curso de direito civil lfg

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Curso de Direito Civil LFG AULA 4 LEI DE INTRODUO AO CDIGO CIVIL uma norma jurdica que tem por objetivo regular outras normas jurdicas. denominada Lex legum, norma de sobredireito ou norma de superdireito. Aplica-se a toda e qualquer lei, seja de direito privado, seja de direito pblico, desde que no haja previso expressa em contrrio na lei. A LICC se aplica at a CF88, como por exemplo, nos casos de lacuna da lei. Por mais simples que seja a norma ela precisa ser interpretada para se descobrir o sentido e o alcance. Classificao dos tipos de interpretao: 1. Gramatical ou literal; 2. Lgica; 3. Sistemtica; 4. Histrica; 5. Sociolgica ou teleolgica; 6. Ontolgica (busca a razo de ser da lei). No existe um meio considerado correto de se interpretar a norma legal, os meios de interpretao no se excluem, mas sim, se completam. Quanto maior o nmero de meios de interpretao maior o sucesso do processo hermenutico. APLICAO DA NORMA JURDICA a aplicao da norma jurdica ao fato concreto, a denominada subsuno. Segundo Miguel Realli a aplicao do direito envolve tambm valores, a chamada teoria tridimensional do direito, que parte de uma teoria maior chamada ontognoseologia jurdica, que abrange ainda o culturalismo jurdico. O culturalismo jurdico o aspecto subjetivo da ontognoseologia, consiste na utilizao das experincias, histria e cultura do aplicador do direito. O segundo aspecto da ontognoseologia a teoria tridimensional do direito, a parte objetiva, consiste na anlise de trs subsistemas isomrficos, fato, valor e norma. A Teoria Pura do Direito determina que o valor no faa parte do direito, direito fato e norma somente, logo, ela diametralmente oposta Teoria Tridimensional do Direito de Miguel Realle. Quando se realiza a subsuno pode-se deparar com dois problemas, a lacuna e a antinomia de normas. Lacuna, tambm denominada de lacuna de omisso, legal ou propriamente dita, a ausncia de norma expressa regulando determinado fato concreto. Lacuna axiolgica ocorre quando a ordem jurdica no regula de forma justa determinado fato concreto. Lacuna ontolgica ocorre quando a ordem normativa no apresenta norma com eficcia social regulando determinado fato, que no est adequada realidade. O juiz no pode deixar de julgar alegando lacuna ou obscuridade da lei (art. 126, do CPC; art. 8, CLT; art. 7, do CDC; art. 107, do CTN). a chamada vedao ao non liquet. O art. 4, da LICC, impe uma ordem a ser seguidas na colmatao das lacunas da lei:

1. Analogia: consiste na aplicao de uma norma jurdica prevista para uma hiptese distinta, porm, semelhante. O fundamento da analogia onde existir a mesma razo, deve existir o mesmo direito. 2. Costumes: a prtica uniforme constante, pblica e geral de determinado ato com a convico de sua necessidade jurdica. O costume possui elemento objetivo (conduta reiterada) e subjetivo ou psicolgico (convico de sua necessidade jurdica). Em relao lei, os costumes podem ser secundum legem, praeter legem, e contra legem. Em regra, os costumes contra legem no so aceitos. Todavia, excepcionalmente pode ser admitido. 3. Princpios Gerais do Direito: so normas orientadoras do sistema jurdico. So compostas por regras que muitas vezes no esto nem escritas nas leis. No direito romano haviam trs princpios gerais: suum cuique tribuere (dar a cada um o que seu), honeste vivere (viver honestamente), e neminem laedere (no causar dano a outrem). EQUIDADE No meio de suprir lacunas da lei, mas, sim, meio auxiliar dessa tarefa. Consiste na busca do ideal de justia. Existe diferena entre julgar por equidade e julgar por equidade. Todo juiz julga com equidade, na medida em que busca uma deciso justa, a justia no caso concreto. Julgar por equidade a hiptese em que o juiz pode decidir sem limitaes tcnicas. No julgamento por equidade deve haver determinao legal. Ex. art. 20, IV, e 1.109, do CPC; art. 2, da Lei 9.307/96; ANTINOMIA Tambm conhecida como lacuna de conflito, ou lacuna de coliso, o conflito existente entre duas normas, dois princpios, ou entre uma norma e um princpio. Se as solues forem convergentes, no h que se falar em antinomia, mas sim, em tese do dilogo das fontes. Classificao da antinomia de acordo com o critrio de soluo: 1. Antinomia real: aquela que no tem soluo, ou seja, nossa lei no prev a regra para solucion-la. solucionada por meio de edio de uma nova lei pondo fim ao conflito, ou pela aplicao do critrio do justo, o juiz deve busca a idia de justia no caso concreto. um exemplo de julgamento por equidade, porm, sem determinao legal. 2. Antinomia aparente: aquela que tem soluo prevista no ordenamento jurdico. Pode ser de primeiro ou segundo grau. 2.1. Antinomia de primeiro grau: aquela solucionada atravs da aplicao de um nico critrio, que pode ser hierrquico, cronolgico, ou da especialidade. 2.2. Antinomia de segundo grau: apresenta conflito entre os critrios. resolvida com a aplicao de um meta critrio. Critrio hierrquico prevalece sobre o hierrquico. Critrio da especialidade prevalece sobre o cronolgico. Em regra, o critrio da hierarquia prevalece sobre o critrio da especialidade, pois o princpio da hierarquia da lei a base do nosso sistema jurdico. Muito excepcionalmente pode ser admitida a prevalncia do critrio da especialidade (art. 2.035, do CC). VIGENCIA DA LEI NO TEMPO

A publicao que determina a obrigatoriedade da lei, sendo que o inicio da vigncia de uma lei nem sempre coincide com a sua publicao, esse intervalo de tempo ente a publicao e a vigncia da lei denominado vacatio legis. Ver lei complementar 105. No se aplica a vacatio legis aos atos administrativos normativos. A estes, aplica-se o decreto 572/90, que determina sua vigncia imediata. AULA 10 Espcies de vacatio legis: Vacatio legis direta: tambm conhecida como propriamente dita o intervalo entre a publicao de uma lei e sua vigncia. Vacatio legis indireta: ocorre quando uma lei j publicada tem sua obrigatoriedade suspensa, ou seja, sua vigncia suspensa por fora de outra lei. Ex. art. 30, da Lei do Desarmamento, outro exemplo pode ser encontrado no caso do prazo para regularizao das sociedades de acordo com o Cdigo Civil de 2002 (art. 1.031). Prazo progressivo de vacatio legis aquele em que a lei entra em vigor em diferentes momentos em todo o territrio nacional, o que ocorria com a antiga LIC. Atualmente, a regra da LIC o prazo da vacatio legis nico ou simultneo, que aquele em que a lei entra em vigor ao mesmo tempo em todo o pas. A contagem do prazo de vacatio legis feita incluindo-se o dia da publicao e o dia ultimo dia, pouco importando se inicia ou termina em dia no til. Logo, a lei entra em vigor no dia subseqente ao ltimo dia do prazo (art. 8, LC 95/98). O cdigo civil entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003 segundo a posio majoritria da doutrina e da jurisprudncia, porm existe divergncia. Se houver necessidade de correo de lei j publicada, deve ser verificado se ela j havia entrado em vigor ou no. Se a correo ocorreu durante o prazo vacatio legis, se reinicia a contagem do prazo. Por outro lado, se a republicao for de apenas um artigo ou alguns artigos da lei, inicia-se a contagem apenas dos dispositivos republicados. Caso a correo tenha ocorrido durante a vigncia da lei atende-se o perodo de vacatio legis da nova lei, pois teremos um novo nmero do diploma legal. PRINCPIO DA OBRIGATORIEDADE DA LEI o princpio pelo qual ningum se escusa do cumprimento da lei alegando a sua ignorncia, alegando o seu conhecimento. No passado este princpio se fundava na presuno de que todas as pessoas conheciam a lei. Atualmente, o princpio se funda na necessidade de segurana jurdica, logo no admitido em nosso pas a exceo da ignorncia da lei. O erro de direito a possibilidade de a pessoa alegar em juzo que no conhecia a lei ou errou sobre a interpretao da lei. No cdigo civil existe previso para o erro de direito desde que no implique em recusa aplicao da lei, for o motivo nico ou principal do negcio jurdico. O erro de direito somente permite a anulao de negcio jurdico, mas nunca o descumprimento da lei. IURA NOVIT CURIA O juiz deve conhecer o direito, por esse princpio, em regra, a parte no precisa provar a existncia da lei.

Porm, se a parte alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinrio, deve provar-lhe o teor e a vigncia, se assim determinar o juiz (art. 337, do CPC). Este princpio diferencia-se do naha mihi factum dobo tibi ius na medida em que este constitui uma exceo, j que o art. 282, do CPC, determina que as partes deve indicar na petio inicial o fato e os fundamentos jurdicos do pedido. Excepcionalmente, o princpio se aplica a aes possessrias, pois no preciso fundamentar os fundamentos jurdicos da posse, basta se pedir a proteo, que o juiz vai indicar no caso concreto a existncia do direito. PRINCPIO DA CONTINUIDADE DA LEI No se destinando a vigncia temporria, a lei ter vigor at que outra a modifique ou revogue. O desuso no revoga lei. Lei temporria aquela que tem termo final no prprio texto normativo, ou seja, j traz embutido o seu prazo de vigncia. A constituio ab-rogou, e no derrogou a constituio anterior, j que impossvel a vigncia simultnea de duas constituies. Ab-rogao a revogao absoluta, total da norma anterior. Derrogao a revogao parcial da norma anterior. O cdigo civil derrogou o cdigo civil anterior, j que o prprio cdigo civil determina a aplicabilidade de alguns dispositivos do antigo, a exemplo da enfiteuse. A lei nova que estabelece disposies gerais ou especiais a par das j existentes, no revoga nem modifica a lei anterior (art. 2, 2, da LICC). CONFLITOS DE LEI NO TEMPO So resolvidos atravs de disposies transitrias, na omisso do legislador, aplica-se a fatos pretritos a lei revogada. REPRISTINAO DA LEI o retorno de vigncia de lei anteriormente revogada, em regra, no ocorre. Para que ocorra a repristinao deve haver disposio expressa. Porm, no proibida em nosso pas. O efeito da repristinao no incide sobre os fatos regulados pela lei revogada pela lei repristinadora. A repristinao tem eficcia ex-nunc, em respeito ao princpio da irretroatividade das leis. A diferena entre repristinao e efeito repristinatrio da declarao de inconstitucionalidade no controle concentrado a de que no ltimo caso, em regra, como se a lei declarada inconstitucional nunca houvesse existido, e a declarao de inconstitucionalidade tem efeito ex-tunc. Apenas uma lei vlida pode revogar outra lei. Excepcionalmente o STF pode modular o efeito de sua declarao por motivos de segurana jurdica. VIGENCIA DA LEI NO ESPAO No Brasil o princpio adotado quanto a vigncia da lei no espao foi o princpio da territorialidade moderada ou temperada. Em regra em territrio brasileiro aplicada a lei brasileira, mas excepcionalmente, admite-se a vigncia e eficcia de leis e sentenas estrangeiras. CDIGO CIVIL DAS PESSOAS PESSOA NATURAL Pessoa natural sinnimo de pessoa fsica, a expresso pessoa natural foi preservada ao longo do tempo.

