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Fevereiro de 2018 — N.º 548 FUNDADOR: Dr. Antonio Marcello da Silva - 15/01/1958 Diretores – Antonio Marcello da Silva (*1931). Pascoal Andreta (*1916 – +1982). Ugo Labegalini (*1931 – + 2012). A Capital Nacional da Moda Tricô Monte Sião é um município que fica no sul de Minas Gerais, na divisa com o estado de São Paulo. Pela estimativa do IBGE em 2017, conta com 23 247 habitantes. Sua área é de 292 km² e a altitude é de 850m. Monte-sionense é o gentílico para quem nasce em Monte Sião. JAIME GOTTARDELLO Era um pastor que não conduzia ovelhas, mas pastoreava luas. A noite era seu domínio e sua escolha, o habitat que o fazia seguro e feliz. Sob o céu frio e ponti- lhado de estrelas, encontrava a paz nesse que era o seu local de trabalho. Gostava de se imaginar conversando com anjos e caminhando entre as estrelas. Conduzia a Lua, em suas diferentes fases, como se fosse um rebanho de ovelhas. Nenhuma tempestade abalava a paz que trazia dentro de si enquanto pastoreava suas luas. Sua vida seguia uma canção sem fim, imune às lamentações terrenas. A Lua sempre lhe dizia que estaria por perto se a chuva caísse. Que ela se levantaria para acalmar a tempestade. Assim, seguia pastoreando suas luas e namo- rando as estrelas que, dizia, eram primas em quarto grau de São Francisco. Da Lua Nova gostava de sua introspecção, por isso a conduzia calado, respeitando seu silêncio e recolhimento. Nunca conseguiu ver a sua verdadeira face. Gostava do vento que a acompanhava. Parecia trazer o cheiro de murta molhada de chuva. Pastoreava a Lua Crescente de modo a ajudá-la a encontrar harmonia em sua desordem natural. E gostava de vê-la fazer a grama encharcada de orvalho crescer mais depressa durante a noite. Pensava que ela era namorada do vento que vinha do Oeste. Podia jurar que havia cheiro de erva-cidreira no ar quando eles estavam juntos. A enorme claridade da Lua Cheia lhe trazia inquietações e o tornava mais sensível. Não sabia bem o porquê, mas pastoreá-la era sempre o momento mais poéti- co e ele a conduzia de forma gentil e sem pressa, como em um sonho. Nunca conseguiu desvendar seus mistérios, mas sentia sempre o perfume da dama-da-noite junto a ela. Quando finalmente chegava a vez da Lua Minguante, ele sabia que o recomeço estava chegando e os excessos deveriam ser jogados fora. Nessa lua, ele perce- bia que o ponto de retorno ao início estava próximo, um novo ciclo renasceria. Era quando ele se sentia rejuvenescer. Poderia passar a eternidade sob o manto misterioso da noite e junto das estrelas, no frio da noite vigiando suas luas até que o fim de tudo se mostrasse em sua plenitude. E então, talvez, seus segredos pudessem ser revelados, através de seu rosto desperto e banhado de tanta luz. PASTOR DE LUAS Jornal virtual Você também poderá ler este jornal através do site www.fundacaopascoalandreta.com.br Crônica de repente: travessias JOSÉ ALAERCIO ZAMUNER Era um dia no meio de muitos outros dias. Pes- soas andando de um lado pro outro, saindo de uma loja e atravessando a praça para uma outra loja do ou- tro lado da mesma praça, cada lado tem seu lado... pessoas sentadas nos ban- cos da praça conversando, lendo; não, lendo não. A cidade com muitos visitan- tes, lojistas, trabalhadores de todas as qualidades, uns ciganos tentando arrumar uma esmolinha: uma meni- na entregava um papel para alguém dizendo que era muda (mas não era nada), outros passavam de carro, passavam e iam simbora, não tinha onde estacionar. Os morros exalando uma grande nuvem de fumaça vermelha; acho que era terra pura saindo do chão e indo pro céu. O céu vinha por cima e cobria tudo. Um quero-quero esvoaçou o ar dizendo o que queria... Terminou este dia. Co- meçou outro dia, porque é assim, um dia termina, um outro começa. E foi que... Ludovico quis atraves- sar a praça, saiu da loja Três Tons, cruzou a rua, quando já estava no meio da praça, entre jardins, vem uma fenda violenta rasgando a terra, de um lado pro outro, ruptura pro- funda, os ciprestes saíram andando, imediatamente a praça esguichou um funil vapor enorme de água vin- do lá dos confins abaixo da terra. O céu também partiu em dois. A fenda terrena pegava da entrada dos Pi- mentéis até os Alves. Mon- te Sião de um lado, Monte Sião do outro. Poderia ser ao menos um muro, como o de Berlim. Mas não, foi mesmo nos profundos do chão. Inferno não dava pra ver, o céu partido abria um vácuo expondo o escuro si- deral, parece que dava pra ver estrelas movendo suas fornalhas: céu de um lado, céu de outro. O abismo dilatou suas bordas mais um pouco; o que é muito normal. Pessoas queriam correr, cada um de seu lado da fenda propícia, o que é muito normal, mui- to, muito!; porém ficaram observando... Não sei se ia formar um mar no meio daquela falha, era prová- vel, porque jorrava aquele esguicho de água quente. Monte Sião ficou diferen- te, as gentes estavam bem divididas, os do lado de cá, os de lado de lá (mas havia controvérsia, porque cada um outro só dizia do lado de cá, então, não teve acor- do, a fenda se fazia cada vez mais primordial, reto- ricamente de suma impor- tância...; a cada lado) Por que que essa fenda foi apa- recer só agora, meu Deus? O Leodésico Fabri gritou do meio do público; voz que seria de sua mulher Áurea Lazarin, que desde sempre devia de ter esta fenda nesta praça, porque onde passa um não passa outro. Do outro lado, Fio- rio da Irta gritou de volta que ainda bem que pela fenda não se passa, e pas- se pra ver!... Mas, foi de então que o Tio Abílio, com esse barulhão todo, acordou de seu sono pro- fundo, já vinha dormindo há alguns anos, levantou- se de sua cama pela ma- nhã de quase escuro ain- da, disposto, e foi na beira da fenda, bem na hora que estava jorrando um... ago- ra era um gêiser, e profe- riu intenso: “Vou fazer um barco, vou nas grotas do Morro Pelado, vou cortar um vinhático, vou fazer um barco, quando a fenda encher destas águas que nem um mar, vou navegar todo o povo de cá pra lá em aliança.” (O, seu Bílio, não é de cá pra lá, não se- nhor, é de cá pra esta outra parte aí!). Uma dúvida. Onde estavam? Quem es- tava em qual lado: “Eu tô aqui” – “Mas eu tô aqui!” A fenda no meio. Um não sei quem, que gritou alto, falou que ia trazer um ca- nhão. (mas foi tanto tiro neste evento primordial que pólvora já não tinha mais em nenhum lado) É, mas vai na catapulta, en- tão: isso quem disse foi a Rita Crioula, no meio dos que vinham todos os dias observar e adorar a fen- da. Uma catapulta. Com grandes bolas de pedra, que cada lado passava o dia moldando com ma- chadinhas de sílex: tec, tec, tec... Um pó subia e descia, manchava todos de pó-pedra horrível. Tio Abí- lio voltou pra sua cama, sossegado, deixou a canoa no quintal, pronto para sair navegando a qualquer ou- tro evento primordial... Todas as lojas fechadas, ninguém entrava, ninguém saía, não porque não po- diam, parece que era por- que não queriam. Tec, tec, tec, lascando pedra, tingin- do aquele ar de um granito cinza granulado. Veio a grande chuva de repente, choveu por me- ses, limpou aquele céu de pó (mas pense num céu acinzentado de só pó-pe- dra granito!), as águas su- biram muito, num instante o barco do Tio Bílio saiu navegando em arco com o tio dentro e deitado na sua cama, rodopiou, passou por violentos vórtices, tomou rumo de volta, e voltou, quando chegou no centro, em cima da fenda, tio Bílio atou com corrente cada lado em aliança, puxou, puxou... e as águas principiaram a baixar, o vácuo terreal su- gou o dilúvio de água, car- regou todo aquele pó-pedra acinzentado pro fundo da terra, lavou e limpou a ci- dade, graças a Deus!, até cobriu cimentando aquela terra fendida, ao nível do chão, com o barco do tio já ancorado na praça plana, quando todos podiam pisar passeando novamente pra lá e pra cá... Amanheceu para começar um outro dia como sempre: Pode atravessar agora, Ludovico! IVAN Retornou a Monte Sião, com sotaque carioca, de- pois de cinco anos em São Paulo. Estacionou o Pors- che em frente ao Bar do Peri, entrou, cumprimen- tou. Alguém perguntou se alugara o carrão. — Não, respondeu, eixte só uso para viagens ao interior. Para São Paulo tenho um Ferrari, um Audi e doix Mercedeix. Agora, exportivo, que não é a mi- nha preferência, tenho um Volvo S60 T5. E, olhan- do para todos, indagou: Alguém aqui tem carrox como ox meux? Silêncio geral, olhar para o chão, limpeza de unhas, coceira. Somente um torceu o nariz. — Continua mo- rando de aluguel?— al- guém pergunta cutucando e procurando disfarçar o constrangimento inespera- do. — Bem, na verr- dade, conxtruí uma casinha de quatro mil metrox qua- dradox, com elevadorr in- dividual, sauna, pixcinaix, cinema, sala de som, sala de jogox, biblioteca, salão de baile, et coetera (lite- ralmente, com a pronúncia errada). E, emendou o es- tampido: — Alguém aqui tem casa como a minha? Silêncio sepulcral, pen- tear de cabelo, abotoar de camisa, arrumação de meia caída. Somente um arreganha os dentes. — Os filhos estu- dam ou ainda não sabem ler? — outro lança o desa- fio humilhante. — Extudam, in- formou. Harvard, Yale, Cambridge, Sorbonne, Uxp, conforme o desejo de cada um delex. E, deto- na: alguém aqui tem filhox como os meux? O do nariz torcido e dentes arreganhados não suportou a empáfia, o es- nobismo, a arrogância, a garganta. Puxou a faca da vingança. —E aquela sua irmã, que vivia de mão em mão e que todos chamavam de Biscatão, Corrimão de Es- cada Rolante, Chuchu na Cerca, o que é feito dela? — Foi ótimo você se referir à minha irmã. Che- gando a São Paulo, ela se internou num convento, e hoje é noiva de Crixto. Al- guém aqui tem um cunhado assim como o meu? Porta de aço baixada, silêncio tumular, turma es- patifada. Deu partida no Porsche, sorriu satisfeito. Voltou a São Paulo para concluir a compra do ter- ceiro helicóptero. Não tem igual

