correntes teológicas da atualidade

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Correntes Teológicas da Atualidade Correntes Teológicas da Atualidade 22-A SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................ .................................................... 03 CAPÍTULO 1 — PANORAMA DA TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA O Impacto do Iluminismo ................................................ ........... 03 A Ascensão do Liberalismo Religioso ........................................... O Confronto Com a Evolução .................................................. .... A Bíblia e o Liberalismo ............................................... ............... Cristologia do Liberalismo ............................................... ........... A Doutrina de Deus e o Liberalismo ............................................ Escatologia e Liberalismo ............................................... ............ Teólogos da Ortodoxia ................................................. .............. A Teologia de 1920- 1960 ...................................................... ..... A Teologia Radical dos Anos 1960-1970 ...................................... CAPÍTULO 2 — CONCÍLIO VATICANO II E TEOLOGIA CATÓLICA................................ 13

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Page 1: Correntes Teológicas da Atualidade

Correntes Teológicas da Atualidade

Correntes Teológicas da Atualidade 22-A

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 03

CAPÍTULO 1 — PANORAMA DA TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA

                      O Impacto do Iluminismo ........................................................... 03                      A Ascensão do Liberalismo Religioso ...........................................                      O Confronto Com a Evolução ......................................................                     A Bíblia e o Liberalismo ..............................................................                      Cristologia do Liberalismo ..........................................................                      A Doutrina de Deus e o Liberalismo ............................................                      Escatologia e Liberalismo ...........................................................                      Teólogos da Ortodoxia ...............................................................                      A Teologia de 1920-1960 ...........................................................                      A Teologia Radical dos Anos 1960-1970 ......................................                     

CAPÍTULO 2 — CONCÍLIO VATICANO II E TEOLOGIA CATÓLICA................................ 13

 

CAPÍTULO 3 — TEÓLOGOS CONTEMPORÂNEOS MAIS DESTACADOS .........................14

                      Friedrich Schleiermacher ............................................................                      Albert Ritschl .............................................................................                      Adolf von Harnack .....................................................................                      Wolfhart Pannenberg ..................................................................                      Karl Barth ................................................................................                       Rudolf Bultmann ........................................................................                      Teilhard de Chardin ...................................................................                      Dietrich Bonhoeffer ....................................................................                      Paul Tillich ................................................................................                      Reinhold Niebuhr .......................................................................                      Gustavo Gutiérrez ......................................................................                      Leonardo Boff ...........................................................................

 

CAPÍTULO 4 — A TEOLOGIA ESCRITURÍSTICA........................................................19

                      As Escrituras Sagradas ...............................................................                      A Trindade ................................................................................                      Deus-Pai ...................................................................................                      Deus-Filho .................................................................................

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                      Deus-Espírito Santo ...................................................................                      A Criação ..................................................................................                      O Grande Conflito Entre Bem e o Mal ..........................................                      A Vida, a Morte e a Ressurreição de Cristo ..................................                      A Experiência da Salvação ..........................................................                      A Igreja ....................................................................................                      O Remanescente e Sua Missão ...................................................                      Unidade no Corpo de Cristo ........................................................                      O Batismo .................................................................................                      A Ceia do Senhor .......................................................................                      Dons e Ministérios Espirituais .....................................................                      O Dom de Profecia ....................................................................                      A Lei de Deus ............................................................................                      O Sábado ..................................................................................                      Mordomia .................................................................................                      Conduta Cristã ..........................................................................                      O Casamento e a Família ...........................................................                      O Ministério de Cristo no Santuário Celestial ................................                      A Segunda Vinda de Cristo .........................................................                      Morte e Ressurreição .................................................................                      O Milênio e o Fim do Pecado ......................................................                      A Nova Terra .............................................................................

Conclusão ...................................................................................................... 25

Apêndice 1 — Verbetes Para Ler Teologia Contemporânea ........................ 25

Bibliografia .................................................................................................... 33

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INTRODUÇÃO

                 Ao abordarmos um assunto como teologia contemporânea, alguns talvez fiquem duvidosos da pertinência de ocupar-nos com muitos pensadores modernos cuja abordagem dista muitas vezes frontalmente da teologia bíblica. Não poderíamos ignorá-los, e deixá-los em paz cuidando de suas próprias especulações e invenções, enquanto levamos a efeito nossa tarefa como pensadores genuinamente cristãos, sem fazermos referências a eles? A resposta só pode ser “não”.         Eis pelo menos duas razões:

1. Precisamos ter conhecimento dos maiores pensadores teológicos do nosso tempo. Não devemos ignorar os pontos de vista sustentados por outros, para termos uma visão global da questão.

2. Podemos aprender muitas lições importantes, até mesmo da parte de pessoas com as quais discordamos. Às vezes elas tocam em problemas negligenciados ou para os quais não se chamou a devida atenção.

CAPÍTULO I

PANORAMA DA TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA

         A teologia moderna parece um verdadeiro labirinto. E tão complexo é este labirinto que poucas pessoas conseguiram penetrar suas passagens intricadas. Especialmente para os não iniciados, a tarefa de entender as muitas escolas de teologia cristã contemporânea parece desnorteante, na melhor das hipóteses. Mesmo assim é essencial para se ter uma fé cristã sólida, não somente compreender estas teologias atuais como também oferecer uma crítica sadia que conduza à edificação de uma teologia positiva.         Enfocamos e discutimos aqui seis fenômenos de importância relacionados com a compreensão do quadro teológico atual, principalmente as tensões teológicas das últimas décadas. Embora a proposta do módulo seja fazer um levantamento da teologia moderna desde Schleiermacher, ainda assim é necessário fazer um levantamento da paisagem teológica dos anos anteriores.

O Impacto do Iluminismo         Foi durante os séculos dezessete e dezoito que emergiu a abordagem moderna característica à maioria das ciências e disciplinas universitárias. Isto aconteceu com maior ênfase no iluminismo ou filosofia das luzes (al. Aufklärung e o ingl. Enlightenment), movimento filosófico do séc. XVIII que se caracterizava pela confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento. Foi um período de intensa autoconsciência da metodologia para todas as matérias. Havia uma desconfiança geral da tradição, dos costumes, da antigüidade e da autoridade, e eram premiados o ceticismo, a razão e a análise.

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         O impacto do iluminismo sobre a mente moderna e, portanto, sobre a teologia, pode ser discernido em muitas áreas, das quais podemos citar:         Historicismo. Os cânones da história científica (freqüentemente chamada historiografia) foram refinados durante o iluminismo junto com os mais elevados padrões para a exatidão e objetividade históricas. Isso levou a um constante questionamento da integridade e credibilidade histórica das matérias históricas da Bíblia.         Cientismo. Atitude segundo a qual os métodos científicos devem ser estendidos sem exceção a todos os domínios da vida humana, inclusive ao estudo da fé. Para a mentalidade iluminista isto significava que, onde as Escrituras entram em conflito com a ciência moderna — geologia, astronomia e biologia em especial — então a Escritura deve ceder lugar à ciência. Ou seja, sempre que a Bíblia retratar o universo de modo contrário ao conceito mundial do cientismo ou descrever eventos que ultrapassem o natural, o homem moderno deve escolher a ciência em preferência à Escritura.         Criticismo. Descobriu-se que muitos manuscritos dos períodos medieval e clássico, os quais alegavam ser autênticos e fidedignos realmente não o eram. Como conseqüência, todos os documentos do passado passaram a ser cuidadosamente perscrutados quanto à autenticidade, exatidão e fatualidade. Essa mentalidade fez com que as Escrituras fosse sujeitadas ao mesmo escrutínio. Surgiu daí a hipótese documentária relativamente ao Pentateuco, passou-se a questionar a autoria dos evangelhos bem como do livro do profeta Isaías.[1]         Racionalismo. Racionalismo é o método de observar as coisas baseado exclusivamente na razão, considerada como única autoridade quanto à maneira de pensar e/ou de agir. Os deístas foram os pioneiros na teologia que esposaram o dito de que a razão é teste de toda verdade, inclusive da verdade religiosa. Antes deles, os fundadores da filosofia moderna adotaram esse ponto de vista, conquanto ainda acreditassem em Deus. Essa confiança na razão foi resumida por Kant nas suas três grandes “críticas”, nas quais argumentou que a razão é rainha na ciência ou no conhecimento; na ética e na religião; na beleza ou na estética. Se é assim, os teólogos devem sujeitar os mistérios insondáveis da fé cristã à razão. As doutrinas que não podem ser explicadas à luz da razão humana devem ser descartadas por não serem tópicos teológicos viáveis.         Toleracionismo. As grandes descobertas do século dezesseis revelaram existir outras culturas além da européia, com suas religiões peculiares. Isso levou à idéia de que é preciso admitir a existência legal de diversas religiões. Nenhuma religião deve reivindicar para si só a exclusividade da verdade total. A tolerância é a virtude suprema da religião, ao passo que o dogmatismo é a atitude mais repreensível. Essa implicação tende para o ecumenismo não somente das comunhões cristãs, mas também das religiões do mundo.          Otimismo. A mentalidade do iluminismo já não acredita na doutrina pessimística do pecado original. O progresso da humanidade, os avanços da ciência e da tecnologia, o melhor conhecimento da psicologia e da sociologia, tudo indica que a raça humana está em curva ascendente. Tudo corre no mundo do melhor modo possível, tudo vai bem. Doutrinas sombrias a respeito do homem e desta vida como fardo, transportar cruz, cederam lugar a conceitos mais otimistas dos poderes do homem e da alegria e vitalidade da vida aqui e agora.

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         Kantismo. Além destas ênfases importantes do iluminismo, a matriz de onde se desenvolveu a teologia moderna, o idealismo transcendental do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) requer menção especial. Em muitos aspectos, Kant foi o fundador teórico do liberalismo religioso, porque grande número de teólogos liberais edificou diretamente sobre a filosofia kantiana ou sobre alguma versão dela. Segundo ele, os objetos da metafísica e da religião não podem ser conhecidos racionalmente; a moral precisa ser fundamentada em imperativos categóricos gerados pela razão prática.  Ao assim fazer, deu à religião uma forte interpretação ética, que tem sido uma característica do liberalismo religioso a partir de então até o tempo presente.

A Ascensão do Liberalismo Religioso         Podemos definir liberalismo religioso em sentido lato como sendo o esforço para reformular a fé cristã em harmonia com o iluminismo e a partir das perspectivas do iluminismo.         Schleiermacher. A Teologia Contemporânea nasce sob as hostilidades de teólogos liberais e neo-ortodoxos. Muitos indicam Friedrich Schleiermacher (1768-1834) como o pai da Teologia Moderna. Schleiermacher formulou uma teologia à luz do Romantismo. Quando o Romantismo passou de moda, a teologia de Schleiermacher passou também. Mesmo assim, ele deixou uma marca que dura até hoje. O pioneiro na reconstrução da teologia mediante o uso de uma base filosófica articulada foi Schleiermacher. Ele trabalhou com diferentes aspectos do idealismo filosófico alemão para criar uma teologia aceitável à mentalidade iluminista. O exame de três conceitos filosóficos básicos demonstrará como a filosofia está operante na sua teologia:

1. A religião diz respeito essencialmente ao sentimento, entendido aqui como aquele senso existente dentro do homem quanto à sua continuidade com o espírito do universo e sua união com Deus.

2. Esse sentimento é um sentimento de dependência total de Deus.3. Esse sentimento pode ser expresso em níveis de consciência. O pecado

é em essência a consciência sensual.         O modo subjetivo como Schleiermacher entende a religião tem implicações de alcance considerável. Em primeiro lugar é um ataque contra a ortodoxia dogmática expressa em credos. Em segundo lugar, todas as doutrinas cristãs ou são reconstruídas a fim de se conformarem com estes critérios filosóficos, ou são eliminadas. A localização da fé já não se acha naquilo que Deus diz (a revelação divina) nem naquilo que Deus faz (a redenção na história), mas primariamente naquilo que o homem sente e experimenta. Em terceiro lugar, o centro de gravidade do cristianismo encontra-se agora na experiência do cristão e não naqueles atos soberanos de graça e revelação realizados por Deus na história.         Schleiermacher não iniciou uma escola teológica no sentido técnico do termo, mas foi uma inspiração para muitas escolas. Uma destas era conhecida como escola da teologia da mediação (Vermittlungstheologie), e contava com os seguintes membros: Flücke, Neander, Nitsch, Tholuck, Lange. Dorner, Rothe, Martensen e Beyschlag.         Hegel. Depois de Kant, a filosofia sofreu tremenda influência de Georg W. Friedrich Hegel (1770-1831), contemporâneo de Schleiermacher que

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trabalhava no corpo docente da mesma universidade. A grande contribuição de Hegel à filosofia foi a de que a história levava consigo seu próprio significado. A própria história estava passando por um processo de evolução racional e cultural, que atuava do simples para o complexo, tracionado pela dialética, que forçava todos os elementos da cultura para frente e para cima.         A influência de Hegel estendeu-se à crítica bíblica e à teologia. No campo da crítica bíblica, Julius Wellhausen (1844-1918) e seus seguidores do Antigo Testamento e Ferdinand Christian Baur (1792-1860), chefe da escola de Tübingen, e seus seguidores do Novo Testamento procuraram reconstituir a história bíblica usando como ponto de apoio a filosofia hegeliana da história. Wellhausen considerava os livros bíblicos etapas da evolução gradual da antiga religião judaica. Baur interpretava a história do cristianismo primitivo como uma evolução dialética.         Um dos teólogos hegelianos bem conhecidos foi A. E. Bierdermann (1819-1885). De comum acordo com os hegelianos, Bierdermann fazia distinção entre o “princípio de Cristo” e o “Cristo histórico”. O princípio de Cristo era a união entre Deus e o homem ou a união no Deus-homem. Este princípio atingiu sua manifestação mais elevada em Jesus, mas não temos necessidade do Jesus histórico, pois a humanidade pode viver segundo o princípio de Cristo.         Outro hegeliano digno de nota foi P. K. Marheineke (1780-1846), pelo fato de alguns estudiosos acreditarem que Karl Barth derivou dele a noção de que a revelação é um encontro ou experiência, e não uma comunicação da verdade divinamente revelada. Percebe-se que a influência de Hegel foi mais sentida entre os críticos do Antigo e do Novo Testamentos do que entre teólogos.         Coleridge. Outro teólogo que demonstra sua clara influência da filosofia sobre seu pensamento foi Samuel Taylor Coleridge (1772-1834). Embora tecnicamente Coleridge fosse poeta e homem de letras e não teólogo, grande foi o impacto que causou sobre a teologia inglesa e norte-americana. Ele estudou na Alemanha, de onde trouxe para a Inglaterra o idealismo filosófico que imperava na Alemanha naquela época, com sua interpretação liberal do cristianismo. Resumiu tudo isto no seu livro Aids to Reflection(1825).         Ritschl. O nome de Albrecht Ritschl (1822-1889) também consta em destaque no rosto da teologia liberal. Protestante liberal, propôs novo sistema teológico para o luteranismo, em que ressaltou o conteúdo ético-social da doutrina. Para ele, a teologia deve ocupar-se com julgamentos de valores. Para os cristãos fundamentalistas, porém, a teologia é tanto um julgamento histórico como um julgamento de valores. Dois teólogos ritschlianos de destaque foram Wilhelm Herrmann (1846-1922) e Ernst Troeltsch (1865-1923).         Bushnell. O liberalismo deitou raízes e cresceu no Estados Unidos da América no século dezenove. Dentro da história da teologia liberal norte-americana deste século, destaca-se o nome de Horace Bushnell (1802-1076). Foi pastor-teólogo que estava sempre se movimentando e alterando com as disposições de ânimo da teologia. Foi influenciado por Coleridge, pelo idealismo alemão e pelo conceito da Trindade sustentado por Schleiermacher. Por haver dado ênfase ao conceito de que as crianças devem ser educadas para o cristianismo ao invés de serem evangelizadas para ele, é chamado o pai da educação religiosa. Alguns o consideram o verdadeiro fundador do liberalismo teológico americano.[2]

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         Outra faceta da teologia liberal especialmente típica do liberalismo norte-americano é o assim chamado “evangelho social”. Ritschl tinha redefinido a Igreja e o Reino de Deus em termos fortemente éticos. A máxima suprema era a ética do amor conforme Jesus a ensinava, e a igreja se compunha daqueles que aceitavam esta ética. Espalhar esta ética em toda a sociedade era estender o reino de Deus. Havia nestas teses o embrião do que mais tarde haveria de ser chamado o Evangelho Social.

