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CURRÍCULO ESCOLAR: DESAFIOS E POTENCIALIDADES NA FORMAÇÃO DOS JOVENS Maria Perpétua do Socorro Beserra Soares 1 Eixo Temático: Didática e Prática de Ensino na Relação com a Sociedade Subeixo: Temas emergentes na relação da Didática e da Prática de Ensino com a Sociedade RESUMO O presente texto é parte integrante dos estudos de doutoramento de um Programa de Pós-Graduação em Educação. O artigo emergiu das discussões e reflexões no curso e tem como objetivo discutir as concepções de currículo escolar destacando alguns aspectos relevantes acerca dos desafios e das potencialidades deste para a formação dos jovens na sociedade contemporânea e apresenta como problemática: quais os desafios e as potencialidades do currículo escolar na formação dos jovens? Para a realização desse estudo utilizamos uma pesquisa de cunho bibliográfico. O referencial teórico está fundamentado nos autores: Gimeno Sacristán (1998), Ponce (2009), Chizzotti e Ponce (2012), Arroyo (2013) e Freire (2013). Com base nas análises parciais desta pesquisa podemos considerar que o currículo escolar é um instrumento importante e com potencialidades para contribuir na formação dos jovens, propiciando conhecimentos sólidos, incentivando a produção de saberes, atitudes, respeito à diversidade, preparação para a sua inserção no mundo do trabalho e o desenvolvimento de uma postura crítica acerca dos problemas da sociedade. O currículo escolar é um projeto educativo essencial para potencializar nos jovens a sua autonomia, cultivar o diálogo em sala de aula e em outros contextos, a formação de valores pautados nos princípios de justiça, solidariedade e o respeito aos outros, considerados imprescindíveis à construção de uma sociedade mais democrática e digna. A escola, os professores, os gestores e a família têm como desafios visualizar os jovens como sujeitos sócio-históricos, culturais, de direitos, respeitando as suas singularidades, vivências e os saberes que constroem e levam para as escolas. PALAVRAS-CHAVE: Currículo escolar. Desafios e potencialidades. Formação dos jovens. INTRODUÇÃO O artigo tem como objetivo discutir as concepções de currículo escolar destacando alguns aspectos relevantes acerca dos desafios e das potencialidades deste para a formação dos jovens na sociedade contemporânea e apresenta como problemática: quais os desafios e as potencialidades do currículo na formação dos jovens? 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP. Bolsista do CNPq. Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade EdUECE - Livro 3 01470

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Page 1: CURRÍCULO ESCOLAR: DESAFIOS E POTENCIALIDADES NA … CURRÍCULO ESCOLAR... · CONCEPÇÕES DE CURRÍCULO ESCOLAR O currículo escolar apresenta diversas concepções e na atualidade

CURRÍCULO ESCOLAR: DESAFIOS E POTENCIALIDADES NA

FORMAÇÃO DOS JOVENS

Maria Perpétua do Socorro Beserra Soares1

Eixo Temático: Didática e Prática de Ensino na Relação com a Sociedade

Subeixo: Temas emergentes na relação da Didática e da Prática de Ensino com a

Sociedade

RESUMO

O presente texto é parte integrante dos estudos de doutoramento de um Programa de

Pós-Graduação em Educação. O artigo emergiu das discussões e reflexões no curso e

tem como objetivo discutir as concepções de currículo escolar destacando alguns

aspectos relevantes acerca dos desafios e das potencialidades deste para a formação dos

jovens na sociedade contemporânea e apresenta como problemática: quais os desafios e

as potencialidades do currículo escolar na formação dos jovens? Para a realização desse

estudo utilizamos uma pesquisa de cunho bibliográfico. O referencial teórico está

fundamentado nos autores: Gimeno Sacristán (1998), Ponce (2009), Chizzotti e Ponce

(2012), Arroyo (2013) e Freire (2013). Com base nas análises parciais desta pesquisa

podemos considerar que o currículo escolar é um instrumento importante e com

potencialidades para contribuir na formação dos jovens, propiciando conhecimentos

sólidos, incentivando a produção de saberes, atitudes, respeito à diversidade, preparação

para a sua inserção no mundo do trabalho e o desenvolvimento de uma postura crítica

acerca dos problemas da sociedade. O currículo escolar é um projeto educativo

essencial para potencializar nos jovens a sua autonomia, cultivar o diálogo em sala de

aula e em outros contextos, a formação de valores pautados nos princípios de justiça,

solidariedade e o respeito aos outros, considerados imprescindíveis à construção de uma

sociedade mais democrática e digna. A escola, os professores, os gestores e a família

têm como desafios visualizar os jovens como sujeitos sócio-históricos, culturais, de

direitos, respeitando as suas singularidades, vivências e os saberes que constroem e

levam para as escolas.

