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CURSO DE DIREITO REFORMA TRABALHISTA COM VIÉS NA NEGOCIAÇÃO COLETIVA: VIOLAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS LABOR REFORM WITH VIES IN COLLECTIVE BARGAINING: VIOLATION OF FUNDAMENTAL RIGHTSOF THE ARTICLE

Andreia Pereira da Silva

Resumo : O direito trabalhista interno brasileiro é fortemente influenciado pelo direito internacional, o qual valoriza ao instituto da negociação coletiva, como importante meio de diálogo social entre empregadores e empregados. Certamente que ao se tratar da reforma trabalhista, observa-se contradições com a norma internacional laboral porque possibilita o uso de má-fé da Negociação Coletiva, com a finalidade de renúncia a direito trabalhista sem a devida contrapartida. O respectivo trabalho, objetivou conhecer história e conceitos de direitos fundamentais e Negociação Coletiva, entender a regulamentação jurídica relacionada àquele instituto e refletir sobre a Negociação Coletiva à luz da reforma trabalhista. O presente estudo foi realizado através de uma revisão bibliográfica de artigos científicos, livros e publicações que tinham como tema principal a Negociação Coletiva e a Reforma Trabalhista. Constatou-se que os direitos fundamentais permanecem cobertos pela rigidez constitucional, concedendo maior segurança jurídica aos trabalhadores, mesmo com a flexibilização promovida pela reforma trabalhista. Palavras-chave : CLT; Direitos fundamentais; Negociação coletiva; Reforma Trabalhista. Abstract : Brazilian domestic labor law is strongly influenced by international law, which values the institute of collective bargaining as an important means of social dialogue between employers and employees. Certainly, when dealing with labor reform, there are contradictions with the international labor standard because it allows the use of bad faith Collective Negotiation, with the purpose of waiver of labor law without due consideration. The respective work, aimed to know history and concepts of fundamental rights and Collective Bargaining, understand the legal regulations related to that institute and reflect on the Collective Bargaining in light of the labor reform. The present study was carried out through a bibliographical review of scientific articles, books and publications that had as main theme the Collective Bargaining and the Labor Reform. It was found that fundamental rights remain covered by constitutional rigidity, granting greater legal certainty to workers, even with the flexibilization promoted by the labor reform.

Keywords : CLT; Fundamental rights; Collective bargaining; Labor Reform. Introdução

Sabe-se que, recentemente, se aprovou a Reforma Trabalhista no país, na qual se efetuou alterações e se apresentou inovações, de maneira que os dispositivos da legislação trabalhista foram modificados, acrescentados ou revogados, incluindo alteração nas leis esparsas. Certamente que, algumas daquelas alterações atingiram a própria estrutura do Direito do Trabalho, com a ampliação significativa de acordos individuais e a possibilidade de negociações coletivas.

Desta forma, surge um questionamento jurídico acerca da possível violação de direitos fundamentais do trabalhador, haja vista que a reforma possibilitou um tratamento do empregado com o empregador como se tivessem em uma relação simétrica, desconsiderando a desigualdade real, a posição de vulnerabilidade do trabalhador e provocando uma desigualdade material na relação jurídica em questão. Estas pontuações foram a base da problematização que nortearam a presente pesquisa dirigida para a melhor compreensão das alterações promovidas pela Reforma Trabalhista,

especialmente aquelas relacionadas à Negociação Coletiva.

O estudo foi realizado através de uma revisão bibliográfica de artigos científicos, livros e publicações que tinham como tema principal a Reforma Trabalhista e a Negociação Coletiva. A pesquisa seguiu os preceitos do estudo exploratório, por meio de uma revisão bibliográfica, na qual utilizou-se livros que abordassem a temática, em idioma português, publicados no período de 2010 a 2018.

No levantamento bibliográfico de cunho qualitativo, utilizou-se a legislação brasileira em vigor, sendo principalmente a CLT, a Lei nº 13.467/2017 e a CRFB/1988, além da doutrina, jurisprudência e artigos científicos. A coleta de dados seguiu a premissa da leitura exploratória de todo material selecionado, leitura seletiva das partes que realmente eram de interesse e o registro das informações extraídas das fontes.

Logo, o respectivo trabalho, objetivou de modo específico no primeiro capítulo, conhecer história e conceitos de Direitos Fundamentais e Negociação Coletiva. No segundo capítulo entender a regulamentação jurídica

Como citar esse artigo: Silva AP. REFORMA TRABALHISTA COM VIÉS NA NEGOCIAÇÃO COLETIVA: VIOLAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. Anais do 14 Simpósio de TCC e 7 Seminário de IC da Faculdade ICESP. 2018(14); 488-502

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relacionada à Negociação Coletiva. Por fim, no terceiro capítulo, refletir sobre a Negociação Coletiva à luz da Reforma Trabalhista.

1. Histórico Geral 1.1. Direitos Fundamentais Cabe dizer que a conceituação de Direitos

Fundamentais adveio de uma construção histórica, por meio de uma linha evolutiva, na qual se encontram momentos e documentos de grande relevância. Certamente que no decorrer da história da humanidade cada cultura experimentou níveis de consciência distintos, mas sabe-se que, sempre houve uma lista básica de direitos fundamentais considerados indispensáveis para a dignidade da vida humana.

Segundo WEISSHEIMER “a humanidade, no decorrer da história atravessou diversas fases, cada qual com suas particularidades, donde percebe-se que as evoluções políticas, científicas, tecnológicas, sociais, econômicas e jurídicas se apresentam quase sempre lentas e graduais.”1

Nessa perspectiva, acredita-se que os direitos laborais já existiam, pois se considera naturais do ser humano (direitos humanos), sendo positivados nos Estados de Direito (direitos fundamentais) sob um contexto próprio de direitos sociais e do trabalho.2

Apesar da historicidade relativa aos direitos fundamentais ser complexa e complementar, é relevante registrar uma breve síntese dos antecedentes deste desenvolvimento histórico, haja vista que influenciaram o atual constitucionalismo. Sendo assim, transcreve-se resumidamente a narrativa de uma das obras pesquisadas:

Antiguidade – acreditava-se no Direito superior e pleno, dado pelos deuses aos homens por meio da lei divina; Século XVII – surgiu o entendimento de que a lei era derivada da vontade também houve a vertente defendendo

1WEISSHEIMER, Loreno. Direitos fundamentais, perspectiva histórica, características e função. Rev. Eletrônica Direito e Política, Itajaí, v. 10, n. 2, p. 1217, quadrimestre/2015. Disponível em: <https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rdp/article/view/7495> Acesso em: 19 out. 2018. 2PIROLO, Bruno Henrique Martins; OLIVEIRA, Lourival José de. Reforma trabalhista e negociação coletiva: violação a direitos fundamentais. Rev. de Direitos Fundamentais nas Relações do Trabalho, Sociais e Empresariais, v. 3, n. 21, p. 7, jul./dez. 2017.

