cronotanatognose

11
CRONOTANATOGNOSE É o capítulo da Tanatologia que estuda os meios de determinação do tempo transcorrido entre a morte e o exame necroscópico. Como é cediço, estas determinações se baseiam nos prazos em que se processam os diversos fenômenos transformativos, destrutivos ou conservadores que podem ser encontrados no cadáver. Todavia, é fácil compreender que a maioria das avaliações possíveis apenas possuem valor aproximativo. Com efeito, todas elas são integram um grande número de variáveis, a maioria das quais dependentes de valores mesológicos zonais, de características do próprio indivíduo cujo cadáver se pretende examinar e atreladas a um sem-fim de circunstâncias que influenciam, ora acelerando, ora retardando, ora apenas alterando, a marcha natural dos fenômenos cadavéricos. Desnecessário enfatizar que, quanto maior o tempo escoado entre o óbito e o exame, tanto maior será a dificuldade na determinação precisa do lapso transcorrido, em horas ou dias, desde o decesso. Diversos calendários de cronotanatognose têm sido elaborados, tomando como base as transformações "quod plerumque accidit" nos cadáveres e através das quais é possível uma verificação, ainda que aproximada, dos tempos transcorridos. Técnicas Cronotanatognóticas Compreendem a observação de modificações e fenômenos que se instalam progressivamente no cadáver, bem como exames complementares que permitem datar, com relativa precisão dentro de uma faixa temporal, o momento do óbito. Estimativa do Momento da Morte Recente Esfriamento do cadáver ("algor mortis") O esfriamento do cadáver é um dos fenômenos abióticos imediatos que pode ser utilizado, com grandes ressalvas, e que sói ser útil, pela sua praticidade, na estimativa aproximada do momento da morte.

Upload: gabriel-gonzales

Post on 26-Jul-2015

140 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: cronotanatognose

CRONOTANATOGNOSE

É o capítulo da Tanatologia que estuda os meios de determinação do tempo transcorrido entre a morte e o exame necroscópico. Como é cediço, estas determinações se baseiam nos prazos em que se processam os diversos fenômenos transformativos, destrutivos ou conservadores que podem ser encontrados no cadáver. Todavia, é fácil compreender que a maioria das avaliações possíveis apenas possuem valor aproximativo. Com efeito, todas elas são integram um grande número de variáveis, a maioria das quais dependentes de valores mesológicos zonais, de características do próprio indivíduo cujo cadáver se pretende examinar e atreladas a um sem-fim de circunstâncias que influenciam, ora acelerando, ora retardando, ora apenas alterando, a marcha natural dos fenômenos cadavéricos.Desnecessário enfatizar que, quanto maior o tempo escoado entre o óbito e o exame, tanto maior será a dificuldade na determinação precisa do lapso transcorrido, em horas ou dias, desde o decesso.Diversos calendários de cronotanatognose têm sido elaborados, tomando como base as transformações "quod plerumque accidit" nos cadáveres e através das quais é possível uma verificação, ainda que aproximada, dos tempos transcorridos.Técnicas CronotanatognóticasCompreendem a observação de modificações e fenômenos que se instalam progressivamente no cadáver, bem como exames complementares que permitem datar, com relativa precisão dentro de uma faixa temporal, o momento do óbito.Estimativa do Momento da Morte Recente Esfriamento do cadáver ("algor mortis")O esfriamento do cadáver é um dos fenômenos abióticos imediatos que pode ser utilizado, com grandes ressalvas, e que sói ser útil, pela sua praticidade, na estimativa aproximada do momento da morte.Com efeito, sabe-se que o corpo, uma vez cessadas as funções vitais, passa a perder calor, por diversos mecanismos - convecção, condução, irradiação e evaporação - à razão de 1,0 ºC a 1,5 ºC por hora, igualando em termos gerais, a temperatura do ambiente, no máximo, até a 24ª hora após o decesso.Não é necessário lembrar que numerosos fatores como a temperatura ambiente, o arejamento do local, a temperatura do corpo no momento do óbito, o estado nutricional, a camada de panículo adiposo, as vestes que cobrem o cadáver etc. podem modificar os tempos acima referidos.Rigidez cadavérica ("rigor mortis")Também a rigidez cadavérica poderá ser utilizada para aquilatar o tempo transcorrido desde o óbito lembrando que, à semelhança do que acontece com o esfriamento do corpo, numerosos são os fatores que podem, ora acelerá-la (frio), ora retardá-la (calor), donde que nunca deverá ser assumida como valor absoluto, antes apenas de orientação.Algumas regras foram estabelecidas, por diversos autores, para permitir a sua estimativa em relação ao momento da morte:a. Regra de Bonnet - A rigidez se inicia logo após a morte, atingindo o seu total desenvolvimento até a 15ª hora e depois desaparece lentamente. Acaba quando os fenômenos destrutivos, de putrefação, se instalam.b. Regra de Fávero - O processo se inicia logo na primeira hora e se generaliza entre 2 e 3 horas, atingindo o seu máximo após 5 a 8 horas.

