credo social da igreja metodista - cânones 2012/2016

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CAPíTULO III D O C REDO S OCIAL Art. - A doutrina social da Igreja Metodista se expressa no Credo Social, objeto de decisão do XVI Concílio Geral, conforme segue: I - Nossa herança 1 - A Igreja Metodista afirma sua responsabili- dade cristã pelo bem-estar integral do ser humano como decorrência de sua fideli- dade à Palavra de Deus expressa nas Es- crituras do Antigo e Novo Testamentos. 2 - Essa consciência de responsabilidade so- cial constitui parte da preciosa herança confiada ao povo metodista pelo teste- munho histórico de João Wesley. 3 - O exercício dessa missão é inseparável do Metodismo Universal ao qual está vinculada a Igreja Metodista por unidade de e relações de ordem estrutural esta- belecidas nos Cânones. Cânones da Igreja Metodista 51

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  • CAPTULO III

    DO CREDO SOCIAL

    Art. 4 - A doutrina social da Igreja Metodista se expressa no Credo Social, objeto de deciso do XVI Conclio Geral, conforme segue:

    I - Nossa herana

    1 - A Igreja Metodista afirma sua responsabili-

    dade crist pelo bem-estar integral do ser humano como decorrncia de sua fideli- dade Palavra de Deus expressa nas Es- crituras do Antigo e Novo Testamentos.

    2 - Essa conscincia de responsabilidade so-

    cial constitui parte da preciosa herana confiada ao povo metodista pelo teste- munho histrico de Joo Wesley.

    3 - O exerccio dessa misso inseparvel

    do Metodismo Universal ao qual est vinculada a Igreja Metodista por unidade de f e relaes de ordem estrutural esta- belecidas nos Cnones.

    Cnones da Igreja Metodista 51

  • 4 - A Igreja Metodista participa dos propsi-

    tos de unidade crist e servio mundial, do CMI (Conselho Mundial de Igrejas), do Ciemal (Conselho de Igrejas Evan- glicas Metodistas da Amrica Latina e Caribe), do Clai (Conselho Latino-Ame- ricano de Igrejas) e do Conic (Conselho Nacional de Igrejas Crists).

    5 - No presente sculo de gigantesco pro-

    gresso cientfico e tecnolgico, a Igreja Metodista reafirma a verdade proclama- da por Joo Wesley, no sculo XVIII, na Inglaterra: Vamos unir cincia e pieda- de vital h tanto tempo separadas.

    II Bases Bblicas

    1 - Cremos em Deus, Criador de todas as

    coisas e Pai de toda a famlia humana, fonte de todo o Amor, Justia e Paz, autoridade soberana sempre presente.

    2 - Cremos em Jesus Cristo, Deus Filho, que

    se fez homem como cada um de ns, amigo e redentor dos pecadores e das pecadoras, Senhor e Servo de todos os homens e de todas as mulheres, em quem todas as coisas foram criadas.

    3 - Cremos no Esprito Santo, Deus defen-

    sor, que conduz os homens e as mu- lheres livremente Verdade, conven- cendo o mundo do pecado, da justia e do juzo.

    52 Cnones da Igreja Metodista

  • 4 - Cremos que o Deus nico estava em Cris-

    to, reconciliando consigo o mundo, criando uma nova ordem de relaes na Histria, perdoando os pecados dos homens e das mulheres e encarregan- do-nos do ministrio da reconciliao.

    5 - Cremos no Reino de Deus e sua Justia, que

    envolve toda a criao, chamando todos os homens e todas as mulheres a se rece- berem como irmos e irms participan- do, em Cristo, da nova vida de plenitude.

    6 - Cremos que o Evangelho, tomando a for-

    ma humana em Jesus de Nazar, filho de Maria e de Jos, o carpinteiro, o po- der de Deus que liberta completamente todas as pessoas, proclamando que no existe nenhum valor acima da pessoa humana, criada imagem e semelhana de Deus.

    7 - Cremos que a comunidade crist universal

    serva do Senhor; sua misso nasce sempre dentro da misso do seu nico Senhor que Jesus Cristo. A unidade crist a ddiva de sacrifcio do Cordeiro de Deus; viver divididos negar o Evangelho.

    8 - Cremos que so bem-aventurados/as os/

    as humildes de esprito, os/as que so- frem, os/as mansos/as, os/as que tm fome e sede de justia, os/as que pra- ticam a misericrdia, os/as simples de corao, os/as que trabalham pela paz, os/as que so perseguidos/as pela causa da justia e do nome do Senhor.

    Cnones da Igreja Metodista 53

  • 9 - Cremos que a Lei e os Profetas se cumprem em amar a Deus com todas as foras da nossa vida e em amar ao nosso prxi- mo como a ns mesmos. Pois ningum pode amar a Deus e menosprezar a seu irmo e a sua irm.

