corra, bernardo, corra - editorapositivo.com.br · vai reconhecer sozinha, mas cabe ao professor...
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CORRA, BERNARDO, CORRA! Luís Dill
SINOPSE
Bernardo precisa sair do prédio onde mora o mais rápido possível, mas o elevador não funciona, e
então ele precisa descer as escadas. Como o garoto conhece quase todo mundo no prédio, os moradores
vão atrasando a sua fuga: cada um quer contar uma história, fazer um pedido de ajuda ou simplesmente
conversar. Esta singela e criativa história de Luís Dill, ilustrada por Michele Iacocca, guarda uma
surpresa muito especial para o leitor.
PALAVRAS DO AUTOR
Sabe aqueles sonhos em que a gente precisa sair de um lugar, aí tenta, tenta, e simplesmente não
consegue? Pois é. Foi pensando nesse tipo de sonho (na verdade pesadelo, certo?) que comecei a
imaginar o Corra, Bernardo, corra!. Achei que ficaria legal se a ação se passasse em um edifício. Deu
bastante trabalho, pois precisei inventar um bom motivo para fazer alguém querer sair de lá correndo.
Além disso, tive de criar os vários personagens que, de certa forma, atrasariam a fuga. Lembrei-me
bastante de um prédio onde morei quando criança. Era menor que o do Bernardo, mas tinha cada
figura... Ah, sou de Porto Alegre, tenho mais de 25 livros publicados e adoro escrever.
TRABALHANDO COM A LEITURA
ANTES DA LEITURA
1. Antes da leitura do livro, converse com as crianças sobre as situações em que a expressão “Corra,
Fulano, corra!” pode ser usada.
2. Proponha às crianças que relatem oralmente uma situação na qual tiveram que correr de alguma
coisa.
3. Apresente o livro e discuta com as crianças as possibilidades de interpretação do título. Estimule-as a
imaginar o que acontece com o personagem Bernardo: por que ele deveria correr? Sugira também que
levantem hipóteses sobre quem são os personagens que poderão ser encontrados nessa história, qual o
tipo de narrador que imaginam que irá relatar toda a história, em que tempo e em que local os fatos da
história vão ocorrer, qual será o enredo. Dessa forma, as crianças poderão exercitar o conhecimento
sobre os elementos da narrativa: personagens, narrador, tempo, espaço, enredo.
4. Questione as crianças sobre histórias de mistério – se já leram algum livro ou assistiram a algum filme
envolvendo mistérios. Peça que relatem o que sentiram ao longo da leitura do texto ou da apresentação
do filme. Essa conversa sobre leituras e experiências anteriores pode levá-las a perceber os recursos
usados nesse tipo de texto, como a criação e a alimentação de expectativas diante dos fatos tratados no
enredo.
DURANTE A LEITURA
1. Pergunte às crianças o motivo que poderia ter levado Bernardo a deixar o apartamento.
2. Na página 4, existem duas situações em que o personagem se comunica com o leitor: por meio do
travessão, quando ele fala (mesmo que sozinho) e por meio das aspas, quando ele pensa. É válido
trabalhar esses recursos gráficos para que as crianças os reconheçam, sozinhas, em outras histórias que
forem ler.
3. Pela descrição feita no início, qual é a idade aproximada do menino? Sugira que as crianças levantem
hipóteses a esse respeito.
4. O clima de suspense se inicia já na página 9. Realce esse fato para as crianças, mostrando os recursos
utilizados pelo autor para criar tal efeito: a sequência narrativa é feita com frases muito curtas, uma
após a outra, o que aumenta o clima de tensão e a expectativa do leitor.
5. Na página 9, há repetições de ideias e frases. Faça com que as crianças percebam a intenção do autor
em reforçar essas ideias.
6. Questione as crianças: o que elas imaginam que o senhor Aurélio desejava mostrar ao menino? Diante
da descoberta (luneta), pergunte o que elas pensam sobre a comunicação que o personagem mantém
com a pessoa do outro lado da cidade. Elas conhecem alguém que costume observar a cidade por meio
de uma luneta?
7. Seu Aurélio parecia ter se tornado novamente uma criança que achou um amigo com quem brincar.
Isso pode ser comprovado quando, na página 9, ele diz a Bernardo que comprou um brinquedo, sua
luneta. Faça com que os alunos reconheçam a necessidade de distração das pessoas mais idosas, quando
não mais exercem atividades fora de casa ou quando optam por fazer algo que lhes agrade, mas que não
é tão comum. No caso de seu Aurélio, a luneta era perfeita, porque o distraía e lhe permitia fazer novas
amizades. As crianças podem também inferir a ideia de que há pessoas que usam uma luneta para ver a
Lua, as estrelas e o espaço, ou até mesmo para “bisbilhotar” a vida alheia, como se vê em filmes e
desenhos animados.
8. Peça às crianças que identifiquem a forma como seu Aurélio chama Bernardo, ou seja, sempre se
referindo a ele como “meu rapazinho”. Pergunte aos alunos o que isso significa. Será que seu Aurélio
não mais considerava Bernardo uma criança? Ou seu Aurélio já tinha percebido que Bernardo estava
crescendo, portanto era um menino-rapaz?
