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Cultivo e Utilização do Nim Indiano Introdução Até há pouco tempo, o homem assistia sem muita preocupação ao uso indiscriminado de fertilizantes e de agrotóxicos que contaminam o solo e os recursos hídricos como os aqüíferos, lagos e rios, além de causarem danos à população. Silenciosamente, verificou-se o crescente número de mortes de trabalhadores rurais intoxicados pelo manuseio de agrotóxicos sem proteção adequada. Mesmo com a difícil adaptação aos novos meios de vida, o mundo assiste hoje a uma reformulação no modo de vida. Valores naturais e ecológicos retornam com grande força, na determinação de novos preceitos, em todas as áreas do conhecimento científico e na vida cotidiana das pessoas. Na alimentação, produtos de boa qualidade com menos agrotóxicos são exigências constantes da população mais esclarecida, que procura uma vida mais saudável. Corantes, aromatizantes, flavorizantes e conservantes naturais têm sua procura aumentada. Na medicina, produtos originários de plantas ocupam um espaço cada vez maior na terapêutica. Todas essas necessidades envolvem anualmente cifras de bilhões de dólares e sua demanda tem sido crescente. A ciência moderna verificou que certos vegetais possuem substâncias tóxicas que somente têm ação sobre os animais de sangue frio, não apresentando perigo algum para o homem e demais animais de sangue quente. Outras vantagens são qualitativas, como a redução da dependência dos agricultores em relação ao mercado de fertilizantes e agrotóxicos controlados por grandes empresas. Após a segunda grande guerra, a agricultura passou a ser considerada atividade de interesse fundamental na economia dos povos. Até então, a única forma de combater as pragas agrícolas que se conhecia era através de plantas inseticidas. Com o fim da segunda guerra mundial, os agrotóxicos, antes utilizados para combater homens e desinfetar áreas de invasão, foram rebatizados e passaram a se chamar defensivos, para serem empregados em larga escala no controle das pragas agrícolas. Atualmente, em todo o mundo, o combate às pragas vem sendo feito através de aplicação de inseticida, principalmente organo - sintéticos. Somente o emprego desse método, entretanto, não está conseguindo reduzir as perdas, apesar da grande quantidade anualmente despejada nas lavouras. O volume de agrotóxicos usados no mundo chegou a ultrapassar 20.000 toneladas de ingredientes ativos na década de 90. Apesar de o uso de inseticida ser benéfico dentro do manejo integrado de pragas, a falta de conhecimento sobre o seu manuseio adequado e o número de pulverizações cada vez maiores, com doses excessivas, podem contribuir para proporcionar efeitos maléficos, como contaminações do solo e da água, destruição dos insetos benéficos à vida selvagem, envenenamento do homem e animais domésticos, além de causar problemas de resíduos nos produtos agrícolas e desenvolver resistência das pragas. Pelo menos 500 espécies de artrópodes têm desenvolvido resistência para um ou mais inseticidas. Por estas razões, é necessário que os agentes de controle das pragas sejam específicos, biodegradáveis, que sejam usados em doses e modos adequados, para evitar que se tornem resistentes e exigidos em grandes quantidades, dispendiosos para o usuário. Além disso, o acervo bibliográfico a respeito das plantas inseticidas praticamente ficou Santo Antônio de Goiás, GO Dezembro, 2003 Autores 62 ISSN 1678-9636 Belmiro Pereira das Neves Lic. Ciência Agrícola, Doutor em Entomologia Aplicada Embrapa Arroz e Feijão [email protected] Itamar Pereira de Oliveira Engº Agº. Doutor em Solos e Nutrição de Plantas Embrapa Arroz e Feijão [email protected] João Carlos Mohn Nogueira Engº Agº. Mestre em Produção Vegetal Agenciarural Rua Jornalista Geraldo Vale n° 331 Setor Universitário Goiânia, GO.

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Cultivo e Utilização do Nim Indiano

IntroduçãoAté há pouco tempo, o homem assistia sem muita preocupação ao usoindiscriminado de fertilizantes e de agrotóxicos que contaminam o solo eos recursos hídricos como os aqüíferos, lagos e rios, além de causaremdanos à população. Silenciosamente, verificou-se o crescente número demortes de trabalhadores rurais intoxicados pelo manuseio de agrotóxicossem proteção adequada. Mesmo com a difícil adaptação aos novos meiosde vida, o mundo assiste hoje a uma reformulação no modo de vida.Valores naturais e ecológicos retornam com grande força, na determinaçãode novos preceitos, em todas as áreas do conhecimento científico e navida cotidiana das pessoas. Na alimentação, produtos de boa qualidadecom menos agrotóxicos são exigências constantes da população maisesclarecida, que procura uma vida mais saudável. Corantes, aromatizantes,flavorizantes e conservantes naturais têm sua procura aumentada.

Na medicina, produtos originários de plantas ocupam um espaço cada vezmaior na terapêutica. Todas essas necessidades envolvem anualmentecifras de bilhões de dólares e sua demanda tem sido crescente. A ciênciamoderna verificou que certos vegetais possuem substâncias tóxicas quesomente têm ação sobre os animais de sangue frio, não apresentandoperigo algum para o homem e demais animais de sangue quente. Outrasvantagens são qualitativas, como a redução da dependência dosagricultores em relação ao mercado de fertilizantes e agrotóxicoscontrolados por grandes empresas.