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Page 1: Crônica de repente: travessias - irp-cdn.multiscreensite.com · A noite era seu domínio e sua escolha, o habitat que o fazia seguro e feliz. Sob o céu frio e ponti- lhado de estrelas,

Fevereiro de 2018 — N.º 548FUNDADOR: Dr. Antonio Marcello da Silva - 15/01/1958Diretores – Antonio Marcello da Silva (*1931). Pascoal Andreta (*1916 – +1982). Ugo Labegalini (*1931 – + 2012).

A Capital Nacional da Moda TricôMonte Sião é um município que fica no sul de Minas Gerais, na divisa com o estado de São Paulo. Pela estimativa do IBGE em 2017, conta com 23 247 habitantes. Sua área é de 292 km² e a altitude é de 850m.

Monte-sionense é o gentílico para quem nasce em Monte Sião.

JAIME GOTTARDELLO

Era um pastor que não conduzia ovelhas, mas pastoreava luas. A noite era seu domínio e sua escolha, o habitat que o fazia seguro e feliz. Sob o céu frio e ponti-lhado de estrelas, encontrava a paz nesse que era o seu local de trabalho. Gostava de se imaginar conversando com anjos e caminhando entre as estrelas. Conduzia a Lua, em suas diferentes fases, como se fosse um rebanho de ovelhas.

Nenhuma tempestade abalava a paz que trazia dentro de si enquanto pastoreava suas luas. Sua vida seguia uma canção sem fim, imune às lamentações terrenas.A Lua sempre lhe dizia que estaria por perto se a chuva caísse. Que ela se levantaria para acalmar a tempestade. Assim, seguia pastoreando suas luas e namo-

rando as estrelas que, dizia, eram primas em quarto grau de São Francisco.Da Lua Nova gostava de sua introspecção, por isso a conduzia calado, respeitando seu silêncio e recolhimento. Nunca conseguiu ver a sua verdadeira face.

Gostava do vento que a acompanhava. Parecia trazer o cheiro de murta molhada de chuva.Pastoreava a Lua Crescente de modo a ajudá-la a encontrar harmonia em sua desordem natural. E gostava de vê-la fazer a grama encharcada de orvalho crescer

mais depressa durante a noite. Pensava que ela era namorada do vento que vinha do Oeste. Podia jurar que havia cheiro de erva-cidreira no ar quando eles estavam juntos.

A enorme claridade da Lua Cheia lhe trazia inquietações e o tornava mais sensível. Não sabia bem o porquê, mas pastoreá-la era sempre o momento mais poéti-co e ele a conduzia de forma gentil e sem pressa, como em um sonho. Nunca conseguiu desvendar seus mistérios, mas sentia sempre o perfume da dama-da-noite junto a ela.

Quando finalmente chegava a vez da Lua Minguante, ele sabia que o recomeço estava chegando e os excessos deveriam ser jogados fora. Nessa lua, ele perce-bia que o ponto de retorno ao início estava próximo, um novo ciclo renasceria. Era quando ele se sentia rejuvenescer.

Poderia passar a eternidade sob o manto misterioso da noite e junto das estrelas, no frio da noite vigiando suas luas até que o fim de tudo se mostrasse em sua plenitude. E então, talvez, seus segredos pudessem ser revelados, através de seu rosto desperto e banhado de tanta luz.

PASTOR DE LUAS

Jornal virtualVocê também poderá ler este jornal através do site

www.fundacaopascoalandreta.com.br

Crônica de repente: travessias JOSÉ ALAERCIO ZAMUNER

Era um dia no meio de muitos outros dias. Pes-soas andando de um lado pro outro, saindo de uma loja e atravessando a praça para uma outra loja do ou-tro lado da mesma praça, cada lado tem seu lado... pessoas sentadas nos ban-cos da praça conversando, lendo; não, lendo não. A cidade com muitos visitan-tes, lojistas, trabalhadores de todas as qualidades, uns ciganos tentando arrumar uma esmolinha: uma meni-na entregava um papel para alguém dizendo que era muda (mas não era nada), outros passavam de carro, passavam e iam simbora, não tinha onde estacionar. Os morros exalando uma grande nuvem de fumaça vermelha; acho que era terra pura saindo do chão e indo pro céu. O céu vinha por cima e cobria tudo. Um quero-quero esvoaçou o ar dizendo o que queria...

Terminou este dia. Co-meçou outro dia, porque é assim, um dia termina, um outro começa. E foi que...

Ludovico quis atraves-sar a praça, saiu da loja Três Tons, cruzou a rua, quando já estava no meio da praça, entre jardins, vem uma fenda violenta rasgando a terra, de um lado pro outro, ruptura pro-funda, os ciprestes saíram andando, imediatamente a praça esguichou um funil vapor enorme de água vin-do lá dos confins abaixo da terra. O céu também partiu em dois. A fenda terrena pegava da entrada dos Pi-mentéis até os Alves. Mon-te Sião de um lado, Monte Sião do outro. Poderia ser ao menos um muro, como o de Berlim. Mas não, foi mesmo nos profundos do chão. Inferno não dava pra ver, o céu partido abria um vácuo expondo o escuro si-deral, parece que dava pra ver estrelas movendo suas fornalhas: céu de um lado, céu de outro. O abismo

dilatou suas bordas mais um pouco; o que é muito normal. Pessoas queriam correr, cada um de seu lado da fenda propícia, o que é muito normal, mui-to, muito!; porém ficaram observando... Não sei se ia formar um mar no meio daquela falha, era prová-vel, porque jorrava aquele esguicho de água quente. Monte Sião ficou diferen-te, as gentes estavam bem divididas, os do lado de cá, os de lado de lá (mas havia controvérsia, porque cada um outro só dizia do lado de cá, então, não teve acor-do, a fenda se fazia cada vez mais primordial, reto-ricamente de suma impor-tância...; a cada lado) Por que que essa fenda foi apa-recer só agora, meu Deus? O Leodésico Fabri gritou do meio do público; voz que seria de sua mulher Áurea Lazarin, que desde sempre devia de ter esta fenda nesta praça, porque onde passa um não passa outro. Do outro lado, Fio-

rio da Irta gritou de volta que ainda bem que pela fenda não se passa, e pas-se pra ver!... Mas, foi de então que o Tio Abílio, com esse barulhão todo, acordou de seu sono pro-fundo, já vinha dormindo há alguns anos, levantou-se de sua cama pela ma-nhã de quase escuro ain-da, disposto, e foi na beira da fenda, bem na hora que estava jorrando um... ago-ra era um gêiser, e profe-riu intenso: “Vou fazer um barco, vou nas grotas do Morro Pelado, vou cortar um vinhático, vou fazer um barco, quando a fenda encher destas águas que nem um mar, vou navegar todo o povo de cá pra lá em aliança.” (O, seu Bílio, não é de cá pra lá, não se-nhor, é de cá pra esta outra parte aí!). Uma dúvida. Onde estavam? Quem es-tava em qual lado: “Eu tô aqui” – “Mas eu tô aqui!” A fenda no meio. Um não sei quem, que gritou alto, falou que ia trazer um ca-

nhão. (mas foi tanto tiro neste evento primordial que pólvora já não tinha mais em nenhum lado) É, mas vai na catapulta, en-tão: isso quem disse foi a Rita Crioula, no meio dos que vinham todos os dias observar e adorar a fen-da. Uma catapulta. Com grandes bolas de pedra, que cada lado passava o dia moldando com ma-chadinhas de sílex: tec, tec, tec... Um pó subia e descia, manchava todos de pó-pedra horrível. Tio Abí-lio voltou pra sua cama, sossegado, deixou a canoa no quintal, pronto para sair navegando a qualquer ou-tro evento primordial...

