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CRIPTOGRAFIA: UM TEMA GERADOR PARA OS CONTEÚDOS MATEMÁTICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL Clarissa de Assis Olgin Universidade Luterana do Brasil, Brasil [email protected] Claudia Lisete Oliveira Groenwald Universidade Luterana do Brasil, Brasil [email protected] RESUMO Este artigo apresenta uma Engenharia Didática com o tema Criptografia, para o desenvolvimento de atividades didáticas, que aliem os conteúdos matemáticos do Ensino Fundamental a esse tema e, que incentivem o manuseio de Calculadoras Científicas, no Ensino de Matemática. Hoje, a Criptografia é utilizada em auditorias eletrônicas, na autenticação de ordens eletrônicas de pagamento, no código de verificação do ISBN, nos navegadores de Internet, entre outras situações do cotidiano. O objetivo geral foi investigar o tema Criptografia e suas aplicações através da história, aplicando uma sequência didática elaborada a partir desse tema no Currículo de Matemática do Ensino Fundamental. Para isso, foi elaborada uma sequência didática dirigida à 8ª série, do Ensino Fundamental, utilizando os seguintes conteúdos matemáticos: expressões algébricas de grau 2, porcentagem, operações com frações, divisibilidade e operações com números naturais. A metodologia utilizada foi a Engenharia Didática, caracterizada pelas suas quatro fases, as análises preliminares, a concepção e análise a priori das situações didáticas, a experimentação e a análise a posteriori e validação. Os resultados apontam que o tema Criptografia possibilita o desenvolvimento de atividades didáticas para exercitar e revisar

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CRIPTOGRAFIA: UM TEMA GERADOR PARA OS

CONTEÚDOS MATEMÁTICOS NO ENSINO

FUNDAMENTAL

Clarissa de Assis Olgin

Universidade Luterana do Brasil, Brasil

[email protected]

Claudia Lisete Oliveira Groenwald

Universidade Luterana do Brasil, Brasil

[email protected]

RESUMO

Este artigo apresenta uma Engenharia Didática com o tema Criptografia,

para o desenvolvimento de atividades didáticas, que aliem os conteúdos

matemáticos do Ensino Fundamental a esse tema e, que incentivem o

manuseio de Calculadoras Científicas, no Ensino de Matemática. Hoje, a

Criptografia é utilizada em auditorias eletrônicas, na autenticação de ordens

eletrônicas de pagamento, no código de verificação do ISBN, nos

navegadores de Internet, entre outras situações do cotidiano. O objetivo

geral foi investigar o tema Criptografia e suas aplicações através da história,

aplicando uma sequência didática elaborada a partir desse tema no Currículo

de Matemática do Ensino Fundamental. Para isso, foi elaborada uma

sequência didática dirigida à 8ª série, do Ensino Fundamental, utilizando os

seguintes conteúdos matemáticos: expressões algébricas de grau 2,

porcentagem, operações com frações, divisibilidade e operações com

números naturais. A metodologia utilizada foi a Engenharia Didática,

caracterizada pelas suas quatro fases, as análises preliminares, a concepção e

análise a priori das situações didáticas, a experimentação e a análise a

posteriori e validação. Os resultados apontam que o tema Criptografia

possibilita o desenvolvimento de atividades didáticas para exercitar e revisar

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 2 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

conteúdos desenvolvidos em sala de aula, através de atividades de

codificação e decodificação, envolvendo os conteúdos matemáticos.

Palavras-chave: Educação Matemática, Engenharia Didática,

Criptografia.

ABSTRACT

This paper presents a Didactic Engineering with the theme Cryptography for

the development of didactic activities that cover mathematics contents

taught in Basic Education the theme and that promote the use of scientific

calculators in the teaching of Mathematics. Today, cryptography is used in

electronic audits, in the authentication of electronic payment orders, ISBN

verification codes, Internet browsers and other daily applications. This paper

had for general objective to investigate the theme Cryptography and their

applications through the history, applying a didactic sequence elaborated to

leave of that theme in the Curriculum of Mathematics of the Fundamental

Teaching. For that, a didactic sequence was elaborated driven to 8th series

of the Basic Education, using the following mathematical content: algebraic

expressions of degree 2, percentage, operations with fractions, divisibility

and operations with natural numbers. Didactic Engineering was the

methodology used in this investigation, characterized by its four phases,

preliminary analyses, a priori conception and analyses, experiment and a

posteriori analysis and validation. The results obtained indicate that the

theme Cryptography allows developing didactic activities that put to

practice and review contents developed in the classroom based on activities

involving coding and decoding actions and mathematics contents.

Keywords: Mathematical Education, Didactic Engineering,

Cryptography.

