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Page 1: CRÉDITO DE ICMS - APROVEITAMENTO INDEVIDO – … · - o STF já decidiu que é nulo o ato administrativo quando ... 16982053ª.doc Publicado no Diário Oficial em 16/6/2005

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

16982053ª.doc Publicado no Diário Oficial em 16/6/2005 - Cópia WEB 1

Acórdão: 16.982/05/3a Rito: Sumário

Impugnação: 40.010114664-72

Impugnante: Supermercado Arrastão Ltda.

PTA/AI: 01.000147976.48

Inscr. Estadual: 570.948093.00-09

Origem: DF/Montes Claros

EMENTA

CRÉDITO DE ICMS - APROVEITAMENTO INDEVIDO – DOCUMENTO FISCAL INIDÔNEO. Constatado o aproveitamento indevido de créditos de ICMS consignados em notas fiscais declaradas inidôneas. Infração caracterizada nos termos do artigo 134, inciso I do RICMS/02. Legítimas as exigências fiscais de ICMS, MR e MI prevista no artigo 55, inciso X da Lei n.º 6.763/75. Lançamento procedente. Decisão unânime.

RELATÓRIO

A autuação versa sobre a imputação fiscal de falta de recolhimento e/ou recolhimento a menor do ICMS, nos meses de janeiro e novembro de 2003, em função do aproveitamento de crédito do ICMS destacado em documentos fiscais declarados inidôneos.

Inconformada com as exigências fiscais, a Autuada impugna tempestivamente o Auto de Infração às fls. 23 a 26, por seu representante legal, aos seguintes argumentos:

- conforme comprovado pelo Fisco, em seu relatório, todos os atos declaratórios foram publicados em 03/06/2003, 26/07/2003 e 22/06/2004;

- a lei, ou qualquer dispositivo legal, neste caso, o Ato Declaratório de Inidoneidade, só tem validade, só tem eficácia após a publicação, não podendo retroagir em prejuízo do contribuinte;

- não tem meios para adivinhar que em 2003 e 2004, algum fornecedor seria considerado inidôneo;

- o STF já decidiu que é nulo o ato administrativo quando praticado com o apoio em fatos inexistentes;

- cita jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça;

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- os documentos fiscais emitidos para lastrear as operações identificam os contribuintes emitentes, devidamente cadastrados no Fisco Federal através de identificação do CNPJ, como também cadastrados na SEF/MG, com endereço também identificado nas respectivas notas fiscais;

- o ICMS enquanto realidade jurídica apresenta-se como emaranhado de regras, desenhando o contorno do imposto;

- a norma suprema a ser seguida é a da Constituição Federal e esta de modo taxativo apontou os únicos casos em que seria vedado o crédito e que esta vedação não contemplaria a entrada de mercadorias adquiridas pela Recorrente;

- se a empresa faz jus ao crédito pela entrada de mercadorias e este deve ser computado na sua conta corrente fiscal, não possui nenhum débito de ICMS a recolher;

- considerando que as mercadorias foram adquiridas em janeiro e novembro/2003, anteriormente aos atos que foram publicados em junho/2003, julho/2003 e junho/2004, a empresa impugnante nada deve à Fazenda.

Ao final pede a procedência da Impugnação.

O Fisco, em manifestação de fls. 44 a 47, refuta as alegações da defesa, aos seguintes fundamentos:

- a documentação fiscal foi considerada inidônea por força do inciso I do artigo 134 do RICMS/02 e nos termos deste dispositivo legal nota-se que o documento fiscal é inidôneo desde seu nascedouro pois não foi autorizada a sua impressão;

- os Atos Declaratórios mostram claramente que o motivo da declaração de inidoneidade é a “Impressão de documentos fiscais sem a devida autorização”, indicando inclusive as diferenças apresentadas em relação aos documentos fiscais autorizados;

- é obrigação do contribuinte exigir de outro a comprovação da regularidade nas operações que com ele realizar;

