craniotomia descompressiva - ufu

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PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA 1 Aluna de Iniciação Científica CNPq 2 Orientador ANÁLISE QUALITATIVA DAS CRANIOTOMIAS DESCOMPRESSIVA (CD) E VÉRTEX-BASAL COM FENESTRAÇÕES DURAIS(CVBFD) EM CASOS DE HEMATOMA SUBDURAL AGUDO Laís Palitot de Melo 1* [email protected] Ricardo Fortes de Miranda 2 * [email protected] Cleudmar Amaral Araújo* [email protected] Antônio Geraldo Diniz Roquette** [email protected] Silvio Sarmento Lessa** [email protected] *Faculdade de Engenharia Mecânica, UFU, Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco 1M, 38400-902 Uberlândia - MG **Faculdade de Medicina, UFU, Avenida Pará 1720 - Bloco 2U - Bairro Umuarama- 38400-902 Uberlândia - MG Resumo: O tratamento do Hematoma Subdural Agudo (HSDA) é feito convencionalmente através da Craniotomia Descompressiva (CD) que se trata, basicamente, de uma abertura ampla da dura- máter. Contudo, seu índice de recuperação funcional é insatisfatório com taxa de mortalidade de 50% a 90%. A desvantagem da CD está na rápida descompressão intradural em função da abertura extensa da dura-máter. Essa descompressão leva a uma acentuada extrusão cerebral, causando laceração e herniação encefálicas. Assim sendo, os resultados da CD, principalmente em pacientes que apresentam um grande desvio da linha média cerebral, são, em sua maioria, deletérios, devido aos danos primários e à isquemia do tecido cerebral, determinando um péssimo prognóstico. Esse procedimento gera, além do hematoma já instalado, isquemia e edemas secundários severos e estrangulamento do tecido encefálico nos bordos da craniotomia, levando a uma situação catastrófica para o suporte de vida do paciente, dificultando o fechamento dural, a recolocação do flap ósseo e as aproximações e suturas dos planos moles. A proposta deste trabalho é avaliar através de um modelo experimental um procedimento cirúrgico alternativo denominado Craniotomia Vértex-Basal com Fenestrações Durais (CVBFD) onde, entre outras ações, são feitas múltiplas e pequenas incisões na dura-máter. O modelo experimental proposto simula um ambiente de compressão, imitando um procedimento de compressão do cérebro, através de pressão pneumática. Uma análise qualitativa das taxas de deformação do sistema, utilizando diferentes procedimentos de abertura é feita utilizando câmeras de vídeo. Observou-se nos modelos estudados que o processo CVBFD consegue reter as estruturas impedindo uma expansão abrupta, fato causador geradora de grandes deformações cerebrais e consequentemente possíveis danos. Na expansão ampla da dura-máter as taxas de deformação crescem proporcionalmente ao nível de pressão aplicada. Palavras-chave:Fenestrações Durais, Extrusão Cerebral, Craniotomia Descompressiva 1. INTRODUÇÃO Os Hematomas Subdurais Agudos ocorrem nos traumatismos cranioencefálicos graves e são geralmente unilaterais, supratentoriais e se formam por ruptura de veias-ponte superficiais na parte alta e mediana do cérebro até ao seio sagital superior. A conduta cirúrgica estabelecida e convencional é a Craniotomia Descompressiva (CD). Trata-se da remoção de um grande retalho

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Page 1: CRANIOTOMIA DESCOMPRESSIVA - UFU

PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA

1Aluna de Iniciação Científica CNPq 2Orientador

ANÁLISE QUALITATIVA DAS CRANIOTOMIAS DESCOMPRESSIVA (CD) E VÉRTEX-BASAL COM FENESTRAÇÕES DURAIS(CVBFD) EM C ASOS

DE HEMATOMA SUBDURAL AGUDO

Laís Palitot de Melo1*

[email protected] Ricardo Fortes de Miranda2*

[email protected] Cleudmar Amaral Araújo* [email protected] Antônio Geraldo Diniz Roquette** [email protected] Silvio Sarmento Lessa** [email protected] *Faculdade de Engenharia Mecânica, UFU, Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco 1M, 38400-902 Uberlândia - MG **Faculdade de Medicina, UFU, Avenida Pará 1720 - Bloco 2U - Bairro Umuarama- 38400-902 Uberlândia - MG

