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1201

1 Faculdade de Medicina deSão José do Rio Preto. R.Brigadeiro Faria Lima5.416, Vila São Pedro.15090-000 São José do RioPreto [email protected] Divisão de LaboratórioRegionais, Instituto AdolfoLutz.3 Instituto Lauro de SouzaLima.4 Armani Consult SC Ltda.5 Prefeitura Municipal deVotuporanga.

Criação de banco de dadospara sustentação da pós-eliminação em hanseníase

Creation of a data bankfor sustainability of leprosy post elimination

Resumo São José do Rio Preto atingiu o parâme-tro da Organização Mundial de Saúde de elimina-ção da hanseníase como problema de saúde públi-ca em 2006, com prevalência de 0,79/10.000 habi-tantes. Para garantir informações fidedignas quepermitam medidas gerenciais e manutenção destequadro, o objetivo do estudo foi criar um banco dedados da hanseníase do município, no período de1998 a 2006. Utilizou-se protocolo para coleta dedados de 74 variáveis clínico-epidemiológicas en-contradas em fontes primárias e secundárias. Ini-ciou-se o trabalho com 442 casos existentes nasinformações de dados do programa de controle domunicípio; destes, 168 foram excluídos e 85 inseri-dos; 24 não haviam sido notificados no Sistema deInformação de Agravos de Notificação (SINAN).As 74 variáveis coletadas possibilitarão estudo pos-terior de temas, como o perfil epidemiológico, con-trole de comunicantes, reações, deficiências, entreoutros. As dificuldades encontradas na elaboraçãodo banco foram em relação à decodificação de da-dos dos prontuários e inconsistências nas anota-ções do SINAN. Os erros no registro dos dados ocor-rem com frequência, debilitando informações edificultando o planejamento das ações na área, fa-tores importantes para qualidade do atendimentoe sustentação da eliminação da hanseníase.Palavras-chave Hanseníase, Epidemiologia, Eli-minação, Prevenção e controle, Organização e ad-ministração

Abstract São José do Rio Preto reached the WorldHealth Organization goal eliminating leprosy asa Public Health problem in the year 2006, with aprevalence of 0.79/10,000 inhabitants. In orderto warrant reliable information to promote man-agement measures that keep this status, the aimof this study was to create a leprosy data bank inthe city with information from 1998 to 2006. Adata collection protocol was used and it contained74 clinical-epidemiological variables that weregathered from primary and secondary sources.This work was initiated with 442 cases registeredin the municipal control program database, fromthose 168 were excluded and 85 were inserted.There were 24 cases not notified in the NationalInformation System (SINAN). The 74 variablescollected will allow further studies about themes:epidemiological profiles, household contacts con-trol, reactions and deficiencies, and others. Thedifficulties faced during the elaboration of thedatabase were related to decoding medical filesdata and inconsistency in the SINAN. The fre-quent mistakes while entering the data weakenthe information system and difficult the plan ofprecise actions regarding health. These facts arerelevant to the quality of attention and the main-tenance of the leprosy elimination status.Key words Leprosy, Epidemiology, Elimination,Prevention and control, Organization and ad-ministration

Vânia Del Arco Paschoal 1

Susilene Maria Tonelli Nardi 2

Maria Rita de Cássia Oliveira Cury 1

Clovis Lombardi 3

Marcos da Cunha Lopes Virmond 3

Renée Matar Dourado Neta da Silva 1

José Antonio Armani Paschoal 4

Lílian Carla Magalhais 5

Ellen Carolina Marques Conte 1

Rosina Maria Martins Kubota 1

Rosa Maria Cordeiro Soubhia 1

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Introdução

São José do Rio Preto é um município situado nonoroeste do Estado de São Paulo e pólo de grandedesenvolvimento econômico. Centro urbano dedimensões médias, com crescentes atividades in-dustriais, comerciais, agrícolas e culturais, é a sededa 8ª região administrativa, englobando 101 mu-nicípios. Sua área total é de 434,10 quilômetrosquadrados², sendo a área urbana de 96,81 quilô-metros quadrados, com uma população de400.000 habitantes. Possui clima tropical e pluvi-osidade acentuada no período de outubro a mar-ço. A temperatura média é de 24,92ºC. Quanto àscondições ambientais, tem indicadores próximosde 100% de atendimento de abastecimento de águatratada, coleta de lixo e esgoto sanitário1,2.