Personalidade a aptido genrica para ser titular de direitos e contrair deveres. a personalidade que diferencia em direito as pessoas dos bens, que somente podem ser objeto de direito. Os animais, tambm denominados semoventes, no possuem personalidade. Os animais so objetos apenas de tutela. Para o cdigo civil a personalidade civil comea do nascimento com vida; mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos do nascituro. No importa se a pessoa fruto de concepo natural ou artificial; se a criana chegou, ou no, a ser separada totalmente do ventre materno; se chegou, ou no, a ser cortado o cordo umbilical; se a criana tem, ou no, aspecto humano perfeito; se tem condio, ou no, de sobreviver por determinado perodo; se foi feito, ou no, o registro do nascimento. Existem trs teorias explicando o incio da personalidade do ser humano: 1. Teoria Natalista: defende que o incio da personalidade ocorre a partir do nascimento com vida. Antes do nascimento, temos o nascituro, que para a teoria natalista no tem personalidade, apenas expectativa de direito, pois seus direitos esto sob condio suspensiva. Nega a existncia de direitos da personalidade do nascituro, como direito a vida, gestao saudvel, alimentos, imagem, honra, privacidade, etc. No a regra em nosso pas. 2. Teoria da Personalidade Condicional: defende que o incio da personalidade ocorre no momento da concepo, porm, essa personalidade condicionada ao nascimento com vida. Os direitos ficam sob condio suspensiva. 3. Teoria Concepcionista: em uma viso radical, seria, a partir da concepo, dotar o nascituro de ampla personalidade, podendo ser titular de direitos da personalidade, tendo direitos patrimoniais. Essa viso radical no faz a distino entre os tipos de direitos. Em uma viso moderada, a personalidade do ser humano pode ser dividida em duas vertentes, a formal e a material. Personalidade formal a aptido para ser titular de direitos da personalidade, essa personalidade adquirida a partir da concepo. Personalidade material a aptido para ser titular de direitos patrimoniais, somente pode adquirir esse direito a partir do nascimento com vida, o nascituro tem somente expectativa de direitos patrimoniais. A concepo ocorre no momento da nidao, quando o embrio se fixa ao tero. A proteo que o cdigo defere ao nascituro alcana ao natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura (Enunciado 1, CJF). O registro do natimorto feito de forma nica, ou seja, no feito registro de nascimento e depois de bito. CAPACIDADE CAPACIDADE DE DIREITO Tambm conhecida como capacidade de gozo, a aptido especfica para ser titular de direitos e contrair deveres. Alguns autores identificam essa capacidade como sinnimo de personalidade. No existe a figura do incapaz de direito. CAPACIDADE DE FATO

Tambm conhecida como de exerccio ou ao, a aptido para exercer pessoalmente os atos da vida civil. A capacidade de fato, exerccio ou ao, quando tiver discernimento. A maioridade nada mais que uma presuno legal relativa. A pessoa adquire capacidade de fato pela maioridade no primeiro segundo do dia do seu aniversrio de dezoito anos. A incapacidade somente de fato, exerccio ou ao. INCAPACIDADE ABSOLUTA Na incapacidade absoluta o direito, como regra, despreza a vontade do incapaz, que deve ser representado, sob pena de nulidade absoluta dos atos por ele praticados. O exame da incapacidade transitria depende da averiguao da situao concreta. A regra a capacidade, a incapacidade a exceo. INCAPACIDADE RELATIVA Na incapacidade relativa vontade do incapaz importa para o direito, porm, insuficiente, devendo o mesmo ser assistido nos atos da vida civil, sob pena de nulidade relativa caso no haja disposio especial em contrrio. A incapacidade relativa por vcio deve ser apurada pro percia mdica. Prodigalidade por cibomania est relacionada a jogos de azar; por oniomania, aquela que a pessoa tem impulso por compras; por imoralidade, aquela em que a pessoa tem impulso por sexo. A capacidade dos ndios ser regulada por legislao especial. O Estatuto do ndio (Lei 6.001/73) regula a capacidade dos ndios, distinguindo se o silvcola est ou no integrado comunho nacional, se estiver, ele absolutamente capaz. Se no estiver integrado, deve estar assistido nos atos da vida civil sob pena de nulidade absoluta. INTERDIO o procedimento de jurisdio voluntria que tem por objetivo declarar a incapacidade absoluta ou relativa de uma pessoa. Na interdio feita uma percia mdica, que ir quantificar o grau de incapacidade da pessoa. Podem ser objeto de interdio tanto pessoas maiores de dezoito anos quanto menores emancipados e relativamente incapazes entre dezesseis e dezoito anos. A natureza jurdica da sentena de interdio segundo os autores de processo civil de que constitutiva; a posio majoritria dos autores de direito civil de que ela declaratria. Maria Helena Diniz diz que ela declaratria da incapacidade de uma pessoa, mas constitutiva nos seus efeitos. A sentena de interdio tem efeitos ex-nunc, no retroage para atingir fatos pretritos. A sentena de interdio, de acordo com posicionamento majoritrio, dispensa a publicao pela imprensa, j que a LRP teria revogado o CPC. A sentena precisa ser registrada no Cartrio de Registro Civil das Pessoas Naturais. No admitida em nosso direito a alegao de intervalo de lucidez. Embora a sentena de interdio no retroaja para alcanar fato pretrito, possvel que seja proposta ao para declarar nulo ato anteriormente praticado pelo incapaz. o que a doutrina chama de incapacidade natural, que tem como requisitos a incapacidade manifesta e a m-f do outro contratante.

A interdio em geral pode ser requerida pelos pais ou tutores; pelo cnjuge ou qualquer parente; e pelo Ministrio Pblico. Levantar-se a interdio, cessando a causa que a determinou.

AULA 43 CESSAO DA INCAPACIDADE Toda e qualquer causa que transforma a pessoa como capaz de fato, de exerccio ou de ao. Emancipao no sinnimo de cessao da incapacidade, apenas uma das espcies do gnero. De acordo com a Lei 8.213/91, o direito a penso vai at os 21 anos de idade. Portanto, a reduo da maioridade civil no teve conseqncias no direito previdencirio. Porm, caso o menor seja emancipado, essa causa pe fim ao direito penso previdenciria. No direito penal, apesar da diminuio da menoridade pelo CC de 2002, a atenuante de 18 a 21 anos continua aplicvel. O STF leva em considerao a idade biolgica da pessoa. EMANCIPAO a antecipao da capacidade civil para um menor de idade. A emancipao do menor no gera incapacidade criminal. No direito de famlia, caso o menor seja devedor de alimentos ele pode ser preso, pois no caso, a priso civil. Existem trs tipos de emancipao: 1. Voluntria: advm de um ato de vontade dos pais, ou por um deles na falta do outro, aos filhos menores que tenham pelo menos 16 anos de idade. feita atravs de uma escritura pblica, mediante registro no cartrio competente, independente de homologao judicial. Segundos os tribunais superiores, quando a emancipao voluntria, os pais continuam a ter responsabilidade pelos atos do menor emancipado. Esse posicionamento parte de uma presuno de m-f dos pais. Nas demais formas de emancipao (judicial e legal), os tribunais entendem que os pais no tm responsabilidade. 2. Emancipao judicial: aquela realizada por um juiz, na hiptese de um menor tutelado com pelo menos 16 anos. Embora o tutor seja um substituto dos pais, nunca ter os mesmos poderes dos pais. O requerimento de emancipao pode ser do tutor, do tutelado, ou somente do menor. A doutrina e a jurisprudncia admitem outra hiptese de emancipao judicial, na hiptese em que haja conflito de interesse entre os pais. O juiz exerce o papel de bonus pater familia. A sentena de emancipao deve ser registrada no cartrio de registro civil. 3. Emancipao legal: aquela que ocorre de forma automtica quando presente uma das hipteses elencadas no art. 5, II a V, do Cdigo Civil. automtica porque independe de escritura pblica, sentena, ou registro. No caso de emancipao legal no h idade mnima.

Na emancipao pelo casamento a separao ou divrcio no gera a revogao da emancipao, portanto, a pessoa no voltar a ser incapaz caso o faa antes dos 18 anos. A capacidade civil uma vez adquirida no perdida. Se o casamento for anulado ou declarado nulo a incapacidade civil retomada, pois, no caso concreto, o casamento sequer chegou a ser vlido. Os efeitos so ex tunc, retroagem no tempo. Essa regra no vale para o caso de casamento putativo. A simples aprovao em concurso pblico no gera emancipao. Nem mesmo a nomeao a gera, o que emancipa o exerccio. Cargo em comisso tambm no emancipa, o cargo deve ser efetivo. No caso de estabelecimento civil ou comercial, relao de emprego, o menor deve ter no mnimo 16 anos e ter economia prpria, ou seja, se manter com o fruto de seu trabalho. FIM DA PESSOA NATURAL Mors omnia solvit. A morte tudo resolve. So efeitos da morte: 1. Transmisso da herana; 2. Extino da personalidade; 3. Termino das relaes de parentesco; 4. Dissoluo do vnculo matrimonial ou da unio estvel. Existem duas hipteses de morte, a civil e real, a morte civil no existe em nosso ordenamento. Morte civil a extino da personalidade jurdica de um ser humano vivo. Embora no exista morte civil, existem resqucio da morte civil no nosso ordenamento, a deserdao e a excluso por indignidade, onde para efeitos de sucesso o herdeiro considerado pr-morto. Morte real aquela comprovada atravs do atestado mdico de bito, assinado em regra por um mdico, caso no haja mdico, o atestado pode ser substitudo por declarao de duas testemunhas. necessrio o corpo para comprovao da morte. No caso de transferncia de rgos necessria a assinatura de dois mdicos que no fizeram parte da remoo. A morte presumida pode ser de dois tipos, com e sem decretao de ausncia. No caso de morte presumida no h o corpo, a prova da morte feita de forma indireta. Na hiptese sem decretao de ausncia no h procedimento de ausncia, mas sim, o procedimento de justificao, mais clere. Na hiptese de decretao da ausncia, h desaparecimento da pessoa de seu domiclio sem dela haver notcia. Exige-se o procedimento de ausncia. Neste caso tambm h prova indireta da morte. A pessoa pode desaparecer de seu domiclio deixando ou no mandatrio. O CC de 1916 tratava o ausente como incapaz, o atual cdigo no o trata dessa forma, j que trata de curadoria dos bens do ausente, e no do ausente em si. So fases da ausncia: 1. 1 Fase: declarao da ausncia e nomeao de curador para administrar os bens da ausncia, cujos poderes sero determinados na sentena; 2. 2 fase: abertura da sucesso provisria aps um ano da arrecadao dos bens, ou trs anos, caso o ausente tenha deixado representante ou