Após a segunda grande guerra, a agricultura passou a ser consideradaatividade de interesse fundamental na economia dos povos. Até então, aúnica forma de combater as pragas agrícolas que se conhecia era atravésde plantas inseticidas. Com o fim da segunda guerra mundial, osagrotóxicos, antes utilizados para combater homens e desinfetar áreas deinvasão, foram rebatizados e passaram a se chamar defensivos, para seremempregados em larga escala no controle das pragas agrícolas. Atualmente,em todo o mundo, o combate às pragas vem sendo feito através deaplicação de inseticida, principalmente organo - sintéticos. Somente oemprego desse método, entretanto, não está conseguindo reduzir asperdas, apesar da grande quantidade anualmente despejada nas lavouras.O volume de agrotóxicos usados no mundo chegou a ultrapassar 20.000toneladas de ingredientes ativos na década de 90.

Apesar de o uso de inseticida ser benéfico dentro do manejo integrado depragas, a falta de conhecimento sobre o seu manuseio adequado e onúmero de pulverizações cada vez maiores, com doses excessivas, podemcontribuir para proporcionar efeitos maléficos, como contaminações dosolo e da água, destruição dos insetos benéficos à vida selvagem,envenenamento do homem e animais domésticos, além de causarproblemas de resíduos nos produtos agrícolas e desenvolver resistência daspragas. Pelo menos 500 espécies de artrópodes têm desenvolvidoresistência para um ou mais inseticidas.

Por estas razões, é necessário que os agentes de controle das pragas sejamespecíficos, biodegradáveis, que sejam usados em doses e modosadequados, para evitar que se tornem resistentes e exigidos em grandesquantidades, dispendiosos para o usuário. Além disso, o acervobibliográfico a respeito das plantas inseticidas praticamente ficou

Santo Antônio deGoiás, GO

Dezembro, 2003

Autores

62

ISSN 1678-9636

Belmiro Pereira das NevesLic. Ciência Agrícola,

Doutor em EntomologiaAplicada

Embrapa Arroz e Feijã[email protected]

Itamar Pereira de OliveiraEngº Agº. Doutor em Solos

e Nutrição de PlantasEmbrapa Arroz e Feijão

[email protected]

João Carlos MohnNogueira

Engº Agº. Mestre emProdução Vegetal

AgenciaruralRua Jornalista Geraldo

Vale n° 331 SetorUniversitárioGoiânia, GO.

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estacionado desde os anos 40, época em queera bastante desenvolvido o comércio e apesquisa da rotenona e de outras plantas comas mesmas propriedades. Vários pesquisadorese institutos trabalham para desenvolverfórmulas e métodos que permitam a utilizaçãocrescente dos inseticidas de origem vegetal. EmHonolulu, no Havaí, o botânico Salen Ahmedcoordena um projeto pelo qual catalogou einiciou o estudo sistemático de duas milplantas, que são reconhecidas como tóxicaspara diversos insetos.

São inúmeras as plantas possuidoras depoderes inseticidas, fungicidas e raticidas, quedeveriam não apenas ser pesquisadas emprofundidade como também introduzidas naspropriedades agrícolas como fonte alternativano controle de pragas. Entre elas, destacam-se:

Saboneteira (Sapindus saponaria L.), que controlapiolho e pragas de grãos armazenados;

Esporinha (Delphinium agacis L.), que atrai e matalarvas de gafanhotos;

Cravo-de-defunto (Tagetes minuta), que, além denematicida, é repelente de pulgões;

Tímbó (Lonchocarpus utilis L.), cujo princípio ativo éum alcalóide, a rotenona que é tóxica a animais desangue frio; e

Nim (Azadirachta indica), que é o objeto desta revisão,cujas propriedades inseticidas e nematicidas já foramcomprovadas em nível de laboratório e campo.

Origem e descrição botânica do Nim

O Nim, ou Amargosa (Azadirachia indica A.Juss), syn Antelara azadirachta, Meliaazadirachta L., é uma árvore frondosa quepertence á família Meliaceae (Figura 1), amesma da Santa Bárbara ou Cinamomo, Cedroou Mogno. É uma planta de origem asiática.Natural de Burma e das regiões áridas dosubcontinente indiano, onde existem,aproximadamente, 18 milhões de árvores. Écultivada atualmente nos Estados Unidos,Austrália, países da África e América Central.É utilizado há mais de 2000 anos na Índia paracontrole de insetos pragas (mosca-branca,minadora, brasileirinho, carrapato, lagartas epragas de grãos armazenados) nematóides,alguns fungos, bactérias e vírus, na medicinahumana e animal, na fabricação de cosmético,reflorestamento, como madeira de lei, adubo,assim como paisagismo.

Fig. 1. Árvore do Nim.

É uma planta muito resistente e de crescimentorápido, que alcança, normalmente, de 10 a15 m de altura e, dependendo do tipo de solo edas condições climáticas favoráveis aodesenvolvimento da planta, pode atingir até 25m. Com um ano, a planta chega a 1,5 m e com5 anos, a 8 m. O sistema radicular atinge 15 mde profundidade. Sua madeira é avermelhada,dura e resistente.

As folhas são verde-escuras, compostas eimparipinadas, com freqüência aglomeradanos extremos dos ramos simples e semestípulas. As flores são de coloração branca(Figura 2) e aromáticas, reunidas eminflorescências densas (cimas agrupadas empanículas), com os estames crescentesformando um tubo (por união dos filamentos)actinomórficas, pentâmeras e hermafroditas. Ofruto é uma baga ovalada (Figura 3) com 1,5 a2,0 cm de comprimento e, quando maduro,apresenta polpa amarelada e casca(tegumento) branca dura contendo um óleomarrom no interior de uma semente ou,raramente, em duas.

Fig. 2. Inflorescência do Nim.