O Confronto Com a Evolução         Chama-se evolução “a teoria baseada na idéia de que as espécies animais e vegetais sofrem modificações graduais ao longo das gerações, que levam ao surgimento de raças e espécies novas.”[3]         Até o século XVIII, o mundo ocidental aceitava a doutrina do criacionismo, segundo a qual cada espécie, animal ou vegetal, tinha sido criada independentemente, por ato e obra de Deus. O pesquisador francês Jean-Baptiste Lamarck foi dos primeiros a negar esse postulado e a propor um mecanismo pelo qual a evolução se teria verificado. O evolucionismo encontrou, porém, seu principal proponente e mais forte defensor em Charles Darwin (1809-1882).         O filósofo Hegel havia ensinado a existência de uma evolução filosófica, e agora este cientista inglês postula a teoria da evolução das espécies. Para muitos teólogos evangélicos, isto parecia conflitar frontalmente com os registros do Gênesis, especialmente quando combinado com a teoria uniformitária da geologia anunciada pelo geólogo britânico Sir Charles Lyell (1797-1875). A geologia uniformitária e a evolução biológica pareciam contradizer abertamente a teologia ortodoxa em questões tais como a criação, um Adão original, uma Queda histórica e a depravação total do gênero humano.         Outro aspecto do evolucionismo de relevância para a teologia e os estudos da Bíblia é que os teólogos liberais passaram a empregar a teoria da evolução não somente para explicar fenômenos biológicos, mas também como parte de sua cosmovisão. Entendiam que a religião, bem como a Bíblia, à semelhança da biologia, também passaram por um desenvolvimento do simples para o complexo. Esta atitude se refletiu nas suas teorias da alta crítica e nas suas reconstruções da história bíblica. Os liberais rejeitaram as doutrinas históricas da Queda, do pecado original e da depravação total. Outros adotaram a idéia de que o homem caiu “para cima”. Outros ainda tentaram conciliar a criação com a evolução, de onde surgiu o evolucionismo teísta.

A Bíblia e o Liberalismo         O iluminismo, além de pressionar os teólogos no sentido de buscarem uma nova base para a fé cristã, com raízes filosóficas, forçou também os teólogos a enfrentarem os estudos críticos ocorridos nas pesquisas históricas nas disciplinas seculares.         Alta Crítica. A aplicação de métodos literários críticos às Escrituras, aliada aos estudos históricos críticos acabou desembocando naquilo que recebia o nome de “a alta crítica”. Enquanto a baixa crítica se dedicava ao estudo do texto da Escritura e do problema das variações textuais, a alta crítica se devotava ao estudo da autoria, da data, da razão para a composição, da unidade literária do livro e quaisquer outros problemas levantados pelo livro.

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         Pelo fato de a alta crítica questionar tanto os conceitos tradicionais a respeito da Bíblia, logo ficou conhecida como atividade característica dos teólogos liberais. Até hoje, a expressão Alta Crítica é tomada num sentido negativo por muitos. O problema, porém, não é com a crítica propriamente dita, mas com a forma como é usada para subverter a integridade das Escrituras e, assim, o programa ortodoxo inteiro da teologia.         O que deu destaque à alta crítica, além, dos estudos levados a efeito em universidades e faculdades, foram os casos famosos de processos eclesiásticos por heresia e a decorrente publicidade que os acompanhava na imprensa popular. Podemos citar aqui três. O primeiro foi o caso do bispo J. W. Colenson, excomungado pela Igreja da Inglaterra em 1866 por ter escrito um livro — The Pentateuch and the Book of Joshua Critically Examined — no qual defendia a hipótese documentária. O segundo caso foi o de William Robertson Smith, processado e removido de sua cátedra em Aberdeen em 1881 por causa dos artigos heterodoxos sobre o Antigo Testamento, expressos na nona edição da Encyclopedia Britannica. O terceiro caso foi o de C. A. Briggs, suspenso da Igreja Presbiteriana pela Assembléia Geral em 1893 por seguir a alta crítica nos seus conceitos sobre Antigo Testamento.         À medida que crescia o liberalismo, o fundamentalismo — ou seja, o movimento em reação que procurava radicalizar a ideologia bíblica e evitar a desvirtuação de seus princípios — unificou-se e articulou-se. De um lado o liberalismo argumentava que as Escrituras eram sujeitas a forças humanas comuns na sua composição; de outro lado o fundamentalismo alegavam que a inspiração divina tornava a Bíblia inerrante.         Hoffmann e o Conservadorismo. Nem todos os teólogos do século dezenove, porém, atacaram as Sagradas Escrituras. Um dos esforços favoráveis foi a obra de J.C. K. Von Hoffmann (1810-1877) e da escola  da Universidade de Erlangem. Von Hoffmann fundamentava-se em duas principais teses: (1) A Bíblia é essencialmente o registro da história da salvação; (2) o homem se apropria desta história salvífica mediante uma fé viva em Cristo e na regeneração.         Realismo Bíblico e Meio-Termo. Um segundo movimento que buscava conservar o valor teológico das Escrituras enquanto admitia certa medida de crítica bíblica ficou conhecido como “realismo bíblico”. Embora seus proponentes fossem principalmente alemães, havia representantes na Inglaterra (C. H. Dodd, James Denney, W. Manson, T. W. Manson) e nos Estados Unidos (Moses Stuart, John A. Broadus, Sampey, A. T. Robertson). Um realista bíblico era um estudioso que acreditava que, apesar da forma da composição literária e dos problemas críticos a ele associados, a Bíblia continuava sendo a Palavra de Deus. A maior herança do realismo bíblico do século dezenove é o alentadoTheological Dictionary of the New Testament, em nove volumes, editado por Gerhard Kiteel e G. Friedrich.         A antiga escola de Princenton, nas pessoas de A. A. Hodge e Benjamin Warfield, elegeu a doutrina da inspiração como a linha divisória entre a teologia ortodoxa e liberal. Eles mesmos defendiam a inspiração plenária e verbal das Escrituras bem como sua total inerrância. Esse ponto de vista foi finalmente adotado por grande círculo de pessoas fora dos arraiais presbiterianos. Embora os escritos de Warfield sobre inspiração tenham sido os mais autorizados entre os fundamentalistas, a obra do teólogo suíço L. Gaussen (1790-1863) também

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exerceu considerável influência. Outros que merecem destaque foram James Orr da Escócia e Abraham Kuyper da Holanda.

Cristologia do Liberalismo         Uma das decorrências naturais da subversão histórica dos evangelhos foi a subversão da cristologia histórica. Criou-se o problema “Jesus versus Cristo”. Ou seja, até que ponto o Cristo da teologia sistemática é realmente o Jesus da história? Ou será que a crítica sinóptica subverteu de tal forma a confiabilidade histórica dos evangelhos que não se pode obter deles nenhuma matéria cristológica? Alguns, como os ritschlianos consideravam as afirmações da preexistência, divindade e encarnação de Cristo como reflexões de conceitos metafísicos gregos sem qualquer lugar justificável na teologia cristã. Isto levou a cristologia do liberalismo a, via de regra, negar sistematicamente as doutrinas históricas da divindade de Cristo, da encarnação e da natureza teantrópica. Para os liberais, Cristo não é Deus, mas somente um grande Exemplo arquetípico, que os cristãos devem imitar.         Essa redução é vista nas famosas preleções de Adolf von Harnac (1851-1930), teólogo alemão nascido na Estônia e uma das figuras mais destacadas do protestantismo de caráter liberal. adotou o método histórico-crítico para seus estudos teológicos.                Cristologia Quenótica. Outra espécie de cristologia que foi alvo de muita discussão foi a cristologia quenótica, baseada no verbo grego de Filipenses 2:7 (kenoo, “esvaziar-se”). A questão que se impunha era uma só: Cristo se esvaziou dos seus atributos divinos naturais, tais como a onipotência, a onipresença e a onisciência, mas conservou seus atributos espirituais ou pessoais, tais como amor, santidade, justiça, bondade etc. Os que defendiam a cristologia quenótica defendiam o ponto de vista de que o Senhor realmente se esvaziou de seus atributos naturais. Thomasius e Gess defenderam essa posição, bem como Charles Gore na Inglaterra. Um dos livros mais famosos sobre o assunto foi o de Martin Kähler, The So-Called Historical Jesus and the Historic Biblical Christ.

                                                  A Doutrina de Deus e o Liberalismo         À proporção que a doutrina ortodoxa de Deus e da Trindade sofria erosão na teologia liberal, envidaram-se novos esforços para reformular a doutrina de Deus ou teologia propriamente dita.          Panteísmo e Panenteísmo. A teologia liberal começou a erodir esta doutrina com o panteísmo (“Deus é todas as coisas”) de Schleiermacher.  Depois, para ressaltar a imanência de Deus sem cair no panteísmo, a opção foi o panenteísmo (“Deus está todas as coisas”).         Deus Sentimental. Um segundo desvio igualmente perigoso foi o impacto da teologia ética sobre a teologia cristã. O resultado foi uma sentimentalização do conceito de Deus. O Pai Celestial é um Deus por demais misericordioso para castigar os maus nesta vida ou num inferno futuro, sequer para permitir que Cristo levasse sobre Si inocentemente os pecados do mundo. Deus é um deus politicamente correto, sem a severidade ou fibra moral do modo histórico e ortodoxo de entender a Divindade.         Unitarismo. O terceiro afastamento da linha tradicional foi a visão unitarista da Divindade. Deus já não é uma trindade, três pessoas num só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo; mas um Deus unitário. No século dezenove o

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unitarismo foi defendido por James Martineau (1815-1900) .A negação do trinitarismo nos EUA teve suas raízes no racionalismo do século dezoito e emergiu como denominação no século dezenove. Seu centro acadêmico foi a Universidade de Harvard.

Teísmo Empírico. Outro produto do repensamento da doutrina de Deus ficou sendo conhecido como teísmo empírico. Os teístas empíricos se propuseram a desenvolver a teologia a partir dos dados da experiência religiosa. O mais famoso entre estes esforços na Grã-Bretanha foi a obra de Frederick R. Tennant (1866-1956), cuja Philosophical Theology foi considerada a maior defesa empírica do cristianismo de seu tempo. Nos Estados Unidos o defensor principal foi Douglas C. Mackintosh (1877-1948) com a obraTheology as an Empirical Science. Outros porta-vozes do movimento foram John Cobb, Normann Pittenger e Schubert Ogden.

Escatologia e Liberalismo         Dispensacionalismo. O século dezenove e a primeira parte do século vinte foram ricos em escatologia, tanto do lado conservador quanto do lado liberal. Embora sem grande estatura teológica, os escritos de J. N. Darby (1800-1882) têm exercido enorme influência sobre evangélicos, fundamentalistas e até mesmo pentecostais. Seu sistema dispensacionalista foi codificado com algumas alterações na Bíblia de Referência Scofield, especialmente na segunda edição. Popularizando-se essa versão bíblica comentada, espalhou-se a idéia dispensacionalista, cuja escatologia básica vê grande significação profética na restauração de Israel.         Questões Milenistas. A discussão da escatologia dispensacionalista, porém, é apenas a ponta do iceberg. Por quase dois séculos, teólogos conservadores e liberais vêm lutando entre si sobre a questão do tempo da implantação do reino e que se subdivide nas seguintes escolas: milenista (Cristo reina agora na igreja), pós-milenista (a igreja ganhará o mundo para Cristo pelo poder do espírito; depois, Cristo virá) e pré-milenista (Cristo virá pessoalmente para estabelecer seu reino).         Universalismo Soteriológico. O século dezenove também foi um século de universalismo soteriológico. O raciocínio é o seguinte: Adão levou toda a raça humana à condenação, Cristo, o segundo Adão, leva a raça inteira para a salvação. Se Cristo morreu por todas as pessoas, então todos serão salvos, até mesmo os pagãos.         Duas eram as plataformas básicas do liberalismo em sua escatologia. De um lado, o reino de Deus como conceito ético e estreitamente vinculado ao Evangelho Social; do outro, a doutrina da imortalidade pessoal.

Os Teólogos da Ortodoxia         Embora a referência freqüente seja aos teólogos liberais, é forçoso reconhecer que há uma corrente ininterrupta de teólogos ortodoxos desde os tempos do século dezessete até o presente.         Um movimento de orientação ortodoxa digno de menção no século dezenove, surgido dentro do anglicanismo, ficou conhecido como Movimento de Oxford (universidade onde teve sua origem) ou Movimento Tractariano (dos Tracts for the Times, que publicava). O líder foi John Henry Newman (1801-

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1890). Em 1945 Newman converteu-se ao catolicismo. Outros da Igreja Anglicana que levaram avante o movimento foram E. B. Pusey (1800-1882) e H. P. Liddon (1829-1890).         Na Holanda Abraham Kuyper (1837-1920), ortodoxo calvinista, inspirou uma nova escola de ortodoxia. Nos Estados Unidos a defesa da ortodoxia foi feita pela antiga escola de Princenton, fundada sob a liderança de Archibald Alexander (1772-1851). Entre seus nomes mais famosos, encontramos os Hodges (Charles, Archibald e Caspar), William Green, B. B. Warfield e J. Gresham Machen. Entre os teólogos do início do século vinte, vale destacar P. T. Forsyth (1848-1921), estudioso sui generis, que recebeu o nome de o Barth antes do Barth.