a superioridade do Direito; Século XVIII – apareceu a Escola do Direito Natural, a qual defendia que os direitos eram derivados da natureza humana, porém não se criou nem outorgou tais direitos; Idade Média – foram encontrados registros de direitos de corporações, por meio de cartas de franquia, inscritos pelos próprios membros do grupo; 21 de junho de 1215 – na Inglaterra, foi outorgada por João Sem Terra a Magna Carta, a qual enumerava prerrogativas garantidas aos súditos da monarquia; Séculos XIX e XX – as ideias dos ingleses relacionadas ao Estado de Direito como limitação do poder expandiram-se para a América do Norte, depois se universalizou pelo ocidente.3

Como se vê, a concepção daqueles direitos se deu de maneira ampliativa, de forma que cada etapa do desenvolvimento da humanidade contribuiu de algum modo para essa elaboração. Portanto, percebe-se a importância do conhecimento histórico para o entendimento da área jurídica, principalmente quando se trata desses direitos essenciais ao ser humano. Sendo assim, só é possível a compreensão dos direitos fundamentais quando os relaciona à historicidade porque o seu surgimento não foi repentino, foi construído no decorrer dos anos, frutos de pesquisas, teorias e de lutas contra o poder. O autor de uma das obras pesquisadas confirma: Os direitos humanos fundamentais, em sua concepção atualmente conhecida, surgiram como produto da fusão de várias fontes, desde tradições arraigadas nas diversas civilizações, até a conjugação dos pensamentos filosófico-jurídicos, das ideias surgidas com o cristianismo e com o direito natural.4

Certamente, o percurso foi longo, iniciou-se

a luta timidamente até alcançar o momento

Disponível em: <http://www.indexlaw.org/index.php/revistadireitosfundamentais/article/view/2231> Acesso em: 29 out. 2018. 3FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Direitos humanos fundamentais. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 25

4MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 1

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atual, onde o cenário provavelmente não é o que se almeja, porém existe mais a se alcançar, o caminho foi trilhado, o momento é melhor.

No entanto, foi visto no breve contexto histórico que há mais caminho a trilhar no que diz respeito à efetividade e aplicabilidade dos direitos fundamentais, principalmente, quando se leva em consideração os novos conhecimentos, novas tecnologias e evolução constante da humanidade e suas relações, então, é necessário considerar o nascimento de novos direitos essenciais à civilização humana.

É importante ressaltar que, ao final do Século XIX, o desenvolvimento da teoria dos direitos sociais se sobressaiu por meio de lutas sociais existentes na sociedade industrial, com reivindicações por melhorias de condições laborais e de vida social.5

Portanto, a história confirma que a aplicação dos direitos fundamentais no âmbito das relações laborais se deve pautar no escopo desses direitos, ou seja, para aplicabilidade dos direitos fundamentais é necessário considerar o empregado na sua integralidade. Ademais, a classe de trabalhadores alcançou a titularidade de direitos fundamentais, os quais podem ser suscitados contra o Poder Estatal ou nas relações privadas, entre elas as relações trabalhistas. Sendo assim, a adequação do ordenamento jurídico trabalhista às mudanças sociais é uma necessidade. 1.2. Contratação Coletiva

Cabe frisar que, como visto no item anterior, os ingleses foram os maiores responsáveis pelas primeiras manifestações trabalhistas em prol de melhorias nas condições laborais. Ao final do Século XIX e início do Século XX, sabe-se que ocorreu uma crise provocada pela inatividade do Estado, então foi pleiteado pela classe trabalhista os seus devidos benefícios, originando no espírito sindical. Esta é a afirmação do trecho transcrito de uma obra: A contratação coletiva é expressão da tendência de grupos profissionais organizados para regular de forma autônoma as modalidades de venda da força de trabalho. Seu nascimento é coetâneo ao da própria organização sindical e do instituto de pressão correlato a essa organização: a greve. O contrato coletivo, portanto, surgiu na segunda

5ROMITA, Arion Sayão. Direitos fundamentais nas relações de trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 110. 6MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 949

metade do século XX, com variações temporais de país para país, nem sempre moduladas pelo nível do desenvolvimento industrial de cada um deles.6

Então, é indiscutível que o período da

Primeira Guerra Mundial foi relevante para a demonstração de igualdade entre a civilização humana, inclusive entre as diversas classes de trabalhadores, haja vista que todos eram dignos do direito de viver. Dessa forma, a contratação coletiva foi desenvolvida. Conforme exposto, a doutrina confirma que:

(...) no transcorrer do século XIX, perceberam os trabalhadores que um dos sujeitos da relação de emprego (o empregador) sempre foi um ser coletivo, isto é, ser cuja vontade era hábil e deflagrar ações e repercussões de impacto social, seja certamente no âmbito da comunidade do trabalho, seja eventualmente até mesmo no âmbito comunitário mais amplo (...)7

Diante disso, observa-se um histórico

caracterizado por avanços e recuos entre a ação de movimentos de operários, de sindicatos e movimento socialista junto à estratégica atuação estatal.

Especificamente, no Brasil, somente após a abolição da escravatura é que surgiram os movimentos reivindicatórios operários, os quais deram início ao processo de libertação do autoritarismo e corporativismo. Portanto, a história da origem aos direitos coletivos trabalhistas, na verdade, revela-se por meio de fases, as quais permearam entre a proibição, tolerância e permissão legal.

Também, seu marco importante foi a Revolução Industrial. O advogado Hertz confirma, conforme o trecho transcrito de sua obra:

(...) A libertação do trabalhador principiou com a Revolução Industrial, quando surgiu o trabalho assalariado e a figura do patrão, o empregador capitalista. Foi o surgimento das máquinas e a necessidade cada vez maior de seu uso que estabeleceu sensíveis mudanças nas relações patrões empregados. Principiou-se, então, a dar um sentido social, humano e

7DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16 ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 1458

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jurídico no que concerne ao trabalho, criando-se regras de inter-relacionamento, onde o sentido protetivo do trabalhador começou a tomar corpo. A dignidade do trabalhador, que antes não era questão importante para os industriais, com o início da nova era social em que caberia ao Estado procurar nivelar o interesse da sociedade, e não apenas o individual, passou a ter outro sentido de consideração. O Estado deveria, pois, satisfazer o bem-estar da coletividade, criando limitações aos interesses exclusivamente pessoais, intervindo, se necessário, para a proteção dos fracos e desamparados (...)8

Como se vê, a Negociação Coletiva surgiu

como uma conquista do movimento operário organizado, onde se exigiu do empregador que negociasse com o conjunto da força de trabalho, impedindo a posição unilateral por parte daqueles empregadores. Certamente que, no Brasil, somente com o movimento grevista é que a classe trabalhadora também conquistou a efetiva negociação direta com o empregador.

