crimes contra a ordem tributÁria

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CENTRO DE APOIO OPERACIONAL Promotorias de Justiça de Defesa da Ordem Tributária CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA Outubro 2019

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Page 1: CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

CENTRO DE APOIO OPERACIONALPromotorias de Justiça de Defesa da Ordem Tributária

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

Outubro2019

Page 2: CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

Ministério Público do Estado do Paraná

Procurador-Geral de JustiçaIvonei Sfoggia

Coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Ordem TributáriaMaurício Kalache

Equipe

Cláudio Franco FelixPromotor de Justiça

Fernando da Silva MatosPromotor de Justiça

Henrique BolzaniPromotor de Justiça

Allana Kerllyn AntunesAssistente

Ministério Público do Estado do ParanáRua Marechal Hermes, 820 – Centro CívicoCEP 80530-230Telefone: (041) 3250-4000Disponível também no endereço http://www.mppr.mp.bre-mail: [email protected]

Page 3: CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

APRESENTAÇÃO

Desde o final do ano de 2018, o Procurador-Geral de Justiça do Estado doParaná, Doutor Ivonei Sfoggia, vem adotando diversas providências ao seu cargo paraotimizar e qualificar a atuação dos membros e servidores do MPPR na defesa da OrdemTributária.

Assim é que no dia 06 de dezembro, p.p., o MPPR firmou o Termo deCooperação Técnica com a Secretaria de Estado da Fazenda e com a Procuradoria-Geraldo Estado para instituir o Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos – CIRA/PR[Termo de Cooperação Técnica nº 032/2018].

Em 09 de abril de 2019, instituiu o Centro de Apoio Operacional dasPromotorias de Defesa da Ordem Tributária, designando o Procurador de Justiça MaurícioKalache para coordená-lo [Resolução MPPR nº 2099/2019 e Resolução MPPR nº2101/2019].

Em 29 de julho de 2019, criou o Grupo de Atuação Especializada no Combateà Sonegação Fiscal e aos Ilícitos contra a Ordem Tributária (GAESF) [ResoluçãoPGJ/MPPR nº 4772/2019], designando os Promotores de Justiça Henrique Bolzani, CláudioFranco Félix e Fernando da Silva Mattos para integrá-lo [Resoluções PGJ/MPPR nº 4954,4955 e 4956/2019].

No último dia 1º de agosto definiu o plexo de atribuições das 1º e 2ºPromotorias de Justiça de Combate aos Crimes contra a Ordem Econômica e Tributária doForo Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba [Resolução PGJ/MPPR nº4953/2019].

Em 27 de setembro, sediou no Auditório do Bloco II, da sede da Procuradoria-Geral de Justiça, o “Seminário Gestão Pública: Desafios e Oportunidades da Administração”,evento científico do qual participaram painelistas de renome no cenário nacional e para oqual acorreram centenas de servidores públicos, empresários e acadêmicos interessadosem se qualificar nos subtemas gestão de pessoas, gestão orçamentária e fiscal eprevidência social (http://www.ordemtributaria.mppr.mp.br/2019/09/21946,37/Reformas-e-desafios-da-gestao-publica-pautam-evento-no-MPPR.html).

Agora, a equipe técnica do Centro de Apoio Operacional das Promotorias deJustiça de Defesa da Ordem Tributária do Ministério Público do Estado do Paraná, apósrealizar pesquisa detalhada sobre os principais julgados do Superior Tribunal de Justiçasobre questões materiais e processuais penais relacionadas aos crimes contra a ordemtributária, organizou esta coletânea indexada de jurisprudência, publicada para servir dematerial de apoio aos membros e servidores do MPPR que atuam nessa área especializada.

Com essa primeira publicação, o CAOP DOT cumpre um dos objetivos de suacriação que é o de prestar auxílio aos órgãos de execução do Ministério Público, remetendo-lhes informações técnico-jurídicas, sem caráter vinculativo.

Outubro/2019.

Page 4: CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

SUMÁRIO

1. APROPRIAÇÃO INDÉBITA TRIBUTÁRIA...............................................................6

2. AUTORIA...................................................................................................................8

3. BUSCA E APREENSÃO.........................................................................................18

4. COMPENSAÇÃO DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS...................................................19

5. COMPETÊNCIA......................................................................................................19

6. CONEXÃO..............................................................................................................20

7. CONSUNÇÃO.........................................................................................................23

8. CONTADOR............................................................................................................24

9. CRIME CONTINUADO...........................................................................................24

10. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA.........................................................................25

11. CRIME FORMAL...................................................................................................25

12. CRIME MATERIAL................................................................................................26

13. DENÚNCIA............................................................................................................27

14. DESCAMINHO......................................................................................................36

15. DOLO....................................................................................................................37

16. DOSIMETRIA DA PENA-BASE............................................................................38

17. ESTELIONATO.....................................................................................................40

18. FALSIDADE DOCUMENTAL................................................................................41

19. FALSIDADE IDEOLÓGICA..................................................................................42

20. GARANTIA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.............................................................43

21. GUERRA FISCAL.................................................................................................43

22. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS.................................................................45

23. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA........................................................................47

Page 5: CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

24. LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO..............................................................................50

25. LAVAGEM DE DINHEIRO....................................................................................52

26. PAGAMENTO DO DÉBITO..................................................................................53

27. PARCELAMENTO DO DÉBITO...........................................................................54

28. PERÍCIA CONTÁBIL............................................................................................59

29. PRESCRIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.......................................................61

30. PRESCRIÇÃO PENAL.........................................................................................62

31. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA......................................................................64

32. QUESTÃO PREJUDICIAL....................................................................................66

33. SIGILO BANCÁRIO..............................................................................................68

34. SÚMULA VINCULANTE 24..................................................................................74

35. USO DE DOCUMENTO FALSO...........................................................................76

36. VALOR SONEGADO............................................................................................77

Page 6: CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

1. APROPRIAÇÃO INDÉBITA TRIBUTÁRIA

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DO PROCESSO-CRIME. EXCEPCIONALIDADE. JUSTACAUSA PARA A PERSECUÇÃO PENAL. ATIPICIDADE. MATÉRIA DECIDIDA PELA TERCEIRASEÇÃO NO HC 399.109/SC. (DECLARAÇÃO DO IMPOSTO DEVIDO EM GUIAS PRÓPRIAS.IRRELEVÂNCIA PARA A CONFIGURAÇÃO DO DELITO. TERMOS "DESCONTADO E COBRADO".ABRANGÊNCIA. TRIBUTOS DIRETOS EM QUE HÁ RESPONSABILIDADE POR SUBSTITUIÇÃO ETRIBUTOS INDIRETOS. DENÚNCIA INEPTA. NÃO OCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DAINSIGNIFICÂNCIA. REsp 1.112.748/TO, REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. TRIBUTOMUNICIPAL. NÃO APLICAÇÃO. DIFICULDADE FINANCEIRA DA EMPRESA. AUSÊNCIA DE PROVAPRÉ-CONSTITUÍDA. INSTRUÇÃO DEFICIENTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃOCONFIGURADO. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Nos termos do entendimento consolidado desta Corte, o trancamento da ação penal por meio dohabeas corpus é medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houver inequívocacomprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou daausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito.2. Embora não se admita a instauração de processos temerários e levianos ou despidos de qualquersustentáculo probatório, nessa fase processual deve ser privilegiado o princípio do in dubio prosocietate. De igual modo, não se pode admitir que o Julgador, em juízo de admissibilidade daacusação, termine por cercear o jus accusationis do Estado, salvo se manifestamente demonstrada acarência de justa causa para o exercício da ação penal.3. A questão relativa à atipicidade da apropriação indébita tributária foi pacificada no âmbito daTerceira Seção, na ocasião do julgamento do HC 399.109/SC, no qual se firmou o entendimentode que "o sujeito ativo do crime de apropriação indébita tributária é aquele que ostenta aqualidade de sujeito passivo da obrigação tributária, conforme claramente descrito pelo art. 2º,II, da Lei n. 8.137/1990, que exige, para sua configuração, seja a conduta dolosa (elementosubjetivo do tipo), consistente na consciência (ainda que potencial) de não recolher o valor dotributo devido. A motivação, no entanto, não possui importância no campo da tipicidade, ouseja, é prescindível a existência de elemento subjetivo especial."4. Asseverou-se, ainda, que "a descrição típica do crime de apropriação indébita tributáriacontém a expressão "descontado ou cobrado", o que, indiscutivelmente, restringe aabrangência do sujeito ativo do delito, porquanto nem todo sujeito passivo de obrigaçãotributária que deixa de recolher tributo ou contribuição social responde pelo crime do art. 2º, II,da Lei n. 8.137/1990, mas somente aqueles que "descontam" ou "cobram" o tributo oucontribuição."5. Conclui-se, assim, que "a interpretação consentânea com a dogmática penal do termo"descontado" é a de que ele se refere aos tributos diretos quando há responsabilidadetributária por substituição, enquanto o termo "cobrado" deve ser compreendido nas relaçõestributárias havidas com tributos indiretos (incidentes sobre o consumo)".6. No caso em exame, verifica-se que a denúncia narra todos os aspectos constitutivos do tipoprevisto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990, na medida em que os recorrentes, administradoresda empresa GESTHO, deixaram de recolher o ISSQN, descontado (retido na fonte dosprestadores de serviços), na qualidade de sujeito passivo da obrigação, por anos seguidos (dejaneiro de 2012 a dezembro de 2015), resultando na supressão/redução de carga tributáriaavaliada em pouco mais de R$ 8.800.000,00 (oito milhões e oitocentos mil reais). Assim, osrecorrentes deixaram de recolher, no prazo legal, na qualidade de sujeito passivo de obrigaçãotributária, valor do tributo (ISSQN) descontado dos prestadores de serviços da empresa e quedeveria recolher aos cofres públicos.7. A Terceira Seção desta Corte Superior firmou orientação, no julgamento dos REsps1.709.029/MG e 1.688.878/SP, representativos da controvérsia, no sentido de que incide oreferido princípio aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário

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verificado não ultrapassar a quantia de vinte mil reais, estabelecida no art. 20 da Lei n.10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério daFazenda, o que não se verifica na espécie.8. Hipótese em o referido entendimento tem aplicação somente aos tributos da competência daUnião. Para ser estendido ao âmbito municipal, necessária seria a existência de lei local nomesmo sentido, o que não restou demonstrado no recurso.9. Em sede de recurso em habeas corpus, a prova deve ser pré-constituída e incontroversa, cabendoao recorrente apresentar documentos suficientes à análise de eventual ilegalidade flagrante no atoatacado. 10. Na espécie, a alegação de que "a inadimplência se deve a grave dificuldade financeirasuportada pela empresa gerida" pelos recorrentes, razão pela qual não houve a intenção de lesar ofisco, não restou comprovada nos autos, não sendo suficiente a simples transcrição de supostadeclaração do fisco municipal acerca do parcelamento da dívida tributária.11. Recurso não provido. Liminar cassada.(RHC 90.109/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 19/03/2019, DJe25/03/2019)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA AORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 2°, II, DA LEI N. 8.137/1990. ICMS DECLARADO E NÃO PAGO.TIPICIDADE. PRESCINDIBILIDADE DE ESPECIAL FIM DE AGIR. ABSOLVIÇÃO PORINEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA E POR AUSÊNCIA DE DOLO. SÚMULA N. 7 DO STJ.SÚMULA VINCULANTE N. 24 DO STF. NÃO INCIDÊNCIA. CRIME FORMAL. PRESCRIÇÃOSUPERVENIENTE. OCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO EM PARTE.1. A configuração do delito previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990, nos casos em que não háo repasse de ICMS ao Fisco - o qual prescinde da diferenciação entre imposto próprio ou porsubstituição tributária -, o fato de o agente registrar, apurar e declarar em guia própria ou emlivros fiscais o imposto devido não tem o condão de elidir ou exercer nenhuma influência naprática do delito, visto que este não pressupõe a clandestinidade.2. O sujeito ativo do crime de apropriação indébita tributária é aquele que ostenta a qualidade desujeito passivo da obrigação tributária, que "desconta" ou "cobra" o tributo ou a contribuição, conformeclaramente descrito pelo art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990. Exige-se, em tal caso, que a conduta sejadolosa (elemento subjetivo geral do tipo), consistente na consciência (ainda que potencial) de nãorecolher ao Fisco o valor do tributo devido.3. O reconhecimento da inexigibilidade de conduta diversa, causa excludente de culpabilidade, implicaa necessidade de revolvimento fático-probatório dos autos, inviável em recurso especial segundo odisposto na Súmula n. 7 do STJ.4. O crime do art. 2°, II, da Lei n. 8.137/1990 é de natureza formal e prescinde da constituiçãodefinitiva do crédito tributário para sua configuração. Não incidência da Súmula Vinculante n.24 do STF. Precedente.5. Os réus foram condenados, em primeira instância, por cada crime, à pena de 1 ano e 4 meses,descontada a fração relativa à continuidade delitiva. Entre a publicação da sentença condenatória emcartório e o presente momento, transcorreram mais de 4 anos. Prescrição supervenientecaracterizada.6. Agravo regimental provido em parte, para declarar a prescrição da pretensão punitiva supervenientedos crimes atribuídos aos réus Paulo Augusto Almeida de Lima, Rosângela Alves de Jesus Silva eRogério Duarte Noleto no Processo n. 201303852670.(AgRg no AREsp 1121680/GO, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em06/11/2018, DJe 21/11/2018)

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRANCAMENTODA AÇÃO PENAL. LEI 8.137/90, ART. 2º, II. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ICMS. DECLARAÇÃO.NÃO RECOLHIMENTO. SUBSUNÇÃO EM TESE DO FATO À NORMA. INÉPCIA DA DENÚNCIA.

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PEÇA INAUGURAL QUE ATENDE AOS REQUISITOS DO ART. 41 DO CPP. AMPLA DEFESAGARANTIDA. INÉPCIA NÃO EVIDENCIADA. RECURSO ORDINÁRIO A QUE SE NEGAPROVIMENTO.I - A jurisprudência do excelso Supremo Tribunal Federal, bem como desta eg. Corte, há muito já sefirmaram no sentido de que o trancamento da ação penal por meio do habeas corpus é medidaexcepcional, que somente deve ser adotada quando houver inequívoca comprovação da atipicidadeda conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou da ausência de indícios de autoriaou de prova sobre a materialidade do delito. (Precedentes). II - O art. 2º, II, da Lei 8.137/90 prevê que constitui crime contra a ordem tributária "deixar derecolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, naqualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos". III - A alegação do recorrente de que consistiria em infração administrativo-tributária a condutade declarar, mas não recolher o tributo aos cofres públicos, não se sustenta, uma vez que estacol. Quinta Turma já decidiu que "Não há falar em atipicidade da conduta de deixar de pagarimpostos, pois é o próprio ordenamento jurídico pátrio, no caso a Lei 8.137/1990, que incriminaa conduta daquele que deixa de recolher, no prazo legal, tributo descontado ou cobrado, naqualidade de sujeito passivo de obrigação, e que deveria recolher aos cofres públicos, nostermos do artigo 2º, inciso II, do referido diploma legal." (RHC 44.466/SC, Quinta Turma, Rel.Min. Jorge Mussi, DJe de 29/10/2014).IV - A exordial acusatória cumpriu todos os requisitos previstos no art. 41, do Código de ProcessoPenal, sem que a peça incorresse em qualquer violação do que disposto no art. 395, do mesmodiploma legal.V - A denúncia foi expressa em destacar que a empresa administrada pelo recorrente, "nos períodosde agosto/2010 e fevereiro/2011, não recolheu aos cofres públicos, no prazo determinado pelo art. 60do RICMS/01, os valores apurados e declarados" (fl. 126, e-STJ).VI - As alegações atinentes à falta de responsabilidade do recorrente pela gestão contábil da empresa(uma vez que não teria residência no local de sua sede), ou de que "nunca executou funçõesoperacionais", não encontram campo adequado para discussão na via estreita do habeas corpus, poiso writ não se presta ao exame de matéria fática ou de elementos de prova, que devem ser debatidasno curso da instrução do processo.VII - "Se eventualmente demonstrado que um dos recorrentes não teria exercido função de gerência,administração ou mesmo se restar provado que não detinha poder decisório dentro da empresarelacionada com o fato delituoso narrado na exordial acusatória, seria eventualmente hipótese deabsolvição, e não de inépcia da denúncia, de tal sorte que a alegada ingerência dos recorrentes naadministração da pessoa jurídica somente será efetivamente esclarecida durante a instrução criminal,e não por essa via estreita do habeas corpus, como pretendem os recorrentes" (RHC 34.051/PR,Sexta Turma, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe de 25/4/2013, grifei) Recurso ordinário desprovido.(RHC 42.923/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 18/06/2015, DJe29/06/2015)

2. AUTORIA

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRAA ORDEM TRIBUTÁRIA. DELITO SOCIETÁRIO. FALTA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA CONDUTA DARECORRENTE. RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA. INOCORRÊNCIA. PEÇA INAUGURAL QUE ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS E DESCREVE INFRAÇÃOPENAL EM TESE. AMPLA DEFESA GARANTIDA. INÉPCIA NÃO EVIDENCIADA.

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1. O devido processo legal constitucionalmente garantido deve ser iniciado com a formulação de umaacusação que permita ao denunciado o exercício do seu direito de defesa, para que eventualcerceamento não macule a prestação jurisdicional reclamada.2. Nos crimes societários, embora não possa ser de todo genérica, a denúncia é válida quandodemonstra um liame entre o agir dos sócios ou administradores e a suposta prática delituosa, apesarde não individualizar pormenorizadamente as atuações de cada um deles, o que estabelece aplausibilidade da imputação e possibilita o exercício da ampla defesa, cumprindo o contido no artigo41 do Código Penal. Precedentes.3. No caso, a recorrente não foi denunciada simplesmente por ser sócia da empresaATLÂNTICA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, mas porque, na qualidade deadministradora da pessoa jurídica, tendo ciência e controle das transações e negóciosrealizados, bem como responsabilidade pela apuração e recolhimento do ICMS devido, alémdo dever de prestar informações fiscais às autoridades fazendárias, suprimiu e reduziu tributomediante fraude à fiscalização tributária, omitindo operações de saída de mercadoriastributáveis em documentos ou livros exigidos por lei, narrativa atende de forma satisfatória osrequisitos legais exigidos para que se garanta ao réu o exercício da ampla defesa e docontraditório.FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A PERSECUÇÃO CRIMINAL. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTODO CONJUNTO PROBATÓRIO. VIA INADEQUADA. 1. Em sede de habeas corpus e de recurso ordinário em habeas corpus somente deve ser obstada aação penal se restar demonstrada, de forma indubitável, a ocorrência de circunstância extintiva dapunibilidade, a ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito, e ainda, aatipicidade da conduta.2. Estando a decisão impugnada em total consonância com o entendimento jurisprudencial firmadopor este Sodalício, não há que se falar em trancamento da ação penal, pois, de uma superficialanálise dos elementos probatórios contidos no presente reclamo, não se vislumbra estarem presentesquaisquer das hipóteses que autorizam a interrupção prematura da persecução criminal por esta via,já que seria necessário o profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente valoradaspelo juízo competente.NULIDADE DA DECISÃO QUE ANALISOU A RESPOSTA À ACUSAÇÃO. MATÉRIA NÃOAPRECIADA PELA CORTE DE ORIGEM. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.1. A alegada nulidade da decisão que analisou a resposta à acusação apresentada pela defesa nãofoi apreciada pela Corte de origem no acórdão impugnado, circunstância que impede qualquermanifestação deste Sodalício sobre o tópico, sob pena de se configurar a prestação jurisdicional emindevida supressão de instância.Precedentes.2. O simples fato de a questão haver sido suscitada na inicial do remédio constitucional originário nãoé suficiente para que possa ser debatida nesta instância, pois, diante da omissão da Corte de origemem examiná-la, cumpria à defesa opôs os competentes embargos de declaração.3. Agravo regimental desprovido.(AgRg no RHC 109.407/PB, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 07/05/2019,DJe 14/05/2019)

HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DOPROCESSO. INÉPCIA DA INICIAL CONFIGURADA. DENÚNCIA QUE NÃO ATENDE AOSREQUISITOS LEGAIS. MANIFESTA ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA E EXTENSIVA AOSCORRÉUS.1. Segundo entendimento reiterado desta Corte, quanto aos crimes societários, ainda que a denúnciaprescinda de atribuição detalhada da ação ou da omissão delituosa de cada agente, é imprescindívela demonstração do nexo causal entre a posição do sócio na empresa e a prática delitiva por elesupostamente perpetrada, de modo a possibilitar o exercício amplo da defesa.

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2. É ilegítima a persecução criminal quando ausente o preenchimento dos requisitos do art. 41 doCódigo de Processo Penal, necessário à compreensão da acusação.3. O Ministério Público não apontou, ainda que minimamente, o vínculo subjetivo entre o pacientecom os crimes tributários;cingiu-se a indicar sua condição de sócio da empresa autuada pelo fisco.4. O simples fato de o acusado ser sócio ou proprietário de pessoa jurídica é insuficiente parainferir sua participação nos fatos tidos como delituosos, sob pena de responsabilidadecriminal objetiva.5. Em nenhum momento a denúncia explicitou se o paciente seria detentor de poderes demando ou de administração da pessoa jurídica, ou mesmo se estava investido de poderesespeciais, quer para concretizar ou escriturar as operações mercantis, quer para representar aempresa perante a autoridade tributária.6. Habeas corpus concedido para declarar a inépcia da denúncia, sem prejuízo de que seja oferecidanova exordial com estrita observância dos ditames previstos no art. 41 do Código de Processo Penal.Ordem estendida aos corréus, com fulcro no art. 580 do CPP. (HC 291.623/MG, Rel. MinistroROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 07/02/2019, DJe 11/03/2019)HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º, I, DA LEI N. 8.137/1990) EASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DADENÚNCIA. RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA. FALTA DE JUSTA CAUSA. AUSÊNCIA DEDESCRIÇÃO DO ELEMENTO FRAUDE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.1. A extinção da ação penal na via eleita consiste em medida excepcional, justificando-se somentequando se revelar, de plano, a atipicidade da conduta, causa extintiva da punibilidade, ou a ausênciade indícios mínimos de autoria. Nesse contexto, a jurisprudência desta Casa não aceita,ordinariamente, discussões fundadas na ausência de comprovação do elemento subjetivo do tipo ouna carência de indícios suficientes de autoria do delito, porquanto tais esclarecimentos demandam, namaior parte das vezes, apreciação detalhada dos elementos de convicção constantes do processo,providência manifestamente inconciliável com o rito célere do remédio constitucional. Precedentes.2. No caso, a peça acusatória, ao imputar aos pacientes a fraude à Fazenda Nacional, por meioda apresentação de declarações inverídicas de modo a suprimir o pagamento de tributos,baseou-se, apenas, nas funções desempenhadas pelos acusados no âmbito da pessoajurídica. Assim, o crime descrito no art. 1º, inciso I, da Lei n. 8.137/1990 foi atribuído aospacientes somente por ostentarem a qualidade de Presidente e Diretores da companhia. Odenunciante não minudenciou a conduta delituosa e o liame dos acusados com o crimenarrado na inicial, imputando-lhes o delito exclusivamente em razão dos altos cargosocupados por eles na empresa. Entretanto, a mera detenção dos postos de Presidente e deDiretores da pessoa jurídica, sem a descrição das competências desempenhadas pelos réusem relação aos fatos criminosos, não evidencia a autoria ou eventual anuência com o crime.Nos termos da orientação desta Corte, não é necessário ao denunciante elucidar aparticipação de cada acusado do crime societário. Porém, no caso, observa-se a absolutaausência de descrição do vínculo subjetivo dos acusados com o delito delineado na peçaacusatória. Evidente, portanto, o desrespeito aos princípios do contraditório e da ampladefesa. 3. De mais a mais, consoante se observa dos documentos acostados ao processo, embora aComunicação Fiscal ao Ministério Público aponte a existência de declaração inverídica dacontribuinte, não asseverou, nem sequer minimamente, à presença de fraude ou falsificação. Asindagações referentes a presença de práticas ardilosas foram todas respondidas negativamente pelosfuncionários fiscais. Assim, embora os pacientes possam ter recolhido de forma errônea o impostodevido, não descreveram os auditores fiscais nenhuma fraude ou ardil no procedimento. Além disso, apessoa jurídica contribuinte mantinha escorreita escrituração e apresentou todos os documentossolicitados por ocasião da autuação fiscal. Desse modo, não há nos autos dados inequívocosbastantes a demonstrar que a supressão ou a redução do tributo ocorrera mediante fraude oufalsificação. A peça acusatória encontra-se consubstanciada apenas na constituição definitiva do

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crédito tributário, concluindo o titular da ação penal pública, a partir daí, que a redução dos valores sedeu por meio de uma das condutas listadas no art. 1º da Lei 8.137/1990. Precedentes.4. Relativamente ao crime de associação criminosa, o Ministério Público não descreveu a associaçãoefetiva, tampouco o vínculo permanente de cada um dos membros com o grupo. A inicial apenas serefere ao delito previsto no art. 288 do Código Penal no momento da capitulação legal, porém semdelineá-lo, ainda que sucintamente.Portanto, evidente o constrangimento ilegal. Precedentes.5. Ordem concedida para determinar o trancamento da Ação Penal n. 0007676-60.2014.8.17.0001relativamente aos pacientes RONALDO IABRUDI DOS SANTOS PEREIRA, LUIZ EDUARDO FALCOPIRES CORREA, JOSE LUIS MAGALHAES SALAZAR, JULIO CESAR PINTO e PAULO ALTMAYERGONCALVES. (HC 351.718/PE, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,julgado em 16/10/2018, DJe 30/10/2018)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.ART. 1º, II, DA LEI N. 8.137/1990. TRANCAMENTO. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. OCORRÊNCIA.RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO. 1. Nos crimes tributários praticados em coautoria, a denúncia pode ser oferecida sem a atribuiçãopormenorizada e exauriente de cada ação ou omissão delituosa imputada aos acusados. Éimprescindível a demonstração, em linhas gerais, do vínculo entre a posição do agente na empresa eo crime imputado, de forma a propiciar o conhecimento da acusação e o exercício da ampla defesa.Precedentes.2. Em crime contra a ordem tributária, cometida supostamente por sócios-administradores deempresa, por período considerável de tempo, a inicial acusatória é idônea se, como naespécie, descreve o nexo entre os poderes de administração dos investigados na estruturasocietária e os fatos delitivos.3. O trancamento da ação penal (rectius do processo), no âmbito de habeas corpus, é medidaexcepcional, somente cabível quando demonstradas a absoluta ausência de provas da materialidadedo crime e de indícios de autoria (falta de justa causa), a atipicidade da conduta ou a existência decausa extintiva da punibilidade.4. Pelo contexto fático delineado nos autos, não havia elementos objetivos e racionais quefundamentassem a imputação contida na exordial acusatória, visto que, a partir dos depoimentosprestados por sócios da empresa, o relatório policial esclareceu que, "em que pesem os sócios DurvalGuimarães Filho e Maria Tenório Guimarães não terem sido localizados para procederem suasoitivas, os relatos dos demais sujeitos ativos indicam que quem de fato administrava a empresa era oinvestigado Durval Guimarães, motivo no qual foi procedido ao seu indiciamento indireto, semprejuízo do posterior envio das cartas precatórias quando foram devidamente cumpridas".5. Com lastro em elementos informativos assim documentados, mostra-se temerária a persecuçãopenal contra quem não se recolheram os mínimos indícios de autoria. Carência de justa causaevidenciada.6. Recurso provido, para determinar o trancamento do processo n. 0001825-97.2014.8.26.0483, emtrâmite na 2ª Vara Criminal da Comarca de Presidente Venceslau, apenas em relação aosrecorrentes. (RHC 76.487/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em09/10/2018, DJe 18/10/2018)

PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART.1º, I E II, 11 E 12 DA LEI N. 8.137/1990). PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.INÉPCIA DA DENÚNCIA. INICIAL QUE APONTA AS RECORRENTES COMO RESPONSÁVEISPELAS OBRIGAÇÕES COM O FISCO. POSSIBILIDADE DE EXERCÍCIO DO CONTRADITÓRIO EDA AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL MANIFESTO.1. Evidenciado que a inicial narra, de forma clara, que as recorrentes figuravam no contratosocial como as únicas administradoras da empresa, a quem cabiam as obrigações perante o

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Fisco, infere-se que não se mostra inepta a denúncia de forma a autorizar o trancamento daação penal.2. A descrição fática nessas condições, com uma narrativa congruente dos fatos, atende aosrequisitos exigidos na lei, uma vez que nela estão reunidos todos os elementos necessários àcaracterização do tipo penal de crime contra a ordem tributária, de forma suficiente não só parapropiciar ao recorrente o escorreito exercício do contraditório e da ampla defesa mas, também, paradeterminar o regular prosseguimento da ação penal contra ele deflagrada.3. A responsabilidade penal, nos crimes contra a ordem tributária, recai sobre aqueles que, à épocado fato gerador do tributo, eram os representantes legais da empresa.4. Recurso a que se nega provimento.(RHC 29.878/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 14/03/2017,DJe 22/03/2017)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.DELITO SOCIETÁRIO. FALTA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA CONDUTA DO RECORRENTE.RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA PELO ILÍCITO FISCAL. PEÇA INAUGURAL QUE ATENDE AOSREQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS E DESCREVE INFRAÇÃO PENAL EM TESE. AMPLA DEFESAGARANTIDA. INÉPCIA NÃO EVIDENCIADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO.1. A hipótese cuida de denúncia que narra supostos delitos praticados por intermédio de pessoajurídica, a qual, por se tratar de sujeito de direitos e obrigações, e por não deter vontade própria, atuasempre por representação de uma ou mais pessoas naturais.2. Embora em um primeiro momento o elemento volitivo necessário para a configuração de umaconduta delituosa tenha sido considerado o óbice à responsabilização criminal da pessoa jurídica, écerto que nos dias atuais esta é expressamente admitida, conforme preceitua, por exemplo, o artigo225, § 3º, da Constituição Federal.3. E ainda que tal responsabilização seja possível apenas nas hipóteses legais, é certo que apersonalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática decondutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua condução.4. Não pode ser acoimada de inepta a denúncia formulada em obediência aos requisitos traçados noartigo 41 do Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente a conduta típica, cuja autoria éatribuída ao pacientedevidamente qualificado, circunstâncias que permitem o exercício da ampla defesa no seio dapersecução penal, na qual se observará o devido processo legal.5. Nos chamados crimes societários, embora a vestibular acusatória não possa ser de todo genérica,é válida quando, apesar de não descrever minuciosamente as atuações individuais dos acusados,demonstra um liame entre o seu agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a plausibilidade daimputação e possibilitando o exercício da ampla defesa, caso em que se consideram preenchidos osrequisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal.6. Na espécie, de acordo com a exordial, o recorrente, na qualidade de administrador daempresa Wog do Brasil Equipamentos Industriais Ltda., teria inserido elementos inexatos emlivro fiscal, e, por tal razão, deixado de recolher ICMS relativo à saída de mercadoria, descriçãoque atende de forma satisfatória as exigências legais para que se garanta ao réu o exercício daampla defesa e do contraditório.7. Recurso desprovido.(RHC 77.055/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe01/02/2017)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. EXCEPCIONALIDADE. INÉPCIA DA DENÚNCIA. NÃOOCORRÊNCIA. PEÇA EM CONFORMIDADE COM O DISPOSTO NO ART. 41 DO CÓDIGO DEPROCESSO PENAL - CPP. CRIME SOCIETÁRIO. POSSIBILIDADE DE DENÚNCIA GERAL.

