correio fraterno 456

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Ano 46 • Nº 456 • Março - Abril 2014 CORREIO FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA ISSN 2176-2104 Universidade investiga o método de Kardec Encontro reúne fitoterapeutas do Brasil Cerca de duzentas pessoas que trabalham com fitoterapia por todo o Brasil se reúnem em Uberaba, MG e fortalecem o emprego de um recurso utiliza- do na mesma região desde os tempos de Eurípedes Barsanulfo. O projeto, que já tem sede própria, além de estimular a multiplicação do conhecimen- to, inclui o cultivo de plantas medicinais, a coleta, o estudo e a aplicação da fitoterapia junto à assistência espiritual na casa espírita, presente em pelo menos 36 centros espíritas espalhados pelo Brasil. Leia mais na página 3 O interesse que moveu Allan Kardec em seus estudos sobre a existência do mundo dos espíritos e suas relações não teve inicialmente o objetivo de desacreditar a ciência, mas de alertar os materialistas para o fato de que havia algo mais que ela não estava considerando, por falta de observação e pesquisa adequada. Cerca de 160 anos depois, a metodologia para a investigação dos fenômenos mediúnicos é tema de pesquisa realizada na Universida- de Federal de Juiz de Fora, MG e revela a importância do assunto, que toca em um dos pontos mais debatidos entre os céticos, que não consideram o espiritismo ciência, por não entenderem o método desenvolvido por Kardec para obter informações sobre a dimensão espiritual do universo. Para realizar a pesquisa, além de analisar toda a obra publicada pelo codificador, o historiador Marcelo Pimentel teve acesso a documentos originais inéditos de Kardec. Leia a entrevista nas páginas 4 e 5 Livre-arbítrio: marionetes de nós mesmos? O livre-arbítrio só existe antes de encarnarmos, quando escolhemos o gênero de provas por que temos que passar? Se é assim, então somos marionetes de nós mesmos? Página 13 150 anos de O evangelho A marcante assistência a Kardec para conceber e organizar a obra. Página 8 ASSINE JÁ! Receba 6 edições em sua casa, com frete grátis! R$ 42, 00

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Correio Fraterno, um dos mais conceituados veículos de informação espírita do Brasil.

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A n o 4 6 • N º 4 5 6 • M a r ç o - A b r i l 2 0 1 4

CORREIOFRATERNO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA

ISSN

217

6-21

04

Universidade investiga o

método de Kardec

Encontro reúne fi toterapeutas do Brasil

Cerca de duzentas pessoas que trabalham com fi toterapia por todo o Brasil se reúnem em Uberaba, MG e fortalecem o emprego de um recurso utiliza-do na mesma região desde os tempos de Eurípedes Barsanulfo. O projeto, que já tem sede própria, além de estimular a multiplicação do conhecimen-to, inclui o cultivo de plantas medicinais, a coleta, o estudo e a aplicação da

fi toterapia junto à assistência espiritual na casa espírita, presente em pelo menos 36 centros espíritas espalhados pelo Brasil. Leia mais na página 3

O interesse que moveu Allan Kardec em seus estudos sobre a existência do mundo dos espíritos e suas relações não teve inicialmente o objetivo de desacreditar a ciência, mas de

alertar os materialistas para o fato de que havia algo mais que ela não estava considerando, por falta de observação e pesquisa adequada.

Cerca de 160 anos depois, a metodologia para a investigação dos fenômenos mediúnicos é tema de pesquisa realizada na Universida-de Federal de Juiz de Fora, MG e revela a importância do assunto, que toca em um dos pontos mais debatidos entre os céticos, que não consideram o espiritismo ciência, por não entenderem o método desenvolvido por Kardec para obter informações sobre a dimensão espiritual do universo. Para realizar a pesquisa, além de analisar toda a obra publicada pelo codifi cador, o historiador Marcelo Pimentel teve acesso a documentos originais inéditos de Kardec. Leia a entrevista nas páginas 4 e 5

Livre-arbítrio: marionetes de nós mesmos? O livre-arbítrio só existe antes de encarnarmos, quando escolhemos

o gênero de provas por que temos que passar? Se é assim, então somos marionetes de nós mesmos? Página 13

150 anos de O evangelho

A marcante assistência a Kardec para conceber e

organizar a obra.Página 8

ASSINE JÁ!

Receba 6 edições em sua casa, com frete grátis!

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2 CORREIO FRATERNO mArço - ABrIl 2014

www.correiofraterno.com.br

eDItorIAl

Mais uma edição fi nalizada! E esta está pra lá de especial. Os 150 anos de O evangelho, que se

completam agora em abril, inspiram todo o movimento espírita a fazer a sua homena-gem, cada um a seu modo. Nós, que reco-nhecemos a grande parceria com a equipe espiritual, sentimos o profundo envolvi-mento em torno do tema, que se iniciou desde a edição anterior.

Em nós se instalou um desejo de saber algo mais sobre os sentimentos que invadi-ram Kardec, ao constatar que o Evangelho de Jesus seria a base de seu novo projeto junto ao Espírito de Verdade, escolhido como o melhor código de ética para com-por a base moral da codifi cação, um ver-dadeiro roteiro para a grande e necessária

renovação da humanidade.Outra curiosidade também nos sobre-

veio: O que teria levado Kardec a colocar naquele projeto o nome Imitação do evangelho?

Mais alguns dias e os textos dos amigos arti-culistas foram chegan-do e nos ajudando a compor a nova edição, trazendo um a um os temas de nossas curiosidades e pintando em cores vivas a realidade que vi-vemos 150 anos depois de sua publicação.

Que a mensagem de Jesus não seja le-tra morta no coração dos homens, mas um exemplo a seguir, porque com a doutrina espírita a revelação do exemplo amoroso de

CORREIO DO CORREIO Analfabetismo doutrinárioMuito interessante a matéria de capa da última edição (455). Realmente são tantas as confusões na compreensão da doutrina!! Por não entender direito, muita gente aceita qualquer novidade como sendo uma verda-de dentro do espiritismo. Parabéns. Dirce Nascimento. Taboão da Serra, SP.Fãs de Hermínio MirandaAo ler o jornal Correio Fraterno, edição

455 (“À procura de Deus”) vi que o autor Hermínio Miranda tem três livros que ain-da não lemos, O que é o fenômeno aními-co?, O que é o fenômeno mediúnico? e este que alguém achou um antigo exemplar no sebo: Os procuradores de Deus. Antes de sua desencarnação [aos 93 anos], cheguei a tro-car email com ele, perguntando algo sobre a época de Jesus. Ele me sugeriu que lesse a entrevista com Haroldo Dutra no Correio

Envio de artigosEncaminhar por e-mail: [email protected] Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfi ca e pequena apresentação do autor.

CORREIOFRATERNO

JORNAL CORREIO FRATERNOFundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel

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Uma ética para a imprensa escrita

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Cor-reio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:

• A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

• Discussão, porém não disputa. As in-conveniências de linguagem jamais ti-veram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.

• A história da doutrina espírita, de al-guma forma, é a do espírito humano. o estudo dessas fontes nos forneceráuma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos.

• os princípios da doutrina são os de-correntes do próprio ensinamento dos espíritos. não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.

• não responderemos aos ataques diri-gidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que po-dem degenerar em personalismo. Discu-tiremos os princípios que professamos.

• confessaremos nossa insufi ciência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicita-mos. serão um meio de esclarecimento.

• se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião indivi-dual que não pretenderemos impor aninguém. nós a entregaremos à discus-são e estaremos prontos para renunciá--la, se nosso erro for demonstrado.

esta publicação tem como fi nalidade ofe-recer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. e ligar, por um laço comum, os que com-preendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envie seus comentários para [email protected]. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

ISSN 2176-2104

o caminho, a verdade,

Fraterno [de quase dois anos atrás] que eu encontraria a resposta. Em nossa casa, so-mos fãs de Hermínio Miranda.Carmen Corrêa, Centro Espírita Semente

de Luz. Caxias do Sul, RS. Olá, Carmen, por aqui o autor também dei-xou fãs incondicionais, pelo que aprendemos em pelo menos sete obras que publicamos dele. Os procuradores de Deus já se encontra na fi la de nossas publicações. Para nós, será sempre um dever manter vivas as refl exões de Hermí-nio, sempre tão avançadas, fruto de uma luci-dez que a vida na espiritualidade só fará abri-lhantar. Que ele não nos esqueça! Redação.

