correção da má oclusão de classe ii com mordida … · utilizando o aparelho guia de irrupção...

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91 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009 Caso Clínico Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide Paulo Roberto dos Santos-Pinto*, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto**, Luiz Gonzaga Gandini***, Ary dos Santos-Pinto***, Karina Dela Coleta Eiras Pizol****, Nancy dos Santos-Pinto***** * Mestre em Ortodontia pela FOB-USP/Bauru. Doutorando em Ortodontia pela Unesp-Araraquara. Professor da FEB (Fundação Educacional de Barretos). ** Mestre em Ortodontia pela FOB-USP/Bauru. Professora da Unaerp. *** Professores livre–docentes do departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara – Unesp. **** Mestre em Ortodontia-Unicamp/Piracicaba. Doutoranda em Ortodontia pela Unesp-Araraquara. **** Especialista em Ortodontia pela Unaerp. Cirurgiã-dentista do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais-Unesp/Araçatuba. RESUMO Dentre as más oclusões, uma das caracte- rísticas de maior preocupação é a sobre- mordida profunda, ou overbite acentuado. Nesses casos, os movimentos mandibula- res de lateralidade e protrusão ficam limi- tados, podendo causar problemas na arti- culação temporomandibular e interferir no processo de crescimento e desenvolvimen- to facial. Um dos objetivos do Oclus-o-gui- de, é estabelecer a sobremordida correta antes da irrupção completa dos caninos e pré-molares, e antes da formação das fi- bras colágenas maduras. Após a correção da má oclusão, é importante um pequeno período de contenção, até que ocorra a PALAVRAS-CHAVE: Classe II. Oclus-o-guide. Guia de irrupção. Posicionador dentário. Mordida profunda. Ortopedia Funcional. reorganização completa das fibras perio- dontais. O Oclus-o-guide representa uma combinação de um posicionador e de um aparelho miofuncional. A vantagem des- sa combinação é permitir que o aparelho funcione como um ativador, liberando o crescimento mandibular, possibilitando a correção das relações horizontais e ver- ticais dos maxilares. Simultaneamente, o Oclus-o-guide permite a correção de api- nhamentos na região anterior e posterior, favorecendo a intercuspidação dos arcos ao final do tratamento. Os casos apresen- tados foram tratados com a utilização do aparelho Oclus-o-guide e evidenciam sua eficácia clínica.

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91Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009

Caso Clínico

Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guidePaulo Roberto dos Santos-Pinto*, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto**, Luiz Gonzaga Gandini***, Ary dos Santos-Pinto***, Karina Dela Coleta Eiras Pizol****, Nancy dos Santos-Pinto*****

* Mestre em Ortodontia pela FOB-USP/Bauru. Doutorando em Ortodontia pela Unesp-Araraquara. Professor da FEB (Fundação Educacional de Barretos). ** Mestre em Ortodontia pela FOB-USP/Bauru. Professora da Unaerp. *** Professores livre–docentes do departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara – Unesp. **** Mestre em Ortodontia-Unicamp/Piracicaba. Doutoranda em Ortodontia pela Unesp-Araraquara. **** Especialista em Ortodontia pela Unaerp. Cirurgiã-dentista do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais-Unesp/Araçatuba.

RESUMODentre as más oclusões, uma das caracte-rísticas de maior preocupação é a sobre-mordida profunda, ou overbite acentuado. Nesses casos, os movimentos mandibula-res de lateralidade e protrusão ficam limi-tados, podendo causar problemas na arti-culação temporomandibular e interferir no processo de crescimento e desenvolvimen-to facial. Um dos objetivos do Oclus-o-gui-de, é estabelecer a sobremordida correta antes da irrupção completa dos caninos e pré-molares, e antes da formação das fi-bras colágenas maduras. Após a correção da má oclusão, é importante um pequeno período de contenção, até que ocorra a

PALAVRAS-CHAVE: Classe II. Oclus-o-guide. Guia de irrupção. Posicionador dentário. Mordida profunda. Ortopedia Funcional.

reorganização completa das fibras perio-dontais. O Oclus-o-guide representa uma combinação de um posicionador e de um aparelho miofuncional. A vantagem des-sa combinação é permitir que o aparelho funcione como um ativador, liberando o crescimento mandibular, possibilitando a correção das relações horizontais e ver-ticais dos maxilares. Simultaneamente, o Oclus-o-guide permite a correção de api-nhamentos na região anterior e posterior, favorecendo a intercuspidação dos arcos ao final do tratamento. Os casos apresen-tados foram tratados com a utilização do aparelho Oclus-o-guide e evidenciam sua eficácia clínica.