1 Introdução

O ponto de referência do processo de ensino e aprendizagem, da Matemática,

deve ser a abordagem de assuntos de interesse do aluno, que estimulem a curiosidade e

que desencadeiem um processo que permita a construção de novos conhecimentos. A

Matemática se torna interessante para a aprendizagem quando desenvolvida de forma

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 3 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

integrada e relacionada a outros conhecimentos, e o tema Criptografia apresenta-se

como gerador de situações didáticas que permitem o aprofundamento dos conteúdos

desenvolvidos no Ensino Fundamental.

Este artigo apresenta uma Engenharia Didática com o tema Criptografia para o

desenvolvimento de atividades didáticas para o Currículo de Matemática do Ensino

Fundamental. Segundo Tamarozzi (2001), este tema permite ao professor de

Matemática desenvolver atividades didáticas de codificação e decodificação, para

revisar, reforçar e aprofundar os conteúdos matemáticos desta etapa do Ensino Básico.

2 Criptografia: história e aplicações

O nome Criptografia vem das palavras gregas kriptós que significa escondido,

oculto e graphein que significa escrita (SINGH, 2003). A Criptografia é denominada de

arte ou ciência de escrever em códigos (TAMAROZZI, 2001), de forma a permitir que

somente o destinatário a decifre e compreenda. Para Shokranian (2005), enviar uma

mensagem em código pode servir para dois objetivos, que são: enviar uma mensagem

secreta e proteger o conteúdo da mensagem contra pessoas não autorizadas.

Ao longo da história, foram criados mecanismos de codificação, denominados

códigos, cifras e senhas usados para manter o segredo das mensagens a serem enviadas.

Uma das primeiras formas de codificar foi o Citale Espartano (SINGH, 2003), que

era um aparelho criptográfico militar, que consistia em um bastão de madeira, onde se

enrolava uma tira de couro e se escrevia a mensagem em todo o comprimento desse

bastão, conforme figura 1.

Figura 1: exemplo de Citale Espartano.

A cifra monoalfabética, caracterizada pela substituição de uma letra por outra ou

por um símbolo, era outra opção utilizada para criptografar uma mensagem. Uma das

primeiras cifras monoalfabéticas, utilizada por Júlio César, servia para fins militares e

consistia em substituir cada letra da mensagem original por outra que estivesse três

casas à frente no mesmo alfabeto. Esse método de Criptografia ficou conhecido como

Cifra de César.

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 4 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

Para codificar utilizando a Cifra de César deslocam-se no alfabeto original três

casas, conforme apresentado na figura 2:

Figura 2: quadro do método de substituição utilizado por Júlio César.

Fonte: Adaptado de Singh (2003, p.27)

Utilizando a figura 2 e considerando como texto original a frase “MATEMÁTICA

É PARA VIDA”, tem-se o seguinte texto cifrado: “PDWHPDWLFDHSDUDYLGD”,

de onde foram retirados os espaços entre as palavras para dificultar a decodificação.

Como a Cifra de César era de substituição de letras, facilmente decodificada por

criptoanalistas por apresentar 26 chaves em potencial, a solução encontrada no século

XVI, foi a cifra polialfabética, criada pelo diplomata francês Blaise Vigenère,

denominada Cifra de Vigenère e que seguia o mesmo princípio da Cifra de César,

porém eram utilizados 26 alfabetos cifrados para codificar e decodificar uma

mensagem, conforme mostra a figura 3.

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z

A A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z

B B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z A

C C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z A B

D D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z A B C

E E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z A B C D

F F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z A B C D E

G G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z A B C D E F

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I I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z A B C D E F G H

J J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z A B C D E F G H I

K K L M N O P Q R S T U V W X Y Z A B C D E F G H I J

L L M N O P Q R S T U V W X Y Z A B C D E F G H I J K

M M N O P Q R S T U V W X Y Z A B C D E F G H I J K L

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O O P Q R S T U V W X Y Z A B C D E F G H I J K L M N

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Q Q R S T U V W X Y Z A B C D E F G H I J K L M N O P

R R S T U V W X Y Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q

S S T U V W X Y Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R

T T U V W X Y Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S

U U V W X Y Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T

V V W X Y Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U

W W X Y Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V

X X Y Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W

Y Y Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X

Z Z A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y

Figura 3: quadro de Vigenère.

Fonte: Singh(2003, p. 66)

Segundo Singh (2003), para codificar uma mensagem pelo Quadro de Vigenère,

primeiramente, escolhe-se uma palavra-chave, por exemplo: FLOR.

A frase a ser codificada será “LUCIANA ADORA ROMÔ.