Jesus nos toca a alma como o verdadeiro roteiro para encontrarmos a felicidade, o caminho, a verdade, a vida.

Boa leitura!

a vida

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MARÇO - ABRIL 2014 CORREIO FRATERNO 3

www.correiofraterno.com.br

Companheiros de diversas cidades e estados de Brasil reuniram-se no feriado do Carnaval, na nova sede

do Núcleo Espírita Brasileiro Langerton Neves da Cunha, em Uberaba-MG, para o grande encontro de coleta e estudos de plantas medicinais.

Todos os anos o evento promove a reu-nião de membros da Caravana do Arco-Íris, que desenvolve atividades com a fitoterapia nas diversas bases ou boticas fitoterápicas espalhadas pelo país, todas elas vinculadas a casas espíritas.

Este ano, cerca de duzentas pessoas representaram 36 boticas de 25 cidades – Teresina, Redenção, Aracaju, Sobral, Goiânia, Brasília, São Paulo, Uberaba, Uberlândia, Campinas, Jundiaí, Ribeirão Preto, Serra Azul, São José do Rio Pre-to, Jaboticabal, Araraquara, Piracicaba, Avaré, Curitiba, Jacupiranga, Diadema, Indaiatuba –, além de companheiros de diversas localidades onde estão sendo pre-paradas novas frentes e trabalho.

Acontece

A Caravana do Arco-Íris teve início com o médium Langerton Neves da Cunha, que desde muito novo já trazia em suas facul-dades mediúnicas a aptidão para o cultivo e aplicação das plantas. A partir de 1959, sob a orientação de Eurípedes Barsanulfo e apoio do próprio Chico [Xavier], ele insti-tuiu o trabalho com a fitoterapia, usando os princípios ativos de plantas medicinais junto à assistência espiritual em Peirópolis, distrito de Uberaba – MG, onde residiu e trabalhou.

Sob o amparo espiritual de Eurípedes Barsanulfo, Emílio Luz, mentor espiritu-al de Langerton quando encarnado, que orientaram e continuam orientando as atividades, além do próprio Langerton, o encontro promoveu muita união, apren-dizado e a oportunidade de trabalho con-junto.

Munidos de enxadão, machado, facão, tesouras de poda, todos os participantes fo-ram para o cerrado, em busca de plantas medicinais que, depois de coletadas e leva-das para a sede do Núcleo, foram processa-

Encontro em Uberaba reúne fitoterapeutas espíritas

Por emerson PAlhAres GonçAlves

das e distribuídas entre todos, como base para a preparação das manipulações.

Oferecendo-nos seus mananciais quase extintos de áreas nativas, aqui está o nosso rico cerrado, com sua magnífica biodiversi-dade. A ele e aos espíritos da natureza pedi-mos licença e retiramos apenas o necessário para a confecção das tinturas, que servirão a todos em suas atividades de assistência, juntamente com o trabalho do Evangelho.

A atividade nos propicia a reflexão so-bre a contribuição de cada parte no proces-so. A doação da natureza, em sua essência, na criação de Deus, pelos princípios ativos de cada espécie vegetal. A contribuição de cada encarnado, nos passos do processo para manipulação dos recursos naturais. A contribuição dos espíritos, no amparo e na inclusão de princípios espirituais, que re-forçam a ação de cada substância de nossas ricas ervas medicinais. Por fim a ação dos assistidos, buscando os tratamentos fitote-rápicos, com passe e Evangelho, juntamen-te com a laborterapia, onde quem trabalha

é sempre o mais favorecido.No fim das atividades, a alegria por tan-

to benefício colhido, finalizado pelo passeio turístico espírita, com a visita fraterna ao sr. Alexandre, do Grupo Espírita Amor Cris-tão, amigo de Langerton e de Chico Xavier – e grande figura inspiradora de nosso tra-balho – e ao Museu Chico Xavier, para en-cerrar a festa espiritual deste doce encontro de amigos que muito se amam.

“Continuemos em frente, aprenden-do e servindo, crescendo e nos esforçando para que o bem se consolide, inicialmente na intimidade de nossas almas, e depois se exteriorize, espalhando bênçãos aos outros, já que o Mestre afirmou que seus discípu-los seriam verdadeiramente reconhecidos por se amarem muito” – aconselha um dos amigos espirituais a nos encorajar para a continuidade da tarefa.

Emerson Palhares Gonçalves é cirurgião-dentista, mé-dium fitoterapeuta e presidente do Núcleo Espírita Bra-sileiro Langerton Neves da Cunha.

1- Entre os participantes, a troca de experiência e de matéria-prima para o trabalho

2- No cerrado, a coleta de plantas medicinais

3- Flor de maracujá: uma das belezas da natureza utilizadas em remédios fitoterápicos

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Universidade investiga o método de Kardec

entrevIstA

Por elIAnA hADDAD

Como você analisa a importância de Kardec como pesquisador?Marcelo Gulão Pimentel: Allan Kardec foi importante, porque desenvolveu pesquisas pioneiras sobre os fenômenos mediúnicos. Ele propôs uma abordagem abrangente das manifestações mediúnicas que ocorriam na metade do século 19. Kardec buscou anali-sar as principais teorias a respeito do tema e concluiu que a hipótese da existência dos espíritos era aquela que melhor explicava o conjunto dos fenômenos observados.

Em que o método de Kardec se di-ferencia?Kardec foi além dos demais pesquisado-res, utilizando os médiuns como modo de acesso direto a dados empíricos a respeito do mundo espiritual. Para ele, o mundo relatado pelos espíritos não era metafísico,

e sim uma parte do mundo natural ainda pouco explorado. Em diversas passagens da obra de Kardec podemos vê-lo comparan-do o mundo espiritual com o mundo mi-croscópio. Algumas vezes ele fazia a analo-gia do médium como um microscópio do mundo espiritual. Kardec também se dife-renciava pela busca ativa por informações a respeito dos princípios que integraram o espiritismo. Ele procurava ampliar sua base de dados empíricos utilizando diver-sos médiuns, muitas vezes desconhecidos uns dos outros. Enfatizava a descrição e a interpretação do conteúdo das mensagens obtidas durante o transe mediúnico, com-parando semelhanças e diferenças entre elas em busca de informações úteis que pudessem integrar sua teoria. Kardec dava uma grande ênfase na análise do conteúdo das informações, sendo menos relevante a

Uma defesa de mestrado realizada em 25 de fevereiro pelo historiador marcelo Gulão

Pimentel levou para o Programa de Pós-Graduação em saúde Brasileira da Universi-

dade Federal de Juiz de Fora, mG, um tema de interesse para espíritas e não espíri-

tas, ao apresentar na academia o método utilizado por Allan Kardec para a investigação dos

fenômenos mediúnicos.

A questão é de suma importância, porque toca em um dos pontos mais debatidos pelos céti-

cos e pelos cientistas materialistas que não consideram o espiritismo ciência, muitas vezes pela

falta de estudo e entendimento do método que Kardec buscou desenvolver para obter infor-

mações úteis e confiáveis sobre a dimensão espiritual do universo. A tese teve orientação do

professor dr. Alexander moreira-Almeida e coorientação do professor dr. Klaus chaves Alberto,

respectivamente, coordenador geral e coordenador da área de ciências humanas do núcleo de

Pesquisa em espiritualidade e saúde, que funciona na mesma universidade desde 2006. Par-

ticiparam da banca examinadora o professor dr. silvio seno chibeni, da Universidade estadual

de campinas, e o professor dr. Gustavo Arja castañon, da Universidade Federal de Juiz de Fora.

marcelo Pimentel concentrou sua pesquisa na leitura e análise de toda obra publicada por

Kardec: seus livros e os doze volumes da Revue Spirite: Journal d’Études Psychologiques. Fo-

ram também obtidos e analisados documentos originais inéditos de Kardec, em viagem de

pesquisa por um mês na França com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do

estado de minas Gerais.

autoria das mensagens. No decorrer de sua pesquisa, contou com um número cada vez maior de correspondentes que foi de grande importância para a multiplicação dos relatos mediúnicos com os quais ele criou, desenvolveu e reformulou os seus princípios acerca do mundo espiritual. A Revista Espírita foi um espaço destacado de debates com os seus correspondentes, contribuindo para o amadurecimento das ideias a respeito do espiritismo. Pesquisa-dor ativo, Kardec também se utilizava de casos históricos acerca dos fenômenos me-diúnicos e também de pesquisas de campo, visitando médiuns e locais onde as mani-festações espirituais se davam. Do conjun-to de informações obtidas, ele desenvolveu a teoria espírita.