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3Cultivo e utilização do Nim indiano

As sementes podem perder o podergerminativo em pouco tempo, cerca de doismeses. Os frutos maduros são de coloraçãoamarelada e a polpa doce e comestível, comsabor bem adocicado, bastante parecido como sabor do café no estágio de cereja.

A produção de mudas de Nim nas regiõesprodutoras é efetuada preferenciamenteatravés de sementes, que apresentam de 60 a95% de viabilidade, oriundas de plantaspreviamente selecionadas, isentas depatógenos. Os métodos de enraizamento deestacas e o de cultura de tecidos sãoutilizados em menor escala.

Formação de mudas a partir de sementes

Normalmente, essa árvore é cultivada a partirde sementes plantadas diretamente outransplantadas como mudas de um viveiro. Apré-germinação das sementes resulta emmaior percentagem de germinação.Dependendo das condições climáticas daregião, da disponibilidade de mão-de-obra eda quantidade e qualidade das sementesdisponíveis, a produção de mudas pode serfeita em canteiros para repicagem posteriorou em recipientes, por semeadura direta.

Semeadura em canteiros e repicagem demudas

Esta técnica, no caso específico do Nim, épouco utilizada, salvo em raríssima situação. Odesuso dessa tecnologia é atribuído aoselevados custos e aos cuidados especiaisrequeridos no manuseio das mudas,principalmente para evitar danos edeformações no sistema radicular, que podemresultar em perdas imediatas no viveiro ou emperdas posteriores no campo. Além disso, essemétodo exige também condições climáticasadequadas, como dias frescos e nublados, parao transplantio em recipientes definitivos, poisas plantas recém-germinadas tendem a murchardurante esta operação. A recuperação dasmudas do Nim cultivadas sob galpões deve serrealizada lentamente, pois são sensíveis àsúbita exposição de intensa luz solar.

Semeadura direta em recipientesA semeadura direta em recipientes tem sido ométodo mais empregado, principalmente pelaeliminação da operação de confecção decanteiro para semeadura, redução do prazopara produção da muda, diminuição de perdas

Fig. 3. Fruto do Nim.

A árvore do Nim normalmente começa aproduzir após três a cinco anos. Torna-secompletamente produtiva em dez anos e, daíem diante, pode produzir até 50 quilos defrutas por ano. O ciclo de vida do nim podeatingir até 200 anos produzindo.

Adaptação da planta

Clima e Solo

A planta prefere climas tropicais e subtropicais,com precipitação pluvial anual entre 400 a 800mm. A faixa ideal de temperatura é de 21 a32ºC. É tolerante a altas temperaturas,inclusive acima de 440C por curtos períodos eresiste a longos períodos secos. Não tolerageadas e, caso ocorram temperaturas abaixo de80C, o seu crescimento é interrompido.

Não é exigente em solos, porém não toleralocais encharcados e salinos. Floresce atémesmo em solos secos e pobres emnutrientes. O pH ideal para o crescimento doNim situa-se entre 6,2 e 7,0.

Práticas culturais

Produção de mudasA árvore é de fácil propagação, tanto sexual,quanto vegetativa. Pode ser plantada usando-se sementes, mudas, rebentos ou cultura detecidos. Pode-se obter árvores de Nimtambém por estaquia, porém odesenvolvimento das raízes não se dá demodo adequado, tornando a árvore suscetívelà queda por ventos fortes. Possui floreshermafroditas, com fecundação cruzada,desta forma são necessárias pelos menosduas plantas crescendo próximas para ocorrertroca de pólen e produção de frutos.

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por doenças fúngicas devido à menorconcentração por unidade de área, produção demudas com sistema radicular de melhorconformação e, finalmente, produção demudas com menor custo unitário. Nesseprocesso, utiliza-se o enviveiramento dasmudas, cumprindo-se os procedimentosdescritos a seguir.

Deve-se escolher um terreno que tenha boadrenagem, não sujeito a encharcamento epróximo a uma fonte de água. As embalagensutilizáveis para o semeio podem ser sacos depolietileno, de 11 x 20 cm, que devem serperfurados para a drenagem. O enchimentodesses recipientes pode ser feito com terra dosubsolo, isenta de sementes de plantasdaninhas e microrganismos patogênicos. Estaprática elimina a necessidade de se proceder àdesinfestação, concorrendo para diminuir oscustos de produção das mudas. Geralmente, osubsolo contém níveis baixos de nutrientes quepodem ser corrigidos com fertilização mineral.

Quanto às propriedades físicas, o substratodeverá ser, de preferência, argilo-arenoso, afim de que, retirado o saco plástico noplantio, o bloco com a muda não desintegrefacilmente, ocasionando perdas de mudas nocampo. O solo suporte utilizado comosubstrato deve conter 30% de areia, 30% desolo e 40% de matéria orgânica.

Antes de ser colocada dentro dos sacosplásticos, a terra geralmente é passada empeneiras de 1,0 m de largura e 2,0 m decomprimento, e malhas de 1,5 mm. Parafacilitar esta operação, são instaladas emcavaletes com inclinação em torno de 45oC.

O enchimento das embalagens pode ser feitomanualmente, com auxílio de pás, funis oumoegas, cujo rendimento é superior ao dosmétodos anteriores. Mas, para o bomrendimento desta operação, é imprescindívelque a terra peneirada esteja bem seca.

Durante o transporte das embalagens para olocal do encanteiramento, é comum a perdaparcial do substrato, que deverá sersuplementado para que o volume total sejacomplementado. A não observância de talprocedimento resulta no fato de que,efetuada a irrigação dos canteiros, as bordasdos sacos tendem a dobrar-se e permanecernessa posição, impedindo a germinação,Proliferação de patógenos podem ocorrer em

ambiente com umidade elevada inviabilizandoo desenvolvimento da plântula em umperíodo de seis a oito semanas. Por isso assementes prontas para o plantio devem estarlimpas e secas, armazenadas em temperaturana faixa de 23 a 25oC. Normalmente a melhorgerminação ocorre em temperatura acima de20ºC em profundidade de 1,5 cm.