Page 2: cronotanatognose

c. Regra de Niderkorn - Considera-se precoce a rigidez que ocorre até a 3ª hora; é normal entre a 3ª e 6ª horas; diz-se tardia quando sobrevem entre a 6ª e 9ª horas e chama-se de muito tardia, quando ocorre depois da 9ª hora.Manchas de hipóstase ("livor mortis")Começam aparecer sob a forma de um pontilhado (sugilações) cujos elementos coalescem para formar placas de cor variável, dentro das nuanças vermelho-arroxeadas, em dependência da "causa mortis". Desaparecem pela compressão, inclusive digital, elemento este que serve para diferenciá-las das equimoses que são constantes.Duas regras podem ser usadas a seu respeito:a. Quanto ao aparecimento - surgem na primeira meia hora, após o óbito, mas apenas se tornam evidentes entre a 2ª e 3ª horas, sendo que podem não aparecer nas regiões comprimidas.b. Quanto à fixação - tornam-se fixas, isto é, não mudam de localização quando se muda a posição do cadáver, após decorridas 6 a 15 horas.Os livores cadavéricos:são difíceis de observar nas pessoas melanodermas; podem não ser observáveis mesmo em leuco ou xantodermas, quando nestas pessoas o óbito ocorre em condições de anemia aguda após hemorragias maciças, e podem observar-se ainda em vida, na fase agônica ou terminal, em pessoas extremamente debilitadas e com hipotensão arterial. Crescimento do pelo Mesmo após a morte, alguns fâneros, como pelo e unhas continuam a crescer. Os primeiros, crescem a razão de 21 micra por hora, donde que sua medição tenha sido utilizada para determinar a hora do óbito.Nível de potássio no humor vítreoA quantidade de potássio, avaliada em miliequivalentes por litro, aumenta, progressivamente, à medida que transcorre o tempo após a morte, sendo que os valores progressivos são confiáveis, ao menos para os climas quentes, apenas para as primeiras 12 horas após o óbito. Contrariamente, em climas frios, a precisão pode estender-se por 24 horas.Assim, é que foi possível construir uma tabela que permite, a partir das avaliações do teor de potássio no humor vítreo do olhos, calcular o tempo transcorrido desde o decesso:

Horas desde a morte Máximo mEq K/l MédiomEq K/l

MínimomEq K/l

1a 3 5,6 4,70 3,03 a 5 7,2 5,66 4,35 a 7 7,8 6,58 5,37 a9 9,6 7,45 6,2

9 a 11 12,9 9,02 6,81 a 13 12,6 10,31 8,8> 13 12,6 10,41 9,0

Alterações ocularesJá foram alvo de estudo em outra partes deste trabalho as seguintes:midríase (dilatação pupilar); tela viscosa da córnea (tela albuminosa da córnea); segmentação da coluna sangüínea dos vasos oculares, e perda da turgência dos globos oculares.

