correio fraterno 444

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Ano 44 • Nº 444 • Março - Abril 2012 CORREIO FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA ISSN 2176-2104 Acesse nossa loja virtual Livros com desconto! www.correiofraterno.com.br/loja MUITO MAIS QUE UMA VIAGEM Closet: o santuário do consumo moderno O que exatamente estamos levando para casa como consumidores? Sapatos, meias, relógios, óculos, qual- quer brinquedinho que a gente goste de colecionar leva juntos “pedaços” da natureza. Pág. 15. Em entrevista exclusiva, o presidente do Conselho Espírita da França fala sobre a difusão do espiritismo em seu país. Págs. 4 e 5. O s primeiros passos do movimento espírita foram da- dos por Allan Kardec através de várias viagens pelo interior da França. Em 1862, comemorando cinco anos do lançamento de O livro dos espíritos, o codificador parte de Paris rumo a vinte cidades francesas não só para di- vulgar a doutrina dos espíritos, mas principalmente para ver de perto as dificuldades e os desafios do espiritismo nascente. Queria instruir, cumprimentar, compartilhar, enfim, com os companheiros espíritas. Passados 150 anos desse incrível movimento iniciado por Kardec, pode-se dizer que a viagem continua, tendo como desbravadores todos aqueles que descortinam horizontes, le- vando adiante a mensagem do consolador prometido. Como disse Kardec, na época, “vendo uma pequena semente, quem poderia compreender, se não a tivesse visto, que dali sairia uma árvore tão imensa?...” Leia nas páginas 8 e 9. Quando o arado está pronto A história de realização do casal europeu no projeto social na Chapada dos Veadeiros. “Meu mundo em Berlim era de muros, de medo, morte, fome, frio”. Pág. 7 Entrevista: Michel Buffet

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Correio Fraterno, um dos mais conceituados veículos de informação espírita do Brasil.

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Page 1: Correio Fraterno 444

A n o 4 4 • N º 4 4 4 • M a r ç o - A b r i l 2 0 1 2

CORREIOFRATERNO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA

ISSN

217

6-21

04

Acesse nossa loja virtualLivros com desconto!

www.correiofraterno.com.br/loja

MUItO MAIS QUe UMA

VIAGEM

Closet: o santuário do consumo moderno

O que exatamente estamos levando para casa como consumidores? Sapatos, meias, relógios, óculos, qual-

quer brinquedinho que a gente goste de colecionar leva juntos “pedaços” da natureza. Pág. 15.

Em entrevista exclusiva, o presidente do Conselho

Espírita da França fala sobre a difusão do

espiritismo em seu país. Págs. 4 e 5.

Os primeiros passos do movimento espírita foram da-dos por Allan Kardec através de várias viagens pelo interior da França. Em 1862, comemorando cinco

anos do lançamento de O livro dos espíritos, o codifi cador parte de Paris rumo a vinte cidades francesas não só para di-vulgar a doutrina dos espíritos, mas principalmente para ver de perto as difi culdades e os desafi os do espiritismo nascente. Queria instruir, cumprimentar, compartilhar, enfi m, com os companheiros espíritas.

Passados 150 anos desse incrível movimento iniciado por Kardec, pode-se dizer que a viagem continua, tendo como desbravadores todos aqueles que descortinam horizontes, le-vando adiante a mensagem do consolador prometido. Como disse Kardec, na época, “vendo uma pequena semente, quem poderia compreender, se não a tivesse visto, que dali sairia uma árvore tão imensa?...” Leia nas páginas 8 e 9.

Quando o arado está pronto

A história de realização do casal europeu no projeto social na Chapada

dos Veadeiros. “Meu mundo em Berlim era de muros, de

medo, morte, fome, frio”. Pág. 7

Entrevista:Michel Buff et

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eDItORIAL

Disse Allan Kardec, em 1862, que o direito de exame e de crítica era imprescritível, ao qual o espiritismo

não tinha a pretensão de esquivar-se, como não tinha a de agradar a todos. Enaltecia, assim, a liberdade de consciência como di-reito natural, mas acrescentava algo muito importante: “Todos têm o direito de aceitá--lo ou repeli-lo, contanto que o façam com conhecimento de causa”. E foi esse um dos principais motivos que o levou a sair de Pa-ris e a viajar por várias cidades para verifi car de perto como o espiritismo estava sendo desenvolvido pelos grupos espíritas.

Iniciava-se o movimento espírita. Com os cuidados do próprio codifi cador para que o conhecimento espírita não fosse de-turpado, perdendo-se em vaidades, egoís-

mo ou despreparo. Passaram-se 150 anos, e o desafi o continua, no desbravar de novos horizontes, tentando-se seguir os mesmos princípios defendidos por Kardec, com seu pensamento libertador.

É o que procuramos retratar nesta edi-ção. O espiritismo muito mais além das mesas girantes, que conta conosco no tra-balho incessante da seara do bem. Confi ra na Entrevista exclusiva com Michel Buff et, presidente do Conselho Espírita Francês; no Baú de Memórias, com o casal europeu que encontrou a alegria no trabalho com crianças na Chapada dos Veadeiros; no alerta de André Trigueiro, sobre o consu-mismo, a mensagem de Rui Barbosa, em Você Sabia. E, claro, na matéria de capa, de Jáder Sampaio. Boa leitura!

CORREIO DO CORREIO Levando adiante o que é bom Parabéns ao Correio! Devemos fazer uso de todas as ferramentas disponíveis para nos instruirmos, dire-cionarmos, e nos divertirmos. Saúde e Paz a todos.

Fátima Reis, pelo site

Site CorreioOlá, fi quei admirado com o belo trabalho

que vocês realizam. Queria agradecer e parabenizá-los por esta bela mensagem de paz e luz que vocês passam. Tenho um blog espírita e gostaria de saber se posso colocar o link de vocês em meu blog. Quero ape-nas divulgar este belo trabalho e a doutrina.

Leon Felisberto, pelo site www.blogentraai.blogspot.com/

Envio de artigosEncaminhar por e-mail: [email protected] Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfi ca e pequena apresentação do autor.

CORREIOFRATERNO

JORNAL CORREIO FRATERNOFundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel

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Periodicidade bimestralPermitida a reprodução parcial de textos,

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necessariamente a opinião do jornal.

Editora Espírita Correio FraternocnPJ 48.128.664/0001-67

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Presidente: Izabel Regina R. VitussoVice-presidente: Tânia Teles da MotaTesoureiro: Vicente Rodrigues da Silva

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Uma ética para a imprensa escrita

em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Cor-reio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:

• A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

• Discussão, porém não disputa. As in-conveniências de linguagem jamais ti-veram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.

• A história da doutrina espírita, de al-guma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos forneceráuma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos.

• Os princípios da doutrina são os de-correntes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.

• Não responderemos aos ataques diri-gidos contra o espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que po-dem degenerar em personalismo. Discu-tiremos os princípios que professamos.

• Confessaremos nossa insufi ciência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicita-mos. Serão um meio de esclarecimento.

• Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião indivi-dual que não pretenderemos impor aninguém. Nós a entregaremos à discus-são e estaremos prontos para renunciá--la, se nosso erro for demonstrado.

Esta publicação tem como fi nalidade ofe-recer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que com-preendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envie seus comentários para [email protected]. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

ISSN 2176-2104

A liberdadede cada um

Olá, Leon, que bom receber a sua mensagem. Claro que pode divulgar o link do nosso site. Participe também com seu blog da nossa cam-panha Sorria e compartilhe alegria http://www.correiofraterno.com.br/sorria.Um abraço da equipe Correio Fraterno.

ERRATA: Ao contrário do publicado na edição 442 (nov/dez de 2011), o texto Quem é Jesus para os espíritas é de autoria de Aristides Coelho Neto.

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MARÇO - ABRIL 2012 CORREIO FRATERNO 3

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No período do carnaval, tem sido cada vez maior o número de even-tos que reúnem jovens do meio

espírita, e mesmo adultos, numa prática que congrega um número crescente de participantes, valorizando a troca de co-nhecimento e experiências, a união fra-terna e a vivência com pessoas de regiões mais distantes.

Nem sempre é tão fácil se ver livre dos compromissos para se ausentar de casa, por pelo menos quatro dias de feriado. Pois foi pensando em aproveitar o feriadão do car-naval deste ano, só que sem sair da cidade, que um grupo de amigos espíritas resolveu realizar o que chamou “Uma opção de en-contro com Jesus”.