Todas as lojas fechadas, ninguém entrava, ninguém saía, não porque não po-diam, parece que era por-que não queriam. Tec, tec, tec, lascando pedra, tingin-do aquele ar de um granito cinza granulado.

Veio a grande chuva de repente, choveu por me-ses, limpou aquele céu de

pó (mas pense num céu acinzentado de só pó-pe-dra granito!), as águas su-biram muito, num instante o barco do Tio Bílio saiu navegando em arco com o tio dentro e deitado na sua cama, rodopiou, passou por violentos vórtices, tomou rumo de volta, e voltou, quando chegou no centro, em cima da fenda, tio Bílio atou com corrente cada lado em aliança, puxou, puxou... e as águas principiaram a baixar, o vácuo terreal su-gou o dilúvio de água, car-regou todo aquele pó-pedra acinzentado pro fundo da terra, lavou e limpou a ci-dade, graças a Deus!, até cobriu cimentando aquela terra fendida, ao nível do chão, com o barco do tio já ancorado na praça plana, quando todos podiam pisar passeando novamente pra lá e pra cá... Amanheceu para começar um outro dia como sempre:

Pode atravessar agora, Ludovico!

IVAN

Retornou a Monte Sião, com sotaque carioca, de-pois de cinco anos em São Paulo. Estacionou o Pors-che em frente ao Bar do Peri, entrou, cumprimen-tou. Alguém perguntou se alugara o carrão.

— Não, respondeu, eixte só uso para viagens ao interior. Para São Paulo tenho um Ferrari, um Audi e doix Mercedeix. Agora, exportivo, que não é a mi-nha preferência, tenho um Volvo S60 T5. E, olhan-

do para todos, indagou: Alguém aqui tem carrox como ox meux?

Silêncio geral, olhar para o chão, limpeza de unhas, coceira. Somente um torceu o nariz.

— Continua mo-rando de aluguel?— al-guém pergunta cutucando e procurando disfarçar o constrangimento inespera-do.

— Bem, na verr-dade, conxtruí uma casinha de quatro mil metrox qua-dradox, com elevadorr in-dividual, sauna, pixcinaix,

cinema, sala de som, sala de jogox, biblioteca, salão de baile, et coetera (lite-ralmente, com a pronúncia errada). E, emendou o es-tampido: — Alguém aqui tem casa como a minha?

Silêncio sepulcral, pen-tear de cabelo, abotoar

de camisa, arrumação de meia caída. Somente um arreganha os dentes.

— Os filhos estu-dam ou ainda não sabem ler? — outro lança o desa-fio humilhante.

— Extudam, in-formou. Harvard, Yale,

Cambridge, Sorbonne, Uxp, conforme o desejo de cada um delex. E, deto-na: alguém aqui tem filhox como os meux?

O do nariz torcido e dentes arreganhados não suportou a empáfia, o es-nobismo, a arrogância, a garganta. Puxou a faca da vingança.

—E aquela sua irmã, que vivia de mão em mão e que todos chamavam de Biscatão, Corrimão de Es-cada Rolante, Chuchu na Cerca, o que é feito dela?

— Foi ótimo você se referir à minha irmã. Che-gando a São Paulo, ela se internou num convento, e hoje é noiva de Crixto. Al-guém aqui tem um cunhado assim como o meu?

Porta de aço baixada, silêncio tumular, turma es-patifada. Deu partida no Porsche, sorriu satisfeito. Voltou a São Paulo para concluir a compra do ter-ceiro helicóptero.

Não tem igual

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PÁGINA 2 FEVEREIRO | 2018

ENTIDADE MANTENEDORA: Fundação Cultural Pascoal Andreta

Conselho Administrativo – Bernardo de Oliveira Bernardi, Carlos Caetano Monteiro, Ivan Mariano Silva e José Cláudio Faraco.

Diagramação – Luis Tucci - MTb 18938/MGFotografia – José Cláudio Faraco Direção financeira – Anderson Labegalini e Diogo Labegalini de CastroSecretário de Redação – Carlos Caetano MonteiroJornalista responsável – Simone Travagin Labegalini (MTb 3304 – PR)

Colaboradores – Ariovaldo Guireli, Antonio Edmar Guireli, Antonio Marcello da Silva, Bernardo de Oliveira Bernardi, Carlos Caetano Monteiro, Celso Grossi, Eraldo Monteiro, Fábio Magioli Cadan, Hermes Bernardi, Hudson Guireli (Uxo), Ilson João Mariano Silva, Ivan Mariano Silva, Jaime Gotardelo, José Alaércio Zamuner, José Antonio Andreta, José Antonio Zechin, José Ayrton Labegalini, José Carlos Grossi, José Cláudio Faraco, Luis Tucci, Luiz Antonio Genghini, Romildo Labegalini, Tais Godoi Faraco, Waldemar Gotardelo, Zeza Amaral.

Colaborações ocasionais serão apreciadas pelo Conselho Administrativo do jornal que julgará a conveniência da sua publicação. O texto deverá vir assinado e acompanhado do RG, endereço e telefone do autor, para eventual contato. Cartas enviadas à redação, para que sejam publicadas, deverão seguir as mesmas normas.

Toda matéria deverá ser enviada até o dia 20 do mês (se possível através de e-mail) data em que o jornal é fechado.

Redação: Rua Juscelino Kubitschek de Oliveira, 738 – Fone (35) 3465-1196

[email protected]

O jmS AnivERSARiOU, E nóS fizEmOS A fESTA TONINHO GUIRELI

Que gostoso estar en-tre pessoas amigas e as-sim comemorar o aniver-sário de nosso querido Jornal Monte Sião. Claro que muitos colaboradores não puderam estar com a gente e outros tiveram que sair mais cedo, mas a nossa turminha, essa não “arredou pé” cedo não! Ficou até a última cerve-ja!

Estiveram na festa, nesse dia 13 de janeiro de 2018, comemorando o 60º aniversário do Jornal, o Ivan Mariano e a esposa Ivone, que são os “donos do pedaço”, mais o filho Bruno, as filhas Alessan-dra (e o marido Carlos), Mariane (e o marido Lu-ciano), mais os netos Pe-dro, João, Betina e Tho-más, e o nosso pessoal de costume, que vai mes-mo, em massa, comemo-rar essa data e a grande amizade de todos nós. E lá “corriam” pelas enor-mes mesas, as chamadas branquinhas (pinga, vo-dka, gim), as amarelinhas (cerveja, whisky, pinga da cidade mineira de Cam-pestre), que eram sempre lembradas nos pequenos intervalos das conversas, e vi até refrigerantes (tem quem goste, não?).

Nosso grupo não se fez de rogado não, e este-ve mesmo presente nessa comemoração. Desta feita não foi montada a “meza

dos çábios”, juntando-se os intelectuais a nós, simples mortais. E que bom ver os amigos Clau-dinho Faraco, Jaime Got-tardello, Carlos “Kuaia” Grossi, Carlão da Eponi-na (digo, da Lourdinha), Zechin, Genghini, Toni-nho Guireli (eu me vi no espelho!), Eraldo, Zé An-tonio, Bernardo, Alaércio, Celso Grossi (nosso eter-no Gregory Peck), José Airton, Waldemar Gottar-dello, Dr. Hermes Bernar-di, Armandinho Zucato (e ele veio mesmo, e com a camisa do Palmeiras!); Il-son Mariano, Fanny, An-derson (este, com certeza, representando seu saudo-so pai Ugo Labegalini. E quem pode dizer que o Ugo não se juntou ao Serginho Guinesi, e numa mesinha lá em cima, no espaço celeste, confor-tavelmente assistiram à festa de seus amigos, e admiradores? Só que eu não diria, “tomando uma”). E o “BIG BEN” da chácara assinalava 4 horas da tarde, quando na última badalada chegou nosso amigão Geraldo Pi-mentel, que trouxe o sim-pático amigo Zequinha, e vários queijos (excelen-tes) da Serra da Canastra, mais alguns litros da ma-ravilhosa pinga amareli-nha de Campestre. Isso é bom demais; obrigado amigão!

E o Dr. Antonio Mar-cello da Silva (funda-

dor do nosso Jornal, em 1958), claro que também esteve presente no aniver-sário do JMS (60 anos de existência e circulação), e trouxe a esposa Sônia e a filha Fabiana, honrando-nos com suas presenças. E recebeu as homenagens de todos nós, mais a placa metálica com o primei-ro exemplar do JMS, em alto relevo, e ainda os di-zeres (muito bem ditos) do Zé Airton sobre as ati-vidades do Dr. Marcello, com os aplausos de todos nós, presentes nessa justa homenagem. E parabéns, Dr. Marcello, pelo seu aniversário em 16/01!

Festa bonita! Gente alegre! E o tempo estava muito bom e nos possi-bilitou um dia brilhante, agradável, de muita con-versa boa, muita caipiri-nha, muita cerveja, e uma carne especial preparada pelo mestre quase fran-cês “Monsieur Bruneau”, que agradou a gregos e troianos. Parabéns, amigo Bruno, que delícia de car-ne, sô! E lá pelas tantas, o Jayme, com sua categoria de sempre, pegou o vio-lão “e cantou várias me-lodias de encantos mil”, agradando até o casalzi-nho de canários da terra, que incrivelmente parou o seu canto para ouvir o do Jayme. E saibam que o Jayme ainda não havia tocado as músicas que re-centemente aprendeu em sua “tournée” pelo Cari-

be. Daí outros “artistas” pegaram também o vio-lão, e cada um deu o seu recado, agradando a todos nós. O Ilson, preguiço-so, não cantou. Disse que estava rouco. Obrigado Jayme, Ivan, Zé Antonio pelas belas músicas.