- todas as notas fiscais declaradas inidôneas foram objeto de apreensão pela polícia da Delegacia especializada na repressão à sonegação fiscal da cidade de Belo Horizonte/MG, havendo indícios de que contribuintes adquiriram notas fiscais para acobertar o trânsito de mercadorias ou aproveitar indevidamente créditos de ICMS;

- o Autuado não observou o disposto nos artigos 69 e inciso V do artigo 70, ambos do RICMS/02 para demonstrar que faz jus ao crédito do ICMS;

- o Ato Declaratório tem efeitos ex tunc;

- o Conselho de Contribuintes do Estado de Minas Gerais já julgou casos idênticos e decidiu pela procedência dos lançamentos.

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Requer a improcedência da Impugnação.

DECISÃO

Por meio do lançamento ora discutido exige-se ICMS, Multas de Revalidação e Isolada, esta última capitulada no artigo 55, inciso X da Lei n.º 6.763/75 em face da imputação fiscal de falta de recolhimento e/ou recolhimento a menor do ICMS, nos meses de janeiro e novembro 2003, em função do aproveitamento de crédito do ICMS destacado em documentos fiscais declarados inidôneos por terem sido confeccionados sem autorização para impressão.

Inicialmente importante observar que da análise do Relatório Fiscal verificamos que os contribuintes fornecedores de mercadorias para a Impugnante e que tiveram suas notas fiscais declaradas inidôneas foram:

- Distribuidora Nunes & Campos Ltda.;

- Distribuidora Bolão Ltda.;

- Distribuidora Álvaro Camargo Ltda.

Os Atos Declaratórios de Inidoneidade, relativos aos documentos emitidos por tais empresas são, respectivamente, os de nºs 13.578.060.000847, 13.062.710.000009 e 13.062.710.000016, publicados em 22 de junho de 2004, 03 de junho de 2003 e 28 de julho de 2003, conforme documentos constantes dos autos às fls. 11 a 13.

Como podemos perceber, a irregularidade apontada como causadora da falta e/ou recolhimento a menor do ICMS diz respeito ao aproveitamento indevido do ICMS destacado em documentos fiscais declarados falsos ou inidôneos.

No tocante a esta irregularidade cumpre esclarecer que referidos documentos fiscais foram relacionados às fls. 06/14. Acrescente-se que também nestes documentos temos as informações relativas aos Atos Declaratórios de Inidoneidade, os quais foram emitidos em função da ausência de autorização de impressão de documentos fiscais.

Lembramos aqui que, nos temos do inciso I do artigo 134 do RICMS/02, vigente à época dos fatos, considera-se inidôneo o documento confeccionado sem autorização de impressão:

“Art. 134 – Considera-se inidôneo o documento:

.................................................

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I – confeccionado sem autorização de impressão de

documentos fiscais, não obstante a existência

legal do estabelecimento;

................................................”

Da análise dos Atos Declaratórios de Inidoneidade mencionados acima, verificamos a existência de informações pertinentes ao motivo específico de sua lavratura e constando a data de sua publicação no Diário Oficial do Estado - “Minas Gerais”. Vale lembrar também que as cópias das notas fiscais autuadas foram acostadas aos autos.

Cumpre destacar que o procedimento de fiscalização que culminou na lavratura do Auto de Infração se iniciou posteriormente às datas de publicação dos Atos Declaratórios tendo o Termo de Início de Ação Fiscal - TIAF sido recebido pela Impugnante em 03 de novembro de 2004 e o lançamento sido formalizado através do Auto de Infração de 27 de dezembro de 2004.

Efetivamente os Atos Declaratórios apenas tornam público um vício preexistente nos documentos fiscais e, no caso em tela, foram publicados após a emissão das notas fiscais questionadas. No entanto, vale ressaltar que o Auto de Infração somente foi recebido pela Impugnante em dezembro de 2004, ou seja, meses após a publicação dos Atos Declaratórios, em alguns casos este prazo variou de 06 meses a 01 ano.