Quais as contribuições que uma me-

lhor compreensão da metodologia do espiritismo pode trazer à ciência?Pode contribuir para o debate acadêmi-co acerca dos fenômenos anômalos que envolvem experiências conhecidas como espirituais, psíquicas ou mediúnicas. In-vestigações históricas não só do método de Allan Kardec, mas também de outros pesquisadores que conduziram pesquisas sobre o tema poderiam retomar teorias e metodologias fomentadoras de novas abor-dagens empíricas, bem como tornar mais bem conhecida uma longa tradição de in-vestigações no campo da mediunidade. No nosso grupo temos um doutorando, Ale-xandre Sech Júnior, que está investigando outro pioneiro, William James.

Há um crescente interesse no meio acadêmico sobre as relações entre

Marcelo Pimentel: Investigações que preenchem lacunas da história da ciência e da medicina

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entrevIstA

O espiritismo não foi suficientemente explorado em seu

aspecto metodológico de investigação”

espiritualidade e ciência. Por quê?Cada vez mais têm surgido em diversas partes do mundo estudos sobre os impac-tos positivos da espiritualidade na saúde do ser humano e as suas implicações em diver-sos ramos da sociedade.

Em sua dissertação, você defende o caráter progressivo da pesquisa de Kardec. Por que isso aconteceu?Kardec via o espiritismo como uma ciência, portanto passível de ser aprimorada e mo-dificada. Em um primeiro momento, con-tava com um número restrito de médiuns (cerca de dez), contudo, à medida que esse número foi ampliado, devido à repercussão de sua obra em diversas regiões do mundo, ele passou a recolher uma base maior de dados, o que permitiu o aprofundamento de aspectos de sua teoria. É o que se pode perceber com a leitura do ‘Ensaio teórico das sensações dos espíritos’, publicado na segunda edição de O livro dos espíritos.O ensaio é resultado de uma pesquisa que pode ser acompanhada desde a primeira edição de O livro dos espíritos, passando pe-las edições da Revista Espírita de 1858 até o mês de dezembro, quando Kardec publica o artigo ‘Sensações dos espíritos’ em que apresenta suas primeiras conclusões sobre o tema. Este artigo ainda recebe algumas modificações baseadas na análise das infor-mações dadas pelos médiuns entre 1859 e 1860 até a sua publicação na segunda edi-ção de O livro dos espíritos, em 1860.

Você acredita ser necessário reto-mar os estudos sobre os aspectos históricos e filosóficos das pesqui-sas científicas sobre as relações en-tre espiritualidade e saúde?Sim. Os estudos atuais nesse campo têm tido uma grande repercussão no meio aca-dêmico e na sociedade em geral. Contudo, pouco se sabe sobre a história dessas pesqui-sas. Estudos que busquem investigar suas tradições podem fortalecer essa área acade-micamente e fomentar novos trabalhos.

E na área da metodologia científi-ca? Isso poderia provocar uma re-visão de teorias? Como historiador, é difícil medir o im-pacto desse estudo na área de metodolo-gia científica. Em seus aspectos históricos, acredito que sim. Apesar da repercussão

que o espiritismo teve entre pesquisadores renomados da Europa na segunda metade do século 19, e na história da saúde mental no Brasil, o método de Allan Kardec é pou-co conhecido. Acredito que com mais dis-cussões e estudos acadêmicos sobre Kardec e seu método de investigação a academia possa inseri-lo como um dos pioneiros das pesquisas psíquicas, em especial, da mediu-nidade. O espiritismo não foi suficiente-mente explorado em seu aspecto metodo-lógico de investigação. Além disso, Kardec não buscou apresentar seus estudos sobre espiritismo no ambiente acadêmico.

Por que Kardec afirmava que o es-piritismo não poderia ser enqua-drado no mesmo ramo das ciên-cias tradicionais, como a química e a física, mas sim como uma nova ciência?

Kardec oferece diferentes definições do es-piritismo enquanto ciência ao longo de sua obra. Uma das mais citadas está na obra O que é o espiritismo? em que ele definiu o es-piritismo como “uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal”. Nos parece que a principal razão para ele não enquadrar o espiritismo entre as ciências tradicionais diz respeito à deli-mitação de seu objeto de estudo. Enquanto a física e a química têm como base a inves-tigação da matéria, o espiritismo investiga o ser pensante, o espírito. Além disso, para Kardec, o método quantitativo e os expe-rimentos laboratoriais praticados por essas modalidades científicas não seriam ade-quadas para a investigação dos fenômenos inteligentes gerados pelo espírito.

O espiritismo continua um ‘grande

desconhecido’, como já observara J. Herculano Pires?Acredito que falta uma leitura mais crite-riosa e aprofundada da obra de Allan Kar-dec, notadamente em seu aspecto meto-dológico. Principalmente o conhecimento que pode ser obtido a partir da leitura da Revista Espírita.

Você defendeu que a análise do con-teúdo da Revista Espírita pode re-velar importantes aspectos da cons-trução teórica e metodológica do espiritismo. Pode dar um exemplo?Um bom exemplo é o da evolução do en-tendimento sobre a possessão. No começo, Kardec nega a possibilidade da possessão, como está expresso em O livro dos médiuns (1861). Contudo, no livro A gênese, de 1868, ele admitiu a existência da possessão para alguns casos de obsessão. O processo

de convencimento de Kardec só pode ser observado na Revista Espírita. Em março de 1862, ele tomou conhecimento de uma série de fenômenos mediúnicos chamados pela imprensa de ‘Os possessos de Morzi-ne’. Durante um ano, Kardec publicou uma ampla pesquisa sobre o evento, totalizando seis artigos, onde afirmava ter evocado espí-ritos por diferentes médiuns, promovendo entrevistas sobre o tema; promoveu estudos do tema com os membros da Sociedade Pa-risiense de Estudos Espíritas; analisou casos semelhantes registrados na história; com-parou com fenômenos semelhantes envia-dos por seus correspondentes de diferentes lugares; analisou artigos publicados pela imprensa sobre a possessão em Morzine; leu diversos relatórios oficiais e acadêmicos sobre a epidemia de possessão; observou casos de possessão em várias localidades e realizou uma viagem de campo a Morzine

para avaliar os casos de possessão. Por fim, os dados analisados contribuíram para que ele, em dezembro de 1863, se convencesse da possibilidade da possessão.

O que você descobriu de novo e como esse material foi utilizado em seu trabalho?Durante o mês que estivemos na Fran-ça, tivemos a oportunidade de conversar com diversos pesquisadores acadêmicos, como Marion Aubrée, Guillaume Cuchet e Renaud Evrárd, bem como pesquisado-res e estudiosos da história do espiritismo, como Charles Kempf, Jérémie Philippe e Pierre Etienne. Visitamos diversos arquivos públicos e bibliotecas francesas em busca de fontes históricas sobre a vida de Allan Kardec e sobre o espiritismo entre 1857 e 1869. Com a valiosa ajuda de Charles Kempf, visitamos os arquivos da Union Spirite Française et Francophone em Tours, na França, e conseguimos coletar diversas cartas, diplomas e outros docu-mentos que serviram de fontes de informa-ção para a conhecermos melhor a vida de Hippolyte Rivail, onde foi possível cons-tatar a sua vasta erudição como professor, escritor e membro de diversas sociedades científicas. Também conseguimos acesso a algumas cartas do Kardec aparentemente nunca publicadas. Ainda estamos analisan-do o conteúdo dessas cartas e pretendemos apresentá-las juntamente com a sua análise em um trabalho futuro.

Qual o papel de Kardec, na vinda do Consolador Prometido, com relação à equipe do Espírito da Verdade?Kardec foi muito mais que um compilador ou secretário dos espíritos na constituição do espiritismo. Ele foi um pesquisador ati-vo em busca das informações que permiti-ram que ele constituísse a sua obra. Kardec afirmava que o espiritismo seria o trabalho de uma dupla revelação: a divina ou espiri-tual, por ter sido a partir das informações dos espíritos que ele teria realizado sua obra, mas também pela revelação científi-ca, onde o seu papel como pesquisador foi fundamental na elaboração dos princípios que compõem o espiritismo.