Resumo: O tratamento do Hematoma Subdural Agudo (HSDA) é feito convencionalmente através da Craniotomia Descompressiva (CD) que se trata, basicamente, de uma abertura ampla da dura-máter. Contudo, seu índice de recuperação funcional é insatisfatório com taxa de mortalidade de 50% a 90%. A desvantagem da CD está na rápida descompressão intradural em função da abertura extensa da dura-máter. Essa descompressão leva a uma acentuada extrusão cerebral, causando laceração e herniação encefálicas. Assim sendo, os resultados da CD, principalmente em pacientes que apresentam um grande desvio da linha média cerebral, são, em sua maioria, deletérios, devido aos danos primários e à isquemia do tecido cerebral, determinando um péssimo prognóstico. Esse procedimento gera, além do hematoma já instalado, isquemia e edemas secundários severos e estrangulamento do tecido encefálico nos bordos da craniotomia, levando a uma situação catastrófica para o suporte de vida do paciente, dificultando o fechamento dural, a recolocação do flap ósseo e as aproximações e suturas dos planos moles. A proposta deste trabalho é avaliar através de um modelo experimental um procedimento cirúrgico alternativo denominado Craniotomia Vértex-Basal com Fenestrações Durais (CVBFD) onde, entre outras ações, são feitas múltiplas e pequenas incisões na dura-máter. O modelo experimental proposto simula um ambiente de compressão, imitando um procedimento de compressão do cérebro, através de pressão pneumática. Uma análise qualitativa das taxas de deformação do sistema, utilizando diferentes procedimentos de abertura é feita utilizando câmeras de vídeo. Observou-se nos modelos estudados que o processo CVBFD consegue reter as estruturas impedindo uma expansão abrupta, fato causador geradora de grandes deformações cerebrais e consequentemente possíveis danos. Na expansão ampla da dura-máter as taxas de deformação crescem proporcionalmente ao nível de pressão aplicada. Palavras-chave:Fenestrações Durais, Extrusão Cerebral, Craniotomia Descompressiva

1. INTRODUÇÃO Os Hematomas Subdurais Agudos ocorrem nos traumatismos cranioencefálicos graves e são

geralmente unilaterais, supratentoriais e se formam por ruptura de veias-ponte superficiais na parte alta e mediana do cérebro até ao seio sagital superior. A conduta cirúrgica estabelecida e convencional é a Craniotomia Descompressiva (CD). Trata-se da remoção de um grande retalho

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ósseo da calota craniana, abertura ampla da dura-máter, drenagens do sangue liquefeito, coágulos sanguíneos e lavagem do cérebro com soro fisiológico.

Figura 1 : Imagem mostrando o sangramento devido à ruptura de uma veia superficial cortical. Fonte: Bart D. et. al. , J. Neurosurg., V 104, June 2006.

Esse procedimento está associado a inchaços, herniações, extrusões e lacerações cerebrais

devido à descompressão súbita e extensa dos conteúdos intradurais. A CD apresenta prognóstico pós-cirúrgico, no Hematoma Subdural Agudo, de 50 a 90% de mortalidade. Isso ocorre porque o crânio é rígido/indeformável e a dura-máter inelástica. O cérebro tem consistência visco-elástica incompressível e submerso em um sistema liquórico que se formata em uma complexa rede vascular com fluxo pressório sanguíneo constante, ambos submetidos ao aumento da pressão intracraniana traumática. Sabe-se que quanto maior a área de contato para uma mesma pressão, maior será a força exercida nessa superfície. Sendo assim, fazendo uma incisão ampla na dura-máter, a tendência é que o conteúdo intradural saia subitamente, ou seja, de que ocorra extrusão do hematoma e da massa encefálica, associados à herniações, lacerações parenquimatosas, rupturas vasculares, já que a força contida intradural é muito grande.

Através de conceitos físicos bem conhecidos pode-se demonstrar a hipótese de que é possível ocorrer uma descompressão gradual em um gradiente de pressão aplicado no ambiente confinado e inelástico da dura-máter, através do processo cirúrgico denominado Craniotomia Vértex-Basal com Fenestrações Durais (CVBFD). Neste caso, são realizadas múltiplas e pequenas incisões na dura-máter que aumentam a capacidade volumétrica intradural, sem promover extrusão, inchaço e diminuindo as lesões nas estruturas.

