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Aplicação da abordagem sistêmica para a compreensão dos subsistemas de produção em uma unidade familiar Approach to application for systemic understanding of production subsystems family agroecosystem COSTA, Janes Silva 1 ; FLORES, Ozanira Alves 2 ; COSTA, Raquel de Jesus 3 ; ROSAL, Louise Ferreira 4 1 Graduanda do curso bacharelado em agronomia do Instituto Federal do Pará - Campus Castanhal, Bolsista do Programa de Educação Tutorial PET Agronomia, [email protected]; 2 Graduanda do curso bacharelado em agronomia do Instituto Federal do Pará - Campus Castanhal, Bolsista do Programa de Educação Tutorial PET Agronomia, [email protected]; 3 Graduanda do curso de agronomia do Instituto Federal do Pará Campus Castanhal, Bolsista do Programa de Educação Tutorial PET Agronomia; 4 Professora Dra. do Instituto Federal do Pará - Campus Castanhal 4 [email protected] Resumo: O objetivo do trabalho foi aplicar a abordagem sistêmica no agroecossistema extrativista familiar, localizado as margens do rio Itamimbuca no município de Igarapé-Mirim -PA para a compreensão do funcionamento do sistema família - estabelecimento e as práticas que a família executa. As metodologias adotadas foram a convivência na residência da família, que foi realizada em período de quinze dias (09 a 17 de dezembro de 2014), onde foi efetivada uma caminhada transversal que serviu de instrumento para tomar conhecimento do espaço da propriedade e em seguida a aplicação de entrevista semiestruturada, bem como observação participante. A partir da abordagem sistêmica, verificou-se que a família apresenta satisfação com a organização dos subsistemas de produção, entretanto, no período de entre safra do açaí ocorre ausência de geração de renda. A mesma desenvolve prática agroecológica no subsistema de produção de açaí para otimização da produção e também faz uso de ações coletivas para suprir a deficiência da mão de obra. Palavras-chave: Igarapé-Miri; Pará; agricultura familiar; várzea; agroecossistema Abstract: The objective was to apply the systemic approach to family extractive agroecosystem located the banks of the river Itamimbuca in Igarapé-Mirim -PA for understanding the functioning of the family system - establishment and practices that the family practice. The methodologies adopted were living together in the family residence which was held in a fortnight period (09 to 17 December 2014), where a cross walk that was instrumental in taking knowledge of space property and then the application was effected semi-structured interviews and participant observation. From the systemic approach, it was found that the family presents satisfaction with the organization of production subsystems, however, the period between harvest açaí is lack of income generation. It performs agroecological practice in the production subsystem açaí to optimize production and also makes use of collective action to meet the manpower deficiency.

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Aplicação da abordagem sistêmica para a compreensão dos subsistemas de produção em uma unidade

familiar

Approach to application for systemic understanding of production subsystems family agroecosystem

COSTA, Janes Silva1; FLORES, Ozanira Alves 2; COSTA, Raquel de Jesus 3; ROSAL, Louise Ferreira 4

1Graduanda do curso bacharelado em agronomia do Instituto Federal do Pará - Campus Castanhal, Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Agronomia, [email protected]; 2Graduanda do curso bacharelado em agronomia do Instituto Federal do Pará - Campus Castanhal, Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Agronomia, [email protected]; 3Graduanda do curso de agronomia do Instituto Federal do Pará – Campus Castanhal, Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Agronomia; 4Professora Dra. do Instituto Federal do Pará - Campus Castanhal4 [email protected] Resumo: O objetivo do trabalho foi aplicar a abordagem sistêmica no agroecossistema extrativista familiar, localizado as margens do rio Itamimbuca no município de Igarapé-Mirim -PA para a compreensão do funcionamento do sistema família - estabelecimento e as práticas que a família executa. As metodologias adotadas foram a convivência na residência da família, que foi realizada em período de quinze dias (09 a 17 de dezembro de 2014), onde foi efetivada uma caminhada transversal que serviu de instrumento para tomar conhecimento do espaço da propriedade e em seguida a aplicação de entrevista semiestruturada, bem como observação participante. A partir da abordagem sistêmica, verificou-se que a família apresenta satisfação com a organização dos subsistemas de produção, entretanto, no período de entre safra do açaí ocorre ausência de geração de renda. A mesma desenvolve prática agroecológica no subsistema de produção de açaí para otimização da produção e também faz uso de ações coletivas para suprir a deficiência da mão de obra. Palavras-chave: Igarapé-Miri; Pará; agricultura familiar; várzea; agroecossistema