E o futuro prefeito de Vinhedo, nosso amigo Zechin, além de sua hon-rosa presença distribuiu alguns exemplares de sua nova obra (Quase Invi-sível – Poemaforismos), simplesmente espetacu-lar. Parabéns, e obrigado Zeca!

O amigo Josmar Bel-trami, simplesmente não apareceu. Não sei o moti-vo, tanto que ligamos pra ele, mas não conseguimos o contato. A preocupa-ção é porque ele garantiu sua presença, e até disse que estava em Serra Ne-gra e que iria em seguida ao rancho do Ivan. Que pena, perdeu uma bela festa! E deixou de ver os amigos, e de saborear os queijos da famosa Serra da Canastra, internacio-nalmente conhecidos e apreciados, e também a excelente pinga (amareli-nha) de Campestre (MG), a qual realmente aumen-tou a “alegria” do pes-soal. Bem feito também pro Chico Pinheiro, e pro seu sogro Ismael Rieli, que não apareceram. Mas alguém já havia dito que o Chico Pinheiro só viria se não tivesse compro-

misso com a Rede Globo nesse dia, mas parece que teve. Fica pra outra vez, né Chico?

O local da “festa”, como sempre foi o sitio-zinho do Ivan, que ele chama carinhosamente de “pequeno latifúndio”. O lugar é muito bonito, tem mais ou menos dois alqueires de terra, e fica quase dentro da cidade de Monte Sião. E nele o amigo Ivan passa horas agradáveis cuidando de suas hortaliças, de suas galinhas, galos, e frangos (a Domitila, o Dom Pe-dro I, o Belo Antonio, o Deodoro, incorruptíveis revolucionários, como o Ivan dizia), e de outros animais de estimação (o cavalo Camões, a eguinha Gabriela, o burrinho Ro-naldinho, a saracura Três Potes, o socó-boi, a coru-ja Severiana, o tatu-bola, o mandi sem ferrão e um sapo chamado Saponáceo Anuro), sendo que alguns até já se foram, mas o Ivan ainda houve relinchos, pios e cocorocós (fazer o quê?). E cuida ainda das muitas espécies de passa-rinhos, aos quais até “fa-brica” ninhos especiais, e dos grilos e gafanhotos de várias espécies. As ro-linhas já sabem que os ni-nhos (cabaças) colocados pelo Ivan nos caibros do rancho, são primeiramen-te para os canarinhos da terra, depois para elas, ro-linhas, que mais à frente

cedem esse abrigo a ou-tros passarinhos, que pos-sam precisar de moradia, mas isso com o controle do Ivan. É um programa “nosso ninho, nossa vida” melhorado! Os tuca-nos, por exemplo, fazem seus próprios ninhos nos coqueiros próximos ao rancho, e bem perto dos coquinhos, é claro. E o mestre Ivan, ensina esses pássaros, e os outros ani-mais, a conviverem sem brigas e discussões, o que é muito bonito, por sinal.

E a festa já estava qua-se terminando, quando os irmãos Chico e Paulinho do Ico, meus cunhados, conforme combinado passaram por lá pra me dar uma carona até meu sitiozinho, no Bairro Fur-riel. Concluindo, essa re-união de amigos é sempre esperada por todos nós, que assim colocamos as prosas em dia, passamos horas muito agradáveis, e mostramos nosso con-tentamento em rever os amigos, que moram em outras cidades (e em nos-sos corações), e assim conversar longamente, e enaltecer nosso Jornal Monte Sião, nosso povo e, sobretudo, agradecer a Deus pela amizade, saú-de, e pela possibilidade dessa nossa confrater-nização, que felizmente vem se realizando anual-mente, e deverá conti-nuar, até quando Deus quiser.

Geraldo Pires de Souza - Crônica de SaudadeARNALDO GUIRELI

Descanse sua mente acompanhando-me pe-los sertões, participando das aventuras tão agra-dáveis e até mesmo de memórias. Resolvi escre-ver aquilo que pretendia, quando na fazenda situa-da na zona rural da cidade de Ipuiúna - sul de Minas - um cidadão exemplar casado com sua querida Minervina teve as filhas Nair, Vilma, Maria, Hil-da, Lucila e Dilma.

Pretendo, caro leitor, no meu linguajar simples e sem fantasias, mostrar quem é esse meu perso-nagem. Quero cumprir esse desejo e quem sabe

desviar sua mente das dores do nosso tempo e aliviar a minha memória ao sabor do que vou nar-rando, sem consequên-cia, enquanto relembro as viagens, as pescarias, as caçadas, os sertões. Se a leitura não o agradar, antecipadamente não lhe peço desculpas, peço-lhe paciência até o término da mesma. Quero discor-rer sobre coisas que nos proporcionam sintonia com a mãe natureza e tal-vez despertar sua atenção para uma vida mais pra-zerosa.

Eu estava com 12 anos de idade e, como meu pai (seu Lola), era compadre do Sr. Geraldo Pires, tive

a autorização de ambos para que ficasse por vinte dias na fazenda do queri-do amigo, pois estava de férias. Ali convivi com o trabalho árduo efetua-do pelo Sr. Geraldo cui-dando do gado leiteiro, chegando a tirar diaria-mente mais de cem litros de leite (ordenhando nas mãos), enquanto sua es-posa Dona Minervina, além de cuidar da sede com as filhas, tratava diariamente dos porcos, galinhas, hortas...

Depois de alguns dias observei que a energia elétrica vinha através de dínamo gerado pelo ria-cho que passava nos fun-dos da sede.

Dos bovinos havia também aqueles que ser-viam para o carro de boi, totalmente construído, de forma artesanal, pelo Sr. Geraldo. Para cada peça era escolhida a madeira mais indicada. Preocu-pava-se, inclusive, com o

“rincho” do carro. O ruí-do, o zumbido resultante do atrito, fricção do eixo com a cantadeira – partes estas que eram lubrifica-das com óleo de mamona para evitar incêndio. O carro era puxado por oito bois, quatro juntas. Bois de guia eram os bois da frente. Na cabeça de cada um deles era amarrada uma corda que era segu-rada ao meio pelo “guiei-ro”, na época um doce senhor chamado Dão. Com uma vara comprida tinha a missão de ir esco-lhendo o melhor caminho entre as picadas, guian-do, e ainda a ele compe-tia o pastoreio (modo de caminhar dos bois, com ou menos agilidade) ao que normalmente fala-vam “pastorejo”.

Senhor Geraldo Pires era uma pessoa simples, alegre, íntegra, honesta e de fácil amizade. E que teve inúmeros amigos aqui em nossa cidade.

Na década de 60, foi escolhido prefeito da ci-dade de Ipuiúna, na épo-ca sem recurso algum, a cidade pequena, mas o município extenso, e quero salientar, nesse tempo o prefeito não era remunerado. E não mui-tas vezes ele fazia as vi-sitas ao município com sua condução própria. Fez o que pode e o que se era necessário.

No final do ano pas-sado a família do Sr. Ge-raldo recebeu, do atual prefeito, em consonância com a Câmara Munici-pal, a informação que o mesmo seria homenagea-do, “em memória”, com o seu nome para a nova estação rodoviária da ci-dade, como gratidão pelo bem que fizera à comuni-dade.

Como destaquei an-teriormente, amigos de Monte Sião conviveram com ele, alguns nomes que me lembro, tiveram

o privilégio de caçar, pescar, no famoso “Rio Pardo”(que passava em sua propriedade) e fre-quentar a sede de sua fa-zenda.

Entre tantos, destaca-mos: Pompeu Bernardi, Mário Monteiro, José Guireli, Ramiro Guire-li, Ivan Mariano Silva, Lourenço Guireli Júnior, Eudes Corsi, Marcos Antônio Zucato Guireli, Carlos Roberto Montei-ro, José Lino Filho, José Edgard Guireli, João Fernando Zucato e meu irmão (que mais tempo desfrutou daquele am-biente) Ariovaldo Gui-reli.

Tudo é passado.“Combati o bom com-

bate, completei a corri-da, guardei a fé”. Nos deixou em 17 de julho de 1998.

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FEVEREIRO | 2018 PÁGINA 3

margôCELSO GROSSI

A luz fraca, escondendo na noite a beleza da praça, como a vovó esconde do neto os segredos de sua existência. Casais rodando entre quadras com cantei-ros de flores e, alguns de-les, sentados nos bancos cercados de arbustos, con-fortavelmente, namorando ou comentando a vida dos outros.

Margô, vítima desses comentários, passa por eles ostentando roupas longas, bordadas a mão, ornamentadas com fitas coloridas e esvoaçantes, como os modelos clássi-cos do tempo de sua ju-ventude, indiferente aos risos e cochichos que sua estranha figura causa.