Portanto, ocorrendo uma descompressão gradual, isto é, diminuindo a pressão intracraniana gradualmente através de várias e pequenas incisões na dura-máter e progressivamente drenando o hematoma intradural, impede-se uma saída rápida e “explosiva” das estruturas cerebrais.

A CVBFD foi avaliada “in vitro” através de modelos experimentais desenvolvidos em parceria com Laboratório de Projetos Mecânicos Prof. Henner A.Gomide (LPM) da Faculdade de Engenharia Mecânica da UFU.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A craniotomia descompressiva (CD) é aplicada no tratamento de edemas e hematomas cerebrais descontrolados oriundos de traumas e outras condições que aumenta a pressão intracraniana. (Bullock R. et al, 1996; Czosnyra M. et al, 2005). A hipertensão intracraniana (HIC) é um quadro onde a pressão do Líquido Cefalorraquidiano (LCR) ultrapassa 15 mmHg. Pode provocar danos neurológicos por si só ou em associação com outras entidades como o edema, deslocamentos das estruturas encefálicas e com as alterações de fluxo sanguíneo cerebral. A pressão

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normal do LCR, medida em decúbito lateral, varia entre 5 a 20 centímetros de água (cmH2O), sendo os valores mais próximos de 10 cmH2O na cisterna magna e de 15 cmH2O no fundo de saco lombar.

Admitem-se como valores toleráveis para a pressão intracraniana (PIC) até 20 mmHg. Para efeito de classificação, pode-se utilizar o seguinte critério (Bostrom,2005) que diz que tem-se uma condição normal quando a PIC for inferior a 10 mmHg.

A CD e suas indicações ainda são de grande controvérsia (Carter B. S. et. al, 1997; Holtkamp M. et. al, 2001). Ocorrendo um resultado favorável, o retalho ósseo é recolocado ou uma cranioplastia é realizada após 6 a 8 semanas. Nesse caso, o paciente é tratado em unidade de terapia intensiva e o retalho ósseo pode ser congelado (Schneider G. H. et al, 2002; Hutchinson, P. J. et al, 2004) ou armazenado na região do abdômen do próprio paciente ou em tecidos subcutâneos da coxa (Smith E. R. et al, 2002). Alguns autores têm relatado resultados ruins sobre a ausência do retalho ósseo e a necessidade de nova cirurgia para a reposição do mesmo, enquanto outros autores têm relatado melhora das condições clínicas utilizando a reposição do retalho ósseo no momento da cirurgia (Fodstad H. et al, 1984; Tabaddor K. et al, 1976). Além disso, a descompressão cirúrgica do hematoma subdural agudo (HSA) severo provoca “explosões” dos hematomas, extrusões cerebrais e altas taxas de morbidade e mortalidade (Bostrom S. et al, 2005; Bullock R. et al, 1996)

Do ponto de vista anatômico e neurológico, um dos aspectos mais importantes da cavidade crânio-vertebral e seu revestimento de dura-máter é o fato de ser uma cavidade completamente fechada, que não permite a expansão de seu conteúdo. Desse modo, o aumento do volume de um ou mais componentes da cavidade craniana reflete-se sobre os demais, podendo levar a um aumento da pressão intracraniana (Bostrom S., 2005). Quando isso ocorre, a própria pressão intracraniana desenvolve mecanismos compensatórios de proteção chamados de compensação espacial, Duret (1878) e Kocher (1901). No entanto, essa compensação espacial é limitada, pois a cavidade intradural permite um aumento de até 6% de seu volume, sem que haja alteração da pressão normal.

Na cirurgia convencional (Craniotomia Descompressiva) a abertura alargada da dura-máter, em um só tempo, libera grande força de pressão contida na cavidade intradural, provocando extrusões nas superfícies do hematoma e do cérebro, edemas irreversíveis e visão de desesperança do neurocirurgião (Macnealy D. E. e Plum F., 1962). Desse modo, o aumento do volume de um ou mais componentes da cavidade craniana reflete-se sobre os demais, podendo levar a um aumento da pressão intracraniana (Bostrom S., 2005). Quando isso ocorre, a própria pressão intracraniana desenvolve mecanismos compensatórios de proteção chamados de compensação espacial Duret (1878) e Kocher (1901), que funcionam como uma tentativa de se reduzir os níveis de pressão no interior da caixa craniana, sendo caracterizada pela redução volumétrica dos compartimentos de líquidos intraventricular, subaracnóideo e posteriormente, redução do compartimento intravascular (Buczko, W., 2005).