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 5 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

Para codificar a mensagem, temos que escrever a palavra-chave quantas vezes

forem necessárias, pois cada letra da palavra FLOR equivale a uma letra na frase,

conforme apresentado na figura 4.

Figura 4: exemplo do uso da Cifra de Vigenère.

Para codificar as letras da frase, é necessário usar a linha correspondente à letra da

palavra-chave relacionada. Para “F”, por exemplo, usaremos o alfabeto da linha 5,

assim, o primeiro “L” da frase será traduzido como “Q”. Para “L”, usaremos a linha 11

e o “U” seria traduzido como “F”. Assim, a frase codificada ficará conforme a figura 5.

Figura 5: exemplo do uso da Cifra de Vigenère.

Outro exemplo de Cifra de substituição monoalfabética, foi a Cifra do Chiqueiro

utilizada pelos maçons livres para guardar seus segredos (SINGH, 2003). A cifra

consiste em substituir uma letra por um símbolo, seguindo o padrão apresentado na

figura 6.

Figura 6: exemplo do padrão utilizado pela Cifra do Chiqueiro.

A codificação da Cifra do Chiqueiro é realizada encontrando a posição da letra em

uma das quatro grades da figura 6 e desenhando a porção da grade que representa a letra

a ser codificada, por exemplo, a letra E corresponde ao símbolo .

Em 1918, foi introduzido o ADFGVX, uma cifra de guerra que se acreditava dar

maior segurança às mensagens a serem enviadas, pois se tratava de uma cifra de

substituição e transposição. Foi utilizada pelos alemães, que acreditavam fosse

imbatível, mas o criptoanalista Georges Painvin quebrou a Cifra ADFGVX e descobriu

onde os alemães atacariam (SINGH, 2003). As letras ADFGVX foram escolhidas

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 6 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

porque quando traduzidas para os pontos e traços do código Morse diminui a

possibilidade de erros durante a transmissão.

A Cifra ADFGVX para codificar utiliza uma grade 6x6, preenchida com 36

quadrados, onde se coloca as 26 letras do alfabeto e 10 algarismos. Na primeira linha e

coluna colocam-se as letras A, D, F, G, V e X, conforme figura 7.

Figura 7: quadro da Cifra ADFGVX.

Inicia-se a codificação pegando cada letra da mensagem a ser enviada, localizando

a sua posição na grade, e substitui-se pelas letras da linha e da coluna, por exemplo, d

será substituído por AG. Uma mensagem codificada por esta cifra ficará conforme a

figura 8.

Figura 8: exemplo de codificação da Cifra ADFGVX.

Para cifrar a letra L, localiza-se sua posição na grade e se substitui pelas letras que

estão na sua linha e coluna, como mostra a figura 9.

Figura 9: exemplo de codificação da Cifra ADFGVX.

De acordo com Singh (2003), com o avanço da Criptografia, Alberti foi o criador

da primeira máquina criptográfica, o Disco de Cifras (figura 10). São dois discos de

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 7 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

cobre, um maior que o outro, com as letras do alfabeto fixas ao longo dos discos, onde

uma letra do texto normal se transformava em outra letra no texto cifrado.

Figura 10: exemplo de Disco de Cifras.

Um dos códigos, utilizados nos dias atuais, é o “Código de verificação ISBN”

(International Standard Book Number). Este código é escrito como quatro blocos de

dígitos separados por hífens ou por espaços em branco. Lendo-se da esquerda para a

direita, o primeiro bloco identifica o país, a área ou a área da língua entre os

participantes, o segundo bloco identifica as editoras daquele grupo e o terceiro bloco é o

número atribuído pela editora para a obra. O último bloco consiste em um único dígito

de 0 a 9 ou um X, que representa a10. Sendo os 9 primeiros dígitos do ISBN: a1, a2, a3,

a4, a5, a6, a7, a8, a9. Para calcularmos o dígito verificador do código ISBN, utilizamos a

seguinte fórmula: 11mod)(9

1

i

iai . Para encontrar o dígito verificador do código ISBN

852440124-X, procede-se da seguinte forma:

X= 11mod)(

9

1

i

iai

X= [1.a1 + 2.a2 + 3.a3 + 4.a4 + 5.a5 + 6.a6 + 7.a7 + 8.a8 + 9.a9] mod11

X= [1.8 + 2.5 + 3.2 + 4.4 + 5.4 + 6.0 + 7.1 + 8.2 + 9.4] mod11

X= [8 + 10 + 6 + 16 + 20 + 0 + 7 + 16 + 36] mod11

X= 119 mod 11

X= 9

Assim, o dígito verificador é 9.

