cultura do feijoeiro (feijão)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO VEGETAL Guia de Acompanhamento das Aulas da cultura do feijoeiro Prof. Marcelo Antonio Tomaz CCA/ UFES

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Page 1: Cultura do feijoeiro (feijão)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO VEGETAL

Guia de Acompanhamento das Aulas da cultura do feijoeiro

Prof. Marcelo Antonio Tomaz CCA/ UFES

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1. A CULTURA

O feijão-comum (Phaseolus vulgaris L.) é um dos mais importantes constituintes da dieta da população brasileira, por ser reconhecidamente uma excelente fonte protéica, além de possuir bom conteúdo de carboidratos e de ser rico em ferro. Vale salientar que além do feijão-comum, plantado em maior ou menor grau, em todo território nacional, cultiva-se também o caupi (Vigna unguiculata L. Walp.), conhecido como feijão-de-corda, feijão-macassar, feijão-fradinho etc. Por questões climáticas, ou seja, alta temperatura e alta umidade ou alta temperatura e semi-aridez, o caupi predomina no Norte e Nordeste, regiões menos favoráveis ao feijão-comum.

1.1. Feijão no Brasil

O Brasil é o maior produtor mundial de feijão com produção média anual de 3,5 milhões de

toneladas. Típico produto da alimentação brasileira é cultivado por pequenos e grandes produtores em todas as regiões. Os maiores são Paraná, que colheu 298 mil toneladas na safra 2009/2010, e Minas Gerais, com a produção de 214 mil toneladas no mesmo período.

A safra tem taxa anual de aumento projetada de 1,77%, de acordo com estudo da Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura. Os dados também mostram crescimento no consumo, cerca de 1,22% ao ano, no período 2009/2010 a 2019/2020, passando de 3,7 milhões de toneladas para 4,31 milhões de toneladas. As projeções indicam também a possibilidade de importação de feijão nos próximos anos. Porém, a taxa equivaleria a 161,3 mil toneladas em 2019/2020, quantidade pouco expressiva.

Nos últimos anos, a área média cultivada no Brasil ficou em 4,0 milhões de hectares, e a

produção média em torno de 3,4 milhões de toneladas. A produção de feijão comum cores representou cerca de 70% do volume produzido, a de feijão comum preto, 20,1%, e a caupi, 10,4%. O feijão comum cores está distribuído de forma uniforme nas três safras anuais. O feijão comum preto concentra-se no Sul do País, com 76% da produção brasileira, com 54,1% oriundas da 1ª safra. A variedade caupi, cultivada na Região Nordeste e no Estado do Mato Grosso, concentra-se na 2ª safra, à exceção da produção do Estado da Bahia.

O calendário de colheita é organizado da seguinte forma: • 1ª Safra - colheita de novembro a março - concentração nas Regiões Sul, Sudeste,

Goiás, Piauí e Bahia. • 2ª safra - colheita de abril a julho - concentração nas Regiões Nordeste, Sul, Sudeste,

Mato Grosso, Rondônia e Goiás. • 3ª safra - Colheita de agosto a outubro - concentração em Minas Gerais, Goiás, São

Paulo, Bahia, Pará, Pernambuco e Alagoas.

1.1.1. Feijão 1ª Safra

De acordo com a Conab 2012, o plantio da primeira safra de feijão para a safra 2012/13 começou a ser efetuado na primeira quinzena de agosto de 2012.

A área plantada de feijão da primeira safra, esperada para 2013 apresentou uma redução de 7,8%, saindo de 1.241,4 mil hectares na safra 2011/12, para 1.144,2 mil neste exercício. A produção na safra 2012/13, em decorrência da expectativa de um quadro climático comparativamente mais favorável em todas as regiões de produção da leguminosa, prevê um incremento de 4,8%, atingindo

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1.294,4 mil toneladas, comparado com a produção observada no exercício 2011/12, que fechou em 1.235,6 mil toneladas.

A safra 2011/12 foi a menor dos últimos dez anos, ocasionando um quadro de oferta bastante ajustado. O mercado está sendo abastecido com produto dos estoques remanescentes da terceira safra e de uma pequena quantidade importada da Argentina, China e Bolívia.

Para a temporada 2012/13, prevê-se o seguinte cenário: a produção da primeira safra, apurada nos últimos levantamentos, pela Conab, mais as previsões para a segunda e terceira safras, totalizarão aproximadamente 3.287,8 mil toneladas, que somadas ao estoque de passagem e às importações projetadas em 220.000 toneladas, propiciarão um suprimento de 3,8 milhões de toneladas, gerando um excedente suficiente para um mês de consumo, o que ficará razoável para a política de abastecimento.

1.1.2. Feijão 2ª e 3ª Safra

Para o feijão da segunda e terceira safras, em função do calendário de plantio e da metodologia aplicada nas estimativas, foram repetidas as áreas da safra anterior, e aplicado o rendimento médio dos últimos três anos, descartando os anos atípicos e agregando-se o ganho tecnológico.

Para as três safras, estima-se que a área total possa atingir entre 3,16 e 3,19 milhões de hectares, com um decréscimo variando entre 3,0 e 2,1% em relação à safra passada. A produção nacional deverá situar-se no intervalo entre 3,26 e 3,33 milhões de toneladas, representando um acréscimo entre 11,9 e 13,6%, quando comparado com a última safra (CONAB 2013). 1.2. Panorama Nacional

O Brasil é o maior produtor mundial e consumidor dessa leguminosa, com um consumo per

capita, em 2009, de cerca de 16,5 kg/ano, equivalente a 44g/dia. O atual nível de consumo evidencia a relativa perda de importância dessa leguminosa na dieta do brasileiro, uma vez que, no início da década de 1970, o consumo per capita era de aproximadamente 25 kg/ano. As possíveis causas do menor consumo de feijão nas últimas décadas foram o êxodo rural, com alterações dos padrões de consumo da população, e a redução do preço de outras fontes protéicas, como a carne de frango. Ainda assim, o feijão e o arroz constituem o alimento básico do brasileiro, especialmente o de baixa renda.

A média de produtividade de feijão no Brasil é considerada baixa; entretanto, em alguns estados, essa média é superior a 1.500 kg/ha, e os agricultores brasileiros que utilizam alta tecnologia já ultrapassaram a marca de 3.000 kg/ha. É oportuno lembrar que o feijão, na sua maioria, ainda é produzido por pequenos agricultores, com poucos recursos tecnológicos e que, frequentemente, consorciam essa leguminosa com outras culturas, sobretudo o milho. Esses agricultores geralmente adubam mal e não controlam pragas e doenças. Escassez ou má distribuição de chuvas são fatores que contribuem para esse baixo rendimento médio, pois a irrigação não é prática comum entre esses produtores.

A maioria dos cultivares de feijão utilizados no Brasil apresentam de 20 a 25% de proteína; todavia, existem outros com mais de 30%, que podem ser empregados como genitores em programas de melhoramento, visando desenvolver cultivares com maior qualidade nutricional. A proteína do feijão é rica no aminoácido essencial lisina, porém pobre nos aminoácidos sulfurados metionina e cisteína, essenciais ao homem. Os cereais são pobres em lisina, mas ricos em aminoácidos sulfurados, o que torna a tradicional dieta brasileira, arroz com feijão, complementar em termos de aminoácidos essenciais (Quadro 1).

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Quadro 1 - Aminoácidos essenciais no feijão e no arroz (mg/g) Aminoácidos Feijão Arroz

Isoleucina 100 94 Leucina 201 188 Lisina 141 85 Aromáticos 273 281 Sulfurados 46 123 Triptofano 113 79 Valina 115 121

Fonte: Souza et al. (1973). Além da sua relevância na dieta do brasileiro, o feijão é um dos produtos agrícolas da maior importância econômico-social, em razão de ser cultivado em grandes áreas e da mão-de-obra empregada durante o ciclo da cultura. Estima-se que no cultivo do feijão sejam utilizados cerca de 7 milhões de homens/dia-ciclo de produção, envolvendo aproximadamente 295.000 produtores só em Minas Gerais. Esta leguminosa é cultivada em todas as regiões desse Estado, com os mais variados níveis tecnológicos e sistemas de produção.

Até alguns anos atrás, essa cultura era explorada quase exclusivamente por pequenos produtores. Diversos fatores podem ser enumerados como desestimuladores da exploração do feijão por grandes produtores. O risco parece ser um dos principais. Aproximadamente 90% da produção brasileira é proveniente do cultivo das ”águas” e da “seca”, ambos de elevado risco. No primeiro caso, por coincidir a colheita com o período chuvoso, e, no segundo, por ser uma época em que as chuvas são bastante escassas, podendo ocorrer deficiência hídrica nas fases críticas da cultura, isto é, floração, formação das vagens e enchimento dos grãos. Além disso, o feijão é suscetível a numerosas doenças e pragas. Mais de 45 diferentes doenças podem ocorrer na cultura do feijão no Brasil, embora apenas cerca de dez sejam realmente importantes (VIEIRA, 1983). Algumas doenças apresentam importância estritamente regional, enquanto outras são de distribuição generalizada. A preferência da população por um dos vários tipos comerciais do feijão é uma característica regional. Por exemplo: o feijão-preto é consumido em Minas Gerais, principalmente na Zona da Mata e no Vale do Rio Doce, enquanto em outros estados, como Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, é o tipo comercial preferido. O feijão tipo carioca, até a década de 1970, possuía um mercado muito restrito no País. Atualmente, ele é o tipo mais cultivado e consumido no Brasil. Alguns tipos comerciais, restritos a determinadas regiões, apresentam grande importância regional. É o caso do feijão-jalo, na região de Paracatu-MG, e do feijão-vermelho na Zona da Mata de Minas Gerais, com preços de mercado bem superiores aos daqueles dos demais tipos.

A preferência do consumidor é regionalizada e diferenciada. Em Minas Gerais, o consumo da leguminosa é maior do que a média nacional, chegando a 19,2 kg/hab/ano. Já São Paulo tem um consumo de apenas 8,6 kg/hab/ano. 2. IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA

O Brasil apresenta contrastes fantásticos na agricultura. Ao mesmo tempo em que se desponta como uma das maiores potências agrícolas mundiais é um país onde grande parte da população tem graves problemas de acessibilidade aos alimentos. O leque de produtores vai dos altamente tecnificados aos que fazem suas explorações de forma rudimentar para sua subsistência. Em

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algumas regiões onde são empregadas máquinas mais modernas na produção e no processamento de alimentos, falta mão-de-obra especializada. A cultura do feijão-comum, um dos alimentos mais tradicionais na alimentação e culinária diária brasileira, com significativa importância social e econômica, tem sofrido uma impetuosa divulgação de eventuais problemas relacionados com a dificuldade do preparo, mudança dos hábitos alimentares da população urbanizada. 2.1. Aspectos Gerais A partir de meados da década de 1980 quando no Brasil a irrigação tornou-se prioridade das políticas públicas com a criação do Ministério da Irrigação, o cultivo do feijoeiro passou por um momento ímpar. Primeiramente, baseado na relação produção/área, acreditava-se que essa tecnologia iria ofertar mais feijão com menor custo. Muitas análises previram que isto poderia ser o fim da pequena exploração de feijão e que este seria o maior exemplo da passagem do produto típico de agricultura de subsistência para a agricultura empresarial, com alto uso de tecnologia de inverno. Os resultados deste sistema de cultivo, conhecido por feijão-de-inverno ou por terceira safra ou irrigada, tiveram e continuam tendo uma importância não só no abastecimento, reduzindo a sazonalidade, como também na melhoria da qualidade do produto, embora sua produção nunca tenha superado15% da do total do país. 2.2. Características do Mercado Trata-se de um mercado pulverizado com grande número de empresas empacotadoras, algumas com capacidade de estabelecer marcas comerciais com condições de atender fração significativa dos mercados dos grandes centros consumidores como São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, por enquanto, não há condições para que o mercado se torne oligopolizado. As empresas tendem a regionalizar sua atuação, mas buscam matéria-prima em qualquer local do País que lhes ofereça condições de ofertar um produto final com preço competitivo e qualidade compatível com as exigências dos consumidores. Isto torna livre a comercialização do feijão. Esse mercado apresenta algumas características: ➥ há vários tipos comerciais de grãos, cuja preferência e exigência variam conforme a região; ➥ devido à constante oferta do produto, o tempo entre a colheita e o consumo é curto, às vezes menor do que uma semana; ➥ o maior consumo é in natura e o produto final possui pouco valor agregado; ➥ nas últimas décadas, o número de agentes das transações comerciais entre os produtores e os consumidores reduziu, havendo simplificação dos canais de comercialização. De acordo com Ferreira (2001), é no mercado atacadista que começa a variação de preço do feijão, embora nem toda ela seja repassada aos produtores e para o mercado varejista. No caso do produtor, a variação tem intensidade diferenciada para os estados. Por exemplo, considerando o mercado atacadista de São Paulo como referência, os produtores sofrem um impacto de 9,2% a cada variação de 10% no mercado atacadista. Levando-se em conta à mesma situação, os produtores gaúchos e mineiros, respectivamente, sofrem com a variação de 1,4% e 3,3%. Os produtores têm um interesse especial por informações de mercado e se valem delas ou de consultas em fontes que as oferecem de forma pontual. Para superar essa deficiência, as instituições deverão desenvolver modelos teóricos capazes de fazer previsões mais seguras para os produtores.