procurador. aberta a sucesso da pessoa, sai o curador e a posse dos bens passa para os herdeiros, que em regra devem prestar cauo. Porm, no caso de o herdeiro ser cnjuge, descendente ou ascendente, ser dispensada a necessidade de cauo. O posicionamento majoritrio da doutrina de que os companheiros tambm devem ser dispensados da cauo, aplicando-se a analogia. 3. 3 fase: feita a sucesso definitiva decorridos 10 anos do trnsito em julgado da sentena concessiva da abertura da sucesso provisria, ou cinco anos do desaparecimento caso o ausente tenha desaparecido a 5 anos e contar com mais de 80 anos. O ausente deve ter completado 80 anos quando do requerimento da abertura da sucesso definitiva. A sentena que declara a sucesso definitiva declara a morte presumida da pessoa, momento em que os bens so transferidos em definitivo para os herdeiros e as caues so levantadas. No existe uma quarta fase, porm o CC diz que regressando o ausente nos 10 anos seguintes abertura da sucesso definitiva, ou algum de seus descendentes, aquele ou este havero somente os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preo recebido durante sua venda. somente aps esse prazo que a sucesso considerada inabalvel. COMORINCIA Quando duas ou mais pessoas so herdeiras entre si e falecerem na mesma ocasio. Quando no se conseguir apontar quem morreu primeiro a comorincia presumida, logo em nosso ordenamento no h a pr-morincia. DIREITOS DA PERSONALIDADE So direitos subjetivos da pessoa de proteger tudo que lhe prprio: a sua integridade. Direito da personalidade no tem por objetivo proteger patrimnio, sempre tem por objeto de proteo a integridade do ser humano, seja ela fsica, moral, ou intelectual. O direito a alimentos, por exemplo, um direito da personalidade, pois visa proteo da integridade fsica, o sustento. So direitos excludendi alios, ou seja, exigir de outras pessoas uma obrigao de no fazer. O fundamento de todos os direitos da personalidade o princpio da dignidade da pessoa humana. A expresso direitos fundamentais mais ampla que a direitos da personalidade, pois esses no se restringem a direitos personalssimos, englobando tambm direitos patrimoniais. Pessoas jurdicas possuem direitos da personalidade na medida em que se adqem a eles, como por exemplo, o direito ao nome. Dano moral toda ofensa a um direito da personalidade, logo PJ pode sofrer dano moral. Smula 227, do STJ. Porm, para o STF, a PJ somente pode sofrer dano moral por ofensa a sua honra objetiva. Para outra corrente, a PJ pode sofrer dano extra-patrimonial, expresso que poderia abranger o dano moral pessoa natural, e tambm o dano denominado dano institucional. Existe ainda uma terceira corrente, negando a possibilidade das pessoas jurdicas sofrerem dano moral ou extra patrimonial, ou seja, institucional. Para esta corrente, ainda que a ofensa seja moral, se existir dano, este somente pode ser material. A aplicabilidade desta terceira corrente comprometida pois no somente a PJ que tem intuito lucrativo pode sofrer dano moral.

Somente os direitos autorais, dentre o rol de direitos da personalidade, possuem natureza hbidra, so patrimoniais e pessoais. Caractersticas dos direitos da personalidade: 1. Inatos: quanto ao surgimento, existem duas correntes. A primeira entende que os direitos da personalidade nascem com a pessoa (corrente jus naturalista). Corrente defendida por Maria Helena Diniz Existe a corrente jus positivista defende que os direitos da personalidade somente existem diante de previso legal. Corrente defendida por Miguel Realli. AULA 48 2. Vitalcios: surgem e desaparecem com a morte da pessoa. os direitos da personalidade no se transmitem aos herdeiros. No caso de indenizao por danos a imagem do morto, a fundamentao de parentes para requerer est na leso indireta aos parentes (dano moral em ricochete ou dano moral reflexo). 3. Absolutos: confere uma oponibilidade erga ominis. Porm, no um direito absoluto no sentido de no ter limites, pois podem sofrer limitaes quando confrontados com outros direitos fundamentais ou quando colidirem com os direitos fundamentais de outras pessoas. 4. Ilimitado: o rol de direitos da personalidade do CC de 2002 entendido como meramente exemplificativo (numerus apertus). 5. Extra patrimoniais: so insuscetveis de valorao econmica. Essa caracterstica no impede a quantificao econmica em algumas situaes, como no caso de alimentos, no caso de expresso de uso do direito da personalidade (ex. contrato relativo a direito de imagem) ou no caso de pedido de indenizao por dano moral. 6. Imprescritveis: o seu exerccio no limitado a qualquer prazo. No existe prescrio de direito da personalidade. O que considerado imprescritvel o direito da personalidade em si, ento, assim como o prprio direito imprescritvel, suas medidas de proteo tambm o so. Contudo, as medidas de reparao aos direitos da personalidade (pretenso de reparao de danos morais), a posio majoritria de que a reparao de danos dos direitos da personalidade prescreveria em trs anos (regra geral de reparao de danos art. 206, 3, V, do CC). A posio minoritria a de que tambm a indenizao seria imprescritvel. As aes versando sobre reparao de danos causados em razo de crimes de tortura no prescrevem segundo entendimento dos tribunais superiores. 7. Intransmissveis: inadmissvel a possibilidade de um direito da personalidade se destacar, se separar, do seu titular, com exceo dos casos previstos em lei. 8. Indisponveis: so direitos que impem a todos um direito geral de absteno, inclusive ao prprio titular. O Enunciado 4 do CJF diz que o exerccio dos direitos da personalidade pode sofrer limitao voluntria, desde que no seja permanente nem geral. 9. Irrenunciveis: seu titular no pode renunciar a esses direitos durante toda a vida. decorre sobre tudo da indisponibilidade. 10.Inexpropriveis: no podem ser retirados da pessoa. Porm, os direitos da personalidade no podem ser penhorados, mas a quantia a ser recebida pelo uso do direito da personalidade pode.

DIREITO VIDA DIGNA Est prevista alm do nosso ordenamento, no art. 4 do Pacto de So Jos da Costa Rica. Dentro do direito vida est o direito reproduo humana. O Estado obrigado a prover tratamento para viabilizar a reproduo, ainda que gentico. Quanto ao direito clonagem, ela foi proibida em nosso pas pela lei 11.105/05. No mesmo sentido, a Declarao Universal do Genoma Humano e dos Direitos Humanos de 1997. O que proibida a clonagem reprodutiva (reproduo de um ser humano em sua integralidade), que tem por objetivo a reproduo de um novo ser humano. No entanto, permitida a clonagem no reprodutiva, que tem por objetivo a reproduo de apenas alguns rgos dos seres humanos. A eugenia ou eugentica cincia que estuda a melhoria da reproduo humana. classificada em positiva (alterar caractersticas dos seres humanos que no sejam defeituosas), tal espcie proibida em nosso pas; e negativa ( aquela que tem por objetivo prevenir e curar doenas e m formaes de origem gentica), tem sido vista como permitida em nosso direito. O direito no reproduo, em regra, est na esfera privada do ser humano. O Estado no pode obrigar a reproduo ou a no reproduo. A esterilizao voluntria para fins de planejamento familiar permitida em nosso ordenamento (Lei 9.263/96) desde que a pessoa conte com 25 anos, ter no mnimo dois filhos vivos e prazo de sessenta dias entre a manifestao de vontade e o ato cirrgico. A prpria lei determina que o Estado deve desencorajar essa cirurgia. A esterilizao teraputica visa salvar a vida da gestante, independente de qualquer outro requisito. Esse tipo de esterilizao uma opo da gestante. A esterilizao eugnica visa impedir a transmisso de doenas hereditrias e para prevenir a reincidncia de delinqentes portadores de desvio sexual, por exemplo. Existe uma forte resistncia esterilizao eugnica. DIREITO AO CORPO A doao de partes do corpo divida em duas formas. A doao inter vivos limitada pela indisponibilidade do direito sade do doador. Em regra, podem ser doadas partes destacveis do corpo humano como as renovveis ou regenerveis (leite, sangue, medula ssea, pele, vulo, esperma, fgado) e de rgos duplos (rins). Normalmente o objetivo salvar a vida de outra pessoa. No podem ser alienados rgos internos e sangue em nenhum aspecto. No caso de corte de cabelo, por exemplo, possvel a sua venda. Tambm no se admite negcio jurdico na doao inter vivos. No admitida a doao de rgos por seres humanos em situao de vulnerabilidade. Piercings e tatuagens no vo contra os bons costumes, pois tradicionalmente so aceitas na histria da humanidade. Na doao em vida o doador pode indicar o destinatrio da doao, no obrigado a cair na lista geral de transplantes. A doutrina divide a doao post mortem em: 1. Com finalidade altrustica: aquela que tem por objetivo o transplante de rgos. Regulada pela Lei 9.434/97. Em seu art. 4, a lei dizia que salvo manifestao de vontade em contrrio, presumia-se autorizada a doao de tecidos, rgo e partes do corpo humano, para finalidade de

transplantes ou teraputica post mortem. Seguia-se o princpio do presumed consent. Porm, esse artigo foi revogado, prevendo que a retirada depende de autorizao do cnjuge ou parente maior de idade, obedecida a linha sucessria reta ou colateral at o segundo grau, firmada por documento subscrita por duas testemunhas presentes verificao da morte. Os autores interpretaram no sentido de que se aplica esse dispositivo somente caso o de cujus no tenha se manifestado expressamente de modo diverso em vida. Hoje, entende-se que a matria rege-se pelo consenso afirmativo. 2. Finalidade cientfica: aquela em que a pessoa destina o seu corpo (inteiro ou partes) pesquisas de carter cientfico e s escolas de medicina para finalidade educacional. No caso e a pessoa falecer sem ser identificada, a Lei 8.521/92 determina que se o cadver no for reclamado dentro de trinta dias poder ser destinado para finalidade cientfica. DIREITO AO SEXO Decorre do direito vida digna. Entende-se que garantido o direito prtese peniana como dever do estado, dentro do direito sade. Quanto ao direito alterao de sexo existe no caso de transexual, que a pessoa que rejeita a sua identidade gentica e a prpria anatomia de seu gnero, identificando-se psicologicamente com o gnero oposto. No pode ser confundido com homossexual (apenas atrao pelo sexo oposto). A pessoa com esse distrbio tem direito a alterao do prprio sexo por meio de interveno cirrgica, que admitida pela Resoluo 1.652/02 do CFM. Em decorrncia da cirurgia, o transexual pode alterar o seu prenome e seu sexo no registro de nascimento e documentos. Hermafrodita a pessoa que possui rgos internos masculinos e externos femininos ou vice e versa. No direito alterao do sexo pois a pessoa j tem os dois. direito determinao do sexo, pois ele escolhe um deles. Em decorrncia da escolha tambm tem direito a alterao do nome e do sexo no registro de nascimento e demais documentos. DIREITO AO TRATAMENTO MDICO (DIREITO SADE) DIREITO RECUSA DO TRATAMENTO MDICO Rege-se pelo consentimento informado no caso de ningum ser obrigado a submeter-se, com risco de vida, a tratamento mdico ou interveno cirrgica. A princpio, a recusa a transfuso de sangue deve ser respeitada pelo mdico, pois, em regra, existe tratamento alternativo. Quando no existe tratamento alternativo o posicionamento majoritrio dos tribunais no sentido de que prevalece o direito vida em face do direito de liberdade de crena (princpio do primado do direito vida). Se a transfuso foi feita sem o consentimento do paciente, os tribunais tem entendido pela impossibilidade de serem pleiteados danos morais em face do mdico ou da entidade hospitalar. Entende-se que o mdico agiu no estrito cumprimento do dever legal. DIREITO AO NOME Toda pessoa tem direito ao nome, nele includo o nome e o prenome. At mesmo ao natimorto deve ser garantido o direito ao nome (porm, cada estado regulamenta a matria, e na maioria no permite a atribuio ao nome).