PALAVRAS-CHAVE: Currículo escolar. Desafios e potencialidades. Formação dos

jovens.

INTRODUÇÃO

O artigo tem como objetivo discutir as concepções de currículo escolar

destacando alguns aspectos relevantes acerca dos desafios e das potencialidades deste

para a formação dos jovens na sociedade contemporânea e apresenta como

problemática: quais os desafios e as potencialidades do currículo na formação dos

jovens?

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo-PUC/SP.

Bolsista do CNPq.

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

EdUECE - Livro 301470

Page 2: CURRÍCULO ESCOLAR: DESAFIOS E POTENCIALIDADES NA … CURRÍCULO ESCOLAR... · CONCEPÇÕES DE CURRÍCULO ESCOLAR O currículo escolar apresenta diversas concepções e na atualidade

CONCEPÇÕES DE CURRÍCULO ESCOLAR

O currículo escolar apresenta diversas concepções e na atualidade tornou-se

objeto de estudo e análise nos debates acerca das reformas educacionais ocorridas nos

últimos anos.

Chizzotti e Ponce (2012) entendem o currículo escolar como um

instrumento social de responsabilidade coletiva supondo a participação de cada um. Os

autores acrescentam que o mesmo objetiva a autonomia do indivíduo na comunidade; a

preparação para viver a vida com dignidade e a construção contínua de uma escola que

valorize o conhecimento.

Vale salientar que qualquer concepção de currículo envolve relação de

poder, uma vez que o currículo veicula intencionalidades diversas, disputas. Como uma

prática social compreende a participação de gestores, docentes, discentes e a instituição

família.

Gimeno Sacristán (1998) ressalta a dificuldade de definição válida para o

currículo, pois é importante considerar que o currículo deve possibilitar uma visão de

cultura, pode ser entendido como um processo historicamente condicionado pertencente

a uma dada sociedade permeada por forças dominantes capazes de reproduzir, mas

também incorrer sobre essa mesma sociedade, com ideias e práticas que se interagem

mutuamente, como também condiciona a profissionalização do docente. O currículo

como projeto cultural é flexível e proporciona a intervenção de professores(as).

Para a elaboração deste faz-se necessário compreender a realidade dos

educandos tendo em vista seus conhecimentos, suas necessidades, seus interesses,

principalmente na sociedade da informação, do conhecimento e dos avanços

tecnológicos que exige dos jovens habilidades, valores, atitudes, postura crítica em

relação aos problemas e aos desafios postos pela sociedade atual marcada pelo processo

de globalização que impacta as práticas e políticas educacionais.

CURRÍCULO ESCOLAR: ARTICULAÇÃO ENTRE CONHECIMENTO,

AUTONOMIA E FORMAÇÃO DOS VALORES DOS JOVENS

A escola é um espaço sociocultural que pode contribuir tanto para a

transmissão e reprodução quanto à produção do saber. Mas o que a escola pode/deve

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

EdUECE - Livro 301471

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oferecer aos jovens? A escola, espaço de relações sociais e humanas, deve garantir aos

alunos o acesso aos conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e a formação para a

cidadania.

O currículo escolar abrange todas as atividades desenvolvidas dentro da

escola. É um projeto orientador das suas ações com finalidades e intenções e deve ser

construído continuamente com a participação ativa de todos os que constituem esta

instituição como os educadores, educandos, gestores e a família.

Gimeno Sacristán (1998) destaca que o debate sobre o que ensinar centrou-

se na tradição anglo-saxã acerca do currículo que foi concebido incialmente como fins e

conteúdos, posteriormente, foi ampliado.

Para o autor, o currículo envolve os grandes questionamentos: que objetivo

se pretende atingir, o que ensinar, por que ensinar, para quem são os objetivos, quem

tem o melhor acesso às formas legítimas de conhecimento, que processos incidem e

transformam as decisões para se chegar à prática, como se transmite a cultura escolar,

como inter-relacionar os conteúdos, que recursos e materiais metodológicos ensinar,

como organizar os grupos, professores(as), tempos e espaços, quem deve definir o

sucesso ou não no ensino e quais as consequências na avaliação, como é possível mudar

as práticas escolares referentes a esses temas.

A escola, os docentes e os gestores devem perceber os jovens como sujeitos

ativos e interativos no processo de construção do conhecimento e da aprendizagem.

Para tanto, a escola deve valorizar e respeitar os saberes dos alunos, estimulando-os ao

questionamento, a capacidade de pesquisar e a sua preparação para a inserção no mundo

do trabalho.