Cabe registrar que os direitos humanos de tutela trabalhista são anticapitalistas, haja vista só terem prosperado sob o momento da história no qual se obrigou aos donos do capital a se compor com os trabalhadores.

Por isso que, no final do Século XX, houve transformação extrema das condições de produção, desmerecendo a força de trabalho e privilegiando o lucro, resultando na diminuição do respeito mundial àqueles direitos.9 Logo, fica mais compreensível as terminologias estudadas no atual contexto trabalhista:

(...) O espírito do capitalismo é o egoísmo competitivo, excludente e dominador. Daí por que toda espécie de colaboração entre empresários é naturalmente tida por suspeita; assim como suspeita e nociva à boa economia sempre pareceu, desde as origens, aos olhos dos empresários, a sindicalização dos trabalhadores e a organização reivindicativa dos despossuídos (...) 10

Então, a contratação coletiva surgiu com o

objetivo de compensação da debilidade da

8COSTA, Hertz Jacinto. Manual de acidente do trabalho. 5 ed. Curitiba: Juruá, 2011. p. 20 9COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 67

classe trabalhista diante das entidades empregadoras, optando pela construção de entidades representativas de seus interesses. Este fenômeno desencadeou no denominado Direito Coletivo do Trabalho, o qual tem sofrido diversas alterações, porém apresenta-se regulamentado na lei. Acrescenta-se a narrativa encontrada em uma das obras pesquisadas:

(...) A importância da negociação coletiva trabalhista transcende o próprio Direito do Trabalho. A experiência histórica dos principais países ocidentais demonstrou, desde o século XIX, que uma diversificada e atuante dinâmica de negociação coletiva no cenário das relações laborativas sempre influenciou, positivamente, a estruturação mais democrática do conjunto social. Ao revés, as experiências autoritárias mais proeminentes detectadas caracterizavam-se por um Direito do Trabalho pouco permeável à atuação dos sindicatos obreiros e à negociação coletiva trabalhista (...)11

Sendo assim, cabe revelar que as

convenções e acordos coletivos de trabalho são resultado de uma negociação coletiva bem-sucedida, porém é imperativo a proibição de redução aos direitos dos empregados por meio de norma coletiva, pois não se trata disso a destinação dos instrumentos coletivos de trabalho. 2. Conceitos e Caracterização 2.1. Direitos Fundamentais

É importante revelar que existe amplas e diversas conceituações doutrinárias relacionadas a direitos fundamentais, fato que força a necessidade de se chegar a uma interpretação razoável, já que se trata de um campo jurídico complexo, tanto em nível conceitual quanto no nível prático. O seguinte trecho confirma:

(...)A doutrina dos direitos fundamentais tem aspectos controversos que merecem ser levados em conta num aprofundamento de seu estudo. São questões polêmicas em que juristas se digladiam em vista das concepções que seguem, por exemplo, quanto às relações entre direito internacional e direito interno, mas

10COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 567 11DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16 ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 1559

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também em razão de orientações filosóficas e ideológicas(...)12

Geralmente, a definição de direitos

fundamentais relaciona-se à finalidade de proteção dos poderes e liberdade da civilização humana dentro da relação com o Estado, ou seja, a conceitualização liga-se a uma visão de igualdade e liberdade individual. Nas palavras do autor Alexandre: (...) o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal, e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana pode ser definido como direitos humanos fundamentais (...)13

Quanto à conceituação, em concordância

ao clássico direito alemão, o autor BONAVIDES explica que direitos fundamentais são essencialmente vinculados à liberdade e à dignidade humana.14 Porém, o autor explica que tais direitos são nomeados no instrumento constitucional, além de receberem maior garantia da Constituição. Na obra de TAVARES é acrescentada a expressão ‘direitos fundamentais do Homem’ por se considerar uma conceituação completa, pois entende-se que engloba os direitos individuais, sociais e de solidariedade, no âmbito nacional e internacional.15 FACHIN defende os direitos fundamentais sob a base de valores sociais vigentes e sob um plano normativo especial, a Constituição.16 Nessa mesma vertente, para o jurista MENDES direitos fundamentais são “os valores mais caros da existência humana merecem estar resguardados em documento jurídico com força vinculativa máxima.”17

Dessa forma, percebe-se que os direitos fundamentais são direitos humanos definidos

12FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Direitos humanos fundamentais. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 214 13MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 20 14BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. p. 574 15TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 350

constitucionalmente e que estão sob a garantia e proteção estatal. Ademais, os direitos humanos não são necessariamente positivados na Constituição, pois estes são universais, inerentes a toda a humanidade. Mas, observou-se que existe autor que prefere não emitir qualquer conceituação, haja vista as polêmicas e divergentes posições dos demais autores:

(...) do estudo da doutrina, deve-se partir para o estudo, em pormenor, dos direitos fundamentais reconhecidos. Tal estudo, porém, só é frutuoso se sistematizado. Ora, a sistematização dos direitos reconhecidos a indivíduos e grupos é tarefa difícil, como prova a controvérsia que lavra, a propósito de sua classificação, entre os grandes mestres. Nessa controvérsia o autor prefere não entrar (...)18

Logo, os direitos fundamentais são aqueles

positivados, derivados de um processo de formalização legal, reconhecidos e garantidos pelo legislador, ou seja, previstos na normatização jurídica. 2.2. Direito Coletivo

O Direito Coletivo do Trabalho regula o direito de diversos trabalhadores ou empregadores com interesses em comum, pertencentes a um mesmo conjunto de características. Geralmente, essa representatividade se dá por um sindicato. De acordo com CASSAR:

(...) já foi chamado de Direito Corporativo, Direito Normativo, Direito Sindical e, hoje, de Direito Coletivo (...) O Direito Coletivo é a parte do Direito do Trabalho que trata coletivamente dos conflitos do trabalho e das formas de solução desses conflitos. Trata da organização sindical e da forma de representação coletiva dos interesses da classe profissional e econômica (...)19

16FACHIN, Zulmar. Curso de Direito Constitucional. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 235 17MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 133

18FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 40. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p.310 19CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 14 ed. São Paulo: Método, 2017. p. 1222

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Cabe dizer que, aqueles interesses são

comuns a todos os indivíduos do grupo, ou seja, todos os interesses nas relações coletivas são grupais, pois é fundamental que as pessoas apresentem o mesmo tipo de atribuição laboral e revestida de continuidade. Sendo assim, há um interesse coletivo vinculando as pessoas que se integram como um todo, além de relacionarem-se por uma reivindicação que se comunica a todos do grupo também a cada um individualmente. Acresça-se outra definição dada por autor de uma das obras pesquisadas:

