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Criação com Apego: das práticas de cuidado e aprendizagem “naturais” na
primeira infância para o cuidado com a “natureza” individual da criança
Alessandra Rivero Hernandez – PPGAS/UFRGS
O presente trabalho tem como objeto de investigação um conjunto de práticas de
cuidado e de aprendizagem com crianças de primeira infância frequentemente
denominado no Brasil de Criação com Apego, tradução do termo em inglês Attachment
Parenting cunhado pelo pediatra americano William Sears e a enfermeira Martha Sears,
e que começou a despontar a partir da década de 90. Dentre estas práticas, está a da
amamentação prolongada; propiciar que o bebê coma sozinho; pais e filhos dormirem
juntos; carregar o bebê em pano amarrado junto ao corpo e disciplina positiva, contrária
a castigos e punições. Contudo, alguns de seus praticantes negam a autoria da Criação
com Apego a Sears, quem seria apenas responsável pela sua ampla divulgação, uma vez
que, além de ser uma forma “instintiva” e “natural” de cuidados infantis, já estaria
presente nas sociedades “primitivas”. Tendo com base a teoria ator-rede, parto dessa
controvérsia para traçar as associações que estão produzindo um efeito de instintivo,
natural e primitivo desta forma de cuidados parentais, descrevendo os sentidos dados a
tais noções. Em consonância com os praticantes, o casal Sears refere que a Criação com
Apego sempre existiu, apenas não tinha um nome, o que reforça a ideia de um estilo
parental de senso comum, “espontâneo” e “natural”. Contudo, um de seus livros
publicado anos antes permite vislumbrar que uma de suas bases argumentativas está no
trabalho da psicoterapeuta americana Jean Liedloff, quem, a partir da convivência com
os índios Ye'kuana na Venezuela, propôs que para que um bebê cumpra com as
expectativas da espécie, deve estar em constante contato físico com sua mãe ou alguém.
A autora retoma a ideia de que o cumprimento, ou não, dessas expectativas tem
implicações no desenvolvimento da personalidade da criança, a qual tinha sido proposta
pelo psicanalista britânico John Bowlby na teoria do apego. A esta versão, o casal Sears
acrescenta que tais práticas de cuidado têm entre seus objetivos fazer com que a criança
se sinta bem ao ter suas necessidades correspondidas, e que cada criança tem
necessidades diferentes. Trata-se de uma combinação inicial com a ideia de um “eu”
interior da criança, que vem sendo adensada pela incorporação de outras práticas de
cuidado e aprendizagem e de saberes do campo da psicologia que têm no horizonte o
não constrangimento de uma “natureza” subjetiva e individual da criança.