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CURSO BÁSICO DE APICULTURA Sobre o Curso O curso básico de apicultura é direcionado ao iniciante na arte de criar abelhas com muita vontade de aprender e quase nenhum conhecimento. Aborda todas as fases, da criação à produção, não se limitando apenas às respostas fáceis, às soluções únicas ou somente aos entendimentos mais populares. Embora não seja aprofundado nos assuntos de uma linha de produção específica, muitos tópicos são apresentados com vários enfoques diferentes. Isso possibilita que mesmo apicultores experientes possam encontrar algumas novidades neste curso. Índice 1ª PARTE A ABELHA................................................................................................................................. 5 Aspectos morfológicos das abelhas Apis mellifera............................................................................................................................5 Desenvolvimento das abelhas...............................................................................................................................................................6 Diferenciação das castas........................................................................................................................................................................7 Estrutura e uso dos favos......................................................................................................................................................................7 Organização e estrutura da colmeia....................................................................................................................................................8 Raças de Abelhas Apis mellifera .........................................................................................................................................................9 Apis mellifera mellifera (abelha real, alemã, comum ou negra) .................................................................................................9 Apis mellifera ligustica (abelha italiana).....................................................................................................................................9 Apis mellifera caucasica..............................................................................................................................................................9 Apis mellifera carnica (abelha carnica).....................................................................................................................................10 Apis mellifera scutellata (abelha africana).................................................................................................................................10 Abelha africanizada....................................................................................................................................................................10 O APIÁRIO............................................................................................................................... 10 Início da Criação de abelhas ..............................................................................................................................................................10 Considerações necessárias no planejamento do apiário.................................................................................................................11 Tipos de Colmeias................................................................................................................................................................................11 Colméia Langstroth....................................................................................................................................................................13 Colméia Schirmer......................................................................................................................................................................13 Colméia Piauí.............................................................................................................................................................................13 Como fixar a cera nos quadros..........................................................................................................................................................13 Como fazer caixas-isca........................................................................................................................................................................14 Captura de enxames alojados ............................................................................................................................................................16 Transferencia da nova colônia para o apiário .................................................................................................................................16

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CURSO BÁSICO DE APICULTURA

Sobre o Curso

O curso básico de apicultura é direcionado ao iniciante na arte de criar abelhas com muita vontade de aprender e quase nenhum conhecimento. Aborda todas as fases, da criação à produção, não se limitando apenas às respostas fáceis, às soluções únicas ou somente aos entendimentos mais populares. Embora não seja aprofundado nos assuntos de uma linha de produção específica, muitos tópicos são apresentados com vários enfoques diferentes. Isso possibilita que mesmo apicultores experientes possam encontrar algumas novidades neste curso.

Índice

1ª PARTE

A ABELHA.................................................................................................................................5

Aspectos morfológicos das abelhas Apis mellifera............................................................................................................................5

Desenvolvimento das abelhas...............................................................................................................................................................6

Diferenciação das castas........................................................................................................................................................................7

Estrutura e uso dos favos......................................................................................................................................................................7

Organização e estrutura da colmeia....................................................................................................................................................8

Raças de Abelhas Apis mellifera .........................................................................................................................................................9Apis mellifera mellifera (abelha real, alemã, comum ou negra) .................................................................................................9Apis mellifera ligustica (abelha italiana).....................................................................................................................................9

Apis mellifera caucasica..............................................................................................................................................................9

Apis mellifera carnica (abelha carnica).....................................................................................................................................10

Apis mellifera scutellata (abelha africana).................................................................................................................................10Abelha africanizada....................................................................................................................................................................10

O APIÁRIO...............................................................................................................................10

Início da Criação de abelhas ..............................................................................................................................................................10

Considerações necessárias no planejamento do apiário.................................................................................................................11

Tipos de Colmeias................................................................................................................................................................................11Colméia Langstroth....................................................................................................................................................................13Colméia Schirmer......................................................................................................................................................................13Colméia Piauí.............................................................................................................................................................................13

Como fixar a cera nos quadros..........................................................................................................................................................13

Como fazer caixas-isca........................................................................................................................................................................14

Captura de enxames alojados ............................................................................................................................................................16

Transferencia da nova colônia para o apiário .................................................................................................................................16

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O MANEJO...............................................................................................................................17

Equipamentos necessários..................................................................................................................................................................17A vestimenta..............................................................................................................................................................................17Utensílios obrigatórios...............................................................................................................................................................18Outras ferramentas úteis para o manejo.....................................................................................................................................18

A inspeção da colméia ........................................................................................................................................................................18Como fazer uma revisão completa.............................................................................................................................................19Soluções:....................................................................................................................................................................................19

Alimentação..........................................................................................................................................................................................20Quando deve ser fornecida a alimentação de subsistência........................................................................................................20Como é a alimentação energética de subsistência.....................................................................................................................20Quando deve ser fornecida a alimentação estimulante..............................................................................................................21Como é a alimentação estimulante.............................................................................................................................................21Como calcular as proporções de açúcar e água para o alimento energético..............................................................................21Como o xarope é fornecido........................................................................................................................................................22Alimentadores individuais externos...........................................................................................................................................22Alimentadores individuais internos..........................................................................................................................................22Quando deve ser fornecida a alimentação protéica....................................................................................................................23

Técnicas de Manejo.............................................................................................................................................................................23Introdução de rainhas ................................................................................................................................................................23União pacífica de colônias.........................................................................................................................................................24Permuta......................................................................................................................................................................................25Recurperação de um enxame zanganeiro...................................................................................................................................25

Como saber se uma colméia está sem rainha...................................................................................................................................26

Marcação da rainha "cor do ano".....................................................................................................................................................26

Tecnicas para localizar a rainha........................................................................................................................................................26Técnica 1 – Quadro a quadro.....................................................................................................................................................26Técnica 2 – O favo estranho......................................................................................................................................................27Técnica 3 – Peneirando as abelhas.............................................................................................................................................27Técnica 4 – Fumaça no alvado...................................................................................................................................................27

Controle de enxameação.....................................................................................................................................................................28Método da divisão......................................................................................................................................................................28Método Demaree........................................................................................................................................................................28

Controle da Pilhagem .........................................................................................................................................................................29

Apiário "sanfona"...............................................................................................................................................................................29

Seleção e Melhoramento ....................................................................................................................................................................30

2ª PARTE.................................................................................................................................31

O Mel e a Colheita...............................................................................................................................................................................31O que é o néctar? .......................................................................................................................................................................31O néctar pode ser produzido fora das flores? ............................................................................................................................31O que é melato? .........................................................................................................................................................................31Quando o mel está pronto para ser colhido? .............................................................................................................................31Qual é o percentual de umidade seguro para o mel? .................................................................................................................31Em que condições o mel pode ser colhido? ..............................................................................................................................32Com que freqüência o mel deve ser colhido? ...........................................................................................................................32Quantas melgueiras devem ser colocadas no início da safra?...................................................................................................32Onde deve ser colocada uma nova melgueira? .........................................................................................................................32Como colocar melgueiras com 8 ou 9 quadros? .......................................................................................................................32Como as abelhas são retiradas das melgueiras? ........................................................................................................................33Como as melgueiras devem ser transportadas? .........................................................................................................................33Como é feita a desoperculação dos favos? ................................................................................................................................33

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O que é uma mesa desoperculadora? ........................................................................................................................................34Como é feita a centrifugação dos quadros? ..............................................................................................................................34O que são centrífugas radial e facial? .......................................................................................................................................34Como centrifugar favos quebrados? .........................................................................................................................................34Como extrair o mel sem a centrífuga? ......................................................................................................................................34O que fazer com as melgueiras após a extração? ......................................................................................................................34O que é feito do mel após a centrifugação? ..............................................................................................................................35O que é um decantador? ............................................................................................................................................................35É possível produzir mel em favo? .............................................................................................................................................35Como o mel deve ser armazenado? ...........................................................................................................................................35O HMF é prejudicial à saúde humana? .....................................................................................................................................35As enzimas são benéficas à saúde humana? .............................................................................................................................35Como o mel é adulterado? ........................................................................................................................................................35Há um modo simples de descobrir se o mel é adulterado? .......................................................................................................35É possível identificar a origem floral de um mel? ....................................................................................................................35Por que o mel cristaliza? ...........................................................................................................................................................36Como ocorre a cristalização? ....................................................................................................................................................36Como descristalizar o mel? .......................................................................................................................................................36O que é mel cremoso? ...............................................................................................................................................................36Como se produz mel cremoso? .................................................................................................................................................36Diabéticos podem comer mel? ..................................................................................................................................................37Bebês podem comer mel? .........................................................................................................................................................37O que é mel orgânico? ..............................................................................................................................................................37Como se produz mel orgânico? .................................................................................................................................................37Quais são os critérios exigidos para o mel orgânico? ...............................................................................................................37

Outros Produtos apícolas....................................................................................................................................................................37O que é o pólen? ........................................................................................................................................................................38Como o pólen é armazenado pelas abelhas? .............................................................................................................................38Como o apicultor coleta o pólen? .............................................................................................................................................38Por quanto tempo o caça-pólen pode ser deixado na colméia? .................................................................................................38Como é o beneficiamento do pólen? .........................................................................................................................................38É possível produzir mel e pólen na mesma colméia? ...............................................................................................................38O que é a própolis? ....................................................................................................................................................................38Para que as abelhas utilizam a própolis? ...................................................................................................................................38Como o apicultor coleta a própolis? .........................................................................................................................................39Por quanto tempo pode ser mantido o coletor de própolis? ......................................................................................................39Como a própolis é beneficiada? ................................................................................................................................................39Como a própolis é armazenada? ...............................................................................................................................................39Quais são as propriedades da própolis? ....................................................................................................................................39O que é a cera? ..........................................................................................................................................................................39Qual é a cor da cera? .................................................................................................................................................................39Para que as abelhas usam a cera? ..............................................................................................................................................39Qual é a vantagem de se fornecer cera à colônia? ....................................................................................................................39Como preservar os favos de forma natural? ..............................................................................................................................39Há produtos químicos seguros para a preservação de favos? ...................................................................................................40Como se produz cera? ...............................................................................................................................................................40A produção de cera é rentável? .................................................................................................................................................40Como se derretem a cera dos favos?..........................................................................................................................................41Como purificar a cera? ..............................................................................................................................................................41Há meios químicos para processar a cera? ................................................................................................................................41Como se retira a cera dos quadros sem arrebentar os arames? .................................................................................................41O que fazer com a cera derretida? .............................................................................................................................................41O que é geléia real? ...................................................................................................................................................................42A geléia real é um bom alimento? ............................................................................................................................................42Como se produz geléia real? .....................................................................................................................................................42O que é o veneno? .....................................................................................................................................................................42Quanto veneno possui uma abelha? ..........................................................................................................................................42Como o veneno atua? ................................................................................................................................................................42Como evitar uma reação alérgica ao veneno? ...........................................................................................................................42Como se extrai o veneno das abelhas? ......................................................................................................................................42Para que serve o veneno? ..........................................................................................................................................................42

Flora Apícola........................................................................................................................................................................................43O que é considerado flora apícola? ...........................................................................................................................................43Como saber qual é a flora apícola de uma região? ...................................................................................................................43

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O que é o calendário apícola? ...................................................................................................................................................43Como descobrir o calendário apícola de uma região? ..............................................................................................................43Quanto dura em média uma florada? ........................................................................................................................................43Floradas curtas são inúteis para as abelhas? .............................................................................................................................43A flora apícola de uma região pode ser melhorada? .................................................................................................................43Como saber o que deve ser plantado? .......................................................................................................................................44Que critérios definem uma boa planta polinífera? ....................................................................................................................44Que critérios definem uma boa planta propolífera? ..................................................................................................................44Como identificar uma planta? ...................................................................................................................................................44

Inimigos das abelhas............................................................................................................................................................................44Quais são os inimigos das abelhas?...........................................................................................................................................45Como são classificados esses inimigos? ...................................................................................................................................45Podridão européia? ....................................................................................................................................................................45Podridão americana? .................................................................................................................................................................45Cria ensacada? ...........................................................................................................................................................................46Cria ensacada brasileira? ...........................................................................................................................................................46Cria giz? ....................................................................................................................................................................................46Nosemose? ................................................................................................................................................................................46Disenteria? ................................................................................................................................................................................46Envenenamento? .......................................................................................................................................................................47Fome e frio? ..............................................................................................................................................................................47Varroa? ......................................................................................................................................................................................47Acariose? ...................................................................................................................................................................................47Besouro da colméia? .................................................................................................................................................................47Apis mellifera capensis? ...........................................................................................................................................................48Traças de cera? ..........................................................................................................................................................................48Formigas? ..................................................................................................................................................................................48Como se pode confirmar uma suspeita de doença? ..................................................................................................................48Por que não tratar as doenças com remédios? ...........................................................................................................................48Como evitar o roubo e o vandalismo? ......................................................................................................................................49

BIBLIOGRAFIA:.......................................................................................................................49

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A ABELHA

ASPECTOS MORFOLÓGICOS DAS ABELHAS APIS MELLIFERA

As abelhas, como os demais insetos, apresentam um esqueleto externo chamado exoesqueleto. Constituído de quitina, o exoesqueleto fornece proteção para os órgãos internos e sustentação para os músculos, além de proteger o inseto contra a perda de água.

Na cabeça, estão localizados os olhos - simples e compostos - as antenas, o aparelho bucal e, internamente, as glândulas. Os olhos compostos são dois grandes olhos localizados na parte lateral da cabeça. São formados por estruturas menores denominadas omatídeos, cujo número varia de acordo com a casta, sendo bem mais numerosos nos zangões do que em operárias e rainhas. Possuem função de percepção de luz, cores e movimentos. As abelhas não conseguem perceber a cor vermelha, mas podem perceber ultravioleta, azul-violeta, azul, verde, amarelo e laranja.

Os olhos simples ou ocelos são estruturas menores, em número de três, localizadas na região frontal da cabeça formando um triângulo. Não formam imagens. Têm como função detectar a intensidade luminosa.

As antenas, em número de duas, são localizadas na parte frontal mediana da cabeça. Nas antenas encontram-se estruturas para o olfato, tato e audição. O olfato é realizado por meio das cavidades olfativas, que existem em número bastante superior nos zangões, quando comparados com as operárias e rainhas. Isso se deve à necessidade que os zangões têm de perceber o odor da rainha durante o vôo nupcial.

A presença de pêlos sensoriais na cabeça serve para a percepção das correntes de ar e protegem contra a poeira e água.

O aparelho bucal é composto por duas mandíbulas e a língua ou glossa. As mandíbulas são estruturas fortes, utilizadas para cortar e manipular cera, própolis e pólen. Servem também para alimentar as larvas, limpar os favos, retirar abelhas mortas do interior da colmeia e na defesa. A língua é uma peça bastante flexível, coberta de pêlos, utilizada na coleta e transferência de alimento, na desidratação do néctar e na evaporação da água quando se torna necessário controlar a temperatura da colmeia.

No interior da cabeça, encontra-se as glândulas hipofaringeanas, que têm por função a produção da geléia real, as glândulas salivares que podem estar envolvidas no processamento do alimento e as glândulas mandibulares que estão relacionadas à produção de geléia real e feromônio de alarme (Nogueira Couto & Couto, 2002).

No tórax destacam-se os órgãos locomotores - pernas e asas - e a presença de grande quantidade de pêlos, que possuem importante função na fixação dos grãos de pólen quando as abelhas entram em contato com as flores. As abelhas, como os demais insetos, apresentam três pares de pernas. As pernas posteriores das operárias são adaptadas para o transporte de pólen e resinas. Para isso, possuem cavidades chamadas corbículas, nas quais são depositadas as cargas de pólen ou resinas para serem transportadas até a colmeia. Além da função de locomoção, as pernas auxiliam também na manipulação da cera e própolis, na limpeza das antenas, das asas e do corpo e no agrupamento das abelhas quando formam "cachos".

As abelhas possuem dois pares de asas de estrutura membranosa que possibilitam o vôo a uma velocidade média de 24 km/h. No tórax, também são encontrados espiráculos, que são órgãos de respiração, o esôfago, que é parte do sistema digestivo e glândulas salivares envolvidas no processamento do alimento.

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O abdome é formado por segmentos unidos por membranas bastante flexíveis que facilitam o movimento do mesmo. Nesta parte do corpo, encontram-se órgãos do aparelho digestivo, circulatório, reprodutor, excretor, órgãos de defesa e glândulas produtoras de cera. No aparelho digestivo, destaca-se o papo ou vesícula nectarífera, que é o órgão responsável pelo transporte de água e néctar e auxilia na formação do mel. O papo possui grande capacidade de expansão e ocupa quase toda a cavidade abdominal quando está cheio. O seu conteúdo pode ser regurgitado pela contração da musculatura (Nogueira Couto & Couto, 2002).

Existem quatro glândulas produtoras de cera (ceríferas), localizadas na parte ventral do abdome das abelhas operárias. A cera secretada pelas glândulas se solidifica em contato com o ar, formando escamas ou placas que são retiradas e manipuladas para a construção dos favos com auxílio das pernas e das mandíbulas.

No final do abdome, encontra-se o órgão de defesa das abelhas - o ferrão - presente apenas nas operárias e rainhas. O ferrão é constituído por um estilete usado na perfuração e duas lancetas que possuem farpas que prendem o ferrão na superfície ferroada, dificultando sua retirada. O ferrão é ligado a uma pequena bolsa onde o veneno fica armazenado. Essas estruturas são movidas por músculos que auxiliam na introdução do ferrão e injeção do veneno. As contrações musculares da bolsa de veneno permitem que o veneno continue sendo injetado mesmo depois da saída da abelha. Desse modo, quanto mais depressa o ferrão for removido, menor será a quantidade de veneno injetada.

Recomenda-se que o ferrão seja removido pela base, utilizando-se uma lâmina ou a própria unha, evitando-se pressioná-lo com os dedos para não injetar uma maior quantidade de veneno. Como, na maioria das vezes, o ferrão fica preso na superfície picada, quando a abelha tenta voar ou sair do local após a ferroada, ocorre uma ruptura de seu abdome e conseqüente morte. Na rainha, as farpas do ferrão são menos desenvolvidas que nas operárias e a musculatura ligada ao ferrão é bem forte para que a rainha não o perca após utilizá-lo.

DESENVOLVIMENTO DAS ABELHAS

Durante seu ciclo de vida, as abelhas passam por quatro diferentes fases: ovo, larva, pupa e adulto.

A rainha inicia a postura geralmente após o terceiro dia de sua fecundação, depositando um ovo em cada alvéolo. O ovo é cilíndrico, de cor branca e, quando recém colocado, fica em posição vertical no fundo do alvéolo. Três dias após a postura, ocorre o nascimento da larva, que tem cor branca, formato vermiforme e fica posicionada no fundo do alvéolo, com corpo recurvado em forma de "C". Durante essa fase, a larva passa por cinco estágios de crescimento, trocando sua cutícula (pele) após cada estágio.

No final da fase larval, 5 a 6 dias após a eclosão, a célula é operculada e a larva muda de posição, ficando reta e imóvel. Nessa fase, ela não se alimenta mais, tece seu casulo, sendo comumente chamada de pré-pupa. Na fase de pupa já podem ser distinguidos a cabeça, o tórax e o abdome, visualizando-se olhos, pernas, asas, antenas e partes bucais. Os olhos e o corpo passam por mudanças de coloração até a emersão da abelha adulta. Toda a transformação pela qual a abelha passa até chegar ao estágio adulto denomina-se metamorfose.

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A tabela a seguir, mostra a duração de cada uma das fases diferenciadas para rainhas, operárias e zangões do nascimento à longevidade.

Período de Desenvolvimento de abelhas Apis melliferaCasta Ovo Larva Pupa Total LogevidadeRainha 3 5 7 15 Até 4 anosOperária 3 5 12 20 Até 45 diasZangão 3 6,5 14,5 24 Até 80 dias

DIFERENCIAÇÃO DAS CASTAS

Geneticamente, uma rainha é idêntica a uma operária. Ambas se desenvolvem a partir de ovos fertilizados. Entretanto, fisiológica e morfologicamente essas castas são diferentes em razão da alimentação diferenciada que as larvas recebem.

A rainha recebe, durante toda sua vida, um alimento denominado geléia real, que é composto das secreções das glândulas mandibulares e hipofaringeanas, localizadas na cabeça de operárias, com adição de açúcares provenientes do papo. Pesquisas têm indicado que a geléia real oferecida às larvas de rainha é superior em quantidade e qualidade, possuindo maior proporção da secreção das glândulas mandibulares e maior concentração de açúcares e outros compostos nutritivos (Nogueira Couto & Couto, 2002)

As larvas de operárias, são alimentadas até o terceiro dia com um alimento comumente chamado de geléia de operária, que apresenta maior proporção da secreção das glândulas hipofaringeanas e menor quantidade de açúcares que o da rainha. Após esse período, passam a receber uma mistura de geléia de operária, mel e pólen.

Mesmo tendo recebido um alimento menos nutritivo, uma larva de, no máximo, 3 dias pode transformar-se em rainha se passar a receber a alimentação adequada. Entretanto, quanto mais nova for a larva, melhor será a qualidade da rainha e sua capacidade de postura.

Além da alimentação, a estrutura onde a larva da rainha é criada (realeira) tem grande influência em seu desenvolvimento, uma vez que é maior que o alvéolo de operária e posicionada de cabeça para baixo, o que deixa o abdome da pupa livre, permitindo pleno desenvolvimento e formação dos órgãos reprodutores. Assim, para que uma larva de operária se transforme em rainha, é necessário, além da alimentação, que a larva seja transferida para uma realeira ou que se construa uma realeira no local onde se encontra a larva.

ESTRUTURA E USO DOS FAVOS

O ninho das abelhas é constituído de favos, que são formados por alvéolos de formato hexagonal (com seis lados). Essa forma permite menor uso de material e maior aproveitamento do espaço. Os alvéolos têm uma inclinação de 4° a 9º para cima, evitando que a larva e o mel escorram, e são construídos em dois tamanhos: no maior, a rainha faz postura de ovos de zangão; já os menores podem ser usados para a criação de operárias e para estocagem de alimento.

Durante a maior parte do ano, a prole é criada nas partes centrais da colmeia, de forma a facilitar o controle de temperatura pelas operárias. A cria, freqüentemente, ocupa o centro dos favos, sendo que os cantos inferiores e superiores são usados para estocagem de alimento, facilitando o trabalho das abelhas nutrizes, que são responsáveis pela alimentação das larvas.

A cera é produzida por quatro pares de glândulas ceríferas que se localizam do quarto ao sétimo segmentos do lado ventral do abdome das abelhas operárias jovens. Essas glândulas ceríferas produzem a cera na forma líquida dissolvida em uma substância volátil, que na superfície externa do tegumento se evapora, deixando as placas de cera. Cada placa é feita de uma ou mais secreções, possuindo uma espessura de 0,6 à 1,6 mm com peso médio de 1,3 mg.As operárias puxam estas escamas de cera para trás com o auxílio das patas traseiras e às levam as dianteiras e a boca, para serem amassadas e moldadas, utilizando a secreção das glândulas mandibulares. Centenas de abelhas operárias participam na edificação de um só alvéolo, sendo que cada operária pode manter-se em atividade pelo tempo médio de 1 minuto. Para a secreção da cera é imprescindível a ocorrência de certos fatores, tais como: temperatura no grupo de abelhas de 33 à 36ºC, em média; presença de abelhas operárias com idade de 12 à 18 dias; alimentação abundante e a necessidade da

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construção de favos.

ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA COLMEIA

As abelhas são insetos sociais, vivendo em colônias organizadas em que os indivíduos possuem funções bem definidas que são executadas visando sempre à sobrevivência e manutenção do enxame. Numa colônia, em condições normais, existe uma rainha, cerca de 5.000 a 100.000 operárias e de 0 a 400 zangões.

A rainha tem por função a postura de ovos e a manutenção da ordem social na colmeia. A larva da rainha é criada num alvéolo modificado, bem maior que os das larvas de operárias e zangões, de formato cilíndrico, denominado realeira, sendo alimentada pelas operárias com a geléia real, produto rico em proteínas, vitaminas e hormônios sexuais. A rainha adulta possui quase o dobro do tamanho de uma operária e é a única fêmea fértil da colmeia, apresentando o aparelho reprodutor bem desenvolvido.A vida reprodutiva da rainha inicia-se com o vôo nupcial para sua fecundação que ocorre, aproximadamente, 5 a 7 dias depois de seu nascimento. A fecundação ocorre em áreas de congregação de zangões, onde existem de centenas a milhares de zangões voando à espera de uma rainha, conferindo assim uma grande variabilidade genética no acasalamento.

A rainha se dirige a essas áreas, a cerca de 10 metros de altura, atraindo os zangões com a liberação de substâncias denominadas feromônios. Apenas os mais rápidos e fortes conseguem alcançá-la e o acasalamento ou cópula, ocorre em pleno vôo. Uma rainha pode ser fecundada por até 17 zangões e o sêmen é armazenado num reservatório especial denominado espermateca. Esse estoque de sêmen será utilizado para a fecundação de óvulos durante toda a vida da rainha, pois ao retornar à colônia não sairá mais para realizar outro vôo nupcial. A rainha começa a postura dos ovos na colônia de 3 a 7 dias depois do acasalamento.

Somente a rainha é capaz de produzir ovos fertilizados, que dão origem às fêmeas (operárias ou novas rainhas), além de ovos não fertilizados, que originam os zangões. Em casos especiais, as operárias também podem produzir ovos, embora não fertilizados, que darão origem a zangões.

A capacidade de postura da rainha pode ser de até 2.500 a 3.000 ovos por dia, em condições de abundância de alimento. Ela pode viver e reproduzir-se por até 4 anos. Entretanto, em climas tropicais, sua taxa de postura diminui após o primeiro ano. Por isso, costuma-se recomendar aos apicultores que substituam suas rainhas anualmente.

A rainha consegue manter a ordem social na colmeia através da liberação de feromônios. Essas substâncias têm função atrativa e servem para informar aos membros da colmeia que existe uma rainha presente e em atividade; inibem a produção de outras rainhas; a enxameação e a postura de ovos pelas operárias. Servem ainda para auxiliar no reconhecimento da colmeia e na orientação das operárias. A rainha está sempre acompanhada por um grupo de 5 a 10 operárias, encarregadas de alimentá-la e cuidar de sua limpeza. As operárias também podem aproximar-se da rainha para recebimento e repasse dos feromônios a outros membros da colmeia.