O art. 17 do CC protege o direito honra da pessoa. O art. 18 do CC protege o direito imagem. O art. 19 do CC protege o direito ao pseudnimo para uma atividade lcita, gozando da mesma proteo do nome. DIREITO IMAGEM Imagem retrato: a representao fsica do corpo de uma pessoa ou de partes de seu corpo atravs de fotos, desenhos, caricaturas, esculturas, pinturas, etc. (art. 5, X, da CF/88) Imagem atributo: o que a pessoa representa, isto , quais as caractersticas, qualidades e atributos reconhecidos a uma determinada pessoa pela coletividade. (art. 5, V, da CF) Imagem como direito autoral: o direito que a pessoa possui de proteger sua obra intelectual, de exposio ou publicao no autorizada. (art. 5, XXVII, da CF/88 e art. 20, do CC) Hipteses em que o direito a imagem no precisa ser autorizado: Divulgao de imagens de polticos, artistas e outras pessoas pblicas: podem ter a imagem divulgada com relao a atos que digam respeito a suas atividades, mas no intimidade ou vida privada; Divulgao de imagens em nome do interesse pblico: a divulgao da imagem pode ser realizada par fins de segurana pblica; sade pblica; e para fins de administrao pblica. Divulgao de imagens de fatos, eventos ou locais pblicos: permitida desde que seja par ao acontecimento e no para a pessoa. A pessoa apenas parte do cenrio, do contexto. Ex.: fotos de uma praa, uma praia, uma passeata, uma festa, etc. Direito de imagem X liberdade de imprensa hiptese de antinomia real, logo, todas as vezes que se est diante de uma antinomia real, o juiz deve se valer da tcnica da ponderao de valores, analisando no caso concreto qual o valor deve prevalecer, tendo sempre em mente o princpio da dignidade da pessoa humana. DIREITO A INTIMIDADE E DIREITO A PRIVACIDADE Em regra so termos tratados como sinnimos. Para Maria Helena Diniz, a privacidade protege aspectos externos da existncia humana, como seus hbitos, e-mails, telefones, cartas etc. Para a autora a intimidade protege os aspectos internos da existncia humana, como o segredo, o relacionamento amoroso, as situaes de pudor, o sofrimento em razo de uma perda, etc. PROTEO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE MEDIDAS PREVENTIVAS As medidas inibitrias so atuaes jurisdicionais a fim de influir de forma eficaz na vontade daquele que possa vir a violar direitos da personalidade. Na esfera preventiva da leso o direito dessa natureza sempre se estar diante de ponderao entre direitos de um e liberdade garantidas a outro. Tal ponderao, realizada pelo juiz, pode inclusive apresentar-se por tutela inaudita altera partes, visto que, a atuao dever ser efetiva e cuidar pela proteo do bem jurdico de maior valor no caso concreto. O Enunciado 140 do CJF diz que o art. 12 primeira parte do Cdigo Civil refere-se s tcnicas de tutela especfica, aplicveis de ofcio enunciadas no art. 461-A do CPC, devendo ser interpretada co resultado extensivo. MEDIDAS REPARATRIAS

Do conceito de medidas preparatrias temos que no se trata de garantir que direitos lesados sejam ressarcidos, mas que eles sejam reparados de forma a amenizar as conseqncias da violao ao direito da personalidade (princpio da satisfao compensatria). Nunca demais lembrar que restou afastada a discusso do passado sobre a impossibilidade de se pleitear a indenizao por dano material cumulado com indenizao por dano moral. Na atualidade, o entendimento pela possibilidade de cumulao pacfico e sedimentado no STJ. PESSOAS JURDICAS 1. Conceito todo ente formado pela coletividade de pessoas ou de bens que adquirem personalidade jurdica prpria por fora de disposio legal. Quando formada pela coletividade de pessoas chamada de pessoa jurdica intersubjetiva, ou seja, a que se forma entre sujeitos (pessoas). Caso a pessoa jurdica formada por uma coletividade de bens, chamada de patrimonial, exemplo a fundao privada. A capacidade da pessoa jurdica limitada finalidade para a qual foi criada. No direito francs e belga conhecida como pessoa moral; em Portugal, pessoa coletiva; no direito argentino, ente de existncia ideal. Existem outras denominaes como pessoas compostas, sociais, universais, abstratas, fictcias, etc. So requisitos para a criao das pessoas jurdicas: a. Vontade humana criadora; b. Comprimento das determinaes legais; e c. Finalidade lcita. 2. Classificaes das pessoas jurdicas 2.1. Pessoas jurdicas de direito pblico e de direito privado Pessoas jurdicas de direito pblico so aquelas reguladas pelo direito pblico. De direito pblico externo so os estados estrangeiros e as demais pessoas reguladas pelo direito pblico internacional. Pessoas jurdicas de direito privado so aquelas reguladas pelo direito privado. AULA 73 3. Espcies de pessoas jurdicas de direito privado: a. Associaes So pessoas jurdicas intersubjetivas sem finalidade lucrativa. A associao pode ter qualquer finalidade lcita que no seja lucrativa. So exemplos de associaes, as recreativas, filantrpicas, educacionais, religiosas, polticas, etc. Devem ter finalidade lcita. O MP exerce controle de finalidade das associaes. Apesar de no ter finalidade lucrativa, pode desenvolver atividade que gere lucro. Porm, a atividade que gera lucro s pode ser uma atividade meio, ou seja, serve para sustentar sua atividade principal. Para o CJF, partidos polticos e entidades religiosas tm natureza associativa. b. Sociedades So pessoas jurdicas intersubjetivas com finalidade lucrativa lcita. No importa se a sociedade simples ou empresria, de toda forma h necessidade de lucro. c. Fundaes So pessoas jurdicas patrimoniais sem finalidade lucrativa.

Existem duas formas de ato de instituio de fundaes: Inter-vivos: feita por meio de escritura pblica. No pode ser por instrumento particular; Causa-mortis: feita por meio de testamento, que no precisa ser necessariamente pblico. Admite qualquer forma de testamento. So requisitos para a instituio de uma fundao: Indicao da finalidade; Dotao de bens: a indicao de quais bens iro compor a fundao. Esses bens devem ser livres e suficientes para constituir a fundao. A verificao do cumprimento dos requisitos feita pelo Ministrio Pblico. O papel fiscalizatrio do MP permite que ele intervenha na fundao ou pea a sua dissoluo. Ateno: a forma pela qual a fundao ser administrada no um requisito indispensvel no ato de sua instituio (portanto, no requisito para sua instituio). O rol do p. nico do art. 62 do CC exemplificativo, segundo entendimento doutrinrio pacfico (Enunciado 9 do CJF: qualquer finalidade lcita que no seja a obteno de lucro). A simples deliberao dos rgos dirigentes das fundaes no pode ter por objeto sua extino, pois no caso das fundaes, a funo dos representantes dos rgos de mera administrao de um patrimnio que no lhes pertence. Nas fundaes, os fins so imutveis, porque fixados por seu instituidor. A promessa do instituidor que se traduz na dotao de bens ou direitos possui carter irrevogvel e irretratvel. d. Entes despersonalizados So entidades que no so pessoas jurdicas, como por exemplo, famlia, esplio, herana, massa falida, sociedade de fato (nem ato constitutivo possui), sociedade irregular, etc. Na dissoluo da sociedade de fato observa-se a participao de cada um. Aplica-se as regras da sociedade de fato ao concubinato. A sociedade regular possui ato constitutivo, mas este no foi levado a registro. As sociedades sem personalidade jurdica, quando demandadas, no podem opor a irregularidade da sua constituio. Atualmente existe divergncia doutrinria sobre a personalidade jurdica do condomnio edilcio (Segundo o Enunciado 90 do CJF, deve ser reconhecida personalidade jurdica ao condomnio edilcio). Admite-se que na execuo de dvida o bem pode ser adjudicado em nome do prprio condomnio edilcio. 4. Personalidade das pessoas jurdicas 4.1. Teorias afirmativistas da pessoa jurdica a. Teoria da equiparao: defende que as PJ adquirem personalidade em razo da lei equiparar bens a pessoas. Essa corrente falha, pois no se pode tratar de forma semelhante pessoas e bens, sob pena de coisificao do ser humano, que viola o princpio da dignidade da pessoa humana. a teoria menos aceita na atualidade. b. Teoria da fico legal (Savigny): defende que a PJ uma mera abstrao, ou seja, uma mera criao legal. Defende que essa pessoa existe apenas no plano dos direitos, negando sua existncia no plano dos fatos. Para essa teoria, a PJ somente tem existncia ideal, negando a existncia real. Essa teoria criticada, pois a PJ existe no plano dos fatos. Essa teoria prevaleceu na Frana e na Alemanha no sculo XVIII.

Essa teoria restringia o alcance da pessoa jurdica apenas ao direito material. c. Teoria da realidade objetiva (teoria da realidade orgnica ou teoria organicionista): defende que a personalidade da PJ fruto de sua existncia real (material). Defende exatamente o oposto da teoria da fico legal. Defende que a PJ seria um organismo social vivo, na medida em que toda PJ tem sua identidade organizacional prpria. Clovis Bevilaqua era partidrio desta doutrina. d. Teoria da realidade tcnica (teoria da realidade das instituies jurdicas): a soma das duas teorias anteriores. Defende a existncia real da PJ e que a personalidade delas fruto de reconhecimento da lei. A lei, para essa teoria, no tem fora criativa, mas confirmativa da realidade da PJ. A existncia da PJ fruto de sua identidade real com sua identidade irreal. Essa foi a teoria adotada pelo Cdigo Civil de 2002. e. Doutrinas negativistas: para essa teoria, somente existe no direito os seres humanos, carecendo as denominadas pessoas jurdicas de qualquer atributo da personalidade. Para essa doutrina, o termo pessoa jurdica serve apenas para mascarar um patrimnio coletivo ou uma propriedade coletiva. 5. Atributos da personalidade Quanto aos atos patrimoniais existe quase que uma semelhana total entre as pessoas jurdicas e as pessoas naturais. Porm, PJ no pode realizar atos existenciais, como, por exemplo, o casamento, adoo, etc. Obs. Pode ser condenada em alimentos em decorrncia de atos ilcitos. 6. Incio da personalidade das pessoas jurdicas O incio da personalidade das pessoas jurdicas de direito pblico se inicia, em regra, no momento da vigncia da lei criadora. Porm, h outras hipteses, como, por exemplo, revolues, guerras, promulgao de uma nova constituio, decretos (no caso de lei que autoriza a criao, como no caso de EP e SEM). No caso de pessoas jurdicas de direito privado, de acordo com o Cdigo Civil, ocorre a partir da inscrio dos seus atos constitutivos. Nosso sistema adotou o critrio das disposies normativas (h outros dois critrios citados pela doutrina: (i) livre associao: a emisso de vontade dos instituidores suficiente para a criao do ente personificado; (ii) do reconhecimento: h necessidade de um decreto estatal que reconhea a PJ.) Os requisitos do ato constitutivo esto no art. 46 do CC. Em regra dispensada a prvia autorizao do poder executivo (princpio da livre iniciativa). So excees: entidades financeiras, operadoras de seguros. O registro das pessoas jurdicas possui natureza jurdica constitutiva, pois o ato registral produz efeitos somente para o futuro, logo, possui eficcia ex nunc. Logo, o registro da PJ no convalidada atos pretritos. Caractersticas das sociedades despersonificadas: I. No possvel a obteno de CNPJ; II. Responsabilidade ilimitada, pessoal e solidria pela dvida; III. Impossibilidade de participar de licitaes com o Poder Pblico; IV. No consegue obter emprstimos/financiamentos; etc. 6.1. Adequao das Pessoas Jurdicas ao Cdigo Civil de 2002 Primeiramente, o prazo seria de um ano, que passou para dois, que depois, passou para quatro anos, tendo vencido em 2007.