Considerando as propriedades mecânicas do crânio, dura-máter e complexo cerebral, e considerando os modelos experimentais biológicos de Hatashita (Guerra W. K., 1999) e relatos da literatura (Bastos P. G. et al, 1993; Bostrom S. et al, 2005; Bullock R. et al, 1996; Carter B. S. et al, 1997; Cohen J. E. et al, 1996; Schneider G. H. et al, 2002), a equipe de Neurocirurgiões do Instituto de Medicina/UFU, em parceria com o Laboratório de Projetos Mecânicos Prof. Henner A. Gomide está propondo uma técnica cirúrgica alternativa, fundamentada em uma craniotomia de limites vértex-basal do crânio com fenestrações durais, afim de aumentar as capacidades volumétricas intracraniana, possibilitando drenagem lenta do hematoma, proporcionando uma redução gradual das pressões intradural e intracraniana, mantendo, assim, as estruturas cerebrais acomodadas nos respectivos sítios anatômicos. A técnica cirúrgica proposta será submetida ao Comitê de Ética. Quando aprovada, ela será feita da seguinte forma: Incisão da pele e subcutâneo, descolamentos dos músculos, temporal e fronto-occiptal e do periósteo; Craniotomia osteoplástica fronto-parieto-temporal com limites vértex-basal do crânio; Com a goiva ou drill, exéreses e alisamentos dos rebordos internos da tábua interna da craniotomia e terço lateral da grande asa do esfenóide, até a origem da artéria meningo-

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orbitária; Pequenas durotomias de 5-10 mm, a primeira no opérculo da fissura silviana, a segunda na base do lobo temporal, a terceira a 01 cm, paralela ao seio sagital superior, a quarta a 01 cm anterior e paralela ao seio transverso e a quinta, na base do lobo frontal; Drenagem espontânea do hematoma; Descompressão lenta e progressiva do hematoma e contensão do cérebro dentro da cavidade dural; Continua-se aplicando múltiplas aberturas na dura-máter correspondente à superfície do hematoma; Irriga-se e aspira-se, delicadamente, com soro fisiológico não aquecido, os coágulos nas superfícies externas das fenestrações; Se houver sangramento persistente, hematoma intraparenquimatoso subjacente, a fenda correspondente será ampliada e procedendo-se à hemostasia, retirando-se coágulos e restos de lacerações eventualmente soltas; Através das aberturas da dura-máter são realizadas inspeções visuais diretas em todas as superfícies cerebrais expostas, pólos e faces basais dos lobos frontal e temporal, bases laterais das fossas anterior e média do crânio e confluências de veias e seios venosos;Várias trepanações são feitas no retalho ósseo que será reposicionado com pontos frouxos, visando aliviar a pressão intracraniana e permitir a drenagem interna do espaço intradural para extradural e subgaleal;Os planos moles serão aproximados e suturados sem tensões; imediatamente após a cirurgia será feita uma tomografia de crânio para avaliações do status pós-cirúrgico; Se satisfatório, o paciente será encaminhado à unidade de terapia intensiva.

A literatura apresenta poucos trabalhos relacionados à determinação de propriedades mecânicas de tecidos moles, em particular estruturais cerebrais, devido à dificuldade de utilização de ensaios convencionais em estruturas vivas.

Amostras de tecidos mortos apresentam propriedades significantemente diferentes daquelas obtidas em tecidos vivos. Em 2003, K. Miller, em Cingapura fez identações em um cérebro de porco com o animal vivo visando obter propriedades mecânicas.