A Teologia de 1920-1960         O livro Commentary on Romans de Barth assinalou o início de uma nova era na teologia: a neo-ortodoxia. Embora a teologia liberal não tivesse morrido, pelo forte impacto exercido nos EUA em especial, a obra de Barth foi o pontapé inicial para a emergência de uma nova geração de teólogos — homens como Bultmann, Emil Brunner (1889-1966), Hein, Tillich, Gogarten, Thielecke, Wingren, Ferré, Torrance, Weber e os Niebuhrs. Todos tentaram reafirmar os temas centrais da Reforma protestante em oposição às teologias liberais.         As principais características da teologia neste período são:

1.Desafio ao programa liberalista.2.Retomada dos escritos dos reformadores.3.Reafirmação da revelação4.Influência mista da filosofia5.Intensa influência bíblica

         Neo-liberalismo. Apesar de tudo, a neo-ortodoxia não conseguiu se livrar inteiramente da influência do liberalismo teológico. Não podemos dizer que houve um retorno ao conceito da Bíblia sustentado pela Reforma, como única regra infalível e autorizada de fé e prática. Embora a Bíblia seja considerada normativa, não o é no sentido histórico de sua autoridade divina. O conceito liberal de que a revelação era antes de tudo introspeção ou experiência, e não um fato dogmático e doutrinário, não foi inteiramente repudiada. A idéia liberal de que a essência do cristianismo acha-se primariamente na experiência ou no encontro existencial, em vez de na Palavra de Deus e em Cristo é ainda adotada por muitos. Finalmente o universalismo soteriológico não foi de todo abandonado.

A Teologia Radical dos Anos 1960-1970         “Se a teologia contemporânea é como um rio impetuoso e lodacento, conforme realmente é, surge naturalmente uma pergunta pertinente: Como é que veio a ser tão turbulenta e barrenta? Uma pergunta correlata também se impõe: Quais eram os afluentes nalgum lugar rio acima que se derramaram naquilo que agora çé uma inundação turbulenta? Uma resposta exaustiva a estas perguntas exigiria um estudo que remontasse até as profundezas mais remotas da civilização humana e revirasse os vastos recursos da erudição especializada. Mas pelo menos temos o direito de dizer que, no passado mais recente, a influência possante de quatro homens têm convergido para

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engrossar este rio.”[4] São eles Rudolf Bultmann, Teilhard de Chardin, Dietrich Bonhoeffer e Paul Tillich” (ver biografia resumida nos capítulos seguintes).         A Teologia Secular. O desenvolvimento daquilo que é popularmente conhecido como teologia secular é um paralelo da secularização radical da vida que chegou à sua plenitude em fins da década de 1950.

São numerosas as causas da emergência dessas formas seculares de teologia: de um lado as conquistas assombrosas da tecnologia assinalavam a crescente capacidade do homem controlar muitos aspectos de sua existência; de outro lado, esta mesma tecnologia tinha uma incapacidade paradoxal de lidar com elementos obscuros e ocultos da existência humana. Este último fato produzia uma sensação de desespero e alienação da parte do grupo mais jovem de teólogos. Aliado a esta sensação de frustração havia um crescente sentimento de que o cristianismo convencional era irrelevante à era emergente. Havia ainda o ofuscamento da linha divisória entre o sagrado e o profano. Sem contar com as amargas reflexões da Segunda Guerra Mundial.         A Teologia da Morte-de-Deus. Foi nessa época que surgiu um movimento da ala esquerda conhecido como a teologia da morte-de-Deus. Seus principais proponentes foram Thomas J. J. Altizer, William Hamilton, Gabriel Vahanian e Paul van Buren. Os teólogos do “Deus está morto” (frase retirada do livro Assim Falava Zaratustra, publicado quase um século antes por Friedrich Nietzsche (1844-1900)) apareceram como meteoros no céu religioso e, embora seus pontos de vista não tivesse solidez e fossem efêmeros, serviu para preparar a mente das pessoas para formulações da teologia menos convencional. Os principais arquitetos da teologia secular foram Bonhoeffer, Harvey G. Cox, John Macquarrie.         A Teologia da Esperança. Em reação ao movimento da morte de Deus ocorrido na década de 1960, surgiram os teólogos da esperança. Também chamada futurologia, a teologia da esperança é um modo de encarar a teologia e as preocupações teológicas da perspectiva do futuro e não do passado ou do presente. A realidade ainda não é; está orientada para o futuro. A questão da existência de Deus só poderá ser respondida no futuro. Filosoficamente, esta teologia acha suas origens idéias de Ernst Bloch, professor da Universidade de Tübingen (“ainda não”). O fundador desse tipo de teologia foi o alemão Jurgen Moltmann, que traçou suas linhas programáticas em seu famoso livro Theologie Der Hoffring (Teologia da Esperança). Ultimamente, o padre Schillebierckx tornou-se um zeloso seguidor da Teologia da Esperança, uma nova interpretação da mensagem Cristã, que adota como princípio hermenêutico exatamente a esperança. Três líderes destacados no novo movimento são os teólogos alemães Jürgen Moltmann (Reformado), Wolfhart Pannenberg (Luterano) e Johannes Metz (Católico romano). A teologia da esperança foi articulada nos Estados Unidos por dois teólogos luteranso: Carls Braaten e Robert Jenson. No Brasil o representante é Rubem Alves, que levou a coisa mais um passo adiante: em vez de esperar até que o futuro agarre o homem no presente (humanismo messiânico), o homem deve agarrar o futuro para si mesmo (messianismo humanista).         A Teologia do Processo. Um movimento de grande alcance, talvez o maior movimento, na teologia contemporânea é a teologia do processo. Segundo essa teologia, a realidade não é estática e substancial, e sim dinâmica e processual. Aquilo que é real, inclusive Deus, não é composto de essências imutáveis, mas de atividades mutáveis. É essencialmente

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panenteísta, ou seja, Deus está no mundo. O problema deste conceito de Deus é que o reduz a uma criatura. O Deus das Escrituras é imutável e transcendente, embora se faça imanente por amor às suas criaturas. O precursor mais antigo da teologia de processo é Samuel Alexander, em Space, Time and Deity (1920), embora as honras sistemáticas pertençam decididamente a Alfred North Whitehead (Processo and Reality, 1929). A teologia de processo seguiu duas direções principais desde Whitehead: a empírica e a racional. A primeira destas ênfase é achada em Bernar Loomer, Bernard Meland, e Henry Weiman; o campeão da segunda delas Charles Hartshorne é talvez o mais relevante dos teólogos de processo desde Whitehead, dentro da corrente racional, seguido por John Cobb e Schubert Ogden.         Os mais destacados proponentes dessa teologia e suas diversas variações são John Cobb, Nelson Pike, Schubert Ogden.         A Teologia da Libertação. A experiência cotidiana das comunidades cristãs latino-americanas que combatem as injustiças econômicas, sociais, culturais e políticas, está na origem da chamada teologia da libertação.         A teologia da libertação constitui uma nova interpretação da mensagem evangélica, à luz da injustiça social. Apesar do nome, não é propriamente uma teologia, no sentido de política, surgido na Europa na década de 1970, depois que o Concílio Vaticano II (1962-1965), examinou o problema das relações entre a igreja e o mundo moderno. A característica mais inovadora do movimento foi encarar os problemas políticos como base para a interpretação dos textos bíblicos.         Reunida na cidade colombiana de Medellín, em 1968, a Conferência Episcopal Latino-Americana (Celam) foi o grande impulso da teologia da libertação. Analisando a situação social do continente, os bispos consideraram que a igreja tinha como missão continuar a obra de Cristo, enviado ao mundo para "libertar todos os homens de todo tipo de escravidão a que os tenha sujeitado o pecado, a ignorância, a fome, a miséria, a opressão e, numa palavra, a injustiça e o ódio, que têm sua origem no egoísmo humano". A conferência pediu uma teologia e uma catequese que oferecessem "a possibilidade de uma libertação plena e a riqueza de uma salvação integral em Cristo, o Senhor". Entre os principais teólogos que a iniciaram e desenvolveram, citem-se Gustavo Gutiérrez, Hugo Assmann, Leonardo Boff, J. L. Segundo, Porfirio Miranda, José M. Bonino, J. B. Libânio, Segundo Galiléia, Eduardo Pironio e A. López Trujillo.         O eixo da teologia da libertação é a figura do Cristo libertador, que veio libertar os homens não apenas do pecado, mas também de todas as suas conseqüências, inclusive as injustiças. Seu método hermenêutico deixa de lado as categorias idealistas tradicionais e emprega categorias históricas. A mensagem de salvação é interpretada à luz das opressões de que o homem precisa ser libertado. Ao narrar a libertação dos hebreus do cativeiro no Egito e sua marcha para a Terra Prometida, o Êxodo é a imagem bíblica da mensagem da salvação, e a história sagrada não é algo distinto da história da humanidade ou superposto a ela, mas sim a intervenção de Deus. Um outro elemento importante da teologia da libertação é o método de análise marxista.         A Teologia da Prosperidade. Algumas obras norte-americanas, escritas contra a teologia da prosperidade, tratam-na como se fosse uma heresia ou uma seita. A posição, é, ela não é uma seita. Uma seita é composta por um

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grupo bem definido de pessoas, assim como os Testemunhas de Jeová ou os Mórmons, que se chamam cristãos, mas negam doutrinas básicas da Bíblia, tais como a trindade e a divindade de Cristo. Na teologia da prosperidade, seus adeptos não negam nenhuma doutrina básica nem buscam outro fundamento que não seja Cristo e os apóstolos. Antes, trata-se de uma forma de compreender a Bíblia.         A Teologia da Prosperidade é algo novo na história da igreja. Parece que nada assim já foi visto antes. Mas isso não quer dizer que ele tenha surgido de modo repentino ou aparecido totalmente formado. Como todo movimento, desenvolveu-se com o tempo, e isso significa que tem raízes ligadas a pessoas, épocas e lugares diversos.         Pesquisas feitas nos Estados Unidos sobre a teologia revelam que existem duas raízes históricas e filosóficas da teologia da prosperidade: O pentecostalismo (Barron, 1987; Horn, 1989) e várias seitas metafísicas do início do século XX, que floresceram na região de Boston (McConnell, 1988). Dessas duas fontes, o pentecostalismo fornece a base ou o grupo, onde a teologia encontrou a maior parte de seus adeptos, enquanto os pressupostos filosóficos propriamente ditos foram fornecidos pelas seitas metafísicas.         Sua doutrina é radical com relação ao homem físico e espiritual. Tendo em vista a Autoridade profética, como decretar a morte de alguém (até mesmo a de um pastor) Segundo Kennth Hagin. Saúde e Prosperidade são algo vivido dentro da teologia; a teologia da prosperidade não se cansa de repetir que nem doenças nem problemas financeiros são da vontade de Deus, o cristão que está passando tal coisa ou coisas, ele não tem fé ou está em pecado. A Confissão Positiva é outra corrente da doutrina da teologia da prosperidade, ela garante a realização com fé dos pedidos desejados pelo cristão, mesmo passando por cima da vontade divina, afirma que sempre positivamente, nunca: "Se Deus quiser!" Isso envolvendo saúde ou bem material.[5]

CAPÍTULO II

CONCÍLIO VATICANO II E TEOLOGIA CATÓLICA

         “O pensamento dogmático e centralizador da Igreja Católica Romana, que se aprofundou com os concílios de Trento e Vaticano I e culminou com a definição da infalibilidade do papa, sofreu profunda modificação no Concílio Vaticano II, quando a igreja adotou uma tendência pastoral, ecumênica e descentralizadora.         “O Vaticano II, o 21º dos concílios ecumênicos reconhecidos pela Igreja Católica, foi anunciado em 25 de janeiro de 1959 pelo papa João XXIII, como um meio de renovação espiritual da igreja e uma oportunidade para os cristãos separados de Roma buscarem juntos a reunificação. Aberto oficialmente em 11 de outubro de 1962, o concílio, que continuou sob o papa Paulo VI, sucessor de João XXIII, encerrou-se em 8 de dezembro de 1965 e resultou em 16 documentos.         “Foram convocados todos os bispos católicos e prelados da igreja e participaram dos trabalhos cerca de 2.800 padres conciliares. Assistiram às

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sessões, sem direito a voto, inúmeros observadores das principais igrejas cristãs e comunidades separadas de Roma, além de católicos leigos.         “Comissões preparatórias designadas pelo papa organizaram uma agenda e produziram documentos preliminares sobre vários tópicos. Integradas pelos membros da cúria, adotaram a princípio posição conservadora. Depois de aberto o concílio, porém, bispos e prelados de todo o mundo incorporaram-se às comissões e surgiu uma posição mais progressista.         “Entre os documentos elaborados, a constituição dogmática sobre a igreja (Lumen gentium) utilizou, para descrevê-la, termos bíblicos no lugar de categorias jurídicas. O tratamento da estrutura hierárquica deu maior peso ao papel dos bispos e contrabalançou a ênfase imperial dos ensinamentos do primeiro Concílio Vaticano sobre o papado. Os ensinamentos dessa constituição sobre a natureza do laicato tiveram como objetivo prover a base para o chamado dos leigos à santidade e à partilha da vocação missionária da igreja. Ao descrever a igreja como "o povo de Deus", os participantes do concílio forneceram a justificativa teológica para a mudança da atitude inflexível e defensiva que havia caracterizado o pensamento e a prática da Igreja Católica desde a Reforma.         “A constituição dogmática sobre a revelação divina (Dei verbum) relacionou tanto a Bíblia, aceita por protestantes e católicos, como os textos da tradição a sua origem comum na palavra de Deus, confiada à igreja. Afirmou o valor das escrituras para a salvação dos homens e ao mesmo tempo manteve uma atitude mais aberta quanto a seu estudo acadêmico.         “A constituição pastoral sobre a liturgia (Sacrosanctum concilium) atribuiu ao laicato maior participação no culto e autorizou mudanças significativas nos textos, formas e linguagem usados na celebração da missa e na administração dos sacramentos. A constituição pastoral Gaudium et spes referiu-se à igreja no mundo atual. Reconheceu as profundas mudanças que a humanidade tem experimentado e tentou relacionar os conceitos da igreja sobre si mesma e sobre a revelação às necessidades e valores da cultura contemporânea.         “O concílio também promulgou decretos (documentos quanto a questões práticas) sobre os deveres pastorais dos bispos, o ecumenismo, as igrejas orientais, o ministério e a vida dos sacerdotes, a educação para o sacerdócio, a vida religiosa, a atividade missionária da igreja, o apostolado dos leigos e os meios de comunicação social. Além disso, foram produzidas declarações sobre liberdade religiosa, posição da igreja frente a religiões não-cristãs e educação cristã. Esses documentos refletiram a renovação da vida da igreja -- que começou muitas décadas antes da ascensão do papa João XXIII -- em diversas áreas: bíblica, ecumênica, litúrgica, do apostolado leigo.         “No começo da década de 1970, a influência dos documentos e das deliberações gerais do concílio já se fazia sentir em praticamente todas as áreas da vida eclesiástica e pôs em movimento muitas mudanças que provavelmente não foram previstas por seus participantes.”[6]