Margô, quando jovem, era bonita, rica, querida por todos e cortejada pela maioria dos jovens da sua época. Ela, porém, não se prendia a ninguém e, de sua altivez, continuava esperando o seu prínci-pe. Assim, os dias e anos passavam e, ela, com suas primícias. Entretanto, so-fria a pressão de seus fa-miliares e amigos para se casar com um de seus pre-

tendentes do lugar. Mas ela continuava firme na intenção de se entregar a alguém que preenchesse plenamente o vazio de seu coração.

No fim da tarde de um dia de temperatura eleva-da, quando o sol parecia estar desabraçando a terra e indo vagarosamente em-bora, por detrás do hori-zonte, o seu príncipe apa-rece do nada, encanta e se torna o seu senhor.

Seus parentes e ami-gos, porém, “levados por tendências paternalistas” e protecionistas, se opõem ao namoro, alegando ser o jovem um estranho e soli-tário, que não se importa-va com ninguém. A boca pequena, então, entrou em sena, pondo lenha na fo-gueira:

- Onde já se viu? Um desconhecido, arrogan-te, vindo de não se sabe de onde, andando por aí com a Margô, e que está à procura de não se sabe do quê? Isto é um absurdo! E, ainda, por cima, despre-zando nossa gente, como se fôssemos hansenianos? – Fofocavam!

Margô, entristecida com a oposição e argu-

mentos apresentados por eles, pessoas íntimas suas, sofria calada e solitária com seu infortúnio. Com suas forças se desvanecen-do, ela procurava manter a aparência, fingindo estar tudo bem, mas não estava tudo bem não! Pensamen-tos intrusos a acometiam constantemente por uma decisão. Os caminhos a seguir se multiplicavam em sua cabeça, e ela aca-bou escolhendo, por fim, aquilo que o seu coração indicava: fugir com seu amado. Queria conviver em paz com seu homem e ter com ele os filhos que Deus lhes desse. Era só isso! Nada mais! Os va-lores apontados por seus familiares e amigos não eram os mesmos do seu conceito.

Os pêndulos do relógio da sala continuavam no seu vai e vem sucessivo, impulsionando os pon-teiros, marcando segun-dos e minutos, sem parar, enquanto ela, com seus passos largos e decididos, fortalecidos pelo amor, a levavam ao encontro de Marcos, seu amado, que a estava esperando, como haviam combinado, e, de-

pois, sumiram do mapa, sem dar notícias.

No novo lar, ela cuidava dos seus deveres domésti-cos, e Marcos, de cidade em cidade, de rua em rua, visitava clientes, na lida do dia a dia.

Margô, embalava seus sonhos, cheia de amor e apreensão para com sua gravidez, o mais sublime dos compromissos assumi-dos por ela, o de ser mãe. Na tarde, desse dia, tam-bém ensolarado, com o sol se despedindo e deixan-do nuvens avermelhadas e soltas no céu, o som da campainha ecoa por toda a casa e ela deixa de tricotar e vai atender à porta.

- Um recado para a se-nhora, diz um garoto.

Margô recebe o bilhete e, em seguida, o lê e des-maia. Seu corpo se aco-moda sobre o assoalho da sala. Ao recobrar os sen-tidos, ela se vê num leito de hospital e com um mé-dico segurando-lhe a mão. Margo lembrou-se do bi-lhete, tenta se levantar, mas o médico a impede, informando que ela estava saindo de um coma de três dias.

—Três dias? Três dias,

OUÇA SEU FILHO

doutor? Mas então...., en-tão....

—Sim, minha filha, três dias, tudo está consu-mado, você não pode fazer mais nada!

Nelina, desesperada com tanta desgraça e de-pois de muito tentar, con-seguiu localizar a família de Margô e se apresentou: - Sou Nelina, a emprega-da da Dona Margô, desde o dia em que ela passou a conviver com o Sr. Mar-cos, e contou-lhes que ele era um homem bom, rico e importante; que eles se amavam, eram felizes e se entendiam muito bem; que, Marcos, era um líder no mercado atacadista da região; e que, quando vol-tava do trabalho, ele so-freu um acidente de carro e, então, tudo acabou; que,

a família dele pretextou ser ilegal a união dos dois e que, por isso, ela não teria direito a nada, e se apossou de tudo que era deles e, de-pois, a abandonaram. Ne-lina, chorando, suplicou: - Vocês precisam dar um jeito, o dinheiro acabou e ela não toma conhecimen-to da sua atual e difícil si-tuação. Vive em frente do espelho, se arrumando, trocando de vestidos e se perfumando, como se es-tivesse esperando alguém. É tudo muito triste. Estou sofrendo muito também, e a única coisa que posso fa-zer agora é pedir para que venham buscá-la, cuidem dela e a deixem viver no seu mundo de fantasia.

IVAN

“Ouça seu filho; sempre ouça seu filho”, foi o que me disse Jeannot numa tarde em Peruíbe, quando, com um amigo comum, e depois de doses de conha-que, entoamos a Marse-lhesa, numa desafinação que justificaria nossa pri-são por crime de lesa-pá-tria.

Jeannot emigrou da França para o Brasil de-pois da 2ª Guerra Mundial com sua mulher, Trudi, e o filho único do casal. Ele, deixando seu país que fora

esfacelado e humilhado pela ocupação alemã e, como lamentava, “com o rabo entre as pernas”; ela, judia, com o nariz adunco transformado em ariano para fugir à perseguição injusta e cruel. O filho, bem, ao filho depunham as esperanças de uma nação livre, onde o preconceito não ia além de piadas de péssimo gosto.

Num dia em que lia o jornal, contou-me, seu fi-lho, engenheiro, com cerca de 28 anos de idade, che-gou até ele pedindo para lhe falar alguma coisa, e

se poderia ouvi-lo. Jean-not disse que “sim, claro; apenas vou terminar de ler o artigo no jornal e vamos conversar”. O filho deixou a sala onde estavam e di-rigiu-se para seu quarto, à espera do pai. Terminado de ler o texto, Jeannot su-biu ao aposento onde en-controu o filho morto sobre a cama: havia suicidado com um tiro na cabeça.

Jeannot jamais discor-reu sobre o desespero que certamente tomou conta do casal. As vidas, dele e de Trudi, desabaram num segundo e perderam qual-

quer sentido de prosseguir porque tudo o mais era insignificante, além de va-zio. A dor, quando imen-surável e inesgotável é também insaciável - quer doer mais e mais - e para-lisa os sentidos, e o mundo não passa de uma sombra a vagar sem destino. Se, no momento da desgraça to-tal, Jeannot tivesse deixa-do o jornal sobre a mesa e escutado o filho, teria evi-tado o ato brutal, violento e irreversível. Quem sabe o filho necessitasse apenas de uma palavra de consolo que todo pai conhece, de

um afago, de uma opinião, de um tapinha no rosto para amenizar suposto problema. Qualquer gesto, afinal, menos o descuido de não atender ao chama-do do filho. É possível que nem problema houvesse, confessava-me o Jean-not. Talvez fosse apenas a carência de uma palavra amiga. “Por isso”, aconse-lhou-me, “se você estiver em meio a uma cirurgia ou atendendo a caso patológi-co ou fazendo um negócio do qual seu futuro econô-mico dependa ou prestes a realizar o sonho da sua

vida ou planejando o futu-ro de sua família, abando-ne tudo, tudo mesmo, e vá ouvir seu filho; ouça seu filho. Nada, nada no mun-do vale a vida do filho e o seu mundo pode ser salvo por apenas uma palavra: a palavra que seu filho quis ouvir e você não proferiu”.

Raro e misericordioso leitor meu: eu sei que tudo o que tenho escrito nesses 60 anos do nosso jornal ja-mais o atingiu, mas, por fa-vor, escute-me pelo menos agora: ouça seu filho... an-tes que seja tarde demais.

Restaurantes“Comida Sobrenatural” – comida natural - Rua 29 de Março, 113 – (35) 3465 2750“Cheiro Verde” – comida mineira – fogão a lenha – Praça do Rosário, 62 – (35) 3465 2295“Todo Sabor” – self-service- comida mineira – Padre Cornélio, 55 – (35) 3465 32 35“Tempero Mineiro” – Padre Cornélio, 45 – (35) 3465 2289“Rest. da Licinha”- comida mineira – fo-gão a lenha – Rod. MG 459 (km.6) – (35) 3465 1355“Cantinho da Costela” – rest. e churras-caria – Maurício Zucato, 60 – (35) 3465 6932“O Casarão” – self-service – por quilo - Juscelino Kubitschek, 537 – (35) 3465 2423“Prato D’Minas” – self-service – Juscelino Kubitscheck, 499 – (35) 3465 1930“Copett’s”- R. Mercado, 1193- (35) 3465- 6306“Vitória” – sef-service – José Guireli, 74 – (35) 9860 3056 e (35) 9146 8199“Quitutes da Analu” – Avenida das Fontes, 621

Pizzarias“Do Roberto” (também restaurante) – Juscelino Kubitschek, 1914 – (35) 3465

4855/2508“Mansão” (também restaurante) – Pref. José Carlos Francisco, 76 – (35) 3465 2712“Do Rex” – (disk-pizza) - (35) 3465-2289“Bella Toscana” (disk-pizza) – R. Minas Gerais – (35) 3465-5577