Quando ocorre a morte da rainha ou quando ela deixa de produzir feromônios e de realizar posturas, em virtude de sua idade avançada, ou ainda quando o enxame está muito populoso e falta espaço na colmeia, as operárias escolhem ovos recentemente depositados ou larvas de até 3 dias de idade, que se desenvolvem em células especiais - realeiras - para a produção de novas rainhas. A primeira rainha ao nascer, destrói as demais realeiras e luta com outras rainhas que tenham nascido ao mesmo tempo até que apenas uma sobreviva.

Em caso de população grande, a rainha velha enxameia com, aproximadamente, metade da população antes do nascimento de uma nova rainha. Em alguns casos, quando a rainha está muito cansada, ela pode permanecer na colmeia em convivência com a nova rainha por algumas semanas, até sua morte natural. Também pode ocorrer que a nova rainha elimine a rainha antiga, logo após o nascimento.

As operárias realizam todo o trabalho para a manutenção da colmeia. Elas executam atividades distintas, de acordo com a idade, desenvolvimento glandular e necessidade da colônia.

Idade Função1º ao 5º dia Realizam a limpeza dos alvéolos e de abelhas recém-nascidas6º ao 10º São chamadas abelhas nutrizes porque cuidam da alimentação das larvas em desenvolvimento. Nesse

estágio, elas apresentam grande desenvolvimento das glândulas hipofaringeanas e mandibulares,

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produtoras de geléia real.

11º ao 17º diaProduzem cera para construção de favos, quando há necessidade, pois nessa idade as operárias apresentam grande desenvolvimento das glândulas ceríferas. Além disso, recebem e desidratam o néctar trazido pelas campeiras, elaborando o mel.

18º ao 21º diaRealizam a defesa da colmeia. Nessa fase, as operárias apresentam os órgãos de defesa bem desenvolvidos, com grande acúmulo de veneno. Podem também participar do controle da temperatura na colmeia.

22º dia até a morte Realizam a coleta de néctar, pólen, resinas e água, quando são denominadas campeiras.

É importante ressaltar que a necessidade da colmeia pode fazer com que as operárias reativem algumas das glândulas atrofiadas para realizar determinada atividade, ou seja, se for necessário, uma abelha mais nova pode sair para a coleta no campo e uma abelha mais velha pode encarregar-se de alimentar a cria e/ou produzir cera.

As operárias possuem os órgãos reprodutores atrofiados, não sendo capazes de se reproduzirem. Isso acontece porque, na fase de larva, elas recebem alimento menos nutritivo e em menor quantidade que a rainha. Além disso, a rainha produz feromônios que inibem o desenvolvimento do sistema reprodutor das operárias na fase adulta. Em compensação, elas possuem órgãos de defesa e trabalho perfeitamente desenvolvidos, muitos dos quais não são observados na rainha e no zangão, como a corbícula (onde é feito o transporte de materiais sólidos) e as glândulas de cera.

Os zangões são os indivíduos machos da colônia, cuja única função é fecundar a rainha durante o vôo nupcial. As larvas de zangões são criadas em alvéolos maiores que os alvéolos das larvas de operárias, eles são maiores e mais fortes do que as operárias, entretanto, não possuem órgãos para trabalho nem ferrão e, em determinados períodos, são alimentados pelas operárias. Em contrapartida, os zangões apresentam os olhos compostos mais desenvolvidos e antenas com maior capacidade olfativa. Além disso, possuem asas maiores e musculatura de vôo mais desenvolvida. Essas características lhes permitem maior orientação, percepção e rapidez para a localização de rainhas virgens durante o vôo nupcial.

RAÇAS DE ABELHAS APIS MELLIFERA

O habitat das abelhas Apis mellifera é bastante diversificado e inclui savana, florestas tropicais, deserto, regiões litorâneas e montanhosas. Essa grande variedade de clima e vegetação acabou originando diversas subespécies ou raças de abelhas, com diferentes características e adaptadas às diversas condições ambientais. A diferenciação dessas raças não é um processo fácil, sendo realizado somente por pessoas especializadas, que podem usar medidas morfológicas ou análise de DNA. A seguir, apresentam-se algumas características das raças de abelhas introduzidas no Brasil.

APIS MELLIFERA MELLIFERA (ABELHA REAL, ALEMÃ, COMUM OU NEGRA)

Originárias do Norte da Europa e Centro-oeste da Rússia, provavelmente estendendo-se até a Península Ibérica. • Abelhas grandes e escuras com poucas listras amarelas. • Possuem língua curta (5,7 a 6,4 mm), o que dificulta o trabalho em flores profundas. • Nervosas e irritadas, tornam-se agressivas com facilidade caso o manejo seja inadequado. • Produtivas e prolíferas, adaptam-se com facilidade a diferentes ambientes. • Propolisam com abundância, principalmente em regiões úmidas.

APIS MELLIFERA LIGUSTICA (ABELHA ITALIANA)

Originárias da Itália. Essas abelhas têm coloração amarela intensa; produtivas e muito mansas, são as abelhas mais populares entre apicultores de todo o mundo. • Apesar de serem menores que as A. m. mellifera, têm a língua mais comprida (6,3 a 6,6 mm). • Possuem sentido de orientação fraco, por isso, entram nas colmeias erradas freqüentemente. • Constroem favos rapidamente e são mais propensas ao saque do que abelhas de outras raças européias.

APIS MELLIFERA CAUCASICA

Originárias do Vale do Cáucaso, na Rússia. • Possuem coloração cinza-escura, com um aspecto azulado, pêlos curtos e língua comprida (pode chegar a 7 mm).

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• Considerada a raça mais mansa e bastante produtiva. • Enxameiam com facilidade e usam muita própolis. • Sensíveis à Nosema apis (protozoário causador da nosemose).

APIS MELLIFERA CARNICA (ABELHA CARNICA)

Originárias do Sudeste dos Alpes da Áustria, Nordeste da Iugoslávia e Vale do Danúbio. • Assemelham-se muito com a abelha negra, tendo o abdome cinza ou marrom. • Pouco propolisadoras, mansas, tolerantes a doenças e bastante produtivas. • São facilmente adaptadas a diferentes climas e possuem uma tendência maior a enxamearem.

APIS MELLIFERA SCUTELLATA (ABELHA AFRICANA)

Originárias do Leste da África, são bem produtivas e muito agressivas. • São menores e constroem alvéolos de operárias menores que as abelhas européias. Sendo assim, suas operárias possuem

um ciclo de desenvolvimento precoce (18,5 a 19 dias) em relação às européias (21 dias), o que lhe confere vantagem na tolerância ao ácaro do gênero Varroa.

• Possuem visão mais aguçada, resposta mais rápida e eficaz ao feromônio de alarme. Os ataques são, geralmente, em massa, persistentes e sucessivos, podendo estimular a agressividade de operárias de colmeias vizinhas.

• Ao contrário das européias que armazenam muito alimento, elas convertem o alimento rapidamente em cria, aumentando a população e liberando vários enxames reprodutivos.

• Migram facilmente se a competição for alta ou se as condições ambientais não forem favoráveis. • Essas características têm uma variabilidade genética muito grande e são influenciadas por fatores ambientais internos e

externos.

ABELHA AFRICANIZADA

A abelha, no Brasil, é um híbrido das abelhas européias (Apis mellifera mellifera, Apis mellifera ligustica, Apis mellifera caucasica e Apis mellifera carnica) com a abelha africana Apis mellifera scutellata.

A variabilidade genética dessas abelhas é muito grande, havendo uma predominância das características das abelhas européias no Sul do País, enquanto ao Norte predominam as características das abelhas africanas.

A abelha africanizada possui um comportamento muito semelhante ao da Apis mellifera scutellata, em razão da maior adaptabilidade dessa raça às condições climáticas do País. Muito agressivas, porém, menos que as africanas, a abelha do Brasil tem grande facilidade de enxamear, alta produtividade, tolerância a doenças e adapta-se a climas mais frios.

O APIÁRIO

INÍCIO DA CRIAÇÃO DE ABELHAS

Você pode conseguir as abelhas para iniciar sua criação de três diferentes maneiras; comprando colônias de apicultores comerciais, capturando enxames em estado natural ou atraindo famílias em enxameação para caixas iscas.

Cada um dos processos apresenta vantagens e desvantagens.

• Comprar abelhas, simplesmente, pode ser cômodo mas pode não ser financeiramente viável para o produtor que pretende iniciar sua criação se não houver um bom planejamento prévio. O retorno do capital investido acontecerá com no mínimo 1 ano e meio após a implantação do negócio, isso em condições totalmente favoráveis. Por isso, deve-se conhecer bem a procedência dos colônias adquiridas e ter algum experiência prática no manejo de enxames. Ao apicultor inexperiente, é aconselhável a aquisição inicial de poucos enxames e somente após a sua estruturação, investir na expansão do apiário.

• Capturar colônias em caixas iscas é um processo de baixo custo inicial e de fácil execução A desvantagem deste sistema está dificuldade de se prever quantas colônias poderão ser atraídas para as caixas iscas e ainda a qualidade dos enxames capturados. Este método é muito praticado por pessoas iniciantes para começar uma criação e também por apicultores já estabelecidos, para diminuir a concorrência na área de localização de seus apiários, evitando a nidificação dos enxames voadores em locais indesejáveis.

• Finalmente, pode-se capturar enxames na natureza, removendo famílias inteiras de seu habitat natural, como cupins, troncos ocos de árvores, telhados, pneus, assoalhos, muros etc. A captura de enxames é certamente o método mais trabalhoso, é relativamente barato, possibilita boa expansão do apiário, e talvez o mais forte motivo, coloca o apicultor iniciante em contato direto com as abelhas, proporcionando-lhe uma vivência que lhe será muito útil no manuseio de suas colmeias no dia a dia.

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Em todos esses casos, o manejo adequado é essencial para o bom desenvolvimento do enxame, deve-se alimentar e fornecer condições adequadas o seu crescimento evitando o abandono da colmeia.

CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS NO PLANEJAMENTO DO APIÁRIO

É importante é que haja um planejamento completo e cuidadoso antes que a primeira colméia seja instalada, porque depois tudo será muito mais difícil.

Você pode perfeitamente iniciar com uma única colméia, aprender bastante com ela, divertir-se e ainda colher seu primeiro mel. Depois, se desejar, e na medida das suas possibilidades, você pode ir ampliando o apiário. A vantagem de ter mais de uma colméia é que uma delas pode salvar a outra em caso de necessidade. Como primeiro critério, adote a sua capacidade de manejo. Estime quantas colméias você pode manter bem, considerando o seu tempo disponível e a sua disposição. Esqueça o critério, relativamente comum no início, de aumentar o número de colméias até igualar-se ao seu vizinho ou impressionar seus amigos - esta é uma receita de fracasso quase garantida. Não esqueça que você pode ser um excelente apicultor de uma colméia ou um péssimo apicultor de 200. Na dúvida, opte sempre pela qualidade.

• Encontre um bom local para instalar seu apiário, há diversas variáveis envolvidas nessa escolha: segurança, disponibilidade de flores e de água, presença de outros apiários. Portanto, ao escolher o local do seu apiário, certifique-se de que há uma boa barreira natural entre o local e as casas e galpões vizinhos. Com boas barreiras naturais, uma distância de 100 m pode ser suficiente. De qualquer forma, se você for iniciante em apicultura, procure ouvir a opinião de um apicultor experiente antes de definir o local do seu apiário.

• Em relação às flores, quanto mais próximo, melhor. Grosso modo, considere que a flora apícola útil situa-se num raio de até 1.500 metros do apiário. Não apenas a distância, mas também (e principalmente) a quantidade de espécies apícolas e a duração, intensidade e período das floradas são importantes na localização de um apiário fixo. Se você não tem alternativa, só lhe resta estabelecer o apiário onde é possível e avaliar o seu desempenho por algumas safras. Deficiências na flora apícola podem ser compensadas com o plantio de espécies apropriadas à sua região, ao menos parcialmente.

• Em relação à água, também é interessante que ela esteja disponível em local próximo, de fonte limpa. Às vezes, uma alternativa viável é fazer um bebedouro para as abelhas, com água encanada pingando sobre um tanque raso, com areia e brita para as abelhas não se afogarem.

• Respeite a distancia entre apiários, considerando-se a área útil de coleta das abelhas em 1.500 m, três quilômetros seria uma distância ideal. Qualquer florada produz uma quantidade de néctar que pode ser total ou parcialmente colhido pelas abelhas e outros insetos. Se o tempo permite, mas nem todo o néctar produzido é colhido, a área está insaturada, isto é, ela ainda admite acréscimo de colméias. Caso contrário, a área está saturada, e o acréscimo de colméias acarretará a queda de produtividade das demais. Essa condição não é imediatamente percebida, mas uma queda de produção contínua por alguns anos pode ter a saturação como causa. A saturação também pode ocorrer sem acréscimo de colméias, pela remoção da flora apícola local, por desmatamento ou limpeza de campo.

• Verifique se há agricultores que usam pesticidas nas proximidades. Isso pode ser fatal para suas abelhas ou deixar resíduos no seu mel.

• O apiário deve ter acesso fácil - lembre-se de que haverá colméias a serem levadas para lá e, espera-se, melgueiras muito pesadas a serem retiradas.

• O acesso às colméias deve ser sempre por trás ou pelas laterais, nunca pela frente, pois isso interrompe a linha de vôo delas e provoca muito mais ataques.

• Um sombreamento leve é muito útil nas estações quentes. Em regiões que possuem estações frias, árvores que perdem as folhas no inverno são uma boa opção para arborizar o apiário. Uma boa alternativa, especialmente nas regiões mais ao Sul, é posicionar as colméias numa boca de mato voltadas para o Norte. Desta forma, elas receberão uma incidência direta de sol maior no inverno e menor no verão.

• Locais sujeitos a alagamento são péssimos para as abelhas, pois a umidade dificulta a evaporação do néctar, e para o apicultor, que deve manejar as abelhas em meio à lama.

• Terrenos muito íngremes dificultam a movimentação no apiário e sujeitam o apicultor a quedas que podem ter sérias conseqüências.

• É preferível que o lado dos ventos mais fortes fique protegido por algum tipo de quebra-vento, natural, construído ou plantado.

• Lembre-se que você pode querer aumentar o apiário no futuro. É melhor já pensar numa possível ampliação e preparar toda a área de uma vez.

• Não esqueça de que você precisará de um local para abrigar os equipamentos, as roupas e as colméias vazias. • A distância do apiário à sua casa também não pode ser grande demais, para que o manejo possa ser feito numa freqüência

mínima.

TIPOS DE COLMEIAS

A colméia é todo tipo de habitação fornecida pelo homem às abelhas. Existem vários modelos, mas a apicultura moderna brasileira se utiliza basicamente de dois (Modelo Langstroth e o Modelo Schirmer).

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Toda colméia deve ser construída dentro dos padrões técnicos recomendados ou adquirida diretamente de produtores credenciados e habilitados. E importante que o apicultor fuja da tentação de baratear seus custos construindo ou adquirindo materiais inadequados, pois a aparente economia inicial poderá se transformar num prejuízo futuro.

Existem inúmeros tipos de colméias, desde as mais antigas confeccionadas em tubos de barro ou madeira e cestos de palha e barro, até as mais modernas que permitem além de abrigar as abelhas, uma melhor administração da colônia por parte do apicultor.

As colméias modernas, criadas por apicultores europeus e americanos, incluem o sistema de quadros móveis, dispostos verticalmente dentro de caixas. Nestes quadros, as abelhas são induzidas a construir seus favos. Para isso, os quadros são montados aramados e, sobre o arame, e incrustada uma lâmina de cera feita com os fundos dos alvéolos estampados com o desenho de hexágono. Essa lâmina serve de guia para as abelhas puxarem os favos.

Até hoje, o modelo de colméia mais utilizado no mundo é o americano, chamado também de colméia Langstroth. Desenvolvido pelo reverendo americano Lorenz Lonaine Langstroth, em meados do século XIX, o modelo passou por diversas modificações ao longo do tempo, mais ainda é a base para quase todas as colméias atuais. Esse tipo de colméia é feito levando em conta as distâncias entre os favos, quadros e paredes, cuja medida é chamada de “Espaço Abelha’.

O espaço abelha é considerado uma das grandes descobertas da apicultura moderna e trata-se do espaço livre que deve haver entre as diversas partes da colmeia, ou seja, entre as laterais e os quadros, quadros e fundo, quadros e tampa e entre os quadros. Esse espaço deve ser de, no mínimo, 4,8 mm e no máximo, 9,5 mm. Se menor, impede o livre transito das abelhas; se maior, será obstruído com própolis ou construção de favos. Na construção das colmeias, o espaço abelha deve ser rigorosamente respeitado.

O modelo americano de colméia apresenta medidas que a deixam mais comprida e larga do que alta, dificultando a seqüência de postura da rainha, que tem conformação esférica. Por isso, o apicultor que adota esse modelo de colméia costuma utilizar duas câmaras de cria, conhecidas como ninho e sobre-ninho. Ao perceber este problema, o apicultor brasileiro Bruno Schirmer, do Rio Grande do Sul, desenvolveu a colméia brasileira que tem o seu nome. O trabalho foi desenvolvido através de várias pesquisas que duraram cerca de 40 anos. Na colméia Schirmer, a caixa de crias apresenta medidas de altura e largura quase iguais, com o comprimento um pouco maior. Nela, a esfera de postura não excede os limites físicos dos favos.

O apicultor iniciante pode optar pelo modelo de colméia que melhor lhe convier mas não deve misturar os modelos no apiário para não prejudicar o intercâmbio de favos entre as colônias. Um componente básico na apicultura, independente do tipo de colméia escolhida para a criação, é o núcleo. Trata-se de uma colméia desenvolvida em tamanho menor que comporta a metade dos quadros do ninho. Ela serve para abrigar colônias de população pequena.

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COLMÉIA LANGSTROTH

O modelo de colméia Langstroth é constituído basicamente por um fundo ou assoalho móvel que protege sua parte inferior e abriga o alvado, que é o orifício de entrada e saída das abelhas; um ninho, com dez quadros móveis de madeira, reservado à rainha e á área de cria e onde são moldados os favos para depósito de mel e pólen; uma melgueira que abriga quadros com favos, utilizada para armazenar o mel; uma tela excluidora que impede a passagem da rainha para a melgueira; e uma tampa de proteção para cobrir a colméia. Alguns apicultores utilizam a melgueira com a mesma altura do ninho. Outros preferem usar a chamada meia-melgueira, que apresenta altura de 14,2 centímetros.

COLMÉIA SCHIRMER

A colméia Schirmer apresenta medidas diferenciadas quando comparadas à Langstroth. Os quadros, transversais ao comprimento da caixa, são quase quadrados. Além disso, a área de cria tem doze favos, ao invés de dez, cuja disposição abriga uma esfera perfeita e ainda permite um espaço para armazenamento de pólen junto às crias. Esse tipo de colméia também é composto por ninho, quadros, fundo alvado, melgueira e tampa. Sua única diferença está na medida de cada componente que forma a colméia em relação à Langstroth.

COLMÉIA PIAUÍ

A colméia Piauí lançada em junho/2005, segue o conceito de TBH (Top Bar Hive), se destina à produção de cera apícola. Sua disposição horizontal facilita as atividades de manejo, principalmente a operação de colheita dos favos, trazendo grande economia de mão de obra e conforto no trabalho. Apresenta como únicas medidas mandatórias a largura (igual ao comprimento da Langstroth = 465 mm) e a largura das barras (média do intervalo internacionalmente sugerido = 33 mm). Possui três compartimentos (um ninho e duas melgueiras laterais). No modelo MONOBLOCO, esses compartimentos são separados por placas de escape abelha orientados no sentido melgueira ninho, permanentemente instalados na posição vertical, deixando uma passagem de 2,5 cm de altura no fundo da colméia. Unindo estas duas placas de escape, e disposta na posição horizontal, é colocada uma placa excluidora igualmente permanente, formando-se então um túnel na parte inferior do ninho, que une as duas melgueiras. No topo inferior de cada placa escape, em toda a sua extensão, é preso um perfil metálico tipo U de 1" x 1/2", o qual serve de guia para uma peça móvel (porteira), que por sua vez é um sarrafo de madeira de 2 x 2 cm, cortado à semelhança de um redutor de alvado. Esse sarrafo vaza as laterais da colméia, usando como guia o perfil U e o chão da colméia.

No modelo MONO-BLOCO, os favos são colhidos no campo, em procedimento similar à coleta de mel na Langstroth. O modelo MODULAR é essencialmente igual ao MONOBLOCO, ressalvando-se que os três compartimentos são blocos independentes, o que obriga a que as placas de escape sejam um pouco mais elaboradas, permitindo que as três caixas possam permanecer fechadas após separação. Na colheita desse segundo modelo, a melgueira é transportada para a casa do mel, onde se faz todo o processamento.

COMO FIXAR A CERA NOS QUADROS

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Cera alveolada é cera de abelha, retira de favos velhos, que depois de derretida é estampada com hexágonos com a dimensão média dos alvéolos. Para esse processo, é utilizado um equipamento chamado cilindro alveolador. As lâminas produzidas assim são cortadas no formato dos quadros e vendidas aos apicultores. Esta cera é fornecida às abelhas em substituição a favos velhos ou inutilizados.

Existem várias maneiras de se prender a cera alveolada nos quadros. Os quadros possuem fios de arame ou nylon atravessados, geralmente no sentido horizontal. A lâmina é soldada neles com ajuda de um pouco de cera derretida ou, no caso de arames, pelo seu aquecimento por uma corrente elétrica. Arames também podem ser incrustados com ajuda de uma carretilha. É importante que a cera esteja bem fixa ao quadro para evitar que o calor interno a deforme ou o peso das abelhas a descole do quadro, evitando assim a sua perda ou a puxada de favos tortos e defeituosos.

Ao posicionar a cera no quadro, é melhor usar lâminas que aproveitem ao máximo o espaço disponível no quadro. Isso poupará as abelhas de produzirem cera, permitindo-lhes uma produção maior de mel. Mas quando a lâmina de cera é menor (em altura) do que o espaço disponível no quadro, há duas indicações de soldagem:

1. Quando o quadro for destinado à postura, é preferível soldar a lâmina encostada na barra superior. O espaço que sobrará entre a lâmina e a barra inferior normalmente não será puxado com alvéolos e, como vantagem, facilitará a movimentação da rainha e das operárias.

2. Quando o quadro se destina à armazenagem de mel, o ideal é soldar a lâmina encostada à barra inferior. Nessa situação, as abelhas puxam o favo e estendem-no até a barra superior, promovendo um aproveitamento integral do espaço e uma solidez muito maior do favo. Isso se reflete num armazenamento maior de mel por quadro, otimizando a função da melgueira. Além disso, e talvez mais importante, a resistência muito maior do favo, quando soldado em cima e embaixo, permite uma colheita e uma centrifugação muito menos sujeitas a quebras e despedaçamentos. E isso é especialmente importante quando se usam oito ou nove quadros na melgueira, pois eles se tornam ainda mais pesados do que o normal.

Para confeccionar um incrustador elétrico à base de salmoura veja abaixo:

Material:• 1 frasco de vidro ou plástico para o recipiente da salmoura;• 2 metros de fio duplo (não precisa ser muito grosso);• 1 pino de tomada macho;• 30 cm de fio de cobre (fios de rede elétrica utilizado em residências);• 1 fita isolante.

Monte o incrustador conforme indicado na figura abaixo, encha o vidro de água e coloque uma pitada de sal. Para aumentar ou diminuir a tensão de saída, adicione ou reduza a quantidade de sal. Ligue o aparelho na rede elétrica pela tomada e com a outra extremidade dos dois fios, será feita a fixação da cera no arame dos quadros.

Primeiro, os quadros devem ser aramados. O ideal é quatro fios em quadro de ninho e três em quadro de melgueira. O arame deve ser ancorado no início, passado pelos furos e ancorado novamente no fim, sem cruzamentos e amarrações intermediárias. Ele deve ficar bem esticado, mas não em excesso, caso contrário, poderá causar deformações nas laterais do quadro. Coloque a lâmina sobre os arames, ligue cada pólo dos fios a uma extremidade do arame e observe a incrustação ocorrer até a metade, mais ou menos da cera, depois desligue os pólos.

COMO FAZER CAIXAS-ISCA

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A captura de enxames nas estações apropriadas é um meio muito barato e prático para ampliação e reposição de colônias no apiário. Em locais de alta saturação de abelhas, a competição por um ninho é muito alta entre os enxames, e qualquer colméia ou núcleo deixado ao ar livre pode ser ocupado em pouco tempo. Já em locais onde a saturação é mais baixa, as caixas-isca precisam apresentar uma atratividade maior para funcionarem com maior eficiência. Esse tema recebeu atenção especial do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, e da sua equipe, no início dos anos 80. Eles descobriram que as caixas de papelão atraem muito mais enxames do que as de madeira, sob mesmas condições.

Os testes realizados levaram os pesquisadores a concluir que a maior probabilidade de captura está associada a caixas-isca com as seguintes características: cor clara (branca ou amarela), fixada a 2 metros do solo, com alvado de 10 cm2, com volume de aproximadamente 35 litros, com 5 caixilhos com 1/3 de cera alveolada e com um similar do feromônio de Nasonov, feito a partir do Cymbopogon citratus (capim-cidró, capim-limão, erva-cidreira...).

Estas, provavelmente, são as características ideais para as condições dos testes, mas nem sempre podem ser reproduzidas. Por exemplo, caixas de papelão usadas podem ser obtidas facilmente em supermercados, mas nem sempre nas dimensões mais adequadas. Pendurar as caixas a 2 m de altura pode ser impraticável, pela dificuldade de acesso e de fixação numa posição adequada – abelhas em caixas tortas tendem a produzir favos tortos, dificultando a sua transferência posterior. Alvados de 10 cm2, dependendo de como forem cortados, podem incentivar o uso da caixa como ninho para pequenos pássaros, dependendo do espaço interno disponível.

Dentre as infinitas variações possíveis para estas recomendações, eu tenho adotado algumas que parecem se adequar melhor às condições gerais. Em relação à proteção das caixas, uma possibilidade é o uso de sacos plásticos, de preferencia em cores claras. A colocação dos sacos não pode envolver completamente a caixa, para evitar que a água da chuva acumule no fundo, provocando a destruição da caixa de papelão. Basta cortar um retângulo e envolver a parte de cima e as laterais da caixa, fixando as dobras com fita adesiva de boa qualidade, formando uma espécie de capa, que possa ser facilmente retirada depois.

