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Crescendo para um futuro melhor Justiça alimentar em um mundo de recursos limitados www.oxfam.org/grow

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Crescendo paraum futuro melhorJustiça alimentar em um mundo de recursos limitados

www.oxfam.org/grow

Autor: Robert Bailey AgradecimentosEste relatório foi escrito por Robert Bailey e coordenado por Gonzalo Fanjul. É fruto de um esforço coletivo, do qual participaram pessoas da Oxfam e de suas organizações aliadas. Incorpora o resultado de um programa de pesquisas gerido por Richard King, Javier Pérez e Kelly Gilbride. Alex Evans, Javier Garcia, Silvia Gómez, Duncan Green, Kirsty Hughes, Richard King, Kate Raworth, Jodie Thorpe, Kevin Watkins e Dirk Willenbockel redigiram contribuições específicas para o relatório.

Também foi utilizado um amplo número de estudos de casos, notas e informes de investigações específicas, que podem ser consultados na página da web: www.oxfam.org/grow

Muitos colegas contribuíram com extensos comentários e insumos aos rascunhos deste relatório. Merecem especial menção Nathalie Beghin, Sarah Best, Phil Bloomer, Stephanie Burgos, Tracy Carty, Teresa Cavero, Hugh Cole, Mark Fried, Stephen Hale, Paul Hilder, Katia Maia, Duncan Pruett, Anna Mitchell, Bernice Romero, Ines Smyth, Alexandra Spieldoch, Shawna Wakefield, Marc Wegerif e Bertram Zagema.

A produção deste relatório foi gerenciada por Anna Coryndon. O texto foi editado por Mark Fried. A tradução para o português foi feita por Unitrad. Revisão gramatical do texto em português: Paulo Henrique de Castro e Faria. O projeto de tradução foi gerenciado pela Equipe de Campanha da Oxfam no Brasil.

Oxfam Internacional, junho de 2011.

Este relatório e as informações sobre a Campanha Cresça estão disponíveis no site: www.oxfam.org/grow. Existe um link para o espanhol e, em breve, haverá um link também para o português.

Esta publicação é protegida por copyright. Porém, o texto pode ser utilizado livremente para fins de campanha, incidência política, educação e pesquisa, sempre e quando se mencionar a fonte de forma completa. O titular do copyright solicita que seja comunicado todo o uso de sua obra, com o objetivo de avaliar seu impacto. Para a reprodução do texto em outras circunstâncias ou para seu uso em outras publicações, traduções ou adaptações, é necessário solicitar autorização prévia, que pode requerer o pagamento de alguma taxa. Correio eletrônico: <[email protected]>.

Publicado por Oxfam GB para Oxfam Internacional, sob o ISBN: 978-1-78077-021-5, em junho de 2011. Oxfam GB, Oxfam House, John Smith Drive, Cowley, Oxford, OX4 2JY, UK. Oxfam GB está registrada como uma organização sem fins lucrativos na Inglaterra e no País de Gales (nº 202918) e na Escócia (SCO 039042). Oxfam GB é membro da Oxfam Internacional.

Oxfam é uma confederação internacional de 15 organizações que trabalham juntas em 99 países para encontrar soluções duradouras para a pobreza e a injustiça.

Oxfam América (www.oxfamamerica.org) Oxfam Austrália (www.oxfam.org.au) Oxfam na Bélgica (www.oxfamsol.be) Oxfam Canadá (www.oxfam.ca) Oxfam França (www.oxfamfrance.org) Oxfam Alemanha (www.oxfam.de) Oxfam Grã-Bretanha (www.oxfam.org.uk) Oxfam Hong Kong (www.oxfam.org.hk) Oxfam Índia (www.oxfamindia.org) Intermón Oxfam (www.intermonoxfam.org) Oxfam Irlanda (www.oxfamireland.org) Oxfam México (www.oxfammexico.org) Oxfam Nova Zelândia (www.oxfam.org.nz) Oxfam Novib (www.oxfamnovib.nl) Oxfam Quebec (www.oxfam.qc.ca)

As seguintes organizações são atualmente membros observadores da Oxfam Internacional, em processo de filiação completa: Oxfam Japão (www.oxfam.jp) e Oxfam Itália (www.oxfamitalia.org).

Para mais informações, escreva a qualquer um dos afiliados ou visite o site: www.oxfam.org

Para mais informações sobre os assuntos tratados neste relatório, por favor, escreva para: <[email protected]>.

ii

Crescendo paraum futuro melhorJustiça alimentar em um mundo de recursos limitados

www.oxfam.org/grow

02

Sumárioii Agradecimentos

03 Listadegráficos

05 1. Introdução

11 2. A era da crise: um sistema distorcido e fracassado

12 2.1 Um sistema alimentar à beira da falência

14 2.2 O desafio da produção sustentável

15 O aumento do rendimento se esgota

16 As decisões políticas nas mãos de poucos

17 Os recursos naturais no espremedor

19 O clima está mudando

21 Aspectos demográficos, escassez e mudança climática: um cenário perfeito de perturbações para mais fome

29 Enfrentando o desafio da produção sustentável

30 2.3 O desafio da equidade

32 O acesso à terra

33 O acesso das mulheres à terra

34 O acesso a mercados

35 O acesso à tecnologia

35 Reivindicações de direitos

36 2.4 O desafio da resiliência

36 Fragilidade crescente

38 Descontrole do preço dos alimentos

38 Caos climático

38 Fracasso dos governos

39 Um sistema humanitário à beira do colapso

40 Ação em âmbito nacional

41 Tempo de reconstruir

43 3. A nova prosperidade

44 3.1 Semeando um futuro melhor

46 3.2 Uma nova governança para as crises alimentares

46 Reforma internacional

48 Abordagens nacionais

50 Uma nova governança global

52 3.3 Um novo futuro agrícola

54 Quatro mitos sobre a agricultura familiar

56 Uma nova agenda de investimentos agrícolas

58 3.4 Construindo um novo futuro ecológico

58 Distribuição equitativa de recursos escassos

59 Uma transição equitativa

62 3.5 Os primeiros passos: a agenda da Oxfam

65 4. Conclusão

68 Notas

72 Imagens

02

03Crescendo para um futuro melhor

Listadegráficos12 Gráfico1.Previsão do preço real dos alimentos para os

próximos 20 anos

13 Gráfico2. O desafio de aumentar a equidade dentro dos limites ecológicos do planeta

15 Gráfico3. Comparando a pegada ecológica de vários alimentos

17 Gráfico4. A parcela dos solos dedicada à agricultura atingiu seu pico

18 Gráfico5. O legado de apropriação de terras da crise dos preços dos alimentos de 2008

21 Gráfico6. Gastos familiares com alimento: previsões para 2030

22 Gráfico7. Aumentos previstos nos preços mundiais de commodities alimentares

23 Gráfico8. Taxas comparativas de crescimento da população e da produtividade de cultivos: o caso do milho na África subsaariana e do arroz na Ásia

24 Gráfico9. Previsão dos preços dos alimentos para consumidores domésticos até 2030

25 Gráfico10.Impacto da mudança climática nos preços de exportação de alimentos no mercado mundial: previsão relativa à produção de 2030

26 Gráfico11. Impacto da mudança climática na produtividade do milho: previsão relativa à produção de 2030

26 Gráfico12. Impacto da mudança climática na produtividade de alimentos básicos: previsão relativa à produção de 2030

26 Gráfico13. Previsão de aumento no número de crianças subnutridas na África subsaariana no contexto da mudança climática

27 Gráfico14. Previsão de impacto da mudança climática no preço do milho na África

30 Gráfico15. O sistema alimentar está cheio de desigualdades

31 Gráfico16. Número de pessoas com fome no mundo

32 Gráfico17. Onde estão os famintos?

34 Gráfico18. Quem controla o sistema alimentar?

36 Gráfico19. Volatilidade crescente dos preços dos alimentos

38 Gráfico20. O preço dos alimentos e o preço do petróleo estão relacionados

50 Gráfico21. Quais são as superpotências do setor de alimentos?

55 Gráfico22. Investimento em P&D agrícola ignora a África

56 Gráfico23Quem está investindo na agricultura?

60 Gráfico24.Os governos são bons em investir em males públicos

03

Crescendo para um futuro melhorJustiça alimentar em um mundo de recursos limitadosAutor: Robert Bailey

AgradecimentosEste relatório foi escrito por Robert Bailey e coordenado por Gonzalo Fanjul. É fruto de um esforço coletivo, do qual participaram pessoas da Oxfam e de suas organizações aliadas. Incorpora o resultado de um programa de pesquisas gerido por Richard King, Javier Pérez e Kelly Gilbride. Alex Evans, Javier Garcia, Silvia Gómez, Duncan Green, Kirsty Hughes, Richard King, Kate Raworth, Jodie Thorpe, Kevin Watkins e Dirk Willenbockel redigiram contribuições específicas para o relatório. Também foi utilizado um amplo número de estudos de casos, notas e informes de investigações específicas, que podem ser consultados na página da web: www.oxfam.org/grow

Muitos colegas contribuíram com extensos comentários e insumos aos rascunhos deste relatório. Merecem especial menção Nathalie Beghin, Sarah Best, Phil Bloomer, Stephanie Burgos, Tracy Carty, Teresa Cavero, Hugh Cole, Mark Fried, Stephen Hale, Paul Hilder, Katia Maia, Duncan Pruett, Anna Mitchell, Bernice Romero, Ines Smyth, Alexandra Spieldoch, Shawna Wakefield, Marc Wegerif e Bertram Zagema.

1. Introdução

1 Introdução

O Níger é o epicentro da fome. Aqui, ela é crônica. Corrosiva. Estrutural. Sistêmica. Mais de 65% das pessoas sobrevivem com menos de US$ 1,25 por dia.1 Aproximadamente uma em cada duas crianças é subnutrida.2 Uma em cada seis morre antes de chegar aos cinco anos de idade.3

As famílias travam uma batalha perdida contra o esgotamento dos solos, a desertificação, a escassez de água e a imprevisibilidade das condições meteorológicas. Os habitantes do país são explorados por uma minúscula elite de poderosos comerciantes, que fixam os preços dos alimentos em níveis predatórios.

Diferentes choques caem sobre a população como golpes de martelo: uma sequência combinada de desastres torna cada indivíduo mais vulnerável ao impacto seguinte. A seca de 2005. A crise dos preços de 2008. A seca de 2010. Estes acontecimentos roubaram vidas, destroçaram famílias e acabam com seus meios de vida. As consequências serão sentidas por gerações.

Fome crônica e persistente. Demanda crescente sobre uma base de recursos que desmorona. Extrema vulnerabilidade. Caos climático. Preços dos alimentos em escalada. Mercados manipulados contra muitos em benefício de poucos. Seria fácil desprezar o Níger, mas estes problemas não são raros – são sistêmicos. O sistema alimentar global está quebrado. O Níger simplesmente está na linha de frente de um iminente colapso.

No início de 2011, havia 925 milhões de pessoas famintas mundialmente.4 Ao final do ano, condições climáticas extremas e a elevação dos preços dos alimentos poderão conduzir o total de volta a um bilhão, marca de seu último pico, em 2008. Por que, em um mundo que produz alimentos mais do que suficientes para sustentar a todos, tantos – um em cada sete de nós – passam fome?

A lista de justificativas repetidamente apresentada é longa, muitas vezes rudimentar e quase sempre polarizada. Excesso de comércio internacional; pouco comércio internacional. O comércio agrícola. Uma obsessão perigosamente romântica a respeito da agricultura familiar. Investimentos insuficientes em soluções tecnológicas de ponta, como a biotecnologia. Crescimento descontrolado da população.

A maior parte argumenta em causa própria, de forma a culpar as vítimas ou a defender seu status quo e os interesses particulares daqueles que lucram com o sistema. Isso reflete uma verdade mais profunda: o poder, acima de tudo, determina quem come e quem não come.

A fome, juntamente com a obesidade, o enorme desperdício e a degradação ambiental espantosa são subprodutos de nosso sistema alimentar falido. Um sistema construído por uma minúscula minoria em benefício próprio, cuja finalidade básica é trazer lucros para si mesma. O sistema é formado por insaciáveis “lobbies” rurais de países ricos, que fazem pressão sobre o mercado – apoiados em benesses que oferecem condições comerciais prejudiciais aos agricultores dos países em desenvolvimento – e forçam os consumidores de países ricos a pagar mais impostos e preços mais caros pelos alimentos. Elites egoístas que angariam recursos às custas das populações rurais empobrecidas. Investidores poderosos que atuam nos mercados de commodities como se estivessem em cassinos, como se os alimentos fossem apenas mais um ativo financeiro, a exemplo de ações ou títulos baseados em hipotecas. Enormes empresas de agronegócios que atuam ocultas da visão pública e funcionam como oligopólios globais, dominando cadeias de valor e regulando mercados sem ter de prestar contas a ninguém. A lista é interminável.

06

Uma era de crisesO ano de 2008 marcou o início da nova era de crises. A Lehman Brothers entrou em colapso, o petróleo chegou a US$ 147 o barril e os preços dos alimentos saltaram, desencadeando manifestações públicas em 61 países, com revoltas ou protestos violentos em 23 deles.5 Em 2009, o número de pessoas famintas passou de um bilhão pela primeira vez.6 Os governos dos países ricos reagiram com hipocrisia, manifestando seu espanto e alarme, enquanto continuavam a lançar bilhões de dólares do dinheiro dos contribuintes em suas desmedidas indústrias de biocombustíveis, desviando alimento das bocas das pessoas para os tanques de combustível. Em um vácuo de confiança, os governos, um após o outro, impuseram restrições às exportações, puxando os preços ainda mais para cima.

Enquanto isso, os lucros de empresas globais do agronegócio subiram vertiginosamente, os lucros dos especuladores dispararam e uma nova onda de apropriação de terras começou nos países em desenvolvimento, à medida que investidores privados e estatais buscavam lucro ou garantia de abastecimento.

Agora, quando o caos climático nos lança na segunda crise de preços de alimentos em três anos, quase nada mudou. Nada nos leva a crer que, desta vez, o sistema global irá gerenciar melhor a situação. O poder continua concentrado nas mãos de uns poucos, que defendem seus próprios interesses.

A paralisia imposta por uma minoria poderosa nos conduz à catástrofe. A concentração atmosférica dos gases de efeito estufa já está acima dos níveis sustentáveis e continua a subir de forma alarmante. O solo se desgasta pela ação humana e expõe erosões. Os mananciais de água potável estão se esgotando. Chegamos por nossa própria obra à “Era Antropozoica” – a era geológica em que a atividade humana é o principal propulsor da mudança planetária.

O descontrole de nosso sistema de produção de alimentos é uma das principais causas desta crise, que irá rapidamente se traduzir em baixas. À medida que as pressões por recursos se acumularem e a mudança climática se acelerar, os primeiros a sentir as consequências serão os pobres e os mais vulneráveis. Eles sofrerão sob os efeitos das condições climáticas extremas, da escalada dos preços dos alimentos e das disputas por terra e água. Mas eles não serão os últimos a sofrer.

Uma pesquisa encomendada para a elaboração deste relatório analisa o que um futuro de mudança climática, associado à crescente escassez de recursos, nos reserva com relação à fome e traça um quadro tenebroso. A pesquisa prevê, até 2030, uma elevação de 120% a 180% nos preços internacionais de alimentos básicos – um desastre para os países pobres que importam alimentos. A pesquisa também aponta para uma reversão substancial no desenvolvimento humano.

07Crescendo para um futuro melhor1. Introdução

“Não temos comida. Temos fome, mas não podemos comprar muito (...). Neste ano, as coisas estão bem piores do que antes. Piores do que em 2005, quando as coisas foram mal. Naquele tempo, nem todos passamos fome, somente em algumas regiões. Mas, agora, todo mundo está passando fome”.Kimba Kidbouli, 60 anos, Níger, 2010

À esquerda: Famílias em Flinigue, no Níger, recebem cupons de alimentação da Oxfam. Os cupons dão a eles a liberdade de escolher o que querem comprar em um armazém específico. (Agosto de 2010)

À direita: Kimba Kidbouli, 60 anos, Níger

Uma nova prosperidadeEste futuro não é o único possível. Crises no nível da atual quase sempre propiciam mudanças. A Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial acarretaram o surgimento de uma nova ordem mundial: a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), os acordos de Bretton Woods e a disseminação de Estados de bem-estar social. A crise econômica e a crise do petróleo dos anos 1970 substituíram o keynesianismo pela economia do laissez-faire e pelo Consenso de Washington.

Enfrentamos hoje o desafio de aproveitar a oportunidade de mudança que temos à mão para que possamos tomar o rumo de uma nova prosperidade, uma era de cooperação e não de competição, na qual o bem-estar de muitos tenha prioridade em detrimento dos interesses de poucos. Na última crise de preço dos alimentos, os políticos tomaram medidas superficiais, às margens da governança global. Desta vez, eles devem lidar com as causas profundas do problema.

Três grandes mudanças são necessárias.

• Primeiro, devemos criar uma nova governança global, para evitar as crises alimentares. A maior prioridade dos governos deve ser atacar a fome e reduzir a vulnerabilidade de suas populações – criando empregos e investindo em adaptação climática, redução de riscos e proteção social. O sistema de governança internacional – para o comércio, a ajuda alimentar, os mercados financeiros e as finanças para o clima – deve ser transformado para reduzir riscos de choques futuros e permitir uma reação mais eficiente quando eles ocorrerem.

• Em segundo lugar, devemos criar um novo futuro agrícola, priorizando as necessidades dos pequenos produtores de alimentos de países em desenvolvimento – onde importantes ganhos em produtividade, intensificação sustentável, redução de pobreza e resiliência podem ser alcançados. Os governos e as empresas devem adotar políticas e práticas que garantam aos agricultores o acesso aos recursos naturais, à tecnologia e aos mercados. Devemos, ainda, reverter o desvio do uso de recursos, o que permite que a maior parte do dinheiro público destinado à agricultura migre para as agroindústrias dos países mais ricos.

• Por fim, devemos criar a arquitetura de um novo futuro ecológico, mobilizando investimentos e mudando comportamentos de empresas e consumidores. Ao mesmo tempo, devemos elaborar acordos globais para a distribuição equitativa de recursos escassos. Um acordo global sobre mudança climática será o teste decisivo para o sucesso.

Tudo isso exigirá a superação dos interesses escusos, que irão perder com a nova situação. Há um crescente interesse em fazê-lo: estes assuntos surgem, nas agendas políticas, pressionados pelos acontecimentos, por ativistas e militantes, ou apropriados por líderes com senso ético.

Ainda que os bancos lutem com unhas e dentes contra reformas, a indignação da população mundial propiciou que medidas legislativas fossem aprovadas nos Estados Unidos (EUA) e houvesse o início de uma regulamentação no Reino Unido e em outras partes do mundo. Um imposto sobre transações financeiras está na pauta de reuniões da União Europeia (UE) e do G20, juntamente com medidas para controlar a especulação com commodities e para reformar o comércio agrícola. Embora interesses particulares continuem a distorcer a ajuda alimentar em muitos países ricos, uma campanha pública no Canadá conseguiu com sucesso evitar tal desvio. O Canadá lidera agora as negociações internacionais para alcançar o mesmo resultado globalmente. Embora os subsídios à agricultura permaneçam enormes, algumas reformas reduziram seus impactos negativos nos países em desenvolvimento. Embora as indústrias poluidoras continuem a bloquear o progresso da luta contra a mudança climática, empresas responsáveis romperam com elas.7 Um crescente número de países está adotando metas arrojadas de redução de gases de efeito estufa ou realizando investimentos ambiciosos em tecnologias limpas. Em 2009, o aumento da capacidade energética dos Estados Unidos e da Europa foi obtido em maior quantidade de fontes de energia renováveis, como a eólica e a solar, do que a partir de fontes convencionais, como o carvão, o gás ou a energia nuclear.8

Mas é essencial acelerar o ritmo das mudanças. Líderes políticos fortes com mandatos claros de seu eleitorado. Empresas progressistas que abandonem as fileiras dos retardatários e dos obstrutores. Consumidores que exijam tais atitudes das empresas. E tudo ao mesmo tempo e agora. A janela de oportunidades pode ser breve e muitas escolhas já batem às nossas portas: se quisermos evitar uma mudança climática catastrófica, as emissões globais podem chegar ao seu máximo nos próximos quatro anos9 e devem ser revertidas; se quisermos evitar uma crise de escalada nos preços dos alimentos, a fragilidade do sistema global deve ser enfrentada hoje.

08

“Temos que abordar o problema da fome no mundo como uma questão não somente de produção, mas também como um problema de marginalização, de desigualdades cada vez mais profundas e de injustiça social. Nunca produzimos tantos alimentos no mundo em que vivemos e nunca tantas pessoas passaram fome”.Olivier de Schutter, Relator Especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, na Conferência da FAO, em novembro de 2009

Página ao lado: Mulheres da aldeia de Dola constroem uma vala para irrigar suas hortaliças. Os municípios das zonas montanhosas do Nepal carecem de investimentos em agricultura e enfrentam um aumento dos preços dos alimentos e uma baixa de produção, devido à mudança climática (Nepal, 2010)

A visão da OxfamA Oxfam vem respondendo a crises de alimentos por quase 70 anos – desde a Grécia, em 1942, passando por Biafra, em 1969, e da Etiópia, em 1984, até o Níger, em 2005, além de inúmeros outros desastres silenciosos ignorados pela mídia global. Todas estas crises eram inteiramente evitáveis e foram resultantes de decisões desastrosas, do abuso de poder e da política pervertida. Mais recentemente, a Oxfam começou a dar respostas a um crescente número de desastres relacionados com o clima.

Prevenir é melhor do que remediar. Por isso, a Oxfam também realiza campanhas contra interesses escusos e regras injustas que corrompem o sistema alimentar: manipulações das regras de comércio, políticas clientelistas de biocombustíveis, promessas não cumpridas de ajuda, poder corporativo e inação frente à mudança climática.

Muitas outras organizações – a sociedade civil global, organizações de produtores, redes de mulheres, movimentos pela alimentação, sindicatos, empresas responsáveis e consumidores empoderados, campanhas populares por uma vida com baixo consumo em carbono, movimentos sociais que lutam pela soberania alimentar e pelo direito à alimentação – promovem iniciativas positivas para mudar a maneira como produzimos, consumimos e pensamos a respeito dos alimentos. Juntos, reforçaremos um movimento global crescente pela mudança. Juntos, desafiaremos a ordem atual e tomaremos o rumo de uma nova prosperidade.

09Crescendo para um futuro melhor1. Introdução

2. A era da crise: um sistema distorcido e fracassado

2A era da crise:

um sistema distorcido e fracassado

2.1 Um sistema alimentar à beira da falência

Mudança climática, degradação ecológica, crescimento populacional, demanda elevada por carne e laticínios, preços de energia em elevação, competição pela terra para a produção de biocombustíveis, crescimento da indústria e urbanização pressionam intensamente o sistema alimentar!

Os sinais de alerta são claros. Os preços internacionais dos alimentos estão instáveis e sofrem súbita elevação. Os conflitos pelo acesso à água aumentam. Existe maior exposição de populações vulneráveis a secas e enchentes. Estes são os sintomas de uma crise que pode se tornar permanente. A previsão é que o preço dos alimentos aumentará de 70% a 90% até 2030, sem contar com os efeitos da mudança climática, que, grosso modo, os duplicará novamente (veja o gráfico 1).

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Gráfico 1. Previsão do preço real dos alimentos para os próximos 20 anosAu

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Outros alimentos processados

Carne processada

Arroz processado

Rebanhos Trigo Outros cultivos Arroz com casca

Milho

140

160

180

Com mudança climática em 2030 Linha de base para 2030

Fonte: D. Willenbockel (2011): ‘Explorando os Cenários para os Preços dos Alimentos até 2030’, Oxfam e IDS

12

Enfrentamos o desafio sem precedentes de buscar o desenvolvimento humano e a alimentação para todos ao mesmo tempo em que respeitamos os limites ecológicos do planeta e acabamos com a pobreza extrema e as desigualdades. O gráfico 2 ilustra a tarefa a ser empreendida.

Mesmo que a população global aumente significativamente, devemos:

• reduzir os impactos do consumo aos limites sustentáveis; e

• redistribuir o consumo, colocando-o ao alcance dos mais pobres.

Para que o planeta possa alcançar esta visão para 2050, deve haver uma redistribuição de poder de uma minoria para a maioria – de um punhado de empresas e elites políticas para os bilhões de indivíduos que realmente produzem e consomem alimentos em todo o mundo. Uma parte do consumo deve se transferir para aqueles que vivem na pobreza, de modo a que todos tenham acesso a uma alimentação adequada e nutritiva. Uma parte da produção deve sair das propriedades rurais industriais e poluidoras para propriedades menores, mais sustentáveis, juntamente com os subsídios que as sustentam e que atualmente debilitam os pequenos produtores de alimentos. O controle viciado de governos por empresas que lucram com a degradação ambiental – vendedores e intermediários de petróleo e carvão – deve ser rompido.

Três desafios importantes devem ser enfrentados:

• O desafio da produção sustentável: devemos produzir alimentos nutritivos suficientes para nove bilhões de pessoas até 2050 e, ao mesmo tempo, permanecer dentro dos limites de sustentabilidade do planeta;

• O desafio da equidade: devemos empoderar mulheres e homens que vivem na pobreza para que produzam ou comprem alimentos suficientes para sua própria alimentação;

• O desafio da resiliência: devemos gerenciar a volatilidade dos preços dos alimentos e reduzir a vulnerabilidade à mudança climática.

São desafios marcados por lutas pelo poder e pelos recursos. A seguir, exploraremos detalhadamente cada um deles.

Gráfico 2. O desafio de aumentar a equidade dentro dos limites ecológicos do planeta

População:

7 bilhões

Limites do planeta Impacto ecológico do uso de recursos globais Parcela dos recursos utilizados pelos 20% mais pobres

População:

9 bilhões

2010 2050

13Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

2.2 Odesafiodaprodução sustentável

A agricultura enfrenta um desafio de grandes proporções. Deve aumentar drasticamente a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, transformar completamente a maneira de produzi-los. Se as tendências atuais continuarem, a demanda por alimentos pode aumentar 70% até 2050,10 devido ao crescimento populacional e ao desenvolvimento econômico. A previsão é que a população do planeta cresça dos atuais 7 bilhões de habitantes para 9,1 bilhões em 2050, um aumento de um terço.11 Estima-se que sete em cada dez pessoas no mundo viverão, então, em países com déficit alimentar por baixa renda (LIFDCs).12

Estas são previsões com grandes margens de erro. Maiores investimentos em soluções que empoderem e deem segurança às mulheres – em especial, melhorando seu acesso à educação e à saúde – desacelerariam o crescimento populacional, estabilizando-o em um nível mais baixo.

Também não faz sentido o instinto malthusiano de culpar o crescimento populacional dos pobres pelas pressões sobre recursos, já que as pessoas que vivem na pobreza contribuem pouco para a demanda mundial. O verdadeiro problema está nas relações distorcidas de poder e nos padrões desiguais de consumo.

Espera-se uma economia global três vezes maior em 2050, com a participação das economias emergentes, na produção, subindo de um quinto para bem mais da metade.13 Isso é positivo e fundamental para se lidar com os desafios de equidade e resiliência. Mas para que este nível de desenvolvimento seja viável, será imprescindível uma reorientação para a sustentabilidade sem precedente das tendências de consumo tanto das economias industrializadas quanto das emergentes.