Choperias“Rest. e Choperia Monte Terraço” – R. Abílio Zucato, 499 – (35) 3465 4519“Mimi” (espetinhos e outros) – Pres. Tan-credo Neves, 367 – (35) 3465 3280

HotéisChalés Villa di Carpi – Rua Joaquim Vi-cente Lopes, 260 – Bairro Tanque - (35) 3465 8660Grande Hotel Monte Sião - Praça Prefei-to Mário Zucato,70 - (35) 3465 1228Guarany Country Hotel Fazenda - (35) 3465 1443/1998Hotel Galeria – Pref. José Carlos Francis-co, 180 - (35) 3465 2220Hotel Guarini – Pres. Tancredo Neves, 231 - (35) 3465 1190Hotel Minas Square – Rua Minas Gerais, 530 - (35) 3465 1705/1284Hotel Novo Horizonte – Praça Renato Franco Bueno, 64 - (35) 3465 1252Hotel Villa de Minas – Pres. Tancredo Neves, 431 - (35) 3465 2429/2718Hotel Sion – Praça Pref. Mário Zucato –

(35) 3465 2220

PousadasPousada Água da Mina – Rua Lindóia, 100- Parque das Fontes - (35) 9130 2681/8469 5632Pousada Monte Sião – Rod. MG 459 – km 05 – (35) 3465 4014

Visitação turísticaMuseu Histórico e Geográfico – Rua Maurício Zucato, 115 – (35) 3465 2467 (fechado na 2a. feira)Mosteiro da Santíssima TrindadeMirante com imagem de Nossa Senhora da Medalha, santa padroeiraPorcelana Monte Sião LtdaIgreja do RosárioFontanário da Água VirtuosaSantuário N. S. da Medalha MilagrosaPraça Prefeito Mário ZucatoReavida –Recanto de apoio à vidaLar S. José – casa dos idososPesqueiro Lago Azul – Bairro Furrier – (35) 8411 6333/8411 6310 Pesqueiro Padavini – Rod. M.Sião/O.Fino, Km 9 – (35) 3465 7132

Se sua empresa não está registrada neste espaço e se enquadra em alguma destas

categorias, comunique-se com a redação enviando todos os dados

referentes ao negócio.

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PÁGINA 4 FEVEREIRO | 2018

LOUCOSZÉ ANTONIO

Uma crônica semanal publicada há pouco tempo num periódico de grande circulação lembrou que antigamente – e por anti-gamente entenda-se algo que ocorreu há mais de cinquenta anos – a maioria das cidades pequenas do interior do Brasil tinha um louco zanzando por alguma praça da cidade. Esses lou-cos eram quase sempre pa-cíficos, a menos que algo os irritasse e os fizesse reagir com alguma violência. No mais das vezes, porém, este destempero restringia-se ao lançamento em altos brados de um repertório extenso de impropérios dirigido àquilo ou àquele que os tinha irri-tado. No entanto, em algu-mas poucas vezes a reação podia ser um ataque físico desferido com força des-medida que podia resultar em sérios machucados.

A praça da estação fer-roviária de uma dessas ci-dades de antigamente era o território dominado pelo Tião, um louco que por lá ficava de manhã até à noi-te falando sozinho ou con-versando com as flores. Em certas ocasiões, sem

programa ou data certa, um bando de meninos se juntava para azucrinar o coitado do Tião, até que ele se irritasse, gritasse um punhado de palavrões e afugentasse as crianças ameaçando bater nelas com um pedaço de pau. E então ele se acalmava e voltava a conversar com flores e plantas. Mas um dia apareceu na praça da estação outro louco, que ficou por lá apenas por um breve tempo. O tempo su-ficiente para alguém dizer maliciosamente ao Tião que aquele outro louco estava lá para tomar con-ta da praça. O Tião ficou furioso, exclamou que a praça pertencia a ele, che-gou perto do outro louco e deu-lhe um forte – e, supostamente, muito do-lorido – tabefe numa das orelhas, espantando para todo o sempre seu prová-vel rival.

Quando cursei a esco-la de engenharia na cida-de de Itajubá, já não se sabia se o Cidinho tinha morrido ou se estava de-finitivamente internado em algum sanatório. Mas, ainda assim, ele era quase uma lenda entre os estu-

dantes daquela escola, que transmitiam aos novatos os feitos do Cidinho ouvidos de veteranos que o haviam conhecido. Filho de uma família radicada na cidade, o Cidinho era um portento em matemática. Chegou a cursar, ao que me cons-te, dois anos completos na escola de engenharia, até manifestar sinais de lou-cura e abandonar o curso após sucessivas interna-ções em sanatórios. As internações viraram rotina na vida do Cidinho, entre-meadas por períodos mais ou menos breves em que ele não aparentava ser lou-co, a não ser pela fala um tanto incongruente, a repe-tição continuada de certas frases e a insistência qua-se infantil ao pedir algu-ma coisa. Nestes períodos de alguma lucidez, alguns estudantes aproveitavam e levavam ao Cidinho com-plexos problemas da assim chamada matemática supe-rior, recheados de integrais e equações diferenciais, e pediam sua ajuda para re-solvê-los.

-- Cidinho, tenho aqui um problema de matemáti-ca que não consigo resol-ver. Você pode me dar uma

ajuda? -- Deixa eu ver... Que

beleza de problema! Que beleza de problema!

E solucionava qualquer problema de matemática a ele apresentado com, como curiosamente se dizia à época, um pé nas costas. E era louco.

Não me lembro o nome do louco de estimação de uma pequena cidade mi-neira; por isto, vou cha-má-lo de Luís. O Luís ficava numa praça fazen-do discursos para objetos inanimados. E, para mos-trar erudição e domínio da oratória, empregava pro-nomes pessoais e tempos verbais pouco usados na linguagem coloquial. Ele gostava de usar o pronome vós e os verbos no mais-que-perfeito.

Certa vez, o assessor de um figurão do governo mi-neiro informou por telefo-ne o prefeito da cidade que seu patrão pretendia visitar a sede do município para anunciar a

execução de uma obra há muito reclamada. Na-quela época, como ainda não existia o DDD e a co-municação por micro-on-das, a ligação telefônica

estava ruim, mas o pre-feito entendeu muito bem quando o assessor do figu-rão perguntou se a cidade dispunha de uma pista de pouso onde o teco-teco que transportaria seu pa-trão pudesse aterrissar. A cidade não dispunha do que então era chamado de campo de aviação, mas o prefeito, temeroso de que o teco-teco do figurão pousasse na cidade mais próxima e deixasse por lá mesmo a obra prometida, respondeu no ato:

-- Pode vir, não tem problema.

Então mandou impro-visar uma pista de pouso numa área plana nas cerca-nias da cidade. Desmatada, coberta de cascalho e com uma biruta para indicar a direção do vento, a pista de pouso ficou supimpa para receber o tal figurão do governo. No dia e hora aprazados, o prefeito e ou-tras autoridades, mais uma multidão de curiosos, se deslocou até o campo de aviação improvisado para receber o figurão da capi-tal. O prefeito, as autori-dades e os curiosos espe-raram por horas, mas, para frustração geral, o homem

do governo não apareceu. Mandou um telegrama, que chegou bem tarde às mãos do prefeito, levado pressurosamente pelo pró-prio chefe da agência dos correios da cidade, infor-mando que compromissos urgentes e imprevistos im-pediram que sua viagem se realizasse. E acrescentava que outra data seria mar-cada em momento mais oportuno.

De volta à cidade, o Luís incorporou nos seus discursos o sentimento da população que tinha ficado à espera do homem do go-verno que não veio, com seu vocabulário peculiar e o uso de verbos no mais-que-perfeito:

-- O povo fora [que fal-ta faz um acento diferen-cial! Eu gostaria de ter es-crito fôra] ao aeroporto na fiúza de que o avião des-cera. Porém, o avião não descera. Vós, que fostes ao aeroporto e não vistes o avião descer, estais frus-trados e indignados. É jus-ta vossa indignação! E blá, blá, blá...

LUIS fRACCAROLI

Caro companheiro, de luta e de profissãoHoje gostaria de lhe falar sobre o meu patrão :É algo que faz tempo que eu quero lhe confessarVocê não imagina a imensa admiração Que o meu patrão tem pelo seu patrãoMas, diretamente, ele tem receio de expressar

Você, que sempre será o seu amigo do peitoTransmita-lhe com carinho e com muito jeitoAs admirações que ele gostaria de externarComeçando com os causos e os improvisosSempre provocando espontâneos sorrisosTornando o ambiente naturalmente familiar

Aliás, recuperar sorrisos foi a sua profissãoAssim como foi a sua dedicação à EducaçãoPor acreditar ser a grande tábua da salvaçãoDa mesma forma, que a colaboração irrestritaAtravés do voluntariado e do dom da escritaMarcam sempre, e para sempre, a sua participação

Sem falar na jovialidade, na cordialidade,Na sensatez e na grande musicalidadeQue lhe são patentes em todas as ocasiõesE caracterizam aquela liderança natural Que acompanhada pelo eterno Alto Astral Consegue preservar amizades e unificar opiniões

E, pela amizade que você tem com o seu patrãoDiga a ele que o sonho maior do meu patrãoÉ seguir os seus passos como quem segue uma luzSeja no exemplo de dedicação e amor à famíliaSeja na lisura e nas atitudes de quem compartilhaE acredita no Bem Maior que nos conduz

Das 7 para o Das 6(Diálogo entre um violão de 7 cordas e outro de 6)

Meu patrão diz que as verdadeiras amizades Sempre irão viajar entre EternidadesE que esse deve ser o verdadeiro sentimentoE para ser longa e prazerosa a viagemDeus nos reserva uma grande vantagem:Poder escolher amizades com discernimento

Quanto a você, meu companheiro de ofícioPor favor, não estranhe o meu vícioDe utilizar uma sétima corda com bordõesVocê pode notar que ela é sonora, firme e forteComo um símbolo de amizade e de sortePra celebrar a nossa amizade e a dos nossos [patrões.