A prevalência de hanseníase para São José doRio Preto é semelhante a do Estado de São Paulono período de 1993 a 2003 2. Em 2002, contavacom 45 casos novos de hanseníase, 79 pacientesem tratamento e taxa de prevalência de 2,1/10.000habitantes. Em 2003, a taxa de prevalência foi de1,49/10.00 habitantes, com 36 casos novos e 57pacientes em tratamento. Em 2006, o municípioteve 41 casos em tratamento, com uma taxa deprevalência de 0,79/10.000 habitantes, atingindoos parâmetros de eliminação preconizados pelaOrganização Mundial da Saúde (OMS). No anode 2007, o coeficiente de detecção foi de 0,46/10.000habitantes3.

Com a implantação do Sistema de Informa-ção de Agravos de Notificação (SINAN), nos úl-timos oito anos, a análise dos dados de um mu-nicípio tornou-se mais rápida e abrangente. En-tretanto, este sistema apresenta alguns entraves,entre eles, as falhas de digitação4,5. Os dados sãoescritos manualmente, por vezes ininteligíveis,com várias cópias, incorrendo em erros. Alémdisto, são compilados de diversas fontes, comoprontuários, fichas de cadastro da enfermageme de controle de comunicantes, planilhas de in-clusão, entre outras. Ademais, este acesso múlti-plo aos dados dificulta a coleta de informações.

Para o controle da hanseníase, os gestores sedeparam com várias dificuldades, tais como o des-conhecimento por parte dos profissionais respon-sáveis pelas unidades de saúde, problemática dospacientes dentro de sua área de abrangência, o trei-namento de recursos humanos nos diferentes ní-veis profissionais, a adequada manutenção de es-toques dos medicamentos específicos, o acesso ge-ográfico e cultural dos próprios pacientes. Estesfatores, em conjunto com as características clínico-epidemiológicas da doença, levam à possibilidade

do estabelecimento de uma prevalência oculta nacomunidade, isto é, casos que são detectados so-mente muito tardiamente e que, antes disto, atuamcomo mantenedores e difusores da endemia. Estessão os casos que podem ser responsáveis por au-mentos nas taxas de prevalência6 e podem ser esti-mados com vistas à previsão de atividades de con-trole por parte dos gestores. Esta estimativa, entre-tanto, depende da precisão dos dados disponíveis7,8.De fato, para esta e outras tarefas gerenciais visan-do ao controle da endemia, o aprimoramento daqualidade dos dados gerando informações corre-tas é fundamental para o bom desenvolvimentodas ações e sustentação de uma situação epidemi-ológica de baixa prevalência e detecção.

Objetivo

Este trabalho teve como objetivo descrever a cri-ação de um banco municipal de dados de hanse-níase para estudo contínuo das variáveis clínico-epidemiológicas e sustentação da etapa de pós-eliminação no município de São José do Rio Pre-to (SP).

Metodologia

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê deÉtica em Pesquisa da Faculdade de Medicina deSão José do Rio Preto, Autarquia Estadual (FA-MERP), resolução CNS no 196/96, com o título“Em busca da pós-eliminação da hanseníase emSão José do Rio Preto”.

Trata-se de um censo descritivo, transversal,que teve início a partir da base de dados do SI-NAN, disponibilizada pela Secretaria Municipalde Saúde e Higiene (SMSH) de São José do RioPreto, Programa de Controle da Hanseníase.

Os dados foram obtidos em duas unidadesde saúde, o Ambulatório de Dermatologia doHospital de Base (ADHB) e o Núcleo de GestãoAssistencial 60 (NGA-60), por meio dos regis-tros encontrados em prontuários, nas fichas decontrole de atendimento da enfermagem e nasfichas de notificações. Em São José do Rio Preto,o atendimento ainda é centralizado e somenteestas unidades têm o programa de controle dahanseníase implantado no município.

O instrumento de coleta de dados emprega-do foi uma ficha clínico-epidemiológica, que con-templava o perfil demográfico dos pacientes, osaspectos clínicos, a situação do tratamento e docontrole dos comunicantes intradomiciliares.

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Após a coleta dos dados, eles foram introduzi-dos em planilha eletrônica, definindo-se as datasde inclusão e exclusão nos diagnósticos realiza-dos, no período de 01/01/1998 a 30/12/2006. Adefinição deste período de coleta ocorreu pelo fatode que os dados anteriores ao ano de 1998 foramconsiderados inconsistentes, já que vários pacien-tes tratados não estavam inseridos na base dedados do SINAN ou da SMSH, e os que estavam,apresentavam dados incompletos. Possivelmen-te, o exercício da construção dos bancos pode tersido um dos fatores que contribuiu para a melho-ria na consistência dos dados ao longo dos anos.

