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CRONOLOGIA INTERNACIONAL – 1917 António José Telo GERAL 1917 foi o ano em que a guerra mudou, uma afirmação verdadeira em múltiplos sentidos. GRANDE ESTRATÉGIA. Até 1917 a guerra tinha sido marcada pelo que podemos chamar de objetivos limitados, dentro do que era uma típica abordagem europeia, orientada pela ideia do equilíbrio de forças e de uma aproximação pragmática. Em 1917 tudo muda. O presidente Wilson avança com os seus 14 pontos para orientar a paz futura, todos eles atraentes no papel como declarações de intenções gerais, mas conducentes a criar o caos quando se tentam aplicar a uma qualquer situação concreta. A revolução russa triunfante aponta para a “revolução mundial” como o caminho do futuro, encarando a guerra como a alavanca para concretizar esse objetivo. Na visão dos dirigentes bolchevistas, como Lenine e Trostky, só a revolução europeia permitiria concretizar o socialismo, possivelmente organizado à volta de uma Alemanha bolchevista que sairia da guerra. Em 1917, em resumo, as visões prevalecentes nos EUA e na Rússia, mudam por completo as regras do jogo, passando a apontar para uma Grande Estratégia global baseada em valores ideológicos e no fomento das mudanças internas. Tanto os EUA como a Rússia atacam de forma diferente o poder tradicional dos Impérios Europeus e o sistema eurocêntrico. Ao contrário do que normalmente se pensa, o grande perturbador, o estado que mais contribuiu para o caos no pós-guerra em inúmeras regiões do planeta e para o colapso do sistema europeu tradicional, não foi a Rússia bolchevista, mas sim os EUA marcados pelo idealismo de Wilson. Tudo agravado pelas promessas e expetativas que os próprios europeus faziam nas suas colónias para mais facilmente conseguirem a mobilização das populações. ESTRATÉGIA MILITAR – Em termos da estratégia militar tudo muda igualmente. Os Aliados começam o ano com a ideia de grandes ofensivas convergentes no Oeste, na Itália e no Leste, que deviam colocar a Alemanha de joelhos, impedindo que transferisse reservas de um ponto para outro. Na realidade, as ofensivas da primeira parte do ano são um desastre, que conduz à amotinação em larga escala no Exército Francês e à primeira revolução Russa. Na segunda metade do ano, os Aliados estão na defensiva. A GB sacrifica-se, atacando com objetivos limitados na Frente Ocidental para fixar as reservas alemãs. A França procura manter a coesão interna e só consegue organizar pequenos ataques na segunda metade de 1917. A Itália procura igualmente manter uma postura ofensiva, mas sofre um desastre de grandes proporções em Caporeto. A estratégia militar alemã.

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CRONOLOGIA INTERNACIONAL – 1917 António José Telo

GERAL 1917 foi o ano em que a guerra mudou, uma afirmação verdadeira em

múltiplos sentidos.

GRANDE ESTRATÉGIA. Até 1917 a guerra tinha sido marcada pelo que podemos chamar de objetivos limitados, dentro do que era uma típica abordagem europeia, orientada pela ideia do equilíbrio de forças e de uma aproximação pragmática. Em 1917 tudo muda.

O presidente Wilson avança com os seus 14 pontos para orientar a paz futura, todos eles atraentes no papel como declarações de intenções gerais, mas conducentes a criar o caos quando se tentam aplicar a uma qualquer situação concreta.

A revolução russa triunfante aponta para a “revolução mundial” como o caminho do futuro, encarando a guerra como a alavanca para concretizar esse objetivo. Na visão dos dirigentes bolchevistas, como Lenine e Trostky, só a revolução europeia permitiria concretizar o socialismo, possivelmente organizado à volta de uma Alemanha bolchevista que sairia da guerra.

Em 1917, em resumo, as visões prevalecentes nos EUA e na Rússia, mudam por completo as regras do jogo, passando a apontar para uma Grande Estratégia global baseada em valores ideológicos e no fomento das mudanças internas.

Tanto os EUA como a Rússia atacam de forma diferente o poder tradicional dos Impérios Europeus e o sistema eurocêntrico. Ao contrário do que normalmente se pensa, o grande perturbador, o estado que mais contribuiu para o caos no pós-guerra em inúmeras regiões do planeta e para o colapso do sistema europeu tradicional, não foi a Rússia bolchevista, mas sim os EUA marcados pelo idealismo de Wilson. Tudo agravado pelas promessas e expetativas que os próprios europeus faziam nas suas colónias para mais facilmente conseguirem a mobilização das populações.

ESTRATÉGIA MILITAR – Em termos da estratégia militar tudo muda igualmente. Os Aliados começam o ano com a ideia de grandes ofensivas convergentes no

Oeste, na Itália e no Leste, que deviam colocar a Alemanha de joelhos, impedindo que transferisse reservas de um ponto para outro. Na realidade, as ofensivas da primeira parte do ano são um desastre, que conduz à amotinação em larga escala no Exército Francês e à primeira revolução Russa. Na segunda metade do ano, os Aliados estão na defensiva. A GB sacrifica-se, atacando com objetivos limitados na Frente Ocidental para fixar as reservas alemãs. A França procura manter a coesão interna e só consegue organizar pequenos ataques na segunda metade de 1917. A Itália procura igualmente manter uma postura ofensiva, mas sofre um desastre de grandes proporções em Caporeto.

A estratégia militar alemã.

Em termos terrestres a prioridade vai para o Leste, onde se espera provocar o colapso russo; em termos navais, a prioridade é a campanha submarina sem restrições.

Na primeira metade do ano a Alemanha decide apostar na guerra submarina sem restrições como forma de vencer o conflito. Sabe que isso ira trazer os EUA para a guerra, mas aposta no tempo, pois pensa que é possível derrotar os Aliados num ano, enquanto o peso dos EUA só se fará sentir no segundo ano. Esta opção está conjugada com a decisão de manter a defensiva na Frente Ocidental. Prioridade ao Leste em termos terrestres e ao Ocidente em termos navais.

Os EUA entram na guerra e, pela primeira vez, projetam forças na direção da Europa. Sabem que precisam de tempo para criar um exército de massas e que só podem fazer sentir o seu peso a partir de 1918, tanto mais que só aceitam intervir em termos de vários corpos de exército sob comando americano. O primeiro passo é a ocupação de bases nos Açores, Irlanda e França.

TIPO DE GUERRA - Muda o tipo de guerra. O que tinha começado como um conflito entre forças convencionais de estados, tende a transformar-se num embate entre populações à volta de valores, que envolve forças convencionais e não convencionais. Pouco a pouco, a guerra entre estados dá lugar às guerras civis e às revoluções. O que era já uma guerra total, passa a ser uma guerra total e de valores, envolvendo estados, ideologias, partidos e populações.

O caso mais evidente é o Rússia, com as revoluções (uma democrática, outra bolchevista) que originam cinco anos de guerra civil, com intervenções internacionais cruzadas.

Não é caso único. O Exército Francês está à beira da amotinação geral, algo inaudito no ano anterior. A Turquia e a Áustria-Hungria enfrentam crescentes pressões internas e perdem coesão. Todo o Leste da Europa, aliás, se torna num barril de pólvora, com a Alemanha a fomentar o nacionalismo na Polónia, na Ucrânia, nos Estados Bálticos e na Finlândia. O mesmo acontece no Médio Oriente, onde a GB apoia o levantamento árabe e promete uma pátria aos judeus. As primeiras revoltas estalam inclusive na Itália e na Alemanha em 1917 (marinheiros e greves violentas), ainda contidas, mas já um sinal do que estava para vir. Ao mesmo tempo, em África e na Ásia, o nacionalismo incentivado pelos EUA leva ao nascimento de múltiplos movimentos autonomistas que vão procurar aproveitar o colapso dos Impérios tradicionais para criar novos estados. Faz-se sentir um forte movimento nacionalista na China, Índia e Turquia, que dará origem a grandes movimentações nos anos subsequentes.