9. Na página 6, o narrador compara seu Aurélio a uma onda. Pergunte às crianças a razão dessa
comparação. Peça a elas que citem quais elementos presentes na narrativa podem ser comparados a
uma onda do mar.
10. Explore com as crianças o tema abordado na página 10, a respeito do que é mais prático ou divertido
para pessoas de diferentes gerações. Com o uso da tecnologia (internet ou telefone) no lugar da luneta,
seu Aurélio se divertiria tanto ao se comunicar com o amigo do outro prédio?
11. Encerrada a missão no 6º andar, Bernardo consegue sair do apartamento de seu Aurélio, mas, ao
chegar no 4º piso, depara com seu segundo obstáculo: dona Anjinha. Aproveite a ilustração da página 13
para pedir aos alunos que recontem a história nesse trecho, realçando o falatório da mulher. Leve os
alunos a reconhecer a atitude generosa do garoto que, mesmo aflito para descer, ajuda a quem lhe
pede. Verifique quais crianças também costumam praticar esse tipo de gentileza.
12. Na página 12, começa a aparecer a forma pronominal “tu”. Ressalte para as crianças que essa forma
de tratamento é mais utilizada em alguns Estados do Brasil, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina,
dentre outros.
13. Dona Anjinha não deixava Bernardo concluir sua fala. Pergunte às crianças o que isso representa na
composição do texto. Leve-as a pensar que esse é mais um recurso que assegura o mistério e o suspense
que estão sendo construídos. Pergunte também de que nome se originou o apelido “Anjinha”. Que
características pode ter uma pessoa cujo nome ou apelido é Anjinha?
14. Questione as crianças sobre o porquê de Bernardo ter ficado tão sem graça diante de Beatrix, nas
páginas 16 e 19. Elas devem perceber que a nova personagem deixou o menino paralisado por causa dos
seus grandes olhos verdes. Peça às crianças que digam qual foi a comparação estabelecida para os olhos
da menina. Lembre-as de que Beatrix também parecia ansiosa em falar, não dando espaço para o
garoto. Nessa altura, Bernardo já estava tão cansado que quase havia esquecido o motivo que o fazia
correr tanto.
15. Na página 20, chegando ao 3º andar, Bernardo encontra o obstáculo que lhe causa mais medo: o cão
bravo. Pergunte aos alunos por que ele ficou com tanto medo do cão. Eles devem lembrar que, além de
ser um pastor-alemão, o cachorro estava todo manchado de tinta vermelha, que parecia sangue. Além
disso, sempre que Bernardo via o cão, ele estava preso na coleira, conduzido pelas mãos fortes do dono.
O encontro com o cão desacompanhado fez aumentar o terror do menino.
16. Pergunte como as crianças reagiriam diante do cão bravo. Questione-as para saber se alguma delas
já viveu uma situação parecida.
17. Solicite às crianças que observem a imagem da página 21 e relatem o que imaginam ter acontecido
com o cachorro.
18. Leve os alunos a relacionar essa parte da narrativa com um conhecido dito popular: “Se correr o
bicho pega, se ficar o bicho come”. Peça a eles que comparem a frase com o seguinte trecho da
história, na página 20: “se corresse seria devorado. E se ficasse parado? Disso já não tinha certeza”.
19. Na página 23, seu Torres, o dono do cão, começa a sentir um cheiro diferente no edifício, que ele
não consegue identificar. O cheiro passa a ser, então, mais um elemento que aumenta o suspense.
Pergunte às crianças o que elas pensam a respeito desse misterioso cheiro.
20. Bernardo chega ao 2º andar e encontra seu Anacleto Neto, que quer muito falar com seu Aurélio
sobre a venda da luneta. Lembre as crianças de que Bernardo não tem nada a ver com isso, mas esse
fato faz enrolar ainda mais o enredo, retardando a revelação final do mistério.
21. Faça com que as crianças percebam que mesmo num trecho narrativo podem aparecer elementos
característicos da poesia. Leve-as a observar o seguinte trecho, na página 24:
“– Ai que saudade da minha luneta! Sem ela minha cabeça dá pirueta! – queixou-se seu Anacleto
Neto. – Acha que pode me ajudar? Afinal minha luneta preciso recuperar”.
A inversão dos elementos frasais como “minha luneta preciso recuperar”, em lugar de “preciso
recuperar minha luneta” é um recurso que propicia a rima.
Outro detalhe poético desse trecho é a intertextualidade, que a criança possivelmente ainda não
vai reconhecer sozinha, mas cabe ao professor destacar. Para isso, apresente um trecho do poema Meus
oito anos, de Casimiro de Abreu: “Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha
infância querida / Que os anos não trazem mais!”.
22. Ao chegar ao térreo, Bernardo acha que seus problemas se acabaram, mas ainda é interrompido por
dona Berenice, que exige dele os mimos que a faziam feliz. O garoto precisa beijá-la e abraçá-la, antes
de conseguir ir para fora do prédio. Pergunte às crianças se elas conhecem pessoas que sempre fazem
questão desse tipo de cumprimento caloroso.