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2.3. Consumo do Feijão no Brasil O consumo de um alimento por uma população está relacionado com aspectos culturais e históricos. No Brasil, o consumo do feijão se mantém desde os primórdios da história do país. No entanto, na última década, ocorreu redução de consumo e a maioria dos trabalhos realizados, normalmente, faz uma série de especulações sobre a mudança de hábitos alimentares da população, apontando um conjunto de suposições sem uma metodologia apropriada. O consumo per capita de feijão no Brasil é o mais alto do mundo. Na década de 1970, o consumo per capita era de aproximadamente 25 Kg/habitante/ano, na de 1990, foi em torno de 16,2 Kg/habitante/ano, e em 2009, chegando a cerca de 16,5 Kg/habitante/ano. O consumo varia de acordo com a renda da população e a quantidade ofertada no ano. A elasticidade-renda do feijão é 0,042, ou seja, quando a renda aumenta 10%, a demanda diminui 0,42% (HOFFMANN, 2000). O consumo varia proporcionalmente ao total produzido, uma vez que o excedente não é exportado nem armazenado. O nível de consumo per capita de feijão no Brasil diminuiu nas três últimas décadas. A partir do ano de 2000, surgiu uma tendência de crescimento, que pode ser explicada pelo aumento da produção nacional.

No Brasil, o consumo do feijão-preto se concentra nos Estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, sendo destinada ao Rio de Janeiro a maior parte das importações da Argentina. Em menor escala o consumo também abrange os Estados do Paraná, Santa Catarina e Espírito Santo. O feijão comum cores, por sua vez, tem o consumo concentrado nos Estados centrais e em parte do Paraná e de Santa Catarina, enquanto o feijão caupi, mais conhecido como feijão de corda, é de consumo típico da Região Nordeste. 3. DESCRIÇÃO BOTÂNICA 3.1. Origem O gênero Phaseolus originou-se das Américas e possui cerca de 55 espécies, das quais cinco são cultivadas: P. vulgaris L. (Feijão Comum), P. lunatus L. (Feijão Espadinho, Feijão Verde), P. coccineus L. (Feijão-da-Espanha, Feijão-de-sete-anos), P. acutifolius A. Gray var. latifolius Freeman e P. polyanthus Greenman (DEBOUCK, 1993). Destas o feijão-comum, Phaseolus vulgaris, é o mais importante, por ser a espécie cultivada mais antiga e também a mais utilizada nos cinco continentes. Atualmente, relata-se que o feijão-comum teve dois centros principais de domesticação e um terceiro de menor expressão. O primeiro localiza-se na região central das Américas, principalmente no México, onde se originou a maioria dos cultivares de grãos pequenos como o ‘Carioca’. O segundo localiza-se no sul dos Andes, principalmente no norte da Argentina e no sul do Peru, onde se originaram os cultivares de sementes grandes, semelhantes ao cultivar Jalo, bastante conhecido em Minas Gerais. A terceira área de domesticação, provavelmente intermediária entre as duas primeiras, situa-se na Colômbia, o que tem sido possível firmar depois de vários estudos feitos com faseolina, a principal proteína de reserva da semente de feijão. O gênero Vigna é composto pela seguintes espécies: Vigna radiata (Feijão Mungo), Vigna unguiculata (Feijão Caupi, Feijão de corda), Vigna angularis (Feijão Azuki) e Vigna umbellata (Feijão arroz). O Vigna unguiculata é predominante na região Nordeste e Norte.

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3.2. Grupos Gênicos Em razão de o feijão-comum ser cultivado em grande diversidade de ambientes e em muitos países, ele é uma das espécies com maior variabilidade de caracteres agronômicos, como hábito de crescimento, tamanho, cor de grãos e ciclo. Por essa razão, uma classificação de grande utilidade, principalmente para orientar os cruzamentos dos diferentes cultivares, é a que considera um conjunto de caracteres morfológicos, adaptativos, evolucionários e até mesmo marcadores moleculares (SINGH, 1993). 3.3. A Planta Uma planta de feijão é composta de partes aparentemente distintas, os órgãos. Há um sistema radicular no solo e, acima deste, um caule que porta as folhas e os ramos. Nas plantas mais velhas, pode-se ter visão detalhada das suas partes: raiz, caule ou haste principal, folhas e hastes axilares, inflorescência, fruto e semente. Pode-se iniciar a identificação das partes da planta a partir do exame de uma semente pré-germinada em água ou areia umedecida. Dessa semente, pode-se remover com facilidade a sua película externa, o tegumento. A parte que resta é o embrião, que é constituído em sua maior parte por dois cotilédones, que funcionam como reserva de alimento para os primeiros dias após a germinação da semente. Os dois cotilédones estão presos a um eixo curto, cilíndrico e mais ou menos curvo do embrião. A parte do eixo que se situa acima do ponto de ligação dos cotilédones é o epicótilo e a parte de baixo, o hipocótilo. Na extremidade superior do epicótilo, encontram-se duas folhas em estádio embrionário, chamadas plúmulas. Durante a germinação da semente, a extremidade inferior do hipocótilo transforma-se na radícula, que cresce para o interior do solo e forma a raiz principal. A extremidade superior do hipocótilo e o epicótilo transformam-se no caulículo, que origina o caule, o qual se desenvolve acima do solo. 3.3.1.Raiz Como se sabe, a raiz principal ou primária cresce a partir da radícula, que tem origem no embrião. Logo em seguida, a partir da raiz primária, surgem as secundárias, situadas inicialmente próximo do colo. Com o desenvolvimento do sistema radicular, aparecem raízes secundárias abaixo das primárias e, também raízes terciárias a partir das secundárias. Ademais, os pêlos absorventes estão sempre presentes nas proximidades das regiões de crescimento. Podem ocorrer outras subdivisões, dependendo do desenvolvimento do sistema radicular do cultivar. Em geral, a raiz primária possui maior diâmetro do que as demais, especialmente na fase jovem da planta. Como em muitas leguminosas, na raiz do feijão existem nódulos com bactérias (Rhizobium spp.), quase esféricos e de tamanho variável. As bactérias que os produzem penetram pela extremidade de um pêlo absorvente, reproduzem-se abundantemente e atingem o periciclo, onde é formada uma massa que se avoluma até constituir o nódulo. As bactérias que vivem nas células parenquimáticas dos nódulos recebem carboidratos da planta e a suprem de nitrogênio. Esta relação de simbiose permanece até a degenerescência do nódulo ou morte da planta. Quanto à disposição do sistema radicular no solo, ele se assemelha ao sistema fasciculado, porque a raiz primária não é uma raiz pivotante típica, além de a grande maioria das raízes situar-se nos primeiros 20cm do solo, sendo de 62 a 87% nos 10cm superficiais (VIEIRA, 1967). Em conseqüência, a planta explora essencialmente a camada superficial do solo, sendo, por isso, muito

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sensível à falta de umidade. Portanto, é importante a adoção de estratégias adequadas que estimulem o maior desenvolvimento radicular. Dentre estas, no preparo do solo, a realização de arações profundas e, quando necessário, calagens freqüentes. Na semeadura, o adubo deve ser colocado ligeiramente abaixo da semente para estimular o aprofundamento das raízes, a fixação mais firme da planta no solo e a exploração das camadas mais profundas. Medidas que assegurem maior disponibilidade de água são também necessárias, como menor intervalo entre os turnos de rega nas culturas irrigadas, e para as não-irrigadas, em períodos com risco de falta de água, escolha de áreas com alto teor de matéria orgânica. O controle das plantas daninhas é outra prática que deve ser realizada de forma a evitar grandes danos ao sistema radicular superficial. 3.3.2. Caule O caule é herbáceo, classificado morfologicamente como haste, e apresenta, na planta adulta, secção transversal cilíndrica e levemente angulosa (aristado). Ele é constituído de nós e internódios intercalados, de número variável e dependente do hábito de crescimento da planta. O maior ou menor desenvolvimento do caule, a duração e o grau de lignificação são o que mais influi no aspecto vegetativo da planta. Os nós caulinares são numerados em seqüência ascendente, sendo o primeiro nó aquele onde ocorre a inserção dos cotilédones; o segundo, a inserção das folhas primárias; e o terceiro, a primeira folha trifoliolada, e assim sucessivamente. A porção entre as raízes e os cotilédones é o hipocótilo e entre os cotilédones e as folhas primárias, o epicótilo. A disposição das folhas no caule é chamada de filotaxia. Cada folha origina-se de um nó, é geralmente alterna, com predominância da disposição dística, isto é, folhas em duas fileiras com ângulo de divergência de 180º , com exceção das duas primeiras, que são opostas e ocorrem no segundo nó. Nas axilas das folhas nascem as gemas, que podem ser vegetativas, florais ou mistas. As gemas vegetativas originam os ramos; as florais, as inflorescências; e as mistas podem originar tanto o ramo quanto a inflorescência. O caule apresenta também pilosidade e colorações que variam em intensidade de acordo com a posição, o estádio de desenvolvimento da planta, o cultivar e as condições ambientais. Algumas características do caule são utilizadas na identificação de cultivares, como a coloração, a pilosidade, o número de nós, o comprimento dos internódios, a filotaxia e os ângulos de inserção das diferentes partes da planta no caule. 3.3.3. Folhas e Ramos O feijão apresenta o fenômeno de heterofilia, pois forma dois tipos de folha durante a sua ontogênese: simples e compostas. As folhas simples são duas e são as primeiras (primárias) a serem constituídas; aparecem no segundo nó do caule e são formadas dentro da semente durante a embriogênese. Apresentam filotaxia oposta, de formato cordiforme e são acuminadas. Elas caem antes do completo desenvolvimento da planta. Já as compostas, são constituídas de três folíolos (trifolioladas) com disposição alterna, características das folhas definitivas. As estípulas são dois pequenos apêndices que nascem na base das folhas muito antes dos folíolos e exercem, geralmente, a função de proteger as gemas axilares; nas folhas adultas perdem sua função. O pecíolo assemelha-se a um caule, devido à sua forma alongada, e é canaliculado na face superior. A raque é a parte mediana do eixo da folha na qual se inserem os folíolos.

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Em condições normais, existe grande variação quanto à coloração e pilosidade das folhas, que pode estar relacionada com o cultivar, a posição da folha no caule e a idade da planta. 3.3.4. Flor As flores do feijão agrupam-se em racimos que nascem nas axilas das folhas, a partir de gemas floríferas e, mais raramente, de gemas mistas. As inflorescências do tipo racimo axilar tem o hábito de crescimento indeterminado e a inflorescência do tipo racimo terminal tem hábito de crescimento determinado. Cada flor apresenta uma bráctea e duas bractéolas, estas na base do pedúnculo floral. As flores são papilionadas. 3.3.5. Fruto É um legume deiscente, de forma ou perfil reta, arqueada ou recurvada e o ápice ou extremidade estilar, abrupto ou afilado, arqueado ou reto.

A estrutura do fruto é simples. O epicarpo é formado pela epiderme e por uma camada subepidérmica, constituída de células grandes e paredes engrossadas. O mesocarpo apresenta uma camada parenquimática externa e outra interna; a coloração verde do mesocarpo é devida aos cloroplastídeos de suas células. Observam-se no mesocarpo feixes vasculares isolados. O endocarpo é constituído por uma faixa de fibras, de quatro a seis células de largura, e de uma zona interna de parênquima. Esta faixa de fibras é que produz a deiscência do fruto, devido à perda de água no final da maturação. Sua cor é característica da cultivar podendo ser uniforme ou apresentar estrias e variar de acordo com o grau de maturação (imaturo, maduro e completamente seco). A coloração pode ser verde, verde com estrias vermelhas ou roxas, vermelho, roxo, amarelo, amarelo com estrias vermelhas ou roxas, até marrom. 3.3.6. Semente A semente do feijão-comum é exalbuminada, isto é, não possui albume; as reservas nutritivas estão concentradas nos cotilédones; e apresentam formas variadas, desde esférica a quase cilíndrica. Os cultivares mais comuns, a semente tem forma de rim, cuja parte côncava corresponde ao hilo, geralmente elíptico, em cuja porção mais profunda existe um disco esbranquiçado. Sua parte interna é constituída de embrião formado pela plúmula, duas folhas primárias, hipocótilo, dois cotilédones e radícula. Podem ter formas arredondada, elíptica, reniforme ou oblonga, e tamanhos que variam de muito pequenas (<20g/100sementes) a grandes (>40g/100sementes). Apresentam ampla variabilidade de cores, variando do preto , bege, roxo, róseo, vermelho, marrom, amarelo até o branco. O tegumento pode ter cor uniforme (cor primária) ou duas (cor primária e secundária), expressa na forma de estrias, manchas ou pontuações. Podem ter brilho ou brilho intermediário ou não ter brilho (opaca). As características externas da semente são utilizadas para diferenciar e classificar cultivares de feijão em alguns grupos ou tipos distintos, com base na cor e no tamanho das sementes.