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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide

INTRODUÇÃODentre as más oclusões, uma das características de maior

preocupação é a sobremordida profunda, ou overbite acentuado, situação em que os movimentos mandibulares de lateralidade e protrusão ficam limitados pela má oclusão, podendo causar pro-blemas na articulação temporomandibular e interferir no processo de crescimento mandibular4.

Um dos primeiros estudos sobre a mordida profunda foi re-alizado por Linder9, em 1930, e seus resultados mostraram que a sobremordida aumenta 1,8mm dos 7 aos 13 anos de idade, prova-velmente devido ao aumento da distância intercaninos que ocorre nesse período.

Bergersen1, por volta de 1970, lançou no mercado um posi-cionador pré-moldado denominado Ortho-Tain, idealizado inicial-mente como guia de irrupção e planejado de acordo com as varia-ções de tamanho dentário, para ser utilizado por indivíduos com tamanhos dentários semelhantes. O aparelho passou, então, a ser fabricado em série, eliminando-se a necessidade da confecção sob encomenda.

Bergersen foi aperfeiçoando e adaptando os posicionadores, transformando-os em aparelhos funcionais e, em 1985, lançou o Oclus-o-guide, aparelho pré-fabricado, confeccionado com mate-rial borrachoide à base de polivinil, semelhante a um posicionador, mas com as características de um aparelho ortopédico funcio-nal3. Essa associação permitiu que o aparelho funcionasse como ativador, possibilitando a correção de alterações verticais e ante-roposteriores, além de funcionar como guia de irrupção e como posicionador, promovendo o alinhamento e nivelamento dos arcos dentários.

Uma das épocas mais importantes para o controle da sobre-mordida é a fase que antecede o estirão de crescimento que ocor-re durante a puberdade, pois, nessa fase, a sobremordida pode se tornar severa, devido à definição do padrão muscular que ocorre durante a adolescência1.

Um dos objetivos do Oclus-o-guide é estabelecer a sobremordi-da correta antes da irrupção completa dos caninos e pré-molares e antes da maturação das fibras colágenas localizadas nessa região5.

Muitos aparelhos funcionais foram desenvolvidos com o ob-jetivo de promover a reorganização muscular durante a corre-ção das más oclusões, dentre eles o Oclus-o-guide ou Guia de Irrupção1.

O Oclus-o-guide está indicado para a correção de más oclusões de Classe I ou Classe II associadas a mordida profunda, apinha-mentos e sorriso gengival. Pode ser utilizado tanto na dentadura mista (Série G) quanto na dentadura permanente (Série N).

Após a fase de tratamento ativo com o Oclus-o-guide, há a

necessidade de um período de contenção de, aproximadamente, 6 meses, até que ocorra a reorganização completa das fibras perio-dontais e uma maior estabilidade do tratamento realizado5.

Existem outras variações do Oclus-o-guide – indicadas para serem utilizadas no período pós-tratamento ortodôntico, para o refinamento da oclusão –, como o Oclus-o-guide Série X (indicado para os casos que receberam a extração dos primeiros pré-molares superiores e inferiores) e o da Série U (indicado para os casos que receberam apenas extrações superiores)2. Para os casos que rece-beram tratamento ortodôntico sem extrações, e necessitam ainda de um refinamento da oclusão, o Oclus-o-guide série N pode ser utilizado durante a fase de contenção.