Constata-se, através dos exemplos mostrados, no decorrer da história, que o tema

Criptografia vem sendo utilizado para fins militares e pessoais. No Brasil, segundo

Terada (1988), se tem utilizado a Criptografia para proteger os sistemas eletrônicos e as

informações sigilosas, contra modificações e falsificações dos dados eletrônicos no país.

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 8 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

Neste contexto, pode-se perceber que a Criptografia é um tema que possibilita o

desenvolvimento de atividades didáticas (TAMAROZZI, 2001), que podem ser

desenvolvidas no Ensino Fundamental, que levem os alunos a aprimorarem seus

conhecimentos, levando-os a adquirirem as habilidades e competências de resolver

problemas, criar estratégias de resolução, autonomia durante o processo de

aprendizagem, com isso, tornando-os mais autoconfiantes e concentrados na realização

das atividades e buscando interligar os conteúdos matemáticos às situações do mundo

real (GROENWALD; FRANKE, 2008). Para Tamarozzi (2001), o tema Criptografia

estimula a curiosidade dos estudantes, permitindo a construção de novos

conhecimentos, através de atividades de codificação e decodificação. Atividades de

códigos, senhas e cifras permitem que as aulas de Matemática se tornem mais atrativas,

pois, conforme Cantoral et al. (2003), este tema pode ser um recurso motivador, o qual

permite ao professor desenvolver atividades didáticas que proporcionem aulas que

despertem a atenção e o interesse dos alunos para os conteúdos trabalhados.

O professor de Matemática pode trabalhar com o educando, em sala de aula, a

utilização do tema Criptografia através do planejamento de uma sequência didática de

atividades com códigos e senhas para aplicação no Ensino Básico. Nesse trabalho foi

desenvolvida uma sequência didática para a 8ª série do Ensino Fundamental.

3 Objetivos da investigação

O objetivo geral foi investigar o tema Criptografia e suas aplicações através da

história, aplicando uma sequência didática elaborada a partir desse tema no currículo de

Matemática do Ensino Fundamental.

Para alcançar o objetivo geral foram traçados os seguintes objetivos específicos:

investigar o tema Criptografia, através de uma ampla revisão bibliográfica em livros,

anais de congressos, periódicos, internet, etc.; pesquisar atividades didáticas para o

Ensino Fundamental com o tema Criptografia; desenvolver uma sequência didática com

atividades utilizando códigos e senhas; realizar um experimento com alunos do Ensino

Fundamental com a sequência desenvolvida.

4 Metodologia da Investigação

A metodologia de pesquisa adotada foi a Engenharia Didática, que é composta por

quatro fases consecutivas, que se dividem em: análises preliminares; concepção e

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 9 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

análise a priori; aplicação de uma sequência didática e a análise a posteriori e validação

(ARTIGUE; DOUADY; MORENO, 1995, p.38).

Dentro da pesquisa em Engenharia Didática, na fase das análises preliminares, é

realizada a análise do objeto em estudo, ou seja, é feito um referencial teórico que irá

fundamentar o projeto. Nessa fase, o educador deve levar em consideração as

constatações empíricas, concepções do aprendiz e compreender as condições nas quais

será exposta a experiência. Nessa fase da pesquisa, também se deve levar em

consideração:

A análise epistemológica dos conteúdos contemplados pelo ensino; a

análise do ensino atual e de seus efeitos; a análise da concepção dos

alunos, das dificuldades e dos obstáculos que determinam sua evolução; a

análise do campo dos entraves no qual vai se situar a efetiva realização

didática (MACHADO, 2008, p. 238).

O levantamento dessas questões deve considerar o objetivo da pesquisa, pois o

pesquisador deve ter clareza sobre o que realmente deseja pesquisar (MACHADO,

2008). Com relação à pesquisa, na fase das análises preliminares, foi realizada uma

pesquisa bibliográfica, com o propósito de investigar o tema Criptografia, sua história e

aplicações. Essa fase foi um estudo exploratório, buscando aliar a Criptografia e os

conteúdos matemáticos do Ensino Fundamental.

Segundo Artigue, Douady e Moreno (1995), na fase da concepção e análise a

priori, delimitam-se as variáveis didáticas. Nessa fase, buscou-se determinar e

compreender as variáveis didáticas, buscando uma relação do conteúdo de Matemática

do Ensino Fundamental com as atividades propostas que levem o aluno a adquirir

conceitos relevantes sobre o tema.

De acordo com Artigue, Douady e Moreno (1995), as análises a priori apresentam

uma parte descritiva e uma parte de previsão, referente à situação adidática que se

pretende aplicar. Isso é reforçado por Machado (2008), o qual afirma que análise a

priori. Nesta fase, realizou-se o desenvolvimento da sequência didática com o tema

Criptografia.