Organizaes religiosas e partidos polticos no se subordinam adequao ao novo cdigo. A conseqncia da no adequao a irregularidade da pessoa jurdica, logo, passa a ser uma sociedade irregular. 7. Representao da Pessoa Jurdica A representao da pessoa jurdica para o Cdigo Civil feita pelo administrador, que exercem os poderes definidos no prprio contrato ou estatuto. Teoria dos atos ultra vires societatis: por esta teoria, as pessoas jurdicas no responderiam pelos atos de seus administradores que extrapolassem os poderes definidos em seu estatuto. Essa teoria prega a irresponsabilidade da PJ. Por esta teoria, o credor deve buscar seu prejuzo atravs do administrador que praticou o at. Essa teoria no aplicada em nosso ordenamento em face da teoria da aparncia. Se o contratante agiu de boa-f, no afasta a responsabilidade da pessoa jurdica. 8. Desconsiderao da Pessoa Jurdica Pelo princpio da separao (art. 20 do CC de 16), o patrimnio da empresa separado do patrimnio dos scios. A desconsiderao da personalidade jurdica o oposto da teoria da separao. sempre uma medida de exceo. A desconsiderao o ato pelo qual os scios ou administradores da PJ so chamados a responder pelas obrigaes assumidas pela empresa. Trata-se de simples medida processual, ou seja, quando h decretao de desconsiderao, a empresa no deixa de existir (no incide qualquer efeito no campo material). A desconsiderao apenas amplia o plo passivo da demanda, quando os scios ou administradores so includos na ao. 8.1. Teorias da desconsiderao da pessoa jurdica a. Teoria maior da desconsiderao: aquela em que no basta a inexistncia ou insuficincia de patrimnio da PJ, sendo necessria a demonstrao de um motivo previsto em lei. A teoria maior divide-se em duas: Subjetiva: aquela em que o motivo repousa na conduta dos scios ou administradores. Normalmente est calcada na idia de ato culposo dos scios, como, por exemplo, a existncia de fraude (seu grande defensor Rubens Requio); Objetiva: aquela em que para que ocorra a desconsiderao basta o desvio de funo (disfuno), caracterizado quando ocorre confuso patrimonial entre controlador (administrador) e o controlado (PJ). No direito americano muito utilizada principalmente por meio da cominglig of fund. Venire contra factum potest non podere (no possvel se virar contra fato prprio), est baseado na boa f objetiva (boa conduta), o administrador que confunde seu patrimnio com o da empresa quando lhe interessa, no pode alegar o princpio da separao de seu patrimnio quando o credor for cobrar da empresa (seu grande defensor Fbio Konder Comparato). Obs. A princpio, o art. 50 do Cdigo Civil seguiu a teoria objetiva; porm, na prtica, ambas as teorias tm sido adotadas no direito civil pelos nossos tribunais. O cdigo diz que ocorre a desconsiderao em caso de abuso de

poder, que gnero, dos quais so espcies o desvio de finalidade e a confuso patrimonial. b. Teoria menor da desconsiderao: aquela que dispensa motivo, basta a inexistncia ou insuficincia patrimonial da PJ. Essa teoria foi adotada pelo CDC e pelo Cdigo Ambiental. Segundo o STJ, Resp 279.273, o 5 do CDC tem aplicabilidade autnoma. No CDC, o juiz pode desconsiderar de ofcio a personalidade jurdica da PJ. Portanto, no CC, no pode. BENS 1. Teoria do estatuto jurdico do patrimnio mnimo (Luiz Edson Fachin) O CC de 2002 priorizou o ser, os direitos da personalidade, em consonncia da dignidade da pessoa humana, logo, deve ser garantido a todos os seres humanos um contedo jurdico mnimo existencial (ex. vedao da doao universal doar tudo o que tem para que se garanta um mnimo de existncia). Decorrncia da proteo ao estatuto jurdico mnimo a proteo ao bem de famlia. 2. Bem de famlia Existem duas formas de bem de famlia: 2.1. Bem de famlia legal ou involuntrio (Lei 8.009/90) aquele em que a proteo decorre de lei, incidindo de forma automtica. No necessrio escritura nem registro. A proteo do bem de famlia feita por meio de uma norma de ordem pblica, cuja incidncia imediata sobre dvidas anteriores, ainda que a penhora j tenha sido realizada (Smula 205 do STJ). O titular da proteo pode ser tanto a famlia (matrimonial, formal, mono parental, anaparental), bem como pode ser uma pessoa solteira. O que a lei visa a proteo do estatuto jurdico mnimo. Essa ampliao do direito ao bem de famlia foi fruto da EC 26, que acrescentou aos direitos sociais a moradia, que alterou proteo famlia para a proteo moradia. Pode ser protegido ainda que a moradia esteja em nome da empresa, desde de que seja utilizado pela famlia que no possui outra moradia (STJ, Resp 949.499/RS). A prova da moradia, em regra, pode ser feita por meio de documentos. 2.1.1 Objeto da proteo Abrange o bem imvel urbano ou rural utilizado pela famlia /pessoa, para sua moradia e os bens mveis que guarnecem a residncia e so indispensveis vida digna do morador, assim como as plantaes e benfeitorias. A proteo no alcana veculos automotores nem obras de arte ou adornos suntuosos e bens teis, mas no indispensveis famlia, como, por exemplo, ar condicionado, lava-louas, som, freezer, bar em mogno, etc. Com relao aos eletrodomsticos a proteo incidir, em regra, somente sobre uma unidade de cada objeto. Porm, deve-se analisar o caso concreto para saber se o eletrodomstico sobressalente no indispensvel. A proteo tambm incide sobre imvel em construo. Se o casal tiver mais de um imvel onde tenha domiclio, a proteo incidir sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado para esse fim no CRI.

Bem de famlia indireto aquele em que a famlia no utiliza para sua moradia. Porm, apesar disso, est usufruindo do bem. a hiptese em que o nico imvel (ainda que no seja residencial) da famlia objeto de contrato de locao, e a renda obtida utilizada para o pagamento do aluguel dos bem em que a famlia mora. FALTA ASSISTIR S PERGUNTAS DA LTIMA AULA AULA 82 Se o imvel for rural tambm haver a proteo, que, em regra, se restringir sede da moradia da famlia. Excepcionalmente, a proteo abranger todo o imvel rural se a propriedade for pequena (art. 5, XVI, CF), e for trabalhada pela prpria famlia. No existe no ordenamento jurdico posio precisa dobre o que seja pequena propriedade. O entendimento majoritrio sobre o que seja pequena propriedade o tamanho de um mdulo rural, cujo tamanho varivel de regio para regio, como tamanho mnimo para a propriedade ser produtiva, sendo definida pelo INCRA. Existe proteo ao bem de famlia mesmo que a pessoa no possua casa prpria. A proteo se restringir aos mveis que guarnecem a residncia. 2.1.2. Excees impenhorabilidade Previstas na Lei do Bem de Famlia. 2.1.3. Pontos polmicos sobre o bem de famlia involuntrio De acordo com a lei, quando se trata de um fiador executado, esse no tem direito proteo. Essa hiptese foi acrescentada pela Lei do Inquilinato (8.245/91). A doutrina dividida sobre o tema. A doutrina majoritria contrria possibilidade desse tipo de penhora. favorvel impenhorabilidade. Tem como fundamentos: (i) ofensa ao princpio da igualdade (isonomia substancial); (ii) essa previso no foi recepcionada pela CF aps a EC 26/00. Para a jurisprudncia, tanto no STF quanto no STJ, tem sido no sentido de que o bem de famlia do fiador penhorvel. Renncia ao bem de famlia: (i) existe uma primeira corrente que entende que a proteo do bem famlia feita atravs de norma de ordem privada, portanto, o direito seria renuncivel. Para essa primeira corrente, se o devedor oferecer o bem a penhora, depois no poder se arrepender. Os argumentos da primeira corrente so de que ningum pode se valer da prpria torpeza; que o arrependimento seria uma hiptese de venire (venire contra factum proprium non potest a vedao ao comportamento contraditrio. Por esta regra, se uma pessoa se posicionou de determinada forma no passado quanto a um negcio ou ato jurdico, essa pessoa no poder no futuro mudar o seu posicionamento/comportamento procurando obter um ganho), o que inaceitvel diante do princpio da boa f objetiva. (ii) a segunda corrente (mais recomenda para concurso) defende que a proteo do bem de famlia tem por base norma de ordem pblica, sendo, portanto, irrenuncivel. Mesmo que a pessoa oferea voluntariamente o bem a penhora, poder posteriormente se arrepender. So argumentos dessa corrente os de que a renuncia vista como uma forma de exerccio inadmissvel da autonomia privada; e que o princpio que protege o direito moradia prevalece sobre o princpio da boa-f objetiva. No h posicionamento jurisprudencial firme sobre o assunto. 2.2. Bem de famlia voluntrio aquele em que a instituio deve ser feita por meio de ato inter vivos ou por ato causa mortis. No caso de atos inter vivos deve ser feita por escritura

pblica. No caso de ato causa mortis, deve ser por testamento, que pode ser pblico ou particular. A escritura pblica exigida independentemente do valor do bem (no segue a regra do art. 108 do CC). O CC no revogou a Lei do Bem de Famlia. Porm, na prtica, ou se aplica um instituto ou se aplica o outro. O dilogo de excluso. 2.2.1. Objeto de proteo A proteo recai sobre o imvel residencial urbano ou rural, com todos os seus acessrios (pertenas). Pode abranger ainda valores mobilirios (poupanas, aplicaes financeiras, aes, etc.) cuja renda seja utilizada no sustento da famlia. O objeto da instituio no pode ultrapassar um tero do patrimnio lquido existente no momento em que feita a instituio. 2.2.2. Excees proteo Obrigaes anteriores instituio, no importa a natureza; Obrigaes propter rem, isto , aquelas relacionadas ao imvel da tutela. Deve-se aplicar por analogia as excees da Lei de Bem de Famlia no se aplica ao bem de famlia voluntrio tais excees, levando-se em considerao que o dilogo de excluso. Essa seria a nica vantagem de se instituir o bem de famlia. 2.2.3. Administrao do bem feita pelo casal. Havendo qualquer divergncia entre os cnjuges, essa ser solucionada pelo juiz. 2.2.4. Extino do bem de famlia voluntrio Morte dos cnjuges sem filhos menores (se tiver filho menor a proteo continua); Morte de apenas um dos cnjuges aliada ao requerimento feito pelo vivo. Separao e divrcio no extinguem o bem de famlia voluntrio. NEGCIO JURDICO 1. Ato jurdico latu sensu a manifestao de vontade que est de acordo com o ordenamento jurdico e capaz de produzir efeitos jurdicos. 1.1. Ato jurdico stricto sencu a manifestao de vontade que produz efeitos impostos por lei. A nica disposio no cdigo sobre esse dispositivo o art. 185. 1.2. Negcio jurdico a manifestao de vontades que produz efeitos desejados pelas partes e permitidos por lei. onde as partes podem exercer a autonomia privada (autonomia da vontade). O negcio deve ser permitido por lei, pois o Estado atua no chamado dirigismo contratual. 1.2.1. Negcio jurdico unilateral o realizado por uma s pessoa, como por exemplo, o testamento, a promessa de recompensa. 1.2.2. Negcio jurdico bilateral Todo e qualquer tipo de contrato. 1.3. Ato-fato jurdico o fato jurdico qualificado pela atuao humana. o fato jurdico em que a manifestao de vontade humana examinada no aspecto secundrio (no