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O feijão constitui um dos poucos alimentos ricos tanto em carboidratos (60%) como em proteínas (22%); além disso, contém lipídeos e sais minerais. A alta concentração desses componentes deve-se principalmente ao baixo conteúdo de água (10-15%), pois a testa atua como uma camada impermeável. Para balancear a umidade, existe no hilo uma fissura que deixa entrar água se a semente secando e se fecha quando a umidade interna é ótima. 4. MORFOLOGIA 4.1. Hábitos de Crescimento (Figura 1) Tipo I: hábito de crescimento determinado; arbustivo; porte de planta ereto; gemas terminais reprodutivas no caule principal e nos ramos; e nenhuma produção de nó no caule principal, depois que começa o florescimento. As variedades apresentam inflorescência nas gemas apicais e laterais e altura em torno de 50 cm. Normalmente o período de floração é curto e a maturação é mais ou menos uniforme. Tipo II: hábito de crescimento indeterminado; arbustivo; caule pouco ramificado; gemas terminais vegetativas no caule principal e nos ramos, nos quais ocorre produção de nós depois que começa o florescimento; ramos eretos que nascem nos nós inferiores do caule principal; planta ereta com dossel relativamente compacto; e desenvolvimento variável dos ramos, dependendo das condições ambientais e do genótipo. Apresentam um pequeno crescimento da gema apical com poucas e curtas ramas laterais. A altura média é de 70 cm, e a maturação das vagens é uniforme. São ideais para a colheita mecanizada. Tipo III: hábito de crescimento indeterminado; gemas terminais vegetativas no caule principal e nos ramos, nos quais ocorre produção de nós depois que começa o florescimento; ramificação relativamente forte, com número variável de ramos prostrados oriundos dos nós inferiores; planta prostrada que se espalha; desenvolvimento dos ramos extremamente variável, com alguma tendência de trepar (em pé de milho, por exemplo) em certas condições, mas geralmente mostra fraca capacidade trepadora. O florescimento, normalmente, inicia-se na parte inferior da planta. As variedades enquadradas nesse tipo apresentam tendência trepadora. As ramas laterais são numerosas e semidesenvolvidas. As vagens apresentam, na maturação, uma relativa desuniformidade. A altura das hastes principais pode atingir até 120 cm. Tipo IV: hábito de crescimento indeterminado; gemas terminais vegetativas no caule principal e ramos; forte produção de nós no caule principal, após o início do florescimento; ramos pouco desenvolvidos quando comparados ao caule principal; e tendência, que varia de moderada a forte, de trepar em suportes, imprescindíveis para a máxima produção. O florescimento, normalmente, inicia-se na parte inferior da planta. São as variedades trepadoras, com poucas ramas laterais, porém, a haste principal atinge mais de 2 m de comprimento. São mais adaptadas para plantio consorciado e para colheita manual. As características mais importantes que identificam os quatros tipos são: no tipo I; crescimento indeterminado com ramos eretos, no tipo II; crescimento indeterminado e planta prostrada, no tipo III; e crescimento indeterminado com grande capacidade trepadora, no tipo IV.

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Tipos intermediários entre II e III e III e IV podem ocorrer. Também o ambiente pode afetar o hábito de crescimento.

Figura 1 – hábitos de crescimento 4.2. Etapas de desenvolvimento da planta de feijoeiro A escala de desenvolvimento da planta de feijão divide o ciclo biológico nas fases vegetativas e reprodutivas. Estas fases, por sua vez são subdivididas em dez etapas. A fase vegetativa (V) é constituída das etapas V0, V1, V2, V3 e V4 e a reprodutiva (R), das etapas R5, 56, R7, R8 e R9 (Figura 2). Quando a semente é colocada em condições de germinar, começa o período vegetativo, que continua até o aparecimento do primeiro botão floral nos cultivares de hábito de crescimento determinado, ou a primeira inflorescência, nos cultivares de hábito indeterminado. A fase vegetativa inicia-se com a etapa V0 (germinação), cujo início corresponde ao dia da semeadura em solo úmido, ou, no caso de semeadura em solo seco, ao dia em que ocorre a primeira chuva ou irrigação, ou seja, ao dia em que há umidade para a semente iniciar a germinação. Nestas condições ocorre absorção de água pela semente, que culmina com a emergência da radícula através da micrópila, situada ao lado do hilo. Essa etapa dura em torno de 5 dias e termina quando os cotilédones atingem a superfície do solo. A etapa V1 corresponde à emergência e caracteriza-se pelo surgimento, na superfície do solo, do hipocótilo encurvado, arrastando os cotilédones, presos no primeiro nó da haste principal, caracterizando uma germinação do tipo epígea. Na etapa V2 as folhas primárias e unifolioladas encontram-se em posição horizontal. Os cotilédones murcham e adquirem um aspecto arqueado. Simultaneamente, a primeira folha trifoliolada, situada no terceiro nó da planta, inicia-se sua abertura e crescimento. A etapa V3 inicia-se quando a primeira folha trifoliada encontra-se completamente aberta e atinge este estádio quando 50% das plantas apresentam a primeira folha trifoliodada com esse aspecto. O período gasto nessa etapa varia de cinco a nove dias. Na etapa V4 a terceira folha trifoliada está completamente aberta.Nesta etapa, observa-se o desenvolvimento das primeiras hastes secundárias, que se originam das gemas axilares dos nós inferiores, e a mais desenvolvida já exibe a sua primeira folha trifoliada. Essa etapa dura de 7 a 15 dias, sendo menor os cultivares de hábito mais arbustivo e maior nos de hábito mais prostrado ou trepadores.

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A primeira etapa reprodutiva R5 (Pré-floração), prolonga-se até a abertura da primeira flor, durando cerca de dez dias. Para identificar essa etapa, principalmente o seu início, é necessário distinguir as fases juvenis entre uma primeira inflorescência e uma nova haste, ambas emergentes da axila de uma folha. No caso da inflorescência, são bastantes características as brácteas triangulares e as bractéolas arredondadas, dando ao conjunto o aspecto de uma esfera. No caso do primórdio de uma haste, a parte mais saliente é a primeira folha trifoliada; no nó onde é inserida, ocorrem as estípulas triangulares. A floração, ou etapa R6, é o período que se inicia com a abertura da primeira flor e termina com a queda da corola, expondo a primeira vagem em início de desenvolvimento. Essa etapa dura cerca de quatro a cinco dias. Considera-se que uma cultura encontra-se no estádio R6 quando 50% das plantas possuem a primeira flor aberta. A etapa R7 é considerada a fase de formação das vagens, iniciando-se com a exposição da primeira vagem após a queda da corola da primeira flor fecundada. A etapa de enchimento das vagens, ou R8, inicia-se após a primeira vagem ter atingido seu comprimento máximo e corresponde ao período em que as sementes apresentam o crescimento mais pronunciado, até atingir seu tamanho final. O final dessa etapa é determinado pela mudança de cor dos grãos, de verde para a cor característica do cultivar. A última etapa da fase reprodutiva é a R9 (maturação) e compreende desde o início de descoloração das vagens, amarelecimento e queda das folhas, principalmente as mais velhas, até a seca total da planta. Em conseqüência, há uma redução do teor de umidade das sementes e de toda a planta. Figura 2. Escala fenológica para feijão (Phaseolus vulgaris L.) (CIAT, 1983)

Período vegetativo Período reprodutivo

V0 V1 V2 V3 V4 R5 R6 R7 R8 R9

V0 – Germinação (iniciada a germinação da semente)

V1 – Emergência (50% dos cotilédones fora do solo)

V2 – Folhas primárias (par de folhas primárias abertas)

V3 – Primeira folha trifoliolada (com folíolos abertos)

V4 – Terceira folha trifoliolada (com folíolos abertos)

R5 – Pré-floração (após emissão do primeiro botão ou rácimo floral)

R6 – Floração (primeira flor aberta)

R7 – Formação de legumes (primeira vagem com a corola desprendida)

R8 – Enchimento de legumes (início de inchamento das vagens)

R9 – Maturação (primeira vagem começa a descolorir ou secar)

Semeio Botões florais Maturação /Colheita

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5. EXIGÊNCIAS EDAFOCLIMÁTICAS Apesar da sua ampla adaptação e distribuição geográfica, o feijoeiro é muito pouco tolerante a fatores extremos do ambiente, sendo uma cultura relativamente exigente no que diz respeito à maioria das condições edafoclimáticas. Dessa forma, algum conhecimento a respeito das características agroclimáticas da região e das exigências e limitações do feijoeiro é de fundamental importância para a escolha de um ambiente onde a cultura possa crescer, desenvolver-se e produzir bem, aproveitando ao máximo o potencial do cultivar utilizado, as respostas à adubação e o benefício das outras práticas ou tecnologias empregadas. Os elementos que mais influenciam a produtividade do feijoeiro são citados abaixo: 5.1. Temperatura A temperatura é o elemento climático que mais exerce influência sobre a porcentagem de vingamento de vagens e sobre o florescimento e a frutificação do feijoeiro. A temperatura média ótima durante o ciclo cultural é de 18 a 24º C, sendo 21º C a ideal. De acordo com Mariot (1989), a temperatura média durante o ciclo da cultura, na América Latina, varia entre 17,5 e 25º C, e, normalmente, época de semeadura busca a coincidência da floração com a temperatura de 21 + 2º C, considerada ótima para essa etapa do desenvolvimento, desde que associada com adequada disponibilidade de água no solo. A ocorrência de temperaturas acima ou abaixo da faixa ótima, dependendo da freqüência e da duração, pode ocasionar sérios prejuízos ao estabelecimento, crescimento e desenvolvimento da cultura, resultando em baixo rendimento de grãos. Para a floração a temperatura ideal é de 21 + 2º C, com disponibilidade de água.

Se as baixas temperaturas ocorrerem imediatamente após a semeadura, podem impedir, reduzir ou atrasar a germinação das sementes e a emergências das plântulas, resultando, possivelmente, baixa população de plantas e, consequentemente, baixa produtividade. Durante o crescimento vegetativo, baixas temperaturas reduzem a altura da planta e o crescimento de ramos, conduzindo à produção de pequeno número de vagens por planta (PORTES, 1996). Trabalhos realizados por Farlow (1981) em ambiente controlado, além de mostrarem redução no número de vagens por planta em temperaturas inferiores a 11,4º C, também evidenciaram aumento do número de sementes abortadas a partir de 12,8º C por efeito de baixas temperaturas na germinação do grão de pólen e no crescimento do tubo polínico. Portes (1996) ressalta, entretanto, que, por problemas provavelmente metodológicos, têm havido diferenças quantitativas nas temperaturas críticas observadas em diferentes pesquisas. Alta temperatura talvez seja o fator climático que exerce maior influência sobre aborto de flores e vingamento e retenção final de vagens no feijoeiro, sendo também responsável pela redução do número de sementes por vagem. Comumente, a taxa de abscisão dos órgãos reprodutivos no feijão atinge 50 a 70% do total de flores abertas (MARIOT, 1976, 1989), mas pode aumentar em temperaturas superiores a 30º C durante o dia 25º C durante a noite (KAY, 1979). Em temperaturas próximas de 35º C, não ocorre praticamente nenhum vingamento de vagens. É provável que esta maior abscisão dos órgãos reprodutivos em altas temperaturas esteja associada à maior produção do regulador de crescimento etileno (PORTES, 1988). É importante ressaltar que altas temperaturas também podem ser decisivas na ocorrência de diversas enfermidades que acometem a cultura do feijão, principalmente se associadas à alta umidade relativa do ar.

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5.2. Umidade do Solo

A água constitui outro fator limitante do rendimento da cultura, pois interfere diretamente nos processos básicos da planta, como absorção e translocação de nutrientes, fotossíntese e translocação de assimilados, transpiração, respiração e, em última análise, no crescimento e na produção de grãos (GUIMARÃES, 1988). Por esse motivo, a cultura do feijão requer boa disponibilidade de água no solo durante todo o ciclo, principalmente nas etapas mais críticas como germinação/emergência, floração e enchimento do grão. • Deficiência Hídrica

Os efeitos da deficiência hídrica iniciam-se quando a taxa de evapotranspiração é superior à de absorção de água pelas raízes. Como o sistema radicular do feijoeiro é bastante superficial, pequenos veranicos ou mesmo irrigações mais espaçadas podem reduzir o conteúdo de água na camada superficial do solo, reduzindo ou impedindo a sua absorção. Quando o déficit hídrico instala-se no período compreendido entra a semeadura e a emissão da quarta folha trifoliolada, há prejuízo na germinação, na emergência e na sobrevivência de plantas, resultando em baixo estande, o que irá se traduzir em redução no rendimento dos grãos. No entanto a fase mais crítica ao estresse hídrico é a reprodutiva. • Excesso de Água no Solo A drenagem deficiente e as irrigações excessivas podem resultar em excesso de água no solo (MOREIRA et al., 1988), cuja intensidade irá determinar acúmulo de água na superfície ou encharcamento do solo, condições não suportadas pelo feijoeiro, principalmente porque esse excesso significa arejamento inadequado ou deficiência de oxigênio. Durante o período de estabelecimento da cultura, o excesso de água no solo, muito comum nas várzeas (SILVEIRA e STONE, 1998), prejudica a germinação e limita o desenvolvimento das raízes, tornando ainda mais superficial o deficiente sistema radicular do feijoeiro. Além disso, pode favorecer a incidência de doenças radiculares, reduzindo a sobrevivência das plântulas. Se o excesso de umidade ocorrer durante o crescimento vegetativo, a superfície muito úmida do solo pode também favorecer a ocorrência de algumas enfermidades da parte aérea. É comum ainda o alongamento excessivo da primeira porção da haste principal do feijoeiro, o hipocólito, tornando a planta mais sensível ao acamamento. As etapas de florescimento e frutificação são as mais sensíveis à má aeração do solo (MOREIRA et al., 1988). A inundação no período de florescimento por dois, quatro ou seis dias pode ocasionar reduções de produção da ordem de 48%, 57% ou 68%, respectivamente (SILVA, 1982). Excesso de água no solo na fase de maturação do feijão pode ainda prolongar o ciclo cultural e atrasar as operações da colheita, além de provocar a brotação e o aparecimento de manchas no grão, principalmente em cultivares de hábito de crescimento semiprostrado ou prostrado, nos quais as vagens podem ficar em contato com o solo. 5.3. Chuvas No caso da agricultura não irrigada, as chuvas devem suprir as necessidades dos feijoeiros, sem que haja, durante o ciclo, a ocorrência de condições extremas relacionadas à umidade do solo.

