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Texto integrante dos Anais do XVII Encontro Regional de História – O lugar da História. ANPUH/SP- UNICAMP. Campinas, 6 a 10 de setembro de 2004. Cd-rom. Costureiras e Lavradores – escravos no Alto Sertão da Bahia durante o século XIX. 1 Maria de Fátima Novaes Pires 2 Menina cambraia fina sua agulha me furou Eu sou cordeiro manso. Aonde tu mandas eu vou. Argola de cachangá casaco de tricô Adeus mulata morena. Que olhos matador. (PAIM, 1999, p. 132) Durante o século XIX, escravos, forros e trabalhadores livres pobres podiam ser vistos com freqüência nos espaços das ruas e das roças no Alto Sertão da Bahia. Esses espaços revelam-se vitais aos expedientes de sobrevivência dessa população. Não somente em sua materialidade, mas como lugares de relações sociais, culturais, de luta e de resistência. As redes de pessoas, famílias, sociabilidades e solidariedades aconteceram em meio à luta pela participação ou inserção mais vantajosa na sociedade local. Aparecem sempre como trabalhadores naquela região, cujo predomínio da atividade econômica, no oitocentos, concentrou-se na pecuária, no artesanato de couro e metais e, principalmente, na policultura de gêneros como mandioca, feijão, milho e, em menor escala, no cultivo da cana para o fabrico de rapadura e aguardente. Nas diversas fontes de pesquisa 3 relativas a Caetité (Serra Geral) e Rio de Contas (Chapada Diamantina) localizam-se escravas e escravos lavradores desempenhando funções como costureiras, pedreiros, ferreiros, sapateiros, fugueteiros, funileiros. Certamente, um ou outro se ocupava particularmente de serviços mais especializados, como o artesanato (“vive de ser artista”). Também se insinuaram referências de duplas ocupações “ser lavradoura e fiandeira, ou “é vaqueiro e agregado do Senhor [...]”. Além das iniciativas de escravos que buscavam 1 Este texto integra parte da minha tese de doutorado realizado junto ao Programa de Pós Graduação em História pela Universidade de São Paulo (USP), na área de História Social, sob orientação da Profª Drª Maria Odila Leite da Silva Dias. 2 Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia –UNEB, na cadeira de Teoria da História. Mestre pela PUC-SP com dissertação “O crime na cor: escravos e forros no Alto Sertão da Bahia. Rio de Contas e Caetité (1830-1888)”, publicado pela Editora Annablue, SP, 2003. 3 Refiro-me aqui aos processos criminais, inventários, escrituras públicas de compra e venda, livros de razão de fazendeiros, cartas de alforria, dentre outras.

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Texto integrante dos Anais do XVII Encontro Regional de História – O lugar da História. ANPUH/SP-UNICAMP. Campinas, 6 a 10 de setembro de 2004. Cd-rom.

Costureiras e Lavradores – escravos no Alto Sertão da Bahia durante o século XIX.1

Maria de Fátima Novaes Pires2

Menina cambraia fina sua agulha me furou

Eu sou cordeiro manso. Aonde tu mandas eu vou.

Argola de cachangá casaco de tricô

Adeus mulata morena. Que olhos matador.

(PAIM, 1999, p. 132)

Durante o século XIX, escravos, forros e trabalhadores livres pobres podiam

ser vistos com freqüência nos espaços das ruas e das roças no Alto Sertão da Bahia.

Esses espaços revelam-se vitais aos expedientes de sobrevivência dessa população.

Não somente em sua materialidade, mas como lugares de relações sociais, culturais,

de luta e de resistência. As redes de pessoas, famílias, sociabilidades e solidariedades

aconteceram em meio à luta pela participação ou inserção mais vantajosa na

sociedade local. Aparecem sempre como trabalhadores naquela região, cujo

predomínio da atividade econômica, no oitocentos, concentrou-se na pecuária, no

artesanato de couro e metais e, principalmente, na policultura de gêneros como

mandioca, feijão, milho e, em menor escala, no cultivo da cana para o fabrico de

rapadura e aguardente.

Nas diversas fontes de pesquisa3 relativas a Caetité (Serra Geral) e Rio de

Contas (Chapada Diamantina) localizam-se escravas e escravos lavradores

desempenhando funções como costureiras, pedreiros, ferreiros, sapateiros,

fugueteiros, funileiros. Certamente, um ou outro se ocupava particularmente de

serviços mais especializados, como o artesanato (“vive de ser artista”). Também se

insinuaram referências de duplas ocupações “ser lavradoura e fiandeira”, ou “é

vaqueiro e agregado do Senhor [...]”. Além das iniciativas de escravos que buscavam

1 Este texto integra parte da minha tese de doutorado realizado junto ao Programa de Pós Graduação em

História pela Universidade de São Paulo (USP), na área de História Social, sob orientação da Profª Drª

Maria Odila Leite da Silva Dias. 2 Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia –UNEB, na cadeira de Teoria da História.