ARTE OPERACIONAL - A arte operacional muda drasticamente. Amplas zonas

do planeta passam a ter como principal tipo de operações a guerra irregular, com amplo recurso à guerrilha, o que acontece no Médio Oriente, no antigo Império Russo (tanto na Europa como na Ásia) e na África Oriental (o genial Letow-Voerboeck lança uma das campanhas de guerrilha mais bem sucedida de toda a História, em Moçambique).

Mesmo na guerra de trincheiras, que continua a ser a forma dominante de operações, a arte operacional muda. Os tanques e a aviação alcançam a maturidade,

passando a ser elementos decisivos na manobra militar, principalmente do lado Aliado. A doutrina da defesa em profundidade é aceite e aplicada por ambos os lados neste ano. A Alemanha aperfeiçoa uma nova arte operacional, que aposta nas armas combinadas e nas tropas de assalto. Isto permite superar o sistema de defesa do inimigo num só dia e devolve um movimento parcial à guerra de trincheiras, com avanços de 30 a 90 km numa ofensiva (Riga e Caporetto no caso Alemão).

TÁCTICAS – As táticas mudam drasticamente em 1917. Passa a haver duas

preocupações centrais: desenvolver a cooperação entre armas e aproveitar as potencialidades do poder de fogo terrestre e aéreo. Pela primeira vez desde 1914 a infantaria consegue sair das trincheiras e avançar 10 km num dia, sem ter baixas esmagadoras. É uma novidade absoluta só possível com as novas táticas de assalto (lado alemão) ou das operações combinadas (lado Aliado) e a concentração do poder aéreo – a França, por exemplo, cria a chamada “Divisão Aérea”. A artilharia muda por completo as suas táticas, com planos de fogos cuidadosamente preparadas e barragens curtas e muito intensas.

JANEIRO DE 1917

8/9 DE JANEIRO – MÉDIO ORIENTE - As forças Britânicas no Egipto atacam a pequena força de contenção Turca mantida no Sinai. É a preparação da ofensiva britânica prevista na Palestina, que tem como obstáculo inicial as defesas turcas na faixa de Gaza. O ataque britânico é igualmente uma forma de fomentar o levantamento árabe contra os Turcos. A GB segue uma política multifacetada para o Médio Oriente, prometendo coisas contraditórias aos vários aliados potenciais. Aos árabes promete a independência da “grande Nação Árabe”, que não tenciona criar; com os Franceses e Russos combina a futura divisão do Médio Oriente; aos judeus promete uma pátria na Palestina. É a diplomacia britânica no seu melhor e é o nascimento do moderno Médio Oriente e das suas intermináveis guerras. 19 DE JANEIRO – EUA - O Secretário dos Negócios Estrangeiros Alemão Arthur Zimmermann, manda um telegrama ao embaixador alemão em Washington na previsão que os EUA vão entrar na guerra. Nele se promete que, se o México atacar os EUA, receberá na paz final o Texas, Arizona e Novo México. Os serviços de decifração da Royal Navy (Room 40) intercetam e decifram o telegrama. A GB decide mostrar o texto ao Governo Americano, dizendo que ele tinha sido “roubado” por um agente na Cidade do México. O telegrama acaba por ser publicado nos jornais dos EUA (a 1 de Março), o que provoca uma imensa indignação na opinião pública, fazendo o jogo do Presidente Wilson que, nesta altura, quer provocar a beligerância. Para Wilson e para a Marinha Americana a beligerância é encarada como uma forma de dar a hegemonia aos EUA no sistema internacional, pelo que é dirigida contra os poderes europeus tradicionais, feita à volta de valores como a “liberdade de comércio”, a “autodeterminação” o fomento do nacionalismo. Tudo isto colocava em causa os impérios europeus na sua totalidade e não só o poder alemão.

22 DE JANEIRO – EUA - O Presidente Wilson toma uma posição pública a favor de uma “paz sem vitória”, o que parece favorecer uma anterior proposta feita pelo Kaiser Alemão. A França e a GB logo rejeitam esta posição, dizendo que por detrás desta frase “simpática” estão objetivos expansionistas da Alemanha que não podem ser aceites. JANEIRO – ROMÉNIA – Os poderes centrais ocupam praticamente todo o território Romeno, dando por terminada a ofensiva que começou em Setembro de 1916. A ocupação da Roménia alivia a falta de alimentos e de petróleo dos Poderes Centrais. Em 1917, à medida que a Alemanha avança no Leste, atenua-se a crise de alimentos que o bloqueio marítimo desde 1914 tinha provocado. 31 DE JANEIRO – MAR - O Governo Alemão anuncia o lançamento de uma campanha submarina sem restrições contra a navegação, em que os navios serão afundados sem aviso prévio. Foi uma decisão difícil para a Alemanha, que conta com 111 submarinos operacionais nesta altura. A ideia básica é explicada num documento da marinha: uma campanha sem restrições permitirá afundar 600 mil toneladas de navios por mês, o que levanta sérios problemas aos Aliados ao fim de seis meses e provoca a sua derrota em 12 meses. É sabido que esta decisão pode provocar a beligerância dos EUA, mas a avaliação é que o peso americano só será sentido no segundo ano da mobilização, sendo possível derrotar os Aliados num único ano com o estrangulamento da navegação.

FEVEREIRO DE 1917 3 DE FEVEREIRO – EUA - Os EUA cortam relações diplomáticas com a Alemanha e ameaçam com a beligerância caso se concretize a guerra submarina sem restrições. A posição americana é apoiada pela China e por alguns estados da América do Sul, nomeadamente o Brasil. 9 DE FEVEREIRO – FRANÇA – A Alemanha lança a operação “Alberich”, a retirada voluntária de uma ampla zona no Somme, que é sistematicamente destruída. O objetivo é encurtar a frente em cerca de 70 km e reforçar as defesas alemãs antes das esperadas ofensivas aliadas da Primavera, acabando com um perigoso saliente. A Alemanha está a terminar a forte “Linha Hindenburgo”, que considera intransponível. O timing da operação é perfeito, anulando o saliente que devir ser atacado em ambos os flancos pelas ofensivas britânica e francesa em preparação. A retirada alemã é lenta, organizada e acompanhada de uma completa destruição do terreno abandonado. Só estará completa em meados de Março. 17 DE FEVEREIRO – NAVAL – O Governo Alemão requisita o submarino mercante Deutschland, que em 1916 tinha feito duas viagens para os EUA transportando carga estratégica. A requisição é feita na previsão que os EUA vão entrar em breve na guerra, pelo que a ideia de um “submarino mercante” perde razão de ser. O Deutschland recebe armamento e passa a ser o U-155, que irá operar nas ilhas portuguesas. Nesta

altura a guerra submarina é tão fortemente sentida pela GB que o 1º Ministro Lloyd George, no discurso do “estado da Nação” que faz no Parlamento a 23 de Fevereiro, afirma que o destino da guerra depende principalmente da vitória contra os submarinos. 24 DE FEVEREIRO – IRAQUE – Tropas da Índia e da GB, apoiadas por uma flotilha de monitores no rio Tigre, reconquistam a cidade de Kut no Iraque. Em Abril de 1916 Kut tinha sido o palco de uma importante derrota britânica, com a rendição das forças cercadas pelos Turcos. A reconquista da cidade passado menos de um ano mostra que os Aliados desviam forças para o Médio Oriente e lançam uma dupla ofensiva no Iraque e na Palestina. Quase ao mesmo tempo (26 de Fevereiro), o Supremo Conselho de Guerra Anglo-Francês reunido em Calais, confirma a decisão de lançar uma ofensiva na Palestina para conquistar Jerusalém. Esta decisão é muito contestada pelos comandos militares da França e da GB na Frente Ocidental, que consideram que só aí se pode vencer a guerra, não fazendo sentido desviar forças para outras frentes.