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INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA. AUSÊNCIA DE FLAGRANTEILEGALIDADE. RECURSO DESPROVIDO.1. Em razão da excepcionalidade do trancamento da ação penal, tal medida somente se verificapossível quando ficar demonstrado, de plano e sem necessidade de dilação probatória, a totalausência de indícios de autoria e prova da materialidade delitiva, a atipicidade da conduta ou aexistência de alguma causa de extinção da punibilidade. É certa, ainda, a possibilidade do referidotrancamento nos casos em que a denúncia for inepta, não atendendo o que dispõe o art. 41 do CPP,o que não impede a propositura de nova ação desde que suprida a irregularidade.2. In casu, a exordial acusatória imputa ao recorrente a prática de crime contra a ordem tributária,considerando que, na condição de sócio administrador da pessoa jurídica, sonegou o pagamento deICMS, no montante de R$ 281.973,20, descrevendo, ainda, o modus operandi da conduta delituosa.Assim, a denúncia ofertada não ofende o direito à ampla defesa e ao contraditório e permite o livreexercício do direito de defesa, na medida em que descreve, mesmo de forma sucinta e objetiva, todaa prática delitiva imputada aos acusados, demostrando indícios suficientes de autoria, prova damaterialidade e a existência de nexo causal entre a conduta apontada e o tipo penal imputado,exatamente nos termos do que dispõe o art.41 do CPP.3. Nos crimes societários, não se exige a descrição individualizada das condutas de cada acusado,bastando para se assegurar o direito à ampla defesa a descrição do fato delituoso e a indicação daparticipação de cada autor na empreitada criminosa. Assim, no caso dos autos, não há falar emresponsabilidade penal objetiva, tendo em vista que ficou demonstrado na denúncia o liame subjetivona conduta imputada ao recorrente, que, como sócio e administrador da pessoa jurídica,supostamente teria sonegado tributo mediante a omissão de informação às autoridades fazendárias efraude na fiscalização tributária.Recurso ordinário em habeas corpus desprovido.(RHC 70.805/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 09/08/2016,DJe 19/08/2016)

HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DOPROCESSO. INÉPCIA DA INICIAL CONFIGURADA. DENÚNCIA QUE NÃO ATENDE AOSREQUISITOS LEGAIS. MANIFESTA ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA E EXTENSIVA AOCORRÉU. 1. Segundo entendimento reiterado desta Corte, quanto aos crimes societários, ainda que a denúnciapossa ser genérica, sem a atribuição detalhada de cada ação ou omissão delituosa a cada agente, éimprescindível a demonstração do nexo causal entre a posição do agente na empresa e a práticadelitiva por ele supostamente perpetrada, possibilitando, desse modo, o exercício amplo de suadefesa. 2. É ilegítima a persecução criminal quando, comparando-se os tipos penais apontados na denúnciacom as condutas atribuídas aos denunciados, verifica-se ausente o preenchimento dos requisitos doart. 41 do Código de Processo Penal, necessário ao exercício do contraditório e da ampla defesa.3. A denúncia não apontou, ainda que minimamente, o vínculo subjetivo entre o paciente e ocorréu com crimes tributários, cingindo-se à indicação da condição de sócios-proprietários daempresa "GD Comercial Ltda.".4. O simples fato de os acusados serem sócios e proprietários de empresa não é suficientepara inferir sua participação nos fatos delituosos descritos, sob pena de responsabilidadecriminal objetiva.5. Em nenhum momento a denúncia apontou que os pacientes seriam detentores de poderesgerenciais, de mando ou de administração da referida empresa, ou mesmo investidos depoderes especiais, fosse para a concretização de movimentações financeiras, fosse pararepresentá-la perante à autoridade tributária.6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, ex officio, para declarar a inépcia da denúnciano que se refere ao paciente e, por extensão, ao corréu Marco Antônio Pacheco e, apenas em

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relação a estes, anular, ab initio, a Ação Penal n. 014070108163, em trâmite na 3ª Vara Criminal daComarca de Colatina-ES, sem prejuízo de que seja oferecida nova denúncia em desfavor do pacientee do corréu, com estrita observância dos ditames previstos no art. 41 do Código de Processo Penal.(HC 121.035/ES, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2016,DJe 03/08/2016)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. SONEGAÇÃO FISCAL. ALEGAÇÃO DEINÉPCIA FORMAL DA DENÚNCIA E DE FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL.IMPROCEDÊNCIA. RECURSO NÃO PROVIDO.1. O trancamento prematuro da persecução penal é medida excepcional, admissível somente quandoemergem dos autos, de plano e sem necessidade de apreciação probatória, a falta de justa causa, aatipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a inépcia formal da denúncia.2. Não há falar em inépcia da denúncia se a inicial preenche os requisitos do art. 41 do CPP eexplicita, de forma satisfatória, a conduta delitiva e as circunstâncias da sonegação fiscal,estabelecendo, com elementos que deverão ser aprofundados durante a instrução criminal,que os recorrentes, como administradores da pessoa jurídica, fraudaram a norma tributáriapara suprimir pagamento de ICMS. A afirmativa de que possuíam altos cargos e poderes dedeterminar, decidir e fazer com que os subordinados executassem os atos foi lastreada ematas das assembleias gerais ordinárias, que comprovam o exercício do mandato no períododescrito na denúncia.3. A tese de que os recorrentes, apesar de presidente e vice-presidentes da empresa, compoderes de administração e de gerência, não tiveram nenhum vínculo com a sonegação fiscalnão pode ser discutida no habeas corpus, por demandar análise vertical de provas indicadassomente pela defesa, sem o contraditório da parte adversa.4. É possível constatar que o Juízo cível excluiu os recorrentes da execução fiscal apenasporque não foram parte do processo administrativo aberto contra a pessoa jurídica, semafastar eventual responsabilidade pessoal dos gestores ou desconstituir o crédito tributárioobjeto da ação penal.5. A garantia do crédito tributário na execução fiscal - procedimento necessário para que oexecutado possa oferecer embargos - não possui, consoante o Código Tributário Nacional,natureza de pagamento voluntário ou de parcelamento da exação e, portanto, não fulmina ajusta causa para a persecução penal, pois não configura hipótese taxativa de extinção dapunibilidade ou de suspensão do processo penal.6. Como alinhavado pela instância ordinária, a legislação penal em matéria de crimes contra aordem tributária já é benevolente com aqueles que incorrem nestes delitos, pois prevê formasde extinção da punibilidade e de suspensão do processo não proporcionadas aos crimes emgeral.7. Assim, não deve ser admitida a ampliação da benesse legal de forma automática, toda vezque o agente garantir a execução fiscal para oferecer embargos, sem que haja provainequívoca do pagamento ou do parcelamento do tributo, máxime porque o crime pressupõe,além do inadimplemento, a prática de conduta ardilosa para violar a ordem tributária.8. Recurso ordinário não provido.(RHC 65.221/PE, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 07/06/2016,DJe 27/06/2016)

PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIMECONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. AFASTAMENTO. ARGUIÇÃO APÓSSENTENÇA. IMPOSSIBILIDADE.1. Conforme se observa na denúncia, houve a narrativa das condutas criminosas imputadas aosdenunciados acerca da prática do crime em questão, com todas as circunstâncias relevantes, demaneira suficiente ao exercício do direito de defesa. Assim, nos termos da jurisprudência desta Corte

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Superior de Justiça, "não há como reconhecer a inépcia da denúncia se a descrição da pretensaconduta delituosa foi feita de forma suficiente ao exercício do direito de defesa, com a narrativa detodas as circunstâncias relevantes, permitindo a leitura da peça acusatória a compreensão daacusação, com base no artigo 41 do Código de Processo Penal" (RHC 46.570/SP, Rel. MinistraMARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, julgado em 20/11/2014, DJe 12/12/2014).2. Não se desconhece que "esta Corte Superior tem reiteradamente decidido ser inepta adenúncia que, mesmo em crimes societários e de autoria coletiva, atribui responsabilidadepenal à pessoa física, levando em consideração apenas a qualidade dela dentro da empresa,deixando de demonstrar o vínculo desta com a conduta delituosa, por configurar, além deofensa à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal, responsabilidade penalobjetiva, repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio" (RHC 35.687/SP, Rel. MinistroSEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sesta Turma, julgado em 18/09/2014, DJe 07/10/2014). Contudo, nocaso dos autos, a peça inaugural explicita que os acusados, na condição de administradoresda empresa, reduziram tributo estadual de ICMS, fraudando a fiscalização tributária, aoomitirem a registro (no Livro Fiscal de Saídas) os valores consignados em documentos fiscaisde saídas de mercadoria, que foi descoberto pelo Fisco estadual ao confrontarem os valoresdas notas fiscais emitidas com os valores de vendas informados no Livro de Registro deEntradas da empresa, razão pela qual não há que se falar em defeito na inicial acusatória.3. Ademais, o entendimento do STJ é no sentido de que "a superveniência da sentença penalcondenatória torna esvaída a análise do pretendido reconhecimento de inépcia da denúncia, issoporque o exercício do contraditório e da ampla defesa foi viabilizado em sua plenitude durante ainstrução criminal" (AgRg no AREsp 537.770/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SextaTurma, julgado em 4/8/2015, DJe 18/08/2015).4. Agravo regimental não provido.(AgRg no REsp 1549392/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,julgado em 02/06/2016, DJe 10/06/2016)

HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DOPROCESSO. INÉPCIA DA INICIAL CONFIGURADA. DENÚNCIA QUE NÃO ATENDE AOSREQUISITOS LEGAIS. MANIFESTA ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA.1. Segundo entendimento reiterado desta Corte, quanto aos crimes societários, ainda que a denúnciapossa ser genérica, sem a atribuição detalhada de cada ação ou omissão delituosa a cada agente, éimprescindível a demonstração do nexo causal entre a posição do agente na empresa e a práticadelitiva por ele supostamente perpetrada, possibilitando, desse modo, o exercício amplo de suadefesa.2. É ilegítima a persecução criminal quando, comparando-se os tipos penais apontados na denúnciacom as condutas atribuídas aos denunciados, verifica-se ausente o preenchimento dos requisitos doart. 41 do Código de Processo Penal, necessário ao exercício do contraditório e da ampla defesa.3. A denúncia não apontou, ainda que minimamente, o vínculo subjetivo entre os pacientes eos fatos a eles atribuídos como crimes contra a ordem tributária, cingindo-se à indicação dacondição de sócios-proprietários da empresa "Ramberger&Ramberger Ltda.".4. O simples fato de os acusados serem sócios e proprietários da empresa constante dadenúncia não pode levar a crer, necessariamente, que eles tivessem participação nos fatosdelituosos, a ponto de se ter dispensado ao menos uma sinalização de sua conduta, ainda quebreve, sob pena de ficar configurada a repudiada responsabilidade criminal objetiva.5. Em nenhum momento, a denúncia apontou que os pacientes seriam detentores de poderesgerenciais, de mando ou de administração da referida empresa, ou mesmo possuidores depoderes especiais, fosse para a concretização de movimentações financeiras, fosse pararepresentá-la junto à autoridade tributária.6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, ex officio, para, confirmando a liminar, declarar ainépcia da denúncia e anular, ab initio, em favor de todos os pacientes, o Processo n. 050.00.097243-6, em trâmite na 2ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo, sem prejuízo de que seja oferecida nova

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denúncia em desfavor dos pacientes, com estrita observância dos ditames previstos no art. 41 doCódigo de Processo Penal.(HC 82.873/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 17/03/2016,DJe 01/04/2016)

RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º, I EII, DA LEI N. 8.137/1990). INÉPCIA DA DENÚNCIA E ATIPICIDADE DA CONDUTA. INICIAL QUEIMPUTA AO RECORRENTE A CONDUTA DE CONCORRER PARA A SONEGAÇÃO FISCAL,APENAS PELO FATO DE ELE TER SIDO CONTRATADO COMO CONTADOR PARA A ABERTURADA FIRMA, CRIADA PELOS CORRÉUS PARA A PRÁTICA CRIMINOSA. INEXISTÊNCIA, AOMENOS, DE INDICAÇÃO DA CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO ACUSADO DA FINALIDADE PARA A QUALA EMPRESA SERIA CRIADA. EXISTÊNCIA DE PRESUNÇÃO DE RESPONSABILIDADE NA INICIALACUSATÓRIA. EXERCÍCIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA OBSTADO PELA NARRATIVADE CONDUTA QUE NÃO SE SUBSUME AOS TIPOS PENAIS IMPUTADOS. CONSTRANGIMENTOILEGAL EVIDENCIADO.1. Esta Corte pacificou o entendimento segundo o qual o trancamento de ação penal pela via eleita émedida excepcional, cabível apenas quando demonstrada, de plano, a atipicidade da conduta, aextinção da punibilidade ou a manifesta ausência de provas da existência do crime e de indícios deautoria.2. No caso, atribuiu-se ao acusado a prática de crime contra a ordem tributária, consistente naprática de condutas voltadas à sonegação fiscal (art. 1º, I e II, da Lei n. 8.137/1990), apenaspelo fato de ele ser o contador responsável pela abertura da firma utilizada pelos corréus paraa prática criminosa, deixando-se de indicar, ao menos, se ele teria ciência da finalidade para aqual a empresa seria criada.3. É ilegítima a persecução criminal quando, comparando-se o tipo penal apontado na denúncia coma conduta atribuída ao denunciado, verifica-se ausente o preenchimento dos requisitos do artigo 41do Código de Processo Penal, necessário ao exercício do contraditório e da ampla defesa (HC n.294.728/SP, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 13/10/2014).4. A inexistência absoluta de elementos hábeis a descrever a relação entre os fatos delituosos e aautoria ofende o princípio constitucional da ampla defesa, tornando inepta a denúncia.Precedentes do STF e do STJ. Deve ser declarada a inépcia da denúncia e determinada a anulaçãoda ação penal em relação ao paciente (HC n. 171.976/PA, Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe13/12/2010).5. Recurso provido para trancar a ação penal proposta contra o recorrente, sem prejuízo de que outradenúncia seja oferecida, desde que observadas as exigências legais.(RHC 64.817/MA, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 08/03/2016,DJe 17/03/2016)

PENAL E PROCESSO PENAL. CRIME PREVISTO NO ART. 334 DO CÓDIGO PENAL.INÉPCIA DA INICIAL ACUSATÓRIA. INEXISTÊNCIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ART. 41DO CPP. DEMONSTRADA A MÍNIMA CORRELAÇÃO DOS FATOS DELITUOSOS COM AATIVIDADE DO ACUSADO. RECURSO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência dos tribunais superiores admite o trancamento do inquérito policial ou de açãopenal, excepcionalmente, nas hipóteses em que se constata, sem o revolvimento de matéria fático-probatória, a ausência de indícios de autoria e de prova da materialidade, a atipicidade da conduta oua extinção da punibilidade, o que não se observa neste caso. Precedentes. 2. A alegação de inépcia da denúncia deve ser analisada de acordo com os requisitos exigidos pelosarts. 41 do CPP e 5º, LV, da CF/1988. Portanto, a peça acusatória deve conter a exposição do fatodelituoso em toda a sua essência e com todas as suas circunstâncias, de maneira a individualizar oquanto possível a conduta imputada, bem como sua tipificação, com vistas a viabilizar a persecuçãopenal e o contraditório pelo réu.

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3. Quanto ao caso, relativo a crimes societários, vale ressaltar que, segundo entendimento reiteradodesta Corte, "embora a vestibular acusatória não possa ser de todo genérica, é válida quando, apesarde não descrever minuciosamente as atuações individuais dos acusados, demonstra um liame entre oseu agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a plausibilidade da imputação e possibilitando oexercício da ampla defesa, caso em que se consideram preenchidos os requisitos do artigo 41 doCódigo de Processo Penal" (RHC 55.597/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,julgado em 28/4/2015).4. Não assiste razão ao recorrente ao alegar a inépcia da denúncia que, a toda evidência,preenche os requisitos exigidos pelo art. 41 do CPP, porquanto está demonstrado o vínculosubjetivo entre o paciente e os fatos a ele atribuídos como crimes contra a ordem tributária,com indicação, inclusive, da condição de único sócio administrador da empresa "BWOFFSHORE DO BRASIL LTDA", o que justifica a plausibilidade jurídica da imputação.5. Recurso desprovido.(RHC 61.765/RJ, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 03/12/2015, DJe10/12/2015)

HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DOPROCESSO. INÉPCIA DA INICIAL CONFIGURADA. DENÚNCIA QUE NÃO ATENDE AOSREQUISITOS LEGAIS. MANIFESTA ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA.1. Segundo entendimento reiterado desta Corte, quanto aos crimes societários, ainda que adenúncia possa ser genérica, sem a atribuição detalhada de cada ação ou omissão delituosa acada agente, é imprescindível a demonstração do nexo causal entre a posição do agente naempresa e a prática delitiva por ele supostamente perpetrada, possibilitando, desse modo, oexercício amplo de sua defesa.2. É ilegítima a persecução criminal quando, comparando-se os tipos penais apontados na denúnciacom as condutas atribuídas aos denunciados, verifica-se ausente o preenchimento dos requisitos doart. 41 do Código de Processo Penal, necessário ao exercício do contraditório e da ampladefesa.3. A denúncia não apontou, ainda que minimamente, o vínculo subjetivo entre o paciente e osfatos a ele atribuídos como crimes contra a ordem tributária, deixando inclusive de indicar aeventual condição de sócio ou de administrador da empresa "Indústria Cataguases de PapelLtda." que pudesse estabelecer a plausibilidade jurídica das imputações e muito menos qualtributo teria sido suprimido ou reduzido.4. Os corréus encontram-se em situação fático-processual idêntica à do paciente, razão pela qualdevem ser-lhes estendidos os efeitos desta decisão, nos termos do art. 580 do CPP.5. Habeas corpus concedido, ex officio, para, confirmando a liminar, declarar a inépcia da denúncia eanular, ab initio, em favor de todos os acusados, o processo n. 0153.03.027.103-2, em trâmite naVara Criminal da Comarca de Cataguases-MG.(HC 280.680/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 23/06/2015,DJe 03/08/2015)

RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º, I E II,DA LEI N. 8.137/1990). PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA. INICIALQUE NÃO DEMONSTROU O MÍNIMO NEXO CAUSAL ENTRE O ACUSADO E A CONDUTA A ELEIMPUTADA. CONSIDERAÇÃO, APENAS, DA CONDIÇÃO DO RECORRENTE DENTRO DAEMPRESA. AUSÊNCIA DE MENÇÃO À COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO IMPUTADO.CONFIGURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA. CONSTRANGIMENTO ILEGALEVIDENCIADO. 1. Cumpre salientar, de início, que esta Corte pacificou o entendimento de que o trancamento de açãopenal pela via eleita é medida excepcional, cabível apenas quando demonstrada, de plano, a

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atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a manifesta ausência de provas da existênciado crime e de indícios de autoria. 2. No caso dos autos, observa-se que não se demonstrou de que forma o recorrente concorreupara o fato delituoso a ele imputado na acusação, tendo-lhe sido atribuída a conduta criminosaexclusivamente pelo fato de ele ser representante legal da empresa. 3. Este Superior de Justiça tem reiteradamente decidido ser inepta a denúncia que, mesmo emcrimes societários e de autoria coletiva, atribui responsabilidade penal à pessoa física,levando em consideração apenas a qualidade dela dentro da empresa, deixando dedemonstrar o vínculo desta com a conduta delituosa, por configurar, além de ofensa à ampladefesa, ao contraditório e ao devido processo legal, responsabilidade penal objetiva,repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio. 4. Recurso em habeas corpus provido para trancar a ação penal proposta contra o recorrente, semprejuízo de que outra denúncia seja oferecida, desde que preenchidas as exigências legais. (RHC 43.405/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 02/09/2014,DJe 22/09/2014)

3. BUSCA E APREENSÃO

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIAE RECEPTAÇÃO. NULIDADE DA BUSCA E APREENSÃO. DESNECESSIDADE DE CONSTITUIÇÃODEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. INDÍCIOS DA PRÁTICA DE DELITOS CUJAMATERIALIDADE NÃO DEPENDE DO ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. EXISTÊNCIA DEJUSTA CAUSA PARA A AUTORIZAÇÃO DA MEDIDA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃOEVIDENCIADO.1. Nos termos do verbete 24 da Súmula Vinculante, nos crimes materiais contra a ordem tributária éindispensável o esgotamento da via administrativa para que seja iniciada a persecução penal.2. Na hipótese dos autos, além da suposta prática do crime de sonegação fiscal, havia fundadassuspeitas de que os recorrentes estariam envolvidos no cometimento de outros ilícitos, como o dereceptação, que independem do preenchimento de qualquer condição para que sejam investigados.3. Não estando a cautelar de busca e apreensão fundada apenas na elucidação de ilícitos cujamaterialidade depende da constituição definitiva do crédito tributário, não há que se falar em falta dejusta causa para o deferimento da medida.BUSCA E APREENSÃO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO DA DECISÃO QUE AUTORIZOU A MEDIDA.MAGISTRADA QUE, REPORTANDO-SE À REPRESENTAÇÃO MINISTERIAL, APONTA AEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS QUE RECOMENDAM O DEFERIMENTO DA CAUTELAR. NULIDADENÃO CARACTERIZADA.1. O artigo 240 do Código de Processo Penal permite a busca e apreensão que, consoante o dispostonos artigos 243 do aludido diploma legal e 93, inciso IX da Constituição Federal, deve ser autorizadapor meio de decisão judicial fundamentada, notadamente porque implica limitação à liberdadeindividual.2. Na espécie, o Ministério Público apresentou justificativas plausíveis para a excepcional utilizaçãoda busca e apreensão, consistentes, entre outras, na impossibilidade de infiltração de agentes noescritório da rede de farmácias investigada, argumento que foi acolhido pela autoridade judiciária queo reputou idôneo, olvidando-se a defesa de trazer aos autos elementos de informação que indiquem oaçodamento da medida, não havendo que se falar em falta de fundamentação da decisão impugnada,o que afasta a mácula suscitada na irresignação. Precedentes.3. Recurso desprovido.(RHC 66.931/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 22/09/2016, DJe28/09/2016)

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4. COMPENSAÇÃO DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA A ORDEMTRIBUTÁRIA. ART. 1º, INCISO I, DA LEI N. 8.137/90. PEDIDO ADMINISTRATIVO DECOMPENSAÇÃO DE DÉBITOS COM PRECATÓRIOS. SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVAESTATAL. IMPOSSIBILIDADE. INSURGÊNCIA DESPROVIDA. 1. O simples requerimento de compensação dos débitos pelo contribuinte não impõe aimediata suspensão da pretensão punitiva estatal pois, consoante o disposto no artigo 68 daLei n. 11.941/09, tal benefício está adstrito aos débitos quanto aos quais a Fazenda Públicahouver efetivamente concedido parcelamento e que este corresponda à integralidade da dívidaa que se refere a ação penal em curso. 2. Não tendo havido o efetivo deferimento do pedido de compensação pela autoridade fazendária,mostra-se prematura a suspensão da persecução penal.3. Agravo regimental desprovido.(AgRg no REsp 1320191/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 28/03/2017,REPDJe 18/04/2017, DJe 05/04/2017)

5. COMPETÊNCIA

A competência para processar e para julgar os crimes materiais contra a ordemtributária é do local onde ocorrer a consumação do delito por meio da constituição definitivado crédito tributário.

Acórdãos

RHC 053434/SP,Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,Julgado em07/03/2017,DJE 15/03/2017;

CC 144872/RJ,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRASEÇÃO,Julgado em 25/02/2016,DJE 02/03/2016;

CC 120850/BA,Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em 08/08/2012,DJE 30/08/2012;

CC 110688/PR,Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em23/03/2011,DJE 30/03/2011;

REsp 1113460/SP,Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADORCONVOCADO DO TJ/SP), Julgado em 24/11/2009,DJE 14/12/2009;

CC 096497/SP,Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO,Julgado em 23/09/2009,DJE 08/10/2009.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X JUSTIÇA ESTADUAL.INQUÉRITO POLICIAL. DESCAMINHO. VENDA DE CIGARROS ESTRANGEIROS CUJAIMPORTAÇÃO É PERMITIDA PELA ANVISA, MAS QUE NÃO TÊM NOTA FISCAL. CONDUTAANTERIOR À LEI 13.008/2014. ART. 334, § 1º, ALÍNEA "D", DO CP. DESNECESSIDADE DE

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PARTICIPAÇÃO DO INVESTIGADO NO PROCESSO DE INTRODUÇÃO IRREGULAR DAMERCADORIA NO PAÍS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. Situação em que o investigado foi flagrado expondo à venda, em sua barraca de comércio informal,cigarros de importação permitida pela ANVISA, sem nota fiscal e sem comprovação de pagamento deimposto de importação.2. "Embora arrolado no CP entre os crimes contra a administração pública, (o descaminho) atentacontra a ordem tributária, na medida em que se configura pela ilusão do direito ou imposto devido porentrada, saída ou consumo de mercadoria, configurando uma infração penal tributária aduaneira. Emverdade, então, o descaminho é o mais antigo dos crimes contra a ordem tributária" (Baltazar Júnior,José Paulo. Crimes Federais. 10ª ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Saraiva, 2015, p. 355).3. "O descaminho, além de causar prejuízos ao erário, afeta de forma substancial as ordenseconômica e financeira do País em seus princípios basilares, tais como o da livre concorrência. Porcerto que o agente que introduz no mercado bens descaminhados terá larga e ilícita vantagemconcorrencial sobre os comerciantes que cumprem integralmente com suas obrigações legais"(Paulsen, Leandro. Crimes Federais. São Paulo: Saraiva, 2017. P. 352).4. Para que se configure a modalidade de descaminho descrita no caput do art. 334 do Código Penal(iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída oupelo consumo de mercadoria) é necessário identificar indícios de que o agente de alguma forma,dolosamente, aderiu e/ou participou do processo de introdução do bem no país sem o recolhimentodos tributos devidos.5. Entretanto, a lei também equipara ao descaminho a conduta descrita no § 1º, IV, do Código Penal,que atribui a mesma pena a quem "adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, noexercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira,desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos"(Incluído pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965). De se ressaltar que a mesma figura foi mantida nosmesmos termos após a alteração trazida pela Lei 13.008/2014.No caso concreto, a despeito de nãohaver, nos autos, indícios de que o investigado tenha participado da importação da mercadoria e donão recolhimento deliberado dos tributos de importação, o fato de ter sido flagrado, em seuestabelecimento comercial (ainda que informal), vendendo cigarros de origem estrangeira sem notafiscal pode, em tese, ser equiparado pela lei ao descaminho.6. Como o descaminho tutela prioritariamente interesses da União, é de se reconhecer a competênciada Justiça Federal para conduzir o inquérito policial e, eventualmente, caso seja oferecida denúncia,julgar a ação penal, aplicando-se à hipótese dos autos o disposto no enunciado n. 151 da Súmuladesta Corte.7. Conflito conhecido, a fim de declarar competente para conduzir o presente Inquérito Policial o Juízosuscitante, da Justiça Federal.(CC 159.680/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2018, DJe 20/08/2018)

6. CONEXÃO

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME DELAVAGEM DE CAPITAIS. AUTONOMIA. CRIMES ANTECEDENTES. OBTENÇÃO DE VANTAGEMOU IMPUNIDADE. CONEXÃO. PROCESSOS EM CURSO. AUSÊNCIA DE SENTENÇA.POSSIBILIDADE. AGRAVO PROVIDO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.1. Nos termos do art. 76, II, do Código de Processo Penal, a conexão objetiva ocorre se, ocorrendoduas ou mais infrações, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou paraconseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas.

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2. A conexão objetiva que poderia dar-se do branqueamento com o antecedente - para obtervantagem ou impunidade no crime prévio - somente ocorre durante o andamento do processo, antesda sentença, sempre admitindo-se a facultativa separação dos processos.3. Estando os processos relativos à prática do delito funcional contra a ordem tributária e do crime delavagem de capitais ainda em curso, não havendo sentença, impõe-se a conexão dos feitos, tendoem vista que a eventual prática do delito de branqueamento resultou das investigações ocorridas noprocedimento que ensejou a instauração da ação penal por crimes funcionais.4. Agravo regimental provido para dar provimento ao recurso especial, fixando a competência da 2ªVara Criminal da Comarca de Sorocaba/SP.(AgRg no REsp 1754773/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em05/02/2019, DJe 22/02/2019)

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME DELAVAGEM DE CAPITAIS. AUTONOMIA. CRIMES ANTECEDENTES. OBTENÇÃO DE VANTAGEMOU IMPUNIDADE. CONEXÃO. PROCESSOS EM CURSO. AUSÊNCIA DE SENTENÇA.POSSIBILIDADE. AGRAVO PROVIDO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Nos termos do art. 76, II, do Código de Processo Penal, a conexão objetiva ocorre se, ocorrendoduas ou mais infrações, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou paraconseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas. 2. A conexão objetiva que poderiadar-se do branqueamento com o antecedente - para obter vantagem ou impunidade no crime prévio -somente ocorre durante o andamento do processo, antes da sentença, sempre admitindo-se afacultativa separação dos processos.3. Estando os processos relativos à prática do delito funcional contra a ordem tributária e do crime delavagem de capitais ainda em curso, não havendo sentença, impõe-se a conexão dos feitos, tendoem vista que a eventual prática do delito de branqueamento resultou das investigações ocorridas noprocedimento que ensejou a instauração da ação penal por crimes funcionais.4. Agravo regimental provido para dar provimento ao recurso especial, fixando a competência da 2ªVara Criminal da Comarca de Sorocaba/SP.(AgRg no REsp 1754773/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em05/02/2019, DJe 22/02/2019)

PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DENÚNCIA QUECAPITULA CRIMES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DA JUSTIÇA ESTADUAL, MAS NARRAINÚMEROS FATOS RELACIONADOS A CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA PERTINENTESÀ COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. CONEXÃO PROBATÓRIA OU INSTRUMENTAL.OCORRÊNCIA. EXISTÊNCIA DE DENÚNCIA CONCOMITANTE QUE DISPONHAESPECIFICAMENTE SOBRE OS CRIMES JULGADOS ORIGINARIAMENTE PELA JUSTIÇAFEDERAL. PRESCINDIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.1. Cinge-se a controvérsia em definir se, no caso em exame, há (ou não) conexão. Isso porque, seconfigurada hipótese de conexão, o processamento e o julgamento dos crimes apontados peladenúncia constante destes autos - entre eles, delitos os quais, em princípio, seriam julgados pelaJustiça Estadual, tendo em vista prejuízo a sociedade de economia mista - ocorrerá em órgãojurisdicional integrante da Justiça Federal, de modo unificado, nos termos da Súmula 122 do STJ.2. Por meio de interpretação literal do art. 76, III, do CP, para que a competência seja modificada emrazão de conexão instrumental ou probatória, basta que a prova de um crime influa na prova de outro.Por exclusão, não se pode estabelecer requisito adicional, que não conste na legislação, comocondição de configuração dessa hipótese de conexão.3. Se a denúncia narra fatos, intimamente ligados, que dizem respeito tanto a crime de competênciada Justiça Estadual quanto a delito situado na esfera de competência da Justiça Federal, não se podeimpedir a conexão - e, portanto, a atração das causas para a Justiça Federal - simplesmente porque

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ainda não houve denúncia a qual captule especificamente o delito situado na esfera originária decompetência da Justiça Federal.4. Primeiro, porque tratar-se-ia de exigência não prevista em lei (em especial, no art. 76, III, do CPP).5. Segundo, porquanto a aparente competência da Justiça Federal não pode ser afastada de plano,tendo em vista o princípio da correlação, que é norteado pela causae petendi, uma vez que o réudefende-se dos fatos, não da capitulação jurídica correlata. Sendo assim, nada impede que omagistrado, em sua futura sentença, venha a condenar réu por delito não capitulado na peçaacusatória, desde que, por óbvio, os fatos considerados para tanto estejam descritos na denúncia.Precedentes do STJ e do STF.6. Terceiro, pois, nesses casos, a fixação da competência deve levar em conta o Juízo queaparentemente é e continuará a ser o competente para processar e julgar a(s) causa(s).7. A adoção, para fixação da competência, de juízo de aparência, e não de certeza, justifica-se, porsua vez, em razão de dois outros subfundamentos. Inicialmente, para que se prestigie os princípiosque justificam a própria existência do instituto da conexão - quais sejam a celeridade, a economiaprocessual e, ademais, a busca de coerência entre as decisões jurisdicionais, evitando-se, assim,decisões contraditórias. Além disso, porquanto, mesmo que, posteriormente, fique constatada ainexistência de crime em detrimento da União e, assim, a incompetência (superneviente) da JustiçaFederal, serão, em regra, válidos os atos (inclusive, os decisórios) praticados pelo Juízo federal,tendo em vista a possibilidade de futura aplicabilidade, mutatis mutandis, da chamada teoria do juízoaparente.8. O entendimento - que passou a ser denominado teoria do juízo aparente - surgiu como fundamentopara validar medidas cautelares autorizadas por Juízo aparentemente competente que, em momentoposterior, fora declarado incompetente. Contudo, a partir do julgamento do HC 83.006/SP (TribunalPleno, Relatora Ministra Ellen Gracie, julgado em 18/6/2006, DJ 29/8/2003), passou-se a entenderque mesmo atos decisórios - naquele caso, a denúncia e o seu recebimento - emanados deautoridades incompetentes rationae materiae seriam ratificáveis no juízo competente. Precedentes doSTF.9. No caso em exame, conquanto não conste na denúncia capitulação referente a crime contra aordem tributária, há, na peça acusatória, a descrição de inúmeros fatos que, provados, poderão vir aembasar eventuais condenações por crimes contra a ordem tributária praticados em detrimento daUnião.10. Hipótese em que o Ministério Público deixou de oferecer denúncia especificamente relacionadaao(s) delito(s) de competência originária da Justiça Federal por força do disposto na Súmulavinculante 24, do Supremo Tribunal Federal.11. O fato de não ocorrer, antes do lançamento definitivo, a tipificação de crime contra a ordemtributária previsto no art. 1º, I a IV, da Lei n. 8.137/1990 não significa que o fato delituosonecessariamente não tenha existido, tampouco a impossibilidade de oferecimento de nova denúncia.Sendo assim, não se pode afirmar que essa peculiar tipicidade material dos crimes contra a ordemtributária seja capaz de afastar por completo o futuro oferecimento de nova denúncia contra essesdelitos, ou nova capitulação, mormente na hipótese como a dos autos em que os fatos narrados peladenúncia, relacionados a esses crimes, sejam inúmeros, complexos e indiquem a sonegação, emtese, de vultosas cifras em prejuízo da União.12. Agravo regimental não provido.(AgRg no REsp 1275495/RJ, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em24/10/2017, DJe 31/10/2017)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEMTRIBUTÁRIA. DEFLAGRAÇÃO DE DUAS AÇÕES PENAIS CONTRA O ACUSADO.CONTINUIDADE DELITIVA. POSSIBILIDADE DE CONFIGURAÇÃO RECONHECIDA NA ORIGEM.INDEFERIMENTO DA REUNIÃO DOS PROCESSOS ANTE A DIFERENÇA DE FASES EM QUE SEENCONTRAVAM. ATUAL SITUAÇÃO PROCESSUAL QUE PERMITE A UNIFICAÇÃO DOS FEITOS.