Page 3: cronotanatognose

Entre nós, RODRIGUES, aprimorou técnica de tonometria ocular capaz de avaliar esta perda estabelecendo uma correlação confiável entre a saída de líquido (desidratação) e o tempo transcorrido desde o decesso. Trata-se de uma técnica simples, rápida, de fácil execução e de ínfimo custo. A tonometria ocular oferece uma margem de erro de apenas uma hora, quando o estudo é realizado nas primeiras 24 horas.Conteúdo GástricoO tempo de esvaziamento do estômago varia de indivíduo para indivíduo, em parte pelo tipo dos alimentos ingeridos, em parte pelas idiossincrasias normais ou patológicas de cada pessoa. Destarte, o estudo do conteúdo gástrico do cadáver pode ser de utilidade, de modo a verificar em que estado de digestão se encontram os alimentos.Com efeito, eis que as principais substâncias constituintes dos alimentos, bem como os reflexos hormonais autônomos, entre o estômago e o duodeno, são decisivos para influenciar o tempo de permanência dos alimentos na câmara gástrica. Assim, os glúcides ou hidratos de carbono são os que apresentam uma permanência mais breve e, em contrapartida, os lípides os que oferecem um trânsito mais demorado, sendo certo que as proteínas ocupam um lugar intermediário.Algumas patologias tanto do estômago como do duodeno - lesões do plexo de Auerbach, estenoses duodenais pós-ulcerosas etc. - podem aumentar bastante esses tempos, ao passo que fenômenos como o "dumping", podem diminuí-loQuando o conteúdo do estômago do cadáver exibe alimentos não digeridos, pode-se aventar a hipótese de que alguma refeição foi realizada nas últimas duas horas antes do óbito.Já foi apresentada uma relação de alimentos que podem ser encontrados no estômago e cujo achado pode servir como indício cronológico do lapso transcorrido desde a sua ingestão, conforme relacionado, com adaptações, na tabela abaixo:

Tempo de permanência no estômago do vivo, em horas

Tipo de Alimento

1 a 2 água, chá, café, leite2 a 3 massas, ervilhas, carne de ave, carne bovina, bolachas,

laranjas3 a 4 pão, arroz, carne assada, verduras cozidas, presunto4 a 5 carne de porco, legumes, couve

Paralelamente e desde que conhecidos os hábitos alimentares da vítima, e.g. horários de refeições, tipos de alimentos ingeridos etc., os achados do conteúdo gástrico poderão auxiliar, ainda mais, na avaliação do momento do óbito.Estimativa do Momento da Morte Não-recente PutrefaçãoAlgumas regras podem ser estabelecidas de modo a utilizar o avanço do processo putrefativo na cronotanatognose:Período cromático, tem início com a mancha verde, entre a 18ª e 24ª horas, e a sulfometa-hemoglobina confere cor verde enegrecida ao corpo todo até o fim da primeira semana. Período enfisematoso, se inicia por volta da 24ª hora, sendo certo que o edema de face, genitália e circulação póstuma de Brouardel, aparecem entre as 48 e 72 horas. Período coliquativo, tem início no fim da primeira semana e se prolonga de maneira diversa, conforme o local em que se encontra o cadáver. Período de esqueletização, começa entre a 3ª e 4ª semanas, podendo ocorrer muito mais rapidamente nos cadáveres expostos. Cristais de WESTENHÖFER - ROCHA - VALVERDE