CAPÍTULO III

TEÓLOGOS CONTEMPORÂNEOS MAIS DESTACADOS

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Friedrich Schleiermacher (1768-1834)         Filósofo e teólogo alemão, Friedrich Schleiermacher imprimiu novo sentido à teologia e à figura de Cristo. Influenciou de modo decisivo o pensamento protestante do século XIX.         Friedrich Ernst Daniel Schleiermacher nasceu em Breslau em 21 de novembro de 1768. Filho de um capelão militar, estudou na Universidade de Halle, então centro do racionalismo, e em 1796 foi nomeado capelão de um hospital de Berlim. Amigo de Friedrich Schlegel, começou a elaborar seu sistema ético e religioso influenciado por Spinoza, Platão, Kant e pelo romantismo alemão.         A obra Über die Religion. Reden an die Gebildeten unter ihren Verächtern (1799; Sobre religião: discursos a seus desdenhadores cultos) foi decisiva para a superação do racionalismo do século XVIII. Em Stolp, onde foi pastor de 1802 a 1804, dedicou-se a trabalhos filosóficos e iniciou a tradução dos  diálogos de Platão. Professor de teologia na Universidade de Halle de 1804 a 1807, transferiu-se depois para Berlim, como pastor da igreja da Trindade, onde adquiriu renome como orador sacro. Em 1810, foi nomeado professor de teologia da Universidade de Berlim, cargo que ocupou até a morte. Nesse período escreveu sua obra principal, Der christliche Glaube (1821-1822; Doutrina da fé cristã).         Schleiermacher pensava que o racionalismo e a ortodoxia eram responsáveis pela intelectualização e pela rígida codificação do pensamento religioso, enquanto para ele a religião situava-se no domínio dos sentimentos. Em seu sistema ético e religioso, procurou harmonizar o pensamento religioso com o pensamento filosófico. Destacou na experiência humana as antíteses entre a multiplicidade da vida e da natureza e um princípio de unidade e permanência (Dialektik), das quais surge o absoluto e o eterno: Deus, o ordenador do mundo. A consciência que tem o homem de depender de algo superior, sobrenatural, é a base de toda a religião, cujo objetivo deve ser o de ligar as coisas finitas ao infinito. Cristo, como redentor, dá ao cristianismo seu elemento especial, pois em sua pessoa o infinito se reconciliou com o finito, e a vida se fez imortal.         A influência de Schleiermacher, considerado o fundador da teologia protestante moderna, foi superada no começo do século XX pela teologia dialética de Karl Barth. Nas últimas décadas do século, sua obra tem sido objeto de renovado interesse dos teólogos. Schleiermacher morreu em Berlim, em 12 de fevereiro de 1834.

Albrecht Ritschl (1822-1889)         Teólogo alemão. Protestante liberal, propôs novo sistema teológico para o luteranismo, em que ressaltou o conteúdo ético-social da doutrina. A doutrina cristã da justificação e reconciliação (1870-1874), História do pietismo (1880-1886).

Adolf Von Harnack (1851-1930)

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         Teólogo alemão nascido na Estônia. Uma das figuras mais destacadas do protestantismo de caráter liberal, adotou o método histórico-crítico para seus estudos teológicos. História dos dogmas (1886-1888).

Wolfhart Pannenberg         Teólogo evangélico alemão, nascido em Stettin, professor de teologia sistemática em Heidelberg (1955), Wuppertal (1958) e Mainz (desde 1961). A doutrina teológica de Pannenberg considera que a realidade histórica tem prioridade sobre a fé e o raciocínio humanos. Obras principais: Heilsgeschethen Und Geschechte (A redenção como acontecimento e história), 1959; (Revelação como história) 1962; (Que é o homem? A antropologia atual à luz da teologia), 1964.         Wolfhart Pannenberg, que é professor de teologia sistemática na Universidade de Munique, apresenta sua teologia de dentro da categoria da história. Quando foi publicado seu livro Jesus – God And Man em 1968, veio a ser uma influência no mundo de fala inglesa.         Wolfhart Pannenberg, pode ser chamado o teólogo da história. Porque para ele a história é o princípio de averiguar o futuro com a revelação da Palavra. Para Pannenberg, toda história é a revelação de Deus. A história está tão clara em suas funções revelatórias que sua interpretação pode ser feita sem a ajuda da revelação sobrenatural. A verdade revelatória está necessariamente inerente na totalidade da história e bem clara para todos quantos observam. Deixar de captar a revelação dentro da história é falha do indivíduo e da sua investigação, e não da própria história.

Karl Barth (1886-1968)         Um dos mais destacados teólogos protestantes, Karl Barth celebrizou-se como criador da teologia dialética do século XX, que ressalta o sentido existencial do cristianismo e o reintegra em sua base bíblica, de doutrina da revelação e da fé.Karl Barth nasceu em 10 de maio de 1886 em Basiléia, Suíça. Fez estudos universitários em Berna, Berlim e Tübingen, terminando-os em Marburg. Foi editor-assistente do jornal Die Christliche Welt, pároco da Igreja Reformada Alemã em Genebra e pastor em Safenwill, ainda na Suíça. Lecionou teologia nas universidades alemãs de Göttingen, de Munique e de Bonn. Demitido dessa última em 1935 pelo governo nazista, teve seus diplomas de teologia anulados por Hitler devido a sua oposição, conforme declaração teológica do Sínodo de Barmen, à nazificação da Igreja Reformada.         Seguindo para a Suíça, Barth organizou a resistência dos pastores ao nacional-socialismo, ingressando no Partido Social Democrata. Quando essa  resistência foi aniquilada pelos nazistas, o teólogo passou a dirigir outro movimento, de âmbito internacional. Atento às lutas políticas, defendeu os operários de Viena e os republicanos espanhóis. Com o fim da guerra, voltou à cátedra de Bonn, depois à de Basiléia, aposentando-se em 1961.         Doutrina. Conhecida como teologia dialética ou teologia da crise, a obra de Barth é um vigoroso protesto contra o chamado neoprotestantismo, que predominou no século XIX e até a primeira guerra mundial. É também um restabelecimento das afirmações básicas da Reforma do século XVI, especialmente pela obra Der Römerbrief (1919; A Epístola aos romanos), que lançou as bases do existencialismo alemão e serviu de elo entre Kierkegaard e

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Heidegger. Combateu a teologia liberal, o iluminismo alemão e o moralismo que excluísse o encontro da revelação e da fé.         A teologia de Barth está sistematizada principalmente em Die Christliche Dogmatik (A dogmática cristã), monumental obra de 26 volumes iniciada em 1932, cuja publicação só foi concluída em 1969. Os pólos fundamentais de seu pensamento -- a revelação e a fé -- permeiam toda sua dogmática, que ele define como exame científico do conteúdo das palavras que a igreja pronuncia sobre Deus. Assim, a fé cristã proclama a falência de todas as religiões, pois afirma que é Deus quem toma a iniciativa de aproximar-se do homem, para reconciliar-se com ele e salvá-lo, por intermédio de Jesus Cristo. Só a graça de Deus e a sua palavra, que transcende a palavra da Bíblia, cruza o abismo dialético que separa o homem do Criador. Barth morreu em sua cidade natal, em 11 de dezembro de 1968.

Rudolf Bultmann (1844-1976)         Partidário da teologia dialética, segundo a qual os dogmas contidos no Novo Testamento têm origem em mitos, Bultmann propôs uma interpretação da Bíblia apoiada em conceitos do existencialismo.         O teólogo luterano alemão Rudolf Bultmann nasceu em Wiefelstede, Oldenburg, em 20 de agosto de 1884. Desde 1916 lecionou sobre sua especialidade, o Novo Testamento, em Breslau, Giessen e Marburg. Nessa cidade tomou contato com Martin Heidegger e a filosofia existencialista, que influenciou seu pensamento posterior. Seu primeiro livro, Jesus, foi publicado em 1926. Em 1941 pronunciou uma conferência sobre Novo Testamento e mitologia, em que levou a público temas que até então só eram discutidos nos meios acadêmicos.         A proposta central de Bultmann era a demitização do Novo Testamento, isto é, a reinterpretação do mito. A teologia, ao invés de atribuir ao mito o estatuto de dogma, deveria verificar os motivos históricos e existenciais que determinaram a cristalização das tradições bíblicas. Entre seus livros, destaca-se Das Evangelium des Johannes (1941; O Evangelho segundo são João). Bultmann morreu em Marburg, em 30 de julho de 1976.

Teilhard de Chardin (1881-1955)         O jesuíta Pierre Teilhard de Chardin, famoso tanto na área da filosofia quanto da paleontologia, tentou unir ciência e fé numa obra que provocou grandes controvérsias e o colocou à frente de seu tempo.         Pierre Teilhard de Chardin nasceu em Sarcenat, França, em 1º de maio de 1881. Filho de um aristocrata rural interessado pela geologia, dedicou-se desde a juventude ao estudo dessa matéria, que não interrompeu nem mesmo quando suas inquietações espirituais o levaram a ingressar na Companhia de Jesus, em 1899. Depois do noviciado, ordenou-se em 1911, mas preferiu fazer a primeira guerra como padioleiro a servir do capelão. Por bravura na frente de batalha, recebeu a Legião de Honra. Posteriormente lecionou no Instituto Católico de Paris. Em 1923, realizou a primeira de suas numerosas expedições científicas à China, onde residiu durante a segunda guerra mundial. Participou do descobrimento do Sinanthropus pekinensis, o homem de Pequim, e ainda incorporou importantes observações ao conhecimento da geologia e dos fósseis do pleistoceno na Ásia.

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         Os estudos científicos conduziram Teilhard de Chardin a uma profunda meditação sobre o problema da evolução, origem de sua obra mais importante, Le Phénomène humain (O fenômeno humano), concluída em 1940, mas só publicada postumamente, em 1955. Em seu pensamento, a evolução evidente do universo material, que parece esmagar o homem e sua consciência, visa, na realidade, a realizar a passagem da matéria ao espírito, do menos consciente ao mais consciente. O homem é o centro e a razão dessa evolução: sua alma o liga a esse universo, que ela domina, a seus semelhantes e a seu fim último, que é Deus. Ciência e religião, longe de se contradizerem, conduzem ambas à perfeição intelectual. As implicações morais e religiosas desse sistema foram desenvolvidas numa série de obras como Le Milieu divin (1958; O meio divino) e L'Avenir de L'homme (1959; O futuro do homem).         Várias das teses de Teilhard de Chardin foram recebidas com reservas tanto pela Companhia de Jesus quanto pela Santa Sé. O Santo Ofício chegou mesmo a divulgar um monitum, ou advertência simples, para a aceitação das idéias do religioso sem maior exame. Teilhard de Chardin regressou à França em 1946, mas ante a impossibilidade de publicar seus textos -- que circularam em exemplares mimeografados e só foram editados após sua morte -- transferiu-se para os Estados Unidos. Ingressou então na Fundação Wenner-Gren, de Nova York, que patrocinou, nos últimos anos de sua vida, duas expedições científicas ao continente africano. Teilhard de Chardin morreu em Nova York, em 10 de abril de 1955.

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945)         Um tema básico da teologia de Bonhoeffer era como manter a fé num mundo sem religião. Engajado contra o nazismo, combateu Hitler com palavras e ações.         Dietrich Bonhoeffer nasceu em Breslau, Prússia (depois Wroclaw, na Polônia), a 4 de  fevereiro de 1906. Educado em Tübingen e Berlim, tornou-se pastor luterano e trabalhou em Barcelona e Nova York. Em 1931 assumiu a cátedra de teologia sistemática na Universidade de Berlim. Quando Hitler subiu ao poder em 1933, Bonhoeffer estava em Londres e decidiu lutar contra o nazismo. Em 1935 foi chamado a assumir a direção de um seminário clandestino em Finkenwald, na  Pomerânia. O problema central de sua teologia era como ser cristão num mundo secularizado e ateu. Propunha como uma das soluções a interpretação não-religiosa dos conceitos bíblicos, o que sugeria a possibilidade de haver cristãos arreligiosos.         Retomando o pensamento de Karl Barth, de quem se considerava discípulo, dizia que os valores sempre relacionados com o Evangelho eram agora entendidos como puramente profanos. Para ele os cristãos deveriam reconhecer que o mundo passara da adolescência para a maturidade, e que, em vez de se insistir num retorno às bases religiosas do passado, dever-se-ia tentar uma nova interpretação da história intelectual do Ocidente, a partir do século XIII.         Bonhoeffer introduziu elementos importantes para o movimento teológico da "morte de Deus", desenvolvido sobretudo nos Estados Unidos. Como Deus foi imposto pelo cristianismo às artes, à política e à cultura em geral, a fé está comprometida e minada na medida em que o mundo se transforma e se torna autônomo. Entretanto, ao aprovar a secularização e o afastamento de Deus por motivos teológicos, Bonhoeffer condenava a idéia da religião como salva-vidas.

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         Entre outras obras, escreveu Sanctorum Communio; eine dogmatische Untersuchung zur Soziologie der Kirche (1930; A comunhão dos santos; um estudo dogmático sobre a sociologia da igreja); Akt und Sein (1931; Ato e ser); e Gemeinsames Leben (1939; Vida comunitária). Em Ethik (1949; Ética), que ficou incompleta, refletiu sobre o niilismo. O teólogo via no nazismo a condução dos valores humanos para a morte e julgava que aos cristãos caberia ocuparem-se desses valores, não para condená-los, mas para salvá-los. Convencido de que sua oposição ao nazismo deveria expressar-se em outros termos, participou de um atentado contra Hitler em 1943, ano em que foi preso. Dois anos depois, em 9 de abril de 1945, foi enforcado no campo de concentração em Flössenberg, 15 dias antes da morte de Hitler.