14

“Iniciamos este sistema de irrigação porque tínhamos problemas com o clima. (…) É impossível produzir o suficiente para o ano inteiro quando se depende da chuva. Agora que temos acesso à água durante os meses secos, podemos semear vários cultivos por ano: trigo, arroz, tomate. Já não sofremos com os problemas que outras pessoas enfrentam”.Charles Kenani, agricultor, Malawi

À direita: Charles Kenani, em pé, no seu campo de arroz. O sistema de irrigação financiado pela Oxfam em Mnembo ajudou 400 famílias no Malawi a transformar seus pequenos cultivos, pouco produtivos, em várias colheitas por ano, proporcionando continuamente alimentos e fontes de renda. (Malawi, 2008)

No momento, rendimentos maiores e urbanização crescente levam as pessoas a comer menos grãos e mais carne, lacticínios, peixe, frutas e verduras. Uma dieta “ocidental” como esta utiliza muito mais recursos limitados: terra, água e espaço atmosférico (observe o gráfico 3).

Enquanto isso, em mais da metade dos países industrializados, 50% das pessoas ou mais estão com excesso de peso14 e é enorme a quantidade de alimento desperdiçado pelos consumidores – possivelmente, até 25%.15

O aumento do rendimento se esgotaNo passado, a elevação da demanda foi atendida e superada aumentando-se o rendimento das lavouras, mas as conquistas extraordinárias do último século estão se esgotando. O crescimento global agregado em rendimento foi de 2% ao ano em média entre 1970 e 1990, mas despencou entre 1990 e 2007 para pouco mais de 1%. Este declínio deverá se manter ao longo da próxima década, atingindo uma fração de 1%.16

Segundo o Serviço de Pesquisa Econômica do Departamento de Agricultura dos EUA (2008), o consumo global de grãos e sementes oleaginosas superou a sua produção em sete dos oito anos entre 2001 e 2008.17

O moderno cultivo agroindustrial se propaga cada vez mais rápido, mas não realiza avanços. Em poucas palavras, aumentar a irrigação e o uso de fertilizantes tem limites, e estamos quase atingindo o ponto de saturação. Desaparecem as oportunidades para ampliar áreas irrigadas, com exceção de parte dos países em desenvolvimento.18 Além disso, o aumento no uso de fertilizantes tem gerado retornos decrescentes e graves consequências ambientais.

Mas isso não acontece no mundo inteiro. Nos países em desenvolvimento, há um potencial enorme e inexplorado para o aumento do rendimento da agricultura familiar.19 Com o tipo certo de investimento, este potencial pode se concretizar, ajudando populações a enfrentar o desafio da produção sustentável e propiciando, ao mesmo tempo, desenvolvimento agrícola para as pessoas em situação de pobreza.

Gráfico 3. Comparando a pegada ecológica de vários alimentos

Consumo deágua (litros)i

i Considera-se que um ovo médio pesa 60g e que a densidade do leite é de 1kg por litro.ii Estimativa baseada na produção na Inglaterra e no País de Gales.iii Estimativa baseada na produção na Inglaterra e no País de Gales, assumindo-se que toda a produção seja feita em solos do mesmo tipo.Fontes: água: http://goo.gl/MtngH ; emissões e uso da terra: http://goo.gl/T12ho ; grãos: http://goo.gl/4CgFB ; calorias: http://goo.gl/7egTT

Calorias (Kcal)Grãos (para ração) (kg)

Uso da terra (m²)iiiEmissões (Kg CO2e)ii

LEITE

ARROZ

15.500 16 24707,9 6

1650143061034001300

3.900 4,6 6,4 1,8

3.333 5,5

1.000 10,6 9,8

1.300 0,8 1,5

3.400

6,7

1 Kg

CARNE BOVINA

CARNE DE FRANGO

OVOS

TRIGO

15Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

As decisões políticas nas mãos de poucosLamentavelmente, os investimentos em agricultura nos países em desenvolvimento, apesar dos enormes benefícios potenciais, têm sido irrisórios. Entre 1983 e 2006, a parte referente à agricultura na Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD) caiu de 20,4% para 3,7%, o que representa em termos reais um declínio absoluto de 77%.20 Enquanto isso, os governos dos países ricos não negligenciaram seus próprios setores agrícolas. O apoio anual subiu vertiginosamente para mais de US$ 250 bilhões21 – 79 vezes a ajuda à agricultura da AOD22 –, tornando a concorrência impossível para os agricultores dos países pobres. Confrontados com estas diferenças, muitos governos de países em desenvolvimento optaram por não investir em agricultura, agravando ainda mais esta tendência.

Os custos do apoio de países ricos são arcados não apenas por agricultores pobres dos países em desenvolvimento, mas também por pessoas desses países, que pagam em dobro – primeiro por meio de impostos mais altos e depois por causa dos preços mais elevados dos alimentos. Estima-se que, em 2009, a Política Agrícola Comum da União Europeia (PAC-UE) custou € 79,5 bilhões em impostos e mais € 36,2 bilhões nos preços dos alimentos.23 Calcula-se que isso custe quase € 1.000 por ano para cada família europeia típica (de quatro pessoas). A verdadeira ironia é que a PAC-UE pretende ajudar os pequenos agricultores da Europa, mas os maiores beneficiados são poucos e ricos: os 20% mais abastados embolsam aproximadamente 80% do apoio direto; eles são principalmente grandes proprietários de terras e empresas do agronegócio.24 Nunca no setor agrícola tanto foi tomado de tantos por tão poucos.

No período posterior à crise alimentar de 2008, os países ricos do G8 anunciaram em sua Cúpula a “Iniciativa de Segurança Alimentar de L’Aquila”: o compromisso de mobilizar US$ 20 bilhões ao longo de três anos para investimento em países em desenvolvimento. Se a medida representava uma tentativa de expiar pecados passados, ela foi, na melhor das hipóteses, decepcionante. A promessa equivaleu a uma fração ridícula dos subsídios que os países ricos distribuiriam prodigamente para suas indústrias de biocombustíveis na mesma época – um dos principais impulsionadores da alta de preços de 2008.25 Por incrível que pareça, uma grande parcela desta cifra foi simplesmente reciclada a partir de promessas anteriores ou contabilizada em dobro a partir de outros compromissos. No caso da Itália, o compromisso de L’Aquila na realidade representou uma redução da ajuda.26

Os governos de países ricos fracassaram espetacularmente, uma vez que não resistiram à mobilização de seus próprios lobbies ruralistas na formulação de uma política agrícola. Os resultados? Produtividade agrícola drasticamente reduzida e mais pobreza nos países em desenvolvimento, além do saque de centenas de bilhões de dólares por ano dos contribuintes dos países mais ricos.

16

Os recursos naturais no espremedorO grande aumento da demanda por alimentos precisa ser atendido com base em recursos que se esgotam rapidamente, espremidos entre a produção de biocombustíveis, o sequestro de carbono e a conservação florestal, a produção de madeira e de cultivos não alimentares. Como resultado, a parcela dos solos globalmente dedicada à produção de alimentos parece ter atingido seu ponto máximo (gráfico 4).

Ao mesmo tempo, a disponibilidade de terra cultivável por pessoa caiu praticamente pela metade desde 1960.27 Ninguém sabe realmente quanta área cultivável resta, mas não é muita.28 Com frequência, áreas chamadas de ociosas ou improdutivas desempenham um papel fundamental na subsistência de grupos marginalizados, como pastores, povos indígenas, populações tradicionais e mulheres.

É improvável que o aumento na demanda seja atendido graças à expansão da área de produção. Não obstante, as porções de terra disponíveis serão, com certeza, valorizadas. A maior parte parece estar na África subsaariana e na América Latina.29

A água, a força vital da agricultura, já está mais escassa do que a terra. Quase três bilhões de pessoas vivem em áreas onde a demanda ultrapassa a oferta.30 Em 2000, meio bilhão de pessoas viviam em países com falta crônica de água. Até 2050, este número terá subido para mais de quatro bilhões.31 A previsão é que, em 2030, a demanda de água tenha aumentado em 30%.32

A agricultura responde por 70% do uso de água potável global,33 sendo ao mesmo tempo propulsora e cada vez mais vítima da escassez de água. A mudança climática vai exacerbar um problema já agudo, particularmente em regiões já sob pressão. A diminuição das geleiras vai reduzir o fluxo de rios essenciais (por exemplo: os rios Ganges, Amarelo, Indo e Mekong dependem do Himalaia). A elevação do nível do mar irá salinizar a água potável, enquanto enchentes irão contaminá-la.

Gráfico 4. A parcela dos solos dedicada à agricultura atingiu seu pico

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17Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

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“Com o direito à terra, vem o direito de extrair a água que nela se encontra, algo que, na maioria dos países, é essencialmente um bem gratuito que poderia ser progressivamente a parte mais valiosa do acordo”.(Peter Brabeck-Lethmath, presidente da Nestlé)

Página oposta: O preço do arroz disparou em 2008. A pilha de arroz à esquerda foi comprada em 2008. A pilha da direita mostra o que seria comprado pelo mesmo valor em 2007. (Camboja, 2008)

O Oriente Médio nos dá uma ideia do que pode acontecer. Os aquíferos estão se esgotando rapidamente e a área irrigada está em declínio. A Arábia Saudita experimentou quedas vertiginosas de mais de dois terços na sua produção de trigo desde 2007 e, pelas tendências atuais, vai se tornar totalmente dependente de importações a partir do ano que vem.34 Estados do Oriente Médio estão entre os maiores investidores em terras na África,35 impulsionados não somente por falta de terra, mas também por falta de água.

Muitos governos e elites nos países em desenvolvimento estão oferecendo, em meio a nuvens de corrupção, grandes extensões de terra a preços mínimos. Enquanto empresas e investidores lucram, governos de países cuja segurança alimentar está ameaçada sofrem para garantir seu abastecimento. Esta luta começou com a crise de 2008 dos preços dos alimentos e continua intensa. Na África, em 2009, o preço das terras valorizou em 12 meses o equivalente ao que ocorreria em 22 anos (gráfico 5).36

Uma pesquisa realizada pela Coalizão Internacional da Terra (ILC), pela Oxfam Novib e por seus parceiros apurou a existência, desde o ano 2000, de quase 1.500 acordos (em negociação ou concluídos) relacionados à compra de terras por estrangeiros, o que abrangia 80 milhões de hectares,37 sendo que a grande maioria havia se iniciado depois de 2007. Mais de 60% da terra envolvida nestas negociações está na África.38

É claro que investimentos podem ser uma coisa boa. Porém, um aumento de preços igual ao de 2008 desencadeia um delírio entre os investidores, muitos dos quais agindo por especulação ou pelo medo de perder oportunidades. E por que não? A terra tem preço irrisório e está aparentemente ociosa. Atualmente, investir em terras parece ser uma opção perfeitamente segura: o preço subirá à medida que forem se tornando escassas. Investidores vêm adquirindo terras em quantidades muito maiores do que talvez possam usar, fato que levou o Banco Mundial a se perguntar se a finalidade destas transações não seria a garantia com base nos termos altamente favoráveis do mercado atual, para se evitar futura competição.39 A pesquisa mais abrangente até o momento sugere que 80% dos investimentos recentes em terras as mantêm ociosas.40

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Gráfico 5. O legado de apropriação de terras da crise dos preços dos alimentos de 2008

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Número mensal de matérias sobre apropriações de terraÍndice de Preços de Alimentos da FAO (2002-2004 = 100)

Fontes: <http://www.fao.org/worldfoodsituation/wfs-home/foodpricesindex/en/> e <http://www.factiva.com>

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Quadro 1. Uma nova espécie de investidor em terras

Onde há escassez, há oportunidades. Investidores financeiros são rápidos em transformar oportunidades em lucro. Numerosos fundos de hedge (fundos de aplicações mais especulativas e arriscadas do que os produtos financeiros convencionais), fundos de patrimônio privados, fundos soberanos e investidores institucionais compram atualmente terras agrícolas nos países em desenvolvimento. Um deles é o Emergent Asset Management, que aproveita a oportunidade de arbitragem representada por valores de terra “muito, muito baratos” na África subsaariana.41 Oportunidade de arbitragem é quando se pode comprar num mercado produtos muito baratos que podem ser revendidos quase que imediatamente em outros mercados por preços bem mais altos.

O Emergent indica que as terras da Zâmbia, embora estejam entre as mais caras da África subsaariana, ainda custam um oitavo do preço de terras semelhantes na Argentina ou no Brasil e menos de um vigésimo desse valor na Alemanha. O Emergent presume que as terras irão gerar retornos substanciais à medida que os preços subam – em parte por causa da crescente demanda por terras do Brasil e da China, que são potências alimentares.42

Uma das estratégias declaradas pelo Emergent é identificar propriedades rurais mal gerenciadas ou em risco de falência, assumir seu controle por preços ditados pela situação de desespero e recuperá-las em seguida, obtendo altas taxas de retorno. Valorizar rapidamente o preço da terra cria uma “barreira” para o caso desta estratégia arriscada fracassar.

Investimentos agrícolas são desesperadamente necessários. O Emergent argumenta que não está criando estoques de terra – ele diz investir no aumento da produtividade, trazer novas técnicas e tecnologias e também fazer “investimentos sociais” em escolas, hospitais e habitação. Porém, permanece o risco de que alguns investidores estejam interessados apenas no retorno fácil dos investimentos em terras e não na atividade mais arriscada de cultivar alimentos.

O clima está mudandoA mudança climática cria uma grave ameaça à produção de alimentos. Em primeiro lugar, é um obstáculo ao aumento da produtividade. Estimativas sugerem que a produtividade do arroz pode declinar em 10% para cada grau de aumento nas temperaturas mínimas da estação do plantio de seca.43 Modelos de projeção estimam que países da África subsaariana poderiam experimentar declínios catastróficos da ordem de 20% a 30% até 2080 nos seus rendimentos agrícolas, que podem subir para 50% no Sudão e no Senegal.44

Além disso, aumentarão drasticamente a frequência e a severidade de eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor, secas e enchentes, que podem devastar colheitas de uma só vez. Enquanto isso, mudanças graduais insidiosas nas estações, como períodos mais longos e mais quentes de seca, estações de cultivo mais curtas e padrões imprevisíveis de chuva, desnorteiam pequenos agricultores, tornando cada vez mais difícil para eles a definição do melhor momento para semear, cultivar e colher sua produção.45

Para pessoas sem renda, poupança e acesso à assistência médica ou ao seguro social – benefícios geralmente disponíveis para aqueles que vivem em países industrializados –, desastres climáticos ou mudanças nas estações representam frequentemente fome, perda de patrimônio fundamental para seu sustento ou retirada de seus filhos da escola. Estratégias de curto prazo para lidar com esta situação podem trazer consequências de longo prazo, causando uma espiral de aprofundamento da pobreza e de maior vulnerabilidade.

Apesar da escala e da urgência do desafio, os governos deixaram de adotar medidas adequadas para reduzir suas emissões, coletiva ou individualmente. Em vez disso, ouviram lobbies industriais – ouviram as poucas empresas que podem perder com uma transição para um futuro sustentável, benéfico para o resto de nós (veja o quadro 2).

Quadro 2. Indústria suja e lobby turvo

O lobby das indústrias poluidoras mantém a Europa travada em uma baixa ambição de redução de suas emissões de gases de efeito estufa, marginalizando sua influência em negociações e impedindo uma transição para uma economia de baixo carbono. Enquanto isso, outros países correm atrás do prejuízo, em especial a China, atualmente o maior investidor soberano do mundo em energias renováveis.46 Alguns dos lobbies mais intensos vêm dos setores de aço, petróleo e gás, de produtos químicos, das indústrias de papel e das associações que falam em nome destes setores,47 além de grandes grupos intersetoriais. O mais deprimente entre todos é a BusinessEurope, associação geral de empregadores europeus, à qual pertence a maioria das empresas importantes que publicamente professam profunda preocupação com a mudança climática. Estas associações “sem rosto” têm baixa visibilidade pública, o que permite que empresas supostamente “responsáveis” mantenham suas mãos limpas.

Companhias não apenas fazem lobby contra uma ambição maior em acordos sobre mudança climática, mas também fazem lobby para assumir elas próprias a regulamentação dos acordos firmados. Por exemplo, a ArcelorMittal, maior empresa privada de aço do mundo, tem feito lobby para garantir concessões livres sob o European Union Emissions Trading Scheme (EU ETS). A empresa lucrou muito com isto, obtendo por fim uma reserva de subsídios, o que potencialmente lhe permitirá aumentar suas emissões no futuro. Todas estas reservas de direito de emissões deprimem o preço do carbono e anulam os incentivos para investimentos em tecnologias limpas, para os quais o mercado de carbono foi projetado. Até 2012, a ArcelorMittal pode lucrar potencialmente mais de € 1 bilhão com essas concessões gratuitas,48 invertendo o princípio do poluidor-pagador, contido no cerne do ETS.

19Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

A mudança climática não somente ameaça a agricultura, mas agora também a maneira como cultivamos ameaça o próprio clima. Embora não seja o único fator que contribui para as emissões de gases de efeito estufa, nem mesmo o maior, a agricultura responde por uma parcela significativa do dano: algo entre 17% e 32% do total de gases de efeito estufa produzidos pelo ser humano.49 As principais responsáveis são as emissões decorrentes do uso de fertilizantes e as relacionadas à pecuária.50 Assustadoramente, ambas parecem estar destinadas a aumentar significativamente.51

O fator que, de longe, mais contribui para as emissões agrícolas, no entanto, é a mudança no uso do solo:52 converter a vegetação natural em área de agricultura pode liberar grandes quantidades de gases de efeito estufa, em especial no caso de florestas e nas áreas úmidas (veja o quadro 3).

Quadro3.Azeitededendê:consumindoasflorestasdomundo

O azeite de dendê é uma cultura extraordinária: é de alto rendimento e de rápido crescimento. Seu óleo contém um ingrediente versátil usado em todo o mundo, embora poucos de nós tenhamos conhecimento deste fato. O azeite de dendê pode ser encontrado no chocolate, em produtos de panificação, molhos, batata frita, margarina, queijo cremoso, doces e refeições prontas. É produzido principalmente pelo agronegócio em grandes plantações na Malásia e na Indonésia. Ele é comprado em grande quantidade por fabricantes de alimentos como a Unilever, a Kraft e a Nestlé.

Nossa fome de azeite de dendê parece insaciável. A demanda deverá duplicar entre 2000 e 2050.53 Isto gera implicações terríveis para as florestas tropicais da Indonésia, onde cada plantação devora hectares de um dos ecossistemas mais importantes em carbono capturado do planeta.54

Aproximadamente 80% do azeite de dendê produzido no mundo vai fazer parte de algum alimento,55 mas uma quantidade cada vez maior é usada para o biodiesel. Os regulamentos da UE, dos EUA e do Canadá exigem conteúdo mínimo de biocombustíveis na gasolina e no diesel e estimulam o desmatamento, seja diretamente para o plantio de dendê, seja porque o azeite de dendê está substituindo outros óleos comestíveis utilizados para a produção de biodiesel. A Oxfam calcula que, mesmo que a UE exclua todo o biodiesel produzido a partir de áreas desmatadas, sua demanda pode elevar as emissões por desmatamento em até 4,6 bilhões de toneladas de CO2 – quase 70 vezes a economia anual de CO2 que espera alcançar com sua meta de obter 10% de sua energia para transportes a partir de biocombustíveis até 2020.56

20

“Hoje em dia, às vezes chove demais, e a chuva destrói as colheitas. Outras vezes, não chove e as plantas simplesmente murcham. Quando isto acontece, não há comida para o ano seguinte. Eu não sei o que podemos fazer com relação às chuvas”.Killa Kawalema, agricultor, Malawi

Aspectosdemográficos,escassezemudança climática: um cenário perfeito de perturbações para mais fomePrever o futuro é um exercício arriscado. Quando se trata de produção agrícola e nutrição, há muitas incógnitas. Contudo, projeções e cenários detalhados desenvolvidos para este relatório apontam inequivocamente para uma conclusão avassaladora: o mundo enfrenta um risco real e iminente de retrocesso nos esforços de combate ao flagelo da fome.57 Este risco não é uma ameaça em um futuro remoto. Está surgindo hoje, vai se intensificar ao longo da próxima década e evoluir ao longo do século 21 à medida que o meio ambiente, a demografia e a mudança climática interagirem, criando um círculo vicioso de vulnerabilidade e fome em alguns dos países mais pobres do mundo.

Alternativas existem. Porém, da análise do cenário emerge uma mensagem central: a comunidade internacional está caminhando sem se dar conta para uma reversão sem precedentes do desenvolvimento humano, mas evitável. A pesquisa conduzida para este relatório explorou uma gama de cenários de preços de alimentos para 2020 e 2030 utilizando modelos de projeção do comércio internacional.58 Sem uma ofensiva urgente de combate ao aquecimento global, os preços dos alimentos básicos deverão subir vertiginosamente nas duas próximas décadas. Utilizando outro modelo de projeção, que também prevê tendências semelhantes, o International Food Policy Research Institute (IFPRI) calculou recentemente que mais de 12 milhões de crianças seriam incluídas entre os famintos até 2050, em comparação com um cenário sem mudança climática.59

Manchetes como estas fornecem apenas um quadro parcial da amplitude da ameaça. Em uma única geração, o mundo está perdendo a oportunidade de afastar o espectro da fome de uma população infantil, com menos de cinco anos de idade, superior ao número total de crianças francesas, alemãs e inglesas da mesma faixa etária. Passividade e omissão com relação a esse resultado significarão um fracasso sem precedentes das lideranças internacionais, a abdicação de suas responsabilidades, inclusive porque esta é uma tragédia evitável se – e somente se – os governos agirem decididamente nos próximos anos.

Por que se dá tanto enfoque nos preços dos alimentos? Primeiro, porque os preços mundiais dos alimentos fornecem uma medida interessante de como mudanças estruturais de demografia, meio ambiente e clima interagem com o sistema alimentar. Preços ascendentes assinalam desequilíbrio na resposta da oferta à demanda crescente. Em segundo lugar, porque os preços dos alimentos influenciam fortemente a existência de fome, já que afetam a capacidade das pessoas – e dos países pobres – de obter calorias em situação de pobreza. Naturalmente, os preços não devem ser considerados isoladamente: a renda também influencia o poder de compra. Assim, nas regiões em desenvolvimento que enfrentam os mais graves desafios da subnutrição, os alimentos ainda respondem por cerca de metade dos gastos médios por domicílio e por uma parcela ainda maior no caso das pessoas em situação de pobreza (veja o gráfico 6).60

Fonte: “Exploring Food Price Scenario Towards 2030”: www.oxfam.org/grow.

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Gráfico 6. Gastos familiares com alimento: previsões para 2030Pr

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21Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

As projeções dos preços internacionais para os principais alimentos básicos refletem as pressões severas às quais o sistema alimentar está submetido. Ao longo das duas próximas décadas, os preços de commodities como o arroz, o trigo e o milho deverão subir entre 60% e 80% (veja o gráfico 7). Isto atingirá os mais pobres de maneira mais aguda. Por exemplo, embora os alimentos correspondam a 46% dos gastos médios de um domicílio na África Ocidental, para os 20% mais pobres do Mali este valor corresponde a 53%. De forma similar, embora 40% dos gastos familiares se destinem a alimentos em boa parte do Sul da Ásia, para os 20% mais pobres do Sri Lanka, a cifra atinge 64%.61

Projeções globais deste tipo simultaneamente obscurecem e subestimam os cenários para as diferentes regiões. Dados desagregados para quatro regiões africanas evidenciam uma divergência ampla e crescente entre evolução demográfica e produtividade na agricultura. São regiões com mais de 870 milhões de habitantes e com níveis de subnutrição dos mais altos do mundo. Na África Ocidental, a população aumentará em média 2,1% por ano, enquanto a simples continuidade dos ganhos passados de produtividade do milho resultaria em um aumento de somente 1,4% por ano até 2030 (veja o gráfico 8a).

No Sul e no Sudeste da África, a produtividade do milho se manterá com um pequeno crescimento, enquanto o crescimento populacional deverá ser mais lento. Embora a divergência produtividade/crescimento populacional seja menos acentuada em outras partes do mundo, as projeções para a Ásia Oriental (com exceção da China), para a Índia e para o resto do Centro-Sul da Ásia apontam todas para um futuro no qual a agricultura luta para acompanhar as demandas associadas a uma população crescente (veja o gráfico 8b).

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Gráfico 7. Aumentos previstos nos preços mundiais de commodities alimentares

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Gráfico 8a. Taxas comparativas de crescimento da população e da produtividade de cultivos: o caso do milho na África subsaariana

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Milho na África Central e do LesteMilho na África do OestePopulação na África do Oeste

Milho na África do Sul e SudestePopulação da África do Sul e Sudeste

População na África do LestePopulação na África Central

Gráfico 8b. Taxas comparativas de crescimento da população e da produtividade de cultivos: o caso do arroz na Ásia

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População da Ásia CentralOutras populações do Sul da Ásia

Arroz na Índia e em outros países do Sul e Centro da Ásia

População da ÍndiaArroz no Leste e Oeste da Ásia Outras populações do Leste e Oeste da Ásia

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23Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

As projeções regionais de preço refletem mudanças subjacentes na oferta e na procura. O gráfico 9 oferece uma visão da magnitude da alta de preços de alimentos básicos para diversas culturas e regiões. Na África Central, os consumidores de milho enfrentam a possibilidade de um aumento de 20% nos preços ao longo da próxima década, com um aumento equivalente na década seguinte. Nos países andinos, os preços do trigo e do milho subirão 25% até 2020 e, no caso do milho, crescerão 65% até 2030.

A má notícia é que estes são os cenários favoráveis, porque não incluem os efeitos da mudança climática. A mudança climática é um potente multiplicador de risco na agricultura. Nossas projeções capturam o impacto simulado da mudança climática nos preços mundiais para os principais alimentos básicos negociados (veja o gráfico 10). No caso do milho, o incremento no preço produzido pela mudança climática fica em torno de 86%. Os efeitos para o arroz e o trigo também são acentuados. Em resumo, os efeitos esperados eliminariam qualquer impacto positivo de incrementos previstos nas rendas familiares, mantendo gerações no círculo vicioso da insegurança alimentar.

Gráfico 9. Previsão dos preços dos alimentos para consumidores domésticos até 2030

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Página seguinte: Os vendedores de arroz Sok Nain e Mach Bo Pha no mercado de Dem Kor em Phnom Penh. Vendedores dizem que seus benefícios caíram 30% quando o preço do arroz disparou em 2008. (Camboja, 2008)

Gráfico 10. Impacto da mudança climática nos preços de exportação de alimentos no mercado mundial: previsão relativa à produção de 2030

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25Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

O impacto da mudança climática nos preços dos alimentos está claro e intimamente relacionado aos impactos que esta exercerá sobre a produção. Aqui, também, nossos cenários são alarmantes. Alguns dos principais grãos negociados internacionalmente e incluídos em nosso modelo são alimentos básicos de um grande grupo de países de baixa renda. Por exemplo, o milho é um importante alimento básico em boa parte da África subsaariana, da América Central e dos países andinos. Em qualquer cenário e em todas as regiões em desenvolvimento, a mudança climática causa danos à produtividade agrícola (veja o gráfico 11).