(...) O Direito Coletivo do Trabalho, por sua vez, regula as relações inerentes à chamada autonomia privada coletiva, isto é, relações entre organizações coletivas de empregados e empregadores e/ou entre as organizações obreiras e empregadores diretamente, a par das demais relações surgidas na dinâmica da representação e atuação coletiva dos trabalhadores (...)20

Então, como estudado no capítulo anterior,

pode-se afirmar que o Direito Coletivo do Trabalho foi criado para o fortalecimento entre empregados e empregadores, visando o estudo das relações coletivas de trabalho. Ademais, o Direito Sindical, surgido anteriormente, além de estudar as relações coletivas de trabalho, estuda as organizações sindicais. Cabe revelar que o Direito Sindical se compõe pela liberdade sindical, greve e a negociação coletiva. 2.3. Negociação Coletiva

Pode-se afirmar que negociação coletiva é um tipo de modalidade autocompositiva de conflitos coletivos trabalhistas, nos quais representantes dos trabalhadores mais empregadores visam a superação de contradições para a conclusão de contratos, convenções ou acordos coletivos. De acordo com BARROS “a negociação coletiva é modalidade de autocomposição de conflitos

20DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16 ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 1453

21BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho. 11 ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 814 22STÜRMER, Gilberto. Negociação coletiva de trabalho como direito fundamental. Rev. Justiça

advinda do entendimento entre os interlocutores sociais.”21

E o pesquisador STÜRMER esclarece que “a ideia de conflito coletivo de trabalho acaba por se confundir com negociação coletiva de trabalho. O conflito originário, sociológico, tende a ser resolvido pela via negocial.”22

Sendo assim, a Negociação Coletiva se traduz na elaboração de pactos e regulamentações trabalhistas ajustadas às particularidades de cada classe profissional. No entanto, não é necessário a existência das lides, pois a Negociação Coletiva existe para a resolução de questões de interesse da categoria e não apenas conflitos judiciais. O seguinte trecho transcrito esclarece melhor:

A palavra negócio provém de uma combinação de partículas egressas do latim, nec-, que revela uma negação + òtium, indicativo de ócio, folga, desocupação. Um negócio é, portanto, e em rigor, uma negação à desocupação, uma atitude, um fazer. A negociação é, então, uma ação, um procedimento por meio do qual dois ou mais sujeitos de interesses em conflito ou seus representantes, mediante uma série de contemporizações, cedem naquilo que lhes seja possível ou conveniente para o alcance dos resultados pretendidos (ou para a consecução de parte desses resultados), substituindo a ação arbitral de terceiro ou a jurisdição estatal. Quando essa atividade é desenvolvida no plano das relações coletivas de trabalho, a negociação é adjetivada, recebendo a qualificação de negociação coletiva ” (...)23

Percebe-se que a negociação coletiva é

relevante para a pacificidade no setor do Direito do Trabalho porque os desejos de empregadores e empregados são revistos periodicamente e minuciosamente. Portanto, a negociação coletiva torna-se relevante para empregador e empregado manterem uma relação de ganho recíproco, inclusive para o empregador, já que é o possuidor do risco econômico e na utilização desse instrumento

do Direito, Rio Grande do Sul, v. 31, n. 2, p. 409-431, mai./ago. 2017. Disponível em: <https://doi.org/10.5335/rjd.v31i2.7295> Acesso em: 25 nov. 2018. 23MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 949

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há uma diminuição da onerosidade. E para complementar a questão sobre a relevância da Negociação Coletiva, expõe-se o esclarecimento de uma das obras pesquisadas:

(...) A negociação coletiva está na base da formação do Direito do Trabalho como uma das suas fontes de produção. As normas jurídicas trabalhistas resultam da atuação do Estado, da qual advém os Códigos, as leis esparsas e outros atos, porém, não se esgotam com as normas jurídicas estatais. Há o direito positivo trabalhista não estatal. A negociação coletiva é sua principal fonte (...)24

Desta forma, a Negociação Coletiva se

trata de um instituto pelo qual os empregados têm garantido o direito de influenciar, de maneira real e positiva, nas condições de trabalho. Apenas o fato de proporcionar o direito à intervenção por parte do trabalhador já configura efetiva importância a esse instituto. Segundo CASSAR “negociação é a forma primária de um interessado obter daquele que tem interesse contraposto uma solução que atenda aos dois.”25

Cabe citar um exemplo, no qual o empregador se vê em situação de crise e imediatamente opta pela eliminação de cargos de trabalho mais o corte de despesas, porém é mais vantajoso se utilizar do instrumento de Negociação Coletiva, haja vista o interesse na retomada ao mercado ou superação da situação.

Logo, pode-se caracterizar a Negociação Coletiva como uma garantia de direitos aos empregados, de forma que haja uma relação trabalhista equilibrada com o empregador, normalmente superior por liderar a estrutura econômica. Enfim, pontuações estas que visam a melhoria das peculiaridades de cada setor profissional e econômico.

Nesse contexto, o autor DELGADO defende a Negociação Coletiva como “um dos mais importantes métodos de solução de conflitos existentes na sociedade contemporânea. Sem dúvida, é o mais

24NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 36 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 483 25CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 14 ed. São Paulo: Método, 2017. p. 1255

destacado no tocante a conflitos trabalhistas de natureza coletiva.”26

Efetivamente, não se pode negar, trata-se do melhor meio para a composição das partes, pois ninguém melhor do que os próprios envolvidos para conhecer o conflito e solucioná-lo de maneira satisfatória a ambos. Então, há de se concordar que a Negociação Coletiva desempenha papel primordial no estabelecimento de regras que regem as relações de trabalho entre empregados e empregadores, desencadeando na unificação dos trabalhadores dentro da relação com seu respectivo empregador.

Sendo assim, pode-se afirmar que a Negociação Coletiva compreende “uma forma de desenvolvimento do poder normativo dos grupos sociais segundo uma concepção pluralista que não reduz a formação do direito positivo à elaboração do Estado.”27 Portanto, a Negociação Coletiva se apresenta como um elemento que fomenta o Direito Trabalhista, pois reduz a incapacidade estatal na solução de problemas diversos relacionados às peculiaridades próprias de cada categoria profissional.