Silva10, em 1997, analisou cefalometricamente o efeito do apa-relho guia de irrupção, durante 2 anos de utilização, em pacientes má oclusão de Classe II, divisão 1, comparando-os com um grupo controle não-tratado. Verificou que ocorreu a melhora do relacio-namento maxilomandibular devido a um aumento do comprimen-to mandibular, verticalização dos incisivos superiores, vestibulari-zação dos incisivos inferiores e uma suave extrusão e mesialização dos dentes posteroinferiores.

Janson et al.6, em 1998, apresentaram os resultados obtidos em tratamentos realizados com o Oclus-o-guide, evidenciando que o aparelho possibilitou a correção da mordida profunda, a obtenção de um adequado trespasse vertical e horizontal, uma significativa redução no sorriso gengival, um suave aumento da altura facial an-teroinferior (AFAI) e um perfil harmonioso ao final do tratamento.

Em 2000, Janson et al.7 avaliaram 27 pacientes Classe II, divisão 1, e 3 pacientes Classe I, tratados por 26 meses com o aparelho guia de irrupção. Os resultados demonstraram significativo incre-mento de crescimento mandibular, com o aumento da altura facial anteroinferior; migração para mesial dos molares inferiores; retru-são e inclinação lingual dos incisivos superiores, com restrição de sua irrupção; e protrusão dos incisivos inferiores. Concluíram que a correção da má oclusão de Classe II e a diminuição do overjet e overbite ocorreram devido a um pequeno, mas significativo, incre-mento esquelético e a uma maior movimentação dentária.

Os resultados obtidos por Keski-Nisula et al.8, em 2008, indi-caram que a intervenção ortodôntica utilizando guias de irrupção durante a fase de dentadura mista representa um importante re-curso para a correção de más oclusões de Classe II, más oclusões com trespasse horizontal acentuado, mordida profunda, mordi-da aberta, casos com apinhamentos, mordida cruzada anterior ou mordida cruzada vestibular. Durante o tratamento, os inci-sivos e os primeiros molares permanentes foram guiados para suas posições ideais no arco dentário, o que não ocorreu com o grupo controle, não-tratado, que apresentou apenas pequenas

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Paulo Roberto dos Santos-Pinto, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto, Luiz Gonzaga Gandini, Ary dos Santos-Pinto, Karina Dela Coleta Eiras Pizol, Nancy dos Santos-Pinto

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acomodações oclusais. Portanto, segundo os autores, o tratamento com os guias de

irrupção durante a fase de dentadura mista constitui um método efetivo para o restabelecimento da oclusão normal, possibilitando, assim, a eliminação de um tratamento ortodôntico futuro.

MÉTODO DE SELEÇÃOPara a seleção do aparelho, existem duas réguas de medição:

uma régua rosa, utilizada para a medição na dentadura mista (Oclus-o-guide Série G), e uma régua branca, utilizada para a me-dição na dentadura permanente (Oclus-o-guide Séries N, X ou U).

A figura 1 ilustra o modo de seleção do Oclus-o-guide da Série

N, semelhante ao utilizado nos casos que serão descritos neste trabalho.

A régua branca deve ser posicionada com a especificação “no extraction” voltada para os dentes do arco superior, sendo a medi-da realizada da distal do canino superior esquerdo (Fig. 1B) à distal do canino superior direito (Fig. 1A). O número coincidente com a face distal do canino superior direito representa o tamanho ideal do aparelho a ser solicitado, como mostra a figura 1A. O aparelho a ser solicitado seria o Oclus-o-guide da Série N número 4, portanto Oclus-o-guide 4N (Fig. 2A).

Após a instalação do aparelho, os pacientes devem ser orien-tados a utilizá-lo por 4 horas durante o dia (em uso alternado) e

FIGURA 1 - Régua Ortho-Tain branca posicionada para a seleção do Oclus-o-guide série N: A) visualização do número do aparelho indicado para esse paciente, tendo como referência a superfície distal do canino superior direito; B) ponto de encaixe da régua para possibilitar a medição do aparelho.

A B

FIGURA 2 - A) Aparelho Oclus-o-guide série N; B) vista intrabucal anterior do aparelho.

A B

FIGURA 3 - Vistas intrabucais do aparelho Oclus-o-guide: A) lateral direita e B) lateral esquerda.