23. Na página 26, dona Berenice pergunta a Bernardo onde está sua avó, pois sabia que ela “andava
esquecida, no mundo da lua”. Esse comentário parece à toa, mas não é. Pergunte aos alunos se eles
perceberam o motivo do comentário. Na verdade, ele é a chave para que se compreenda o mistério da
história, uma vez que os pais de Bernardo estavam trabalhando, seus irmãos estavam estudando, e a
avó...
24. Finalmente, Bernardo consegue sair do prédio e avista o zelador, seu Romualdo, que foi o único
personagem a permitir que o garoto falasse. Este, então, alerta sobre o fogo que havia em seu
apartamento. Converse com as crianças sobre o ocorrido na residência de Bernardo e pergunte se algo
semelhante já aconteceu em suas casas. Alguma delas já sentiu cheiro de comida queimando no fogão?
Alguém já sentiu o cheiro de arroz queimado ou de qualquer outra coisa pegando fogo dentro de casa?
25. Na página 30, a solução do mistério é revelada: a avó “distraída” de Bernardo havia deixado a
panela de arroz no fogo e saído para comprar tempero. Antes da leitura dessa página, é interessante
fazer com que as crianças reflitam sobre todas as passagens da narrativa, levando-as a reconhecer o que
aconteceu. Lembre-as de que, muitas vezes, as tragédias unem as pessoas. E o livro apresenta bem esse
fato, fazendo comentários finais sobre todos os personagens que participam da história.
26. Bernardo sentiu-se um verdadeiro herói. Alguém já se sentiu dessa forma? Em qual situação?
DEPOIS DA LEITURA
1. Leve para a sala de aula o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e proponha a análise de alguns
dos seus artigos, especialmente aquele que define quem é o “menor incapaz” e quais são os seus
direitos.
2. Solicite que as crianças reflitam sobre o que o menino poderia ter feito para pedir ajuda, em vez de
ter saído correndo escada abaixo. Ele poderia, por exemplo, ter usado o interfone, solicitado ajuda ao
vizinho que morava ao lado ou a algum adulto mais próximo.
3. Desperte a atenção das crianças para a linguagem utilizada pelos personagens do livro. Quase todos
os moradores se tratam por “tu”: “E tu tava correndo, por quê?”; “[...] quem sabe tu não me ajuda a
lavar tudo [...]”. Pergunte a elas se conhecem pessoas que falam dessa maneira. Leia a autobiografia do
autor para as crianças. Faça relações entre o fato de o autor ser gaúcho e a linguagem que aparece no
texto.
4. Elabore com a turma um livro com diferentes situações-problema do dia a dia. Cada criança poderá
criar uma situação ou relatar uma experiência já vivida e dar a solução. Esse livro pode ser elaborado a
partir da expressão: “O que você faria se...”. Exemplos:
O que você faria se estivesse em um estádio de futebol e se perdesse dos seus pais?
O que você faria se visse um cachorro muito feroz solto na rua?
O que você faria se a luz da sua casa acabasse?
O que você faria se achasse uma carteira na rua?
O que você faria se alguma pessoa estranha viesse falar como você?
5. Um bom trabalho com os adjetivos pode ser feito a partir desse livro, visto que os personagens têm
características muito bem definidas. Assim, os alunos podem recriar os personagens em ilustrações
próprias e com textos descritivos a partir das características apresentadas.
6. Recorde que, no auge do medo (quando viu-se frente a frente com o cão), Bernardo lembrou-se até
de fazer uma oração. Pergunte às crianças se elas também fazem isso em situações de medo ou susto.
7. Outro fato que se faz interessante ressaltar é o de que o rosto do personagem principal, Bernardo, só
aparece de frente na última ilustração do livro. Faça com que as crianças percebam que, mesmo sem
conhecer o rosto do protagonista, é possível que elas o imaginem com expressão de medo ou de terror.
Ou seja, é possível imaginar um menino apavorado apenas pela descrição feita no livro. Saliente a
capacidade imaginativa que todos os leitores possuem, mostre o quanto é importante deixarmos a
imaginação fazer as suas composições enquanto lemos.
8. Pergunte às crianças se haveria outro motivo para revelar o rosto de Bernardo apenas no final do
livro. Instigue-as a levantar hipóteses.
9. Chame a atenção das crianças para o fato de que determinadas pessoas, quando ficam com mais
idade, precisam de cuidados especiais, pois podem se tornar esquecidas e causar acidentes por pura
distração. Apresente uma situação hipotética às crianças: se estivessem na companhia da avó de
Bernardo e percebessem que ela estava saindo para comprar tempero, deixando a panela de arroz no
fogão ligado, o que fariam? As crianças podem comentar que lembrariam a avó de que precisava desligar
o fogo e também podem citar que a acompanhariam para comprar o tempero.
10. Peça às crianças que produzam um texto a partir de uma pesquisa familiar. Elas devem contar uma
situação engraçada ou até mesmo perigosa que algum parente tenha provocado por distração ou por
esquecimento.
Colaboração: Angela Cordi, Rosemara Vicente e Patricia Waltiach.