Cultura de tecidos

Esta técnica ainda é pouco usada no cultivodo Nim, mas bastante promissora em virtudede possibilitar a obtenção de grande númerode plantas através do envolvimento dospropágulos, num curto espaço de tempo, emáreas reduzidas de laboratório. Além disso,permite que se projete com precisão aentrega futura de mudas prontas para oplantio na quantidade e época desejadas.

Preparo do solo

Apesar da grande rusticidade das espéciespertencentes às famílias das Meliaceae, asplantas respondem positivamente em solosbem-preparados, principalmente nas áreassob vegetação de cerrado.

A operação, quando possível, deve sermecanizada e constituída de aração egradagem. Pode-se também efetuar apenas agradagem pesada, seguida de uma leve, como objetivo de homogeneizar e desterroar osolo. É importante que pelo menos umacamada de 15 a 20 cm de profundidade sejarevolvida. Caso essa operação não sejapossível, pode-se apenas proceder à aberturadas covas, que devem guardar oespaçamento de, no mínimo, 40 x 40 x 40cm. O tamanho das plantas a serem levadaspara o campo definitivo deve ser de 20 cm dealtura, com uma idade de três meses.

Cultivo

Espaçamento

A escolha do espaçamento está condicionadaaos objetivos propostos para a exploração doNim. Para a produção de carvão ou caibros, odesejável é cortar a madeira mais fina e demenor porte e em um ciclo mais curto, quandose podem adotar espaçamentos menores, de 2

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x 2 m a 4 x 4 m. A partir do terceiro ano,quando iniciar o processo de competição dasplantas devido ao espaçamento estreito, pode-se, também, realizar cortes em série oualternados entre elas. Tal procedimento érecomendável quando o material produzido édestinado para fins industriais, farmacológicosou para produção de sementes para exportaçãoe ao fabrico do próprio inseticida a serempregado no controle de pragas. Para que asárvores apresentem um bom desenvolvimentopara produção de madeira, o excesso deplantas deve ser desbastado, deixando umespaçamento de 8 x 8 m. As árvores cortadaspodem ser utilizadas para fabricação de móveis,lenha, carvão, postes e outros utensílios. Asárvores que restaram no campo vão servir paracolheita de frutos e de folhas destinadas acomercialização e preparo de extratos.

Coveamento ou Sulcamento

Estas operações estão inteiramenteassociadas ao método de preparo do solo.Quando este é mecanizado, pode-se fazer osulcamento com sulcador ou arado de aivecamotorizado ou tração animal.

Os sulcos devem ser feitos de acordo com oespaçamento, seguindo a declividade doterreno em curva de nível. No caso de áreasplanas, dispensa-se este cuidado.

Para plantios em que houve preparo prévio dosolo, procede-se à marcação das covasutilizando-se cordas ou arames, levando-seem conta o espaçamento a ser adotado parao plantio, Em seguida, realiza-se a aberturadas covas, manual ou mecanicamente, com40 x 40 x 40 cm, que irão receber de 3 a 10kg de esterco de gado curtido. Ao solooriundo da operação de coveamento,adicionam-se cerca de 200 g de aduboformulado 4-30-16 + Zn. Em solos defertilidade média a alta, pode-se usarsomente 10 kg de esterco curtido. Em soloscom baixa capacidade de drenagem, colocar¼ de areia.

Plantio

O sucesso do plantio está diretamenterelacionado à coincidência do início daestação chuvosa da região.

As mudas devem ser distribuídas entre ascovas, manualmente ou com o auxílio detrator com carreta ou carroça de traçãoanimal, e plantadas no mesmo dia para evitarressecamento. No caso das mudas produzidasem saco plástico, deve-se ter o cuidado deretirá-lo na hora do plantio.

A muda é colocada no interior da cova ousulco e coberta com terra, de forma que otorrão não fique exposto e a parte do caulenão seja recoberta. Deve-se realizar umapequena compactação da terra em torno damuda, para fornecer maior firmeza à planta.

Decorridos 30 dias após essa operação, deve-se percorrer a área plantada para avaliar aporcentagem de falhas, através de simplescontagem. Caso esta contagem seja superiora 5%, procede-se ao replantio de todas asfalhas.

Aconselha-se manter a área limpa, podendointercalar culturas anuais durante os primeirosanos. O tronco das plantas deve ser mantidosem ramificações até 1,5 m de altura;posteriormente os ramos devem ser podadosregularmente. Os ponteiros devem serpodados a 2,50 m. A árvore não fica muitoalta, a copa desenvolve melhor, há maiorprodução de frutos e a colheita é facilitada.A partir do terceiro ano, deve-se fazer a podade frutificação, durante ou após a primeiracolheita. Recomenda-se podar os galhos quecrescem mais de 3,5 m, devendo-se deixarpelo menos 7 cm do galho na planta mãe.

Tratamento Fitossanitário - Combate àsFormigas

Após a implantação da cultura, deve-se ter ocuidado em iniciar o combate às formigaspertencentes aos gêneros Atta e Acromyrmex(saúva e quenquéns), cujos danos constituemum dos fatores limitantes de sucesso emflorestas recém-implantadas. A eficiênciadesta operação vai depender das condiçõesambientais do tipo de formigueiro e dosequipamentos disponíveis.