Na fase de experimentação, realizou-se a aplicação da sequência didática que

buscou aliar o tema proposto aos conteúdos matemáticos do Ensino Fundamental.

Na fase das análises a posteriori, foram analisados os dados da aplicação da

sequência didática, obtidos através dos seguintes recursos: observação direta do

pesquisador, questionários aplicados nos alunos participantes do experimento, análise

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 10 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

dos registros desses alunos. Através da análise, pretende-se identificar e mostrar a

realidade da produção dos alunos no desenvolvimento da sequência didática.

A validação foi o processo de verificação dos objetivos pré-estabelecidos no

projeto, comparados com a confrontação dos resultados obtidos nas análises a priori e a

posteriori que, segundo Machado (2008), possibilita ao professor/pesquisador avaliar a

sua proposta metodológica.

5 Fases da Engenharia Didática com o tema Criptografia

Apresentam-se a seguir as quatro fases da Engenharia Didática envolvendo o tema

Criptografia.

5.1 Fase das Análises Preliminares

Segundo Pais (2005), para as análises preliminares, é necessária a referência de

um quadro teórico, sobre o qual o pesquisador fundamenta suas principais categorias.

Considera, também, que, para melhor organizar a análise preliminar, é recomendável

proceder a uma descrição das principais dimensões que definem o fenômeno a ser

estudado e que se relacionam com o sistema de ensino.

As análises preliminares foram realizadas através de pesquisa em livros didáticos,

artigos de congressos, revistas da área de Matemática, buscando aplicações e atividades

didáticas do tema em estudo para o Ensino Fundamental. Nessa fase, também foi

realizada a análise de artigos: Revista do Professor de Matemática (RPM), Educação

Matemática em Revista – RS, Revista Latinoamericana de Investigación en Matemática

Educativa (RELIME), livros didáticos, Banco de Questões das Olimpíadas Brasileiras

de Matemática, dissertações de mestrado e artigos de anais de congresso e seminários.

Como exemplo, das atividades pesquisadas na fase de análises preliminares tem-

se a análise referente ao livro didático “Matemática em construção”, do autor Oscar

Guelli, publicado pela editora Ática, em 2004, que apresenta o tema em estudo e suas

aplicações ao longo da história.

Após as atividades para introduzir o tema, tem-se atividades didáticas que aliam o

tema aos conteúdos matemáticos de expressões algébricas. A atividade explorada nesse

artigo é o Código de Viète (figura 11). Na atividade, o autor desenvolve o conceito de

expressões algébricas, na forma de exercícios, através do tema Criptografia em

atividades de descoberta que envolve letras que correspondem a números.

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 11 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

Os espanhóis estavam desnorteados. Tinham acabado de entrar em guerra com a França, e bastava um mensageiro espanhol ser preso para que as mensagens secretas espanholas fossem imediatamente decifradas pelos inimigos.

“Os franceses têm um pacto com o demônio”, murmurava-se. Mas, na verdade, era um inteligente advogado francês, que mais tarde se tornaria um grande matemático. Seu nome: François Viète (1540-1603). Naquela época era comum nas guerras entre dois países que as mensagens secretas fossem escritas com números substituindo letras, para confundir o inimigo:

Para decifrar estas duas mensagens secretas, substituímos os números por letras, até formar frases que tenham significado (=significa é):

Ana é médica Pablo é jornalista Viète gostou tanto de decifrar as mensagens secretas que resolveu levar essa ideia para a Matemática, mas fazendo exatamente o contrário: passou a escrever mensagens matemáticas com letras substituindo os números. Por exemplo:

Assim, as expressões b + 3, c + y e c – b + y representam, de acordo com os valores do quadro, os seguintes números naturais:

b + 3 = 6 + 3 b + 3 = 9

c + y = 18 + 25 c + y = 43

c – b + y = 18 – 6 + 25 c – b + y = 12 + 25 c – b + y = 37

(GUELLI, 2004, p.45-46). Figura 11: exemplo de atividades de Criptografia.

Nesta fase, também, buscou-se observar se as atividades que relacionam o tema

aos conteúdos matemáticos se constituíam de desafios, problemas ou exercícios.

5.2 Fase da Concepção e análise a priori

A fase da concepção e análise a priori foi o planejamento e organização da

sequência didática, onde as atividades propostas apresentavam aplicações do tema

Criptografia, através de atividades envolvendo Cifra de César, Cifra do Chiqueiro e a

Cifra ADFGVX. Também, apresentou atividades envolvendo os conteúdos matemáticos

de múltiplos, divisores, porcentagem, operações com frações, expressões algébricas de

grau 2, potenciação e radiciação, pois dentre os abordados no Ensino Fundamental

observou-se que o tema em estudo permite explorar esses conteúdos e suas

propriedades, de forma a revisar e ampliar os conhecimentos dos alunos para os

mesmos, em atividades didáticas de codificação.

