crise e fluxo migratÓrio: o recente … · a onda de protestos e a forte repressão policial...

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1 CRISE E FLUXO MIGRATÓRIO: O RECENTE DESLOCAMENTO DE VENEZUELANOS AO BRASIL (2016-2017) E AS FORMAS DE PROTEÇÃO JURÍDICA AOS MIGRANTES Maria Garcia Tiago Scher Soares de Amorim 1 1 INTRODUÇÃO Desde 2013, a crise política e econômica na Venezuela desatou em uma intensificação do fluxo imigracional de nacionais do país para o Brasil. Considerando isso, suscitam-se questionamentos sobre quais seriam as principais motivações deste fenômeno, bem como qual tratamento é adequado para a recepção desses migrantes em solo brasileiro. Muitos dos nacionais da Venezuela que solicitaram refúgio no Brasil estão contemplados pela concessão de residência da resolução do Conselho Nacional de Imigração (CNig) de março de 2017. O artigo tem como objetivo compreender o enquadramento do migrante venezuelano no Brasil a partir da interpretação dos dispositivos normativos. Com base em uma pesquisa exploratória, com a pretensão de aprofundar o conhecimento do contexto econômico e social da Venezuela, e por meio do método indutivo - onde o conhecimento é baseado na experiência , é observado o fluxo migracional e relacionado às referências de “imigração” ou mesmo de “refúgio” no entendimento brasileiro. A pesquisa foi organizada em três partes. A primeira amealha dados da situação econômica e política da Venezuela, dando condições de contextualizar a situação deste migrante no Brasil. A segunda parte detalha os dispositivos normativos do Brasil relacionados ao fluxo migracional, apontando o caminho moral por onde se desenvolveu o posicionamento jurídico. Já a terceira 1 Mestrandos do Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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CRISE E FLUXO MIGRATÓRIO: O RECENTE DESLOCAMENTO DE

VENEZUELANOS AO BRASIL (2016-2017) E AS FORMAS DE PROTEÇÃO

JURÍDICA AOS MIGRANTES

Maria Garcia

Tiago Scher Soares de Amorim1

1 INTRODUÇÃO

Desde 2013, a crise política e econômica na Venezuela desatou em uma

intensificação do fluxo imigracional de nacionais do país para o Brasil. Considerando

isso, suscitam-se questionamentos sobre quais seriam as principais motivações

deste fenômeno, bem como qual tratamento é adequado para a recepção desses

migrantes em solo brasileiro. Muitos dos nacionais da Venezuela que solicitaram

refúgio no Brasil estão contemplados pela concessão de residência da resolução do

Conselho Nacional de Imigração (CNig) de março de 2017. O artigo tem como

objetivo compreender o enquadramento do migrante venezuelano no Brasil a partir

da interpretação dos dispositivos normativos.

Com base em uma pesquisa exploratória, com a pretensão de aprofundar o

conhecimento do contexto econômico e social da Venezuela, e por meio do método

indutivo - onde o conhecimento é baseado na experiência –, é observado o fluxo

migracional e relacionado às referências de “imigração” ou mesmo de “refúgio” no

entendimento brasileiro. A pesquisa foi organizada em três partes. A primeira

amealha dados da situação econômica e política da Venezuela, dando condições de

contextualizar a situação deste migrante no Brasil. A segunda parte detalha os

dispositivos normativos do Brasil relacionados ao fluxo migracional, apontando o

caminho moral por onde se desenvolveu o posicionamento jurídico. Já a terceira

1 Mestrandos do Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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enfoca inteiramente no tratamento deste mais recente fluxo migracional

venezuelano, à luz dos dispositivos outrora analisados.