Veja mais sobre o Núcleo de Pesquisa em Espiritualida-de e Saúde e acesse os documentos inéditos de Kardec em www.correiofraterno.com.br

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6 CORREIO FRATERNO mArço - ABrIl 2014

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coIsAs De lAUrInhA Por tAtIAnA BenItes

Tem espírito embaixo da cama?Laurinha e seus amigos conversa-

vam na escola e Jorginho dizia:– minha tia sempre disse que é pra eu não falar de alguém que já morreu, porque senão ele vem e puxa meu pé de noite. – e você tem medo? – pergunta Ani-nha. – eu tenho. – eu também – disse Pedro. – Alguém já te disse isso também? – pergunta Jorginho. – Disse sim. – Ah, só dizem isto pra gente fi car com medo – fala laurinha. – mas vai que é verdade! – exclama Ana. – sempre que vou dormir cubro meu pé com o cobertor – diz Jorginho. – eu também – concorda Pedro. – e sempre fi co com o pé em cima da

cama, porque tenho medo de algum espírito lá debaixo me puxar – comple-ta Jorginho. – eu não tinha pensado nisso – co-menta laurinha pensativa. – nisso o quê? – pergunta Ana. – em ter espíritos embaixo da cama. – eu tenho tanto medo que até arru-mei uma estratégia – explica Jorginho, com ar de inteligente. – eu coloco to-dos os meus brinquedos embaixo da cama, assim não vai dar espaço pra nenhum espírito fi car lá. – eu coloco as minhas caixas de sa-pato e as caixas dos jogos – diz Pedro.– e você, laurinha, não tem medo? – pergunta Jorginho. – não. eles não vão puxar meu pé. Porque embaixo da minha cama tem quatro gavetas. lotaaaaadas de roupa. nenhum espírito cabe lá.

laurinha dá um sorrisinho e deixa todo mundo pensativo.na casa de laurinha...– o pessoal estava falando que os es-píritos fi cam debaixo da cama e vêm puxar nosso pé à noite.– Ai, laurinha. os espíritos fi cam onde quiserem, porque não ocupam espaço. A matéria não é empecilho para eles. – mãe, mas o que a gente pode fazer pra isso não acontecer?– laurinha, não fazemos prece toda noite antes de dormir, pedindo prote-ção para os espíritos de luz?– Ah, é.– eu estava preocupada. Porque se eles quisessem fi car embaixo da minha cama, teria que ser no friiiiiio.– Por que no frio, laurinha?– Porque no verão eles iam morrer de calor dentro daquelas gavetas.

Nos livros Tem espíritos no banheiro? e Tem espíri-tos embaixo da cama?, de autoria de Tatiana Beni-tes, você encontra outras aventuras de Laurinha (Ed. Correio Fraterno).

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MARÇO - ABRIL 2014 CORREIO FRATERNO 7

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BAÚ De memÓrIAs

Ao ouvirmos falar sobre Allan Kar-dec em palestras ou cursos na casa espírita, vemos que o foco recai

normalmente no realce de suas qualidades intelectuais e em seu árduo e profícuo tra-balho de organização e construção do edifí-cio doutrinário que suas obras constituem.

Enfatizar a figura de Kardec como um cientista frio e sóbrio é um recurso muitas vezes utilizado na oratória para enfatizar a capacidade racional do codificador e para evitar que os ouvintes o imaginem como alguém místico ou passível de fraudes de ‘médiuns’ ou mistificações nas mensagens mediúnicas.

Porém, a doutrina espírita nos ensina que evolução espiritual implica evolução intelectual e também moral, o que nos faz concluir que por mais que este recurso ora-tório seja realizado com a boa vontade de evidenciar o olhar imparcial de Kardec e as condições intelectuais de sua personali-dade, surge uma pergunta, principalmente para quem ainda está se aproximando da doutrina: Se o espiritismo tem como lema “Fora da caridade não há salvação”, por que Allan Kardec era este homem de cora-ção frio e imparcial, distante da dor alheia ou da caridade?

Ao abrirmos o capítulo 13 de O evange-lho segundo o espiritismo, intitulado “Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita”, encontramos um bom argumento que nos ajuda a entender o silêncio de Kardec dian-te dos atos de caridade por ele empreen-didos. Afinal, “fazer o bem sem ostentação tem grande mérito. Esconder a mão que dá é ainda mais meritório, é o sinal incontes-tável de uma grande superioridade moral”.

Entretanto, após a sua morte, em 31 de março de 1869, os espíritas da época fizeram uma série de homenagens, como o

Kardec e a caridadeque educa

Por tIAGo De lImA cAstro

O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: [email protected].

dólmen levantado em seu túmulo, no ce-mitério Père-Lachaise, em Paris. Entre elas também estava o opúsculo Discursos pro-nunciados pelo aniversário de Allan Kardec, no ano de 1870, onde há uma importante

carta de seu amigo Alexandre Delanne, pai do conhecido escritor espírita Gabriel De-lanne.

Nela, o amigo comenta que conhecia bem a capacidade intelectual de Kardec

na produção de sua obra e em sua divul-gação. Porém acrescenta: “Puderam avaliar a bondade de seu coração, seu caráter tão firme quanto justo, a benevolência de que usava em suas relações, a caridade afetiva que inundava sua alma, sua prudência e extrema delicadeza? Não!”

Ilustrando a conduta do codificador, Alexandre Dellane narra que certa feita Kardec lhe contara sobre um encontro com um homem de idade avançada que passava por grandes dificuldades materiais, a ponto de mal conseguir se proteger do frio, po-rém, demonstrando aceitar a sua condição, devido a um texto espírita que lhe caíra nas mãos. Eis que durante a narração do caso, uma lágrima escorre no rosto de Kardec, que lembrava ter buscado moedas de ouro para ajudar aquele homem a sobreviver e, no dia seguinte, enviara-lhe uma série de suas obras para que conhecesse melhor o espiritismo, ou seja, fornecendo-lhe o pão material e o pão espiritual. Na carta nar-ram-se outras situações em que Kardec for-necera ajuda material a necessitados, com a discrição que lhe era peculiar. Bastava saber de um necessitado que não se poupava em ajudar como podia.

São narrativas como essas que eviden-ciam as virtudes morais do codificador, de-monstradas desde quando, como educador Hyppolite Léon Denizard Rivail, já revela-va ser um espírito de grande envergadura, coerente com a missão que caberia realizar.

BibliografiaO espiritismo em sua expressão mais simples e ou-tros opúsculos de Kardec. Tradução de Evandro No-leto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2006.

Professor de música, filósofo, colaborador do Grupo Espírita Seara das Fraternidades e do Grupo Teatral Mensageiros da Luz.

Dólmen de Kardec no cemintério Père-Lachaise, em Paris

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8 CORREIO FRATERNO

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esPecIAl

150 anos de O evangelho

Nosso objetivo com este texto, fruto de pesquisa em torno dos registros que marcaram a publicação de O

evangelho segundo o espiritismo, em abril de 1864, na cidade de Paris, é destacar a mar-cante assistência espiritual junto a Allan Kardec, inspirando-o na concepção do pla-no e na organização da terceira obra básica da doutrina, cujo sesquicentenário come-moramos em 2014.

Data de 1863 os poucos relatos exis-tentes em documentos, relacionados à redação e publicação da obra Imitação do evangelho. O codifi cador diz ter guar-dado segredo sobre o trabalho realizado, inclusive fazendo sigilo absoluto sobre o título do livro, a tal ponto que o próprio editor, sr. Didier, só veio a conhecê-lo no momento da impressão.

Esse título, como sabemos, foi poste-riormente modifi cado, conforme Kardec descreve: “Mais tarde, por efeito de reite-radas observações do mesmo sr. Didier e de algumas outras pessoas, mudei-o para O evangelho segundo o espiritismo,”1 fato que

Por sIlvIo DIvIno De olIveIrA

demonstra o caráter aberto de Allan Kar-dec diante das sugestões procedentes.

Sem dúvida, o título que passou a vi-gorar e chegou aos nossos dias é bem mais signifi cativo e adequado. O termo ‘imita-ção’ fora usado naturalmente com o senti-do de semelhante ou de concordante com os ensinos evangélicos. Todavia, a palavra poderia ser entendida, também, no sentido pejorativo como falsifi cação.

