corrupção empresas mudam para se adaptar à lei anticorrupção _ valor econômico

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13/11/2015 Empresas mudam para se adaptar à Lei Anticorrupção | Valor Econômico data:text/html;charset=utf8,%3Cdiv%20class%3D%22nheader%22%20style%3D%22marginbottom%3A%2015px%3B%20color%3A%20rgb(102%2C… 1/2 13/11/2015 às 05h00 Empresas mudam para se adaptar à Lei Anticorrupção Regulamentada em março deste ano por meio do decreto 8.420, a Lei Anticorrupção vem movimentando o mercado e levando empresas que adotam práticas de governança a realizarem mudanças e revisões de seus procedimentos internos. Mesmo gigantes como a Eletrobras, que antes da publicação da lei operava em conformidade com o Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), a lei anticorrupção americana, tiveram de fazer adequações. E não foram poucas. Segundo Luiz Augusto Figueira, superintendente de planejamento, gestão estratégica e sustentabilidade da Eletrobras, o grupo investigado na operação LavaJato levou cerca de dez meses para avaliar e colocar em prática as mudanças com a ajuda da consultoria jurídica Hogan Lovells. "Os estudos ocorreram ao longo de 2014, culminando com a elaboração de um manual de compliance. Esse manual agora está em revisão em função da publicação do decreto que regulamentou a lei", diz Figueira. Além do manual e da criação de estruturas internas como uma comissão diretiva de compliance, da qual participam gerentes de todas as unidades da Eletrobras, em março a companhia lançou o programa anticorrupção das empresas do grupo. "Uma das ações previstas é o fortalecimento do sistema de denúncias. Sempre que uma denúncia chega pelos diversos canais de comunicação com os stakeholders e é considerada com indícios mínimos de materialidade e autoria formase uma comissão executiva de correção para apurar os fatos", diz Figueira. Além disso, os contratos da empresa com terceiros ganharam cláusulas especiais que penalizam qualquer tipo de comportamento do fornecedor que viole o FCPA e a lei brasileira. Com programa de compliance adotado desde 2004, o grupo AES Brasil não precisou fazer alterações estruturais quando a lei brasileira foi promulgada, segundo Pedro Bueno, vicepresidente de assuntos legais, compliance e auditoria interna. Mesmo assim, observa que havia necessidade de reforçar alguns pontos de seu programa, como o de treinamento. "Esse é o nosso dever de casa agora. Aperfeiçoar a formação não só dos colaboradores, mas também dos terceiros", diz Bueno. Segundo ele, o grupo ampliou o públicoalvo desses treinamentos. Anteriormente, a formação era restrita aos níveis mais altos da hierarquia corporativa e agora está abrangendo também os funcionários dos níveis de coordenação. Bueno destaca que em 2011 a AES Sul, uma das empresas do grupo, foi uma das quatro primeiras a ser listada no cadastro Empresa PróÉtica, lançado pelo Instituto Ethos e pela ControladoriaGeral da União (CGU) para avaliar e certificar as companhias que atendem aos requisitos de integridade e confiança nas relações comerciais. Nos anos seguintes, a Eletropaulo e a Tietê também passaram a integrar a lista. Para Bueno, a Lei Anticorrupção levará a uma mudança de cultura e a um reforço dos mecanismos anticorrupção das empresas, como é o caso dos cuidados na hora de contratar prestadores de serviços. "Quando a lei do Cade foi lançada, ninguém imaginava que se tornaria tão respeitada. Creio que com a Lei Anticorrupção acontecerá o mesmo. Sua aplicação no dia a dia vai dizer se serão necessários ajustes, mas considero uma lei muito boa". A multinacional 3M, que também integra o cadastro PróÉtica, já se considera adaptada à nova Lei Por Roseli Loturco | Para o Valor, de São Paulo Figueira, da Eletrobras: dez meses para avaliar e colocar em prática as mudanças com ajuda de consultoria

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13/11/2015 Empresas mudam para se adaptar à Lei Anticorrupção | Valor Econômico

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13/11/2015 às 05h00Empresas mudam para se adaptar à LeiAnticorrupção

Regulamentada em março deste ano por meio do decreto 8.420,a Lei Anticorrupção vem movimentando o mercado e levandoempresas que adotam práticas de governança a realizaremmudanças e revisões de seus procedimentos internos. Mesmogigantes como a Eletrobras, que antes da publicação da leioperava em conformidade com o Foreign Corrupt Practices Act(FCPA), a lei anticorrupção americana, tiveram de fazeradequações. E não foram poucas.