Para a realização do estudo, isto é, a criaçãode um banco de dados, nomeado de Banco deDados do Projeto Hansen, os encontros de pla-nejamento, coordenação, estudos e informaçõesocorreram na Faculdade de Medicina de São Josédo Rio Preto (FAMERP).

Participaram da coleta e organização dos da-dos oito docentes, trinta alunos do curso de medi-cina e enfermagem, dois pesquisadores do Institu-to Lauro de Souza Lima (ILSL), a interlocutorada hanseníase, dois funcionários da SecretariaMunicipal de Saúde e Higiene de São José do RioPreto e três voluntários no transporte de alunospara o ADHB e o NGA-60. Os participantes traba-lharam em mutirão ou individualmente três diaspor semana, no período de 17/06/06 a 31/12/06.

Resultados

Limpeza dos dados,reconhecimento dos doentes reais

A base de dados do SINAN no período de1999 a 2005 apresentava 553 doentes notificados.O estudo realizado por Curto et al.9 descreveu osresultados parciais da criação do banco, levandoo grupo de pesquisadores a redefinir o períododo estudo e os critérios de inclusão e exclusãopara a 01/01/1998 a 31/12/2006 e inserir no Ban-co de Dados do Projeto Hansen apenas morado-res do município. Iniciou-se, então, a coleta dedados, com informação de 442 doentes incluí-dos na base de dados do SINAN e, após a finali-zação da coleta e análise, 85 pacientes foram in-cluídos, 168 excluídos, resultando em 359 casosde hanseníase no período já descrito. Os motivosda inclusão foram os casos não notificados nosistema de informação oficial (n=24) e a entradade novos do período acrescentado (n=61). Osexcluídos foram casos tratados em datas anteri-ores ao período estipulado no estudo e os que

iniciaram tratamento no município e depois fo-ram transferidos para outras cidades. Foramtambém retirados da base de dados os pacientesde outros municípios notificados em São José doRio Preto, os óbitos, as mudanças de diagnósti-co que ainda permaneciam e as notificações ofi-ciais duplicadas (n=168).

Foram escolhidos onze temas principais: iden-tificação do cliente, endereço oficial, dados em re-lação à hanseníase, data e resultado da avaliaçãode prevenção de incapacidades, tratamento reali-zado, estados reacionais, neurites, datas de acom-panhamento, outros medicamentos utilizados,identificação de fonte de transmissão e os comu-nicantes intradomiciliares. Deste modo, foramgeradas 74 variáveis, ou 26.566 áreas de informa-ções, distribuídas por assunto (Quadro 1).

Vantagens e dificuldades encontradasdurante o processo de coleta dos dados

Em relação ao SINANA centralização dos dados dificulta não só a

realimentação para os funcionários que colabo-ram no repasse das informações, como também aanálise destes dados de maneira conjunta pelos ato-res envolvidos nesta construção. A atualização in-completa e por vezes incorreta de dados impor-tantes, como estados reacionais, não é computa-da. Descobriu-se a subnotificação de 24 pacientes.Acredita-se que este fato tenha ocorrido provavel-mente pelo fato do SINAN não estar até então naWEB e pelo grande número de pessoas que mani-pularam estes dados, desde o preenchimento daficha de notificação no momento do diagnósticoaté a digitação no sistema da Vigilância Epidemio-lógica. Pelo longo trajeto que estes dados percorre-ram, estão propensos a desvios, negligências, errode digitação e perdas. Um exemplo foi o encontrode fichas de notificação preenchidas dentro dosprontuários sem notificação oficial.

No que tange ao presente estudo, partes des-sas dificuldades foram sanadas por se contarpreviamente com um banco já instituído nomunicípio, que agiu como uma memória para acriação do banco objeto deste estudo (Banco deDados do Projeto Hansen) e adequação da basede dados do SINAN.

Em relação às unidades de controleNão há metodologia estabelecida e padroni-

zada para as anotações feitas pelos profissionaisnos prontuários, dificultando a análise dos fatosocorridos durante a doença e a comparação en-tre os dois serviços.

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Quadro 1. Identificação e caracterização das variáveis obtidas das diversas fontes de coleta de dados.