Paul Tillich (1886-1965)         Cognominado "o apóstolo dos céticos", Paul Tillich defendeu o exame da religião pela razão, assim como valorizou o auxílio do conhecimento secular para a compreensão do cristianismo, embora afirmasse que o critério supremo da revelação residia em Jesus.         Paul Johannes Tillich nasceu em 20 de agosto de 1886, em Starzeddel, província de Brandenburgo, Alemanha. Cresceu em Schönfliess, pequena comunidade onde o pai era ministro da Igreja Territorial Prussiana. O estilo conservador da vida religiosa nesse ambiente foi questionado pelo jovem ao ingressar na escola secundária de Königsberg-Neumark, onde conheceu o pensamento humanista, que privilegiava o ideal clássico de liberdade, só limitado pela razão.         Em 1905, Tillich ingressou na Universidade de Halle. Seis anos depois doutorou-se em filosofia e, no ano seguinte, licenciou-se em teologia. Ordenou-se pastor luterano e serviu como capelão militar na primeira guerra mundial. A carnificina o convenceu da falência irremediável do humanismo do século XIX, e Tillich aderiu ao movimento socialista religioso na Alemanha, para cujos membros o iminente declínio da civilização ocidental propiciava a oportunidade da reconstrução criativa da sociedade. Como professor nas universidades de Berlim, Marburg, Dresden, Leipzig e Frankfurt, Tillich publicou mais de cem ensaios, artigos e estudos entre 1919 e 1933. Nesse último ano, por discordar do nazismo, foi impedido de lecionar e emigrou para os Estados Unidos. Lecionou no Union Seminary, em Nova York, assim como nas universidades de Harvard e Chicago.         Com fundamento nas idéias de Schelling e no existencialismo de Kierkegaard, Tillich elaborou uma teologia que engloba todos os aspectos da realidade humana em função da situação histórica do homem. Seu método teológico baseou-se no chamado princípio da correlação, descrito em Systematic Theology (1951-1963; Teologia sistemática). Esse princípio transforma a teologia num diálogo que relaciona as perguntas feitas pela razão às respostas obtidas mediante a fé, como experiência reveladora.         Para Tillich, a teonomia -- lei interior dada por Deus, em harmonia com a natureza essencial do homem -- dá força e liberdade ao homem para reconstruir a sociedade de forma criativa. A teonomia contrapõe-se à heteronomia, lei imposta ao homem de fora para dentro, e à autonomia, que o deixa frustrado e sem motivação para a vida. Suas obras mais divulgadas são The Courage to Be (1952; A coragem de ser) e Dynamics of Faith (1957; A dinâmica da fé). Tillich morreu em Chicago, em 22 de outubro de 1965.

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Reinhold Niebuhr         A obra de Niebuhr teve ampla influência no pensamento americano do século XX, sobretudo pela crítica ao liberalismo teológico protestante da década de 1920.         Reinhold Niebuhr nasceu em Wright City, Missouri, em 21 de junho de 1892. Estudou no seminário Eden, de St. Louis, e bacharelou-se pela Universidade de Yale. Entre 1915 e 1928, foi pastor evangélico num bairro operário de Detroit, e de 1931 a 1960, lecionou ética cristã na faculdade de teologia de Yale. Sua vivência em Detroit, junto à indústria automobilística nascente, inspirou-lhe idéias sociais avançadas e, de 1920 a 1930, ele foi membro do Partido Socialista. Em Moral Man and Immoral Society (1932; O homem moral e a sociedade imoral) defendeu idéias próximas ao marxismo, embora reafirmasse o conceito agostiniano do homem naturalmente pecador.         A partir de 1940, Niebuhr combateu o marxismo e também a teologia liberal, que passou a considerar meramente ética, sem conteúdo cristão. Evocou santo Agostinho e os grandes reformadores do século XVI, e tornou-se protestante ortodoxo. Também se aproximou do existencialismo de Kierkegaard. Sua principal obra dessa fase é The Nature and Destiny of Man (1941-1943; A natureza e o destino do homem), de profunda influência no protestantismo americano.         Embora pacifista, Niebuhr participou da mobilização dos cristãos para apoio à guerra contra o fascismo e, depois da guerra, tornou-se influente na política do Departamento de Estado. Em suas últimas obras, criticou a sociedade americana e os mitos da história oficial. Sua sociologia da religiosidade dos americanos baseou-se na doutrina teológica de Martin Buber. Niebuhr morreu em Stockbridge, Massachusetts, em 1º de junho de 1971.

Gustavo Gutiérrez (n. em 1928).         Teólogo peruano. Um dos precursores da teologia da libertação na América espanhola. Escreveu A teologia da libertação (1971) e A força histórica dos pobres (1982).

Leonardo Boff (n. em 1938)         Por defender uma atuação mais ativa da Igreja Católica em defesa dos pobres e oprimidos, frei Leonardo Boff, um dos mais importantes teóricos brasileiros da chamada teologia da libertação, foi protagonista de um rumoroso conflito com a Congregação para a Doutrina da Fé.         Genésio Darcy Boff nasceu em Concórdia SC em 14 de dezembro de 1938. Aos 12 anos ingressou no seminário de Curitiba PR e estudou teologia em Petrópolis RJ. Pertencente à Ordem dos Frades Menores Franciscanos, ordenou-se em 1964. Posteriormente fez cursos em Roma e Munique.         Em 1974 publicou Jesus Cristo libertador, em que questionou o dogma de que Jesus sempre teve consciência de ser o salvador. A polêmica gerada pelo livro só amainou em 1982, depois que Boff aceitou amenizar suas teses. Passados dois anos, depôs na Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano, para explicar trechos de outro livro,Igreja: carisma e poder (1981), em

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que criticava a cúpula da igreja, e em 1985 foi proibido de publicar livros por um ano.         Em 1991, devido a um artigo em que repetia os conceitos da teologia da libertação expostos em Igreja: carisma e poder, a Cúria Geral da Ordem Franciscana afastou-o da direção editorial da Revista Vozes, e o Vaticano proibiu-o temporariamente de lecionar teologia no Instituto Franciscano em Petrópolis. Em 1992, Boff anunciou sua decisão de abandonar o sacerdócio.         Entre outros livros de Leonardo Boff contam-se O Destino do Homem e do Mundo(1974), Teologia da Libertação e do Cativeiro (1976), Via Sacra da Justiça (1979) eAmérica Latina: da conquista à nova civilização (1992). Dirigiu também a Revista Eclesiástica Brasileira e a edição portuguesa da revista Concilium.[7]

CAPÍTULO IV

A TEOLOGIA ESCRITURÍSTICA

         A teologia conservadora verdadeira aceita a Bíblia como seu único credo e mantém certas crenças fundamentais como sendo o ensino das Escrituras Sagradas. Estas crenças, da maneira em que são apresentadas aqui, constituem a compreensão e a expressão do ensino das Escrituras.         As Escrituras Sagradas. As Escrituras Sagradas, o Antigo e Novo Testamentos, são a Palavra de Deus escrita, dada por inspiração divina, através de santos homens de Deus que falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito Santo. Nesta Palavra, Deus transmitiu ao homem o conhecimento necessário para a salvação. As Escrituras Sagradas são a infalível revelação de sua vontade. Constituem o padrão do caráter, a prova da experiência, o autorizado revelador de doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na História. (II Pedro 1:20 e 21; II Tim. 3:16 e 17; Sal. 119:105; Prov. 30:5 e 6; Isa. 8:20; João 17:17; Tess. 2:13; Heb. 4:12.)         A Trindade. Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas co-eternas. Deus é imortal, onipotente, onisciente, acima de tudo e sempre presente. Ele é infinito e está além da compreensão humana, mas é conhecido por meio de Sua auto-revelação. E para sempre digno de culto, adoração e serviço por parte de toda a criação. (Deut. 6:4; Mat. 28:19; II Cor. 13:13; Efés. 4:4-6; 1 Pedro 1:2; 1 Tim. 1:17; Apoc. 14:7.)         Deus-Pai. Deus, o Eterno Pai, é o Criador, o Originador, o Mantenedor e o Soberano de toda a criação. Ele é justo e santo, compassivo e clemente, tardio em irar-Se, e grande em constante amor e fidelidade. As qualidades e os poderes manifestados no Filho e no Espírito Santo também constituem revelações do Pai. (Gên. 1:1; Apoc. 4:11; 1 Cor. 15:28; João 3:16; 1 João 4:8; 1 Tim. 1:17; Êxo. 34:6 e 7; João 14:9.)         Deus-Filho. Deus, o Filho Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio dEle foram criadas todas as coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade, e julgado o mundo. Sendo para sempre verdadeiramente Deus, Ele tornou-Se também verdadeiramente homem, Jesus, o Cristo. Foi concebido do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria.

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Viveu, e experimentou a tentação como ser humano, mas exemplificou perfeitamente a justiça e o amor de Deus. Por Seus milagres manifestou o poder de Deus e atestou que era o Messias prometido por Deus. Sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar em nosso favor no santuário celestial. Virá outra vez, em glória, para o livramento final de Seu povo e a restauração de todas as coisas. (João 1:1-3 e 14; Col. 1:15-19; João 10:30; 14:9; Rom. 6:23; II Cor. 5:17-19; João 5:22; Lucas 1:35; Filip. 2:5-11; Heb. 2:9-18; 1 Cor. 15:3 e 4; Heb. 8:1 e 2; João 14:1-3.)         Deus-Espírito Santo. Deus, o Espírito Eterno, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na Criação, Encarnação e Redenção. Inspirou os escritores das Escrituras. Encheu de poder a vida de Cristo. Atrai e convence os seres humanos; e os que se mostram sensíveis são por Ele renovados e transformados à imagem de Deus. Enviado pelo Pai e pelo Filho para estar sempre com Seus filhos, Ele concede dons espirituais à Igreja, a habilita a dar testemunho de Cristo e, em harmonia com as Escrituras, guia-a em toda a verdade. (Gên. 1:1 e 2; Lucas 1:35; 4:18; Atos 10:38; II Pedro 1:21; II Cor. 3:18; Efés. 4:11 e 12; Atos 1:8; João 14:16-18 e 26; 15:26 e 27; 16:7-13.)         A Criação. Deus é o Criador de todas as coisas e revelou nas Escrituras o relato autêntico de Sua atividade criadora. "Em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra" e tudo que tem vida sobre a Terra, e descansou no sétimo dia dessa primeira semana. Assim Ele estabeleceu o sábado como perpétuo monumento comemorativo de Sua esmerada obra criadora. O primeiro homem e a primeira mulher foram formados à imagem de Deus como obra-prima da Criação, foi-lhes dado domínio sobre o mundo e atribuiu-se-lhes a responsabilidade de cuidar dele. Quando o mundo foi concluído, ele era "muito bom", proclamando a glória de Deus. (Gên. 1; 2; Êxo. 20:8-11; Sal. 19:1-6;33:6 e 9; 104; Heb. 11:3.)         A Natureza do Homem. O homem e a mulher foram formados à imagem de Deus, com individualidade, poder e liberdade de pensar e agir. Conquanto tenham sido criados como seres livres, cada um é uma unidade indivisível de corpo, mente e espírito, e dependente de Deus quanto à vida, respiração e tudo o mais. Quando nossos primeiros pais desobedeceram a Deus, eles negaram sua dependência dEle e caíram de sua elevada posição abaixo de Deus. A imagem de Deus, neles, foi desfigurada, e tornaram-se sujeitos à morte. Seus descendentes partilham dessa natureza caída e de suas conseqüências. Eles nascem com fraquezas e tendências para o mal. Mas Deus, em Cristo, reconciliou consigo o mundo e por meio de Seu Espírito restaura nos mortais penitentes a imagem de seu Criador. Criados para a glória de Deus, eles são chamados para amá-Lo e uns aos outros, e para cuidar de seu ambiente. (Gên. 1:26-28; 2:7; Sal. 8:4-8; Atos 17:24-28; Gên. 3; Sal. 51:5; Rom. 5:12-l7;II Cor.5:19 e 20;Sal.51:10;I João 4: 7, 8, 11 e 20; Gên.2:15.)         O Grande Conflito Entre o Bem e o Mal. Toda a humanidade está agora envolvida num grande conflito entre Cristo e Satanás, quanto ao caráter de Deus, sua lei e sua soberania sobre o Universo. Este conflito originou-se no Céu quando um ser criado, dotado de liberdade de escolha, por exaltação própria tornou-se Satanás, o adversário de Deus, e conduziu à rebelião uma parte dos anjos. Ele introduziu o espírito de rebelião neste mundo, ao induzir Adão e Eva em pecado. Este pecado humano resultou na deformação da imagem de Deus na humanidade, no transtorno do mundo criado e em sua

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conseqüente devastação por ocasião do dilúvio mundial. Observado por toda a criação, este mundo tornou-se o palco do conflito universal, dentro do qual será finalmente vindicado o Deus de amor. Para ajudar seu povo nesse conflito, Cristo envia o Espírito Santo e os anjos leais, para os guiar, proteger e amparar no caminho da salvação. (Apoc. 12:4-9; Isa. 14:12-14; Ezeq. 28:12-18; Gên. 3; Rom. 1:19-32; 5:12-21; 8:19-22; Gên. 6-8; II Pedro 3:6; 1 Cor. 4:9; Heb. 1:14.)         A Vida, a Morte e a Ressurreição de Cristo. Na vida de Cristo, de perfeita obediência à vontade de Deus, e em seu sofrimento, morte e ressurreição, Deus proveu o único meio de expiação do pecado humano, de modo que os que aceitam esta expiação pela fé possam ter vida eterna, e toda a criação compreenda melhor o infinito e santo amor do Criador. Esta expiação perfeita vindica a justiça da lei de Deus e a benignidade de seu caráter; pois ela não somente condena o nosso pecado, mas também garante o nosso perdão. A morte de Cristo é substituinte e expiatória, reconciliadora e transformadora. A ressurreição de Cristo proclama a vitória de Deus sobre as forças do mal, e assegura a vitória final sobre o pecado e a morte para os que aceitam a expiação. Ela declara a soberania de Jesus Cristo, diante do qual se dobrará todo joelho, no Céu e na Terra. (João 3:16; Isa. 53; 1 Pedro 2:21 e 22; 1 Cor. 15:3,4 e 20-22; II Cor. 5:14, 15 e 19-21; Rom. 1:4; 3:25; 4:25; 8:3 e 4; 1 João 2:2; 4:10; Col. 2:15; Filip. 2:6-11.)         A Experiência da Salvação. Em infinito amor e misericórdia, Deus fez com que Cristo, que não conheceu pecado, se tornasse pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus. Guiados pelo Espírito Santo, sentimos nossa necessidade, reconhecemos nossa pecaminosidade, arrependemo-nos de nossas transgressões e temos fé em Jesus como Senhor e Cristo, como substituto e exemplo. Esta fé que aceita a salvação advém do divino poder da Palavra e é o dom da graça de Deus. Por meio de Cristo, somos justificados, adotados como filhos e filhas de Deus, e libertados do domínio do pecado. Por meio do Espírito, nascemos de novo e somos santificados; o Espírito renova nossa mente, escreve a lei de Deus, a lei de amor, em nosso coração, e recebemos o poder para levar uma vida santa. Permanecendo nEle, tornamo-nos participantes da natureza divina e temos a certeza de salvação agora e no Juízo. (II Cor. 5:17-21; João 3:16; Gál. 1:4; 4:4-7; Tito 3:3-7; João 16:8; Gál. 3:13 e 14; 1 Pedro 2:21 e 22; Rom. 10:17; Lucas 17:5; Mar. 9:23 e 24; Efés. 2:5-10; Rom. 3:21-26; Col. 1:13 e 14; Rom. 8:14-17; Gál. 3:26; João 3:3-8; 1 Pedro 1:23; Rom. 12:2; Heb. 8:7-12; Eze. 36:25-27; II Pedro 1:3 e 4; Rom. 8:1-4; 5:6-10.)         A Igreja. A Igreja é a comunidade de crentes que confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Em continuidade do povo de Deus nos tempos do Antigo Testamento, somos chamados para fora do mundo; e nos unimos para prestar culto, para comunhão, para instrução na Palavra, para a celebração da Ceia do Senhor, para serviço a toda a humanidade, e para a proclamação mundial do evangelho. A Igreja recebe sua autoridade de Cristo, o qual é a Palavra encarnada, e das Escrituras, que são a Palavra escrita. A Igreja é a família de Deus; adotados por Ele como filhos, seus membros vivem com base no novo concerto. A Igreja é o corpo de Cristo, uma comunidade de fé, da qual o próprio Cristo é a Cabeça. A Igreja é a noiva pela qual Cristo morreu para que pudesse santificá-la e purificá-la. Em Sua volta triunfal, Ele a apresentará a Si mesmo Igreja gloriosa, os fiéis de todos os séculos, a aquisição de seu sangue, sem mácula, nem ruga, porém santa e sem defeito.