Da esquerda para a direita: Ivan (violão de 6), Acácio (cavaquinho) e o autor (violão de 7)

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FEVEREIRO | 2018 PÁGINA 5

O SOFRIMENTO É UMA LIçÃO

JOSÉ ANTONIO ZECHIN

Considerando este tempo quaresmal e lembrando de Jesus sozinho no deserto... Ninguém quer sofrer quarenta dias e qua-renta noites, é verdade. Mas, inevitavelmente, de um jeito ou de outro, a dor acontece a todo mundo, sem exceção. Dizem até que antes de orar para afastar o so-frimento deveríamos pedir a Deus coragem para suportá-lo. O so-frimento ajuda a en-tender a vida humana. Não adianta fugir da dor, ela vai encontrá-lo

em algum momento. E quando ela chegar, quando você tiver um problema, qualquer que seja, procure trans-formar sua dor numa aprendizagem e faça alguma coisa para su-perá-la. Não é fácil, é claro, mas a dor é sem-pre uma catarse, uma purificação.

Um tempo atrás sofri uma multa por cometer uma tola in-fração de trânsito: esta-cionar sobre a faixa de pedestre, só duas rodas do carro. Estava erra-do, claro. Fiquei muito aborrecido com aquilo (odeio cometer erros!), sofrendo além da con-

ta com aquela bestei-ra. Quando caminhava pela calçada, presenciei um homem no meio da rua (sem se dar conta, numa esquina perigosa) esbravejando descon-troladamente ao celular algo do tipo: “se você não me pagar ainda hoje, vou processá-lo, você me deu um che-que roubado, etc. etc.”. Devia ser coisa muito séria. Então, comparei aquilo com o meu pe-queno problema. E con-fabulei com os meus estimados e filosóficos botões: nossa, dos 70 mil vinhedenses, tal-vez uns 69.999 tenham problemas pessoais,

familiares, financeiros, doenças, desemprego, crises existenciais, de-samores, brigas com vi-zinhos e qualquer outra situação que você pos-sa imaginar. Problemas menos ou mais sérios, não importa, ainda as-sim, “problemas”.

Eis um exemplo real e existem milhares iguais. Quando ficou tetraplégico, Jim Ma-cLaren (1963-2010), um atleta recordista que teve uma perna amputa-da abaixo do joelho, de-pois de ser atropelado por um caminhão, co-locou-se inicialmente um objetivo: pelo me-nos ser capaz de atra-

vessar a sala andando. Então, ele se deu conta de todos os verdadeiros e importantes objeti-vos que tinha em vida: conhecer a Deus, co-nhecer-se a si próprio, ter sabedoria, entender melhor o ser humano — e se perguntou: “será que vou conseguir isso simplesmente atraves-sando a sala com alguns passos? Ou devo mu-dar meu foco e expan-di-lo?”. Foi o que ele fez. Posteriormente se tornou um extraordiná-rio palestrante motiva-cional. Um caso entre milhões de outros. Você deve conhecer pessoas que venceram os pro-

blemas e se tornaram exemplos de vida.

Lembra da frase po-pular: “se a vida só te deu limões, faça limo-nadas”? Pois é... De-veríamos pensar desta forma todas as vezes que tivéssemos um problema. É fácil? Cla-ro que não! Mas não custa tentar aprender com o sofrimento. En-tão, reflita sobre esta frase de Cecília Mei-relles: E é nisto que se resume o sofrimento: cai a flor — e deixa o perfume no vento!

PASCOAL ANDRETA

Desde sua expulsão do Paraíso Terrestre, o homem carrega uma cadeia interminável de doenças e dores, pois o anátema pesou gros-so no seu destino. Mas o homem não entregou os pontos e vem, desde então, abarrotando de superstições, drogas e ciências o prato do con-trapeso, para obrigar o fiel da balança a per-manecer, pelo menos, em perfeita vertical. En-quanto tudo está mais ou menos contrabalan-çado, vive-se despreo-cupadamente, alheio à religião e à morte. Um pequeno desequilíbrio ainda se tolera. Quando a maldição, porém, co-meça a fazer pressão e a levantar a tonelagem de recursos com que se

pensa contar, aí então o homem espinoteia e dá pulos de gato.

Se se considera irre-mediavelmente perdido, agarra Deus com pressa! Arranja um terço, um li-vro de orações e passa a bater violentamente no peito a cada exclamação de Domine, non sum dignus. Se ainda acredi-ta ser possível conseguir um pouco de cera para reavivar a chama da vela de sua existência, não ti-tubeia e mete os peitos: consulta médicos e sub-mete-se a tratamentos que fariam as torturas da Inquisição parecer fichinhas. Faz regimes de morte! Regride quase primitivamente e acata conselhos de curandei-ros broncos, de benze-dores de pé rapado e de pais-de-santo. Indaga de adivinhos, bruxos,

astrólogos e feiticeiros. Faísca, fareja e farisca em tigelinhas andantes e falantes. Não quer, enfim, saber se a mula é manca: o que quer é alívio, alegria, conforto, saúde, vida!

Foi talvez por isso que uma noite o irre-quieto Mário Canela, de lenço xadrez enfaixando a cara, olhos vermelhos de prantos e testa molha-da de suor, procurou seu amigo Adolfinho:

– Não agüento mais de dor de dente! Vamos fazer uma sessão de ti-gelinha para ver o que é que há. Pra mim, só pode ser o espírito do nhô Quim que tá sam-bando no maldito dente!

– Ora! Vá ao dentista! O João Mariano acaba com isso em dois tem-pos!

– Acabava, Adolfi-

nho, acabava! Já botou tudo quanto foi remédio e não valeu uma pinga! Ai, ai, ai!

– Mas, para a sessão, é preciso de mais gente e de uma sala também!

– Pode deixar por mi-nha conta.

Era tarde, mas ain-da assim encontraram o Gradim, o Flívio, o Ge-raldo, o Alair e o Sílvio Delpim. Na Rua Direita, o único bar aberto era o do Irineu. Entraram. O dono do bar, ao ver o grupo invadir-lhe o pe-queno reservado, des-confiou de alguma peça e foi sapear de perto.

– O quê é esse negó-cio de tigelinha e letras?

– Não é nada. É só uma sessão espírita.

Medroso, ao ouvir falar de sessão espírita, pensou em expulsar o bando de seu bar. Mas já

era tarde: a tigelinha já corria em círculos e zi-guezagues, sondando a disposição das letras.

O Adolfinho, na qua-lidade de presidente, in-dagou:

– Seu nome? A tigelinha, catando

letras como datilógrafo de um dedo só, respon-deu categórica:

– Não digo! O Adolfinho enfezou

e já quis brigar: – Não diz por quê? O misterioso impul-

sor da tigelinha se apre-sentou:

– Porque sou o D-E-M-Ô-N-I-O!

Ao último “O”, uma gargalhada reboante en-cheu a saleta. O doente esqueceu imediatamen-te sua dor de dente! O Alair transfigurou-se! O Flívio ficou baio! O Gra- dim ficou branco!

O Geraldo enterrou o chapéu na cabeça e, a custo, soltou o grito de retirada:

– Capina, minha gen-te, que o bicho está aqui!

A correria foi medo-nha. O Irineu, tremendo, batendo os dentes, mal teve tempo de segurar o Adolfinho pela gola do paletó:

– E agora? Será que ELE ainda está aí?

– Não sei não! Pode estar escondido em al-gum canto! Procure atrás da porta...

– Procurar? Eu vou é com vocês!

Deixou o bar às mos-cas e deu no pé...

Nota: Esta crônica faz parte do livro “Monte Sião de outras eras”.

Eu vou é com vocês!

Page 6: Crônica de repente: travessias - irp-cdn.multiscreensite.com · A noite era seu domínio e sua escolha, o habitat que o fazia seguro e feliz. Sob o céu frio e ponti- lhado de estrelas,

PÁGINA 6 FEVEREIRO | 2018

N.º 548Fevereiro de 2018

Concurso de Poesias

O “XVI Concurso Fritz Teixeira de Salles de Poesia”, que cul-minará no dia 7 de abril com a entrega dos prêmios aos ven-cedores das três categorias (Geral, Local e Ensino Funda-mental II – Ensino Médio de Monte Sião), recebeu 2048 (duas mil e quarenta e oito) poesias. Todos os estados do Brasil concorreram, além de Portugal, Moçambique, An-gola, Argentina, Cabo Verde, França, Itália, Japão, Suíça e Estados Unidos. Destes, o mais participativo foi Portugal. Entretanto, os poetas locais continuam devagar, pois, os inscritos na Categoria Local foram apenas oito poetas com 14 poesias, enquanto que os escolares somaram 20 alunos concorrentes com 23 trabalhos. Apesar das poucas participa-ções locais, é um bom come-ço, já que não se pode esperar que a cidade abrigue grande número adeptos da rara e difí-cil arte da poesia. Além do quê, a meta da Fundação é divulgar a cultura e, nesse caso, a poe-sia, fato que tem conseguido e com muito sucesso; e sucesso, afirme-se, progressivo a cada ano que passa.

