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Cuidados em Fim de Vida numa USF Caracterização da prática e do seu impacto na morte no domicílio de pacientes terminais Ana Resende Mateus Olívia Matos USF FF-mais, Fernão Ferro Setembro 2013

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Page 1: Cuidados em Fim de Vida - Ordem dos Enfermeiros...Cuidados Paliativos Lei n.º 52/2012 de 5 de setembro Lei de Bases dos Cuidados Paliativos BASE II Conceitos “Para efeitos da presente

Cuidados em Fim de Vida numa USF

Caracterização da prática e do seu impacto na morte no domicílio de pacientes terminais

Ana Resende MateusOlívia Matos

USF FF- mais, Fernão FerroSetembro 2013

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Cuidados PaliativosLei n.º 52/2012

de 5 de setembro

Lei de Bases dos Cuidados Paliativos

BASE II

Conceitos

“Para efeitos da presente lei, entende -se por:

a) «Cuidados paliativos» os cuidados ativos, coordenados e globais, prestados por unidades e equipas específicas, em internamento ou no domicílio, a doentes em situação em sofrimento decorrente de doença incurável ou grave, em fase avançada e progressiva,assim como às suas famílias, com o principal objetivo de promover o seu bem-estar e a sua qualidade de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual, com base na identificação precoce e do tratamento rigoroso da dor e outros problemas físicos, mas também psicossociais e espirituais;

b) «Ações paliativas» as medidas terapêuticas sem intuito curativo, isoladas e praticadas por profissionais sem preparação específica, que visam minorar, em internamento ou no domicílio, as repercussões negativas da doença sobre o bem-estar global do doente, nomeadamente em situação de doença incurável ou grave, em fase avançada e progressiva…”

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Cuidados/ Actos Paliativos em CSP

Cobertura do território nacional insuficiente por equipas específicas de Cuidados Paliativos

+

Ausência de resposta hospitalar a situações paliativas

+

Acessibilidade, conhecimento longitudinal mútuo e confiança nas equipas de CSP

CSP são frequentemente o único ponto de acesso efectivo a AP no SNS

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Cuidados em Contexto de USF

Holísticos

Antecipatórios

Centrados na pessoa e na sua família

Próximos e acessíveis

Longitudinais

Multidisciplinares

Articulados com a comunidade

ACTOS PALIATIVOS

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O que se conhece sobre isto?Envolvimento equipas de CSP em CP- maior satisfação das famílias com os cuidados recebidos (Brazil et al., 2005)

- maior taxa de morte no domicílio (Neergaard et al., 2009)

Ausência de estudos nacionais

Portugueses entre os europeus com maior taxa de morte em meio hospitalar - 62% em 2008 ;

- tendência de subida na última década (Machado et al., 2010)

Importa estudar o potencial das USF na melhoria deste desempenho

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Objectivos

Determinar a relação entre prestação de actos paliativos (AP) pela equipa da USF FF- mais e a taxa de mortes no domicílio dos pacientes inscritos com doenças incuráveis ou graves, em fase terminal;

Descrever o conteúdo da prática assistencial de AP numa USF.

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Metodologia (1)Tipo de estudo: estudo descritivo e transversal

estudo de caso controlo

População em estudo: indivíduos falecidos residentes na Freguesia de Fernão Ferro

Período em estudo: 2008- 2012

Método de amostragem: censo

Dimensão amostral: 272

Fontes de dados: arquivo documental da Conservatória do Registo Civil do Concelho do Seixal; processos clínicos electrónicos Medicine One®.

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Metodologia (2)Variáveis em estudo

Demográficas

Relacionadas com a causa da morte (elegível ou não para AP)

Relacionadas com a morte (causa e local)

Clínicas

Sociais

Definição de caso e controlo Caso: indivíduo inscrito na USF falecido no domicílio (casa

ou lar)

Controlo: indivíduo inscrito na USF falecido no hospital (internamento ou SU)

Emparelhados (1:1): género, classe etária, causa de morte (CID-10)

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Metodologia (3)

Tratamento de dados

Microsoft Excel ® 2007

EpiInfo ® 2000

Ferramentas de estatística descritiva

média e desvio padrão

Ferramentas de estatística inferencial

teste do qui quadrado

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Resultados (1)Fluxograma de inclusão

272

Falecidos FF 2008/12

158

utilizadores USF

33

não elegíveis AP

125

elegíveis AP

37 não receberam AP

na USF

DOMICÍLIO = 8

(21.6)

LAR= 3

(8.11)

SU= 12

(32.4)

INTERNAMENTO= 14

(37.8)

88 receberam AP na USF

DOMICÍLIO= 42

(47.7)

LAR= 4

(4.54)

SU= 21

(23.8)