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(Gên. 12:3; Atos 7:38; Efés. 4:11-15; 3:8-11; Mat. 28:19 e 20; 16:13-20; 18:18; Efés. 2:19-22; 1:22 e 23; 5:23-27; Col. 1:17 e 18.)         O Remanescente e Sua Missão. A Igreja universal se compõe de todos os que verdadeiramente crêem em Cristo; mas, nos últimos dias, um tempo de ampla apostasia, um remanescente tem sido chamado para fora, a fim de guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus. Este remanescente anuncia a chegada da hora do Juízo, proclama a salvação por meio de Cristo e prediz a aproximação de seu segundo advento. Esta proclamação é simbolizada pelos três anjos de Apocalipse 14; coincide com a obra de julgamento no Céu e resulta numa obra de arrependimento e reforma na Terra. Todo crente é convidado a ter uma parte pessoal neste testemunho mundial. (Apoc. 12:17; 14:6-12; 18:1-4; II Cor. 5:10; Judas 3 e 14; 1 Pedro 1:16-19; II Pedro 3:10-14; Apoc. 21:1-14.)         Unidade no Corpo de Cristo. A Igreja é um corpo com muitos membros, chamados de toda nação, tribo, língua e povo. Em Cristo somos uma nova criação; distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres, homens e mulheres, não devem ser motivo de dissensões entre nós. Todos somos iguais em Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu numa comunhão com Ele e uns com os outros; devemos servir e ser servidos sem parcialidade ou restrição. Mediante a revelação de Jesus Cristo nas Escrituras, partilhamos a mesma fé e esperança, e estendemos um só testemunho para todos. Esta unidade encontra sua fonte na unidade do Deus triúno, que nos adotou como seus filhos. (Rom. 12:4 e 5; 1 Cor. 12:12-14; Mat. 28:19 e 20; Sal. 133:1; II Cor. 5:16 e 17; Atos 17:26 e 27; Gál. 3:27 e 29; Col. 3:10-15; Efés. 4:14-16; 4:1-6; João 17:20-23.)         O Batismo. Pelo batismo confessamos nossa fé na morte e ressurreição de Jesus Cristo e atestamos nossa morte para o pecado e nosso propósito de andar em novidade de vida. Assim reconhecemos a Cristo como Senhor e Salvador, tornamo-nos seu povo e somos aceitos como membros por sua Igreja. O batismo é um símbolo de nossa união com Cristo, do perdão de nossos pecados e de nosso recebimento do Espírito Santo. É por imersão na água e depende de uma afirmação de fé em Jesus e da evidência de arrependimento do pecado. Segue-se à instrução nas Escrituras Sagradas e à aceitação de seus ensinos. (Rom. 6:1-6; Col. 2:12 e 13; Atos 16:30-33; 22:16; 2:38; Mat. 28:19 e 20.)         A Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor é uma participação nos emblemas do corpo e do sangue de Jesus, como expressão de fé nEle, nosso Senhor e Salvador. Nesta experiência de comunhão, Cristo está presente para encontrar-se com seu povo e fortalecê-lo. Participando da Ceia, proclamamos alegremente a morte do Senhor até que Ele volte. A preparação para a Ceia envolve o exame de consciência, o arrependimento e a confissão. O Mestre instituiu a cerimônia do lava-pés para denotar renovada purificação, para expressar a disposição de servir um ao outro em humildade semelhante à de Cristo e para unir nossos coração em amor. A Cerimônia da Comunhão é franqueada a todos os crentes cristãos. (1 Cor. 10:16 e 17; 11:23-30; Mat. 26:17-30; Apoc. 3:20; João 6:48-63; 13:1-17.)         Dons e Ministérios Espirituais. Deus concede a todos os membros de sua Igreja, em todas as épocas, dons espirituais que cada membro deve empregar em amoroso ministério para o bem comum da Igreja e da humanidade. Outorgados pela atuação do Espírito Santo, o qual distribui a

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cada membro como Lhe apraz, os dons provêem todas as aptidões e ministérios de que a Igreja necessita para cumprir suas funções divinamente ordenadas. De acordo com as Escrituras, esses dons abrangem tais ministérios como a fé, cura, profecia, proclamação, ensino, administração, reconciliação, compaixão, e serviço abnegado e caridade para ajuda e animação das pessoas. Alguns membros são chamados por Deus e dotados pelo Espírito para funções reconhecidas pela Igreja em ministérios pastorais, evangelísticos, apostólicos e de ensino especialmente necessários para habilitar os membros para o ensino, edificar a Igreja com vistas à maturidade espiritual e promover a unidade da fé e do conhecimento de Deus. Quando os membros utilizam esses dons espirituais como fiéis despenseiros da multiforme graça de Deus, a Igreja é protegida contra a influência demolidora de falsas doutrinas, tem um crescimento que provém de Deus e é edificada na fé e no amor. (Rom. 12:4-8; I Cor. 12:9-11,27 e28; Efés. 4:8 e 11-16; Atos 6:1-7; I Tim. 3:1-13; I Pedro 4:10 e 11.)         O Dom de Profecia. Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Este dom é um sinal identificador da Igreja remanescente. Eles também tornam claro que a Bíblia é a norma pela qual deve ser provado todo ensino e experiência. (Joel 2:28 e 29; Atos 2:14-21; Heb. 1:1-3;Apoc. 12:17; 19:10.)         A Lei de Deus. Os grandes princípios da lei de Deus estão incorporados nos Dez Mandamentos e foram exemplificados na vida de Cristo. Expressam o amor, a vontade e os desígnios de Deus quanto à conduta e às relações humanas, e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as partes. Estes preceitos constituem a base do concerto de Deus com seu povo e a norma no julgamento divino. Por meio da atuação do Espírito Santo, eles apontam para o pecado e despertam o senso da necessidade de um Salvador. A salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas seu fruto é a obediência aos Mandamentos. Esta obediência desenvolve o caráter cristão e resulta numa sensação de bem-estar que é uma evidência de nosso amor ao Senhor e de nossa solicitude por nossos semelhantes. A obediência por fé demonstra o poder de Cristo para transformar vidas, e fortalece, portanto, o testemunho cristão. (Êxo. 20:1-17; Sal. 40:7 e 8; Mat. 22:3640; Deut. 28:1-14; Mat. 5:17-20; Heb. 8:8-10; João 15:7-10; Efés. 2:8-10; 1 João 5:3; Rom. 8:3 e 4; Sal. 19:7-14.)         O Sábado. O bondoso Criador, após os seis dias da Criação, descansou no sétimo dia e instituiu o sábado para todas as pessoas, como memorial da Criação. O quarto mandamento da imutável lei de Deus requer a observância deste sábado do sétimo dia como dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e a prática de Jesus, o Senhor do sábado. O sábado é um dia de deleitosa comunhão com Deus e uns com os outros. É um símbolo de nossa redenção em Cristo, um sinal de nossa santificação, uma prova de nossa lealdade e um antegozo de nosso futuro eterno no reino de Deus. O sábado é o sinal perpétuo do eterno concerto de Deus com seu povo. A prazerosa observância deste tempo sagrado duma tarde a outra tarde, do pôr-do-sol ao pôr-do-sol, é uma celebração dos atos criadores e redentores de Deus. (Gên. 2:1-3; Êxo. 20:8-11; Lucas4:16; Isa.56:5 e 6; 58:13 e 14; Mat. 12:1-12; Êxo.31:13-17; Eze. 20:12 e 20; Deut. 5:12-15; Heb. 4:1-11; Lev. 23:32; Mar. 1:32.)         Mordomia. Somos despenseiros de Deus, responsáveis a Ele pelo uso apropriado do tempo e das oportunidades, das capacidades e posses, e das

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bênçãos da Terra e seus recursos, que Ele colocou sob o nosso cuidado. Reconhecemos o direito de propriedade da parte de Deus por meio de fiel serviço a Ele e a nossos semelhantes, e devolvendo os dízimos e dando ofertas para a proclamação de seu evangelho e para a manutenção e o crescimento de sua Igreja. A mordomia é um privilégio que Deus nos concede para desenvolvimento no amor e para vitória sobre o egoísmo e a cobiça. O mordomo se regozija nas bênçãos que advêm aos outros como resultado de sua fidelidade. (Gên. 1:26-28; 2:15; 1 Crôn. 29:14;Ageu 1:3-11; Mal. 3:8-12; 1 Cor. 9:9-14; Mat. 23:23; II Cor. 8:1-15; Rom. 15:26 e 27.)         Conduta Cristã. Somos chamados para ser um povo piedoso que pensa, sente e age de acordo com os princípios do Céu. Para que o Espírito recrie em nós o caráter de nosso Senhor, nós só nos envolvemos naquelas coisas que produzirão em nossa vida, pureza, saúde e alegria semelhantes às de Cristo. Isto significa que nossas diversões e entretenimentos devem corresponder aos mais altos padrões do gosto e beleza cristãos. Embora reconheçamos diferenças culturais, nosso vestuário deve ser simples, modesto e de bom gosto, apropriado àqueles cuja verdadeira beleza não consiste no adorno exterior, mas no ornamento imperecível de um espírito manso e tranqüilo. Significa também que, sendo o nosso corpo o templo do Espírito Santo, devemos cuidar dele inteligentemente. Junto com adequado exercício e repouso, devemos adotar a alimentação mais saudável possível e abster-nos dos alimentos imundos identificados nas Escrituras. Visto que as bebidas alcoólicas, o fumo e o uso irresponsável de medicamentos e narcóticos são prejudiciais a nosso corpo, também devemos abster-nos dessas coisas. Em vez disso, devemos empenhar-nos em tudo que submeta nossos pensamentos e nosso corpo à disciplina de Cristo, o qual deseja nossa integridade, alegria e bem-estar. (Rom. 12:1 e2; IJoão2:6; Efés. 5:1-21;Filip. 4:8;II Cor. 10:5; 6:14-7:1;I Ped. 3:1-4;I Cor.6:19e20; 10:31;Lev. 11:1-47;III João2.)         O Casamento e a Família. O casamento foi divinamente estabelecido no Éden e confirmado por Jesus como união vitalícia entre um homem e uma mulher, em amoroso companheirismo. Para o cristão, o compromisso matrimonial é com Deus bem como com o cônjuge, e só deve ser assumido entre parceiros que partilham da mesma fé. Mútuo amor, honra, respeito e responsabilidade constituem a estrutura dessa relação, a qual deve refletir o amor, a santidade, a intimidade e a constância da relação entre Cristo e sua Igreja. No tocante ao divórcio, Jesus ensinou que a pessoa que se divorcia do cônjuge, a não ser por causa de relações sexuais ilícitas, e casa com outro, comete adultério. Conquanto algumas relações de família fiquem aquém do ideal, os consortes que se dedicam inteiramente um ao outro, em Cristo, podem alcançar amorosa unidade por meio da orientação do Espírito e a instrução da Igreja. Deus abençoa a família e quer que seus membros ajudem uns aos outros a alcançar completa maturidade. Os pais devem educar os seus filhos a amar o Senhor e a obedecer-Lhe. Por seu exemplo e suas palavras, devem ensinar-lhes que Cristo é um disciplinador amoroso, sempre terno e solícito, desejando que eles se tornem membros do seu corpo, a família de Deus. Crescente intimidade familiar é um dos característicos da mensagem final do evangelho. (Gên. 2:18-25; Mat. 19:3-9; João 2:1-11; I Cor. 6:14; Efés. 5:21-33; Mat. 5:31 e 32; Mar. 10:11 e 12; Lucas 16:18; 1 Cor. 7:10 e 11; Êxo. 20:12; Efés. 6:1-4; Deut. 6:5-9; Prov. 22:6; Mal. 4:5 e 6.)