importa se a pessoa capaz ou no), preocupando-se o direito apenas com as conseqncias/efeitos do ato. So exemplos, o menor que compra um refrigerante, caa, pesca, comisto mvel, especificao. uma construo doutrinria, no estando previsto na legislao. TEORIA GERAL DO NEGCIO JURDICO Para a teoria da Escada Ponteana, desenvolvida por Pontes de Miranda, o negcio jurdico deferia ser seguido como se fosse uma escada. No primeiro degrau estaria a existncia; no segundo degrau a validade; e no terceiro degrau a eficcia. Primeiro se analisa a existncia, depois a validade e, por ltimo, a eficcia. A existncia e a validade so os elementos essenciais. O plano de eficcia seria elemento acidental. O Cdigo Civil no est inteiramente adequado Escada Ponteana. ELEMENTOS ESSENCIAIS PLANO DE EXISTNCIA PLANO DE VALIDADE Partes Capacidade civil plena (gozo + exerccio). Relativamente incapaz assistido; absolutamente incapaz representado. Legitimidade (forma de capacidade especfica. Leva em considerao o objeto do negcio) o nico requisito hbrido da teoria de Pontes de Miranda, pois diz com as partes e com o objeto. Em regra quando descumprida a legitimidade o ato anulvel. Ex. na venda de ascendente para descendente exige o consentimento dos demais (ateno, a doao no precisa). Objeto Deve ser lcito (de acordo com ordenamento jurdico abrange lei, moral, ordem pblica e bons costumes). Possvel. Pode ser tanto a jurdica (contido no conceito de objeto lcito) quanto a possibilidade fsica ( analisada somente luz do objeto e no quanto a pessoa que ir desenvolver a atividade. A pessoa ser analisada no plano de existncia relacionada parte). Exemplos de objetos impossveis fisicamente: colocar toda a gua do oceano em um copo; construir uma ponte at a lua. Deve ser determinado (individualizado) ou determinvel (tem ao menos a indicao de gnero e quantidade). Se o objeto for ilcito, impossvel, indeterminado ou indeterminvel, o negcio jurdico ser nulo (art. 166 do CC). Vontade Deve ser livre, ou seja, no est sob qualquer forma de coao ou presso. Alm de livre, a vontade deve ser consciente e de boa-f (para autores mais novos). Forma Prescrita ou no defesa em lei. Em regra a forma livre Para o direito civil, em

regra, basta que a norma no esteja defesa. Em regra, quando o requisito da solenidade da lei no for seguida, h nulidade absoluta. No caso de solenidade a ad solemnitatem a que exigida a ttulo de validade, toda vez que for desrespeitada o negcio nulo. exemplo o art. 108 do CC. Solenidade ad probationem aquela que se refere prova. Trata-se de prova em juzo do negcio. Est mais relacionada ao direito processual civil, porm, h exemplo dessa solenidade no art. 227 do CC. Obs. Em regra, o motivo (causa) irrelevante para o direito. Todavia, quando aposto como razo determinante, se transfigura penetrando no contedo da prpria declarao negocial e tornando ilcito o objeto. ELEMENTOS ACIDENTAIS o plano de eficcia dos negcios. Em regra, os negcios jurdicos que existem e so vlidos tm eficcia imediata. Excepcionalmente pode ser inserida uma clusula pelas partes que ir alterar essa eficcia natural do negcio, que so a condio o termo e o modo ou encargo. Normalmente, somente os negcios somente os negcios que envolvam interesse patrimonial (possuem contedo econmico) podem conter elemento acidental. So exemplos a compra e venda, a doao, etc. Nem todos os negcios patrimoniais admitem elemento acidental. So exemplos de negcios que no admitem elementos acidentais a aceitao e renncia de herana (so os denominados atos puros). Atos que envolvam interesses extra patrimoniais, como casamento, atos existenciais (reconhecimento de filhos, adoo, dentre outros do direito de famlia). Rol dos elementos acidentais 1. Condio a clausula que subordina a eficcia do negcio a um evento futuro e incerto. Para que seja condio a clusula deve ter sido inserida pela vontade das partes (ou seja, no pode ser um requisito legal). Se o evento for pretrito e ocorreu, o negcio ser reputado concludo e eficaz. Caso o evento no tenha ocorrido o negcio no ser considerado perfeito, isto , no produzir efeitos. Condio legal ou imprpria aquilo que Antonio Azevedo se refere como conditio iuris. No tida como condio, pois condio imprpria um requisito legal (imposto pela lei) para que o ato tenha eficcia, como, por exemplo, registro do escritura pblica de compra e venda de coisa imvel. Classificao da condio: Quanto certeza: (i) incertus an incertus quando: condio incerta. aquela que no se sabe se ocorrer e nem quando poder ocorrer; e (ii) incertus an certus quando: no se sabe se o evento ocorrer, mas, se ocorrer, dever ser num determinado momento/lapso temporal Quanto aos efeitos: (i) suspensivas: aquela que quando verificada d incio aos efeitos do negcio. Suspende o exerccio e a aquisio do direito at o momento em que a condio for verificada. Gera to

somente expectativa de direitos (sps debitum iri) no gera direito adquirida; (ii) resolutiva: aquela que quando verificada pe fim aos efeitos do negcio. Na condio resolutiva a aquisio do direito ocorre desde logo e o negcio produz todos os efeitos enquanto a condio no se verificar. o oposto da condio suspensiva. AULA 85 Negocio jurdico sob condio suspensiva pode ser transmitido Apesar de gerar somente expectativa de direito, ainda que sob condio suspensiva, o negcio pode ser transmitido a terceiros. Pode ser transmitida tanto por atos inter vivos como mortis causa. Obs. Admite-se, inclusive, que o titular da expectativa de direito possa praticar atos judiciais ou extra-judiciais com a finalidade de conservar o seu eventual direito. Pode, por exemplo, impetrar ao de reintegrao de posse. Classificao quanto a possibilidade: Condio possvel: aquela que pode ser realizada tanto no aspecto fsico quanto no aspecto jurdico. Condio impossvel: aquela que no pode ser realizada seja no aspecto fsico, seja no aspecto jurdico. Condio suspensiva impossvel anula o negcio jurdico. Condio resolutiva impossvel considera-se no escrita. Classificao quanto a ocorrncia: Condio causal: aquela que subordina a eficcia do negcio a um evento da natureza; Condio meramente potestativa: subordina o negcio vontade intercalada dos contratantes. Ex. uma parte cria a condio e a outra parte a cumpre ou no. perfeitamente admissvel. aquela que sujeita a eficcia do negcio vontade arbitrria de um dos contratantes. Ex. vou lhe dar tal coisa se eu quiser. No admitida, pois seria a mesma coisa que no prometer nada. Um contratante cria uma condio que dever ser cumprida por ele mesmo. A condio puramente potestativa nula. Condio mista: uma mistura da condio causal com a potestativa. vlida dependendo da mistura que se fizer. Ex. causal + condio meramente potestativa vlida. Se por outro lado, for condio causal + puramente potestativa ela nula, pois a condio causal seria insignificante no negcio jurdico. Condio quanto a licitude: Condio lcita: est de acordo com o ordenamento jurdico Condio ilcita: contrria ao ordenamento jurdico. 2. Termo a clausula que subordina a eficcia do negcio jurdico a um evento futuro e certo. Toda data futura exemplo de termo. Classificaes do termo: pode ser classificado em termo suspensivo (inicial ou dies a quo) e resolutivo (final ou dies ad quem). Termo suspensivo aquele que quando verificado d incio aos efeitos do negcio. Suspende o exerccio, mas no a aquisio do direito, logo, gera direito adquirido. O lapso temporal existente entre dois termos denominado prazo. Classificao quanto a origem:

Termo legal: est previsto na lei. Termo convencional: aquele ajustado entre as partes. Quanto preciso da data: Termo certo (certus an certus quando): aquele que certo que ocorrer e se sabe quando ocorrer. Termo incerto (certus na incertus quando): aquele que certo que ocorrer, mas no se sabe quando ocorrer. exemplo a morte. Obs. Chuva exemplo de termo incerto quanto a data no caso de aparecer sem limitao temporal. exemplo de condio se aparecer com limitao temporal, como por exemplo, se chover essa semana. No caso de se prometer uma coisa no caso de casamento da pessoa, ainda que o casamento esteja com data marcada, trata-se de condio. 3. Modo ou encargo Consiste na prtica de uma liberalidade subordinada a um nus. Doao onerosa exemplo de modo ou encargo, a mesma coisa que doao modal ou sob encargo. muito comum nos casos de loteamento em que o loteador doa um lote subordinando a liberalidade a um nus, como por exemplo, para a prefeitura construir uma creche em determinado prazo. A parte que colocou o nus no negcio jurdico no pode cobrar da outra parte a sua realizao. Por se tratar de um nus, caso a parte favorecida no cumpra o modo ou encargo, a parte que realizou a liberalidade poder pedir a revogao desta, mas nunca o poder exigir o cumprimento do encargo em juzo. Pode ocorrer tanto por ingratido como por descumprimento do encargo. Se o encargo for ilcito ou impossvel, ele ser, em regra, considerado no escrito. Todavia, caso o encargo seja o motivo determinante da liberalidade, todo o negcio jurdico nulo. Na prtica, surgindo dvidas sobre a existncia de condio ou encargo, devese concluir pela existncia do encargo, pois restrio menor que a condio. Considera-se no escrito o encargo ilcito ou impossvel, salvo se constituir motivo determinante da liberalidade, caso em que invalida o negcio jurdico. Obs. O motivo que normalmente irrelevante para o direito. Todavia, quando aposto como razo determinante, se transfigura penetrando no contedo da prpria declarao negocial e tornando ilcito o objeto. DEFEITOS DO NEGCIO JURDICO Est sempre relacionado vontade humana. As diferenas entre os vcios da vontade e do consentimento ocorrem na medida em que os vcios da vontade o defeito est na formao da vontade (aspecto subjetivo) e o prejudicado uma das partes contratantes; enquanto, nos vcios sociais o defeito est na manifestao da vontade (aspecto objetivo), o prejudicado sempre terceiro. 1. Erro ou ignorncia Erro a falsa percepo da realidade, enquanto a ignorncia o completo desconhecimento da realidade. Os efeitos e conseqncias jurdicas so idnticos. O efeito do erro tornar o negcio jurdico anulvel por meio de ao anulatria com prazo decadencial de quatro anos, cujo termo inicial a data da celebrao do negcio jurdico. A legitimidade para a ao a pessoa prejudicada. Erro imprprio (erro obstculo): denominado pela doutrina como bice impeditivo da manifestao de vontade. Em outras legislaes, como a alem,