    10 - Cremos que ao Senhor pertence a terra e

    a sua plenitude, o mundo e todos e to- das que nele habitam; por isso procla- mamos que o pleno desenvolvimento humano, a verdadeira segurana e or- dem sociais s se alcanam na medida em que todos os recursos tcnicos e econmicos e os valores institucionais esto a servio da dignidade humana na efetiva justia social.

    1 1- Cremos que o culto verdadeiro que

    Deus aceita dos homens e das mulhe- res aquele que inclui a manifestao de uma vivncia de amor, na prtica da justia e no caminho da humildade junto com o Senhor.

    III A ordem poltico-social e econmica

    1 - A natureza social do homem e da mu- lher procede da ordem da criao e significa que sua plena realizao s alcanada na vida em comunidade.

    2 - A comunidade familiar, resultante da

    natureza humana, a ordem econmica resultante do conjunto das atividades

    54 Cnones da Igreja Metodista

  • humanas de produo, consumo e co- mrcio de bens, e a ordem poltica ex- pressam exigncias da prpria ordem da criao divina.

    3 - O Estado exigncia bsica, no s para

    a defesa da vida e liberdade da pessoa humana, mas para a promoo do bem- -comum mediante o desenvolvimento da justia e da paz na ordem social.

    4 - Os quesitos do Bem Estar Social (sa-

    de, segurana, educao, etc.) so di- reitos garantidos a todo e qualquer ci- dado e a toda e qualquer cidad.

    5 - O ser humano tem o dever de adminis-

    trar a terra e seus recursos, que Deus lhe confiou, segundo os critrios do Se- nhor. Um dos caminhos para a efetiva atuao na transformao da socieda- de a participao na elaborao de polticas pblicas justas.

    6 - Em cada poca e lugar surgem proble-

    mas, crises e desafios atravs dos quais Deus chama a Igreja a servir. A Igreja, guiada pelo Esprito Santo, consciente de sua prpria culpabilidade e instru- da por todo conhecimento competente, busca discernir e obedecer a vontade de Deus nessas situaes especficas.

    7 - A Igreja Metodista considera, na pre-

    sente situao do Pas e do mundo, como de particular importncia para

    Cnones da Igreja Metodista 55

  • sua responsabilidade social o discerni- mento das seguintes realidades:

    a) Deus criou os povos para constituir

    uma famlia universal. Seu amor re- conciliador em Jesus Cristo vence barreiras entre irmos e irms e des- tri toda forma de discriminao en- tre os homens e as mulheres. A Igreja chamada a conduzir todos e todas a se receberem e a se afirmarem uns aos outros e umas s outras como pessoas em todas as suas relaes na famlia, na comunidade, no trabalho, na educao, no lazer, na religio e no exerccio dos direitos polticos.

    b) A reconciliao do mundo em Je-

    sus Cristo a fonte da justia, da paz e da liberdade entre as naes; todas as estruturas e poderes da sociedade so chamados a partici- par dessa nova ordem. A Igreja a comunidade que exemplifica essas relaes novas do perdo, da justi- a e da liberdade, recomendando- -as aos governos e naes como caminho para uma poltica respon- svel de cooperao e paz.

    c) A reconciliao das naes se torna

    especialmente urgente num tempo em que pases desenvolvem armas nucleares, qumicas e biolgicas, desviando recursos ponderveis

    56 Cnones da Igreja Metodista

  • de fins construtivos e pondo em

    risco a humanidade.

    d) A reconciliao do homem e da

    mulher em Jesus Cristo torna cla- ro que a pobreza escravizadora em um mundo de abundncia uma grave violao da ordem de Deus; a identificao de Jesus Cristo com o necessitado e com a necessitada e com os oprimidos e as oprimidas, a prioridade da justia nas Escritu- ras, proclamam que a causa dos/ das pobres do mundo a causa dos seus discpulos.

    e) A pobreza de imenso contigente

    da famlia humana, fruto dos dese- quilbrios econmicos, de estrutu- ras sociais injustas, da explorao dos indefesos e das indefesas, da carncia de conhecimentos, uma grave negao da justia de Deus.

    f) As excessivas disparidades cultu-

    rais, sociais e econmicas negam a justia e pem em perigo a paz, exigindo da sociedade, como um todo, interveno competente com planejamento eficaz para venc-las.

    g) injusto aumentar a riqueza dos

    ricos e das ricas e poder dos/das fortes confirmando a misria dos/ das pobres e oprimidos e oprimi- das. Os programas para aumentar

    Cnones da Igreja Metodista 57

  • a renda nacional precisam criar

    distribuio equitativa de recur- sos, combater discriminaes, ven- cer injustias econmicas e libertar o homem da pobreza.

    h) No individualismo e no coletivis-

    mo, tanto quanto em programas de crescimento econmico e justi- a social, encontramos os riscos de humanismos parciais. Urge que se promova o humanismo pleno. A plena dimenso humana s se en- contra nas novas relaes criadas por Deus em Jesus Cristo.