Abstract: The objective was to apply the systemic approach to family extractive agroecosystem located the banks of the river Itamimbuca in Igarapé-Mirim -PA for understanding the functioning of the family system - establishment and practices that the family practice. The methodologies adopted were living together in the family residence which was held in a fortnight period (09 to 17 December 2014), where a cross walk that was instrumental in taking knowledge of space property and then the application was effected semi-structured interviews and participant observation. From the systemic approach, it was found that the family presents satisfaction with the organization of production subsystems, however, the period between harvest açaí is lack of income generation. It performs agroecological practice in the production subsystem açaí to optimize production and also makes use of collective action to meet the manpower deficiency.

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Keywords: Igarapé-Miri; Pará; family farming; floodplains; agroecosystem

Introdução Ao longo da história o homem se relaciona com a natureza e com o passar dos anos, foi adquirindo habilidades das quais, maior parte destas ele usa para agredir seu próprio habitat, ou seja, o homem começou a evoluir no modo de vida, passando a retirar do meio natural os recursos além das suas necessidades (SOUSA, 2015). Para Almeida (2009), o homem e a natureza não podem ser vistos de forma separada, isto é, o mesmo faz parte do meio biofísico, e estes juntos compõem os elementos bióticos e abióticos. E nessa relação ativa e produtiva com o meio e o homem, a natureza lhe oferece como objeto de matéria de sua atividade os mecanismos favoráveis para sua sobrevivência. Entretanto, nos últimos anos a participação das populações tradicionais no manejo e conservação dos recursos florestais, tem sido intensificada no meio biofísico. Nesta expectativa, os ocupantes tradicionais ou os proprietários florestais ribeirinhos, apresentam-se responsáveis pelo sucesso da sobrevivência da conservação das florestas (AMARAL, 2000). Nesse contexto Reis (2010), discorre que processo similar de manejo, com a intensificação do plano de boas práticas têm acontecido também nas áreas de várzea. Desde a década de 90, o processo produtivo desenvolvido pelos pequenos produtores familiares, vem passando por uma série de alterações nos últimos anos. Tem sido estabelecida metas pelos agricultores familiares, que priorizam a viabilização e a construção de um novo regionalismo, centrado no desenvolvimento local sustentável da região, tendo em vista, os sistemas locais de produção e inovação. Nessa perspectiva, é fundamental compreender a relação do homem com o meio biofísico e as interações dos fatores bióticos e abióticos que constituem o agroecossistema. Gliessman (2005) define o agroecossistema como local de produção agrícola ou propriedade agrícola compreendido como ecossistema que sofreu alterações antrópicas, sendo definido como um sistema funcional de relações complementares entre os organismos vivos e seu ambiente, delimitado por fronteiras escolhidas, as quais no espaço e no tempo, parecem manter um equilíbrio dinâmico, porém estável. Sendo assim, o sistema de produção de um estabelecimento agrícola se define pela combinação (a natureza e as proporções) de suas atividades produtivas e de seus meios de produção (MAZOYER; ROUDART, 2010). Considerando que o estabelecimento agrícola é um conjunto família-sistema de produção, Bourgeois (1995) fala que em primeira análise, a família fornece ao sistema de produção, o trabalho, e depois dessa troca do que ela retira como retorno, avalia se ela está afetando o sistema de produção ou não. Ainda segundo o mesmo autor, para

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compreender o funcionamento dos estabelecimentos, precisa analisa-lo como um sistema, sendo o conjunto constituído por estabelecimento, agricultor e sua família, caracterizado como sistema família-estabelecimento. No caso de comunidades ribeirinhas, a compreensão do sistema família-estabelecimento é fundamental, uma vez que, as várzeas apresentam diferentes ecossistemas com especificidades que estão interligadas harmoniosamente em estado de equilíbrio.