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INEXISTÊNCIA DE SENTENÇA E DE RISCO DE TUMULTO NA PERSECUÇÃO CRIMINAL.CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. PROVIMENTO DO RECLAMO.1. A conexão e a continência implicam, via de regra, a unidade de processo e julgamento, consoantea previsão contida no artigo 79 da Lei Penal Adjetiva.2. Conquanto a diferença entre as fases processuais em que se encontram cada um dos feitosinstaurados contra o recorrente possa constituir, nos termos do artigo 80 da Lei Penal Adjetiva,fundamento idôneo para a negativa de sua unificação, em consulta à página eletrônica do Tribunal deJustiça do Estado do Ceará verificou-se que um deles está concluso para a prolação de sentença, aopasso que o outro ainda se encontra na fase instrutória, o que revela que a reunião pretendida nopresente reclamo não ensejará qualquer tumulto ou confusão processuais.3. Ao contrário, no atual estágio das ações penais em tela, a sua unificação possibilitará que sejamjulgadas conjuntamente, evitando a prolação de decisões contraditórias, providência que constitui oprincipal objetivo visado com a reunião prevista na Lei Processual Penal.4. Em arremate, é imperioso destacar que, de acordo com o enunciado 235 da Súmula desta CorteSuperior de Justiça, é a existência de sentença condenatória que em um dos feitos que impede aunificação de ações penais conexas, circunstância que não se verifica na hipótese.5. Recurso provido para determinar a reunião do Processo n. 1087626-98.2000.8.06.0001, em trâmiteperante a 2ª Vara de Execuções Fiscais e de Crimes contra a Ordem Tributária da comarca deFortaleza/CE, ao de n. 1038825-37.2000.8.06.0001, em curso na 1ª Vara de Execuções Fiscais eCrimes contra a Ordem Tributária da comarca de Fortaleza/CE, salvo se algum já se encontrarsentenciado.(RHC 37.714/CE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 03/02/2015, DJe11/02/2015)

7. CONSUNÇÃO

Aplica-se o princípio da consunção ou da absorção quando o delito de falso ou de estelionato (crime-meio) é praticado única e exclusivamente com a finalidade de sonegar tributo (crime-fim).

Acórdãos

AgRg no REsp 1313387/MT,Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,Julgado em 10/10/2017,DJE 18/10/2017;

AgRg no AREsp 1072977/DF,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,QUINTA TURMA,Julgado em 03/08/2017,DJE 16/08/2017;

HC 296489/SP,Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 06/12/2016, DJE16/12/2016;

RHC 037268/RJ,Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,Julgado em04/08/2016,DJE 17/08/2016;

AgRg no REsp 1358520/DF,Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Julgado em04/08/2015,DJE 20/08/2015;

RHC 035626/PR,Rel. Ministro ERICSON MARANHO (DESEMBARGADORCONVOCADO DO TJ/SP), Julgado em 05/02/2015,DJE 24/02/2015.

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8. CONTADOR

RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º, I EII, DA LEI N. 8.137/1990). INÉPCIA DA DENÚNCIA E ATIPICIDADE DA CONDUTA. INICIAL QUEIMPUTA AO RECORRENTE A CONDUTA DE CONCORRER PARA A SONEGAÇÃO FISCAL,APENAS PELO FATO DE ELE TER SIDO CONTRATADO COMO CONTADOR PARA A ABERTURADA FIRMA, CRIADA PELOS CORRÉUS PARA A PRÁTICA CRIMINOSA. INEXISTÊNCIA, AOMENOS, DE INDICAÇÃO DA CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO ACUSADO DA FINALIDADE PARA A QUALA EMPRESA SERIA CRIADA. EXISTÊNCIA DE PRESUNÇÃO DE RESPONSABILIDADE NA INICIALACUSATÓRIA. EXERCÍCIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA OBSTADO PELA NARRATIVADE CONDUTA QUE NÃO SE SUBSUME AOS TIPOS PENAIS IMPUTADOS. CONSTRANGIMENTOILEGAL EVIDENCIADO. 1. Esta Corte pacificou o entendimento segundo o qual o trancamento de ação penal pela via eleita émedida excepcional, cabível apenas quando demonstrada, de plano, a atipicidade da conduta, aextinção da punibilidade ou a manifesta ausência de provas da existência do crime e de indícios deautoria. 2. No caso, atribuiu-se ao acusado a prática de crime contra a ordem tributária, consistente naprática de condutas voltadas à sonegação fiscal (art. 1º, I e II, da Lei n. 8.137/1990), apenaspelo fato de ele ser o contador responsável pela abertura da firma utilizada pelos corréus paraa prática criminosa, deixando-se de indicar, ao menos, se ele teria ciência da finalidade para aqual a empresa seria criada.3. É ilegítima a persecução criminal quando, comparando-se o tipo penal apontado na denúncia coma conduta atribuída ao denunciado, verifica-se ausente o preenchimento dos requisitos do artigo 41do Código de Processo Penal, necessário ao exercício do contraditório e da ampla defesa (HC n.294.728/SP, Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 13/10/2014).4. A inexistência absoluta de elementos hábeis a descrever a relação entre os fatos delituosos e aautoria ofende o princípio constitucional da ampla defesa, tornando inepta a denúncia.Precedentes do STF e do STJ. Deve ser declarada a inépcia da denúncia e determinada a anulaçãoda ação penal em relação ao paciente (HC n. 171.976/PA, Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe13/12/2010).5. Recurso provido para trancar a ação penal proposta contra o recorrente, sem prejuízo de que outradenúncia seja oferecida, desde que observadas as exigências legais.(RHC 64.817/MA, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 08/03/2016,DJe 17/03/2016)

9. CRIME CONTINUADO

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. CRIMESCONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. CONTINUIDADE DELITIVA. LAPSO SUPERIOR A 30 DIAS.RECONHECIMENTO PELA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. POSSIBILIDADE.PRECEDENTES. AFERIÇÃODOS REQUISITOS. EXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. INCIDÊNCIA DASÚMULA 7/STJ.1. "Inexistindo previsão legal expressa a respeito do intervalo temporal necessário aoreconhecimento da continuidade delitiva, presentes os demais requisitos da ficção jurídica,não se mostra razoável afastá-la, apenas pelo fato de o intervalo ter ultrapassado 30 dias"(AgRg no AREsp 531.930/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgadoem 03/02/2015, DJe 13/02/2015).

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2. A análise acerca da presença, na espécie, dos requisitos necessários ao reconhecimento dacontinuidade delitiva entre os crimes contra a ordem tributária praticados no período compreendido defevereiro/2001 a abril/2001 e de agosto/2001 a novembro/2001 demandaria o revolvimento doconteúdo fático-probatório dos autos, o que é vedado nesta instância extraordinária, nos termos daSúmula 7 deste Sodalício.3. Agravo interno improvido.(AgRg no REsp 1613851/MT, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,julgado em 10/11/2016, DJe 13/12/2016)

10. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FALSIDADE IDEOLÓGICA.TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. FALSO QUE TERIA COMO ÚNICO OBJETIVO A SONEGAÇÃOFISCAL. DENÚNCIA QUE DESCREVE FATOS EM TESE TÍPICOS. FRAUDE QUE TERIAIMPLICAÇÕES NÃO RELACIONADAS À PRÁTICA DE CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.IMPOSSIBILIDADE DE ABSORÇÃO. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ELEITA.1. Em habeas corpus e em recurso ordinário em habeas corpus, somente deve ser obstada a açãopenal se restar demonstrada, de forma indubitável, a atipicidade da conduta, a ocorrência decircunstância extintiva da punibilidade e a ausência de indícios de autoria ou de prova damaterialidade do delito.2. De acordo com a jurisprudência pacífica deste Superior Tribunal de Justiça, o crime defalso, quando praticado exclusivamente para a sonegação de tributos, é absorvido pelo crimecontra a ordem tributária. 3. Na espécie, a narrativa contida na peça vestibular não permite extrair,com a certeza necessária para o trancamento do processo, que o crime de falso teria como únicoobjetivo a sonegação fiscal, como sustentado na irresignação.4. Para se aferir se o falso teria ou não se esgotado no ilícito contra a ordem tributária, serianecessário o exame de matéria fático-probatória, procedimento incompatível com a via eleita. Precedentes do STJ. 5. Recurso desprovido.(RHC 73.638/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 08/11/2016, DJe18/11/2016)

11. CRIME FORMAL

O delito do art. 1º, inciso V, da Lei n. 8.137/90 é formal e prescinde do processoadministrativo-fiscal para o desencadeamento da persecução penal, não se sujeitando aostermos da súmula vinculante n. 24 do STF.

Acórdãos

RHC 076937/MG,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTATURMA,Julgado em 21/02/2017,DJE 24/02/2017;

REsp 1377513/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Julgado em14/02/2017,DJE 23/02/2017;

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AgRg no REsp 1477691/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em11/10/2016,DJE 28/10/2016;

RHC 031062/DF, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, Julgado em02/08/2016,DJE 12/08/2016;

AgRg no REsp 1534688/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,Julgado em 15/03/2016,DJE 28/03/2016;

HC 232877/CE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, Julgado em26/08/2014,DJE 02/09/2014.

A consumação do crime previsto no parágrafo único do art. 1º da Lei n. 8.137/1990 ocorre com a simples inobservância à exigência da autoridade fiscal.

Acórdãos

AgRg no AREsp 1126039/SP,Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,QUINTA TURMA,Julgado em 21/11/2017,DJE 29/11/2017;

HC 241770/RJ,Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Julgado em21/06/2016,DJE 29/06/2016.

12. CRIME MATERIAL

Os delitos tipificados no art. 1º, I a IV, da Lei n. 8.137/90 são materiais, dependendo,para a sua consumação, da efetiva ocorrência do resultado.

Acórdãos

RHC 083103/RS,Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Julgado em 01/06/2017,DJE 09/06/2017;

RHC 061790/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, Julgado em13/12/2016,DJE 19/12/2016;

AgRg no AREsp 765951/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,QUINTA TURMA, Julgado em 20/09/2016,DJE 26/09/2016;

REsp 1390649/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Julgado em24/05/2016,DJE 06/06/2016;

HC 043724/MT, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 09/12/2014, DJE19/12/2014;

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RHC 034883/RN, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, Julgado em02/10/2014,DJE 14/10/2014.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA ANTERIOR À EDIÇÃO DA SÚMULA VINCULANTE N.24/STF. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL. DIVERGÊNCIA CONFIGURADA. ADOÇÃODO POSICIONAMENTO CONSAGRADO NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. NECESSIDADE DACONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA PROVIDOS.I - Segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, os embargos de divergência temcomo finalidade precípua a uniformização de teses jurídicas divergentes, aplicadas dentro de ummesmo contexto.II - A análise da prescrição dos crimes materiais contra a ordem tributária deve se dar à luz daSúmula Vinculante n. 24 do Supremo Tribunal Federal, que dispõe: "não se tipifica crimematerial contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes dolançamento definitivo do tributo". Desse modo, nos termos do art. 111, do Código Penal, aprescrição da pretensão punitiva somente tem seu início com a constituição definitiva docrédito, momento em que se consuma o delito.III - Constituindo a súmula vinculante n. 24 mera consolidação de remansosa interpretação judicial,tem aplicação aos fatos ocorridos anteriormente à sua edição. Precedentes IV - Não transcorrido o lapso prescricional entre a constituição definitiva do crédito e o recebimento dadenúncia, ou entre esta e a prolação de sentença condenatória, impõe-se a reforma do julgado que adeclara consumada, com a consequente devolução dos autos à respectiva Turma para apreciaçãodas demais teses recursais levantadas.Embargos de divergência providos.(EREsp 1318662/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/11/2018,DJe 04/12/2018)

13. DENÚNCIA

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIMECONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA.REQUISITOS DO ART. 41 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. DESCRIÇÃO ADEQUADA. NÃO INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS. POSSIBILIDADE. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. NECESSIDADE DE REEXAME DE FATOS EPROVAS. RECURSO IMPROVIDO. 1. O trancamento da ação penal somente é possível, na via estreita do habeas corpus, em caráterexcepcional, quando se comprovar, de plano, a inépcia da denúncia, a atipicidade da conduta, aincidência de causa de extinção da punibilidade ou a ausência de indícios de autoria ou de prova damaterialidade do delito.2. Pela leitura da inicial acusatória, da decisão que analisou a resposta à acusação, bem como doacórdão recorrido, verifica-se que a denúncia é suficientemente clara e concatenada, e atende aosrequisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, não revelando quaisquer vícios formais. De fato,encontra-se descrito o fato criminoso, com todas as circunstâncias necessárias a delimitar aimputação, encontrando-se devidamente assegurado o exercício da ampla defesa.3. Nos casos de crimes societários e de autoria coletiva, tem se admitido a denúncia geral, aqual, apesar de não detalhar minudentemente as ações imputadas aos denunciados,demonstra, ainda que de maneira sutil, a ligação entre sua conduta e o fato delitivo, conformeocorre nos autos.

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4. Tendo a Corte a quo concluído pela presença de elementos indiciários suficientes para sustentar amaterialidade delitiva e apontar para a autoria, eventual mudança de entendimento a respeito dapersistência de lastro probatório suficiente para justificar a continuidade da persecução criminal,depende de novo e aprofundado exame do conjunto de fatos e provas carreados aos autos,providência não comportada pelos estreitos limites cognitivos do habeas corpus.5. Agravo regimental improvido.(AgRg no RHC 108.775/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,julgado em 21/05/2019, DJe 03/06/2019)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRAA ORDEM TRIBUTÁRIA. DELITO SOCIETÁRIO. FALTA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA CONDUTA DARECORRENTE. RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA. INOCORRÊNCIA.PEÇA INAUGURAL QUE ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS E DESCREVE INFRAÇÃOPENAL EM TESE. AMPLA DEFESA GARANTIDA. INÉPCIA NÃO EVIDENCIADA. 1. O devido processo legal constitucionalmente garantido deve ser iniciado com a formulação de umaacusação que permita ao denunciado o exercício do seu direito de defesa, para que eventualcerceamento não macule a prestação jurisdicional reclamada.2. Nos crimes societários, embora não possa ser de todo genérica, a denúncia é válida quandodemonstra um liame entre o agir dos sócios ou administradores e a suposta prática delituosa, apesarde não individualizar pormenorizadamente as atuações de cada um deles, o que estabelece aplausibilidade da imputação e possibilita o exercício da ampla defesa, cumprindo o contido no artigo41 do Código Penal. Precedentes.3. No caso, a recorrente não foi denunciada simplesmente por ser sócia da empresaATLÂNTICA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, mas porque, na qualidade deadministradora da pessoa jurídica, tendo ciência e controle das transações e negóciosrealizados, bem como responsabilidade pela apuração e recolhimento do ICMS devido, alémdo dever de prestar informações fiscais às autoridades fazendárias, suprimiu e reduziu tributomediante fraude à fiscalização tributária, omitindo operações de saída de mercadoriastributáveis em documentos ou livros exigidos por lei, narrativa atende de forma satisfatória osrequisitos legais exigidos para que se garanta ao réu o exercício da ampla defesa e docontraditório.FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A PERSECUÇÃO CRIMINAL. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTODO CONJUNTO PROBATÓRIO. VIA INADEQUADA. 1. Em sede de habeas corpus e de recurso ordinário em habeas corpus somente deve ser obstada aação penal se restar demonstrada, de forma indubitável, a ocorrência de circunstância extintiva dapunibilidade, a ausência de indícios de autoria ou de prova da materialidade do delito, e ainda, aatipicidade da conduta.2. Estando a decisão impugnada em total consonância com o entendimento jurisprudencial firmadopor este Sodalício, não há que se falar em trancamento da ação penal, pois, de uma superficialanálise dos elementos probatórios contidos no presente reclamo, não se vislumbra estarem presentesquaisquer das hipóteses que autorizam a interrupção prematura da persecução criminal por esta via,já que seria necessário o profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente valoradaspelo juízo competente.NULIDADE DA DECISÃO QUE ANALISOU A RESPOSTA À ACUSAÇÃO. MATÉRIA NÃOAPRECIADA PELA CORTE DE ORIGEM. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. 1. A alegada nulidade da decisão que analisou a resposta à acusação apresentada pela defesa nãofoi apreciada pela Corte de origem no acórdão impugnado, circunstância que impede qualquermanifestação deste Sodalício sobre o tópico, sob pena de se configurar a prestação jurisdicional emindevida supressão de instância.Precedentes.2. O simples fato de a questão haver sido suscitada na inicial do remédio constitucionaloriginário não é suficiente para que possa ser debatida nesta instância, pois, diante da omissão daCorte de origem em examiná-la, cumpria à defesa opôs os competentes embargos de declaração.

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3. Agravo regimental desprovido.(AgRg no RHC 109.407/PB, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 07/05/2019,DJe 14/05/2019)

HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DOPROCESSO. INÉPCIA DA INICIAL CONFIGURADA. DENÚNCIA QUE NÃO ATENDE AOSREQUISITOS LEGAIS. MANIFESTA ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA E EXTENSIVA AOSCORRÉUS.1. Segundo entendimento reiterado desta Corte, quanto aos crimes societários, ainda que a denúnciaprescinda de atribuição detalhada da ação ou da omissão delituosa de cada agente, é imprescindívela demonstração do nexo causal entre a posição do sócio na empresa e a prática delitiva por elesupostamente perpetrada, de modo a possibilitar o exercício amplo da defesa.2. É ilegítima a persecução criminal quando ausente o preenchimento dos requisitos do art. 41 doCódigo de Processo Penal, necessário à compreensão da acusação.3. O Ministério Público não apontou, ainda que minimamente, o vínculo subjetivo entre o pacientecom os crimes tributários;cingiu-se a indicar sua condição de sócio da empresa autuada pelo fisco.4. O simples fato de o acusado ser sócio ou proprietário de pessoa jurídica é insuficiente parainferir sua participação nos fatos tidos como delituosos, sob pena de responsabilidadecriminal objetiva.5. Em nenhum momento a denúncia explicitou se o paciente seria detentor de poderes demando ou de administração da pessoa jurídica, ou mesmo se estava investido de poderesespeciais, quer para concretizar ou escriturar as operações mercantis, quer para representar aempresa perante a autoridade tributária.6. Habeas corpus concedido para declarar a inépcia da denúncia, sem prejuízo de que seja oferecidanova exordial com estrita observância dos ditames previstos no art. 41 do Código de Processo Penal.Ordem estendida aos corréus, com fulcro no art. 580 do CPP. (HC 291.623/MG, Rel. MinistroROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 07/02/2019, DJe 11/03/2019)

HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º, I, DA LEI N.8.137/1990) E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.INÉPCIA DA DENÚNCIA. RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA. FALTA DE JUSTA CAUSA.AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO DO ELEMENTO FRAUDE. CONSTRANGIMENTO ILEGALEVIDENCIADO. 1. A extinção da ação penal na via eleita consiste em medida excepcional, justificando-se somentequando se revelar, de plano, a atipicidade da conduta, causa extintiva da punibilidade, ou a ausênciade indícios mínimos de autoria. Nesse contexto, a jurisprudência desta Casa não aceita,ordinariamente, discussões fundadas na ausência de comprovação do elemento subjetivo do tipo ouna carência de indícios suficientes de autoria do delito, porquanto tais esclarecimentos demandam, namaior parte das vezes, apreciação detalhada dos elementos de convicção constantes do processo,providência manifestamente inconciliável com o rito célere do remédio constitucional. Precedentes.2. No caso, a peça acusatória, ao imputar aos pacientes a fraude à Fazenda Nacional, por meioda apresentação de declarações inverídicas de modo a suprimir o pagamento de tributos,baseou-se, apenas, nas funções desempenhadas pelos acusados no âmbito da pessoajurídica. Assim, o crime descrito no art. 1º, inciso I, da Lei n. 8.137/1990 foi atribuído aospacientes somente por ostentarem a qualidade de Presidente e Diretores da companhia. Odenunciante não minudenciou a conduta delituosa e o liame dos acusados com o crimenarrado na inicial, imputando-lhes o delito exclusivamente em razão dos altos cargosocupados por eles na empresa. Entretanto, a mera detenção dos postos de Presidente e deDiretores da pessoa jurídica, sem a descrição das competências desempenhadas pelos réusem relação aos fatos criminosos, não evidencia a autoria ou eventual anuência com o crime.

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Nos termos da orientação desta Corte, não é necessário ao denunciante elucidar aparticipação de cada acusado do crime societário. Porém, no caso, observa-se a absolutaausência de descrição do vínculo subjetivo dos acusados com o delito delineado na peçaacusatória. Evidente, portanto, o desrespeito aos princípios do contraditório e da ampladefesa. 3. De mais a mais, consoante se observa dos documentos acostados ao processo, embora aComunicação Fiscal ao Ministério Público aponte a existência de declaração inverídica dacontribuinte, não asseverou, nem sequer minimamente, à presença de fraude ou falsificação. Asindagações referentes a presença de práticas ardilosas foram todas respondidas negativamente pelosfuncionários fiscais. Assim, embora os pacientes possam ter recolhido de forma errônea o impostodevido, não descreveram os auditores fiscais nenhuma fraude ou ardil no procedimento. Além disso, apessoa jurídica contribuinte mantinha escorreita escrituração e apresentou todos os documentossolicitados por ocasião da autuação fiscal. Desse modo, não há nos autos dados inequívocosbastantes a demonstrar que a supressão ou a redução do tributo ocorrera mediante fraude oufalsificação. A peça acusatória encontra-se consubstanciada apenas na constituição definitiva docrédito tributário, concluindo o titular da ação penal pública, a partir daí, que a redução dos valores sedeu por meio de uma das condutas listadas no art. 1º da Lei 8.137/1990. Precedentes.4. Relativamente ao crime de associação criminosa, o Ministério Público não descreveu a associaçãoefetiva, tampouco o vínculo permanente de cada um dos membros com o grupo. A inicial apenas serefere ao delito previsto no art. 288 do Código Penal no momento da capitulação legal, porém semdelineá-lo, ainda que sucintamente.Portanto, evidente o constrangimento ilegal. Precedentes.5. Ordem concedida para determinar o trancamento da Ação Penal n. 0007676-60.2014.8.17.0001relativamente aos pacientes RONALDO IABRUDI DOS SANTOS PEREIRA, LUIZ EDUARDO FALCOPIRES CORREA, JOSE LUIS MAGALHAES SALAZAR, JULIO CESAR PINTO e PAULO ALTMAYERGONCALVES. (HC 351.718/PE, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,julgado em 16/10/2018, DJe 30/10/2018)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.ART. 1º, II, DA LEI N. 8.137/1990. TRANCAMENTO. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. OCORRÊNCIA.RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO. 1. Nos crimes tributários praticados em coautoria, a denúncia pode ser oferecida sem a atribuiçãopormenorizada e exauriente de cada ação ou omissão delituosa imputada aos acusados. Éimprescindível a demonstração, em linhas gerais, do vínculo entre a posição do agente na empresa eo crime imputado, de forma a propiciar o conhecimento da acusação e o exercício da ampla defesa.Precedentes.2. Em crime contra a ordem tributária, cometida supostamente por sócios-administradores deempresa, por período considerável de tempo, a inicial acusatória é idônea se, como naespécie, descreve o nexo entre os poderes de administração dos investigados na estruturasocietária e os fatos delitivos.3. O trancamento da ação penal (rectius do processo), no âmbito de habeas corpus, é medidaexcepcional, somente cabível quando demonstradas a absoluta ausência de provas da materialidadedo crime e de indícios de autoria (falta de justa causa), a atipicidade da conduta ou a existência decausa extintiva da punibilidade.4. Pelo contexto fático delineado nos autos, não havia elementos objetivos e racionais quefundamentassem a imputação contida na exordial acusatória, visto que, a partir dos depoimentosprestados por sócios da empresa, o relatório policial esclareceu que, "em que pesem os sócios DurvalGuimarães Filho e Maria Tenório Guimarães não terem sido localizados para procederem suasoitivas, os relatos dos demais sujeitos ativos indicam que quem de fato administrava a empresa era oinvestigado Durval Guimarães, motivo no qual foi procedido ao seu indiciamento indireto, semprejuízo do posterior envio das cartas precatórias quando foram devidamente cumpridas".

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5. Com lastro em elementos informativos assim documentados, mostra-se temerária a persecuçãopenal contra quem não se recolheram os mínimos indícios de autoria. Carência de justa causaevidenciada.6. Recurso provido, para determinar o trancamento do processo n. 0001825-97.2014.8.26.0483, emtrâmite na 2ª Vara Criminal da Comarca de Presidente Venceslau, apenas em relação aosrecorrentes. (RHC 76.487/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em09/10/2018, DJe 18/10/2018)

PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART.1º, I E II, 11 E 12 DA LEI N. 8.137/1990). PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.INÉPCIA DA DENÚNCIA. INICIAL QUE APONTA AS RECORRENTES COMO RESPONSÁVEISPELAS OBRIGAÇÕES COM O FISCO. POSSIBILIDADE DE EXERCÍCIO DO CONTRADITÓRIO EDA AMPLA DEFESA.AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL MANIFESTO.1. Evidenciado que a inicial narra, de forma clara, que as recorrentes figuravam no contratosocial como as únicas administradoras da empresa, a quem cabiam as obrigações perante oFisco, infere-se que não se mostra inepta a denúncia de forma a autorizar o trancamento daação penal.2. A descrição fática nessas condições, com uma narrativa congruente dos fatos, atende aosrequisitos exigidos na lei, uma vez que nela estão reunidos todos os elementos necessários àcaracterização do tipo penal de crime contra a ordem tributária, de forma suficiente não só parapropiciar ao recorrente o escorreito exercício do contraditório e da ampla defesa mas, também, paradeterminar o regular prosseguimento da ação penal contra ele deflagrada.3. A responsabilidade penal, nos crimes contra a ordem tributária, recai sobre aqueles que, à épocado fato gerador do tributo, eram os representantes legais da empresa.4. Recurso a que se nega provimento.(RHC 29.878/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 14/03/2017,DJe 22/03/2017)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.DELITO SOCIETÁRIO. FALTA DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA CONDUTA DO RECORRENTE.RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA PELO ILÍCITO FISCAL. PEÇA INAUGURAL QUE ATENDE AOSREQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS E DESCREVE INFRAÇÃO PENAL EM TESE. AMPLA DEFESAGARANTIDA. INÉPCIA NÃO EVIDENCIADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO.1. A hipótese cuida de denúncia que narra supostos delitos praticados por intermédio de pessoajurídica, a qual, por se tratar de sujeito de direitos e obrigações, e por não deter vontade própria, atuasempre por representação de uma ou mais pessoas naturais.2. Embora em um primeiro momento o elemento volitivo necessário para a configuração de umaconduta delituosa tenha sido considerado o óbice à responsabilização criminal da pessoa jurídica, écerto que nos dias atuais esta é expressamente admitida, conforme preceitua, por exemplo, o artigo225, § 3º, da Constituição Federal.3. E ainda que tal responsabilização seja possível apenas nas hipóteses legais, é certo que apersonalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática decondutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua condução.4. Não pode ser acoimada de inepta a denúncia formulada em obediência aos requisitos traçados noartigo 41 do Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente a conduta típica, cuja autoria éatribuída ao paciente devidamente qualificado, circunstâncias que permitem o exercício da ampladefesa no seio da persecução penal, na qual se observará o devido processo legal.