Segundo Luiz Augusto Figueira, superintendente deplanejamento, gestão estratégica e sustentabilidade da Eletrobras, o grupo ­ investigado na operaçãoLava­Jato ­ levou cerca de dez meses para avaliar e colocar em prática as mudanças com a ajuda daconsultoria jurídica Hogan Lovells. "Os estudos ocorreram ao longo de 2014, culminando com aelaboração de um manual de compliance. Esse manual agora está em revisão em função da publicaçãodo decreto que regulamentou a lei", diz Figueira.

Além do manual e da criação de estruturas internas como uma comissão diretiva de compliance, da qualparticipam gerentes de todas as unidades da Eletrobras, em março a companhia lançou o programaanticorrupção das empresas do grupo. "Uma das ações previstas é o fortalecimento do sistema dedenúncias. Sempre que uma denúncia chega pelos diversos canais de comunicação com os stakeholderse é considerada com indícios mínimos de materialidade e autoria forma­se uma comissão executiva decorreção para apurar os fatos", diz Figueira. Além disso, os contratos da empresa com terceirosganharam cláusulas especiais que penalizam qualquer tipo de comportamento do fornecedor que viole oFCPA e a lei brasileira.

Com programa de compliance adotado desde 2004, o grupo AES Brasil não precisou fazer alteraçõesestruturais quando a lei brasileira foi promulgada, segundo Pedro Bueno, vice­presidente de assuntoslegais, compliance e auditoria interna. Mesmo assim, observa que havia necessidade de reforçar algunspontos de seu programa, como o de treinamento. "Esse é o nosso dever de casa agora. Aperfeiçoar aformação não só dos colaboradores, mas também dos terceiros", diz Bueno. Segundo ele, o grupoampliou o público­alvo desses treinamentos. Anteriormente, a formação era restrita aos níveis mais altosda hierarquia corporativa e agora está abrangendo também os funcionários dos níveis de coordenação.

Bueno destaca que em 2011 a AES Sul, uma das empresas do grupo, foi uma das quatro primeiras a serlistada no cadastro Empresa Pró­Ética, lançado pelo Instituto Ethos e pela Controladoria­Geral daUnião (CGU) para avaliar e certificar as companhias que atendem aos requisitos de integridade econfiança nas relações comerciais. Nos anos seguintes, a Eletropaulo e a Tietê também passaram aintegrar a lista. Para Bueno, a Lei Anticorrupção levará a uma mudança de cultura e a um reforço dosmecanismos anticorrupção das empresas, como é o caso dos cuidados na hora de contratar prestadoresde serviços. "Quando a lei do Cade foi lançada, ninguém imaginava que se tornaria tão respeitada. Creioque com a Lei Anticorrupção acontecerá o mesmo. Sua aplicação no dia a dia vai dizer se serãonecessários ajustes, mas considero uma lei muito boa".

A multinacional 3M, que também integra o cadastro Pró­Ética, já se considera adaptada à nova Lei

Por Roseli Loturco | Para o Valor, de São Paulo

Figueira, da Eletrobras: dez meses paraavaliar e colocar em prática as mudançascom ajuda de consultoria

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13/11/2015 Empresas mudam para se adaptar à Lei Anticorrupção | Valor Econômico

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Anticorrupção. "Quando a lei foi publicada fizemos uma revisão e notamos que estávamos seguindo seusprincípios. Já havíamos implantado um comitê de compliance com participantes de diversas áreas daempresa e temos canais eficientes para denúncias", afirma a diretora jurídica Rita Duarte.

Por meio de uma linha chamada Fale os funcionários podem fazer denúncias anônimas quandopercebem alguma irregularidade. A ligação é gratuita e a empresa garante não identificar odenunciante. "Cada funcionário recebe treinamento e informações relativas ao assunto pelo menosquatro vezes por ano. A comunicação é reforçada para que o tema fique sempre em evidência", ressalta.Ela também considera a lei no Brasil um grande avanço, embora ainda haja muitos pontos a seremesclarecidos. Segundo Rita, há aspectos que não estão bem explicados, como em relação às competênciasquando um caso de corrupção envolve instâncias administrativas diferentes. "Mas precisamos considerarque estamos vivendo um momento de adaptação das 'placas tectônicas' da lei, o que é natural", destaca.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não comentou oimpacto que a Lei Anticorrupção está provocando no ambiente corporativo, mas aponta que oatendimento a essas normas, assim como a adoção de práticas de governança corporativa adicionaisdevem aproximar os investidores das companhias, facilitando o acompanhamento dos aspectosfinanceiros, estratégicos e operacionais da empresa. Consequentemente, de acordo com a CVM, oresultado deve ser o aumento da segurança e da liquidez do mercado.