O Ato Declaratório de Inidoneidade ou Falsidade decorre de realização de diligência especialmente efetuada para a investigação da real situação do contribuinte e das operações por ele praticadas, providenciado nos termos do artigo 1º da Resolução n° 1.926/89, quando detectada a ocorrência de quaisquer das situações arroladas no artigo 3º da referida Resolução.

São pacíficos na doutrina os efeitos “ex tunc” do Ato Declaratório de Inidoneidade ou Falsidade, pois não é o Ato em si que impregna os documentos de inidoneidade ou falsidade, uma vez que tais vícios os acompanham desde sua emissão.

O Ato Declaratório tem o condão apenas de atestar uma situação que não é nova, não nascendo essa com a publicação do mesmo no Diário Oficial do Estado, a qual somente visa tornar pública uma situação preexistente.

Consiste em ato de reconhecimento de uma situação preexistente, não cria nem estabelece coisa nova, explicita a existência do que já existia, possuindo natureza declaratória e não natureza normativa.

O entendimento acima esposado acerca dos efeitos dos atos declaratórios de inidoneidade está inclusive presente em inúmeros julgados desta Casa.

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De conformidade com o disposto no artigo 4º da Resolução n° 1.926/89, é facultado ao contribuinte que tenha efetuado registro de documento fiscal inidôneo ou falso promover o recolhimento do imposto indevidamente aproveitado, atualizado monetariamente e acrescido de multa de mora, desde que assim o faça antes da ação fiscal. Nesta linha importante ressaltar que tal direito foi garantido nos presentes autos uma vez que mesmo o Termo de Início de Ação Fiscal – TIAF foi recebido pela Impugnante posteriormente à publicação dos Atos Declaratórios.

O procedimento fiscal encontra-se respaldado pelo artigo 70, inciso V, do RICMS/02, uma vez que não foram carreados aos autos quaisquer comprovantes de recolhimento do imposto.

No que tange a Multa Isolada aplicada destacamos a perfeita sincronia entre o tipo nela descrito e a imputação fiscal, senão vejamos:

“Art. 55- As multas para as quais se adotarão os

critérios a que se referem os incisos II e IV do

art. 53 desta Lei são as seguintes:

.................................................

X - por emitir ou utilizar documento fiscal falso

ou inidôneo: 40% (quarenta por cento) do valor da

prestação ou da operação, cumulado com estorno de

crédito, na hipótese de sua utilização, salvo,

nesse caso, prova concludente de que o imposto

correspondente tenha sido integralmente pago;

................................................”

Ademais insta ponderar que os argumentos apresentados pela Impugnante não refutam o mérito da presente autuação tendo em vista que se limitam a aduzir que ICMS é um imposto não cumulativo e que conseqüentemente tem direito ao crédito relativo às suas aquisições.

Destacamos ainda a inexistência nos presentes autos de quaisquer provas de que o imposto destacado nos documentos fiscais declarados inidôneos tenha sido recolhido pelos emitentes dos mesmos, fato este que frustaria as exigências consubstanciadas no lançamento em análise.

Também não foram apresentados quaisquer documentos comprobatórios do pagamento das operações mercantis demonstrando a real realização destas. Tampouco as notas fiscais declaradas inidôneas e trazidas aos autos têm carimbos de postos de fiscalização comprovando que houve a circulação das mercadorias.

Reputamos corretas, então, as exigências fiscais de ICMS, MR e da MI prevista na Lei n.º 6.763/75.

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Diante do exposto, ACORDA a 3ª Câmara de Julgamento do CC/MG, à unanimidade, em julgar procedente o lançamento. Participaram do julgamento, além das signatárias, os Conselheiros José Eymard Costa e Luiz Fernando Castro Trópia.

Sala das Sessões, 23/05/05.

Aparecida Gontijo Sampaio Presidente/Revisora

Luciana Mundim de Mattos Paixão Relatora

LMMP/EJ