Fonte de coletade dados

ProntuárioSINANFicha de

controle deenfermagem

ProntuárioResultados de

exames

ProntuárioFicha de

controle deenfermagem

Ficha deavaliação de

incapacidades

ProntuárioFicha de

controle deenfermagem

Identificação docliente

Endereço oficial

Em relação aodiagnóstico e à

hanseníase

Prevenção deincapacidades

Tratamentorealizado

No serviço

Nome do pacienteData nascimento

Gênero

RuaNúmeroBairroCEP

Telefone

Classificação clínica

Teste de baciloscopia(BAAR)

Teste de Mitsuda

Exame histopatológico

Data da avaliação nodiagnóstico

Sem dataData da avaliação na

alta

Sem dataEHFOMS

AvaliadorPQT

DNDSOutro

Número de doses PQT

--

AHB ou NGA-60--

-

-

Número de cruzes--

mm do endurecimento---

Direito e esquerdo

-Direito e esquerdo

-----

--

Variável

Nº do prontuárioCódigo do SINAN

Local de tratamento-

DiaMêsAno

Masculino ou feminino

----

Residencial,celular,

profissionalde contato

Lesão únicaMHIMHT

MHDTMHDDMHDVMHV

Neural puraPositivoNegativo

Não realizadoPositivoNegativo

Não realizadoMHI, MHT, MHDT,MHD, MHDV, MHV

Não realizadoOlhosMãosPés

-OlhosMãosPés

-Grau máximoGrau Maximo

NomePBMB

-Alternativo

Meses

continua

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Quadro 1. continuação

Fonte de coletade dados

ProntuárioFicha de

controle deenfermagem

Tratamentorealizado

Estados reacionaisNeurites

Datas deacompanhamento

Outrosmedicamentos

utilizadosIdentificação de

fonte detransmissão

Comunicantes

-

Quantas

Quais

-

NeuritesFenômeno de Lucio,

Orbaneja

-

-

-

---

---

-

---

Em visita ao programaEm visita domiciliar

Em outro serviço-

Variável

PQTOutrasMédico

EnfermeiraTerapeuta Ocupacional

FisioterapeutaPsicólogo

SimNãoSimNão

Em tratamentoEm alta

AbandonoENH, RR

-Direito

Esquerdo

Antes do tratamentoNo tratamento

Após o tratamentoEpisódios de reaçõesEpisódios de neurite

SimNão

NomeMeses

DiaMêsAno

Quais

ConsanguíneoNão consanguíneo

NomeEsposos/ pais

Filho, irmão, neto, sobrinhoIrmão, etc.

Número de vezes

0 (nenhuma dose)1 ( uma dose)2 (duas doses)

Número deatendimento

Tipo de profissional

Falta-doses

Efeitos colateraisdrogas da PQT

Situação atualizada

Sim

NãoAuricular maior, facial,

trigêmeoUlnar, mediano, radialTibial posterior, fibular

Reações ou neurite

Tempo de reaçõesTempo de neurite

Medicamentosutilizados

Neuropatia crônicaMedicamentos usados

AssintomáticoInício dos sintomas

NotificaçãoInício do diagnósticoInício do tratamentoAlta quimioterápica

SimNão

SimNão

Não informadoNúmero

Grau de parentesco:

Avaliados

BCG

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No ADHB, os prontuários são guardados noServiço de Arquivo Médico Estatístico (SAME),junto de todos os prontuários do complexo hos-pitalar. Sua solicitação é feita somente medianteagendamento prévio, o que pode demorar atédois dias. Os prontuários tornam-se inativos apóscinco anos de desuso e são encaminhados paradepósito, dificultando ainda mais o acesso àspesquisas. Em contrapartida, esses prontuáriossão utilizados por todas as especialidades e re-tratam de forma multidisciplinar a evolução clí-nica do doente na instituição, sendo uma vanta-gem para a clínica e desvantagem para a coleta dedados e pesquisa.

No NGA-60, ao contrário, os prontuários sóretratam a evolução da hanseníase, o que favore-ce e minimiza o tempo gasto na extração de da-dos para pesquisa, mas dificulta a visão geral daevolução clínica e laboratorial dos doentes, paraa atuação clínica.