2 CRISE POLÍTICA E ECONÔMICA DA VENEZUELA: CONTEXTO E ROTA DOS

MIGRANTES

2.1 QUEDA DO PREÇO DO PETRÓLEO E SITUAÇÃO DE APREENSÃO POLÍTICA

E HUMANITÁRIA

Nacionais da Venezuela vêm sofrendo uma crise política e econômica de grandes

proporções no Estado Nacional. O país latino-americano passou décadas com uma

economia rentista, cujo meio de desenvolvimento não se baseou majoritariamente

no que era produzido pelo trabalho dos venezuelanos. Por meio desta via

econômica, grandes distorções foram criadas no processo de desenvolvimento que

privilegiaram os setores menos produtivos da economia em detrimento dos mais

produtivos. Destacava-se, também, seu forte caráter importador2.

A queda dos preços dos barris de petróleo em junho de 2014, principal reserva de

riqueza do país, foi o estopim que acentuou os problemas econômicos enfrentados

pelo país desde os últimos meses de governo de Hugo Chávez, que deu sucessão

ao seu aliado político Nicolás Maduro. As problemáticas na administração da

economia na busca de uma regulação econômica se desenrolaram em desarranjos

aliados ao descontrole inflacionário. Como consequência, houve o desestímulo

industrial e o aumento acentuado do desemprego. Com a política do governo

venezuelano de contenção de dólares dos Estados Unidos, a escassez de bens de

consumo básico, como comida e material médico, desenvolveu-se como uma etapa

natural da crise estabelecida. O presidente Maduro admitiu em 2017 não possuir

uma solução para conter a crise e solicitou que seus ministros seguissem as

2 PADRÓN, Alejandro. La crisis económica venezolana y el control de cambio. Revista Economía, nº 10 (Univesidad de Los Andes), 2014, p. 150.

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orientações do Programa das Nações Unidas para os Direitos Humanos (PNUD) em

relação ao combate à escassez de medicamentos na piora dos serviços de saúde3.

Os impasses econômicos foram um dos fatores agregadores às insatisfações

políticas de setores opositores da população Venezuelana, desenrolando-se em um

ambiente de instabilidade política que instigou organizações internacionais e não-

governamentais a se manifestarem a respeito. A onda de protestos e a forte

repressão policial resultaram em um número considerável de mortos durante os

confrontos entre governo e protestantes, além da detenção dos opositores do

governo Maduro, atraindo a atenção dos olhares da comunidade internacional. O

Alto Comissariado dos Direitos Humanos das Nações Unidas 4 chegou a se

pronunciar a respeito dos padrões de violações aos direitos dos manifestantes no

país, considerando uma “imagem de disseminação e sistemático uso da força e

detenções arbitrárias contra os protestantes da Venezuela”.

Em março de 2017, o Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos

(OEA) Luis Almagro publicou um relatório sobre a crise venezuelana, afirmando que

o governo violou suas obrigações previstas na cláusula democrática, tanto por conta

dos abusos das forças de segurança, como das medidas da Suprema Corte para

endossar as medidas do governo para minar o poder da Assembleia Nacional.

Almagro também reconheceu o estado de crise humanitária no país5.

2.2 MIGRAÇÃO VENEZUELANA NO BRASIL

Seja por fins econômicos ou políticos – que implicam no aprofundamento da

recessão econômica – a intensificação do fluxo migratório venezuelano para países

3 CASTRO, Maolis. Maduro pede ajuda à ONU contra escassez de medicamentos. El País Brasil, mar. 2017, Seção Internacional. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/03/25/internacional/1490402446_848555.html>. Acesso em: 25 jul. 2017. 4 UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES. UN human rights team’s findings indicate patterns of rights violations amid mass protests in Venezuela. OHCHR, 2017. Disponível em: < http://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=21948&LangID=E>. Acesso em: 06 ago. 2017. 5 HUMAN RIGHTS WATCH. The OAS and Venezuela's Supreme Court Saga. HRW, 2017. Disponível em: <http://www.refworld.org/docid/5908a7954.html> Acesso em: 02 ago. 2017.