Lira Monte Sião

No princípio do próximo mês de março estarão reiniciados os ensaios da Lira Monte Sião, agora sob a responsabilidade do maestro Samuel Gledson Rodrigues que já conta com di-

versos músicos experientes e vários novatos. Os ensaios se-rão realizados em sala dispo-nibilizada pelo “Grupo Expres-são Livre”, sob a manutenção da Fundação Cultural e a ajuda substancial do empresário Cel-so Grossi. O apoio de Reginal-do Aparecido da Costa e André (Padé) Tortelli Faraco foi provi-dencial para que a banda tome novos e seguros caminhos, delineados anteriormente pelo empenho do maestro Gilberto Pennacchi. PESCARIA DO GODINHO

A última parada da equipe de pesca, antes de acampar no rio Tapirapé, afluente do Ara-guaia, Mato Grosso, foi em Luciara, na margem esquerda daquele rio. Na praça onde tur-ma tomava lanche, realizava-se concurso de imitação. Sem se explicar, o Godinho subiu ao palco, apresentou-se, res-pondeu à pergunta do apre-sentador: — Vou imitar passari-nho. — Qual passarinho? — Sei imitar todos eles. — Olhando para os especta-dores, bateu os braços e saiu voando. Planou sobre a praça, deu um voo rasante sobre os companheiros assustados, e partiu para a pousada. Quando a turma lá chegou, o Godinho já estava dormindo num galho da mangueira, quietinho, sem dar um pio. Só não cantou de manhã porque estava na troca de penas.

MARÇO DE 2018Dia 01

Antonio Pedro MussiMirian Guireli de Faria

Ademir PennacchiEllen Fernanda M. da Costa

Dia 02Pedro Artur Ribeiro

Marco A. Zucato GuireliLuciano Gomes da SilvaIdione Fonseca RigheteMary Eulália C. BarbosaWilian Augusto de PaulaPriscila de Castro Guarini

Dia 03Vicente de Paulo AndretaFrancisco Tadeu da CostaBruno Labegalini de Castro

Jéferson BuenoAugusto César Pereira

Dia 04Elvira Leandro Pereira

Jeruza RenzoWilma Maria Rodrigues

Elaine de LimaMaria Luiza G. Comune

Dia 05Mariana S. Andreta

Joseli Vicentina da SilvaLuciana Maria Pereira

Dia 06Gustavo Valentim Rejani (Marumbi/PR)

José ArmelimWander Franco Bueno

Dia 08Alexandre Pedroso

Luiz Aparecido da SilvaSolange Ap. B. Domingues

Dia 09Luís Felipe de Castro Ribeiro

Dia 10Therezinha P. Labegalini (Kaloré/PR)

Bruno Silveira Andreta (São Paulo/SP)Dia 11

Ana Beatriz AraújoHenrique B. da Fonseca

Thiago LabegaliniElaine Cristina C. Freire

Dia 12Nicholas Gottardello Fonseca

Eliana Fumuka U. GatoliniCarlos Eduardo Barbosa

Tiago LinoAndreza Augusto

Carolina N. SimõesDia 13

Juliano ArmelinDia 14

Amaranta GuireliAna Paula V. Labegalini (Maringá/PR)

Dia 15Camila Franco de Morais,

Gatinha do Jornal - Set/2006Fabrício Guarini

Neuza Godoi AlbinoGrecy Daila R. dos Reis,

Gatinha do Jornal - Out/2006Dia 16

Hetory Reis CanelaRenato Parreira

Dia 17

Lídia Aparecida Bossi VelosoLaíse Barbosa de Souza,

Gatinha do Jornal - Out/2008Elza Bernardi G. Santos

Clarysdele Canela BuenoYgor Fávero Nobrega

Dia 18Sarita Gotardelo de Oliveira, Gatinha do Jornal - Jan/2008

José Carlos BonassaCristiane Labegalini,

Flávia Gottardello SilvaDia 19

Danieli Comune Faria Bianca Pennacchi

Josefina Comune MendonçaIzis Rayara Queiroz

Dia 20Cláudia Regina Renção (SP/SP)

Letícia Daldosso LabegaliniJosé de Paula Domingues (SP/SP)

Cláudio LabigaliniDia 21

Fátima Cristina GaspardiDr. Alcides Brunialti Jr.

Dia 22Marília de Souza SantosGuilherme Laira GrossiAndré Costa P. Grossi

Dia 23José Oscar TakahashiLívia Belinato Fonseca

Dia 24Michele Silva Artuso,

Gatinha do Jornal - Ago/2008 Lara Pieroni

Cesarina dos SantosEliana Ap. Otaviano

Guilherme Pereira ZucatoDia 25

Felipe Trindade DinizRoselene S. GottardelloAlcina Maria Otaviano

Dia 26Sérgio Luiz Bueno

Maria Cristina GottardelloAna Paula Gaspardi

José Marcos de SouzaDia 27

Fernanda Emerick de Souza,Gatinha do Jornal - Mar/2009

Ariovaldo Guireli, nosso colaboradorDia 28

Daniela Godoi ZucatoSimone Simões CardosoBenedito Pereira Pinto

Dia 29Marice Leandro ZucatoCarlos Antonio Rezende

Márcio Giglio ZucatoAparecida Vilela

Dia 30José Antonio Pereira

Joseli da Costa PereiraSilvana M. Bernardi (Formiga/MG)

Dia 31Heloise Correa Constantino

Pedro César GalbiatiLeila Maciel Pereira

Popo de Sião

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Nos cafundódo judasvive o melhor de mim:

Sou longepra se chegar.

Versão de mim

Doações

Como acontece anualmente, o fundador deste jornal, e tam-bém seu colaborador – doutor Antonio Marcello da Silva – en-viou à Fundação Cultural “Pas-coal Andreta”, mantenedora do “Monte Sião”, R$1000,00 (mil reais) para pagar cinco assi-naturas referentes a 2018 que, na verdade, somam R$150,00 e, “se sobrar, usar na manu-tenção do jornal”.Do doutor Walter Gottardello, nosso Museu recebeu uma nota no valor de 100 Baisa, moeda do Sultanato de Omã, país árabe localizado na costa sudeste da Península Arábica, Ásia. A Fundação agradece a am-bos.

O Carnaval na cidade

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1Nasceu no Rio de Janeiro em 1866, estudou na Es-cola Militar e fez curso de Engenharia. De formação positivista e republicano convicto, sempre foi amante

da filosofia e das ciências naturais. Viveu em São Paulo e em 1897 foi enviado pelo Jornal Estado de São Paulo ao sertão da Bahia para cobrir, como correspondente, a guerra de Canudos. E pôde, com precisão, informar os movimentos de guerra das três últimas semanas do conflito.

Cinco anos depois, lançou seu livro antológico, necessário, “Os Sertões”, obra que narra e analisa os acontecimentos de Canudos à luz das teorias científicas da época.

Segundo o historiador Roberto Ventura, “Os Sertões” é uma obra híbrida que transita entre a literatura, a história e a ciência, ao unir a perspectiva científica, de base naturalista e evolucio-nista, à construção literária , marcada pelo fatalismo trágico e por uma visão romântica da natureza.

O nosso homenageado, recorreu a formas de ficção, como a tragédia e a epopeia, para compreender o horror da guerra e inserir os fatos em um enredo capaz de ultrapassar a sua signi-ficação particular. A epopeia gloriosa da República brasileira, pela qual combatera na juventude, adquiriu caráter de tragédia na violenta intervenção militar que testemunhou em Canudos.

Estamos escrevendo sobre EUCLIDES DA CUNHA.

2- Fragmentos “Então, a travessia das veredas sertanejas é mais

exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte

largo e a perspectiva das planuras francas. Ao passo que a caatinga o afoga, abrevia-lhe o olhar, agride

-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gra-vetos estalados em lanças, e desdobra-se lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lem-brando um bracejar imenso, de tortura , da flora agonizante...”

“ (...) Fechemos este livro. Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história,

resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a pal-mo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morre-ram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil sol-dados”.

3- A frase do mês: “Viver é adaptar-se” – Euclides da Cunha.

LiterÁrio LXIV

Kuaia

31Grilo me mijouborboleta revooupirilampo alumiou:virei poesiaAgora guardo nuvens em gaiolae em mimcoisas rarase impossíveis 32Às vezes algumas fadas tocam com dedos mágicosmeus entulhos

Meu melhor é inventado

B. O. B.

Ao cigarroSe agarraPra apagar a chamaQue abrasa o peito.

Faz cortina de fumaçaBebe uma cachaçaSuaviza sorrateiroSua sina no cinzeiro.

Viu-se no vício.60 anos

Contando a história da

Capital Nacional do

Tricô