Entre os produtos encontrados no mercado,destacam-se os de forma sólida (granulado oupó), líquidos (termonebulizável) e gasosos(praticamente em desuso), que permitemcombater as formigas em qualquer situação.

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As macro e microiscas granuladas,principalmente aquelas à base dedodecacloro, desde que usadas em épocaseca, apresentam boa eficiência e rendimentona aplicação do produto. Contudo, o seuemprego por ocasião das chuvas requer queelas sejam acondicionadas em saco plásticoou outro vasilhame, para evitar possíveisdanos provocados pela umidade (Figura 4).

por ano. O rendimento dos frutos varia entre 30e 50 kg/árvore devido à temperatura, à umidade,ao tipo de solo e genótipo.

Normalmente, 50 kg de frutos maduros têmcerca de 30 kg de sementes, que produzem 6kg de óleo e 21 kg de pasta.

Os frutos, ao atingirem a fase deamadurecimento, apresentam forma ovalada,tonalidade amarela e polpa rica em açúcares.Ao atingir esta fase, os frutos podem sercolhidos diretamente das ramas ou com umalona colocada embaixo da planta. Em seguida,são colocados em recipientes contendo água,por um período relativamente curto, paradepois processar o despolpamento, manual oumecanicamente (Figuras 5 e 6).

Fig. 4. Porta-isca.

Fig. 5. Despolpamento artesanal dos

frutos do Nim.

Fig. 6. Despolpamento semi-industrial dos frutos do Nim.

Apesar de os produtos líquidos seremrecomendados para períodos de altasprecipitações, o seu emprego é bastantelimitado por exigir equipamento motorizado emão-de-obra qualificada.

O importante é que, no estabelecimento dacultura, o agricultor controle eficientemente asformigas, pois o Nim é muito suscetível a elas.Outros animais, como roedores, podem atacaro entorno da casca da planta quando jovem.

Colheita

Dependendo das condições climáticas dasregiões em que o Nim foi plantado e,também, do estádio de desenvolvimento daplanta, a floração e a frutificação ocorrementre três e quatro anos.

Em geral, a frutificação ocorre uma vez por ano.Contudo, dependendo do clima, principalmenteda temperatura, que deve ser em torno de 30oCe baixa precipitação, realizam-se duas colheitas

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Secagem dos Frutos

Depois de estarem devidamentedespolpados, os grãos são colocados ao solem camadas finas, sobre terreiroscimentados, ou seja, semelhantes aosutilizados na secagem de outros produtos,como cacau, café e cereais. Deve-se evitar,sempre que possível, o contato com aumidade para não ocorrer o mofamento dosgrãos. Esta operação requer a exposição emum único dia de sol. Posteriormente, oproduto é transportado para locaissombreados durante dois dias.

Caso a colheita coincida com o períodochuvoso, deve-se proteger os grãos colhidosmediante o uso de uma cobertura plásticapara evitar os possíveis danos decorrentes dachuva.

Outro cuidado de suma importância aoproceder a essas operações consiste norecolhimento e acondicionamento doproduto em sacos de aniagem, para permitiruma boa aeração e evitar, assim, oaparecimento de fungos que possamdeteriorar os grãos.

Satisfeitas essas condições básicas, pode-searmazenar o produto por mais de um ano.

Potencial de uso da planta

Uso Medicinal

Desde os tempos remotos, o uso do Nim temsido documentado na literatura Ayurvérdica,especialmente no Charaksamhita e no sistemamedicinal UNANI. Frutos, sementes, óleo,folhas, casca do caule e raízes têm os maisvariados usos anti-sépticos, antimicrobianos,nos distúrbios urinários, diarréias e doenças docouro cabeludo. O óleo e seus isolados inibemo desenvolvimento de fungos sobre o homeme animais. A ação antimalárica é atribuída aogedunine, um limonóide. Tabletes e injeçõescontendo em suas formulações extratos deNim são usados no tratamento de maláriacrônica.

O uso do extrato de Nim, ou azadiractina, temsido usado para a imunização de pacientespicados pelo inseto Rhodnius prolixus, vetordo protozoário parasita Trypanosoma cruzi,

responsável pela proliferação da doença deChagas, comum na América Latina.

As folhas são usadas contra erupçõescutâneas e abcessos, e o suco das folhas éutilizado contra vermes intestinais.

São inúmeras as doenças às quais ahumanidade é suscetível. A busca incessantede métodos alternativos, visando a debelaressas doenças, e a diminuir o crescimentopopulacional têm-se constituído num grandedesafio na última década. O controle dapopulação é dificultado à medida queanticonceptivos se tornam caros àspopulações de baixa renda. Além disso, háfalta de informação e interferência de gruposreligiosos que condenam esses métodos.

Pesquisas recentes têm indicado que derivadosdo Nim podem ser valiosos contraceptivos. Oóleo do Nim apresenta ação espermaticida.“Sensal”, um econômico produto baseado noóleo do Nim, é um espermaticida que estásendo produzido em larga escala na Índia.Uma única aplicação intra-uterina de óleo deNim tem sido experimentada como bloqueadorda fertilidade por cinco meses em ratos.Implicações no controle da fertilidade humanaestão sendo examinadas.

Indústria de Cosméticos

O óleo do Nim é usado para a fabricação dexampu, óleo para cabelo, tônico capilar eóleo para unha (Figura 7). Na Alemanha, dotanino da casca do caule fabricam-sesabonete e pasta dental.

Fig. 7. Cosméticos do Nim.