Há dois anos juntos, eles se reúnem aos sábados para estudar a doutrina es-pírita, enfocando o relacionamento fa-miliar. Essas reuniões ocorrem de forma itinerante, nas residências dos partici-pantes (que moram em Belo Horizonte e Contagem, MG).

Ao contrário dos grandes encontros, o evento que realizaram no carnaval retorna à congregação de grupos pequenos: cerca de dez adultos e nove jovens e crianças, de 7 a 15 anos, todos amigos, com seus fami-liares, participando e discutindo os mais diversos aspectos do tema proposto para a ocasião: laços de família. Este encontro foi realizado na sede do Grupo Espírita Irmãos em Cristo, em Contagem.

“Somos amigos desde a época da Mo-cidade e dos encontros de confraternização de mocidades espíritas de Belo Horizonte”, conta a educadora Regina Beatriz do Ama-ral Moraes, uma das idealizadoras.

Num trabalho interativo, e utilizando a obra Paulo e Estevão – Emmanuel, psi-cografia Chico Xavier – que completa 70 anos de lançamento – foi possível aprofun-dar questões sobre os obreiros de Jesus e sua conduta na sociedade, a reencarnação e a formação de novos caráteres, a conduta

AcOntece

ReDAÇÃO

do espírita na família e a família como proces-so evolutivo do espírito, temas acompanhados e realmente interiorizados por todos do grupo.

A integração dos par-ticipantes já se fez presen-te desde a leitura dos ca-pítulos pré-estabelecidos, realizada por cada núcleo em seus lares. Mas foi o estudo dirigido no sába-do de carnaval que sensi-bilizou as crianças e os jo-vens, para, na sequência, desenvolverem um rotei-ro, baseado nos capítulos “Corações flagelados” e o “No caminho de Da-masco”, com orientação de um adulto com ex-periência na área, para a peça que apresentariam ao final, promovendo-se um proveitoso debate so-bre os temas encenados.

“Por causa do teatro, a gente teve uma forma mais legal de entender o tema su-gerido”– analisa Maria Cecília Jesué Ra-mos, 11 anos, opinião endossada pelo ir-mão João Augusto Jesué Ramos, de 8 anos: “Achei que foi melhor fazer o teatro, pois a gente teve mais criatividade”.

Além do teatro e das atividades com muita música, que entretiveram e ajuda-ram a manter a harmonia do ambiente, todos juntos assistiram à apresentação do filme Karate Kid (2010), que foi seguido por uma análise aberta a todos, à luz dos ensinamentos espíritas.

Segundo Regina Beatriz, além da confra-ternização, o estudo entre famílias constitui--se mais uma oportunidade para a conscienti-zação da necessidade de se colocar em prática os ensinamentos do Evangelho à luz do espi-

ritismo. “Frequentar mo-cidade, fazer verdadeiras amizades, faz a gente encontrar o caminho da felicidade”– analisa.

“Se os filhos imitam a gente, juntos vamos caminhando, fazendo da nova oportunidade de encontro um lugar de bom viver e de aprender, apertando cada vez mais os laços de família con-sanguínea e espiritual.

Fica então o convite: “Pegue a sua família, jun-te o seu grupo de amigos e aperte o laço” – aconse-lha a educadora.

União de amigos e família: boa opção para estudo

Arte: pela vivência, a melhor forma de entender o tema sugerido

Em pequeno grupo, o estudo e as reflexões são bem assimiladas, inclusive pelas crianças

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entReVIStA

O espiritismo foi tão importante na França, berço da cultura da épo-ca. E, hoje, como está? Você con-corda com a expressão em que se diz que a árvore do espiritismo foi transferida para o Brasil?Michel: Muitos consideram que a França foi o berço do espiritismo porque Allan Kardec teve a missão de codificar a dou-trina dos espíritos neste país. Ainda que a língua francesa tenha sido tomada em con-sideração pelos espíritos superiores para dar à letra o espírito de perenidade no tempo, não esqueçamos que antes disso os fenô-menos de Hydesville contribuíram para sensibilizar esse período de manifestações inteligentes no mundo material. Não es-queçamos também a passagem de Rivail pela Suíça, no seu encontro com Pestalozzi. Tudo isto para dizer que prefiro considerar o trabalho de Kardec como uma abertura à universalidade do planeta, em vez de ver nisso qualquer referência franco-francesa. O papel do Brasil foi o de preparar as con-dições de preservação e desenvolvimento do espiritismo em um terreno fértil de espiritualidade, a fim de dar nascimento à estrutura e à organização que daria sentido ao porquê da vida. É agora que as árvores devem dar os seus frutos no mundo inteiro através do CEI – Conselho Espírita Inter-nacional – para que se instale esse período de regeneração tão esperado.

Você tem contato mais direto com o movimento espírita brasileiro? Em sua opinião, quais seriam as di-ferenças básicas entre o movimen-to espírita nos dois países? Michel: Temos contato direto com o CEI através de Charles Kempf, vice-presidente do Conselho Espírita Francês, também membro da comissão executiva do CEI, e que morou no Brasil por vários anos. É muito difícil comparar o movimento es-pírita brasileiro e o movimento espírita

francês. O coração dos brasileiros se achava muito receptivo à espiritualidade, permi-tindo à doutrina consoladora encontrar um terreno fértil para se desenvolver. O mun-do espiritual contou com grandes almas, que tiveram a tarefa de se comportar como espíritas exemplares juntando ao exemplo a fé espírita raciocinada e consoladora, como Bezerra de Menezes e Chico Xavier. O de-senvolvimento foi contínuo para chegar a um reconhecimento nacional no senado, por ocasião do centenário do nascimen-to de Chico Xavier. Na França, depois da desencarnação de Kardec, alguns pionei-ros fortaleceram as bases do espiritismo, Léon Denis na parte filosófica, e Gabriel Delanne na parte científica. Jean Meyer fi-nanciou uma organização que visava o fu-turo do espiritismo na França, adquirindo a Sociedade Parisiense de Estudos Espíri-tas e, com ajuda de Léon Denis, retomou a publicação da Revue Spirite. Em 1919, Meyer transforma a União Espírita Fran-cesa em associação, tendo como presidente de honra Léon Denis e, como presidente, Gabriel Delanne. Em 1923, adquiriu La Maison des Spirites (A Casa dos Espíritas), que abrigava as Edições Jean Meyer, a USF, a Revue Spirite, a Federação Espírita Inter-nacional. Alguns anos depois, entre 1925 e 1931, as grandes figuras que fizeram o es-piritismo na França desaparecem: Camille Flammarion, Gabriel Delanne, Léon De-nis e Jean Meyer. Vem a Guerra Mundial de 1939-1945 com a ocupação da França e a desorganização das associações. Em seguida, depois das guerras mundiais, a França e outros vários países onde o espiri-tismo tinha se implantado estavam muitos preocupados com os problemas materiais. Hoje, Kardec é pouco conhecido, a ima-gem do espiritismo é a das mesas girantes e o discurso das autoridades católicas con-tinuam sempre a gerar medo. Atualmente, os valores materiais estão desmoronando e muitas pessoas procuram consolação para

Por eLIAnA HADDAD e IZABeL VItUSSO

Ele nasceu em 1944, na cidade de Rennes, Bretagne, França, numa família sim-ples. Michel Buffet, presidente do Conselho Espírita Francês, frequentou, como se fazia na época, a igreja católica, embora muitas práticas contrariassem a ideia que tinha sobre suas relações com Deus. Foi na UEFF – União Espírita Francesa e Francófona (onde se fala o francês), em tours, que Michel descobriu O livro dos espíritos, que causou uma reviravolta em sua vida no final dos anos 80. “Durante anos, todos os sábados, fazia 250 quilômetros para assistir às reuniões em Tours, desenvolver minha mediunidade e ler muitos livros relacionados ao espiritismo”, conta. Acabou fundando com a esposa, Sylviane, um centro espírita em Rennes para a prática do estudo e de-senvolvimento mediúnico. e, ao se aposentar, morando ao sul da França, perto da Espanha, fundou o Centro Espírita Maria Munoz, filiado ao Conselho Espírita Francês.Neste ano, quando se completam 150 anos da viagem espírita de Allan Kardec pela França, convidado a falar sobre o movimento espírita francês, Michel Buffet concede esta entrevista exclusiva ao Correio Fraterno:

A obra é do mundo

Michel Buffet: A filosofia espírita toma o seu lugar de direito para o tempo anunciado

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entReVIStA

a incerteza do amanhã. Crianças encarnam trazendo uma sabedoria e uma espirituali-dade inata. Os tempos estão mudando e que a fi losofi a espírita toma o seu lugar de direito para o tempo anunciado.