Em 9 de agosto de 1863, em Ségur,2 o ilustre professor dirigiu perguntas a um espírito amigo, que se manifestou através do sr. d’A..., arguindo-o sobre a nova obra em que trabalhava. Lembremos que ele guardava discrição sobre o seu conteúdo e o médium nada sabia. A resposta – que segue em parte abaixo –, portanto, não podia ser fruto de ideias preconcebidas do medianeiro:

“Esse livro de doutrina terá considerá-vel infl uência, pois que explanas questões capitais, e não só o mundo religioso en-contrará nele as máximas que lhe são ne-cessárias, como também a vida prática das

nações haurirá dele instruções excelentes.” Mais à frente, o manifestante amigo

previne o codifi cador sobre a reação do clero:

“O clero gritará – heresia, porque verá que atacas decisivamente as penas eternas e outros pontos sobre os quais ele baseia a sua infl uência e o seu crédito. (...) O aná-tema secreto se tornará ofi cial e os espíritas serão repelidos, como o foram os judeus e os pagãos, pela Igreja Romana.”

Sobre esta última previsão, relacionada à reação da Igreja Romana, ela realmente não se fez esperar. Tendo sido O evange-lho publicado em abril de 1864, já no mês seguinte, em 1º de maio, os livros doutri-nários foram colocados no famoso Index Librorum Prohibitorum (índice dos livros proibidos). Kardec comenta o fato na Re-vista Espírita de junho de 1864, dizendo que já era esperado e prevendo os bons efeitos daí advindos para a propaganda do espiritismo.

Da mensagem obtida em Ségur tam-bém vale destacar a última frase do gene-

roso benfeitor. Para Allan Kardec deve ter sido muito confortadora e, para nós espíri-tas, realmente signifi cativa:

“Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de modo muito particular.” Tra-ta-se de alusão clara a Jesus, que protegia particularmente o nobre missionário na gigantesca tarefa de trazer ao mundo a Ter-ceira Revelação.

Ainda em Obras póstumas encontramos

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mArço - ABrIl 2014 CORREIO FRATERNO 9

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uma nota de Kardec, datada de 14 de se-tembro de 1863, em que ele informa:

“Eu solicitara para mim uma comuni-cação sobre um assunto qualquer e pedira que ela me fosse enviada para o meu retiro de Sainte-Adresse.”3

Eis alguns trechos desse importantíssi-mo documento:

“Quero falar-te de Paris, embora isso não me pareça de manifesta utilidade, uma vez que as minhas vozes íntimas se fazem ouvir em torno de ti e que teu cérebro percebe as nossas inspirações, com uma fa-cilidade de que nem tu mesmo suspeitas. Nossa ação, principalmente a do Espírito de Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a podes negar.”

Na sequência do comunicado, o espíri-to informa que, segundo os seus conselhos ocultos, o plano da obra fora modifi cado ampla e completamente e comenta a situa-ção de isolamento a que Kardec fora certa-mente aconselhado a buscar pelas veneran-das entidades que o assistiam:

“Compreendes agora por que preci-sávamos ter-te sob as mãos, livre de toda preocupação outra, que não a da doutrina. Uma obra como a que elaboramos de co-mum acordo necessita de recolhimento e de insulamento sagrado.”

Kardec descreve, em observação coloca-da ao fi nal da mensagem, que de fato o pla-no da obra fora modifi cado, particularida-de que o médium não poderia saber, uma vez que se encontrava em Paris e Kardec em Sainte-Adresse.

Importante comentário sobre a infl u-ência que o livro teria na vida prática das pessoas também é feito pela espiritualidade:

“Tenho vivo interesse pelo teu tra-balho, que é um passo considerável para frente e abre, afi nal, ao espiritismo a estra-da larga das aplicações proveitosas, a bem da sociedade.”

Ainda dessa mesma mensagem, relacio-namos, para fi nalizar, este pensamento do comunicante, antevendo o futuro:

“Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já se lhe pode ver a cúpula a desenhar-se no horizonte. Continua, pois, sem impaciência e sem fadiga; o monumento estará pronto na hora determinada.”

A palavra ‘monumento’ é uma refe-rência indiscutível à dimensão da obra da codifi cação, a cujo término o mestre lionês

dedicaria o resto de sua vida, concluindo a edifi cação como trabalhador plenamente aprovado.

No apêndice, inserido pela FEB ao fi -nal de Obras póstumas, foi reproduzido do-cumento redigido por Allan Kardec com data de 20 de outubro de 1863, e que só muito tempo depois foi publicado na Re-vista Espírita de 1º de novembro de 1904, em que o nobre missionário faz menção a um fenômeno de clarividência, envolven-do diretamente os bastidores da elaboração de O evangelho.

Nessa página, o codifi cador registra que a senhorita V..., natural de Lyon, era dotada de uma notável segunda vista. Es-tando de passagem por Paris, procurou-o na sua residência, na Rua Sainte-Anne, onde apenas pôde avistar-se com sua espo-sa, uma vez que ele, após ter retornado de Sainte-Adresse havia se retirado para Ségur,

a fi m de dar continuidade ao trabalho da sua obra. Não podendo concretizar-se o encontro esperado, foi sugerido pela esposa Amélie Boudet que ela tentasse ver-lhe o marido, usando os seus dons, o que de fato ocorreu. Após recolher-se por um instante, a senhorita fez a seguinte descrição:

“– Sim, vejo-o; acha-se num aposen-to muito iluminado, no pavimento tér-reo; há ali três janelas... Oh!... e como tudo é alegre! A casa é circundada por jardins... por toda parte árvores e fl ores... Tudo respira calma e tranquilidade... Ele está sentado, próximo a uma janela, tra-balhando... Está cercado por uma multi-dão de espíritos que lhe conservam a boa saúde... alguns há que parecem muito elevados, e o inspiram; um deles especial-mente parece ser superior a todos os de-

Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andai-mes e já se lhe pode ver a cúpula a desenhar-se

no horizonte”

mais, sendo-lhes objeto de deferências.”Após esta descrição pormenorizada,

Amélie perguntou-lhe se podia perceber a natureza do trabalho de que o seu marido se ocupava. A resposta não se fez esperar:

“– Um momento... Vejo um espírito que segura um livro de grandes propor-ções... abre-o e mostra-me o que se acha escrito... leio-o: Evangelho.”

Kardec redige uma observação ao do-cumento, confi rmando a exatidão das des-crições quanto ao ambiente físico em que ele trabalhava, enfatizando o acerto sobre a revelação da natureza do trabalho, ou seja, O evangelho, uma vez que não o revelara a ninguém. E termina dizendo:

“Tal fato constitui-se, para mim, numa prova do interesse que os espíritos tinham por esse trabalho, bem como da assistência que a mim dispensam e a mi-nhas atividades.”

Finalizo, reiterando a importância de O evangelho segundo o espiritismo para a codifi cação, obra primorosa em que fi ca evidenciado o aspecto da religiosidade da doutrina e a fi delidade de Kardec a Jesus, o espírito mais perfeito que Deus ofere-ceu ao homem para servir-lhe como guia e modelo, conforme revelado na pergunta 625 de O livro dos espíritos. Toda a assis-tência e cuidados espirituais que cercaram a sua elaboração atestam-lhe a relevância e demonstram que os Espíritos do Senhor são verdadeiramente as virtudes dos Céus que vêm iluminar os caminhos e abrir os nossos olhos.

Trabalhador do C. E. Joana d’Arc, na cidade de Uber-lândia, MG. 1Todas as citações foram extraídas de Obras póstu-mas, coletânea de escritos de Allan Kardec, elaborada e editada em Paris, no ano de 1890, por Pierre-Gaëtan Leymarie, edição em língua portuguesa da Federação Espírita Brasileira, 36ª edição, tradução de Guillon Ribeiro.

2Ségur: local em Paris onde Kardec possuía uma pro-priedade que lhe oferecia maior tranquilidade para o trabalho. Na Rua Sainte-Anne localizava-se sua resi-dência ofi cial, onde o codifi cador frequentemente era procurado.