    8 - A Igreja Metodista reconhece os rele-

    vantes servios da Organizao das Naes Unidas no aprimoramento e defesa dos Direitos Humanos, assim como seus esforos em favor da justia e da paz entre as naes. Recomenda como extremamente oportunos a De- clarao Universal dos Direitos Humanos e documento sobre Desenvolvimento e Progresso Social, adotado pela Assem- bleia em dezembro de 1969.

    IV Responsabilidade civil

    1 - A Igreja Metodista reconhece que sua

    tarefa docente capacitar os membros de suas congregaes para o exerccio de uma cidadania plena.

    58 Cnones da Igreja Metodista

  • 2 - O propsito primordial dessa misso

    servir ao Brasil por meio da participa- o ativa do povo metodista na forma- o de uma sociedade consciente de suas responsabilidades.

    3 - A sociedade consciente de suas res-

    ponsabilidades desenvolve-se em trs nveis bsicos:

    a) de responsabilidade da comuni-

    dade como um todo perante Deus, especialmente na criao de condi- es de igual participao de todos os seus membros;

    b) de responsabilidade do cidado e

    da cidad para com a justia e a or- dem pblica na comunidade;

    c) de responsabilidade dos/das que

    exercem o governo quanto ao uso que fazem do poder.

    4 - Nesse propsito, a Igreja adota a De-

    clarao Universal dos Direitos Hu- manos e reafirma os critrios definidos no relatrio especializado do Conselho Mundial de Igrejas em sua II Assem- bleia, reunida em Evanston (EUA), em 1954, nos seguintes termos:

    a) criao de canais adequados de ao

    poltica a fim de que o povo tenha a liberdade de escolher seu governo;

    b) proteo jurdica a todos e todas

    Cnones da Igreja Metodista 59

  • contra prises arbitrrias e quais-

    quer atos que interfiram em direi- tos humanos;

    c) liberdade de expresso legtima de

    convices religiosas, ticas e pol- ticas;

    d) a famlia, a igreja, a universida-

    de, associaes com fundamentos prprios, demandam proteo do Estado e no o controle estatal em sua vida interna.

    5 - A soberania de Deus revelada na en-

    carnao de Jesus Cristo sobre todas as autoridades e poderes da sociedade a garantia ltima, reconhecida ou no, da responsabilidade do/da homem/mu- lher para com o/a seu/sua semelhante.

    V Problemas sociais

    Problemas sociais so manifestaes patolgicas

    do organismo social como um todo; originam-se de situaes estruturais da sociedade e da men- talidade das pessoas conduzindo-as a condies de vida infra-humana e produzindo a margina- lizao scio-econmica e cultural de indivduos e populaes.

    Os problemas sociais so causa e efeito da

    marginalizao passiva ou ativa das pessoas, e dizem respeito s carncias nos setores b- sicos de Alimentao, Educao, Habitao, Sade, Cultura, Carncia de F Crist, Recre-

    60 Cnones da Igreja Metodista

  • ao, Trabalho, Comunicao Social, Seguro Social, e as manifestaes da conduta huma- na que se opem s normas estabelecidas por determinada sociedade. Os problemas sociais so prprios de uma determinada comunidade em determinada poca e, por isso, precisam ser analisados no contexto scio-econmico e cul- tural especfico.

    A Igreja Metodista considera que:

    1 - O ser humano como pessoa criada

    imagem e semelhana de Deus a rea- lidade para a qual devem convergir to- dos os valores e recursos da sociedade.

    2 - A pessoa humana membro do corpo

    social e dele simultaneamente agente e sujeito.

    3 - A sociedade um todo social, sujeito

    permanentemente influncia de fa- tores que o modificam, que o pressio- nam impondo mudanas profundas no comportamento humano.

    4 - Para que uma sociedade traduza o sen-

    tido cristo de humanidade necessrio que, a par com a mudana das estrutu- ras sociais, se processe uma transfor- mao da mentalidade humana. O sen- tido cristo de humanidade s pode ser alcanado em uma sociedade na qual as pessoas tenham vida comunitria, conscincia de solidariedade humana e de responsabilidade social.

    Cnones da Igreja Metodista 61

  • 5 - Individualismo e massificao so cau-

    sas graves de problemas sociais; ambos negam o Evangelho porque desperso- nalizam o ser humano.