Diante desse contexto, torna-se necessária uma análise sistêmica para ter melhor entendimento do funcionamento da unidade de produção familiar e de como as tomadas de decisão são realizadas a respeito do uso dos recursos. Pois segundo Sousa et al. (2010), o funcionamento das unidades familiares de produção, são constituídos numa dinâmica sinérgica, que associa gestão do sistema social produtivo e o trabalho. Sendo assim, compreender o agroecossistema extrativista familiar situado em áreas de várzea é de fundamental importância para se obter conhecimentos da dinâmica do funcionamento, assim como, as práticas executadas no mesmo. Nesse sentido o estuário amazônico ocupa vasta área de várzea onde está localizado o município de Igarapé-Miri, que se destaca na região como um dos maiores produtores de açaí (Euterpe oleracea Mart.) do Brasil. O rio principal do município de Igarapé-Miri é o Meruú, sendo coletor de quase toda a bacia hidrográfica do município. Na margem direita os principais afluentes são o rio Igarapé-Miri em cuja margem está localizada a sede municipal, e o rio Itamimbuca que limita o município a nordeste com Abaetetuba-PA. Na margem esquerda o principal rio é o Cagi, a sudoeste com o município de Cametá-PA, desde as nascentes até seu curso médio. O rio Maiauatá, que banha a vila do mesmo nome, serve de ligação entre o rio Meruú e a foz do rio Tocantins. As ilhas fluviais banhadas pelas águas do Estuário do Tocantins, divididas por uma série de cursos d’água são conhecidas como furos e igarapés. (IDESP, 2013). As margens desses rios residem diversas famílias ribeirinhas que além da atividade extrativista também praticam a agricultura. Na perspectiva de entender o funcionamento do agroecossistema de área de várzea o objetivo do trabalho foi aplicar a abordagem sistêmica no agroecossistema extrativista familiar, localizado as margens do rio Itamimbuca no município de Igarapé-Mirim -PA para a compreensão do funcionamento e as práticas executadas pela família. Metodologia O desenvolvimento do estudo consistiu de uma vivência por um período de quinze dias (09 a 17de dezembro de 2014) no município de Igarapé-Miri (PA), na comunidade ribeirinha Ilha Mutirão Japuretê, que está situada aproximadamente 12 km da sede, onde moram 33 famílias (GAIA, 2013). Segundo o Instituto Brasileiro de

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Geografia e Estatística (IBGE, 2015), O município se localiza à margem direita do rio homônimo, na zona fisiográfica Guajarina. Foram utilizadas ferramentas metodológicas para adquirir conhecimentos do agroecossistema, tais como, “caminhadas transversais”, que servem de instrumento para tomar conhecimento do espaço da comunidade. Segundo Sevilla (2002), as “caminhadas transversais” são usadas para adquirir a caracterização rápida do ecossistema, através do percurso da área de ocupação com o objetivo de descrever a paisagem, identificar as formas de ocupação e os sistemas de produção, verificando as limitações e potencialidade pertinentes ao agroecossistema, sendo indicado que seja realizada acompanhada por alguém que tenha conhecimento do ambiente e da diversidade do mesmo. A coleta de informações foi aprimorada com a realização de uma entrevista semiestruturada, como proposto por Verdejo (2010), que se caracterizada por apresentar questionamentos básicos apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa, sendo que os questionamentos dão origem a novas hipóteses que surgem a partir da resposta dos informantes. Recorreu-se ainda ao método da observação participante, que busca “integrar o observador à sua observação, e o conhecedor ao seu conhecimento”. Como definido por Queiroz (2007), esse método consiste na inclusão do pesquisador no grupo observado, tornando-o parte dele, mantendo sua presença consciente e atuante no processo de coleta das informações.

No decorrer da convivência foi acompanhada as atividades do dia a dia desenvolvida pela família, assim como, as execuções das práticas agrícolas, sempre procurando obter informações da relação do homem com a natureza a partir das atividades observadas, tanto interna (organização do trabalho, outros) quanto externa (relação com outras famílias, outros.)