A mudança climática também propiciará efeitos adversos sobre o volume agregado da produção (veja o gráfico 12). Estas projeções são preocupantes especialmente no caso da produção de milho na África subsaariana. Além disso, as tendências verificadas em nossos cenários para 2030 são consistentes com a análise de tendência de longo prazo conduzida pelo IFPRI para um conjunto mais amplo de culturas. Tal análise indica um efeito acentuado da mudança climática nos mercados, provocado pela redução da produção de mandioca, batata-doce, inhame e trigo até 2050 (um rendimento respectivamente mais baixo em 8%, 13% e 22% do que num cenário sem mudança climática).62

Em última instância, cenários de preço e produção são úteis apenas para permitir uma percepção das ameaças às pessoas vulneráveis e das opções políticas à disposição de governos dispostos a enfrentá-las. Assim sendo, qual é o quadro esboçado por nossos cenários para a situação da fome no mundo em 2050?

Gráfico 11. Impacto da mudança climática na produtividade do milho: previsão relativa à produção de 2030

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Gráfico 12. Impacto da mudança climática na produtividade de alimentos básicos: previsão relativa à produção de 2030

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Gráfico 13. Previsão de aumento no número de crianças subnutridas na África subsaariana no contexto da mudança climática

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2010 2030 2050

0

26

A mudança climática exerce uma pressão implacável sobre o sistema alimentar mundial e tem o efeito de multiplicar os fatores de risco. Assim, faz surgir o espectro de uma diminuição no ritmo da erradicação da desnutrição, seguida a médio prazo por uma inversão de tendência em muitos países. Inevitavelmente, os efeitos serão desiguais. Países de renda média com forte crescimento econômico e uma base diversificada de exportações estarão em condições de mitigar a transmissão da alta mundial de preços nos mercados domésticos. Entretanto, muitos países de renda média baixa e de renda baixa estão mal posicionados para absorver o impacto da alta de preços de alimentos importados.

Mais uma vez, a África subsaariana enfrenta as ameaças mais graves. Preços mais altos vão se traduzir em menor aquisição de alimentos na região, que já tem a ingestão calórica mais baixa do mundo. Mesmo em um mundo sem mudança climática, a África subsaariana enfrentaria problemas para combater a epidemia de fome. Em um cenário básico, o número de crianças subnutridas aumentaria em torno de 8 milhões em 2030 e, em 2050, voltaria ao nível da virada do século 21 – cerca de 30 milhões. Com os efeitos da mudança climática, a subnutrição infantil aumentaria em apenas pouco menos de um milhão (em comparação com um cenário sem mudança climática) em 2030 (veja o gráfico 13).63

Cumpre enfatizar que os cenários desenvolvidos pela pesquisa contratada pela Oxfam não definem o destino do mundo. Eles destacam resultados plausíveis baseados em cenários conservadores. Outros futuros são possíveis. Fortalecer políticas agrícolas nacionais e priorizar a agricultura na agenda internacional de desenvolvimento possivelmente ajudaria a aumentar a produtividade dos pequenos produtores de alimentos, assegurando assim que a produtividade regional acompanhe o crescimento populacional. Criar uma nova governança internacional, para contornar crises de alimentos e responder de forma mais eficaz a elas, ajudaria a proteger de choques futuros países e famílias em situação de insegurança alimentar. Infelizmente, a inércia no sistema climático indica que as ações de hoje para reduzir as emissões de gases de efeito estufa não serão capazes de atenuar significativamente a mudança climática nos períodos abrangidos por este modelo, mas ajudarão a evitar que ela tenha impactos ainda mais devastadores no futuro. Frente à inevitável mudança climática das próximas décadas, os países ricos devem priorizar com urgência ações de adaptação nos países em desenvolvimento. Isto irá atenuar consideravelmente a alta de preços dos alimentos, evitando milhões de casos adicionais de subnutrição (veja o gráfico 14).

20

40

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80

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Gráfico 14. Previsão de impacto da mudança climática no preço do milho na ÁfricaAu

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10 (%

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Oeste da África África Central Leste da África Sul e Sudeste da África

Impacto da mudança climática Com medidas de adaptação à mudança climática Linha de base

0

27Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

2828

EnfrentandoodesafiodaproduçãosustentávelAumentar a produção em 70% nos próximos 40 anos é um desafio enorme, mas realizável. A solução é clara: os governos dos países ricos devem resistir aos seus lobbies agrícolas. Eles devem cortar medidas e subsídios que distorcem o comércio e asfixiam os investimentos no verdadeiro potencial de aumento da produção: na agricultura familiar e nas pequenas propriedades agrícolas dos países em desenvolvimento. Uma mudança como esta liberaria recursos orçamentários de monta. Parte deles poderia ser redirecionada à ajuda oficial ao desenvolvimento (AOD) para a agricultura – dando início a um necessário renascimento rural.

A disponibilidade de alimentos também pode ser ampliada se enfrentarmos o desperdício, calculado entre 30% e 50% de todo o alimento cultivado.64 Nos países ricos, onde o desperdício chega a algo em torno de um quarto dos alimentos comprados por domicílio,65 consumidores e empresas precisam mudar seus comportamentos e suas práticas. Nos países em desenvolvimento, onde o desperdício ocorre na pós-colheita por conta de armazenamento precário e de infraestrutura de transporte deficiente, os governos precisam aumentar seus investimentos.

As pressões sobre a terra e a água podem ser reduzidas graças a novas práticas e técnicas que melhoram a produção e promovem formas mais cuidadosas de uso do solo e da água, de maneira a reduzir sua dependência de insumos – técnicas como irrigação por gotejamento, coleta de água da chuva, plantio direto, sistemas agroflorestais e agroecológicos, cultivos consorciados e fertilizantes orgânicos. Isso também reduziria significativamente a pegada de carbono da agricultura.

Pesquisas recentes encomendadas pela Oxfam que simulam a evolução dos custos, do rendimento e dos lucros dos sistemas agroflorestais na Bolívia demonstram estes fatos.66 Estas técnicas atingem objetivos de conservação das florestas e de luta contra a mudança climática, o que representa uma alternativa à expansão da fronteira agrícola por desmatamento para a expansão do cultivo da soja e das pastagens. Além disso, a renda domiciliar média dos envolvidos em sistemas agroflorestais é aproximadamente cinco vezes maior do que em qualquer das alternativas intermediárias possíveis (agricultura, criação de pequenos animais ou coleta de castanha).

Os governos nacionais podem fazer muito mais para manejar recursos escassos. Estabelecer o pagamento pelo uso da água para a indústria e para a agricultura comercial forçaria empresas e grandes propriedades rurais a melhorar sua eficiência. É também essencial retirar subsídios que involuntariamente incentivam o desperdício de água, como aqueles fornecidos a produtores de eletricidade. Governos podem investir no manejo da água, o que constitui uma proposta muito atraente: estima-se que, para cada dólar gasto, haveria um retorno de oito dólares em custos evitados e em aumento de produtividade.67 Além disso, os governos podem normatizar investimentos em terra de modo a atender a objetivos sociais e ambientais mais amplos: respeito ao direito à terra e proteção de florestas e da biodiversidade.

29Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

Ao lado: Noograi Snagsri gasta agora menos tempo trabalhando nos campos graças ao novo sistema integrado de produção, no qual a água é bombeada diretamente para a plantação. Em 2007, os produtores da província de Yasothorn, no Nordeste da Tailândia, sofreram a maior seca registrada em anos. (Tailândia, 2010)

À direita: Cachos de dendê, matéria-prima para o óleo de palma usado na produção de diversos alimentos, sabão e biocombustível.

2.3 Odesafiodaequidade

Quase uma em cada sete pessoas no mundo sofre de subnutrição crônica. Após décadas de lento declínio, em meados dos anos 1990 a fome no mundo voltou a aumentar e subiu vertiginosamente durante a crise de preço dos alimentos, em 2008. Se a tendência de lento progresso se mantivesse, 413 milhões de pessoas a menos estariam famintas hoje. Embora o pico de um bilhão de pessoas com fome registrado em 2008 não mais tenha sido alcançado, o número atual está mais alto do que em qualquer época antes da crise e pode subir outra vez em 2011(veja o gráfico 16).

Contrariando nossa intuição, algo em torno de 80% das pessoas com fome vivem em áreas rurais, onde a maioria delas trabalha como produtores de alimento em pequena escala: agricultores, pastores e criadores de animais, pescadores ou trabalhadores rurais (veja o gráfico 17).68 Eles estão cercados por meios de produção de alimentos e, contudo, não podem dispor deles.

Gráfico 15a. O sistema alimentar está cheio de desigualdades: comparação entre emissões e disponibilidade de alimentos

Fontes: http://faostat.fao.org/site/368/DesktopDefault.aspx?PageID=368; e World Resource Institute: http://cait.wri.org.

Total de emissões de gases de efeito estufa em 2007 (toneladas de CO2 equivalentes por pessoa) Abastecimento em alimentos (kcal por dia por pessoa em 2007)

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2812

30

Gráfico 15b. O sistema alimentar está cheio de desigualdades: acesso à terra por mulheres

Os números representam a porcentagem de empreendimentos agrícolas chefiados por mulheres (1996 – 2007)

Fonte: FAO: http://www.fao.org/economic/es-policybriefs/multimedia0/female-land-ownership/en/

20,429,9

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Gráfico 16. Número de pessoas com fome no mundo

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Fontes: http://www.fao.org/hunger e Financial Times: http://cachef.ft.com/cms/s/0/68b31de6-392e-11e0-97ca-00144feabdc0,s01=2.html

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2008

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2011

31Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

Se, geograficamente, a fome está concentrada em áreas rurais, no âmbito familiar está concentrada em meio às mulheres. Quando o alimento está escasso, são geralmente as mulheres as primeiras a ficar sem comer. As consequências de tal atitude sobre as taxas de mortalidade materna e infantil são graves.70 Em muitos países, as mulheres desempenham papéis fundamentais na produção do alimento. Contudo, tradições culturais e estruturas sociais injustas fazem delas consumidoras de segunda classe e também atuam contra elas como produtoras, restringindo seu acesso à terra, à irrigação, ao crédito, ao conhecimento e aos serviços de assistência técnica.

Esta discriminação é uma violação dos direitos humanos fundamentais. Além disto, é grave marginalizar uma fatia tão grande de produtores de alimentos. As estimativas sugerem que, se o mesmo nível de acesso a recursos que é dado aos homens fosse proporcionado às mulheres, elas poderiam aumentar os rendimentos de suas parcelas em 20% a 30%, reduzindo assim o número global de pessoas com fome entre 12% a 17%.71

O acesso à terraTalvez nada ilustre mais claramente a iniquidade no cerne do sistema alimentar do que o caso da terra – o mais básico de todos os recursos deste sistema. Nos EUA, 4% dos proprietários rurais dividem entre eles quase a metade de toda a terra cultivável.72 Na Guatemala (veja o quadro 4), menos de 8% dos produtores agrícolas detêm quase 80% da terra – uma cifra que não é atípica no conjunto da América Central.73 No Brasil, 1% da população é dona de quase a metade de toda a terra do país.

Quando os governos fracassam em garantir o acesso à terra para as suas populações, poderosos investidores e elites locais se sentem autorizados a fazer pouco caso das comunidades locais. Em casos recentes de compra de terra em larga escala, as expropriações tornaram-se a regra. O princípio do consentimento livre, prévio e informado é frequentemente ignorado e as compensações, quando pagas, são em geral muito baixas. As promessas iniciais de desenvolvimento e empregos são frequentemente descumpridas. A terra pode permanecer ociosa ou, ainda, o investimento pode ser altamente mecanizado, oferecendo poucos empregos ou apenas para homens com alta qualificação.74 Um estudo do Banco Mundial verificou que os investidores buscavam justamente os países cujas instituições eram as mais fracas.75

Gráfico 17. Onde estão os famintos?

Fontes: http://www.unmillenniumproject.org/reports/tf_hunger.htm; http://www.fao.org/hunger/en/; http://www.fao.org/economic/ess/ess-data/ess-fs/ess-fadata/en/

Desnutrição por domicílio (estimativa de 2005, em %)

Domicílios da agricultura em pequena escala

50%Domicílios rurais sem terra 20%

Domicílios de pastores, pescadores e extrativistas florestais 10%

Domicílios urbanos 20%

Desnutrição por região (2010, em milhões)

Países desenvolvidos Oriente próximo e África do Norte

América Latina e Caribe

África subsaariana

Ásia e Pacífico

19 3753

239578

32

Quadro 4. A Guatemala tenta e fracassa: a luta pelo desenvolvimento rural

A crise dos preços dos alimentos de 2008 fez um estrago entre os mais pobres e famintos da Guatemala. Mesmo antes da crise, em consequência das desigualdades extremas de renda, acesso à terra e apoio governamental, 50% de todas as crianças com menos de cinco anos de idade estavam subnutridas, percentual este que subia para 70% entre as crianças indígenas.69 Naquele país, uma minúscula elite ganha dinheiro com cultivos comerciais para a exportação e impõe condições desfavoráveis de comércio aos pequenos produtores.

O crescimento repentino nos preços dos alimentos ofereceu ao governo guatemalteco uma oportunidade para iniciar uma reforma. Foi reeditada uma antiga legislação que exigia dos proprietários de terras que alocassem 10% de terra cultivável para a plantação de grãos básicos para o consumo nacional. No entanto, a legislação não durou mais do que três dias.

O governo e grupos da sociedade civil propuseram, então, uma lei promissora para promover a produção de alimentos e conceder aos pequenos produtores uma melhor participação nas cadeias de produção. As elites usaram de ameaças veiculadas pela mídia e pressões veladas para paralisar o processo legislativo. Com isto, a lei proposta não foi votada.

Estudo de caso: “Guatemala and the Struggle for Rural Development”: www.oxfam.org.uk/policyandpractice

O acesso das mulheres à terraNos países em desenvolvimento para os quais há dados disponíveis, as mulheres têm entre 10% e 20% da propriedade da terra.76 Elas podem ser responsáveis pela maior parte da produção de alimentos, mas enfrentam discriminação sistemática com relação à posse da terra, que pode ser tão flagrante quanto as mulheres serem proibidas de receber título de propriedade de terras em seu nome (como na Suazilândia) ou que lhes seja vedada a herança de terras.77 As mulheres, portanto, tendem mais a depender de áreas marginais não registradas como produtivas e para as quais não foi concedido título de posse – justamente aquelas identificadas por governos e investidores como “disponíveis” para aquisição em larga escala.

Pelas mesmas razões históricas e culturais segundo as quais as mulheres carecem de acesso à terra, também lhes é negado com frequência acesso a outros recursos básicos – inclusive dinheiro e educação. Em última instância, superar a discriminação sistêmica e corrosiva contra as mulheres continua sendo a verdadeira tarefa de governos, empresas e sociedades.

33Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

“Quando seu marido não lhe deixa nada, não há oportunidades para sobreviver como agricultora (…). A única forma de sobreviver como agricultora, (…) a única forma de (…) sobreviver aqui é produzindo grãos e criando gado, e você precisa de terra para estas duas coisas. Se você não tem terra, você não pode fazer estas coisas e não pode sobreviver”.Norma Medal Sorien, agricultora e mãe, México

À direita: A agricultora Norma Medal Sorien não tem o direito legal de cultivar a terra, que pertence ao seu irmão. Mas tem esperança, já que é o primeiro ano em que irriga sua produção por gotejamento, com financiamento da Oxfam, e isto será mais eficiente, pois reduz a quantidade de água necessária. (México, 2010)

O acesso a mercadosA venda do excedente permite aos agricultores pobres obter uma renda, mas raramente eles podem exercer algum poder nos mercados dominados por intermediários, processadores, agregadores, empresas de frete e as que controlam marcas e a distribuição.

Poucas centenas de empresas – comerciais, processadoras, manufatureiras e varejistas – controlam 70% das escolhas e decisões no sistema mundial de alimentos, inclusive as que dizem respeito a recursos fundamentais como terra, água, sementes, tecnologias e infraestrutura.78 Ao ditar as regras em todas as cadeias alimentares que dominam – para preços, custos e normas –, elas determinam quem arca com a maioria dos custos e quem assume a maioria dos riscos. Elas extraem grande parte do valor ao longo da cadeia produtiva, enquanto a cascata de custos e riscos recai sobre os participantes mais fracos – em geral, os agricultores e trabalhadores da base.

É inegável a responsabilidade do setor privado em estabelecer os termos segundo os quais as pessoas participam dos mercados. As empresas responsáveis devem respeitar os direitos das pessoas à terra, à água e a outros recursos escassos, criar relações comerciais que possibilitem retorno às mulheres e aos homens em situação de pobreza por meio de acordos de preços justos e estáveis, bem como facilitar o acesso a conhecimentos especializados, créditos e infraestrutura de que estes necessitem. E devem exigir esses mesmos padrões por parte de todos os participantes da cadeia produtiva que dominam. A Oxfam está desenvolvendo um índice de justiça alimentar que vai avaliar as empresas com relação a esse padrão de responsabilidade.

O foco desse índice será as maiores empresas de alimentos e bebidas. Essas empresas serão classificadas de acordo com suas políticas e práticas sobre uso da terra, uso da água, mudança climática, pequenos produtores de alimentos e gênero. O índice será um instrumento para fazer que as empresas prestem contas de suas políticas e práticas e para influenciar os marcos regulatórios nos quais estas empresas operam.

Gráfico 18. Quem controla o sistema alimentar?

A Nestlé, maior empresa de alimentos do mundo, foi a maior empresa alimentícia no Brasil em 2000.ii

Fonte: Jason Clay, WWF-US, J.W. Grievink (2003) 'The Changing Face of the Global Food Industry', OCDE 'Conference on Changing Dimensions of the Food Economy: Exploring the Policy Issues', 2003.

1,5 bilhões deprodutores7

bilhões de consumidores

Não mais de 500 empresas

controlam 70% da escolha

Empresas comerciais e

beneficiadoras VarejistasEmpresas

de alimentos

Empresas de insumos

Quatro companhias – Dupont, Monsanto, Syngenta e Limagrain – dominam mais de 50% da venda mundial de sementes.iv

i A receita do Wal-Mart foi de US$ 408.214 milhões. Fonte: Fortune 500, Fortune, 161:6, 3 de maio de 2010. http://money.cnn.com/magazines/fortune/ fortune500/2010/full_list/ A soma do PIB dos países de baixa renda foi de US$ 432.171 milhões. Dados do Banco Mundial sobre PIB: http://data.worldbank.org

ii B. Vorley (2003). ‘Food, Inc., Corporate concentration from farm to consumer’ [Concentração corporativa, da fazenda ao consumidor], UK Food Group.iii Giminez e Patel (2009). ‘Food Rebelion’ [Rebelião Alimentar], Pambazuka Press, p. 18.iv Baseado nos números de vendas no mercado proprietário global de sementes. G. Meijerink e M. Danse (2009).

As receitas do Wal-Mart atingiram US$ 400 bilhões em 2009, o equivalente ao PIB do conjunto dos países de baixa renda.i

Cargill, Bunge e ADM controlam quase 90% do comércio mundial de grãos.iii

34

O acesso à tecnologiaAs corporações exercem grande poder na ponta de “insumos” da cadeia produtiva de alimentos: a produção de sementes e de agroquímicos. No mundo todo, quatro companhias – Dupont, Monsanto, Syngenta e Limagrain – dominam mais de 50% do setor de comercialização de sementes,79 enquanto seis empresas controlam 75% dos agroquímicos.80

O programa de pesquisa dessas companhias se concentra em tecnologias voltadas para seus maiores consumidores, grandes empresas de agronegócios que podem pagar a gama de insumos que elas vendem. Essas tecnologias raramente atendem às necessidades dos agricultores dos países em desenvolvimento, que, de qualquer maneira, não podem pagar por elas. As necessidades tecnológicas dos pequenos agricultores são ignoradas, embora representem a maior oportunidade de aumentar a produção e combater a fome. O mercado está falhando e – com algumas exceções notáveis, como a China e o Brasil81 – os governos não estão conseguindo corrigir isso.

As empresas de insumos investem em produtos tecnológicos que podem ser reunidos e vendidos como um pacote – por exemplo, o herbicida Roundup da Monsanto e a Soja Roundup Ready geneticamente modificada. Mas o que é mesmo necessário refere-se às tecnologias aplicadas – técnicas que não são facilmente vendidas em pacote, mas que podem oferecer soluções para melhorar a estagnação da produtividade e a falta de sustentabilidade. A Oxfam testemunhou isso em seu trabalho com agricultores no mundo todo. Recentemente, no Azerbaijão, novas práticas de semeadura prometem dobrar a produção de trigo e reduzir o uso de sementes pela metade.

O modus operandi das empresas também impede a produção de pesquisas em benefício dos pobres e do combate à fome, solapando as instituições públicas, que atendem a um interesse mais amplo. As empresas de sementes acumularam enormes bancos de “patentes”, reivindicando direitos de propriedade intelectual sobre diversas características genéticas e outras “inovações”. As instituições públicas – temendo litígios e sem recursos para rastrear a rede de patentes ou pagar as taxas de licença a elas associadas – ficam, portanto, sem acesso a um instrumento de pesquisa fundamental.82

A má alocação dos recursos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) decorrente é de estarrecer. O orçamento anual da Monsanto para pesquisas é de US$ 1,2 bilhão.83 O orçamento anual do Grupo Consultivo sobre Agricultura Internacional (CGIAR), principal grupo de centros de P&D para os países em desenvolvimento, é de apenas US$ 500 milhões.84

Reivindicações de direitosNa luta para alimentar a família, as pessoas que vivem na pobreza são frequentemente exploradas ou marginalizadas pelos imensos desequilíbrios de poder no sistema produtivo de alimentos. Mas elas podem reagir e reagem ao se unirem para reivindicar seus direitos e aumentar sua força nos mercados. Os trabalhadores formam sindicatos para conseguir mais garantia de emprego e melhores condições de trabalho. Os agricultores formam organizações de produtores ou cooperativas para negociar com mercados e empresas de forma mais assertiva, aproveitar a economia de escala e melhorar os padrões de produção. As mulheres produtoras formam organizações de mulheres, já que as organizações de produtores dominadas pelos homens geralmente não defendem seus interesses ou nem mesmo permitem que elas façam parte da organização. Os consumidores influenciam o comportamento das empresas com suas decisões de compras – como, por exemplo, por meio dos movimentos Fair Trade, orgânico ou Slow Food – ou de maneira mais incisiva por meio de campanhas de consumidores.

Essas formas de organização podem rapidamente passar das esferas econômica e social para a esfera política. Uma nova geração de organizações de produtores deslanchou nas duas últimas décadas: em Burkina Faso, entre 1982 e 2002, o número de comunidades organizadas passou de 21% para 91%85, e na Nigéria, entre 1990 e 2005, o número de cooperativas passou de 29 mil para 50 mil.86

Nas Filipinas, um movimento nacional de organizações rurais e ONGs formou uma aliança extraordinária com reformadores do Estado durante a década de 1990, o que resultou na redistribuição de mais de um quarto das terras do país no período de seis anos.87 Na Colômbia, a Oxfam apoiou uma campanha das organizações de produtores para convencer o conselho municipal de Bogotá a abastecer hospitais, escolas e outras instituições locais com sua produção – beneficiando atualmente dois mil pequenos agricultores.88

Na região pobre de Bundelkhand, na Índia, 45 mil famílias de pescadores do distrito de Tikamgarh reagiram contra a expropriação de suas tradicionais lagoas de pesca pelos donos da terra e empreiteiros e acabaram ganhando direitos legais sobre cem lagoas.89 As manifestações de populações famintas em 61 países do mundo todo em 200890 e as mudanças políticas subsequentes em alguns deles demonstram inequivocamente o poder dos consumidores, cujos governos assumem o risco de ignorá-lo.

Mulheres e homens do mundo todo estão se organizando para reivindicar seus direitos e reformar de baixo para cima o falido sistema alimentar – um movimento global que é a nossa maior esperança de vencer o desafio da equidade.

35Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

O frágil sistema alimentar global está sob uma pressão cada vez maior, com consequências desastrosas para os mais vulneráveis. A volatilidade dos preços dos alimentos acarretou duas crises mundiais no período de três anos, enquanto o pano de fundo da mudança climática ganha força incessantemente.

Fragilidade crescenteQuem arca com o ônus da crescente fragilidade do sistema produtivo de alimentos não é nenhuma surpresa. Os mais vulneráveis são os países com grande população de mulheres e homens vivendo na pobreza e que dependem dos mercados internacionais para suprir parte importante de suas necessidades alimentares. Suas contas de importação de alimentos aumentaram 56% em 2007–2008 em comparação com o ano anterior, que já havia dado um salto de 36%.91 O Banco Mundial estimou que o aumento de preços de 2008 levou mais de 100 milhões de pessoas para a situação de pobreza, sendo que 30 milhões delas estão na África.92

Os custos reais são sentidos no âmbito familiar. As famílias em situação de pobreza gastam três quartos de sua renda com comida,93 o que as deixa extremamente vulneráveis às súbitas mudanças de preços. Além dos impactos previstos – cortar alguns alimentos, lutar para pagar os custos de saúde e educação, assumir dívidas ou vender bens –, as pesquisas sobre as trágicas consequências da crise de 2008 revelaram aumento de abandono de crianças e idosos, criminalidade e comportamento sexual de risco.94

2.4 Odesafiodaresiliência

Gráfico 19. Volatilidade crescente dos preços dos alimentos

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Dez. 1994

Dez. 1996

Dez. 1998

Dez. 2000

Dez. 2002

Dez. 2004

Dez. 2006

Dez. 2008

Fonte: Cálculos baseados em dados do Banco Mundial: http://data.worldbank.org/data-catalog/commodity-price-data

36

Para os agricultores em situação de pobreza, a crise do preço dos alimentos acabou de forma abrupta com décadas de preços artificialmente baixos, deprimidos pelo dumping agrícola dos países ricos. Lamentavelmente, foram poucos os que se beneficiaram dos preços mais altos, porque a maioria era formada de consumidores líquidos de alimentos e quase nenhum deles tinha recursos para transformar a ameaça em oportunidade. A volatilidade dos preços e a imprevisibilidade do clima desencorajam os agricultores pobres a investir ou assumir riscos, em particular porque isso pode significar quase que literalmente apostar as suas propriedades agrícolas.

Quadro 5. Lucros da volatilidade e volatilidade dos lucros

A volatilidade de preços é devastadora para mulheres e homens que vivem na pobreza, mas traz grandes oportunidades para empresas de agronegócios, como Cargill, Bunge e ADM, que – de acordo com as estimativas – dividem entre si quase 90% do comércio mundial de grãos.95 Em tempos de estabilidade de preços, as margens de lucro do comércio são mínimas, mas a instabilidade permite que as grandes empresas explorem o conhecimento sem paralelos que detêm sobre os níveis de reserva e os movimentos esperados de oferta e demanda.96 No segundo trimestre de 2008, os lucros da Bunge quadruplicaram em comparação com o mesmo período de 2007. A alta vertiginosa dos preços de produtos agrícolas na segunda metade de 2010 colaborou para que a Cargill atingisse seus melhores resultados desde 2008, situação que o presidente do Conselho Administrativo e diretor-executivo, Greg Page, atribuiu à “volta da volatilidade nos mercados agrícolas”.97

De modo semelhante, quando houve a quebra da safra de trigo russa em 2010, os lucros da Bunge inflaram. Na ocasião, a companhia atribuiu o resultado inesperado à “escassez agrícola relacionada às secas no Leste Europeu”. “Detesto dizer que nós nos beneficiamos”, disse o diretor-executivo Alberto Weisser em uma entrevista.98

Algumas atividades das empresas geram volatilidade em primeiro lugar, como a mudança de plantações de alimentos para biocombustíveis. O lobby do biocombustível consiste em uma aliança improvável entre agronegócio, sindicatos de agricultores, empresas de energia e de insumos.99 A pressão bem-sucedida dessa aliança, para obrigar o uso de biocombustível na gasolina e no diesel, acarretou uma demanda inelástica nos mercados de alimentos, enquanto os subsídios e os incentivos fiscais conquistados pelo lobby do biocombustível ajudam a refletir os movimentos de preços dos mercados de petróleo. Ambos resultam em maior volatilidade.