Mestre pela PUC-SP com dissertação “O crime na cor: escravos e forros no Alto Sertão da Bahia. Rio de

Contas e Caetité (1830-1888)”, publicado pela Editora Annablue, SP, 2003. 3 Refiro-me aqui aos processos criminais, inventários, escrituras públicas de compra e venda, livros de

razão de fazendeiros, cartas de alforria, dentre outras.

Texto integrante dos Anais do XVII Encontro Regional de História – O lugar da História. ANPUH/SP-UNICAMP. Campinas, 6 a 10 de setembro de 2004. Cd-rom.

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profissionalização, havia também a intenção de seus senhores que procuravam

habilitar o seu escasso plantel.4

O trabalho em pequenas faixas de terra, cedidas pelos senhores para cultivo

de seus escravos em dias de liberdade, foi comum durante a escravidão. Esse

mecanismo garantia ao escravo, por um lado, amealhar condições para a sua

sobrevivência e, por outro, servia-lhe para constituição de pecúlio que mais tarde

poderia ser empregado na compra de suas manumissões ou de seus familiares.

Diante dessa conjuntura, interessa sobremaneira lançar luzes sob as relações

interpessoais de escravos, forros e homens livres, não somente para apreender os

níveis de sociabilidades internas, mas também para buscar compreender as relações

mais gerais dos escravos com os seus senhores e demais segmentos da região.

No curso da vida social a emergência de encontros e desencontros foram

constantes, sempre facilitados pela proximidade física naquelas pequenas vilas. Ali se

insinuaram aproximações e contendas que desuniam momentaneamente amigos e

conhecidos e, noutras ocasiões, recrudesciam antigas inimizades. Pequenos trechos

extraídos de processos criminais das Comarcas de Rio de Contas e de Caetité

auxiliam a identificar certos percursos cotidianos traçados por escravos e seus

parceiros.

Um processo criminal registrou as desavenças entre amigos causados num

jogo. Os ferreiros Maximiano Severino da Silva e Manoel dos Santos Conrado

jogavam com os escravos Sebastiãozinho e Mamede, quando Joaquim Pedro Alves

quis tomar à força quinhentos reis de Sebastiãozinho, “[...] foi que deo lugar sair

Mamedi offendido na cabeça”.5 Esse episódio não teria muita diferença sobre os vários

conflitos provocados nessas ocasiões, não fosse o fato do ocorrido suceder no

Sacavém, em casa de Mequelina Maria de Conceição de vinte anos, costureira, natural de Santa Izabel (Mucugê), lugar de origem de vários escravos e forros de Rio

de Contas. Seria o caso de Mequelina? Não se pode precisar. Mas para além das

discórdias entre escravos e livres pobres, Mequelina se impõe aqui. Perseguir essas

trilhas nos coloca diante de algo não menos inquietante: as constantes qualificações

de costureiras e fiandeiras para mulheres pobres da região. Como se verá, essa

função pareceu mais ampla do que simplesmente sugere a fonte.

Assim como Mequelina, Sebastiana em outro episódio foi qualificada como

costureira, no entanto, o seu envolvimento foi mais direto como se pode verificar, 4 Estima-se em média planteis de 13 a 18 escravos, segundo pesquisas realizadas por Neves(1998) e nas

minhas pesquisas para mestrado e doutorado. 5 Arquivo Municipal de Rio de Contas (AMRC).Seção Judiciário. Processo-Crime de 02.08.1885 (não

classificado), f. 7v.

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Diz chamar-se Sebastiana Carolina de Jesus natural do termo

de Monte Alto, fiandeira [...] que, estando hoje pela manhã ella

offendida em sua casa no logar denominado telha do districto

de Villa Velha, appareceu-lhe Manoel Francisco Borges,

também morador no mesmo Districto, e convidou ella offendida para ir morar em casa d’elle e tendo ella

respondido que preferia morar com um negro captivo á morar com elle, elle se retirara, mas pouco depois voltou, e foi

na offendida á coice d’arma e com os pés fez os ferimentos

constantes de corpo de delicto. [...] Diz não haver rixas entre

elles, tendo havido porem relações della com o offensor.6

As testemunhas informantes7 do processo, Balduína Maria de Jesus,

costureira, e Angelica Rodrigues de Mello, confirmaram a denúncia no processo e

atestaram a aproximação entre ambos. O preconceito de cor, explicitamente

registrado, deve ser avaliado na perspectiva das relações escravistas e das

hierarquias sociais, fincadas profundamente nas vidas de sujeitos sociais submetidos

aos padrões de desclassificação social.