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5. Nos chamados crimes societários, embora a vestibular acusatória não possa ser de todo genérica,é válida quando, apesar de não descrever minuciosamente as atuações individuais dos acusados,demonstra um liame entre o seu agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a plausibilidade daimputação e possibilitando o exercício da ampla defesa, caso em que se consideram preenchidos osrequisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal.6. Na espécie, de acordo com a exordial, o recorrente, na qualidade de administrador daempresa Wog do Brasil Equipamentos Industriais Ltda., teria inserido elementos inexatos emlivro fiscal, e, por tal razão, deixado de recolher ICMS relativo à saída de mercadoria, descriçãoque atende de forma satisfatória as exigências legais para que se garanta ao réu o exercício daampla defesa e do contraditório.7. Recurso desprovido.(RHC 77.055/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe01/02/2017)

HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DOPROCESSO. INÉPCIA DA INICIAL CONFIGURADA. DENÚNCIA QUE NÃO ATENDE AOSREQUISITOS LEGAIS. MANIFESTA ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA E EXTENSIVA AOCORRÉU.1. Segundo entendimento reiterado desta Corte, quanto aos crimes societários, ainda que a denúnciapossa ser genérica, sem a atribuição detalhada de cada ação ou omissão delituosa a cada agente, éimprescindível a demonstração do nexo causal entre a posição do agente na empresa e a práticadelitiva por ele supostamente perpetrada, possibilitando, desse modo, o exercício amplo de suadefesa.2. É ilegítima a persecução criminal quando, comparando-se os tipos penais apontados na denúnciacom as condutas atribuídas aos denunciados, verifica-se ausente o preenchimento dos requisitos doart. 41 do Código de Processo Penal, necessário ao exercício do contraditório e da ampla defesa.3. A denúncia não apontou, ainda que minimamente, o vínculo subjetivo entre o paciente e ocorréu com crimes tributários, cingindo-se à indicação da condição de sócios-proprietários daempresa "GD Comercial Ltda.".4. O simples fato de os acusados serem sócios e proprietários de empresa não é suficientepara inferir sua participação nos fatos delituosos descritos, sob pena de responsabilidadecriminal objetiva.5. Em nenhum momento a denúncia apontou que os pacientes seriam detentores de poderesgerenciais, de mando ou de administração da referida empresa, ou mesmo investidos depoderes especiais, fosse para a concretização de movimentações financeiras, fosse pararepresentá-la perante à autoridade tributária.6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, ex officio, para declarar a inépcia da denúnciano que se refere ao paciente e, por extensão, ao corréu Marco Antônio Pacheco e, apenas emrelação a estes, anular, ab initio, a Ação Penal n. 014070108163, em trâmite na 3ª Vara Criminal daComarca de Colatina-ES, sem prejuízo de que seja oferecida nova denúncia em desfavor do pacientee do corréu, com estrita observância dos ditames previstos no art. 41 do Código de Processo Penal.(HC 121.035/ES, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 30/06/2016,DJe 03/08/2016)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. SONEGAÇÃO FISCAL. ALEGAÇÃO DEINÉPCIA FORMAL DA DENÚNCIA E DE FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL.IMPROCEDÊNCIA. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. O trancamento prematuro da persecução penal é medida excepcional, admissível somente quandoemergem dos autos, de plano e sem necessidade de apreciação probatória, a falta de justa causa, aatipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a inépcia formal da denúncia.

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2. Não há falar em inépcia da denúncia se a inicial preenche os requisitos do art. 41 do CPP eexplicita, de forma satisfatória, a conduta delitiva e as circunstâncias da sonegação fiscal,estabelecendo, com elementos que deverão ser aprofundados durante a instrução criminal,que os recorrentes, como administradores da pessoa jurídica, fraudaram a norma tributáriapara suprimir pagamento de ICMS. A afirmativa de que possuíam altos cargos e poderes dedeterminar, decidir e fazer com que os subordinados executassem os atos foi lastreada ematas das assembleias gerais ordinárias, que comprovam o exercício do mandato no períododescrito na denúncia.3. A tese de que os recorrentes, apesar de presidente e vice-presidentes da empresa, compoderes de administração e de gerência, não tiveram nenhum vínculo com a sonegação fiscalnão pode ser discutida no habeas corpus, por demandar análise vertical de provas indicadassomente pela defesa, sem o contraditório da parte adversa.4. É possível constatar que o Juízo cível excluiu os recorrentes da execução fiscal apenasporque não foram parte do processo administrativo aberto contra a pessoa jurídica, semafastar eventual responsabilidade pessoal dos gestores ou desconstituir o crédito tributárioobjeto da ação penal.5. A garantia do crédito tributário na execução fiscal - procedimento necessário para que oexecutado possa oferecer embargos - não possui, consoante o Código Tributário Nacional,natureza de pagamento voluntário ou de parcelamento da exação e, portanto, não fulmina ajusta causa para a persecução penal, pois não configura hipótese taxativa de extinção dapunibilidade ou de suspensão do processo penal.6. Como alinhavado pela instância ordinária, a legislação penal em matéria de crimes contra aordem tributária já é benevolente com aqueles que incorrem nestes delitos, pois prevê formasde extinção da punibilidade e de suspensão do processo não proporcionadas aos crimes emgeral.7. Assim, não deve ser admitida a ampliação da benesse legal de forma automática, toda vezque o agente garantir a execução fiscal para oferecer embargos, sem que haja provainequívoca do pagamento ou do parcelamento do tributo, máxime porque o crime pressupõe,além do inadimplemento, a prática de conduta ardilosa para violar a ordem tributária.8. Recurso ordinário não provido.(RHC 65.221/PE, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 07/06/2016,DJe 27/06/2016)

PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIMECONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. AFASTAMENTO. ARGUIÇÃO APÓSSENTENÇA. IMPOSSIBILIDADE.1. Conforme se observa na denúncia, houve a narrativa das condutas criminosas imputadas aosdenunciados acerca da prática do crime em questão, com todas as circunstâncias relevantes, demaneira suficiente ao exercício do direito de defesa. Assim, nos termos da jurisprudência desta CorteSuperior de Justiça, "não há como reconhecer a inépcia da denúncia se a descrição da pretensaconduta delituosa foi feita de forma suficiente ao exercício do direito de defesa, com a narrativa detodas as circunstâncias relevantes, permitindo a leitura da peça acusatória a compreensão daacusação, com base no artigo 41 do Código de Processo Penal" (RHC 46.570/SP, Rel. MinistraMARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, julgado em 20/11/2014, DJe 12/12/2014).2. Não se desconhece que "esta Corte Superior tem reiteradamente decidido ser inepta adenúncia que, mesmo em crimes societários e de autoria coletiva, atribui responsabilidadepenal à pessoa física, levando em consideração apenas a qualidade dela dentro da empresa,deixando de demonstrar o vínculo desta com a conduta delituosa, por configurar, além deofensa à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal, responsabilidade penalobjetiva, repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio" (RHC 35.687/SP, Rel. MinistroSEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sesta Turma, julgado em 18/09/2014, DJe 07/10/2014). Contudo, nocaso dos autos, a peça inaugural explicita que os acusados, na condição de administradores

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da empresa, reduziram tributo estadual de ICMS, fraudando a fiscalização tributária, aoomitirem a registro (no Livro Fiscal de Saídas) os valores consignados em documentos fiscaisde saídas de mercadoria, que foi descoberto pelo Fisco estadual ao confrontarem os valoresdas notas fiscais emitidas com os valores de vendas informados no Livro de Registro deEntradas da empresa, razão pela qual não há que se falar em defeito na inicial acusatória.3. Ademais, o entendimento do STJ é no sentido de que "a superveniência da sentença penalcondenatória torna esvaída a análise do pretendido reconhecimento de inépcia da denúncia, issoporque o exercício do contraditório e da ampla defesa foi viabilizado em sua plenitude durante ainstrução criminal" (AgRg no AREsp 537.770/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SextaTurma, julgado em 4/8/2015, DJe 18/08/2015).4. Agravo regimental não provido.(AgRg no REsp 1549392/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,julgado em 02/06/2016, DJe 10/06/2016)

HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DOPROCESSO. INÉPCIA DA INICIAL CONFIGURADA. DENÚNCIA QUE NÃO ATENDE AOSREQUISITOS LEGAIS. MANIFESTA ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA.1. Segundo entendimento reiterado desta Corte, quanto aos crimes societários, ainda que a denúnciapossa ser genérica, sem a atribuição detalhada de cada ação ou omissão delituosa a cada agente, éimprescindível a demonstração do nexo causal entre a posição do agente na empresa e a práticadelitiva por ele supostamente perpetrada, possibilitando, desse modo, o exercício amplo de suadefesa.2. É ilegítima a persecução criminal quando, comparando-se os tipos penais apontados na denúnciacom as condutas atribuídas aos denunciados, verifica-se ausente o preenchimento dos requisitos doart. 41 do Código de Processo Penal, necessário ao exercício do contraditório e da ampla defesa.3. A denúncia não apontou, ainda que minimamente, o vínculo subjetivo entre os pacientes eos fatos a eles atribuídos como crimes contra a ordem tributária, cingindo-se à indicação dacondição de sócios-proprietários da empresa "Ramberger&Ramberger Ltda.".4. O simples fato de os acusados serem sócios e proprietários da empresa constante dadenúncia não pode levar a crer, necessariamente, que eles tivessem participação nos fatosdelituosos, a ponto de se ter dispensado ao menos uma sinalização de sua conduta, ainda quebreve, sob pena de ficar configurada a repudiada responsabilidade criminal objetiva.5. Em nenhum momento, a denúncia apontou que os pacientes seriam detentores de poderesgerenciais, de mando ou de administração da referida empresa, ou mesmo possuidores depoderes especiais, fosse para a concretização de movimentações financeiras, fosse pararepresentá-la junto à autoridade tributária.6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, ex officio, para, confirmando a liminar, declarar ainépcia da denúncia e anular, ab initio, em favor de todos os pacientes, o Processo n. 050.00.097243-6, em trâmite na 2ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo, sem prejuízo de que seja oferecida novadenúncia em desfavor dos pacientes, com estrita observância dos ditames previstos no art. 41 doCódigo de Processo Penal.(HC 82.873/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 17/03/2016,DJe 01/04/2016)

PENAL E PROCESSO PENAL. CRIME PREVISTO NO ART. 334 DO CÓDIGO PENAL.INÉPCIA DA INICIAL ACUSATÓRIA. INEXISTÊNCIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ART. 41DO CPP. DEMONSTRADA A MÍNIMA CORRELAÇÃO DOS FATOS DELITUOSOS COM AATIVIDADE DO ACUSADO. RECURSO DESPROVIDO.1. A jurisprudência dos tribunais superiores admite o trancamento do inquérito policial ou de açãopenal, excepcionalmente, nas hipóteses em que se constata, sem o revolvimento de matéria fático-

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probatória, a ausência de indícios de autoria e de prova da materialidade, a atipicidade da conduta oua extinção da punibilidade, o que não se observa neste caso. Precedentes.2. A alegação de inépcia da denúncia deve ser analisada de acordo com os requisitos exigidos pelosarts. 41 do CPP e 5º, LV, da CF/1988. Portanto, a peça acusatória deve conter a exposição do fatodelituoso em toda a sua essência e com todas as suas circunstâncias, de maneira a individualizar oquanto possível a conduta imputada, bem como sua tipificação, com vistas a viabilizar a persecuçãopenal e o contraditório pelo réu.3. Quanto ao caso, relativo a crimes societários, vale ressaltar que, segundo entendimento reiteradodesta Corte, "embora a vestibular acusatória não possa ser de todo genérica, é válida quando, apesarde não descrever minuciosamente as atuações individuais dos acusados, demonstra um liame entre oseu agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a plausibilidade da imputação e possibilitando oexercício da ampla defesa, caso em que se consideram preenchidos os requisitos do artigo 41 doCódigo de Processo Penal" (RHC 55.597/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,julgado em 28/4/2015).4. Não assiste razão ao recorrente ao alegar a inépcia da denúncia que, a toda evidência,preenche os requisitos exigidos pelo art. 41 do CPP, porquanto está demonstrado o vínculosubjetivo entre o paciente e os fatos a ele atribuídos como crimes contra a ordem tributária,com indicação, inclusive, da condição de único sócio administrador da empresa "BWOFFSHORE DO BRASIL LTDA", o que justifica a plausibilidade jurídica da imputação.5. Recurso desprovido.(RHC 61.765/RJ, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 03/12/2015, DJe10/12/2015)HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DO PROCESSO.INÉPCIA DA INICIAL CONFIGURADA. DENÚNCIA QUE NÃO ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS.MANIFESTA ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA.1. Segundo entendimento reiterado desta Corte, quanto aos crimes societários, ainda que adenúncia possa ser genérica, sem a atribuição detalhada de cada ação ou omissão delituosa acada agente, é imprescindível a demonstração do nexo causal entre a posição do agente naempresa e a prática delitiva por ele supostamente perpetrada, possibilitando, desse modo, oexercício amplo de sua defesa.2. É ilegítima a persecução criminal quando, comparando-se os tipos penais apontados na denúnciacom as condutas atribuídas aos denunciados, verifica-se ausente o preenchimento dos requisitos doart. 41 do Código de Processo Penal, necessário ao exercício do contraditório e da ampladefesa.3. A denúncia não apontou, ainda que minimamente, o vínculo subjetivo entre o paciente e osfatos a ele atribuídos como crimes contra a ordem tributária, deixando inclusive de indicar aeventual condição de sócio ou de administrador da empresa "Indústria Cataguases de PapelLtda." que pudesse estabelecer a plausibilidade jurídica das imputações e muito menos qualtributo teria sido suprimido ou reduzido.4. Os corréus encontram-se em situação fático-processual idêntica à do paciente, razão pela qualdevem ser-lhes estendidos os efeitos desta decisão, nos termos do art. 580 do CPP.5. Habeas corpus concedido, ex officio, para, confirmando a liminar, declarar a inépcia da denúncia eanular, ab initio, em favor de todos os acusados, o processo n. 0153.03.027.103-2, em trâmite naVara Criminal da Comarca de Cataguases-MG.(HC 280.680/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 23/06/2015,DJe 03/08/2015)

RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º, I E II,DA LEI N. 8.137/1990). PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA. INICIALQUE NÃO DEMONSTROU O MÍNIMO NEXO CAUSAL ENTRE O ACUSADO E A CONDUTA A ELEIMPUTADA. CONSIDERAÇÃO, APENAS, DA CONDIÇÃO DO RECORRENTE DENTRO DAEMPRESA. AUSÊNCIA DE MENÇÃO À COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO IMPUTADO.

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CONFIGURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA. CONSTRANGIMENTO ILEGALEVIDENCIADO.1. Cumpre salientar, de início, que esta Corte pacificou o entendimento de que o trancamento de açãopenal pela via eleita é medida excepcional, cabível apenas quando demonstrada, de plano, aatipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a manifesta ausência de provas da existênciado crime e de indícios de autoria.2. No caso dos autos, observa-se que não se demonstrou de que forma o recorrente concorreupara o fato delituoso a ele imputado na acusação, tendo-lhe sido atribuída a conduta criminosaexclusivamente pelo fato de ele ser representante legal da empresa.3. Este Superior de Justiça tem reiteradamente decidido ser inepta a denúncia que, mesmo emcrimes societários e de autoria coletiva, atribui responsabilidade penal à pessoa física,levando em consideração apenas a qualidade dela dentro da empresa, deixando dedemonstrar o vínculo desta com a conduta delituosa, por configurar, além de ofensa à ampladefesa, ao contraditório e ao devido processo legal, responsabilidade penal objetiva,repudiada pelo ordenamento jurídico pátrio.4. Recurso em habeas corpus provido para trancar a ação penal proposta contra o recorrente, semprejuízo de que outra denúncia seja oferecida, desde que preenchidas as exigências legais.(RHC 43.405/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 02/09/2014,DJe 22/09/2014)

14. DESCAMINHO

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL X JUSTIÇA ESTADUAL.INQUÉRITO POLICIAL. DESCAMINHO. VENDA DE CIGARROS ESTRANGEIROS CUJAIMPORTAÇÃO É PERMITIDA PELA ANVISA, MAS QUE NÃO TÊM NOTA FISCAL. CONDUTAANTERIOR À LEI 13.008/2014. ART. 334, § 1º, ALÍNEA "D", DO CP. DESNECESSIDADE DEPARTICIPAÇÃO DO INVESTIGADO NO PROCESSO DE INTRODUÇÃO IRREGULAR DAMERCADORIA NO PAÍS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.1. Situação em que o investigado foi flagrado expondo à venda, em sua barraca de comércio informal,cigarros de importação permitida pela ANVISA, sem nota fiscal e sem comprovação de pagamento deimposto de importação.2. "Embora arrolado no CP entre os crimes contra a administração pública, (o descaminho) atentacontra a ordem tributária, na medida em que se configura pela ilusão do direito ou imposto devido porentrada, saída ou consumo de mercadoria, configurando uma infração penal tributária aduaneira. Emverdade, então, o descaminho é o mais antigo dos crimes contra a ordem tributária" (Baltazar Júnior,José Paulo. Crimes Federais. 10ª ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: Saraiva, 2015, p. 355).3. "O descaminho, além de causar prejuízos ao erário, afeta de forma substancial as ordenseconômica e financeira do País em seus princípios basilares, tais como o da livre concorrência. Porcerto que o agente que introduz no mercado bens descaminhados terá larga e ilícita vantagemconcorrencial sobre os comerciantes que cumprem integralmente com suas obrigações legais"(Paulsen, Leandro. Crimes Federais. São Paulo: Saraiva, 2017. P. 352).4. Para que se configure a modalidade de descaminho descrita no caput do art. 334 do Código Penal(iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída oupelo consumo de mercadoria) é necessário identificar indícios de que o agente de alguma forma,dolosamente, aderiu e/ou participou do processo de introdução do bem no país sem o recolhimentodos tributos devidos.5. Entretanto, a lei também equipara ao descaminho a conduta descrita no § 1º, IV, do Código Penal,que atribui a mesma pena a quem "adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, noexercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira,desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos"

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(Incluído pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965). De se ressaltar que a mesma figura foi mantida nosmesmos termos após a alteração trazida pela Lei 13.008/2014.No caso concreto, a despeito de nãohaver, nos autos, indícios de que o investigado tenha participado da importação da mercadoria e donão recolhimento deliberado dos tributos de importação, o fato de ter sido flagrado, em seuestabelecimento comercial (ainda que informal), vendendo cigarros de origem estrangeira sem notafiscal pode, em tese, ser equiparado pela lei ao descaminho.6. Como o descaminho tutela prioritariamente interesses da União, é de se reconhecer a competênciada Justiça Federal para conduzir o inquérito policial e, eventualmente, caso seja oferecida denúncia,julgar a ação penal, aplicando-se à hipótese dos autos o disposto no enunciado n. 151 da Súmuladesta Corte.7. Conflito conhecido, a fim de declarar competente para conduzir o presente Inquérito Policial o Juízosuscitante, da Justiça Federal.(CC 159.680/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2018, DJe 20/08/2018)

HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO CABÍVEL.UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. NÃO CONHECIMENTO. 1. A via eleita se revela inadequada para a insurgência contra o ato apontado como coator, pois oordenamento jurídico prevê recurso específico para tal fim, circunstância que impede o seu formalconhecimento. Precedentes. 2. O alegado constrangimento ilegal será analisado para a verificação daeventual possibilidade de atuação ex officio, nos termos do artigo 654, § 2º, do Código de ProcessoPenal.DESCAMINHO. DELITO FORMAL. DESNECESSIDADE DE CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DOCRÉDITO TRIBUTÁRIO PARA QUE SEJA INICIADA A PERSECUÇÃO CRIMINAL.IMPOSSIBILIDADE DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. COAÇÃO ILEGAL INEXISTENTE.1. A partir do julgamento do HC n. 218.961/SP, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiçaassentou o entendimento de que o delito de descaminho é formal, se configurando com o simples atode iludir o pagamento do imposto devido pela entrada de mercadoria no país.Precedentes do STJ e do STF.2. O bem jurídico tutelado pelo artigo 334 do Estatuto Repressivo ultrapassa o valor doimposto iludido ou sonegado, pois, além de lesar o Fisco, atinge a estabilidade das atividadescomerciais dentro do país, dá ensejo ao comércio ilegal e à concorrência desleal, gerando umasérie de prejuízos para a atividade empresarial brasileira.3. Assim, o descaminho não pode ser equiparado aos crimes materiais contra a ordem tributária, oque revela a desnecessidade de constituição definitiva do crédito tributário para que seja alvo depersecução penal.3. Habeas corpus não conhecido.(HC 291.913/ES, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/11/2015, DJe13/11/2015)

15. DOLO

O tipo penal do art. 1º da Lei n. 8.137/90 prescinde de dolo específico, sendo suficiente a presença do dolo genérico para sua caracterização.

Acórdãos

AgRg no REsp 1477691/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 11/10/2016,DJE 28/10/2016;

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REsp 1390649/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Julgado em 24/05/2016,DJE 06/06/2016;

AgRg no REsp 1504695/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,Julgado em 01/12/2015,DJE 11/12/2015;

AgRg no AREsp 604797/DF, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA,Julgado em 17/11/2015,DJE 09/12/2015;

AgRg no AREsp 253828/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Julgado em24/03/2015,DJE 09/04/2015;

AgRg no Ag 1157263/PR, Rel. Ministra MARILZA MAYNARD(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/SE), Julgado em 08/04/2014,DJE28/04/2014.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA AORDEM TRIBUTÁRIA. (ART. 1º DA LEI N. 8.137/1990). MATERIALIDADE DELITIVA. SÚMULA7/STJ. SÚMULA VINCULANTE. CONSOLIDAÇÃO DE ENTENDIMENTO APLICADO ANTES DE SUAEDIÇÃO. DOLO ESPECÍFICO. PRESCINDIBILIDADE. SÚMULA 568/STJ. RECURSO IMPROVIDO. 1. A questão relativa à existência de provas da materialidade delitiva não prescinde do revolvimentodo conteúdo fático-probatório dos autos. Incidência do enunciado n. 7 da Súmula deste Tribunal.2. A Súmula vinculante não retroagiu para prejudicar os agravantes, porquanto, apesar da suapublicação ter sido realizada em 11/12/2009, seu conteúdo reflete jurisprudência há muito tempoaplicada.3. O entendimento exarado pelo eg. Tribunal está em consonância com a orientaçãoconsolidada por esta C. Corte, segundo a qual os crimes previstos no art. 1º da Lei n.8.137/1990 não exigem o dolo específico de fraudar a entidade pública. Precedentes. Súmula83 do STJ (ut, AgRg no REsp 1556167/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJe22/11/2017).4. Agravo regimental improvido.(AgRg no AREsp 1404983/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,julgado em 04/06/2019, DJe 14/06/2019)

16. DOSIMETRIA DA PENA-BASE

Nos crimes tributários, o montante do tributo sonegado, quando expressivo, é motivoidôneo para o aumento da pena-base, tendo em vista a valoração negativa das consequênciasdo crime.

Acórdãos

AgRg nos EDcl no REsp 1413548/MG,Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,Julgado em 15/08/2017,DJE 24/08/2017;

AgRg no AREsp 1062447/AP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,QUINTA TURMA,Julgado em 23/05/2017,DJE 31/05/2017;

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AgRg no AgRg no AREsp 039737/MG, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHAPALHEIRO, Julgado em 27/04/2017,DJE 08/05/2017;

AgRg no REsp 1546239/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,Julgado em 13/09/2016,DJE 30/09/2016;

AgRg no AREsp 528519/PE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Julgado em27/10/2015,DJE 16/11/2015;

AgRg no AREsp 552244/SP, Rel. Ministro ERICSON MARANHO(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), Julgado em 15/10/2015,DJE10/11/2015.

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSOESPECIAL.PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1.º DALEI N.º 8.137/90. ART. 155 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PROVAS NÃO REPETÍVEIS.CONSIDERAÇÃO PELO JULGADOR. POSSÍVEL, DESDE QUE SUBMETIDAS AOCONTRADITÓRIO DIFERIDO E COTEJADAS COM OUTROS ELEMENTOS DE CONVICÇÃOPRODUZIDOS EM JUÍZO. PRECEDENTES. ART. 617 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.JULGAMENTO DE RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA.ALTERAÇÃO DE FUNDAMENTOS.INEXISTÊNCIA DE MUDANÇA NA SITUAÇÃO DO RÉU. REFORMATIO IN PEJUS. NÃOCONFIGURADA. PRECEDENTES. PENA-BASE. FIXAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. SIGNIFICATIVO VALOR SONEGADO. MOTIVAÇÃO SUFICIENTE.ELEMENTO QUE NÃO SE AFIGURA INERENTE AO TIPO PENAL. PROPORCIONALIDADE.AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. As provas não repetíveis, desde que, tal como ocorre na espécie, sejam submetidas aocontraditório diferido e cotejadas com outros elementos de convicção produzidos em juízo - no caso,a prova testemunhal -, podem ser levadas em consideração para firmar o convencimento do julgador.2. A conclusão a que chegou a Corte a quo não implicou recrudescimento das penas aplicadas aoAgravante, sendo certo que "[...] é permitido ao Tribunal de origem agregar novos fundamentos paramanter a dosimetria fixada em primeiro grau, sem se falar em ofensa ao princípio da reformatio inpejus, desde que se valha de elementos contidos na sentença condenatória e não agrave a situaçãodo réu." (HC 459.015/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 04/09/2018,DJe 14/09/2018).3. Na espécie, a fixação da pena-base acima do mínimo legal foi suficientementefundamentada, tendo sido declinados elementos que emprestaram à conduta do Agravanteespecial reprovabilidade que não se afiguram inerentes ao próprio tipo penal, quais sejam, asconsequências do crime, à vista do significativo valor sonegado, isto é, R$ 458.951,39(quatrocentos e cinquenta e oito mil, novecentos e cinquenta e um reais e trinta e novecentavos) .4. Agravo regimental desprovido.(AgRg nos EDcl no REsp 1746600/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em19/03/2019, DJe 03/04/2019)

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PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIMES CONTRA ORDEMTRIBUTÁRIA. CAUSA DE AUMENTO. ART. 12, INCISO I, DA LEI N.º 8.137/90. VALOR SONEGADOQUE CAUSA GRAVE DANO À COLETIVIDADE. DEFINIÇÃO DE VALOR VULTOSO PARA FINS DEAPLICAÇÃO DA MAJORANTE. PORTARIA N.º 320/PGFN. INAPLICABILIDADE. CIRCUNSTÂNCIAQUE DEVE SER AFERIDA NO CASO CONCRETO EM RAZÃO DO VALOR SUPRIMIDO OUREDUZIDO. VALOR SONEGADO DE R$ 3.913.880,01 (TRÊS MILHÕES, NOVECENTOS E TREZEMIL, OITOCENTOS E OITENTA REAIS E UM CENTAVO). GRAVE DANO À COLETIVIDADECONFIGURADO. PRECEDENTES. SÚMULA N. 568/STJ. INCIDÊNCIA MANTIDA. AGRAVOREGIMENTAL DESPROVIDO.Esta Corte Superior de Justiça possui entendimento consolidado no sentido de que, "Aexpressão do valor sonegado, superior a R$1.000.000,00, é fundamentação idônea para sedecidir pela causa de aumento da pena do art. 12, caput e I, da Lei 8.137/90 [...]" (AgRg noREsp n. 1.566.267/RS, Quinta Turma, de minha relatoria, DJe 23/4/2018, sem grifos no original).Também é entendimento desta Corte que "Não é razoável o entendimento firmado peloTribunal de origem, que fixou o limite de tributos sonegados em R$ 10.000.000,00 (dez milhõesde reais), previsto no art. 2.º da Portaria n.º 320/PGFN, para fins de definição de "quantiavultosa", dado que a própria Fazenda Nacional (art. 14 da citada portaria) confereacompanhamento especializado e tratamento prioritário aos processos judiciais decontribuintes - também denominados "grandes devedores" - que tenham em discussão valorigual ou superior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais)" (AgRg no REsp n. 1.282.542/SC,Quinta Turma, Relª. Minª. Laurita Vaz, DJe de 28/8/2014, grifei). Agravo regimental desprovido.(AgRg no REsp 1657618/PE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em23/08/2018, DJe 05/09/2018)

RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. VIOLAÇÃO AO ART. 619DO CPP. INEXISTÊNCIA. RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. REEXAME DANATUREZA DO DOLO. IMPOSSIBILIDADE. REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA7/STJ. PENA-BASE. CUPIDEZ. LUCRO FÁCIL. CONTRARIEDADE AO ORDENAMENTO JURÍDICO.CIRCUNSTÂNCIAS ÍNSITAS AO TIPO PENAL. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. REDUÇÃO DAPENA-BASE. EXTENSÃO AOS CORRÉUS CONDENADOS NO ACÓRDÃO. ART. 580 DO CPP.1. Apreciadas, fundamentadamente, todas as questões necessárias à solução da controvérsia,inexiste violação ao art. 619 do CPP.2. A pretensão de restabelecimento da sentença absolutória, ou o reexame da natureza do dolo,implica o revolvimento de matéria fático-probatória, o que encontra óbice na Súmula 7/STJ.3. A cupidez, o lucro fácil e a contrariedade ao ordenamento jurídico vigente, por seremelementares do tipo penal de crime contra a ordem tributária, não constituem motivaçãoidônea para a elevação da pena-base acima do mínimo legal.4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta extensão, provido para reduzir a pena, comextensão aos corréus condenados no acórdão, nos termos do art. 580 do CPP.(REsp 1222305/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministro NEFICORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 02/06/2015, DJe 10/09/2015)

17. ESTELIONATO

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIMESCONTRA A ORDEM ECONÔMICA, FINANCEIRA, TRIBUTÁRIA, USO DE DOCUMENTO FALSO EFALSIDADE IDEOLÓGICA. EXAURIMENTO DO PROCEDIMENTO FISCAL. TRANCAMENTO DOINQUÉRITO POLICIAL. EXCEPCIONALIDADE. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. OCORRÊNCIA.DELITOS DE ESTELIONATO E FALSIDADE IDEOLÓGICA QUE SE APRESENTAM COMO MEIO

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NECESSÁRIO PARA A PRÁTICA DO CRIME DE SONEGAÇÃO FISCAL. ABSORÇÃO. RECURSOPROVIDO. I - A jurisprudência do excelso Supremo Tribunal Federal, bem como desta eg. Corte, há muito já sefirmou no sentido de que o trancamento do inquérito policial, por meio do habeas corpus, conquantopossível, é medida excepcional, cujo cabimento ocorre apenas nas hipóteses excepcionais em que,prima facie, mostra-se evidente, v.g., a atipicidade do fato ou a inexistência de autoria por parte doindiciado, situações essas não ocorrentes in casu (precedentes).II - Determina-se o trancamento de inquérito policial, quando restar demonstrado, de plano, aausência de justa causa para o seu prosseguimento devido à atipicidade da conduta atribuída aoinvestigado.III - Conforme preceitua o enunciado 24 da Súmula Vinculante do col.Pretório Excelso, "não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos Ia IV, da Lei nº 8.137790, antes do lançamento definitivo do tributo".IV - Em princípio, o crime de sonegação fiscal e os de falsidade ideológica e estelionato apresentamexistências autônomas, ainda que, ocasionalmente, se possa reconhecer a ocorrência somente docrime contra a ordem tributária.V - Os delitos constantes dos art. 171 e 299 do CP, somente são absorvidos pelo crime desonegação fiscal, se o falso teve como finalidade a sonegação, constituindo, em regra, meionecessário para a sua consumação.VI - Na hipótese, os crimes de falsidade ideológica e estelionato estão indissociavelmenteligados a descrição de um potencial crime contra a ordem tributária, razão pela qual são porele absorvidos.Recurso ordinário provido.(RHC 37.268/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2016, DJe17/08/2016)

18. FALSIDADE DOCUMENTAL

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ART. 293, § 1°, III, "B", DO CP. CRIMECONTRA A FÉ PÚBLICA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. RECURSO NÃOPROVIDO.1. O crime previsto no art. 293, § 1°, III, "b", do CP não possui natureza de crime contra aordem tributária, que exige resultado material para sua configuração; por opção do legislador,tutela a fé pública e, apenas indiretamente, o erário. A falsidade é motivada pela vontade deprejudicar direito, mas o tipo penal protege, precipuamente, a confiança reservada aos papéispúblicos representativos de arrecadação de tributos e, de forma secundária, a própriaarrecadação tributária.2. A falta de selo oficial prejudica a confiança depositada em papéis representativos daregularização fiscal das mercadorias expostas à venda, perante o fisco e os particulares. A fépública, bem intangível a que se refere o Título X da Parte Especial do Código Penal, deixou deser analisada para fins de aplicação do princípio da insignificância. A instância ordinária, paraafirmar a atipicidade material da conduta, analisou somente o valor dos tributos suprimidosem decorrência das mercadorias apreendidas sem selo, mas o agravante não foi denunciadopor incursão no art. 1° da Lei n. 8.137/1990.3. Sob a ótica do bem jurídico tutelado, não pode ser reconhecida a inexistência de periculosidadesocial da ação. O acórdão proferido pela instância ordinária está em confronto com a reiteradajurisprudência desta Corte, firme em assinalar que não se aplica o princípio da insignificância aoscrimes contra a fé pública.