A facilidade de abertura da própria caixa é outro ponto importante, mas nem sempre observado. Muitas vezes, é necessário dar uma espiada no enxame, antes de se decidir que tipo de transferência deverá ser feita. Além disso, caixas não ocupadas também precisam ser examinadas periodicamente, para remoção de outros insetos e aranhas, que funcionam como repelentes ou predadores das abelhas batedoras (as que procuram um local para o enxame). Abrir uma caixa-isca desdobrando as abas nem sempre é prático e rápido, mas isso pode ser melhorado. Antes de usá-la, corte uma tampa superior, com uma borda de 3 ou 4 cm. Depois, cole as abas desta tampa e as do fundo da caixa com cola amarela para madeira, que é barata e muito eficiente. Aproveite para colar pedaços de papelão nas frestas entre as abas, para evitar a saída de abelhas quando a caixa-isca estiver sendo transportada com um enxame capturado.

A colocação dos quadros pode ser problemática, dependendo das dimensões da caixa. Eles podem ficar soltos e com espaçamento irregular, permitindo a construção de favos tortos, ou apertados demais dentro da caixa, podendo até obstruir o alvado e dificultar a sua retirada quando o enxame estiver instalado. Quando as dimensões da caixa permitem, pode-se colar sarrafos nas suas laterais, de forma a apoiar as extremidades dos quadros, tal como em colméias convencionais. Os quadros nas caixas-isca são muito úteis na hora da transferência, quando esta é feita alguns dias depois da captura. Uma alternativa que deve ser levada em conta, porém, é o uso de caixas sem quadros. Quando não há disponibilidade de caixas de tamanho ideal, ou quando o trabalho de adequação é muito grande, não há razão para se desprezarem caixas menores.

Enxames recém capturados podem ser transferidos imediatamente para colméias racionais, e o risco de perda diminui muito se forem fornecidos pelo menos um quadro com favo puxado e alimentação em pasta (para não provocar qualquer pilhagem), e usada uma tela excluidora normal, entre o ninho e o fundo, ou uma tela excluidora de alvado. Depois que o enxame tiver ocupado a caixa-isca por alguns dias, a transferência pode ser feita da mesma forma, usando técnicas de captura de enxames alojados, mas o cuidado na remoção dos favos, favos novos possuem muita fragilidade.

Dependendo da altura da caixa e da posição dos quadros, o melhor alvado pode ter cerca de 1 cm de altura e 6 cm de largura, por exemplo. Isso evita a entrada de passarinhos e, ao menos pelas minhas observações, não parece diminuir o interesse das abelhas. Outra opção é usar um alvado mais alto e colar um palito atravessado no meio, permitindo uma ventilação melhor da caixa em locais quentes, mas sem dar chance aos pássaros.

A atratividade das caixas pode ser efetivamente aumentada com o uso do Cymbopogon citratus, esfregado nas suas paredes internas. O cheiro, porém, dura pouco, e deve ser renovado com freqüência. Alguns apicultores deixam as folhas do capim-limão macerar em álcool, junto com restos de própolis, e pulverizam regularmente o interior das caixas. Outros põem favos velhos dentro das caixas-isca e deixam-nas abertas ao sol, de forma que parte da cera derretida impregne a superfície interna. Também há quem use os quadros saídos do derretedor solar, sem os favos, mas não raspados, de forma a deixar um pouco da cera nas traves superiores e restos de própolis.

A colocação das caixas deve obedecer alguns critérios básicos. Primeiro, ela deve ficar firme, pois o vento pode arrancá-la do lugar ou sacudi-la a ponto de afastar qualquer enxame que a tenha ocupado. Segundo, ela deve ser acessível para inspeção. Um

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telhado ou um galho alto de árvore podem ser uma opção boa para colocar a caixa, mas ruim para vistoriá-la e péssima para retirá-la com um enxame dentro. Terceiro, ela deve ficar bem nivelada com a horizontal. Não há problema em que ela fique um pouco inclinada para a frente; isso é até desejável, para evitar o acúmulo de água dentro, mas qualquer inclinação lateral provocará uma construção de favos tortos, podendo causar um grande transtorno na hora da transferência. Esse problema, é claro, só é importante para caixas-isca com quadros. Quarto, o apicultor precisa aprender os melhores locais para a sua colocação. Boca de mato, com sombreamento leve, é uma recomendação freqüente, mas não essencial. Pode-se usar os mourões de cerca, pregando uma plataforma bem simples no seu topo ou improvisar um suporte na sua lateral.

CAPTURA DE ENXAMES ALOJADOS

Localizado o enxame, a primeira providência é cuidar do material que será usado na operação: além da vestimenta completa e do fumegador, o apicultor precisará de uma colmeia que pode ser um núcleo ou um ninho dependendo do tamanho do enxame alojado; pelo menos 2 quadros com cera alveolada; ;faca para cortar os favos (se houver); barbantes ou gominhas de prender dinheiro; vassourinha de pelos macios (opcional); uma vasilha tipo concha e um saco plástico as sobras ou favos não aproveitados, e uma gaiola de rainhas que pode ser feita com aqueles bobs de cabelo ou algo que sirva para mante-la presa durante o processo de captura.

A captura do enxame deve ser feita exatamente como se deve trabalhar com as abelhas no apiário: Procure trabalhar sempre em dias claros ou de sol, quentes, se possível. Nestas condições, um número maior de campeiras estará trabalhando na coleta de néctar e pólen. Assim, menos abelhas estarão defendendo a colméia, no momento da operação. Faça o trabalho com paciência. Movimentos calmos, cuidadosos e delicados são indispensáveis. Qualquer gesto mais brusco pode irritar as abelhas e tornar impraticável a tarefa, sem falar nos riscos para sua própria segurança. Nunca dispense o uso do fumegador e jamais trabalhe sem a vestimenta apropriada.

Agora que já estamos preparados para lidar com as abelhas, vamos ver quais as situações mais comuns para a captura de enxames.

1º Caso - Enxames localizados em árvores, beirais etc. Isso acontece quando uma família está enxameado, isto é, multiplicando a colônia e procurando uma nova moradia. Neste caso, aproxime- se do enxame viajante com a caixa completa, contendo os quadros já preenchidos com cera alveolada e previamente borrifada com xarope de erva-cidreira. Borrife as abelhas com o um pouco de fumaça, para diminuir sua agressividade. Co a ajuda de um parceiro, segure a caixa, com seu bojo exatamente sob o enxame. Caberá ao outro a tarefa de sacudir sobre ela o "bolo" de abelhas, com um golpe rápido e seco. Coloque a tampa da caixa, e procure mantê-la durante algum tempo, bem próxima ao local para que as abelhas soltas entrem para a caixa. Aguarde até o anoitecer para realizar a transferencia.

2º Caso - Enxames em locais de difícil acesso (cupinzeiro, ocos de árvores, fendas de pedras, forros de casas), o procedimento é diferente. Antes de mais nada, trate de dirigir a fumaça para a colméia natural, para acalmar as abelhas. Usando uma ferramenta adequada para cada caso (enxada, facão, foice ou machado), abra um acesso aos favos no seu interior. Procure localizar os favos com cria. Eles são a chave da operação, pois , uma vez capturados e transferidos para sua caixa, vão atrair todas as abelhas da colméia. As crias atuam, portanto ,como verdadeiras "iscas". Remova-os com a ajuda da faca, recortando os no maior tamanho possível. Encaixe estes favos nos quadros vazios e prenda-os firmemente com o barbante ou as gominhas. Caso haja favos vazios ou com mel, a distribuição no interior da colméia deve ser a seguinte: favos com cria no centro, depois os favos vazios ou com pólen e nas extremidades, favos com mel. Durante o processo de transferencia dos favos, procure localizar a rainha, caso a encontre, com muito cuidado poderá prendê-la na gaiolinha temporariamente. Depois disso, as abelhas e, especialmente a rainha, devem ser transferidas para a nova caixa, com ajuda de uma concha ou caneca. Enquanto a rainha não for transferida, as abelhas não permanecerão na nova casa. Ao contrário, quando a rainha estiver lá, as abelhas restantes entrarão por conta própria.

Finalizada a operação de transferência, instale sua caixa exatamente no mesmo lugar da colméia original, tomando o cuidado de manter o alvado na mesma posição da entrada da antiga colméia. Ela deverá permanecer neste ponto até o fim do dia para capturar o máximo de abelhas campeiras.

TRANSFERENCIA DA NOVA COLÔNIA PARA O APIÁRIO

Para a transferência à noite, tampe o alvado com uma tela para ventilação ou espuma, e transfira sua caixa para o apiário definitivo. Se preferir fazer a transferencia durante o dia, irá precisar de uma tela com escape invertido, esta tela permite que as abelhas campeiras entrem na caixa e não possam mais sair. A tela dever ser fixada no alvado pelos menos duas horas antes da transferência, este é o tempo necessário para que todas as campeiras retornem para a colmeia.

Se o apiário estiver a mais de 3 km, basta esperar até que o enxame esteja bem ambientado, com as campeiras trabalhando bastante. Também é importante que o enxame esteja bem alojado, com bons favos de cria e quadros bem seguros, para que o transporte não os danifique.

Se o apiário estiver próximo, há três possibilidades:• A primeira é na noite seguinte ao dia de captura. Essa é a melhor opção, mas só pode ser feita se a distância permitir um

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transporte manual e extremamente cuidadoso, que não perturbe o enxame, pois ele estará em forma de cortina, construindo os favos. Como as campeiras mal começaram a tarefa de coleta, elas ainda não se habituaram ao novo local, e a perda no dia seguinte, por retorno ao local da captura, será mínima.

• A segunda possibilidade é mover a caixa para um local distante mais de 3 km, deixá-lo por lá duas semanas e depois transferi-lo para o apiário. Para isso, a colméia deve estar em boas condições para resistir ao transporte.

• Uma terceira possibilidade é a movimentação direta do local de captura para o apiário próximo por volta do 30º dia de captura. Nesta época, grande parte das campeiras originais já morreram ou estão próximas do fim, enquanto que a primeira geração de abelhas novas está quase pronta para iniciar as tarefas de coleta. Assim uma transferência para um local próximo causa uma perda relativamente pequena de campeiras por retorno ao local de origem, e ainda assim de campeiras velhas.

Uma vez transferido o enxame, é importante alimentá-lo para acelerar o seu desenvolvimento. A primeira alimentação no apiário deve ser em pasta, para evitar pilhagem. As demais podem ser líquidas, preferencialmente dentro da colméia, se o enxame for pequeno. Enxames capturados em caixa-isca muitas vezes se desenvolvem rapidamente se as condições forem boas, e, ao final da safra, podem até produzir um pouco de mel. Se não o fizerem, pelo menos é provável que estejam prontospara a safra seguinte, especialmente se a sua rainha for trocada por uma nova. Quando o seu desenvolvimento for muito lento, o melhor é uni-los a outros enxames maiores.

O MANEJO

O verdadeiro trabalho do apicultor começa após a instalação de suas primeiras colméias. É aqui que começam as diferenças entre a apicultura racional da pilhagem ou exploração de enxames que vivem em estado natural. E o papel do apicultor é o de amparar suas abelhas nos momentos mais difíceis, para poder beneficiar-se nos estágios em que as colméias se encontram na plenitude produtiva.

Para tanto, é preciso que se entenda que a colônia vive em constante ciclo: nos períodos de escassez de alimento, a família definha, os zangões são expulsos da colméia, cai a postura da rainha e, conseqüentemente, diminui ou cessa a produção de mel, pólen e cera.

É nesse momento que entra a ação do apicultor, socorrendo sua colônia. Ele deve providenciar alimento artificial para sua criação (como veremos adiante), reduzir a entrada do alvado nos períodos de frio, para auxiliar a manutenção da temperatura ambiente no interior da colméia, fornecer cera alveolada para poupar as abelhas da trabalhosa tarefa de produzir cera, verificar o estado dos quadros etc.

Já nas épocas de floradas abundantes, a produção de mel da colônia, desde que em tudo esteja correndo satisfatoriamente, é farta o bastante para que o apicultor possa colher boa parte para si, sem causar prejuízo às abelhas. Igualmente cresce a produção de pólen, cera, geléia real e própolis, que pode ser explorada, racionalmente, pelo apicultor. A colônia cresce, permitindo que o apicultor promova o desenvolvimento de seu apiário, fortalecendo famílias fracas, desdobrando colônias mais vigorosas, aumentando assim seu apiário e criando novas rainhas para substituir as já velhas, cansadas e decadentes

EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS

Antes de denominar as técnicas de manejo na criação das abelhas, o apicultor deve conhecer os equipamentos, ferramentas e, principalmente, a indumentária, a vestimenta com que irá trabalhar. As abelhas não são propriamente animais dóceis . Elas tratam de defender sua família contra qualquer tipo de ameaça (portanto são defensivas), e atacam todos os que consideram suspeitos. Assim, para trabalhar com abelhas, o apicultor deve, antes de mais nada, estar adequadamente vestido, para defender-se de eventuais picadas. Na hora do manejo, as ferramentas essenciais são a vestimenta adequada, o fumegador, o formão e o espanador.

A VESTIMENTA

A vestimenta básica é composta por uma máscara, um macacão, um par de luvas e um par de botas. • melhor tipo de mascara é o de pano, com visor de tela metálica ou plástica, pintada com tinta preta e fosca, que permite

melhor visibilidade. Este tipo de máscara é sustentado por chapéu de palha ou vime e é fechada com um longo cadarço, que é amarrado sobre o macacão.

• As luvas devem ser finas o suficiente para que o apicultor não perca totalmente o tato - fator de grande importância na manipulação das abelhas mas que ofereçam segurança. As luvas de plástico, muitas vezes não são resistentes às ferroadas, ê tem o inconveniente de não permitir a evaporação do suor das mãos, o que dificulta os trabalhos e cujo o odor pode irritar as abelhas. As luvas de couro fino, brancas, são as mais indicadas.

• macacão deve ser constituído de uma única peça. Ele também deve ser largo, folgado o suficiente para não criar resistência junto ao corpo, o que permitiria a ferroada da abelha. As extremidades do macacão (mangas e pernas) devem

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ser arrematadas com elástico, para impedir a entrada de abelhas na vestimenta e o tecido deve ser resistente para defender o corpo de ferroadas. O brim é bastante utilizado e oferece uma boa proteção. Algumas vestimentas são compostas de jaqueta e máscara separadas da calça, que pode ser um jeans ou uma calça de brim.

• Finalmente, não se esqueça das botas. As melhores são as de borracha, branca, de cano médio ou longo, sobre o qual é ajustada a bainha do macacão.

Importante: lembre - se sempre que as abelhas particularmente sensíveis às tonalidades escuras, especialmente ao preto e ao marrom. As abelhas têm verdadeira aversão a estas cores, que provocam seu ataque. Por isso, toda a indumentária do apicultor deve ser de cor clara. As mais indicadas são o branco, o amarelo e o azul-claro, tons que não as irritam.

UTENSÍLIOS OBRIGATÓRIOS

• Fumegador é um utensílio indispensável para qualquer tipo de trabalho. Sua função é a de diminuir a agressividade das abelhas. É um cilindro metálico - a fornalha, acoplado a um fole. Há dois modelos básicos, o tradicional, usado no mundo inteiro, e um modelo brasileiro, conhecido como SC-Brasil. O modelo brasileiro é maior e mais apropriado para se trabalhar com africanizadas, pois essas abelhas requerem mais fumaça. Mas é preciso lembrar que a fumaça entra em contato e deixa resíduo em toda a colméia, inclusive no mel. Por isso é bom moderar o uso do fumegador e usar apenas restos vegetais bem secos, como palha (restos de roçada de campo, por exemplo) ou maravalha de madeira bruta (restos de aplainamento de tábuas). Cuidado para não usar restos de compensados ou aglomerados, inclusive MDF, pois eles são produzidos com colas que, ao queimarem, podem produzir fumaça ainda mais tóxica do que o normal.

• formão é uma ferramenta praticamente obrigatória. É utilizado como alavanca para abrir o teto da colméia, que normalmente é soldado à caixa pelas abelhas com a própolis. Serve também para separar a desgrudar as peças móveis, o formão uma barra chata de aço, dobrada em L, com as extremidades levemente afiadas (mas não cortantes). Também é muito útil para raspar restos de cera e de própolis.

• espanador (ou escova), apesar do nome, parece-se mais com um grande pente, porque possui apenas uma fileira de cerdas. Essas cerdas devem ser bem macias, para removerem as abelhas sem machucá-las ou danificar os favos. Também é importante que as cerdas sejam de cor clara, menos irritantes para as abelhas.

OUTRAS FERRAMENTAS ÚTEIS PARA O MANEJO

• Uma lâmina afiada (faca, canivete ou estilete) é imprescindível no dia-a-dia do apicultor.• Um acendedor para o fumegador é necessário. Podem ser fósforos ou isqueiro, mas o melhor é um acendedor a gás para

fogões, daqueles com uma haste comprida.• Um rolo de fita adesiva larga, de empacotar, é de enorme utilidade para vedar provisoriamente algumas frestas e fixar

alguns componentes. • Um tubinho de tempero (bem limpo) ou bobs de cabelo são ótimos para capturar uma rainha em caso de necessidade.• Uma outra ferramenta, de alguma utilidade, é o pegador (sacador) de quadros. Trata-se de uma espécie de alicate duplo,

usado para retirar e segurar os quadros que serão examinados, com mínimo risco de danificar o favo ou machucar as abelhas. Alguns apicultores não prescindem do sacador, mas outros, depois de algum tempo, acreditam que podem trabalhar muito bem sem ele.

• Gominhas de dinheiro ou barbantes podem salvar o dia, caso você se depare com favos tortos ou quebrados.• Outras ferramentas podem ser importantes, mas de uso muito eventual, como alicate, martelo, arame, pregos.

A INSPEÇÃO DA COLMÉIA

O trabalho de revisão deve ser feito pelo apicultor devidamente trajado com sua vestimenta completa, em dias quentes e ensolarados e, preferencialmente, com a ajuda de outro colega. Neste tipo de atividade, o uso do fumegador é obrigatório e o trabalho deve ser feito de forma rápida, em movimentos tranqüilos, delicados, porém decididos. Gestos ou ações bruscas podem provocar a irada reação das abelhas.

A freqüência das revisões dependem da época e do tipo de manejo. Uma inspeção rápida pode ser feita a cada semana, mas talvez não haja nenhum problema se você esperar um mês ou mais. Revisões completas podem ser feitas cerca de 2 a 4 vezes por ano. Durante a safra, deve-se mexer o mínimo possível na colméia, abrindo-a poucas vezes e rapidamente, apenas para verificar a acumulação de mel e colocar ou retirar melgueiras. Isso evita perturbações que podem até significar perda de mel.

Para realizar o trabalho de inspeção ou revisão, aproxime-se sempre pelo lado de trás da caixa. Nunca interrompa, com o corpo, a linha de vôo das abelhas, que entram e saem da caixa em busca de alimentos. O trabalho de inspeção começa sempre com a fumegação da caixa. Não faça fumaça em excesso para não provocar o efeito contrário ao desejado, ou seja, acabar irritando as abelhas; procure sempre fumegar ao lado até chegar a fumaça branca e não tão quente. Antes de abrir a caixa para fazer trabalho de revisão propriamente dito, faça fumaça junto ao alvado, duas ou três baforadas leves bastam. Para abrir a tampa, e começar o trabalho de revisão, enquanto uma pessoa abre o teto da caixa a outra faz fumaça sobre a caixa horizontalmente. Nunca diretamente sobre os quadros. Duas a três baforadas são suficientes. Que a fumaça seja fria ou branca e nunca quente ou azul.

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COMO FAZER UMA REVISÃO COMPLETA

Primeiro, ponha fumaça e abra a colméia, como mencionado acima. Se houver melgueiras, avalie o seu conteúdo retirando um ou dois quadros. Com o tempo, bastará dar uma olhada superficial e suspendê-la, para estimar bem a quantidade de mel armazenado. Verifique se há postura na melgueira. Faça o mesmo com todas as melgueiras e vá retirando-as até chegar ao ninho, usando um pouco de fumaça sempre que necessário. Se houver mel desoperculado, use a fumaça lentamente, dirigindo-a apenas para o topo dos quadros. Se estiver ventando, direcione a fumaça para o lado da colméia que estiver recebendo o vento, diretamente na parede. A fumaça vai subir e apenas lamber a parte superior dos quadros.

No ninho, retire cada um dos quadros e examine-os cuidadosamente. Com o tempo, você será capaz de selecionar apenas alguns quadros bem representativos da situação do ninho, abreviando esse trabalho. No início, ajuda bastante remover o quadro mais vazio de uma das extremidades e pô-lo de lado, para ampliar o espaço de trabalho. Em seguida, faça as verificações e correções necessárias, recoloque todos os quadros, de preferência com a mesma orientação frente-fundo original, e recoloque as melgueiras, usando um pouco de fumaça para esmagar o mínimo de abelhas possível.

Dica: Se houver muitas abelhas sobre o favo, e você precisar ter uma visão melhor, remova o excesso com um leve chacoalhar, bem acima do ninho. Se precisar remover quase todas as abelhas, use seguinte manobra: segure o quadro por um canto com uma das mãos e, com a outra mão, dê um golpe seco, de cima para baixo, na mão que está segurando o quadro. Dependendo da força que você usar, poderão se desprender as abelhas, os ovos, as larvas e o néctar; muito cuidado, portanto. Em seguida, segure o quadro pelos cantos e analise a face do favo que está voltada para você. Se você estiver de costas para o sol, o quadro ficará mais bem iluminado. Para analisar a face oposta, vire-o de cabeça para baixo, girando-o com os dedos das duas mãos. Tenha cuidado para não expor as crias muito tempo ao sol (mais de alguns poucos segundos), pois elas são extremamente sensíveis. Tenha muito cuidado também ao recolocar o quadro, para não esmagar outras abelhas e, principalmente, a rainha.

Numa revisão de rotina, verificam-se diversos pontos:· O enxame está bem desenvolvido para a época?· Há reservas de mel suficientes até a próxima revisão?· O tamanho do alvado é compatível com a temperatura média da estação e com o movimento de entrada e saída das abelhas?· A rainha está presente e a postura é adequada?· Há realeiras?· As crias estão se desenvolvendo bem?· Há espaço suficiente para aumentar a postura?· Há espaço suficiente para armazenar mais mel?· Há sinal de doença na colméia?· Há sinal de ataque de formigas, traças ou outros animais?· Há favos velhos ou quadros danificados a serem substituídos? · Há umidade condensada na colméia?· Há sinais de excesso de calor dentro da colméia?

SOLUÇÕES:

• Os favos, sejam eles de cria ou de mel, devem estar em bom estado. Favos escuros, retorcidos ou danificados devem ser substituídos por favos com cera nova alveolada, verificando-se sempre se existe alimento suficiente para que as abelhas possam continuar a construção desses favos, uma vez que a produção de cera depende da existência de um bom suprimento de alimento na colmeia. Quando tiver cria nestes favos, eles devem ser transferidos para as laterais da colmeia até o nascimento das abelhas, quando serão substituídos. Em caso de enxames fracos e de falta de alimento, não se recomenda a colocação de quadros novos até que o enxame seja fortalecido e alimentado. É importante a troca dos favos velhos pelas seguintes razões: Uma é evitar que o favo velho se transforme num veículo de contaminação, já que ele é sistematicamente exposto a dejetos das larvas. Outra é impedir que o estreitamente natural do alvéolo, provocado pelos restos de sucessivos encasulamentos, acabe influindo no desenvolvimento das crias, resultando em adultos menores. E ainda, a recusa da rainha em fazer postura nestes favos e a preferência das traças por cera velha.

• Os favos, principalmente os de centro do ninho, onde se desenvolve a família na colméia, devem ser examinados para constatar a presença de larvas e ovos. É uma operação delicada e que requer atenção visual, pois os ovos são pequenos, medindo cerca de 2mm. A ocorrência de favos com pequeno número tanto de crias, abertos ou fechados, como de ovos depositados, é sinal de que a rainha está fraca ou decadente e deve ser substituída.

• Se os favos da caixa estão todos ocupados, com crias ou com alimento - mel e pólen, o apicultor deve providenciar mais espaço para a família, ou seja, uma caixa extra, com quadros dotados de cera alveolada, em cujos favos a rainha poderá depositar seus ovos. Um indício de que a caixa está "lotada", ou seja superpovoada, é a formação daquilo que os apicultores denominam de "barba" de abelhas: a disposição, nos dias quentes, de numerosas abelhas na entrada das colméia, em forma de cacho.

• A presença de abelhas paradas no alvado, batendo as asas, significa que elas estão forçando a ventilação da colméia. Isso é normal, desde que não sejam muitas abelhas e que o zumbido interno (das que estão ventilando lá dentro) não seja muito

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forte. O agrupamento de abelhas do lado de fora, formando uma "barba" perto do alvado, pode indicar que as abelhas não estejam conseguindo refrigerar o interior da colméia quando todas elas estão lá dentro. Para resolver esse problema emergencialmente, podem-se colocar pequenos calços (pregos ou pedacinhos de graveto) sob a tampa. Para resolvê-lo melhor, pode-se adotar um telhado maior, de cor clara, ou adicionar uma melgueira extra.

• A presença de larvas mortas nos favos e de abelhas mortas no assoalho da caixa é indício de ocorrência de doença na

família. Uma colméia sadia é sempre limpa e higiênica.

• Na entressafra, ou seja, nos períodos em que não há florada, principalmente durante o inverno ou nas estações de muita chuva, verifique se a família tem alimento suficiente. Caso contrário, você deverá fornecer alimentação artificial à colônia.

• Durante a florada, colha o mel que estiver maduro (operculado), devolvendo os quadros, vazios e limpos, às melgueiras.

• Para evitar que parte da colônia enxameie, ou seja, que abandone a colméia, verifique se a família está formando realeiras nos favos. As realeiras, que são cápsulas destinadas à criação de rainhas, são formadas normalmente, nas extremidades dos quadros com cria, apresentando a forma de um casulo parecido com uma casca de amendoim. Elimine, se for o caso, estas cápsulas para não enfraquecer a colônia.