Page 4: cronotanatognose

Trata-se cristais incolores, de forma prismática ou laminar, de tamanho variável, facilmente quebradiços que aprecem no sangue do cadáver e que resultam da decomposição das hemácias. Tingidos pelo ferrocianeto de potássio adquirem cor azulada, em face do seu conteúdo férrico, enquanto que pelo tratamento com iodo assumem cor castanha.Seu valor cronotanatognótico reside no fato que estes cristais aparecem no sangue do cadáver somente por volta do 3º dia da morte e sua presença não mais é achada após o 35º dia após o óbito.Fauna EntomológicaO estágio da metamorfose dos dípteros cujas larvas têm atividade necrofágica permite estabelecer uma cronologia da morte. Existem estudos adaptando as observações dos autores europeus para o Brasil mas são pouco usados.Estimativa do Tempo de Morte Fetal "intra utero" Utiliza-se apenas para os casos de morte fetal recente e se baseia na evolução do processo de maceração. Assim, podem ser encontrados os seguintes estágios:a. Grau 0, caracteriza-se pela pele de aspecto bolhoso e indica um tempo de óbito de menos de oito horas. b. Grau 1, identifica-se pelo início do descolamento da epiderme e aponta para um tempo que oscila entre 8 e 24 horas. c. Grau 2, exibe grandes áreas de descolamento cutâneo e nas cavidades serosas verifica-se a ocorrência de derrames sero-sanguinolentos (avermelhados), o que indica óbito de mais de 24 horas. d. Grau 3, caracteriza-se pelo fato dos derrames das cavidades serosas se tornarem turvos e o fígado assumir coloração amarelo-marronzada e aponta para uma cronologia de morte em torno de 48 horas. Estimativa da Sobrevivência Fetal No encontro de cadáver de recém nato, a estimativa do tempo de sobrevivência fetal até o óbito pode ter interesse. Todavia, é mister enfatizar as dificuldades práticas com que se defronta o legista, tendo em vista fatores mesológcos, variabilidade individual e condições do local e do corpo (e.g. vestes). Apenas como orientação geral, apresentamos a enumeração abaixo extraída de diversos autores, que deve ser utilizada atentando para as ressalvas já mencionadas:Minutos ou poucas horas no post-parto - Tumor do parto acentuado; sangue materno sobre o corpo; pele avermelhada coberta por vérnix caseoso; cordão umbilical branco azulado com perda progressiva do brilho e turgência; estômago com ar, saliva e muco; pulmões com áreas de expansão e atelectasia.Várias horas até 24 horas - Tumor do parto em fase de absorção; vérnix caseoso ressecado; cordão umbilical achatado e com início da orla de eliminação; evacuação de mecônio; mielinização do nervo óptico.24 a 48 horas - Tumor do parto mais reduzido; descamação epidérmica, cordão umbilical bastante dessecado com orla de eliminação quase completa; maior quantidade de mecônio eliminado.48 a 72 horas - Tumor do parto quase desaparecido; cordão umbilical coriáceo; aumento da descamação epidérmica; inocorrência de mecônio.4º a 5º dias - Tumor do parto desaparecido; cordão umbilical mumificado; intensa descamação epidérmica; mielinização completa do nervo óptico.6º dia - Queda do cordão umbilical; redução da descamação epidérmica; início da obliteração e fibrose dos vasos umbilicais intra-abdominais.