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8 Cultivo e utilização do Nim indiano

Como Fertilizante

O Nim tem mostrado um considerávelpotencial como fertilizante, principalmentequando usado para aumentar a eficiência douso de fertilizantes nitrogenados. Sabe-seque esses fertilizantes são essenciais porémcaros para obtenção de altos rendimentos decultivares modernas. Sendo antimicrobial, atorta de Nim ou o extrato misturado comfertilizantes nitrogenados podem reduzirsubstancialmente as perdas de volatilizaçãoda amônia causadas por bactériasnitrificantes no solo. A causa da lentanitrificação, após aplicarem-se extratos dapasta e do óleo, pode ser atribuída à reduçãoda população de bactérias nitrificadoras.

A pasta do Nim tem sido utilizada paraadubar plantações comercias, principalmentea cana-de-açúcar e hortaliças como fonte denitrogênio, fósforo, cálcio, magnésio epotássio. No solo, protege as plantas denematóides e alguns tipos de formigas.

As folhas e galhos verdes têm sido usadosdiretamente em solos de cultivos intensivos,jogados em áreas encharcadas de arrozaisantes de as mudas serem transplantadas.

O processo de obtenção da torta érelativamente fácil, pois a pasta resultante daprensagem das sementes é o adubo orgânicopromissor. Considera-se que 56% donitrogênio livre em 60 dias foi processado,enquanto em sementes não-prensadasresultou somente 43% de nitrogêniodisponível para a planta. Quando os extratosalcoólicos da pasta são misturados com uréiae sulfato de amônia, os altos níveis de nitratosão convertidos até aos 70 dias.

Vários estudos sob condições de campo comarroz têm mostrado que muitos preparadosdo Nim (extrato acetônico das sementes doNim com uréia, 100 a 200 kg/ha) foramefetivos no aumento da produção de grãos edas proteínas contidas no arroz. No caso dacana-de-açúcar, quando se utilizou o Nimtriturado e misturado com uréia, foramobtidos bons resultados com a aplicação de125 a 250 kg/ha. Ao incorporar a pasta doNim a 20% no solo, tem-se obtido bonsresultados de produção do algodoeiro.

Por essas razões, o emprego alternativo dapasta de Nim como fonte de adubo orgânico

pode constituir-se num dos fatores decisivospara a redução dos custos de produção.

Produção e Utilização de Biomassa

Após a maturação, as árvores de Nim rendementre 10 e 100 toneladas de matéria seca/ha,dependendo das chuvas, condições do local,espaçamento e genótipo. As folhas abrangemcerca da metade da biomassa, enquanto osfrutos e a madeira, cerca de um quarto cada.O manejo adequado do estande podepropiciar rendimentos de até 15 m3 aosquatro anos de idade e 40m3/ha aos dezanos, de madeira de alta qualidade.

A madeira do Nim é dura, relativamente pesada,e usada na confecção de carretas, ferramentas eimplementos agrícolas. Por ser durável eresistente, é utilizada no fabrico de postes paracercas, casas e móveis. Os postes de Nim sãoespecialmente importantes nos países emdesenvolvimento. O Nim cresce rápido e é umaboa fonte de lenha e combustível, tendo ocarvão alto valor calorífico.

Emprego em Reflorestamento

O Nim é um espécie silvícola valiosa na Índiae na África e está se tornando popular naAmérica Central. Por ser uma árvore robusta,é ideal para programas de reflorestamento epara recuperação de áreas degradadas, áridase costeiras. Num período de severa estiagemno Estado de Tamil Nãdu, na Índia, em junho/julho de 1987, foi observado que o Nim serecuperou e se desenvolveu bem, o que nãoocorreu com outras espécies vegetais.

O Nim é usado como quebra-vento e, em áreasde poucas chuvas e ventos fortes, protege asculturas da dessecação. Na Nigéria, o Nim éusado como quebra-vento em plantações demilho, resultando em 20% de aumento daprodução de grãos. No Quênia é usado comoquebra-vento em plantações de sisal.

Entre a Somália e a Mauritânia, o Nim temsido usado para evitar a expansão do desertode Saara. É ideal para ser usado também aolongo de avenidas, praças e próximo àscasas, por proporcionar ótimo sombreamento.

Estudos têm revelado que o Nim não deve serplantado juntamente com outras culturas

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9Cultivo e utilização do Nim indiano

devido ao seu hábito agressivo. Em certascondições, o Nim pode ser plantado comespécies frutíferas, gergelim, algodão,amendoim, feijão, sorgo, etc. Aincompatibilidade do Nim com outrasculturas ainda deve ser investigada.

Avanços recentes em cultura de tecidos ebiotecnologia possibilitarão selecionargenótipos com altura desejável para o usoassociado com outras culturas de menorporte e em agroflorestas.

Como Fonte de Inseticida

O Nim foi usado primeiramente contra pragascaseiras e de armazéns, mas, na Índia, seupaís de origem, tem uso restrito às pragas dacultura do arroz. A pasta do Nim, contudo,tem sido empregada nas culturas do arroz eda cana-de-açúcar desde 1930, visando aocombate da Diatraea saccharalis e do cupim.A atividade inseticida do Nim foi publicadapela primeira vez em 1928 por Chopra.

O Nim e seus derivados chegam a afetar maisde 400 espécies de insetos pertencentes àsordens Coleoptera, Deptera, Heteroptera,Homoptera, Hymenoptera, Lepidoptera,Orthoptera, Thysanoptera, Neuroptera ealguns fungos.

Em trabalhos conduzidos em Madurai, naÍndia, para controle do percevejo-do-arroz,foram comparados os produtos Neemark0,5%, fabricado a partir do óleo da sementedo Nim, e o Malathion 0,05%, sendo o efeitode ambos semelhante.

