culpabilidade -...

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CULPABILIDADE O que é culpabilidade? É a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de uma infração penal, por isso, costuma ser definida como juízo de censurabilidade e reprovação exercido sobre alguém que praticou um fato típico e ilícito . Não é elemento do crime, mas pressuposto para imposição de pena , porque, sendo um juízo de valor sobre o autor de uma infração penal, não se concebe possa, ao mesmo tempo, estar dentro do crime, como seu elemento, e fora, como juízo externo de valor do agente. Para censurar quem cometeu um crime, a culpabilidade deve estar necessariamente fora dele. Requisitos da culpabilidade conforme a teoria adotada pelo CP TEORIA LIMITADA DA CULPABILIDADE Requisitos: 1. imputabilidade; 2. potencial consciência da ilicitude; 3. exigibilidade de conduta diversa. O que é imputabilidade? É a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Causas legais que excluem a imputabilidade - são quatro: 1. doença mental; 2. desenvolvimento mental incompleto; 3. desenvolvimento mental retardado; 4. embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior. Critérios de aferição da inimputabilidade previstos no CP: 1. sistema biológico: foi adotado, como exceção , no caso dos menores de 18 anos, nos quais o desenvolvimento incompleto presume a incapacidade de entendimento e vontade (CP, art. 27); 2. sistema psicológico;

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CULPABILIDADE

���� O que é culpabilidade? ����

É a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de uma

infração penal, por isso, costuma ser definida como juízo de censurabilidade e

reprovação exercido sobre alguém que praticou um fato típico e ilícito.

Não é elemento do crime, mas pressuposto para imposição de pena,

porque, sendo um juízo de valor sobre o autor de uma infração penal, não se

concebe possa, ao mesmo tempo, estar dentro do crime, como seu elemento,

e fora, como juízo externo de valor do agente. Para censurar quem cometeu

um crime, a culpabilidade deve estar necessariamente fora dele.

���� Requisitos da culpabilidade conforme a teoria adotada pelo CP – TEORIA

LIMITADA DA CULPABILIDADE �

Requisitos:

1. imputabilidade;

2. potencial consciência da ilicitude;

3. exigibilidade de conduta diversa.

���� O que é imputabilidade? ����

É a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se

de acordo com esse entendimento.

���� Causas legais que excluem a imputabilidade - são quatro: ����

1. doença mental;

2. desenvolvimento mental incompleto;

3. desenvolvimento mental retardado;

4. embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior.

���� Critérios de aferição da inimputabilidade previstos no CP: ����

1. sistema biológico: foi adotado, como exceção, no caso dos menores

de 18 anos, nos quais o desenvolvimento incompleto presume a

incapacidade de entendimento e vontade (CP, art. 27);

2. sistema psicológico;

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3. sistema biopsicológico: foi adotado como regra (Art. 26, caput, CP).

���� Segundo o sistema biopsicológico os requisitos da inimputabilidade são

três:����

1. causal: existência de doença mental ou de desenvolvimento mental

incompleto ou retardado, que são as causas previstas em lei;

2. cronológico: atuação ao tempo da ação ou omissão delituosa;

3. consequencial: perda da capacidade de entender e querer.

���� Espécies de embriaguez - são quatro: ����

1. Embriaguez não acidental que subdivide-se:

1.1. voluntária, dolosa ou intencional (completa ou incompleta);

1.2. culposa (completa ou incompleta);

2. Embriaguez acidental: pode decorrer de caso fortuito ou força maior

(completa ou incompleta);

3. patológica;

4. preordenada.

���� Teoria da “actio libera in causa” (ação livre na causa) ����

A embriaguez não acidental JAMAIS exclui a imputabilidade do

agente, seja ela voluntária, culposa, completa ou incompleta, uma vez que

no momento em que o sujeito ingere a substância é livre para decidir se devia

ou não praticar a conduta delituosa.

A conduta, mesmo quando praticada em estado de embriaguez

completa, origina-se de um ato de livre-arbítrio do sujeito, que opta por ingerir

a substância quando tinha possibilidade de não o fazer.