Segundo Miller, a escolha do modelo matemático, dos materiais e características do modelo mecânico depende principalmente das condições de simulação desejadas, uma vez que, o comportamento do gráfico tensão x deformação do tecido cerebral não é linear. Para simular um evento rápido e com forças elevadas, como no presente caso, pode-se considerar o cérebro como um material visco-elástico incompressível, homogêneo e monofásico; porém para simular eventos de maior duração e menor intensidade como o crescimento de um tumor ou hematomas subdurais, é necessário um modelo mais abrangente considerando o sistema bifásico heterogêneo, com a parte sólida hiperelástica e a líquida incompressível. 3. MODELO DE DESCOMPRESSÃO RÁPIDA

O desenvolvimento de um modelo matemático adequado para avaliar o efeito de descompressão rápida oriundo do processo cirúrgico para tratar hematomas subdurais agudos é bastante complexo devido as não linearidades envolvidas no fenômeno. Algumas hipóteses simplificadoras têm que ser feitas para efetuar uma análise in vitro, como por exemplo, considerar a caixa craniana rígida e sem atrito.

Analisando fisicamente os fenômenos que ocorrem no cérebro, considerando-o como um material visco-elástico incompressível, quando há elevada pressão intracraniana, a retirada ampla da dura-máter gera grandes forças de expansão no cérebro, e essa expansão abrupta pode ocasionar novas lesões, associadas com herniações, lacerações parenquimatosas ou rupturas vasculares. Já a abertura com pequenas fenestrações, em geral, envolve forças significantemente menores, pois a área deformada é menor para a mesma pressão intracraniana, além de permitir uma expansão gradual do cérebro. Percebe-se que a pressão intracraniana alta ocorre devido a maior entrada de fluido na caixa craniana (recipiente rígido), geralmente causado por rupturas de vasos que resultam em acúmulo de sangue nos espaços extra-dural, subdural, intraparenquimatoso ou suas associações sob a forma de hematomas ou hemorragias, esse fluido exerce uma pressão no interior do recipiente e, esta pressão, em um processo isotérmico, pode ser relacionada da seguinte forma:

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PV cte

ou

P cte massa

=

= × Onde, P = pressão, V = volume

Portanto a pressão intracraniana (PIC) pode ser obtida por: PIC cte massa= × . Com o aumento da massa:

PIC cte massa↑ = × ↑ Observando que: cte

PICV

=

Ao permitir-se a expansão do cérebro através da abertura da dura-máter controla-se a PIC, ou seja, quanto maior o volume menor a PIC. 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Dispositivo Experimental A análise foi feita utilizando um dispositivo experimental que simula um ambiente de compressão do cérebro devido ao efeito do hematoma subdural agudo. No modelo experimental a pressão é simulada por um pistão alimentado com pressão pneumática. As taxas de deformação do sistema, utilizando diferentes procedimentos de abertura do dispositivo, foram monitoradas com câmeras de vídeo, neste caso, utilizadas para permitir uma ampla visualização do efeito com o objetivo de fazer uma análise qualitativa do fenômeno.

A proposta do estudo é avaliar o caso tradicional de tratamento que é a descompressão rápida comparativamente a uma descompressão gradual obtida por pequenas incisões na dura-máter visando reter a estrutura cerebral. Espera-se que o processo, além de minimizar os efeitos de deslocamento e expansão bruscos dos hematomas e cérebro possibilite uma redução da pressão intracraniana em menor tempo, a manutenção estrutural da dura-máter com drenagem do espaço subdural, além da reposição do retalho ósseo durante a cirurgia. Estes últimos efeitos não foram analisados neste trabalho. O modelo consiste em um recipiente de paredes rígidas, simulando a caixa craniana, feito de um tubo de PVC e duas tampas de material acrílico transparente, sendo uma delas maciça com um cilindro pneumático instalado em sua parte inferior e outra vazada para simular a caixa craniana do paciente na região exposta para a cirurgia.

Na parte interna do tubo de PVC foi adaptado um disco de prolipopileno que podia movimentar-se internamente no tubo de acordo com a pressão pneumática. Uma adaptação em isopor foi feita para permitir uma perfeita adaptação do cérebro (Simulado com massa de macarrão). A dura-máter foi simulada com um filme plástico resistente fixado na parte superior com um disco de acrílico. O hematoma foi simulado com condimento tipo ketchup, figura 2.

Figura 2 – Dispositivo experimental construído.

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4.2 Procedimento Experimental A adaptação do filme plástico e da estrutura do tubo é feita através de quatro parafusos, como mostrado na figura 3.

Figura 3 – Fixação das placas de acrílico, filme plástico e tubo através de parafusos.