A atenção se voltou recentemente para os fundos de pensão e outros investidores institucionais, porque muitos deles agora querem ter entre 3% e 5% de seus investimentos – que representam trilhões de dólares – em commodities, inclusive em commodities de alimentos. O relator especial da ONU para Direito à Alimentação e outras autoridades argumentam que essa inundação repentina de demanda está desestabilizando os preços e contribuiu para a alta dos preços. Temendo que a crescente volatilidade nos mercados de alimentos ponha em risco suas carteiras, alguns investidores – como o fundo de pensão estatal francês (FRR), o fundo de pensão estatal holandês (ABP) e o fundo de pensão dos professores da Califórnia (CalSTRS) – preferiram limitar seus investimentos aos commodities.

37Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

À esquerda: Suren Barman com a vaca que foi obrigado a vender. “O preço dos produtos básicos é excessivamente alto. Não dá para eu comprar comida com regularidade. Estou aos poucos vendendo os meus pertences para manter minha família”. (Dinajpur, Bangladesh, 2008)

Descontrole do preço dos alimentosCertamente, os fundamentos que determinam os preços dos alimentos a longo prazo estão mudando, em especial o aumento da demanda nas economias emergentes, mas a curto prazo isso não é uma explicação convincente para altas de preço. No sistema alimentar, a dependência do petróleo para transportes e fertilizantes é um fator fundamental, uma vez que a previsão é que os preços do petróleo aumentem a longo prazo e se tornem cada vez mais voláteis (veja o gráfico 20).

Ao mesmo tempo, os estoques de alimentos diminuíram – em 2008, a relação mundial estoque-consumo de trigo, milho e arroz estava em seu nível mais baixo desde os anos 1970 até o início da década de 1980.100 Sem reservas para aplacar a demanda, qualquer choque se refletiu diretamente nos preços. Recentemente, os países começaram a comprar desenfreadamente nos mercados abertos na tentativa de fazer reservas, elevando ainda mais a demanda no mercado. A antecipação nervosa da próxima crise é exacerbada pela falta de transparência sobre os níveis de reserva dos países – ninguém sabe realmente o tamanho das reservas do outro.

Caos climáticoOs choques de abastecimento já são um problema e se tornarão um problema maior ainda à medida que a mudança climática ganhe força. As fracas colheitas de trigo em 2006 e 2007 foram identificadas por alguns como fatores que contribuíram para a última crise. Uma onda de calor recorde em 2010 na Rússia reduziu a produção de trigo em 40%,101 forçando o governo a impor restrições à exportação. Ninguém sabe como será o novo choque, nem quando e onde vai ocorrer. O que aconteceria se a onda de calor de 2010 tivesse atingido o Meio-Oeste dos Estados Unidos – o celeiro do mundo – em vez de Moscou? Lester Brown calcula que isso teria pressionado os estoques de grãos mundiais para menos de 52 dias de consumo – muito abaixo dos 62 dias que acarretaram a crise de 2008.102 Outras condições climáticas extremas – inundações devastadoras no Paquistão e na Austrália, secas no Brasil, fortes chuvas na Indonésia – empurraram os preços internacionais para cima e prejudicaram a produção dessas nações.

Gráfico 20. O preço dos alimentos e o preço do petróleo estão relacionados

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Índice do petróleo (2006–07 = 100)Índice dos alimentos (2006–07 = 100)

Jan. 2000Maio 2000Set. 2000Jan. 2001Maio 2001Set. 2001Jan. 2002Maio 2002Set. 2002Jan. 2003Maio 2003Set. 2003Jan. 2004Maio 2004Set. 2004Jan. 2005Maio 2005Set. 2005Jan. 2006Maio 2006Set. 2006Jan. 2007Maio 2007Set. 2007Jan. 2008Maio 2008Set. 2008Jan. 2009Maio 2009Set. 2009Jan. 2010Maio 2010Set. 2010

Fontes: Cálculos baseados em dados da FAO: http://www.fao.org/worldfoodsituation/wfs-home/foodpricesindex/en/ e da Administração de Informações sobre Energia dos EUA: http://www.eia.doe.gov/dnav/pet/PET_PRI_WCO_K_W.htm

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Fracasso dos governosDiante dessa visão alarmante, é de se imaginar que os governos agiriam com rapidez para resolver a fragilidade do sistema alimentar. Mas, até agora, os governos ou ignoraram o problema ou o deixaram pior.

Embora os investimentos globais em energia renovável excedam atualmente os investimentos em combustíveis fósseis, a maioria dos governos evita assumir compromissos vinculantes para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Em vez disso, oferecem cortes voluntários, colocando-nos no caminho de um aquecimento catastrófico de 3-4 graus.

Os governos normalmente exacerbam a volatilidade com suas respostas às altas dos preços dos alimentos. Em 2008, o sistema alimentar global chegou à beira do abismo quando, um após o outro, mais de 30 países impuseram restrições às exportações de seus setores agrícolas em uma vertiginosa espiral de quebra de confiança.103 Restrições à exportação reduzem a oferta no mercado mundial, elevando os preços para os países importadores de alimentos.

Os governos culpam uns aos outros. Em 2008, os países ricos, notadamente os Estados Unidos, dispararam uma saraivada de críticas contra as restrições às exportações dos países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, os EUA aplicavam e continuam aplicando a maior de todas as restrições à exportação, só que fora da visão do público: a Norma para Combustíveis Renováveis (RFS), combinada com restrições alfandegárias sobre o etanol importado, desvia forçosamente enormes quantidades de milho americano da alimentação para a produção de biocombustível. Os EUA são um ator crucial nos mercados globais de milho, respondendo por cerca de um terço da produção e dois terços das exportações mundiais.104 Contudo, desde 2004, a quantidade de plantações de milho desviadas para a produção de biocombustíveis subiu vertiginosamente: em 2010, aproximadamente 40% da produção norte-americana de milho foi para motores em vez de ir para as mesas.105

As determinações sobre biocombustíveis, como as da RFS ou as do Canadá e da UE, introduzem nos mercados de alimentos fontes enormes de novas demandas que são inflexíveis frente às mudanças na oferta, amplificando os movimentos de preço. Assim, ao fazer das plantações um substituto para o petróleo, os biocombustíveis facilitam o contágio de preços entre os mercados de energia e os de alimentos.

Os mercados de alimentos também podem ficar cada vez mais vinculados aos mercados financeiros. Os investimentos em fundos indexados a commodities (principal veículo para investimentos financeiros puros em commodities agrícolas) apresentaram um aumento extraordinário, passando de US$ 13 bilhões para US$ 317 bilhões em 2008,106 quando os investidores buscaram abrigo seguro durante o colapso dos mercados de capitais. Muitos observadores argumentam que o excesso de especulação nos mercados futuros de commodities amplificou os movimentos de preços dos alimentos e pode ter desempenhado um papel nos aumentos de preços de 2008. Os EUA adotaram algumas medidas iniciais para restringir o excesso de especulação em commodities agrícolas e estão estudando aumentar a regulamentação.107 A questão também chegou ao topo da agenda legislativa da UE.

Alguns governos podem ter aprendido com seus erros. O presidente da França e presidente do G20, Nicolas Sarkozy, colocou a pauta dos alimentos no topo da agenda do G20. Quando se reuniram, em novembro de 2011, os líderes do G20 discutiram investimentos agrícolas, especulação e comércio internacional de commodities, oferecendo uma oportunidade real de evitar os erros do passado.

Um sistema humanitário à beira do colapsoO sistema mundial de ajuda humanitária está chegando ao seu limite. Entre 2005 e 2009, os doadores cobriram apenas cerca de 70% da ajuda emergencial solicitada nos apelos da ONU. Em 2010, essa proporção caiu para 63%.108 A demanda por ajuda alimentar pode dobrar até 2020,109 e o sistema já está com o cinto muito apertado.110 Como os orçamentos dos doadores para a ajuda alimentar são medidos em termos monetários em vez de tonelagem, as altas nos preços dos alimentos corroem seu valor.

A ajuda alimentar em espécie pode ser uma tábua de salvação vital quando não há alimentos disponíveis, mas geralmente os alimentos estão aí, o preço é que é demasiadamente alto. Nesses casos, fornecer dinheiro ou cupons é mais eficaz e não minará os meios de subsistência dos produtores e comerciantes locais, como ocorre em geral com a ajuda alimentar em espécie. No entanto, os doadores continuam a forçar uma quantidade desproporcional de ajuda em espécie. Por quê? Porque isso atende a interesses particulares nos países doadores.

Os EUA são os maiores doadores mundiais de ajuda alimentar, pois fornecem aproximadamente a metade da ajuda alimentar do mundo.111 Mas os programas americanos enchem mais os bolsos do agronegócio e das empresas de transporte do que as barrigas das pessoas famintas. Em vez de doarem dinheiro às agências humanitárias, os contribuintes americanos pagam primeiro os seus agricultores para produzir os alimentos, depois pagam uma quantia a mais para comprar essa produção como ajuda alimentar e depois pagam mais ainda para que os alimentos sejam transportados pelo mundo (veja o quadro 6). Como maiores doadores de ajuda alimentar, os EUA estabelecem um padrão para outros doadores, e a China, que recentemente surgiu como importante doadora de ajuda alimentar, parece estar seguindo o exemplo.

Nos outros países, os doadores adotaram medidas corajosas para proteger a ajuda alimentar das garras de certos interesses. Em 2004, a Oxfam do Canadá e o Canadian Foodgrains Bank, que fornece ajuda alimentar a 15 igrejas e instituições religiosas, mobilizaram seus simpatizantes para fazer uma campanha com o objetivo de liberar a ajuda alimentar canadense da obrigação legal de obter 90% dos alimentos de fazendas canadenses. Em setembro de 2005, a crescente pressão popular deu aos políticos a oportunidade para desvincular 50% da ajuda alimentar. O ímpeto foi crescendo, até que a ajuda alimentar acabou totalmente desvinculada dessa obrigação legal em maio de 2008. Atualmente, o Canadá preside a renegociação da Convenção de Ajuda Alimentar, promovendo reformas semelhantes para a ajuda alimentar no mundo todo.

39Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

Desvincular a ajuda alimentar permite que as agências humanitárias respondam de acordo com as especificidades de cada situação: quando for adequado, elas compram os alimentos nos mercados locais ou fornecem dinheiro ou cupons para que as pessoas possam elas mesmas comprar sua comida.

Tampouco a forma como as respostas humanitárias são financiadas é apropriada para um futuro de crescente volatilidade de preços e caos climático. Quase sempre, os doadores só são solicitados a dar dinheiro quando a crise já está instalada, provocando atrasos, que poderiam ser evitados por meio de um sistema de contribuições estimadas, como as que são usadas para financiar as operações da ONU de manutenção da paz.

Quadro6.Ajudaalimentarparaquem,exatamente?

Com exceção de 2009, nas duas últimas décadas, mais de 90% da ajuda alimentar dos EUA foi concedida na forma de lavouras subsidiadas e cultivadas por agricultores americanos.112 No entanto, apenas 40 centavos de cada dólar gasto pelo contribuinte estadunidense em ajuda alimentar vão de fato para a compra de alimentos.

Uma grande fatia vai diretamente para os cofres do grande comerciante de agronegócio dos Estados Unidos. A legislação americana especifica que 75% da ajuda alimentar deve ter origem no país e deve ser embalada, fortificada e processada por empresas agrícolas norte-americanas que tenham contratos com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Os processos de licitação são dominados por um número reduzido de grandes empresas e acarretam pagamentos, em média, 11% acima das taxas de mercado e até 70% a mais no caso do milho.

Depois da compra do alimento, é a vez das empresas de navegação norte-americanas. Segundo a lei, os alimentos devem ser processados e transportados por empresas nacionais, por navios de bandeira dos EUA, às custas do contribuinte estadunidense. Quase 40% dos custos totais da ajuda alimentar são pagos às empresas de navegação do país e, mais uma vez, licitações restritas limitam a concorrência e elevam os preços.

Essa ajuda leva mais tempo para chegar aos necessitados. De 2004 a 2008, a ajuda alimentar dos Estados Unidos para a África levava em média 147 dias para chegar, comparando-se com a média de 35 a 41 dias da ajuda proveniente do próprio continente africano.113 Além disso, nas situações em que a ajuda alimentar transportada dos EUA seria uma resposta apropriada, a Oxfam calcula que a obtenção de transporte no mercado aberto permitiria ao contribuinte estadunidense oferecer 15% a mais de alimentos,114 o suficiente para alimentar um adicional de 3,2 milhões de pessoas em situações de emergência.115

Fonte: Barrett e Maxwell (2008). “Food Aid After Fifty Years: Recasting its Role” [Ajuda Alimentar após 50 Anos: Reformulando seu Papel]

Ação em âmbito nacionalEm última análise, os governos são responsáveis por assegurar o direito de seus cidadãos ao alimento. Um sistema internacional deficiente somente aumenta essa responsabilidade. Em razão da mudança climática, da crescente escassez de recursos e da volatilidade dos preços dos alimentos, os governos podem e devem fazer mais para desenvolver a resilência de seus povos.

Como primeiro passo, os governos devem investir na agricultura – aperfeiçoar a infraestrutura, ampliar o acesso aos meios de produção e, por fim, aumentar a produção de alimentos e a receita das comunidades rurais onde a fome se concentra. Como mostram os exemplos de Índia e Brasil (veja o quadro 7), o crescimento econômico não é uma panaceia – o crescimento deve ser acompanhado por ampla geração de empregos e transferências sociais.

Os governos também precisam priorizar a adaptação à mudança climática. Sua capacidade de fazer os investimentos necessários, no entanto, é enfraquecida pela dificuldade que os países ricos têm tido até agora para definir os detalhes de sua ajuda de US$ 100 bilhões anuais para financiar medidas de combate à mudança climática. Nem o financiamento atual é de grande ajuda – estimativas recentes sugerem que apenas míseros 10% estão realmente sendo direcionados para a adaptação,116 enquanto a maior parte dos US$ 30 bilhões de fast start finance (financiamento imediato) acordados em Copenhague acabou sendo o antigo dinheiro reciclado, reembalado e renomeado para a ajuda.

Se planejada de forma apropriada e adequadamente subsidiada, a adaptação também ajudará a enfrentar outros desafios. Por exemplo, melhorar o armazenamento das colheitas pode contribuir para fazer frente ao desafio da produção sustentável, ao mesmo tempo em que fortalece as redes de segurança. De igual modo, garantir o acesso justo à terra pode contribuir para se enfrentar o desafio da equidade. Ampliar os sistemas de proteção social é outra estratégia importante entre as opções de ação do governo. Programas de transferência de renda, esquemas de garantia de emprego, seguro agrícola vinculado ao clima e proteção social – tudo pode ajudar as populações vulneráveis a lidar melhor com os choques. Ainda hoje em dia, 80% da população mundial não tem acesso a qualquer tipo de proteção social, ou seja, este enorme contingente populacional não conta com uma rede de seguridade social justamente quando os riscos são maiores.117

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À direita: Ajuda alimentar dos EUA. Em um centro de distribuição de alimentos do governo, um saco de milho e soja espera para ser distribuído. (Etiópia, 2008)

Quadro 7. Uma história de dois Brics

Os dois podem ser membros do Bric, grupo de economias emergentes; no entanto, na questão da fome, Brasil e Índia são polos opostos. Embora tenha mais do que dobrado o tamanho de sua economia entre 1990 e 2005,118 a Índia não foi capaz de obter um progresso mínimo que seja na redução do número de pessoas famintas. Na verdade, esse número aumentou em 65 milhões119 – mais do que a população da França.120 Atualmente, uma em cada quatro pessoas com fome no mundo vive na Índia.121

Ao contrário, no Brasil, onde o crescimento econômico se dá de forma mais lenta, a fome tem sido reduzida em ritmo impressionante – a proporção de pessoas que vivem com fome caiu quase pela metade entre 1992 e 2007.122

Qual é a razão de tamanha diferença? Certamente, há vários fatores em jogo, mas, em última análise, isso se deve ao fracasso do governo da Índia e ao sucesso do governo do Brasil, onde uma liderança política resoluta foi amplamente apoiada por fortes movimentos cidadãos, liderados por pessoas que vivem na pobreza.

Na Índia, o governo vem exercendo o poder por um longo período de crescimento desigual, concentrado no setor de serviços e nas áreas urbanas, embora as pessoas em situação de pobreza e com fome vivam, em sua maioria, nas áreas rurais. Se o governo tivesse realizado uma redistribuição efetiva, a fome poderia ter sido reduzida. Infelizmente, a Índia fracassou em priorizar o combate à fome ou o desenvolvimento de uma estratégia coerente. Iniciativas ambiciosas – como a Lei Nacional de Garantia de Emprego Rural, que concede 100 dias de trabalho remunerado a homens e mulheres do campo, ou um forte programa de subsídios aos fertilizantes – não foram capazes de avançar por falta de adesão e apoio político.

No Brasil, ocorreu o contrário. Uma estratégia nacional intersetorial – o programa Fome Zero –, lançada em 2003, foi formada a partir de 50 iniciativas vinculadas, abrangendo desde transferências de renda para mães carentes até a ampliação de serviços para os pequenos produtores de alimentos. O programa Fome Zero foi liderado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que garantiu a adesão necessária e total do governo para levar a cabo este programa tão amplo.

Embora os benefícios tenham ocorrido com rapidez, o Fome Zero tem uma longa história. Ele é fruto de 20 anos de ativismo da sociedade civil brasileira e de movimentos sociais. Eles organizaram, desafiaram e ajudaram a expandir o horizonte político, elegendo políticos com visão para fazer a diferença.123

Estudo de caso: “Brazil’s Strategies to Reduce Hunger” [Estratégias do Brasil para reduzir a fome]: www.oxfam.org.uk/policyandpractice

Estudo de caso: “Why India is Losing its War on Hunger?” [Por que a Índia está perdendo sua batalha contra a fome?]: www.oxfam.org.uk/policyandpractice

Tempo de reconstruirO falido sistema alimentar mundial está exacerbando os fatores múltiplos de fragilidade, o que o torna vulnerável a choques. O sistema está preso, em uma dança de morte, à era de crises que ajudou a criar. Felizmente, muitas soluções são conhecidas e várias mudanças necessárias já estão em andamento, lideradas por um número crescente de consumidores, produtores, empresas responsáveis e organizações da sociedade civil. Superar os interesses particulares no coração do sistema será o maior desafio. A história mostra que a justiça não costuma vir por meio da benevolência dos poderosos. A descolonização e a independência, a criação de Estados de bem-estar social, a propagação do sufrágio universal, a criação da governança internacional, tudo isso foi conquistado por meio de lutas e conflitos, muitas vezes associados a períodos de mudança ou choque desestabilizador. A era de crises é uma terrível ameaça, mas também uma grande oportunidade. O prêmio é uma nova era de prosperidade, da qual todos possam ter uma parte justa.

41Crescendo para um futuro melhor2. A era da crise: um sistema

distorcido e fracassado

Acima: Pesagem de arroz no centro Gor Khamhi para o Sistema de Distribuição Pública. Embora seja uma importante rede de segurança para a população faminta, o Sistema de Distribuição Pública (PDS) da Índia não atende de modo adequado às necessidades calóricas das comunidades rurais vulneráveis. (Índia, 2011)

3. A nova prosperidade

3 A nova

prosperidade

3.1 Semeando um futuro melhor

Pela nossa experiência, sabemos que um tipo de desenvolvimento humano mais equitativo e sustentável é possível. Do fracasso do sistema alimentar aos desafios ecológicos e sociais, o atual modelo de desenvolvimento está chegando ao seu limite. A perspectiva de mais centenas de milhões de pessoas famintas e de bilhões jogados na miséria nos próximos anos é um sinal de alerta para todos nós: é hora de mudar o rumo.

O desenvolvimento do tipo “mais do mesmo” exige cada vez mais recursos finitos de nosso pequeno planeta. Não se deve regular os mercados acreditando que eles nos trarão progresso social de uma maneira que eles jamais conseguirão sem grandes mudanças nos incentivos públicos, na regulamentação e nos investimentos. Isso possibilita que os sistemas globais fujam ao nosso controle e que interesses escusos privatizem benefícios e socializem custos.

O desenvolvimento “mais do mesmo” se baseia cegamente na noção mais estreita de atividade econômica, ignorando o capital humano, social e natural. Crê na falsa esperança de que as empresas, como num passe de mágica, criarão soluções tecnológicas para todos os desafios que enfrentamos. Além disso, tal concepção não enxerga a promessa prática e democrática de soluções compartilhadas com a humanidade.

Algumas elites serão as últimas a reconhecer a falência de um modelo cujos benefícios elas monopolizaram. No entanto, cada vez mais pessoas estão acordando para o desafio da nossa geração e para as animadoras oportunidades de transição para uma nova era de prosperidade.

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Em tempos de dependência mútua, formas de desenvolvimento mais eficientes, equitativas e resilientes não são apenas desejáveis: são essenciais.

Enfrentamos três desafios inter-relacionados nesta época de crises crescentes: alimentar 9 bilhões de pessoas sem destruir o planeta; encontrar soluções equitativas para acabar com o “desempoderamento” e a injustiça; e aumentar nossa resiliência coletiva a choques e à volatilidade. Nenhuma tecnologia ou política mágica fará desaparecer esses desafios.

A boa notícia é que soluções práticas estão disponíveis e são urgentes – desde simples medidas de bom senso que podemos adotar até mudanças corajosas no modo como administramos os recursos compartilhados e valorizamos o progresso social. Essas soluções são boas para os produtores, para os consumidores e para o planeta. Os benefícios que geram podem ser compartilhados pela maioria (e não por poucos) e foram construídos para que sejam resilientes a longo prazo.

Semear um futuro melhor exigirá toda a energia, criatividade e vontade política de que a humanidade possa dispor. Para que prevaleçam as melhores soluções, devemos montar campanhas com o objetivo de mudar substancialmente o modo como nossa sociedade lida com as ameaças e os recursos que compartilhamos, além de gerar apoio para as oportunidades. Das negociações globais à tomada de decisões nacionais, devemos lutar por três grandes mudanças.

• Primeiro, devemos criar uma nova governança global, para evitar as crises alimentares. A prioridade máxima dos governos deve ser combater a fome e reduzir a vulnerabilidade – gerando empregos e investindo em adaptação climática, redução de riscos de desastres e proteção social. A governança internacional – para o comércio, a ajuda alimentar, os mercados financeiros e as finanças para o clima – deve ser transformada para reduzir os riscos de choques futuros e permitir uma reação mais eficaz quando eles ocorrerem.

• Em segundo lugar, devemos criar um novo futuro agrícola, priorizando as necessidades dos pequenos produtores de alimentos nos países em desenvolvimento – onde importantes ganhos em produtividade e resiliência podem ser atingidos. Os governos e as empresas devem adotar políticas e práticas que garantam o acesso dos agricultores aos recursos naturais, à tecnologia e aos mercados. Devemos, ainda, reverter a atual má alocação de recursos, que permite que a maior parte do dinheiro público destinado à agricultura migre para o agronegócio dos países desenvolvidos.

• Por fim, devemos criar a arquitetura para um novo futuro ecológico, mobilizando investimentos e mudando o comportamento de empresas e consumidores. Ao mesmo tempo, devemos fechar acordos globais para a distribuição equitativa de recursos escassos. Um acordo global sobre mudança climática será um teste decisivo para o sucesso.

45Crescendo para um futuro melhor3. A nova prosperidade

O sistema internacional vigente – fragmentado, específico, de pouca legitimidade e muito descompasso e atrito entre governos e instituições – ainda não é capaz de coordenar e produzir esse resultado. A reforma pode começar agora, com medidas imediatas para reduzir riscos, melhorar a coordenação e gerar confiança, pondo em andamento um processo de evolução voltado para um novo sistema de governança que mitigue e controle os choques que surgirão no caminho.

Durante a crise de 2008, quando os preços dos alimentos subiram, não vimos cooperação. Os governos não foram capazes de chegar a um acordo sobre as causas da elevação de preços, muito menos sobre como reagir. As reservas de alimentos chegaram a atingir baixas históricas. As instituições internacionais e os fóruns existentes mostraram-se impotentes quando mais de 30 países impuseram restrições às exportações, em um jogo de formulação de políticas protecionistas, no qual todos saem perdendo.124

Agora, com uma alta nunca vista nos preços dos alimentos, são necessárias ações urgentes.

1. Gerenciar o comércio para gerenciar os riscos

Criar um sistema multilateral de reserva de alimentos Uma das razões das altas dos preços dos alimentos em 2008 é que os mercados estavam comercializando pouco: como as reservas estavam baixíssimas, mudanças no fornecimento e na demanda surgiram inteiramente em função do mecanismo de preços. Compras governamentais nos mercados internacionais, movidas pelo pânico, para formar estoques nacionais de países dependentes das importações, podem facilmente ter piorado a volatilidade da qual eles tentavam se defender. Em vez de agir de forma unilateral, os governos deveriam trabalhar em conjunto para formar reservas regionais de alimentos e sistemas estratégicos de comércio transfronteiriços – abordagem que cria resiliência contra a volatilidade e, ao mesmo tempo, reduz o risco de governos competirem entre si.

Aumentar a transparência do mercadoA tendência dos governos de comprar movidos pelo pânico e de provocar tumulto é em grande parte uma consequência das informações precárias sobre o mercado: os participantes têm pouca informação confiável sobre os estoques mantidos por governos ou por comerciantes do setor privado. Autorizar a FAO, por exemplo, a coletar e divulgar dados agregados sobre estoques, reservas, previsão de fornecimento e de demanda ajudaria os mercados a funcionar melhor.

Coordenar para enfrentar restrições à exportaçãoAs regras globais atuais referentes às restrições à exportação de alimentos são, na melhor das hipóteses, modestas. À primeira vista, tais restrições são proibidas pelo GATT e pelo Acordo Agrícola da OMC, mas, na prática, cláusulas de exceção pouco explícitas permitem que os países imponham restrições sempre que desejarem. No entanto, a revisão das regras de comércio internacional levará tempo e, dado o recente ressurgimento do uso de restrições à exportação – por exemplo, a proibição russa das exportações de trigo no terceiro trimestre de 2010 –, uma ação urgente se faz necessária. Os principais exportadores de alimentos devem se comprometer publicamente a não impor restrições repentinas à exportação e também a isentar a ajuda humanitária de tais restrições. Essa opção esteve na pauta da reunião da presidência do G8 e do G20 na França em 2011 e deve ser uma prioridade máxima dos Estados membros.

Conforme avançamos, nesta época de crises, enfrentando o segundo pico global nos preços dos alimentos em três anos, devemos fazer mais para criar resiliência e administrar os riscos climáticos e econômicos que despontam no horizonte.