A ação foi livre na sua causa, por isso o agente deve ser

responsabilizado (teoria da actio libera in causa).

Considera-se, portanto, o momento da ingestão da substância e não o

da prática delituosa.

OBS: Essa teoria ainda configura resquício da responsabilidade objetiva no

sistema penal brasileiro; é admitida excepcionalmente quando for

absolutamente necessário para não deixar o bem jurídico sem proteção.

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���� Em que consiste a semi-imputabilidade / responsabilidade diminuída? ����

É a perda de parte da capacidade de entendimento e

autodeterminação, em razão de doença mental ou de desenvolvimento

incompleto ou retardado.

Alcança pessoas em que as perturbações psíquicas tornam menor o

poder de autodeterminação e mais fraca a resistência interior em relação à

prática do crime.

O agente é imputável e responsável por ter alguma noção do que faz,

mas sua responsabilidade é reduzida em virtude de ter agido com

culpabilidade diminuída em consequência das suas condições pessoais.

- Consequência da semi-imputabilidade����

A semi-imputabilidade não exclui a imputabilidade, ou seja, o sujeito

será condenado pelo fato típico e ilícito que cometeu.

Ao ser constatada a redução na capacidade de compreensão ou

vontade, o juiz terá 2 opções:

1. reduzir a pena de 1/3 a 2/3 ou impor medida de segurança

(mesmo assim a sentença continuará sendo condenatória). OBS:

A escolha por medida de segurança só poderá ser feita se o

laudo de insanidade mental indicá-la como recomendável, não

sendo arbitrária essa opção.

2. Se for aplicada pena, o juiz obrigatoriamente a diminuirá de 1/3 a

2/3, conforme o grau de perturbação; OBS: trata-se de direito

público subjetivo do agente, por isso não poderá ser subtraído

pelo julgador.

���� Erro de proibição����

A errada compreensão de uma regra legal pode levar o agente a

supor que certa conduta injusta seja justa; o sujeito diante de uma suposta

realidade acaba por se achar no direito de realizar uma conduta que, na

verdade, é proibida. Em virtude de uma equivocada compreensão da norma

pensa ser permitido aquilo que era proibido, daí o nome “erro de proibição”.

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- Erro de tipo X Erro de proibição

Erro de tipo Erro de proibição

� O agente tem uma visão distorcida

da realidade, ou seja, não percebe na situação que vivencia a existência de fatos descritos no tipo como elementares ou circunstâncias.

� O autor não sabe o que faz, e se soubesse não o faria. Ex: portar maconha pensando ser cigarro comum (tabaco)

� Existe uma noção sobre tudo o que

está passando; o sujeito conhece toda a situação fática; não existe distorção da realidade; sabe que a carteira pertence a outra pessoa; que está atirando contra as costas de alguém; que o objeto é de ouro... � O autor da conduta sabe o que faz, mas acredita que aquilo que faz é lícito. Ex: Portar pequena quantidade de maconha para uso pessoal pensando ser permitido pela legislação.

- Consequência do erro de proibição����

O erro de proibição sempre exclui a atual consciência da ilicitude, no

entanto, apenas aquele que não poderia ter sido evitado elimina a potencial

consciência.

- Espécies de erro de proibição����

1. inevitável ou escusável �

O agente não tinha como conhecer a ilicitude do fato, em virtude das

circunstâncias do caso concreto; se não tinha como saber que o fato era

ilícito, inexistia a potencial consciência da ilicitude, logo, esse erro exclui a

culpabilidade; O agente fica isento de pena;

2. evitável ou inescusável �

Mesmo que o agente desconhecesse que o fato era ilícito, ele tinha

condições de saber, dentro das circunstâncias, que contrariava o

ordenamento jurídico. Ficando comprovado que tinha potencial para

conhecer a ilicitude do fato, o sujeito possuía a potencial consciência da

ilicitude, logo, a culpabilidade não será excluída. Obs: agente não fica

isento de pena, mas, em face da inconsciência atual da ilicitude, terá

direito a uma redução de pena de 1/6 a 1/3.