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4. Agravo regimental não provido.(AgInt no REsp 1347319/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em07/02/2017, DJe 16/02/2017)

19. FALSIDADE IDEOLÓGICA

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIMESCONTRA A ORDEM ECONÔMICA, FINANCEIRA, TRIBUTÁRIA, USO DE DOCUMENTO FALSO EFALSIDADE IDEOLÓGICA. EXAURIMENTO DO PROCEDIMENTO FISCAL. TRANCAMENTO DOINQUÉRITO POLICIAL. EXCEPCIONALIDADE. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. OCORRÊNCIA.DELITOS DE ESTELIONATO E FALSIDADE IDEOLÓGICA QUE SE APRESENTAM COMO MEIONECESSÁRIO PARA A PRÁTICA DO CRIME DE SONEGAÇÃO FISCAL. ABSORÇÃO. RECURSOPROVIDO.I - A jurisprudência do excelso Supremo Tribunal Federal, bem como desta eg. Corte, há muito já sefirmou no sentido de que o trancamento do inquérito policial, por meio do habeas corpus, conquantopossível, é medida excepcional, cujo cabimento ocorre apenas nas hipóteses excepcionais em que,prima facie, mostra-se evidente, v.g., a atipicidade do fato ou a inexistência de autoria por parte doindiciado, situações essas não ocorrentes in casu (precedentes).II - Determina-se o trancamento de inquérito policial, quando restar demonstrado, de plano, aausência de justa causa para o seu prosseguimento devido à atipicidade da conduta atribuída aoinvestigado.III - Conforme preceitua o enunciado 24 da Súmula Vinculante do col.Pretório Excelso, "não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos Ia IV, da Lei nº 8.137790, antes do lançamento definitivo do tributo".IV - Em princípio, o crime de sonegação fiscal e os de falsidade ideológica e estelionato apresentamexistências autônomas, ainda que, ocasionalmente, se possa reconhecer a ocorrência somente docrime contra a ordem tributária.V - Os delitos constantes dos art. 171 e 299 do CP, somente são absorvidos pelo crime desonegação fiscal, se o falso teve como finalidade a sonegação, constituindo, em regra, meionecessário para a sua consumação.VI - Na hipótese, os crimes de falsidade ideológica e estelionato estão indissociavelmenteligados a descrição de um potencial crime contra a ordem tributária, razão pela qual são porele absorvidos.Recurso ordinário provido.(RHC 37.268/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2016, DJe17/08/2016)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSOESPECIAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. FALSIDADE IDEOLÓGICA E USO DEDOCUMENTO FALSO. CRIMES MEIOS PARA A PRÁTICA DO DELITO PREVISTO NO ART. 1º,INCISO I, DA LEI 8.137/90. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. APLICABILIDADE. AGRAVOREGIMENTAL IMPROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte Superior orienta-se no sentido de que o crime de falso, quandocometido única e exclusivamente para consumar a sonegação de tributos, é absorvido poreste último delito, em observância ao princípio da consunção. 2. Agravo regimental improvido.(AgRg no AREsp 350.211/PE, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em17/05/2016, DJe 25/05/2016)

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20. GARANTIA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

A garantia aceita na execução fiscal não possui natureza jurídica de pagamento da exação, razão pela qual não fulmina a justa causa para a persecução penal.

Acórdãos

HC 389315/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, Julgado em19/09/2017,DJE 27/09/2017;

HC 394746/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, Julgado em17/08/2017,DJE 24/08/2017;HC 341173/PE, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, Julgadoem 28/03/2017,DJE 07/04/2017;

AgRg no AREsp 831642/PI, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Julgado em16/06/2016,DJE 28/06/2016;

RHC 067209/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Julgado em05/04/2016,DJE 29/04/2016;

RHC 042644/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, Julgado em06/10/2015,DJE 19/10/2015.

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIMES CONTRAA ORDEM TRIBUTÁRIA. PEDIDO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO-CRIME. LEI N.º 10.684/2003.AUSÊNCIA DE PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO. RECURSO DESPROVIDO.1. A garantia do crédito tributário na execução fiscal - penhora de 5% do faturamento bruto edos caminhões da empresa de transporte - não possui natureza jurídica de parcelamentotributário e, por isso, não configura hipótese de suspensão do processo penal. Precedente.2. Recurso ordinário desprovido.(RHC 100.736/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/03/2019, DJe01/04/2019)

21. GUERRA FISCAL

No contexto da chamada guerra fiscal entre os estados federados, não se pode imputara prática de crime contra a ordem tributária ao contribuinte que não se vale de artifíciosfraudulentos com o fim de reduzir ou suprimir o pagamento dos tributos e que recolhe oImposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços ICMS segundo o princípio da não-cumulatividade.

Acórdãos

RHC 078256/ES,Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,Julgado em 22/08/2017,DJE 30/08/2017;

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RHC 065851/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, Julgado em 27/06/2017,DJE 01/08/2017;

RHC 070792/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, Julgado em14/06/2016,DJE 22/06/2016;

EDcl no HC 196262/MG, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA,Julgado em 16/12/2014,DJE 19/12/2014;

RHC 040555/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Julgado em19/08/2014,DJE 19/11/2014.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DESEGURANÇA. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ARTS. 1º, II, E 2º, II, DA LEI N.8.137/1990, C/C ART. 69 DO CÓDIGO PENAL. DENÚNCIA. INÉPCIA NÃO EVIDENCIADA.ALEGADA NULIDADE DA DECISÃO DE RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA. POSTERIORANÁLISE DAS QUESTÕES LEVANTADAS NA RESPOSTA À ACUSAÇÃO. AUSÊNCIA DECONSTRANGIMENTO ILEGAL. SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. SITUAÇÃO NÃOCOMPROVADA. DILAÇÃO PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. RECOLHIMENTO DE ICMS EMOPERAÇÕES INTERESTADUAIS. GUERRA FISCAL ENTRE ESTADOS FEDERADOS.TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. RECURSO PROVIDO EMPARTE.1. Não é inepta a denúncia que, embora sucinta, contém a exposição do fato delituoso - recolhimentoa menor de tributo devido a título de substituição tributária (ICMS-ST), em operações interestaduaisde compra e venda de baterias automotivas -, com todas as suas circunstâncias - datas das infraçõese montante do prejuízo ao fisco -, a qualificação do acusado, a classificação do crime - arts. 1º, II, e2º, II, da Lei n. 8.137/1990, por duas vezes, na forma do art. 69 do Código Penal - e a indicação detestemunha.2. É indispensável, ao recebimento da denúncia, a fundamentação, ainda que concisa, especialmenteno tocante à regularidade da inicial e à presença dos pressupostos processuais e das condições daação, sob pena de ofensa ao art. 93, IX, da Constituição Federal.3. No caso dos autos, o magistrado tão somente lançou "recebo a denúncia", sem maisconsiderações, contudo, analisou as teses apresentadas na resposta à acusação, consistentes na"preliminar de garantia de que (...) a defesa se manifeste por último", na "inépcia da denúncia" e na"ausência de justa causa" para a propositura da demanda, não havendo qualquer nulidade nessesentido, porquanto ausente prejuízo à defesa.4. O trancamento de ação penal só é possível quando estiverem comprovadas, de plano, aatipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a ausência de justa causa.5. Não obstante a juntada de guia de depósito em judicial, o valor nela constante é inferior ao dodébito de ICMS referido na denúncia. Ademais, não há prova de que o depósito tem relação com osfatos que deram origem à ação penal. Tais aspectos geram dúvidas acerca da quitação de todos osencargos inerentes à indigitada supressão do recolhimento do tributo, sendo certo que a solução dacontrovérsia implicaria dilação probatória, o que é vedado em sede mandamental.6. Relevante, para a defesa, é que o recorrente é sócio-administrador de empresa sediada emMontes Claros/MG, que comercializa acumuladores elétricos de empresa pernambucana, beneficiáriade incentivo fiscal previsto na Lei estadual n. 11.675/1999.7. O incentivo consiste em direito a crédito presumido do ICMS, limitado ao valor do frete, nassaídas para Unidade da Federação localizada fora da Região Nordeste, a ser utilizado naapuração do ICMS normal.

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8. Esta Corte Superior já decidiu que "a guerra fiscal entre os Estados não pode dar causa apersecução penal sem justa causa" (HC 4.307/SP, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA,julgado em 14/4/1997, DJ 26/5/1997, p. 22.567).9. Na mesma linha de raciocínio, em caso idêntico ao destes autos, esta Quinta Turmaentendeu que "não se pode imputar a prática de crime tributário ao contribuinte que recolhe otributo em obediência ao princípio constitucional da não-cumulatividade, bem como mantém afidelidade escritural dentro das normas (em princípio) válidas no âmbito dos respectivos entesda Federação" (EDcl no HC 196.262/MG, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA,julgado em 16/12/2014, DJe 19/12/2014).10. Recurso ordinário em habeas corpus a que se dá provimento, em parte, para trancar a açãopenal, em razão da atipicidade da conduta.(RHC 66.716/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 17/03/2016, DJe30/03/2016)

22. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS

A pendência de ação judicial ou de requerimento administrativo em que se discutaeventual direito de compensação de créditos fiscais com débitos tributários decorrentes daprática de crimes tipificados na Lei n. 8.137/90 não tem o condão, por si só, de suspender ocurso da ação penal, dada a independência das esferas cível, administrativo-tributária ecriminal.

Acórdãos

AgRg no REsp 1320191/DF,Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, Julgadoem 28/03/2017,REPDJE 18/04/2017;

AgRg no AREsp 672509/DF, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,Julgado em 02/06/2015,DJE 10/06/2015;

AgRg no AREsp 180328/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,Julgado em 24/03/2015,DJE 31/03/2015;

HC 043724/MT, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 09/12/2014, DJE19/12/2014;

REsp 1293633/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, QUINTA TURMA, Julgado em25/03/2014,DJE 31/03/2014.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSOESPECIAL. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. RECEITA FEDERAL. UTILIZAÇÃO DEDADOS BANCÁRIOS PARA FINS PENAIS SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. ILEGALIDADE.AGRAVO IMPROVIDO.1. Nos termos da orientação jurisprudencial desta Corte, Não cabe à Receita Federal, órgãointeressado no processo administrativo tributário e sem competência constitucional específica,fornecer dados obtidos mediante requisição direta às instituições bancárias, sem prévia autorizaçãodo juízo criminal, para fins penais (HC 258.460/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSISMOURA, SEXTA TURMA, julgado em 05/08/2014, DJe 18/08/2014).

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2. Agravo regimental improvido.(AgRg no AREsp 1118753/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em03/05/2018, DJe 15/05/2018) PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. SÚMULA VINCULANTE N. 24/STF. PECULIARIDADES DO CASO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO CÍVELDE ANULAÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO, AINDA PENDENTE DE RECURSO. SUSPENSÃO DAAÇÃO PENAL E DO PRAZO PRESCRICIONAL. RECURSO NÃO PROVIDO.1. Nos termos do entendimento consolidado desta Corte, o trancamento da ação penal ou inquéritopor meio do habeas corpus é medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houverinequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção dapunibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito. 2. Nocaso dos autos, perquire-se a suposta prática dos crimes dos arts. 1º, I e II, da Lei n. 8.137/1990 e337-A, I e III, do Código Penal, que, por sua natureza material, somente se configuram após aconstituição definitiva, no âmbito administrativo. 3. Segundo o verbete sumular vinculante n. 24/STF:"Não se tipifica o crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei n. n.8.137/1990, antes do lançamento definitivo do tributo". 4. É imprescindível destacar o entendimento reiterado desta Corte Superior acerca daindependência entre as esferas cível e penal, de modo que a "impugnação do débito na searacível, não obstante possa ter consequências sobre o julgamento da lide penal, não obsta,automaticamente, a persecutio criminis" (HC 103.424/RS, Rel.Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, DJe 16/3/2012).5. Na hipótese em exame, foi dada procedência à ação anulatória da constituição do créditotributário, contudo, ainda, não definitiva, pois pendente de apreciação da causa pelo TRF da 3ªRegião em sede de recurso.6. A "conclusão alcançada pelo juízo cível afetou diretamente o lançamento do tributo,maculando a própria constituição do crédito tributário, razão pela qual mostra-se prudenteaguardar o julgamento definitivo na esfera cível" (HC 161.462/SP, Rel. Ministro MARCOAURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, DJe 25/6/2013).7. A concessão parcial da ordem, pelo acórdão ora recorrido, para determinar a suspensão doinquérito policial e do curso do prazo prescricional esvazia a pretensão da presenteirresignação, porquanto o depósito do valor integral não se equivale a pagamento, condiçãopara a extinção da punibilidade.8. Recurso não provido.(RHC 27.774/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 12/12/2017, DJe19/12/2017)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.NEGATIVA DE AUTORIA. TESE QUE DEMANDA REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. VIA INADEQUADA. ARGUIÇÃO DE INÉPCIA DA PEÇA ACUSATÓRIA. DENÚNCIAGERAL. POSSIBILIDADE. INÉPCIA NÃO CONFIGURADA. ALEGAÇÃO DE DECADÊNCIA DODÉBITO FISCAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AJUIZAMENTO DE AÇÃO ANULATÓRIA DEDÉBITO FISCAL. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS CÍVEL E CRIMINAL. TRANCAMENTO DAAÇÃO PENAL. DESCABIMENTO. INDEFERIMENTO DAS DILIGÊNCIAS REQUERIDAS PELADEFESA NA RESPOSTA À ACUSAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AUSÊNCIA DEILEGALIDADE. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NO MAIS, DESPROVIDO.1. Hipótese em que o Recorrente foi denunciado como incurso no art. 1.º, incisos I e IV, c.c. art. 11,ambos da Lei n.º 8.137/1990, c.c. arts. 29 e 71, ambos do Código Penal, pois, na condição de sócioadministrador de empresa, teria omitido informações às autoridades fazendárias e promovido a vendade mercadorias sem a devida emissão de documentos fiscais, causando ao erário prejuízo no importede R$ 5.134.563,22.

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2. A estreita via do habeas corpus, ou do recurso que lhe faça as vezes, é imprópria para o exame dequestões fático-probatórias, que devem ser examinadas pelo Juízo processante no bojo da instruçãocriminal. Assim, não comportam conhecimento as teses referentes à negativa de autoria, pois verificarse o Recorrente era ou não laranja da empresa demanda inequívoca dilação probatória.3. A teor do entendimento desta Corte, é possível o oferecimento de denúncia geral quando umamesma conduta é imputada a todos os acusados e, apesar da aparente unidade de desígnios, não hácomo pormenorizar a atuação de cada um dos agentes na prática delitiva.Precedentes. 4. Nos crimes de autoria coletiva, é prescindível a descrição minuciosa e individualizada da ação decada acusado, bastando a narrativa das condutas delituosas e da suposta autoria, com elementossuficientes para garantir o direito à ampla defesa e ao contraditório, como verificado na hipótese.5. Não se pode, pois, de antemão, retirar do Estado o direito e o dever de investigar e processar,quando há elementos mínimos necessários para a persecução criminal.6. O pedido de trancamento com base na declaração de decadência do débito tributário sequer foirealizado perante o Juízo processante, motivo pelo qual a Corte a quo deixou de examiná-lo. Nessestermos, eventual pronunciamento deste Superior Tribunal incorreria em indevida supressão deinstância. Não bastasse, não entrevejo nos autos cópia da decisão que teria procedido à referidamedida extintiva, o que impediria, de toda forma, o exame de eventual ilegalidade, mormente porquea instrução adequada do remédio constitucional constitui ônus da Defesa.7. O fato de ter sido ajuizada ação anulatória de débito fiscal, a qual se encontra ainda emcurso, não tem o condão de impedir o prosseguimento da ação penal. Isso porque o art. 83 daLei n.º 9.430/96 somente exige decisão final na esfera administrativa sobre a existência fiscaldo crédito tributário, o que já ocorreu na espécie.8. A pendência de discussão acerca da exigibilidade do crédito tributário perante o Judiciárioconstitui óbice, tão-somente, à prática de atos tendentes à cobrança do crédito, nãoimpossibilitando a instauração da ação penal cabível, dada a independência das esferas cível ecriminal. Precedentes.9. As diligências requeridas pela Defesa na resposta à acusação foram indeferidas comfundamentação idônea, sobretudo porque impertinentes e desnecessárias à instrução probatória.10. Recurso ordinário em habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido.(RHC 43.812/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 12/08/2014, DJe25/08/2014)

23. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA,CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA E LAVAGEM DE DINHEIRO. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA.MEDIDA AUTORIZADA ANTES DA CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.DESNECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. INEXISTÊNCIA DE OFENSAAO ENUNCIADO 24 DA SÚMULA VINCULANTE. APURAÇÃO DE OUTROS ILÍCITOS ALÉM DODELITO FISCAL. COAÇÃO ILEGAL NÃO CARACTERIZADA.1. É possível a quebra do sigilo telefônico antes da constituição definitiva do crédito tributárioquando as investigações não se destinam, unicamente, à averiguação da prática do crime desonegação fiscal, havendo a suspeita de que outros delitos, como os de corrupção ativa epassiva, teriam sido cometidos. Precedentes do STJ e do STF.DENÚNCIA ANÔNIMA IMPUTANDO A PRÁTICA DE ILÍCITOS. REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIASPRELIMINARES PARA A APURAÇÃO DA VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES.CONSTRANGIMENTO ILEGAL. NULIDADE INEXISTENTE. 1. Esta Corte Superior de Justiça, com supedâneo em entendimento adotado por maioria peloPlenário do Pretório Excelso nos autos do Inquérito 1957/PR, tem entendido que a notícia anônima

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sobre eventual prática criminosa, por si só, não é idônea para a instauração de inquérito policial oudeflagração da ação penal, prestando-se, contudo, a embasar procedimentos investigativospreliminares em busca de indícios que corroborem as informações, os quais tornam legítima apersecução criminal estatal.2. No caso dos autos, após receber denúncia anônima relatando a suposta prática de crimes contra aordem tributária e de corrupção ativa e passiva, a Corregedoria Fazendária realizou diligências nospostos fiscais, constatando a verossimilhança dos informes apócrifos, tendo a autoridade policialobtido mandado de busca e apreensão na empresa e residência do recorrente e, apenas após aobtenção de tais elementos de convicção, é que representou pela quebra de sigilo telefônico dosinvestigados, o que afasta a eiva articulada na irresignação.ILICITUDE DA PRIMEIRA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. MEDIDA QUE NÃO TERIA SIDOAUTORIZADA JUDICIALMENTE. INEXISTÊNCIA DE PEDIDO DE MONITORAMENTO DO NOVONÚMERO DE TELEFONE UTILIZADO PELO INVESTIGADO. AUSÊNCIA DE DOCUMENTAÇÃOCOMPROBATÓRIA. NECESSIDADE DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. MÁCULA NÃOEVIDENCIADA. DESPROVIMENTO DO RECLAMO. 1. Não há na irresignação a íntegra dos autos referentes às interceptações telefônicas, tendo oinconformismo sido instruído com apenas dois requerimentos de monitoramento telefônico, umamanifestação do Ministério Público, e uma decisão judicial, peças selecionadas pela defesa e que nãose revelam suficientes para que se ateste a ocorrência de alguma irregularidade ou ilicitude na quebrado sigilo telefônico realizada.2. O rito do habeas corpus pressupõe prova pré-constituída do direito alegado, devendo a partedemonstrar, de maneira inequívoca, por meio de documentos que evidenciem a pretensão aduzida, aexistência do aventado constrangimento ilegal, ônus do qual não se desincumbiu a defesa.INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. DECISÃO JUDICIAL FUNDAMENTADA. POSSIBILIDADE DEMOTIVAÇÃO COM BASE NO PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO. EIVA NÃO CONFIGURADA.1. O sigilo das comunicações telefônicas é garantido no inciso XII do artigo 5º da ConstituiçãoFederal, e para que haja o seu afastamento exige-se ordem judicial que, também por determinaçãoconstitucional, precisa ser fundamentada (artigo 93, inciso IX, da Carta Magna).2. Do teor da única decisão judicial anexada aos autos, verifica-se que a magistrada que permitiu aquebra do sigilo telefônico motivou, adequada e suficientemente, com base na manifestaçãoministerial, a existência de indícios contra os investigados, bem como a indispensabilidade damedida, restando integralmente atendidos os comandos do artigo 5º da Lei 9.296/1996 e do artigo 93,IX, da Constituição Federal.3. Ainda que o Juízo tenha se reportado ao parecer ministerial, o certo é que existindo motivos para odeferimento da medida, como ocorreu na espécie, não há impedimento à adoção dos fundamentosempregados em outros documentos ou manifestações existentes no processo. Precedentes.4. Recurso desprovido.(RHC 37.850/MT, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/05/2016, DJe20/05/2016)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. QUADRILHA, FALSIDADE IDEOLÓGICA EDOCUMENTAL, SONEGAÇÃO FISCAL, CORRUPÇÃO E LAVAGEM DE DINHEIRO.INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. MEDIDA AUTORIZADA ANTES DA CONSTITUIÇÃO DEFINITIVADO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. DESNECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA.INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ENUNCIADO 24 DA SÚMULA VINCULANTE. APURAÇÃO DEOUTROS ILÍCITOS ALÉM DO CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE.1. É possível a quebra do sigilo telefônico antes da constituição definitiva do crédito tributárioquando as investigações não se destinam, unicamente, à averiguação da prática do crime desonegação fiscal, havendo a suspeita de que outros delitos, como o de formação de quadrilha,falsidade ideológica e de documentos públicos e particulares, além de lavagem de dinheiro,teriam sido cometidos.

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Precedentes do STJ e do STF.2. Não há nas peças processuais anexadas aos autos qualquer evidência de manobra por parte doórgão ministerial com o intuito de requerer a quebra de sigilo telefônico antes do esgotamento da viaadministrativa, por meio da imputação de outros delitos que não teriam sido efetivamente alvo dasinvestigações.INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS. DECISÕES JUDICIAIS FUNDAMENTADAS. POSSIBILIDADEDE MOTIVAÇÃO COM BASE EM RELATÓRIOS, REQUERIMENTOS E OUTROS DOCUMENTOSCONSTANTES DOS AUTOS, BEM COMO DE REFERÊNCIA A PROVIMENTOS JUDICIAISANTERIORES ACERCA DA MEDIDA. EIVA NÃO CARACTERIZADA.1. O sigilo das comunicações telefônicas é garantido no inciso XII do artigo 5º da ConstituiçãoFederal, e para que haja o seu afastamento exige-se ordem judicial que, também por determinaçãoconstitucional, precisa ser fundamentada (artigo 93, inciso IX, da Carta Magna).2. Do teor das decisões judiciais anexadas aos autos, verifica-se que o magistrado que permitiu aquebra do sigilo telefônico, bem como a continuidade da medida e a inclusão de novos terminais,motivou, adequada e suficientemente, sempre com base nos requerimentos ministeriais e nosrelatórios produzidos, a existência de indícios contra os investigados, bem como a indispensabilidadeda medida, restando integralmente atendidos os comandos do artigo 5º da Lei 9.296/1996 e do artigo93, IX, da Constituição Federal.3. Quando o recorrente teve o seu número de telefone incluído nas interceptações, explicou-se queas conversas monitoradas teriam revelado ser ele o principal negociador do grupo em atos decorrupção de relevantes funcionários públicos, o que afasta a alegação de ofensa ao artigo 2º, incisoI, da Lei 9.296/1996.4. Por outro lado, a excepcionalidade do deferimento da interceptação foi justificada em razão dacomplexidade da organização criminosa, sendo que pelos meios tradicionais de investigação nãoseria possível identificar todos os possíveis autores dos ilícitos.5. Ainda que o Juízo tenha se reportado a relatórios ou requerimentos constantes dos autos, oumesmo utilizado um modelo de decisão para motivar as prorrogações da quebra de sigilo telefônico,bem como a inclusão de novos números, o certo é que, subsistindo as razões para a continuidadedas interceptações, como ocorreu na espécie, não há impedimento à adoção dos fundamentosempregados em outros documentos ou manifestações existentes no processo.Precedentes.6. O simples fato de os relatórios de interceptação não se encontrarem assinados, ou conterem arubrica de pessoa que, de acordo com os subscritores do reclamo, não pertenceria aos agentes queestariam autorizados a efetivar a medida, não macula o referido documento ou impede que sejautilizado para fins de justificar os requerimentos e as autorizações de interceptação telefônica, pois oartigo 14 da Resolução 59/2008 do Conselho Nacional de Justiça não se exige que seja firmado pelosresponsáveis pela sua elaboração, tampouco que nele devam ser transcritos integralmente osdiálogos monitorados.QUEBRA DO SIGILO TELEFÔNICO. DILIGÊNCIA QUE ULTRAPASSOU O LIMITE DE 30 (TRINTA)DIAS PREVISTO NO ARTIGO 5º DA LEI 9.296/1996.POSSIBILIDADE DE SUCESSIVAS RENOVAÇÕES. EXISTÊNCIA DE DECISÕESFUNDAMENTADAS. ILICITUDE NÃO EVIDENCIADA.1. Apesar de o artigo 5º da Lei 9.296/1996 prever o prazo máximo de 15 (quinze) dias para ainterceptação telefônica, renovável por mais 15 (quinze), não há qualquer restrição ao número deprorrogações possíveis, exigindo-se apenas que haja decisão fundamentando a necessidade dedilatação do período. Doutrina. Precedentes.2. Na hipótese em apreço, consoante os pronunciamentos judiciais referentes à quebra de sigilo dascomunicações telefônicas constantes dos autos, constata-se que a prorrogação das interceptaçõessempre foi devidamente fundamentada, justificando-se, essencialmente, nas informações coletadasnos anteriores monitoramentos, indicativos da prática criminosa atribuída aos investigados, nãohavendo que se falar, assim, em ausência de motivação concreta a embasar a extensão da medida.

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INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA DE ADVOGADO. VIOLAÇÃO ÀS SUAS PRERROGATIVASPROFISSIONAIS. CRIMES EM TESE COMETIDOS NO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA.POSSIBILIDADE DE INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS QUE NÃO SEREFIRAM EXCLUSIVAMENTE AO PATROCÍNIO DE DETERMINADO CLIENTE.COAÇÃO ILEGAL NÃO EVIDENCIADA.1. Como se sabe, não existem direitos absolutos no ordenamento jurídico pátrio, motivo pelo qual asuspeita de que crimes estariam sendo cometidos por profissional da advocacia permite que o sigilode suas comunicações telefônicas seja afastado, notadamente quando ausente a demonstração deque as conversas gravadas se refeririam exclusivamente ao patrocínio de determinado cliente.2. Há que se considerar, ainda, que o exercício da advocacia não pode ser invocado com o objetivode legitimar a prática delituosa, ou seja, caso os ilícitos sejam cometidos valendo-se da qualidade deadvogado, nada impede que os diálogos sejam gravados mediante autorização judicial e,posteriormente, utilizados como prova em ação penal, tal como sucedeu no caso dos autos.Precedentes do STJ e do STF.INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS REALIZADAS POR AGENTES DO GAECO. OFENSA AOARTIGO 6º DA LEI 9.296/1996 NÃO CONFIGURADA. DESPROVIMENTO DO RECLAMO.1. Da leitura dos artigos 6º e 7º da Lei 9.296/1996, não é possível afirmar que a polícia civil seja aúnica autorizada a proceder às interceptações telefônicas, até mesmo porque o legislador não teriacomo antever, diante das diferentes realidades encontradas nas Unidades da Federação, quaisórgãos ou unidades administrativas teriam a estrutura necessária, ou mesmo as melhores condiçõespara executar a medida.2. Esta Corte Superior já decidiu que não se pode interpretar de maneira restrita o artigo 6º da Lei9.296/1996, sob pena de se inviabilizar a efetivação de interceptações telefônicas.3. Na hipótese dos autos, agentes da GAECO ficaram a cargo de acompanhar a interceptaçãotelefônica, procedimento que não pode ser acoimado de ilegal.4. Recurso improvido.(RHC 51.487/SP, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADORCONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 23/06/2015, DJe 24/09/2015)

24. LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO

O processo criminal não é a via adequada para a impugnação de eventuais nulidades ocorridas no procedimento administrativo-fiscal.

Acórdãos

AgRg no AREsp 469137/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,QUINTA TURMA,Julgado em 05/12/2017,DJE 13/12/2017;

AgRg no AREsp 1058190/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Julgadoem 21/11/2017,DJE 28/11/2017;

RHC 037028/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 09/08/2016,DJE23/08/2016;

EDcl no AREsp 771666/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,Julgado em 17/12/2015,DJE 02/02/2016;

AgRg no REsp 1283767/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,Julgado em 25/03/2014,DJE 31/03/2014;

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AgRg no AREsp 336549/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTATURMA, Julgado em 13/08/2013,DJE 20/08/2013.

Eventuais vícios no procedimento administrativo-fiscal, enquanto não reconhecidos na esfera cível, são irrelevantes para o processo penal em que se apura a ocorrência de crimecontra a ordem tributária.

Acórdãos

EDcl no RHC 014459/ES,Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, Julgadoem 16/09/2004,DJ 03/11/2004.

Decisões Monocráticas

HC 432403/RJ,Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,Julgado em09/01/2018,Publicado em 02/02/2018;AREsp 1020610/RJ ,Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Julgadoem 06/12/2016,Publicado em 09/12/2016;

AREsp 968684/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,Julgado em17/10/2016,Publicado em 24/10/2016;

AREsp 770696/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Julgado em09/05/2016,Publicado em 16/05/2016.