MARÇO DE 1917

1 DE MARÇO – EUA - O chamado “telegrama ZImmermann”, em que a Alemanha propõe um entendimento ao México para uma guerra contra os EUA, é publicado nos jornais americanos. A indignação na opinião pública americana é imensa, passando no essencial a apoiar a beligerância. 8 DE MARÇO – RÚSSIA - Manifestações em Petrogrado contra a guerra e a política do Czar, reprimidas com grande violência. Como resposta, greves generalizadas que se espalham em Petrogrado. A Duma (o parlamento Russo) pede reformas urgentes e o Czar responde ordenando a sua dissolução. A guarnição de Petrogrado revolta-se (11 de Março) e as deserções aumentam muito no Exército Russo. Centenas de milhares de soldados desertores afluem às cidades provocando o caos. O poder do Czar esboroa-se. 11 DE MARÇO – MÉDIO ORIENTE - As tropas britânicas do General Maude entram em Bagdad, depois de uma rápida ofensiva. É uma importante vitória que assegura o domínio britânico sobre a mais importante zona do petróleo e constitui um imenso incentivo para a revolta árabe. 12 DE MARÇO – RÚSSIA - Criado o “Soviete de Petrogrado”, onde se reúnem os representantes dos trabalhadores em greve e dos militares revoltados. Uma parte das unidades militares da capital apoia os grevistas. A Duma (o Parlamento Russo) responde criando um Governo Provisório entregue ao príncipe Lvov, embora o poder real esteja nas mãos do Ministro da Guerra, Alexandre Kerensky. Passa a existir um poder duplo na Rússia: o dos sovietes e o do Governo Provisório. O Czar abdica a 15 de Março e as deserções em massa alastram no Exército Russo. A Alemanha vê aqui a sua grande oportunidade e promove a transferência por comboio de Lenine (o líder dos bolchevistas russos) da Suíça para a Rússia, acompanhado por umas dezenas de bolchevistas exilados. Em fins de Março o poder na Rússia está dividido, o Exército do

Czar está desfeito. Depois da ocupação da Roménia, a Alemanha vê nisto a possibilidade de resolver a guerra no Leste. A próxima campanha é preparada como sendo político-militar, ou seja, uma campanha em que as operações militares visam fomentar o caos na retaguarda e provocar o colapso do Governo Provisório da Rússia. 16 DE MARÇO – AR - GB intensifica a sua campanha de bombardeiros pesados, quando os HP 0/100 atacam de noite Moulin-le-Metz, na zona ocupada da França. O desenvolvimento da campanha é entregue inicialmente às 3ª e 5ª Wings do RNAS, com base na França (Dunquerque e Luxeuil). De inicio os bombardeiros pesados, como o 0/100, são apoiados por outros aparelhos mais leves, como os De Havilland. Ao fim de algum tempo, toda a força será de bombardeiros pesados. 18 DE MARÇO – MAR - Vários navios americanos são afundados por submarinos alemães e a imprensa americana intensifica a campanha a favor da beligerância. 26 DE MARÇO – MÉDIO ORIENTE - Começa a ofensiva britânica em Gaza, com o objetivo de libertar a estrada da costa, que é o caminho para Jerusalém. As defesas turcas tinham sido reforçadas e o ataque falha. É a 1ª Batalha de Gaza.

ABRIL DE 1917

2 a 6 DE ABRIL – EUA – O Presidente Wilson pede ao Congresso uma declaração de guerra à Alemanha (2 de Abril), o que este aceita a 6 de Abril. Os EUA estão finalmente na guerra. A marinha americana é a terceira mundial, mas as suas capacidades terrestres e aéreas são muito limitadas. É de imediato lançado um imenso programa de mobilização para o Exército/Marines, acompanhado por um gigantesco crescimento da indústria. Os EUA não têm sistemas de armas modernos, exceto no campo naval, pelo que passam a fabricar armamento terrestre e aéreo dos modelos franceses e britânicos, com pequenas adaptações. Os dois principais são o tanque Renault FT-17 e os aviões da De Havilland britânica. No final da guerra os EUA são já o arsenal dos Aliados, com um crescimento muito forte da indústria de defesa. Vários estados americanos apostam igualmente na beligerância, seguindo o exemplo dos EUA, o que acabará por levar o Brasil para a guerra. 9 DE ABRIL – FRANÇA - Começa a grande ofensiva Aliada na Frente Ocidental, que o General Nivele prometia que iria decidir a guerra. A ofensiva está pensada em dois momentos. O primeiro, é o ataque britânico em Arras (9 de Abril), que tem como principal objetivo atrair as reservas alemãs. O ataque principal francês devia ser desencadeado depois e seria o decisivo; em conjunto, a operação ia envolver 1,2 milhões de militares Aliados. A preparação da artilharia do ataque em Arras começou duas semanas antes, pelo que os alemães, que conheciam os planos Aliados, têm muito tempo para preparar a defesa. Arras é uma grande ofensiva, envolvendo 3 exércitos: o 1º, 3º e 5º Britânicos, que atacam o 6º Exército Alemão. É lançada exatamente um ano antes do 9 de Abril português (em 1918) e envolve os mesmos exércitos de ambos os lados. Entre 9 e 14 de Abril os britânicos avançam cerca de 8 km. A unidade mais bem sucedida é o Corpo de Exército Canadiano, que ocupa

Givenchy e a crista de Vimy. No final, as perdas britânicas são de cerca de 150 mil homens, para um avanço reduzido. Como era preciso arranjar um bode expiatório para o fracasso, o General Allenby, comandante do 3º Exército, é demitido; será transferido para o comando das forças britânicas no Médio Oriente, onde se viria a revelar um excelente general. SANGRENTO ABRIL – AR - Foi com este nome que o RFC (Royal Flying Corps, antepessado da RAF) passou a conhecer Abril de 1917. Os britânicos enfrentam uma caça alemã concentrada, com alguns dos melhores ases da guerra, com táticas e orgânicas inovadoras e com melhores aparelhos (Albatros V e Fokker triplano). O resultado é uma hecatombe, com cerca de um terço dos pilotos aliados a desaparecerem em poucas semanas. A Alemanha detém o domínio do ar pela última vez na guerra. A esperança média de vida de um piloto de caça britânico na Frente Ocidental, em Abril de 1917, é de escassas 3,5 semanas. 15 DE ABRIL – FRANÇA - A ofensiva britânica em Arras marca passo uma semana depois de ter começado, mas o Marechal de Campo Haig decide manter a pressão durante mais um mês, para apoiar o ataque francês. As forças britânicas têm grandes baixas em troca de avanços muito reduzidos. 16 DE ABRIL – FRANÇA - Começa a grande ofensiva francesa no Aisne, cerca de 40 km a Sul da britânica. Nivele tinha prometido que com esta ofensiva ganhava a guerra em poucas semanas. É um desastre imenso desde o primeiro momento. A Alemanha, que conhecia os planos com grande antecedência, organiza uma defesa em profundidade. O ataque da infantaria é tradicional, lançado na madrugada de 16 de Abril; são empenhados 5 Corpos de Exército franceses e 2 brigadas russas (enviadas para a Frente Ocidental). A França perde cerca de 118 mil homens em quatro dias e o avanço é muito reduzido ou nulo. Os franceses empenham igualmente duas unidades de tanques em Berry-au-Bac (Agrupamentos Chaubés e Bossut com 4 companhias de 16 tanques cada), mas com táticas pouco apropriadas, pelo que nada conseguem, para além de perderem 80 tanques em pouco tempo. Nivele insiste em continuar o ataque, tanto mais que sente a sua chefia ameaçada, mas os resultados são dececionantes. Depois da “sangria de Verdun” e do desastre de Nivele, o Exército Francês está desmoralizado e perde a confiança nas suas chefias. 17 DE ABRIL A JULHO – FRANÇA - Amotinações generalizadas no Exército Francês, que se iniciam um dia depois da abertura da ofensiva Nivele. É um movimento não coordenado e sem uma motivação política ou ideológica clara, mas um pouco influenciado pelos “sovietes” formados na Rússia semanas antes. Mais de 250 unidades de vários escalões se recusam a obedecer às ordens, o que abarca quase metade das divisões francesas (54 em 112). As duas brigadas russas em França também se amotinam. Na maior parte dos casos as unidades recusam-se a obedecer às ordens para atacar, mas mantém a coesão e dizem-se dispostas a defender as suas posições. Em certos casos minoritários, porém, a revolta das unidades vai mais longe e há mesmo um regimento que tenta marchar sobre Paris e outro que forma um soviete. A repressão é em larga escala, com 24000 homens condenados em tribunais militares, dos quais 550 com a pena de morte. Pétain, o novo comandante francês favorece uma

política de clemência para deter a amotinação, pelo que só se concretizam 49 execuções. Uma eficaz censura impede a divulgação destas notícias nos meios de informação, pelo que a Alemanha só tardiamente se apercebe da crise francesa e da sua dimensão. 17 A 19 DE ABRIL – MÉDIO ORIENTE - Os britânicos iniciam a segunda batalha de Gaza e, mais uma vez, falham. É um ataque frontal, clássico e sem qualquer imaginação. Este segundo fiasco faz com que o Governo de Sua Majestade mude o comando militar no Sinai. Foi a última vitória importante da Turquia no Médio Oriente. 23 DE ABRIL – MÉDIO ORIENTE - Os Britânicos falham no Sinai, mas continuam a avançar no Iraque, tomando a cidade de Samarra, no rio Tigre.