    6 - A comunidade familiar expressa

    exigncias fundamentais da criao divina. A famlia est sujeita inse- gurana econmica, s tenses e aos desajustamentos que acompanham as mudanas scio-culturais. O planeja- mento familiar um fator essencial; dele resultam a paternidade e mater- nidade responsveis, o compromisso de cada pessoa que compe a famlia, o ajustamento entre os cnjuges, a educao dos/das filhos/as, a admi- nistrao do lar.

    a) A Igreja Metodista aceita e reco-

    menda o uso dos recursos da medi- cina moderna para o planejamento familiar, quando no contrariam a tica crist. O sexo, na tica crist, considerado ddiva de Deus vida por ele mesmo criada. A educao para a vivncia da sexualidade uma responsabilidade da famlia, da igreja e das instituies educa- cionais.

    7 - O Evangelho concede Igreja recursos

    de natureza tica para acolher em seu seio casais constitudos sem amparo da legislao vigente.

    62 Cnones da Igreja Metodista

  • 8 - A prostituio grave alienao da

    pessoa humana exigindo tratamento responsvel. No tratamento da pros- tituio, que constitui grave problema na sociedade brasileira, impossvel ignorar-se um complexo de fatores como fonte causadora da mesma: li- mitaes de ordem pessoal, estruturas defeituosas da sociedade, carncias culturais econmicas, dupla moral se- xual, lenocnio, explorao do sexo nos meios de comunicao social, grande contigente de crianas e adolescentes desatendidos em suas necessidades bsicas de alimentao, habitao, cui- dados com a sade, amor e compreen- so, educao, proteo e recreao. de inadivel urgncia, no Brasil, a tomada de providncias que visem ao cumprimento do Estatuto da Criana e do Adolescente, proclamado na Cons- tituio Federal.

    9 - No Brasil, constata-se a existncia de

    grande contigente de crianas desaten- didas em suas necessidades bsicas de alimentao, habitao, cuidados com a sade, amor e compreenso, educao, proteo e recreao. Essas carncias da primeira infncia so, via de regra, irreversveis. de inadivel urgncia, no Brasil, a tomada de providncias que visem ao cumprimento dos Direi- tos da Criana que foram proclamados

    Cnones da Igreja Metodista 63

  • pela Assembleia Geral das Naes Uni-

    das em 20 de novembro de 1959.

    10 - A juventude predominante na popu-

    lao brasileira, representando alta po- tencialidade e dinamismo no processo de desenvolvimento do pas. Suas as- piraes e seus problemas apresentam exigncias imperativas. O desenvol- vimento scio-cultural, econmico e poltico do Brasil no pode prescindir do concurso de sua juventude, que decisivo.

    11 - Meios de comunicao social letra,

    som, imagem e outros que contribuem poderosamente para a educao do povo esto trazendo tambm mui- ta influncia negativa que deforma as mentes e agride a sociedade.

    12 - Dentre os problemas que afetam a

    sociedade, esto os chamados vcios, como: o uso indiscriminado de entor- pecentes, a fabricao, comercializa- o e propaganda de cigarros, bebidas alcolicas, a explorao dos jogos de azar, que devem ser alvo de combate tenaz j pelos efeitos danosos sobre os indivduos como tambm pelas im- plicaes scio-econmicas que acar- retam ao Pas.

    13 - Os presdios devem ser para reeduca-

    o e tratamento dos indivduos e para tal precisam estar devidamente equipa-

    64 Cnones da Igreja Metodista

  • dos e organizados. direito da pessoa

    receber, em qualquer lugar e circuns- tncia, o tratamento condizente com a natureza e a dignidade humanas.

    A Igreja Metodista no s deplora os problemas

    sociais que aniquilam as comunidades e os valo- res humanos, mas orienta a seus/suas membros no tratamento dos problemas dentro das seguin- tes normas e critrios:

    a) propugnar por mudanas estru-

    turais da sociedade que permi- tam a desmarginalizao social dos indivduos, grupos e das po- pulaes;

    b) trabalhar para obter dos que j des-

    frutam das oportunidades normais de participao scio-econmica e cultural e dos que tm a respon- sabilidade do poder diretivo da comunidade, uma mentalidade de compreenso e de ao eficaz para erradicao da marginalidade;

    c) oferecer s pessoas vitimadas pe-

    los problemas sociais a necessria compreenso, o apoio econmico e o estmulo espiritual para sua liber- tao, a orientao individualizada, respeitando sempre a sua autode- terminao;

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  • d) pautar-se em normas tcnicas atu- alizadas e especficas de cada situ- ao-problema, no tratamento das mesmas, utilizando os recursos co- munitrios especializados;

    e) amar efetivamente as pessoas ca- minhando com elas at as ltimas consequncias para a sua liberta- o dos problemas e sua autopro- moo integral.

    66 Cnones da Igreja Metodista