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         O Ministério de Cristo no Santuário Celestial. Há um santuário no Céu, o verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem. Nele Cristo ministra em nosso favor, tornando acessíveis aos crentes os benefícios de seu sacrifício expiatório oferecido uma vez por todas, na cruz. Ele foi empossado como nosso grande Sumo Sacerdote e começou seu ministério intercessor por ocasião de sua ascensão. Em 1844, no fim do período profético dos 2.300 dias, Ele iniciou a segunda e última etapa de seu ministério expiatório. É uma obra de juízo investigativo, a qual faz parte da eliminação final de todo pecado, prefigurada pela purificação do antigo santuário hebraico, no Dia da Expiação. Nesse serviço típico, o santuário era purificado com o sangue de sacrifícios de animais, mas as coisas celestiais são purificadas com o perfeito sacrifício do sangue de Jesus. O juízo investigativo revela aos seres celestiais quem dentre os mortos dorme em Cristo, sendo, portanto, nEle, considerado digno de ter parte na primeira ressurreição. Também torna manifesto quem, dentre os vivos, permanece em Cristo, guardando os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, estando, portanto, nEle, preparado para a trasladação ao seu reino eterno. Este julgamento vindica a justiça de Deus em salvar os que crêem em Jesus. Declara que os que permaneceram leais a Deus receberão o reino. A terminação desse ministério de Cristo assinalará o fim do tempo da graça para os seres humanos, antes do Segundo Advento. (Heb. 8:1-5; 4:14-16; 9:11-28; 10:19-22; 1:3; 2:16 e 17; Dan. 7:9-27; 8:13 e 14; 9:24-27; Núm. 14:34; Eze. 4:6; Lev. 16; Apoc. 14:6 e 7; 20:12; 14:12; 22:12.)         A Segunda Vinda de Cristo. A segunda vinda de Cristo é a bendita esperança da Igreja, o grande ponto culminante do evangelho. A vinda do Salvador será literal, pessoal, visível e universal. Quando Ele voltar, os justos falecidos serão ressuscitados e, junto com os justos que estiverem vivos, serão glorificados e levados para o Céu, mas os ímpios irão morrer. O cumprimento quase completo da maioria dos aspectos da profecia, bem como a condição atual do mundo, indica que a vinda de Cristo é iminente. O tempo exato desse acontecimento não foi revelado, e somos portanto exortados a estar preparados em todo o tempo. (Tito 2:13; Heb. 9:28; João 14:1-3; Atos 1:9-11; Mat. 24:14; Apoc. 1:7; Mat. 24:43 e44; I Tess. 4:13-18; I Cor. 15:51-54; II Tess. 1:7-10; 2:8;Apoc. 14:14-20; 19:11-21; Mat. 24; Mar. 13; Lucas 21; II Tim. 3:1-5; 1 Tess. 5:1-6.)         Morte e Ressurreição. O salário do pecado é a morte. Mas Deus, o único que é imortal, concederá vida eterna a seus remidos. Até aquele dia, a morte é um estado inconsciente para todas as pessoas. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, os justos ressuscitados e os justos vivos serão glorificados e arrebatados para o encontro de seu Senhor. A segunda ressurreição, a ressurreição dos ímpios, ocorrerá mil anos mais tarde. (Rom. 6:23; I Tim. 6:15 e 16; Ecles. 9:5 e 6; Sal. 146:3 e 4; João 11:11-14; Col. 3:4; 1 Cor. 15:51-54; I Tess. 4:13-17; João 5:28 e 29; Apoc. 20:1-10.)         O Milênio e o Fim do Pecado. O milênio é o reinado de mil anos, de Cristo com seus santos, no Céu, entre a primeira e a segunda ressurreições. Durante esse tempo serão julgados os ímpios mortos; a Terra estará completamente desolada, sem habitantes humanos com vida, mas ocupada por Satanás e seus anjos. No fim desse período, Cristo com seus santos e a Cidade Santa descerão do Céu à Terra. Os ímpios mortos serão então ressuscitados e, com Satanás e seus anjos, cercarão a cidade; mas o fogo de Deus os consumirá e purificará a Terra. O Universo ficará assim eternamente

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livre do pecado e dos pecadores. (Apoc. 20; 1 Cor. 6:2 e 3; Jer. 4:23-26; Apoc. 21:1-5; Mal. 4:1; Eze. 28:18 e 19.)         A Nova Terra. Na Nova Terra, em que habita justiça, Deus proverá um lar eterno para os remidos e um ambiente perfeito para vida, amor, alegria e aprendizado eternos, em sua presença. Pois aqui o próprio Deus habitará com o seu povo, e o sofrimento e a morte terão passado. O grande conflito estará terminado e não mais existirá pecado. Todas as coisas, animadas e inanimadas, declararão que Deus é amor; e Ele reinará para todo o sempre. Amém. (II Pedro 3:13; Isa. 35; 65:17-25; Mat. 5:5; Apoc. 21:1-7;22:1-5; 11:15.)[8]

CONCLUSÃO

         Concordamos com o Dr. Harold Lindsell, redator da Christianity Today, quando lamenta: “Não estou vendo hoje entre os jovens cristãos qualquer número de mentes brilhantes articulando e defendendo a fé cristã na arena da teologia bíblica e sistemática. Numa edição recente de Christianity Today (20 de dezembro de 1974), Klaus Bockmuhl disse: ‘Já se foram os grandes mestres de uma geração passada, e ainda não foi decidida qual direção a teologia há de seguir. . .  Realmente, poderia vir uma renascença da teologia cristã. Mas isto certamente exigiria muito trabalho, e os esforços combinados de todos aqueles que percebem que a tarefa lhes está proposta.’ . . . Gostaria muito de ver um Lutero, um Calvino, um Knox ou um Edwards surgir entre vocês para fazer em prol da sua época aquilo que algumas das mentalidades mais brilhantes que conheço fizeram em prol da minha.”[9]

APÊNDICE 1

VERBETES PAR LER TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA(Trabalho realizado com os formando do STBNe/98 – Feira de Santana-Ba)

ANALOGIA DA FÉ         Era analogia entis que Karl Bath substitui pela analogia Fidei (analogia da fé), visto que a verdade religiosa é dada por Deus.         É um conceito Bíblico tirado de Romanos 12, (analogia tes pisteões) ou (metron pisteõs), que são palavras semelhantes "analogia da fé" e "medida da fé", representam um desenvolvimento do significado paulino original. Para a hermenêutica a analogia da fé conota que passagens bíblicas podem ser interpretadas com outras passagens porque nada dentro das escrituras podem se contradizer e tendo em vista que Deus é o autor das Escrituras. Para Agostinho a interpretação das Escrituras não deve violar a fé. E Lutero usa

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termos quase semelhantes "o intérprete primário da Escritura deve ser ela própria", por isso as autoridades cristãs evitavam qualquer fonte fora das Escrituras. Para alguns pais da igreja passagens difíceis das escrituras são iluminadas pela fé ensinadas pela igreja, já o protestantismo da reforma é contra essa idéia imposta pelo catolicismo. Ainda como princípio exegético a analogia da fé sofre alguns abusos com significados que o autor bíblico não quis colocar no texto, por isso o intérprete de uma passagem bíblica deve se esforçar o máximo para extrair do texto o que realmente ele diz.

CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS – CMI         Desde 1909 – Conferência Missionária Mundial em Edinburgo até 1937 – Conferência sobre "Vida e Trabalho" em Oxoford e sobre "Fé e Ordem" em Edimburgo – o movimento ecumênico era atuante sob muitos aspectos mas não tinha organização central. Por ocasião das conferências de 1937 tomaram-se as primeiras iniciativas para a fusão de "Vida e Trabalho" e "Fé e Ordem" num Conselho Mundial de Igrejas – CMI. De 1938 a 1948 este permaneceu – devido à Segunda Guerra Mundial – oficialmente em "processo de formação"; em Amsterdã, em 1958, ele foi formalmente estabelecido.         O CMI é uma comunhão de igrejas que confessam o Senhor Jesus como Deus Salvador, segundo as Escrituras e por isso buscam cumprir em conjunto a sua vocação comum para glória do único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. É uma organização ecumênica internacional das igrejas cristãs da Reforma da qual a igreja católica faz parte como observadora. Prolonga historicamente os dois movimentos mundiais: "Vida e Trabalho", "Be Oxford" e "Fé e Ordem" de Edimburgo.         O CMI não é uma igreja, nem pretende ser uma espécie de "super igreja", mas existe para servir as igrejas como instrumento, possibilitando-lhes entrar em contato umas com as outras. O CMI não considera nenhum conceito ou doutrina sobre a unidade da igreja como normativo para suas igrejas membros. Pretende ajudar todas elas na procura dessa meta.         A 5a Assembléia Geral foi em Nairobi em 1975. Ela propôs um consenso em torno da unidade nos seguinte termos: "Jesus Cristo fundou uma igreja. Hoje vivemos em diversas igrejas separadas umas das outras. Contudo, nossa visão do futuro é que algum dia viveremos de novo, como irmãos e irmãs numa igreja indivisa. O CMI exerce seu mandato por intermédio da Assembléia Geral, do Comitê central do Comitê executivo, das Comissões, dos Comitês das Unidades de Programas e dos Centros Permanentes Administrativos de Genebra e Nova York. A Assembléia se reúne a cada sete anos.EVANGELHO SOCIAL         O Evangelho Social apareceu no final do séc. XIX e dava bastante ênfase aos aspectos sociais do cristianismo. Esta corrente do protestantismo moderno teve como base o livro "Em Seus Passos o que Faria Jesus?" Esta corrente teve como sua maior expressão a figura de Walter Rauschenbush. O Evangelho Social se caracterizou por uma dupla ênfase, as quais são:

·      Uma função mais ampla da Igreja;

·      E uma crítica crescente dos sistemas e ideologias da ordem vigente.

         Foi sem dúvida alguma uma aplicação da ética cristã em resposta as exigências de uma nova situação histórica – a intensidade dos problemas sociais geradas pelo rápido crescimento industrial dos EUA. Tendo em vista

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este fato, a consciência cristã viu-se obrigada a converter-se em consciência social.

EVANGELICALISMO         Movimento no cristianismo moderno que transcende as fronteiras denominacionais e confessionais, enfatizando a conformidade com as doutrinas básicas da fé e um alcance missionário de compaixão e urgência. Quem se identifica com este movimento é um "evangélico conservador" (ou "evangelical") que crê no evangelho de Jesus Cristo e o proclama. A palavra é derivada do substantivo grego euangelion, traduzido como boas-novas, notícias de alegria, sendo euangelizomai o verbo correspondente, que significa anunciar boas-novas ou proclamar com boas-novas. Estas palavras aparecem quase cem vezes no Novo Testamento e passaram para os idiomas modernos através do equivalente em latim, evangelium.         Desde a Reforma Protestante, a palavra tem sido adotada por certos grupos cristãos, que supõem que retornaram ao evangelho (ou Bíblia), em contraste com o sistema tradicional que se desenvolveu na Igreja Católica Romana. Na Alemanha, na Suíça e em alguns outros países a palavra passou a indicar o corpo geral das igrejas protestantes. Na Inglaterra, é empregada quase como sinônimo da Igreja Baixa (expressão que aponta para os membros de postura mais protestante e evangélica). Na atualidade, os evangélicos são aqueles grupos, essencialmente protestantes, que frisam a necessidade do evangelismo, da expiação mediante o sangue de Cristo, da regeneração, da crença nos elementos fundamentais do ensino bíblico. Usualmente, esses grupos apegam-se a esses documentos sagrados com a sua base de autoridade, rejeitando as tradições, os concílios, etc., como padrões de fé e prática. Assim, o evangelicalismo é muito mais do que um assentimento ortodoxo a determinados dogmas ou uma volta racionária aos costumes antigos. É a afirmação das crenças centrais do cristianismo histórico         Embora o evangelicalismo seja geralmente considerado um fenômeno contemporâneo, o espírito evangélico sempre se manifestou no decurso da história eclesiástica. A igreja apostólica, os pais da igreja, os movimentos reformistas medievais, pregadores como Bernardo de Claraval, Pedro Waldo, John Wycliffe, John Huss e Savonarola se distinguiram dentro do evangelicalismo de tempos remotos. Dos mais recentes podemos citar: John e Charles Wesley, George Whitefield, os batistas, congregacionais e metodistas. No século XIX, surgiram Charles Spurgeon, George Williams, Hudson Taylor, Charles Finey, D. L. Moody, as cruzadas evangelísticas de Billy Graham, e outros. Com a "autoctonização" das organizações assistenciais e evangelísticas e o envio de missionários por grupos dentro dos próprios países do Terceiro Mundo, o evangelicalismo já obteve sua maioridade e é verdadeiramente um fenômeno global.

EXISTENCIALISMO         Os existencialistas ao contrário do modo de pensar do homem da Idade Média que dizia que o ser humano possuía uma essência que "a priore" o determinava, diziam que o homem é um ser histórico e que sua essência vai sendo construída pois a "existência precede a essência".         A doutrina existencialista tem como precursor Kierkegaard (1813-1855) o qual atacou a interpretação dogmática do cristianismo e o sistema metafísico

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Hegeliano.Kierkegaard propôs-se a conduzir os indivíduos à plenitude da sua existência, a qual seria realizada mediante a decisão livre do indivíduo e a fé em Deus.Os filósofos existencialistas refletem sobre a natureza da realidade, mas subordinavam as questões tradicionais da metafísica e da filosofia do conhecimento a uma perspectiva antropocêntrica (isto é, o homem como referência o valor principal). Para eles dar-se um confronto dramático e trágico entre o homem e o mundo. Os mesmos menosprezavam o conhecimento científico em particular a psicologia, na medida em que esta se pretende ciência – e nega a existência de valores objetivos, enfatizando como preferência a realidade e a importância da liberdade humana.         No séc. XX as posições existencialistas desenvolveram-se na sua forma ateísta por Heidegger (1889-1969) e Gabriel Marcel (1889-1963). Karl Jaspers considerava a filosofia como metafísica dentro da qual se processa todo o saber e toda a descoberta possível do ser.         O que os filósofos existencialistas tem em comum, é o conceito de existência, pois para os mesmos existir implica em estar em relação como outros seres humanos, com as coisas e com a natureza, sendo estas relações múltiplas, concretas, denominadas possíveis de acontecer ou não.

HISTORICISMO         Doutrina Histórica-Filosófica que define o pensamento como resultado cultural do processo histórico e reduz a realidade e sua concepção à história adotada por autores como Croce, Nietzesche, Conte e Simmel.         Essa palavra vem do termo alemão "historismus", uma palavra usada para se aplicar a uma ênfase exagerada sobre a história.         O termo foi cunhado por Mannheim e Troeltsch, da escola neokantiana; afirmava que "tudo é história", e Dilthey, argumentava que todos os historiadores escrevem como cativos de sua era e circunstâncias particulares. Isto significa que é muito difícil chegar-se a uma história pura, se estivermos olhando para os sentidos envolvidos no processo histórico. Certamente, Hegel e Marx podem ser criticados desse modo. Hegel, porque via a síntese histórica cumprida na monarquia constitucional do governo alemão, que vigorava em seus dias, em sua pátria: e Marx, por haver pensado, totalmente, que o comunismo poria fim ao processo histórico, por ser uma síntese final.         A doutrina segundo a qual a realidade é histórica (isto é, desenvolvimento, racionalidade e necessidade) e que todo conhecimento é conhecimento histórico. Ela supõe a coincidência de finito e infinito, de mundo e de Deus, e considera, portanto, a história como a própria realização de Deus.         Concepção segundo a qual o pensamento humano se caracteriza por seu processo histórico erigido em sistema a ponto de fazer do tempo o gerador e o decorador das verdades que a escola vai paulatinamente ensinando. Uma variante da doutrina precedente, que vê na história a revelação de Deus no sentido de considerar cada momento da própria história em relação direta com Deus e permeado dos valores transcendentes, incluídos por ele, na história.         O termo historicismo também é usado em um sentido negativo, como sinônimo de falácia genética. Esta consiste em explicar de outro modo (mediante falsificação) a natureza de algum fenômeno, mediante uma alusão à sua origem.