• Caixas danificadas, com furos ou irregularidades que impossibilitem o fechamento adequado da colmeia, também devem se possível, ser substituídas para evitar ataque de inimigos naturais, pilhagem e o maior desgaste das abelhas nas atividades de defesa da colônia e de termorregulação.

Importante: Quando se retira uma caixa da colméia, muitas abelhas que estavam ali saem (caminhando) para fazer uma investigação do que houve. Quando essa caixa é posta diretamente no solo, as abelhas que saem podem ser pisadas pelo apicultor, atacadas por predadores ou, na melhor das hipóteses, demorar muito para retornar à casa, já que muitas delas são jovens que nunca voaram. Para evitar isso, apoie a caixa sobre a tampa, previamente largada no solo. Após recolocar as caixas, basta varrer as abelhas que estão sobre a tampa para dentro da colméia, e a perda de abelhas é mínima.

ALIMENTAÇÃO

Alimentação artificial é o fornecimento de substâncias nutritivas para as abelhas. A alimentação pode ser de subsistência, quando não houver provisões suficientes na colméia para garantir a sua manutenção, ou estimulante, para induzir o crescimento da colméia antes de uma florada. Além disso, a alimentação artificial pode ser protéica (para substituir o pólen) ou energética (para substituir o mel).

Por estranho que pareça, este é um dos assuntos mais polêmicos da apicultura nacional. Há dúzias de fórmulas, das mais simples às mais sofisticadas, cada uma defendida com unhas e dentes por seus simpatizantes. Também há diversas formas de fornecer o alimento e, de novo, há defensores fervorosos de um ou outro modelo. As próximas questões esclarecem alguns pontos básicos da alimentação artificial, como tipos, fórmulas e modos de fornecimento.

QUANDO DEVE SER FORNECIDA A ALIMENTAÇÃO DE SUBSISTÊNCIA

Quando não houver reservas suficientes até a próxima florada. Ela normalmente não é necessária quando o apicultor deixa uma boa quantidade de mel para as abelhas, mas isso nem sempre é feito, já que, economicamente, o mel vale muito mais que o açúcar. Além disso, há méis de cristalização rápida que não podem ser deixados na colméia, especialmente em climas frios, sob pena de as abelhas não conseguirem consumi-lo mais tarde.

Após a colheita, o início de uma entressafra longa (mais de dois meses) é um bom momento para fornecer a alimentação de subsistência. Uma possibilidade interessante é adiar um pouco o fornecimento, até que o enxame se reduza naturalmente, inclusive com a expulsão dos zangões. Nesse momento o xarope pode ser fornecido em quantidade grande o suficiente para toda a entressafra. Ou, ao contrário, essa alimentação pode ser fornecida aos poucos, de acordo com a percepção do apicultor.O fornecimento de uma só vez reduz o trabalho, mas aumenta o risco de perda de alimento por deterioração, caso as abelhas não o aceitem ou demorem muito a recolhê-lo. Enxames pequenos, especialmente, têm dificuldade em esvaziar os alimentadores grandes.

COMO É A ALIMENTAÇÃO ENERGÉTICA DE SUBSISTÊNCIA

O xarope (substituto do mel) deve ser mais concentrado do que na alimentação estimulante, para que as abelhas não precisem gastar muita energia na sua desidratação.

Como xarope, alguns recomendam uma mistura de açúcar cristal comum em água, num proporção alta, como 2:1 (em peso), por exemplo. Isso significa 2 kg de açúcar em 1 litro de água, ou um xarope com concentração de açúcar de 67%. Aquecer a água facilita bastante a mistura e melhora a conservação.

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Outra proporção interessante é 1,5:1 (açúcar : água). Ela pode ser obtida enchendo-se um recipiente até a metade com água e completando-se com açúcar. Produz um xarope com concentração de 60% de açúcar.

Importante: Alguns apicultores fornecem rapadura em pedaços ou cândi às abelhas. Não é a melhor opção, pois exige que elas dissolvam o alimento antes de consumi-lo (num período frio isso pode ser muito difícil). Além disso, o aumento de trabalho inclusive na busca de água para a dissolução, aumenta também o consumo de energia. Uma alimentação pastosa, mista, energético-protéica, é uma alternativa possível.

O que é cândi? É uma mistura de açúcar de confeiteiro com mel. Para prepará-lo, pegue uma porção de açúcar de confeiteiro e vá acrescentando mel e amassando até formar uma massa flexível, que seja o mais seca possível, sem se esfarelar. É um tipo alimento muito usado em transporte e introdução de rainhas.

QUANDO DEVE SER FORNECIDA A ALIMENTAÇÃO ESTIMULANTE

A alimentação artificial estimulante visa o aumento populacional. Muito diferente da alimentação complementar de apoio que visa compensar a falha natural. A alimentação estimulante visa criar uma idéia de abundância típica da Primavera e despertar nas abelhas seus instintos de reprodução. Este comportamento primaveril vai durar enquanto durar o alimento, criando uma euforia e aumentando as outras atividades da colônia, principalmente a produção de crias.

Inicia-se a alimentação estimulante, cerca de sessenta dias antes de uma florada intensa. Uma consideração importante sobre a alimentação estimulante é que ela deve simular um fluxo de néctar na colméia e, portanto, deve ser fornecida freqüentemente. Nesse aspecto, as recomendações mais comuns são para a utilização de para alimentadores rápidos de três a sete vezes por semana.

O volume de xarope a ser fornecido depende exclusivamente do tamanho do enxame. O melhor é observar a acumulação do xarope, se essa acumulação for muito grande, vários quadros do ninho ficarão cheios de mel de xarope, e a rainha não poderá fazer a postura. Essa é uma situação chamada de bloqueio do ninho, e leva a colméia, quase certamente, à enxameação. Uma boa alternativa é alimentar as abelhas liberalmente, removendo os favos repletos de xarope sempre que necessário, substituindo-os por cera alveolada o favos já puxados. Com isso, o espaço para a rainha estará garantido, ao mesmo tempo que o estímulo alimentar.

Dica: Os favos com mel de xarope podem ser distribuídos às colméias fracas, ou centrifugados, para que o seu conteúdo possa ser devolvido à colméia sob forma de mais alimento estimulante. Uma alternativa possível, mas bem menos interessante, é deixar os favos por um dia a cerca de 100-200 metros do apiário, para que o xarope neles estocado volte a simular néctar para todas as colméias. Nesse caso, não apenas as suas colméias, mas todas as da região serão beneficiadas.

COMO É A ALIMENTAÇÃO ESTIMULANTE

O xarope deve ser menos concentrado do que na alimentação de subsistência, para simular o néctar, que possui, em média, uns 30-35% de açúcar. Para obter um xarope com aproximadamente 35% de açúcar, faça uma mistura na proporção de 4:7,5, por exemplo, 4 kg de açúcar em 7,5 litros de água. Isso dá 11,5 kg de xarope, que ocupam uns 10 litros. Como a mistura é pouco saturada, ela pode ser feita facilmente até mesmo com água fria e um pouco de agitação. Da mesma forma que na alimentação de subsistência, há quem recomende o uso de açúcar invertido ou mel, mais diluídos.

O que é o açúcar invertido? O açúcar invertido é na verdade o açúcar comum que nós utilizamos em nossas casas todos os dias (a sacarose), só que aquecido juntamente com um ácido que pode ser, por exemplo, ácido acético, ácido tartárico ou suco de limão. O resultado desse processo é a quebra da sacarose em dois outros açúcares que a compõe: a glicose e a frutose. Esse nome se deve ao seguinte fato: quando um feixe de luz polarizada incide sobre a molécula de sacarose ele é desviado para a direita, já no açúcar invertido, a luz incidente é desviada para a esquerda. Utiliza-se esse tipo de açúcar em balas para evitar a cristalização do açúcar. Na apicultura, a alimentação com o esse açúcar se deve exclusivamente à sua conservação por período mais prolongado em temperatura ambiente.

Dica: Para preparar o xarope de açúcar invertido com o limão, use a proporção de 10ml de suco de limão para cada litro de água, deixe ferver em fogo baixo por 40 minutos.

Veja umas dicas para evitar que o xarope se deteriore rapidamente.- Prepare-o de preferência, no dia em que for servir; - Nunca forneça o xarope em alimentadores que não estejam bem limpos e livres de resíduos de alimentação anterior; - Evite que o alimento fique exposto ao sol, a perda se dá principalmente pelo calor; - Evite exceder o volume de alimento, sirva apenas o que sabe que elas irão consumir num determinado número de dias.

COMO CALCULAR AS PROPORÇÕES DE AÇÚCAR E ÁGUA PARA O ALIMENTO ENERGÉTICO

A densidade do açúcar é 1,59, o que significa que cada quilograma contribui com 0,63 litros num xarope. Com este dado, você pode calcular qualquer proporção. Para produzir cerca de 10 litros de xarope (200 ml a mais ou a menos), use a tabela abaixo.

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Para volumes diferentes, apenas corrija as quantidades dos ingredientes na mesma proporção.

Ingredientes Xarope

Água (L) Açúcar (Kg) Peso (Kg) Volume (L)Concentração

(%)Equivalente em mel (Kg)

A evaporar (L)

8,5 2,5 11 10,1 23 3 88 3,5 11,5 10,2 30 4,3 7,2

7,5 4 11,5 10 35 4,9 6,67 4,5 11,5 9,8 39 5,5 6

6,5 5,5 12 10 46 6,7 5,36 6 12 9,8 50 7,3 4,7

5,5 7 12,5 9,9 56 8,5 45 8 13 10 62 9,8 3,2

4,5 9 13,5 10,2 67 11 2,5

As colunas de ingredientes referem-se às quantidades a serem misturadas. O peso do xarope é apenas ilustrativo e base para calculo da concentração. A coluna "Concentração" indica o percentual de açúcar no xarope. O peso equivalente em mel corresponde ao que sobra do xarope após a sua desidratação até o patamar de 18%. A coluna "A evaporar" mostra quanta água deve ser retirada do xarope para que as abelhas possam armazená-lo com 18% de umidade. A tabela foi ajustada para volumes e pesos de ingredientes que fossem múltiplos de 0,5.

COMO O XAROPE É FORNECIDO

Há vários tipos de alimentadores, coletivos e individuais. Os coletivos facilitam o fornecimento, mas provocam lutas e até pilhagens entre as colméias, se o alimentador não estiver a uma distância razoável do apiário. Também fornecem alimento a todos os insetos da região, além das suas abelhas. Como se não bastasse, os enxames fortes, que não precisariam de alimentação, serão os que coletarão mais xarope, em detrimento dos menores. Os alimentadores individuais atendem uma única colméia cada um, e são muito mais eficientes.

ALIMENTADORES INDIVIDUAIS EXTERNOS

Os alimentadores de alvado são, em geral, menores e mais sujeitos a saque, por ficarem mais expostos, mas são mais fáceis de fornecer às abelhas, pois não exigem a abertura da colméia.

O alimentador Boardman é o mais conhecido, um vidro com tampa furada que se encaixa sobre uma plataforma de madeira que é colocada no alvado. As abelhas da colméia têm acesso privilegiado ao xarope, mas muitos saques ocorrem assim mesmo. Como os furos têm de ser pequenos, para que o xarope não fique pingando, o Boardman acaba sendo um alimentador lento, que assim favorece a fermentação do xarope. Hoje, existem plataformas com o mesmo sistema que suportam uma garrafa PET de 2 litros.

Um bom modelo de alimentador de alvado é o cocho, produzido pela Apivac, Associação de Apicultores do Vale do Carangola (MG). Trata-se de um recipiente plástico que fica pendurado à frente do alvado, preso por um suporte metálico facilmente adaptável. Sobre a boca do alimentador, corre uma tampa que forma um túnel de acesso ao alimento. Dentro do cocho, há um flutuador para as abelhas não se afogarem, e as paredes são lixadas internamente, para que elas possam subir sem dificuldade. O cocho admite cerca de 1,5 litro e é esvaziado em poucas horas por um enxame médio. Quando carregado no final da tarde, ele é encontrado vazio pela manhã, evitando quase completamente o saque. A sua recarga é muito rápida, bastando levantar a tampa e despejar o xarope.

ALIMENTADORES INDIVIDUAIS INTERNOS

Há dois tipos principais. Um é o Doolittle, um cocho estreito, que substitui um quadro da colméia. Não é muito prático porque a sua colocação envolve manipulação do ninho, o que, além de trabalhoso, pode ser prejudicial às abelhas quando a temperatura é muito baixa, ele aumenta a umidade interna.

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O outro modelo é o de cobertura. É um recipiente de mesmas dimensões que as caixas, apenas mais baixo, e é colocado sobre elas. As abelhas entram no alimentador para remover o xarope por dentro da colméia, o que não dá muita margem a saques. É um alimentador rápido pela sua construção, mas que geralmente aceita volumes grandes de xarope, que pode fermentar se não for quimicamente tratado. Também é um alimentador que não chama muito a atenção das abelhas e pode ser rejeitado. Dependendo da sua construção, também pode provocar grande mortandade por afogamento.

QUANDO DEVE SER FORNECIDA A ALIMENTAÇÃO PROTÉICA

Em relação à alimentação protéica (substituição do pólen), geralmente não se diferencia subsistência de estímulo, exceto em relação à quantidade fornecida. Durante a entressafra, o consumo protéico normalmente é menor, pois poucas ou nenhuma cria está sendo gerada. No entanto, quando o enxame começa a se desenvolver, por estímulo artificial ou natural, a escassez de pólen pode ser um fator limitante, causando um grande atraso no aumento populacional. Se não houver fonte de proteína disponível, nenhum tipo de estimulação à base de xarope funcionará, pois as abelhas jovens não terão como produzir as substâncias nutritivas para alimentar as crias e a rainha.

Uma outra situação em que a alimentação protéica é obrigatória ocorre quando há uma florada de pólen tóxico na região. Um exemplo disso é a floração do barbatimão e do falso-barbatimão (Stryphnodendron spp. e Dimorphandra mollis), comum principalmente na região Sudeste [CIN02]. As flores dessas plantas produzem pólen tóxico, que causa alta mortalidade nas crias da colméia. Nesse caso, o recomendado é que a alimentação protéica inicie pelo menos 15 dias antes da florada, e seja mantida durante todo o seu período.

Diversas fórmulas já foram testadas, com misturas em proporções variadas de farinha de soja, de milho e de trigo, levedo de cerveja, pólen, leite em pó. A alimentação protéica quase sempre é fornecida em forma de pasta.

Uma receita simples para preparação da ração protéica: Ingredientes: 4 partes de açúcar refinado, 2 partes de farinha de soja bem fina e Mel. Misturar primeiro os ingredientes secos e depois acrescentar o mel até ficar homogêneo (aparência de areia molhada).

Para fornecer o alimento protéico:

• Alimentador deve ser de cobertura, de forma que o produto fique o mais próximo possível das crias. • Ração em pasta pode ser fornecida em saco plástico aberto (uma janela grande, na face superior do saco) e deve ser

deixado próximo à área de cria, diretamente sobre os quadros do ninho ou logo abaixo deles. • Fornecê-lo pelo alvado. Para isso, a ração deve ser introduzida pelo alvado. Caso as abelhas depositem própolis nessa

entrada, basta removê-la com a ajuda do formão. A desvantagem dessa técnica é que o alimento pode ficar contaminado por dejetos que caem dos favos sobre ele.

O consumo deste alimento pelo enxame vai depender da quantidade de abelhas, é oferecido em torno de 100g/dia/colméia.

Importante: Se o alimento em pasta for posto longe dos quadros de cria, há uma boa probabilidade das abelhas rejeitarem-no.

TÉCNICAS DE MANEJO

As operações de manejo que têm por objetivo efeito imediato de socorro às colônias são: 1. Introdução de rainhas2. União pacífica de colônias 3. Permuta4. Recuperação de um enxame zanganeiro

INTRODUÇÃO DE RAINHAS

Todos os métodos de introdução de rainhas têm por objetivo enganar a colônia de abelhas de maneira que elas aceitem o “elemento estranho” e o acatem como parte da colônia. Existem três situações básicas nas quais o apicultor deve recorrer a introdução de rainhas:

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a) quando por acidente a rainha é morta (seja pela invasão de predadores ou pelo próprio apicultor); b) quando o apicultor, por algum motivo, está descontente com a rainha e deseja substitui-la;c) como medida regular de manutenção para ter sempre colônias dirigidas por rainhas jovens e mais vigorosas.

Saber introduzir rainhas com sucesso é uma das principais tarefas do apicultor que pretende tornar-se um profissional apícola. Rainhas estranhas não são aceitas de boa vontade por parte das abelhas de um enxame. Toda vez que um enxame fica sem rainha, as operárias assim que percebem essa ausência, iniciam rapidamente a puxada de realeiras. Utilizam para tanto, larvas de operárias que não tenham ultrapassado os 03 dias de idade, para serem transformadas em possíveis rainhas. Enquanto as abelhas puderem puxar realeiras, qualquer rainha estranha poderá ser rejeitada. Para a segurança da rainha introduzida o ideal é que se aguardem 07 dias para só então permitir a sua liberação pelas abelhas, após a destruição das realeiras puxadas. Isso não impede que a nova rainha seja introduzida neste enxame dentro de sua gaiola, com as saídas bem fechadas, antes do sétimo dia. Neste caso estará protegida da fúria das abelhas pela gaiola e terá oportunidade de ter o seu cheiro misturado ao das abelhas do enxame, o que será de grande importância.

A forma mais prática para introduzir uma rainha sem grandes traumas para a colméia é a “gaiola Miller”. Sua função é permitir o contato da rainha estranha com as abelhas da colônia órfã através de uma tela, evitando o contato direto entre elas, o que poderia representar riscos tanto de ataque e rejeição. A gaiola Miller é confeccionada em estrutura de madeira e tela, possui dois canaletes. Estes canaletes são de comprimentos diferentes para que as abelhas consumam a pasta do canalete mais curto em um dia e a do mais longo em dois dias. O canalete curto é provido de uma abertura interna que permite a entrada das abelhas, mas impede a saída da rainha.

Procedimento:

1- Coloca-se a rainha sem acompanhantes na gaiola Miller, preenchendo os canaletes com pasta cândi. Inicialmente impede-se o acesso das abelhas à pasta com rolhas plásticas ou de madeira.

2- Elimina-se a rainha “velha” da colônia e no mesmo dia introduz-se a gaiola com a nova rainha entre os favos centrais do ninho das crias.

3- Após passados os 07 dias, uma revisão detalhada será feita à procura de realeiras que quando encontradas deverão ser destruídas. Somente então as rolhas que protegem os compartimentos de pasta cândi poderão ser retiradas, sendo a rainha libertada pelas abelhas em 1 ou 2 dias, prazo suficiente para que as abelhas, impedidas de puxar novas realeiras, percebam a necessidade de aceitar a nova rainha.

4- As abelhas ao consumirem a pasta cândi do canalete curto iniciam o contato direto com a nova Rainha; um dia depois, consomem toda a pasta cândi do canalete longo libertando-a e integrando-a na colônia

Importante: Não havendo florada forte, deverá ser fornecido alimentação de subsistência ao enxame.

5- Após preferencialmente 14 dias, o enxame poderá ser aberto para confirmação de postura da rainha, esta revisão deverá ser rápida, evitando-se pilhagem e agressividade, com o único intuito de confirmar a presença de ovos e larvas. Se durante a primeira revisão tudo correu bem, 20 dias depois dela abelhas novas já estarão nascendo. Isto permitirá que, neste momento, nova revisão seja realizada com pouco mais de calma, sem maiores riscos para a rainha.

6- As próximas revisões serão realizadas de acordo com a rotina do apicultor. Sempre ressaltando a importância do controle da pilhagem e da necessidade de alimentação artificial na ausência de floradas. Importante: Se por algum motivo alheio ao desejo do apicultor, uma rainha recém introduzida vier a perecer, precisará ser substituída por outra rainha o mais rapidamente possível, para se preservar a integridade do enxame.

UNIÃO PACÍFICA DE COLÔNIAS

A união de colônias é feita quando uma das colônias perdeu a Rainha e se deseja aproveitar a força da sua população durante a próxima florada iminente. Geralmente, esta técnica é usada quando a colônia tornou-se zanganeira, quando não há rainhas disponíveis ou não há tempo hábil para a colônia crescer antes da florada.

A união de enxames deve ser usada nos seguintes casos:1- unir duas ou mais colônias fracas para formar uma forte;2- introduzir rainhas estocadas em minifamílias em famílias populosas orfanadas;3- salvar uma colônia órfã quando não se pode momentaneamente introduzir uma rainha;4- aproveitar a força de trabalho de uma colônia zanganeira condenada à extinção.

Procedimento para enxames órfãos:1- Retirar a tampa da colméia sem rainha e, em seu lugar, colocar uma folha de jornal dupla, umedecida com mel ou xarope,

que devem ficar restritos à área do jornal que fica na parte interna da colméia, sobre os quadros. O excesso ou alimento aparente incentiva a pilhagem.

2- Colocar por cima do jornal a colméia com a colônia com rainha, sem o fundo.

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Procedimento para enxames com rainhas:1- Primeiro, abra a colméia com a rainha mais antiga ou mais fraca. Se houver melgueiras, ponha-as de lado, fechadas e com

o mínimo de abelhas possível dentro. Cuidado para a rainha não ficar numa delas.2- Elimine a rainha e feche a colméia. 3- Faça o mesmo em todas as colméias com rainhas antigas ou fracas que deseja unir com outros enxames melhores.4- Mais para o final da tarde, reabra estas colméias e cubra-as com uma folha de jornal e um pouco de mel.5- Em seguida, sobre cada uma destas colméias orfanadas, coloque uma colméia que possui rainha nova (ninho sem alvado),

e, sobre esta, as melgueiras retiradas no início.6- Aguarde uma semana e faça uma reorganização nos ninhos, de forma a deixá-los prontos para a safra.

Dica: Quando o apicultor trabalha rotineiramente com união de enxames, suportes ou cavaletes duplos facilitam muito o trabalho, já que as colméias unidas já estarão lado a lado. Além disso, evitam a perda de campeiras, pois as da colméia deslocada entrarão automaticamente na colméia unida.

As abelhas da colméia superior, aprisionadas, buscam uma saída roendo o jornal. Instintivamente também procuram eliminar o corpo estranho indesejado. As abelhas da caixa inferior percebem o zumbido agitado das abelhas em desespero procurando saída. À medida que o jornal é roído, formam-se pequenos buracos, por onde as línguas das abelhas das duas colônias se comunicam transferindo alimento e informações importantes através dos feromônios. As abelhas da parte inferior ficam sabendo da existência de uma rainha acima do jornal e as abelhas da parte superior descobrem a saída que procuravam. Com esta troca de informações, as abelhas das duas colônias aceitam-se mutuamente e 12 horas depois, já estão devidamente integradas.

Ao aplicar este método, o apicultor deve lembrar que as abelhas acima do jornal estarão dentro de uma caixa fechada, sem ventilação e em desespero, agitadas, procurando uma saída. A falta de aeração aliada à agitação das abelhas gerará calor, que será tão mais intenso quanto mais abelhas existirem na colméia. Portanto, quando, por força das circunstâncias, se fizer necessária a união com uma colônia populosa, o trabalho deve ser feito no um do dia, ou com mais uma câmara vazia colocada por cima o que dará mais espaço para dispersão da temperatura.

PERMUTA

O objetivo da permuta é fortalecer um enxame fraco em detrimento de um forte. Baseando-se no fato de que as campeiras da colônia estão orientadas a retornarem exatamente para o local de onde partiram, o apicultor deve trocar de lugar duas colônias, uma fraca e uma forte, para que as campeiras de uma colônia sejam acolhidas pela outra. A colônia fraca em ritmo normal, teria de esperar o aumento de postura da rainha, o nascimento das crias e, finalmente, que estas se tomassem campeiras, o que não aconteceria antes de 60 dias.

Desta maneira, a colônia mais fraca é fortalecida pelo acréscimo das campeiras da colônia forte que, repentinamente, ganha uma força de trabalho que lhe traz grande estímulo na forma de alimento. A colônia forte fica desfalcada de grande parte de sua força de trabalho externo, mas em compensação tem estoque de alimento, e um grande contingente de crias para nascer, além de caseiras próximas de tomarem-se campeiras. Isso significa que pouco sofrerá com a diminuição temporária do número de campeiras, recuperando-se rapidamente.

Desta maneira, com a intervenção humana, alcança-se o equilíbrio da força populacional das colônias do apiário, adiantando o desenvolvimento das mais fracas através da introdução da força de trabalho das colônias mais populosas.

RECURPERAÇÃO DE UM ENXAME ZANGANEIRO

Uma colmeia órfã poderá tornar-se zanganeira. Esta situação ocorre quando na falta da rainha, as operárias começam a pôr ovos. Como não são fecundados, esses ovos geram apenas zangões, e a colméia acaba extinguindo-se com a morte das operárias. É sempre melhor intervir antes que isso aconteça, mas caso essa situação ocorra, há algumas tentativas que podem ser feitas, como: a união de colônias, a introdução e rainhas ou a permuta.

Antes porém, deve-se sacudir todos os favos a uma boa distância do local original da colméia, para eliminar as poedeiras. Supostamente, por estarem mais pesadas e talvez desorientadas por dedicarem-se apenas à postura, elas não voltariam para a colméia. Depois, a colméia é remontada no local original, sem os favos de cria, apenas com as operárias normais.

Você poder optar por um dos três métodos:1- Introdução de uma nova rainha;2- Fazer a união com um outro enxame;3- Fazer a Permuta, neste caso em especial, é preciso acrescentar favos com postura boa e jovem (ovos de um dia), para que

as operárias não zanganeiras, inclusive as da colméia normal que estarão entrando, produzam uma nova rainha.

No entanto, antes de se experimentar alguma forma de recuperação do enxame zanganeiro, é preciso avaliar a sua viabilidade. Enxames nessa situação, quando são encontrados, freqüentemente apresentam um número muito pequeno de operárias, muitas delas poedeiras, e não justificam esforços maiores na sua preservação individual.

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COMO SABER SE UMA COLMÉIA ESTÁ SEM RAINHA

A ausência de ovos em época de postura normal é um forte indicativo. Mas isso também pode significar preparação para a enxameação, se houver realeiras no ninho. Também pode indicar a presença de uma rainha virgem, o que pode ser presumido se forem encontradas realeiras já abertas.