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 12 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

Na fase da concepção e análise a priori, também, se determinou as variáveis

microdidáticas da pesquisa, que foram o tema Criptografia envolvendo códigos e senhas

e os conteúdos de Matemática do Ensino Fundamental.

Nessa fase, procurou-se desenvolver atividades didáticas que relacionassem os

conteúdos matemáticos ao tema proposto. A seguir apresenta-se, um exemplo de

atividade didática envolvendo o tema Criptografia e os conteúdos de múltiplos,

divisores, porcentagem e operações com frações, onde se propõe um alfabeto

codificado, onde: A é o quádruplo de E, B é o dobro de 75% de A, C é E elevado ao

quadrado adicionado da 3 125 , D é a raiz cúbica de A subtraída de

0

7

5:

2

1

, E é a terça

parte de I, F é 20% de U adicionado de

16

7:

4

7, G é um meio de U subtraído de

4

5, H é

a raiz quadrada de G adicionada de 4

3, I é o dobro de O, J é o quíntuplo de B, K é a

oitava parte de J adicionada de 4

3, L é o dobro de 25% de I adicionado de

5

1

4

1, M é

K elevado ao quadrado subtraído de G elevado ao quadrado, N é 15% de M adicionado

de 20

13, O é a quinta parte de U, P é 40% de N adicionado da 3

125

216, Q é E elevado ao

quadrado multiplicado por E elevado a quinta potencia dividido por E elevado ao cubo,

R é F elevado na menos 1 dividido por F elevado na menos 3, S é 33% de Q

multiplicado por 8

7, T é (K + G) .

E

D, U é o resultado da expressão 3

11

27

1.

5

1

, V

é T

M, W é

22

E

D

I

B, X é

2OQ , Y é

2

.

N

D

N

OG , Z é

9

84 .

O

OO. Em

seguida, solicita-se que o estudante descubra o valor de cada letra e crie uma mensagem

para outro colega decodificar.

Assim, foi desenvolvida uma sequência didática, para a fase da experimentação,

que propusesse aos alunos atividades com códigos e senhas aliados aos conteúdos

matemáticos. A sequência didática elaborada com códigos e senhas para o Ensino

Fundamental, que foi utilizada na fase de experimentação, seguiu as seguintes etapas:

introdução do tema Criptografia através de uma abordagem histórica, realizada pela

professora/pesquisadora; resolução de aplicações do tema em estudo ao longo da

V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 13 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil

história; resolução de atividades didáticas com o tema presente em livros didáticos do

Ensino Fundamental; e resolução de atividades didáticas que aliam o tema em estudo

aos conteúdos matemáticos do Ensino Fundamental.

5.3 Fase da Experimentação

O experimento foi aplicado em uma turma da 8ª série do Ensino Fundamental da

Escola Estadual de Ensino Fundamental no Bairro Santo Afonso, no município de Novo

Hamburgo, no Rio Grande do Sul, no turno da manhã, em dois períodos a cada dia,

totalizando 16 horas aula, no período de setembro a outubro de 2009.

A turma era formada por 35 alunos, sendo 16 do sexo feminino e 19 do sexo

masculino, na faixa etária entre 14 e 19 anos.

Nesta fase, foram explicados aos alunos os objetivos e as condições necessárias

para a realização do experimento e foi aplicada a sequência elaborada, conforme a

figura 12.

AULAS DA FASE DA EXPERIMENTAÇÃO

1ª Aula

Foram distribuídas as apostilas com as atividades didáticas envolvendo o tema Criptografia e os conteúdos matemáticos do Ensino Fundamental. Nesta aula os alunos organizaram-se em grupos para realização das atividades. Em seguida, introduziu-se a história da Criptografia e foram desenvolvidas as atividades envolvendo Cifra de César e a Cifra do Chiqueiro.

2ª Aula Os alunos realizaram as atividades envolvendo a Criptogramas, cujo objetivo

era revisar e reforçar o conteúdo matemático de aritmética.

3ª Aula Na terceira aula os alunos iniciaram a atividade de codificação e decodificação envolvendo o conteúdo de potenciação, radiciação e as quatro operações no Conjunto dos Números Naturais.

4ª Aula Foram aplicadas as atividades didáticas com códigos e senhas utilizando o conteúdo de operações com frações, cujo objetivo era revisar e reforçar o

conteúdo abordado.

5ª Aula Aplicação e resolução das atividades didáticas envolvendo o conteúdo de múltiplos, divisores, porcentagem e operações com frações.