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No verão, devido à freqüência e intensidade das chuvas, haverá umidade suficiente para as fases vegetativa e reprodutiva do feijoeiro, mas poderão ocorrer períodos de excesso de água no solo, com as conseqüências já mencionadas. Além disso, a coincidência de chuvas prolongadas na colheita poderá trazer sérios prejuízos ao produtor, impedindo o arranque das plantas ou a secagem dos grãos, e, permanecendo no campo ou no terreiro de secagem, aumentará a possibilidade de brotação ou de surgimento de manchas nos grãos, o que deprecia o valor de produção ou torna o produto inadequado à comercialização. Chuva em excesso durante o ciclo também favorece o desenvolvimento de doenças radiculares e contribui para a disseminação de patógenos da parte aérea do feijoeiro. De acordo com Fageria (1989), não deve ser desprezado ainda o efeito do excesso de chuvas sobre a lixiviação dos nutrientes, prejudicando a produção pela deficiência nutricional. Quando a semeadura do feijão é realizada no mês de fevereiro ou março no final do período chuvoso, geralmente há boa disponibilidade de água no solo durante a fase vegetativa ou mesmo até o florescimento, mas a umidade pode ser limitante da formação de vagens ou do enchimento de grãos, reduzindo a produtividade ou frustrando a safra. 5.4. Umidade Relativa do Ar e Ventos Baixa umidade relativa do ar associada a altas temperaturas aumenta a demanda de água pela planta, que passa a transpirar mais, apresentando, assim, elevada tensão hídrica, o que reduz o pegamento e a retenção final de vagens (PORTES, 1988). Este efeito é agravado pelo vento. Em lavouras irrigadas por aspersão, devem ser evitados os horários de vento para se realizarem as irrigações, pois a distribuição de água fica bastante desuniforme. 5.5. Radiação Solar Por causa de seu reflexo nas taxas de fotossíntese, a radiação solar também é fator climático importante. O feijoeiro, entretanto, na prática, não tem sua produção limitada por essa radiação, pois apresenta baixa irradiância de saturação, ou seja, já não ocorre aumento na taxa fotossintética a partir de densidades de fluxo radiante relativamente baixas, da ordem de 30 a 40 Klux. A interceptação de radiação solar pelas plantas e a utilização dessa energia para a produção de biomassa representam o processo fundamental que governa o crescimento e a produtividade. Grande produção de folhas e ramos podem causar o auto-sombreamento reduzindo o rendimento dos grãos.

A importância da radiação solar varia com as fases fenológicas do feijoeiro. A fase vegetativa, por exemplo, apresenta baixa resposta à radiação solar. Os maiores incrementos na produtividade, para níveis crescentes de radiação solar, são obtidos, respectivamente, durante as fases reprodutiva e de maturação. 5.6. Zoneamento Agroclimático

O zoneamento agroclimático para uma cultura consiste essencialmente na delimitação das áreas em que esta espécie encontra seu regime hídrico-energético ideal, podendo assim expressar o seu máximo rendimento, de acordo com seu potencial genético. Na sua elaboração são utilizadas as exigências climáticas da cultura, as características climáticas da região considerada e índices climáticos selecionados de acordo com o objetivo do estudo, resultando na elaboração de

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mapa que delimita as áreas de coincidência ou não entre as exigências climáticas prevalecentes (OMMETO, 1981).

Esta tecnologia mostra, climaticamente, como minimizar os efeitos negativos decorrentes das irregularidades na distribuição pluvial. Com isso, entende-se que será possível viabilizar soluções tecnológicas para um agronegócio competitivo, na medida em que seu foco central é de procurar reduzir os riscos climáticos, e orientar o crédito e o seguro agrícola para tomada de decisões referentes ao calendário de plantio.

Fonte: Unidade de Apoio Técnico Agrometeorologia, Embrapa Arroz e Feijão, 2005. Com a definição do zoneamento agroclimático, analisando a imagem acima, pode-se observar

que o feijoeiro poderá ser semeado, com uma boa probabilidade de sucesso, em janeiro e fevereiro, em algumas áreas dos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia. Entretanto, para semeaduras realizadas após 15 de fevereiro, o risco climático é bastante acentuado para o cultivo do feijoeiro, exceto em algumas localidades do Estado de Mato Grosso, o qual apresenta uma distribuição pluvial bastante regular. 5.7. Textura do Solo O feijoeiro pode ser cultivado em solos com textura que pode variar de arenosa leve a argilosa pesada, incluindo solos turfosos, mas os solos argilosos e mal drenados deverão ser evitados nas semeaduras de outubro e novembro, assim como as baixadas úmidas ou sujeitas à inundação ou ao encharcamento. Nesses meses, devem ser preferidos para a semeadura os terrenos mais altos e com bom arejamento, evitando-se o excesso de água no solo. Em solos argilosos pesados, são mais freqüentes os problemas ocasionados por fungos de solo e a formação de crosta superficial, que dificultam a emergência do feijoeiro, reduzindo a população de plantas. Da mesma forma, os solos pesados são também os mais sujeitos à formação de camada compactada na subsuperfície (o chamado pé-de-grade), proveniente do excesso de operações com máquinas sobre o terreno e de efeitos desastrosos para o crescimento do sistema radicular do feijoeiro.

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5.8. Compactação do Solo A compactação do solo geralmente está relacionada a menor aeração, menor fluxo de água e maior resistência à penetração de raízes, sendo normalmente atribuída ao intenso tráfego de máquinas e implementos (ALVES et al., 2003a). Em virtude da aplicação de cargas ou pressões, a compactação provoca aumento da densidade do solo por meio da redução da porosidade e modificação da sua estrutura (LINDERMANN et al., 1982). As raízes, quando impedidas de penetrar em solos com alta resistência mecânica, tendem a desviar-se e crescer horizontalmente sobre a camada compactada, inibindo a absorção das reservas de água do subsolo e aumentada a sensibilidade em curtos períodos de seca (DEXTER, 1986). Além disso, a compactação pode reduzir o comprimento radicular, o que, às vezes, é acompanhada de certa compensação de diâmetro, que se torna maior, reduzindo a eficiência na absorção de água e nutrientes. 5.9. Declividade do Solo Atenção especial deverá ser dada no que se refere ao controle da erosão nas lavouras, porque, na maioria da regiões produtoras, principalmente nas tradicionais (sul de Minas e Zona da Mata), predominam áreas de topografia acidentada. Uma vez que o feijão tem crescimento inicial muito lento e o solo fica demasiadamente exposto à ação erosiva nesta fase, principalmente na semeadura das “águas”, quando chuvas fortes são mais freqüentes. 5.10. Fatores Químicos do Solo Não havendo limitações climáticas, nem impedimentos físicos para o desenvolvimento das raízes, o crescimento e a produção do feijoeiro dependem das características químicas do solo. Além da reação ou acidez desse, é importante a sua capacidade em suprir os nutrientes nas quantidades adequadas para o crescimento normal das plantas (MORAES, 1988). • Reação do Solo De acordo com a maioria dos resultados disponíveis, o feijoeiro apresenta máxima produtividade numa faixa de pH de 5,5 a 6,5. Quanto menor o pH do solo, maior o efeito dos íons tóxicos (Al+3, Mn+2 e H+) que limitam o crescimento radicular, o desenvolvimento da parte aérea e a produção. Dessa forma, menores serão a disponibilidade de nutrientes para as plantas e a fixação simbiótica de nitrogênio, resultando em menor crescimento e rendimento de grãos. Há variabilidade quanto à suscetibilidade do feijoeiro às condições de acidez dos solos, sendo possível abordar o problema por meio do melhoramento genético (AZEVEDO FILHO; SANTOS, 1993). Resultados de pesquisa mais recentes têm evidenciado ainda a interação calagem x adubação, mostrando influência da calagem não só na resposta à aplicação de fertilizantes, mas também na seleção de fontes mais adequadas para os diferentes nutrientes (ROSOLEM, 1996; SILVA et al., 1995). Devido à sensibilidade do feijoeiro, solos com acidez excessiva poderão ser utilizados desde que se faça calagem com antecedência de pelo menos 30 dias em relação à semeadura (ROSOLEM, 1996). Entretanto, solos recentemente corrigidos ou com supercalagem decorrente da aplicação superficial de calcário (muito comum no plantio direto) podem apresentar problemas de disponibilidade de micronutrientes (LOPES, 1999).

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• Fertilidade do Solo A disponibilidade de nutrientes logo após a germinação é essencial para o estabelecimento da cultura. Qualquer limitação no suprimento de nutrientes, no período logo após a germinação da semente, atrasa e diminui a formação de raízes, comprometendo o crescimento das plantas. Considerando que a concentração dos nutrientes na solução dos solos de Minas Gerais é baixa, que a sua movimentação no perfil do solo é restrita e que o volume de solo explorado pelas raízes do feijoeiro é pequeno (85% das raízes concentram-se nos primeiros 20 cm) (CHAIB et al., 1984), boas produções são obtidas somente em solos de excelente fertilidade ou devidamente adubados. • Salinidade e Teor de Sódio Solos com elevado teor de sais podem trazer sérios inconvenientes à implantação de lavouras de feijão, uma vez que o feijoeiro é uma das espécies mais sensíveis a elevados teores de sódio trocável e também à alta condutividade elétrica no solo. Deve-se registrar ainda que solos normais também podem se tornar improdutivos se receberem sais solúveis em excesso, em razão de irrigações mal conduzidas com água salina (SOUZA, 1995). Segundo Bernardo (1996), o feijão é considerado uma cultura pouco tolerante à água de irrigação, podendo haver redução de até 50% na produção da cultura quando irrigada com água com valores acima de 2,4 dS m-1 de condutividade elétrica. Nessas condições, portanto, as análises de condutividade elétrica e o teor de sódio trocável devem complementar à analise de rotina como uma ferramenta auxiliar na escolha do solo para a implantação de lavouras de feijão. 6. MANEJO DO SOLO E PLANTIO O preparo do solo é o conjunto de práticas que antecede ao plantio e que objetiva, basicamente, oferecer condições ideais para semeação, germinação, emergência, estabelecimento das plântulas e desenvolvimento da cultura. Além de auxiliar o controle de plantas daninhas, o adequado preparo do solo favorece a infiltração de água e o arejamento do solo e facilita o crescimento e o desenvolvimento do sistema radical das plantas. O manejo do solo, ao interferir nas suas propriedades químicas, físicas e biológicas, deve ser executado de forma a assegurar a sustentabilidade das atividades agrícolas. O manejo adequado é entendido como uma associação de práticas por meio das quais se preserva ou melhora as condições do solo. Entre essas, enquadram-se práticas culturais, como conhecimento e adequação da capacidade de uso do solo; manejo dos resíduos de culturas, o que proporciona a redução das perdas do solo pela erosão e auxilia na reposição de nutrientes e matéria orgânica; e rotação de culturas, como forma de quebrar o vício nocivo do monocultivo contínuo, que tende, ao longo do tempo, a provocar o aumento da incidência de plantas daninhas, pragas e doenças, bem como alterar características físicas e químicas do solo, provocando, consequentemente, sensíveis quedas no rendimento das culturas. O preparo do solo, quando realizado de maneira incorreta, leva rapidamente à degradação das suas características, culminando com o declínio paulatino do seu potencial produtivo. Deve-se evitar a generalização de recomendações, pois as áreas diferem quanto aos aspectos edáficos e fisiográficos, podendo, assim, necessitar de manejos diferentes.

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Diversas formas de manejo do solo têm sido estudadas nos sistemas agrícolas, com especial atenção aos sistemas de manejo conservacionistas, de forma a garantir a conservação do solo e da água. A queima dos restos culturais não deve ser recomendada. Essa prática é comum principalmente entre os pequenos agricultores. Entretanto, apesar de ainda ser utilizada com a justificativa de facilitar o preparo do solo, a queima vem perdendo espaço devido à maior conscientização dos agricultores. Muitas vezes, a queima é feita bem antes do preparo do solo, e o prejuízo é maior, pois sua conseqüência é danosa, podendo reduzir a infiltração de água e aumentar a suscetibilidade do solo à erosão (Quadro 2), além de reduzir o teor de matéria orgânica, influenciando diretamente várias características do solo, como a capacidade de retenção de água e de cátions. Durante a combustão dos restos culturais, também grande quantidade dos nutrientes neles contidos (Quadro 3) pode ser perdida. O enxofre e o nitrogênio são volatilizados e os nutrientes ali contidos são convertidos em formas inorgânicas e perdidos, com facilidade, por lixiviação ou, mais frequentemente, na enxurrada. Quadro 2 - Perdas do solo por erosão e de água como resultado do manejo da palhada do milho em solo com declividade de 8,5 a 12% (1.300 mm de água da chuva)

Sistema de incorporação Perdas de solo (t/ha) Perdas de água (%)

Palhada de milho queimada 20,2 8,0 Palhada de milho enterrada 13,8 5,8 Palhada de milho na superfície 6,5 2,5

Fonte: Bertoni et al. (1972).