ABRIL – AR - A guerra aérea estratégica alcança a maturidade. A Alemanha tinha começado a lançar bombas sobre a GB com bombardeiros pesados Gotha a 28 de Novembro de 1916 e em Março – Abril de 1917 organiza uma grande unidade especializada nesta forma inovadora de guerra aérea, quando forma o Kagohl 3, também conhecido como o Englandgeschwader. Conta inicialmente com 6 esquadrões (staffel) de bombardeiros Gotha, que operam a partir de bases perto da cidade belga de Gante. A força operacional inicial é de somente 20 a 30 aparelhos, mas estes numa única missão conseguem lançar mais bombas que todas as operações anteriores com dirigíveis. Ainda são usados dirigíveis por ambos os lados, mas a tendência é para serem substituídos por bombardeiros, alguns com quatro motores. ABRIL – MEDITERRÂNEO – Os poderes centrais desenvolvem uma guerra submarina no Mediterrâneo, com unidades austríacas e alemãs com bases no Adriático. As maiores perdas na navegação Aliada neste mar ocorrem em Abril de 1917, quando operam nele 28 submarinos inimigos. A generalização do sistema de comboios no Mediterrâneo a partir de Maio provoca uma diminuição gradual das perdas. 24 DE ABRIL – GRÉCIA – Com o tempo os Aliados conseguiram reunir uma força considerável em Salónica e no Norte da Grécia. São 22 divisões (7 britânicas, 6 francesas, 6 Sérvias e 3 Gregas). A 24 de Abril passam ao ataque à volta do Lago Djoran e ao longo de toda a fronteira com a antiga Sérvia, procurando desalojar as forças da Bulgária. A operação corre mal, num terreno que torna a logística um pesadelo. Em Maio é lançada uma nova ofensiva na Macedónia, que falha igualmente depois de poucas semanas. Os Aliados só retomam a ofensiva em larga escala na frente grega em Setembro de 1918, quase no fim da guerra.

MAIO DE 1917

9 DE MAIO – FRANÇA - A desastrosa ofensiva de Nivele ao longo do Chemin des Dames é dada oficialmente por terminada. A França sofre cerca de 190 mil baixas em três semanas e praticamente não avança (a Alemanha tem 163 mil baixas). As amotinações no Exército Francês vão continuar até Julho. O general Nivele é substituído ainda em

Abril pelo general Pétain, que tem como principal preocupação acabar com a vaga de amotinações no Exército Francês. MAIO – FRANÇA - Pétain decide acabar com qualquer ofensiva em larga escala; a nova teoria é que só a chegada dos americanos permitirá resolver a guerra, pelo que há que “limpar a casa”, reprimir as revoltas e aguentar na defensiva. A França pede à GB que continue com as ofensivas no Ocidente, de modo a aliviar a pressão sobre a Rússia e a Itália e reter substanciais forças alemãs na Frente Ocidental. 10 DE MAIO – MAR - Relutantemente a Royal Navy aceita criar um sistema de comboios generalizado para responder à ameaça submarina. Muitos almirantes pensam que o sistema não irá funcionar e só servirá para piorar ainda mais a situação da navegação. A GB entrou na guerra com 11,3 milhões de toneladas de navios mercantes e só entre Janeiro a Maio de 1917 tinha perdido 2,9 milhões, o que era incomportável. Abril foi o pior mês de todos, com 0,88 milhões de toneladas afundadas. Entre Maio e Julho os submarinos afundam mensalmente mais de 0,5 milhões de toneladas, um valor que conduzirá à derrota Aliada se continuar durante mais um ano. A partir de Setembro de 1917 a situação melhora, com somente 0,35 milhões de toneladas afundadas nesse mês e números à volta dos 0,4 milhões nos meses finais do ano. Era ainda mau, mas muito melhor que as 0,88 milhões de toneladas perdidas em Abril. Ao longo de 1917, a GB e o Império perdem 6,2 milhões de toneladas de mercantes e só constroem 1,1 milhões. Os submarinos alemães só perderam 11 unidades nos primeiros meses de 1917, um preço muito baixo para os resultados obtidos. O primeiro comboio experimental parte de Gibraltar a 10 de Maio (16 navios), tendo a grande novidade de ser apoiado nas proximidades da GB não só por destroyers, mas igualmente por hidroaviões. A 17 de Maio é nomeado um comité para organizar um sistema de comboios, que só se torna efetivo de forma gradual.

O sistema de comboios instala-se de forma gradual. Em fins de 1916 tinham já começado os comboios na navegação para a Holanda e Noruega (estados neutros); em Fevereiro de 1917, são alargados às rotas de cabotagem que seguiam ao longo da costa francesa e da Península; em Maio, começam os comboios oceânicos no Atlântico, tanto nas rotas do Sul como na ligação à América, mas só se generalizam a partir de Agosto de 1917. Só nessa altura a navegação que sai da GB passa a ir igualmente em comboio. 12 DE MAIO – EUA EM FRANÇA - Os EUA nomeiam o General John Pershing como comandante da força a enviar para França. A intenção é enviar um milhão de homens até Maio de 1918 e mais de dois milhões até ao fim desse ano, o que seria decisivo para ganhar a guerra. A realidade é que o Exército Americano parte quase do zero e o aumento do seu poder é lento. Em 1917, só uma divisão americana (a 1ª Divisão de Infantaria) é declarada operacional em França. Os EUA só aceitam que seu exército seja empenhado em operações em conjunto e sob comando americano, contrariando os franceses que pretendiam dividir os americanos em pequenas unidades (batalhões ou brigadas) inseridas em unidades maiores aliadas.

12 DE MAIO – ITÁLIA - A Itália lança mais uma ofensiva no Isonzo (é a decima), que devia ter coincidido com as ofensivas aliadas na França, mas se atrasou. Ao fim de duas semanas os italianos sofrem 160 mil baixas e pouco avançam, terminando a operação. 25 DE MAIO – AR – Uma formação de 23 Gotha G.IV parte para para o primeiro ataque a Londres, mas a falta de visibilidade faz com que lance as bombas sobre Folkstone. Um bombardeiro é abatido e morrem 95 civis, enquanto outros 195 ficam feridos. É muito pouco para a escala de baixas na Frente Ocidental, mas trata-se de civis na retaguarda que, até aqui, achavam que nada tinham a temer de ações do inimigo. É o começo da campanha de bombardeio diurno da GB, acompanhada por alguns ataques semelhantes a Paris e às cidades da França.