Por fim, é importante frisar que na ausência de Negociação Coletiva, certamente existe certa arbitrariedade no estabelecimento dos salários e condições de trabalho individual, ocorrendo a competição e estímulo ao individualismo entre empregados, dentre outras desvantagens. 3. ORDENAMENTO JURÍDICO TRABALHISTA

Como estudado no capítulo anterior, por meio das evoluções da humanidade, as quais passaram pela fase da escravidão, do sistema feudal, da revolução francesa e revolução industrial, introduziu-se o trabalho em um contexto jurídico de normatização com direitos e deveres, a serem cumpridos de forma harmônica com aqueles direitos fundamentais, ora conquistados.

É indiscutível que no contexto do Direito do Trabalho, sempre se utiliza a conceituação dos direitos fundamentais, pois liga-se à atividade

26DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16 ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 1557 27NASCIMENTO, Amauri Mascaro; FERRARI, Irany; FILHO, Ives Gandra da Silva. História do trabalho, do direito do trabalho e da justiça do trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, p. 107.

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inseparável do ser humano, a qual deve-se respeitar garantias mínimas de dignidade da pessoa humana na realização da referida atividade. Sendo assim, é relevante conhecer o aparato legal nacional e internacional direcionado às relações trabalhistas. 3.1. Normatização Trabalhista Internacional

Certamente que existe uma previsão normativa relacionada aos direitos laborais em âmbito internacional estabelecendo parâmetros difundidos por todos os países. Também, os entes públicos internacionais possuem competência para a criação de normas, fiscalização e garantia dos direitos trabalhistas mínimos, como por exemplo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH). A professora Flávia esclarece melhor em sua obra, conforme trecho transcrito:

Os entes internacionais passaram a surgir, principalmente, após revoluções e guerras dos séculos XVIII, XIX e XX, onde os direitos tidos como fundamentais e inerentes ao homem começaram a ser incorporados nos Estados de direito e nas sociedades. Assim, se tornaram mecanismos indispensáveis para desenvolvimento e fiscalização de direitos mínimos do homem como ser humano.28

Sendo assim, é importante ressaltar que o

Direito Internacional do Trabalho se trata de um ramo do Direito Internacional pelo qual as organizações especializadas na área trabalhista efetuam a fixação de padrões mínimos relativos à dignidade humana do trabalhador, visando a sua aceitação e prática por parte das nações ou Estados. Também, dos organismos especializados em matéria laboral, a OIT é que expressa de forma mais esclarecida os objetivos do Direito Internacional do Trabalho.29

De acordo com NASCIMENTO a OIT “é um organismo internacional criado pelo Tratado de

28PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5 ed. São Paulo: Ed. Max Limonad, 2002. 481 p. 29MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 111 30NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 137

31BRASIL. Decreto nº 19.841, de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da

Versailles (1919), com sede em Genebra, ao qual podem filiar-se todos os países membros da Organização das Nações Unidas (ONU).”30

Desta forma, por se tratar de pessoa jurídica de direito público internacional, a OIT constitui-se por Estados-Membros, ou seja, os países que fazem parte da ONU já fazem parte da OIT, apenas precisam comunicar sua aceitação formal dos deveres estabelecidos na constituição. Cabe lembrar que, atualmente, a ONU é a principal organização internacional que luta pela defesa e fiscalização da garantia dos direitos mínimos da humanidade, conforme se lê em seu preâmbulo, transcrito a seguir:

Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que, por duas vezes no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes de direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla.31

Como se vê, existe a atribuição prioritária

de cunho social das organizações internacionais, o que reflete na garantia dos direitos do trabalhador, o qual se trata de ser humano. Sendo assim, é possível dizer que há uma abrangência significativa das normas internacionais de direito do trabalho, pois a competência das organizações alcança as relações trabalhistas, já que os países membros podem ratificar ou não os tratados internacionais aprovados pela conferência do trabalho.

Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização Internacional das Nações Unidas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, D.F., 24 dez. 1945. Seção 1, p. 19072. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm> Acesso em: 22 out. 2018.

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E sabe-se que essas organizações têm motivado aos Chefes de Estado e de Governo a se comprometerem na efetividade de plenas relações trabalhistas como objeto das políticas e estratégias nacionais e internacionais de desenvolvimento. Um dos estudos pesquisados confirma, conforme o trecho reproduzido:

(...) Quando não há a ratificação por um Estado de convenção ou recomendação, a OIT se demonstra aflita frente a falta de garantia para a sociedade, sendo que determinado tema já reconhecido pela OIT como regra geral de direito, fica sem a necessidade de garantia interna de um país. Nesses casos, a OIT trabalha sempre visando as ratificações das convenções e recomendações, para que não existam reflexos contrários a normas fundamentais nas sociedades de determinados países que não ratificam uma ou outra norma internacional. Por exemplo, a convenção 87 da OIT que expõe sobre a liberdade sindical e a proteção do direito de sindicalização, dando maior liberdade e equidade para sindicatos, empresas e trabalhadores em regular suas normas especificas, ainda, não foi ratificada pelo Brasil, sendo constantemente “pressionada” ratificá-la(...)32

Nesse contexto, observa-se a relevância

em expor as diversas alterações ocorridas na lei trabalhista do país às organizações internacionais, principalmente à OIT, já que esta se apresenta mais incumbida de elaborar regras gerais relacionadas às questões trabalhistas no contexto internacional, além de influenciar significativamente a elaboração das legislações trabalhistas dos Estados-membros.

É importante lembrar da existência do Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH), o qual é responsável pela valoração e garantia de tutela dos direitos mínimos, e, por vezes, das relações trabalhistas no âmbito interamericano, sendo que duas entidades se integram a este Sistema: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e

32PIROLO, Bruno Henrique Martins; OLIVEIRA, Lourival José de. Reforma trabalhista e negociação coletiva: violação a direitos fundamentais. Rev. de Direitos Fundamentais nas Relações do Trabalho, Sociais e Empresariais, v. 3, n. 21, p. 9, jul./dez. 2017. Disponível em: <http://www.indexlaw.org/index.php/revistadirei

Corte Interamericana de Direitos Humanos. O SIDH encaminha situações concretas sob a forma de petições e de monitoramento para a avaliação da CIDH, inclusive com verificações no próprio local e aplicação de sanções, dentre outros processos legais. Segundo PIOVESAN “o propósito da coexistência de distintos instrumentos jurídicos garantindo os mesmos direitos é, pois, no sentido de ampliar e fortalecer a proteção dos direitos humanos.”33

Cabe ressaltar a possibilidade de levar as matérias de questões trabalhistas brasileiras à avalição da CIDH, pois o SIDH é o sistema que se aplica diretamente ao caso brasileiro, ausente a intenção de menosprezar os outros regimes regionais. Nesse sentido:

(...) Vale dizer, para que o Brasil se alinhe efetivamente à sistemática internacional de proteção dos direitos humanos, relativamente aos tratados ratificados, é emergencial a revisão de reservas e declarações restritivas, a reavaliação da posição do Estado brasileiro quanto a cláusulas e procedimentos facultativos, bem como a adoção de medidas que assegurem eficácia aos direitos constantes nos instrumentos internacionais de proteção (...)34

Então, percebe-se o quanto aqueles entes

internacionais e seus mecanismos são importantes para o efetivo cumprimento dos direitos humanos e fundamentais, sociais e trabalhistas conquistados no decorrer da história da humanidade. Também, é importante destacar a relevância da função da OIT e SIDH, a quem compete o monitoramento dos direitos trabalhistas, sendo que se considera o direito de trabalho como um direito fundamental.