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de fronteira ou para os Estados Unidos vigora como uma das consequências desta

conjuntura venezuelana em uma escala transnacional. No Brasil, a maioria deste

grupo se utiliza de uma rota de entrada em Pacaraima, no nordeste do estado de

Roraima, em uma rota que em 2016 recepcionava cerca de 40 imigrantes

venezuelanos por dia com intenções de permanecer no local ao menos por algum

tempo. Muitos acabam seguindo viagem em direção a capital do estado de Roraima,

Boa Vista6. É nesta capital onde está localizado um abrigo de acolhimento destes

migrantes provido pelo governo brasileiro, segundo a organização internacional

Human Rights Watch (HRW)7.

De acordo com informações do Alto Comissariado das Nações Unidas para os

Refugiados (ACNUR), em 2016, 27 mil venezuelanos entraram em outro país

solicitando refúgio. Em 2017 até julho, foram aproximadamente 50 mil. O Brasil é o

segundo principal país de destino desses solicitantes em 2017, com um número

aproximado de 12,9 mil solicitantes 8 . O órgão estima que 30 mil venezuelanos

estejam em uma situação irregular no Brasil diante dos obstáculos burocráticos e

longos períodos por conta das altas taxas de aplicação por vistos temporários. É

nestas incertezas dadas pela falta de acesso a informações jurídicas ou de uma

legislação inadequada em matéria de imigração que ocorre justamente a “sobre-

utilização” do instituto do refúgio como uma saída para a necessidade de

regularização que não é suprida9.

Este seria um mecanismo encontrado por imigrantes voluntários para saírem da

situação de risco social, apontado por Silva10 como consequência do anseio de

6 GODOY, Roberto. Entrada ilegal de venezuelanos põe Brasil em alerta. Estadão, out. 2016, Seção Internacional. Disponível em: < http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,entrada-ilegal-de-venezuelanos-poe-brasil-em-alerta,10000081394>. Acesso em: 05 ago. 2017. 7 HUMAN RIGHTS WATCH. Venezuela: Crise Humanitária Alastra-se para o Brasil. HRW, 2017. Disponível em: < https://www.hrw.org/pt/news/2017/04/18/302397> Acesso em: 05 ago. 2017. 8 UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES. As asylum applications by Venezuelans soar, UNHCR steps up response. UNHCR, 2017. Disponível em: <http://www.refworld.org/docid/596c669e4.html> Acesso em: 06 ago. 2017. 9 ASANO, Camila Lissa; TIMO, Pétalla Brandão. A nova Lei de Migração no Brasil e os direitos humanos. Heinrich Böll Stiftung Brasil, abr. 2017. Disponível em: <https://br.boell.org/pt-br/2017/04/17/nova-lei-de-migracao-no-brasil-e-os-direitos-humanos>. Acesso em: 20 jul. 2017. 10 SILVA, João Carlos Jarochinski. Uma análise sobre os fluxos migratórios mistos. In: ACNUR. 60 anos de ACNUR: perspectivas de futuro. RAMOS, A. de C.; RODRIGUES, G.; ALMEIDA, G. A. de (Org.) São Paulo: Editora CL-A Cultural, 2011, p. 209

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países que adotam limitações a este grupo específico na busca pela imigração zero.

Os próximos tópicos do artigo analisarão as normativas que devem conduzir a

política migratória brasileira, como elas foram incorporadas no arcabouço jurídico e

qual é a ótica destas no tratamento do migrante venezuelano.

3 DISPOSITIVOS BRASILEIROS E PERSPECTIVA SOBRE A MIGRAÇÃO

3.1 MUDANÇA NORMATIVA E GARANTIA AO IMIGRANTE TRABALHADOR

O Brasil encontra-se em um cenário de transição do conteúdo normativo relacionado

ao estrangeiro. Com a recente aprovação da Lei de Migração 11 , a legislação

brasileira incorpora o paradigma de direitos humanos para as migrações 12 . O

resultado de meses de tramitação no Congresso Nacional brasileiro é fruto de uma

conquista da sociedade civil organizada, e eleva o país a uma ótica avançada da

perspectiva migratória pelos parâmetros internacionais.