JUNHO DE 1917 7 DE JUNHO - FRANÇA – O Marechal de Campo Haig lança um ataque na crista de Messines, que é um importante sucesso tático, com a crista capturada ao fim de um dia (17 mil baixas aliadas e 25 mil alemãs). O sucesso deveu-se a uma das mais bem planeadas minas da História. Os sapadores mineiros aliados cavaram 25 longos túneis por debaixo do sistema defensivo alemão que encheram com mais de um milhão de libras de explosivos. Às 3h10 da noite de 7 para 8 de Junho dá-se a maior explosão da História da Humanidade até então, quando 19 túneis vão pelos ares em poucos segundos. Colinas inteiras desaparecem e as baixas alemãs são avaliadas em 10 mil, com um ruído ensurdecedor que seria ouvido em Londres, a 200 km de distância. As 9 divisões britânicas que atacam não encontram praticamente resistência e avançam uns incríveis 14 km. A ofensiva de Messines é encarada por Haig como um passo preparatório do grande ataque a lançar em Ypres. 7 DE JUNHO – GUERRA SUBMARINA – A Alemanha começa a operar com mais intensidade na costa dos EUA, graças a um pequeno número de cruzadores submarinos. Em 1917 os submarinos obtêm os melhores resultados da guerra, com 2566 navios afundados, que correspondem a 5,7 milhões de toneladas, mas a grande maioria dos navios são afundados antes de se generalizar o sistema de comboios a meio do ano. A partir de Julho, as perdas mensais Aliadas não excederam as 300 mil toneladas e nos dois últimos meses do ano andavam pelas 200 mil. Era ainda muito, mas era tolerável, sobretudo porque se contava com a capacidade acrescida dos estaleiros americanos, os maiores do mundo. 12 DE JUNHO – GRÉCIA – Golpe de estado na Grécia afasta o Rei Constantino e coloca no trono o seu segundo filho (Alexandre) que simpatiza com os Aliados. O novo governo grego (de Venizelos) aceita a presença das tropas Aliadas em Salónica (que era efetiva há mais de um ano) e o seu trânsito no Norte da Grécia. A 27 de Junho a Grécia declara finalmente guerra aos Poderes Centrais. 13 DE JUNHO – AR – Uma formação de 18 Gothas aparece sobre Londres com um tempo excelente e lança 100 bombas a 4000 m com grande precisão. É o mais mortífero dos raids aéreos até então, com 162 mortos e 432 feridos. A opinião pública

pede medidas urgentes, o que conduz ao desvio de mais de 100 caças da Frente Ocidental (onde eram muito necessários) para a defesa de Londres. 24 DE JUNHO – EUA EM FRANÇA - Desembarca o primeiro contingente de tropas americanas em França, encabeçado pelo General Pershing. A US Navy ocupa bases nos Açores, Irlanda, GB e França para apoiar este movimento. Os EUA assinam dezenas de contratos de fabrico de armamento com os Aliados e financiam amplamente o seu esforço de guerra. A partir de agora serão os dólares americanos que sustentam os Aliados, principalmente a GB que se endivida amplamente junto dos EUA.

JULHO DE 1917 1 DE JULHO – RÚSSIA - O Governo Russo de Kerensky tinha prometido não fazer uma paz separada e continuar na guerra até ao fim. O General Brusilov, com a fama das operações de 1916, é nomeado comandante em chefe do Exército e prepara uma grande ofensiva no Leste. Ela começa a 1 de Julho, na zona central da imensa frente, dirigida contra a Áustria-Hungria, considerada o parceiro mais fraco. Inicialmente as coisas correm aparentemente bem, com avanços importantes, mas o Exército Russo está minado pelos sovietes e as deserções são imensas. Dez dias depois de ter começado a ofensiva russa marca passo e a Alemanha prepara um contra-ataque em força. A 19 de Julho as forças alemãs do General Hoffman atacam e empurram rapidamente os russos para trás, enquanto divisões inteiras se desfazem pela deserção em massa. Num só dia os alemães avançam 15 km com poucas baixas. 16 DE JULHO – RÚSSIA – Os bolcheviques lançam um movimento para tomar o poder em Petrogrado, que falha. A 19 de Julho a revolta foi esmagada por completo e Lenine foge para a Finlândia. A 21 de Julho, Kerensky assume oficialmente a chefia do Governo, que já lhe pertencia antes em termos efetivos. 18 DE JULHO – FRANÇA - A GB inicia a imensa barragem de artilharia que precede a ofensiva em Ypres. É uma barragem clássica da primeira fase da guerra, com 1400 peças a castigarem uma zona de 30 km durante 12 dias (!), apoiadas por uma concentração dos meios aéreos. Em Ypres a GB consegue disputar de igual para igual o domínio do ar, invertendo a situação em Abril desse ano. A Alemanha responde com a criação de grandes unidades de caças, a mais famosa das quais é o “circo de Richthofen”, uma unidade móvel que concentra centenas de caças. 27 DE JULHO – GB – A GB ao longo da guerra mostrou sempre uma capacidade única de encontrar as melhores soluções para enquadrar as novidades que o conflito trazia. A 27 de Julho é criado o Tank Corps, o que se insere na preparação da ofensiva em Ypres. Até aqui os tanks estavam organizados em batalhões ligados ao Corpo de Metralhadoras, onde formavam o “sector pesado”. Os oficiais dos tanques defendiam desde o começo que se tratava de uma nova arma, diferente de todas as outras, pelo que devia ter uma organização autónoma, de modo a facilitar o desenvolvimento de táticas e doutrinas apropriadas. Em meados de 1917 é decidido duplicar as unidades de tanques (de 8 para 15 batalhões) e agrupa-las num Tank Corps.

31 DE JULHO – FRANÇA - Começa a tão preparada ofensiva britânica em Ypres, conhecida como a 3ª batalha de Ypres. Empenham-se dois exércitos britânicos e um francês numa grande operação que visa conquistar toda a costa belga e se vai prolongar por meses. A operação surge por insistência de Haig, quando o comando francês está a tentar recuperar das amotinações em larga escala, e não se pode empenhar em ataques importantes. O Governo Britânico teria preferido que o seu Exército se mantivesse na defensiva, mas Haig insiste que esta é a única forma de aliviar Russos e Franceses e argumenta que a ocupação dos portos do Canal é a melhor forma de combater a campanha submarina. Por azar, o começo da ofensiva coincide com chuvas anormais nesta época do ano. Os campos da Flandres rapidamente se transformam num mar de lama e as operações são suspensas em começos de Agosto, para só recomeçarem a partir de 16 desse mês. Os soldados atascam-se até aos joelhos na lama, sendo quase impossível deslocar a artilharia, mas o comando britânico insiste na ofensiva, que marca passo.

AGOSTO DE 1917

1 DE AGOSTO - RÚSSIA – O Exército de Mackensen ataca no Danúbio e empurra as desmoralizadas forças russas para trás. Os Austríacos avançam igualmente na zona Sul. O Exército russo desfaz-se em termos práticos, enquanto multidões imensas de desertores recuam desordenadamente para a retaguarda. Serão estes desertores (e não os “operários e camponeses” do mito) que farão a 2ª revolução russa, a revolução bolchevista. 1 DE AGOSTO – VALORES – O Papa Benedito XV toma uma iniciativa inédita ao propor um plano de paz em 7 pontos, ao mesmo tempo que reafirma a neutralidade da Santa Sé. O plano inclui a evacuação de todos os territórios ocupados e uma paz sem mudança de fronteiras, onde a “força do direito” devia substituir a “força das armas”. Os Aliados não estavam dispostos a aceitar uma paz que contrariava todos os compromissos da diplomacia secreta, mas a iniciativa do Papa incentiva o Presidente Wilson a avançar com os seus 14 pontos para uma paz futura. 2 DE AGOSTO – MAR – A GB prova que continua a estar na vanguarda da inovação naval. Poucos meses antes tinha decidido alterar o cruzador de batalha Furious, que estava a ser completado, de modo a colocar uma pista de voo que ocupava metade do navio, o que implicava a remoção das torres de artilharia da proa. A 2 de Agosto o comandante de esquadrão Edwin Dunning aterra com um Sopwith Pup da Royal Navy no navio em movimento. Já anos antes a US Navy tinha realizado aterragens num navio parado, mas era a primeira vez que isto acontecia com um navio em movimento. As duas primeiras tentativas correm bem, mas, na terceira, o avião falha a pista matando o piloto. O Furious regressa dentro em pouco aos estaleiros de modo a receber um deck de voo em quase todo o comprimento no navio, o que o transforma no primeiro porta aviões efetivo. Nascia o poder aeronaval que, passadas umas décadas, iria dominar a guerra nos mares.