3Sainte-Adresse: comuna francesa na região admi-nistrativa da Alta-Normandia, no departamento Seine-Maritime. (dados obtidos na Internet). De-duzimos que Allan Kardec se refugiara nesta região litorânea, por algum tempo, atendendo a orienta-ção espiritual, para elaborar o plano da sua obra sobre os Evangelhos.

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Por mArco mIlAnI

Política do bom sensoAnÁlIse

Frequentemente, colegas espíritas opi-nam sobre a relação entre o espiri-tismo e política. Os mais entusiastas

chegam a estimular o apoio a candidatos a cargos públicos daqueles que se declaram espíritas ou mesmo cogitam a possibilida-de de se criar um partido formado só por espíritas e simpatizantes.

Dois pontos são fundamentais para tratarmos essa situação. Primeiro, o fato de alguém se declarar espírita não o torna uma pessoa melhor que outra, nem signi-fica que ele não cometa erros ou que não faça escolhas erradas. Segundo, o espiritis-mo colabora para a melhoria da sociedade por meio do aprimoramento moral e in-telectual dos indivíduos, não por meio do partidarismo político ou pelo apoio a de-terminados modelos de organização social e econômica.

O rótulo religioso não é garantia de in-tegridade na vida pública. Se assim fosse, diversas siglas partidárias que se declaram cristãs nunca estariam envolvidas em es-cândalos ou atos de improbidade. E não vale dizer que o espírita é melhor que as demais denominações. O fato de termos mais conhecimento sobre o mundo espi-ritual e sobre o que deveríamos fazer para evoluirmos implica responsabilidade, mas a conduta ilibada depende de cada um. Ainda estamos nos aperfeiçoando e lutan-do contra as más tendências que trazemos do passado. Se já tivéssemos atingido a per-feição, não estaríamos reencarnados aqui.

“Ahhh... mas é melhor ter um político espírita do que um materialista!”, afirmam alguns. Vamos refletir sobre isso... Se tivés-semos que passar por um procedimento cirúrgico e pudéssemos escolher o médico, a primeira coisa com que iríamos nos preo-cupar seria a crença religiosa do médico ou sua competência e experiência na função? Muita gente, inclusive eu, procuraria al-guém competente e experiente. Se ele fosse espírita, católico ou ateu, seria uma questão secundária.

“Ahhh... mas político é diferente, pois ele precisa ser honesto!”, replicam os en-tusiastas. Certamente a idoneidade é es-perada por todos, assim como ele deve ter competência e defender propostas adequa-das para a função que desempenhará. Mas

o que pensar de políticos que se declaram espíritas, mas se engajam em lutas para a legalização do aborto defendem a revo-lução armada ou, ainda, apoiam regimes autoritários, que convivem com o pren-der ou assassinar seus inimigos? Pois é... Quando consideramos um cenário mais realista e menos ingênuo, passamos a refle-tir sobre bases que nos exigem maior apro-fundamento político, econômico e social. Trata-se de questões polêmicas que não se resumem na simples declaração de alguém ser adepto ou não do espiritismo, mas de propostas que variarão de pessoa para pes-soa e deixam a denominação religiosa em segundo plano.

O espiritismo, sem dúvida, apresenta uma das mais poderosas propostas para o

desenvolvimento humano já vistas, base-ada no conhecimento da realidade espiri-tual e que justifica e motiva a construção de uma sociedade harmônica como reflexo do aprimoramento individual. Conforme aponta Kardec, no livro Obras póstumas, se quisermos que “os homens vivam como ir-mãos na Terra, não basta dar-lhes lições de moral; é preciso destruir a causa do antago-nismo existente e atacar a origem do mal: o orgulho e o egoísmo” e a educação é o mais poderoso caminho para isso. Sinteticamen-te, sob a perspectiva espírita, a melhoria das condições sociais decorre, essencialmente, do aperfeiçoamento do indivíduo e não o oposto. O ambiente em que nos encontra-mos constitui-se em oportunidade evoluti-va e não será por decretos que a liberdade, igualdade e fraternidade serão obtidas, pois antes se faz necessário “mudar o coração dos homens”.

Responsáveis por nossos próprios atos e escolhas, cabe a nós defender aquilo que considerarmos o mais correto e adequado, além de buscarmos vencer as nossas pró-prias deficiências. Temos o livre-arbítrio para nos posicionarmos politicamente na sociedade em que vivemos e, portanto, cabe a nós escolhermos, antes de tudo, a linha de atuação política e econômica para depois identificarmos os melhores candida-tos que se alinhem com nossas propostas.

Economista e professor universitário. Diretor do Depar-tamento do Livro da USE Regional SP.

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12 CORREIO FRATERNO mArço - ABrIl 2014

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em Mesa branca

Roteiro: Tatiana Benites / Ilustração: Hamilton Dertonio

Congresso Internacional de Educação e EspiritualidadeDe 17 a 20 de abril acontecem no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, 2º

Congresso Internacional de Educação e Espiritualidade e o 5º Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita. Com ex-positores convidados do Brasil, Estados Unidos, França, Argentina, Portugal, Equador e Canadá. Organização: As-sociação Brasileira de Pedagogia Espírita. Informações: www.educacaoespiritualidade.com.

Seminário Mecanismos da mediunidadeNo dia 26 de abril acontece em Belo Horizon-

te, MG, das 8:30 às 17:30h o Seminário “O livro Mecanismos da mediunidade e sua rela-

ção com a física e o hipnotismo” com o físico Alexandre Fontes da Fonseca e o psicólogo Jáder dos Reis Sampaio. Período de inscrição: Inscrições até 7 de abril. Local: As-sociação Espírita Célia Xavier. Rua Coronel Pedro Jorge, 314, Prado, Belo Horizonte, MG. Informações: www.aecx.org.br.

Congresso FEESP 2014A Federação Espírita do Estado de São Paulo re-

aliza de 1 a 4 de maio o Congresso 2014, com participação de mais de 35 palestrantes, dentre

eles Marcel Souto Maior, André Trigueiro, Divaldo Franco, Heloísa Pires, Umberto Fabbri, José Carlos de Lucca. Ins-crições: [email protected] ou na FEESP, Rua Maria Paula, 140, 3º andar, Centro, São Paulo. Fone: 3115-5544.

Jornada Médico-Espírita da Serra GaúchaSerá realizado de 16 a 17 de maio a IX Jornada

Médico-Espírita da Serra Gaúcha, que terá como tema “A consciência quântica”. Aberto

ao público, o evento contará com os palestrantes André Luiz Ramos, Roberto Lúcio de Sousa, Rogério Pereira e Victório Turconi. Local: UCS Teatro, Caxias do Sul, RS. Informações: www.ameserragaucha.com.br. Fones: (54) 3208-4702.

Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fi que atualizado sobre o que

acontece no meio espírita. Participe.www.correiofraterno.com.br

qualquer hora, em qualquer lugar

ENIGMA

Que nome se dá à comunicação dos espíritos

através de pancadas para a designação das

letras do alfabeto?

Resposta do Enigma:

Solução doCaça-palavras

Veja em:www.correiofraterno.com.br

Tiptologia alfabética Fonte:

o livro dos médiuns, capítulo 11.

cUltUrA & lAZer

Congresso Internacional de Educação e Espiritualidade

Congresso Internacional de Educação e Espiritualidade e

ABR

17

Seminário Mecanismos da mediunidadeNo dia 26 de abril acontece em Belo Horizon-

ção com a física e o hipnotismo” com o físico Alexandre

ABR

26

Congresso FEESP 2014A Federação Espírita do Estado de São Paulo re-

eles Marcel Souto Maior, André Trigueiro, Divaldo Franco,

MAI

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Jornada Médico-Espírita da Serra GaúchaSerá realizado de 16 a 17 de maio a IX Jornada

ao público, o evento contará com os palestrantes André

MAI

16

CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Especial Chico Xavier

Grande amiga de chico

Xavier, a pintora tarsila

do Amaral recebia a vi-

sita do médium quando

ele vinha a são Paulo.

Tarsila viveu presa ao

leito em seus últimos

anos na terra, devido a

uma grave queda. chi-

co carinhosamente le-

vava a ela estímulo para

continuar seu trabalho.

ministrava-lhe passes e

o perfume exalado nes-

ses momentos era sen-

tido por todos os pre-

sentes.

Fonte: Até sempre, Chico Xavier, Nena Galves, CEU.