Page 5: cronotanatognose

Acima de 8 dias - Diminuição maior da descamação epidérmica; obliteração completa dos vasos umbilicais intra-abdominais e fechamento da CIA (foramen Botalis).Provas da Vida Extra-uterina Em situações especiais como, por exemplo, nos casos de suspeita de infanticídio, torna-se necessário verificar, preliminarmente, se estamos em presença de uma figura delituosa possível ou, simplesmente, de um crime impossível.Com efeito, eis que se faz necessário saber se a vítima do suposto infanticídio teria vivido antes do cometimento do ilícito ou se, apenas, se tratava de um natimorto, cuja condição não chegou a ser constatada pela mãe antes da prática de seu ato.As provas destinadas à verificação da vida fe- tal "extra utero" - designadas como docimasias - podem ser divididas em três grandes modalidades, a saber:a) respiratórias diretas e indiretas;b) não respiratórias, ec) ocasionais.a. Docimasias Respiratórias DiretasTodas as provas respiratórias da vida "extra uterina" se apoiam, basicamente, em um principio estatuído por Galeno há quase 2.000 anos:"Substantia pulmonalis per respirationem ex rubra gravi densa in albam levem ac raram transfertur"1. Prova hidrostática de Galeno, é realizada em quatro tempos, iniciando-se pela ligadura da traquéia logo após a abertura do corpo e preparando-se um recipiente grande contendo água abundante:1º tempo - mergulha-se o bloco das vísceras torácicas na água: havendo flutuação houve respiração, logo, houve vida, porquanto o próprio Galeno já afirmava: "respirare vivere est".2º tempo - sem retirar o bloco da água, separam-se os pulm·es e após secionar os hilos dos órgãos observa-se se há flutuação: a interpretação é a mesma do primeiro tempo.3º tempo - ainda sob a água, separam-se os lobos pulmonares, e se cortam em pequenos fragmentos para verificar o comportamento de cada um deles: se afundam, o pulmão não repirou; caso flutuem, houve respiração.4º tempo - os fragmentos secionados no tempo anterior são espremidos, sempre sob a água, contra a parede do recipiente observando-se a saída de pequenas bolhas de ar junto com sangue; abandonados os fragmentos, estes também vêm à superfície quando, então, a prova se considera positiva.Podem existir causas de erro na realização desta prova, como: putrefação, insuflação, respiração "intra utero", congelação, cocção, hepatização, atelectasia secundária, asfixias mecânicas internas etc. Nestes casos, o exame histológico do órgão pode esclarecer evetuais dúvidas, ao verificar o aspecto histológico do pulmão cujo epitélio de monoestratificado cúbico, quando o órgão não respirou, passará a monoestratificado plano após as primeiras inspirações (PAULETE VANRELL, 1975).2. Tátil de Rojas - Quando da palpação interdigital, o parênquima pulmonar dá a sensação de fofura e crepitação, caso tenha havido respiração. 3. Óptica de Bouchut & Casper - consiste na observação da superfície do pulmão que, de um aspecto parenquimatoso, quando não há respiração, assume um aspecto de mosaico, em face de ocorrerem mudanças circulatórias que circunscrevem os lóbulos pulmonares.

Page 6: cronotanatognose

Numerosas outras provas têm sido descritas para estabelecer a ocorrência de vida extra-uterina com base na respiração fetal. Todavia, a maioria das mesmas pela sua complexidade ou pelo seu primitivismo, tornaram-se obsoletas e não passam de ter um valor meramente histórico.b. Docimasias Respiratórias IndiretasDenomina-se assim o conjunto de provas que visa verificar se o recém-nascido respirou, utilizando para tanto outros órgãos que não os pulmões. As mais utilizadas são:1. Docimásia gastro-intestinal de Breslau, se baseia na existência de ar no tubo digestivo, ingressa- do por deglutição toda vez que o feto tenha respirado. Após forte ligadura acima do cárdia e na ampola íleo-cecal, secciona-se o tubo digestivo que é, então, retirado e colocado em um recipiente com água. Se houver flutuação é porque o feto respirou; se afundarem é porque não houve vida extra-uterina. Nos casos em que durante as manobras de ressuscitação houve insuflação de ar no estômago do feto, apenas este órgão flutuará, enquanto que o resto do tubo digestivo afundará na água. 2. Docimásia auricular de Wreden-Wendt-Gelé, baseaia-se na ocorrência de ar na cavidade do ouvido médio que lá ingressara através da tuba timpânica (trompa de Eustáquio) desde que o recém-nascido tenha respirado. Consiste na punção da membrana timpânica, com a cabeça do feto mergulhada na água, caso o mesmo tivesse respirado, surgirá uma bolha de ar que sobre até a superfície do recipiente. c. Docimásias Não RespiratróriasTrata-se de provas que se não se baseiam na respiração fetal, mas em outras atividades vitais desenvolvidas pelo recém-nascido, como a deglutição. Existem várias mas as mais utilizáveis são:1. Docimasia siálica de Dinitz-Souza, consiste na pesquisa de saliva no estômago do feto. A reação positiva é um indicativo de que existiu vida extra-uterina. 2. Docimasia alimentar de Bothy, consiste na pesquisa de leite ou outros alimentos no estômago do feto; referidos elementos não existem no natimorto. 3. Docimasia bacteriana de Malvoz, os fenômenos putrefativos, no feto natimorto, começam pelos orifícios da boca, nariz e ânus. Nos casos em que o feto teve vida extra-uterina, a putrefação se inicia pelo tubo digestivo e pelo sistema respiratório.d. Docimasias ocasionaisNão se trata, a rigor, de provas técnicas, mas de observaç·es para cuja ocorrência se torna necessário que o feto tenha tido vida extra-uterina.1. Corpos estranhos. A presença de corpos estranhos nas vias respiratórias do cadáver implica, necessariamente, que o feto tenha feito a sua inspiração, donde que tenha respirado.2. Sinais de sobrevivência, como descamação cutânea; orla de eliminação peri-umbilical; dessecamento e mumificação do cordão umbilical etc.