6ª Aula Os alunos realizaram a atividade didática de codificação envolvendo o conteúdo de expressões algébricas de grau 2.

7ª Aula Deu-se prosseguimento a atividade didática de codificação envolvendo expressões algébricas de grau 2.

8ª Aula Foram discutidas as atividades didáticas propostas com o tema Criptografia e os conteúdos abordados na sequência proposta.

Figura 12: desenvolvimento das aulas da fase de experimentação.

5.4 Fase da análise a posteriori e validação

Nesta fase foram analisados os dados obtidos na fase de experimentação. Na

atividade didática envolvendo o tema Criptografia e suas aplicações ao longo da

história, pode-se constatar que os alunos compreenderam a proposta das atividades e

conseguiram resolvê-las, o que se pode observar na resolução do grupo C, na figura 13.

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Resolução do grupo C Para cifrar utilizando a Cifra de César, o grupo utilizou a tabela dada na atividade e escreveu a frase a ser codificada em cima e abaixo escreveu o texto codificado.

Figura 13: exemplo da resolução da atividade da aula 1.

Também, pode-se observar que os alunos se concentraram na resolução das

atividades, envolvendo a utilização da Calculadora HP 35s, pois era necessário que eles

conhecessem esse recurso, conforme figura 14, onde dois alunos do grupo f estão

tentando resolver uma atividade, utilizando a Calculadora HP 35s.

Figura 14: imagem dos alunos resolvendo as atividades.

Observou-se, ainda, que em várias atividades, tiveram que formular hipóteses e

verificá-las. Por exemplo, na atividade de codificação utilizando o algoritmo da divisão,

“doce dividido por do”, foram formuladas várias hipóteses até conseguirem chegar à

resposta, conjecturando quais números poderiam ser as iniciais das palavras para o

algoritmo se verificar, conforme a resolução do grupo A na figura 15.

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Resolução do grupo A Quais são os algarismos? (Sabendo-se que cada letra representa algarismos distintos e que letras iguais representam o mesmo algarismo)

DOCE DO

TIO

Sabe-se que DO dividido por DO é igual a 1, portanto T vale 1. Logo, D é maior que 1, porque T é igual a

1. Então, o grupo atribuiu para D o valor 2 e para O o valor 3, obtendo DO = 23.

Para encontrar CE o grupo sabia que O é igual a 3 e que DO é igual a 23, então eles multiplicaram DO por

O para saber o valor de E.

O grupo realizando a multiplicação encontrou-se o valor numérico das letras, onde C = 6 e E = 9. Se questionando sobre o valor da letra I, os alunos resolveram a divisão, com isso encontrando o valor da última letra.

Figura 15: exemplo de resolução de atividade do grupo A.

As atividades que foram aplicadas com o uso da Calculadora oportunizaram aos

alunos adquirirem conhecimentos sobre esse tipo de tecnologia. Além disso, permitiu

que a explorassem e a utilizassem melhor, como exposto na resolução do grupo C na

figura 16.

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esolução do grupo C Para encontrar o valor da letra A o grupo resolveu da seguinte forma na Calculadora Científica HP 35s:

A é igual a

2

1.

5

2

5

12

Primeiro apertaram a tecla do parêntese , em seguida digitaram 1 5 apertaram a tecla da seta

para esquerda , depois apertaram a tecla da potência e em seguida, apertou a tecla do

algarismo 2 e da operação de adição, apertaram novamente a tecla do parêntese e digitaram 2 5 x

1 2 e apertaram a tecla .

Como a Calculadora estava programada para dar o valor em número decimal, os alunos tiveram a oportunidade de aprender a transformar o número decimal em fração utilizando a Calculadora Científica

35s, da seguinte forma: Após obter o valor decimal os alunos apertaram a tecla da seta amarela e a

tecla c/ , para voltar ao número decimal, apertavam a tecla da seta azul e a tecla .

Figura 16: exemplo da atividade de codificação com frações e o uso da Calculadora HP

35s.

Importante observar que os alunos não demonstraram dificuldades no uso da

Calculadora HP 35s. Durante a aplicação da sequência, pode-se observar que o tema

além de desenvolver os conteúdos matemáticos, possibilitou que os alunos se

mostrassem mais concentrados nas atividades (figura 17), diminuindo, assim, a agitação

da turma, o que pode ser constatado no comentário do grupo F.

Figura 17: comentário do grupo F.

Ainda pode-se observar que um grupo auxiliava o outro, conforme a figura 18,

onde um aluno do grupo G estava ajudando os colegas do outro grupo.

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Figura 18: imagem dos alunos utilizando a Calculadora HP 35s.