Na maioria das vezes, o currículo escolar expressa uma visão restrita de

conhecimento, ignorando ou até mesmo desconsiderando outros conhecimentos,

interpretações da realidade, de mundo e de sociedade acumulados pelos jovens ao longo

das suas existências. Nesse sentido, o desafio da escola e do professor no processo

ensino-aprendizagem é criar condições favoráveis e meios adequados para que os

alunos se tornem sujeitos ativos na forma de apropriação e produção do saber

sistematizado por meio de situações que favoreçam o diálogo entre

aluno/aluno/professor/aluno.

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

EdUECE - Livro 301472

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Na concepção freireana “o diálogo é este encontro dos homens,

mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-

tu.”(FREIRE, 2013, p.109). O diálogo entre aluno/aluno/professor/aluno envolve uma

relação horizontal de respeito e confiança no outro, nos saberes dos educandos.

Ponce (2009, p. 6) ao refletir acerca da temática “o que a escola tem a

oferecer ao jovem” expressa o seguinte desejo:

1. um jovem que, na sua vida adulta, seja autogovernante de sua vida em

coletividade; 2. uma formação que o prepare para viver e (re)criar a vida com

dignidade; 3. uma escola que valorize o conhecimento com estratégia de

existência; que seja um espaço de convívio democrático e solidário; e que,

por meio de seus educadores, ajude o jovem na construção de sua autonomia.

A instituição escolar tem um papel essencial e um grande desafio a enfrentar

para conseguir atingir esses objetivos. A formação dos jovens implica não apenas a

aquisição de conhecimentos e habilidades, mas também a formação de valores baseados

no respeito mútuo, na solidariedade e na coletividade para uma convivência

democrática.

Os docentes precisam observar mais os jovens na sua condição, conhecer

seus anseios, conflitos e seus projetos de vida. Nessa direção, Arroyo (2013, p. 224) faz

algumas indagações sobre quem são os adolescentes e jovens que chegam às escolas e

afirma que “somente mirando esses adolescentes e jovens nesse olhar aberto,

entenderemos quem são nas salas de aula: os mesmos vistos como incômodo fora”. Na

maioria das vezes os jovens e adolescentes são vistos como incômodos, não apenas nas

escolas como também nas ruas, manifestações e até mesmo nas famílias. Muitas vezes

são objetos de reportagens negativas na mídia e nas ocorrências policiais tidos como

indisciplinados, vândalos e violentos. Portanto, é necessário reeducar o nosso olhar na

forma de percebê-los e tratá-los, ou seja, reconhecê-los como sujeitos ativos e de

direitos e que merecem centralidade nas propostas pedagógica e curricular como os

conteúdos das áreas e a diversidade cultural, de gênero, raça, campo e periferia.

A escola tem como desafio e potencialidade preparar os jovens para o

mundo do trabalho que em nossa sociedade está fortemente associada à questão da

sobrevivência. O trabalho faz parte da vida dos educandos desde criança, pois nas

camadas populares os jovens colaboram na produção da sobrevivência dos seus

familiares desde muito cedo. Dessa forma, a escola não pode desconsiderar as

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

EdUECE - Livro 301473

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vivências, experiências,os conhecimentos dos alunos em relação ao trabalho ou o

trabalho como forma de exploração do indivíduo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos estudos realizados podemos considerar que o currículo

escolar é um instrumento importante e com potencialidades para contribuir na formação

dos jovens, propiciando conhecimentos sólidos, incentivando a produção de saberes,

atitudes, respeito à diversidade, preparação para a sua inserção no mundo do trabalho e

o desenvolvimento de uma postura crítica acerca dos problemas da sociedade. O

currículo escolar é um projeto educativo e cultural capaz de potencializar nos jovens a

sua autonomia, cultivar o diálogo em sala de aula e em outros contextos, a formação de

valores pautados nos princípios de justiça, solidariedade e o respeito aos outros,

imprescindíveis à construção de uma sociedade mais democrática e digna.

Para tanto, a escola, os professores, gestores e a família têm como desafios

visualizar os jovens como sujeitos sócio-históricos, culturais, de direitos, respeitando as

suas singularidades, vivências e os saberes que constroem e levam para as escolas.

REFERÊNCIAS

ARROYO, M. G. Currículo: território em disputa. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

CHIZZOTTI, A.; PONCE, B. O currículo e os sistemas de ensino. Currículo sem

fronteiras. v.12, n.3, 25-36.set/dez.2012. Disponível em: http://www.

curriculosemfronteiras.org/vol12iss3articles/chizzotti-ponce.pdf. Acesso em: 16

ago.2013.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 54 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

2013.

GIMENO SACRISTÁN J. O currículo: os conteúdos do ensino ou uma análise prática?

In: GIMENO SACRISTÁN, J. PÉREZ GOMÉZ, A. I. (Orgs.). Compreender e

transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998.

PONCE, B. J. O que a escola tem a oferecer para a formação do jovem?

In: RevistaOnda Jovem, nº. 15. jun. 2009.

Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

EdUECE - Livro 301474