Em relação aos prontuáriosAs anotações em prontuários e nas fichas de

controle da enfermagem ora se encontravam or-ganizadas e sistematizadas, ora estavam espar-sas ou incompletas e em diferentes locais dentroda unidade de saúde (caderno de anotações dofuncionário, folhas avulsas dentro de pastas) di-ficultando o acesso às informações. As anota-ções dos atendimentos de consultas são coloca-das em sequência única por todas as especialida-des, como médico, enfermagem, terapeuta ocu-

pacional e fisioterapeuta. No ADHB, também fi-cam junto com todas as outras especialidades,inclusive os exames de laboratório, dificultando,desta forma, a coleta de dados e a visão do esta-do do paciente especificamente em relação à han-seníase. Os prontuários trazem os exames, con-sultas e anotações muitas vezes sem sequêncialógica das datas de atendimento. Outros agra-vantes são a letra ilegível, falta de data e assinatu-ra do profissional que realizou o atendimento.

Nos prontuários do NGA-60 não estão esta-belecidas como rotina, a atualização de endere-ço, a referência a óbitos e as informações sobrecomunicantes, entre outras ocorrências, mesmoque o paciente seja assíduo ao serviço de saúde.Como se vê, não há no município um protocoloespecífico para o atendimento em hanseníase,como ocorre, pelo menos para a enfermagem,nos atendimentos básicos de saúde.

Para se ter uma idéia das disparidades dosdados encontrados nos prontuários em relaçãoàs demais fontes, na Tabela 1 se descrevem algu-mas das inconsistências encontradas e corrigi-das pela equipe do estudo.

Em relação ao Banco de Dadosdo Projeto Hansen

Como fato de maior relevância, a criação dobanco de dados ofereceu a oportunidade de seconhecer, com maior precisão, o número de pes-soas que estão em tratamento ou já tratou a han-seníase em cada pólo regional (Figura 1 e Tabela2) e, muito importante, facilitar o controle deseus comunicantes por parte das unidades bási-cas de saúde. Isto, em última análise, se traduzpor uso adequado de ferramenta gerencial paraa efetiva condução das ações de controle da en-demia. Os dados, subsidiariamente, ainda per-mitem a construção de mapas geoprocessados,para a visualização da distribuição espacial e tem-poral dos casos, como mostra a Figura 1.

A maior concentração de casos está na regiãonorte do município; destes, nove pessoas perma-neceram fora da área de abrangência, pois noendereço coletado não havia sintonia com as in-formações existentes, ora eram moradores dazona rural, ora os dados estavam incompletos,ora viviam em áreas não oficialmente legalizadasdo município.

A distribuição espacial dos casos de hansenía-se no município nos anos de 1998 a 2006 em SãoJosé do Rio Preto é apresentada na Figura 1.

Tabela 1. Relação das inconsistências encontradas entre o bancoinicial com o Banco de Dados do Projeto Hansen.

Item

NomeRuaNo da residênciaBairroCEPTelefoneData de nascimentoForma clínicaGrau de incapacidade no diagnósticoComunicantes que residiam com odoente em até 5 anos antes dodiagnóstico

NNNNN

18504012 363112862

137

%

5,0113,9011,14 3,34 0,84

17,55 3,06 7,8017,2738,16

NNNNN

- 1 6205222 99 0

2 56 13

%

- 0,28 1,67

57,1061,8427,58

- 0,5615,60 3,62

Incorreta Inexistente

Informação

n = 359.

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Figura 1. Distribuição espacial dos casos de hanseníase nos anos de 1998 a 2006. São José do Rio Preto,2007.

Áreas de abrangênciaAnchietaCentralCidade JardimEldoradoEstoril (C.S.E.)Gonzaga de Campos (PSF)JaguaréJardim AmericanoMaria LúciaParque IndustrialRenascer PSFRio Preto I (PSF)Santo AntônioSão DeoclecianoSão FranciscoSolo SagradoVetorazzoVila ElviraVila MayorVila Toninho

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Discussão

Com vista a monitorar epidemiologicamente asdoenças, em 1993, o Ministério da Saúde criou oSistema de Informações de Agravos de Notifica-ção (SINAN), que condensa dados sobre morbi-dade. Após catorze anos da sua criação, profissio-nais de saúde encontram inconsistências que ge-ram dificuldades no planejamento de ações decontrole, seja no município, estado ou país. Adi-cionalmente, o SINAN deveria auxiliar no moni-toramento da meta de eliminação da hanseníasecomo problema de saúde pública, conforme oscritérios acordados entre o Ministério da Saúde ea Organização Mundial da Saúde.