Resultados e Discussões A propriedade da família é composta por três subsistemas de produção, o açaí (Euterpe oleracea Mart.) nativo, criação de pequenos animais domésticos e cultivo de mandioca (Manihot esculenta Crantz.). O açaí nativo é a cultura principal do agroecossistema e ocupa uma área de 6 ha (Figura 1). Na mesma área existem várias espécies de plantas nativas da região amazônica, como, andiroba (Carapa guianensis Aubl.), buriti/miriti (Mauritia flexuosa L.), ucuúba/virola (Virola surinamensis (Rol.) Warb ) e ingá (Inga edulis Mart.), sendo que, todas essas espécies surgiram naturalmente, isto é, não foi introduzida na área pela família.

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Figura 01. Representação esquemática do agroecosistema diversificado

Percebeu-se que o subsistema de açaí nativo apresenta diversidade de espécies, sendo que essa diversificação forma uma comunidade de plantas, que de acordo com Gliessman (2005), se caracteriza como policultura de plantas intercaladas, que interagem com outros organismos contribuindo com a ciclagem de nutrientes, manutenção e biodiversidade no subsistema de produção. Nesse mesmo contexto, Gliessman (2005) discorre que cada organismo individual em um ecossistema, usa energia constantemente para realizar seus processos fisiológicos, que essas fontes de energia são abastecidas regulamente. O mesmo exemplifica que essa reposição é comparada com a eletricidade de uma casa, isto é, flui constantemente de fontes externas para o interior do sistema, que abastece o funcionamento básico. Esta energia entra no sistema como o resultado da captação da energia solar pelas plantas, que fica armazenada nas ligações químicas da biomassa que elas produzem. Nesse sentindo Feldmam et al. (1992) afirmam que a vegetação natural é um importante armazém de nutrientes, por fornecer matéria orgânica, constituída pela decomposição de diversos restos vegetais, que por sua vez, contribuem com o desenvolvimento de várias formas de vida no solo, aumentando assim a quantidade de nutrientes mobilizados.

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Cabianche (2010) discorre que a diversificação do agroecossistema aumenta a quantidade de serrapilheira sobre o solo, sendo uma das principais fontes de ciclagem de nutrientes no subsistema, pois à medida que as folhas, galhos e raízes, são incorporados no solo e sofrem o processo de decomposição, ocorre a liberação dos nutrientes no solo, ocorrendo assim, a disponibilização desses às plantas. Neste contexto, além da diversidade vegetal possibilitar o equilíbrio e manutenção do subsistema, o rio Itamimbuca também contribui com a reposição de nutrientes, resultante do movimento da maré, uma vez que a água carrega grande quantidade de sedimentos em suspensão, isto é, matéria orgânica submersa que fica depositada no solo quando a maré baixa. Esse fluxo de maré alta e maré baixa, de certa forma insere nutrientes que contribuem para o crescimento e a produtividade das espécies. O sistema de produção de açaí nativo também mantém importante função no subsistema de criação de galinha caipira, já que a criação está inserida no interior do cultivo de forma extensiva, ocorrendo interação entre as aves e plantas, onde as aves recebem conforto térmico e também contribuem com o sistema, através da deposição das fezes no solo, as quais servem de adubo orgânico para as espécies contidas no subsistema. Essa interrelação entre os subsistemas, se assemelha com os quintais florestais, que segundo Peyre et al. (2006), é um sistema de uso da terra, onde espécies madeireiras e não madeireira são intensamente arranjadas em diversas camadas de copas sobrepostas, algumas vezes em associação com pequenos animais domésticos. Essa forma de uso múltiplo de uma área serve também para conservação dos recursos energéticos auxiliando na conservação e na diversidade, também requer baixa utilização de insumos externos que busca a segurança alimentar da família. O cultivo de mandioca apesar de não estar inserido na mesma área do subsistema do açaí, também interage com o mesmo, já que as cascas da mandioca retiradas no processamento da farinha de mandioca são depositadas no interior da área de produção do açaí nativo, transformando-se em adubo para o subsistema. De acordo com Silva et al. (2010), as famílias organizam seus subsistemas em torno das atividades contextualmente disponibilizadas. Dessa forma as espécies agrícolas ocupam diferentes ambientes garantindo uma produção contínua durante o ano inteiro. Nesse sentido, é importante ressaltar que cada subsistema de produção que compõe o agroecossistema apresenta suas particularidades, contudo, não podem ser vistos de forma insolada, e sim, de forma completa para entender e compreender o todo. Para esse entendimento, a aplicação do enfoque sistêmico proposto por Silva (2011) busca analisar as interações existente entre os distintos elementos que determinam o rendimento final de uma determinada espécie, com determinado meio e submetido a determinados níveis de intervenção humanas, por exemplo, os elementos constitutivos de base de um sistema de cultivo, onde deve-se analisar os