Muitas vezes, o próprio sistema de produção faz com que o manejo dos restos culturais seja inadequado. É o caso do feijão que, de modo geral, nas pequenas propriedades, é trilhado fora da área de cultivo, em terrenos de cimento ou em chão batido previamente preparado. Após a trilha, a palhada é incinerada ou utilizada para outros fins, em vez de retomar à área de cultivo. Neste sistema, pode-se considerar o feijoeiro como planta extremamente esgotante do solo, pois praticamente todos os nutrientes extraídos são retirados da área de cultivo. Quadro 3 - Nutrientes contidos nos restos culturais de algumas culturas, em Kg/há

Nutrientes Arroz1/ Feijão2/ Milho3/

N 29 65 54,8 P 4 5 2,8 K 76 71 57,2 Ca 16 50 17,4 Mg 3 14 14,2 S 4 15 7,2 1Fonte: Furlani et al. (1977). 2Fonte: adaptado de Cobra Netto et al. (1971). 3Fonte: adaptado de Hiroce et al. (1989).

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6.1. Métodos de Preparo do Solo A escolha do método de preparo do solo, importante para a sua conservação, é complexa e pode variar drasticamente de acordo com o tipo de solo, região, condições climáticas etc. Os principais pontos a serem analisados para a escolha do método são o grau de compactação do solo, o volume de restos culturais e de invasoras e a fertilidade do solo, até a profundidade explorada pelas raízes. Os métodos de preparo do solo em áreas já cultivadas podem ser classificados em convencional, reduzido e plantio direto. � Preparo Convencional do Solo No sistema convencional de preparo do solo, utilizam-se equipamentos de disco, podendo ser arados ou grades. Esses equipamentos ainda são muito difundidos nas mais diferentes regiões, pois atuam muito bem na maioria dos solos. Os arados de aiveca têm-se mostrado uma alternativa, pois tornam o leito de semeadura mais adequado que o arado de disco. As operações convencionais de preparo do solo normalmente envolvem uma aração e duas gradagens, sendo a primeira logo após a aração e a segunda imediatamente antes do plantio. A segunda gradagem, alem de facilitar a semeadura, auxilia no controle de plantas daninhas. Quando há, sobre a superfície do solo, grande quantidade de palhada ou de outro material vegetal qualquer, é aconselhável incorporá-la ao solo com uma grade, pelo menos 15 a 20 dias antes da aração. Antes de preparar o solo, deve-se avaliar a possibilidade de trafegar no terreno com trator e máquinas pesadas. A capacidade do solo de suportar e permitir o trabalho dessas máquinas depende muito da sua umidade e textura. Umidade elevada e pressão do implemento de preparo do solo provocada pelo tráfego intenso de máquinas agrícolas levam à formação de duas camadas distintas: uma superficial pulverizada e a outra compactada (pé-de-grade), localizada, normalmente, a uma profundidade de 15 a 20 cm. A umidade do solo, quando excessiva, além de predispô-lo à formação de camada subsuperficial compactada, impede, muitas vezes, quando ele é argiloso, a preparação desejada em razão da aderência do solo aos implementos. Quando se encontra muito seco, o desgaste dos equipamentos é mais intenso e, para o destorroamento, há necessidade de maior número de gradagens. O método que envolve a pré-incorporação com grade, seguida de aração, é o mais aconselhável, porque a aração fica mais uniforme e os resíduos orgânicos triturados são incorporados mais uniformemente ao solo. Com uma aração bem feita, pode-se prescindir da gradagem de nivelamento, preservando, assim, a porosidade do solo. � Preparo Reduzido (cultivo mínimo) A redução do número de operações de preparo do solo tem sido uma preocupação na agricultura, de forma a economizar tempo, trabalho e combustível, diminuir a erosão e alcançar a sustentabilidade. Também conhecido como preparo mínimo ou cultivo mínimo, o preparo reduzido é um sistema que tem como objetivo reduzir as perdas de solo e da água por meio de uma seqüência de operações.

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� Plantio Direto A degradação do solo, devido às suas drásticas conseqüências, tem levado à busca de sistemas de produção que possibilitem maior eficiência energética e menor agressão ao ambiente, criando-se novos paradigmas tecnológicos na agricultura, baseados na sustentabilidade. A opção que se tem mostrado bastante viável para atender essas necessidades é o sistema de plantio direto (PD). As denominações plantio de palha, semeadura direta, cultivo zero etc. são usadas para definir o sistema de plantio que consiste, basicamente, na semeação sem o preparo prévio do solo. No plantio direto, o solo só é preparado na região em que se deposita a semente. Um pequeno sulco ou cova é aberto com profundidade e largura suficientes para permitir adequada cobertura e contato da semente com o solo. O sistema de PD é reconhecidamente uma tecnologia conservacionista, sendo adotado como forma de proteger o ambiente e de favorecer a sustentabilidade da exploração agrícola (MEIRELES et al., 2003). Conforme Cruz et al. (2001), o PD reúne alguns princípios que interagem entre si: a) ausência de movimentação ou mobilização mínima do solo para a semeadura, numa faixa estreita da superfície do terreno; b) manutenção de resíduos orgânicos sobre o solo, que, além de aumentar a matéria orgânica, o protege dos impactos das gotas de água e dos ventos; reduz o escorrimento superficial da água e a erosão; e protege o solo contra os efeitos de raios solares, com conseqüente redução da evaporação, da temperatura e da amplitude térmica; c) controle químico de plantas daninhas por meio de herbicidas dessecantes, que substituem a energia mecânica do preparo do solo (óleo diesel, que é não renovável) pela energia química; d) rotação de culturas, por meio da combinação de diferentes espécies, de forma a interromper o ciclo de doenças, pragas e plantas daninhas, garantir a manutenção do balanço e reciclagem de nutrientes, dentre outros benefícios; e e) utilização de semeadoras equipadas com dispositivos apropriados de corte de palha e de abertura de sulcos, especialmente desenvolvidos para trabalhar nessas condições e deixar o máximo de palha sobre o solo. A adoção do PD deve ser calcada nos seguintes objetivos: redução de custo de produção; melhoria da produtividade e da qualidade, preservando e recuperando recursos naturais; atendimento ao mercado com produtos agrícolas obtidos com menor impacto ambiental; redução do uso de máquinas, com menor consumo de energia fóssil; e recuperação da estrutura do solo, reduzindo ao mesmo tempo a perda do solo pela erosão, mantendo a fertilidade economizando o gasto com fertilizantes. O sucesso da implantação e do estabelecimento do plantio direto depende de vários fatores (CRUZ et al., 2001), entre os quais: a) qualificação do agricultor e da mão-de-obra, de forma a monitorar a dinâmica de pragas, doenças e plantas daninhas, a regulagem e o funcionamento das máquinas e implementos agrícolas, o manejo de fertilizantes e as modificações causadas ao ambiente; b) eliminação de camadas do solo adensadas ou compactadas, antes da implantação do sistema, pois elas podem reduzir a infiltração de água no solo, favorecer o escorrimento superficial e a erosão e induzir a disposição das raízes nas camadas superficiais, reduzindo o volume de solo explorado, tanto em termos de nutrição de plantas quanto de absorção de água; c) drenagem e nivelamento adequado do solo para evitar os efeitos nocivos do encharcamento aos feijoeiros, isto é, sulcos ou valetas, que dificultam o funcionamento das máquinas e implementos desenvolvidos para esse sistema de plantio;

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d) redução dos teores de alumínio trocável e correção da acidez do solo e dos níveis de fertilidade, principalmente de fósforo, até 30 a 40 cm de profundidade, antes da adoção do sistema; e) rigoroso programa de manejo e controle de plantas daninhas, com as devidas atenções às espécies perenes; f) adequada disponibilidade de resíduos vegetais na superfície do solo, que devem cobrir, ao menos, 50% da área, ou disponibilizar 6 t/ha de matéria seca como cobertura; e g) utilização do picador e distribuidor de palhas nas colhedoras, de forma a promover adequada distribuição dos resíduos vegetais na superfície do solo, conferindo-lhe maior proteção e facilitando o plantio. Alguns agricultores, motivados pelos benefícios alcançados com a adoção do plantio direto em várias regiões brasileiras, têm adotado o sistema sem os devidos atendimentos às exigências básicas. Entretanto, a inobservância de alguns dos requisitos essenciais compromete a viabilidade técnica e econômica, gera frustrações e, muitas vezes, implica o abandono do sistema de PD antes que ele possa manifestar todo o seu potencial. 6.2. Compactação do Solo O preparo inadequado do solo leva à destruição dos agregados e à compactação. Assim, a pressão dos equipamentos de preparo pode provocar, com o passar dos anos, a compactação do solo. A grade aradora normalmente trabalha o solo em pouca profundidade, incorporando resíduos culturais e plantas invasoras superficialmente. A profundidade de penetração desse implemento no solo depende de seu peso, do diâmetro dos discos, do ângulo formado com a linha de tração do trator e do teor de água do solo. A compactação altera o padrão de crescimento das raízes, pelo aumento da resistência e decréscimo na porosidade do solo. O solo está compactado, quando a proporção do volume total dos poros para o volume total do solo é inadequada para o máximo desenvolvimento de uma cultura ou manejo eficiente do campo. A porosidade é um termo de significado importante em relação à compactação do solo, uma vez que relaciona o conteúdo de água e ar no volume de solo explorado pelas raízes. É comum observar áreas com solo severamente compactado, no qual as raízes das culturas penetram, ficando concentradas acima dessa camada. A água também tem sua taxa de infiltração reduzida e, em conseqüência, aumenta-se o deflúvio e a erosão. O rompimento da camada compactada deve ser feito com um implemento que alcance a profundidade, imediatamente abaixo do seu limite inferior. Até 35 cm, ela pode ser rompida com arado de aiveca ou arado escarificador; já em profundidades maiores, com subsolador. 7. MÉTODOS CULTURAIS 7.1. Espaçamento e Densidade A utilização correta do espaçamento e da densidade de plantio na cultura do feijão é pratica cultural de baixo custo e de fácil entendimento e adoção pelos agricultores. A distribuição adequada de plantas tem efeito sobre o controle de plantas daninhas e podem representar uma estratégia importante para a utilização mais eficiente de alguns fatores de produção, como luz, água e nutrientes. Quando as plantas estão bastante próximas, uma sombreia a outra e as raízes exploram a água e os nutrientes no mesmo espaço do solo. O efeito da competição é mais drástico quando esses recursos se encontram em quantidades inferiores às necessidades das plantas.

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De acordo com Brandes (1971), a luz é um dos principais fatores de competição entre os feijoeiros durante a fase reprodutiva, período em que a área foliar atinge o máximo. Por ser uma planta muito plástica, o feijoeiro consegue compensar a variação do estande. Quando o estresse ambiental, que afeta o rendimento, ocorre durante a fase de desenvolvimento da planta de feijão, o número de vagens por planta é o componente mais afetado, seguido pelo número de sementes por vagem e pelo peso do grão. Nos últimos anos, o lançamento de cultivares mais eretos, o expressivo aumento das áreas irrigadas e o uso elevado de insumos têm estimulado a semeadura em espaçamento mais reduzido. Entretanto, de modo geral, os espaçamentos mais recomendados são de 40 a 50 cm entre fileiras com 10 a 15 sementes por metro, o que redunda em populações de 200 a 375 mil plantas/ha, em geral, procura-se obter cerca de 250 mil plantas por hectare. Populações maiores implicam maior gasto de sementes por área, sem a compensação de obter maior produtividade, e populações menores reduzem o rendimento. Nos cultivos irrigados de inverno, um maior intervalo entre fileiras, a fim de provocar melhor circulação do ar, constitui medida auxiliar de controle do mofo-branco. 7.2. Profundidade de Semeadura A profundidade de semeadura pode gerar desuniformidade na emergência e o tombamento das plântulas, além de propiciar ambiente favorável à proliferação e ao ataque de fungos do solo. Quando superficial, a semeadura pode favorecer o tombamento das plantas, além de predispô-las aos efeitos danosos da seca, uma vez que o seu sistema radical distribui-se na superfície do solo, onde o ressecamento é mais rápido. Quando em profundidade excessiva, poderá surgir uma camada impermeável na superfície do solo, provocada pelo ressecamento, impedindo a emergência das plântulas. Maior profundidade também pode ocasionar falha na emergência e no estande e favorecer o ataque de doenças. Geralmente utiliza-se a profundidade de plantio para solos argilosos de 3 a 4 cm e solos arenosos de 5 a 6 cm e em solos irrigados a profundidade poderá ser menor devido ao abastecimento freqüente de água para a cultura. 7.3. Inoculação de sementes com rizóbio O feijoeiro possui a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico quando em simbiose com bactérias do gênero Rhizobium. A simbiose feijoeiro-rizóbio apresenta alta sensibilidade às condições ambientais, e portanto, apresenta baixa previsibilidade. A inoculação das sementes é sugerida para níveis tecnológicos NT1 e NT2, os de menores produtividades, devido às menores doses de nitrogênio recomendadas no plantio. Nos sistemas de produção irrigados (NT3 e NT4) utilizam-se maiores doses de nitrogênio no plantio onde a nodulação é reduzida. 7.4. Tratamento de sementes Atualmente não mais se admite um plantio comercial de feijão para o qual não se realize tratamento de sementes com fungicidas. O tratamento de sementes com produtos químicos deve ser visto como uma segurança adicional de que as sementes não irão se constituir em veículos de disseminação de doenças. Patógenos localizados externamente à semente são facilmente controlados com fungicidas protetores. O controle mais eficaz, entretanto, é conseguido com fungicidas sistêmicos, que