Cumpre ressaltar, entretanto, que a supracitada Lei ainda não está em vigência.

Segundo o artigo 125, a norma passa a vigorar após 180 dias após a sua publicação

oficial, fato que ocorreu no dia 25 de maio de 2017. Até o momento, o Estatuto do

Estrangeiro é a lei basilar para o imigrante que chega ou reside no Brasil. A Lei de

Migração, contudo, espera somente a fase de regulamentação para sua devida

implementação posterior.

O Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/1980) foi elaborado durante o final da

ditadura militar e regulamenta a questão da imigração no Brasil com base nos fins

de segurança nacional, ou seja, conta com efeitos de securitização ante a visão do

imigrante. O início do regime democrático e a instituição da Carta Cidadã, em

referência aos novos parâmetros para a organização da sociedade brasileira,

apresentaram as dificuldades que o Estatuto teve em permanentemente se

estabelecer como texto orientador das políticas imigratórias do Brasil. Além da

referida lei ser contrária aos princípios fundamentais previstos na Constituição de

11 BRASIL. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 maio 2017. Seção 1, p. 1. 12 ASANO; TIMO, 2017.

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1988, ela não compactua com o conteúdo dos tratados de direitos humanos dos

quais o Brasil é parte, a exemplo do artigo 12 do Pacto Internacional dos Direitos

Civis e Políticos de 196613 e do artigo 13 da Convenção Americana de Direitos

Humanos14.

Antes do Estatuto do Estrangeiro, porém, o Brasil se comprometeu a seguir os

esforços da Organização Internacional do Trabalhador (OIT) no que concernia ao

direto laboral dos trabalhadores na década de 60, em um período mundial em que

ainda eram intensos os fluxos migratórios para este fim. Na segunda metade do

século XX, surgiu a demanda dos países centrais para a aceitação do indivíduo para

a necessidade de mão de obra sem que isso significasse, necessariamente, a

garantir dos direitos sociais relegados aos seus respectivos cidadãos15. Nesta época

e desde 1949, a OIT tomou papel relevante de discussão internacional ligado ao

trabalho e emprego de imigrantes.

O Congresso brasileiro encontra resistência em ratificar a Convenção da ONU sobre

a Proteção dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e Membros de Sua Família,

estabelecido em 1990 por meio de uma resolução da Assembleia Geral das Nações

Unidas, a 45/158. A convenção, fruto da luta do Comitê Internacional dos Direitos

Humanos, inspira-se em uma Recomendação Geral estabelecendo não haver

diferença entre nacionais e estrangeiros no que se refere à aplicação dos direitos

humanos. Ou seja, tentou-se estabelecer um patamar jurídico mínimo para a figura

13 Art. 12: 1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o direito de nele livremente circular e escolher sua residência. 2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio país. [...] In: BRASIL. Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992. Atos Internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Promulgação. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 7 jul. 1992, p. 8716. 14 Art. 13: Liberdade de Pensamento e de Expressão: 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente fixadas pela lei a ser necessária para assegurar: a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral pública. [...] In: BRASIL. Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 nov. 1992, p. 15562. 15 SILVA, 2011, p. 206

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do imigrante voluntário, dispensando o seu entendimento dentro da legalidade ou da

ilegalidade administrativa16.

Mesmo conseguindo entrar em vigor somente 13 anos depois, o Brasil se tornou o

único país membro do Mercosul que não assinou a Convenção. Sua relevância para

que o Estado possa proteger adequadamente os imigrantes que aqui vivem ainda,

contudo, nas relações de trabalho. Recentemente, o relatório da Revisão Periódica

Universal17 (RPU) da ONU analisou o caso do Brasil e solicitou ao governo brasileiro

que ratifique prontamente a Convenção supracitada18.