A B

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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide

FIGURA 4 - Fotografias extrabucais iniciais: A) de perfil, B) frente e C) sorrindo.

durante a noite toda (em uso contínuo). No período diurno, exer-cícios de compressão devem ser realizados por um minuto, aproxi-madamente, intercalados com períodos de repouso de meio minu-to, totalizando 15 minutos de exercício em cada hora de utilização do aparelho (Fig. 2B, 3).

Nos casos clínicos descritos a seguir, serão apresentados os tra-tamentos realizados em dois pacientes que apresentavam má oclu-são de Classe II, com mordida profunda. A correção da má oclusão foi obtida apenas com a utilização do Oclus-o-guide.

Os aparelhos utilizados para os tratamentos realizados foram os da Série N, pois os pacientes se encontravam em fase de denta-dura permanente e durante o período de surto pubertário.

CASO CLÍNICO 1Paciente D.H., do gênero masculino, com 11 anos e 8 meses de

idade, apresentava bom equilíbrio entre os terços faciais (Fig. 4B), face Padrão 1, com comprimento mandibular satisfatório, evidencia-do pela linha queixo e pescoço (Fig. 4A), e sorriso agradável (Fig. 4C).

FIGURA 5 - Fotos intrabucais iniciais: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal supe-rior e E) oclusal inferior.

FIGURA 6 - Telerradiografia cefalométrica em norma lateral.

A

A

D

B

B

E

C

C

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FIGURA 8 - Fotos intrabucais finais: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior e E) oclusal inferior.

FIGURA 7 - Fotografias extrabucais finais: A) perfil, B) frente e C) sorriso.

Apresentava uma má oclusão de Classe II, divisão 2, com mor-dida profunda de, aproximadamente, 7mm e retroinclinação dos incisivos superiores e inferiores (Fig. 5).

A análise da telerradiografia cefalométrica demonstrou que o paciente apresentava um bom relacionamento maxilomandibular, padrão de crescimento horizontal e importante retroinclinação dos incisivos superiores e inferiores (Fig. 6).

A seleção do aparelho foi realizada como mostra a figura 1. O Oclus-o-guide foi, então, instalado e utilizado por 4 horas

durante o dia (de modo alternado) e durante toda a noite (de modo contínuo), como descrito anteriormente.

Após 2 anos de tratamento, observou-se um adequado equi-líbrio facial (Fig. 7B), um perfil harmonioso (Fig. 7A) e um sorriso agradável (Fig. 7C).

A terapia permitiu o reequilíbrio da estruturas dentofaciais, promovendo a correção da má oclusão de Classe II e da mordida profunda (Fig. 8).

A sobreposição dos traçados realizados no início e ao final do

A B C

A B

D

C

E

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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide

FIGURA 9 - A) Telerradiografia cefalométrica em norma lateral final. B) Sobreposição dos traçados ce-falométricos inicial e final.

FIGURA 10 - Radiografia panorâmica final.

TABELA 1 - Medidas cefalométricas (padrão USP) iniciais e finais do pa-ciente D.H.

medida norma inicial final

F.NPNAPSNASNBANBSND

88º0º82º80º2º76º

84,9º4,3º79,2º75,6º3,6º73,5º

83,5º2,3º78,1º75,6º2,5º73,5º

NS.GnNS.PlO

NS.GoGnGoGn.PlO

67º14º32º18º

65,9º11,8º31,6º19,7º

67,3º16,6º33,1º16,4º

1/./11/.NS1/.NA1/-NA/1.NB/1-NB/1-NP

1/-órbita/1-linha I

131º103º22º

4mm25º

4mm0mm5mm0mm

149,7º 89,0º 9,8º

1,2mm 16,9º

1,5mm -2,2mm -8,8mm 3,2mm

145,6º88,8º10,6º

2,6mm21,2º

3,6mm0,9mm-9,1mm-0,6mm

H.NBH-narizP-NB

eminência M.