Noutros processos criminais localizam-se diferentes mulheres, sendo

novamente qualificadas como costureiras e fiandeiras. Desta vez Maria Juaquina da

Conceição afirmou,

[...] que costumava Antônio Justianiano á frenquentar sua casa, e que dando um presente a uma outra mulher, ella accusada lhe fôra pedir

explicações d’isso, e nesse acto Justiniano lhe dera um ponta pé, que a

lançara por terra, e ella accusada tendo em seo poder uma folha de canivete

a jogara em Justiniano, brincando, mas que ouvira logo este dizer que

estava offendido. Perguntada se como recebendo um ponta pé a ponto de

cahir, jogara por brinquedo o canivete em Justiniano? Respondeo que assim

o fizera, mas sem intenção de offendel-o. Perguntado se tinha continuado

nas mesmas relações d’amizade com Justiniano? Respondeo que logo

depois que se dera o facto senta-se na porta de uma de suas vizinhas, chorando, por ver queixar-se Justiniano de estar ferido, e nessa

6 AMRC. Seção Judiciário. Processo-Crime de 21.05.1881 (não classificado), f. 5, grifos nossos. 7 A expressão informante foi utilizada pela Justiça para classificar escravos e crianças chamados a depor

em suas instâncias.

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occazião fôra presa e trazida para esta cadeia, onde nunca mais vio

Justiniano [...] que sabe que poucos dias depois estava são.8

Maria Juaquina, detida por quase dois meses, foi liberada sob fiança de 160

mil reis “visto não ter a mesma profissão conhecida”. Cabe ressaltar o quanto a vida

cotidiana implicava em contatos pessoais e no quanto o público (espaço das ruas)

transmutava-se em extensão da vida doméstica, sem que isso aparentemente

sugerisse algum tipo de constrangimento aos sujeitos envolvidos. E ainda, a maneira

de defesa astuta ou pueril de Juaquina que buscou inocentar-se afirmando que havia

revidado às agressões do seu amante com um canivete mas “que jogara de

brinquedo... sem intenção de offendel-o”.

No mesmo período, estivera detida a costureira Hermelina Rosa de Jesus

Cambuy, pelo fato exposto em processo,

[...] pro-rompeo-se em injurias contra o dito queixoso e sua família, e

entre ellas deo-lhe os epittetos de ladrão, sem-vergonha, mentiroso,

safado; e a sua família os de – cadellas, burras, safadas e outros muito mais que o supplicante deixa de mencionar, porquanto a

decência lhe faz calar, o que foi distinctamente ouvido pelos Cidadãos

Tenente Clemente Antonio do Bonfim, Manoel Alves da Silva, João

Joaquim do Bonfim, Domingos Joaquim [...].9

Hermelina, assim como Maria Juaquina, não sabia ler e escrever. As duas

passaram meses na cadeia de Rio de Contas, espaços de opressão, memória de

injustiças, símbolo de um inferno dos vivos (Calvino, 1993).

Ao assinalar autos criminais em que mulheres são qualificadas como

costureiras ou fiandeiras identificam-se essas funções como atividades muito mais

domésticas e artesanais do que como é referido em outras fontes que falam do

funcionamento de “fabrica de tecidos, ainda fabricados em theares tangidos por força

humana”, onde “também se fabricão rêdes, cobertores e panos de algodão.10 Talvez

mulheres mais próximas daquelas estudadas pela historiadora Maria Odila Dias, que

nos diz,

8 AMRC. Seção Judiciário. Processo-Crime de 23.09.1881 (não classificado), f. 41v.-42, grifos nossos. 9 AMRC. Seção Judiciário. Processo-Crime de 13.09.1881 (não classificado), f. 8v., grifos nossos. 10 FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL (Rio de Janeiro, RJ). Divisão de obras raras e publicações.

Seção de manuscritos. Micro-filme. Descrição dos Municípios. Caetité. C.E.H.B. n. 19.341, Cód. N. 20 –

24-9, C. 218, I 32,16,33, 2 docs, 1887.

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Era esse o espaço social das mulheres pobres, limbo e exílio do que

havia de socialmente valorizado na economia paulista de sua época.

Viveram precariamente a sua pobreza, no desdobramento das dimensões sociais do doméstico, que então ocupou, durante

algumas décadas, as ruas mais centrais da cidade. A organização do

seu ganha-pão dependia de laços muito fortes de solidariedade e de

vizinhança, que se improvisavam e modificavam continuamente.