17 DE AGOSTO – AR - Os ataques aéreos a Londres tinham provocado uma reacção muito forte na opinião pública, que pedia medidas urgentes e imediatas. O Gabinete de Guerra nomeia uma comissão para estudar o problema, coordenada pelo general Sul-Africano Smuts (11 de Julho). Passado pouco mais de um mês o chamado “Smuts Report” é apresentado ao Governo. Recomenda nomeadamente a formação de uma “Zona de Defesa Aérea” com comando centralizado para toda a área das ilhas britânicas ao alcance dos aparelhos alemães; a criação de um Ministério do Ar para coordenar a guerra aérea; a fusão dos dois serviços aéreos (da Marinha e do Exército), de modo a criar um novo ramo – a Força Aérea. Smuts defende que a guerra aérea é diferente de tudo o resto, obedecendo a uma lógica própria e tendo autonomia, pelo que não podia ficar ligada aos ramos tradicionais. O relatório permite a criação da RAF (Royal Air Force), a primeira Força Aérea do mundo (os EUA só deram este passo em 1947). Em menos de um mês a GB criava três grandes novidades na arte da guerra: o Tank Corps, o porta-aviões e a Força Aérea. 18 DE AGOSTO – ITÁLIA – A Itália lança a sua 11ª ofensiva no Isonzo, empenhando uma força imensa de 52 divisões. Os italianos registam um pequeno avanço, pago com cerca de 170 mil baixas e a moral no seu exército cai. O Exército da Áustria não está muito melhor e, pela primeira vez na guerra, Viena apela a uma ajuda direta da Alemanha na frente italiana. Como nesta altura várias divisões alemãs estão já a ser retiradas da Frente Leste, Berlim decide aceitar o apelo, colocando como condição que seja ela a dirigir a ofensiva, o que é aceite. Pela primeira vez os italianos vão sentir os métodos alemães e o resultado será desastroso para eles.

20 DE AGOSTO – FRANÇA – A França tinha decidido não montar mais ataques em larga escala em 1917, mas continua a organizar pequenas ofensivas para aliviar a pressão na zona britânica. Uma das mais importantes é lançada pelos 15º e 16º Corpos de Exército na zona de Verdun a 20 de Agosto, tendo obtido um ligeiro avanço. Os Britânicos continuavam entretanto a marcar passo na 3ª batalha de Ypres, com um avanço quase nulo para baixas muito pesadas.

SETEMBRO DE 1917 1 DE SETEMBRO - RÚSSIA - Depois da sua imensa vitória na zona central da frente, a Alemanha lança um ataque em força no Báltico, na zona de Riga, onde empenha igualmente uma parte da sua marinha, que domina esse mar. O 8º Exército do general Von Hutier experimente aqui em larga escala as novas táticas das forças de assalto e o sucesso é imenso. Os russos recuam desorganizadamente e os seus baluartes são envolvidos pelos flancos, rendendo-se rapidamente. As baixas alemãs são de somente 9 mil homens, enquanto divisões inteiras russas desertam e dezenas de milhares de soldados se dirigem para Petrogrado. Riga cai a 5 de Setembro, quando todo o dispositivo russo perde coesão. 9 DE SETEMBRO – RÚSSIA – O Governo de Kerensky demite o General Kornilov do comando do Exército. Este recusa-se a aceitar a demissão e marcha com várias divisões sobre a capital. O ataque é detido por forças ainda leais a Kerensky a 14 de

Setembro. Enquanto estas lutas intestinas se travam, o Exército Russo desfaz-se, com centenas de milhares de desertores a afluírem para Petrogrado, onde muitos se juntam aos sovietes. Os Alemães avançam sem dificuldade, mas não estão interessados em ocupar a capital russa. Preferem que o caos se aprofunde, na esperança que ele acabará por provocar o colapso do Governo, como viria a acontecer. A 14 de Setembro, Kerensky proclama uma “Republica Socialista” e, numa tentativa desesperada de deter a crescente influência dos bolchevistas, entrega a maioria do Governo a socialistas não revolucionários. Era muito pouco e muito tarde; o único resultado importante é que toda a ala mais à direita retira o apoio ao Governo de Kerensky, preferindo organizar-se de forma independente para deter os bolchevistas, na previsão que eles tomarão o poder em Petrogrado dentro em breve. Os Alemães acreditam que a Rússia vai sair da guerra e começam a transferir unidades para o Ocidente. 20 DE SETEMBRO A OUTUBRO - FRANÇA – Continua a grande ofensiva britânica em Ypres, com um avanço lento, mas regular, entregue agora principalmente ao 2º Exército Britânico. Passchendaele, uma pequena povoação da Flandres, torna-se o centro do esforço britânico, num terreno impossível onde os tanques se atascam na lama. As batalhas sucedem-se em Setembro e Outubro (Langemark, Menin Road, Broodseinde, Poelcapelle), tudo nomes esquecidos de pequenas aldeias e colinas, disputadas com milhares de baixas, para avanços minúsculos, muitos deles anulados logo a seguir. Em qualquer dessas minúsculas aldeias o Exército Britânico sofre mais baixas que em toda a campanha contra Massena, que durou quase um ano há cerca de um século (1810/1811). O Governo Britânico, claramente descontente, mas sem se atrever a demitir Haig, toma a medida muito anormal de reter as reservas na GB, sem permitir o seu embarque para França, para impedir a continuação do sacrifício inútil. A Alemanha sofre igualmente grandes baixas, embora menores, e confirma a sua decisão de se manter na defensiva em França, enquanto prepara a grande operação na Itália. Umas dezenas de quilómetros a Sul de Ypres, na zona do Lys, a 1ª Divisão Portuguesa (CEP) toma conta de um sector calmo da frente. 27 DE SETEMBRO – MÉDIO ORIENTE – Recomeça o avanço britânico no Iraque, organizado a partir de Bagdad. A Turquia é derrotada na batalha de Ramadi e cede todo o Iraque central.

OUTUBRO DE 1917 9 DE OUTUBRO A 10 DE NOVEMBRO – FRANÇA - A fase final de ofensiva britânica em Ypres, centrada na muito disputada vila de Passchendaele. Haig já entendeu que não consegue obter o avanço esperado, mas mantém a pressão para aliviar a Itália e a Rússia. Só a 10 de Novembro, com as chuvas do Outono, a ofensiva será dada por terminada. A GB avançou pouco mais de 8 km e sofreu 310 mil baixas, a que se somam 85 mil franceses; a Alemanha lamenta cerca de 260 mil baixas. A 3ª batalha de Ypres seria a última operação “clássica” de grande envergadura da guerra. As ofensivas de tipo novo tinham já começado em Riga (Rússia) e em Caporetto (Itália) e iriam continuar em Cambrai (1917), a primeira vitória importante dos tanques.