Reforma internacionalÀ medida que o sistema alimentar global se torna cada vez mais volátil e instável, torna-se mais real o risco de criarmos um mundo de soma zero com enfoques nacionalistas sobre os recursos – uma competição certamente perdida para mulheres e homens vivendo na pobreza. Por outro lado, o mundo poderia caminhar de forma decisiva rumo a uma globalização mais justa, resiliente e sustentável – mas isso só será possível se conseguirmos um ambiente de cooperação internacional, e não de competição.

3.2 Uma nova governança para as crises alimentares

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Página anterior à esquerda: Osvaldo Peñaranda, 48, com seus pés de tomate em canteiros elevados. As enchentes são cada vez mais imprevisíveis nessa área da Bacia Amazônica. (Bolívia, 2007)

Página anterior à direita: Noograi Snagsri agora passa menos tempo trabalhando no campo graças ao novo sistema de cultivo integrado, pelo qual a água é bombeada diretamente para os campos. Em 2007, os agricultores da província de Yasothorn, no Nordeste da Tailândia, tiveram o mais longo período de seca em décadas. (Tailândia, 2010)

Derrubar as medidas de apoio aos biocombustíveisAs medidas de apoio aos programas de biocombustíveis custam atualmente cerca de US$ 20 bilhões por ano, valor que deve dobrar ou mais até 2020.125 Derrubar as medidas de apoio (tais como permissões para misturas e consumo, subsídios, isenções fiscais e tarifas de importação) seria bom para os contribuintes e muito bom para a segurança alimentar.

Acabar com os subsídios agrícolas que distorcem o comércio Por mais obscenos que sejam os subsídios aos biocombustíveis, eles não parecem tão graves quando comparados às imensas somas que os países riscos gastam com seus setores agrícolas. Essas medidas distorcem o comércio ao restringir o acesso aos mercados ou incentivar a superprodução e o dumping, de forma que solapam diretamente o desenvolvimento do setor agrícola dos países pobres. Longe de reduzir a importância da liberalização agrícola da OCDE, as elevações dos preços dos alimentos tornaram-na ainda mais importante. Ao mesmo tempo, os países pobres precisam de liberdade para determinar a extensão e o ritmo de abertura de seu próprio mercado agrícola.

2. Reformar o sistema de ajuda alimentar

As medidas descritas ajudarão a comunidade internacional a criar resiliência, bem como a mitigar e controlar futuras crises. Mas as crises ainda ocorrerão, principalmente porque a mudança climática continuará a ganhar velocidade. Sem uma reforma no modo como a ajuda alimentar é obtida e distribuída, a pressão sobre o sistema humanitário corre o risco de tornar-se insuportável.

A provisão antecipada de recursos adequados, obrigatórios e previsíveis liberaria as agências humanitárias do encargo de levantar fundos freneticamente e permitiria que elas se preparassem melhor. Assim, teriam recursos suficientes disponíveis para as situações de emergência, ao contrário do sistema atual, cujas características tornam necessário o recurso de passar o chapéu quando a crise já está a caminho. A comunidade internacional deve mudar para um sistema de 100% de financiamento para as emergências humanitárias, por meio de “contribuições obrigatórias”.126 Mecanismos para proteger o financiamento da ajuda humanitária dos aumentos nos preços dos alimentos devem ser desenvolvidos, por exemplo, por meio de hedging ou seguros. A obtenção de fundos poderia até mesmo ser baseada em calorias em vez de dólares – para corresponder às necessidades nutricionais precisas e dissociar-se das flutuações de preços.

Acabar com o monopólio do lobby agrícola e do setor de transportes sobre o sistema de ajuda alimentar aumentaria em muito sua eficiência e daria flexibilidade às agências humanitárias para adotar estratégias de assistência mais apropriadas, como a distribuição de dinheiro, cupons ou a estratégia das compras locais, tais como o programa “Compras para o Progresso”, do Programa Mundial de Alimentação (veja o quadro 8).127

Quadro 8. Criando resiliência e melhorando a ajuda alimentar na Etiópia

Em uma região recentemente assolada pela seca, sacas de milho quase estourando de tão cheias e empilhadas até o teto de um armazém em Shashemene, Etiópia, são uma imagem bem-vinda. Mas o que o logotipo azul do Programa Mundial de Alimentação estampado nas sacas não diz – o que torna este estoque ainda mais notável – é de onde vem este milho todo.

O milho foi cultivado lá mesmo, por pequenos agricultores da zona Oeste de Arsi. O programa-piloto “Compras para o Progresso” (P4P), do Programa Mundial de Alimentação (PMA), foi desenvolvido para adquirir a ajuda alimentar nos mercados locais, a fim de criar oportunidades de subsistência para os agricultores pobres e, ao mesmo tempo, atender às necessidades imediatas de pessoas famintas. O PMA planeja adquirir até 126 toneladas de alimentos de agricultores etíopes, nos próximos cinco anos, para alimentar os próprios etíopes.

O PMA obtém parte desses alimentos de uma associação de “bancos de grãos” apoiada pela Oxfam na zona Oeste de Arsi. Os bancos de grãos são propriedades de seus membros, que pagam uma pequena taxa ao se associar e são por eles administrados. Após a colheita, os bancos compram os grãos de seus membros a um preço justo, reservam uma parte para emergências e vendem o restante com as melhores taxas, inclusive para o PMA. Os membros podem dividir os lucros entre si ou reinvestir no banco. Os bancos permitem aos agricultores juntar seus recursos para acessar melhores oportunidades de mercado e criar reservas financeiras para os tempos difíceis.

“Temos um estoque em nosso banco, e nossos membros não estão passando fome como as outras pessoas”, disse o gerente do banco. “Nossa experiência nos últimos três anos mostrou que podemos progredir em nossa vida”.

Fonte: Oxfam EUA

“Sowing the Seeds of Self-Reliance in Ethiopia” [Plantando as Sementes da Autoconfiança na Etiópia]: www.oxfamamerica.org/publications

Por fim, em época de crise, é fundamental que as operações humanitárias superem as medidas reativas tradicionais e integrem programas de longo prazo e abordagens de redução de risco de desastres para recompor os ativos dos povos e resolver o problema da vulnerabilidade crônica. Basicamente, os doadores e as agências humanitárias devem prosseguir com seus objetivos em vez de fazer as malas e ir embora assim que a crise imediata tenha passado.

47Crescendo para um futuro melhor3. A nova prosperidade

3. Regular a especulação com commodities

É necessário tomar precauções para conter a especulação com commodities agrícolas. Os governos podem reprimir a especulação excessiva e, ainda assim, facilitar o papel legítimo dos mercados de futuros de mitigar riscos e antecipar preços. Podem exigir maior transparência para, se necessário, permitir que os órgãos reguladores monitorem e limitem as atividades de especuladores. Limites de preços podem reduzir a volatilidade a curto prazo enquanto limites de posição evitam apostas excessivas nas flutuações de preços. Os limites podem ser estabelecidos inicialmente em níveis modestos, tornando-se gradualmente mais rígidos, permitindo que os órgãos reguladores monitorem quaisquer consequências adversas, tais como a perda de liquidez.

Após avanços nos Estados Unidos, propostas para regular a negociação de derivativos de commodities estiveram na pauta de reuniões do G20 e da União Europeia em 2011.

4. Operacionalizar e capitalizar um novo fundo para o clima global

Adaptação é uma prioridade urgente nos países em desenvolvimento, mas os recursos necessários – que a Oxfam estima em US$ 100 bilhões por ano até 2020 – são escassos. Além disso, a estrutura institucional para obter financiamento para o clima é um emaranhado de canais bilaterais e, muitas vezes, multilaterais, o que aumenta substancialmente os custos de transação para os países em desenvolvimento que tentam acessar os parcos recursos disponíveis. Isso tem de mudar – o novo fundo para o clima global acordado nas conversações internacionais em Cancún, em 2010, precisa estar pronto e operando o mais cedo possível. O acordo sobre um conjunto de mecanismos inovadores para levantar dinheiro para o fundo, como um imposto sobre transações financeiras ou tributos sobre a aviação e o transporte marítimo internacionais, continua sendo uma prioridade crucial e esteve na pauta de reuniões do G20 em 2011.

Abordagens nacionaisAlém de investir na agricultura, os governos nacionais podem fazer muito para criar resiliência e reduzir vulnerabilidades.

1. Investir na adaptação à mudança climática

Talvez a tarefa mais urgente dos governos nacionais seja ajudar as comunidades a se adaptar à mudança climática, reduzindo sua vulnerabilidade e melhorando a infraestrutura para enfrentá-las. Como prioridade, os governos dos países em desenvolvimento devem mapear a vulnerabilidade e desenvolver planos de adaptação nacionais que priorizem as pessoas mais vulneráveis. O apoio da comunidade internacional – na forma de financiamento público novo e adicional – deve ser equivalente a esses esforços.

Quadro9.Adaptaçãobem-sucedidaàmudançaclimática na Tailândia

Em 2007, os agricultores da província de Yasothorn, no Nordeste da Tailândia, tiveram a seca mais longa em décadas durante uma estação de chuvas. Yasothorn, uma das dez províncias mais pobres do país, faz parte da “Planície Plangente”, assim denominada por ser uma terra improdutiva. As condições de seca tornam essa planície adequada para o cultivo de arroz-jasmim perfumado.

A seca foi parte de uma tendência. Os registros pluviométricos mostram chuvas chegando cada vez mais tarde a cada ano, devido, pelo menos em parte, à mudança climática. Trabalhando em conjunto com a organização local Earth Net Foundation (ENF), a Oxfam iniciou um projeto-piloto de adaptação à mudança climática, que envolve 57 homens e mulheres de 509 famílias de agricultores orgânicos na província.

Os participantes receberam informações completas sobre o estado da mudança climática em Yasothorn e trocaram ideias sobre como se adaptar à situação. Eles projetaram então seus próprios sistemas de controle de água na propriedade – com reservatórios, poços, valas de irrigação, sistemas de aspersão e bombas – e os construíram com a ajuda de um pequeno fundo de empréstimo da ENF. Os agricultores também cultivaram hortaliças e plantaram árvores frutíferas.

No ano seguinte, Yasothorn foi novamente atingida pela seca – a “pior em 57 anos”, de acordo com um ancião do vilarejo. Chuvas excessivas destruíram o restante das plantações na época da colheita. A produção de arroz dos agricultores do projeto caiu quase 16% – mas as coisas foram piores para os agricultores não participantes, cuja produção caiu em geral 40%.

Fonte: Pesquisa da Oxfam

Estudo de caso: “Jasmine Rice in the Weeping Plain” [Arroz-jasmin na Planície Plangente]: www.oxfam.org.uk/resources

48

À direita: Um moinho de vento bombeia água para um tanque de armazenamento para abastecer a propriedade de Manoon Phupa. Em 2007, os agricultores da província de Yasothorn, no Nordeste da Tailândia, tiveram o mais longo período de seca em décadas. Desde 2004, a Oxfam trabalha em parceria com a organização local Earth Net Foundation para promover entre os agricultores a produção agrícola orgânica e o comércio justo. (Tailândia, 2010)

2. Ampliar a proteção social

Quando a alta nos preços dos alimentos atingiu seu máximo em 2008, muitos governos de países em desenvolvimento – frente à espiral de fome e descontentamento – buscaram opções políticas que só fizeram piorar os problemas. Quarenta e seis países em desenvolvimento lançaram mão de subsídios econômicos ou controle de preços para tentar conter a alta dos alimentos – respostas que podem desestimular os produtores a aumentar sua produção ou onerar perigosamente o orçamento dos governos.128

Programas de proteção social adaptados ao contexto nacional podem direcionar os recursos para as pessoas mais vulneráveis, o que geralmente inclui mulheres e pequenos produtores rurais. Em casos mais sofisticados, como o bem-sucedido programa Fome Zero do Brasil, diferentes abordagens são combinadas em uma vigorosa campanha geral para reduzir a fome. Basicamente, os governos devem procurar implementar programas universais, que tendam a ser mais eficientes e, por definição, protegem mais pessoas.

Hoje em dia, somente 20% das pessoas no mundo têm acesso a algum tipo de proteção social, uma defasagem escandalosa, embora represente uma melhoria em relação à situação de alguns anos atrás, principalmente graças à expansão da proteção social na China e no Brasil.129 Mesmo nesses casos, as medidas muitas vezes não são permanentes. As grandes defasagens estão nos países de baixa renda, onde a proteção social geralmente consiste em programas-piloto conduzidos pelos doadores, em vez de abordagens nacionais.

Financiamentos previsíveis por parte dos doadores, na forma de apoio orçamentário direto, possibilitariam aos governos criar programas nacionais. Assessoria técnica também pode ser necessária, mas é essencial que as abordagens se ajustem às circunstâncias nacionais específicas, já que existem poucas soluções pré-fabricadas.

Sem liderança dos governos, nenhuma quantia doada trará proteção social efetiva. Em geral, os políticos recuam diante de programas ambiciosos por medo de compromissos fiscais de longo prazo (ignorando a produção de maiores benefícios econômicos) ou temem que os programas simplesmente criem dependência (o que não é comprovado).130

Uma meta comum para governos e instituições internacionais deveria ser o acesso universal a um nível básico de proteção social, suficiente para respeitar os direitos sociais e econômicos fundamentais, inclusive o direito à alimentação. A Iniciativa do Piso de Proteção Social da ONU131 fornece uma plataforma perfeita para a adesão mundial.

49Crescendo para um futuro melhor3. A nova prosperidade

“A creche foi um benefício enorme para as pessoas desta comunidade. Ela permite que as mulheres procurem empregos de meio período e está proporcionando um bom começo para a educação de seus filhos. As crianças também recebem gratuitamente refeições nutritivas, o que é uma dádiva de Deus para pais que estão desempregados e que lutam para suprir suas famílias com refeições regulares”.(Eline Carla Machado, diretora da Creche da Vila Irmã Dulce, Brasil)

Acima: Roni, Marta e Denilson almoçam na Creche da Vila Irmã Dulce, Brasil. A comunidade fez lobby para conseguir escola, professores e refeições gratuitas para as crianças. (Brasil, 2004)

3. Desenvolver estratégias integradas para combater a fome

O crescimento econômico não é necessariamente inclusivo. Uma das razões pelas quais a Índia fracassou tão espetacularmente na luta contra a fome, apesar de seu impressionante crescimento, tem como causa o fato de que a criação de empregos e o aumento de renda não se deram em base abrangente (veja o quadro 7). Pesquisas recentes indicam que a maioria das pessoas pobres do mundo não vive nos países mais pobres, mas nos de renda média132 – deixados para trás pelos “milagres” econômicos, que elevaram mais e mais a renda média.

O Vietnã escolheu um caminho diferente, desenvolvendo em 1998 um Programa Nacional de Erradicação da Fome e Redução da Pobreza, para eliminar a fome crônica e diminuir as desigualdades. Em 2010, o país havia reduzido os níveis de fome pela metade – atingindo a primeira Meta de Desenvolvimento do Milênio cinco anos antes do programado.133 Embora a partida tenha sido dada antes, a reforma agrária e a busca do desenvolvimento agrícola foram os meios para acender a chama do crescimento e dar impulso ao setor de manufatura, intensivo em mão de obra, e à expansão da indústria. Funcionou: de importador de arroz, o Vietnã passou a ser o segundo maior exportador do mundo. Com isso, o índice de pobreza despencou de 58% em 1993 para 18% em 2006.134

Atualmente, essas estratégias nacionais para criação de empregos e crescimento inclusivo devem ser integradas a outras de combate à vulnerabilidade por meio da adaptação à mudança climática, da proteção social e da redução de riscos de desastres.

Uma nova governança globalO G20 pode iniciar um processo de reforma internacional ainda neste ano – combatendo a especulação sobre commodities, chegando a um acordo sobre novas fontes de financiamento para enfrentar a mudança climática e obtendo consenso sobre restrições às exportações, reservas de alimentos e maior transparência nos mercados de commodities. Mas o G20 representa principalmente as potências do setor de alimentos (veja os gráficos 21a, 21b, 21c, 21d e 21e). Em última instância, a governança do sistema alimentar deve ser ampliada, abrangendo os países mais vulneráveis a crises e choques.

O Comitê de Segurança Alimentar Mundial (CSA) da ONU – Committee on World Food Security (CFS) – oferece um fórum no qual uma nova estrutura de governança pode ser negociada e acordada. O CSA já está trabalhando com questões cruciais, como a volatilidade dos preços dos alimentos, investimentos em terras, mudança climática e proteção dos meios de subsistência durante crises prolongadas. E o mais importante: este é o único espaço no qual todos os governos, a sociedade civil, as instituições internacionais e o setor privado podem negociar formalmente medidas para garantir a segurança alimentar internacional.135

À medida que entramos de forma abrupta e incerta em uma época de crises, o CSA é a nossa esperança de inaugurar uma nova era de cooperação – um sistema de regras multilaterais que capacitará os governos a agir coletivamente no interesse global, resolver conflitos, alinhar políticas e alocar recursos de maneira mais eficaz.

Gráfico 21a. Quais são as superpotências do setor de alimentos?

Transferência direta de ajuda alimentar

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Fonte: http://www.wfp.org/fais/quantity-reporting/

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Gráfico 21b. Quais são as superpotências do setor de alimentos?

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Fonte: http://data.worldbank.org/indicator/NV.AGR.TOTL.KD

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Gráfico 21c. Quais são as superpotências do setor de alimentos?

Exportações de produtos agrícolas

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Fonte: http://faostat.fao.org/site/535/DesktopDefault.aspx?PageID=535#ancor

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Gráfico 21d. Quais são as superpotênciasdo setor de alimentos?

Produção de cereais

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Fonte: http://faostat.fao.org/site/567/DesktopDefault.aspx?PageID=567#ancor

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0

Fonte: http://www.oecd.org/agriculture/pse

Gráfico 21e. Quais são as superpotências do setor de alimentos?

Estimativa de apoio aos produtores

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51Crescendo para um futuro melhor3. A nova prosperidade

A pergunta com que os formuladores de políticas se deparam, principalmente nos países em desenvolvimento, é: quem vai gerar superávits agrícolas de forma sustentável para alimentar uma população em crescimento? E como?

Não faltam soluções simples e prontas. Quando se trata de agricultura, há quem defenda, segundo as palavras de uma análise amplamente citada no The Economist, que “quanto maior, mais bonito”. Ou, mais especificamente, que a África deve importar o “modelo brasileiro” de agricultura comercial em grande escala e eliminar gradualmente a agricultura de pequenos produtores rurais. Popular entre os administradores coloniais, essa postura pressupõe que as grandes propriedades rurais são mais produtivas, mais inovadoras, mais preparadas para adotar novas tecnologias e, por fim, melhores para alimentar as pessoas.

Outros veem a agricultura em grande escala como uma ameaça ao modo de vida dos camponeses, uma fonte perpétua de desigualdades e um meio para subordinar a agricultura ao comércio, em detrimento das necessidades humanas. Esse grupo tende a ver as novas tecnologias com profunda desconfiança e também é cético com relação ao comércio internacional, com receio de que ele acarrete inevitavelmente a exploração dos produtores e trabalhadores em situação de pobreza, gerando mais pobreza e mais fome.

Debates tão polarizados não ajudam, pois eles perpetuam a tradição de um grupo de especialistas que aconselha os pequenos produtores de alimentos. De fato, é difícil pensar em qualquer outro ator do desenvolvimento internacional que tenha sido alvo de conselhos tão irrelevantes ou até mesmo prejudiciais.

A romantização do “camponês” e a rejeição de novas tecnologias e do comércio podem condenar os agricultores à pobreza. O comércio internacional e as novas tecnologias não são uma fórmula mágica, mas podem ambos dar uma contribuição importante, podendo ser ampliados se os governos os direcionarem para o fornecimento de bens públicos.

3.3 Um novo futuro agrícola

52

À esquerda: Moradores de Trinidad, Bolívia, atravessam uma ponte entre canteiros elevados. As enchentes são cada vez mais imprevisíveis nessa área da Bacia Amazônica. (Bolívia, 2007)

A agricultura em grande escala também tem seu papel para ajudar a vencer o desafio da produção sustentável. Ela está mais bem preparada para atender aos rígidos padrões característicos das cadeias de abastecimento que alimentam cidades em rápido crescimento. Além disso, à medida que ocorre o desenvolvimento econômico e os custos trabalhistas sobem em relação aos custos de capital, modos de produção maiores e mais mecanizados tornam-se mais viáveis, fornecendo, por sua vez, aos pobres das áreas rurais, a oportunidade de sair da agricultura, desde que um número suficiente de empregos seja criado na indústria.

Não é o caso de considerar que o que é grande é ruim. O fato de uma propriedade rural ser “ruim” ou não depende das práticas dos agricultores ou da empresa que a administra – eles podem ser exploradores ou ambientalmente destrutivos quer a propriedade tenha dois hectares ou 20 mil hectares.

Tampouco é o caso de dizer que “o maior é mais belo”. Exportar o modelo brasileiro para a África significa combinar economia de má qualidade com desconexão da realidade social, o que representa uma receita para aumentar a pobreza e a fome.

Um cálculo simples demonstra o porquê. Há cerca de 33 milhões de pequenos produtores e produtoras na África subsaariana trabalhando em lotes de 1,6 hectare em média, o que representa, aproximadamente, o tamanho de três campos de futebol americano ou 1,6 campo de futebol.136 Na região do cerrado brasileiro, uma propriedade rural relativamente comum tem mais de 20 mil hectares.137 Em outras palavras, uma única propriedade rural de grande escala importada do Brasil para a Tanzânia deslocaria 12.500 pequenas propriedades agrícolas. Na ausência de um nível de geração de empregos inédito e implausível nos centros urbanos, a transição para uma “grande” agricultura seria tudo, menos “bonita”, pois ela traria um aumento drástico da pobreza, da fome nas áreas rurais e das favelas nas cidades.

E mais: as grandes propriedades rurais atuais tendem a deixar uma pegada ecológica pesada – devido ao desperdício de água, à poluição do lençol freático e à dependência de agroquímicos à base de petróleo e maquinário a diesel –, destruindo assim os recursos humanos e naturais, dos quais a produção de alimentos depende.

Se quisermos enfrentar os três desafios descritos na seção anterior, devemos dirigir nossos esforços para modelos sustentáveis de produção na agricultura familiar. A oportunidade real está no enorme potencial inexplorado de aumento da produção da agricultura familiar. Embora as práticas agrícolas que utilizam menos insumos e são mais ecológicas não sejam exclusivas dos pequenos agricultores, elas são sempre adequadas para essa escala de produção e podem ser facilmente adotadas (veja o quadro 10).

Como a vulnerabilidade, a pobreza e a fome estão concentradas em meio aos pobres das áreas rurais, investir na agricultura de pequena escala criará resiliência e aumentará a renda e a disponibilidade de alimentos nas áreas críticas, especialmente se houver sensibilidade para as questões de gênero.138 Além disso, a história comprova que o investimento na agricultura foi o combustível que fez decolar o desenvolvimento das economias mais bem sucedidas.139

Quadro10.“Intensificaçãosustentável”

Para enfrentar o desafio da resiliência, a agricultura terá de consumir menos insumos e desperdiçar menos. Um grupo de práticas conhecido como “intensificação sustentável” fornece as pistas para que esse objetivo seja atingido.

O uso de esterco animal e de adubo verde reduz a dependência em fertilizantes químicos, cujo preço está vinculado ao petróleo. O uso de sistemas agroflorestais e o cultivo intercalado com leguminosas ajudam a melhorar o solo e diversificar a renda. Técnicas integradas de controle de pragas reduzem a necessidade de pesticidas químicos caros. A captação de água reduz a necessidade de irrigação e ajuda a lidar com chuvas imprevisíveis. As técnicas de conservação do solo mantêm os nutrientes e a sua produtividade.

Pesquisas recentes sobre essas práticas produziram resultados animadores. O estudo mais abrangente examinou 286 projetos de agricultura sustentável em 57 países e constatou um aumento médio de 79% na produção.140 Outro estudo analisou 40 projetos de intensificação sustentável em 20 países africanos e constatou que a produção média mais do que dobrou em um período de 3 a 10 anos.141

Tais experiências foram exitosas precisamente porque essas práticas foram desenvolvidas por agricultores sem acesso a insumos e maquinário e em contextos onde a conservação da base de recursos naturais é crucial, considerando-se que essas práticas deixam uma pegada ecológica muito mais leve. O uso de agroquímicos à base de combustíveis fósseis e de máquinas a diesel é baixo. Além disso, os estoques de carbono – acima e abaixo do solo – podem ser conservados ou até mesmo aumentados. Por fim, a água e o solo são usados de um modo mais eficiente e sensível.

Um bom exemplo é o Sistema de Intensificação de Arroz, método que utiliza poucos insumos externos e que foi amplamente adotado por agricultores da Índia, da Indonésia e do Vietnã. Desenvolvido para ajudar os pequenos agricultores a aumentar a produtividade e reduzir a dependência dos insumos, esse sistema está sendo promovido pela Oxfam e por outras ONGs em um número cada vez maior de países no mundo todo. Os resultados são surpreendentes: estudos realizados em oito países constataram aumentos médios de 47% na produção e reduções médias de 40% no uso da água. Em conjunto com o uso reduzido de sementes, fertilizantes sintéticos, pesticidas e herbicidas, o sistema permitiu que os agricultores aumentassem suas rendas acima de 68% em média, ao mesmo tempo em que reduziu as emissões de metano – um dos gases de efeito estufa mais poderosos e danosos ao meio ambiente.142

53Crescendo para um futuro melhor3. A nova prosperidade

Quatro mitos sobre a agricultura familiarA argumentação contra a agricultura familiar em geral baseia-se em quatro conceitos equivocados, decorrentes da falta de familiaridade com a vida de agricultores e agricultoras em situação de pobreza.

1. Baixa produtividade

Dados aparentemente surpreendentes mostram que a produção média de cereais nas pequenas propriedades agrícolas da África é inferior a duas toneladas por hectare, comparada com a média mundial, que é duas vezes maior.143 Mas as pequenas propriedades agrícolas em geral têm baixa produção precisamente porque usam fatores de produção com mais parcimônia.144 As pequenas propriedades agrícolas africanas utilizam quantidades mínimas de fertilizantes – cerca de 1/18 do que, por exemplo, é usado na Índia.145 Elas usam mão de obra, em vez de capital, e menos de 5% das áreas cultivadas são irrigadas.146 Além disso, os pequenos agricultores só podem sonhar com os generosos subsídios concedidos a muitas propriedades de grande escala.

Levar em conta esses outros fatores no cálculo da produtividade diminui bastante essa defasagem. Em outras palavras: se os pequenos agricultores tivessem insumos, irrigação e subsídios iguais aos das grandes propriedades, as coisas seriam muito diferentes. É por isso que as pesquisas sempre constatam que, quando o enfoque passa da produção para a produtividade total, as pequenas propriedades agrícolas são mais eficientes.

A Oxfam observa tais fatos frequentemente em seu trabalho com pequenos agricultores e agricultoras no mundo todo, tal como em um projeto recente em Mnembo, Malawi, que transformou a vida de 400 famílias.

As chuvas cada vez mais erráticas praticamente acabaram com a produção de milho delas, mas – graças à irrigação, às novas sementes e aos fertilizantes – a produção aumentou de forma significativa e elas diversificaram suas culturas, plantando trigo, arroz e tomates.