Você percebe alguma mudança no comportamento dos franceses, e do europeu de maneira geral, quanto à busca da espiritualidade? Michel: Certamente há uma mudança de comportamento na Europa. Isso se traduz pela criação de vários centros espíritas em vários países e isso em poucos anos. Os comentários do catolicismo já não são sufi cientes para as consciências de hoje, pois que a razão amadureceu. Mas para a França, temos que enfrentar as marcas dei-xadas pelas mesas girantes que acabaram se passando por brincadeira, fazendo os espíritas passarem-se por saltimbancos. Se o espiritismo foi codifi cado aqui na França, foi também aqui que mais o combateram pelos representantes da igreja católica. A es-piritualidade é uma porta que se abre hoje e a razão deve ser satisfeita para crer no país de Descartes, pois nesse tocante, o espiri-tismo é forte.

Quais os atuais projetos do Con-selho Espírita Francês?Michel: De 2007 até hoje, temos trinta centros membros do CSF, e colocamos ênfase especial no ensino da doutrina propondo simpósios, seminários, estu-dos, formação e conferências sobre ques-tões de grande importância como unifi -cação, obsessão. Utilizamos conferências, o boletim de notícias Voie Spirite, websi-tes do CSF e da Enciclopédia espírita, do-cumentos do CEI para formação de tra-balhadores e estudo, simpósios, e estamos presentes nas realizações do Movimento Espírita Francofóno e do CEI. Para este ano, estamos programando uma grande reunião em Denicé para os espíritas fran-ceses, a fi m de criar um evento fraterno, em comemoração aos 150 anos da Via-gem Espírita em 1862. Ainda temos que desenvolver ações para a juventude, mas a lei francesa não facilita, e as condições para que isso se realize são rigorosas. O Evangelho no Lar não faz parte ainda da mentalidade francesa, e só se estenderá através de famílias espíritas que o prati-cam hoje. Todos os anos nos mobiliza-

mos também com temas de proteção à vida: 2011, campanha contra o suicídio; 2012, campanha contra o aborto, que é legalizado na França.

Vocês editam a Revista Espírita, criada e dirigida por Kardec no sé-culo 19. O que mudou da época em que foi lançada até hoje? Quem é o leitor da Revista? Michel: Depois que Roger Pérez, Louis Serré e a USFF recuperaram o título da Re-vue Spirite, cuja edição tinha sido abando-nada e retomada nos anos 80, a proprieda-de do título da Revue Spirite foi transferida para o CEI. Hoje a edição em língua fran-cesa é assumida pelos países fancófonos através do LMSF. O objetivo dessa equipe é de relançar a Revue Spirite, de torná-la mais atraente e interessante tanto para os espíritas como para as pessoas que se in-teressam pelo espiritismo, de acordo com a orientação dada pelos espíritos ao seu fundador Allan Kardec: A Revue […] deve reunir o sério ao agradável […]. Em suma, é preciso evitar a monotonia por meio da variedade, congregar a instrução sólida ao interesse […]. Obras póstumas.

Quem é Kardec para os franceses hoje?Michel: Kardec suscita geralmente respei-to, até mesmo pelos leigos, ele só é critica-do, como já foi na época, pelos religiosos tradicionais e materialistas que se opõem à doutrina espírita.

Dos três aspectos do espi-ritismo – ciência, fi losofi a e religião – com qual de-les você acredita que o francês mais se identi-fi ca?Michel: Precisa-

mos reformar essa imagem do espiritismo e explicar que ele é uma fi losofi a, uma moral confi rmada pelos fatos em seu aspecto cien-tífi co. É uma doutrina reencarnacionista. Difundir é uma coisa, mas corrigir as ideias falsas é mais difícil, é um trabalho duplo. Atualmente, há duas abordagens na propa-gação do espiritismo, que são sensíveis aos franceses, O livro dos espíritos, porque faz apelo à razão e também O evangelho, que faz apelo ao coração e ao sentimento; ou seja, o primeiro pela crença e o segundo pela con-solação.

Quem é o espírita francês?Michel: A maioria dos espíritas são franceses nativos que conheceram o espiritismo, seja na França ou no Brasil. Temos também pessoas de origem portuguesa e brasileira que colaboram ativamente no movimento espírita francês.

Qual a melhor contribuição que nós podemos dar para a divulgação do es-piritismo fora do território brasileiro?Michel: O CEI continua a contribuir na di-vulgação do espiritismo pelo mundo, permi-

tindo a tradução de documentos da FEB para estudo e formação de colaboradores, fazendo-nos benefi ciar de muitos anos de ex-periência. Através das traduções das psicografi as de Chico Xavier, por exemplo, e também através de conferências e seminários onde participam representantes brasileiros. Os brasileiros e os

franceses possuem grandes afi nidades que facilitam nosso intercâmbio per-manente, não se diz que

m u i t o s franceses se reen-carna-ram no Brasil?

LIVROS & CIA.

AJE - SPTel.: (11) 2950-6554www.ajesaopaulo.com.br

IDE EditoraTel.: (19) 3541-0077www.idelivraria.com.br

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Direito e espiritismocoordenação de Tiago Cintra Essado76 páginas14x21 cm

Anuário Espírita 2012de diversos autores224 páginas13,5x18,5 cm

Que é Deus? – refl exões fi losófi cas sobre a pergunta nº 1 de O livro dos espíritosde Joel Fernandes384 páginas16x23 cm

O silêncio dos domingosde Lygia Barbiére Amaral560 páginas14x21 cm

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Quem é Kardec para os franceses hoje?Michel: Kardec suscita geralmente respei-to, até mesmo pelos leigos, ele só é critica-do, como já foi na época, pelos religiosos tradicionais e materialistas que se opõem à doutrina espírita.

Dos três aspectos do espi-ritismo – ciência, fi losofi a e religião – com qual de-les você acredita que o francês mais se identi-fi ca?Michel: Precisa-

da FEB para estudo e formação de colaboradores, fazendo-nos benefi ciar de muitos anos de ex-periência. Através das traduções das psicografi as de Chico Xavier, por exemplo, e também através de conferências e seminários onde participam representantes brasileiros. Os brasileiros e os

franceses possuem grandes afi nidades que facilitam nosso intercâmbio per-manente, não se diz que

m u i t o s franceses se reen-carna-ram no Brasil?

Colaborou com a entrevista Charles Kempf, vice-presi-dente do Conselho Espírita Francês.

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QUeM PeRGUntA QUeR SABeR

Da ReDAÇÃO

O Espiritismo veio ao mundo atra-vés dos espíritos. Mas para se co-municarem também precisaram

dos médiuns.Não foi o espiritismo que inventou os

espíritos; eles são uma força da natureza. E quem são, afinal, os espíritos? Nós, en-carnados e desencarnados, seres inteligen-tes da criação. Por isso, queiramos ou não, impossível cogitarmos em espiritismo sem espíritos. Mesmo porque, ainda que sem as comunicações mediúnicas ostensivas, estaremos sempre nos acotovelando, como disse Kardec em O livro dos espíritos.

O mais importante, contudo, não é o aspecto fenomênico da doutrina espírita.

Espiritismo sem espíritos?

Há quem defenda que o espiritismo não necessita do trabalho mediúnico

na casa espírita. É possível espiritismo sem

espíritos?Antonio José Leite, São Paulo

O espírito Santo Agosti-nho, em O livro dos espíritos, con-clusão 5, afirma ser falsa a ideia de se acreditar que a força do espiritismo de-corra da prática das manifesta-ções materiais; sua força está na sua filosofia, no apelo que faz à razão e ao bom senso.

Sobre a importância dos trabalhos me-diúnicos, André Luiz no livro Desobsessão,

psicografia de Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, define bem o seu sig-nificado, salien-tando que as reuniões de de-sobsessão não são uma “caça a fenômeno e sim trabalho

paciente do amor conjugado ao conhe-cimento e do raciocínio associado à fé”.