11 DE OUTUBRO – AR – A GB tinha já centralizado as defesas aéreas (artilharia, caças, holofotes, observadores e balões) sob um comando único à volta de Londres. Agora dá mais um passo para a criação da RAF, formando uma força de bombardeiros estratégicos onde se reúnem os aviões com essa vocação da Marinha e do Exército. Cria-se em França a 41ª “Wing” (Asa), onde se aglomeram os poucos bombardeiros pesados (De Havilland) da Armada e Exército, com aparelhos de ataque ligeiro DH-4 e F.E. 2. A sua missão é bombardear o Rhur e as cidades alemãs ao alcance, tanto de dia como de noite. A primeira operação é lançada a 17 de Outubro, como um pequeno ataque de 8 monomotores a fábricas de armamento alemãs, logo seguido por bombardeamentos noturnos de cidades. É um começo modesto, com menos de 20 operações lançadas em 1917, mas a tendência é para serem empenhadas forças cada vez maiores. Antes do fim do ano, a Wing inicial estava transformada na 8ª Brigada e os primeiros bombardeiros quadrimotores começam a aparecer. Em começos de 1918 a força de bombardeiros estratégicos britânica era superior à Alemã, que tinha entretanto desistido de ataques diurnos e se concentrava em operações noturnas. A França faz algo de semelhante, criando uma unidade especializada em ataques na retaguarda, embora equipada com aparelhos mais pequenos e de menor alcance que os britânicos (principalmente Breguets). 11 A 19 DE OUTUBRO – RÚSSIA - A Marinha Alemã lança uma vitoriosa operação anfíbia no Golfo de Riga (Báltico). São empenhados 11 couraçados, 9 cruzadores e 52 destroyers, com centenas de navios auxiliares, o que é uma parte importante da força naval alemã. A Marinha Russa tenta opor-se, mas está em grande inferioridade numérica e profundamente dividida, pelo que e é derrotada. A operação permite ultrapassar as defesas em terra e abrir o caminho para Petrogrado. O Exército Alemão, porém, não quer tomar a capital russa. A derrota da Marinha Russa leva muitos marinheiros a aderirem aos sovietes. 24 DE OUTUBRO – ITÁLIA - Começa ofensiva dos Poderes Centrais em Caporetto (Itália). A força de choque é o recém- formado 14º Exército do general alemão Otto von Below, que conta com 6 divisões alemãs e outras da Áustria, onde se incluem unidades treinadas nas novas táticas de assalto. Os Italianos não estão preparados para este ataque inovador e a sua resistência esboroa-se em pouco tempo, com muitas unidades a perderem a coesão. É toda a frente do Norte dos Alpes que cede com um recuo desorganizado e de grande envergadura, que abre uma importante crise na Itália. O recuo é de 90 km e coloca Veneza em perigo. Os Aliados desviam 11 divisões anglo-francesas da França para a Itália, o que obriga a deter os ataques em Ypres. Enquanto os reforços anglo-franceses não chegam cria-se uma situação muito complicada na Itália, com uma parte dos seus políticos a querer assinar uma paz separada com a Alemanha e com a perda de coesão em várias divisões. A derrota provoca igualmente o começo do movimento de greves violentas e selvagens nas cidades industriais do Norte da Itália. 26 DE OUTUBRO – BRASIL - O Brasil declara guerra à Alemanha, seguindo o exemplo dos EUA. Vai empenhar-se sobretudo em operações anti-submarinas no Atlântico.

31 DE OUTUBRO – MÉDIO ORIENTE - Depois dos dois fiascos precedentes, a GB lança uma nova ofensiva na faixa de Gaza. É uma força renovada, com a criação de um Desert Mounted Corps com camelos e tanques, reforçada com 7 divisões de infantaria. Tem igualmente um novo comandante, o General Allenby, que tenciona ultrapassar as defesas em Gaza e ocupar toda a Palestina, em coordenação com a ofensiva no Iraque e com a revolta árabe. As forças Aliadas têm uma clara superioridade de dois para um. A manobra é bem concebida e um movimento de flanco ultrapassa as defesas principais do inimigo. A 6 de Novembro todo o dispositivo turco retira para evitar o cerco, deixando aberto o caminho de Jerusalém. Esta é possivelmente a única vez durante a guerra em que se regista uma carga de cavalaria tradicional bem sucedida numa escala importante: a 4ª Brigada Australiana de Cavalaria Ligeira carrega em massa, de sabre em punho, sobre as defesas turcas e leva-as por diante.

NOVEMBRO DE 1917

NOVEMBRO – MAR – A barragem de minas lançada no Canal da Mancha desde o começo da guerra começa a obter resultados. São mais de 10 fileiras de minas em diversas profundidades no eixo do Cabo Griz-Nez a Folkestone. A eficácia desta barreira a partir de agora obriga a maioria dos submarinos alemães a contornarem a GB pelo Norte, uma rota muito mais longa que reduz a sua autonomia operacional e o número de submarinos no Atlântico. A GB procura igualmente criar uma barreira de minas que feche a passagem pelo Norte, mas aqui as distâncias e as profundidades são muito maiores, pelo que a barreira Norte nunca é eficaz. Estas barreiras e o sistema de comboios reduzem bastante a eficácia dos submarinos alemães. Os 6,2 milhões de toneladas de navios mercantes da GB afundados em 1917 passam para 2,6 milhões em 1918, enquanto as perdas dos submarinos aumentam. 2 DE NOVEMBRO – MÉDIO ORIENTE - Declaração do Foreign Secretary Lord Balfour que se compromete perante o movimento sionista internacional a apoiar a criação de uma pátria para os Judeus na Palestina. Em 1915 a GB tinha garantida aos árabes que teriam o controle sobre os seus territórios se ajudassem na guerra contra os Turcos. O levantamento árabe foi uma realidade desde 1916, o que levou a GB a fazer duas coisas: empenhar mais forças próprias no Médio Oriente (Gaza e Iraque), de modo a influenciar os acontecimentos no terreno; estabelecer acordos secretos com a França (Sykes-Piquot) e a Rússia para dividir o Médio Oriente depois da guerra. O colapso russo, em 1917, obriga-a a rever os acordos existentes e desviar ainda mais forças para o Médio Oriente. A declaração Balfour (tornada pública a 9 de Novembro) insere-se na política de dividir para reinar, ao prometer uma pátria na Palestina aos judeus de todo o mundo. A diáspora dos judeus para a sua pátria milenar vai crescer muito nos próximos anos. 6 DE NOVEMBRO – MÉDIO ORIENTE - Os turcos abandonam as posições em Gaza perante a ameaça de um envolvimento pelo flanco Leste. Está aberto o caminho para a Palestina. O 7º e 8ª Exércitos Turcos retiram desorganizadamente para Jerusalém.

6 e 7 DE NOVEMBRO (QUE CORRESPONDE A OUTUBRO PELO ANTIGO CALENDÁRIO RUSSO) – RÚSSIA – Kerensky faz o seu último grande erro: uma operação mal planeada para tentar prender os chefes bolchevistas. Estes estão à espera disto e desencadeiam o plano de conquista do poder na capital. Em pouco tempo, os bolchevistas tomam conta da capital (Kerensky consegue escapar por pouco). Até meados de Novembro a revolução bolchevista alastra a Moscovo e a quase todas as cidades da Rússia Central. O poder na nova Rússia passa a ser teoricamente exercido pelos Sovietes, onde se agregam as forças revolucionárias de esquerda. A verdade é muito diferente: os bolchevistas eliminam, um por um, os seus aliados da véspera com método brutais, a começar nos anarquistas russos (fuzilados em grande quantidade) e criam rapidamente um poder absoluto, uma ditadura fortemente centralizada num partido único. A guerra civil começa de imediato, a partir da Ucrânia e da Sibéria dominada pelos russos brancos, enquanto a Finlândia e os estados Bálticos declaram a independência, apoiados pela Alemanha. A Alemanha poderia ter avançado e ocupado Petrogrado, mas prefere esperar enquanto desvia forças para o Ocidente. A Rússia enquanto poder beligerante deixou de existir, havendo somente dúvidas sobre quem vai acabar por se consolidar no antigo trono dos czares. 9 a 12 DE NOVEMBRO – ITÁLIA - Continua a retirada italiana que chega ao rio Piave. Veneza está em perigo, mas os Poderes Centrais são incapazes de manterem a pressão depois de um inaudito avanço de 90 km. As perdas italianas são imensas (30 mil mortos e 275 mil prisioneiros, com 2500 peças abandonadas) e a frente só se reconstitui com a chegada dos reforços anglo-franceses; as perdas dos Poderes Centrais não excedem os 20 mil. Foi a mais esmagadora vitória da Alemanha no Ocidente, mas não há reservas para manter a pressão. 17 DE NOVEMBRO – MAR DO NORTE – Batalha naval de Heligoland Bight. A Royal Navy ataca uma força de cruzadores ligeiros que protegia a colocação de minas em Heligoland. O combate começa por envolver vários cruzadores ligeiros, mas no final empenham-se couraçados de ambos os lados (2 couraçados alemães e 3 cruzadores de batalha britânicos). A força alemã retira, depois de combates indecisos, devido ao denso nevoeiro. A Alemanha queria reforçar os seus campos de minas na passagem para o Báltico para contrariar os planos britânicos de forçar a entrada nesse mar e ajudar diretamente a Rússia. 20 DE NOVEMBRO – FRANÇA - Ofensiva da GB em Cambrai. As forças envolvidas são reduzidas, quando comparados com a anterior batalha de Ypres, mas a grande novidade é que, pela primeira vez, se reúnem cerca de 500 tanques que são empenhados de acordo com as táticas propostas pelo Tank Corps, em cooperação com a infantaria e apoiados pela aviação. A ofensiva é precedida por uma curta, mas muito intensa barragem de artilharia, conseguindo as 6 divisões do general Byng avançar 9 a 12 km num único dia, com baixas mínimas. É algo nunca visto na Frente Ocidental, mas não há reservas preparadas para explorar a brecha aberta, pelo que os Aliados fazem uma pausa operacional. A Alemanha aproveita para contra-atacar os flancos do saliente criado, usando as novas táticas das tropas de assalto e recupera quase todo o terreno perdido. A luta continua até começos de Dezembro, quando a frente voltou praticamente ao seu traçado inicial. A GB provou duas coisas: os tanques quando