“Estudo de caso: Support for Small-Scale Production in Malawi” [Apoio à Produção de Pequena Escala no Maláui]: www.oxfam.org/grow

2. Aversão à biotecnologia e à inovação

Os adeptos da afirmação “o maior é mais bonito” alegam que as grandes propriedades agrícolas são mais rápidas em adotar novas tecnologias, mas eles esquecem talvez que a Revolução Verde na Índia foi liderada não apenas pelas grandes propriedades comerciais, mas também pelos pequenos produtores. Os agricultores que vivem na pobreza não empregam tecnologias primitivas e práticas antiquadas para sua sobrevivência por opção, mas porque o desenvolvimento de tecnologias apropriadas para pequenos produtores não é uma prioridade dos governos ou do setor privado. Por exemplo: variedades geneticamente modificadas desenvolvidas com sucesso para grandes propriedades agrícolas industriais não deram resultados para agricultores em situação de pobreza e não representaram uma contribuição significativa para resolver o problema da fome, da pobreza e do desenvolvimento.

A África subsaariana tem incontáveis exemplos de histórias de sucesso tecnológico na vanguarda da inovação: pequenos agricultores adotaram variedades melhoradas de milho, arroz e mandioca resistentes às pragas.147 Nos distritos de Dadeldhura e Dailek, no Nepal, a Oxfam ajudou 15 comunidades de mulheres e homens a plantar novas variedades de sementes resistentes à seca, a construir e gerenciar novos sistemas de irrigação e a adotar novas práticas de cultivo.

Estudo de caso: “Improving Food Security for Vulnerable Communities in Nepal” [Melhorando a Segurança Alimentar para Comunidades Vulneráveis no Nepal]: www.oxfam.org.uk/policyandpractice

54

À esquerda: Edward Chikwawa segura as sementes que vai plantar na área irrigada de Chitimba. (Malawi, 2008)

3. Aversão ao risco

Alguns alegam que os pequenos produtores não têm espírito empresarial e não querem assumir riscos. É claro: sobreviver com menos de US$ 1,20 por dia sem recursos para poupança ou seguro desestimula a assumir riscos – com uma cultura ou variedade de semente desconhecida, por exemplo. A prioridade é a sobrevivência, não a maximização dos lucros. A solução é ajudar os agricultores em situação de pobreza a gerenciar melhor os riscos, fornecendo informações e dados mais precisos sobre o clima, a infraestrutura para armazenamento ou o acesso ao seguro agrícola. Tais intervenções podem ajudar a estimular a inovação e liberar o potencial produtivo – principalmente porque a mudança climática multiplica em pouco tempo os riscos que os pequenos produtores enfrentam.

4. Aversão ao mercado

O último mito sobre os agricultores familiares é que eles não respondem às oportunidades de mercado. Tolice. Embora sua prioridade seja alimentar a família, isso não significa que os agricultores em situação de pobreza não queiram produzir e vender seus excedentes. A Oxfam trabalhou em conjunto com organizações de produtores e com o setor privado em inúmeras ocasiões para inserir pequenos agricultores no mercado, com resultados fabulosos. Por exemplo: a Oxfam está ajudando a empresa Plenty Foods, do Sri Lanka, a integrar 1.500 agricultores em sua cadeia de abastecimento. A Plenty Foods estima que a aquisição de alimentos de pequenos agricultores contribuiu para um crescimento anual de 30% nos últimos quatro anos, ao mesmo tempo em que os agricultores passaram a ter mais acesso a terras, crédito, assistência técnica e aos mercados, com aumento de renda correspondente.

Certamente alguns sobrevivem à margem, trabalhando em solos esgotados com técnicas primitivas. Devido à natureza de sua existência, é improvável que busquem oportunidades de mercado ou que sejam procurados pelos atores do mercado. Mas essas pessoas são exceções, não a regra.

Os quatro argumentos apresentados aqui não são motivo para alguém ser contra o investimento na agricultura familiar. Não há evidências de fracassos inerentes ou inevitáveis. O verdadeiro problema é que os pequenos agricultores nunca tiveram apoio ou políticas de que precisam para prosperar. Eles são eficientes se considerarmos todos os fatores, mas sua produção é baixa por causa do pouco investimento e da falta de acesso a recursos. A incorporação de tecnologia é baixa devido à falta de pesquisa e desenvolvimento apropriados e de serviços de extensão. Eles quase não assumem riscos porque não têm apoio para criar resiliência e adaptar-se ao clima. O envolvimento com os mercados é pequeno por causa da infraestrutura precária e da relutância por parte do setor privado de acomodá-los nas cadeias de valor.

Estas não são razões para não haver investimento. São razões para que haja investimento.

Gráfico 22. Investimento em P&D agrícola ignora a ÁfricaGa

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Gastos públicos com P&D agrícola

1981 1991 2000

Fontes: FAO: http://www.fao.org/docs/eims/upload//282426/GAT_Report_GCARD_2010_complete.pdf e Banco Mundial: http://data.worldbank.org/indicator/NV.AGR.TOTL.ZS

Países com alta rendaÁsia e PacíficoAmérica Latina e CaribeÁsia Ocidental e Norte da África

África subsaariana

0

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Agricultura (valor agregado)

1981 1991 2000

55Crescendo para um futuro melhor3. A nova prosperidade

Uma nova agenda de investimentos agrícolasA razão para um investimento maciço do governo na agricultura de pequena escala e na infraestrutura de apoio é clara. Os 500 milhões de pequenas propriedades dos países em desenvolvimento sustentam quase dois bilhões de pessoas, aproximadamente um terço da humanidade,148 e o fazem sem acesso a mercados, terras, financiamento, infraestrutura e tecnologias, ao contrário das grandes propriedades. Tentar resolver essa desigualdade é uma oportunidade ímpar para enfrentar os desafios da produção sustentável, da resiliência e da equidade. Atualmente, há sinais de que a desastrosa negligência com a agricultura dos países em desenvolvimento pode estar chegando ao fim. A porção da AOD destinada à agricultura parece estar aumentando, após ter atingido o nível mínimo em 2006, embora ainda esteja abaixo de 7% de toda a ajuda.149 Ademais, em muitos países, isso está sendo associado a novos compromissos do governo, como a notável Declaração de Maputo, segundo a qual todos os países membros da União Africana se comprometeram a aumentar em pelo menos 10% a parcela de seus orçamentos nacionais para a agricultura em 2003,150 trazendo claros benefícios para o continente, onde a produção per capita de alimentos está aumentando novamente pela primeira vez em décadas.151

Também há sinais de que o setor privado está levando o desafio a sério. Em 2011, no Fórum Econômico Mundial em Davos, 17 empresas importantes lançaram sua Nova Visão para a Agricultura, comprometendo-se a aumentar a produção em 20% e, ao mesmo tempo, a diminuir suas emissões em 20%, além de reduzir a prevalência da pobreza rural em 20% a cada década.152 Enquanto isso, algumas empresas produtoras de insumos fizeram parcerias com governos, organizações sem fins lucrativos e instituições de pesquisa para produzir sementes adequadas para o contexto dos países em desenvolvimento.153

Gráfico 23a. Quem está investindo na agricultura?Doadores de Assistência Oficial ao Desenvolvimento (AOD) na agricultura

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1400

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200

0

Fonte: cálculos feitos a partir de dados da OCDE: http://stats.oecd.org/qwids/

Estados Unidos

Japão

França

Alemanha

Canadá

Noruega

Itália

Holanda

Espanha

Bélgica

Reino Unido

Dinamarca

Austrália

Finlândia

Suécia

Suíça

Irlanda

Coreia

Luxemburgo

Áustria

Nova Zelândia

Portugal

Grécia

Tamanho do círculo: ajuda bilateral para agricultura, silvicultura e pesca em % da ajuda total em 2009

4,6 2 7,7 6,8 5,8 7,8 5,3 3,7 1,3 8 16,7 5 3,3 3,7 6,81,5 3,8

2,5

3,5

1,7

5

4,9 3,5

56

No entanto, aproveitar esta oportunidade requer mais do que alguns exemplos promissores de doadores, governos e do setor privado, por mais importantes que sejam. Requer uma transformação no nível e na natureza do apoio. Doadores e organizações internacionais devem continuar a aumentar seus gastos com a agricultura dentro de toda a AOD. Os países ricos devem acabar de uma vez por todas com os subsídios agrícolas que distorcem o comércio. Novos regulamentos globais são necessários para o investimento do governo em terras, a fim de garantir retornos sociais e ambientais. Além disso, os governos nacionais devem investir mais na agricultura e, ao mesmo tempo, regulamentar cuidadosamente o investimento privado em terras e recursos hídricos para garantir o acesso seguro de mulheres e homens que vivem na pobreza.

As empresas devem agarrar as oportunidades criadas pela agricultura de pequena escala para diversificar e assegurar o abastecimento, criar e fortalecer marcas ou desenvolver novas tecnologias. Se as empresas tiverem medo, os Estados ativos devem intervir, para direcionar P&D para tecnologias apropriadas aos produtores pobres de ambos os sexos, criar vínculos com o mercado em igualdade de condições, assegurar a disseminação do conhecimento por meio de serviços de extensão e fornecer acesso ao financiamento.

Gráfico 23b. Quem está investindo na agricultura?Proporção dos gastos totais com a agricultura nos países em desenvolvimento

Fonte: cálculos feitos a partir de dados do FMI: http://www2.imfstatistics.org/GFS/

2 4 6 8 10 12 14 16Federação Russa

GeórgiaRP da China Continental

República do CongoGuatemala

EgitoLesoto

FilipinasCosta Rica

QuêniaPaquistão

NamíbiaÍndia

República da CoreiaTunísia

Sri LankaNepal

UgandaZâmbia

BangladeshEtiópia

Últimos dados disponíveis para o período de 2005–2010, em %

0

57Crescendo para um futuro melhor3. A nova prosperidade

“Desde que começamos com isso, sempre tivemos alimentos suficientes. Eles nos deram uma variedade de milho de polinização aberta, que amadurece rápido e resiste às secas. Também começamos a plantar soja e amendoim. (...) As crianças agora podem ir à escola, porque têm comida suficiente e não estão mais com fome”.(Jean Phombeya, chefe da comunidade, Mlanga, Malawi)

Distribuição equitativa de recursos escassosA jornada para o futuro já começou. Porém, se quisermos um final feliz, temos de mudar a marcha agora. A retórica exaltada das cúpulas globais sobre mudança climática, biodiversidade e economia verde não é suficiente para impulsionar essa transição. Nosso sucesso ou fracasso em fazer a transição para uma nova prosperidade está na dependência de alguns fatores. Entre eles, que nossos líderes políticos estabeleçam metas claras para questões importantes (como mudança climática, biodiversidade e água, entre outras) e adotem planos de ação globais que garantam uma transição rápida e equitativa.

A UNFCCC continua sendo o fórum para se estabelecer o marco mundial relativo à mudança climática, o maior desafio à nova prosperidade. Um acordo ambicioso e vinculante será a confirmação de que a transição está em andamento. O G20 pode criar consenso e usar seu poder econômico e financeiro para transferir investimentos e mobilizar o financiamento necessário. Mas o grupo não representa a todos nem conta com todas as estruturas para fazer a transição sozinho. A cúpula “Rio mais 20”, a ser realizada no Brasil em junho de 2012, poderá oferecer a oportunidade necessária.

Depois da cúpula de Copenhague, um marco global justo, ambicioso e vinculante para lidar com a mudança climática parecia estar muito distante. Porém, como a mudança climática continua a ganhar velocidade, a ideia de um acordo está ganhando força novamente. Isso fica evidente na velocidade incrível do investimento chinês em energia limpa, na determinação dos principais países europeus em aumentar unilateralmente as metas de redução dos gases de efeito estufa na UE e nos importantes passos para estabelecer um fundo para o clima global na cúpula de 2010 da UNFCCC, em Cancún.

Mas o ritmo das negociações continua lento demais e a ambição tem se mostrado demasiado pequena. Muitos líderes na Europa, em países particularmente vulneráveis e em outros países (como a China, a Índia, o Brasil, o México e a África do Sul) admitiram que a mudança antecipada para uma economia de baixo carbono é o caminho mais barato para a competitividade internacional e a sustentabilidade ambiental a longo prazo. O “Diálogo de Cartagena”,154 que reuniu países desenvolvidos e em desenvolvimento para estabelecer pontes para a UNFCCC, mobilizou os países para que caminhem juntos rumo a um futuro de baixa emissão. A UE e a China estão dialogando sobre os caminhos para a baixa emissão de carbono com base no ambicioso plano quinquenal da China.

Nosso desafio é aumentar a pressão sobre esses e outros países e vencer os lobbies empresariais, que têm sufocado o progresso até agora. Com relação à mudança climática e a outras áreas, precisamos de metas globais claras para agir, bem como de acordos vinculantes que nos deem a certeza e a confiança para tornar essas metas uma realidade.

A única coisa que sabemos com certeza sobre o futuro é que ele será diferente do passado. É melhor que seja. O desenvolvimento, do jeito que é hoje, é insustentável em todos os sentidos. Ele está destruindo as perspectivas de crescimento e prosperidade a longo prazo e, neste momento, está prejudicando a vida das pessoas mais pobres.

Na próxima década, precisaremos de uma transição muito rápida para um novo modelo de prosperidade que traga crescimento, respeite os limites do planeta e que se baseie na equidade. O esboço deste novo modelo já está claro, mas nossos líderes políticos devem vencer a inércia e os interesses escusos que poderiam abortá-lo.

Essa transição só será possível se houver compromissos globais claros, bem como planos de ação e políticas nacionais e regionais efetivas que mobilizem investimentos e mudem o comportamento de empresas e consumidores.

3.4 Construindo um novo futuro ecológico

58

Ao lado: Leyla Kayere, 76, removendo ervas daninhas de seus tomates. O projeto de irrigação de Mnembo, financiado pela Oxfam, já ajudou 400 famílias no Malawi, ao transformar suas pequenas lavouras de baixa produção em grandes safras, que ocorrem o ano inteiro e fornecem continuamente alimentos e uma fonte de renda. (Malawi, 2009)

Uma transição equitativaOs acordos globais são importantes, porque podem estabelecer um compromisso global ambicioso com metas claras e definir as regras do jogo. Mas a transição para uma economia global que respeite os limites do planeta virá principalmente em decorrência da adoção de medidas nacionais e regionais. Muita coisa já está sendo feita para reduzir as emissões, desenvolver a tecnologia e fazer a transição para uma economia de baixo carbono. Mas é preciso mais, muito mais.

Nos países ricos, se requer rápida reorientação para uma nova infraestrutura de produção de energia e transporte de baixo carbono, bem como de novos mecanismos financeiros que possam incentivar essa mudança e financiar o desenvolvimento em baixo carbono nos países pobres. Com as políticas certas, essa mudança poderá ser o motor do crescimento equitativo.155

Para as economias emergentes, isso representa a oportunidade de superar padrões de produção intensivos em recursos, que são muito danosos para a sociedade e o meio ambiente, e de obter uma vantagem econômica global. Há enormes oportunidades para aqueles que chegarem primeiro.

Para os países mais pobres, o imperativo continuará a ser a geração de empregos e de riqueza para beneficiar os mais pobres sem prejudicar o meio ambiente, do qual a futura prosperidade depende. Felizmente, há muitas estratégias para viabilizar o crescimento sustentável para os pobres.

Como já vimos, a intensificação sustentável da agricultura oferece grandes oportunidades de aumentar a renda e a segurança alimentar, criar resiliência e preservar os recursos naturais. Além disso, a redução da dependência dos combustíveis fósseis é uma proposta muitíssimo atraente, pois alguns países pobres gastam até seis vezes mais com a importação de petróleo do que com serviços essenciais, como a saúde.156

Previsões de preços vertiginosamente altos para o petróleo significam que os países importadores mais pobres olham para um abismo econômico: pesquisas recentes estimam que eles podem perder 4% de seu PIB devido à futura alta de preços.157 Essa dura realidade econômica, aliada ao fato de que esses países também estão na linha de frente da mudança climática, levou a Etiópia e a República das Maldivas a descarbonizar completamente suas economias ao longo dos próximos 10 a 15 anos.

59

Se deixados por conta própria e sujeitos aos interesses particulares de quem os governam, os mercados não produzirão um novo futuro ecológico. Os governos devem intervir para acelerar e orientar a transição. Podem investir em bens públicos, tais como em P&D em energia limpa. Podem criar incentivos mediante o uso de subsídios e a isenção fiscal para dirigir o capital privado para onde ele é necessário. Podem taxar os fatores indesejáveis – tais como as emissões de gases de efeito estufa – para direcionar a atividade econômica para as alternativas desejáveis. Além disso, podem regulamentar, por exemplo, para cessar a poluição das empresas ou incentivá-las a fornecer bens e serviços que de outra forma elas não forneceriam.

Até agora, os governos tenderam a recuar no controle das grandes empresas e têm sido melhores em distribuir ajuda para grupos de interesse bem organizados (veja o gráfico 24) do que para direcionar o dinheiro para onde ele é necessário. Porém, com pressão suficiente do povo para que o dinheiro público vá para os bens públicos, isso mudará.

Há cada vez mais exemplos de governos agindo na direção correta, contribuindo para a grande transição de que necessitamos. A Índia criou um novo imposto sobre a produção de carvão, que usará para financiar a energia renovável. A União Europeia está procurando levar a aviação para o seu Esquema de Comércio de Emissões. O desmatamento no Brasil caiu para o nível mais baixo já registrado após ações conjuntas do governo e da sociedade civil.158 O décimo segundo plano quinquenal da China contém inúmeras metas e medidas para aumentar o consumo de energia renovável e reduzir suas emissões.

Gráfico 24. Os governos são bons em investir em males públicos

$57biSubsídios mundiais à energia renovável

Subsídios mundiais aos combustíveis fósseis (somente para consumo)

Subsídios aos biocombustíveis$20bi

Subsídios agrícolas dos países industrializados

Fontes: Relatório sobre o Progresso da Energia Limpa, OCDE/AIE 2011; AIE (2010): Perspectivas Energéticas Mundiais; “As contribuições dos governos para o PMA em 2009 foram de US$ 3,47 bilhões”: http://www.wfp.org/about/donors/wfpdonors; OCDE – Estimativas de Apoio aos Produtores: estimativa de 2009 de US$ 252,522 bilhões; OCDE CAD5 – Compromissos Bilaterais Oficiais por Setor (total de todos os doadores, 2009. Inclui agricultura, silvicultura e pesca): http://stats.oecd.org/qwids/

Contribuições ao PMA

$3,5bi

$9,8biAOD para a agricultura

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Ao lado: Avó e neta retornam para casa após colheita de mostarda no vilarejo de Belauhi, na Índia. Os agricultores de Belauhi aprenderam novas técnicas agrícolas, como a irrigação e o uso de novas culturas resistentes a secas, a exemplo das sementes oleaginosas e de leguminosas, que trouxeram mais segurança alimentar para os moradores. (Índia, 2011)

Para ajudar nessa transição, precisamos começar a medi-la, mas a base de nossa escala atual é defeituosa. O cálculo do PIB inclui despesas para remediar, tais como a limpeza de óleo derramado, mas ignora muitos bens sociais de valor, como o trabalho não remunerado de cuidados do lar e da comunidade. De forma avassaladora para o meio ambiente, no cálculo do PIB o consumo de recursos naturais – tais como a derrubada de uma floresta, para o comércio de madeira – é aferido como renda, e não como a perda de um ativo. Qualquer empresa administrada nessas bases rapidamente perderia seus investidores.

Um estudo importante159 estimou que a inclusão do custo dos danos ambientais no PIB mostraria que a produção global160 é 11% menor – o equivalente a US$ 6,6 trilhões a menos, um valor consideravelmente maior do que o tamanho da economia chinesa. Se as condições atuais se mantiverem, esse custo ignorado subirá para US$ 28,6 trilhões em 2050 ou 18% do PIB global. Ficou demonstrado que o setor de alimentos é um dos mais daninhos – ficando atrás somente dos poluidores mais sujos: as empresas geradoras de energia, petróleo e gás, metais industriais e mineração.

A simples aritmética nos diz que não podemos continuar a exaurir uma proporção cada vez maior de nossos ativos sem ir à falência. É hora de escolher entre as muitas novas medidas de contabilização da produtividade e do bem-estar que incluem adequadamente os custos sociais e ambientais de nossas atividades.

Na próxima década, devemos criar as instituições e políticas que construirão um novo futuro ecológico. Temos de começar agora. Mas o poder para fazer essa transição está atualmente nas mãos daqueles que se beneficiam do status quo. É hora de tomá-lo deles. Até agora, a maioria dos governos não conseguiu enfrentar os interesses privados. Para que a nova prosperidade se torne uma realidade para os mais necessitados, devemos acrescentar nossa voz nessa batalha.

61Crescendo para um futuro melhor3. A nova prosperidade

- Encorajar governos nacionais e doadores a criar e manter programas de proteção social, nos países em desenvolvimento, voltados principalmente para pessoas em situação de insegurança alimentar e as mulheres.

- Incentivar governos nacionais e doadores a investir em sistemas melhores e mais eficazes de alertas rápidos, bem como em redução do risco de desastres e adaptação à mudança climática.

• Assegurar uma reação rápida e justa em caso de crise, tanto por parte das instituições internacionais (como o Banco Mundial), que dão respaldo ao balanço de pagamentos, quanto por parte de doadores e instituições responsáveis pelo fornecimento e pela distribuição de ajuda alimentar.

• Deter os investidores e as empresas que fazem grandes investimentos irresponsáveis em terras, prejudicando o acesso de pessoas em situação de vulnerabilidade aos recursos e à segurança alimentar:

- denunciando investidores ou empresas cujas cadeias de valor ou investimentos diretos estão relacionados com a apropriação de terras e água;

- garantindo que instituições e normas que influenciam o comportamento dos investidores sejam de alto padrão no que diz respeito à terra e aos recursos naturais;

- ajudando a garantir que os setores de agronegócios ou as cadeias de commodities, começando com as empresas e os comerciantes de bebidas e alimentos, adotem políticas e práticas de investimento responsáveis com relação à terra.

2. A fim de construir um novo futuro agrícola, faremos campanha para aumentar o investimento público e privado na produção de alimentos de pequena escala. Buscaremos uma mudança que garanta:

• Que doadores e governos invistam na produtividade, na resiliência e na sustentabilidade dos pequenos produtores de alimentos. Para isso:

- Os principais doadores devem adotar políticas que promovam uma agricultura sustentável, resiliente e inclusiva, bem como a adaptação à mudança climática. Serão cobrados dos doadores os compromissos de investir em agricultura e segurança alimentar assumidos em L’Aquila, assim como aqueles assumidos em Copenhague, de investir na adaptação à mudança climática.

- Os governos nacionais (e os órgãos regionais) devem estabelecer estratégias de adaptação, bem como políticas e planos de desenvolvimento agrário que promovam uma agricultura sustentável, resiliente e inclusiva. Essas medidas devem ser respaldadas por investimentos públicos. De igual forma, a participação nos processos de tomada de decisão deve ser assegurada aos pequenos produtores de alimentos e às mulheres produtoras.

• Que as empresas invistam na produtividade, na resiliência e na sustentabilidade dos pequenos produtores de alimentos. Nós contribuiremos para isso da seguinte forma:

- Defendendo que as principais empresas invistam em uma agricultura sustentável e resiliente de pequena escala. Isso incluirá a criação e o desenvolvimento de um índice de justiça alimentar que avaliará o progresso de diferentes atores do setor privado em relação a esse objetivo.

Para o planeta conseguir as três mudanças anteriormente descritas, vai levar tempo. A Oxfam, juntamente com outros atores sociais e ambientais, propõe a seguinte agenda para os próximos anos.

1. A fim de construir uma nova governança global para evitar crises alimentares, a Oxfam fará uma campanha com outros atores para:

• Reduzir a volatilidade e a possibilidade de crises de preço dos alimentos no mundo, mediante o aumento da pressão pública para resolver os principais problemas, entre eles a falta de transparência dos mercados internacionais, a incapacidade de lidar com as restrições às exportações, as danosas políticas de biocombustíveis e a especulação excessiva.

- O G20 e seus membros devem chegar a um acordo sobre as providências específicas que vão tomar para controlar e regovernar os mercados, o que inclui medidas para aumentar a transparência, para lidar com as restrições às exportações e para regular a especulação financeira excessiva. A médio prazo, o Comitê de Segurança Alimentar Mundial deve nortear os mecanismos de coordenação para solucionar essas questões de forma mais ampla.

- A UE e os EUA devem pôr fim às medidas de apoio aos biocombustíveis.

• Mitigar o impacto das crises alimentares em diferentes níveis, trabalhando para:

- Criar reservas locais, nacionais e regionais de alimentos.

3.5 Os primeiros passos: a agenda da Oxfam

62

- Defendendo que doadores e órgãos financeiros, tais como a Corporação Financeira Internacional, promovam o investimento do setor privado em uma agricultura resiliente, sustentável e inclusiva.

• Incentivo à implementação e à aplicação de políticas que reforcem os direitos à terra e aos recursos naturais de mulheres e outros pequenos produtores de alimentos, por meio de:

- legislação, para melhorar o acesso seguro à terra e aos recursos naturais, e campanhas nacionais, para empoderar mulheres e homens para que possam reivindicar seus direitos de acesso;

- rigorosas diretrizes voluntárias sobre a posse da terra e dos recursos naturais, acordadas pelo CSA, de forma que orientem as ações nacionais.

3. A fim de construir a arquitetura de um novo futuro ecológico, faremos campanha por um acordo global sobre mudança climática capaz de impedir que o excesso de emissões de gases de efeito estufa devaste a produção de alimentos. A Oxfam trabalhará juntamente com outros atores para:

• Aumentar a conscientização sobre o impacto da mudança climática, particularmente nos países ricos e nos que estão em rápido desenvolvimento, a fim de ressaltar a urgência de uma ação nessa área.

• Criar consenso entre os governos sobre quanto cada um deve cortar de suas emissões para evitar níveis catastróficos de aquecimento global.

• Pressionar governos e organismos internacionais para incrementar o financiamento para o clima, tendo por objetivo, principalmente:

- A operacionalização de um fundo global justo para o clima, com medidas específicas para atender às necessidades de mulheres e outros grupos vulneráveis, incluindo a criação de uma janela específica para a adaptação, com recursos garantidos para solucionar o problema do seu financiamento; princípios estritos de gênero na composição e nos programas do fundo; e mecanismos para assegurar a participação integral das comunidades afetadas na governança dos recursos do fundo.

- O estabelecimento de novas fontes de financiamento confiáveis e de longo prazo para o clima, com a finalidade de garantir que o fundo não seja uma estrutura oca, incluindo contribuições orçamentárias justas dos países ricos, juntamente com um imposto sobre transações financeiras ou medidas para aumentar as receitas baseadas no transporte internacional.

63Crescendo para um futuro melhor3. A nova prosperidade

Acima: Tomates (Malawi)

4. Conclusão

4 Conclusão

Nosso sistema mundial de alimentos funciona apenas para poucos. Para a maioria de nós, ele está falido. Isso deixa os bilhões de nós, que consumimos alimentos, sem conhecimento e poder suficiente sobre o que compramos e sobre o que comemos. Quase um bilhão de nós passa fome, e a maioria dos pequenos produtores de alimentos não tem poder ou capacidade para desenvolver seu potencial. O fracasso do sistema acontece devido ao fracasso dos governos em regular, corrigir, proteger, resistir e investir, o que significa que as elites, as empresas e os grupos de interesse manipulam o sistema para direcionar recursos financeiros, conhecimento e comida para servi-los.