Entretanto, o fluxo interno dos impressos, afalta de registro no momento do diagnóstico, oserros de digitação e o repasse de informação deum serviço para outro podem justificar as in-consistências encontradas. De fato, estudo reali-zado no Ceará detectou subnotificação de 14,9%de casos de hanseníase se comparado com osdados disponíveis no nível local5. Portanto, seja

para planejamento de ações ou para subsidiarpesquisas, há urgência na obtenção de consis-tência e consequente confiabilidade nos dadosregistrados em um sistema de informações dedados. Ademais, para se fortalecer a vigilânciados casos, os índices epidemiológicos devem serestimados o mais próximo possível da realidadede cada local ou região, para estabelecimento demetas adequadas de eliminação ou pós-elimina-ção pelos países endêmicos10. A atualização dosdados requer motivação de funcionários opera-cionais, digitadores e gestores, no sentido da ob-tenção e análise dos índices locais e regionais.Descobrir distorções e corrigi-las possibilita me-lhor seguimento e avaliação do programa de con-trole, tornando-o menos vulnerável11,12. Umapossível forma de atingir tal objetivo seria sim-plificar os atuais métodos de coleta e análise dosdados, melhorando sua qualidade13. Uma outrapossibilidade, como foi observado no presenteestudo, é que as reavaliações periódicas para cor-reção e atualização dos dados podem gerar fide-lidade das informações dos sistemas conhecidos.

Tabela 2. Relação dos casos de hanseníase, população, bairros, domicílios e Unidades Básicas de Saúde daárea de abrangência. São José do Rio Preto.

Polo

I

II

III

IV

V

Total

Casos dehanseníase

90

152

33

26

49

350

Bairros

160

84

54

23

-----

321

População

126.567

121.164

57.673

25.207

46.932

377.543

Domicílios

45.495

33.120

16.003

8.249

-----

102.867

UBS

Amb. Esp. NGA-60;UBS Central;UBS Vila Elvira;UBS Jardim Americano;UBS Pq Industrial;UBS AnchietaPoliclínica Sto. Antônio;Policlínica Ipê Branco;Policlínica Vetorasso;UBSF Pq. da Cidadania;UBSF Renascer;UBSF Gonzaga de Campos;UBS Vila Mayor;UBS EldoradoCSEscola do Pq. Estoril;UBSaúde São FranciscoPoliclínica Vila Toninho;UBSF Cidade Jardim;UBS Engenheiro SchimidtPoliclínica Jaguaré;UBS S. Deocleciano;UBSF Talhado;UBSF Rd. Rio Preto

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Outro fator adicional, mas não menos im-portante, a ser considerado na criação de bancosde dados é que, quando se observa a hanseníasecomo doença infecciosa, ela termina na alta dotratamento poliquimioterápico, mas quando sãoconsiderados os aspectos de incapacidade e detransmissão, ela se torna mais complexa, abran-gente e o cuidado deve ser mais amplo. Este as-pecto também é relevante quando a área se en-contra na etapa de baixa prevalência e há necessi-dade de considerar os índices epidemiológicos paraavaliação constante das tendências de evolução evariações, permitindo intervenções ágeis e focais14.

Colaboradores

VDA Paschoal, SMT Nardi e RMC Soubhia coor-denaram a pesquisa e trabalharam em todas asetapas da mesma; MRCO Cury trabalhou nasetapas de planejamento e levantamento de da-dos; C Lombardi e MCL Virmond assessorarama pesquisa e trabalharam nas etapas de planeja-mento e redação do texto; RMDN Silva, JAA Pas-choal, ECM Conte e RMM Kubota trabalharamnas etapas de planejamento e levantamento dedados e LC Magalhais trabalhou nas etapas deplanejamento, levantamento de dados e redaçãodo texto.

Agradecimentos

Esta pesquisa teve o apoio financeiro do CNPq-Edital MCT-CNPq/ MS-SCTIE-DECIT no. 35/2005.

Considerações finais

A criação do Banco de Dados do Projeto Hansenofereceu ao município de São José do Rio Preto(SP) dados atualizados, disponíveis aos profissio-nais da área da saúde, colaborando para atençãoao paciente, controle da endemia e pesquisa.

A distribuição dos pacientes de hanseníase porpólos regionais oferece maior facilidade de aces-so às informações, possibilitando o controle maisefetivo dos pacientes e comunicantes pelos pro-fissionais das unidades de saúde e ou programasde atenção básica, como o de saúde da família.

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Referências

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Artigo apresentado em 15/08/2008Aprovado em 29/01/2009Versão final apresentada em 21/02/2009

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