Conclui-se ainda em O livro dos espíri-tos, no item 7, que o espiritismo se apre-

senta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filo-sofia que delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Lembra que, em decor-rência, podemos dividir em três o grupo de adeptos: os que creem nas manifesta-ções e se limitam a comprová-las; os que lhe percebem as consequências morais; e os que praticam ou se esforçam por prati-car essa moral. Qualquer que seja o ponto de vista, científico ou moral, todos com-preendem constituírem eles uma ordem, inteiramente nova, de ideias que surgem e da qual não pode deixar de resultar uma profunda modificação no estado da Hu-manidade, no sentido do bem.

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MARÇO - ABRIL 2012 CORREIO FRATERNO 7

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: [email protected].

Bona Espero (Boa Esperança, em Es-peranto) – parque nacional de con-servação ecológica – é uma fazenda-

-escola esperantista que dá assistência e alfabetização a crianças carentes da zona rural. Possui agricultura alternativa, energia solar e eólica.

Localiza-se perto de Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, Goiás. Fundada em 1957, seu objetivo é realizar um traba-lho social-educativo por um mundo me-lhor e uma humanidade mais feliz. Possui quatro mil hectares de terra. Desde sua fun-dação, sempre manteve escola de alfabetiza-ção, onde os filhos de famílias paupérrimas e abandonadas da sociedade encontram um lar e um exemplo de existência digna.

Em 1948, o italiano Giuseppe Gratta-paglia tinha dezessete anos de idade e tra-balhava na FIAT de Turim. Naquele ano, um determinado diretor perguntara aos

BAÚ De MeMÓRIAS

funcionários quem desejaria frequentar um curso de Língua Internacional Esperanto. Ele aceitou.

Em 1950, em Berlim também foi lan-çado um curso desta língua. Uma garota, também de dezessete anos, chamada Úrsu-la Sandkuhler, resolveu fazê-lo.

Ela era aluna das freiras franciscanas e estudava latim, alemão, inglês e francês.

Em 1956, Giuseppe já se tornara um esperantista atuante e, naquele ano, a Ju-ventude Esperantista Italiana havia con-vidado jovens de toda a Europa para um acampamento às margens do Lago Cere-sole Reale, base de apoio para a escalada ao Monte Grande Paradiso.

Úrsula participou desse encontro e conheceu Giuseppe. Casaram-se no ano seguinte e o matrimônio foi celebrado na língua de Zamenhof.

Foram morar em Turim. Giuseppe tor-

nou-se projetista responsável pelo Departa-mento de tratores FIAT e Úrsula começou a trabalhar como intérprete da Comunida-de Europeia e de alguns ministros.

Em determinado ano, Úrsula, consul-tando uma vidente, esta lhe falou: “Você tem uma missão a desempenhar no sul”. Não acrescentou mais nada. A moça ficou pensativa: “Que sul? Sul da Itália?”. Ficou intrigada, mas com o tempo, não pensou mais nisso.

Em 1973, o casal resolveu passear aqui no Brasil, estavam com dois filhos meno-res. Ao chegar em Brasília, conta Úrsula em depoimento, sentiu que “energias sa-íam de seu corpo e a prendiam ao solo”. Achou muito estranha aquela sensação momentânea. Eles ficaram duas semanas em Alto Paraíso, na Chapada dos Veadei-ros. Lá conheceram uma instituição filan-trópica chamada Bona Espero.

Por FABIAnO POSSeBOn

Quando o arado está pronto…

Giuseppe Grattapaglia e

Úrsula Sandkuler descobriram a

alegria de servir no interior de

Goiás

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”

Coríntios 13:1

Voltaram para a Itália, desprenderam-se do supérfluo, despediram-se dos altos salá-rios e se mudaram definitivamente para o nosso país, em meados de 1974.

“Meu mundo em Berlim era de muros, de medo, morte, fome, frio” – narra Úrsu-la, no livro de autores diversos Não só de idealistas, mas realizadores, Ed. Liney:

“Eu queria mudar aquilo. Encontrei a língua da solidariedade. Mas parece que não era o bastante. Havia mais: O esperan-tista também a serviço dos mais necessita-dos do nosso planeta. Na Itália, estávamos vivendo em uma sociedade de consumo, de egoísmo coletivo e sentíamos instintiva-mente que haveria algo mais. De repente, eis aí! A harmonia, a realidade dos meus três desejos: Esperanto, serviço, qualidade de vida. Mesmo vivendo hoje no “fim do mundo”, para nós e através de nós o Espe-ranto se tornou um instrumento educacio-nal à liberdade do pensamento. Vivemos em um mundo paralelo. Um mundo de largos horizontes. Junto com tantas crian-ças goianas sentimos o ar do planeta, sem muros, sem limites, sem barreiras. Ah! Que mundo diferente!”.

Giuseppe assim se expressa no mesmo livro, em um capítulo que ele intitulou “En-tre dois paraísos”: “Para ser membro desta comunidade é mister, entre outras coisas: amar a natureza em todas as suas formas, não ter hábitos que dariam mal exemplo, como: fumo, álcool, droga, preguiça, ma-ledicência, inveja, etc. Ter conhecimentos práticos e disponibilidade para orientação nos seguintes campos: ensino, psicologia da infância e adolescência, administração, agropecuária, enfermagem, mecânica, ele-trotécnica, serviço de pedreiro, costura, cozinha, etc. Tendo conhecimentos, saber e querer fazer as coisas, preferivelmente tudo... com nada.” Ser esperantista, o que necessariamente não quer dizer saber falar Esperanto (a língua se pode aprender em três meses), mas ter uma visão global e ecu-mênica”.

Hoje, os Grattapaglia estão felizes, re-alizados, vivendo na Bona Espero, porque se identificaram com a bandeira verde do movimento esperantista, a bandeira da não violência, da fraternidade planetária, a bandeira do bom senso, da tolerância e da aceitação sem distinções.

Fabiano Possebon é funcionário público, psicólogo por formação escritor e articulista.

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8 CORREIO FRATERNO

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eSPecIAL

O espiritismo não é uma produção solitária de um grupo perdido na capital francesa do século 19. O

estudo dos fenômenos espirituais e da vida após a morte também não é uma produ-ção burguesa, classe social adormecida para os problemas do mundo e do que hoje se chama de pessoas em situação de vulnerabi-lidade social. Allan Kardec deu-lhe o status de reflexão sobre o mundo e de adversário das vias materialistas para o futuro da hu-manidade.

Vemos alguns momentos distintos do trabalho de Rivail. No primeiro, ele reagiu às notícias que propunham a existência e interfe-rência dos espíritos dos chamados mortos em nossas vidas. Em seguida, pesquisador, não se furtou de estudar os fenômenos espirituais, considerando-os a priori como fruto de algu-

Por JÁDeR SAMPAIO

ma força física, como o magnetismo animal de Mesmer. Da observação cuidadosa dos fatos, ele teorizou, encontrando diversas explicações para o que via, mas sustentando a existência e comunicabilidade dos espíritos.

Uma vez aceita a mediunidade, começou a explorar e a checar as informações oriundas dos médiuns de sua época, o que lhe permitiu escrever uma opinião coletiva dos espíritos, através de um artifício curioso: ele buscava ideias semelhantes, lógicas e racionais, obtidas por médiuns diferentes, de preferência desco-nhecidos entre si. Seu trabalho não foi apenas passivo. Ele interrogou os espíritos comuni-cantes e, não raro, procurou médiuns diferen-tes para fazer as mesmas questões. A revisão de O livro dos espíritos para a publicação da segun-da edição é uma prova viva disto.

Obtidos resultados importantes com as

Há um século e meio

pesquisas, começou o trabalho de publicação e divulgação de suas observações e conclusões em diálogo com a espiritualidade. Fundou seu próprio grupo de pesquisas, a Sociedade Pa-risiense de Estudos Espíritas (SPEE), iniciou a publicação dos livros que conhecemos hoje, no Brasil, como a codificação, e, não menos importante, iniciou a publicação da Revista Es-pírita: Jornal de Estudos Psicológicos, periódico mensal e denso, que o colocou em comuni-cação à distância com o mundo leitor de sua época.