Ademais, no âmbito dos direitos fundamentais, há o reconhecimento na Carta Maior de convenções e acordos coletivos de trabalho, em seus artigos 7º e 8º, também nesse mesmo contexto, cabe frisar que o Estado Brasileiro é signatário da OIT desde a sua origem no ano de 1919. Entretanto, o país não internalizou a Convenção 87, a qual trata

tosfundamentais/article/view/2231> Acesso em: 29 out. 2018. 33PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 12 ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2002. p. 228 34PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5 ed. São Paulo: Ed. Max Limonad, 2002. p. 368

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da liberdade sindical, mas, ratificou as Convenções 98 e 154, relativas à Negociação Coletiva de Trabalho.35

Assim, passa-se a observar o Sistema de Normatização Interno do Estado Brasileiro. 3.2 Normatização Trabalhista Nacional

É importante revelar que os direitos e deveres nas relações trabalhistas conquistados por meio de uma evolução histórica encontram-se em fontes diversas do ordenamento jurídico do país. Porém, pode-se considerar a Carta Magna de 1988 como principal fonte do Direito do Trabalho no país, haja vista que em seu capítulo II, dispõe que:

CAPÍTULO II Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015) Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; (...)36

Cabe lembrar que os direitos sociais são

direitos fundamentais da humanidade, caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, com a concretização da igualdade social, e os consagrando como fundamentos do Estado Democrático, pelo art. 1º, inciso IV da Carta Maior. Logo, a Constituição de 1988 consagrou o regramento que visa a garantia da sociabilidade e responsabilidade, entre os cidadãos, os grupos sociais e socioeconômicos. Desse modo, a doutrina acrescenta que:

35Paulo: Saraiva, 2015. 1151 p. STÜRMER, Gilberto. Negociação coletiva de trabalho como direito fundamental. Rev. Justiça do Direito, Rio Grande do Sul, v. 31, n. 2, p. 410, mai./ago. 2017. Disponível em: <https://doi.org/10.5335/rjd.v31i2.7295> Acesso em: 25 nov. 2018. 36JUNIOR, Nelson Nery; NERY, Rosa Maria de

Andrade. Constituição Federal comentada e Legislação Constitucional. 6 ed. São Paulo: Ed. Rev. dos Tribunais, 2017. p. 440

(...) Passadas mais de duas décadas de experiência jurídica e cultural intensa desde o advento da Constituição em 5 de outubro de 1988, a jurisprudência trabalhista já tem, contemporaneamente, aferido de modo bastante objetivo e transparente a adequação setorial negociada. Nessa linha, de maneira geral, tem considerado que, estando a parcela assegurada por regra imperativa estatal (Constituição, Tratados e Convenções Internacionais ratificados e/ou Leis Federais), ela prevalece soberanamente, sem possibilidade jurídica de supressão ou restrição pela negociação coletiva trabalhista – salvo se a própria regra heterônoma estatal abrir espaço à interveniência da regra coletiva negociada (...)37

Ademais, cabe citar a Consolidação das

Leis de Trabalho (CLT), na qual se inseriu a maior parte das garantias dadas ao trabalhador e seu patrono nas relações laborais.

Também, utiliza-se o Código de Processo Civil (CPC) de maneira subsidiária naquelas questões em que a CLT se omite, conforme seu artigo 769, o qual estabelece que “os casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.”38

É importante frisar que, isso ocorre apenas nas questões que tange às regras processuais, haja vista que se aplica as regras materiais previstas no Código Civil, conforme estabelecido no artigo 8º da CLT, transcrito a seguir:

(...) Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que

37DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16 ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 1597 38MANUS, Pedro Paulo Teixeira; ROMAR,

Carla Teresa Martins. CLT e Legislação Complementar em Vigor. 8 ed. São Paulo, 2010. p. 238

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nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. §1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho. §2o Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão restringir direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam previstas em lei. §3o No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva.39

Desta forma, só se aplica as regras do

Código de Processo Civil ao processo trabalhista quando a CLT não regula a matéria ou quando as regras são compatíveis com os princípios do processo do trabalho. Nas palavras de NASCIMENTO “o direito processual comum é aplicável, subsidiariamente, no direito processual do trabalho. Assim, subsidiariedade é a técnica de aplicação de leis que permite levar para o âmbito trabalhista normas do direito comum. ”40

Sendo assim, para que ocorra a aplicação do CPC faz-se necessário que ele se apresente mais efetivo do que a CLT ou no caso dela se mostrar incompleta. Ademais, nesse caso de omissão da CLT é preciso que haja o estudo dos dois ramos processuais e a compatibilidade entre as normas. Então, é de grande relevância que o CPC e a CLT estejam de mãos dadas, compatíveis entre suas regras para melhor efetivação de direitos e justiça social. A doutrina confirma:

(...) As normas fundamentais estão previstas na Constituição, na Consolidação das Leis de Trabalho e também no Código de Processo

39BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial [da] União , Rio de Janeiro, R.J., 1º maio 1943. Ano LXXXII, n. 184. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm> Acesso em: 20 nov. 2018. 40NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 109

Civil, que, aliás, destinou um capítulo inteiro, compostos pelos seus 12 primeiros artigos, para delas tratarem. Algumas normas fundamentais, previstas no Código de Processo Civil, são também aplicadas na Constituição, como o princípio da inafastabilidade da jurisdição disposto no art. 3º do CPC, que consiste na mera repetição do texto constitucional (art. 5º, XXXV, CF). Outras, no próprio Código de Processo Civil, como o dever de observância dos precedentes judiciais, e ainda na Consolidação das Leis de Trabalho.41

Portanto, ao se delimitar a discussão à

temática sobre a Negociação Coletiva, pode-se afirmar que tanto no âmbito do direito interno quanto internacionalmente existe o incentivo à busca desse instrumento como direito fundamental, social e trabalhista na resolução das lides ou dos conflitos coletivos de trabalho.