3.2 A PERSPECTIVA HUMANITÁRIA NA NORMATIVIDADE BRASILEIRA

A acolhida no Brasil para fins além de reunião familiar e laboral se sustentava até

aquele momento pela Lei de Refúgio, considerada como um marco na proteção

humanitária do país. O país não somente incorporou tanto a Convenção relativa ao

Estatuto dos Refugiados de 1951 como o seu Protocolo de 1967 à lei doméstica por

meio da Lei de n. 9.474/97, mas também ampliou a definição clássica de refugiado

para incluir os indivíduos que fogem de seu país de origem devido à grave e

generalizada violação de direitos humanos, com inequívoca inspiração na

Declaração de Cartagena de 198419. Com isso, o Brasil propôs que o território

nacional abarcasse uma amplitude semântica no entendimento do refugiado, com

fins de inserir maior número de casos à proteção jurídica do perseguido

internacional. A lei de refúgio também previu a instituição de um órgão responsável

16 SILVA 2012, p. 86 17 “A Revisão Periódica Universal (RPU) é o mecanismo mais inovador do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDH). Este mecanismo determina que todos os 193 Estados-membros da ONU sejam submetidos periodicamente a uma revisão de sua situação de direitos humanos a cada quatro anos e meio.” In: <http://www.conectas.org/pt/acoes/politica-externa/noticia/1-o-que-e-a-revisao-periodica-universal> . Acesso em: 10 ago. 2017. 18 UNITED NATIONS GENERAL ASSEMBLY. Draft report of the Working Group on the Universal Periodic Review – Brazil. Human Rights Council, Genebra, 9 maio 2017, p. 4 19 As conclusões e recomendações da Declaração de Cartagena podem ser encontradas em: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Cartagena sobre os refugiados, de 1984. Lei 9474/97 e Coletânea de Instrumentos de Proteção Internacional dos Refugiados. Brasília: ACNUR, 3ª ed., 2010. p. 73 e ss.

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por reconhecer e proteger o refugiado, com a criação do Comitê Nacional para os

Refugiados (CONARE).

O que fez o país implementar um mecanismo de proteção utilizada em larga escala

para fins humanitário, para além do limites possíveis do refúgio, foi a movimentação

migratória em massa decorrente do terremoto de grandes proporções que atingiu o

Haiti, em 2010. Somando-se também ao grave surto de cólera que ocorreu dez

meses depois do desastre, milhares de haitianos optaram pela saída do país fugindo

da então situação precária estabelecida tendo como o destino Brasil, na época polo

de atração migratória sul-sul pelo seu alto desemprenho econômico. Na falta de um

entendimento que pudesse considerar o haitiano como um refugiado, mesmo diante

de uma demanda humanitária por motivos de desastre ambiental, o Brasil criou um

mecanismo com caráter excepcional: o visto humanitário.

O visto humanitário de permanência foi outorgado pela primeira vez pelo Conselho

Nacional de Imigração (CNIg)20 em 2012. O governo brasileiro não dispensava, com

a configuração deste visto, controlar a entrada de imigrantes ilegais no país,

considerando a decisão do CNIg de incluir a expedição limitada de 1,2 mil vistos por

ano em sua portaria. Apesar disso, o Brasil avançou no reconhecimento de um

dispositivo que pode ser concedido ao solicitante de refúgio que não se enquadra

nas hipóteses da lei brasileira de refúgio, mas que necessita de proteção

humanitária. Ou seja, considerou-se outra perspectiva do deslocamento voluntário

para além da compreensão laboral e limitadamente econômica. É considerando este

avanço visionário que o CNIg se embrenhará na percepção da imigração

venezuelana recente.