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penetram tanto o tegumento quanto o embrião. Algumas pragas iniciais do feijoeiro também podem ser eficientemente controladas com o tratamento de sementes. 7.5. Qualidade da semente É o primeiro passo para se alcançar a alta produtividade na cultura do feijoeiro. A qualidade da semente é expressa pela interação de quatro componentes: genético, físico, fisiológico e sanitário. Componente genético: características intrínsecas do cultivar, potencial produtivo, resistência às pragas e doenças, arquitetura da planta e qualidade culinária, entre outras. Componente físico: refere-se à pureza do lote e a condição física da semente. A pureza física do lote é prejudicada pela presença de sementes de outras espécies e por substâncias inertes. A condição física do lote envolve o teor de umidade, tamanho, cor, formato e densidade da semente, que devem ser uniformes. Componente fisiológico: refere-se à longevidade da semente e à sua capacidade de gerar uma planta perfeita e vigorosa, avaliados pelo teste de germinação e vigor. A qualidade fisiológica é influenciada pelo ambiente em que as sementes se formaram e pelas condições de colheita, secagem, beneficiamento e armazenamento. Componente sanitário: refere-se à qualidade sanitária, ao efeito deletério provocado pelos microorganismos associados às sementes, desde o campo de produção até o armazenamento. 7.6. Gastos de Sementes A quantidade de sementes depende de vários fatores, entre os quais o espaçamento entre fileiras, a massa das sementes, o número de sementes por metro de fileira, a umidade e fertilidade do solo, a época de plantio, o sistema de cultivo. Na prática, pode-se pensar em um gasto de sementes em torno de 50-60 Kg/ha para os cultivares de sementes pequenas, como os dos tipos comerciais carioca, preto e vermelho, e para os feijões do tipo manteigão o gasto com sementes é praticamente o dobro. No cálculo do gasto de sementes, pode-se utilizar a fórmula: Q = M.D.A 1000.G.E em que: Q = quantidade de sementes, em Kg; M = massa de 100 sementes, em g; D = no de sementes por metro de fileira; A = área da lavoura, em m2; G = poder germinativo das sementes, em %; e E = espaçamento entre fileiras, em m.

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Exemplo: para o plantio de um hectare, no espaçamento de 50 cm entre linhas e 12 sementes por metro de linha, usando-se sementes cuja massa média é de 20 g por unidades e poder germinativo de 90%, seriam gastos: Q = 20 x 12x 10.000 = 53,3 Kg 1.000 x 90 x 0,5 7.4. Épocas de Plantio O feijão pode ser semeado de janeiro a dezembro, mas as diversas áreas de produção apresentam, cada uma delas, as épocas preferenciais, que basicamente dependem das condições climáticas. Áreas de verão muito quente servem para plantio nessa estação, pois o excesso de calor não só diminui a porcentagem de flores que vingam, como também faz decrescer o número de sementes por vagem. Inverno rigoroso, por sua vez, é desfavorável ao crescimento da planta. Em certas áreas, como Viçosa e municípios vizinhos, que fogem dos excessos climáticos mencionados, pode-se semear feijão em qualquer mês, obviamente com o emprego da irrigação nos meses secos do meio do ano. Deve-se também lembrar, que há alguma diferença entre as cultivares, quanto a tolerância à alta ou à baixa temperatura. Podem-se classificar as épocas de plantio do feijão pelas datas de plantio e colheita. Assim, têm-se os cultivos de primavera-verão, verão-outono, outono-inverno e inverno-primavera, ou seja, as semeaduras de primavera, verão, outono e inverno. ► O cultivo de primavera-verão constitui o que os agricultores denominam feijão das “águas”. A semeadura é feita em outubro ou novembro, em pleno período chuvoso, e a colheita no começo do verão. Apresenta a grande vantagem de, normalmente, dispensar a irrigação, porém possibilita as seguintes desvantagens: a) a colheita pode ser perdida ou, então, colhem-se grãos manchados e germinados, se chover na época da maturação; b) em algumas áreas, o excesso de calor no período de floração prejudica seriamente o rendimento cultural; c) em terrenos planos e mal drenados, o excesso de chuvas pode ocasionar encharcamento do solo, com a conseqüente morte de feijoeiros; d) o excesso de chuvas pode favorecer certos patógenos; e) ocorre maior problema com as plantas invasoras. ►O cultivo de verão-outono é muito apreciado pelos pequenos agricultores, apesar do perigo de chover escassamente a partir de abril e, às vezes, a partir de março. Eles enfrentam esse perigo com o cultivo consorciado com o milho (já em processo de maturação), que cria um microclima favorável aos feijoeiros. Evidentemente, a escassez de chuvas pode ser corrigida pela irrigação, prática pouco empregada pelos pequenos agricultores. Esse cultivo resulta no chamado feijão da “seca”, também denominado, em algumas áreas, feijão “do tempo”. O cultivo de verão-outono possibilita a colheita em época praticamente livre de chuvas, resultando na obtenção de grãos de ótima qualidade. Mas também há desvantagens: a) a escassez e a má distribuição das chuvas ocorrem com freqüência, provocando baixas produções; b) o período é mais favorável ao ataque da cigarrinha-verde;

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c) maior problema com o mosaico-dourado, nas áreas onde ocorrem essa virose. ►O cultivo de outono-inverno é o preferido pelos grandes produtores, os quais utilizam alta tecnologia, incluindo o emprego de irrigação por pivô central. A semeadura é feita no outono (abril a junho) e a colheita no inverno. Nessa época praticamente não chove, tornando obrigatória a irrigação. Esta semeadura é denominada, por muitos, como “terceira época de plantio” ou “feijão de inverno”. Grandes vantagens são apontadas para o cultivo de outono-inverno: a) possibilita maior envolvimento do empresário agrícola, pois tratando-se de cultura irrigada, exige investimento e alta tecnologia; b) a produção é garantida, atingindo altos rendimentos (2 a 3 t/ha ou mais); c) a cultura torna-se menos dependente de fatores climáticos, ocorrendo maior estabilidade de produção; d) a colheita é feita em período seco, o que a torna fácil, além de possibilitar a obtenção de grãos de ótima qualidade; e) a cultura do feijão pode-se expandir sem concorrer, em área, com outras plantas, como soja e arroz, plantadas na primavera. O cultivo de outono-inverno não é indicado para áreas de inverno muito rigoroso, o que tem favorecido o surgimento de duas doenças destrutivas: mofo-branco e murcha-de-fusarium. No início do outono, pode também ocorrer problema com o mosaico-dourado. ►Por vezes, o cultivo irrigado de feijão é retardado, sendo a semeadura realizada em pleno inverno, isto é, em julho ou começo de agosto, e a colheita no início da primavera. É o cultivo de inverno-primavera. Em área de inverno mais rigoroso, a semeadura muitas vezes é realizada em pleno agosto, com o objetivo de a cultura irrigada escapar dos rigores do frio. Neste caso a colheita acontecerá em novembro. A grande desvantagem do cultivo de inverno-primavera em relação ao de outono-inverno é a possibilidade de a estação chuvosa começar mais cedo, em fins de setembro ou início de outubro, o que traria problemas tanto para a colheita, quanto para a qualidade dos grãos. Chuvas prematuras podem anular ou atenuar as vantagens do cultivo irrigado. Mofo-branco e murcha-de- fusarium também podem constituir problema. 8. MANEJO DE PLANTAS DANINHAS O manejo de plantas daninhas é uma técnica importante em muitos agroecossistemas e a definição dessas plantas não é tão fácil. Entre numerosas definições, há a que “plantas daninhas são aquelas que estão fora de lugar”. Por exemplo, em uma lavoura de feijão, plantas voluntárias de milho provenientes de sementes do cultivo anterior são consideradas plantas daninhas. Por ser cultivado em diversas épocas do ano, em diferentes sistemas de cultivo (solteiro e consorciado) e nas mais variadas condições edafoclimáticas, o feijoeiro pode sofrer interferência de diversas espécies de plantas daninhas. Além disso, por tratar-se de planta de ciclo de vida curto, é bastante sensível à competição, sobretudo nos estágios iniciais de desenvolvimento vegetativo. Quando não são controladas adequadamente, as plantas daninhas, além de competir por fatores essenciais (água, luz e nutrientes), dificultam a operação de colheita, depreciam a qualidade do produto e servem, ainda, como hospedeiras intermediárias de insetos, nematóides e agentes causadores de doenças.

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O período crítico de competição situa-se entre os estágios V4 - emissão da terceira folha trifoliada e R6 - floração. A partir do estágio V4, há um aumento pronunciado do índice de área foliar. Esse estágio de crescimento é considerado um dos mais importantes, pois determina o arranque da planta do feijoeiro. Qualquer estresse (hídrico, nutricional, competição com plantas daninhas, fitotoxicidade de produtos químicos) que ocorra nesse estágio pode prejudicar o desenvolvimento da planta.

Nos plantios da “seca” e de outono-inverno, no Centro-Sul, as temperaturas são mais baixas e favorecem o desenvolvimento do feijoeiro, tornando mais fácil o controle das plantas C-4 (plantas nas quais o primeiro produto da fotossíntese é um composto com quatro átomos de carbono), na maioria gramíneas. No período das águas, a ocorrência de altas temperaturas e de intensa radiação solar favorece o desenvolvimento das gramíneas em detrimento do feijoeiro, tornando-se obrigatório iniciar o controle mais precocemente de gramíneas C-4, bem como de outras espécies como a beldroega, carurus e tiririca, sendo estas alguns exemplos de plantas daninhas altamente agressivas em cultivos de verão.

O controle de plantas daninhas deve ser visto como uma forma de elevar os patamares de rendimento econômico da cultura tentando manter o potencial produtivo que possui o solo. Há três tipos de controle: Controle preventivo: � evitar o uso de sementes contaminadas com propágulos; � evitar o transporte de órgãos reprodutivos para áreas não infestadas e evitar a reprodução das

plantas daninhas; � a gradagem deve ser o mais próximo possível do momento da semeadura; � no plantio direto, deve-se realizar a dessecação no momento oportuno, buscando obter o

máximo de eficiência. Controle mecânico: � o controle mecânico envolve a capina manual e o cultivo por meio de tração animal ou trator; � a capina manual ainda é ainda muito utilizada pelos agricultores de subsistência; � a capina manual demanda muita mão-de-obra em torno de 16 serviços por hectares. Controle químico: � o controle químico é o mais recomendado atualmente, é o mais barato e tem maior flexibilidade; � a dificuldade desse tipo de controle é que se trata de uma operação que exige conhecimentos

tecnológicos; � é preciso ler com atenção e utilizar as recomendações preconizadas pelos fabricantes; � os produtos disponíveis no mercado podem ser aplicados no pré-plantio, na pré-emergência e na

pós-emergência; � os herbicidas pós-emergentes têm sido preferidos porque possibilita verificar a infestação que

está ocorrendo e escolher o produto.

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Tabela 1. Alguns herbicidas recomendados para a cultura do feijoeiro.

Metolachlor Dual 960 CE

Pré Gramíneas e algumas folhas largas

2,0 a 3,0 L Aplicar logo após o plantio, em solo úmido, ou irrigar logo após.

Pendimenthalin Herbadox 500 CE

PPI ou Pré Gramíneas e folhas largas

1,5 a 3,0 L Incorporar ao solo

Trifuralin Herbiflan, Trifuralin,

PPI Gramíneas e algumas folhas largas

1,2 a 2,4 L Aplicar em solo bem preparado, seco ou pouco úmido. Incorporar ao solo até oito horas após a aplicação.

Sethoxydim Poast Pós Gramíneas 1,25 L Aplicar quando a cultura apresentar até três folhas trifolioladas, com o solo úmido e umidade relativa entre 70% e 90%.

Bentazon Basagran Pós Folhas largas 1,5 a 2,0 g //////////////////////////

Imazamox Sweeper Pós Folhas largas 42 g //////////////////////////

Fluazifop-p-butil Fusilade Pós Gramíneas 0,75 a l,0 L

Aplicar quando a cultura apresentar até quatro folhas trifolioladas, e as gramíneas, até três perfilhos.

Fluazifop-p-butil + Fomesafen

Robust Pós Gramíneas e folhas largas

0,8 a 1,0 L Aplicar quando a cultura apresentar até três folhas trifolioladas, com o solo

úmido e umidade relativa entre 70% e 90%. Usar

adjuvante.

Fomesafen Flex Pós Folhas largas 0,9 a 1,0 L ////////////////////////

Paraquat + bentazon

Pramato Pós Gramíneas e folhas largas

1,5 a 2,5 L ////////////////////

1 Pré= pré-emergência da cultura e das plantas daninhas; Pós= pós-emergência da cultura e das plantas daninhas; PPI= pré-plantio incorporado.