3. Lesões traumáticas. Quando o feto apresenta lesões traumáticas com características inequívocas de terem sido produzidas "intra vitam", é irretorquível que o mesmo teve vida extra-uterina.

Sobrevivência, Hipermortalidade, Premoriência e Comoriência Sobrevivência é a condição pouco freqüente, em que um indivíduo é capaz de permanecer vivo a contar do momento em que recebeu lesões de tal magnitude que poderiam ser responsáveis pela sua morte.

Page 7: cronotanatognose

Durante este lapso, embora letalmente ferida, a vítima pode locomover-se, executar movimentos, enfim, cumprir atos que, ao depois, parecem impossíveis em face das lesões que apresenta e que, por isso, soem provocar grandes dúvidas ou levam a estabelecer hipóteses completamente errôneas que, não raro, prejudicam e retardam bastante as investigações.Assim, lesões encefálicas graves, por exemplo por projéteis de arma de fogo, desde que não atinjam centros vitais, podem permitir que a vítima revide a agressão sofrida, possa lutar com seu vitimário e, por vezes, até provocar-lhe ferimentos ou matá-lo.É conhecido, também, o caso das lesões cardíacas de pequeno tamanho que ora pela sua incidência oblíqua, ora porque podem ser obliterados por pequenos coágulos, lentificam ou retardam a hemorragia que acabará sendo letal, quer por anemia, quer por tamponamento.Hipermortalidade é a condição em que uma situação atual é capaz de provocar um agravamento, muitas vezes terminado em óbito, de uma moléstia da qual a vítima já era portador.Este conceito é de grande importância para a Medicina Legal aplicada à Infortunística, porquanto é neste ramo das ciências que, com maior freqüência, se dá a ocorrência de agentes traumáticos agirem sobre o organismo da vítima, já minado por uma doença consumptiva, infecto-contagiosa, profissional ou do trabalho. Nestas condições, aquele mal que por si próprio levaria o trabalhador ao óbito, vê-se agravado pelo traumatismo sofrido, somando-se e, destarte, acelerando a superveniência da morte.Comoriência é uma figura jurídica e não um conceito médico-legal, criada para dar cabo de situações ambíguas nas quais, em decorrência um mesmo evento infortunístico, duas ou mais pessoas que têm nexos familiares, jurídicos ou comerciais que implicam em problemas de Direito Civil e, principalmente de herança, morrem. Premoriência é a ordem cronológica dos óbitos das diversas vítimas em um mesmo evento. De regra, nestes casos, é de extrema importância tentar determinar a seqüência dos óbitos, notadamente por problemas patrimoniais, de herança.Não se trata de um problema fácil de resolver. É necessária boa habilidade do legista, grande poder de observação e uma avaliação global do quadro como um todo para, posteriormente, levando em consideração:natureza da lesões; local dos ferimentos; intensidade das lesões; condições físicas das vítimas, e idade das vítimas, poder chegar a uma conclusão diagnóstica, considerando, afora a diferente gravidade dos ferimentos, que os mais fortes prevalecem, pela lógica natural, sobre os mais fracos e os mais jovens sobre os mais idosos.