4 O MIGRANTE VENEZUELANO SOB A ÓTICA DA LEI BRASILEIRA

20 A concessão de visto permanente foi condicionada em um prazo de cinco anos por considerar “as razões humanitárias, para efeito desta Resolução Normativa, aquelas resultantes do agravamento das condições de vida da população haitiana em decorrência do terremoto ocorrido naquele país em 12 de janeiro de 2010” (CONSELHO NACIONAL DE IMIGRAÇÃO. Resolução Normativa nº 97. Brasília. 13 jan 2012)

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Neste tópico, será realizada a interpretação da possível proteção do migrante

venezuelano à luz do arcabouço normativo brasileiro. Considera-se, como já

apontado neste artigo, a contextualização política e econômica já traçada sobre a

situação do país e a situação dos migrantes, principalmente daqueles que tiveram o

Brasil como ponto de destino. Para início de análise, propõe-se como ponto de

partida uma abordagem de direitos humanos, já que a análise da condição jurídica

de alguém que migra perpassa por normativas internacionais consolidadas a partir

desta perspectiva.

4.1 AS SOLICITAÇÕES DE REFÚGIO

Em relação ao número significativo de solicitações, a concessão do status jurídico

de refugiado é ato que compete aos Estados nacionais, que devem observar as

normas internacionais de refúgio e seu próprio sistema legal21. No caso da Lei de

refúgio brasileira (Lei n. 9.474/97), será considerado refugiado todo indivíduo que:

Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país22.

Como cada solicitação de refúgio é analisada individualmente pelo CONARE, não é

possível saber, precisamente, quantos pedidos de refúgio dos venezuelanos devem

ser aceitos. Todavia, dois fatores demonstram que a grande maioria dos pedidos

realizados serão negados: a motivação da migração e a análise restritiva que o

CONARE tem realizado do artigo 1º, inciso III, da supracitada lei.

21 Conforme item 3.2 deste artigo. 22 Art. 1º. BRASIL. Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 23 jul. 2017, Seção 1, p. 15822.

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Quanto à motivação da migração dos venezuelanos, esta tem ocorrido, sobretudo,

em virtude da grave crise econômica e da instabilidade política que acometem o

país. Tais fatores, por si só, não geram direito à concessão do status de refugiado. O

artigo 1º, inciso III, que possui uma definição mais ampliada do conceito de

refugiado, vem sendo interpretada de maneira restritiva pelo CONARE. O órgão tem

considerado, dentre outros aspectos, a incapacidade total de ação do Estado de

origem; a inexistência de paz duradoura; e o reconhecimento, pela comunidade

internacional, de que há grave e generalizada violação de direitos humanos

ocorrendo naquele Estado ou território23. Esse foi o entendimento aplicado pelo

CONARE, por exemplo, quando da análise dos pedidos de refúgio de milhares de

haitianos que chegaram ao país entre 2010 e 201524.

4.2 PERSPECTIVA COMPLEMENTAR AO REFÚGIO: A RESIDÊNCIA

TEMPORÁRIA

Diante da possibilidade do CONARE não reconhecer os venezuelanos que migram

para o Brasil como refugiados, mas de reconhecer algum tipo de proteção a essas

pessoas, o CNIg baixou a Resolução Normativa n. 126 com o objetivo de possibilitar

a concessão de residência temporária, pelo prazo de até dois anos, aos

venezuelanos e demais cidadãos de alguns países:

Art. 1º Poderá ser concedida residência temporária, pelo prazo de até 2 anos, ao estrangeiro que tenha ingressado no território brasileiro por via terrestre e seja nacional de país fronteiriço, para o qual ainda não esteja em vigor o Acordo de Residência para Nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL e países associados.25

Desta forma, o Conselho não só possibilitou a concessão da residência temporária

não só aos venezuelanos, como também aos cidadãos que residem em outros

países fronteiriços. Mesmo ainda em vigor a demanda pela segurança nacional do

23 ACNUR, 2011, p. 22. 24 GODOY, Gabriel Gualano de. O caso dos haitianos no Brasil e a via de proteção humanitária complementar. In: ACNUR, ibid., p. 88-89. 25 BRASIL. Conselho Nacional de Imigração (CNIg). Resolução Normativa nº 126, de 2017. Dispõe sobre a concessão de residência temporária a nacional de país fronteiriço. Diário Oficial da União, CNIg, Brasília, DF, 3 mar 2017. Seção 1, p. 88.