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA(ART. 1º, II, DA LEI N. 8.137/1990). PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIADA DENÚNCIA. INICIAL QUE APONTA OS PACIENTES COMO RESPONSÁVEIS PELASOBRIGAÇÕES COM O FISCO. POSSIBILIDADE DE EXERCÍCIO DO CONTRADITÓRIO E DAAMPLA DEFESA. FALTA DE JUSTA CAUSA. NÃO OCORRÊNCIA. MATERIALIDADE DELITIVADEVIDAMENTE DEMONSTRADA PELA CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.NULIDADE DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA.AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL MANIFESTO.1. Apesar de se ter solidificado o entendimento no sentido da impossibilidade de utilização do habeascorpus como substitutivo do recurso cabível, este Superior Tribunal analisa, com a devida atenção ecaso a caso, a existência de coação manifesta à liberdade de locomoção, não tendo sido aplicado oreferido entendimento de forma irrestrita, de modo a prejudicar eventual vítima de coação ilegal ouabuso de poder e convalidar ofensa à liberdade ambulatorial.2. O trancamento de ação penal pela via eleita é cabível apenas quando demonstrada a atipicidadeda conduta, a extinção da punibilidade ou a manifesta ausência de provas da existência do crime e deindícios de autoria.3. Evidenciado que a inicial narra, de forma clara, que os pacientes figuravam no contratosocial como os únicos administradores da empresa, a quem cabiam as obrigações perante oFisco, infere-se que não se mostra inepta a denúncia de forma a autorizar o trancamento daação penal.4. A descrição fática nessas condições, com uma narrativa congruente dos fatos, atende aosrequisitos exigidos na lei, uma vez que nela estão reunidos todos os elementos necessários àcaracterização do tipo penal de crime contra a ordem tributária, de forma suficiente não só

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para propiciar ao recorrente o escorreito exercício do contraditório e da ampla defesa, mastambém para determinar o regular prosseguimento da ação penal contra ele deflagrada.5. Evidenciado que a empresa se encontra inscrita em dívida ativa, não há falar em ausência de justacausa.6. A tese de nulidade do procedimento fiscal não pode ser dirimida no bojo da ação penal, naqual a Fazenda Pública não é parte ou exerce o contraditório, porquanto o Juízo criminal nãopossui competência para anular o lançamento tributário, passível de revisão apenas por meiode recurso administrativo, ação cível ou mandado de segurança (RHC n. 61.764/RJ, MinistroRogério Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe de 2/5/2016).7. Writ não conhecido.(HC 250.448/RJ, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 24/05/2016,DJe 13/06/2016)

25. LAVAGEM DE DINHEIRO

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME DELAVAGEM DE CAPITAIS. AUTONOMIA. CRIMES ANTECEDENTES. OBTENÇÃO DE VANTAGEMOU IMPUNIDADE. CONEXÃO. PROCESSOS EM CURSO. AUSÊNCIA DE SENTENÇA.POSSIBILIDADE. AGRAVO PROVIDO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Nos termos do art. 76, II, do Código de Processo Penal, a conexão objetiva ocorre se, ocorrendoduas ou mais infrações, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou paraconseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas. 2. A conexão objetiva que poderia dar-se do branqueamento com o antecedente - para obtervantagem ou impunidade no crime prévio - somente ocorre durante o andamento do processo,antes da sentença, sempre admitindo-se a facultativa separação dos processos.3. Estando os processos relativos à prática do delito funcional contra a ordem tributária e docrime de lavagem de capitais ainda em curso, não havendo sentença, impõe-se a conexão dosfeitos, tendo em vista que a eventual prática do delito de branqueamento resultou dasinvestigações ocorridas no procedimento que ensejou a instauração da ação penal por crimesfuncionais.4. Agravo regimental provido para dar provimento ao recurso especial, fixando a competência da 2ªVara Criminal da Comarca de Sorocaba/SP.(AgRg no REsp 1754773/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em05/02/2019, DJe 22/02/2019)

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. 1. CRIMETRIBUTÁRIO. TRANCAMENTO DO INQUÉRITO PELO STF. CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIROE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. MANUTENÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES. CRIMES AUTÔNOMOS. 2.MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. JUSTA CAUSA PRESENTE. MEDIDASDEVIDAMENTE JUSTIFICADAS. 3. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.1. Conforme destacou o Tribunal de origem, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento daReclamação n.31.276/DF, determinou o trancamento do inquérito policial apenas com relaçãoao crime tributário, em virtude da ausência de constituição definitiva do crédito tributário.Contudo, assentou igualmente que referida conclusão não prejudicava a continuidade daapuração quanto aos demais crimes sob investigação, concluindo, assim, pela autonomia doscrimes de lavagem de dinheiro e de organização criminosa em face do aventado delito contra aordem tributária.2. Ainda que já tenha se encerrado o inquérito policial que apura esquema de lavagem dedinheiro praticado por meio de organização criminosa, sem que tenha sido oferecida denúncia,

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não há se falar em ausência de justa causa para a manutenção das medidas cautelares, asquais se encontram devidamente justificadas, se mostrando necessárias para interromper assupostas atividades ilícitas do grupo, para evitar eventual reiteração delitiva, bem como pararesguardar a escorreita apuração dos fatos. Nesse contexto, verifica-se que as medidascautelares aplicadas são adequadas e proporcionais à hipótese dos autos, porquanto estãoamparadas nas circunstâncias do caso concreto.3. Agravo regimental a que se nega provimento.(AgRg no HC 470.338/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,julgado em 13/12/2018, DJe 19/12/2018)

26. PAGAMENTO DO DÉBITO

O pagamento integral do débito tributário, a qualquer tempo, é causa extintiva de punibilidade, nos termos do art. 9º, § 2º, da Lei n. 10.684/2003.

Acórdãos

HC 362478/SP,Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,Julgado em14/09/2017,DJE 20/09/2017;

HC 269546/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 03/05/2016, DJE12/05/2016;REsp 1111720/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Julgado em13/08/2013,DJE 28/08/2013; HC 235164/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão MinistraALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DOTJ/PE), Julgado em 19/11/2012,DJE 17/12/2012;

HC 232376/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, Julgado em05/06/2012,DJE 15/06/2012.

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. FURTO DE ENERGIA ELÉTRICAMEDIANTE FRAUDE. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO DO DÉBITO ANTES DORECEBIMENTO DA DENÚNCIA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO.1. A decisão ora embargada aderiu à jurisprudência então vigente e, com a ressalva de entendimentopessoal e em respeito à colegialidade, reconheceu a extinção de punibilidade e determinou otrancamento do processo. 2. Todavia, a Terceira Seção do STJ, no julgamento do RHC n.101.299/RS, firmou posição no sentido de que é inviável o reconhecimento da extinção dapunibilidade pela quitação de débito no caso de crime de furto de energia elétrica.3. A causa extintiva de punibilidade decorrente do previsto nos arts. 34 da Lei n. 9.249/1995 e9º da Lei n. 10.684/2003 não pode ser aplicada, por analogia, aos crimes contra o patrimônio,porquanto restrita aos crimes contra a ordem tributária, visto que são ilícitos penais referentesa bens tutelados diversos: o resguardo da arrecadação tributária, com o seu regime jurídicopróprio (e suas causas de extinção específicas), de um lado, e, de outro, a disciplina doscrimes contra o patrimônio, tratados mais rigorosamente pelo Estado por questões de políticacriminal.4. Agravo regimental provido, a fim de determinar o prosseguimento da Ação Penal n. 00063327-88.2016.8.16.0030, em trâmite na 3ª Vara Criminal da Comarca de Foz do Iguaçu, instaurada contra o

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paciente pela prática de furto de energia elétrica mediante fraude (art. 155, §3º e § 4º, II, do CódigoPenal).(AgRg no HC 386.710/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em23/04/2019, DJe 30/04/2019)

27. PARCELAMENTO DO DÉBITO

O parcelamento integral dos débitos tributários decorrentes dos crimes previstos naLei n. 8.137/90, em data posterior à sentença condenatória, mas antes do seu trânsito emjulgado, suspende a pretensão punitiva estatal até o integral pagamento da dívida (art. 9º daLei n. 10.684/03 e art. 68 da Lei n. 11.941/09).

Acórdãos

HC 370612/SP,Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Julgado em07/03/2017,DJE 17/03/2017;

HC 353827/PI, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTATURMA, Julgado em 16/08/2016,DJE 25/08/2016;

AgRg no AREsp 217827/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Julgado em10/03/2015,DJE 20/03/2015;

RHC 029576/ES, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA,Julgado em 19/11/2013,DJE 26/02/2014; HC 103307/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA,Julgado em 18/12/2008 ,DJE 02/03/2009.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL.POSSIBILIDADE. PARCELAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO CONSOLIDADO NA PGFN.EMBARGOS ACOLHIDOS.I - São cabíveis embargos declaratórios quando houver na decisão embargada qualquer contradição,omissão ou obscuridade a ser sanada.Podem também ser admitidos para a correção de eventual erro material, consoante entendimentopreconizado pela doutrina e jurisprudência, sendo possível, excepcionalmente, a alteração oumodificação do decisum embargado.II - Conforme a dicção da Súmula Vinculante 24, "não se tipifica crime material contra a ordemtributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/90, antes do lançamento definitivo do créditodo tributo".III - Na hipótese, verifica-se que o lançamento definitivo se deu ainda na vigência da Lei n.10.684/2003, a qual deve ser observada no caso, e não na vigência da Lei n. 12.382/2011.IV - Nos termos da Lei n. 10.684/2003, com a formalização do parcelamento de débitos junto àProcuradoria da Fazenda Nacional, Secretaria da Receita Federal e Instituto Nacional do SeguroSocial, independentemente do momento processual em que isso ocorra, a prescrição da pretensãopunitiva será suspensa.V - Oficiadas, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e a Receita Federal informaram estarconsolidado o parcelamento referente aos créditos tributários que são objeto da ação penal originária.

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VI - Demonstrado o deferimento do pedido de parcelamento pelo órgão fazendário responsável, bemcomo de sua consolidação, com relação à NFLID de n. 35.476.639-2, forçoso reconhecer aprocedência do pedido, incidindo ao caso a suspensão da prescrição da pretensão punitiva, nostermos da Lei 10.684/2003.Embargos de declaração acolhidos para determinar a suspensão da ação penal 0018302-75.2011.4.01.3800, no tocante aos débitos com parcelamentos comprovadamente consolidados.(EDcl no AgRg no REsp 1359919/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em26/03/2019, DJe 16/04/2019)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUALPENAL. CRIME PREVISTO NO ART. 1.º DA LEI N.º 8.137/1990. CONSUMAÇÃO. CONSTITUIÇÃODEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PRECEDENTES. SÚMULA VINCULANTE N.º 24/STF.LANÇAMENTO OCORRIDO APÓS A VIGÊNCIA DA LEI N.º 12.382/2011. PARCELAMENTO APÓS ORECEBIMENTO DA DENÚNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA.AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Este Superior Tribunal de Justiça firmou seu posicionamento, em consonância com o entendimentoadotado pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de que os crimes previstos no art. 1.º da Lei n.º8.137/90 se consumam com a constituição definitiva do crédito tributário. Precedentes.2. "O art. 83, § 2º, da Lei 9.430/96, com redação determinada pela Lei 12.392/2011, aoestabelecer o recebimento da denúncia como limite temporal para o pedido de parcelamentopara fins de suspensão da pretensão punitiva estatal, não se se aplica aos crimes nos quais aconstituição definitiva do crédito tributário se deu até 28/02/2011, data de vigência da leiposterior mais gravosa" (RHC 94.845/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,julgado em 26/06/2018, DJe 01/08/2018).3. No caso, o Recorrente foi denunciado como incurso no art. 1.º, inciso II, da Lei n.º 8.137/90, emrazão de fraude praticada entre os meses de janeiro a dezembro de 2009, e o lançamento definitivoda dívida tributária ocorreu em 07/11/2014, data da consumação do crime. A denúncia foi recebida em13/06/2017, e o parcelamento somente foi realizado em 31/08/2017. Assim, não ocorreu a suspensãoda pretensão punitiva.4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no RHC 94.476/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTATURMA, julgado em 25/09/2018, DJe 18/10/2018)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIMECONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1º, I, II E IV, C/C ART. 12, I, AMBOS DA LEI N. 8.137/90.PARCELAMENTO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. SUSPENSÃO DO PROCESSO. ART. 83, § 2º, DALEI N. 9.430/1996. ALTERAÇÃO LEGISLATIVA PROMOVIDA PELA LEI 12.386/2011. SÚMULAVINCULANTE 24. CONSUMAÇÃO DO DELITO APÓS O LANÇAMENTO DEFINITIVO DO CRÉDITOTRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO REQUERIDO APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.APLICAÇÃO DA NOVA REGRA. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA CITAÇÃO POR HORA CERTA.PREJUÍZO NÃO COMPROVADO. PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF. CONSTRANGIMENTO ILEGALNÃO VERIFICADO. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO.I - Somente há justa causa para a persecução penal pela prática do crime previsto no art. 1º, I a IV, daLei n. 8.137/1990, com o advento do lançamento definitivo do crédito tributário. Nesse sentido, é oteor da Súmula Vinculante n. 24 do Supremo Tribunal Federal: "Não se tipifica crime material contra aordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivodo tributo".II - O art. 83, § 2º, da Lei 9.430/96, com redação determinada pela Lei 12.392/2011, aoestabelecer o recebimento da denúncia como limite temporal para o pedido de parcelamentopara fins de suspensão da pretensão punitiva estatal, não se se aplica aos crimes nos quais aconstituição definitiva do crédito tributário se deu até 28/02/2011, data de vigência da leiposterior mais gravosa.

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III - In casu, como a inscrição do débito em dívida ativa se deu em 2/6/2015, data posterior àalteração trazida pela Lei nº 12.382/11, com o recebimento da denúncia apenas em 17/5/2016,não há como evitar a aplicação da nova regra do art. 83, §2º, da Lei nº 9.430/96, trazida pela Leinº 12.382/11, pois o recorrente aderiu a novo programa de parcelamento em 9/6/2016, ou seja,em data posterior ao recebimento da denúncia e seu aditamento. IV - Não se verifica a nulidade da citação por hora certa do recorrente, em razão de o Oficial deJustiça ter realizado apenas uma tentativa de localização. O recorrente estava ciente de que o agentepúblico compareceu a sua residência, por duas vezes, para tentar entregar o mandado de citação,pois teria instruído o funcionário do edifício que informasse que não o atenderia por ser sábado, e quedeveria retornar durante a semana. V - A jurisprudência consolidada nesta Corte adota o princípio pasde nullité sans grief, que exige a demonstração de efetivo prejuízo, a fim de justificar a anulação deatos processuais, o que não ocorreu na hipótese. No caso dos autos, não se verifica prejuízoconcreto, considerando que, depois de citado por hora certa, o recorrente constituiu advogado paraatuar em sua defesa, que se manifestou nos autos. Precedentes.Recurso ordinário desprovido.(RHC 94.845/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe01/08/2018)

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.INADEQUAÇÃO. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DO INQUÉRITO.AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A PERSECUÇÃO PENAL. NECESSIDADE DEREVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA VINCULANTE 24 DO STF. LANÇAMENTODEFINITIVO DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO. DESNECESSIDADE DO DESFECHO DE AÇÃO NAESFERA CÍVEL NA QUAL É DISCUTIDO O QUANTUM DEBEATUR. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabehabeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o nãoconhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no atojudicial impugnado.2. Nos termos do entendimento consolidado desta Corte, o trancamento da ação penal ou inquéritopor meio do habeas corpus é medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houverinequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção dapunibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito, o quenão se infere não hipótese dos autos.3. Conforme a dicção da Súmula Vinculante 24 do STF, "não se tipifica crime material contra a ordemtributária, previsto no art.1º, incisos I a IV, da Lei n. 8.137/1990, antes do lançamento definitivo do crédito do tributo". Comefeito, trata-se de material ou de resultado, que somente pode ser tido por consumado após oexaurimento da esfera administrativa. Não há se falar, porém, em necessidade de desfecho deprocedimento judicial em curso no qual é discutida a existência do crédito tributário ou o quantumdevido, máxime em virtude da independência entre as esferas criminal e cível, sob pena deinviabilizar a persecução penal nos crimes contra a ordem tributária. Precedentes.4. Writ não conhecido.(HC 385.685/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe25/10/2017)PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FALSIDADEIDEOLÓGICA, USO DE DOCUMENTO FALSO E SONEGAÇÃO FISCAL. APLICAÇÃO DOPRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. ABSORÇÃO. CRIMES-MEIO, AINDA QUE POSTERIOR. PARCELAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO. SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA, QUANTOAO CONTRIBUINTE. EXTENSÃO AOS OUTROS DENUNCIADOS. EFEITO DE CARÁTER NÃOPESSOAL. ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. SÚMULA 83/STJ.AGRAVO NÃO PROVIDO.

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1. Segundo entendimento pacificado deste Superior Tribunal de Justiça, há a absorção dos crimes deuso de documento falso e falsificação de documentos pelo crime contra a ordem tributária, quandoaqueles, mesmo que praticados posteriormente, configurarem crime-meio, perpetrados específica eunicamente para viabilizar a supressão de tributos.2. "Em face do disposto no art. 580 do CPP, os efeitos da suspensão da pretensão punitiva docrime de sonegação fiscal - que absorve, como crimes-meio, os de falso e de estelionato -,pelo parcelamento do débito tributário, pelo contribuinte, alcançam a corré, por nãoconsubstanciar o aludido parcelamento do débito circunstância de caráter exclusivamentepessoal" (AgRg no REsp 1.154.371/MG, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEXTA TURMA,DJe 03/02/2014).3. Agravo regimental a que se nega provimento.(AgRg no REsp 1313387/MT, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em10/10/2017, DJe 18/10/2017)

HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSOORDINÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA CARTAMAGNA. NÃO CONHECIMENTO.1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, buscando dar efetividade às normas previstas naConstituição Federal e na Lei 8.038/1990, passou a não mais admitir o manejo do habeas corpusoriginário em substituição ao recurso ordinário cabível, entendimento que deve ser adotado por esteSuperior Tribunal de Justiça, a fim de que seja restabelecida a organicidade da prestação jurisdicionalque envolve a tutela do direito de locomoção.2. O constrangimento apontado na inicial será analisado, a fim de que se verifique a existência deflagrante ilegalidade que justifique a atuação de ofício por este Superior Tribunal de Justiça.CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ARTIGO 2º, INCISO II, DA LEI 8.137/1990). PACIENTEQUE DEIXOU DE RECOLHER AOS COFRES PÚBLICOS VALORES DE ICMS POR ELEDECLARADOS. CRIME FORMAL. CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO. ENTREGA DA DECLARAÇÃO.INTELIGÊNCIA DO ENUNCIADO 436 DA SÚMULA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.DESNECESSIDADE DO TRÂNSITO EM JULGADO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO.CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO.1. Ao contrário dos crimes previstos no artigo 1º da Lei 8.137/1990, os delitos dispostos no artigo 2ºsão formais, pois não exigem a ocorrência do resultado para a sua consumação, motivo pelo qual édesnecessário o esgotamento da via administrativa para que seja iniciada a persecução penal.2. A hipótese trata de ausência de recolhimento aos cofres públicos de valores referentes ao ICMSapurados e declarados pelo próprio contribuinte, ou seja, a simples apresentação das Declarações doICMS e do Movimento Econômico - DIME já constituiu definitivamente o crédito tributário, sendodesnecessária qualquer outra providência por parte da autoridade administrativa, nos termos doenunciado 436 da Súmula deste Superior Tribunal de Justiça, não se exigindo, por conseguinte, otrânsito em julgado do processo administrativo para que seja deflagrada a ação penal.TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA. ATIPICIDADE DA CONDUTA DOPACIENTE NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. VIA INADEQUADA.1. Em sede de habeas corpus somente deve ser obstada a ação penal se restar demonstrada, deforma indubitável, a ocorrência de circunstância extintiva da punibilidade, a ausência de indícios deautoria ou de prova da materialidade do delito, e ainda, a atipicidade da conduta.2. Estando a decisão impugnada em total consonância com o entendimento jurisprudencial firmadopor este Sodalício, não há falar em trancamento da ação penal, pois, de uma superficial análise doselementos probatórios contidos no presente mandamus, não se vislumbra estarem presentesquaisquer das hipóteses que autorizam a interrupção prematura da persecução criminal por esta via,já que seria necessário o profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente valoradaspelo juízo competente.

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INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL DA LEI 12.382/2011. MATÉRIA NÃO APRECIADA PELACORTE DE ORIGEM NO ACÓRDÃO COMBATIDO. INCOMPETÊNCIA DESTE STJ E SUPRESSÃODE INSTÂNCIA.1. Inviável a apreciação diretamente por esta Corte Superior de Justiça, dada sua incompetência paratanto e sob pena de atuar em indevida supressão de instância, da alegada inconstitucionalidade daLei 12.382/2011, tendo em vista que tal questão não foi analisada pelo Tribunal impetrado no arestocombatido.ARTIGO 9º DA LEI 10.684/2003. DESNECESSIDADE DE REVOGAÇÃO EXPRESSA PELA LEI12.382/2011. EXISTÊNCIA DE PREVISÃO CONTRÁRIA NO NOVO DISPOSITIVO LEGAL.IMPOSSIBILIDADE DA SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL SE A ADESÃO AOPROGRAMA DE PARCELAMENTO OCORRE APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. COAÇÃOINEXISTENTE.1. Tendo a Lei 12.382/2011 previsto, no artigo seu 6º, que a suspensão da pretensão punitivaestatal ocorre apenas quando há o ingresso no programa de parcelamento antes dorecebimento da denúncia, consideram-se revogadas as disposições em sentido contrário,notadamente o artigo 9º da Lei 10.684/2003.2. Na própria exposição de motivos da Lei 12.382/2011, esclareceu- se que a suspensão dapretensão punitiva estatal fica suspensa "durante o período em que o agente enquadrado noscrimes a que se refere o art. 83 estiver incluído no parcelamento, desde que o requerimentodesta transação tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal".3. Por conseguinte, revela-se ilegítima a pretensão da defesa, no sentido de que a persecução penalem tela seja suspensa em decorrência do parcelamento dos tributos devidos após o acolhimento dainicial.RECEBIMENTO DA DENÚNCIA APÓS A APRESENTAÇÃO DA PEÇA VESTIBULAR PELOMINISTÉRIO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE DE POSTERGAÇÃO PARA O MOMENTO APÓS AAUDIÊNCIA DE OFERECIMENTO DE PROPOSTA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DOPROCESSO. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 396 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, COM AREDAÇÃO DADA PELA LEI 11.719/2008, E DO ARTIGO 89 DA LEI 9.099/1995. ILEGALIDADEINEXISTENTE.1. Após a edição da Lei 11.719/2008, depois de oferecida a denúncia ou queixa, o Juízo singular podeseguir dois caminhos: rejeitá-la liminarmente, caso se depare com uma das hipóteses previstas noartigo 395 da Lei Adjetiva; ou recebê-la, nos termos do artigo 396 do Código de Processo Penal,ordenando a citação do acusado para oferecer sua defesa.2. Ainda que o acusado aceite o benefício previsto no artigo 89 da Lei 9.099/1995, o magistradosomente pode homologar a proposta ministerial após acolher a peça vestibular, nos termos do § 1º docitado dispositivo legal.3. Dessa forma, o recebimento da denúncia antes da audiência de suspensão condicional doprocesso não impede que a referida benesse seja ofertada ao réu, constituindo, ao contrário, requisitonecessário para que seja efetivada pelo juiz. Precedente.PRETENSÃO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO QUANTO AOS CRIMES QUE TERIAMOCORRIDO NA VIGÊNCIA DA LEI 10.684/2003. DELITOS PRATICADOS EM CONTINUIDADE.APLICAÇÃO DA LEI VIGENTE QUANDO DA SUA CESSAÇÃO. VERBETE 711 DA SÚMULA DOSUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. LEGALIDADE DA APLICAÇÃO DA LEI 12.382/2011.1. Ao paciente foi imputado o cometimento do crime previsto no artigo 2º, inciso II, da Lei8.137/1990 em continuidade delitiva, circunstância que impede que lhe sejam aplicadasdisposições referentes a duas leis distintas, exigindo-se que sejam adotados unicamente ospreceitos daquela que estava em vigor quando as condutas cessaram. Súmula 711 doSupremo Tribunal Federal.2. Habeas corpus não conhecido.(HC 278.248/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 12/08/2014, DJe12/09/2014)

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28. PERÍCIA CONTÁBIL

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA AORDEM TRIBUTÁRIA. MOMENTO CONSUMATIVO COM O LANÇAMENTO DEFINITIVO DOCRÉDITO TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO. PERÍCIA TÉCNICA. PRESCINDIBILIDADE.PRESENÇA DE OUTROS ELEMENTOS COMPROBATÓRIOS. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Considerando que o delito previsto no artigo 1º, II, da Lei 8137/90, consuma-se com a constituiçãodefinitiva do crédito tributário, a teor da Súmula Vinculante n. 24, impossível se cogitar do início docurso do prazo prescricional, como ora pretendido, em momento anterior.2. Não constitui constrangimento ilegal o indeferimento do pedido de realização de perícia contábil seo Magistrado, analisando os outros elementos constantes nos autos, decide fundamentadamente quea prova é desnecessária para a formação de seu convencimento. (RHC 72.019/PA, Rel. MinistroFELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 17/08/2017, DJe 23/08/2017) 3. Agravo regimentaldesprovido.(AgRg no AREsp 1318169/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em16/10/2018, DJe 14/11/2018)

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ART. 1º, II, DA LEINº 8.137/90. PERÍCIA CONTÁBIL. INDEFERIMENTO. CERCEAMENTO DE DEFESA.INOCORRÊNCIA. DECISÃO FUNDAMENTADA. RECURSO NÃO PROVIDO.I - Não obstante o acusado no processo penal tenha direito à produção de prova, o Magistrado temdiscricionariedade para indeferir aquelas que reputar protelatórias, irrelevantes ou impertinentes,desde que em decisão fundamentada. Doutrina.Precedentes. II - Não constitui constrangimento ilegal o indeferimento do pedido de realização de perícia contábil seo Magistrado, analisando os outros elementos constantes nos autos, decide fundamentadamente quea prova é desnecessária para a formação de seu convencimento. III - Não há que se falar em afronta ao art.158 do Código de Processo Penal, porquanto não se trata de infração em que seja imprescindível aprodução de exame de corpo de delito. A materialidade do delito sob exame é demonstrada pelaconstituição do crédito tributário.IV - O recurso em habeas corpus não é o meio adequado para a verificação da conveniência ounecessidade da produção de provas, se para tanto se fizer necessário o cotejo aprofundado doselementos fático-probatórios contidos nos autos da ação penal.Recurso ordinário desprovido.(RHC 72.019/PA, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 17/08/2017, DJe23/08/2017)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.INÉPCIA DA DENÚNCIA. PEÇA INAUGURAL QUE ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOSE DESCREVE CRIME EM TESE. AMPLA DEFESA GARANTIDA.MÁCULA NÃO EVIDENCIADA.1. Não pode ser acoimada de inepta a denúncia formulada em obediência aos requisitos traçados noartigo 41 do Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente as condutas típicas, cuja autoriaé atribuída ao recorrente devidamente qualificado, circunstâncias que permitem o exercício da ampladefesa no seio da persecução penal, na qual se observará o devido processo legal.ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. AUSÊNCIA DE DOLO DO ACUSADO.ILEGITIMIDADE PASSIVA PARA FIGURAR NA AÇÃO PENAL. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTODO CONJUNTO PROBATÓRIO. VIA INADEQUADA. ACÓRDÃO OBJURGADO EM CONSONÂNCIACOM A JURISPRUDÊNCIA DESTE SODALÍCIO.

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1. Em sede de habeas corpus somente deve ser obstada a ação penal se restar demonstrada, deforma indubitável, a ocorrência de circunstância extintiva da punibilidade, a manifesta ausência deindícios de autoria ou de prova da materialidade do delito, e ainda, a atipicidade da conduta.2. Estando a decisão impugnada em total consonância com o entendimento jurisprudencial firmadopor este Sodalício, não há falar em absolvição sumária do acusado, pois, de uma superficial análisedos elementos probatórios contidos no presente mandamus, não se vislumbra estarem presentesquaisquer das hipóteses que autorizam a interrupção prematura da persecução criminal por esta via,já que seria necessário o profundo estudo das provas, as quais deverão ser oportunamente valoradaspelo juízo competente.PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. PENA HIPOTÉTICA. AUSÊNCIA DE PREVISÃOLEGAL. INADMISSIBILIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE INÍCIO DO PRAZO PRESCRICIONAL ANTESDA CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. ENUNCIADO N. 24 DA SÚMULAVINCULANTE DO STF. NÃO OCORRÊNCIA DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.1. Este Tribunal adota o entendimento de que é inviável a declaração de extinção da punibilidade doagente pela prescrição da pretensão punitiva com suporte na sanção hipoteticamente calculada, poiso ordenamento jurídico pátrio não admite o reconhecimento da referida causa em perspectiva,antecipada ou virtual. Enunciado 438 da Súmula deste Superior Tribunal de Justiça.2. Considerando que o crime imputado ao recorrente consuma-se com a constituição definitiva docrédito tributário, nos termos do enunciado 24 da Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal,impossível se cogitar do início do curso do prazo prescricional, como pretendido na inicial dainsurgência, em momento anterior.3. Analisando-se os documentos constantes dos autos, inviável a extinção da punibilidade doacusado, pois o período compreendido entre a constituição definitiva do crédito tributário (24.11.2010)e o recebimento da denúncia (17.9.2012), não foi superior ao prazo prescricional estabelecido para osdelitos descritos na peça acusatória, na forma do artigo 109 do Código Penal, qual seja, 12 (doze)anos.AUSÊNCIA PROVA DA MATERIALIDADE DO CRIME. INEXISTÊNCIA DE CERTIDÃO DA DÍVIDAATIVA EMITIDA EM DESFAVOR DO RECORRENTE. NÃO REALIZAÇÃO DE PERÍCIA CONTÁBIL.IRRELEVÂNCIA. MATERIALIDADE CONSTATADA COM A CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DOCRÉDITO TRIBUTÁRIO QUANTO À PESSOA JURÍDICA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃOCARACTERIZADO.1. Quando os ilícitos tributários são praticados na gestão de pessoas jurídicas e em favor destas, éirrelevante, para a persecução penal, que os responsáveis pelas condutas delituosas tenhamintegrado pessoalmente a relação procedimental deflagrada na esfera administrativa com a finalidadede constituir o crédito.2. Não se revela indispensável a realização de perícia contábil para a comprovação damaterialidade dos crimes previstos no artigo 1º da Lei 8.137/1990, já que a constituiçãodefinitiva do crédito tributário é suficiente para tal fim. Precedente.EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA ADESÃO A PROGRAMA DE PARCELAMENTO.AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DE QUAISQUER DAS PARCELAS DO AJUSTE.IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO.1. Consoante se observa da inicial e da decisão que não absolveu sumariamente o acusado, houvepedido de parcelamento da dívida, mas não foi adimplida nenhuma de suas parcelas, o que inviabilizaa extinção da punibilidade do acusado nesta sede.ALEGADA OCORRÊNCIA DE BIS IN IDEM. INEXISTÊNCIA DE IDENTIDADE ENTRE OS FEITOS.DIFERENTES CONDUTAS IMPUTADAS AO RECORRENTE EM CADA UM DOS PROCESSOS.ILEGALIDADE NÃO EVIDENCIADA.1. Na hipótese dos autos, não restou evidenciada a ocorrência do alegado bis in idem, tendo em vistaque as ações penais deflagradas em desfavor do recorrente cuidam de fatos delituosos distintos.PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE COM BASE NO ARTIGO 40 DA LEI 6.830/1980.DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA IMPUTADA AO ACUSADO.INCONSTITUCIONALIDADE DA PREVISÃO DOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.FALTA DE DEFESA DO RECORRENTE NA ESFERA ADMINISTRATIVA.

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MATÉRIAS NÃO APRECIADAS PELA CORTE DE ORIGEM NA DECISÃO COMBATIDA.SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.1. Inviável a apreciação diretamente por esta Corte Superior de Justiça, sob pena de atuar emindevida supressão de instância, da aventada ocorrência da prescrição intercorrente com base noartigo 40 da Lei 6.830/1980, da pretendida desclassificação da conduta imputada ao acusado, davislumbrada inconstitucionalidade da previsão de crimes contra a ordem tributária e da indigitada faltade defesa do recorrente na esfera administrativa, tendo em vista que tais questões não foramanalisadas pelo Tribunal de origem na decisão objurgada.2. Recurso parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido.(RHC 43.332/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 14/10/2014, DJe22/10/2014)

29. PRESCRIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente à tipificação dascondutas previstas no art. 1º, I a IV, da Lei n. 8.137/90, de forma que o eventual reconhecimentoda prescrição tributária não afeta a persecução penal, diante da independência entre asesferas administrativo-tributária e penal.

Acórdãos

RHC 081446/RJ,Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Julgado em13/06/2017,DJE 30/06/2017;

RHC 067771/MG, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 10/03/2016,DJE17/03/2016;

AgRg no AREsp 202617/DF, Rel. Ministro CAMPOS MARQUES(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), QUINTA TURMA, Julgado em11/04/2013,DJE 16/04/2013.