Se a colméia fica sem rainha durante vários dias na época da safra, pode-se perceber a situação visualmente, pelo acúmulo anormal de mel e pólen no centro dos favos de cria.

Apicultores mais experientes, porém, podem suspeitar da orfandade no instante em que abrem a colméia. O que acontece é que, à medida que aumenta o tempo de ausência da rainha, as operárias começam a apresentar um padrão anormal de agitação. Muitas saem voando imediatamente, não necessariamente para atacar, num comportamento visivelmente diferente dos enxames normais.

Em caso de colmeia zanganeira, as operárias não percebem (ou não fazem caso) se um alvéolo já tem outro ovo nele depositado. Por isso, os ovos vão se empilhando, e cada alvéolo acaba contendo vários deles, o que é facilmente percebido pelo apicultor. Os ovos são depositados nas paredes dos alvéolos, porque o abdômen das operárias não alcança o fundo. A operculação das células é protuberante, típica das de zangão. Depois de algum tempo, os zangões começam a nascer, mas são todos pequenos, porque foram gerados em alvéolos de operárias, que são muito menores.

MARCAÇÃO DA RAINHA "COR DO ANO"

A cor da tinta usada para pintar o tórax da rainha, serve para identificar o seu ano de nascimento (último dígito):• 1 e 6 - branca• 2 e 7 - amarela• 3 e 8 - vermelha• 4 e 9 - verde• 5 e 0 - azulUma rainha pintada é mais fácil de ser encontrada do que uma não pintada, através da cor pode-se manter um controle sobre a idade da rainha ou mesmo saber se é a mesma que você introduziu.

A tarefa de identificar a rainha no interior da colméia não é das mais fáceis. Por isso mesmo, muitos apicultores costumam marcar suas rainhas com tinta. Uma pequena gotinha de esmalte de unha é suficiente, embora existam tintas especiais para esta operação.

No caso de identificação com tinta, a rainha só deverá ser reintroduzida na colméia depois que a tinta estiver completamente seca. As abelhas são muito sensíveis a odores estranhos e, mesmo em se tratando da própria mãe da colméia, a rainha pode ser eliminada pelas operárias. Para maior segurança, os apicultores costumam devolver a rainha à colméia abrigada numa gaiola, da qual é libertada um dia depois.

TECNICAS PARA LOCALIZAR A RAINHA

Para localizar a rainha não marcada no interior da colméia, veja algumas dicas:

• A abelha rainha está sempre cercada por um verdadeiro "séqüito" de operárias, que são suas "damas de honra", assim, procure localiza-lá nos pontos de maior aglomeração de abelhas.

• Antes de iniciar a operação de localização, faça fumaça com parcimônia. O excesso de fumaça provoca transtornos no interior da colméia, levando a rainha a misturar - se as demais abelhas, o que dificulta sua localização.

• Concentre sua atenção nos quadros com postura recente, observando os dos dois lados. É pouco provável que a rainha esteja em quadros com mel ou com crias maduras (favos com crias operculadas).

• Não faça mais do que duas tentativas para localizar a abelha rainha. Não a encontrando, feche a colméia e aguarde algum tempo para repetir a operação

TÉCNICA 1 – QUADRO A QUADRO

Com sorte ou muita paciência. O método principal é remover cada quadro e verificar cuidadosamente as duas faces. Lembre-se que a rainha tentará esconder-se no ponto mais escuro, num canto, talvez por baixo das operárias. Olhe algumas vezes as duas faces, não desista logo. Se achar que ela não está mesmo ali, devolva o quadro à colméia (ou melhor, ponha-o num ninho vazio, previamente colocado ao lado) e passe para o próximo quadro. Esta verificação deverá persistir até o último quadro.

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TÉCNICA 2 – O FAVO ESTRANHO

Coloque um favo com larvas mas sem abelhas de uma colméia estranha, na colméia onde se pretende encontrar a rainha. É bom marcar este quadro para não se confundir depois. Meia hora depois, volte à colméia, tire o quadro marcado e examine-o com atenção. Muito provavelmente, a rainha estará passeando sobre o favo, a procura de outra rainha, em razão do cheiro da rival, já que as rainhas são muito ciumentas. Localizada a rainha, o favo poderá retornar à colméia de origem.

TÉCNICA 3 – PENEIRANDO AS ABELHAS

1º PassoQuanto menos caixas tiver a colmeia, melhor. Se ela tiver melgueiras empilhadas, o ideal é que elas sejam retiradas antes, até que sobre apenas um ou dois ninhos. O sistema é apresentado aqui para um só ninho mas serve também para outras configurações.

2º PassoRemover o fundo da colmeia e apoiá-la sobre um fundo cego (uma tampa extra, por exemplo). Isso impedirá a saída da rainha pelo alvado, o que é uma possibilidade durante o manejo.

3º PassoNo lugar da colmeia antiga, colocar um ninho vazio, com fundo normal.

4º PassoRemover cada um dos quadros, examinando-os cuidadosamente em busca da rainha. Se ela for achada, estará resolvido o problema; caso contrário, sacudir o favo sobre o ninho antigo e transferi-lo sem abelhas para o novo ninho.

5º PassoColocar o ninho antigo (sem quadros e cheio de abelhas) sobre o ninho novo, mantendo apenas a tela excluidora entre eles. Depois usar um pouco de fumaça para forçar as abelhas a descerem, sobre a tela, ficarão apenas a rainha e os zangões.

TÉCNICA 4 – FUMAÇA NO ALVADO

Às vezes dá resultado, mas deve ser feito na primeira vez que se abre a colmeia: aplique bastante fumaça no alvado, antes de abrir a colméia. Com isso, há uma boa chance de que a rainha afaste-se dele o máximo possível, e talvez você a encontre no lado de baixo da tampa, assim que abrir a colméia. Naturalmente, trata-se de um método condenável pelo próprio abuso de fumaça e ele não funcionará se houver uma tela excluidora. Também é especialmente danoso se houver melgueiras, pois o mel pode ser contaminado pelo excesso de fumaça e a rainha pode se esconder numa melgueira, ao invés de subir até a tampa.

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CONTROLE DE ENXAMEAÇÃO

A enxameação é um comportamento desencadeado como forma instintiva de perpetuar a espécie, isso é uma tarefa que está gravada na estrutura genética da abelha. Na enxameação a colônia desprende uma parte de suas abelhas que formarão uma nova colônia. Essa divisão natural, enfraquece o enxame e prejudica todo o processo de produção.Não existe método para controle da enxameação que seja totalmente garantido. Alguns bastante complicados, exigem verificação muito freqüente da colméia. Uma boa prevenção contra a enxameação é a troca anual de rainhas, esse é um procedimento que ajuda a evitá-la com uma maior garantia, além de contribuir para a boa produtividade do enxame.

A manutenção de espaço de sobra na colméia, tanto para a postura quanto para a armazenagem de mel, desde o início da safra, também é uma boa prática. As duas técnicas de controle de enxameação aqui apresentadas (divisão e Demarre), têm por objetivo esse triste fato.

MÉTODO DA DIVISÃO

A idéia básica é, a partir de uma colméia, formar duas ou três menores, procurando manter um equilíbrio entre as colméias resultantes, pela divisão aproximadamente justa das quantidades de cria, pólen e operárias. Os quadros são separados de acordo com o seu conteúdo e postos em outras caixas. As novas colméias são depois completadas com outros quadros, com lâmina de cera, favos vazios ou favos com cria, mel ou pólen de outras colméias. Os seus alvados devem ser diminuídos ao máximo.

Se uma das colméias for movida para um local próximo, ela deverá ficar com o mínimo de mel possível, dando preferência ao que estiver operculado. Isso vai diminuir a possibilidade de saque pelas ex-companheiras. Após alguns dias, essa colméia (e a outra também, se necessário) deve receber alimentação. Para dificultar a pilhagem, o xarope pode ser fornecido à noite e em pequenas quantidades. Alimentação protéica também é muito importante nessa fase.

Uma prática recomendável é capturar a rainha antes de se proceder à divisão, tanto para protegê-la quanto para reintroduzi-la na colméia certa. Quando o enxame é muito grande e a identificação da rainha é muito difícil, pode-se usar o seguinte método para dividir uma colméia em duas:

1. Se houver melgueiras, deve-se removê-las, cuidando para que a rainha não esteja nelas. Deixá-las fechadas por enquanto;2. Tirar metade dos quadros do ninho original e transportá-los, sem abelhas, para o novo ninho ainda vazio, observar a

possibilidade da existência de realeiras, estas poderão ser aproveitadas na colônia que ficará órfã, agilizando o processo de desenvolvimento;

3. Completar os dois ninhos com novos quadros de cera alveolada ou favos puxados;4. Pôr uma tela excluidora sobre o ninho original e o ninho novo sobre a tela excluidora;5. Fechar a colméia e aguardar algum tempo (30 minutos).6. Remover o ninho superior e formar com ele a nova colméia (está será a colméia sem rainha).7. Redistribuir as melgueiras somente se houver mel armazenado e mover a nova colméia ao seu local de destino, no mínimo

cinco metros. Cuidado neste ponto: o enxame movido pode tornar-se alvo de pilhagem severa, com as abelhas tentando levar o seu mel de volta ao local de origem.

Na nova colméia, não havendo realeiras, o apicultor pode introduzir uma rainha nova para obter um desenvolvimento imediato ou deixá-la com cria e provisões suficientes para que possa produzir a sua. Caso ele opte pela produção natural de rainha e se a separação das duas colméias resultantes for pequena, a colméia órfã provavelmente ficará melhor no local original, abastecida por todas as campeiras. A colméia com a rainha antiga perderá as campeiras, mas terá capacidade quase imediata de reposição.

A vantagem desse método é a simplicidade e rapidez com que é executado. É indicado para apicultores em fase de expansão, já que o método leva à criação de nova colônia e ainda como forma de controlar a enxameação. Apesar de causar menos danos para ao enxame é, ainda assim, um método que interfere fortemente na vida e no equilíbrio da colônia. Não deve ser feito no auge de uma florada, mas sim após a colheita, é sabido que um enxame forte produz muito mais que dois enxames fracos.

MÉTODO DEMAREE

Este é um método se destaca por sua simplicidade, versatilidade e eficiência. Porém é mais técnico e sofisticado. A vantagem é que pode ser aplicado diversas vezes em uma mesma colônia, pois sua principal característica é impedir a enxameação da colônia sem diminuir o número de abelhas da sua população. O método é aplicado da seguinte maneira:

1- Se houver melgueiras, deve-se removê-las, cuidando para que a rainha não esteja nelas. Deixá-las fechadas por enquanto;2- Deslocar a colméia original com a colônia que apresenta tendências a enxamear para, em seu lugar, sobre fundo próprio,

colocar nova câmara de crias com quadros de cera alveolada apenas.3- Retirar da colméia original um favo com crias abertas, mantendo as abelhas aderentes e colocar no novo ninho,

substituindo um dos quadros com cera alveolada bem no centro.4- É importante que se localize a rainha, se não conseguir, poderá sacudir quadro-a-quadro, todas as abelhas da colônia para

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dentro do novo ninho. Com certeza assim a rainha também será transferida.5- Colocar em cima deste ninho uma tela excluidora.6- Colocar o quadro com cera alveolada na câmara de crias da colméia original, ocupando o lugar do quadro de cria que foi

removido, colocar a colméia original com os favos, crias e estoque de alimento em cima da tela excluidora.7- Recolocar a melgueira sobre os dois ninhos, se existir reserva de alimento.8- Fornecer alimentação artificial para estimular a construção dos favos novos na câmara de crias inferior.9- Após 7 dias completos, fazer uma revisão eliminando todas as realeiras que existirem na câmara superior, acima da tela

excluidora.

Estas realeiras são formadas porque as abelhas nutrizes, produtoras de geléia real, ao receberem baixa quantidade de feromônios da rainha, por estarem distantes, reagem no sentido de substituir a rainha. Se o apicultor não destruir as realeiras, as abelhas eliminarão a rainha original, preferindo a juventude da nova rainha. Se isto ocorrer, a nova rainha que nascerá no ninho superior, impedida pela tela excluidora, não poderá descer para a parte inferior da colméia e sair para ser fecundada. Assim, se eventualmente entrar em postura, produzirá apenas zangões.

Finalizada a operação, todas as crias do velho ninho nascerão e se desenvolverão naturalmente. Porém, como a partir do nono dia não existem crias para serem alimentadas na câmara superior, as abelhas que atingem a idade de produzir geléia real só terão ocupação no ninho em formação abaixo da tela excluidora. Assim, novamente, a câmara inferior será o abrigo do ninho das crias.

Completados 21 dias, todas as abelhas do ninho superior já terão nascido, o criador pode remover este ninho aproveitando os favos bons em outras colmeias ou simplesmente processando a cera. Pode também se for do seu interesse, retirar a tela excluidora e aumentar o espaço de postura, permitindo assim um melhor desenvolvimento do enxame.

Com o método Demaree engana-se as abelhas, fazendo com que elas realizem diversas atividades instintivas típicas do período de enxameação:a) mudança para a nova casa;b) construção de novos favos;c) geração de novas rainhas;d) estímulo à rainha para continuar a postura.

Como resultado, obtém-se o dobro do espaço do ninho das crias, com uma metade da área acima da tela excluidora e a outra metade abaixo. A vantagem é que o método pode ser aplicado em uma única colônia e pode ser repetido várias vezes, por tempo indeterminado. E um método dinâmico e flexível, podendo ser adaptado para dirigir a colônia para a produção de favos novos, favos exclusivamente com crias operculadas, favos com mel de xarope para alimentação de colônias fracas.

A desvantagem é ser trabalhoso, exigindo diversas visitas e manipulações, além de equipamentos acessórios como a tela excluidora. A revisão do sétimo dia é obrigatória, repetindo-se a cada 21 dias.

CONTROLE DA PILHAGEM

A pilhagem ou saque consiste no roubo de mel das colmeias por operárias de colônias vizinhas. O enxame que está sendo saqueado é facilmente identificado pela aglomeração e briga no alvado, grande quantidade de abelhas procurando entrar na colmeia pela tampa ou outras frestas e operárias mortas no chão.

Em geral, enxames fracos são atacados por enxames fortes. A pilhagem é um acontecimento indesejável porque aumenta a mortandade no apiário, podendo causar até abandono dos enxames que estão sendo atacados. Para evitar o saque, devem-se tomar os seguintes cuidados:

• Evitar famílias fracas no apiário e, enquanto os enxames estiverem sendo fortalecidos, usar tela antipilhagem ou redutor de alvado e não deixar grande quantidade de mel nas colmeias.

• Por ocasião do manejo ou revisão, procurar ser rápido, cuidadoso e não derramar mel ou alimento próximo às colmeias. • Alimentar as caixas somente ao entardecer, dando preferência a alimentadores internos. • Diminuir o número de colmeias no apiário. • Deixar as colmeias a uma distância de pelo menos 3 metros uma da outra. • Identificar as colmeias saqueadoras e trocar a rainha. • Utilizar cavaletes individuais.

APIÁRIO "SANFONA"

Durante o período de safra, um apiário menor mas com enxames maiores e mais produtivo é mais vantajoso sob os aspectos de rendimento e mão-de-obra empregada. Isso se consegue com a união dos enxames fracos.

Procedimento:

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• No início da safra (florada grande e duradoura), unir os enxames segundo o critério de tamanho: 2 médios, 3 ou 4 fracos, tentando equilibrar a força dos enxames resultantes e preservar as rainhas melhores e/ou mais jovens.

• Também no início da safra, preparar e distribuir as caixas-isca para as capturas.

• À medida que as capturas forem ocorrendo, as novas colméias podem ser colocadas ao lado das produtivas, em suporte ou cavalete duplo. Isso facilitará bastante uma eventual união no futuro.

• No final da safra, após a última colheita, é hora de fazer as divisões (apenas as possíveis e necessárias), substituir as rainhas do restante das colméias novas e providenciar alimentação para todas as colméias que precisarem. (Note que apenas as colméias novas recebem rainhas novas). Muito cuidado com o manejo neste momento: é o período crítico para pilhagem das abelhas.

• Durante a entressafra, as colméias devem ser mantidas bem alimentadas. Dois meses antes da nova safra, as colméias (pelo menos as menores) devem receber alimentação estimulante, energética e protéica.

• No início da próxima safra, recomeça o ciclo, unido novamente todos os enxames fracos.

Para que o apicultor consiga repor os enxames que foram subtraídos do apiário pelas uniões. Para isso, há duas alternativas.

1) A divisão dos enxames ao final da safra. Todas as colméias fortes podem ser divididas, de forma a manter a lotação original do apiário. Nesse momento, podem ser adquiridas boas rainhas para os novos enxames. No entanto, é preciso ficar atento para o fato que no final da safra, freqüentemente é difícil encontrar rainhas à venda. É importante também atentar para o fato de que divisões de enxames que não sejam muito grandes podem resultar em frustração, isso ocorrerá se os enxames resultantes forem muito pequenos, podendo até abandonar a colméia ou demorarem demais a se recuperar, mesmo sendo alimentados abundantemente.

Obs.: A divisão depois a união, isso parece meio incoerente, no entanto, pense da seguinte forma, dois enxames com rainhas em franca postura, conseguirão um número de operárias bem maior num mesmo espaço de tempo. A união dos dois, preserva a rainha mais jovem e vigorosa e a força de trabalhos de todas as abelhas.

2) Compensar as perdas das uniões com capturas de enxames, instalados na natureza ou com caixas-isca. Isso é preferível porque, ao mesmo tempo em que preserva a força de todos os seus enxames, ainda remove enxames da natureza que posteriormente fariam concorrência aos seus. Além disso, é comum conseguir-se capturas durante a safra, num período de maior disponibilidade para aquisição de rainhas. Outra razão é que enxames capturados em caixas-isca se desenvolvem muito rapidamente durante uma boa florada.

Na prática, podem-se combinar as duas formas acima, quando as capturas não ocorrerem em quantidade suficiente. Trabalhando dessa forma, teremos um apiário do tipo "sanfona", com mais colméias na entressafra e menos colméias na safra.

SELEÇÃO E MELHORAMENTO

O melhoramento genético precisa ser feito sempre buscando características desejáveis ao aumento da produção, facilidade no manejo e resistência a doenças. Interessante que muitas pessoas fazem uso do melhoramento genético animal e vegetal em fazendas, roças, chácaras, fundos de quintal, sem nem terem consciência de que, aquilo que eles estão fazendo, nada mais é que uma seleção "massal". Um exemplo de um simples melhoramento genético doméstico é o Sr. José, "criador de galinhas", ao longo do ano, seleciona suas galinhas mais produtoras de ovos e preserva-as como verdadeiras "matrizes" e aquelas que põem poucos ovos, eles matam para comer. Os galos mais vistosos, imponentes e parceiros das galinhas "matrizes" também são selecionados, preservados e criados com todo esmero. Desta forma, o pequeno produtor aumenta a produção de ovos ano a ano e sempre tem em seu quintal galinhas boas produtoras e saudáveis.

Há duas tendências que podem ser seguidas: 1) Na apicultura brasileira, este melhoramento pode ser feito com a introdução de rainhas de raça pura selecionadas, vindas

de fora do território nacional, tendo em vista que a população de abelhas melíficas no Brasil hoje é em grande parte híbrida, mestiça, africanizada. Algumas pessoas não recomendam a seleção por parte do apicultor dos seus melhores enxames para matrizes reprodutivas, por acreditar que não pode haver melhoramento genético a partir de híbridos, que o híbrido é incapaz de transmitir as suas características para os seus descendentes. Sendo assim, somente a introdução de dessas rainhas podem trazem um melhoramento genético.

2) Utilizar as colônias que apresentarem boas características como matrizes para produção de rainhas. Num programa de seleção massal devemos contar com um bom número de colmeias matrizes para evitar os problemas de consangüinidade, através de acasalamentos livres naturais, sendo importante que as colônias selecionadas também produzam zangões para que haja a possibilidade de acasalamentos de rainhas e zangões portadores dos melhores genes. A variabilidade do

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comportamento será proporcional às características dos enxames selecionados (mansidão, produção, higiene etc.). Uma rainha fecundada naturalmente se acasala com 10 a 20 zangões e, dependendo do tipo de acasalamento, haverá mais ou menos abelhas com a carga genética preestabelecida. Daí a necessidade de se fazer seleção utilizando-se rainhas e zangões das melhores colônias.

Obs.: O Zangão é um indivíduo haplóide, isto é, provém de um ovo não fecundado e em conseqüência disto, descende somente da rainha. Sendo assim possui sua carga genética 100% pura, independente da raça. No caso 2, para o melhoramento genético é fundamental a presença do zangão com as características desejadas.

2ª PARTE

A Segunda parte desta apostila é apresentada com perguntas e respostas sobre quatro temas: o mel e a colheita, outros produtos apícolas, Flora Apícola e Inimigos das abelhas. Tal qual se apresenta no endereço http://www.apicultura.com.br/apifaq, publicado pelo professor em apicultura João Campos, com o objetivo de abordar de forma simples alguns dos principais questionamentos sobre esses temas.

O MEL E A COLHEITA

Segundo o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), do Ministério da Agricultura, mel é "o produto alimentício produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre partes vivas de plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colméia".

Em outras palavras, é uma substância produzida pelas abelhas a partir de secreções de plantas (o néctar) ou de determinados insetos (o pseudonéctar) e da adição de algumas substâncias por elas mesmas produzidas (enzimas, por exemplo), desidratada e armazenada nos favos da colméia.

O QUE É O NÉCTAR?

Néctar é uma solução de açúcares (principalmente sacarose, glicose e frutose) em água em proporção que varia de 3 a 87%, embora grande parte dos néctares esteja na faixa de 30-40%. Ele contém ainda diversas outras substâncias complexas, em pequenas quantidades, que determinam o seu aroma, sabor e características nutritivas (e tóxicas, em alguns casos). O néctar é produzido no nectário, um órgão presente em muitas plantas, freqüentemente (mas não sempre) nas suas flores.

O NÉCTAR PODE SER PRODUZIDO FORA DAS FLORES?

Sim, nos chamados nectários extraflorais. Enquanto os nectários florais ajudam na reprodução das plantas, atraindo insetos e outros animais que acabam acidentalmente polinizando as flores, acredita-se que os nectários extraflorais ajudem a proteger as plantas. Por exemplo, uma planta rasteira, quando carregada de formigas coletoras de néctar, tem menor probabilidade de ser consumida por algum animal herbívoro que passe por perto.

O QUE É MELATO?

Melato, também chamado de pseudonéctar, é uma substância doce produzido por alguns insetos que vivem em plantas, como cochonilhas e pulgões. Esses insetos sugam a seiva elaborada das plantas em busca de açúcar e quanto o tem em abundância, excretam o excesso. No Brasil, a norma vigente considera melato também o néctar extrafloral, embora os textos clássicos tendam a diferenciar uma coisa de outra.

O mel de melato é normalmente mais escuro e menos ácido do que o mel de néctar, e possui menos frutose e glicose e mais maltose e outros açúcares complexos. Em alguns lugares, especialmente na Europa, o mel de melato é muito valorizado; em outros, porém, ele é considerado de segunda linha.

QUANDO O MEL ESTÁ PRONTO PARA SER COLHIDO?

Assim que o favo for operculado, o mel estará "maduro" para ser colhido. Antes disso, ele é chamado de mel "verde", significando que a sua umidade ainda está muito alta. Como a operação de colheita é trabalhosa, os apicultores muitas vezes preferem esperar o final da safra para fazê-la de uma única vez, mas nada impede que o mel seja colhido aos poucos.

Aliás, a permanência do mel na colméia por longo tempo pode levar à sua reidratação, pois o mel é um produto altamente higroscópico, isto é, ele tende a absorver água rapidamente quando exposto a um ambiente úmido. Esse fenômeno pode acontecer mesmo com mel totalmente operculado, pois a cera é permeável à umidade.

QUAL É O PERCENTUAL DE UMIDADE SEGURO PARA O MEL?

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Um percentual de 17% é tido como muito seguro. Até 19%, o mel é razoavelmente seguro, a partir daí o risco de fermentação começa a ser significativo. O Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel, do MAPA/SDA/DIPOA, admite umidade máxima de 20%. As diretrizes do IBD (Instituto Biodinâmico) para mel orgânico admitem, no máximo, 18% de umidade.

EM QUE CONDIÇÕES O MEL PODE SER COLHIDO?

Normalmente, são colhidas as melgueiras que possuem todos ou quase todos os favos totalmente operculados. Favos desoperculados contém “mel verde”, isto é, mel que ainda não atingiu o nível de umidade ideal (ao redor de 18%). Como um nível alto de umidade está associado a um grande risco de fermentação, a colheita de favos desoperculados deve ser evitada, pelo menos em quantidade significativa. Uma boa idéia é preparar as melgueiras e redistribuir os quadros na revisão anterior à colheita, de forma a já deixar as melgueiras prontas no topo das colméias. Dessas melgueiras, procura-se remover o máximo possível de abelhas, para elas chegarem vazias ao local de processamento. As melgueiras são então empilhadas, fixadas e transportadas.

COM QUE FREQÜÊNCIA O MEL DEVE SER COLHIDO?

O mais comum é fazer-se uma colheita de melgueiras cheias, tão logo elas estejam em número significativo no apiário. Se a florada continuar, outras colheitas podem ser necessárias. No entanto, há uma corrente que prega que, quanto mais freqüente for a retirada do mel, mais mel será produzido. Nesse caso, o ideal seria colher com freqüência apenas os favos totalmente operculados, devolvendo-os vazios logo em seguida. A lógica por trás dessa idéia é que, percebendo a falta de mel, mais abelhas se dediquem à coleta de néctar, tornando a colméia mais produtiva neste aspecto. Não há dúvida que aumenta muito o trabalho, pois a colheita e a extração envolvem uma porção de procedimentos de preparação e conclusão, que teriam de ser repetidos muitas vezes nessa técnica.

Além disso, um número excessivo de colheitas pode prejudicar o desempenho da colméia, pelo excesso de estresse induzido. Um estudo canadense, investigou o impacto de três variáveis na qualidade e na quantidade do mel produzido: a idade da rainha, o número de melgueiras colocadas e a freqüência de retirada do mel. No que diz respeito à freqüência de colheita, o estudo, que foi realizado em 36 colméias, obteve a produção de 142 kg com duas colheitas, 116 kg com quatro colheitas e 106 kg com uma colheita. Por este resultado, pode-se presumir que duas colheitas por safra é o número ideal.