As atividades da sequência didática apresentaram diferentes graus de dificuldades,

que os alunos foram conseguindo superar, a cada etapa, desenvolvendo formas de

resolução diferenciadas, como se observa na resolução da atividade envolvendo o

conteúdo de expressões algébricas de grau 2, conforme figura 19.

Resolução do grupo E Para resolver a atividade didática envolvendo códigos com expressões algébricas de grau 2, os alunos perceberam que para encontrar o valor das letras era só substituir a incógnita x pelo número da letra a ser codifica, então a Calculadora Científica se tornou um recurso facilitador na resolução dessa atividade. Para codificar a letra F, encontraram o valor numérico da letra na tabela dada, onde F era igual a 6. E

digitaram na Calculadora 6 e apertaram a tecla apertaram na operação de subtração e em seguida a

tecla do parêntese e digitaram 3 2, em seguida apertaram a tecla da seta para direita e em seguida apertaram a tecla da operação de multiplicação e o algarismo 6, seguido da operação de adição,

apertaram novamente a tecla do parênteses e digitaram 1 4 e apertaram a tecla enter para obter o resultado.

Após realizar esse processo para a palavra FLOR, o grupo percebeu que não precisava sempre digitar tudo

novamente, pois poderiam andar pelo visor utilizando as teclas para direita e para esquerda ,

depois apertando a tecla clear para apagar o número da letra anterior para colocar o número da letra desejada.

Figura 19: exemplo da resolução da atividade 6.

A sequência ainda apresentou diferentes atividades envolvendo os conteúdos

matemáticos trabalhados no Ensino Fundamental. Na atividade didática da aula 5 os

alunos se mostram entusiasmados em descobrir o valor das letras, pois eles acharam

interessante a forma de resolução da atividade, onde uma letra leva a outra, conforme

resolução do grupo G na figura 20.

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Resolução do grupo G

O grupo começou a atividade tentando encontrar o valor numérico da letra A, mas para isso precisavam saber o valor numérico da letra E, mas a letra E necessitava do valor numérico da letra I e a letra I precisava do valor numérico da letra O e a letra O levava ao valor numérico da letra U, como a letra U apresentava uma expressão, os alunos a resolveram.

Encontrado o valor da letra U o grupo procurou outra letra para decodificar que necessitasse da letra U, pois era a única letra que eles sabiam o valor numérico, e seguindo esse raciocínio eles encontraram o valor de todas as letras.

Figura 20: exemplo da resolução da atividade 5.

Ainda, é importante salientar que as atividades didáticas com códigos e senhas,

desenvolvidas e aplicadas no experimento, permitiram que os alunos reforçassem

conteúdos já trabalhados, ampliando sua compreensão dos conceitos matemáticos

trabalhados nas séries anteriores, explorassem os recursos da Calculadora e ainda

treinassem o uso de estratégias de resolução de problemas.

6 Conclusão

A metodologia de Engenharia Didática possibilitou que a pesquisa fosse analisada

internamente, verificando a validade das atividades desenvolvidas.

Na fase das análises preliminares, da Engenharia Didática com o tema

Criptografia, foi possível verificar que o tema permite desenvolver atividades didáticas

com os conteúdos matemáticos do Ensino Fundamental, explorando atividades de

codificação e decodificação, o que possibilitou o desenvolvimento de uma sequência

didática para esta etapa do Ensino Básico.

Na fase de experimentação, verificou-se que as atividades didáticas envolvendo

códigos e senhas possibilitaram aos alunos trabalhar o conceito de Criptografia, aliado

aos conteúdos de Matemática. Também tornou viável desenvolver as capacidades de

concentração nas atividades, trabalho em grupo, desenvolver estratégias de resolução de

problemas e validação das mesmas. As atividades didáticas desenvolvidas aliam os

conteúdos matemáticos a um tema atual, apresentando diferentes situações e aplicações,

bem como a utilização desse tema ao longo da história.

Atividades envolvendo o tema Criptografia e os conteúdos matemáticos do Ensino

Fundamental são exemplos de material didático que pode ser utilizado pelos professores

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para exercitar, aprofundar, fixar e revisar conteúdos, fazendo uso de códigos e senhas,

conforme as indicações de Tamarozzi (2001) e Cantoral et al. (2003).

Pode-se verificar que os objetivos propostos, foram alcançados, através da

sequência didática proposta para o Ensino Fundamental, e das análises realizadas na

fase de análise a posteriori e validação.

Entende-se que a busca de temas de interesse e que permitem o desenvolvimento

de atividades didáticas devem ser incentivadas, pois o Currículo de Matemática que

deve ser desenvolvido necessita ser de interesse do aluno, além de motivador,

incentivando-o ao estudo dos conteúdos.

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Educación Matemática: Un esquema para la investigación y la innovavación en La

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