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Estatuto do Estrangeiro, a resolução se aproxima dos princípios basilares da Lei de

Migração e da percepção do imigrante em toda sua multilateralidade.

Importante destacar que a referida decisão se baseia na Resolução Normativa n. 27

de 1998 e na Resolução Recomendada n. 8 de 2006, que regulamentam,

respectivamente, a avaliação de situações especiais e casos omissos de migração

pelo CNIg e o encaminhamento, pelo CONARE, dos pedidos de refúgio que não

sejam passíveis de concessão, mas que necessitem de uma outra alternativa, por

razões humanitárias.

A edição da resolução pelo órgão está associado aos mesmos parâmetros

garantidos pelo Brasil como Estado parte do Mercosul, já que o Acordo sobre

residência para nacionais dos estados partes do Mercosul e Países Associados, do

qual o país é signatário, tem como objetivos aprofundar o processo de integração,

de políticas de livre circulação e promover a regularização migratória dos nacionais

da região.

A mesma resolução que concede um tipo de acolhimento, porém, obriga o

venezuelano a apresentar alguns documentos para solicitação de residência

temporária, incluindo o pagamento de taxas. Tendo em vista o caráter humanitário

da resolução e a situação de miserabilidade econômica de muitos venezuelanos que

tem migrado para o Brasil, o pagamento de taxas é uma exigência que pode

restringir o acesso ao direito. Recentemente, a Justiça Federal acatou pedido do

Ministério Publico Federal em Roraima (MPF/RR) e da Defensoria Pública da União

(DPU), determinando a dispensa do pagamento das taxas caso o solicitante seja

pessoa carente, mediante declaração de hipossuficiência26.

Resta saber a precariedade da medida, já que as resoluções do CNIg são passíveis

de revogação a qualquer momento. A resolução de demandas caso a caso, por

vezes, oferecem respostas lentas frente às questões migratórias que são urgentes,

26 Justiça dispensa taxa para residência temporária de venezuelanos. Jornal do Commercio (JC/UOL), ago. 2017. Disponível em: <http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/mundo/brasil/noticia/2017/08/02/justica-dispensa-taxa-para-residencia-temporaria-de-venezuelanos-299030.php>. Acesso em: 15 ago. 2017

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dificultando assim o acesso dos migrantes aos serviços e diretos que lhes garanta o

mínimo de dignidade27.

5 CONCLUSÃO

A escassez de subsídios sociais básicos – alimentação e remédios – na Venezuela

e as interpretações internacionais sobre o momento político já são um alento para

entender a urgência humanitária na imigração econômica do novo fluxo venezuelano

no Brasil. A conclusão não somente vem dos pesquisadores, mas também do

próprio Estado brasileiro que tomou tal perspectiva como orientação no tratamento

normativo deste grupo – como já pontuado no artigo. Essa avaliação é feita,

obviamente, se for levada em conta somente a caracterização do fluxo em si e se

tratando do panorama político e econômico da Venezuela atual. Isso não significa

que seja prescindível uma análise individual de cada venezuelano que atravessou

ou atravessa a fronteira para o Brasil no momento atual.

Considerando o tratamento do fluxo de imigração venezuelano e indo para além

deste, o Brasil soube adotar dispositivos que se integrassem a um paradigma

contemporâneo da imigração mobilizado tanto por estudos acadêmicos quanto pela

sociedade civil organizada. Nestes, as modalidades da imigração internacional

trazem ao debate as dimensões transnacionais. Assim como descrito por

Baeninger 28 , o desafio é abarcar um campo migratório que transcenda as

expressões do nacionalismo metodológico, que traz ainda marcas do estranhamento

e da alteridade ainda envolvidos na separação do Eu cidadão e o Outro imigrante29.