INTERNAMENTO= 21 (23.9)

114

não utilizadores EXCLUÍDOS*

* Excluídos: 16 inscritos não utilizadores; 7 esporádicos; 91 não inscritos

LOCAL DE MORTE

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Resultados (2)Demografia

IDADE MÉDIA, anos (DP)

Homens: 73.4 ( 14.3)

Mulheres: 82 (10.5)

DISTRIBUIÇÃO POR GÉNERO

61% mulheres

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Resultados (3)Causas de morte (% totais)

USF Total

Cancro 29.5 Cancro 20.9

Pneumonia 18.2 Pneumonia 14.7

AVC 11.4 AVC 10.3

Demência 6.82 EAM 8.46

ICC 6.82 ICC 8.09

Sépsis 4.55 Senilidade 6.62

Traqueobronquite

3.41 Sépsis 4.79

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Resultados (4)Local de morte

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Resultados (7)Recursos assistenciais mobilizados

Visitas domiciliárias (no último mês de vida)

6

16

1,24

3,52

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Médicas Enfermagem

n

85.2% dos pacientes acompanhados pela USF beneficiaram de apoio social dos parceiros da comunidade

Tipos de recursos sociais (no último mês de vida)

0

10

20

30

40

50

60

Ajudas

técnicas

Higiene Lar AlimentaçãoApoio

económico

RNCCI

n

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Resultados (9)Aspectos clínicos paralelos ou associados a AP

N.º médio co-morbilidades

7.49/ paciente

Necessidades de cuidados de penso regulares

46.6%

Uso de via SC

11.4%

Prescrição de antibiótico na última semana de vida

31.8%

Registo de uma conferência familiar

30.7%

Certificação do óbito pelo MF

23.9%

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Resultados (10)Sintomas no último mês de vida

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Resultados (11)Tratamento da dor no último mês de vida

Analgésico

32%

Opióides minor

12%Opióides major

27%

Analgésico + opióide minor

19%

Analgésico + opióide major

10%

100% dos pacientes com referência ao sintoma “dor “ nos SOAP do último mês estavam medicados

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Discussão (1)Limitações do estudo

Validade interna

Ponto forte- censo, amostra com bom poder estatístico

Ponto fraco- incerteza sobre acesso à totalidade da população de estudo no período (significativo?)

Validade externa

Realidade local

Equipa ligada à comunidade e com longo historial de conhecimento mútuo

Necessidade de estudos similares noutros contextos

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Discussão (2)AP prestados pela USF e taxa de morte no domicílio

Desempenho da USF no quinquénio claramente acima da média nacional em 2008: 52.3% vs. 29.9% (INE, 2008)

Parece aceitável a existência de uma associação causa-efeito entre prestação de AP pela equipa de família e a morte em casa:

Relação longitudinal e de confiança família-equipa

Melhor conhecimento das co-morbilidades e das redes de apoio

Melhor acessibilidade a cuidados

Acesso a apoios sociais da comunidade facilitado

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Discussão (3)Conteúdo da prática em AP na USF

Limitações da análise de registos: viés de sub-notificação de actos

Factos prováveis: Cerca de 1/3 das pessoas falecidas em FF nunca estiveram inscritas na USF

Onde estiveram? Lar?

Quem e como as cuidou?

Usamos pouco a via SC (11%; necessidade suposta 60-70% - Almada-Lobo F, 2007)

Menor necessidade pela acessibilidade a analgesia TD?

Esquecimento? Pouco à-vontade?

Fazemos poucas conferências familiares (prognóstico, fase agónica, morte)

Abusamos da prescrição de antibióticos na última semana de vida

Estamos alerta para sintomas terminais- mas não os tornamos problemas de saúde

Tratamos a dor de modo sistemático- mas não a quantificamos

Não simplificamos a terapêutica crónica

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ConclusãoUma equipa de CSP parece ser capaz de prestar cuidados a pacientes em fim de vida que se associem a uma elevação dos padrões de qualidade de vida.

O relacionamento com as equipas de família pode ser uma mais valia a considerar na prestação de cuidados paliativos e na RNCP.

Melhorar aspectos específicos da formação de base e da prática clínica poderá ajudar a aumentar a qualidade técnico-científica dos AP prestados pela equipa.

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AGRADECIMENTOS

- Dr.ª Ana Margarida Santos, Conservadora, e todo o pessoal da Conservatória do Registo Civil do Seixal

- Dr.ª Joana Paiva

- Dr.ª Rute Soares

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Cuidados em Fim de Vida numa USF

Caracterização da prática e do seu impacto na morte no domicílio de pacientes terminais

Ana Resende MateusOlívia Matos

USF FF- mais, Fernão FerroSetembro 2013