Na falta de um meio de comunicação como a internet, Kardec começou a receber cartas da França, de diversos países europeus, do norte da África e da América. Embora ele negasse que a SPEE fosse a sede de algum movimento federativo, situando-a como um grupo de estudos e pesquisas, ele não se ne-

A caridade é a base, a pedra angular

de todo o edifício

social”

Por JÁDeR SAMPAIO

Lion, século 19

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MARÇO - ABRIL 2012 CORREIO FRATERNO 9

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e lhe diz que irá tentar tirar “a venda dos olhos” da vítima, ao que ele lhe responde: “... não tereis resultado, porque farei tais coisas que ele não vos acreditará.” Esta con-sideração parece ter sido escrita ontem, e certamente continuará útil no futuro.

Outro tema de agora são as “suscetibi-lidades excessivas”, que costumamos tratar como melindres. Eles faziam e ainda fazem “baixas” nas sociedades espíritas.

Por fi m, ele aponta os que fazem peque-nas calúnias nos grupos e na sociedade, que põem pessoas em posições falsas e compro-metedoras, espalhando a descrença e a dis-córdia, até sem o perceber.

No segundo discurso, Allan Kardec faz uma análise da propagação do espiritismo e da oposição do materialismo e se volta contra a proposta materialista e a proposta individu-alista que lhe decorre. Com o desenvolvimen-to do materialismo no mundo e uma crítica do pensamento cristão, temos visto algumas sociedades cada vez mais individualistas, que se recusam a adotar políticas de bem-estar so-cial e apostam na prosperidade de cada um. Allan Kardec parece ter se antecipado em pelo menos um século ao problema da fun-damentação da ética do materialismo.

O terceiro e último discurso de Kardec trata da caridade. Não de uma caridade de esmolas, de doações inconsequentes, nem apenas das virtudes teologais, mas de uma atitude interior que deve presidir a consci-ência do homem de bem. Wallace percebe que o codifi cador trata da benevolência, da justiça e indulgência em relação ao próxi-mo, baseada no que queríamos que o pró-ximo nos fi zesse.

É importante perceber que Allan Kar-dec fez uma análise dos reformadores so-ciais de sua época e que ele entende que visaram apenas a vida material, o que não é sufi ciente para sustentar-se uma sociedade que se estruture em laços de fraternidade, e não em uma sociedade de sagazes, que divide as pessoas entre exploradores e ex-plorados. “O espiritismo, por sua poderosa revelação, vem, pois, acelerar a reforma so-cial”– afi rmou.

Professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutor em Administração e especialista em Psicologia do Trabalho. Além de escritor e articulista, Jáder mantém o blog [email protected].

1 2ª edição, 1981, trad. Wallace Leal V. Rodrigues

gava a responder as cartas e a emitir sugestões e orientações a quem quer que o pedisse com boas intenções e seriedade.

Em 1860, Kardec fez uma visita a Lyon, e segundo Wallace Rodrigues foi recebido no Centro Espírita de Broteaux, por Dijon e sua esposa, um casal operário. No ano seguinte, volta à cidade dos mártires e encontra novos grupos formados.

Fizemos esta introdução para que possa-mos entender o livro que foi traduzido e pu-blicado pela Casa e Editora O Clarim e que se chama Viagem Espírita em 18621, de autoria de Allan Kardec.

Dois anos após sua primeira viagem com fi nalidade espírita, Kardec realizou a “mais ex-tensa” de toda a sua vida. Esboçamos um pe-queno mapa que mostra em que cidades ele esteve pela França.

As informações sobre a viagem impres-sionam. São vinte cidades e mais de cin-quenta reuniões. Imagino que o desloca-mento se deu por algum veículo de tração animal ou via férrea. O calçamento das es-tradas e vias seguramente não era nada igual ao que temos hoje, e as despesas, como Allan Kardec fez questão de deixar claro, correram por conta própria, ao contrário do que acusaram seus adversários.

Os relatos da viagem foram publicados sob a forma de livro para evitar a ocupação de um grande espaço da Revista Espírita. Kardec deseja mostrar não apenas o grande crescimento do movimento espírita francês, mas igualmente levar ao grande público o conteúdo de suas palestras.

São quatro os grandes temas tratados pelo conferencista:

Ele aborda os adversários do espiri-tismo, agrupando-os em adversários na-turais e adversários entre os adeptos do espiritismo. Estes últimos já haviam sido descritos em O livro dos médiuns: os que apenas se interessam por fenômenos (espí-ritas experimentadores), os que entendem haver uma moral decorrente do estudo do espiritismo, mas não a praticam (espíritas experimentadores).

Kardec reafi rma que ser espírita não é apenas uma questão de crença, mas de cará-ter também, embora reconheça que aqueles que ele chama de espíritas-cristãos ou ver-dadeiros espíritas, possam não conseguir vi-ver em plenitude a ética espírita, cometen-do erros, mas fazem esforços para torná-la cotidiana. Ele parafraseia sua própria frase

de efeito, explicando: “Fora da caridade não há verdadeiros espíritas”.

Outro ponto alto do “recado” de Kar-dec aos novos espíritas é uma espécie de síntese dos princípios da moral espírita, que transcrevemos aqui:

• Amai-vos uns aos outros.• Perdoai os vossos inimigos.• Retribuí o mal com o bem.• Não ter ira, rancor, animosidade, in-

veja ou ciúme.• Ser severos consigo mesmos e indul-

gentes com os outros.Kardec discute com seu público sobre

as animosidades no meio espírita. Essas são sesquicentenárias, pelo visto, talvez porque façam parte do espírito humano, que se en-contra em processo de educação no meio es-pírita, mas têm impulsos de difícil controle.

Ele fala da mediunidade paga, critican-do-a pela grande propensão à fraude, e dá uma alternativa: a cobrança de mensalida-des para o funcionamento das sociedades. Uma cobrança que não é imposta, que respeita os que não podem pagar, e que possibilita o exercício mediúnico (mas certamente não remunerará nenhum mé-

dium por sua faculdade).Um segundo problema, grave ainda nos

dias de hoje, são os que utilizam do espiri-tismo como um pedestal para se promove-rem. Não se trata da promoção do trabalho espírita ou do pensamento espírita, mas da personalidade. Estes o fazem sem interesses econômicos, mas como uma forma com-pensatória para os insucessos da vida pessoal, profi ssional e mesmo social, fora da esfera da comunidade espírita. Continua atualíssimo e nos convidando à refl exão.

O codifi cador fala dos ciúmes para com o sucesso de sua obra. Os estudiosos de histó-

ria do espiritismo já identifi caram alguns dos atores sociais que cabem dentro desta avalia-ção. Médiuns que participaram dos grupos frequentados por Rivail, que tinham sua centralidade aí e passaram a criticá-lo após o sucesso de O livro dos espíritos, por exemplo.

Os médiuns fascinados por espíritos (e por seu próprio ego), também estão na pau-ta de discussões do conferencista francês. Eles acreditam que tudo o que lhes sai da ponta da pena é sublime e correto. No livro A obsessão, Allan Kardec dialoga com um espírito fascinador de um médium francês

Viagem espírita em 1862

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10 CORREIO FRATERNO MARÇO - ABRIL 2012

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Ajudandoa

chorar

enSAIO

Foi o amigo Lindomar Couti-nho quem me contou a seguin-te história:

Elisângela saiu de casa, no ho-rário habitual, para buscar sua filha Raquel na escola. Era uma linda garota de seis anos, doce e amorosa, que se convertera na luz daquele lar.

Parando o carro em frente ao prédio, como sempre fazia, a mãe buzinou cinco vezes, como era de costume. Aquilo era um código en-tre ambas, e a filha, tão logo iden-tificava os sons, saía, festiva, para encontrar os beijos maternos e re-tornar para o ninho doméstico.

No entanto, naquele dia, Raquel não saiu. Elisângela buzinou novamen-te, mas a menina não saía. Avistando uma funcionária na porta da escola, pediu-lhe o favor de procurar a filha, no que foi prontamente atendida.

Passados alguns minutos, a pe-quenina era trazida, guiada pela mão esquerda, enquanto a direita era utilizada para enxugar grossas lágrimas que teimavam em cair de seus olhos.