QUANTAS MELGUEIRAS DEVEM SER COLOCADAS NO INÍCIO DA SAFRA?

Também aqui há alguma polêmica. Grande parte dos apicultores recomenda a colocação progressiva das melgueiras, adicionando a seguinte apenas depois de alguns quadros da atual já estarem cheios. Um dos motivos seria evitar um desequilíbrio térmico da colméia com o aumento súbito e elevado de espaço vazio.

Outros apicultores defendem que as melgueiras, em número suficiente para acumular uns 30-50 kg de mel, devem ser colocadas todas de uma só vez, mas com um detalhe importante: todos os quadros devem ter favos puxados, e não cera alveolada. Isso evitaria em parte o desequilíbrio térmico e facilitaria a imediata deposição de néctar, ao mesmo tempo em que estimularia as abelhas a trabalhar mais, pela percepção de tantos favos vazios. No caso de melgueiras com cera alveolada, o empilhamento de mais de uma não traz nenhum benefício.

Na pesquisa mencionada no item anterior, o número de melgueiras adicionadas no início da safra não teve influência significativa na produção. No entanto, o experimento usou muitas melgueiras empilhadas por colméia, da ordem de cinco a quinze, e é possível que o número de melgueiras empilhadas não faça diferença somente a partir de determinado patamar. Por outro lado, o mesmo estudo concluiu que um número maior de melgueiras estava associado a uma umidade menor do mel colhido, um resultado de grande interesse para o apicultor.

Assim, a opção pela colocação de um grande número de melgueiras, com favos puxados, no início da safra, tem a minha total simpatia. E ela é bem ilustrada pela recomendação "empilhe as melgueiras no início da safra e vá pescar", atribuída ao pesquisador Tibor Szabo, do Canadá. Um outro estudo conduzido por ele chegou à conclusão que manejos freqüentes na colméia durante a safra podem acarretar a perda (não-acúmulo, na verdade) de até 3,8 kg de mel, devido às perturbações causadas. Como esse estudo foi efetuado com européias, pode-se imaginar que talvez o impacto nas africanizadas seja ainda maior, dado o tempo de recuperação muito maior destas.

ONDE DEVE SER COLOCADA UMA NOVA MELGUEIRA?

Aqui também há discussão. Parte dos apicultores acredita que uma nova melgueira deve ser colocada logo acima do ninho (e abaixo das já existentes), para diminuir o trânsito desde o recebimento do néctar até a sua armazenagem. Já outros entendem que o resultado dessa técnica não compensa o trabalho de remoção das melgueiras existentes para a colocação da nova. E, além disso, uma melgueira vazia logo acima do ninho em plena safra, pode estimular a rainha a pôr ovos ali, caso não haja tela excluidora.

COMO COLOCAR MELGUEIRAS COM 8 OU 9 QUADROS?

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A idéia de se usar melgueiras com 8 ou 9 quadros ao invés de 10 permite um melhor aproveitamento do espaço da caixa, economia de quadros e a produção de favos mais profundos, o que facilita muito a desoperculação, embora eles sejam mais frágeis e sujeitos a quebras e esmagamentos durante o transporte. Para usar essa técnica, o melhor é começar com a produção de 10 favos normais, a partir de lâminas de cera alveolada. Se forem usados menos quadros com lâminas, eles não podem ser espaçados além do normal, ou as abelhas construirão favos intermediários, entre as lâminas. Alguns apicultores iniciam com nove quadros agrupados e vão separando-os à medida que os favos vão sendo puxados, mas isso não funciona direito, porque as abelhas podem finalizar os favos centrais antes mesmo de começar a puxar os da extremidade.

Depois da primeira centrifugação, os quadros já podem ser devolvidos em número menor nas melgueiras. As abelhas então apenas depositarão mel e estenderão os alvéolos até atingir o espaço normal entre dois favos de mel (6 a 9 mm).

COMO AS ABELHAS SÃO RETIRADAS DAS MELGUEIRAS?

A maneira mais simples é pela varredura dos quadros. Cada um deles é sacudido e depois varrido, de forma que as abelhas aderentes caiam dentro ou próximo da colméia. Depois o favo é levado para uma caixa auxiliar, que fica a maior parte do tempo fechada na parte superior e inferior. Esse método é demorado, trabalhoso e muito estressante para as abelhas.

Uma forma bastante usada lá fora para remover as abelhas é por meio de um soprador, que é muito mais rápido e eficiente que a vassourinha. Nunca vi nenhum específico a venda por aqui, mas já soube de alguns apicultores que usaram algumas improvisações: a saída de um aspirador de pó, um soprador de folhas ou um compressor de ar.

A técnica que eu prefiro é a que emprega a tábua de escape. Essa tábua deve ser introduzida logo abaixo das melgueiras a serem colhidas, com 48 horas de antecedência. Por essa tábua, as abelhas saem da melgueira e dificilmente conseguem voltar, o que transforma a colheita num verdadeiro passeio. Essa técnica tem a desvantagem de exigir duas viagens ao apiário, e dificilmente pode ser empregada por quem possui muitas colméias. Mas é, sem dúvida a mais confortável para abelhas e apicultores. Um detalhe importante é que a tábua de escape não pode ficar muitos dias na colméia, ou as abelhas acabarão conseguindo achar o caminho de volta à melgueira. A tábua de escape também é menos eficaz quando há mel desoperculado nas melgueiras e, muito especialmente, cria aberta ou fechada.

COMO AS MELGUEIRAS DEVEM SER TRANSPORTADAS?

Essa é uma preocupação importante, tanto em relação à segurança das pessoas, quanto à integridade dos favos. Melgueiras cheias são muito pesadas e deslizam facilmente umas sobre as outras. Para evitar esse problema, você pode utilizar dois pedaços de cantoneiras metálicas (alumínio é melhor) em cantos opostos da pilha, e amarrá-las em pelo menos dois pontos. As pilhas amarradas devem resistir aos solavancos, curvas e freadas.

Lembre-se que um acidente com melgueiras não significa apenas mel perdido. A chegada de uma nuvem de abelhas em poucos minutos pode transformar qualquer lugar num ambiente assustador. Por isso, as melgueiras devem ser transportadas, sempre que possível, diretamente do apiário a um lugar inacessível às abelhas. Caso aconteça um acidente, procure lavar rapidamente o mel e remova o que for possível para um lugar fechado. Mesmo melgueiras em bom estado não devem ser deixadas ao ar livre por muito tempo.

Quando o caminho for muito ruim, é preciso considerar também a possibilidade de quebra dos favos, especialmente quando eles são usados em quantidade inferior à máxima (8 ou 9 na Langstroth). Para diminuir o risco de quebra, alinhe as melgueiras, de forma que a sua lateral maior fique no mesmo sentido que o veículo. Isso evitará o movimento de pêndulo dos quadros nas freadas e arrancadas.

COMO É FEITA A DESOPERCULAÇÃO DOS FAVOS?

O método manual é com faca e garfo. A faca deve ser do tipo "serrote de pão", com um serrilhado bem largo e afiado. O quadro é mantido quase na vertical, apoiado numa lateral pequena, e a faca é passada logo abaixo da cobertura, de forma a remover as tampas sem prejudicar demais os alvéolos, para que o favo possa ser reaproveitado. Essa operação pode ser feita numa mesa desoperculadora ou mesmo sobre um recipiente largo, como uma bandeja, que recolha a cera retirada e o mel que escorre. Quando a temperatura ambiente está alta demais, porém, a cera dos favos pode amolecer, e a faca não a cortará direito. Alguns apicultores usam uma faca especial de desoperculação que é aquecida eletricamente, o que ajuda a cortar a cera.

Como a faca normalmente não é suficiente para fazer um trabalho completo (a não ser com favos gordos e perfeitos), o passo seguinte é o acabamento. Para isso, o quadro deve deitado (com as faces na horizontal), apoiado na mesa desoperculadora ou num recipiente que recolha o mel que escorre. Utiliza-se então o garfo desoperculador nas duas faces, introduzido-o por baixo da cobertura e levantado com cuidado para não ferir muito os alvéolos.

Há algumas outras ferramentas de desoperculação, como um rolete cheio de pontas, mas não são muito populares. Há também desoperculadores motorizados, com escovas ou lâminas que removem os opérculos, mas eles normalmente se destinam a grandes produtores ou entrepostos.

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O QUE É UMA MESA DESOPERCULADORA?

Basicamente, é um tanque com um apoio para os quadros, um fundo inclinado para facilitar o escorrimento do mel e uma saída, por onde o mel passa para ser filtrado. Há modelos com telas que aparam a cera removida e já fazem uma pré-filtragem do mel.

COMO É FEITA A CENTRIFUGAÇÃO DOS QUADROS?

Os quadros são colocados numa centrífuga, na posição vertical. Eles ficam apoiados no "cesto" da centrífuga, que gira junto com o eixo. Inicialmente, a velocidade da centrífuga deve ser pequena, pois os favos estão pesados de mel e podem romper-se com facilidade. No decorrer da centrifugação, o mel vai sendo extraído, os favos vão ficando mais leves e a velocidade pode ser aumentada gradualmente, até que os respingos de mel na parede interna da centrífuga cessem. Numa centrífuga radial, o processo é exatamente assim, mas numa centrífuga facial ele envolve pelo menos uma fase a mais, a reversão dos quadros.

O QUE SÃO CENTRÍFUGAS RADIAL E FACIAL?

Os nomes se referem à posição em que os quadros são colocados no cesto. Na centrífuga radial, eles ficam alinhados com o raio, ou seja, quando vistos de cima, os quadros lembram fatias de um bolo redondo. Na facial, os favos ficam com uma face voltada para a parede da centrífuga e a outra para o eixo. Na posição facial, a centrifugação só consegue remover o mel da face que está voltada para a parede, e por isso o quadro deve ser virado, pelo menos uma vez, para que o resto do mel seja extraído.

Na centrífuga radial, a reversão não precisa ser feita. Embora nela haja também uma face privilegiada de cada favo, a inclinação natural dos alvéolos garante que ambas as faces serão igualmente esgotadas. A centrífuga facial requer um cuidado maior na operação, pois os favos sofrem uma força perpendicular sobre sua face, que é muito frágil.

COMO CENTRIFUGAR FAVOS QUEBRADOS?

Os favos quebrados devem ser desoperculados do jeito que for possível e depois amarrados ao quadro. Essa amarração pode ser feita com fio de nylon ou de arame fino. O fio deve ser amarrado a uma extremidade do quadro e depois enrolado sobre ele em ida e volta, formando assim uma espécie de rede de proteção ao favo. Com uma boa amarração, o favo geralmente poderá ser centrifugado sem problemas. Em caso de dúvida, deixe-o para o final e faça uma centrifugação só dos quebrados, mais lenta e cuidadosa.

COMO EXTRAIR O MEL SEM A CENTRÍFUGA?

Sem uma centrífuga, o processamento do mel complica-se bastante. Nesse caso, normalmente há três alternativas para o favo: deixar o mel escorrer, espremê-lo ou guardá-lo inteiro (ou em pedaços).

1. Deixar o mel escorrer é o procedimento ideal, porque permite o reaproveitamento posterior do favo. No entanto, só pode ser feito em recipientes grandes (os favos devem ser desoperculados e deixados com uma face voltada para baixo, e depois a outra). Também é um procedimento demorado, e o mel pode acabar absorvendo umidade do meio por higroscópia. Aumentar a temperatura do ambiente e desumidificá-lo (com um aquecedor de banheiro, por exemplo) vai acelerar o processo e diminuir o risco. Mesmo assim, só é uma fórmula viável para uma colheita muito pequena.

2. Espremer o favo é uma maneira perfeita de inutilizá-lo para as abelhas e obter um mel cheio de impurezas. No entanto, se for a única solução possível, tente fazê-lo da forma mais higiênica possível.

3. A terceira alternativa, favos inteiros, pode ser preferível ao seu esmagamento. Infelizmente, ela só é possível se o quadro não tiver sido aramado. Assim, se você não possui centrífuga, não conhece ninguém que possua e não está pensando em adquirir uma, é bom prever esse problema antes de preparar e colocar as melgueiras. Nesse caso, a melhor opção é adquirir formas especiais e adaptá-las nos quadros das melgueiras. Outra saída, é usar quadros inteiros sem arame.

O QUE FAZER COM AS MELGUEIRAS APÓS A EXTRAÇÃO?

Elas devem ser devolvidas às abelhas, que limparão todos os resíduos de mel e deixarão os favos prontos para serem usados novamente ou guardados até a próxima safra. Há duas formas de devolver as melgueiras: empilhando-as em zig-zag a uns 100 metros do apiário, ou devolvendo-as às colméias. A primeira forma resulta em muitas brigas, mortes e, talvez, pilhagem. Também pode facilitar a transmissão de doenças entre as colméias. Além disso, não apenas abelhas, mas diversos outros insetos aparecem para comer o mel ou depositar ovos nos favos. A segunda forma é mais trabalhosa e exige mais cuidado, mas dá um resultado muito melhor. Para isso, a devolução deve ser feita em horário calmo das abelhas (final da tarde, noite ou amanhecer), com as caixas bem limpas por fora, para não estimular os saques.

Uma alternativa interessante é devolver todas as melgueiras a umas poucas colméias, de forma a minimizar a perturbação no apiário. Esse procedimento é especialmente recomendável para a última colheita da safra.

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O QUE É FEITO DO MEL APÓS A CENTRIFUGAÇÃO?

Primeiro, o mel deve ser passado por uma peneira fina. A seguir, o ideal é deixá-lo decantando por alguns dias e só depois embalá-lo. Naturalmente, a segunda etapa só é possível com decantador.

O QUE É UM DECANTADOR?

É um tanque com tampa e torneira. O mel é deixado nele por alguns dias (uma semana, por exemplo), para que as impurezas que sobraram da filtragem se depositem no fundo ou subam à superfície (junto com as bolhas de ar). Depois desse período, o mel é passado para as embalagens através da torneira, que deve ser de corte rápido. Como essa torneira se localiza um pouco acima do fundo, o mel que passa por ela é o mais puro possível, exceto bem no final, é claro.

É POSSÍVEL PRODUZIR MEL EM FAVO?

É claro que sim. Podem-se usar fôrmas especialmente feitas para serem encaixadas nos quadros de melgueira - geralmente três por quadro. No centro dessas formas é colocado um pedaço de cera alveolada, que será puxado, enchido e operculado normalmente pelas abelhas. Após a colheita, basta desencaixar as fôrmas e embalá-las. É um processo muito mais simples e limpo que a centrifugação, mas possui um público alvo bastante restrito. No preço final do produto deve ser considerada também a cera que foi produzida e estará sendo vendida junto.

Alguns apicultores, na falta de fôrmas, usam quadros comuns, sem arames. Após a colheita, retiram o favo do quadro, cortando-o pelas beiradas, dividem o favo em três ou mais pedaços, deixam-nos escorrer por algum tempo e depois embalam-nos. Não fica com uma apresentação tão boa quanto os favos enformados.

COMO O MEL DEVE SER ARMAZENADO?

Em recipientes próprios para produtos alimentícios, hermeticamente fechados. Em relação à temperatura de armazenagem, o ideal é que ela esteja abaixo de 11 ºC, pois nessa faixa a probabilidade de fermentação é baixa e a formação de HMF é muito lenta, assim como a destruição das enzimas presentes no mel.

A faixa ideal de temperatura para a cristalização do mel é de 10 a 18 ºC, especialmente, 14 ºC.A faixa ideal de temperatura para a fermentação do mel é de 11 a 21 ºC.A partir de 21 ºC a produção de HMF se acelera, junto com o escurecimento do mel. Cada 10 ºC a mais de temperatura aumentam a velocidade de produção de HMF em cerca de 4,5 vezes. Por exemplo, um aumento que leva 100 dias para ocorrer a 30 ºC, leva apenas 20 dias a 40 ºC, 4 dias a 50 ºC e 1 dia a 60 ºC.

O HMF É PREJUDICIAL À SAÚDE HUMANA?

Não na proporção encontrada no mel. A sua presença, acima de determinado nível, é apenas um indicativo de má qualidade do mel, por adulteração, superaquecimento ou longa estocagem.

AS ENZIMAS SÃO BENÉFICAS À SAÚDE HUMANA?

Não há evidências disso, embora muitos apicultores refiram-se a elas como grandes vantagens do mel. As enzimas são responsáveis pela transformação de substâncias doces colhidas na natureza em mel, e a sua ausência também é um indicativo de má qualidade do produto.

COMO O MEL É ADULTERADO?

Ele pode ser misturado a outras substâncias doces, como açúcar invertido, por exemplo. Um outro tipo de adulteração é feito com o fornecimento de xarope às abelhas e colheita do que as abelhas estocam, como se fosse mel. Em alguns casos, isso é vendido como "mel expresso", o que, na minha opinião já embute uma tentativa de engodo (pois não é mel), embora seja sutilmente diferenciada da denominação simples de "mel".

HÁ UM MODO SIMPLES DE DESCOBRIR SE O MEL É ADULTERADO?

Não. Quando a adulteração é grosseira, qualquer pessoa com razoável experiência de consumo de mel pode suspeitar da sua qualidade, mas não acredite em testes populares, como o do palito de fósforo.

A melhor forma de não adquirir mel adulterado é encontrar um fornecedor confiável. Para o apicultor, é importante não apenas produzir da maneira correta, mas informar muito bem seus consumidores, de forma a conquistar a sua confiança e aumentar a sua capacidade de discernimento.

É POSSÍVEL IDENTIFICAR A ORIGEM FLORAL DE UM MEL?

No caso de méis monoflorais, há alguns parâmetros pré-definidos, que variam conforme a espécie de origem. Várias análises

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são necessárias, em conjunto, para a comprovação da condição de monofloral de um mel. Por exemplo, análise de cor, análise de contagem e identificação dos grãos de pólen presentes (análise polínica ou melissopalinológica), análise da condutividade (cujo resultado depende da quantidade de minerais presentes no mel), análise do espectro de açúcares (a proporção de glicose, frutose, maltose, etc.).

No caso de méis multiflorais, no entanto, a identificação precisa das fontes é muito difícil. Uma determinada cor pode resultar de inúmeras misturas diferentes de néctar, assim como a condutividade e o espectro de açúcares. Já a análise polínica é, por natureza, pouco confiável. Muitas plantas que produzem néctar em abundância não têm o seu pólen coletado pelas abelhas (nem acidentalmente), enquanto outras possibilitam uma contaminação pesada do néctar. Além disso, outras contaminações polínicas podem ocorrer dentro da própria colméia, pela manipulação do néctar e do pólen pelas abelhas, ou mesmo fora dela, provocadas pelo apicultor durante a colheita e extração do mel.

POR QUE O MEL CRISTALIZA?

O mel é uma solução supersaturada de açúcar, o que significa que há mais açúcar dissolvido na água que normalmente seria possível manter-se. Isso faz da solução uma mistura instável, e ela, ocasionalmente, pode retornar à estabilidade através da cristalização. Isto ocorre com a perda de água por parte da glicose, que se transforma em monoidrato de glicose e toma a forma de cristal. Entretanto, nem todo mel cristaliza. Como o açúcar responsável pela cristalização é a glicose, a relação entre a sua quantidade e a de água no mel é que determina se o mel cristalizará ou não. Por exemplo, uma relação glicose/água de 1,58 (por exemplo, um mel com 17% de umidade e 27% de glicose) não cristalizará, enquanto outro, com relação de 1,98, provavelmente cristalizará até a metade do recipiente. Uma relação de 2,16 deve provocar uma cristalização total e mole, enquanto outra, de 2,24, deve provocar uma cristalização total e dura.

COMO OCORRE A CRISTALIZAÇÃO?

A cristalização, além da relação glicose/água, depende da presença de "núcleos" para iniciar-se. Os núcleos podem ser impurezas microscópicas, grãos de pólen, partículas de cera, bolhas de ar ou cristais incipientes. O processo, após se desencadear, prossegue até que o ponto de equilíbrio da solução seja atingido ou até que o mel seja exposto a uma temperatura imprópria à cristalização.

Quando a proporção de glicose no mel é baixa, os cristais depositam-se no fundo do recipiente, formando um agrupamento mais sólido e grosseiro. Na superfície, forma-se uma mistura mais rica em frutose e água, que é muito mais propensa à fermentação que a forma líquida original. Por essa razão, uma cristalização grosseira e parcial do mel está freqüentemente associada a um início de fermentação. Já quando a proporção de glicose é alta, a cristalização forma uma espécie de rede, imobilizando os outros componentes do mel e levando a mistura a um estado semi-sólido, com uma consistência mais homogênea. Nesse caso, como não há separação de uma parte mais líquida, o risco de fermentação não cresce.

A velocidade de cristalização depende da quantidade de núcleos existentes, e por isso, um mel que tenha sido perfeitamente filtrado e previamente aquecido (para que até os menores cristais sejam desfeitos) demorará muito mais a cristalizar. Além disso, a velocidade depende também da temperatura de armazenagem do mel. Temperaturas abaixo de 10 ºC e acima de 21 ºC inibem ou retardam bastante a cristalização. A temperatura de 14 ºC é a ideal para a cristalização.

COMO DESCRISTALIZAR O MEL?

A descristalização do mel deve ser feita com o aumento da temperatura. Quanto mais alta for a temperatura, mais rápido será a descristalização. Altas temperaturas, porém, destroem muitas propriedades do mel, e devem ser rigorosamente evitadas. Industrialmente, o mel é aquecido por pouco tempo a temperaturas entre 60 e 70 ºC, aproximadamente, para inativar os fermentos existentes (e evitar uma futura fermentação), para expelir pequenas bolhas de ar e derreter os cristais microscópicos, que posteriormente serviriam de núcleos para a cristalização, e para permitir o bombeamento do mel e a sua filtragem sob pressão. No uso doméstico, porém, recomenda-se que o derretimento do mel cristalizado seja feito numa temperatura mais baixa (cerca de 40 ºC), em banho-maria, por exemplo, com agitação freqüente.

De qualquer forma, melhor que superaquecer o mel ou descristalizá-lo, é transformá-lo em mel cremoso, que facilita o seu consumo de todas as formas possíveis.

O QUE É MEL CREMOSO?

É um mel que foi induzido a uma cristalização fina e homogênea. Essa indução é puramente mecânica, a baixa temperatura e sem adição de nenhuma substância, o que preserva todas as qualidades do mel. O mel cremoso possui a consistência que o nome indica e o aspecto parecido com o do doce de leite, embora mais denso. O mel cremoso é muito fácil de ser manuseado com colher e espátula, pois escorre lentamente, não despedaça pães e bolos e dissolve-se facilmente em líquidos. Ele também é mais estável que o mel comum e não forma cristalizações parciais e grosseiras.

COMO SE PRODUZ MEL CREMOSO?

Há várias receitas disponíveis na Internet e em livros de apicultura. Veja uma versão simplificada:

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1. Induzir um início de cristalização num pote de mel. Para isso, o ideal é deixar o mel descansando a uma temperatura de 14ºC. Não sendo possível, tente o mais próximo disso - colocar o mel no refrigerador e retirá-lo diversas vezes, pode ser uma boa alternativa. Depois, espera-se que apareçam os primeiros cristais visíveis (isso pode levar de dias a meses). Quanto maior a relação glicose/água, mais fina e mais rápida será a cristalização.

2. Depois de aparecerem os primeiros cristais, deve-se bater o mel com uma batedeira quatro vezes por dia, durante 15 minutos, com os batedores de bolo (aqueles em forma de mola).

3. Em dois dias, mais ou menos, o mel adquire uma aparência de xampu. Neste momento, ele deve ser passado para os potes definitivos. Esses potes, então, devem ser deixados em repouso numa temperatura o mais próxima possível de 14 °C. Em uma semana ou duas, o mel já terá atingido a consistência definitiva.

4. Após a produção do primeiro mel cremoso, todos os demais podem ser feitos a partir de pequenas porções dele como "semente". Para isso, basta misturar cerca de 10% de mel cremoso ao mel líquido e iniciar o processo a partir do item 2 acima.

DIABÉTICOS PODEM COMER MEL?

O mel é fundamentalmente uma mistura de carboidratos, e como tal deve ser tratado pelo diabético. Não há evidências de que o mel seja mais ou menos seguro para os diabéticos, e o seu eventual consumo deve ser combinado com o médico e considerado com a mesma cautela dispensada aos demais carboidratos.

BEBÊS PODEM COMER MEL?

Bebês de até um ano de idade não devem comer mel. A razão disso é que o mel pode conter esporos da bactéria que causa o botulismo (Clostridium botulinum), que podem germinar e se desenvolver no aparelho digestivo dos bebês. A contaminação do mel pode ocorrer na natureza, e a observação cuidadosa dos aspectos sanitários na colheita, extração e envase não é garantia de que o mel está livre de esporos. A freqüência de contaminação é baixa (menos de 5% das amostras no Canadá, por exemplo. No entanto, o botulismo é uma doença grave, que até mesmo pode causar a morte, e esse fato justifica plenamente a ausência de mel na dieta dos bebês.

O QUE É MEL ORGÂNICO?

É um mel produzido segundo normas específicas que, ao menos supostamente, qualificam-no como um produto isento de contaminações químicas e biológicas indesejáveis.

COMO SE PRODUZ MEL ORGÂNICO?

Para produzir um mel que possa receber o título de "orgânico", o apicultor deve passar por um processo de certificação. Isso é feito por algumas empresas nacionais (como o IBD) e estrangeiras (como a IMO). Elas enviam inspetores que analisam tecnicamente as condições do apiário e sugerem adequações para a conversão do apiário convencional em orgânico. Atendidas suficientemente todas as exigências, e passado certo período de carência (funcionando como orgânico), a empresa certificará o apiário. Essa certificação dá ao apicultor o direito de usar um selo especial (próprio de cada empresa certificadora) no seu produto, identificando-o como orgânico perante os consumidores. Para garantia da manutenção da qualidade, a empresa certificadora repete a inspeção pelo menos uma vez por ano, com ou sem aviso prévio.

QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS EXIGIDOS PARA O MEL ORGÂNICO?

No site do IBD pode-se baixar os seus critérios de certificação orgânica. Para a apicultura, há diversas exigências, como a proibição do uso de pesticidas no apiário e imediações, obrigatoriedade de aquisição de insumos de outras empresas certificadas, proibição de lavouras de manejo convencional num raio de 3 km do apiário, critérios para alimentação artificial e extração do mel, proibição de determinados medicamentos. Em especial, como para todos os produtos orgânicos, é importante a manutenção de registros de manejo, produção e identificação dos lotes, a fim de garantir a rastreabilidade do produto.