9. NUTRIÇÃO DO FEIJOEIRO O feijoeiro é considerado uma planta exigente em nutrientes, para poder expressar todo o seu potencial produtivo. As condições de baixa fertilidade dos solos geram nutrição inadequada, comprometem a produção, ou, em casos extremos, levam as plantas à morte precoce. O equilíbrio nutricional é, muitas vezes, o fator mais importante e crítico na determinação da produtividade vegetal. Entre os macronutrientes, elementos químicos exigidos em maiores quantidades pelas plantas e fornecidos por meio das adubações, estão o nitrogênio (N), o fósforo (P), o potássio (K), o cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e o enxofre (S). Entre os nutrientes exigidos em pequenas quantidades (micronutrientes) pelas plantas estão o ferro (Fe), o cobre (Cu), o zinco (Zn), o manganês (Mn), o boro (B) e o molibdênio (Mo). Embora as exigências pelo feijoeiro em micronutrientes sejam pequenas, a deficiência de um deles pode comprometer o balanço nutricional e a produtividade da cultura. A absorção de nutrientes pelo feijão é nesta seguinte ordem: N > K > Ca > Mg > S > P,

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sendo que N, P, K e S acumulam-se mais nas sementes, o Ca concentra-se mais nas folhas e o Mg está mais concentrado nas hastes. As quantidades médias de nutrientes exportados por 1.000Kg de grãos citadas em várias pesquisas são: 35,5Kg de N; 4,0Kg de P; 15,3Kg de K; 3,1Kg de Ca; 2,6Kg de Mg e 5,4Kg de S. • Nitrogênio É o mais exigido pelo feijoeiro. O adequado suprimento desse nutriente está associado à alta atividade fotossintética, a crescimento vegetativo vigoroso e as folhas de cor verde-escuro. A absorção do N pela planta é afetada pelas condições ambientais (temperatura, aeração, pH do solo, atividade de outros elementos na solução, estresse hídrico e concentração do sal na zona radicular) e pelo genótipo. A taxa de absorção varia durante o ciclo de vida da planta e a época de maior exigência ocorre dos 35 aos 50 dias da emergência da planta, coincidindo com a época de florescimento. Neste período, a planta absorve de 2,0 a 2,5 Kg de N/ha/dia. O feijoeiro pode utilizar o nitrogênio do solo, do adubo e da fixação biológica do nitrogênio atmosférico. A planta responde muito bem à aplicação do nitrogênio, embora a freqüência e a magnitude variem entre regiões ou mesmo dentro da própria região. Bactérias do gênero Rhizobium, em simbiose com o feijoeiro, fixam o N atmosférico, disponibilizando-o à planta. Quando ocorre deficiência de N, as plantas ficam atrofiadas, com caule e ramos delgados, as folhas apresentam coloração entre verde-pálida e amarela, o crescimento é reduzido, flores, vagens e sementes são malformadas e em menor número, além de diminuir a massa das sementes. • Fósforo É o nutriente mais deficiente na maioria dos solos brasileiros, e um dos elementos que têm proporcionado maior resposta do feijoeiro. O período que o feijoeiro mais necessita de fósforo vai de, aproximadamente, 30 até 55 DAE, ou seja, período de pré-florescimento até o início da formação das vagens. As plantas deficientes em fósforo são raquíticas, com redução do número e do tamanho dos ramos e das folhas, e possuem menor número de flores e vagens. Como conseqüência, há severa queda da produção. Em geral recomenda-se de 70 a 110 Kg/ha de P2O5. • Potássio O potássio participa, dentre outros, dos processos de abertura e fechamento dos estômatos, da fotossíntese, da respiração e do transporte de carboidratos e outros produtos. Há dois períodos de maior demanda de potássio: entre 25 a 35 DAE e entre 45 e 55 DAE. O primeiro período corresponde à diferenciação dos botões florais e, o segundo, ao final do florescimento e início de formação das vagens, quando a translocação de fotoassimilados das folhas para os grãos aumenta significativamente. Quando em deficiência de potássio, o feijoeiro se desenvolve pouco, apresenta caule pequeno e delgado, forma poucas flores e apresenta vagens com poucas sementes. A deficiência de K ocorre em solos formados de material de origem pobre no nutriente, com pouca matéria orgânica, em solos arenosos, principalmente sob condições de irrigação, em que a lixiviação de sais de maior, e quando não há reposição adequada do nutriente por meio das

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adubações e incorporação dos restos culturais, uma vez que sua maior concentração na planta encontra-se na palhada. • Cálcio, magnésio e enxofre O cálcio tem papel fundamental na formação da membrana celular, na absorção iônica, na divisão celular, nas reações com hormônios vegetais e na ativação enzimática, influenciando o crescimento e o desenvolvimento da planta. Quando em deficiência de Ca, as folhas mais jovens ficam malformadas; a planta para de emitir brotações e há lesões necróticas no caule, perto do ponto de crescimento. O Magnésio é o componente estrutural da molécula de clorofila e atua em várias funções na planta, como exemplo, na fotossíntese e na respiração. O Ca e o Mg são comumente fornecidos à cultura pela calagem.

O enxofre faz parte dos aminoácidos, participando da fotossíntese, respiração e sínteses de gorduras e de proteínas. As exigências de S pelo feijão são maiores em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica, ou em solos fertilizados com adubos sem o elemento na formulação. • Micronutrientes Os micronutrientes atuam em vários processos metabólicos nas plantas, geralmente como constituintes ou ativadores enzimáticos. Alguns influenciam diretamente no processo fotossintético (Fé, Cu e Mn) e respiratório (Fé, Cu, Mn e Zn) ou participam do metabolismo do N (Fé, Mo).

O Mo está associado ao metabolismo do nitrogênio e recomenda-se aplicar entre 20 a 30 DAE de molibdênio na dose de 70 a 100 g/ha. A aplicação de Mo pode proporcionar aumentos na produtividade; beneficia aos rizóbios, mesmo as estirpes nativas; aumenta o teor de nitrogênio nas folhas, tornando-as mais escuras; aumenta o teor protéico das sementes e melhora a qualidade fisiológica das sementes. O boro está envolvido na divisão celular, no crescimento e na formação da parede celular, na síntese de proteínas, e no transporte e na fosforilação dos carboidratos. Tem também importante função na lignificação e diferenciação do xilema e no transporte de sacarose através da membrana celular. O cobalto, que às vezes é aplicado nas lavouras de feijão, não é nutriente essencial ao feijoeiro, mas sim para o Rhizobium no processo de FBN. 10. CALAGEM E ADUBAÇÃO O pH do solo que oferece as melhores condições para o desenvolvimento do feijoeiro situa-se em torno de 6,0. A calagem diminui a concentração do alumínio e do manganês, que podem ocasionar toxidez às plantas, aumenta a disponibilidade dos macronutrientes e do Mo, fornece Ca e Mg ao solo e aumenta a capacidade de troca catiônica. É muito conhecida a interação positiva entre a adubação fosfatada e a calagem, pois, com o aumento do pH, há maior disponibilidade de P e melhor aproveitamento do adubo fosfatado. Os métodos utilizados na determinação da necessidade de calagem são:

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�Critério de saturação por bases: Para o feijão emprega-se V2 = 50% NC = T(V2 – V1) 100 Onde:

NC = necessidade de calagem em t/ha T = CTC à pH 7,0 V2 = saturação em bases que se deseja em % V1 = saturação em bases da análise do solo �Neutralização do alumínio trocável e elevação de cálcio e magnésio ( ) ( )[ ]+++ +−+= 223 Mg CaX Al x YNC Onde:

NC = necessidade de calagem em t/ha Y = Fator de multiplicação relacionado à capacidade tampão da acidez do solo. Al = teor de alumínio trocável indicado pela análise de solo (cmol c/dm 3) X = exigência do feijoeiro em Ca + Mg (2,0 cmol c/dm 3) Ca = Teor de cálcio indicado pela análise (cmol c/dm 3) Mg = Teor de magnésio indicado pela análise (cmol c/dm 3). � Adubação Tabela 2. Adubação com macronutrientes, em kg/ha, recomendada para diferentes níveis

tecnológicos de produção de feijão.

P2O5 K2O

Teor de P no solo Teor de K no solo Nível de

tecnologia

N aplicado junto ao P

e K no plantio

Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto

N em cobertura

1 20 70 50 30 30 20 20 20 *

2 20 80 60 40 30 20 20 30 *

3 30 90 70 50 40 30 20 40 **

4 40 110 90 70 50 40 20 60 **

( * ) A adubação nitrogenada em cobertura deve ser feita 25 a 30 DAE, com solo úmido.

(* * ) A adubação nitrogenada em cobertura deverá ser parcelada, com aplicação 20 e 30 DAE.

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Nível de tecnologia 1:

• Produtividade esperada até 1.200 kg/ha;

• Calagem, adubação química;

• Uso de sementes previamente catadas;

• População de plantas de 220 a 240 mil/ha;

• Manutenção de lavoura livre de plantas daninhas até 30 DAE. Nível de tecnologia 2:

• Produtividade esperada até 1.200 a 1.800kg/ha;

• Calagem, adubação química;

• Uso de sementes fiscalizadas;

• Tratamento químico das sementes;

• População de plantas de 220 a 240 mil/ha;

• Controle fitossanitário;

• Controle de plantas daninhas. Nível de tecnologia 3:

• Produtividade esperada até 1.800 a 2.500kg/ha;

• Calagem, adubação química;

• Uso de sementes fiscalizadas;

• Tratamento químico das sementes;

• População de plantas de 220 a 240 mil/ha;

• Controle fitossanitário;

• Controle de plantas daninhas (herbicidas);

• Irrigação;

Nível de tecnologia 4:

• Produtividade esperada acima 2.500kg/ha;

• Calagem, adubação química -- mais elevadas

• Uso de sementes fiscalizadas;

• Tratamento químico das sementes;

• População de plantas de 220 a 240 mil/ha;

• Controle fitossanitário;

• Controle de plantas daninhas (herbicidas);

• Irrigação; Recomendações gerais: • As sementes não podem ficar em contato direto com os adubos, principalmente os nitratos,

cloretos e sulfatos; • A má coloração do adubo no solo pode reduzir-lhe o efeito ou mesmo anulá-lo; • Recomenda-se colocar os adubos:

o Faixa lateral --- 2,5 a 4 cm afastados do sulco de plantio; o 4 a 5 cm abaixo do nível das sementes;

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• Aplicação com uréia em cobertura --- deve-se fazer incorporação; • Plantios irrigados aspersão --- incorporação feita com a água.

11. CULTIVARES DE FEIJÃO Em qualquer empreendimento agrícola o principal objetivo é obter lucratividade. No caso do feijoeiro, isso é conseguido por meio de redução nos custos de produção, aliada à maior produtividade possível por área. Em qualquer uma dessas opções, a escolha do cultivar apropriado – o material genético – é parte integrante. Altas produtividades só serão conseguidas se a escolha criteriosa do cultivar for aliada ao uso correto das várias práticas de manejo. 11.1 Alguns dos principais objetivos do melhoramento na cultura do feijoeiro ►Aumento do rendimento do grão

O rendimento médio da cultura do feijão no Brasil ainda é baixo, aproximadamente 700 kg/ha. Esse rendimento é provocado, entre outros motivos, pelo pequeno uso de sementes fiscalizadas e pelo manejo inadequado da cultura. Em monocultivo com alta tecnologia, têm-se obtido no Brasil mais de 4.000 kg/ha com cultivares dos tipos I, II, II ►Resistência às doenças O número de enfermidades que podem prejudicar a cultura é muito grande. As mais importantes são: antracnose, mancha angular, crestamento bacteriano comum e mosaico dourado. ►Resistência a pragas O número de pragas que podem prejudicar os feijoeiros é muito grande, incluindo insetos que atacam as plantas em início de desenvolvimento, ou que se alimentam das folhas, ou que atacam as vagens, as raízes, as sementes armazenadas ou são sugadores, além de ácaros e lesmas.

O insetos de maior importância na cultura do feijoeiro são Cigarrinha-verde, carunchos, vaquinhas (crisomelídeos), lagarta-rosca, lagarta-elasmo e mosca-branca. ►Qualidade dos grãos A qualidade dos grãos pode ser julgada de três maneiras: a comercial, a culinária e a nutritiva.

• Qualidade comercial: tipo de grão, cor, brilho, forma e tamanho. No Brasil são cultivados feijões dos tipos preto, carioca, roxo, mulatinho, rosinha, vermelho (todos de sementes pequenas) e manteigão (sementes graúdas).

• Qualidade culinária: Para boa aceitação o feijão deve ser de fácil cozimento, não ser

cascudo, ter bom sabor e apresentar caldo grosso e de cor atrativa.

• Qualidade nutritiva: pode estar relacionada com a qualidade de proteína. Em geral, o feijão contém de 20 a 25% de proteínas, mas essa porcentagem pode variar de 17 a 37%.