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.ARTIGO 1º, INCISOS I, DA LEI 8.137/1990. CRÉDITO TRIBUTÁRIO REGULAR EDEFINITIVAMENTE CONSTITUÍDO. EXTINÇÃO POSTERIOR DO CRÉDITO, EM RAZÃO DAPRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. AUSÊNCIA DE REFLEXO NO ÂMBITO PENAL. APLICAÇÃO,POR ANALOGIA, DA REGRA DO ART. 9º, §2º, DA LEI 10.684/03. IMPOSSIBILIDADE. RECURSODESPROVIDO. 1. A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente à tipificação das condutasprevistas no art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90.2. A circunstância de, posteriormente, ter sido extinta a execução fiscal ajuizada, diante dacaracterização da prescrição intercorrente do crédito tributário, não afeta a persecução penal.Precedentes.3. Embora constitua a prescrição uma causa de extinção do crédito tributário (CTN, art. 156, V),tal circunstância não implica que a obrigação tributária não tenha nascido regularmente,gerando, a seu tempo, o dever de pagamento do tributo e, consequentemente, a consumaçãodo delito.4. Não é possível a aplicação analógica da norma prevista no artigo 9º, § 2º, da Lei nº10.684/2003 - que prevê a extinção da punibilidade dos crimes tributários em caso de

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pagamento integral do quantum debeatur -, dada a inexistência de semelhança relevante entreo pagamento e a prescrição, à luz da ratio legis que informa o dispositivo.5. Recurso ordinário a que se nega provimento.(RHC 81.446/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em13/06/2017, DJe 30/06/2017)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA AORDEM TRIBUTÁRIA (ART. 1º DA LEI N. 8.137/90). PRESCRIÇÃO. INDEPENDÊNCIA DASESFERAS CÍVEL, ADMINISTRATIVO-TRIBUTÁRIA E PENAL. ACÓRDÃO RECORRIDO EMCONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.1. As instâncias administrativo-tributária, cível e penal são independentes, o que reflete noreconhecimento da prescrição da pretensão punitiva estatal. Desse modo, a extinção docrédito tributário pela prescrição não implica, necessariamente, a extinção da punibilidade doagente. Precedentes do STJ.2. Agravo regimental improvido.(AgRg no AREsp 202.617/DF, Rel. Ministro CAMPOS MARQUES (DESEMBARGADORCONVOCADO DO TJ/PR), QUINTA TURMA, julgado em 11/04/2013, DJe 16/04/2013)

RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ARTIGO 2º,INCISOS II E IV, DA LEI 8.137/1990. CRÉDITO TRIBUTÁRIO REGULAR E DEFINITIVAMENTECONSTITUÍDO. EXTINÇÃO POSTERIOR DO CRÉDITO, EM RAZÃO DA PRESCRIÇÃOINTERCORRENTE. AUSÊNCIA DE REFLEXO NO ÂMBITO PENAL.APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA REGRA DO ART. 9º, §2º, DA LEI 10.684/03.INADMISSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO.1. A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente à tipificação das condutasprevistas no art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90.2. A circunstância de, posteriormente, ter sido extinta a execução fiscal ajuizada, diante dacaracterização da prescrição intercorrente do crédito tributário, não afeta a persecução penal.3. A uma, porque, embora constitua a prescrição uma causa de extinção do crédito tributário(CTN, art. 156, V), tal circunstância não implica que a obrigação tributária não tenha nascidoregularmente, gerando, a seu tempo, o dever de pagamento do tributo e, consequentemente, aconsumação do delito.4. A duas, diante da impossibilidade de aplicação analógica da norma do artigo 9º, § 2º, da Leinº 10.684/2003 - que prevê a extinção da punibilidade dos crimes tributários em caso depagamento integral do quantum debeatur -, dada a inexistência de semelhança relevante entreo pagamento e a prescrição, à luz da ratio legis que informa o dispositivo.5. Recurso especial provido.(REsp 1597580/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em21/06/2016, DJe 30/06/2016)

30. PRESCRIÇÃO PENAL

O prazo prescricional, para os crimes previstos no art. 1º, I a IV, da Lei n. 8.137/90, inicia-se com a constituição definitiva do crédito tributário.

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Acórdãos

EDcl no AgRg no AREsp 318790/SE,Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTICRUZ, Julgado em 04/05/2017,DJE 11/05/2017;

RHC 061790/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, Julgadoem 13/12/2016,DJE 19/12/2016;

AgRg no AREsp 765951/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DAFONSECA, QUINTA TURMA, Julgado em 20/09/2016,DJE 26/09/2016;

REsp 1611870/PE, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,Julgado em 06/09/2016,DJE 16/09/2016;

RHC 037028/SP,Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 09/08/2016,DJE23/08/2016;AgRg nos EDcl no AREsp 479076/ES,Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTATURMA, Julgado em 02/08/2016,DJE 12/08/2016.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA ANTERIOR À EDIÇÃO DA SÚMULA VINCULANTE N.24/STF. TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL. DIVERGÊNCIA CONFIGURADA. ADOÇÃODO POSICIONAMENTO CONSAGRADO NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. NECESSIDADE DACONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA PROVIDOS.I - Segundo a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, os embargos de divergência temcomo finalidade precípua a uniformização de teses jurídicas divergentes, aplicadas dentro de ummesmo contexto.II - A análise da prescrição dos crimes materiais contra a ordem tributária deve se dar à luz daSúmula Vinculante n. 24 do Supremo Tribunal Federal, que dispõe: "não se tipifica crimematerial contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes dolançamento definitivo do tributo". Desse modo, nos termos do art. 111, do Código Penal, aprescrição da pretensão punitiva somente tem seu início com a constituição definitiva docrédito, momento em que se consuma o delito.III - Constituindo a súmula vinculante n. 24 mera consolidação de remansosa interpretação judicial,tem aplicação aos fatos ocorridos anteriormente à sua edição. Precedentes IV - Não transcorrido o lapso prescricional entre a constituição definitiva do crédito e o recebimento dadenúncia, ou entre esta e a prolação de sentença condenatória, impõe-se a reforma do julgado que adeclara consumada, com a consequente devolução dos autos à respectiva Turma para apreciaçãodas demais teses recursais levantadas.Embargos de divergência providos.(EREsp 1318662/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/11/2018,DJe 04/12/2018)

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31. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTODO INQUÉRITO POLICIAL. POSSIBILIDADE. ATIPICIDADE. VALOR DO TRIBUTO. LEI ESTADUALN. 14.272/2010. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.1. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o trancamento de inquérito policial,por meio de habeas corpus ou recurso em habeas corpus, é medida de exceção, sendo cabível, tãosomente, quando inequívoca a ausência de justa causa, a atipicidade do fato ou a inexistência deautoria por parte do indiciado.2. A razão para a aplicabilidade do princípio da insignificância em delitos contra a ordem tributáriaestá contida na orientação de que a avaliação da tipicidade possui como parâmetro aqueleobjetivamente estipulado para a atuação do Estado em matéria de execução fiscal, ou seja, o valor dotributo devido.3. A Terceira Seção desta Corte, revisando a tese firmada por ocasião do julgamento do REspn. 1.112.748/TO, consolidou o entendimento de que incide o princípio da insignificância aoscrimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado nãoultrapassar o limite de R$ 20.000,00, a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com asatualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130 do Ministério da Fazenda (REsp n.1.709.029/MG, relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em28/2/2018, DJe 4/4/2018).4. A aplicação da bagatela aos tributos de competência estadual encontra-se subordinada àexistência de norma do ente competente no mesmo sentido da norma federal, porquanto aliberalidade da União para arquivar, sem baixa na distribuição, as execuções fiscais de débitoscom a Fazenda Nacional cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 não seestende, de maneira automática, aos demais entes federados.5. A Lei n. 14.272/2010 do Estado de São Paulo dispõe que "Fica o Poder Executivo, por meio dosórgãos competentes da Procuradoria Geral do Estado, autorizado a não propor ações, inclusiveexecuções fiscais, assim como requerer a desistência das ajuizadas, para cobrança de débitos denatureza tributária ou não tributária, cujos valores atualizados não ultrapassem 600 (seiscentas)Unidades Fiscais do Estado de São Paulo - UFESPs", valor atualizado para 1.200 UFESP' pelaResolução n. 21/2017 da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo.6. Na hipótese, o valor principal do tributo, desconsiderados juros, correção e multas, é de R$4.687,97, de modo que, tendo em vista o disposto na Lei estadual n. 14.272/2010, incide o princípioda insignificância, nos moldes da jurisprudência desta Corte acerca do tema.7. Ordem concedida para determinar o trancamento do Inquérito Policial 0004281-95.2018.8.26.0348,ressalvada a possibilidade de reabertura caso existam outros débitos cuja soma dos valoresultrapasse o limite estabelecido no art. 1º da Lei estadual n.14.272/2010.(HC 480.916/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em11/06/2019, DJe 21/06/2019)

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DO PROCESSO-CRIME. EXCEPCIONALIDADE. JUSTACAUSA PARA A PERSECUÇÃO PENAL. ATIPICIDADE. MATÉRIA DECIDIDA PELA TERCEIRASEÇÃO NO HC 399.109/SC. (DECLARAÇÃO DO IMPOSTO DEVIDO EM GUIAS PRÓPRIAS.IRRELEVÂNCIA PARA A CONFIGURAÇÃO DO DELITO. TERMOS "DESCONTADO E COBRADO".ABRANGÊNCIA. TRIBUTOS DIRETOS EM QUE HÁ RESPONSABILIDADE POR SUBSTITUIÇÃO ETRIBUTOS INDIRETOS. DENÚNCIA INEPTA. NÃO OCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DAINSIGNIFICÂNCIA. REsp 1.112.748/TO, REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. TRIBUTOMUNICIPAL. NÃO APLICAÇÃO. DIFICULDADE FINANCEIRA DA EMPRESA. AUSÊNCIA DE PROVA

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PRÉ-CONSTITUÍDA. INSTRUÇÃO DEFICIENTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃOCONFIGURADO. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Nos termos do entendimento consolidado desta Corte, o trancamento da ação penal por meio dohabeas corpus é medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houver inequívocacomprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou daausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito.2. Embora não se admita a instauração de processos temerários e levianos ou despidos de qualquersustentáculo probatório, nessa fase processual deve ser privilegiado o princípio do in dubio prosocietate. De igual modo, não se pode admitir que o Julgador, em juízo de admissibilidade daacusação, termine por cercear o jus accusationis do Estado, salvo se manifestamente demonstrada acarência de justa causa para o exercício da ação penal.3. A questão relativa à atipicidade da apropriação indébita tributária foi pacificada no âmbito daTerceira Seção, na ocasião do julgamento do HC 399.109/SC, no qual se firmou o entendimentode que "o sujeito ativo do crime de apropriação indébita tributária é aquele que ostenta aqualidade de sujeito passivo da obrigação tributária, conforme claramente descrito pelo art. 2º,II, da Lei n. 8.137/1990, que exige, para sua configuração, seja a conduta dolosa (elementosubjetivo do tipo), consistente na consciência (ainda que potencial) de não recolher o valor dotributo devido. A motivação, no entanto, não possui importância no campo da tipicidade, ouseja, é prescindível a existência de elemento subjetivo especial."4. Asseverou-se, ainda, que "a descrição típica do crime de apropriação indébita tributáriacontém a expressão "descontado ou cobrado", o que, indiscutivelmente, restringe aabrangência do sujeito ativo do delito, porquanto nem todo sujeito passivo de obrigaçãotributária que deixa de recolher tributo ou contribuição social responde pelo crime do art. 2º, II,da Lei n. 8.137/1990, mas somente aqueles que "descontam" ou "cobram" o tributo oucontribuição."5. Conclui-se, assim, que "a interpretação consentânea com a dogmática penal do termo"descontado" é a de que ele se refere aos tributos diretos quando há responsabilidadetributária por substituição, enquanto o termo "cobrado" deve ser compreendido nas relaçõestributárias havidas com tributos indiretos (incidentes sobre o consumo)".6. No caso em exame, verifica-se que a denúncia narra todos os aspectos constitutivos do tipoprevisto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990, na medida em que os recorrentes, administradoresda empresa GESTHO, deixaram de recolher o ISSQN, descontado (retido na fonte dosprestadores de serviços), na qualidade de sujeito passivo da obrigação, por anos seguidos (dejaneiro de 2012 a dezembro de 2015), resultando na supressão/redução de carga tributáriaavaliada em pouco mais de R$ 8.800.000,00 (oito milhões e oitocentos mil reais). Assim, osrecorrentes deixaram de recolher, no prazo legal, na qualidade de sujeito passivo de obrigaçãotributária, valor do tributo (ISSQN) descontado dos prestadores de serviços da empresa e quedeveria recolher aos cofres públicos.7. A Terceira Seção desta Corte Superior firmou orientação, no julgamento dos REsps1.709.029/MG e 1.688.878/SP, representativos da controvérsia, no sentido de que incide oreferido princípio aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributárioverificado não ultrapassar a quantia de vinte mil reais, estabelecida no art. 20 da Lei n.10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministérioda Fazenda, o que não se verifica na espécie.8. Hipótese em o referido entendimento tem aplicação somente aos tributos da competência daUnião. Para ser estendido ao âmbito municipal, necessária seria a existência de lei local nomesmo sentido, o que não restou demonstrado no recurso.9. Em sede de recurso em habeas corpus, a prova deve ser pré-constituída e incontroversa, cabendoao recorrente apresentar documentos suficientes à análise de eventual ilegalidade flagrante no atoatacado. 10. Na espécie, a alegação de que "a inadimplência se deve a grave dificuldade financeirasuportada pela empresa gerida" pelos recorrentes, razão pela qual não houve a intenção de lesar ofisco, não restou comprovada nos autos, não sendo suficiente a simples transcrição de supostadeclaração do fisco municipal acerca do parcelamento da dívida tributária.

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11. Recurso não provido. Liminar cassada.(RHC 90.109/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 19/03/2019, DJe25/03/2019)

32. QUESTÃO PREJUDICIAL

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1. PEDIDO DEAPENSAMENTO. PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO E CAUTELAR DE BUSCA E APREENSÃO.INVIABILIDADE E AUSÊNCIA DE UTILIDADE. INVESTIGAÇÃO EM ANDAMENTO. 2. CRIMETRIBUTÁRIO. CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO.SÚMULA VINCULANTE 24/STF. AJUIZAMENTO DE AÇÃO ANULATÓRIA.IRRELEVÂNCIA. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS. 3. EVENTUAL PROCEDÊNCIA DA AÇÃOANULATÓRIA. PENDÊNCIA DE RECURSO. REPERCUSSÃO NA MATERIALIDADE DELITIVA.POSSIBILIDADE DE SUSPENSÃO NA SEARA PENAL. 4. DEFERIMENTO DO PEDIDO LIMINAR.SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.ART. 151 DO CTN. PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DA TESE. REPERCUSSÃO NA MATERIALIDADEDELITIVA. POSSIBILIDADE DE SUSPENSÃO NA SEARA PENAL.5. DÚVIDA RAZOÁVEL SOBRE A MATERIALIDADE. QUESTÃO PREJUDICIAL APLICAÇÃO DOART. 93 DO CPP. 6. CAUSA IMPEDITIVA DA PRESCRIÇÃO. ART.116, I, DO CP. 7. RECURSO EM HABEAS CORPUS A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO.1. O apensamento de um procedimento investigatório, em trâmite no Ministério Público, aos autos doprocedimento cautelar de busca e apreensão, em trâmite no judiciário, não revela utilidade nem semostra consentâneo com o processo penal. Assim, eventual apensamento apenas se revela possívelapós o encerramento das investigações.2. Somente há justa causa para a persecução penal pela prática do crime previsto no art. 1º da Lei n.8.137/1990 com o lançamento definitivo do crédito tributário, nos termos da Súmula Vinculante n.24/STF. Nesse contexto, "havendo lançamento definitivo, a propositura de ação cível discutindo aexigibilidade do crédito tributário não obsta o prosseguimento da ação penal que apura a ocorrênciade crime contra a ordem tributária, tendo em vista a independência das esferas cível e penal". (AgRgno REsp 1390734/PR, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 13/03/2018, DJe21/03/2018).3. A procedência da ação anulatória, mesmo que ainda pendente de recurso, repercute diretamentesobre a constituição definitiva do crédito tributário, enfraquecendo a materialidade delitiva.Dessarte, é recomendável que o Juízo Criminal aguarde o trânsito em julgado da referida decisão,para dar continuidade ou não à Ação Penal. Com efeito, a "conclusão alcançada pelo juízo cívelafetou diretamente o lançamento do tributo, maculando a própria constituição do crédito tributário,razão pela qual mostra-se prudente aguardar o julgamento definitivo na esfera cível" (HC 161.462/SP,Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, DJe 25/6/2013).4. Na hipótese dos autos, ainda não houve julgamento de mérito das ações anulatórias. Contudo, osMagistrados de origem deferiram o pedido de tutela provisória de urgência, para determinar asuspensão da exigibilidade dos créditos tributários. Observa-se, dessa forma, que a plausibilidadejurídica da tese apresentada pelos recorrentes foi reconhecida na seara cível, com a consequentesuspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos termos do art. 151, V, do CTN. Nesse contexto,deve ser reconhecida a existência de dúvida razoável sobre a própria materialidade do delito, o querecomenda a suspensão das investigações no juízo criminal, nos termos do art. 93 do CPP.5. Nessa linha de intelecção, tem-se que, apesar de a constituição definitiva do crédito tributáriorevelar a adequada tipicidade do crime tributário, a procedência da ação anulatória, ainda quependente de recurso, bem como a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos termos do art.151 do CTN, demonstram a plausibilidade de questão prejudicial de competência do juízo cível.

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Verificada dúvida razoável sobre a própria materialidade do delito, é prudente suspender o trâmite nojuízo penal para aguardar a solução no juízo cível, nos termos do art. 93 do CPP. 6. Não se podedescurar, por fim, que a suspensão das investigações ou mesmo do processo, em virtude de questãoprejudicial, é causa impeditiva da prescrição, nos termos do art. 116, I, do CP, motivo pelo qual ficaigualmente suspenso o curso do prazo prescricional.7. Recurso em habeas corpus a que se dá parcial provimento, apenas para suspender o trâmite doPIC n. 0071.18.000.073-0, nos termos do art. 93 do CPP, com observância do disposto no art. 116, I,do CP.(RHC 113.294/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em13/08/2019, DJe 30/08/2019)

RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. PEDIDO DETRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. EXCEPCIONALIDADE NÃO CONFIGURADA. PEDIDO DESUSPENSÃO DA AÇÃO PENAL. AÇÃO ANULATÓRIA NA ESFERA CÍVEL.CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO INALTERADA. PRESENÇA DE JUSTA CAUSA PARA APERSECUÇÃO PENAL. INDEPENDÊNCIA ENTRE AS ESFERAS CÍVEL, CRIMINAL EADMINISTRATIVA. SUSPENSÃO FACULTATIVA A CRITÉRIO DO JUÍZO CRIMINAL. ARTIGO 93 DOCÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CPP. COAÇÃO ILEGAL INEXISTENTE. RECURSO AO QUAL SENEGA PROVIMENTO.1. Este Sodalício pacificou o entendimento segundo o qual, em razão da excepcionalidade dotrancamento da ação penal, tal medida somente se verifica possível quando ficar demonstrado - deplano e sem necessidade de dilação probatória - a total ausência de indícios de autoria e prova damaterialidade delitiva, a atipicidade da conduta ou a existência de alguma causa de extinção dapunibilidade. 2. No caso concreto, busca-se o trancamento, ou a suspensão, da ação penal que apuraa prática de crime contra ao ordem tributária, ao argumento de que a exigibilidade do crédito tributárioestá suspensa em razão de tutela antecipada concedida em ação anulatória que tramita na Vara daFazenda Pública Estadual.Contudo, o mero ajuizamento de ação anulatória não desconstitui, per si, o crédito tributário. Persistea condição de procedibilidade da ação penal exigida na Súmula Vinculante 24 do Supremo TribunalFederal - STF, segundo a qual "não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art.1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990, antes do lançamento definitivo do tributo." No caso em análise, éincontroverso que houve constituição definitiva do tributo e esgotamento da via administrativa.3. A suspensão do processo penal em virtude de questão prejudicial prevista no art. 93 do Código deProcesso Penal - CPP é facultativa, dependendo da discricionariedade do juízo diante dasparticularidades do caso concreto. Precedentes.4. Esta Corte Superior tem admitido a suspensão da ação penal apenas na hipótese dedesconstituição do crédito tributário por sentença judicial, mesmo com recurso pendente dejulgamento, o que não é o caso dos autos. Precedentes.5. Recurso desprovido.(RHC 88.672/GO, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 13/11/2018,DJe 28/11/2018)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSOESPECIAL. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. RECEITA FEDERAL. UTILIZAÇÃO DEDADOS BANCÁRIOS PARA FINS PENAIS SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. ILEGALIDADE.AGRAVO IMPROVIDO.1. Nos termos da orientação jurisprudencial desta Corte, Não cabe à Receita Federal, órgãointeressado no processo administrativo tributário e sem competência constitucional específica,fornecer dados obtidos mediante requisição direta às instituições bancárias, sem prévia autorizaçãodo juízo criminal, para fins penais (HC 258.460/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSISMOURA, SEXTA TURMA, julgado em 05/08/2014, DJe 18/08/2014).

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2. Agravo regimental improvido.(AgRg no AREsp 1118753/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em03/05/2018, DJe 15/05/2018)PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.SÚMULA VINCULANTE N. 24/STF. PECULIARIDADES DO CASO. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO CÍVELDE ANULAÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO, AINDA PENDENTE DE RECURSO. SUSPENSÃO DAAÇÃO PENAL E DO PRAZO PRESCRICIONAL. RECURSO NÃO PROVIDO.1. Nos termos do entendimento consolidado desta Corte, o trancamento da ação penal ou inquéritopor meio do habeas corpus é medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houverinequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção dapunibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito. 2. Nocaso dos autos, perquire-se a suposta prática dos crimes dos arts. 1º, I e II, da Lei n. 8.137/1990 e337-A, I e III, do Código Penal, que, por sua natureza material, somente se configuram após aconstituição definitiva, no âmbito administrativo. 3. Segundo o verbete sumular vinculante n. 24/STF:"Não se tipifica o crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei n. n.8.137/1990, antes do lançamento definitivo do tributo".4. É imprescindível destacar o entendimento reiterado desta Corte Superior acerca da independênciaentre as esferas cível e penal, de modo que a "impugnação do débito na seara cível, não obstantepossa ter consequências sobre o julgamento da lide penal, não obsta, automaticamente, a persecutiocriminis" (HC 103.424/RS, Rel.Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, DJe 16/3/2012).5. Na hipótese em exame, foi dada procedência à ação anulatória da constituição do crédito tributário,contudo, ainda, não definitiva, pois pendente de apreciação da causa pelo TRF da 3ª Região em sedede recurso.6. A "conclusão alcançada pelo juízo cível afetou diretamente o lançamento do tributo, maculando aprópria constituição do crédito tributário, razão pela qual mostra-se prudente aguardar o julgamentodefinitivo na esfera cível" (HC 161.462/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTATURMA, DJe 25/6/2013).7. A concessão parcial da ordem, pelo acórdão ora recorrido, para determinar a suspensão doinquérito policial e do curso do prazo prescricional esvazia a pretensão da presente irresignação,porquanto o depósito do valor integral não se equivale a pagamento, condição para a extinção dapunibilidade.8. Recurso não provido.(RHC 27.774/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 12/12/2017, DJe19/12/2017)

33. SIGILO BANCÁRIO

PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME TRIBUTÁRIO (ART. 1º, I,DA LEI N. 8.137/1990). PROCESSO CRIMINAL INSTRUÍDO COM BASE EM DADOSDECORRENTES COMPARTILHAMENTO DE DADOS FINANCEIROS DAS INSTITUIÇÕESBANCÁRIAS COM A AUTORIDADE FISCAL. AUSÊNCIA DE PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. ART. 6º DALEI COMPLEMENTAR N. 105/01.CONSTITUCIONALIDADE. ADI 2.390/DF. RE 601.314/SP.CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência dos tribunais superiores admite o trancamento do inquérito policial ou de açãopenal, excepcionalmente, nas hipóteses em que se constata, sem o revolvimento de matéria fático-probatória, a ausência de indícios de autoria e de prova da materialidade, a atipicidade da conduta oua extinção da punibilidade, o que não se observa neste caso. Precedentes.

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2. A conduta de inadimplir o crédito tributário, de per si, pode não constituir crime. Caso osujeito passivo declare todos os fatos geradores à Administração Tributária, conformeperiodicidade exigida em lei, cumpra as obrigações tributárias acessórias e mantenha aescrituração contábil regular, não há falar em sonegação fiscal (Lei n. 8137/1990, art. 1º), masem mero inadimplemento, passível de execução fiscal. Os crimes contra a ordem tributária,exceto o de apropriação indébita tributária e previdenciária, pressupõem, além doinadimplemento, a ocorrência de alguma forma de fraude, que poderá ser consubstanciada emomissão de declaração, falsificação material ou ideológica, a utilização de documentosmaterial ou ideologicamente falsos, simulação, entre outros meios.3. Hipótese em que a denúncia foi instruída com elementos de informação capazes de provar amaterialidade dos crimes tributários em questão, tendo apontado inícios suficientes de autoria ao réu,ora recorrente. A Representação Fiscal para fins Penais aponta a materialidade de sonegação fiscal,e não mero inadimplemento.4.Diante das circunstâncias narradas, não se pode vislumbrar conclusão diversa senão a existência,ao menos, de indícios de que o recorrente teria efetivamente sonegado pagamento de tributos.Ressalte-se que os indícios de autoria imputados não implicam sua condenação antecipada, o queindicaria inarredável ilegalidade. Muito pelo contrário, o órgão ministerial, diante da materialidade docrime e dos indícios de autoria, ao promover a denúncia, mostrou-se cumpridor do desiderato daobrigatoriedade da ação penal pública incondicionada.5. A Lei Complementar 105/2001 regulamenta a intimidade e vida privada relativas àsinformações bancárias dos indivíduos, reafirmando ser o sigilo bancário a regra a ser seguidapelas instituições financeiras, consoante afirma art. 1º da referida Lei. Entrementes, quandoindispensáveis ao êxito do lançamento tributário, o art. 6º possibilita o acesso de dadosbancários do sujeito passivo tributário pelo Fisco, por meio de requisição de informação demovimentação financeira (RMF), para identificação por meio de legítima atividadefiscalizatória, do patrimônio, dos rendimentos e das atividades econômicas, vedando-se,contudo, a divulgação dessas informações, com o fim de resguardar a intimidade e a vidaíntima do correntista. Trata-se, pois, de verdadeiro compartilhamento sigiloso de informaçõesbancárias de instituições financeiras para à Administração Tributária, motivo pelo qual não háfalar em quebra de sigilo, mas mera transferência desse sigilo, cuja violação acarreta sançãopenal ao responsável (LC 105/01, art. 10).6. O Supremo Tribunal Federal pacificou a controversa relativa à possibilidade de obtençãopelo Fisco de dados bancários sigilosos dos sujeitos passivos tributários, independentementede decisão judicial, ao julgar improcedentes as ADIs 2.390/DF, 2.386/DF, 2.397/DF e 2.859/DF,para declarar a constitucionalidade do art. 6º da Lei Complementar n. 105/01.7. A Suprema Corte afirmou, em sede de repercussão geral, no julgamento do RE 601.314/SP,que o "art. 6º da Lei Complementar 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois realizaa igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade contributiva, bemcomo estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo da esfera bancária para afiscal".8. A Quinta Turma desta Corte reafirmou sua jurisprudência no sentido de que "o envio dosdados sigilosos pela Receita Federal à Polícia ou ao Ministério Público, após o esgotamentoda via administrativa, com a constituição definitiva de crédito tributário, decorre de meraobrigação legal de se comunicar às autoridades competentes a possível prática de ilícito, oque, por certo, não pode representar ofensa ao princípio da reserva de jurisdição. Portanto,não há falar em ofensa ao princípio da reserva de jurisdição, em virtude do compartilhamentocom o Ministério Público para fins penais, de dados bancários legitimamente obtidos pelaReceita Federal e compartilhados no cumprimento de seu dever legal, sem autorizaçãojudicial, por ocasião do esgotamento da via administrativa fiscalizatória, em virtude daconstatação de possível prática de crime tributário. Essa é exatamente a hipótese dos autos,motivo pelo qual não há qualquer irregularidade na representação fiscal para fins penais quesubsidiou a denúncia apresentada contra o recorrente, não havendo se falar, portanto, em

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nulidade. Reformulação parcial do ponto de vista originário do Relator" (HC 464.896/RJ, Rel.Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, DJe 1º/10/2018).9. No caso em exame, observa-se que a representação fiscal para fins penais que subsidiou adenúncia policial baseou-se na análise das movimentações financeiras do recorrente, o que,como visto, é admitido pelo ordenamento jurídico pátrio, tratando-se, pois, de prova lícita.10. Recurso não provido.(RHC 86.565/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 21/02/2019, DJe01/03/2019)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA A ORDEMTRIBUTÁRIA. COMPARTILHAMENTO DE DADOS BANCÁRIOS OBTIDOS PELA RECEITAFEDERAL COM O MINISTÉRIO PÚBLICO, PARA FINS DA PERSECUÇÃO CRIMINAL.ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA FISCALIZATÓRIA E CONSTATAÇÃO DE POSSÍVELCRIME. LEGALIDADE DA PROVA. COMUNICAÇÃO QUE DECORRE DE OBRIGAÇÃO LEGAL.AUSÊNCIA E OFENSA À RESERVA DE JURISDIÇÃO. AGRAVO PROVIDO.I - É lícito o compartilhamento promovido pela Receita Federal, dos dados bancários por elaobtidos a partir de permissivo legal, com a Polícia e com o Ministério Público, ao término doprocedimento administrativo fiscal, quando verificada a prática, em tese, de infração penal.Precedentes.II - Não ofende a reserva de jurisdição a comunicação promovida pela Receita Federal nascondições supra descritas, por decorrer de obrigação legal expressa. Agravo provido. (AgRgno REsp 1601127/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, Rel. p/ Acórdão Ministro FELIX FISCHER,QUINTA TURMA, julgado em 20/09/2018, DJe 26/09/2018)

PENAL. PROCESSUAL PENAL. REPERCUSSÃO GERAL. SOBRESTAMENTO. AUSÊNCIADE DECISÃO. PEDIDO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO. INDEFERIMENTO. PECULATO ELAVAGEM DE DINHEIRO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E AGRAVOS REGIMENTAIS NOAGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS OPOSTOS POR RAIMUNDORECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. OPOSIÇÃO NOPRAZO LEGAL. REDIMENSIONAMENTO DAS PENAS. IMPOSSIBILIDADE. INOVAÇÃORECURSAL. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. NULIDADE. INDEFERIMENTO DOPEDIDO DE ESCLARECIMENTO DO LAUDO PERICIAL. ILEGALIDADE NÃO EVIDENCIADA.INFORMAÇÃO JÁ CONSIGNADA NO LAUDO PERICIAL. OFENSA AO ART. 619 DO CPP.INOCORRÊNCIA. MATÉRIA ANALISADA PELA CORTE DE ORIGEM. REDUÇÃO DA PENAPECUNIÁRIA. FALTA DE INDICAÇÃO DE DISPOSITIVO LEGAL VIOLADO. INCIDÊNCIA DASÚMULA 284/STF. ILICITUDE DA PROVA. BANCO CENTRAL. QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIOSEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. NÃO OCORRÊNCIA. COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÕES.POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO NA ESFERA PENAL. NULIDADE AFASTADA. ATIPICIDADE DOPECULATO-FURTO. INADMISSIBILIDADE. OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. NÃOOCORRÊNCIA. MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM ALEGAÇÕES FINAIS.IRRELEVÂNCIA. NÃO VINCULAÇÃO DO JUIZ. PLEITO ABSOLUTÓRIO. SÚMULA 7/STJ.DOSIMETRIA DA PENA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AGRAVOS REGIMENTAIS IMPROVIDOS.PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA INDEFERIDO.1. Nos termos da orientação jurisprudencial desta Corte, o reconhecimento de repercussão geral nãoenseja o sobrestamento de recurso especial em trâmite perante o STJ, tendo em vista que não hádecisão pelo Supremo Tribunal Federal determinando a suspensão de todos os processos que tratamdo mesmo assunto, nos termos do § 5º do art. 1.035 do Código de Processo Civil de 2015 (AgInt noAREsp 1092804/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em06/02/2018, DJe 09/02/2018).2. Aclaratórios opostos com nítido caráter infringente, sem pretensão de sanar vícios no julgado, emhomenagem ao princípio da fungibilidade recursal, devem ser recebidos como agravo regimental.

