle e freio inibitrio. Isso significa que indivduos com impulsividade forte

    tendem a descarregar suas tenses afetivas de modo descontrolado e sem

    suficiente autodomnio. Por outro lado, a impulsividade dentro da normalidade indica

    estabilidade nas aes, controle, firmeza, flexibilidade e serenidade na conduta.

    No grupo dos candidatos aptos, 58,82% (59%) apresentou uma impulsividade

    mdia e 21,57% (21%) revelou ndices de impulsividade considerados

    diminudos. Apenas 3,92% (4%) apresentou muito diminuda. Isso representa um

    percentual de 84,3% de candidatos aptos que tiveram uma impulsividade controlada.

    Quanto aos demais, 15,69% (16%) tiveram impulsividade aumentada. Em nenhum

    protocolo ocorreu a caracterstica muito aumentada (ver grfico n 10).

  • 50

    Grfico 10 Percentil da Impulsividade entre os candidatos inaptos.

    Fonte: Dados da pesquisa. Ipatinga-MG. 2013.

    No grupo dos candidatos inaptos, em porcentagem, 56% (a maioria)

    apresentou uma impulsividade dentro da mdia. A impulsividade aumentada

    ocorreu em 22,22% (22%) dos casos. Em 11,11% (11%) dos protocolos essa

    caracterstica foi considerada muito aumentado. O mesmo nmero (11%) revelou

    uma impulsividade diminuda, enquanto que nenhum candidato demonstrou uma

    impulsividade muito diminuda.

    Isso nos mostra que 33% dos candidatos inaptos apresentara