Os extratos do Nim provocam distorções nametamorfose, inibição do crescimento,malformação, redução da fertilidade emortalidade, principalmente de certosartrópodes que ingerem ou entram emcontato com substratos tratados. Larvas dealgumas espécies de lepidópteros e algunsestágios de desenvolvimento de coleópterossão particularmente sensíveis a este tipo desubstrato. Cerca de 30 espécies de insetos,pertencentes às ordens Orthoptera(gafanhotos), Coleoptera (besouros),Lepidoptera (mariposas e borboletas),Homoptera (cigarras e pulgões), Isoptera(cupins) e Hymenoptera (abelhas, vespas eformigas) são afetadas pelo azadiractin. Paraestes insetos, a substância tem efeito

repelente, regulador do crescimento eantialimentar, agindo por contato ouingestão; para certos fungos, vermes eácaros, o efeito é fatal.

Em ambientes controlados, mudas de arrozpré-germinadas, oriundas de sementes tratadascom extrato de sementes de nim ou com apasta, foram mais vigorosas e resistentes aoataque de cigarrinhas e cicadelídeos. Aexistência de repelência dos extratos dasemente do Nim contra Schistocera gregaria.

Princípio Ativo

Do ponto de vista químico, umacaracterística comum às espécies da famíliaMeliaceae é a presença de triterpenosoxigenados, conhecidos como meliacinas.Inclui-se, dentre estes, o mais promissoragente antialimentar descoberto até agora, oazadiractina, que está presente nas folhas,frutos e sementes e que foi isolado,inicialmente, a partir do Nim (Figura 7).Outros compostos, como os triterpenóides,geduninas, nimbinm, liminóides, dentreoutras substâncias, agem juntamente,aumentado a ação inseticida. A sementeapresenta em média 467 mg de óleo e 3,6 mgde azadiractina por grama de semente.

Foram já isoladas seis substâncias do óleo doNim : neemola (C15 H3003S); margosin(C28H48O10), um glicosídeo; ácido palmítico;ácido oléico, ácido totradecoico; e um ácidodenominado D. Também do óleo do Nim,isolaram-se três princípios ativos: Nimbim(0,1%), Nimbinim (0,01%) e Nimbidim (1,1%).

Das flores do Nim, Na, K, Ca, Fe, Cl, Co2,So4 e Sio2 além de Nimbosterol (C20 H34o)(0,03%), glicosideo Nimbosterim (0,005%),flavonóide Nimbicetim (C15 H6 O2 (OH) 4(0,05%) e sesquiterpenos (0,5%).

O azadiractin assemelha-se a um esteróidetetranortriterpenóide (limonóide). A primeiraproposta para a sua fórmula estrutural foifeita em 1972, mas só recentemente foielucidada sua complicada molécula.

Os estudos sobre a estrutura do azadiractin,dada a sua complexidade, estenderam-se por18 anos. Solúvel em água com álcool, muitosensível aos raios ultravioleta e aos meiosmais ácidos ou básicos, o azadiractin

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apresenta rápida biodegradação, mantendo oefeito antialimentar no máximo por duassemanas. É formado por um grupo fechadode isômeros relacionados denominados AZ-Aaté AZ-G. O isômero AZ-A é o componentemais importante no que se refere àquantidade no extrato de sementes de Nim.

Um número considerável de outroscomponentes foi isolado das sementes doNim, tais como: solanina, solanol,solanoacetato-3-dia-acetilsolanina,azadiradion, 14-epoxia zaridion, gedunim,Nimbineur e diacetil Nimbinim.

Mecanismos de Ação

O azadiractin pode tornar-se importante nocontrole de pragas, pois tem largo espectrode ação, é compatível com outras formas demanejo, não tem ação fitotóxica, épraticamente atóxica ao homem e não agrideo meio ambiente. Os mecanismos de ação sediferenciam segundo principalmente oorganismo a combater.

Ação Repelente e Antialimentar

Em algumas espécies, as fêmeas são afetadaspelo número de ovos ovipositados, enquanto,em outras, ocorre redução drástica doconsumo foliar, quando tratadas comextratos preparados das diversas partes daplanta de Nim.

Alguns derivados de vilasinim com forte açãoantialimentar foram isolados do óleo dassementes de Nim.

O estudo do comportamento alimentar delarvas de Spodoptera littoralis, S.frugiperdaa, S. exempta, Heliothis virescens,Helicorvepa zea, H. armigera, Trichoplusia nie Mamestra brassicae tem mostrado que oazadiractin reduziu o consumo alimentar detodas as espécies testadas.

As fêmeas de alguns lepidópteros sãorepelidas pelos produtos derivados do Nim,aplicados sobre plantas ou outros substratose não ovopositam sobre eles em condições delaboratório. Fêmeas de alguns gêneros dedípteros também tiveram a ovoposiçãodetida, assim como alguns coleópteros(Callosobruchus sp.) em grãos armazenados.

O óleo de Nim, numa concentração de 30mg/10 g de sementes, produziu efeito deantiovoposição para C. maculatus.

Fêmeas de Crocidolomia binotalis foramrepelidas de folhas de repolho tratadas comextratos de folhas secas de Nim distribuídasaté a distância de 25 cm. Este é um efeitopuramente olfativo, que também ocorre comtraças, na presença de produtos voláteis, ecom destilados das sementes do Nim;todavia, o contato direto com produtosdestilados não inibem a ovoposição.

O azadiractin tem efeito antialimentar emgafanhotos, quando oferecido em sucrosesobre papel de filtro de espessura de 1,5-6 x10-8m contendo 10-40 mg de i.a.