inseridos numa cooperação com outras armas, dentro de táticas e doutrinas adaptadas, podem quebrar a frente em profundidade num só dia e com poucas baixas; não existem ainda meios de aproveitar este sucesso tático, explorando em profundidade e rapidamente a brecha aberta. Eram os primeiros passos da futura guerra de movimento conduzida por forças mecanizadas. Uma das importantes lições de Cambrai é que as divisões de cavalaria tradicionais não serviam para explorar em profundidade a brecha aberta, pois não se conseguiam movimentar com a densidade do poder de fogo existente (poucos meses antes as divisões de cavalaria tinham obtido importantes vitórias na Palestina, mas eram incapazes de operar na Frente Ocidental). 25 DE NOVEMBRO – MOÇAMBIQUE - As forças da África Oriental Alemã, pressionadas por uma ofensiva convergente de Britânicos, Indianos, Sul-Africanos e Belgas, entre outros, passam o Rovuma e entram em Moçambique, abandonando por completo a colónia Alemã. A pequena força comandada por Letow-Voerbeck está motivada e coesa e irá continuar a lutar até ao fim da guerra em território inimigo, em constante movimento, abastecendo-se do que captura e sem nunca se deixar cercar. Na África Oriental, entre Novembro de 1917 e Novembro de 1918, a guerra deixa de ser convencional, para passar a ser irregular. Letow-Voerbeck, sem o saber, está a escrever os futuros manuais da guerra de guerrilhas, tal como fez Lawrence da Arábia no levantamento árabe, no Médio Oriente. O conflito torna-se mais complexo, envolvendo ao mesmo tempo guerra de trincheiras, guerra convencional semi-móvel, operações irregulares, guerra de guerrilhas, guerra civil, lutas urbanas violentas. A caixa de pandora está aberta.

DEZEMBRO DE 1917

3 DE DEZEMBRO – RÚSSIA – Começam as negociações de Brest-Litovsk entre os bolchevistas e a Alemanha. A delegação bolchevista procura sobretudo ganhar tempo, pelo que a Alemanha decide retomar o seu avanço ao longo do Báltico e na Ucrânia, sem encontrar praticamente resistência. Berlim retira cerca de 40 divisões do Leste para o Ocidente, onde tenciona ganhar a guerra num conjunto de ofensivas na Primavera de 1918. A ocupação da Ucrânia dá à Alemanha os cereais de que tanto necessita. 5 DE DEZEMBRO – FRANÇA – Termina a batalha de Cambrai, tendo a GB cedido em duas semanas quase todo o terrenos conquistados em 24h. As baixas são semelhantes de ambos os lados (cerca de 40 mil homens) e ambos concluem que as suas novas táticas e orgânicas são eficazes. A GB comprovou a eficácia dos tanques para abrir uma brecha em todo o sistema defensivo do inimigo, mas verificou igualmente que não tem forças móveis capazes de a explorar, o que leva à decisão de desenvolver tanques ligeiros e de criar unidades móveis diferentes das tradicionais divisões de cavalaria. A Alemanha confirmou a eficácia das táticas de assalto, tendo obrigado os Aliados a recuar assim que as suas unidades de elite foram empenhadas.

9 DE DEZEMBRO – ROMÉNIA - A Roménia, praticamente com todo o seu território ocupado, assina um armistício com a Alemanha depois de ter perdido o apoio da Rússia. DEZEMBRO – FRENTE OCIDENTAL – A Alemanha prepara a sua estratégia para 1918, numa série de reuniões dominadas pela dupla Hidenburgo – Ludendorff. Tinha retirado cerca de 40 divisões do Leste (mas manteve aí 1 milhão de homens para controlar a Ucrânia e parte da Rússia Ocidental) e sabia que os americanos iam chegar em força a partir do Verão de 1918. Isto dava-lhe uma “janela de oportunidade” curta para ganhar a guerra no Ocidente, a partir da Primavera de 1918. Como há dúvidas sobre a evolução da meteorologia, é decidido preparar uma série de ofensivas encadeadas umas nas outras, ficando em aberto qual a sua ordem, pois isso depende das chuvas e da condição do terreno. É decidido começar as “ofensivas da Primavera” ou “Ofensivas do Kaiser”, pelo Somme, em Março de 1918. Há quem proponha que a primeira ofensiva seja lançada no Lys, onde está o fraco corpo de exércitos português e onde um avanço de 40 km iria empurrar os britânicos para o Canal da Mancha, criando uma situação crítica. Logo alguém recorda que o terreno no Lys está muito mole em Março, só a partir de Abril ficando suficientemente seco para permitir um ataque em força. Perante isto, é decidido começar as ofensivas no Somme (Março), mantendo a operação no Lys (nome de código George) como uma das que seria desencadeada assim que as condições do terreno o permitissem. 11 DE DEZEMBRO – MÉDIO ORIENTE - As forças de Allenby entram em Jerusalém. A conquista de Jerusalém começa a 19 de Novembro nos arredores da cidade, com o ataque principal lançado a 8 de Dezembro e a cidade ocupada a 11. Os Turcos retiram desorganizadamente para evitarem o cerco completo. Com a queda de Jerusalém os Aliados dominam as três grandes cidades sagradas do Médio Oriente (Meca, Bagdad e Jerusalém), o que lhes dá uma imensa arma de pressão para controlarem politicamente a região. A Turquia recua e é nesta altura o mais débil dos poderes centrais. Os seus únicos sucessos surgem no Cáucaso, devido ao colapso geral do poder russo. 18 DE DEZEMBRO – AR - A Alemanha lança em operações os maiores dos seus bombardeiros, os Riesenflugzeug, ou aviões gigantes, com 4 e mesmo 5 motores, de acordo com os modelos. Equipam os RSabteilungen 500 e 501 que operam a partir de Gante. A 18 de Dezembro iniciam ataques regulares sobre as cidades do Sul da Inglaterra e Norte da França. 30 DE DEZEMBRO – EXTREMO ORIENTE - Começam as intervenções internacionais numa Rússia dilacerada pela revolução e pela guerra civil. Forças do Japão ocupam Vladivostock (no Pacífico), antecipando-se a um movimento planeado pela GB, França e EUA. O colapso Russo criou um vazio de poder que todos procuram preencher. Começa a divisão entre os Aliados no Pacífico. O Japão, com um envolvimento na guerra mínimo, consegue grandes vantagens no Extremo Oriente, ocupando os principais arquipélagos alemães no Pacífico e colocando um pé na China (Tsingtao) e outro na Rússia (Vladivostock). A marinha japonesa tem neste momento já um imenso programa de crescimento, que visa a sua transformação na primeira marinha do

Pacífico; os EUA decidem contrariar esta evolução. Estão lançadas as bases da rivalidade que irá terminar em Pearl Harbour, 24 anos depois.