(1995, p. 16, grifos nossos)

Nesses espaços do doméstico é possível documentar mais uma agressão

motivada por calúnia,

[...] o lavrador Joaquim Antonio de Salles, indo cobrar serta quantia

que lhe devia Joaquina, escrava de José Francisco do Bonfim, esta respondeu a Mãe grosseiramente, rasão porque elle déra uma

facada, e correndo para Água Quente, lá fôra preso. Disse mais que

dias vira a escrava dizendo que fôra elle [...].11

Em seu depoimento, o Joaquim Salles disse ser lavrador, negou o crime e

acrescentou “que não fôra elle [...]”. Disse algo ainda mais interessante:

[...] que [sua relação com Joaquina] é de muito bôa amizade,

tanto que encontrava-a com ella quase todos dias, ora em sua casa, e ora em casa da mesma Joaquina [...] Se não era devedor a

Joaquina dálguma quantia? Que não, ao contrário, ella é quem lhe devia quinhentos réis.12

A referência a escravos que moravam em suas casas, juntamente com forros e

pobres livres nos subúrbios das cidades de Rio de Contas e Caetité, é preciosa a este

estudo, que procura localizá-los mais tarde como libertos.

Noutro processo, Jusifina Maria de Jesus, de 25 anos, cazada, denunciou o

escravo Polycarpo,

[...] passou a brigar com sua Irmã Maria, queimando a saia Desta, e

que ella offendida pedindo a elle que não queimasse, elle não quis

attender, e como ella offendida tivesse chingado ao dito Polycarpo,

11 AMRC. Seção Judiciário. Processo-Crime de 09.07.1883 (não classificado), f.12, grifos nossos. 12 AMRC. Seção Judiciário. Processo-Crime de 09.07.1883 (não classificado), f. 35v., grifos nossos.

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este lançando mão de uma taca deo-lhe com o cabo da mesma,

fazendo-lhe o ferimento, e que caindo desacordada, de nada mais

soube [...] por ter a offendida, embriagada, descomposto com

palavras o mesmo.13

As querelas motivadas por difamações, bastante presentes nos processos,

depõem sobre o resguardo de condições de vida nos espaços coletivos, onde todos

pareciam saber dos passos do outro. Procurar viver, mesmo que aparentemente, em

certa conformidade com padrões aceitáveis de convivência social, também se

configurou em mecanismo de resguardo das ações disciplinares, cujas regras

pareciam servir genericamente a todos. Noutras palavras, apresentar-se socialmente,

tornando invisíveis procedimentos que “mal recomendavam”, foi para as populações

pobres um quesito importante, diante das suspeições que os acompanhavam, em

detrimento de haver motivos que denotassem transgressões. Evidentemente que não

se furtou de transgredir às normatizações da cerceada vida social, no entanto, um dos

meios de tornar mais invisíveis essas atitudes estava na discrição quanto às suas

trajetórias mais particulares. Revelam-se como prevenções perspicazes, já que nos

espaços judiciais a confirmação de culpabilidade também passava pelo

questionamento do comportamento pregresso dos envolvidos em delitos.

Notadamente quando da inquirição de testemunhas, se “revelava” o comportamento

do réu: “que é muito obediente ao senhor”, “que é bem ensinado” ou “tem por costume

fazer barulhos quando está embriagado”.

Ao lado daquelas práticas que pareceram servir dialeticamente como

simulacros de comportamentos sociais transgressores, a violência deferida por

homens contra mulheres, indefesas em sua maioria, campeava. Havia aqueles ainda

mais violentos, ocorridos nos espaços da vida doméstica, quando maridos e

companheiros agrediam as suas mulheres. Mas certamente são atitudes assim

qualificadas como delituosas que necessitam ser percebidos como “crimes imbricados

diretamente nas questões da dominação escravista e de sua violência, e crimes

plenamente integrados em suas vivências específicas”, tal como nos alerta Maria

Cristina Wissenbach (1998, p. 31).

Mais certo é que os autos criminais nos permitem percorrer as ruas daquelas

pequenas vilas e perceber a presença das populações pobres, na rua do sacavém, “do

capim”, “do fogo”, “do areião”, “da ponte”, “do serra-chifre”, “do trapiche”, ruas onde

deixaram várias pistas da vivência social, quando se pode inferir sobre a constituição

das experiências constituídas durante o cativeiro e que permitiram um conhecimento 13 AMRC. Seção Judiciário. Processo-Crime de 03.12.1877 (não classificado), f.14 e f. 33, grifos nossos.

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precioso, sempre dinâmico e multiplicado até a abolição, quando muitos escravos ao

permanecerem na vila puderam utilizar criativamente de astúcia para driblar as

hostilidades dos seus antigos senhores.

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