9-12º9-11mm

0mm8mm

4,4º12,1mm3,0mm6,9mm

4,4º12,1mm3,0mm6,9mm

FMAFMIAIMPA

25º68º87º

26,7º60,8º92,5º

26,7º60,8º92,5º

6/-NA/6-NB

A-B ocl.

26,7mm21,7mm1,2mm

26,7mm 21,7mm 1,2mm

tratamento (Fig. 9B) evidenciou um adequado desenvolvimento mandibular, a manutenção do padrão de crescimento facial (Fig. 7) e uma reorganização dentoalveolar com consequente correção da mordida profunda. Os incisivos, todavia, permaneceram verti-calizados, o que pode ser visualizado nas imagens intrabucais das figuras 8A e 8C, na telerradiografia (Fig. 9A), na sobreposição dos traçados cefalométricos (Fig. 9B) e nas medidas cefalométricas (Tab. 1).

Na avaliação da radiografia panorâmica obtida ao final do tra-tamento (Fig. 10), verificou-se um adequado paralelismo entre as raízes e a preservação dos dentes e estruturas de suporte, demons-trando que a correção foi realizada respeitando os limites biológi-cos do paciente.

CASO CLÍNICO 2Paciente L.T.M.R., do gênero masculino, com 13 anos e 11 me-

ses de idade, bom equilíbrio entre os terços faciais (Fig. 11B), face Padrão 2 com ângulo nasolabial aberto (Fig. 11A) e adequada linha do sorriso (Fig. 11C).

Apresentava má oclusão de Classe II com mordida profunda de, aproximadamente, 6mm; incisivos superiores verticalizados e vestibuloversão dos caninos superiores (Fig. 12).

A análise da telerradiografia cefalométrica demonstrou que o paciente apresentava maxila bem posicionada em relação à base do crânio e mandíbula suavemente retruída, retroinclinação dos incisivos e equilibrado padrão de crescimento facial (Fig. 13).

Após 2 anos e 6 meses de tratamento, observou-se adequa-do equilíbrio facial (Fig. 14B), perfil harmonioso (Fig. 14A), sorriso agradável (Fig. 14C) e manutenção do padrão facial do paciente.

A B

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FIGURA 12 - Fotos intrabucais iniciais: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior e E) oclusal inferior.

FIGURA 13 - Telerradiografia cefalométrica em norma lateral inicial.

FIGURA 11 - Fotografias extrabucais iniciais: A) perfil, B) frontal e C) sorrindo.

A B C

A B C

D E

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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide

FIGURA 15 - Fotos intrabucais finais: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior e E) oclusal inferior.

FIGURA 14 - Fotos extrabucais finais: A) perfil, B) frontal e C) sorrindo.

A B C

A B C

D E

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FIGURA 16 - A) Telerradiografia cefalométrica em norma lateral final e B) sobreposição dos traçados cefalométricos das telerradiografias inicial e final.

FIGURA 17 - Radiografia panorâmica final.

medida norma inicial final

F.NPNAPSNASNBANBSND

88º0º82º80º2º76º

89,4º 9,8º 78,6º 73,4º 5,2º 70,3º

92,0º 3,3º 77,9º 74,8º 3,1º 72,5º

NS.GnNS.PlO

NS.GoGnGoGn.PlO

67º14º32º18º

69,9º 17,9º 35,0º 17,1º

69,6º 18,0º 33,3º 15,3º

1/./11/.NS1/.NA1/-NA/1.NB/1-NB/1-NP

1/-órbita/1-linha I

131º103º22º

4mm25º

4mm0mm5mm0mm

114,7º 98,3º 19,7º

4,6mm 40,4º

4,2mm 3,8mm 0,7mm -1,8mm

115,9º 101,8º 23,8º

5,3mm 37,1º

4,7mm 2,9mm 4,9mm -2,2mm

H.NBH-narizP-NB

eminência M.

9-12º9-11mm

0mm8mm

10,5º 6,2mm 2,2mm 5,8mm

12,0º 3,5mm 7,9mm 9,9mm

FMAFMIAIMPA

25º68º87º

20,1º 47,8º 112,1º

17,7º 53,2º 109,1º

6/-NA/6-NB

A-B ocl.