tais situaes atribuem nulidade ao negcio jurdico. Ex. algum aluga um imvel quando na verdade acredita estar comprando-o. No tocante ao casamento, h no art. 1.557 a definio do que entende a lei por erro essencial para inquinar a vontade matrimonial. Trata-se de aplicao particular do erro quanto pessoa. A escusabilidade um requisito para a anulao de um negcio jurdico por erro Quanto a esta questo existem duas correntes. So elas: I. Primeira corrente: autores clssicos defendem que a escusabilidade ainda um requisito para a anulao do negcio jurdico. II. Segunda corrente: os autores mais novos entendem que a escusabilidade no mais um requisito. Segundo o Enunciado 12 do CJF, na sistemtica do art. 138 irrelevante ser ou no escusvel o erro, porque o artigo adota o princpio da confiana. Esses autores dizem que a expresso poderia ser percebido por pessoa de diligencia normal, em face das circunstancias do negcio no se refere escusabilidade, mas recognoscibilidade, pois na primeira verificada a conduta da parte prejudicada, enquanto a recognoscibilidade o que verificado a conduta daquele que contratou com o prejudicado, ou seja, daquele que se beneficiou do negcio jurdico. Princpio da conservao do contrato: previsto no art. 144 do CC, nada mais do que fruto do princpio da funo social do contrato. Visa, sempre que possvel, evitar-se o desfazimento do negcio jurdico. O erro pode ser classificado de duas maneiras: Erro substancial: aquele que recai sob aspecto determinante do negcio. Quando o erro substancial o negcio jurdico anulvel. Erro acidental: aquele que recais sobre aspectos secundrios do negcio. No permite a anulao do negcio jurdico, nem que a parte prejudicada pea a reparao pelas perdas e danos, pois quem erra, erra sozinho. O error pode ser incorpore, in negotia ou in substantia. 2. Dolo o induzimento malicioso da pessoa a erro. A pessoa induzida a errar. Pode ser conceituado tambm, como o artifcio ardiloso utilizado para enganar uma pessoa para que ela celebre determinado negcio jurdico. anulatria com prazo decadencial de quatro anos, cujo termo inicial a data da celebrao do negcio jurdico. A legitimidade para a ao a pessoa prejudicada. Classificao do dolo quanto a determinao Dolo essencial (dolus causam): aquele que contamina o negcio jurdico pelo fato de ter sido a sua causa. Recai sobre um aspecto determinante do negcio. Gera a anulabilidade do negcio jurdico. Dolo acidental (dolus incidens): aquele que no influiu na celebrao do negcio jurdico. O dolo acidenta no gera a anulabilidade do negcio, porm, permite que a parte enganada pleiteie indenizao pelas perdas e danos. Classificao do dolo quanto a conduta Positivo ou comissivo: aquele que consiste em uma ao. Negativo ou omissivo: basta uma omisso do agente (porm, caso a pessoa realmente no tenha a informao no h dolo). A pessoa deve omitir informao de que tinha conhecimento.

Dolo bilateral ou recproco: o dolo de um compensa o dolo do outro, ou seja, os dolos se anulam reciprocamente, o negcio jurdico permanece vlido. No existe direito nem mesmo reparao pelas perdas e danos proporcionais quando o prejuzo de um for maior que o prejuzo do outro. Dolo de terceiro: o dolo de terceiro, para se constituir em motivo de anulabilidade exige a cincia de uma das partes contratantes. Neste caso, o autor do dolo ser condenado em perdas e danos. 3. Coao a presso ou ameaa que uma pessoa exerce sobre a outra para a obteno de um negcio jurdico. 3.1. Coao moral ou psicolgica (vis compulsiva) Qualquer forma de presso que cause fundado temor de dano iminente e considervel pessoa do negociante, aos seus familiares ou at mesmo a seus bens. aquela que deixa opo. O prazo para anulao de quatro anos, cujo termo inicial para contagem de prazo o dia em que cessar a coao. 3.2. Coao fsica (vis absoluta) No est prevista no Cdigo Civil, sendo fruto de construo doutrinria. aquela que no deixa opo ao coagido. H ausncia de manifestao de vontade (ex. colocar arma na cabea de uma pessoa). A conseqncia dessa forma de coao a inexistncia do negcio jurdico, em face da ausncia de vontade. A ao apta para anular o negcio a ao declaratria de nulidade, cujo o prazo imprescritvel. No caracteriza coao: a. Ameaa de exerccio legal do direito; b. Temor reverencial ou receio de desgosto. Coao de terceiro: subsistir o negcio jurdico, se a coao decorrer de terceiro, sem que dele tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a quem aproveita, mas o autor da coao responder por perdas e danos do coacto. 4. Estado de perigo o negcio jurdico realizado por uma pessoa para salvar a si prprio, a um parente prximo ou a um amigo ntimo de grave situao de perigo. Para tanto, a pessoa realiza o negcio assumindo prestao excessivamente onerosa. So requisitos para anulao do negcio jurdico por estado de perigo: a. Elemento subjetivo: pessoa realiza o negcio jurdico para salvar a si prprio, a parente prximo ou a um amigo ntimo. b. Elemento objetivo: a pessoa realiza negcio jurdico assumindo prestao excessivamente onerosa. Obs. Para que o negcio seja anulado por estado de perigo necessrio provar que a outra parte sabia da situao de perigo. A doutrina chama isso de dolo de aproveitamento, que, como visto, deve ser provado. So conseqncias do negcio viciado por estado de perigo a anulabilidade do negcio mediante ao anulatria com prazo decadencial de quatro anos, com termo inicial a partir da concluso do mandato. Por analogia, aplica-se o princpio da conservao dos contratos visto no erro. Obs. O estado de perigo permite a anulao do cheque cauo dado a hospital, porm, no exonera o devedor de arcar com as despesas de tratamento.

5. Leso Consiste no vcio que permite a anulao do negcio jurdico celebrado de forma excessivamente onerosa quando a pessoa se encontrar em situao de premente necessidade ou de inexperincia. So requisitos para a anulao do negcio jurdico por leso: a. Elemento subjetivo: premente necessidade ou inexperincia (a diferena para o estado de perigo o grau da necessidade). O conceito de inexperincia de difcil colmatao, exigindo a anlise do caso concreto. b. Elemento objetivo: o mesmo do estado de perigo. Pessoa realiza o negcio jurdico assumindo prestao excessivamente onerosa. Na leso no preciso provar que a outra parte estava em situao de premente necessidade ou inexperincia (Enunciado 157 do CJF). A leso no exige dolo de aproveitamento para que o negcio seja anulado. So conseqncias do negcio viciado por estado de perigo a anulabilidade do negcio mediante ao anulatria com prazo decadencial de quatro anos, com termo inicial a partir da concluso do mandato. A leso dever conduzir sempre que possvel conservao do contrato. Caso a outra parte se oferea a complementar o preo a parte lesionada obrigada a aceitar (art. 157, 2). A prpria parte pode entrar com ao pedindo reparao pelo preo, segundo o Enunciado 291 do CJF. Nos contratos aleatrios, apenas excepcionalmente pode ser tipificada a leso, quando a vantagem obtida frontalmente superior ao contrato. Segundo Venosa, a necessidade de que fala a lei a premncia negocial, contratual, no se identificando com o estado de necessidade ou o estado de perigo. A desproporo das prestaes deve ser aferida no momento de contratar. Quando surge posteriormente ao negcio, irrelevante, pois, nessa hiptese, estaramos no campo da clusula rebus sic stantibus (teoria da impreviso). No se pode admitir que os contratantes renunciem previamente ao direito de anular o contrato por qualquer vcio de vontade. AULA 107 VCIOS SOCIAIS SIMULAO o desacordo entre a vontade interna (inteno) e a vontade externa (manifestao). Na simulao os contratantes agem em conluio com o objetivo de prejudicar terceiros. Em que pese a mudana do tratamento da matria no CC/02, simulao continua sendo espcie de vcio social. A simulao torna o negcio jurdico nulo, passvel de ao declaratria de nulidade absoluta. A legitimidade de qualquer interessado, inclusive a do MP. De acordo com o Enunciado 294 do CJF: sendo a simulao uma causa de nulidade do negcio jurdico, pode ser alegada por uma das partes contra a outra. Classificao da simulao quanto ao contedo: a. Absoluta: tudo mentira. aquela em que existe a aparncia de um negcio, mas na essncia, as partes no desejam realizar qualquer negcio.

Na simulao absoluta somente existe o negcio simulado. No h negcio dissimulado. No se pode aproveitar nada, tudo nulo. b. Relativa: nem tudo mentira. aquela em que h um negcio jurdico falso (negcio simulado) encobrindo um negcio jurdico verdadeiro (negcio dissimulado). A simulao relativa pode ser: (i) objetiva: refere-se a algum elemento relativo ao negcio jurdico (ex. preo, data, objeto, condio); e (ii) subjetiva: o que falso no negcio jurdico so as pessoas que contratam (ex. pessoa interposta). Ateno: no CC/02 no importa se a simulao absoluta ou relativa, a conseqncia uma s: o negcio nulo. O art. 167, caput, trata de hiptese de simulao relativa, onde o negcio que se dissimulou subsistir, se vlido na substancia e na forma. Classificao de acordo com o propsito a. Maliciosa: aquela que tem por objetivo prejudicar terceiros ou violar disposio de lei. Torna o negcio jurdico nulo. b. Inocente: aquela que no tem por objetivo prejudicar terceiros ou violar a lei. exemplo o caso de doao simular-se uma compra e venda entre pai e filho. Quanto a invalidao do negcio nesse caso h duas correntes: I. A simulao inocente no invalida o negcio jurdico (Maria Helena Diniz e Caio Mrio da Silva Pereira); II. Defende que na vigncia do CC/02, toda simulao gera nulidade, inclusive a inocente (Silvio Rodrigues e Francisco Amaral). Posicionamento preponderante na atualidade, de acordo com Enunciado 152 do CJF. FRAUDE CONTRA CREDORES a atuao maliciosa do devedor insolvente ou na iminncia de assim se tornar, que se desfaz de seu patrimnio procurando no responder pelas obrigaes anteriormente assumidas. Em caso de fraude contra credores o credor deve ingressar com ao pauliana (ao constitutiva negativa). Requisitos para caracterizao: a. Evento danoso (eventus damni): a insolvncia do devedor foi provocada pelo negcio fraudulento. Deve-se provar que em razo do negcio jurdico a pessoa ficou insolvente. b. Conluio fraudulento (consilium fraudi): deve ser provado o conluio entre o devedor e o adquirente. Deve-se provar a m-f do adquirente. Se o adquirente estava de boa-f (subjetiva) ele no perde o bem, ou seja, a venda do bem no ser anulada. c. Anterioridade do crdito: a fonte obrigacional deve ser anterior realizao do negcio, ao negcio tido como fraudulento. A fonte obrigacional pode ser o contrato, pode ser o ilcito, dentre outros (Enunciado 292 do CJF). Conseqncias da fraude contra credores a. De acordo com o CC: torna o negcio jurdico anulvel (plano da validade). b. Para os tribunais (Posio pacfica no STJ): o negcio fraudulento ineficaz perante terceiros (plano de eficcia). o mesmo entendimento aplicado fraude execuo. O prazo para a impetrao da ao pauliana decadencial de 4 anos, contados do dia em que foi praticado o negcio jurdico fraudulento. A legitimidade pessoa prejudicada ou de seus sucessores.