O cilindro pneumático possui em seu tubo de alimentação uma válvula redutora de pressão e

uma válvula direcional manual que controla o movimento de subida e descida do cilindro (Figura 4), simulando o efeito de compressão e descompressão na dura-máter (filme plástico), respectivamente.

Figura 4 – Cilindro pneumático e válvula direcional utilizada no dispositivo. O experimento foi realizado de duas formas separadas. Na primeira forma avalia-se a

condição convencional de tratamento (Craniotomia Descompressiva, CD) e em uma segunda parte avalia-se o método proposto (Craniotomia Vértex-Basal com Fenestrações Durais, CVBFD). 5. RESULTADOS 5.1 Avaliação dos Gradientes de Deslocamento

A figura 5 mostra vários quadros indicando o caminho da deformação ocorrida durante o processo de uma ampla expansão do filme plástico (Dura-máter). A figura 6 mostra, de forma similar, esta mesma análise considerando pequenas fenestrações. Considerando a área superior como referência pode-se indicar os seguintes deslocamentos máximos finais para os dois casos analisados: - Efeito da compressão no filme sem efetuar corte: 16 mm - Efeito da compressão no filme com corte amplo (Processo Convencional): 22 mm - Efeito da compressão no filme com pequenas fenestrações (Processo CVBFD): 17 mm Através desta análise indica-se uma diferença de 30% menor nos níveis de deslocamento para pequenas fenestrações, medidos na direção vertical, quando comparados aqueles com uma expansão abrupta.

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(a) (b)

(c) (d)

Figura 5 – Processo CVBFD quadro a quadro. a) Estrutura sob compressão no filme plástico mostrando o hematoma. b) Início das pequenas fenestrações utilizando bisturi. c) Finalização das fenestrações no modelo. d) Aspecto final do modelo após o término das fenestrações.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 6 – Processo CVBFD quadro a quadro. a) Estrutura sob compressão no filme plástico mostrando o hematoma. b) Início das pequenas fenestrações utilizando bisturi. c) Finalização das fenestrações no modelo. d) Aspecto final do modelo após o término das fenestrações.

Observa-se na figura 5 o formato do processo de execução das fenestrações. Neste caso, o filme plástico retém todo o volume sob compressão deixando passar apenas os fluídos que simulam o hematoma. Observa-se também que não existe instantaneamente uma variação brusca de deformação, ou seja, mesmo diminuindo a rigidez do filme plástico consegue-se uma retenção das estruturas. O processo de expansão abrupta decorrente de uma abertura ampla, mostrada na figura 6, pode ser observado na medida em que se realiza a abertura do filme plástico. Neste caso, não existe retenção das estruturas promovendo uma grande deformação das estruturas.

6.2 AVALIAÇÃO DA PRESSÃO PNEUMÁTICA

Para avaliar o nível de pressão exercida no filme plástico utilizou-se a montagem

experimental mostrada na figura 7. Foi adaptada uma célula de carga modelo Kratos de capacidade 50 kgf na parte superior do dispositivo. O pino sustentava o disco de prolipopileno na sua parte

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superior enquanto a pressão pneumática era aplicada. O sinal de força foi adquirido por um indicador de sinais modelo kratos compatível à célula de carga utilizada. Foram executadas 10 repetições de compressão/descompressão para monitorar a carga aplicada.

Figura 7. Aparato experimental montado na parte superior do dispositivo experimental para determinar a carga atuante no disco de polipropileno.

Com as medidas dos valores de força aplicados pelo cilindro pneumático no disco de prolipropileno, de área conhecida, pode-se estimar a pressão submetida na massa encefálica (massa de macarrão) utilizando o cilindro pneumático através da seguinte relação, P=F/A (1)

Onde P é a pressão aplicada, F é a força medida na célula de carga e A é a área do disco. Os valores obtidos foram: Área do disco = 0,017m² Força média (10 medidas) = 25,6 [N] Pressão = 1505,9 [Pa] ou 11,3 [mmHg] 7. CONCLUSÕES

Esta pesquisa avaliou qualitativamente o efeito de uma descompressão gradual no

tratamento de hematomas subdurais agudos comparativamente ao método tradicional de tratamento, denominado craniotomia descompressiva. O método proposto foi denominado CVBFD (Craniotomia Vértex-Basal com Fenestrações Durais). A análise foi feita através de análise experimental utilizando um dispositivo mecânico que simulava o efeito de compressão/descompressão intracraniana.