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►Arquitetura da planta Uma planta de feijão bem ereta apresenta inúmeras vantagens, como facilidade nos tratos culturais, especialmente no cultivo mecânico, na adubação em cobertura, na aplicação de defensivos e na colheita mecanizada, pois facilita a locomoção dos implementos sem danificar as plantas; redução das perdas na colheita, com grãos de melhor qualidade, pois, em plantas eretas, as vagens não encostam no solo úmido e, desse modo não apodrecem; na planta ereta a circulação do ar é maior e as condições são menos favoráveis ao patógeno. ►Precocidade 11.2. Algumas cultivares de feijão e respectivas características • Tipo 1

o Altura em torno de 50-60 cm; o maturação mais ou menos uniforme; o Goiano Precoce, Manteigão Fosco 11, Pintado, Gordo, Canário.

• Tipo 2

o Altura média de 70 cm; o maturação uniforme --- ideais para colheita mecanizada; o Carioca MG, Tio Tibagi, Rico 23, Turrialba 4, Chumbinho, Rosinha g-2, Mulatinho

Vargem Roxa e Roxinho. • Tipo 3

o Hastes principais podem atingir 120 cm --- tendência trepadeira; o vagens com maturação desuniforme; o Carioca, Costa Rica, Iguaçu, Mulatinho Paulista, Favinha, Rim-de-Porco e Bico de

Ouro. • Tipo 4

o Haste principal pode atingir 2 m --- tendência trepadeira; o adaptados a cultivos consorciados --- colheita manual o Costa Rica 1031, Amarelinho-de-Cipó, Preto-de-Cipó e Oaxaca.

12. COLHEITA DO FEIJÃO Com a utilização de grande áreas de cultivo, a escassez de trabalhadores no meio rural e a demanda de mão-de-obra flutuante durante os processos agrícolas, a cultura do feijão tem gerado uma crescente necessidade da mecanização de todas as etapas da produção.

Para evitar perdas e obter produtos de boa qualidade, as lavouras devem ser colhidas, preferencialmente, logo após as sementes alcançarem a maturação fisiológica, que corresponde ao estágio de desenvolvimento em que as plantas estão com folhas amarelas, as vagens mais velhas já estão secas e as sementes em sua capacidade máxima de desenvolvimento. Nas variedades de sementes de cor bege, a maturação fisiológica é alcançada quando o teor de umidade das sementes encontra-se ao redor de 38% a 44% e, nas de cor preta, em torno de 30% a 40%. Contudo, em

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lavouras que se destinam à produção de sementes, recomenda-se iniciar a colheita quando o teor de umidade das sementes atingir 20%. Sementes imaturas, colhidas antes de terem atingido seu ponto de maturação fisiológica, apresentam baixo vigor e baixo poder germinativo.

O retardamento da colheita do feijoeiro, deixando-o por um longo período no campo após a maturação, provoca perdas de sementes pela deiscência (abertura) natural das vagens e também deprecia as sementes, que ficam expostas por mais tempo ao ataque de pragas, e dificulta o arranquio das plantas pela maior infestação das plantas daninhas. Quando se prolonga a permanência do feijoeiro no campo, também ocorrem redução na germinação e no vigor das sementes, e elevação nos percentuais de sementes infectadas por patógenos e de sementes atacadas por insetos.

Os sistemas de colheita são classificados em três tipos: manual, semi-mecanizado e mecanizado.

Manual: nesse método, todas as operações da colheita, como o arranquio, o recolhimento e o trilhamento são feitas manualmente. Consiste em arrancar as plantas inteiras, a partir da maturação fisiológica das sementes com umidade em torno de 22%. As plantas arrancadas permanecem na lavoura, em molhos com as raízes para cima, para completar o processo de secamento até os grãos atingirem cerca de 16-18% de umidade. Em seguida, são postas em terreiros, em camadas de 30 a 50 cm, onde se processa a batedura com varas flexíveis. Por último, procede-se a separação e a abanação para limpeza dos grãos. Semi-mecanizado: o arranquio e o enleiramento das plantas são, normalmente, manuais e o trilhamento é mecanizado, empregando-se as trilhadoras estacionárias ou as máquinas recolhedoras trilhadoras. Mecanizado: todas as operações da colheita são feitas com máquinas, podendo ser realizado por dois processos: o direto e o indireto.

• Direto: Consiste no emprego de colhedora automotriz para realizar, simultaneamente, o corte, o recolhimento, a trilha, a abanação e, em determinados casos, o ensacamento dos grãos.

• Indireto: é caracterizado pela utilização de equipamentos como o arrancador-enleirador e a

recolhedora-trilhadora em operações distintas. O arranquio mecânico das plantas, ainda pouco usado pelos produtores brasileiros, é feito a partir da maturidade fisiológica das sementes. Após o arranquio, as plantas são deixadas a secar até as sementes atingirem cerca de 14 a 16% de umidade, quando devem ser recolhidas e trilhadas mecanicamente.

São vários os inconvenientes que se relacionam tanto à perda de grãos quanto a danos ao

feijoeiro: na operação da colhedora, a unidade de apanha corta muitas vagens que tocam o solo, causando perda de grãos; nas plantas maduras, além do problema do corte de vagens, a perda é aumentada pela agitação das plantas provocada pelo molinete da máquina, resultando na abertura de vagens; no trilhamento, os grãos com baixo teor de umidade são facilmente danificados e as plantas que ainda estão úmidas dificultam a operação e muitas vagens não se abrem, aumentando a perda de grãos.

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13. SECAGEM, BENEFICIAMENTO E ARMAZENAMENTO DO FEIJOEIRO

A secagem é um processo que usa o ar como meio para conduzir o calor e transferir o excesso de água da massa de grãos para a atmosfera. No caso do feijão, a secagem deve ocorrer em duas etapas, isto é, a pré-secagem da planta e a secagem dos grãos logo após a trilha, para que se tenha um processo mais rápido e energeticamente eficiente. A pré-secagem das ramas normalmente é feita ao sol, com a planta em sua forma original, ou enleiradas no campo de cultivo ou ainda colhidas e espalhadas em lonas ou terreiros, próximo ao local da trilha. Deve-se ter o cuidado para que as ramas não reumedeçam com a chuva ou o sereno. A secagem das ramas também pode ser realizada artificialmente com o uso de ar aquecido. Por razões econômicas, a secagem artificial das ramas só é viável quando as condições atmosféricas não permitirem a secagem natural. O ponto de seca da vagem deve ser aquele ideal para trilha, que corresponde a um teor de umidade das sementes em torno de 20% b.u. Já a umidade final dos grãos para comercialização é de 13% b.u.

A maioria dos secadores encontrados no mercado pode ser utilizado para a secagem dos grãos. Deve-se observar, entretanto, se o modelo escolhido provoca danos mecânicos e se, durante a secagem, permite que a combinação entre temperaturas elevadas (acima de 40º C na massa de grãos) e umidades relativas do ar abaixo de 40% cause danos térmicos às sementes. Como a secagem é um dos fatores que mais prejudica a qualidade final do feijão, o agricultor deve estar atento às instruções de operação e manutenção do secador.

Na secagem de feijão com secadores a altas temperaturas, pode-se usar o secador de camada fixa horizontal, em que o produto permanece estático num compartimento de fundo perfurado, onde o ar é insuflado. Neste tipo de secador, a temperatura do ar de secagem não deve ultrapassar 45º C.

A secagem de feijão com secadores de baixas temperaturas é realizada quando a temperatura do ar de secagem estiver 10º C acima da temperatura ambiente. Dentre as alternativas disponíveis para a secagem na fazenda, aquela que usa o ar natural ou levemente aquecido (baixa temperatura) em silos tem-se mostrado de grande potencial para a manutenção da qualidade dos grãos em nível requerido pela indústria de processamento e também para a necessidade de redução de energia utilizada para o aquecimento do ar. A secagem em baixa temperatura pode ser empregada em pequenas ou grandes produções.

Basicamente, devido à fragilidade do feijoeiro, o seu beneficiamento é feito por duas máquinas principais: a máquina de ar e peneira e a mesa densimétrica, além de outros equipamentos complementares. A máquina de ar e peneira funciona de forma similar à máquina de pré-limpeza, porém, com mais recursos para separar sementes quebradas e outras impurezas de tamanho e densidade próximos da semente. Ela possui um número maior de opções de peneiras e um melhor controle da ventilação. A mesa densimétrica classifica por peso específico, separando as sementes leves, atacadas por insetos, das sementes inteiras e bem formadas e, portanto, de alta qualidade. É importante frisar que ao contrário do beneficiamento do feijão para consumo, que sempre é escovado numa máquina para adquirir uma aparência limpa e atraente, o beneficiamento da semente busca melhorar sua qualidade para o plantio, pois a operação melhora a pureza física pela retirada de impurezas, e a qualidade fisiológica, pela separação das sementes leves e pela uniformização do tamanho da semente.

Após o beneficiamento, quando o produto se destina ao plantio, as sementes precisam ser armazenadas por um período de tempo maior (máximo 12 meses) após a embalagem e antes de serem comercializadas. Por essa razão, alguns cuidados devem ser dispensados durante o armazenamento, visando manter a qualidade fisiológica das sementes, levando ao mínimo sua deterioração e redução do poder germinativo. Assim, dentre vários fatores, devem-se evitar

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ambientes de armazenamento com umidade relativa e temperaturas altas. Ambientes ventilados, frios e secos proporcionam melhores condições de preservação das sementes. A semente de feijoeiro deve ser armazenada com umidade ao redor de 13%. Valores acima desse percentual diminuem o tempo em que a semente consegue manter-se viva.

Quando o produto se destina ao consumo atenção especial deve ser dada para a conservação tecnológica do feijão, evitando sua deterioração, cuja velocidade depende do ambiente de estocagem do produto em si e de sua condição no início da armazenagem. A deterioração do feijão, durante a estocagem ao ar, caracteriza-se pelo aumento no tempo necessário para cozimento (cocção), aumento no grau de dureza, mudanças no sabor e escurecimento do tegumento (casca ou cobertura protetora) em algumas cultivares. Essas mudanças são aceleradas pelo armazenamento em condições de alta temperatura e umidade. Trabalhos de vários autores revelam que a secagem até que o conteúdo de umidade do grão esteja em equilíbrio com 65-70% de umidade relativa do ar, aliada ao armazenamento numa temperatura inferior a 20º C, tem proporcionado resultados satisfatórios para períodos de armazenamento de até 12 meses.

É importante mencionar que durante o tempo em que o feijão estiver dentro do armazém, seja ele para semente ou consumo, deve-se ter cuidados com as pragas de armazenamento (carunchos). Os prejuízos são verificados na redução do peso, na qualidade alimentícia e no poder germinativo, além da depreciação do valor comercial devido à presença de insetos mortos, ovos e excrementos. Em caso de infestação, recomenda-se o expurgo, utilizando-se produtos à base de fosfina na dose de 1-2 pastilha por m3 de sacaria.

Para minimizar esses inconvenientes, deve-se manter o armazém limpo e conservado, livre de rachaduras no piso e nas paredes, onde se alojam os insetos. Além disso, o armazém não deve ter goteira no teto e ser bem ventilado para evitar a elevação da temperatura no ambiente. As pilhas de sacos não devem ser encostadas às paredes, para permitir a colocação de lona de expurgo, quando necessário. Deve-se formar as filas sobre estrados de madeira e separá-las de acordo com a cultivar.

14. CLASSIFICAÇÃO DO FEIJÃO QUANTO AOS DEFEITOS

Essa classificação tem por objetivo propiciar o relacionamento dos conceitos oficiais, reforçados através das imagens fotográficas dos defeitos segundo os estágios evolutivos, a intensidade da ocorrência e de esclarecimento técnico para a uniformidade de critérios no ato de classificação do produto.

Mofados • Grãos inteiros, partidos ou quebrados que apresentam colônias de fungos visíveis a olho nu. • Causa – Falta de ventilação, umidade e calor excessivo, propiciando o aparecimento de fungos. Ardidos • Os grãos inteiros partidos ou quebrados, visivelmente fermentados, com alteração na aparência

e na estrutura interna. • Causa – Umidade e calor excessivos, provocando fermentação. Carunchados • Apresenta orifício provocado por caruncho ou aquele que apresente pequenos óvulos brancos

visíveis.

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• Causa – perfuração no tegumento e cotilédone provocados por carunchos, na lavoura e no armazém.

Amassados • Grãos que apresentam o cotilédone amassado e com a ruptura do tegumento (casca). • Causa – Danos mecânicas. Brotados • O feijão apresenta a radícula (broto) visível em qualquer fase ou de qualquer tamanho • Causa – Umidade e calor excessivos. Enrugado • O feijão apresenta os cotilédones e tegumento com enrugamento acentuado. • Causa – Ataque de doenças (bactérias), maturação e desenvolvimento fisiológico incompleto. Manchados • Os grãos apresentam manchas visíveis em mais de ¼ (um quarto) da película, mas sem alterar a

polpa. • Causa – Doenças e chuvas causando reações externas no tegumento (cascas) manchando a cor

natural.

Quebrados • Considerar como grãos quebrados os pedaços de grãos que sejam divididos e que se apresentem

com falta de pedaços. • Causa – Desregulagem na trilhadeira e movimentação do produto. Impurezas • Todas as partículas oriundas do feijoeiro, bem como os grãos defeituosos e fragmentos de grãos

que vazarem na peneira de crivos circulares de cinco milímetros de diâmetro. • Causa – Desregulagem na trilhadeira. Matérias Estranhas • Os grãos e sementes de outras espécies, detritos vegetais e corpos estranhos de qualquer

natureza, não oriundos da espécie considerada. • Causa – Má condução da lavoura e colheita.