31,2mm 26,3mm 5,0mm

29,7mm 23,2mm 1,9mm

TABELA 2 - Medidas cefalométricas (padrão USP) iniciais e finais do pacien-te L.T.M.R.

A terapia permitiu o reequilíbrio das estruturas dentofaciais, promovendo a correção da má oclusão de Classe II e a correção da mordida profunda (Fig. 14, 15).

A sobreposição dos traçados realizados no início e no final do tratamento evidenciou que ocorreu um importante desenvolvi-mento maxilomandibular, preservando, todavia, as características individuais do paciente e o padrão de crescimento facial (Fig. 16B, Tab. 2).

Na avaliação da radiografia panorâmica, obtida ao final do tra-tamento (Fig. 17), verificou-se a integridade dos dentes e estrutu-ras de suporte, demonstrando que a terapia com o Oclus-o-guide foi realizada respeitando-se os limites biológicos.

CONCLUSÃOCom base nos resultados obtidos, pode-se concluir que o apa-

relho Oclus-o-guide, quando utilizado corretamente – por 4 horas durante o dia em uso alternado e durante a noite em uso contí-nuo –, representa um recurso eficaz na correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda, haja vista que nenhum outro recurso foi utilizado nos casos clínicos apresentados.

O Oclus-o-guide é uma alternativa importante para o trata-mento em pacientes que desejam a correção da má oclusão sem a utilização de aparelhos fixos.

Consiste, portanto, em um importante recurso, pois promove a correção da má oclusão de modo simples e eficaz, preservando a integridade dos dentes e estruturas de suporte.

A B

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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide

Class II deep bite malocclusion correction with the Oclus-o-guide eruption guidance appliance

KEYWORDS: Class II. Oclus-o-guide. Eruption guidance. Dental positioner. Deep bite. Functional Orthopedics.

A characteristic of major concern present in the malocclu-sions is the deep overbite or the excessive vertical trespass of the anterior teeth. The lateral and protrusive mandibular movements in that case are limited and could cause tem-poromandibular joint problems. One of the objectives of the Oclus-o-guide is to establish a proper overbite before the full eruption of the canine and premolar and before the formation of mature collagen fibers. After the maloc-clusion correction it is important a retention period until the completion of the periodontal fiber reorganization.

The Oclus-o-guide represents a combination of a posi-tioner and a miofunctional appliance. The advantage of that combination is to allow the appliance to work as an activator, liberating the mandibular growth and estab-lishing the correct horizontal and vertical maxillary rela-tionship. Simultaneously, the Ocluso-o-guide induces a correction of the anterior crowding and posterior teeth small rotations, ensuring a favorable intercuspidation at the end of the treatment. The case presented was treated with the Oclus-o-guide, evidencing its clinical efficacy.

Abstract

REFERÊNCIAS

1. BERGERSEN, E. O. The preformed retainer: principles and clinical applications. St. Louis: American Association of Orthodontics, audio-visual library, 1970.

2. BERGERSEN, E. O. The eruption guidance appliance: how it works, how to use it. Funct. Orthod., Winchester, v. 1, p. 28-35, Sept./Oct. 1984.

3. BERGERSEN, E. O. The eruption guidance myofunctional appliance: case selection, timing, indications and contraindications in its use. Funct. Orthod., Winchester, v. 2, no. 1, p. 17-33, Jan./Feb. 1985.

4. BERGERSEN, E. O. The eruption guidance myofunctional appliance in the consecutive treatment of malocclusion. Gen. Dent., Chicago, v. 34, no. 1, p. 24-29, Jan./ Feb. 1986.

5. DARLING, A. I.; LEVERS, B. G. H. The pattern of the eruption. In: POOLE, D. F. G.; STACK, M. V. The eruption and occlusion of teeth. London: Butterworth, 1976. p. 80-96.

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Paulo Roberto dos Santos-PintoRua Américo Brasiliense, 1.702, sl. 5 - Vila SeixasCEP: 14.015-050 - Ribeirão Preto / SP E-mail: [email protected]

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