Chegando ao carro, abraçou-se à mãe e continuou o seu choro. Eli-sângela, acolhendo a filha e com ca-rinho, perguntou se ela tinha caído,

se machucado; queria, enfim, saber o que estava acontecendo.

Raquel, com os olhos ainda ma-rejados, respondeu:

– Sabe, mamãe, a Joaninha? Pois é! A boneca dela quebrou. Era a bo-neca mais querida dela, mamãe!

– Ah, filhinha, foi mesmo?– Foi, mamãe, foi. Aí, eu demo-

rei tanto assim porque estava lá, aju-dando ela.

Ouvindo aquelas palavras, Eli-sângela perguntou:

– Quer dizer que você estava aju-dando sua amiguinha a consertar a boneca?

Registrando a pergunta e pen-sando por um momento, a menina respondeu:

– Não, mãezinha. A boneca que-brou de vez, não tem jeito.

E, num jeito de olhar bem carac-terístico, fitou a mãe e completou:

– Eu estava ajudando ela a chorar...* * *

Não foi à toa que Jesus afirmou que precisamos ser como as crianças, se quisermos alcançar a plenitude.

A pureza dos sentimentos e das iniciativas desses ‘pedacinhos de gente’ nos revelam lições que os li-vros e os discursos mais eloquentes nem sempre conseguem consolidar em nossos corações.

Ao ver um irmão em dor, em sofrimento, costumamos exortá-lo a resistir, a que tenha resignação, a compreender que tudo aquilo pos-sui uma causa e que não há injustiça nas leis divinas.

Contudo, em algumas circuns-tâncias, essas pessoas que nos procu-ram não necessitam de sermões lon-gos e exaustivos. Carecem, apenas, de que tenhamos suficiente sensibi-lidade para, sintonizados com suas dores, podermos, simplesmente, “ajudar a chorar”.

Pedro Camilo é escritor e expositor baiano, biógrafo de Yvonne Amaral Pereira.

Por PeDRO cAMILO

Não foi à toa

que Jesus afirmou que precisamos ser como as crianças, se quisermos alcançar a plenitude”

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MARÇO - ABRIL 2012 CORREIO FRATERNO 11

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AnÁLISe

A língua que ferePor GUARAcI De LIMA SILVeIRA

É época de apurar valores individuais e coletivos, estabelecendo novas dire-trizes comportamentais e educativas

para a consolidação do Reino de Jesus na Terra. Muito embora a grande maioria não se interesse pelo assunto, tachando-o de fu-turista ou ilusório, é bom contribuir para que os mentores possam trabalhar conosco na edificação desse grande projeto.

Em mundos superiores a interação é total nas esferas que compõem os sistemas planetários. Estamos sendo preparados para novas funções. Necessitamos realizar várias transformações e uma delas deve ser bem observada: as conversações diárias. O estalar da língua em frases soltas diuturnamente, muitas vezes sem os devidos cuidados.

Com seu teor vibratório, a palavra tem o poder de construir ou destruir, alterando ondas, frequências e estados gerais dos am-bientes. Há casos em que, num ambiente infestado pelo mal falar, paredes ficam im-pregnadas de formas-pensamentos deleté-rias produzindo doenças, ao mesmo tempo atraindo espíritos vampirescos, criando ali seu habitat.

Falar é uma arte. Evolução conseguida a partir dos primeiros grunhidos soltos nas florestas, quando saíamos da irracionali-dade. Apurar a arte de falar é próprio dos seres racionais. Um “palavrão” é um ato re-belde ou leviano de alguém que passa por determinada situação que não o agrada. As situações são geradas a partir das nossas opções. Somos responsáveis absolutos por elas e devemos aproveitá-las ou nos des-vencilharmos das suas agressões, sem ferir ouvidos alheios, sem manchar ambientes, sem contribuir para colapsos frequenciais de ondas em desalinho.

No capítulo 3 da Carta de Tiago, ve-mos sérias advertências do apóstolo: “Vede como um pequeno fogo pode incendiar uma grande floresta! Assim também a lín-gua é fogo, é um mundo de iniquidade; entre os nossos membros, é ela que conta-mina todo o corpo (...). Todas as espécies de animais selvagens, de aves, répteis e ani-

mais do mar se podem domar e têm sido domadas pelo homem. A língua, pelo con-trário, ninguém a pode dominar: é um mal incontrolável, carregado de veneno mortal. Com ela bendizemos quem é Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procedem a bênção e a maldição.”

Teólogos sempre se perguntam por que o apóstolo entrou por este assunto de forma tão contundente. Encontramos a resposta no livro Pontos e contos, Irmão X, psicografado por Chico Xavier. Conta--nos o autor que Tiago e Matias, apóstolo sorteado para substituir Judas no colégio, caminhavam para Betânia falando sobre a

traição de Judas. Conversação infeliz e acu-satória ao irmão Judas:

Tiago - Adiantou-se o infame e beijou--o na face.

Matias - Que insolência. Que homem fingido esse Judas terrível!

Tiago - Será Judas para sempre a nossa vergonha.

Matias - Como se atreveu a semelhante absurdo?

Tiago - Foi o espírito diabólico da am-bição desregrada.

Matias - Judas não deveria passar de cri-minoso vulgar.

De repente eis que Jesus surge ao longe na estrada. Vinha caminhando apressado.

Tiago o reconheceu. Lembrou-se dos ca-minhantes da estrada de Emaús e foi logo dizendo:

– É o Senhor, abençoai-nos! Podemos voltar a Jerusalém a fim de receber a vossa vontade e cumpri-la.

O Mestre, no entanto, quase não parou para atendê-lo e disse meio que caminhan-do, meio que penalizado, aprofundando seu olhar naquele companheiro que ainda não havia entendido sua mensagem do “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.” Então disse a Tiago:

– Não, Tiago. Não vou agora à cidade. Sigo em missão de auxílio a Judas.

Foi aí que aquele apóstolo retornou à sua escrita e grafou o capítulo terceiro da sua carta, reconhecendo o erro cometido no julgamento a Judas. Encerrou-o dizen-do: “Mas isto não deve ser assim, meus irmãos. Porventura uma fonte lança pela mesma bica água doce e água salgada? Por-ventura, pode a figueira produzir azeitonas, ou a videira dar figos? Uma fonte de água salgada também não pode dar água doce.”

Como é minha língua? A que fere ou a que cura? Como utilizo meu poder de falar? Emitir opiniões e conceitos é salu-tar, desde que os propósitos sejam para a paz e nunca o fermento para guerras. Há quem não perde uma única chance de in-cendiar fogueiras. Incendeiam-nas e saem, deixando que outros se queimem, afirman-do depois que não tinham aquela intenção! Sabiamente Jesus nos alertou: “A boca fala o que está cheio o coração”. “Não é o que entra pela boca que macula o homem e sim o que dela sai.”

Injúrias, maledicências, fofocas, julga-mentos... Pratos servidos em refeições di-árias dos falares humanos. A língua pode ser uma arma fatal ou uma luz a guiar em plena selva escura. Depende do coração de quem a detém.

Guaraci é escritor, dramaturgo e articulista espírita de Juiz de Fora, MG.

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12 CORREIO FRATERNO MARÇO - ABRIL 2012

www.correiofraterno.com.br

Curso de Capacitação Administrativa para Gestão de Centro Espírita

Início dia 12 de maio de 2012, às 8:30 horas, no CCDPE-ECM - Alameda dos Guaiases,

16 - Planalto Paulista – Metrô Praça da Árvore. Realiza-ção: USE do Estado de São Paulo e Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carva-lho Monteiro. Preparado e coordenado pela Secretaria Ge-ral do Conselho Federativo Nacional da FEB. Inscrições: [email protected] e [email protected]. Informações: www.ccdpe.org.br . Fone: 11-5072-2211 e 2950-6554.

Simpósio nos Estados UnidosO Conselho Espírita dos Estados Unidos pro-

moverá no dia 12 de maio o 6º Simpósio Es-pírita dos Estados Unidos, sob o tema “Amor

e iluminação, um caminho para a autocura”. Expositores: Daniel Assisi, Brian Vosberg, Marcia Trajano, Vanessa An-seloni, Jussara Korngold, Edward Christie, além do Mark Baker, autor do livro Jesus, o maior psicólogo que já existiu. Local: Th e Rialto Center for the Arts at Georgia State Uni-versity – 80 Forsyth St. NW – Atlanta, GA – 30303 – Es-tados Unidos. www.spiritistsymposium.org.