Este sistema, a cada dia, deixa 925 milhões de pessoas com fome.

Entramos numa era de crises crescentes, de choques consecutivos: crescimento vertiginoso dos preços dos alimentos e instabilidade nos preços do petróleo, eventos climáticos devastadores, quebras financeiras e contágio global. Por trás de cada um desses eventos, as crises amadurecem a fogo lento: uma mudança climática insidiosa e iminente; crescimento da desigualdade; fome crônica e vulnerabilidade; erosão de nossos recursos naturais. O falido sistema mundial de alimentos ao mesmo tempo gera fragilidades e é altamente vulnerável a elas.

Sem uma ação urgente para abordar os desafios interconectados da produção, da igualdade e da resiliência, o futuro será feito de um empate entre Estados, apropriação de recursos por elites poderosas e colapso ecológico.

A era das crises é uma ameaça terrível, mas também uma janela importante de oportunidades, um período de fluxo no qual um novo consenso pode emergir e levar-nos rumo à prosperidade. Este futuro alternativo é de cooperação, em vez de competição, com valorização mútua e do meio ambiente, um futuro no qual cada um pode usufruir de uma parcela justa. A possibilidade de se chegar até lá vai demandar toda a energia, engenhosidade e vontade política que a humanidade pode ter. Nós devemos construir campanhas poderosas que propiciem transformações significativas nas nossas sociedades face aos desafios comuns e sabedoria para manejar recursos coletivos.

Teremos de superar os interesses escusos, que têm tudo a perder e que resistirão o quanto puderem às mudanças. As elites poderosas dos países pobres, que controlam a terra e bloqueiam reformas. Os lobbies do agronegócio dos países ricos, que controlam os recursos públicos e desequilibram o jogo contra os pequenos produtores. As indústrias poluidoras, que bloqueiam ações contra a mudança climática. As empresas de sementes, cuja busca incessante por patentes solapa a pesquisa pública e marginaliza os agricultores familiares. As empresas multinacionais, que lucram com a falta de regulação dos mercados de alimentos. As instituições financeiras, que torcem para que isto aconteça.

Os governos devem renovar seu propósito de administrar o bem público, em vez de deixar que as elites dominem. Eles devem fazer políticas a favor dos interesses da maioria, e não da minoria. Devem proteger os mais vulneráveis. Devem regular empresas por demais poderosas. Devem corrigir as falhas do mercado. Os exemplos do Brasil e do Vietnã, entre outros, mostram que líderes políticos fortes com senso moral elevado podem levar governos ao sucesso.

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À esquerda: especiarias à venda (Índia).

À direita: Nilanthi (à direita), que junto com Kusumawathi (à esquerda) coleta folhas de chá em sua terra, é a secretária da Associação Diriya de Produtores Familiares de Chá, que representa 42 famílias de pequenos produtores de chá da região. Cada um deles tem menos de um acre de terra.

A crise econômica indica que ultrapassamos a era do G8, quando governos de poucos países ricos tomavam decisões globais sozinhos e em seu próprio interesse. A velha rixa entre Norte e Sul é cada vez mais irrelevante. O poder – sobre a comida, os recursos e as emissões – está concentrado nos países do G20, cujo papel perante as economias emergentes ainda tem muito a melhorar, mas também a contribuir, com soluções e energias inovadoras. O Brasil tem muito a ensinar ao mundo sobre como enfrentar a fome. Em 2012, o país sediará a importante conferência “Rio + 20”. A China é o maior investidor mundial em energia renovável161 e multiplicou por dez seu comércio com a África, ultrapassando em muitas áreas os EUA e a União Europeia como maior parceiro comercial.162 Em 2011, a África do Sul assumiu a presidência das negociações do UNFCCC, depois do México.

Agora, as maiores potências, velhas e novas, devem cooperar – e não competir – para compartilhar recursos, construir resiliência e enfrentar a mudança climática. Os governos dos países em desenvolvimento também devem ter assento à mesa, uma vez que eles estão na linha de frente da mudança climática, em cujo âmbito muitas das batalhas sobre terra, água e comida são travadas.

Empresas responsáveis também têm um papel crucial. Elas podem ajudar a romper as barreiras dos interesses escusos, reforçando a vontade de resistência de políticos e governos. Estes, por sua vez, podem abraçar a causa da regulação progressiva, em vez de atrapalhá-la. Eles podem direcionar suas práticas e seus modelos de negócios para o enfrentamento dos desafios coletivos.

Ações positivas de empresas responsáveis e de governos visionários não serão suficientes para suplantar interesses estabelecidos de elites poderosas que bloqueiam a mudança. Os governos devem ser estimulados a resistir, regular, corrigir, proteger e investir. Os cidadãos devem exigir isto deles. Os incentivos às empresas devem mudar de forma a não mais impor custos sociais e ambientais a outros. Ao contrário: devem prosperar fazendo o melhor uso possível dos recursos. Os consumidores devem exigir isso delas.

Nossas decisões e escolhas fazem a diferença.

Inspirados por estas ideias e motivados pelo desejo de um futuro melhor, as organizações, os empresários, os movimentos e as redes de prosperidade estão aparecendo, crescendo e se conectando ao redor do mundo. As organizações em defesa dos produtores rurais em situação de pobreza reivindicam uma parte justa dos orçamentos nacionais e das cadeias de mercado. ONGs trabalham com agricultura sustentável. Organizações ambientais reivindicam um futuro sustentável. Grupos de mulheres reivindicam seus direitos sobre os recursos. Comunidades lideram estilos de vida com baixa pegada de carbono. Movimentos, como o do comércio justo, estabelecem conexões entre os consumidores éticos e o setor privado. Movimentos de base reivindicam o respeito ao direito à alimentação. A lista é longa e está crescendo.

A Oxfam está orgulhosa de estar entre eles.

67Crescendo para um futuro melhor4. Conclusão

Notas1 http://data.worldbank.org

2 44% das crianças do Níger sofrem de desnutrição crônica. Programa Mundial de Alimentos. http://www.wfp.org/countries/niger

3 http://hdrstats.undp.org

4 http://www.fao.org/hunger/hunger_graphics/en/

5 J. Von Braun (2008): “Crise alimentar e financeira: implicações para a agricultura e os pobres”. IFPRI Food Policy Report. Washington DC: International Food Policy Research Institute.

6 http://www.fao.org/news/story/0/item/20568/icode/en/

7 Por exemplo, a Nike e a Apple abandonaram publicamente a Câmara de Comércio dos EUA quando esta se recusou a apoiar a legislação dos EUA em discussões sobre o clima. http://www.businessgreen.com/bg/news/1800576/greenpeace-heat-oil-giants-linked-astroturf-protests

8 REN-21 (2010). “Renewables 2010: Global Status Report”: http://www.2degreesnetwork.com/preview/resource/renewables-2010-global-status-report/

9 O Grupo de Trabalho do IPCC AR4 sobre Mitigação (Working Group III) verificou que, “para a menor mitigação da categoria de cenário avaliada, as emissões de CO2 precisariam atingir o pico até 2015”. Veja: IPCC (2007): “Mudança Climática 2007: Síntese do Relatório: Uma avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática”. Genebra: IPCC: nota de rodapé nº 20.

10 FAO (2009). “How to Feed the World in 2050?” [Como alimentar o mundo em 2050?].

11 http://esa.un.org/wup2009/unup/index.asp?panel=1

12 Cálculos da Oxfam baseados em: http://faostat.fao.org/site/452/default.aspx

13 HSBC (2011). “O mundo em 2050”.

14 M. Cecchini, F. Sassi, J.A. Lauer, Yong Y Lee, V. Guajardo-Barron, D. Chisholm (2010). “Tackling of unhealthy diets, physical activity, and obesity: health effects and cost-effectiveness” [Atacando as dietas pouco saudáveis, a atividade física e a obesidade: os efeitos na saúde e o custo-efetividade]. The Lancet, Vol. 376, 20, November 2010, pp.1775–83.

15 Foresight (2007). “Tackling Obesities: Future Choices” [Atacando a obesidade: escolhas futuras]. The Government Office for Science, London. Nos países em desenvolvimento, a obesidade tende a se concentrar na classe média, naqueles que levam uma vida mais sedentária e consomem mais produtos industrializados. Entre os países ricos, a obesidade é um flagelo dos pobres, pois a comida saudável tende a ser mais cara. Nos Estados Unidos, sete dos dez estados com maior nível de pobreza estão também entre os dez estados com maior nível de obesidade. http://www.nytimes.com/2009/08/11/health/11stat.html?_r=1&ref=science

16 http://www.ers.usda.gov/Publications/WRS0801/ R. Trostle USDA (2008). “Global Agricultural Supply and Demand: Factors Contributing to the Recent Increase in Food Commodity Prices” [A demanda e a oferta mundial de produtos agrícolas: fatores que contribuíram para o recente aumento dos preços]. Espera-se que a demanda por alimentos cresça a uma média de 1,3% por ano até 2050 (taxa de crescimento anual composta, baseada em 70% de crescimento da demanda até 2050).

17 Idem.

18 A previsão de aumento da área total irrigada é de somente 9% entre 2000 e 2050. Global Water Security (2010). “Engineering the future”. Veja também Bruinsma (2009): “The Resource Outlook to 2050: By How Much Do Land, Water Use and Crop Yields Need to Increase by 2050?” [A análise dos recursos até 2050: quanto as plantações, o uso da terra e da água precisam crescer até 2050], apresentação feita na Expert Meeting on How to Feed the World in 2050. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Roma, em cujo estudo se argumenta que a área irrigada poderá ser incrementada em 11% de 2005 a 2050, com expansão concentrada no Leste e no Sul da Ásia, no Oriente próximo e no Norte da África.

19 Nos trópicos semi-áridos – onde se encontram principalmente países em desenvolvimento cuja agricultura depende da chuva e de pequenos agricultores pobres –, que contam com altos níveis de insumos e gestão avançada, os rendimentos das colheitas poderiam crescer em média 3,6 vezes com relação aos atuais. O manejo da umidade do solo e as técnicas de aproveitamento da água da chuva adicionariam 10% a este valor potencial, além de reduzir a variação entre colheitas e o número de anos, com quebra de safra. Veja: http://www.iwmi.cgiar.org/assessment/files_new/publications/ICRISATReport_54.pdf

20 Calculado com base no banco de dados de compromissos bilaterais oficiais por setor da OCDE DAC5. Inclui silvicultura e pesca.

21 A estimativa de apoio aos produtores da OCDE para a agricultura em 2006 foi de US$ 252.508. Veja: http://www.OCDE.org/dataOCDE/30/58/45560148.xls?contentId=45560149

22 A AOD para a agricultura em 2006 está estimada em US$ 3,2 bilhões.

23 OCDE (2009). “Política Agrícola nos países da OCDE: Monitoramento e avaliação 2009”.

24 Legrain (2010). “Beyond CAP – Why EU budget needs reform” [Além da Política Agrícola Comum (CAP): por que o orçamento da UE precisa de reforma?]. The Lisbon Council e-brief, nº 09/2009.

25 Oxfam Internacional (2008). “Outra verdade incômoda”. Estima-se que, por volta de 2008, ano da crise dos preços dos alimentos, os países ricos gastaram pelo menos US$ 13 a US$ 15 bilhões em subsídios aos biocombustíveis. O incremento da demanda destes biocombustíveis foi responsável por algo em torno de 30% do incremento do preço dos alimentos no período em questão. Oxfam Internacional (2008). “Outra verdade incômoda”.

26 Oxfam International (2010). “Halving Hunger” [Reduzindo a fome pela metade]. http://www.oxfam.org/en/policy/halving-hunger-still-possible

27 Banco Mundial: http://is.gd/P5cylT

28 Foresight (2010), em uma ampla revisão, concluiu recentemente que “devemos trabalhar sob o pressuposto de que há pouca terra nova para a agricultura” (In: The Future of Food and Farming, Final Project Report” [O Futuro da Agricultura e da Fome, Relatório Final]. The Government Office for Science, London. http://www.bis.gov.uk/foresight/our-work/projects/current-projects/global-food-andfarming-futures/reports-and-publications. Outra análise quantifica este “pouca” como sendo um aumento de 12,4% na área cultivável nos países em desenvolvimento, até 2050, sendo que a maior parte do potencial para novas terras se encontra nesses países: http://goo.gl/64ZAI p13

29 http://goo.gl/64ZAI p13

30 D. Molden (ed) (2007). Water for Food, Water for Life: A Comprehensive Assessment of Water Management [Água para a Alimentação e para a Vida: Uma Análise do Gerenciamento dos Recursos Hídricos], Londres: Earthscan e Colombo: International Water Management Institute.

31 R. Clarke e J. King (2004). The Atlas of Water [O Atlas da Água], London: Earthscan Books.

32 http://www.bis.gov.uk/go-science/news/speeches/the-perfect-storm

33 http://www.iwmi.cgiar.org/assessment/files_new/synthesis/Summary_SynthesisBook.pdf

34 Brown (2011). “The Great Food Crisis of 2011” [A Grande Crise Alimentar de 2011]. Foreign Policy, 10 de janeiro de 2011.

35 Estima-se que os países do Oriente Médio representam por volta de um quinto dos investimentos na África subsaariana. http://www.commercialpressuresonland.org/monitoring-land-transactions

36 A demanda por terras na África foi estimada pelo Banco Mundial em 39,7 milhões de hectares em 2009, comparada com uma média anual de expansão de 1,7 milhão no período de 1961 a 2007.

68

37 Baseado em dados preliminares de um estudo de monitoramento de aquisições de grandes áreas de terra realizado por Oxfam, Cirad, CDE da Universidade de Berna e pela International Land Coalition. Os dados foram verificados (em março de 2011) e lançados em setembro de 2011. O banco de dados tem informações de acordos sobre terras ocorridos a partir de 2001, embora a maioria deles seja do período compreendido entre 2007 e 2011.

38 Obter dados confiáveis a respeito de investimentos em terras é quase impossível: a transparência é mínima e os acordos são envoltos em corrupção e má-fé. A Oxfam está trabalhando com a International Land Coalition [Coalizão Internacional sobre Terras], o Centro Internacional de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento e o Centro para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente da Universidade de Berna, para verificar e agregar os dados existentes e coletar dados em campo. Para mais detalhes, acesse: http://www.commercialpressuresonland.org

39 Banco Mundial (2010). “Rising Global Interest in Farmland: Can it Yield Sustainable and Equitable Benefits?” [Aumentando o interesse mundial em áreas agricultáveis: podemos manter benefícios equitativos e sustentáveis?], setembro de 2010, p. 45.

40 Idem. A mais completa pesquisa disponível sugere que 80% dos projetos citados pela mídia estão pouco desenvolvidos e somente 20% começaram realmente a produzir resultados.

41 Susan Payne, fundadora e chefe-executiva da Emergent Asset Management, citada em “Food is Gold, So Billions Invested in Farming” [A comida é ouro; então, milhões investem na agricultura]. Diana B. Henriques, New York Times, 5 de junho de 2008.

42 Baseado na apresentação de Susan Payne, chefe-executiva da Emergent Asset Management na Conferência Mundial de Investimentos Agrícolas, 2010.

43 Baseado em um estudo realizado nas Filipinas. Acesse: http://www.jstor.org/pss/3372571

44 W. Cline (2007). “Global Warming and Agriculture: Impact Estimates by Country” [Aquecimento global e agricultura: impactos estimados por país]. Center for Global Development. Acesse: http://www.cgdev.org/content/publications/detail/14090

45 S. Jennings e J. Magrath (2009). “What Happened to the Seasons?” [O que aconteceu às estações?]. Oxfam GB. http://publications.oxfam.org.uk/display.asp?k=002R0193

46 http://spreadsheets.google.com/ccc?key=tt8j-Ns4J9xxoQlFLf_vMfQ#gid=0

47 Oxfam (2010). “Crying Wolf: Industry lobbying and climate change in Europe” [O lobo chora: o lobby e a mudança climática na Europa]. Oxfam, 21 de novembro de 2010. http://www.oxfam.org/sites/www.oxfam.org/files/crying-wolf-eulobbying-climate-change-media-briefing-231110.pdf

48 Sandbag, 2010. “Cap or Trap? How the EU ETS risks locking-in carbon emissions”.

49 Greenpeace (2008). “Cool farming: Climate impacts of agriculture and mitigation potential” [A agricultura legal: os impactos climáticos da agricultura e o potencial de mitigação]. http://www.greenpeace.org/international/en/publications/reports/cool-farming-full-report/.

50 Idem.

51 Ibidem. Emissões por uso de fertilizantes e pecuárias têm um aumento previsto de 35% a 60% até 2030.

52 Ibidem.

53 Cheng Hai Teoh (2010). “Key Sustainability Issues in the Palm Oil Sector”. Documento de discussão para consultas de multiatores (encomendado pelo Banco Mundial).

54 Cálculo da Oxfam.

55 Cheng Hai Teoh (2010). Op. cit.

56 Oxfam Internacional (2008). “Outra verdade incômoda”. Op. cit.

57 D. Willenbockel (2011). “Exploring Food Price Scenarios Towards 2030 with a Global Multi-Region Model” [Analisando os cenários dos preços dos alimentos até 2010 com um modelo multirregional]. Documento encomendado por Oxfam, como pesquisa de apoio para a campanha “Cresça: Alimentos. Justiça. Planeta”, ao Institute of Development Studies, da Universidade de Sussex, UK. Oxford: Oxfam e IDS.

58 A pesquisa de apoio citada tem por objetivo contribuir com este relatório da Oxfam ao explorar um conjunto de cenários por meio da modelagem Globe. O método e as premissas nas quais a pesquisa se baseia estão detalhados no relatório da pesquisa, disponível em: www.oxfam.org/grow

59 O modelo IFPRI calcula que haverá, em 2050 (linha de base), 49 milhões a menos de crianças subnutridas em países em desenvolvimento do que em 2010. Com a mudança climática, este número diminuiria para 37 milhões a menos. Acesse: www.ifpri.org/sites/default/files/publications/climatemonograph_advance.pdf

60 Banco Mundial (2008) ‘Rising Food and Fuel Prices: Addressing the Risks to Future Generations’. Acesse: http://siteresources.worldbank.org/DEVCOMMEXT/Resources/Food-Fuel.pdf. O modelo considera dois efeitos opostos em ação para determinar a proporção de gastos com alimentação por domicílio. Com o aumento da renda per capita, a participação do custo dos alimentos cai – domicílios/países ricos gastam proporcionalmente muito menos com alimentação do que os pobres. O aumento no preço dos alimentos, na comparação com outros bens, tem um efeito oposto sobre a proporção de gastos com alimentos.

61 Banco Mundial (2008) Op cit.

62 www.ifpri.org/sites/default/files/publications/climatemonograph_advance.pdf

63 http://www.ifpri.org/sites/default/files/publications/ifpridp01042.pdf

64 Foresight Report (2011). Op. cit.

65 Idem.

66 CIPCA-OXFAM. “Sistemas Agroflorestais na Bolívia: Um meio de vida, uma forma de adaptação”, 2011.

67 UNHDR (2006). “Beyond Scarcity: Power, poverty and the global water crisis”.

68 http://www.unmillenniumproject.org/reports/tf_hunger.htm

69 United Nations Human Rights Council (2010). Estudo preliminar do Comitê de Aconselhamento sobre Discriminação no contexto do direito à alimentação do Conselho de Direitos, 22 de fevereiro de 2010, p. 12. http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/docs/13session/A-HRC-13-32.pdf

70 G. Nanda, K. Switlick e E. Lule (2005). “Accelerating Progress towards Achieving the MDG to Improve Maternal Health: A Collection of Promising Approaches” [Acelerando o progresso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para melhorar a saúde materna: um leque de enfoques], HNP, World Bank. Acesse: http://siteresources.worldbank.org/HEALTHNUTRITIONANDPOPULATION/Resources/281627-1095698140167/NandaAcceleratingProgresswithCover.pdf

71 http://www.fao.org/docrep/013/i2050e/i2050e00.htm

72 USDA National Agricultural Statistics Service, “2007 Census of Agriculture – United States Data”, tabela 58, p. 66-7.

73 Censo Agropecuário Nacional de 2003: www.ine.gob.gt/

74 Nidhi Tandon (2010). “New agribusiness investments mean wholesale sell-out for women farmers” [Os novos investimentos agrícolas estão fora do alcance das mulheres agricultoras]. Gender and Development, vol. 18(3), novembro de 2010.

75 O estudo concluiu que, em muitos casos, as aquisições em larga escala “contribuem para a perda dos meios de vida” das populações. O estudo ainda identificou problemas, tais como: “o deslocamento de populações locais sem compensações, com as terras sendo oferecidas a preços abaixo de seu valor potencial, e efeitos negativos em cadeia sobre as áreas vizinhas”. Banco Mundial (2010). “Rising Global Interest in Farmland”, p xxi.

69

76 Este valor agregado mascara diferenças importantes entre países, inclusive dentro de uma mesma região. Na África, por exemplo, a participação de mulheres como proprietárias de terras varia de menos de 5% no Mali a aproximadamente 30% no Botswana, em Cabo Verde e no Malawi.

77 http://www.unhabitat.org/downloads/docs/1556_72513_CSDWomen.pdf

78 http://www.future-of-food.com/downloads/2010/london/report_20100428.pdf

79 Baseado nos números de vendas de 2007 no mercado proprietário de sementes. G. Meijerink e M. Danse, (2009). “Riding the Wave: High Prices, Big Business? The role of multinationals in the internet grain markets” [Pegando a Onda: Preços Altos, Grandes Negócios? O papel das multinacionais nos mercados eletrônicos de grãos]. LEI Wageningen UR.

80 Baseado em Ibisworld: “Global Fertilizers and Agricultural Chemicals Manufacturing 10” [Produtores Globais de Fertilizantes e Produtos Químicos para a Agricultura] (2009), citado em “TNCs and the Right to Food” [Corporações Transnacionais e o Direito à Alimentação], estudo de autoria dos estudantes de Direito pelos Direitos Humanos da Faculdade de Direito da Universidade de Nova York, preparado a pedido do relator especial sobre Direito à Alimentação das Nações Unidas, em 2009. Os seis maiores produtores são Basf, Bayer, Dow, DuPont, Monsanto e Syngenta.

81 O instituto brasileiro de pesquisa Embrapa é um dos maiores financiadores do mundo de P&D agrícola e conta com um orçamento aproximado de US$ 1,1 bilhão. O gasto da China com P&D agrícola aumentou cerca de 10% ao ano desde 2001, totalizando US$ 1,8 bilhão em 2007.

82 Para um histórico, consulte M. Hendrickson, J. Wilkinson, W. Heffernan e R. Gronski (2008). “The Global Food System and Nodes of Power” [O Sistema Alimentar Global e os Nós do Poder], análise preparada para a Oxfam dos EUA, 2008. Sobre o “modus operandi”, consulte: Etc Group Communique ‘Patenting the “Climate Genes”… And Capturing the Climate Agenda’ [Patenteando os “Genes Climáticos”... e Capturando a Agenda Climática], disponível no site: http://www.etcgroup.org/en/node/687

83 http://www.nature.com/news/2010/100728/full/466548a.html

84 A despesa federal dos EUA com ciências agrícolas em 2007 foi de US$ 1,1 bilhão. O orçamento anual do CGIAR é de US$ 500 milhões.

85 Arcand (2004), em M. Mercoiret e J.M Mfou‘ou (2006). “Rural Producer Organisations, Empowerment of Farmers and Results of Collective Action” [Organizações de Produtores Rurais, Empoderamento de Agricultores e Resultados de Ação Coletiva], Tema No 1, ‘Rural Producer Organisations for Pro-Poor Sustainable Development’ [Organizações de Produtores Rurais para o Desenvolvimento Sustentável Favorável aos Pobres], relatório do Workshop de Paris, PMA (Programa Mundial de Alimentação) 2008: Agricultura para o Desenvolvimento.

86 Pesquisa realizada pela Universidade de Leuven e citada nos GCGF e CIPE (2007). ‘Corporate Governance and Co-operatives’ [Governança Corporativa e Cooperativas], Relatório do Workshop de Revisão por Pares, 8 de fevereiro de 2007, Londres, reunido no Fórum Global de Governança Corporativa (GCGF) e no Centro de Empresas Privadas Internacionais (CIPE).

87 Institute of Development Studies (2008). ‘Reforming Land Reform in the Philippines’ [Reformulando a Reforma Agrária nas Filipinas]. Observe que muitos problemas permanecem (por exemplo, grande parte da terra redistribuída até agora foi marginal e vendida a preços que muitos consideram exagerados).

88 http://www.oxfamblogs.org/fp2p/?s=bogota&x=44&y=10

89 D. Green (2008). From Poverty to Power [Da Pobreza ao Poder], p. 31, p. 146.

90 Von Braun (2008), op. cit. Acesse: http://www.ifpri.org/sites/default/files/publications/pr20.pdf

91 FAO (2008). ‘Crop Prospect and Food Situation’ [Perspectivas da Agricultura e Situação Alimentar].

92 Banco Mundial. http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/NEWS/0,,contentMDK:21827681~pagePK:64257043~piPK:437376~theSitePK:4607,00.html

93 Ivanic e Martin (2008). ‘The Implications of Higher Global Food Prices for Poverty in Low-Income Countries’ [As implicações dos altos preços dos alimentos para a pobreza nos países de baixa renda]. Trabalhos de Pesquisa sobre Políticas do Banco Mundial.

94 http://www.ids.ac.uk/index.cfm?objectid=7BEEE2E6-E888-1C81-4222828ABE71B95A

95 Giminez e Patel (2009). Food Rebellions [Rebeliões Alimentares], Pambazuka Press, p. 18.

96 Javier Blas, ‘Tackle Export Bans to Ease Food Crisis’ [Resolver as Restrições às Exportações para Aplacar a Crise Alimentar], Financial Times, 3 de fevereiro de 2011.

97 A Cargill previu que 2011 seria o seu melhor ano, beneficiada, no entanto, pelas quebras de safras e pela volatilidade dos preços. “A Cargill obteve grandes ganhos em um período de volatilidade nos mercados de commodities e de mudança geopolítica”, disse Greg Page, presidente do Conselho Administrativo e diretor-executivo. Gregory Meyer, ‘Cargill Set for Record Yearly Profit’ [Cargill Preparada para Lucro Anual Recorde], Financial Times, 13 de abril de 2011. Acesse: http://www.ft.com/cms/s/0/0c0ee826-65d5-11e0-baee-00144feab49a. html#axzz1JYtZYouV

98 Gregory Meyer, ‘Bunge Rides on Volatility of Food Markets’ [Bunge Aproveita Volatilidade dos Mercados de Alimentos], Financial Times, 28 de dezembro de 2010. Acesse: http://www.ft.com/cms/s/0/89e80c8a-12a8-11e0-b4c8-00144feabdc0.html#axzz1JbmlzZxQ

99 Um exemplo é a Aliança para a Abundância de Alimentos e Energia, criada pela ADM, pela Monsanto e pela Associação de Combustíveis Renováveis nos USA.

100 http://www.fao.org/es/ESC/common/ecg/584/en/Panel_Discussion_paper_2_English_only.pdf

101 Lester Brown (2011). ‘World on the Edge: How to Prevent Environmental and Economic Collapse’ [O Mundo à Beira do Abismo: Como Evitar o Colapso Ambiental e Econômico], Earth Policy Institute.