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fatores e as condições ambientais, a população vegetal manejada e a intervenção humana (Figura 02).

Segundo Nogueira e Simões (2009), os sistemas de produção não podem ser compreendidos como uma simples justaposição de objetos, mas sim como um conjunto deles que estão em constante interação e evolução, sendo assim, a compreensão do funcionamento do agroecossistema contribui para uma análise holística, isto é, há interações com o todo (Figura 3).

Figura 02: Os elementos constitutivos do sistema de cultivo e suas interdependências.

Entrada Saída

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Figura 03. Representação esquemática do fluxo de entrada e saída do sistema de produção e suas interrelações. O rio itamimbuca interage com todos os componentes do agroecossistema. Nesse sentido, é importante ressaltar que a família mantém contato direto com o rio, isto é, utilizam o mesmo para o seu deslocamento de um lugar para o outro, assim como, para a execução da pesca do camarão (Macrobrachium amazonicum ). A captura do camarão é feita com o uso de uma tecnologia característica da própria localidade, o matapi, que é uma ferramenta utilizada para a pesca. Essa ferramenta é um tipo de armadilha feita da fibra de uma planta conhecida por guarumã (Ischnosiphon arouma Koern). Apresenta o formato de uma gaiola com formato cilíndrico, com comprimento de aproximadamente 50 cm e 30 cm de diâmetro. Na extremidade, tem forma de funil que promove a entrada dos camarões, mas bloqueia a saída deles. Para atrair os camarões, é empregada a “poqueca”, uma isca constituída com ingredientes de milho (Zea mays L.) moído e farelo de soja (Glycine max L.). Nesse método tradicional de captura, os espaços entre as “talas” do matapi são pequenos, evitando que os camarões de tamanho menor passem por estes espaços. O que chamou mais a atenção na pesca do camarão foi o período e o horário que é executada. Os matapis são distribuídos no rio no fim da tarde e são retirados no dia seguinte pela manhã, obedecendo sempre os horários 5:30 as 6:00 horas. Esses critérios são seguidos porque, segundo a família, se os matapis forem colocados mais cedo a maré vai estar cheia, o que dificulta a distribuição dos mesmos às margens do rio. Se o recolhimento dos matapis no dia seguinte for feito mais tarde, reduz a quantidade de camarão pescado. A explicação para essa redução é que a presa foge da armadilha quando o sol fica quente, devido os raios solares que penetram na água. Toda essa estratégia realizada pela família foi adquirida a partir das experiências vivenciadas e repassadas de pais para filhos. De acordo com Toledo e Bassols (2015) esse tipo de conhecimento são sabedorias tradicionais que são projetadas de duas formas, no espaço e o tempo. No que tange o espaço se refere, aos conhecimentos que podem ser transmitidos por um único individuo, resultante da coletividade à qual o informante pertence, seja, de núcleo familiar, comunidade rural, o território e grupo ou sociedade étnica ou cultural.

Dessa forma a coletividade tradicional abriga diversos conhecimento ecológico que na maioria das vezes é próprio da localidade e coletivo, acompanhado das mudanças sofridas com o passar do tempo, em processo dinâmico e holístico (TOLEDO; BASSOLS, 2015). Esses sistemas de percepção sobre os recursos naturais circundantes são, além disso, repassado de pai para filhos e aperfeiçoado ao longo dos anos.