Chamada de trabalhos para o Encontro Nacional de Pesquisadores

Aos pesquisadores e estudiosos em geral sobre a temática espírita que queiram submeter seus

trabalhos de pesquisa para o 8º Encontro Nacional da Liga dos Pesquisadores do Espiritismo. Período: de 15 de março a 15 de junho. Data do evento: 18 e 19 de agosto de 2012. Local: Centro de Cultura, Pesquisa e Documentação do Espiritismo – CCDPE/ECM. Alameda dos Guaiases, 16, Planalto Paulista. São Paulo. Informações: www.lihpe.net ou [email protected].

3º Festival do Livro Espírita de São Ber-nardo do CampoDia 3 de junho, no Grupo Fraternal Dr. Bezerra de Menezes. Rua Batuíra, 400, Bairro Assun-

ção. Das 9:00 às 20 h. Com descontos especiais, sessão de au-tógrafos, mesas de debate com João Berbel, Astrid Sayeg, Alex Carciofi , Pedro Camilo, Agnaldo Paviani, Manolo Quesada, além de grupos musicais, espaço para crianças e muito mais. Apoio: Conselho Espírita de São Bernardo do Campo. http://fl esb.blogspot.com.br/p/cronograma-do-festival-2012.html

22º Concurso de Poesia A Arte Poética Castro Alves inicia o 22º Concur-so de Poesia com Temática Espírita. Os interes-sados têm até o dia 30 de setembro para partici-

par. Saiba mais acessando o site www.correiofraterno.com.br.

Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fi que atualizado sobre o que

acontece no meio espírita. Participe.www.correiofraterno.com.br

qualquer hora, em qualquer lugar

Chamada de trabalhos para o Encontro Nacional de Pesquisadores

trabalhos de pesquisa para o 8º Encontro Nacional da Liga

AGO

18

Simpósio nos Estados UnidosO Conselho Espírita dos Estados Unidos pro-

e iluminação, um caminho para a autocura”. Expositores:

MAI

12

22º Concurso de PoesiaA Arte Poética Castro Alves inicia o 22º Concur-

SET

30

3º Festival do Livro Espírita de São Ber-nardo do Campo

JUN

3

ENIGMA

Quando começou o período de transição

do planeta para um mundo de regeneração?

CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO

Resposta do Enigma:

Solução da Palavra Cruzada

Veja em:www.correiofraterno.com.br

De acordo com os discursos de Kardec publicado na obra Viagem Espírita em

1862, este período de tran-sição já havia começado em sua época. Kardec destacava que uma nova geração de espíritos melhores estavam

reencarnando e que os piores estavam partindo para não voltarem mais.

Curso de Capacitação Administrativa para Gestão de Centro Espírita

16 - Planalto Paulista – Metrô Praça da Árvore. Realiza-

MAI

12

Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Encontre as palavras em destaque no diagrama abaixo.

Jantar dançante benefi centeDia 11 de maio, às 20 horas

Local: Restaurante São Judas Tadeu – na rota tradicional do “Frango com polenta”. Av. Maria Servidei Demarchi, 1749 – São Bernardo do campo-SP.

Você se diverte e ainda colabora!Informações e convites: 11 4109-8938. site: www.laremmanuel.org.br

Dia 11 de maio, às 20 horasLocal: Restaurante São Judas Tadeu – na rota tradicional do “Frango com

polenta”. Av. Maria Servidei Demarchi, 1749 – São Bernardo do campo-SP.MAI

11

A W R V É Y U K L E E A I N M F D S O A

P L B Ç S Ã X W E R T J N K O U G F I O

O M R T U I A A S A I F A R G O C I S P

I O É C B K L U A E N P A L A I M L Ê R

T I Ê D D G M Q P Z V I M L A A O U V I

T U O P I A A I A A Ã R M M T O N M O A

U I E R S U G H S V C E E I P L M N Z C

A P O I R E M U S M V C D S S I A A D X

B X Ç E R O P T E A A T U V T M Ç Z I L

P Ê I R T B B D B I L O C A Ç Ã O O R Z

I P É A A S B M I O L P O G L H D C E M

N O P E M E D C T R M L Q D Z P L Ç T T

à U V C D S A T S I V A L P U D O É A I

T A R B O S C R T S X S L P M T F G H Ã

O R B Ç L Ã G S U P M M F R A E L O I U

A O P U B O M E Ê X T A S E G E R P O A

ALMA – espírito encarnado

BILOCAÇÃO – desdobramento

ANIMISMO – manifestação da alma

ECTOPLASMA – fl uido da materialização

ÊXTASE – sonambulismo apurado

DUPLA VISTA - vista da alma

MÉDIUM – intermediário

OBSESSÃO – infl uência espiritual perturbadora

VOZ DIRETA - uma das formas de efeito físico

PASSE – transfusão de fl uidos

PSICOGRAFIA – um dos tipos de mediunidade

Page 13: Correio Fraterno 444

MARÇO - ABRIL 2012 CORREIO FRATERNO 13

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Laurinha chega da aula de evangelização infan-

til e fala para mãe:– Mãe, você sabe o que é mediunidade?– Sei, fi lha. Foi isso que você aprendeu hoje?– Foi!.... Mãe, pergunta pra mim o que é mediuni-dade.A mãe abre um sorriso e diz:– Filha, o que é mediuni-dade?– Mediunidade é quando alguém pode se comunicar com espíritos. Pode ser por

pensamento, escrevendo recados e cartas ou falando com eles em voz alta. Você sabe o que é médium?– O que é? – perguntou a mãe percebendo a empol-gação da fi lha.– É a pessoa que se comu-nica com o espírito.– Muito bem, Laurinha.– Mãe, você sabia que a vovó é médium?– É? Por que ela é médium?– Por que ela se comunica comigo por pensamento. toda vez que eu vou pra casa dela, ela faz meus bo-

linhos preferidos e eu nem falo nada pra ela. ela lê meus pensamentos.– Mas o que você apren-deu na aula hoje é sobre pessoas que se comunicam com espíritos...Antes de sua mãe terminar, Laurinha, mais séria, res-ponde para sua mãe:– Mãe, hoje aprendi que o médium se comunica com o espírito por pensamen-to... Espírito é espírito, não importa se está vivo ou morto! Já sei tudo sobre mediunidade!

LeItURA

cOISAS De LAURInHA Por tAtIAnA BenIteS

Reviver fatos, acon-tecimentos que marcaram a histó-

ria da humanidade nem sempre é uma tarefa fá-cil e prazerosa. Trazer à tona os costumes, hábi-tos, crenças e fi losofi a de uma época, implica assumir alguns desafi os e riscos, principalmen-te quando tais vivências são relatos de espíritos atormentados.

Em sua obra A dama da noite, da Edi-

tora Espírita Correio Fraterno, Her-minio Corrêa de Miranda oferece ao leitor uma viagem no tempo muito bem estruturada e esclarecedora, com a qual as explicações precisas e deta-lhadas nos fazem reviver avidamente todos os acontecimentos enunciados. É como se o presente deixasse de exis-tir e fôssemos transportados através do tempo.

Por sua considerável experiência como doutrinador em tarefas medi-únicas, Herminio consegue gentil-mente obter relatos de espíritos que se sentem perseguidos, ofendidos, magoados ou incompreendidos.

Muitos estão cegos pelo ódio e desejo de vingança, por isso, criam obstácu-los e bloqueios para sua evolução.

A beleza da obra está na seriedade, persistência, calma e bondade com que o doutrinador dialoga com os sofredores. Ele lhes transmite a con-fi ança necessária para a continuidade dos trabalhos, sempre com paciência e dedicação. Assim, consegue reverter várias encarnações de dor e sofrimen-to para o aprendizado de novas lições baseadas no perdão, na fé em Cristo e no amor ao próximo.

Viaje através dos tempos com esta literatura cuidadosamente elaborada.

Uma viagem ao passado baseada em histórias espirituais

Por SOnIA M. c. KASSe

Médium lê pensamentos

Rria da humanidade nem sempre é uma tarefa fá-cil e prazerosa. Trazer à tona os costumes, hábi-tos, crenças e fi losofi a

baseada em histórias espirituais

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14 CORREIO FRATERNO MARÇO - ABRIL 2012

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Nestes dias, vimos uma conversa in-teressante sobre a casa Transitória, sim, a mesma casa Transitória Fa-

biano de Cristo, fundada pelo sr. José Gon-çalves Pereira, na década de 50.