De acordo com DELGADO “ a negociação coletiva trabalhista pode instituir parcelas novas, não decorrentes de lei, e, nessa dimensão, formular os contornos, a extensão e as repercussões jurídicas dessas parcelas novas criadas.”42

É bem verdade que, em casos em que o Direito Interno não institui ou regula de forma específica ou por norma imperativa, então, observa-se maior margem para a Negociação Coletiva. Porém, isso não significa que se pode flexibilizar, desregulamentar ou descaracterizar os direitos fundamentais.

Por fim, cabe estudar qual a função do ordenamento jurídico internacional trabalhista que não foi incorporado ao direito interno do país quando se trata do instituto da Negociação Coletiva sob a recente Reforma Trabalhista.

4. REFLEXÃO SOBRE A NEGOCIAÇÃO COLETIVA À LUZ DA REFORMA TRABALHISTA

Diante disso, cabe comentar sobre a Lei nº 13.467/2017, a qual efetuou inúmeras alterações na regulação social do trabalho com a mudança de diversos pontos da CLT, por

41SARAIVA, Renato; LINHARES, Aryanna. Curso de Direito Processual do Trabalho. 14 ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. 862 p. TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 31

42DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16 ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 1599

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exemplo, mudanças como a prevalência do acordado entre patrões e empregados sobre o legislado nas negociações trabalhistas. Segundo PIROLO e OLIVEIRA “a polêmica e a reflexão devem pairar sobre se tais alterações se apresentam constitucionais e/ ou se no campo prático do cotidiano das relações laborais ocorrerão ocasiões que vão em caminho inversos das garantias promovidas pelos direitos humanos, fundamentais e trabalhistas, devendo, nesse ponto serem condenadas.”43

Então, é indiscutível a necessidade periódica de alteração das leis para ir de encontro às novas dinâmicas sociais, principalmente em relação aos direitos trabalhistas, haja vista as inegáveis transformações e a impossibilidade de impedi-las. Porém, é necessária a exigência aos poderes legislativo, judiciário e executivo no sentido de respeitar ao ordenamento jurídico que rege o país em princípios éticos, sem ferir à Carta Magna, às relações internacionais e seus tratados, além de não ferir a dignidade humana e seu histórico de lutas. O autor de uma pesquisa confirma:

(...) Os limites na celebração das convenções e dos acordos coletivos de trabalho devem ser observados, ainda que em momentos de crise econômica. O estabelecimento de patamares civilizatórios mínimos, ligados a normas de segurança e de medicina do trabalho, de garantia dos direitos da personalidade, dentre outros direitos específicos e inespecíficos, funciona como verdadeiros standards de dignidade dos trabalhadores. A negação ou a redução dos direitos sociais, ainda que autorizados por negociação coletiva, devem observar os limites imanentes constitucionalmente previstos no artigo 7º, sob pena da própria negociação coletiva de trabalho não alcançar o seu fim último, que é a

43PIROLO, Bruno Henrique Martins; OLIVEIRA, Lourival José de. Reforma trabalhista e negociação coletiva: violação a direitos fundamentais. Rev. de Direitos Fundamentais nas Relações do Trabalho, Sociais e Empresariais, v. 3, n. 21, jul./dez. 2017. Disponível em: <http://www.indexlaw.org/index.php/revistadireitosfundamentais/article/view/2231> Acesso em: 29 out. 2018.

pacificação social por meio da redução das desigualdades sociais (...)44

Certamente que, desde a origem da CLT no

ano de 1943, o Estado Brasileiro, sofreu a mais intensa alteração no ordenamento jurídico que regula as relações de trabalho, haja vista a aprovação da Lei n. 13.467, vigente desde o ano de 2017 e conhecida como reforma trabalhista. Além disso, ressalta-se que é uma lei recentemente aprovada e publicada sem vetos, porém a vacância dessa lei foi de um período de cento e vinte dias.

Ademais, a lei apresenta alterações, criações ou revogações de artigos da CLT, dentre elas, houve o estabelecimento de que decisões de comum acordo entre empregadores e trabalhadores podem prevalecer sobre a lei em determinadas questões, mas não em outras.

GAIA entende que “o reconhecimento da negociação coletiva pelo constituinte originário, finalmente, não pode constituir como cláusula de abertura, de modo a autorizar toda e qualquer flexibilização de direitos sociais trabalhistas.”45 Desta forma, no que diz respeito à Negociação Coletiva, cabe lembrar do texto consolidado na referida Reforma Trabalhista, onde foi registrado um dos seus relevantes fundamentos, expressos nos artigos 611-A e 611-B. Nesse contexto, o seguinte trecho de uma pesquisa esclarece:

(...) A redação do artigo 611-A estabelece que a convenção coletiva e o acordo coletivo terão prevalência sobre a lei quando dispuserem sobre determinadas matérias. Já o artigo 611-B trata do inverso, ou seja, arrola as matérias (direitos) que não podem ser reduzidos ou suprimidos por fazerem parte do rol de direitos fundamentais sociais trabalhistas, por serem considerados cláusulas pétreas da Constituição da República de 1988 (...)46 (STÜRMER, 2017, p. 410)

44GAIA, Fausto Siqueira. Negociação coletiva de trabalho: limites e fundamentos sociais. Rev. Direito & Paz, São Paulo, v. 1, n. 36, p. 16, 1º sem. 2017. Disponível em: <http://www.revista.unisal.br/lo/index.php/direitoepaz/article/view/634> Acesso em: 18 nov. 2018 45Idem 46STÜRMER, Gilberto. Negociação coletiva de trabalho como direito fundamental. Rev. Justiça do Direito, Rio Grande do Sul, v. 31, n. 2, p. 409-431, mai./ago. 2017. Disponível em:

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Desta forma, pode-se afirmar que a

Reforma Trabalhista refletiu consideravelmente nas convenções e acordos coletivos de trabalho, porém, observa-se a existência de limitações da Carta Magna ao poder de negociação que estão expressas na legislação, haja vista o próprio texto do artigo 611-B da CLT prever a ilicitude daquelas cláusulas negociadas que venham a ferir os direitos garantidos nos seus incisos. Certamente que há uma diversidade de direitos trabalhistas poupados da Negociação Coletiva.