O cnjuge precisa ser citado da ao paulina, de acordo com o art. 10, 1, I, do CPC. Caso no seja citado, pode ingressar com embargos de terceiro. A fraude contra credores no pode ser reconhecida em sede de embargos de terceiros, deve ser proposta ao pauliana. PRESCRIO a perda da pretenso de reparao do direito violado em virtude da inrcia de seu titular no prazo previsto em lei. Pretenso o poder de exigir de outrem coercitivamente um dever jurdico. A prescrio pe fim pretenso do agente (e no ao direito de ao). A obrigao de acordo com a teoria binria (A. Brinz) torna um duplo vinculo entre credor e devedor. O primeiro vnculo seria o dbito e o segundo vnculo seria a responsabilidade civil. O dbito o primeiro momento da obrigao, consubstanciado no dever jurdico de cumprir espontaneamente uma prestao. Pode ser uma obrigao de dar, fazer e no fazer. A responsabilidade civil o segundo momento da obrigao, consubstanciada na conseqncia jurdica e patrimonial do descumprimento do dbito. H prescrio sempre que a outra parte est obrigada a fazer uma coisa espontaneamente e em no o fazendo, ingressa-se em juzo para satisfazer o direito (exercendo uma pretenso), que est sujeita a determinado lapso temporal. A prescrio est relacionada a direitos subjetivos patrimoniais (gera outra parte dever jurdico, ou seja, obrigao). Prescrio da exceo De acordo com o art. 190 do CC, a exceo prescreve no mesmo prazo em que a pretenso. De acordo com Cmara Leal existem dois tipos de exceo: a. Exceo prpria ou propriamente dita: aquela em que o ru alega somente matria de defesa, sem qualquer conotao de ataque. Quando a exceo prpria prescritvel. b. Exceo imprpria: aquela em que o ru alega em sua defesa matria que poderia ser objeto de ao prpria, como, por exemplo, a compensao. Espcies de prescrio a. Prescrio extintiva: a prescrio estudada na parte geral do cdigo civil. Pe fim a uma pretenso. b. Prescrio aquisitiva: a usucapio. As causas que suspendem, interrompem ou impedem o prazo de suspenso tambm so aplicveis usucapio. Declarao de ofcio da prescrio O juiz deve declarar de ofcio a de prescrio (art. 219, 5, CPC). A prescrio civil continua sendo matria de ordem privada, tanto que admissvel a sua renncia. A prescrio pode ser alegada em qualquer grau de jurisdio, pela parte a quem aproveita. Porm, para os tribunais, a prescrio somente pode ser alegada nas instancias ordinrias (Resp 157.840). Renncia da prescrio A revogao do art. 194 do CC no excluiu a possibilidade do exerccio do direito de renncia pela parte. Atualmente, antes de declarar de ofcio a prescrio, o juiz deve intimar as partes para que se manifestem. Ao ru para que possa exercer direito de renncia. Ao autor para que, eventualmente, aponte o equvoco do juiz (Enunciado 295 do CJF).

So requisitos para a renncia: a. Inexistncia de prejuzo de terceiro; b. O prazo j deve estar consumado (no se pode renunciar a prescrio antes da consumao do prazo). A renncia prvia proibida. No se admite renncia prvia a prazo prescricional em nenhum caso (nunca). Obs. A renncia pode ser expressa ou at mesmo tcita, como no caso de pagamento de dvida prescrita (irrepetvel). Prazos de prescrio Esto em dois artigos do cdigo civil. H prazos especiais, no qual a lei detalha uma situao concreta (art. 206 do CC); e prazo geral (art. 205), de 10 anos, aplicvel no caso de inexistncia de prazo especial (aplicvel de forma subsidiria). Os prazos de prescrio devem estar previstos em lei. No possvel a criao ou alterao de prazo de prescrio. No existe prazo convencional de prescrio (limitao da autonomia privada). A contagem do prazo de prescrio surge com o aparecimento da pretenso, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo (Enunciado 14 do CJF art. 189 do CJF). Todas as vezes que a ao for de reparao de danos, o art. 189 do CC determina que o termo inicial da contagem do prazo de prescrio a data do evento danoso. Para os defensores da teoria da actio nata, o termo inicial no deve necessariamente ser a data do evento danoso, mas sim no momento em que a vtima tem cincia deste. Essa teoria tem sido adotada em algumas decises pelos nossos tribunais, como por exemplos, no caso de cirurgia plstica. Impedimento, suspenso e interrupo do prazo No impedimento o prazo nem inicia a correr, cessado o motivo do impedimento; na suspenso o prazo para de correr e recomea de onde parou quando do seu reinicio; na interrupo o prazo para de correr, quando cessado o motivo do impedimento o prazo comea do zero. Os arts. 197 a 199 tratam de suspenso e impedimento. Os prazos prescricionais esto relacionados a aes executivas e condenatrias. DECADNCIA a perda efetiva de um direito potestativo em virtude da falta de seu exerccio no prazo previsto em lei ou pelas partes. Direitos potestativos so aqueles que conferem ao seu titular o poder de provocar mudanas na esfera jurdica de outrem de forma unilateral sem que exista um dever jurdico correspondente, mas to somente um estado de sujeio. A decadncia pe fim ao direito. A decadncia est relacionada a direitos potestativos, logo, no existe um dever jurdico correspondente, mas apenas um estado de sujeio. Espcies de decadncia a. Legal: aquela prevista em lei (art. 178, CC). O prazo legal de garantia um prazo de decadncia lega. Quando a decadncia legal, o juiz deve declar-la de ofcio e a parte interessada no pode renunci-la; b. Convencional: aquela criada pelas partes no exerccio da autonomia privada. Toda garantia fornecida pelo fabricante um prazo de decadncia convencional. No pode ser declarada de ofcio pelo juiz e a parte interessada pode renunci-la.

Os prazos de decadncia esto espalhados no cdigo civil, com exceo dos arts. 205 e 206, que tratam dos prazos de prescrio. Esses prazos podem ser expressos em dias, meses e ano e dia e anos. No existe prazo geral de decadncia, existe apenas um prazo geral para as aes anulatrias. Os prazos de decadncia esto relacionados a aes constitutivas, sejam elas positivas, sejam elas negativas. No h prazo geral de decadncia. O art. 179 do CC refere-se apenas s aes anulatrias, com prazo de dois anos. Impedimento, suspenso ou interrupo do prazo prescricional Em regra no h impedimento, suspenso ou interrupo do prazo prescricional. Porm, de acordo com o art. 208 do CC, h uma exceo a essa regra (art. 195 I; e 198). No corre prazo de prescrio nem de decadncia contra os absolutamente incapazes (se o absolutamente incapaz estiver no plo passivo da demanda a decadncia correr, pois o beneficiar os relativamente incapazes no se beneficiam do disposto no art. 208). DIREITO INTERTEMPORAL o direito que procura regular os fatos pretritos diante da mudana no ordenamento jurdico. O direito intertemporal em relao os prazos prescricionais est previsto no art. 2.028 do CC. Este dispositivo estabelece uma regra de transio, na medida em sero os prazos prescricionais da lei anterior, quando reduzidos pelo novo cdigo civil, e se, na data de sua entrada em vigor, j houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. Quando se aplica o novo cdigo civil, o termo inicial do prazo a data de entrada em vigor do novo cdigo civil. Hipteses: a. Se o prazo foi reduzido: Se j transcorreu mais da metade do prazo no CC16 na data de entrada em vigor do CC/02, aplica-se o CC/16; Se no transcorreu mais da metade do prazo previsto no CC/16 na data de entrada em vigor do CC/02, aplica-se o prazo novo, com termo inicial sendo a data de entrada do CC/02 (11.01.2003). Nesse sentido: Enunciado 50 do CJF. b. Se o prazo foi aumentado Ex. cobrana realizada por dono de bares e restaurantes (art. 206, 1, I, do CC). Nessa hiptese, o acrscimo dever ser computado apenas se a pretenso no estava prescrita. O art. 2.028 do CC deve ser aplicado por analogia decadncia, de acordo com a doutrina majoritria. AULA 121 OBRIGAES 1. Conceito Existem dois conceitos de obrigao: a. Clssico (esttico): obrigao a relao jurdica pessoal e transitria que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada prestao. O conceito clssico somente se preocupa com o ncleo da prestao.

b. Conceito dinmico: a obrigao vista como um processo, isto , como

uma srie de atividades exigidas do credor e do devedor para que a prestao seja cumprida de forma satisfatria. a obrigao vista como processo. H deveres secundrios (satelitrios, fiducirios, laterais, colaterais), que so deveres impostos pelo princpio da boa-f objetiva. So exemplos desses deveres a lealdade, probidade, retido, tica, confidencialidade, reciprocidade, etc. O dever de conduta imposto pela boa-f imperativo, ele se impe independente da vontade dos contratantes. 2. Elementos constitutivos das obrigaes 2.1. Elementos subjetivos 2.1.1. Sujeito ativo da obrigao o credor, que pode ser qualquer pessoa fsica ou jurdica. Pode inclusive no ter personalidade jurdica, bem como pessoa incapaz. Indeterminabilidade subjetiva ativa: uma situao transitria em que a obrigao permanece sem um credor conhecido. exemplo a promessa de recompensa. Apesar de indeterminado inicialmente, ele sempre determinvel. 2.1.2. Sujeito passivo da obrigao o devedor, ou seja, a pessoa vinculada relao jurdica base e tem responsabilidade primria. Assim como o credor, pode ser pessoa fsica, jurdica ou ente despersonalizado. Indeterminabilidade subjetiva passiva: ocorre quando o devedor somente ser conhecido no futuro. exemplo o leilo, o devedor das obrigaes propter rem (ou ambulatoriais) s conhecido no momento da arrematao. As obrigaes ambulatoriais so obrigaes hbridas, pois surgem do direito real. 2.2. Elemento objetivo da obrigao 2.2.1. Objeto direito (ou imediato) a prestao positiva ou negativa que ser realizada. Pode ser de trs tipos, dar, fazer ou no fazer. 2.2.2. Objeto indireto (ou mediato) o bem da vida, isto , a coisa ou a tarefa a ser obtida/cumprida com a prestao. Por exemplo, na venda de um automvel, dar o objeto direito e o automvel o objeto indireto da obrigao. Qual o objeto imediato da prestao? a atividade ou o objeto entregue atravs do cumprimento da prestao, ou seja, numa obrigao de dar um automvel o objeto imediato da prestao seria o automvel. Ou seja, o objeto imediato da prestao o mesmo objeto mediato da obrigao. A prestao precisa ser patrimonial? Para a doutrina clssica (majoritria) toda prestao precisa ter contedo patrimonial, ainda que o interesse possa ser de natureza no patrimonial. Para a doutrina moderna, tanto o contedo como o interesse no precisam ser economicamente apreciveis, basta que o interesse seja digno de tutela jurdica. Essa posio defendida por Fernando de Noronha, cita o exemplo da obrigao de devolver uma carta recebida pelo engano, em que no h valor econmico, logo a obrigao de devolver no possui contedo patrimonial. Outro exemplo a obrigao de citar a fonte em um trabalho. 2.3. Elemento imaterial (virtual, ideal ou espiritual) o vinculo que se estabelece entre credor e devedor. 2.3.1. Concepo unitria (monista ou clssica)

Possui essa nomenclatura, pois, para a concepo unitria, a obrigao forma um nico vnculo entre credor e devedor. Esse nico vnculo representado pelo dbito. A obrigao gera apenas um vnculo de dbito ligando uma pessoa a outra. Para a concepo unitria a responsabilidade civil no integra o conceito de obrigao. So defensores dessa corrente Carnelluti, que dizia que a responsabilidade civil a sombra da obrigao. 2.3.2. Concepo binria (dualista) Gera um duplo vnculo entre credor e devedor. Sendo a primeira parte o dbito e a segunda parte a responsabilidade civil. Logo, a responsabilidade civil integra o conceito de obrigao. A responsabilidade civil a conseqncia do descumprimento do dbito. Dbito (debitum no latim ou schuld no alemo). Responsabilidade (obligatio no latim ou haftung no alemo). A prescrio no atinge o dbito, mas somente a responsabilidade civil. Pode existir haftung sem schuld, como por exemplo, no caso da fiana. O fiador, em regra, possui responsabilidade civil subsidiria. Se esta ordem for desrespeitada, o fiador poder alegar o benefcio de ordem. Excepcionalmen