O modelo de simulação mostrou que o efeito de uma expansão brusca decorrente da pressão interna promove uma extrusão do conteúdo intradural ocasionando uma grande deformação, o que pode comprometer o tecido cerebral.

De forma similar, uma descompressão gradual, observada no método CVBFD, promove uma equalização das pressões com menores taxas de deformação, uma vez que há um significativo aumento da capacidade volumétrica intradural pelas múltiplas fenestrações durais, acomodando e contendo o tecido cerebral e evitando danos maiores às estruturas. Com isso, pode-se inferir que a CVBFD pode reduzir gradualmente a pressão intracraniana, evitando a extrusão do conteúdo intradural e, por conseguinte, lesões cerebrais.

Os resultados obtidos a partir do desenvolvimento deste projeto de pesquisa contribuem para o entendimento do processo padrão de tratamento do HSDA, que vêm sendo aplicado há vários anos, e que, na maioria dos casos, traz um prognóstico geral ruim.

A nova metodologia avaliada sob o ponto de vista biomecânico visa fornecer para a comunidade de neurocirurgiões, elementos complementares para que o novo processo cirúrgico possa ser naturalmente utilizado.

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8. AGRADECIMENTOS Ao CNPq pela bolsa PIBIC/UFU/CNPq. Aos colaboradores: Isac Alaor Dias, José Weber Vieira Faria e Ronaldo Borges Tonaco – (Depto Neurocirurgia do Hospital das Clínicas de Uberlândia) 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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QUALITATIVE ANALYSIS OF DESCOMPRESSIVE CRANIECTOMY (DC) AND VERTEX-BASAL CRANIECTOMY WITH DURAL FENESTRATI ONS

(VBCDF) IN CASES OF ACUTE SUBDURAL HEMATOMA

Laís Palitot de Melo* [email protected] Ricardo Fortes de Miranda**

Mechanical Engineering Faculty, UFU, Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco 1M, 38400-902 Uberlândia - MG [email protected] Cleudmar Amaral Araújo** [email protected] Antônio Geraldo Dinis Roquette* [email protected] Silvio Sarmento Lessa* [email protected] *Medicine Faculty, UFU, Avenida Pará 1720 - Bloco 2U - Bairro Umuarama- 38400-902 Uberlândia - MG *Mechanical Engineering Faculty, UFU, Av. João Naves de Ávila, 2121, Bloco 1M, 38400-902 Uberlândia - MG

Abstract: The treatment of Acute Subdural Hematoma (ASDH) is done conventionally through Descompressive Craniectomy (DC) that it is treated, basically, of a wide opening of the duramater. However, its index of functional recovery is unsatisfactory with tax of mortality from 50% to 90%. The disadvantage of the DC is in the fast decompression intradural in function of the extensive opening of the duramater. That decompression takes the one accentuated cerebral extrusion, causing laceration and herniation encephalon. So, the results of the DC, mainly in patients that present a great deviation of the cerebral medium line, they are, in their majority, harmful, due to the primary damages and to the ischemia of the cerebral tissue, determining a terrible prognostic. That procedure generates, besides the bruise already installed, ischemia and severe secondary edema and strangulation of the cerebral tissue in the boards of the cranectomy, taking to a catastrophic situation for the support of the patient's life, hindering the closing dural, the relocation of the bone flap and the approaches and sutures of the soft plans. The proposal of this work is to evaluate through an experimental model an alternative surgical procedure denominated Vertex-basal Cranectomy with Dural Fenestrations (VBCDF) where, among other actions, they are made multiple and small incisions in the duramater. The proposed experimental model simulates a compression atmosphere, imitating a procedure of compression of the brain, through pneumatic pressure. A qualitative analysis of the taxes of deformation of the system, using different opening procedures is made using video cameras. It was observed in the models studied that the process VBCDF gets to keep the structures impeding an abrupt expansion, fact cause generating of great cerebral deformations and consequently possible damages. In the wide expansion of the duramater the deformation taxes grow proportionally at the level of applied pressure. Keywords::Dural fenestrations, Cerebral Extrusion, Decompressive Craniectomy