A e Y t e r o A P I U r o Pe A t U o I e B K l m G ç Ão A r l I ç Ã o I o e r U I e I A c v m l P U t r A Z A n D B r A G m I o A e n Y U P X A n B r e Q A Z o D A o o U l r c Á I P c B m e I Y l o h Y e r A W Z Q U e P A o m o m e n t o s D e r t G A e v B Y o P I n t o r A os s U o e A c D F G J U o ll h A s t e r c n o I e A sr r A e P A I o l m B c v Z s t o I A Z r r r A o D e l e A I o P r e s e n t e s o s o U t r v D A I I o l m n s U t r e X Z v U l A r e o A s r e s I o c B m A c D t P e r G A ç Ã o s s A A I eA s s e P o U t Z X F r U er r A ç o I U A Z e r I m G o I e r t n B D e Z e n o U e U A D e U Q D A e r h A A o s r A c A t U I o n o e r e A t Q U e o P A e I s A c e r t I K m n B D F l A m e o m c e m U F r e P s m o P U o A B l U e r o n U e Z D t B P e A U l m B c A n o I A e r D G B m o P o I t e A e e A s s A t o o I n e e r

sabia que centro espírita é a

mesma coisa que “mesa branca”?

nada a ver comparar centro com

mesa!

ah, tá...então qual é a cor da mesa do centro

que você vai?

marrom!

Revista Espírita em inglês Em parceria com o Instituto de Pesqui-sas Espíritas Allan Kardec, a Kardec TV, que apresenta aos domingos o progra-ma Transição (RedeTV), inicia projeto que disponibiliza em seu site a Revista Espírita em inglês. Acesse www. kardec.tv/en/livros-online e baixe o primeiro volume da coleção (1858).

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MARÇO - ABRIL 2014 CORREIO FRATERNO 13

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QUem PerGUntA QUer sABer

A questão do livre-arbítrio merece especial atenção para não ser mal interpretada. Nela está uma chave

importante para se compreender a visão es-pírita da vida.

Explica a doutrina espírita que o ho-mem é livre para escolher e para desistir de suas escolhas, mas o exercício dessa liberda-de estará sempre condicionado à sua evolu-ção moral. Assim, podemos fazer as nossas escolhas, mas também cabe a nós realizá-las ou não. E isso não implica castigos, porque a justiça divina é misericordiosa, dando--nos novas oportunidades, até que consiga-mos ficar em paz com a nossa consciência, quitando débitos contraídos ou realizando novas tarefas no Bem.

Conforme o espírito vai progredindo, vai passando por experiências, como encar-nado e desencarnado, e aprendendo paula-tinamente a agir, pensar, conhecer, a amar e também a escolher melhor, pois seu con-ceito de felicidade também se transforma. Ter uma encarnação feliz não é ter tudo de bom, mas conseguir realizar o que é neces-sário, e muitas vezes isso exige sacrifícios, superações, por não ser o ‘necessário’ tudo o que queremos. Muitas vezes, diante das provas, nos perguntamos “como fui esco-lher isso?”, esquecendo-nos de que nossa vida é resultado das nossas próprias ações, pretéritas e presentes, e que a nossa colheita é sempre submetida à lei do amor.

Assim, quanto mais nos esforçamos e nos dedicamos ao Bem, mais vamos aba-tendo nossas ações negativas, sendo o nos-so esforço no cumprimento da lei divina também levado em conta, porque nossa consciência sabe do que fomos e somos ca-pazes de realizar na exata medida das nossas possibilidades.

Allan Kardec diz que o homem não é fatalmente levado ao mal; os atos que pra-tica não foram previamente determinados; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. ”Ele pode escolher uma existência em que seja arrastado ao crime (...) pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir.

Somos marionetes de nós mesmos?

O livre-arbítrio só existe antes de encarnarmos, quando escolhemos o gênero de provas por que temos

que passar? Se é assim, então somos marionetes de nós mesmos?

Paula Pessôa. Santarém, PA.

Por elIAnA hADDAD

Assim, o livre-arbítrio existe para ele, quan-do no estado de espírito [desencarnado], ao fazer a escolha da existência e das provas e, como encarnado, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que todos nos temos voluntariamente submetido”.

Ressalta a doutrina dos espíritos tam-bém que devemos combater nossas más tendências, através de uma educação que se baseie no estudo aprofundado da natureza

moral do homem. Como o progresso não dá saltos, a justiça divina respeita a nossa dificuldade e dispõe de um mecanismo de amor e aprendizado para nos auxiliar que muitas vezes não compreendemos: a reen-carnação. Como oportunidades de novas realizações, com elas, tantas quantas nos forem necessárias, ainda temos o esqueci-mento do passado. E é nos relacionamen-tos, nas condições da vida atual, que vamos

lapidando a nossa pedra bruta, esforçando--nos nos embates do dia a dia para atingir-mos esse progresso, que é inexorável, por-que fomos criados por Deus para sermos felizes. “Sois deuses, sois luzes”, disse Jesus.

Pela nossa imperfeição ainda e maior apego ao lado material da vida, não en-tendemos o que seja realmente felicidade para o espírito, confundindo essas opor-tunidades benditas de aprendizado como castigos, nos rebelando diante do remédio amargo elaborado por nós mesmos, feito sob medida para alcançarmos a paz das nossas consciências. Assim, a vida nos trata, e não nos maltrata como muitas vezes ima-ginamos. Podemos modificar, portanto, os nossos destinos todos os dias e, por maiores que sejam as nossas dificuldades e os nos-sos conflitos, nossa finalidade será sempre crescer, superar, evoluir. Dessa forma, va-mos aprendendo a escolher e a decidir. “O espírito procede à escolha de suas futuras existências corporais, de acordo com o grau de perfeição a que haja chegado, e é nisso que consiste sobretudo o seu livre-arbítrio”, explica a doutrina.

Os espíritos nos esclarecem que não há fatalidade. “Se assim fosse, o homem seria qual máquina sem vontade” e “de que lhe serviria a inteligência, desde que houvesse de estar invariavelmente domi-nado, em todos os seus atos, pela força do destino? Seria a destruição de toda liber-dade moral; já não haveria para o homem responsabilidade, nem, por conseguinte, bem, nem mal, crimes ou virtudes”. A fa-talidade, porém, segundo eles, não é uma ‘palavra vã’. Ela existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí desempenha, em consequência do gê-nero de vida que escolheu como prova, expiação ou missão. “Ele sofre fatalmen-te todas as vicissitudes dessa existência e todas as tendências boas ou más, que lhe são inerentes. Aí, porém, acaba a fatali-dade, pois da sua vontade depende ceder ou não a essas tendências”.

Allan Kardec, O livro dos espíritos, questão 872.

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14 CORREIO FRATERNO MARÇO - ABRIL 2014

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Da reDAçÃo

vocÊ sABIA?

Centros espíritas fazem mais atendimentos que hospitais em São Paulo

Um levantamento realizado em 55 centros espíritas da cidade de São Paulo aponta que, juntos, eles rea-

lizam cerca de 15 mil atendimentos espiri-tuais por semana (60 mil ao mês).

“Este número é muito superior ao atendimento mensal de hospitais como a Santa Casa, que atende em média 30 mil pessoas, ou do Hospital das Clínicas, com cerca de 20 mil atendimentos”, destaca o médico psiquiatra Homero Pinto Vallada Filho, professor do Departamento de Psi-quiatria da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que orientou a dissertação de mestrado “Descrição da terapia comple-mentar religiosa em centros espíritas da cidade de São Paulo com ênfase na aborda-

gem sobre problemas de saúde mental”, de autoria da médica Alessandra Lamas Gra-nero Lucchetti, apresentada ao Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP em dezembro.

A ideia foi mostrar a dimensão do tra-balho realizado pelos centros espíritas, tanto pelo número de atendimentos como pelos diferentes serviços oferecidos. A pesquisa revelou também que pouquíssimas casas utilizam cirurgias espirituais para os trata-mentos, e quando fazem uso, não recorrem a cortes ou procedimentos do gênero.

“Sabemos, por meio de vários estudos, que a abordagem do tema religiosidade ou espiritualidade exerce um efeito bastante po-sitivo na saúde de muitos pacientes. Por isso,

podemos considerar a terapia complementar religiosa ou espiritual como uma aliada dos serviços de saúde”, revela o Homero Valada, salientando ainda a falta de hábito de os pa-cientes falarem sobre suas crenças religiosas ou mesmo citarem os tratamentos espirituais que realizam nas casas espíritas.