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HUMANISMO         Na idade média no séc. XVI o que predominava era o teocentrismo; tudo era em nome de Deus ou seja (Deus era o centro de tudo), enquanto na renascença criaram o humanismo, o homem no centro de todas as coisas, o homem é a primazia (visão antropocêntrica); Protágoras afirmava que o homem é a medida de todas as coisas, de tal modo que segundo o humanismo, todas as considerações éticas, metafísicas e práticas dependem do homem, e não de forças cósmicas, dos deuses, etc. Assim, criou-se um filosofia relativista, sem valores fixos ou absolutos.Foi assim cunhada a significação clássica do termo, ou aquele tipo de cultura e ênfase promovidos por certos filósofos gregos.         Durante a Renascença, homens como Petrarca e Erasmo de Roterdã retornaram às raízes gregas quanto a muitos valores; e assim foi rejeitado, pelo menos em parte, o modo de pensar que se desenvolvera no escolasticismo, com sua autoridade religiosa centralizada, que também caracterizava a Igreja medieval e a sociedade. Erasmo, naturalmente, como cristão, dava valor à missão de Cristo, tendo adicionado isso à sua clássica maneira de pensar sobre o homem. O humanismo cristão da Idade Média e da Renascença tem mostrado ser o único fundamento da liberdade pessoal e acadêmica da era moderna. O homem aparece como a base de todos os valores e de toda excelência bem como o objeto de todas as atividades. Augusto Conte foi o grande campeão dessa forma de humanismo. Ele fazia da humanidade o único objeto da nossa adoração.

IDEALISMO         O termo vem do grego ideein, "ver", e de eidos, "visão, contemplação". De acordo com um uso popular, o termo indica um conjunto de padrões daquilo que é mais desejável, como os esforços necessários para atingir tal alvo.Ideal – Vem do termo grego "eidos", "visão", contemplação, consideremos os pontos abaixo:O uso popular dessa palavra refere-se a algum padrão de perfeição ou algo que aponta para nobreza, para alguma elevada qualidade, ou seja para algo que deve ser emulado. O ideal é a forma mais desejável de realização de qualquer coisa. Aquilo que existe somente na imaginação, sem qualquer realidade física. Quando um ideal é pertencente às idéias, então devemos falar em ideal conceptual. Nos escritos de Platão, idéia é arquétipo. O mundo ideal é o mundo arquétipo e não material das idéias, das formas universais.         Idealismo Platônico – Platão preparou o caminho para um tipo especial de idealismo que tem desfrutado uma longa e influente história. Para ele, as idéias, formas ou universais, são verdadeiras realidades, possuídas de natureza espiritual. A matéria seria menos real e, se admitirmos qualquer realidade, então teremos um dualismo, onde o ideal é mais real, e a matéria é menos real, imitativa do real, em seu caráter. Esse é um tipo de idealismo metafísico, que admite certo tipo de dualismo. O cristianismo reteve essa forma de dualismo. O mundo celeste é o mundo espiritual, onde imperam as realidades espirituais, e o mundo inferior é material, e é mera cópia do mundo superior, por intermédio do poder do LOGOS. Os trechos de Heb. 8.5; 9-23 refletem o dualismo Platônico, com uma cópia do arquétipo que vai sendo produzida nos objetos materiais. Essa forma de idealismo metafísico chama-se realismo metafísico, dando a entender que a idéia é que é real".

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         Idealismo Hegeliano – Hegel ensinava um idealismo absoluto. A força Cósmica todo-abrangente (Deus) é idéia, e não material. É, espiritual em sua essência. O idealismo subjetivo, dentro desse sistema, é a tese. O idealismo objetivo seria a antítese. Essas formas, são apenas nomes que damos às operações do Espírito Absoluto, que atua através de seu próprio sistema de tese, antítese e síntese, através da qual dá forma a todas as coisas, bem como seu estado de ser, seus atos e suas realizações. O Espírito Absoluto nunca descansa, e nenhuma síntese dEle é final. Uma nova tese surgirá inevitavelmente de sua antítese, dando origem a uma nova síntese.

ILUMINISMO         Movimento filosófico que teve seu apogeu no século XVIII e determinou a face espiritual do século XIX. Caracterizou-se pela confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade, e pelo incentivo à liberdade de pensamento. Irradiou-se da Inglaterra e dos Países Baixos. Apresenta aspectos diversos conforme os países. O iluminismo católico mostra linhas nitidamente sociais e humanitárias.

As lojas maçônicas ajudaram a disseminá-lo por toda a Europa. O movimento contra as crenças e instituições estabelecidas ganhou impulso durante o século XVIII, com Voltaire, Rousseau, Tugot, Condorcet e outros. Muitos foram presos em função de suas convicções, mas através da Enciclopédia seus ataques ao governo, à Igreja e ao judiciário forneceram a base intelectual para a Revolução Francesa.

LIBERALISMO         Conjunto de idéias e doutrinas que têm por objetivo assegurar a liberdade individual inclusive no campo moral e religioso. Preconiza o direito ao indivíduo de adotar idéias e posições avançadas. É contrário a qualquer tipo de intolerância. Admite maior amplitude na esfera das opiniões pessoais. Liberalismo religioso foi um desenvolvimento da teologia alemã posterior ao iluminismo.

ORTODOXIA         O eqüivalente em português da palavra grega "orthodoxia" (de orthos "certo", e doxa "opinião"), o que significa crença correta, em contraste com a heresia ou a heterodoxia. O termo não é bíblico. Nenhum escritor secular ou cristão usa-o antes do século II, embora o verbo orthodoxein esteja em Aristóteles. A palavra expressa a idéia de que certas declarações sintetizam como exatidão o conteúdo do Cristianismo às verdades reveladas e, portanto, são por sua própria natureza normativas para a igreja universal.         A idéia da ortodoxia veio a ser importante na igreja a partir do século II, por causa de conflitos, primeiramente como o gnosticismo e depois com outros erros a respeito da trindade e da pessoa de Cristo. A aceitação rigorosa da "regra de fé" (regula fidei) era exigida como uma condição prévia da comunhão, e surgiu uma multiplicidade de credos que explicavam essa "regra". A Igreja Oriental se autodenomina "ortodoxa" e condena a Igreja Oriental como heterodoxa, por causa da inclusão da cláusula "filioque" no seu credo. Os teólogos protestantes do século XVII, especialmente os luteranos conservadores, ressaltavam a importância da ortodoxia quanto a soteriologia dos credos da reforma.

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         Quanto ao catolicismo romano, o mesmo oferece uma base complexa para a ortodoxia: as Escrituras, conforme elas foram definidas pela Igreja; os pareceres dos chamados pais da Igreja; as decisões dos concílios; os credos; as declarações ex-catedráticas dos papas. Os grupos protestantes, por sua vez, cortam o nó górdio, oferecendo uma exagerada simplificação. Rejeitando certas idéias católicas romanas, eles oferecem as "Escrituras somente".

PANTEÍSMO         Essa palavra vem do grego, pan, "tudo", + Theós, "deus", dando a entender que tudo é Deus. De acordo com o panteísmo, Deus é o cabeça da totalidade, e o mundo é o seu corpo. A forma objetivada, "panteísta", foi cunhada pela primeira vez por John Toland, em 1705. Por sua vez, Fay atacou a filosofia de Toland, e usou a forma nominal "panteísmo". E, desde então o termo tem sido continuamente usado. O panteísmo é uma espécie de monismo, que identifica a mente e a matéria, e que pensa que a unidade é divina. E assim, o finito e o infinito tornam-se uma e a mesma coisa, embora diferentes expressões de uma mesma coisa. O universo passa a ser auto-existente, sem começo, embora sujeito a modificações. De acordo com o panteísmo, todos os seres e toda a existência de Deus, são concebidos como um todo.

REFORMA         A Reforma foi a renovação da vida religiosa acontecida na Europa do século XVI pelo retorno às origens do Cristianismo. Preparada pelo humanista Erasmo de Roterdão (1466-1536), a Reforma foi iniciada pela obra do monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) que em 1517 afixou, nas portas da catedral de Wittenberg, 95 teses contra a venda das indulgências. Em sua orientação de conjunto, a Reforma protestante apresenta-se como um dos meios de realização daquele retorno aos princípios que foi a divisa do Renascimento. No domínio religioso, o retorno aos princípios levava a negar o valor da tradição, e portanto da Igreja, que se julgava sua depositária e intérprete. No texto Contra Henrique VIII da Inglaterra (1522) Lutero contrapunha a tradição eclesiástica, e a todos os rituais e às glosas que havia acumulado durante séculos, o retorno direto à palavra de Jesus Cristo, isto é, ao Evangelho. O ensinamento fundamental do Evangelho é, segundo Lutero, a justificação por meio da fé, a qual implica dois corolários fundamentais: 1º) a negação do valor das obras, isto é, das técnicas religiosas (ritos, sacrifícios, cerimônias) e a redução dos sacramentos àqueles que são mencionados pela Bíblia, isto é, batismo, penitência, eucaristia, mas também estes subtraídos de qualquer supervisão sacerdotal e considerados como expressão da relação direta do homem com Deus. Ao culto sacerdotal, Lutero opôs o exercício dos deveres civis, como único "serviço divino" que possuía valor religioso; 2º) a negação da liberdade humana e o reconhecimento da predestinação da parte de Deus. A fé é o sinal seguro desta predestinação e portanto o indício da salvação.         Pode-se dizer que a Reforma começou, em sua forma preliminar, com John Wycliffe, no século XIV e com John Huss, que foi outra figura espiritual que lançou o alicerce sobre o qual a Reforma veio a ser edificada. Os grandes líderes da Reforma, no século XVI, além de Lutero, foram Zuínglio e Calvino, os quais não pretenderam, inicialmente, formar uma Igreja separada, mas

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apenas "reformar" a existente. Por isso foram chamados de "reformadores" e sua ação, de "Reforma". Quando, porém, se consumou a separação entre católicos e protestantes, o nome da Reforma veio adquirir um aspecto nitidamente confessional, tornando-se quase sinônimo de protestantismo. Dentro da Reforma protestante, poderíamos distinguir três alas: 1) a direita, representada pelo anglicanismo, que conservou numerosos elementos "católicos"; 2) O centro, constituído pelo luteranismo e o calvinismo, que não rejeitaram completamente uma constituição hierárquica da Igreja; 3) a esquerda, que se encarna no anabatismo, com sua rejeição da hierarquia, do sentido salvífico dos sacramentos e do batismo de crianças. Além de Zuínglio e Calvino, o trabalho inicial de Lutero teve continuidade graças aos esforços de Melanchthon e João Knox. A Reforma é o berço de toda a teologia moderna.

SECULARISMO         Essa palavra vem do LATIM seculum, "pertence a uma época". Nos círculos religiosos recebe o sentido de "aquilo que pertence ao mundo de nosso tempo" e que não faz parte do que é sagrado ou espiritual. Em termos gerais, o secularismo envolve uma afirmação da realidades imanentes deste mundo. E uma cosmovisão e um estilo de vida que se inclina para ao profano mais do que para o sagrado, o natural mais do que o sobrenatural. O secularismo é uma abordagem não-religiosa da vida individual e social.         O secularismo veio a ser uma espécie de movimento tipo humanista. O secularismo procurava aprimorar as condições humanas, sem fazer qualquer alusão à religião ou as reivindicações da igreja. Antes, utilizava-se da pura razão, da ciência, e das organizações sociais (não-religiosas) humanas. O secularismo é uma ideologia, para uma visão fechada do mundo que funciona semelhante a uma religião. E uma forma de religiosidade, religião invertida e una.         No secularismo as dimensões – presente e imanente de existência estão revertidos dos atributos do eterno e do transcendente. No entanto, como filosofia abrangente de vida, expressa um entusiasmo sem reservas pelo processo da secularização em todas as esferas da vida. O secularismo carrega uma falha fatal, pelo seu conceito reducionista da realidade, porque nega e exclui Deus e o sobrenatural numa fixação míope naquilo que é imanente e natural. Na discussão contemporânea, o secularismo e o humanismo são freqüentemente vitais como uma só dupla que forma o humanismo secular – uma abordagem da vida e da sociedade que glorifica a criatura e rejeita o criador. O secularismo, como tal constitui-se num rival do cristianismo.         Nenhuma discussão contemporânea do cristianismo e secularismo pode deixar de lidar com as cartas e papéis da Prisão escritos por Dietrich Bonhoeffer. Da perspectiva da teologia bíblica cristã, o secularismo é o culpado porque "mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do criador" (Rm. 1.25). Tendo excluído o Deus transcendente como absoluto e o objetivo da adoração, o secularismo inexoravelmente torna o mundo do homem e da natureza absoluta, e objetivo da adoração.         Em termos bíblicos, o Deus sobrenatural criou o mundo e sustenta a sua existência. Este mundo (o saeculum) tem valor porque Deus o criou, continua a preservá-lo, e age para redimi-lo. Embora Deus haja Senhor da história e do universo, Ele não pode ser identificado com um ou outro (panteísmo). Homens

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e mulheres, existem em liberdade e responsabilidade que o homem tem com Deus e o mundo.         O principal expoente do secularismo é Dietrich Bonhoeffer nascer em Breslau, Prússia (depois Wroclaw, na Polônia), a 4 de fevereiro de 1906. Educado em Tübingen e Berlim, tornou-se pastor luterano e trabalhou em Barcelona e Nova York. Em 1931 assumiu a cátedra de teologia sistemática na Universidade de Berlim. Quando Hitler subiu ao poder em 1933, Bonhoeffer estava em Londres e decidiu lutar contra o nazismo. Em 1935 foi chamado a assumir a direção de um seminário clandestino em Finkenwald, na Pomerânia. O problema central de sua teologia era como ser cristão num mundo secularizado e ateu. Propunha como uma das soluções a interpretação não-religiosa dos conceitos bíblicos, o que sugeria a possibilidade de haver cristãos arreligiosos.

SECULARIZAÇÃO         A palavra secular provém do termo latino, saecelum, significando "esta idade presente". A Secularização é uma palavra temporal usada para traduzir a palavra grega "aeon", que significa era ou época. A Secularização adquire significados da distinção medieval entre aquilo que ficava sob jurisdição eclesiástica ou monástica ou aquilo que não ficava por serem de competência do Estado. Secularização é a libertação do que é mundano em relação ao que é santo. É a inversão de valores dentro dos campos teológicos e secularistas, onde o ser humano começa a se voltar para o presente esquecendo completamente o futuro.         A secularização como teologia surgiu com Bonhoeffer, quando dizia que a igreja não existe senão quando é "para os outros". A igreja deve participar das tarefas humanas, não como quem governa e comanda, mas como quem serve. A secularização é como ameaça e precaução. O que ele asseverou é que o cristão moderno deve ser um homem também voltado para atividades seculares, dedicado a causas humanistas. A Secularização é uma ameaça provocante, que deve ser levada a sério. Ao cristianismo essencial ao que chama razoável. O destinatário do evangelho é o homem novo. Este homem novo, não nos deve causar medo. A igreja não deve permanecer fora do mundo, mas está no mundo. A provocação da Secularização é um desafio às nossas igrejas de nos integrarmos às necessidades humanas, tendo como objetivo principal Jesus Cristo.

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

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