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No que tange a pesca de camarão e do peixe é uma atividade exercida pelo núcleo familiar, realizada somente para o autoconsumo da família. Esse tipo de pesca é definido como uma atividade praticada por pessoa física das comunidades tradicionais, visando, principalmente o consumo próprio. O subsistema de criação de galinha caipira, também não distingue do objetivo da pesca, já que a mesma também está voltada para o autoconsumo da família. Com isso, pode-se verificar que a criação de galinha é muito importante para a família, pois complementa a alimentação familiar, e retorna para o subsistema de produção do açaí as fezes que são ótimos adubos orgânicos. O extrativismo dos frutos do açaí é o que gera renda para família, entretanto, essa renda restringe-se ao período de safra da cultura, o que implica em profundas dificuldades financeiras durante a entressafra. Nesse período, para o agricultor adquirir renda, exerce outras atividades, como por exemplo, realiza capinas nas roças e maneja açaizais de outros proprietários para manter o sustento da família. A comercialização dos frutos colhidos ocorre de duas formas: uma parte é vendida para a cooperativa Mutirão e outra para atravessadores. A área do açaizal é dividida em duas parcelas, a primeira a família caracteriza como de melhor qualidade e a segunda de qualidade inferior. Essa divisão do subsistema do açaí é realizada devido a comercialização dos frutos, pois a cooperativa que a família comercializa os frutos exige frutos de melhor qualidade e já o atravessador não tem essa exigência, sendo assim, a família faz essa divisão para obter melhor controle com relação a comercialização e dessa forma adquire rendas através das duas formas de comercialização. Os frutos vendidos para a cooperativa são aqueles caracterizados de melhor qualidade, e os comercializados com os atravessadores de qualidade inferior. A comercialização dos frutos gera emprego, renda, contribui para a economia local e, além disso, fixa o homem no campo. É importante frisar que a família realiza prática agroecológica no sistema de produção do açaí, pois os restos vegetais, como as “vassouras” (cachos do açaizeiro sem os frutos) e palhadas das palmeiras de açaizeiro são distribuídos no sistema, aumentando a quantidade de serrapilheira sobre o solo, contribuindo assim com a ciclagem de nutrientes. Segundo Andrade et al. (2003), a serapilheira é formada a partir da quantidade de resíduo de matéria orgânica depositado no solo e a degradação da mesma é responsável por um dos principais mecanismos de ciclagem de nutriente no ecossistema florestal, além de, proteger o solo de agentes erosivos, fornece matéria orgânica e nutrientes para os organismos do solo e para as plantas acarretando manutenção ou melhorias nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. A família está inserida no centro do agroecossistema, pois é a responsável por articular o funcionamento do estabelecimento produtivo, assim como, decidir aplicabilidade de cada subsistema de produção. Nesse aspecto, a tomada de

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decisão da família está diretamente vinculada com o funcionamento do estabelecimento, visto que, a mão de obra familiar é a responsável pela construção e manutenção da unidade produtiva familiar. É de grande relevância expor que a mão de obra da família para a manutenção e funcionamento dos sistemas de produção é baixa, já que a família é constituída por quatro pessoas. Para a superação dessa deficiência, a família realiza ações coletivas como, por exemplo, a troca de horas de trabalho e os mutirões, o primeiro consiste em uma relação mútua de troca de trabalho, já no caso dos mutirões, é feita uma mobilização de agricultores para a realização de trabalhos nos lotes dos envolvidos. De acordo com Ambrósio e Gunther (2006), o mutirão é uma prática bastante difundida no meio rural brasileiro, principalmente nas pequenas propriedades agrícolas com estrutura familiar, consistindo em auxílio mútuo entre vizinhos nas épocas críticas das atividades agrícolas: roçagem de capoeiras, colheita, capina de ervas, produção de farinha ou para construir uma casa de sapé. Conclusão A partir da abordagem sistêmica, verificou-se que a família apresenta satisfação com a organização dos subsistemas de produção, entretanto, no período de entre safra do açaí ocorre ausência de geração de renda para a família. A mesma desenvolve prática agroecológica no subsistema de produção de açaí para otimização, produção e também faz uso de ações coletivas para suprir a deficiência da mão de obra. Referências bibliográficas AMARAL, P; NETO, M. A. Manejo Florestal Comunitário na Amazônia Brasileira:Situação Atual, Desafios e Perspectivas. Brasíliba: Instituto Internacional de Educação do Brasil, IIEB, 2000. 58p. 11.b

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