Os amigos conversavam e um disse ao outro:

– Sabia que já dei passe no Chico Xa-vier aqui na casa?

Numa de suas visitas, Chico veio até onde funcionava o asilo e me pediu um passe.

Interessante é que depois fomos ver

as assistidas e, entre um cumprimen-to e outro, vimos uma senhora muito sensível que tinha um pouco de escle-rose e sempre repetia as coisas da mes-ma maneira.

Quando Chico se aproximou dela, ela disse:

– Francisco, como você está lindo...”Ninguém entendeu, uma vez que ela

jamais reconhecia alguém pelo nome, ape-nas dizia “meu amor” a todos os que via.

Mas com Chico foi diferente.

O médium, por sua vez, respondeu a ela:– Teresa, quem está linda é você, e olha

que te conheço de outras vidas, hein.Isso mesmo, ali, com uma senhora do-

ente e distante, Chico faz uma revelação dessas, de maneira tão simples, direta, sem sensacionalismo, enfim, de forma muito discreta.

Esse era o Chico, essa era a Teresa. Esses são os fatos.

Mais um que ninguém jamais poderia imaginar.

FOI ASSIM

Reencontro de Chico na Casa Transitória

Por SÉRGIO tADeU DInIZ

VOcÊ SABIA?

Em 1933, desejando de alguma forma contribuir para a solução do proble-

ma constitucional, o dedicado colabo-rador da Federação Espírita Brasileira, Frederico Figner (Irmão Jacó), pediu ao médium Francisco Cândido Xavier que procurasse obter do espírito Rui Barbosa (1849 – 1923) a sua valiosa opinião sobre o momento político-social do Brasil, pois certamente, patriota que era, deveria estar atento à política nacional.

Naquela época, Chico Xavier res-pondia a entrevistas e divulgava algumas mensagens transmitidas pelos espíritos,

que aceitavam responder grande parte das perguntas através do médium. Isso não demorou muito, porque logo Chico seria orientado por seus mentores espirituais a evitar tais abordagens, para não prejudicar a essência da sua tarefa, que era de trazer a lume obras complementares à codificação espírita.

E foi pela psicografia de Chico que Rui Barbosa, que redigiu a constituição ante-rior, em 1891, revelou-se mesmo preocu-pado, alertando para que não se perdessem na nova constituição as conquistas de li-berdade, cidadania e de justiça da anterior.

A mensagem acabou virando o opúsculo Rui e a nova Constituição (FEB), que cir-culou somente nos anos de 1933 e 1934.

Em um dos trechos, revelou Rui Bar-bosa: “É inegável que o Brasil atravessa um dos períodos mais críticos de sua vida como nacionalidade. País novo, não se achava indene de contagiar-se do sopro das reformas que agita as coletividades do Velho Mundo... O erro da política bra-sileira, porém, está em não reconhecer a profunda diversidade dos métodos psico-lógicos a serem aplicados ao nosso povo e aos do mundo europeu... Que Deus

inspire aos novos constituintes as noções de seus austeros deveres, a fim de que não sufoquem arbitrariamente as prerroga-tivas naturais do Direito, que jamais se posterga impunemente... A adaptação, aqui, dos processos políticos praticados largamente na Europa moderna seriam de eficácia irrisória. No Brasil, os proble-mas são outros”– comentou.

Fonte: Chico Xavier inédito, de Eduardo Carvalho Monteiro. Ed. Madras.

Leia a mensagem completa em nosso site www.cor-reiofraterno.com.br

A resposta de Rui Barbosa sobre a constituição

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MARÇO - ABRIL 2012 CORREIO FRATERNO 15

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MUnDO SUStentÁVeL

Sem o consumo consciente não há salvação, não há solução para a hu-manidade. Nós replicaremos o modus

operandi dos gafanhotos quando se trans-formam em pragas que dizimam lavouras. É o que estamos fazendo com os recursos naturais não renováveis do planeta, que é um só! Nem todos os recursos são reno-váveis. Não há outro planeta. Não há pla-no B. Não há operação Arca de Noé. Ou usamos com inteligência e discernimento o que temos, ou pereceremos.

Essa questão fica um pouco invisível dentro da sociedade de consumo, por mo-tivos óbvios. Se imaginarmos um planeta onde não houvesse miséria ou pobreza, sem dúvida alguma seria um lugar muito melhor e mais justo. Entretanto, se nesse planeta não houvesse a cultura do consu-mo consciente amplamente disseminada, não haveria solução para nossa espécie.

Nós precisamos disseminar os valo-

Closet: o santuário do consumo moderno

Por AnDRÉ tRIGUeIRO

res do consumo consciente com urgência porque o tempo corre, os anos passam, e a sociedade de consumo vai se sofisticando na direção contrária à da sustentabilidade.

Lembro-me da importância atribuída ao armário embutido na minha infância. Passados aproximadamente 35 anos, a ga-rotada não sabe o que é armário embuti-do. Os valores mudaram e a demanda por espaço aumentou. Hoje usamos um nome sofisticado, em inglês, para designar um cômodo inteiro que precisa abrigar todas as nossas quinquilharias do dia a dia. É o closet! E ele ganhou uma importância inco-mum dentro do imóvel, a ponto de revistas de decoração trazerem na capa reportagens com dicas de decoração, de light designers, ensinando a projetar feixes mágicos de luz dentro do closet.

O closet se torna, portanto, o símbolo

de uma época. Na época do armário embu-tido, importava ter, possuir, colecionar. Na época do closet importa não apenas tudo isso, mas também ostentar.

Há pelo menos três armadilhas embu-tidas no estilo de vida. A primeira é de na-tureza ético-moral: ostentar a abundância onde há escassez. Na sociedade de consu-mo essa não é uma questão porque os va-lores prevalentes são o egoísmo, o hedonis-mo e o individualismo. Cada um por si e, talvez, Deus por todos. Não é difícil encon-trar, em boa parte do Brasil e do mundo, num raio de cem metros ao nosso redor, alguém que passe por privações de ordem material. Ostentar a abundância não é in-teligente, não é uma boa ideia.

A segunda armadilha é de ordem eco-lógica: o que exatamente estamos levando para casa como consumidores? O consu-

mo favorece a vida. Precisamos consumir para viver. Já o consumismo depreda, de-vasta e destrói os recursos fundamentais da vida. O sufixo “ismo” alude a desperdício e excesso. Sapatos, meias, relógios, óculos, qualquer brinquedinho que a gente gos-te de colecionar leva juntos “pedaços” da natureza. Basicamente matéria-prima e energia. Se o planeta é um só e os recursos são finitos, precisamos fazer bom uso de-les para que não haja escassez. Cenário de escassez precipita conflito, guerra, disputa.

A terceira armadilha é a ilusão de trans-ferir para bens materiais o que é verdadeiro, porém intangível: felicidade e paz. Acumu-lar bens achando que esse é o caminho da felicidade e depois fazer fila no consultório psicanalítico. Ou se entupir de drogas líci-tas e ilícitas porque permanece a sensação de vazio existencial, uma vida descartável, perecível como é a embalagem de um pre-sentinho qualquer.

Tenhamos atenção. Não há tempo a perder. Algumas instituições revelam que a sanha consumista tem determinado um avanço de 30% na capacidade de suporte da Terra. Ou seja, ao final do ano teremos explorado 30% a mais de recursos naturais do que a Terra seria capaz de suportar no período. É um modelo ecocida de desen-volvimento. Nós estamos estimulando o ecocídio.

Segundo o Banco Mundial – que não é uma organização ambientalista – aproxima-damente 20% da humanidade consomem 80% dos recursos naturais. Desarmar esse ímpeto consumista de aproximadamente 20% da população mundial é um desafio.

Consumir menos não é apenas possí-vel, é necessário. Uma vida simples faz bem para a alma. E não é uma vida monástica, é uma vida com menos.

O texto completo está publicado no livro Mundo Sus-tentável 2 – Novos rumos para um planeta em crise, André Trigueiro. Ed. Globo.

Não há outro

planeta. Não há plano B. Ou

usamos com inteligência o que temos, ou

perecemos”

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