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3. É incabível o exame relativo ao redimensionamento da pena, suscitado apenas na via regimental,pois configurada indevida inovação recursal.4. Não viola o princípio da colegialidade a decisão monocrática do relator, tendo em vista apossibilidade de submissão do julgado ao exame do órgão colegiado, mediante a interposição deagravo regimental. 5. Não há falar em ilegalidade no indeferimento do pedido de esclarecimento dequal base técnica e científica adotada pela perícia, na medida em que tal informação já consta nolaudo técnico.6. Constatada a existência de provas suficientes para a condenação pelo tipo do art. 1º, V, da Lei9.6313/98, a desconstituição das premissas fáticas assentadas no acórdão recorrido, para fins deabsolvição exige o revolvimento fático-probatório, o que encontra óbice na Súmula 7/STJ.7. Nos termos da jurisprudência desta Corte, não se acolhe alegação de nulidade por cerceamento dedefesa, em função do indeferimento de diligências requeridas pela defesa, pois o magistrado, que é odestinatário final da prova, pode, de maneira fundamentada, indeferir a realização daquelas queconsiderar protelatórias ou desnecessárias ou impertinentes (REsp. 1.519.662/DF, Rel. Min. MARIATHEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 1/9/2015).8. O art. 2º, § 1º, da LC 105/2001 autoriza que o Banco Central obtenha acesso aos documentose às informações relacionados à instituição financeira, devendo resguardar o sigilo durante oexercício das atribuições, que poderão ser utilizados no exercício da atividade fiscalizatóriadas instituições financeiras.9.Mostra-se válido o encaminhamento ao Ministério Público de dados obtidos diretamente peloBanco Central sem decisão judicial, para fins de aproveitamento no processo penal por crimescontra a ordem tributária, por se tratar apenas de transferência de sigilo entre órgãos com omesmo dever de preservação. 10. Irrelevante a natureza bem móvel apropriado, se público ou particular, e a posse do bem pelofuncionário público, quando se valer das facilidades que o cargo lhe proporciona para a configuraçãodo delito de peculato-furto, sendo certo que a revisão do julgado, para fins de afastamento datipicidade da conduta, encontra óbice na Súmula 7/STJ.11. Nos termos do art. 385 do CPP, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, ojuiz poderá proferir sentença condenatória, com base no princípio do livre convencimento motivado.12. No tocante à redução da pena pecuniária, incide o óbice da Súmula 284/STF, porquanto ausentea indicação do dispositivo infraconstitucional violado.13. Mostra-se legítima a exasperação da pena-base pela culpabilidade em razão da relevância docargo público de Chefe de Gabinete do Governador - não se confundindo com a elementarfuncionário público do tipo penal -, bem como por se tratar de advogado, circunstâncias que denotammaior reprovabilidade de sua conduta.14. Cabível a exasperação da pena-base pelo exercício do cargo de Presidente de AssembleiaLegislativa, à época dos fatos, por extrapolar as elementares do tipo penal.15. A matéria não abordada no recurso especial constitui indevida inovação recursal, atingida pelapreclusão consumativa.16. Não há desproporcionalidade na exasperação da pena-base em 1/6 para cada circunstânciajudicial desfavorável, considerando-se as penas mínima e máxima abstratamente cominadas ao delitode peculato-furto.17. Embargos de declaração de RAIMUNDO conhecidos como agravo regimental e agravosregimentais improvidos e indeferido o pedido de tutela provisória de fls. 6.717/6.724. (AgRg no AREsp1035285/ES, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 04/09/2018, DJe13/09/2018)

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIMESDE SONEGAÇÃO FISCAL E APROPRIAÇÃO INDÉBITA TRIBUTÁRIA (LEI N. 8.137/1990, ART. 1º,INC. I, E ART. 2º, INC. II). INÉPCIA DA INICIAL ACUSATÓRIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DOART. 41 DO CPP. DENÚNCIA GENÉRICA NÃO EVIDENCIADA. DEMONSTRADA A MÍNIMACORRELAÇÃO DOS FATOS DELITUOSOS COM A ATIVIDADE DO ACUSADO. JUSTA CAUSA.

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LASTRO PROBATÓRIO MÍNIMO EVIDENCIADO. PROCESSO CRIMINAL INSTRUÍDO COM BASEEM DADOS DECORRENTES COMPARTILHAMENTO DE DADOS FINANCEIROS DASINSTITUIÇÕES FINANCEIRAS COM A AUTORIDADE FISCAL. AUSÊNCIA DE PRÉVIAAUTORIZAÇÃO JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO FISCALPARA FINS PENAIS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. RECURSO DESPROVIDO.ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.1. Cumpre esclarecer que a jurisprudência dos tribunais superiores admite o trancamento do inquéritopolicial ou de ação penal, excepcionalmente, nas hipóteses em que se constata, sem o revolvimentode matéria fático-probatória, a ausência de indícios de autoria e de prova da materialidade, aatipicidade da conduta ou a extinção da punibilidade, o que não se observa neste caso.Precedentes. 2. A conduta de inadimplir o crédito tributário, de per si, pode não constitui crime. Caso o sujeitopassivo declare todos os fatos geradores à Administração Tributária, conforme periodicidade exigidaem lei, cumpra as obrigações tributárias acessórias e mantenha a escrituração contábil regular, nãohá falar em sonegação fiscal (Lei n. 8137/1990, art. 1º), mas mero inadimplemento, passível deexecução fiscal. Os crimes contra a ordem tributária, exceto o de apropriação indébita tributária eprevidenciária, além do inadimplemento, pressupõe a ocorrência de alguma forma de fraude, quepoderá ser consubstanciada em omissão de declaração, falsificação material ou ideológica, autilização de documentos material ou ideologicamente falsos, simulação, entre outros meios.3. A alegação de inépcia da denúncia deve ser analisada de acordo com os requisitos exigidos pelosarts. 41 do CPP e 5º, LV, da CF/1988. Portanto, a peça acusatória deve conter a exposição do fatodelituoso em toda a sua essência e com todas as suas circunstâncias, de maneira a individualizar oquanto possível a conduta imputada, bem como sua tipificação, com vistas a viabilizar a persecuçãopenal e o contraditório pelo réu. Precedentes.4. In concreto, a inicial acusatória preenche os requisitos exigidos pelo art. 41 do CPP, porquantodescreve detalhadamente os elementos essenciais da conduta do réu, ora recorrente, nos termos doart. 1º, inciso I, e do art. 2º, inciso II, ambos da Lei n. 8.137/1990. O dominus litis subsume ascondutas do réu aos tipos em tela, indicando tanto o inadimplemento do crédito tributário, como afraude, para caracterizar a sonegação fiscal. Nos termos da exordial acusatória, na condição de únicoadministrador, teria recorrente suprimido tributos federais, mediante a apresentação de declaração deimposto de renda da pessoa jurídica - DIPJ 2008, referente ao ano-calendário de 2007, com osvalores relativos à receita bruta zerados, tendo, ainda, omitido-se no ano-calendário de 2008,deixando de apresentar as diversas declarações fiscais acessórias.5. Pontue-se a necessária distinção conceitual entre denúncia geral e genérica, essencial para aferir aregularidade da peça acusatória no âmbito das infrações de autoria coletiva, em especial nos crimessocietários (ou de gabinete), que são aqueles cometidos por presentantes (administradores, diretoresou quaisquer outros membros integrantes de órgão diretivo, sejam sócios ou não) da pessoa jurídica,em concurso de pessoas. A denúncia genérica caracteriza-se pela imputação de vários fatos típicos,genericamente, a integrantes da pessoa jurídica, sem delimitar, minimamente, qual dos denunciadosteria agido de tal ou qual maneira. Patente, pois, que a criptoimputação da denúncia genérica vulneraos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, bem como a norma extraída do art.8º, 2, "b" e "c", da Convenção Americana de Direitos Humanos e do art. 41 do CPP, haja vista aindevida obstaculização do direito conferido ao acusado de preparar dignamente sua defesa.6. Imprescindível explicitar o liame do fato descrito com a pessoa do denunciado, malgrado adesnecessidade da pormenorização das condutas, até pelas comuns limitações de elementos deinformações angariados nos crimes societários, por ocasião do oferecimento da denúncia, sob penade inviabilizar a persecução penal nesses crimes.A acusação deve correlacionar com o mínimo de concretude os fatos delituosos com a atividade doacusado, não sendo suficiente a condição de sócio da sociedade, sob pena de responsabilizaçãoobjetiva.7. Nos termos da denúncia, o Parquet não se limitou a transcrever trechos dos tipos penais imputadose indicar simplesmente a condição de administrador do recorrente, tendo efetivamente descrito osatos fraudulentos utilizados para a realização da evasão fiscal, bem como a retenção indevida do

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IRPF descontado dos trabalhadores. Outrossim, vinculou concretamente, com verossimilhança, ascondutas descritas às funções ordinariamente exercidas por um administrador, a fortiori, diante daconclusão do dominus litis no sentido de ser o recorrente único administrador de fato e de direito dasociedade empresária Crown Processamento de Dados Ltda., posteriormente transformada emsociedade anônima, sob a denominação Crown Processamento de Dados S/A, tendo sido orecorrente eleito diretor presidente.8. A denúncia foi instruída com elementos de informação capazes de provar a materialidade doscrimes tributários em questão, tendo apontado inícios suficientes de autoria ao réu, ora recorrente. ARepresentação Fiscal para fins Penais (e-STJ, fls. 378/392) aponta a materialidade de sonegaçãofiscal, e não mero inadimplemento. Consta que o recorrente não atendeu sistematicamente àsintimações da Receita Federal, embaraçando a fiscalização de possíveis omissões de receitastributáveis, razão pela qual foram solicitadas informações às instituições financeiras para instruir ocompetente procedimento administrativo fiscal. Apurou-se o débito tributário de R$ 8.203.914,42 (oitomilhões, duzentos e três mil, novecentos e quatorze reais e quarenta e dois centavos). A partir dasinformações decorrentes do compartilhamento do sigilo bancário (e-STJ, fls.501-1749), diversos documentos apontam a existência de grande volume de movimentações derecursos financeiros nos anos de 2007 e de 2008, período em que houve, em tese, fornecimentoincorreto de receita (receita zero), e ausência de declarações de rendas tributáveis da pessoajurídica.9. No que toca aos indícios de autoria, a 6ª alteração contratual (e-STJ, fls. 81-85), em especial ositens 5.2 a 5.4 (e-STJ, fl. 83), aponta expressamente ser o recorrente o único administrador, cabendoexclusivamente a ele presentar ativa e passivamente a sociedade, bem como utilizar a denominaçãosocial. Outrossim, a sócia Crown Holding e aquisições Ltda., cujo presentante era o recorrente,detinha 99% (noventa e nove por cento) do capital social da sociedade Crown Processamento deDados Ltda.; por outro lado, o sócio minoritário, Aluísio Mol de Freitas, detinha simbólicos 1% (um porcento) do capital social, artifício comumente utilizado pelos efetivos empresários individuaissimularem a existência de uma sociedade, com o fim de gozar da limitação de responsabilidadeconferida às sociedades empresárias. Mais do que isso, os depoimentos de Saul Vaz da Silva Nato eAluísio Mol de Freitas (e-STJ, fls. 72-79) confirmam que o recorrente era efetivamente o únicoadministrador da sociedade.10. Diante das circunstâncias narradas, não se pode vislumbrar conclusão diversa senão a existência,ao menos, de indícios de que o recorrente teria efetivamente sonegado pagamento de tributos.Ressalte-se que os indícios de autoria imputados não implicam sua condenação antecipada, o queindicaria inarredável ilegalidade.Muito pelo contrário, o órgão ministerial, diante da materialidade do crime e dos indícios de autoria, aopromover a denúncia, mostrou-se cumpridor do desiderato da obrigatoriedade da ação penal públicaincondicionada.11. A Lei Complementar 105/01 regulamenta a intimidade e vida privada relativas às informaçõesbancárias dos indivíduos, reafirmando ser o sigilo bancário a regra a ser seguida pelas instituiçõesfinanceiras, consoante afirma art. 1º da referida Lei.Entrementes, quando indispensáveis ao êxito do lançamento tributário, o art. 6º possibilita o acessode dados bancários do sujeito passivo tributário pelo Fisco, por meio de requisição de informação demovimentação financeira (RMF), para identificação por meio de legítima atividade fiscalizatória, dopatrimônio, dos rendimentos e das atividades econômicas, vedando-se, contudo, a divulgação dessasinformações, com o fim de resguardar a intimidade e a vida íntima do correntista. Trata-se, pois, deverdadeiro compartilhamento sigiloso de informações bancárias de instituições financeiras para àAdministração Tributária, motivo pelo qual não há falar em quebra de sigilo, mas mera transferênciadesse sigilo, cuja violação acarreta sanção penal ao responsável (LC 105/01, art. 10).12. Malgrado esta Corte admita o intercâmbio de informações entre as instituições financeiras e aautoridade fiscal para fins de constituição do crédito tributário, isso não significa que o dominus litispossa utilizar-se de tais dados para que seja deflagrada ação penal, porquanto representa verdadeiraquebra de sigilo constitucional, inserida em reserva de jurisdição, e não mero compartilhamento deinformações. Como cediço, o sigilo bancário, garantido no art. 5º da Constituição da República,

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somente pode ser suprimido por ordem judicial devidamente fundamentada, nos termos do artigo 93,inciso IX, da Constituição. Nesse sentido é a jurisprudência deste Tribunal, que firmou o entendimentoque é imprescindível prévia autorização judicial da representação fiscal para fins penais, casocontenha dados bancários sigilosos, devidamente compartilhados com a autoridade fiscal paraconsecução do lançamento fiscal.13. Verifica-se que a representação fiscal para fins penais que subsidiou a denúncia policial baseou-se, entre outros dados, na análise das movimentações financeiras da sociedade empresária CrownProcessamento de Dados S/A, obtidas por RMF pela autoridade fiscal, o que, como visto, não éadmitido pelo ordenamento jurídico pátrio.Trata-se, pois, de evidente prova ilícita produzida em desfavor do réu, o que revela o constrangimentoilegal a que está submetido.14. O reconhecimento da ilegalidade da quebra do sigilo bancário sem prévia autorização judicial parafins penais, entrementes, não enseja, de per si, o trancamento da persecução penal, porquanto aspeças processuais acostadas aos autos não permitem aferir se haveria ou não outras provas hábeis ajustificar a instauração do procedimento inquisitorial, ou mesmo o oferecimento de denúncia.15. Recurso desprovido. Ordem concedida de ofício, apenas para determinar o desentranhamentodos autos do processo criminal todas as provas decorrentes da quebra do sigilo bancário dorecorrente sem autorização judicial.(RHC 72.074/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 06/10/2016, DJe19/10/2016)

34. SÚMULA VINCULANTE 24

A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente à tipificação das condutas previstas no art. 1º, I a IV, da Lei n. 8.137/90, conforme a súmula vinculante n. 24/STF.

Acórdãos

HC 326855/ES,Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, Julgadoem 08/08/2017,DJE 18/08/2017;

RHC 081446/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Julgado em13/06/2017,DJE 30/06/2017

RHC 061790/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, Julgado em13/12/2016,DJE 19/12/2016

RHC 067183/RJ,Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, Julgado em09/08/2016,DJE 24/08/2016

RHC 037028/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 09/08/2016,DJE23/08/2016

REsp 1390649/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Julgado em24/05/2016,DJE 06/06/2016.

É possível a aplicação da súmula vinculante n. 24/STF a fatos ocorridos antesda sua publicação por se tratar de consolidação da interpretação jurisprudencial enão de caso de retroatividade da lei penal mais gravosa.

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Acórdãos

RHC 083993/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, Julgado em15/08/2017,DJE 25/08/2017

RHC 061790/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, Julgado em13/12/2016,DJE 19/12/2016

HC 253655/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 19/04/2016, DJE28/04/2016

RHC 061672/RS, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADORCONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), QUINTA TURMA, Julgado em17/03/2016,DJE 28/03/2016

AgRg nos EDcl no AREsp 699517/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTATURMA, Julgado em 15/12/2015,DJE 04/02/2016

RHC 038506/AM, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Julgado em27/10/2015,DJE 16/11/2015.

PROCESSO PENAL E PENAL. RHC. CRIME CONTRA A ORDEMTRIBUTÁRIA.TRANCAMENTO DO PROCESSO-CRIME. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. SÚMULA VINCULANTE 24. CRIME MATERIAL.CONSUMAÇÃO APÓS O LANÇAMENTO DEFINITIVO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.RETROATIVIDADE IN MALAM PARTEM NÃO EVIDENCIADA. RECURSO DESPROVIDO.1. A jurisprudência desta Corte está consolidada no sentido de que trancamento do processo-crimepor meio do habeas corpus é medida excepcional, que somente deve ser adotada quando houverinequívoca comprovação da atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção dapunibilidade ou da ausência de indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito, o quenão se infere na hipótese dos autos. Precedentes.2. Conforme a dicção da Súmula Vinculante 24, "não se tipifica crime material contra a ordemtributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/90, antes do lançamento definitivo do créditodo tributo". Trata-se, pois, de crime material ou de resultado, que somente pode ser tido porconsumado após o exaurimento da esfera administrativa, ou seja, após o desfecho de eventualprocedimento fiscal instaurado para a discussão do crédito tributário.3. Tal posicionamento evita que sejam tomadas decisões conflitantes nas esferas administrativa epenal, pois impede que um agente venha a ser condenado pela prática de crime contra a ordemtributária, por ter, por exemplo, ilidido o pagamento de imposto, cuja exigência restou posteriormenteafastada pela própria autoridade fiscal. Embora em tal hipótese pudesse ser reconhecida a perdasuperveniente de justa causa para o exercício da ação penal, seria contraditório admitir, em via deregra, a oferta de denúncia antes que houvesse certeza sobre a materialidade da conduta criminosaque motivou a acusação.4. Esta Quinta Turma, em diversos julgados, afastou a alegação de que o enunciado 24 daSúmula Vinculante só se aplicaria aos crimes cometidos após a sua vigência. Em verdade, nãose trata de aplicação retroativa de norma penal mais gravosa, o que, como cediço, encontraóbice no texto constitucional, mas de consolidação de entendimento jurisprudencial, queconferiu a correta exegese a dispositivos legais vigentes na data dos fatos, sendo a suaobservância cogente para todos os órgãos do Poder Judiciário, não havendo se falar emretroatividade in malam partem. Precedentes.5. O Supremo Tribunal Federal, em julgamento proferido logo após a aprovação da retrocitadasúmula vinculante, reconheceu se tratar de "mera consolidação da jurisprudência da Corte,

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que, há muito, tem entendido que a consumação do crime tipificado no art. 1º da Lei 8.137/90somente se verifica com a constituição do crédito fiscal, começando a correr, a partir daí, aprescrição."(HC n. 85.051/MG, Segunda Turma, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ de1°/07/2005.6. In casu, a constituição definitiva do crédito tributário ocorreu em 7/10/2011, tendo a denúncia e seuposterior aditamento sido recebidos em 2/08/2013. Assim, considerando que o preceito secundário dotipo penal imputado ao réu estabelece pena máxima de 5 (cinco) anos de reclusão, a prescrição dapretensão punitiva é regida pelo art. 109, III, do Código Penal, que estabelece o prazo de 12 (doze)anos. Por consectário, impõe-se reconhecer que não houve decurso de tal lapso temporal entre osmarcos interruptivos.7. Dos autos se infere ter sido previamente instaurado inquérito para apuração dos fatos sob análise,tendo a defesa requerido a suspensão do feito, com base no entendimento sumularsupramencionado, por entender que a falta de lançamento definitivo tornaria flagrante a inexistênciade justa causa para a persecução penal, tendo o pleito sido deferido pelo Juízo de 1º grau. Ora, nãose mostra razoável admitir que o posicionamento jurisprudencial inicialmente invocado pela defesa,por ser naquela oportunidade a ela benéfico, venha a ser posteriormente rechaçado, pois a suaaplicação passou a ser contrária aos interesses da parte quando da oferta da exordial, já que busca oreconhecimento da prescrição da pretensão punitiva, ao argumento de impossibilidade de aplicaçãoretroativa da dicção da Súmula Vinculante 24.8. Se aplicável o entendimento da Súmula Vinculante 24, conforme o reconhecido pelo Magistradoprocessante, repita-se, em atendimento a pedido da defesa, mostra-se despicienda qualquermanifestação judicial acerca da suspensão do prazo prescricional, pois o crime ainda não teria sidoconsumado e, portanto, não havia se falar em prescrição.9. Recurso desprovido.(RHC 61.790/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 13/12/2016, DJe19/12/2016)

35. USO DE DOCUMENTO FALSO

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIMES CONTRA A ORDEMTRIBUTÁRIA. FALSIDADE IDEOLÓGICA. USO DE DOCUMENTO FALSO. PRINCÍPIO DACONSUNÇÃO. ABSORÇÃO DOS DELITOS. AGRAVO DESPROVIDO."Há a absorção dos crimes de uso de documento falso e falsificação de documentos pelo delito contraa ordem tributária, quando aqueles, mesmo que praticados posteriormente, configurarem crimes-meio, cometidos a fim de viabilizar a supressão de tributos [...]" (AgRg no REsp n. 1.431.596/MG,Quinta Turma, Rel. Min. Moura Ribeiro, DJe de 30/5/2014).Agravo regimental desprovido.(AgRg no REsp 1308930/PE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em15/12/2015, DJe 01/02/2016)

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36. VALOR SONEGADO

O expressivo valor do tributo sonegado pode ser considerado fundamento idôneo paraamparar a majoração da pena prevista no inciso I do art.12 da Lei n. 8.137/90.

Acórdãos

AgRg no AREsp 221023/RS,Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Julgado em08/11/2016,DJE 21/11/2016

AgRg nos EDcl no AREsp 465222/SC, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DAFONSECA, QUINTA TURMA, Julgado em 23/08/2016,DJE 29/08/2016

AgRg no REsp 1445217/PE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,Julgado em 17/11/2015,DJE 25/11/2015

AgRg no REsp 1274989/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,Julgado em 19/08/2014,DJE 28/08/2014

REsp 1325685/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Julgadoem 07/08/2014,DJE 21/08/2014

AgRg no REsp 1169589/ES, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTATURMA, Julgado em 04/02/2014,DJE 10/02/2014.

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSOESPECIAL.PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1.º DALEI N.º 8.137/90. ART. 155 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PROVAS NÃO REPETÍVEIS.CONSIDERAÇÃO PELO JULGADOR. POSSÍVEL, DESDE QUE SUBMETIDAS AOCONTRADITÓRIO DIFERIDO E COTEJADAS COM OUTROS ELEMENTOS DE CONVICÇÃOPRODUZIDOS EM JUÍZO. PRECEDENTES. ART. 617 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.JULGAMENTO DE RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA.ALTERAÇÃO DE FUNDAMENTOS.INEXISTÊNCIA DE MUDANÇA NA SITUAÇÃO DO RÉU. REFORMATIO IN PEJUS. NÃOCONFIGURADA. PRECEDENTES. PENA-BASE. FIXAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. SIGNIFICATIVO VALOR SONEGADO. MOTIVAÇÃO SUFICIENTE.ELEMENTO QUE NÃO SE AFIGURA INERENTE AO TIPO PENAL. PROPORCIONALIDADE.AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.1. As provas não repetíveis, desde que, tal como ocorre na espécie, sejam submetidas aocontraditório diferido e cotejadas com outros elementos de convicção produzidos em juízo - no caso,a prova testemunhal -, podem ser levadas em consideração para firmar o convencimento do julgador.2. A conclusão a que chegou a Corte a quo não implicou recrudescimento das penas aplicadas aoAgravante, sendo certo que "[...] é permitido ao Tribunal de origem agregar novos fundamentos paramanter a dosimetria fixada em primeiro grau, sem se falar em ofensa ao princípio da reformatio inpejus, desde que se valha de elementos contidos na sentença condenatória e não agrave a situaçãodo réu." (HC 459.015/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 04/09/2018,DJe 14/09/2018).3. Na espécie, a fixação da pena-base acima do mínimo legal foi suficientementefundamentada, tendo sido declinados elementos que emprestaram à conduta do Agravanteespecial reprovabilidade que não se afiguram inerentes ao próprio tipo penal, quais sejam, asconsequências do crime, à vista do significativo valor sonegado, isto é, R$ 458.951,39

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(quatrocentos e cinquenta e oito mil, novecentos e cinquenta e um reais e trinta e novecentavos) .4. Agravo regimental desprovido.(AgRg nos EDcl no REsp 1746600/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em19/03/2019, DJe 03/04/2019)

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIMES CONTRA ORDEMTRIBUTÁRIA. CAUSA DE AUMENTO. ART. 12, INCISO I, DA LEI N.º 8.137/90. VALOR SONEGADOQUE CAUSA GRAVE DANO À COLETIVIDADE. DEFINIÇÃO DE VALOR VULTOSO PARA FINS DEAPLICAÇÃO DA MAJORANTE. PORTARIA N.º 320/PGFN. INAPLICABILIDADE. CIRCUNSTÂNCIAQUE DEVE SER AFERIDA NO CASO CONCRETO EM RAZÃO DO VALOR SUPRIMIDO OUREDUZIDO. VALOR SONEGADO DE R$ 3.913.880,01 (TRÊS MILHÕES, NOVECENTOS E TREZEMIL, OITOCENTOS E OITENTA REAIS E UM CENTAVO). GRAVE DANO À COLETIVIDADECONFIGURADO. PRECEDENTES. SÚMULA N. 568/STJ. INCIDÊNCIA MANTIDA. AGRAVOREGIMENTAL DESPROVIDO.Esta Corte Superior de Justiça possui entendimento consolidado no sentido de que, "Aexpressão do valor sonegado, superior a R$1.000.000,00, é fundamentação idônea para sedecidir pela causa de aumento da pena do art. 12, caput e I, da Lei 8.137/90 [...]" (AgRg noREsp n. 1.566.267/RS, Quinta Turma, de minha relatoria, DJe 23/4/2018, sem grifos no original).Também é entendimento desta Corte que "Não é razoável o entendimento firmado peloTribunal de origem, que fixou o limite de tributos sonegados em R$ 10.000.000,00 (dez milhõesde reais), previsto no art. 2.º da Portaria n.º 320/PGFN, para fins de definição de "quantiavultosa", dado que a própria Fazenda Nacional (art. 14 da citada portaria) confereacompanhamento especializado e tratamento prioritário aos processos judiciais decontribuintes - também denominados "grandes devedores" - que tenham em discussão valorigual ou superior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais)" (AgRg no REsp n. 1.282.542/SC,Quinta Turma, Relª. Minª. Laurita Vaz, DJe de 28/8/2014, grifei). Agravo regimental desprovido.(AgRg no REsp 1657618/PE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em23/08/2018, DJe 05/09/2018)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL.RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA. DESNECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS.INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 07/STJ AFASTADA. PENAL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃOPUNITIVA. NÃO OCORRÊNCIA. PENA DE 03 (TRÊS) ANOS DE RECLUSÃO. TRÂNSITO EMJULGADO PARA A ACUSAÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL DE 08 (OITO) ANOS, A TEOR DO ART.109, INCISO IV, DO CÓDIGO PENAL. PRESCRIÇÃO NÃO CONSUMADA. CRIMES CONTRA AORDEM TRIBUTÁRIA. ART. 1.º, INCISO I, DA LEI N.º 8.137/90. CAUSA DE AUMENTO PREVISTANO ART. 12, INCISO I, DO MESMO DIPLOMA. CRITÉRIOS DE APLICABILIDADE. PORTARIA N.º320/PGFN. INCIDÊNCIA APENAS PARA VALORES SONEGADOS ACIMA DE R$ 10.000.000,00(DEZ MILHÕES DE REAIS). DESCABIMENTO. PRÓPRIA PORTARIA QUE CONFERETRATAMENTO ESPECIAL ÀS AÇÕES JUDICIAIS NAS QUAIS SE DISCUTEM VALORES ACIMA DER$ 1.000.000,00 (UM MILHÃO DE REAIS). ANÁLISE DO CASO CONCRETO. NECESSIDADE.VALORES SONEGADOS NO PATAMAR DE R$ 8.000.000,00 (OITO MILHÕES DE REAIS).QUANTIA VULTOSA. DANO À COLETIVIDADE CONFIGURADO. INCIDÊNCIA DA CAUSA DEAUMENTO JUSTIFICADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.1. Considerada a pena aplicada de 03 (três) anos de reclusão, o prazo de prescrição deve ser de 08(oito) anos, a teor do art. 109, inciso IV, do Código Penal. Assim, não prospera a tese de ocorrênciada prescrição da pretensão punitiva, já que não decorrido o lapso temporal de 08 (oito) anos entre osmarcos interruptivos.2. Tendo o Tribunal de origem afastado a incidência da majorante do art. 12, inciso I, da Lei n.º8.137/90, após eleger, objetivamente, um valor-limite de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais),

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estabelecido no art. 2.º, inciso I, da Portaria n.º 320/PGFN, sem adentrar nos aspectos fático-probatórios da demanda; é cabível a reforma do acórdão recorrido para restabelecer a sentença deprimeiro grau, por não demandar o reexame de provas, vedado pela Súmula n.º 07/STJ.3. O Superior Tribunal de Justiça assentou entendimento no sentido de que o nãorecolhimento de vultoso montante de tributos configura grave dano à coletividade, quejustifica a aplicação da causa de aumento da pena estabelecida no art. 12, inciso I, da Lei n.º8.137/90, pelo fato de a quantia suprimida repercutir sobre a coletividade, destinatária dareceita pública decorrente do pagamento de tributos. Precedentes.4. No caso, está justificada a incidência no patamar mínimo da causa de aumento, prevista noart. 12, inciso I, da Lei n.º 8.137/90, pois se apura a sonegação do valor de R$ 4.974.981,07(quatro milhões, novecentos e setenta e quatro reais e sete centavos), que, acrescido dosconsectários legais, alcança o montante de R$ 8.194.355,88 (oito milhões, cento e noventa equatro reais e oitenta e oito centavos).5. Não é razoável o entendimento firmado pelo Tribunal de origem, que fixou o limite detributos sonegados em R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), previsto no art. 2.º da Portarian.º 320/PGFN, para fins de definição de "quantia vultosa", dado que a própria FazendaNacional (art. 14 da citada portaria) confere acompanhamento especializado e tratamentoprioritário aos processos judiciais de contribuintes - também denominados "grandesdevedores" - que tenham em discussão valor igual ou superior a R$ 1.000.000,00 (um milhãode reais).6. Agravo regimental desprovido.(AgRg no REsp 1282542/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 19/08/2014,DJe 28/08/2014)

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