Alguns dos critérios são exóticos ou inexplicáveis, como a permissão de acrescentar "chá de camomila" e "sal" à alimentação artificial das abelhas. Mas isso não surpreende tanto quanto qualificar a presença de HMF como "acidez" do mel, o que também é feito. Um dos critérios é virtualmente impraticável: o raio de 3 km sem lavouras convencionais (isso dá uma área de quase 3 mil hectares). O que ocorre, por relatos de apicultores certificados, é que este critério é basicamente decorativo, não sendo cobrado com o rigor que o texto sugere e em que alguns consumidores provavelmente crêem.

Para o consumidor, o mel certificado tem um apelo de garantia que o convencional não possui. Essa garantia está longe de ser absoluta, pois há infinitas oportunidades de fraude no processo, mas parece certo que entre dois méis desconhecidos, aquele que for certificado terá uma probabilidade maior de ser isento de impurezas e contaminações indesejáveis.

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O QUE É O PÓLEN?

É a célula reprodutiva masculina das plantas floríferas. Ele é produzido pelas anteras e deve alcançar o estigma da flor (a porção terminal do seu órgão reprodutivo feminino, o gineceu) para que ocorra a fecundação e a posterior formação de sementes. Este processo é chamado de polinização, e ele ocorre muitas vezes com a ajuda de agentes externos, como o vento, a chuva e animais que se alimentam do pólen ou do néctar, como as abelhas. Em comparação com o néctar, o número de espécies que produz pólen é muito maior.

COMO O PÓLEN É ARMAZENADO PELAS ABELHAS?

As bolotas de pólen trazidas pelas campeiras são empilhadas nos alvéolos logo acima da área de cria. Ao pólen, são adicionadas algumas secreções glandulares e uma fina cobertura de mel, formando o alimento básico das larvas e abelhas jovens (chamado por alguns de "pão de abelha").

COMO O APICULTOR COLETA O PÓLEN?

O que é coletado, na verdade, são as bolotas trazidas pelas campeiras, não o que é depositado nos alvéolos. Para essa coleta, empregam-se armadilhas, chamadas de caça-pólen. Basicamente, o caça-pólen é constituído por uma grade e uma gaveta. As abelhas passam apertadas pela grade e acabam perdendo a bolota de pólen, que cai dentro da gaveta. As abelhas não têm acesso à gaveta, que é protegida por uma tela mais fina.

Há dois modelos básicos de caça-pólen, o de alvado e o interno. O de alvado é colocado na frente da entrada da colméia, tem uma capacidade menor e deve, portanto, ser esvaziado mais freqüentemente. O interno é posicionado entre o fundo da colméia e o ninho e tem uma capacidade maior.

POR QUANTO TEMPO O CAÇA-PÓLEN PODE SER DEIXADO NA COLMÉIA?

É preciso considerar que o pólen é um produto de extremo valor para as abelhas. Sem ele, não é possível alimentar as larvas mais velhas e as abelhas jovens que, por sua vez, dependem dele para produzir as secreções hipofaringeanas e mandibulares que alimentam as larvas jovens e a rainha. Some-se a isso o fato de as abelhas não estocarem pólen em grandes quantidades, como fazem com o mel, e se terá uma limitação muito forte para o tempo de permanência do caça-pólen na colméia. E essa limitação é tanto maior quanto mais eficiente for o caça-pólen.

Um estudo realizado em Botucatu (SP) [FUN98], identificou uma redução de cerca de 10% na área de cria de operárias e de 4% na área de cria de zangões, quando um caça-pólen era utilizado num esquema com alternância de sete dias (sete dias com, sete dias sem), em comparação com colméias de controle (sem caça-pólen). O estudo foi realizado nos meses de agosto a dezembro de 1996, e cada colméia produziu, em média, 1,5 kg de pólen em quatro meses.

É claro que diferentes resultados serão obtidos em épocas e locais diferentes. O importante é que o apicultor interessado em produzir pólen observe atentamente a resposta dos enxames e, a partir daí, desenvolva um esquema que garanta ao mesmo tempo uma boa produtividade e uma boa manutenção do enxame.

COMO É O BENEFICIAMENTO DO PÓLEN?

Inicialmente, caso o pólen não possa ser secado imediatamente, ele deve ser congelado. A etapa de secagem é a mais importante. O pólen possui de 18 a 25% de umidade, um nível que deve ser reduzido até cerca de 3%, para impedir o desenvolvimento de fungos e fermentos. A limpeza do pólen, manual ou mecanizada também é muito importante. Por fim, a armazenagem deve ser feita em recipiente hermeticamente fechado, para que não haja nenhuma contaminação.

É POSSÍVEL PRODUZIR MEL E PÓLEN NA MESMA COLMÉIA?

Sim, mas nenhum dos produtos de forma otimizada. Quando um produto falta na colméia, um número maior de abelhas passa a buscá-lo na natureza. Ao usar-se o caça-pólen, muitas abelhas provavelmente deixarão de colher néctar para colher pólen, o que resultará numa produção do mel inferior à capacidade do enxame em condições normais. O mesmo acontece com a produção de própolis.

O QUE É A PRÓPOLIS?

Própolis é uma substância resinosa, coletada pelas abelhas em uma grande variedade de plantas, especialmente em brotos de árvores. Dentro da colméia, essa substância é manipulada pelas abelhas e misturada a um pouco de cera a fim de adquirir propriedades mecânicas adequadas ao seu futuro uso. Tal como o pólen e o mel, a própolis é uma substância de composição variável, por provir das plantas disponíveis na região de cada colméia. No entanto, essa variabilidade não é tão grande quanto se poderia esperar; alguns estudos mostram uma razoável similaridade entre amostras de origens bastante diferentes.

PARA QUE AS ABELHAS UTILIZAM A PRÓPOLIS?

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Para vedar frestas que permitam a entrada de frio ou inimigos naturais, para "envernizar" o interior da colméia e assim repelir outros insetos e inibir o desenvolvimento de alguns microrganismos, para recobrir corpos estranhos que não possam ser retirados da colméia, como animais mortos, para impermeabilizar a colméia e para reforçar partes frágeis da colméia, entre outros.

COMO O APICULTOR COLETA A PRÓPOLIS?

Para produzir própolis, o apicultor cria frestas na colméia ou insere algum elemento que induza as abelhas a cobri-lo de própolis. Uma maneira simples é levantar a tampa por meio de pequenos calços. Outra é introduzir uma tela plástica abaixo da tampa. Há ainda dispositivos especiais, de maior facilidade de uso e rendimento. Entre os dispositivos disponíveis, há vários que usam melgueiras com paredes externas especiais, que permitem a abertura progressiva de frestas, por meio de barras ou janelas deslizantes. Um exemplo desse tipo é modelo Pirassununga.

POR QUANTO TEMPO PODE SER MANTIDO O COLETOR DE PRÓPOLIS?

Por tempo indeterminado, desde que o enxame esteja suficientemente alimentado e forte. Um enxame forte leva cerca de 30 dias para produzir 600 gramas de própolis, mas isso, é claro, varia muito com o tipo de flora local, as condições do enxame e a sua tendência mais ou menos propolisadora.

COMO A PRÓPOLIS É BENEFICIADA?

Primeiro, deve ser feita a limpeza manual da própolis, para eliminação de lascas de madeira (oriundas da raspagem), pedaços de abelhas e resíduos vegetais. Em seguida, ela deve ser classificada segundo o padrão de mercado vigente. Uma classificação simplificada é a seguinte: de primeira qualidade, própolis em grandes flocos ou tiras; de segunda, própolis granulada; de terceira, própolis pulverizada. E por fim deve ser diluída em álcool de cereais na proporção de 30% de própolis bruta para 70% de álcool.

COMO A PRÓPOLIS É ARMAZENADA?

Algumas substâncias presentes na própolis evaporam-se ou degradam-se com facilidade. Por isso, é importante que a própolis seja armazenada em recipientes hermeticamente fechados, como vidros e plásticos atóxicos. Após embalada, a própolis deve sofrer um resfriamento intenso (um dia no freezer, por exemplo), a fim de esterilizar possíveis ovos de traça. Depois disso, os recipientes devem ser guardados em local fresco, seco e escuro, sem necessidade de refrigeração.

QUAIS SÃO AS PROPRIEDADES DA PRÓPOLIS?

A própolis possui diversas propriedades terapêuticas e biológicas, muitas delas já bem estudadas e compreendidas. Por exemplo, ela apresenta atividades antibiótica, anti-inflamatória, anestésica, antioxidante e cicatrizante, entre outras.

O QUE É A CERA?

Cera é uma substância produzida pelas glândulas cerígenas das operárias com idade em torno de 14 dias. Para produzir a cera, as abelhas convertem o açúcar consumido sob forma de mel, num processo de baixa eficiência - cerca de 8 kg de mel precisam ser consumidos para a produção de 1 kg de cera.

QUAL É A COR DA CERA?

Branca, como pode ser visto nos favos recém produzidos. A cor amarela ou marrom de alguns favos resulta da impregnação da cera com própolis, resíduos de pólen e outras impurezas. Os favos de cria antigos têm uma cor ainda mais escura, por conta dos restos de casulo e dejetos deixados pelas larvas.

PARA QUE AS ABELHAS USAM A CERA?

Para construir os favos e para misturar à própolis, a fim de obter uma substância com melhores propriedades mecânicas.

QUAL É A VANTAGEM DE SE FORNECER CERA À COLÔNIA?

Uma melgueira com 11 kg de mel possui uns 600 g de cera. Para produzir 600 g de cera, as abelhas devem consumir cerca de 5 kg de mel. Em outras palavras, se um enxame produz uma melgueira cheia sem receber nenhuma cera, o mesmo enxame produzirá quase uma melgueira e meia (uns 40% a mais, na verdade) se lhe forem fornecidos favos inteiros e vazios. Se lhe forem fornecidas lâminas alveoladas, a perda de mel será menor, mas ainda assim significativa. Por essa razão, alguns apicultores incluem os favos de melgueira entre os bens mais valiosos do apiário, e tratam-nos com extremo cuidado.

COMO PRESERVAR OS FAVOS DE FORMA NATURAL?

Essa é uma questão ainda não muito bem resolvida na apicultura. Favos são delicados, ocupam muito espaço e são muito

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atrativos para roedores e insetos, particularmente as traças de cera. Os favos mais sujeitos a ataques são os usados para cria e para pólen; os usados apenas com mel são bem menos suscetíveis. Favos de ninho, porém, raramente são armazenados, apenas substituídos e derretidos. Em relação aos quadros de melgueira (entendido como aqueles usados apenas para mel), uma recomendação básica é que eles sejam devolvidos às abelhas após a extração, para que elas removam todos os resíduos de mel e deixem-nos suficientemente secos para a posterior armazenagem. Dependendo das condições climáticas (sem excesso de frio e umidade), as melgueiras podem ser deixadas nos enxames mais fortes, que se encarregarão de protegê-los contra as traças.

Se as melgueiras tiverem de ser removidas, a melhor medida para evitar a infestação por traças de cera é o tratamento térmico. O congelamento de favos por 4,5 horas a -7 ºC ou por 2 horas a -15 ºC mata todos os estágios da traça de cera. Note que esse tempo deve ser contado a partir do momento em que os favos atingiram essas temperaturas, e não do momento em que eles foram colocados no freezer. Na prática, o melhor é deixar os favos no freezer por 24 horas. Depois, os favos devem ser guardados em ambiente seco e isolado, para que não ocorram novas infestações. Se as próprias melgueiras forem usadas para armazenagem dos favos, o ideal é que elas também sejam congeladas, pois elas também podem conter ovos de traças, especialmente as muito propolisadas. Cuidado com a manipulação dos favos logo após o congelamento, pois eles se tornam extremamente frágeis e quebradiços.

Uma alternativa para a armazenagem é fazê-la em ambiente arejado e bem iluminado (mas sem exposição ao sol). Lembre-se de que, se os favos estiverem afastados uns dos outros, todas as faces receberão uma iluminação melhor. Essas condições são muito desfavoráveis ao desenvolvimento das larvas, e os favos acabam sendo rejeitados pelas traças. Se, adicionalmente, os favos puderem ser isolados do ambiente por telas mosquiteiras (num armário de tela, por exemplo), tanto melhor.

Quando nada disso for possível, deve-se, pelo menos, empilhar as caixas com algum isolante entre elas, como folhas de jornal. Isso evitará que uma infestação numa caixa se propague às outras.

HÁ PRODUTOS QUÍMICOS SEGUROS PARA A PRESERVAÇÃO DE FAVOS?

O Bacillus thuringiensis, uma bactéria fatal para lepidópteros, como a traça de cera, pode ser utilizado para preservação dos quadros. Ele é explicitamente permitido na apicultura orgânica. No Brasil, uma variedade do B. thuringiensis é vendida sob o nome comercial de Dipel, e empregada para a pulverização da soja. Num estudo realizado na Universidade Federal de Lavras, o Dipel exerceu um controle eficiente da lagarta, tanto por pulverização quanto por imersão dos quadros, usando soluções do produto em água em várias proporções (9,43 g de Dipel para100 ml de água, por exemplo).

Já em relação a produtos químicos para preservação de favos, mantenho aqui a minha posição de evitá-los sempre que possível. A título de informação, porém, vão aqui algumas informações sobre o paradiclorobenzeno (PDB). Trata-se de uma substância muito empregada, no Brasil, como desodorizante de vasos sanitários e repelentes de traças domésticas. O PDB é aprovado para uso em muitos países desenvolvidos, mas aqui no Brasil é muito pouco usado e visto com desconfiança pela maioria dos apicultores. É um contaminante importante da cera em outros países, e é terminantemente proibido na apicultura orgânica.

O PDB só pode ser usado em favos limpos, sem resíduos de mel ou pólen. Ele é usado numa proporção de 100 g para cada pilha de 5 ninhos ou 8 melgueiras. O PDB sublima (passa do estado sólido para o gasoso), e o seu gás mata a traça em todos os estágios, exceto os ovos. Por essa razão, ele deve ser reaplicado periodicamente. Como o gás é mais pesado que o ar, o PDB deve ser colocado sobre a caixa de cima, logo abaixo da tampa, e todas as frestas devem ser fechadas. O gás pode contaminar a cera, e por isso os favos precisam ser arejados por alguns dias antes de retornarem às colméias.

Atenção: nunca use naftalina para preservar equipamento apícola. Ela deixa mais resíduos na cera, e há diversas referências na literatura sobre a sua toxidade para as abelhas.

COMO SE PRODUZ CERA?

Quantidades relativamente pequenas são produzidas a partir do derretimento dos favos velhos que foram substituídos e também dos opérculos que resultaram da extração do mel. Se o objetivo principal for a produção de cera, as colônias deverão ser alimentadas abundantemente com xarope, a fim de estimular a produção dos favos. Por exemplo, considere a produção de uma melgueira cheia de mel operculado, a partir de dez quadros que tenham apenas uma pequena tira de cera alveolada para orientação inicial das abelhas. Neste caso, é preciso fornecer à colônia cerca de 15 litros (= 19 kg) de xarope, na proporção de 12,6 kg de açúcar para 6,4 litros de água. Posteriormente, esses favos serão centrifugados e derretidos, resultando, aproximadamente, em 11 kg de "mel" mais 600 g de cera. Esse "mel" extraído será então diluído e devolvido às abelhas como xarope, para a produção de mais cera.

Já a cera produzida pode ser derretida, a fim de ser vendida bruta ou processada. Um processamento possível, extremamente importante para a apicultura, é a laminação e estampagem da cera, para produção de lâminas alveoladas. Outra utilidade possível para esse método é a produção de favos completos, para uso na safra de mel.

A PRODUÇÃO DE CERA É RENTÁVEL?

Parece não haver muita gente produzindo cera, talvez pela quantidade de trabalho necessário, mas ela pode ser rentável, sim.

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Um quilo de cera laminada pode valer mais de 20 kg de açúcar, mas precisa de apenas 6,5 kg (o equivalente aproximado de 8 kg de mel) para ser produzida. E o melhor é que ela depende apenas de alimentação artificial, não de floradas. Chuvas não atrapalham, porque toda a atividade é interna, mas o frio pode inibir a produção de cera.

COMO SE DERRETEM A CERA DOS FAVOS?

Um equipamento relativamente eficiente para derreter favos é o derretedor solar, que pode ser comprado ou feito em casa. Para isso, basta fazer uma caixa de madeira rasa, com tampa de vidro duplo. No fundo, pode ser improvisada uma bandeja para recolher a cera derretida (um funileiro poderá fazê-la com chapa galvanizada). Os quadros ficam apoiados sobre a bandeja, um pouco acima do fundo. A caixa deve ser posicionada inclinada, sempre com a tampa de vidro diretamente voltada para o sol. O calor do sol eleva a temperatura dentro da caixa a mais de 80 ºC, bem acima do ponto de fusão da cera.

Quando o volume de cera é maior, um derretedor a vapor pode ser uma boa solução. Um modelo compacto bastante usado é o que emprega um tonel de 200 litros. Esse tonel é dividido ao meio, ficando a "caldeira" na parte de baixo e os favos a serem derretidos na parte de cima. A sua descrição textual não é simples, mas a montagem pode ser feita por qualquer serralheiro, e podem-se encontrar esquemas na Internet.

Os pedaços de cera obtidos por estas formas de derretimento podem ser novamente derretidos para formarem um bloco - o mesmo vale para pedaços de favos e opérculos, se o apicultor não tiver os equipamentos referidos acima. Para tanto, basta colocá-los num recipiente com água quente, mexer um pouco até o derretimento completo e depois deixar a mistura esfriar. Como a densidade da cera (0,95) é menor do que a da água, ela ficará na superfície e, ao se solidificar, formará um bloco flutuante. Porém, é preciso tomar cuidado com o recipiente usado - se houver algum estreitamento na sua boca, o bloco de cera não poderá sair inteiro. Depois de retirado o bloco, deve-se raspar o seu fundo para remover as eventuais impurezas que restaram.

Favos com mel fermentado devem ser lavados antes, ou a cera poderá absorver o odor durante o derretimento.

Os favos de cria têm restos de casulos nos alvéolos, que são tecidos pelas larvas antes do seu fechamento. Além disso, têm uma cera impregnada por impurezas e, por isso, mais escura.

Qualquer uma das formas acima mencionadas pode ser usada para derreter favos de cria, mas a cera precisa ser filtrada enquanto estiver derretida a fim de que as impurezas mais grosseiras sejam separadas. Quando a cera for derretida em água quente, a mistura pode ser passada por uma peneira para outro recipiente. Para tanto, um pedaço de tela metálica fina ou um saco de aniagem funcionam muito bem. No caso do derretedor solar, os quadros devem ficar sobre uma tela que retenha os casulos das crias (o que diminui a eficiência desse equipamento e aumenta o tempo do processo). No derretedor a vapor, normalmente já há uma tela para filtragem das impurezas.

COMO PURIFICAR A CERA?

Qualquer filtragem da cera em equipamento caseiro dificilmente conseguirá limpar a cera convenientemente. Quando for derretida em água quente, o processo pode melhorar bastante se a cera filtrada for mantida líquida pelo maior tempo possível. A razão disso é que, líquida e em repouso, a cera sofre um processo de decantação em que os detritos mais pesados afundam e os mais leves flutuam. Assim que o bloco de cera esfria, a maior parte das impurezas pode então ser facilmente raspada da sua superfície.

HÁ MEIOS QUÍMICOS PARA PROCESSAR A CERA?

Certamente, e a literatura registra alguns, como o uso de água oxigenada para o branqueamento da cera. Eles podem ser utilizados industrialmente e até em ambiente doméstico. No entanto, devido ao perigo de contaminação da cera, parece-me que o melhor é evitá-los sempre que possível.

Uma questão importante é o derretimento da cera em água dura (com excesso de minerais). Neste caso, pode ser produzida uma emulsão de água e cera. Para evitar o problema, em primeiro lugar, a temperatura da água deve ser mantida abaixo de 90ºC. Uma alternativa é acrescentar 2-3 gramas de ácido oxálico para 1 kg de cera e 1 litro de água (o ácido se ligará ao cálcio e evitará a formação da emulsão, além de ajudar a clarear a cera).

COMO SE RETIRA A CERA DOS QUADROS SEM ARREBENTAR OS ARAMES?

O melhor jeito é deixar os quadros ao sol por algum tempo. Em seguida, usar uma espátula com delicadeza para remover os favos. É um bom momento para raspar a própolis acumulada, que também estará amolecida pelo calor.

O QUE FAZER COM A CERA DERRETIDA?

Ela pode ser usada em troca por lâminas alveoladas. Dependendo da qualidade da cera derretida, os produtores de lâminas atribuem-lhe um valor bastante variável, entregando entre 60 e 85% do peso da cera bruta em lâminas.

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O QUE É GELÉIA REAL?

É uma substância produzida pelas operárias jovens para alimentação da rainha, desde o estágio de larva. Essa substância inclui secreções mandibulares e hipofaringeanas das abelhas. Embora o alimento das crias jovens também seja freqüentemente chamado de geléia real, ele é diferente, possuindo uma proporção muito menor de secreção mandibular. Por essa razão, a geléia real contém algumas substâncias, como o ácido pantotênico e a biopterina, em quantidades muito maiores que a comida de cria.

A GELÉIA REAL É UM BOM ALIMENTO?

A geléia real possui uma composição variada, com carboidratos, proteínas, gorduras, algumas dessas com uma composição molecular bastante peculiar. Também possui algumas vitaminas e minerais (quase todos em quantidades menores do que no pólen), além de outras substâncias (esteróides, fenóis, etc.). Diversas pesquisas atribuem benefícios variados à ingestão de geléia real, mas estudos mais elaborados, com protocolos de duplo-cego, ainda podem ser necessários para se chegar a um grau aceitável de certeza. No entanto, já há evidências de que a geléia real pode ser eficiente como estimulante ou para tratamento distúrbios neurológicos, endócrinos, digestivos e hematopoiéticos (formadores de células sangüíneas).

A geléia real possui ainda, propriedades cosméticas e antimicrobianas que são aproveitadas largamente na indústria de cosméticos, especialmente sob a forma de cremes tópicos.

COMO SE PRODUZ GELÉIA REAL?

Da mesma forma que se produz rainhas, mas com a interrupção do processo. Basicamente, é feita a orfanação de um enxame forte, seguida do enxerto de larvas de 12 a 36 horas num quadro com cúpulas artificiais, que é introduzido na colméia. Três dias depois, o quadro é recolhido, as larvas descartadas e a geléia real retirada. Cada cúpula fornece entre 200 e 300 mg de geléia. Deve ser armazenada protegida da luz, em ambiente refrigerado, inclusive congelada. Ela também pode ser desidratada (por liofilização).

O QUE É O VENENO?

O veneno, ou apitoxina, é um produto sintetizado pelas glândulas de veneno das operárias e da rainha. É basicamente composto por uma ampla mistura de enzimas, proteínas e outras moléculas menores.

QUANTO VENENO POSSUI UMA ABELHA?

Operárias em fase de guarda ou forrageamento possuem entre 100 e 150 microgramas (milionésimos de grama). Rainhas possuem, em média, 700 microgramas.

COMO O VENENO ATUA?

Ele é injetado pelas abelhas, com o auxílio do ferrão, nos seus predadores (reais ou presumidos). Algumas de suas substâncias causam dor, enquanto outras provocam uma reação alérgica de intensidade variável, que depende do porte e da sensibilidade da vítima.

COMO EVITAR UMA REAÇÃO ALÉRGICA AO VENENO?

Evitando abelhas. Fora isso, um médico pode prescrever-lhe medicamentos antialérgicos para serem usados após as ferroadas e diminuir a reação, ou submetê-lo a uma dessensibilização. Mas isso, normalmente, só é feito em caso de sintomas mais graves do que simples reações locais.

COMO SE EXTRAI O VENENO DAS ABELHAS?

Por meio de um equipamento composto por uma tela metálica e uma membrana. A tela metálica é carregada eletricamente, o que provoca um pequeno choque nas abelhas e leva-as a ferroar a membrana e depositar ali o veneno. A membrana cede o suficiente para que o ferrão não seja arrancado, evitando assim a morte da abelha.

Pela pequena quantidade de veneno de cada abelha, o rendimento é muito baixo - um grama é obtido a partir de 100.000 ferroadas. E o processo de estimulação acaba estressando muito o enxame, que se torna hiperagressivo. Por essas razões, o valor do veneno é muito alto. Pode valer de 35-55 dólares por grama no mercado internacional, o mesmo que 3 a 5 gramas de ouro.

PARA QUE SERVE O VENENO?

O veneno ainda é objeto de muito pesquisa no mundo inteiro. O seu uso nos tratamentos de dessensibilização é prática corrente. Diversas pesquisas também apontam para uma possível utilidade no tratamento de artrite reumatóide, uma doença degenerativa das articulações, muitas vezes acompanhada por dor intensa.

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FLORA APÍCOLA

O QUE É CONSIDERADO FLORA APÍCOLA?

Um conjunto de plantas de interesse para as abelhas. Normalmente, essas plantas são classificadas como nectaríferas ou poliníferas, mas as boas produtoras de própolis também podem ser incluídas. Outras plantas que devem integrar a flora apícola são aquelas que não se enquadram propriamente em nenhum dos tipos acima, mas são hospedeiras habituais de insetos que produzem um pseudonéctar (melato) que é colhido pelas abelhas e transformado em mel.

COMO SABER QUAL É A FLORA APÍCOLA DE UMA REGIÃO?

Impossível dizer sem examiná-la. Cada região possui sua vegetação própria, plantada ou nativa, adaptada às condições de solo, clima, topologia e ecologia. Uma região distante poucas dezenas de quilômetros de outra pode ter flora apícola predominante bastante diferente. Para conhecer as plantas principais, pode-se perguntar a um apicultor experiente da região, ou observar cuidadosamente a atividade das abelhas por um ou dois anos.

O QUE É O CALENDÁRIO APÍCOLA?

No que diz respeito à flora, o calendário determina os ciclos de floração da região por espécie. Em geral, muitas plantas florescem ao mesmo tempo, criando períodos de abundância de alimento que podem resultar em colheita para o apicultor. Esses períodos são chamados de safras. Em contrapartida, os períodos em que a quantidade de alimento disponível para as abelhas é escassa ou nula são chamados de entressafras. No Brasil, o número de safras e os seus períodos de ocorrência são bastante variáveis. Duas safras por ano, uma maior e outra menor ocorrem em muitas regiões.