Para a pesquisa Alessandra buscou na internet todos os centros espíritas da capital com site e endereço de contato, encontrando ao todo 504 instituições que seguem a dou-trina codificada por Allan Kardec. Das 504 cartas registradas enviadas às instituições via Correios, 139 voltaram por motivo de mu-dança ou erro no endereçamento. Das 370 que restaram, apenas 55 foram respondidas. “Se considerarmos que essa média de 60 mil

atendimentos mensais representa menos de 15% da totalidade dos centros existentes na cidade, chegaremos a um número total de atendimentos muito superior aos dos 55 que participaram do estudo”, destaca Vallada.

“Esse levantamento procurou descre-ver as atividades realizadas nos centros es-píritas e salientar não só a grande impor-tância social desempenhada por eles, mas também a grande contribuição ao sistema de saúde como coadjuvante na promoção de saúde, algo que a grande maioria das pessoas desconhece”, finaliza.

A pesquisa completa pode ser consulta-da neste link.

Fonte: Agência USP de Notícias.

Page 15: Correio Fraterno 456

MARÇO - ABRIL 2014 CORREIO FRATERNO 15

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DIreto Ao Ponto

Quantas lutas entre o bem e o mal! Um defendendo a felicidade do homem e outro tentando desviá-lo

de sua senda de viver como filho de Deus.Com o entendimento primário em re-

lação aos aspectos antagônicos do bem e do mal, a impressão que o homem mantinha como verdadeira era de que ambos os sen-timentos encontravam-se fora de sua reali-dade íntima. Tanto é que criamos figuras tenebrosas para representar o mal. Algumas meio homem e meio animal, que na tenta-tiva de nos seduzir faziam-nos de joguetes quando caíamos em suas fantasiosas garras.

Pela lei divina, porém, por ser dotado de potencialidades para o bem, o homem, de forma intuitiva, não podia admitir que tivesse dentro de si algo que pudesse ser contrário àquilo que é da sua própria natureza. Afinal, como criaturas, somos filhos de Deus, herdando na relatividade os atributos do Criador. Logo, seria inad-missível termos atitudes contrárias à nossa essência, pois se o ser em-si é bom, não po-deria equivocar-se e praticar o mal. Foi por conta dessa postura, talvez, que resolvemos terceirizar as nossas responsabilidades.

O demônio, ou Lúcifer, Satanás e tan-tas outras definições ainda são utilizadas por uma boa parcela da humanidade para justificar o mal, sendo o ‘terceiro’ respon-sável, que busca incansavelmente tirar as

Por que terceirizamos nossas responsabilidades?

Por UmBerto FABBrI

criaturas do bom caminho, para se realizar com a infelicidade delas.

Chegou-se mesmo a admitir-se que o Criador disputava poder com o demônio, criatura aliás que só poderia ter sido criada por Ele como alguém infeliz desgarrado de seu rebanho, um verdadeiro anjo decaído. Ora, Deus sendo único e perfeito lutaria contra o demônio, que passou a ter status de divindade e poder semelhante ou igual a Ele.

Quando mais experientes e conscientes em relação aos enganos dessa natureza, en-tendemos que essas figuras folclóricas servi-ram para uma época, ou ainda servem para parte da população do planeta em função de sua insistência em terceirizar o mal, há-bito de muitos, traduzido em desculpis-mos infantis. São famosas as justificativas, tais como: sou assim por culpa do meio em

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que vivo; costumo agir dessa forma porque todo mundo age assim; cansei de ser bom; vivo dessa maneira por responsabilidade dos outros...

É a velha fuga, porta fácil da irresponsa-bilidade que aos poucos foi criando insen-satos, os cegos que não querem ver, confor-me o alerta de Jesus.

Na realidade, é a ignorância ao direito do outro que produz o mal dentro de nós mesmos e se espalha no coletivo. O egoís-mo é a mola propulsora que faz e mantém aberta as nossas feridas, às quais por nossos interesses mesquinhos acabamos por não permitir a devida e natural cicatrização.

Emmanuel, na psicografia de Francis-co Cândido Xavier, ensina com sabedoria a respeito do bem e do mal, simplificando para o nosso entendimento e desmontan-do as estruturas viciosas da transferência

para o outro. Diz ele: “o bem é quando é bom para mim e para os outros e o mal, quando é bom só para mim.”

Fica assim evidenciado que o cultivo do egoísmo, em detrimento do direito e feli-cidade de nossos semelhantes, mesmo que trazendo ilusoriamente nossa felicidade, é a representação do mal.

Por isso, a enfermidade nos acompanha há tanto tempo. Somos enfermos de nós mesmos, porque nos viciamos em nós e não transpusemos as barreiras para o rela-cionamento fraterno com o outro. Viven-do com justificativas para o comportamen-to ególatra, permitimos que as diferenças se acentuassem, em torno da etnia, credo, cor, posição social, entre outras.

É preciso que trabalhemos nossos pon-tos de vista em relação não somente ao ou-tro, mas principalmente a nosso respeito, dentro da lição clara de Jesus de que deve-ríamos fazer a ele aquilo que gostaríamos dele receber.

Dessa forma, as mudanças para melhor que aguardamos em nossa presente mora-da deixam de ser responsabilidades alheias e passam a ser assumidas por nós, na exata conscientização de nossos compromissos conosco e com o semelhante.

Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA.

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16 CORREIO FRATERNO mArço - ABrIl 2014

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Da reDAçÃo

leItUrA

Herculano, também poeta

Lembrado e reverencia-do por seu inegável raciocínio lógico e

por seus textos desafi ado-res sobre a fi losofi a espírita, J. Herculano Pires, além de escritor, fi lósofo, jornalista e pro-fessor, também era poeta. Menino ainda, já escrevia poemas e sonetos. Em 1932, aos 15 anos, publicou seu primeiro livro de poesias, Coração.

A fi losofi a o aproximou do escritor, tam-bém dado às artes das letras, o argentino Humberto Mariotti. Mas foi o escritor Clóvis Ramos que se referiu a Herculano como poe-ta, analisando os versos de sua obra Argila. Os textos de Mariotti e Clóvis Ramos compuse-ram um livro único: Herculano, fi lósofo e poe-ta, editado pela Correio Fraterno, em junho de 1984. Também, em 2001, foi a vez de o

amigo Jorge Rizzini enaltecê--lo como poeta, no livro J. Herculano Pires, o apóstolo de Kardec (Paideia). “A poesia e

a imaginação criadora amal-gamadas à rara capacidade de

raciocinar fi losofi camente com o bom senso kardeciano, tornavam-lhe

ímpar a personalidade”, exaltou Rizzini. Em 2004, a editora Paideia lançou o livro Poesias de J. Herculano Pires. “O homem Herculano encanta, o jornalista causa admiração, o es-critor é impecável, mas o poeta! Ah! O bardo reencarnado nos emociona às lágrimas. De sua máquina de escrever as palavras vertem poderosas, transmitindo a compreensão do mundo como possibilidade de desenvolvi-mento pleno”, diz sua fi lha, Heloísa Pires, prefaciando a obra. No livro encontram-se também versos da irmã de Herculano, Ma-

rília Pires, que descreve sua trajetória na Terra. A poesia permitiu que Herculano expres-

sasse sua fi losofi a com toda a sensibilidade de

J. Herculano Pires, além de escritor, fi lósofo, jornalista e pro-

gamadas à rara capacidade de raciocinar fi losofi camente com o

seu ser, mostrando que a alma realmente vibra quando descobre a presença de Deus em si mesma. Confi ra.

Sandálias semeadoraso centro espírita nasceu das sandálias de Jesus,que nunca, nunca morreunem de lança, nem na cruz.

Jesus desapareceupara os vaidosos da terra,mas logo reapareceupara a gente de sua terra.

As sandálias de Jesusnunca deixaram de andar,sozinhas, cheias de luz,para as trevas espantar.

essas sandálias vaziasvão por caminhos e ruas,sem festas nem fantasias sob sóis e sob luas.

Param humildes e calmasna soleira de uma porta,batem solas como palmas,entram por baixo da porta.

há desespero e afl ição.Quem sofre e geme lá dentro?As sandálias já se vão,mas fi ca na casa um centro.

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