102 Idem.

103 Banco Mundial (2008). ‘Double Jeopardy: Responding to High Food and Fuel Prices’ [Duplo Desafio: Responder aos Altos Preços dos Alimentos e dos Combustíveis], estudo preparado para a Cúpula do G8 em Hokkaido-Toyako, 2 de julho de 2008. Acesse: http://goo.gl/BhRWa

104 http://www.ifpri.org/sites/default/files/publications/rr165.pdf

105 http://www.ft.com/cms/s/0/a2aa510a-1e89-11e0-87d2-00144feab49a.html#axzz1CFL7EYl1

106 F. Kaufman (2010). ‘The food bubble: how Wall Street starved millions and got away with it’ [A bolha dos alimentos: como Wall Street deixou milhões de pessoas com fome e saiu ilesa]. Harper’s Magazine, nº 32, julho de 2010.

107 Veja, por exemplo, FAO (2010): ‘Final Report of the Committee on Commodity Problems: Extraordinary Joint Intersessional Meeting of the Intergovernmental Group (IGG) on Grains and the Intergovernmental Group on Rice’ [Relatório Final da Comissão sobre Problemas de Commodities: Reunião Conjunta Interseccional Extraordinária do Grupo Intergovernamental sobre Grãos e do Grupo Intergovernamental sobre Arroz]; O. de Schutter (relator especial sobre Direito à Alimentação da ONU) (2010): ‘Food Commodities Speculation and Food Price Crises: Regulation to Reduce the Risks of Financial Volatility’ [Especulação com Commodities de Alimentos e Crises de Preços de Alimentos: Regulamentação para Reduzir os Riscos da Volatilidade Financeira]; C. Gilbert (Universidade de Trento) (2010): ‘How to Understand High Food Prices’ [Como Entender os Altos Preços dos Alimentos], Journal of Agricultural Economics; ou Banco Mundial (2010): ‘Placing the 2006/2008 Commodity Price Boom into Perspective’ [Colocando em Perspectiva o Boom dos Preços de Commodities 2006/2008].

108 Responsável da ONU pelo Serviço de Rastreamento Financeiro da Coordenação de Assuntos Humanitários. Os dados estão divulgados no site: http://fts.unocha.org/pageloader.aspx?page=home

70

109 A. Evans (2010): ‘Globalization and Scarcity: Multilateralism for a World with Limits’ [Globalização e Escassez: Multilateralismo para um Mundo com Limites], Centro sobre Cooperação Internacional da Universidade de Nova York. Disponível no site: http://www.cic.nyu.edu/scarcity/docs/evans_multilateral_scarcity.pdf

110 Apenas 65% das operações emergenciais do Programa Mundial de Alimentação (PMA) são atualmente financiadas, ao passo que menos da metade de suas operações em situações mais prolongadas de fome recebe financiamento. PMA: ‘Resource Situation Summary’ [Sumário sobre a Situação dos Recursos Naturais], 27 de fevereiro de 2011, Summary Chart of Confirmed Contributions to Emergency Operations (Emops) [Quadro Sumário de Contribuições Confirmadas para Operações de Emergência]: http://documents.wfp.org/stellent/groups/public/documents/research/wfp229123.pdf. PMA: ‘Resource Situation Summary’ [Sumário sobre a Situação dos Recursos Naturais], 27 de fevereiro de 2011, Summary Chart of Confirmed Contributions to Protracted Relief Operations (PRROs) [Quadro Sumário de Contribuições Confirmadas para Operações de Ajuda em Situações Prolongadas]: http://documents.wfp.org/stellent/groups/public/documents/research/wfp229123.pdf

111 Sistema Internacional de Informações sobre Ajuda Alimentar (Interfais) do Programa Mundial de Alimentação (medidas de alimentos em toneladas métricas), 1988–2009. Relatório gerado em 18 de abril de 2011. Acesse: http://www.wfp.org/fais/reports/quantities-delivered-report/run/year/2009;2008;2007;2006;2005;2004;2003;2002;2001;2000;1999;1998;1997;1996;1995;1994;1993;1992;1991;1990;1989;1988/donor/All/mode/All/cat/All/recipient/All/code/All/basis/0/subtotal/0/

112 Sistema de Relatório PMA Interfais (medidas de alimentos em toneladas métricas), 1988–2009. Relatório gerado em 18 de abril de 2011. Acesse: http://www.wfp.org/fais/reports/quantities-delivered-report/run/year/2009;2008;2007;2006;2005;2004;2003;2002;2001;2000;1999;1998;1997;1996;1995;1994;1993;1992;1991;1990;1989;1988/donor/United+States+of+America/mode/All/cat/All/recipient/All/code/All/basis/0/subtotal/0/

113 Escritório de Prestação de Contas do Governo dos EUA (GAO) (2009). ‘International Food Assistance: Local and Regional Procurement Can Enhance the Efficiency of US Food Aid, but Challenges May Constrain Its Implementation Purchase’ [Assistência Alimentar Internacional: Compras Locais e Regionais Podem Aumentar a Eficácia da Ajuda Alimentar dos EUA, mas Desafios Podem Dificultar sua Implementação], GAO-09-570. Washington, DC: GAO. Acesse: http://www.gao.gov/new.items/d09570.pdf

114 Oxfam dos EUA (2011). ‘Under Pressure: reducing disaster risk and enhancing US emergency response capacity in an era of climate change’ [Sob Pressão: redução dos riscos de desastre e aumento da capacidade de resposta emergencial dos EUA em uma era de mudança climática].

115 Baseado nos volumes de ajuda alimentar 2009. Cálculos da Oxfam baseados em dados de http://www.usaid.gov/our_work/humanitarian_assistance/ffp/fy09.ifar.pdf. Observação: os EUA começaram a pré-posicionar sua ajuda alimentar em pontos estratégicos do mundo todo. Isso reduziu o tempo para que a ajuda alimentar chegue ao seu destino. Contudo, isso pode na verdade aumentar o custo total de entrega em razão dos custos de estocagem nos pontos estratégicos e de alguma escala adicional de transporte. Isso pode reduzir a porcentagem de 15,2% e, assim, reduzir um pouco o número de novos beneficiários.

116 Oxfam Internacional (2010). ‘Righting Two Wrongs: Making a New Global Climate Fund Work for Poor People’ [Corrigindo Duas Falhas: Fazendo que o Novo Fundo Global para o Clima Funcione para as Populações Pobres]. Acesse: http://www.oxfam.org/en/policy/righting-two-wrongs

117 Força-Tarefa de Alto Nível da ONU sobre a Crise Alimentar Global, Método Abrangente para Ação 2008, p. 9.

118 Banco Mundial: Indicadores de Desenvolvimento Mundial.

119 Calculado com base nos dados da FAO disponíveis em: http://www.fao.org/economic/ess/ess-data/ess-fs/ess-fadata/en/

120 Calculado com base nos dados da FAO disponíveis em: http://faostat.fao.org/site/550/DesktopDefault.aspx?PageID=550

121 Calculado com base nos dados da FAO disponíveis em: http://www.fao.org/economic/ess/ess-data/ess-fs/ess-fadata/en/

122 A proporção de pessoas subnutridas no Brasil caiu de 11% em 1990–1992 para 6% em 2005–2006, o que equivale a uma redução de 45%. Acesse: http://www.fao.org/docrep/013/i1683e/i1683e.pdf

123 CONSEA, 2009. ‘Building up the National Policy and System for Food and Nutrition Security: the Brazilian experience’ [Construindo a Política Nacional e o Sistema de Segurança Alimentar e de Nutrição: a Experiência Brasileira].

124 Banco Mundial (2008). ‘Double Jeopardy’ [Desafio Duplo], op. cit. Acesse: http://goo.gl/BhRWa

125 O relatório ‘World Energy Outlook 2010’ [Perspectivas Energéticas Mundiais 2010], da AIE, estima que o apoio aos biocombustíveis foi de US$ 20 bilhões em 2009, a maior parte nos EUA e na UE. Segundo as projeções, esse valor subirá para US$ 45 bilhões em 2020 e US$ 65 bilhões em 2035.

126 Houve um pequeno avanço nessa área com a criação do Central Emergency Response Fund (CERF) [Fundo Central de Resposta às Emergências] da ONU, em 2006, para garantir a disponibilidade de recursos para situações de emergência e crises repentinas. Trata-se de um fundo central, cuja maior parte de seu dinheiro não está alocada para nenhum uso específico. Contudo, embora esse fundo tenha resolvido o problema da falta de doações voluntárias para algumas emergências, isso meramente desloca o problema para outro campo, já que o próprio CERF depende da disposição dos doadores de reabastecê-lo.

127 Também houve um pequeno avanço no sentido de aumentar os programas de transferência de renda. O PMA abraçou a ideia, mas, em 2010 e 2011, dedicou somente 7% do seu portfólio para esses programas (J. Prout, PMA: ‘Cash and Vouchers’ [Dinheiro e Cupons], apresentação no 2º Seminário Global sobre Dinheiro e Cupons do PMA, 22 e 23 de novembro de 2010, Roma). Os doadores também estão mudando, mas muitos ainda reservam a maior parte do dinheiro para a ajuda alimentar. Por exemplo, a Direção Geral para Ajuda Humanitária e Proteção Civil (DG ECHO, na sigla em inglês) atualmente aloca apenas 10% de seu portfólio de assistência alimentar para os programas de transferência de renda, enquanto 60% vão para a ajuda em espécie (e o restante vai para uma combinação dos dois). DG ECHO: ‘DG ECHO Perspectives on Cash Transfer Programming’ [Perspectivas dos Programas de Transferência de Renda], apresentação para o evento de aprendizado global da CaLP, 16 de fevereiro de 2011, Bangcoc.

128 Banco Mundial (2008). ‘Double Jeopardy’ [Desafio Duplo], op. cit.

129 Força-Tarefa de Alto Nível da ONU para a Crise Alimentar Global (2008): ‘Comprehensive Framework for Action’ [Plano de Ação Abrangente].

130 Por exemplo, sobre as transferências de renda, acesse: http://www.dfd.gov.uk/r4d/PDF/Articles/Evidence_Paper-FINAL-CLEARAcknowledgement.pdf

131 A Iniciativa do Piso de Proteção Social da ONU promove o acesso universal a serviços e transferências sociais essenciais. Cálculos de várias agências da ONU mostram que um piso básico de transferências sociais é viável para o mundo todo em praticamente qualquer estágio do desenvolvimento econômico, mesmo se o financiamento ainda não estiver disponível em toda a parte. A iniciativa corresponde a um conjunto de direitos sociais, facilidades e serviços básicos de que todas as pessoas deveriam desfrutar. Acesse: http://www.ilo.org/gimi/gess/ShowTheme.do?tid=1321

132 http://www.ids.ac.uk/go/idsproject/the-new-bottom-billion

133 Oxfam Internacional (2010). ‘Halving Hunger’ [Reduzindo a Fome pela Metade], op. cit.

134 Idem.

135 Um resultado essencial para o CSS é um novo Marco Estratégico Global sobre Segurança Alimentar e Nutrição – um plano dinâmico que possa fornecer um conjunto de regras para garantir a cooperação e a coerência política entre os países e que possa evoluir para enfrentar os desafios que surjam nesta era de crises crescentes.

71

136 Fórum de Especialistas de Alto Nível da FAO (2009). ‘The Special Challenge for Sub-Saharan Africa’ [O Desafio Especial para a África Subsaariana]: http://www.fao.org/fleadmin/templates/wsfs/docs/Issues_papers/HLEF2050_Africa.pdf

137 The Economist, 26 de agosto de 2010: ‘The Miracle of the Cerrado’ [O Milagre do Cerrado]: http://www.economist.com/node/16886442?story_id=16886442

138 A agricultura é a fonte de emprego mais importante para as mulheres de áreas rurais na maioria das regiões dos países em desenvolvimento, FAO (2011): ‘State of Food and Agriculture’ [Situação da Alimentação e da Agricultura].

139 O crescimento originado na agricultura, em particular no setor de agricultura em pequena escala, é pelo menos duas vezes mais eficaz em beneficiar os mais pobres do que o crescimento originado em outros setores, FAO (2010): ‘How to Feed the World’ [Como Alimentar o Mundo], p. 2. Veja também: Ha-Joon Chang (2009). ‘Rethinking Public Policy in Agriculture: Lessons from History, Distant and Recent’ [Repensando a Política Pública na Agricultura: Lições da História Distante e Recente], Journal of Peasant Studies, 36:3, julho de 2009, pp.477-515.

140 Jules Pretty et al. ‘Resource-Conserving Agriculture Increases Yields in Developing Countries’ [Agricultura com Conservação de Recursos Aumenta a Produção nos Países em Desenvolvimento], Environmental Science and Technology, 40:4, 2006, pp. 1114-9. A cifra de 79% refere-se a 360 comparações confiáveis de 198 projetos. Houve uma grande amplitude de resultados, na qual 25% dos projetos informaram um aumento de 100% ou mais.

141 J. Pretty et al. ‘Sustainable Intensification in African Agriculture’ [Intensificação Sustentável na Agricultura Africana], International Journal of Agricultural Sustainability, 9:1, 2011.

142 Africare, Oxfam América, Projeto do WWF–ICRISAT (2010). ‘More Rice for People, More Water for the Planet’ [Mais Arroz para o Povo, Mais Água para o Planeta], Projeto do WWF–ICRISAT, Hyderabad, Índia.

143 FAOSTAT, banco de dados estatísticos da FAO, e Foresight (2011), op. cit., figura 4.1.

144 Baixa produção não significa baixa produtividade. A primeira mede a colheita por unidade de área. A última mede a colheita dividida por todos os fatores da produção: terra, capital, etc.

145 ‘A Special Report on Feeding the World’ [Um Relatório Especial sobre a Alimentação do Mundo], The Economist, 24 de fevereiro de 2011.

146 PNUMA (2010). ‘Africa Water Atlas: Improving the Quantity, Quality and Use of Africa’s Water’ [Atlas de Águas da África: Melhorando a Quantidade, a Qualidade e o Uso da Água na África]: http://na.unep.net/atlas/africaWater/downloads/chapters/africa_water_atlas_123-174.pdf

147 Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida) (2011). ‘High-yielding varieties of rice have been adopted on more than 200,000 hectares of farmland’ [Variedades de arroz de alta produtividade foram adotadas em mais de 200 mil hectares de terras agrícolas], Rural Poverty Report: http://www.ifad.org/rpr2011/report/e/rpr2011.pdf

148 http://www.ifad.org/operations/food/farmer.htm

149 Redução de 20,4% a partir de 1983. Cálculos baseados no banco de dados de Compromissos Bilaterais Oficiais por Setor da OCDE CAD5. Inclui silvicultura e pesca.

150 O progresso não foi uniforme, mas o número de países que alcançaram ou excederam a meta havia dobrado em 2006, CAADP (2009). ‘How are Countries Measuring up to the Maputo Declaration?’ [Como os Países Estão se Saindo em Relação à Declaração de Maputo?], Informativo do CAADP, junho de 2009.

151 The Economist, 25 de fevereiro de 2011.

152 http://www.weforum.org/issues/agriculture-and-food-security/index.html

153 A Mars, empresa de alimentos e bebidas, recentemente passou a colaborar com a IBM e o Departamento de Agricultura dos EUA para sequenciar o genoma do cacau e torná-lo disponível para o público, argumentando que a longo prazo isso vai melhorar a sustentabilidade da produção de cacau, a qual, em sua maior parte, vem de pequenos produtores. Acesse: www.cacaogenomedb.org

154 O Diálogo de Cartagena para uma Ação Progressiva é um espaço informal aberto a todos os países que negociam um acordo no âmbito da UNFCCC. Seu objetivo é oferecer um fórum no qual as partes possam sair dos blocos de negociação tradicionais, discutir abertamente e justificar suas posições com vistas a obter consenso e promover o progresso dentro das negociações formais. Atualmente, 30 países participam desse fórum.

155 PNUMA (2011). ‘Towards a Green Economy’ [Rumo à Economia Verde].

156 ‘Sustainable Bioenergy: A Framework for Decision Makers’ [Bioenergia Sustentável: Uma Estrutura para os Tomadores de Decisões], UN–Energy, 2007.

157 Com base em um terço de aumento nos preços do petróleo nos próximos dois anos. http://blogs.odi.org.uk/blogs/main/archive/2011/03/16/oil_prices_poor_countries_africa_shocks_vulnerabilities.aspx?utm_source=mediarelease&utm_medium=email&utm_campaign=20110316

158 http://news.mongabay.com/2010/1201-brazil_deforestation_2010.html

159 PNUMA (2010). ‘Universal Ownership: Why environmental externalities matter to institutional investors?’ [Propriedade Universal: Por que as externalidades ambientais são importantes para os investidores institucionais?].

160 O PIB chinês em 2010 foi estimado em US$ 5,75 trilhões, com base nas taxas de câmbio oficiais, de acordo com o factbook da CIA.

161 De acordo com o Pew Centre Research, a China está no topo da lista do G20 em investimentos em fontes renováveis de energia, com aplicação de recursos na ordem de US$ 34,6 bilhões em 2009, em comparação com os US$ 18,6 bilhões dos EUA, que estão em segundo lugar. Acesse: http://spreadsheets.google.com/ccc?key=tt8j-Ns4J9xxoQlFLf_vMfQ#gid=0

162 http://www.ft.com/cms/s/0/85632536-74ed-11df-aed7-00144feabdc0,dwp_uuid=e11d5c1a-74ee-11df-aed7-00144feabdc0. html#axzz1IGpyVZcG

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Lista de imagensCapa: Agricultoras da região de Astuare, Gana. Chris Young/Oxfam.

Pág. 3: A família Phon trabalha nos seus arrozais em Kompong Thom, na zona central do Camboja. Abbie Trayler-Smith/Oxfam.

Págs. 4 e 25: Os vendedores de arroz Sok Nain e Mach Bo Pha no mercado de Dem Kor em Phnom Penh. Vendedores dizem que seus benefícios caíram 30% quando o preço do arroz disparou em 2008 (Camboja, 2008). Abbie Trayler-Smith/Oxfam.

Pág.6: Famílias em Flinigue, no Níger, recebem cupons de alimentação da Oxfam. Os cupons dão a eles a liberdade de escolher o que querem comprar em um armazém específico (agosto de 2010). Caroline Gluck/Oxfam.

Pág.7: Kimba Kidbouli, 60 anos, Níger. Caroline Gluck/Oxfam.

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Pág.9: Mulheres da aldeia de Dola constroem uma vala para irrigar suas hortaliças. Os municípios das zonas montanhosas do Nepal carecem de investimentos em agricultura e enfrentam um aumento dos preços dos alimentos e uma baixa de produção, devido à mudança climática (Nepal, 2010). Tom Piestrasik.

Pág. 10: Yolanda Contreas Suárez, 53 anos, oito filhos, agricultora e dona de casa (San Cristóval). Lucy Brinicombe/Oxfam.

Pág. 14: Charles Kenani, em pé, no seu campo de arroz. O sistema de irrigação financiado pela Oxfam em Mnembo ajudou 400 famílias no Malawi a transformar seus pequenos cultivos, pouco produtivos, em várias colheitas por ano, proporcionando continuamente alimentos e fontes de renda (Malawi, 2008). Abbie Trayler-Smith.

Pág. 16: O preço do arroz disparou em 2008. A pilha de arroz à esquerda foi comprada em 2008. A pilha da direita mostra o que seria comprado pelo mesmo valor em 2007 (Camboja, 2008). Abbie Trayler-Smith/Oxfam.

Pág. 28: Noograi Snagsri gasta agora menos tempo trabalhando nos campos graças ao novo sistema integrado de produção, no qual a água é bombeada diretamente para a plantação. Em 2007, os produtores da província de Yasothorn, no Nordeste da Tailândia, sofreram a maior seca registrada em anos (Tailândia, 2010). Mongkhonsawat Luengvorapant/Oxfam.

Pág. 29: Cachos de dendê, matéria-prima para o óleo de palma usado na produção de diversos alimentos, sabão e biocombustível. Tom Greenwood/Oxfam GB.

Pág. 33: A agricultora Norma Medal Sorien não tem o direito legal de cultivar a terra, que pertence ao seu irmão. Mas tem esperança, já que é o primeiro ano em que irriga sua produção por gotejamento, com financiamento da Oxfam, e isto será mais eficiente, pois reduz a quantidade de água necessária (México, 2010). Lucy Brinicombe/Oxfam.

Pág. 37: Suren Barman com a vaca que foi obrigado a vender. “O preço dos produtos básicos é excessivamente alto. Não dá para eu comprar comida com regularidade. Estou aos poucos vendendo os meus pertences para manter minha família” (Dinajpur, Bangladesh, 2008). Oxfam GB.

Pág. 40: Ajuda alimentar dos EUA. Em um centro de distribuição de alimentos do governo, um saco de milho e soja espera para ser distribuído (Etiópia, 2008). Sara Livingston/Oxfam América.

Pág. 41: Pesagem de arroz no centro Gor Khamhi para o Sistema de Distribuição Pública. Embora seja uma importante rede de segurança para a população faminta, o Sistema de Distribuição Pública (PDS) da Índia não atende de modo adequado às necessidades calóricas das comunidades rurais vulneráveis (Índia, 2011). Tom Pietrasik/Oxfam.

Pág. 42: Bayush, mãe solteira e agricultora, tem esperanças de que a sua vida melhore, agora que está recebendo formação como parte do Programa de Desenvolvimento Empresarial, para vender óleo de gengibre. A empresa Assosa, de agricultores, apoiada pela Oxfam, busca o aumento de renda dos cultivos de hortaliças e sementes (Etiópia, 2010). Carol Salter/Oxfam.

Pág. 44: Osvaldo Peñaranda, 48, com seus pés de tomate em canteiros elevados. As enchentes são cada vez mais imprevisíveis nessa área da Bacia Amazônica (Bolívia, 2007). Mark Chilvers.

Pág. 45: Noograi Snagsri agora passa menos tempo trabalhando no campo graças ao novo sistema de cultivo integrado, pelo qual a água é bombeada diretamente para os campos. Em 2007, os agricultores da província de Yasothorn, no Nordeste da Tailândia, tiveram o mais longo período de seca em décadas (Tailândia, 2010). Mongkhonsawat Luengvorapant/Oxfam.

Pág. 48: Um moinho de vento bombeia água para um tanque de armazenamento para abastecer a propriedade de Manoon Phupa. Em 2007, os agricultores da província de Yasothorn, no Nordeste da Tailândia, tiveram o mais longo período de seca em décadas. Desde 2004, a Oxfam trabalha em parceria com a organização local Earth Net Foundation para promover entre os agricultores a produção agrícola orgânica e o comércio justo (Tailândia, 2010). Mongkhonsawat Luengvorapant/Oxfam.

Pág. 49: Roni, Marta e Denilson almoçam na Creche da Vila Irmã Dulce, Brasil. A comunidade fez lobby para conseguir escola, professores e refeições gratuitas para as crianças (Brasil, 2004). Gilvan Barreto/Oxfam.

Pág. 52: Moradores de Trinidad, Bolívia, atravessam uma ponte entre canteiros elevados. As enchentes são cada vez mais imprevisíveis nessa área da Bacia Amazônica (Bolívia, 2007). Jane Beesley/Oxfam.

Pág. 54: Edward Chikwawa segura as sementes que vai plantar na área irrigada de Chitimba (Malawi, 2008). Nicola Ward/Oxfam.

Pág. 59: Leyla Kayere, 76, removendo ervas daninhas de seus tomates. O projeto de irrigação de Mnembo, financiado pela Oxfam, já ajudou 400 famílias no Malawi, ao transformar suas pequenas lavouras de baixa produção em grandes safras, que ocorrem o ano inteiro e fornecem continuamente alimentos e uma fonte de renda (Malawi, 2009). Abbie Trayler-Smith.

Pág. 61: Avó e neta retornam para casa após colheita de mostarda no vilarejo de Belauhi, na Índia. Os agricultores de Belauhi aprenderam novas técnicas agrícolas, como a irrigação e o uso de novas culturas resistentes a secas, a exemplo das sementes oleaginosas e de leguminosas, que trouxeram mais segurança alimentar para os moradores (Índia, 2011). Tom Piestrasik.

Pág. 63: Tomates, Malawi. Abbie Trayler-Smith.

Pág. 64: Mandefro Tesfay se uniu em 2005 ao programa de reprodução de sementes financiado pela Oxfam na Etiópia. Os agricultores aprendem a melhorar os seus rendimentos e têm acesso a fertilizantes e a sementes melhoradas resistentes à seca e ao amadurecimento prematuro (Etiópia, 2009). Caroline Gluck/Oxfam.

Pág. 66: Especiarias à venda (Índia). Tom Piestrasik.

Pág. 67: Nilanthi (à direita), que junto com Kusumawathi (à esquerda) coleta folhas de chá em sua terra, é a secretária da Associação Diriya de Produtores Familiares de Chá, que representa 42 famílias de pequenos produtores de chá da região. Cada um deles tem menos de um acre de terra. Caroline Gluck/Oxfam.

Contracapa: Colheita de azeitonas na cooperativa SIR. David Levene/Oxfam.

Nosso sistema mundial de alimentos funciona apenas parapoucos.Paraamaioriadenós,eleestáfalido.Issodeixaosbilhõesdenós,queconsumimosalimentos,semconhecimentoepodersuficientesobreoquecompramose sobre o que comemos. Quase um bilhão de nós passa fome,eamaioriadospequenosprodutoresdealimentosnão tem poder ou capacidade para desenvolver seu potencial. O fracasso do sistema acontece devido ao fracassodosgovernosemregular,corrigir,proteger,resistireinvestir,oquesignificaqueaselites,asempresas e os grupos de interesse manipulam o sistema paradirecionarrecursosfinanceiros,conhecimentoecomidaparaservi-los.

Este relatório descreve a nova era de crises crescentes, de choques consecutivos: crescimento vertiginoso dos preços dos alimentos e instabilidade nos preços do petróleo, eventos climáticos devastadores, quebras financeiras e contágio global. Por trás de cada um desses eventos, as crises amadurecem a fogo lento: uma mudança climática insidiosa e iminente, crescimento das desigualdades, fome crônica e vulnerabilidade, erosão de nossos recursos naturais.

Com base nas experiências e nas pesquisas da equipe da Oxfam e de parceiros em todo o mundo, Crescendo para um Futuro Melhor mostra como o sistema de produção de alimentos provoca vulnerabilidades e, ao mesmo tempo, é suscetível a elas. Com dados atuais e inúmeros recortes da realidade mundial, este relatório analisa por que o século XXI ainda tem 925 milhões de pessoas com fome. De igual forma, apresenta novas pesquisas com a previsão de aumento de 120% a 180% no preço dos grãos básicos nas próximas duas décadas, ao tempo em que a pressão sobre recursos aumenta e a mudança climática se estabelece.

Crescendo para um Futuro Melhor dá base para a nova campanha com uma mensagem simples: outro futuro é possível e podemos construí-lo juntos. Nos próximos anos, ações decisivas em todo o planeta podem permitir que centenas de milhões de pessoas ou mais alimentem suas famílias e evitem que eventos climáticos catastróficos destruam o seu (e o nosso) futuro. Redes de cidadãos, consumidores, produtores, comunidades, movimentos sociais e organizações da sociedade civil reivindicam mudanças e incentivos políticos e dos negócios redirecionados por suas decisões e escolhas. A campanha “Cresça”, da Oxfam, trabalhará com estes atores sociais e outros como eles para construir uma onda irresistível de mudanças.

www.oxfam.org/grow

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