cordel-a peleja do cordel da feira com a internet

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A Peleja do Cordel da Feira com a Internet Vou lhe contar, cidadão, Uma história bem brejeira Que começou numa feira Pelas bandas do sertão E de forma bem ligeira Chegou à terra inteira Causando admiração. Severino Rio Grande Fazia muito cordel Falava até de bordel Assim a arte se expande De soldado, coronel, Matuto, arranha-céu, Falava até de Gandhi. Com ele não tinha manha, Sofria mas agüentava, Sabia que a dor passava, Pois foi até na Alemanha Com tudo ele rimava E o povo se admirava É um homem de façanha Seus cordéis ele vendia Numa feira bem pequena Era sempre a mesma cena Com risada e cantoria Desde o tempo da galena Era uma mensagem plena De amor e alegria Com uns tipos manuais Muitos impressos fazia E assim ele vivia Querendo um mundo de paz Mas ninguém compreendia Quando dizia que um dia Ia sair nos jornais. Pois aquele cordelista Danou-se pra capital Foi morar no areal

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Page 1: Cordel-A Peleja Do Cordel Da Feira Com a Internet

A Peleja do Cordel da Feira com a Internet

Vou lhe contar, cidadão,Uma história bem brejeiraQue começou numa feiraPelas bandas do sertãoE de forma bem ligeiraChegou à terra inteiraCausando admiração.

Severino Rio GrandeFazia muito cordelFalava até de bordelAssim a arte se expandeDe soldado, coronel,Matuto, arranha-céu,Falava até de Gandhi.  Com ele não tinha manha,Sofria mas agüentava,Sabia que a dor passava,Pois foi até na AlemanhaCom tudo ele rimavaE o povo se admiravaÉ um homem de façanha Seus cordéis ele vendiaNuma feira bem pequenaEra sempre a mesma cenaCom risada e cantoriaDesde o tempo da galenaEra uma mensagem plenaDe amor e alegria  Com uns tipos manuaisMuitos impressos faziaE assim ele viviaQuerendo um mundo de pazMas ninguém compreendiaQuando dizia que um diaIa sair nos jornais. Pois aquele cordelistaDanou-se pra capitalFoi morar no arealAli bem perto da pistaSua cidade natalSoube um dia, afinal,Que se tornou jornalista. 

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Mexendo com linotipoTelex e off setNo fax pintou o seteSem falar no teletipoFazia até enqueteSó não comia giletePois não achava bonito.  Mas com aquele seu domMuita coisa ele faziaSempre tinha uma poesiaRecitada em bom tomTinha saudade da tiae qualquer hora do diaescutava acordeon  Os anos foram passandoo tempo não vai pra tráse aquele nosso rapazia se adaptandoa tudo que a vida traznada nunca é demaise foi se modernizando.  A maquininha OlivettiQue usou anos seguidosInda tinha nos ouvidosQual serpentina e confettiMas a marca dos sabidosQue ganhou novos sentidosAgora era a internet.  Nem mesmo questionouA nova moda lançadaE de forma enviesadaSeus cordéis lá colocouFoi uma festa danadaA homepage lançadaQue ao mundo lhe levou Pois agora na internetO cordel vai mais distanteBasta somente um instanteE a história se repeteSão Gonçalo do AmaranteParis, Itu, num berranteTodo mundo se derrete 

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Sempre aparece questãoSobre esse novo meioMas é somente esperneioDe gente falando em vãoBasta fazer um passeioSem cavalo e sem reioPara entender o bordão.  Quando veio pra cidadeSeverino não deixouNa terra que lhe criouA sua habilidadeFoi com ele e ele usouO dom que deus lhe legouPra sua felicidade.  Se é por falta de cordelPra seus versos pendurarConfesso que vou mandarDesenhar assim ao léuDepois vou fotografarE no site publicarAo lado do meu farnel.  Do jeito que alguém falaDo cordel que foi pra webCom certeza não concebeAlgo que chegou à salaDo pequenino casebreQue não pode criar lebreMas tem um micro na mala  Por quê o computadorPode chegar ao sertãoE na internet nãoTem lugar pra rimador?É uma aberraçãoGrande discriminaçãoQue ele não tolerou. Acho que dei o recadoQuem quiser diga o contrárioPois em todo abecedárioTem alguém inconformadoE nesse rimar diárioQuero o futuro no páreoMas não esqueço o passado.

FIM