A reforma, em vez de fortalecer a normatização por negociação coletiva, proporciona o seu enfraquecimento, impedindo que seja instrumento de garantia dos direitos trabalhistas e da maior proteção social. A expressa prevalência do negociado sobre o legislado apresenta a possibilidade de a negociação rebaixar regulamentações do marco legal. Logo, observa-se uma inversão na hierarquia das normas, adotada na perspectiva de ajustamento das relações trabalhistas às especificidades do local de trabalho, resultando no fortalecimento do poder do empregador.47

Assim, percebe-se que a primazia do negociado sobre o legislado está longe de se tornar absoluta. Matérias como o salário mínimo, adicional noturno, seguro desemprego, jornada de trabalho, licenças paternidade e maternidade, férias anuais, proteção à gestante, aposentadoria, adicional de insalubridade e periculosidade, proteção ao trabalhador com deficiência, proteção ao trabalho da mulher, igualdade entre mulheres e homens, bem como entre trabalhadores permanentes e avulsos, já estavam previstas na Carta Maior. Alguns pesquisadores expressam o mesmo entendimento, conforme trechos transcritos:

(...) O novo artigo 611-A da CLT, passou a autorizar que convenção coletiva e acordo coletivo tenham prevalência quanto a lei em

<https://doi.org/10.5335/rjd.v31i2.7295> Acesso em: 25 nov. 2018. 47KREIN, José Darin. O desmonte dos direitos, as novas configurações do trabalho e o esvaziamento da ação coletiva: consequências da reforma trabalhista. Rev. USP, v. 30, n. 1, p. 92, 2018. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/138082> Acesso em: 27 nov. 2018.

várias oportunidades como na jornada de trabalho, teletrabalho, sobreaviso, trabalho intermitente, labores com insalubridade, e outros. Sendo assim, muitas situações do cotidiano laboral poderão ser alteradas, visando reduzir os custos da empresa e consequentemente mitigando direitos do trabalhador, além do fato da contrariedade quanto ao princípio da norma mais favorável vigente frente o trabalhador. Por exemplo, regras quanto a jornadas de trabalho (inciso I) e bancos de hora (inciso II) que podem se tornar mais prejudiciais ao trabalhador, tanto as tornando mais rígidas, dificultado escolhas do trabalhador, quanto, tornando-as mais maleáveis sem respeitar proteções mínimas da relação empregatícia (...) Outro caso é a insalubridade (inciso XII), onde a empresa poderá prorrogar jornada de trabalho em ambientes insalubres, sem autorização prévia de autoridades competentes, sem falar na possibilidade de negociação sobre condições ligadas diretamente à segurança e medicina do trabalho.48

Como se vê, a conhecida reforma

trabalhista demonstra-se, de certa maneira, inconstitucional, pois fere o mínimo dos direitos garantidos constitucionalmente ao trabalhador e em destaque o estabelecido no artigo 7º da Constituição Federal. Nas palavras de KREIN “o propósito é indicar que a reforma traz mudanças substantivas, mas o embate em torno da regulamentação do trabalho continua.”

Portanto, cabe ressaltar que apesar da reforma trabalhista ter possibilitado a Negociação Coletiva sobre direitos indisponíveis, mas aqueles direitos continuam indisponíveis, cabendo a efetividade do seu controle por meio dos entes internacionais junto aos instrumentos de proteção, no âmbito nacional.

Também, os direitos sociais permanecem cobertos pela rigidez constitucional, concedendo maior segurança jurídica aos

48PIROLO, Bruno Henrique Martins; OLIVEIRA, Lourival José de. Reforma trabalhista e negociação coletiva: violação a direitos fundamentais. Rev. de Direitos Fundamentais nas Relações do Trabalho, Sociais e Empresariais, v. 3, n. 21, p. 13, jul./dez. 2017. Disponível em: <http://www.indexlaw.org/index.php/revistadireitosfundamentais/article/view/2231> Acesso em: 29 out. 2018.

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trabalhadores, mesmo com a flexibilização promovida pela reforma trabalhista. Diante disso, transcreve-se o seguinte trecho de uma obra que enfatiza tais possibilidades e limites normativos relacionados à Negociação Coletiva:

(...) na ordem jurídica brasileira, esse patamar civilizatório mínimo está dado, essencialmente, por três grupos convergentes de normas trabalhistas heterônomas: as normas constitucionais em geral (respeitadas, é claro, as ressalvas parciais expressamente feitas pela própria Constituição: art. 7º, VI, XIII e XIV, por exemplo); as normas de tratados e convenções internacionais vigorantes no plano interno brasileiro (referidas pelo art. 5º, §§ 2º e 3º, CF/88, já expressando um patamar civilizatório no próprio mundo ocidental em que se integra o Brasil); as normas legais infraconstitucionais que asseguram patamares de cidadania ao indivíduo que labora (...)49

Por fim, cabe ressaltar que a Carta Maior

estabelece uma gama de direitos e garantias aos trabalhadores, os quais não dependem de negociações coletivas. Ainda que temporariamente sem o amparo das normas coletivas, o trabalhador jamais ficará totalmente desamparado legalmente. Ainda assim, existem diversos direitos essenciais resguardados.

Considerações finais A conceituação de Direitos Fundamentais

adveio de uma construção histórica, por meio de uma linha evolutiva e, os direitos laborais já existiam, pois se considera naturais do ser humano (direitos humanos). Ademais, a Negociação Coletiva surgiu como uma conquista do movimento operário organizado, onde se exigiu do empregador que negociasse com o conjunto da força de trabalho, impedindo a posição unilateral por parte daqueles empregadores.

Portanto, a Negociação Coletiva se traduz na elaboração de pactos e regulamentações trabalhistas ajustadas às particularidades de cada classe profissional. No entanto, não é necessário a existência das lides, pois a Negociação Coletiva existe para a resolução de questões de interesse da categoria e não apenas conflitos judiciais.

49DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16 ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 1597

Assim, se observou que diversas convenções internacionais são internalizadas no Brasil e várias das convenções relacionadas com a Negociação Coletiva foram ratificadas pelo país. Também, o disposto nas convenções e recomendações ratificadas pelo Brasil obriga não apenas o país em relação ao pleito da OIT, mediante denúncia a ser apresentada nas conferências anuais da instituição, mas também os tribunais trabalhistas brasileiros a servirem, quando acionados, como meios de aplicabilidade dos dispositivos consignados, primeiramente, em norma internacional, e, posteriormente, em norma interna com força de lei.

Por fim, os direitos fundamentais permanecem cobertos pela rigidez constitucional, concedendo maior segurança jurídica aos trabalhadores, mesmo com a flexibilização promovida pela reforma trabalhista. Referências BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho . 11 ed. São Paulo: LTr, 2017. 904 p. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional . 32. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. 863 p. BRASIL. Decreto nº 19.841, de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte integrante o anexo Estatuto da Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por ocasião da Conferência de Organização Internacional das Nações Unidas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil , Brasília, D.F., 24 dez. 1945. Seção 1, p. 19072. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm> Acesso em: 22 out. 2018. BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial [da] União , Rio de Janeiro, R.J., 1º maio 1943. Ano LXXXII, n. 184. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm> Acesso em: 20 nov. 2018. CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho . 14 ed. São Paulo: Método, 2017. 1353 p. COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos . 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 619 p.

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