COMO DESCOBRIR O CALENDÁRIO APÍCOLA DE UMA REGIÃO?

Da mesma forma que a flora apícola - perguntando ou observando. Aqui também, grandes variações podem existir entre regiões próximas, especialmente se a diferença de altitude entre elas for significativa. Os livros, por exemplo, definem a época de floração numa faixa ampla, de dois, três ou mais meses. Um leitor desavisado pode imaginar que a floração se estende por todo esse intervalo, mas, na verdade, este é apenas o período provável da sua ocorrência.

Aliás, a mesma região pode apresentar variações significativas no seu calendário apícola, de um ano para outro, por conta de fenômenos climáticos. O que se consegue, na verdade, é apenas uma média, mas que já é muito importante para o apicultor, porque ele determina grande parte do manejo. Alimentação artificial, troca de rainhas e substituição de quadros, por exemplo, são atividades típicas da entressafra, e todos guardam uma relação temporal importante com a safra.

QUANTO DURA EM MÉDIA UMA FLORADA?

Depende muito da espécie e do tipo de plantio. A família Myrtaceae (dos eucaliptos) floresce por um ou dois meses, às vezes mais. A Asteraceae (assa-peixes, vassouras, carquejas) também tem uma florada longa, e uma espécie sucede a outra, cobrindo um período longo. A Brassicaceae (canola, nabo, couve) pode florescer por mais de dois meses. A Rutaceae (citros) tem uma floração curta, de cerca de duas semanas. Muitas outras espécies, talvez a maioria, têm uma floração relativamente curta, de alguns dias a duas semanas.

FLORADAS CURTAS SÃO INÚTEIS PARA AS ABELHAS?

Depende do momento de ocorrência. Uma florada curta, mesmo com bom volume de néctar e concentração de açúcar, não pode ser aproveitada pelas abelhas enquanto o enxame ainda não se desenvolveu o suficiente. Essa é a principal razão do sucesso dos apicultores que estimulam corretamente as suas abelhas com alimento na entressafra: elas conseguem aproveitar bem as primeiras floradas. Depois de o enxame estar bem desenvolvido, naturalmente ou por intervenção do apicultor, qualquer florada que seja atrativa para as abelhas é útil.

A FLORA APÍCOLA DE UMA REGIÃO PODE SER MELHORADA?

Sim. O plantio de espécies melíferas que tenham bom desempenho numa região pode resultar em grande melhora da flora apícola. Uma abordagem recomendada é o plantio de espécies arbóreas perenes, consorciadas com espécies herbáceas ou arbustivas anuais, para ganho a curto, médio e longo prazos.

A questão econômica, porém, não é tão clara. Por exemplo, alguns estudos identificaram espécies com altos potenciais melíferos, da ordem de 200 a 1.000 quilos por hectare. Mas este é um potencial teórico, calculado a partir de estimativas do número médio de flores por hectare durante uma safra e do volume e da concentração média de açúcar do néctar produzido por cada flor. Não custa lembrar que, para que este néctar seja recolhido, é preciso haver condições climáticas adequadas. Também, muitas vezes há uma enorme variação no desempenho das plantas de um ano para outro. E como se não bastassem

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essas incertezas, nada impede que um pasto apícola cuidadosamente cultivado seja aproveitado entusiasticamente por todos os demais enxames da região, sejam eles naturais ou alojados em colméias de outros apicultores.

Uma alternativa indiscutivelmente boa do ponto de vista econômico, é o aproveitamento das culturas comerciais, especialmente as voltadas para a produção de frutas, como os citros, ou grãos, como o girassol ou a canola.

COMO SABER O QUE DEVE SER PLANTADO?

Muitos ecologistas recomendam que apenas as espécies nativas (ou exóticas há muito aclimatadas) sejam plantadas, a fim de evitar um possível desequilíbrio ecológico. É uma posição cautelosa, mas a multiplicação artificial e maciça de uma espécie nativa também pode causar algum desequilíbrio. Isso é especialmente importante em grandes vazios demográficos e áreas de preservação ambiental, onde uma planta invasora poderá se alastrar livremente antes que o seu dano seja percebido.

Procure fazer uma lista de espécies locais de interesse apícola. Naturalmente, a região considerada não precisa se restringir às vizinhanças do apiário; ela pode compreender, por exemplo, os municípios geograficamente próximos. E uma boa alternativa sempre será uma seleção pessoal do apicultor, a partir da observação cuidadosa e muita leitura. Procure observar basicamente os seguintes critérios: quantidade, qualidade e disponibilidade do néctar produzido. No que diz respeito a néctar floral, os fatores levados em consideração são os seguintes: duração da floração, confiabilidade (previsibilidade) da floração, volume de néctar produzido por planta, concentração de açúcar do néctar, acessibilidade da abelha ao nectário e por fim a qualidade do mel produzido, consideradas as suas propriedades organolépticas (aroma, sabor, textura, aspecto, etc.).

Alguns desses fatores não são mensuráveis senão em laboratório, mas são percebidos pelo nível de atratividade que as flores exercem nas abelhas e pela produção destas. Ou seja, de forma mais simples, uma boa nectarífera é aquela que floresce intensamente, todos os anos (ou sempre que plantado), atrai muitas abelhas e dá um mel saboroso.

QUE CRITÉRIOS DEFINEM UMA BOA PLANTA POLINÍFERA?

A flora polinífera é muito mais abundante do que a nectarífera, e, talvez por esta razão, receba menos atenção. É comum encontrar-se plantas qualificadas como boas produtoras de pólen, mas não estimativas de produtividade por espécie, por exemplo. Do ponto de vista da necessidade alimentar das larvas de abelha, porém, sabe-se que há pólens muito melhores que outros. O primeiro dado importante é que o total de proteína no pólen deve ser igual ou superior a 20%, mas ele, por si só, não significa muito. Um estudo realizado por DeGroot em 1953 determinou as quantidades mínimas de 10 aminoácidos que devem estar presentes na proteína do pólen para que as larvas possam aproveitá-la integralmente. Por exemplo, a proteína presente num pólen deve conter no mínimo 4% do aminoácido isoleucina. Se tiver apenas 3%, segundo DeGroot, as larvas só conseguirão digerir 3/4 da proteína total. Nesse caso, se o volume total de proteína for de 24% e todos os demais aminoácidos estiverem dentro do mínimo necessário, a proteína digerível para as larvas será de apenas 18%, o que é um valor insuficiente.

Um exemplo desta situação é o que ocorre com a alfafa, que provoca um enfraquecimento do enxame pela intensa colheita de néctar sem pólen de qualidade suficiente para manter as crias. Já o pólen da Corymbia (ex-Eucalyptus) maculata é tido como um dos melhores pólens para as abelhas na Austrália. Sementes dessa árvore são facilmente encontráveis no Brasil, por exemplo, no site do IPEF (http://www.ipef.br).

QUE CRITÉRIOS DEFINEM UMA BOA PLANTA PROPOLÍFERA?

Menos informações ainda se têm sobre plantas propolíferas. Uma referência freqüente à Baccharis dracunculifolia (vassoura, alecrim do campo) afirma que ela produz a própolis verde, um tipo especialmente procurado e valorizado pelos compradores internacionais.

COMO IDENTIFICAR UMA PLANTA?

Uma vez que se tenha observado uma planta de interesse, o primeiro passo é fazer uma pesquisa como os moradores locais para descobrir o seu nome popular. Com o nome popular, pode-se descobrir a espécie com uma simples consulta à Internet. Não é garantido, pois o mesmo nome popular às vezes é usado para inúmeras espécies completamente diferentes.

Não conseguindo o nome popular, pode-se recorrer a herbários de universidades ou Jardins Botânicos. Biólogos que fazem trabalho de campo, como os que trabalham na preparação de relatórios de impacto ambiental (RIMAs), têm vasto conhecimento sobre a vegetação regional, e podem ajudar.

Uma alternativa é a pesquisa bibliográfica própria. Os livros de Harri Lorenzi, do Instituto Plantarum (http://www.plantarum.com.br), por exemplo, são abrangentes, e as espécies são muito bem descritas e fotografadas.

INIMIGOS DAS ABELHAS

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QUAIS SÃO OS INIMIGOS DAS ABELHAS?

Há vários. Microorganismos causadores de doenças de cria e de adultos, parasitas internos, externos e sociais, substâncias tóxicas, predadores e outras pragas. No que diz respeito ao Brasil e às abelhas africanizadas, os principais problemas são as substâncias tóxicas e o vandalismo ou roubo. Em relação às doenças e parasitas em geral, as africanizadas apresentam uma resistência maior que as européias. Em parte, essa resistência tem origem orgânica, como no caso da característica SMR (de Suppress Mite Reproduction), freqüentemente encontrada nas africanizadas, que impede a reprodução da varroa nos alvéolos de cria. No caso das doenças, a maior resistência das africanizadas provavelmente se deve a um comportamento higiênico mais desenvolvido, que as leva a remover os cadáveres mais rapidamente e com maior eficiência, diminuindo assim a chance de alastramento da infecção. Ao mesmo tempo, essas abelhas têm forte tendência de abandonar completamente o ninho quando enfrentam algum tipo de perturbação mais forte, deixando para trás todos os organismos indesejados. Esse tipo de comportamento ajuda no controle de parasitas, que chegam a devastar fortes colônias de européias, mas raramente fazem o mesmo com africanizadas. Nos países que criam abelhas européias, três pragas são responsáveis pela maior parte dos prejuízos: a podridão americana, a varroa e o besouro da colméia. Na África, os criadores de Apis mellifera scutellata têm sofrido nos últimos anos com um caso grave de parasitismo social da A.m. capensis.

COMO SÃO CLASSIFICADOS ESSES INIMIGOS?

Há varias classificações possíveis. Uma delas, muito citada, é por fase da vida da abelha em que ela é atingida. Por exemplo, as principais doenças de cria são as seguintes:

· Podridão européia (ou CPE - Cria Pútrida Européia)· Podridão americana (ou CPA - Cria Pútrida Americana)· Cria ensacada· Cria ensacada brasileira· Cria giz

Já as principais doenças de adultos são estas:

· Nosemose· Disenteria· Envenenamento· Fome e frio

E há também os parasitas e outras pragas:

· Varroa· Acarapis woodi (doença chamada de acariose)· Aethina tumida (besouro da colméia)· Apis mellifera capensis· Traças de cera· Formigas

PODRIDÃO EUROPÉIA?

Agente: bactéria Melissococcus pluton. Sintomas: larvas mortas, amareladas ou marrons. Cheiro ácido forte. Favo de cria com poucos alvéolos operculados em

meio a muitos vazios ou com larvas mortas. Contágio: as abelhas adultas contaminam as larvas ao alimentá-las. Prejuízo: significativo, quando a colônia não tem alimento suficiente. Ocorrência no Brasil: relativamente comum. Controle: uma alimentação abundante, energética e protéica, geralmente resolve o problema. Se ele persistir, uma opção é

substituir a rainha para tentar mudar o perfil de tolerância à doença da colônia. Observação: essa doença pode ser tratada com Terramicina, mas essa não é a melhor escolha (veja o item 11.20 abaixo)

PODRIDÃO AMERICANA?

Agente: bactéria Paenibacillus larvae Sintomas: crias operculadas (pré-pupa/pupa) mortas, opérculos perfurados. Larvas marrons que, quando esmagadas com

um palito, adquirem uma consistência viscosa e provocam a criação de um "fio" no momento em que o palito é removido. Contágio: fácil, através de mel e pólen contaminados com os esporos da bactéria. A transmissão se dá por pilhagem de

colônias infectadas, transferência de favos de alimento pelo apicultor e até mel extraído que é recolhido pelas abelhas (essa forma proporciona a "importação" da doença de outros países, junto com méis contaminados).

Prejuízo: muito grande, podendo devastar apiários. Ocorrência no Brasil: ainda não detectada.

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Controle: colméias suspeitas devem ser imediatamente isoladas e ter uma amostra enviada a análise de laboratório. Como esta doença ainda não foi identificada no Brasil, não existe uma diretriz nacional sobre o que fazer se o resultado for positivo. O melhor talvez seja adotar o critério mais radical, usado por diversos países, que é o da destruição completa das abelhas e de todas as partes da colméia. Para isso, remova primeiro todos os quadros e queime-os durante o dia. À noite, feche a colméia e mate as abelhas com um inseticida. Essa parte é especialmente difícil para o apicultor, mas ele deve lembrar que a sobrevivência de todos os demais enxames está em jogo. No dia seguinte, queime as caixas, fundo, tampa e as abelhas mortas. O fogo é necessário porque os esporos do P. larvae suportam temperaturas de até 150 ºC. Alguns países e estados americanos admitem a esterilização do equipamento ao invés da sua destruição, mas os meios não são facilmente encontráveis no Brasil ou são muito perigosos (irradiação beta e gama, mergulho em parafina a 160 ºC, fervura em solução de soda cáustica).

CRIA ENSACADA?

Agente: vírus (SBV, de Sacbrood Virus, sem nome científico) Sintomas: crias parcialmente operculadas em meio a outras totalmente operculadas ou já emergidas. Pré-pupas mortas,

com cor variando do amarelo ao marrom-escuro, especialmente com a extremidade da cabeça mais escura que o resto do corpo. Indivíduos mortos podem ser facilmente removidos dos alvéolos, mas, quando agarrados por uma pinça, tomam a forma de um saquinho (daí o nome).

Contágio: provavelmente através das abelhas adultas, ao alimentar as larvas. Prejuízo: pouco significativo, podendo passar despercebido em enxames fortes. Ocorrência no Brasil: desconhecida (veja item 11.6). Controle: a manutenção de enxames fortes, com bastante alimento é suficiente.

CRIA ENSACADA BRASILEIRA?

Agente: pólen do barbatimão (Stryphnodendron spp.) Sintomas: similares aos da cria ensacada (descritos acima) Contágio: pelas abelhas adultas, ao alimentar as larvas com o pólen. Prejuízo: grande, com enfraquecimento ou morte de muitos ou todos os enxames do apiário. Ocorrência no Brasil: muito freqüente na região Sudeste. Possível em outras regiões onde exista esta planta. Controle: alimentação com suplemento protéico pelo menos 15 dias antes do início da florada do barbatimão. Manutenção

dessa alimentação durante todo o período da florada.

CRIA GIZ?

Agente: fungo Ascosphaera apis Sintomas: larvas rígidas, aparentando mumificação. Podem ser facilmente removidas do favo com uma sacudida. Contágio: pelas abelhas adultas, ao alimentar as larvas com pólen contaminado com o fungo. Prejuízo: moderado em enxames mais suscetíveis. Ocorrência no Brasil: já detectado, mas ainda não relevante. Controle: manutenção de enxame forte e substituição freqüente da rainha.

NOSEMOSE?

Agente: protozoário Nosema apis Sintomas: abelhas incapazes de voar, desorientadas no chão da colméia, com tremores, com asas em posição anormal e

abdômen inchado. Contágio: pelas fezes das abelhas adultas contaminadas, quando depositadas dentro da colméia (por impossibilidade de

realizar os vôos higiênicos). Prejuízo: grande em climas temperados, pequeno nos demais. Ocorrência no Brasil: existente, mas atualmente pouco relevante. Controle: manutenção de enxame forte e substituição freqüente da rainha. Esterilização eventual dos equipamentos por

imersão em água quente.

DISENTERIA?

Agente: más condições alimentares e sanitárias Sintomas: presença de matéria fecal marrom ou amarelada na colméia, abelhas com movimentos lerdos e abdomens

inchados. Mortandade de abelhas. Causas: alimento fermentado, alimento com impurezas (como as presentes no açúcar mascavo e melado de cana), alimento

com alto teor de HMF (mel velho, açúcar invertido), excesso de umidade na colméia. Prejuízo: de pequeno a muito grande, podendo acabar com o enxame. Ocorrência no Brasil: geral.

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Controle: eliminação das causas.

ENVENENAMENTO?

Agente: inseticidas Sintomas: mortandade súbita de adultas dentro da colméia ou redução drástica do enxame (mortandade no campo). Causas: aplicação de inseticidas em culturas vegetais no raio de ação das abelhas. Fungicidas e herbicidas normalmente

não matam as abelhas, ainda que possam deixar resíduos nos produtos coletados. Prejuízo: Muito grande, podendo devastar o apiário. Ocorrência no Brasil: geral. Controle: escolha prévia do local do apiário, conhecimento prévio da rotina de pulverização das culturas vizinhas,

remoção das colméias antes das pulverizações, alimentação abundante durante e após as pulverizações.

FOME E FRIO?

Agente: falta de alimento energético Sintomas: Morte ou forte redução do enxame, com abelhas adultas mortas dentro dos alvéolos, as cabeças voltadas para o

fundo. Causas: falta de alimento energético (mel, néctar, xarope), especialmente na entressafra e em clima frio, quando o

consumo de mel é aumentado para a geração de calor. É importante salientar que qualquer enxame normal só morrerá de frio se não tiver mel suficiente a disposição.

Prejuízo: Grande, com possível perda do enxame. Ocorrência no Brasil: principalmente nas regiões frias (Sul) ou naquelas em que as entressafras são severas e longas. Controle: Alimentação artificial com xarope ou mel deixado na colméia em quantidade suficiente para a entressafra.

VARROA?

Agente: ácaros Varroa destructor e Varroa jacobsoni (talvez outros) Sintomas: presença de muitas larvas (especialmente de zangões) com ácaros - vistos a olho nu como pontos marrons, do

tamanho de uma cabeça de alfinete. Os ácaros estão presentes nos adultos também, mas não são tão facilmente identificáveis.

Um teste simples de ser feito é o seguinte: recolher uma porção de abelhas adultas (500-1000 abelhas) num vidro, adicionar água e sabão líquido a 4% (ou álcool etílico ou isopropílico a 70%) e agitar bem. Depois, coar as abelhas e verificar a presença de varroas no líquido.

Prejuízo: muito grande em climas temperados e abelhas européias, menor em climas tropicais e abelhas africanizadas. Ocorrência no Brasil: existente, mas ainda não especialmente relevante. Exige observação. Controle: manutenção de enxames fortes, bem alimentados. Substituição da rainha em caso de infestação acentuada. O

controle químico, com fluvalinato, é permitido e usado em outros países, mas não disponível nem recomendado por grande parte dos apicultores no Brasil.

Observação: existe um inseto (Braula coeca) que é praticamente inofensivo às abelhas, mas muito parecido com a varroa. Ele se aloja no tórax das operárias e da rainha, às vezes em grupos. Uma diferença perceptível é que ele possui 3 pares de patas, que se estendem para o lado do corpo, enquanto que a varroa, um aracnídeo, possui 4 pares, que se estendem para frente.

ACARIOSE?

Agente: ácaro Acarapis woodi Sintomas: imprecisos, muito semelhantes aos de outras doenças: enxame anormalmente reduzido, abelhas arrastando-se

com asas desconjuntadas. A confirmação só pode ser feita em laboratório. Prejuízo: grande, se não tratado. Ocorrência no Brasil: existente, mas atualmente irrelevante. Controle: manutenção de enxames fortes, bem alimentados, com rainha nova.

BESOURO DA COLMÉIA?

Agente: coleóptero Aethina tumida Descrição: fêmeas adultas deste besouro são atraídas pelo mel e podem entrar na colméia ou pôr ovos em favos expostos

ao ar livre. As larvas, de pouco mais de 1 cm, alimentam-se de mel e de crias vivas, infestando qualquer tipo de favo. O mel, fermentado pelas fezes das larvas, é repudiado pelas abelhas. Poucos indivíduos adultos podem causar pesadas infestações.

Prejuízo: muito grande na América do Norte, com exterminação de enxames. Na África, esse besouro raramente cria problemas para os enxames de Apis mellifera scutellata, embora a sua convivência seja comum.

Ocorrência no Brasil: ainda não encontrado.

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Controle: difícil. Verificação cuidadosa e pronta eliminação de favos infectados. Manutenção de enxames fortes. Prevenção por exposição mínima dos favos durante o manejo e colheita de mel.

APIS MELLIFERA CAPENSIS?

Agente: abelha A.m. capensis Descrição: operárias da abelha capensis invadem colméias de A.m. scutellata (só dela) e passam a competir com a rainha,

pondo ovos e produzindo feromônio de rainha. Esta acaba morrendo, atacada pelas invasoras ou vítima de desnutrição por falta de atendimento das suas operárias. Os ovos postos pelas capensis, apesar de não fecundados, produzem novas fêmeas poedeiras, o que acaba desorganizando a colméia de tal modo a inviabilizá-la.

Prejuízo: muito grande na África do Sul, com grande exterminação de enxames. Ocorrência no Brasil: ainda não identificada. Controle: muito difícil. Prevenção por isolamento das duas espécies.

TRAÇAS DE CERA?

Agente: Galleria mellonella (traça maior) e Achroia grisella (traça menor) Descrição: indivíduos adultos põem ovos no interior da colméia ou em favos guardados, especialmente os mais escuros.

As larvas alimentam-se de cera e formam túneis cheios de fezes e fios de seda nos favos, que se tornam inaproveitáveis para as abelhas. Em infestações pesadas, as larvas chegam a destruir a madeira dos quadros e das caixas.

Prejuízo: insignificante ou inexistente em enxames médios e fortes; importante em enxames fracos. Possivelmente grande em favos armazenados.

Ocorrência no Brasil: geral. Controle: manutenção de enxames fortes. Enxames fracos devem ser protegidos por redução do alvado e vedação das

frestas das colméias. Favos escuros (especialmente os de ninho) devem ser derretidos tão logo sejam retirados da colméia. Favos claros devem ser guardados, preferencialmente, em ambiente claro, seco e arejado. O congelamento dos favos a -15 ºC por 2 horas destrói todas as fases das traças (ovos, larvas e adultos).

Observação: em alguns países o paradiclorobenzeno (PDB) é uma substância química aprovada para controle da traça em favos armazenados. No Brasil, recomenda-se sempre evitar procedimentos que possam deixar resíduos indesejáveis na colméia e nos seus produtos.

FORMIGAS?

Agente: diversas espécies de formigas Descrição: as formigas costumam atacar repentinamente e causar grandes danos, devorando as crias, o mel, o pólen e

provocando um grande estresse na colméia. Prejuízo: destruição dos favos e abandono dos enxames. Ocorrência no Brasil: geral. Controle: manutenção da colméia em posição elevada em relação ao solo. Uso de cavaletes com proteção contra formigas,

como lã ou estopa embebida em óleo, arandelas com óleo, cúpulas invertidas (de garrafas PET, por exemplo). Limpeza do terreno e combate das formigas predadoras nas imediações do apiário.

COMO SE PODE CONFIRMAR UMA SUSPEITA DE DOENÇA?

Enviando uma amostra de favo, crias e/ou adultas para análise num laboratório. Isso especialmente necessário no caso de suspeita de podridão americana, que é a doença apícola mais importante. Antes porém, entre em contato com alguma autoridade ligada à área de sanidade apícola. Por exemplo, existe o Comitê Científico Consultivo em Sanidade Apícola - CCCSA, instituído pela Portaria nº 09, de 18 de fevereiro de 2003, da Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Seus membros podem ser contatados pelos seguintes e-mails: Aroni Sattler (UFRGS/Porto Alegre/RS) - aronisattler em yahoo.com.brDejair Message (UFV/Viçosa/MG) - dmessage em mail.ufv.brDavid de Jong (USP/Ribeirão Preto/SP) - ddjong em fmrp.usp.brDulce Schuch (MAPA/Porto Alegre/RS) dmtschuch em yahoo.com

POR QUE NÃO TRATAR AS DOENÇAS COM REMÉDIOS?

Medicamentos sempre oferecem o risco de, se mal usados, contribuírem para a seleção de cepas resistentes dos organismos que estão sendo combatidos. Além disso, eles contaminam os produtos da colméia e não têm sido necessários no Brasil. A maior resistência da abelha africanizada em relação à européia permite que muitas doenças sejam tratadas com a simples adoção de medidas sanitárias simples e/ou substituição da rainha - e conseqüente alteração do perfil genético da colméia em cerca de dois meses. Essa alteração genética é uma tentativa de criar um enxame com resistência orgânica maior ou comportamento higiênico mais apurado, o que é perfeitamente possível com a aquisição de rainhas africanizadas selecionadas.

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Dessa forma, busca-se um melhoramento genético com a extinção das características ruins em relação às doenças. O retorno deste procedimento é um gasto menor em manejo e nulo em remédios, mas, principalmente, o privilégio de se recolher produtos absolutamente naturais, sem contaminantes químicos de nenhuma espécie.

COMO EVITAR O ROUBO E O VANDALISMO?

Esse é um problema difícil. Por representar um perigo a pessoas e animais, o apiário necessariamente deve ser localizado a uma certa distância de casas e galpões, o que o torna um alvo fácil para ações criminosas. Há muito pouco o que fazer sem investir muito.

A primeira tentativa é ocultar da melhor forma possível o apiário da vista de populares. O uso de cores discretas nas colméias, telhados e suportes pode ajudar.

Alguns apicultores sugerem adotar equipamentos especiais, como fundos (chãos) de colméias com furos grandes, ou tampas integradas com telhados pesados. A idéia é que as colméias não possam ser carregadas sem que as abelhas ataquem os ladrões. Isso pode funcionar na primeira vez, mas dificilmente dará resultado numa segunda tentativa.

A montagem de armadilhas nas imediações do apiário é defendida por alguns, mas é preciso considerar muito bem as possíveis conseqüências. Armadilhas que causem dano físico ao invasor podem motivar a responsabilização criminal do apicultor. Armadilhas que apenas assustem ou que provoquem ruídos altos talvez possam ser usadas.

Não há local 100% seguro, mas o conhecimento e uma boa relação com os vizinhos também ajudam. Um pouco de mel presenteado na colheita pode angariar aliados vigilantes.

Bibliografia:

http://www.apicultura.com.br/apifaq

http://carnauba.cpamn.embrapa.br/pesquisa/apicultura/mel/index.htm

http://www.saudeanimal.com.br/indice.htm

http://www.breyer.ind.br/apicultura/apicultura_cera_abelhas.htm

http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/82/tecnologia.htm

http://www.apiariocosmos.com.br/telas/rainha.htm

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