Ação sobre o Crescimento, a Metamorfosee a Fecundidade

As substâncias presentes no óleo de Nimprovocam uma desordem hormonal emdiferentes etapas de desenvolvimento doinseto. O isômero AZ-E é considerado o maisefetivo regulador de crescimento de insetos.O Deacetilazadiractinol (IGR) tem forte efeitoregulador de crescimento sobre Heliothisvirescens, e a sua ação se faz presente emoutros gêneros de insetos através dasinterrupções dos ínstares larvais, para chegarà fase adulta e, com isto, determinaralterações morfológicas, como a formação deasa e outros órgãos dos insetos.

Efeito sobre o Ciclo Biológico

Em alguns coleópteros, as substâncias presentesno óleo de Nim têm provocado oprolongamento da fase adulta e, em outros, asua redução. Fêmeas adultas de Oncopeltusfasciatus, tratadas com azadiractin (0,25 mg),tiveram alta mortalidade e redução dalongevidade para 11 dias ou menos. Em larvasde Ceratites capitata, tratadas com óleo de Nim,houve redução da longevidade dos adultos esomente 50% alcançaram a maturidade sexual.

Os insetos tratados com extratos de Nimmostraram, em alguns casos, forte debilidadeda atividade normal, encurtando o tempo devida ou com mortalidade aguda. Verificou-setambém desequilíbrio no acasalamento devidoà impotência do macho e a uma reduçãoconsiderável de feromônios nas fêmeas.

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Relatórios técnicos têm mostrado que,mesmo após o efeito específico do inseticida,há preservação dos inimigos naturais.

Utilização no Controle de Pragas

O extrato aquoso de Nim é particularmenteideal para as pragas das culturas agrícolas empequenas propriedades. Isto se deve àfacilidade de preparação do produto, comodescrito a seguir:

(1) Usa-se a semente semiprocessada (sem casca) ou ofruto total para moer;

(2) colocam-se 3,75 kg de sementes moídas sem casca,ou 7,5 kg de sementes moídas com casca, em umtambor (Figura 8) com capacidade para 200L,enchido com água;

(3) deixa-se o produto em repouso cerca de 12 horas,agitando bem duas a três vezes;

(4) em seguida, passa-se a suspensão em uma tela fina,para evitar o entupimento do bico do pulverizador.

Desse modo, a mistura está pronta para seraplicada no controle das pragas. Contudo, aeficiência não é igual para todas as pragas,pois algumas delas são facilmentecombatidas, enquanto outras não, devido aoseu comportamento e à alta capacidadereprodutiva do inseto.

Apesar desses problemas, tem-se, até o presentemomento, o registro de mais de 200 espécies deinsetos combatidos pelos extratos de Nim, comoé o caso de lagartas desfolhadoras, besouros,cigarrinhas e percevejos.

A seguir, é apresentada uma relação dasespécies de pragas e de agentes causais dedoenças de interesse agrícola que mostraramalguma sensibilidade aos extratos deAzadirachra indica.

COLEÓPTEROS

Epilachana varivestisLeptinotarsa decemlineataDiabrotica undecimpunctataDiabrotica speciosa

DIPTERA

Atherigona soccata – diptera (frutas diversas)Liriomyza sativae (mosca minadoraLiriomyza trifolii (mosca minadora)Carpophilus hemipterus (polinizadores)

HEMIPTERA

Dysdercus cingulatusD. flavidus

HOMOPTERA

Aleurothrixus floccosusNephotettix virescensNilaparvata lugens (cigarrinha verde dofeijoeiro)CicallidaeBrevicoryne brassicaePiesma quadratumPlanococcus citriSaissetia nigraAonidiella aurantii (cochonilha vermelha)Aonidiella citrinaBemisia tabaciParasaissetia nigraAphis gossypii (pulgão preto)Aphis umbrellaFamília Aphididdade

ISOPTERA

Microtermes sp.

LEPDOPTERA

Heliothis zeaHeliothis virescensEarias insulanaDiaphania nitidalisPlusia peponis (mede palmo)Pseudoplusia includensSpodoptera frugiperda (do cartucho)Spodoptera spp

Fig. 8. Recipiente

utilizado para preparo

de extrato aquoso do

Nim.

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S. lituraAgrotis ypsilon (lagarta rosca)Diaphania hyalinataPieris brassicaeTrichoplusia includensLeucinodes orbonalisMamestra brassicaeCydia pomonellaHypsipyla grandella (broca)Manduca Sexta

ORTHOPTERA

Schistocerca gregáriaLocusta migratória

PRAGAS DE GRÃOS ARMAZENADOS

Cryptolestes pusillusBruchus chinensisC. maculatusEphestia cautella

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:Embrapa Arroz e FeijãoRodovia Goiânia a Nova Veneza km 12 Zona RuralCaixa Postal 17975375-000 Santo Antônio de Goiás, GOFone: (62) 533 2123Fax: (62) 533 2100E-mail: [email protected]

1a edição1a impressão (2003): 1.000 exemplares

Presidente: Carlos Agustin RavaSecretário-Executivo: Luiz Roberto R. da SilvaMembro: Luís Fernando Stone

Supervisor editorial: Marina A. Souza de OliveiraRevisão de texto: Vera Maria T. SilvaTratamento das ilustrações: Fabiano SeverinoDiagramação-: Fabiano Severino

Comitê depublicações

Expediente

CircularTécnica, 62

CGPE 4669

Corcyra cephalonicaPlutella xylostellaLasioderma serricorniRhizopherta dominicaSitophilus oryzaeSitotroga cerealellaT. castaneumTribolium confusum

DOENÇAS

Fusarium solaniFusarium oxysporiumRhizoctonia solaniColletotricum sp.

NEMATÓIDES

Meloidogyne incognitaDitylenchus cypeiPratylenchus brachyurus