E, assim, entender melhor a diversidade dos fluxos e das situações de permanência

e de seletividade, ver o imigrante além das categorias existentes e compreender a

27 SILVA, João Carlos Jarochinski. A resolução nº 126 do Conselho Nacional de Imigração – CNIg. In: 6º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais, 2017, Belo Horizonte. Anais Eletrônicos. Disponível em: <http://www.encontro2017.abri.org.br/resources/anais/8/1499030297_ARQUIVO_TextofinalABRIJoaoCarlosJarochinskiSilva.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2017. 28 BAENINGER, Rosana. Notas acerca das migrações internacionais no século 21. Campinas: Nepo/Unicamp. 2013, p. 12. 29 Para aprofundar na temática, ver os seguintes autores: SAYAD, Abdelmalek. A Imigração ou os paradoxos da alteridade. São Paulo: Edusp, 1998; DELGADO, Manuel. Seres de otro mundo: Sobre la función simbólica del inmigrante. Barcelona: Cidob, 2011.

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vulnerabilidade social do imigrante econômico. Já em relação ao refugiado, não

relegá-lo a mero acolhimento, de modo que o exilado desenvolva uma

autossuficiência econômica e proteção nacional em longo prazo para além do alívio

humanitário. Ou seja, também reconectá-lo ao processo de migração30.

Muitos estudos e orientações de políticas imigratórias no mundo, contudo, seguem

afetados por pressões ideológicas. Consideram, por exemplo, a imigração somente

como um fator problemático, fruto de problemas econômicos ou resistente a uma

possível “assimilação cultural” dos valores preservados pelo país de origem. Tais

políticas securitizam o imigrante, como estudado pela Escola de Copenhague31. Ao

tratar sobre essas orientações políticas ou sobre esses estudos, Hirschman32 aponta

que a abertura dialógica, a partir das novas ideias, dados, pensamentos e

ideologias, favorecem a não replicação do fator ideológico. Isso não significa,

contudo, que isso distancia a possibilidade de uma estagnação intelectual ou mesmo

do seu declínio.

Por isso, é um desafio nos próximos estudos entender se os dispositivos normativos

brasileiros em relação à imigração estão alinhados à política migracional. A denúncia

da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, citada no segundo

tópico deste artigo, revela uma ação de força militar contra os imigrantes na fronteira

que destoa dos princípios basilares da nova Lei de Migrações. Como disposto no

artigo 3º da Seção II Capítulo I, Dos Princípios e das Garantias, a migração não

deve ser criminalizada e não deve haver discriminação em razão dos critérios ou dos

procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em território nacional.

Sugere-se dar o início a uma investigação mais profunda sobre os princípios e

valores do Estado brasileiro e o seu tratamento para com o imigrante, indo além das

percepções normativas – que, por falta de transparência ou acesso jurídico, podem

não ser cumpridas. É essencial entender se as ações exercidas pelo Estado

30 LONG, Katy. When Refugges stopped being migrants: Movement, labour and humanitarian protection. Migration Studies. Vol 1. Number 1, Oxford University, 2013. 31 Para aprofundar na temática, ver a seguinte obra: BUZAN, Barry; HANSEN, Lene. Evolution of international security studies. In: BUZAN, Barry.; WAEVER, Ole. Regions and Powers: the structure of International Security. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. 32 HIRSCHMAN, Charles; KASINITZ, Philip; DEWIND, Josh. The Handbook of International Migration: The American Experience. New York: Russell Sage Foundation, 1999.

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cumprem a representação social do imigrante aceita e promulgada por meio da lei.

Outra ideia é investigar se as políticas migracionais no Brasil em relação ao

venezuelano se adequam à ótica holística e transnacional dos fluxos migratórios, ou

os relegam ao apreço laboral e econômico.

REFERÊNCIAS

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