coral é coisa séria

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"Minha intenção é partilhar com você algumas reflexões, sugestões e as experiências vividas com a música, principalmente música Coral. Meu objetivo é introduzir conceitos, dar informações, compartilhar fatos que aprendi e julgo importantes para a formação de um Coral." Réges Marth (Autor)

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Réges Marth

1° edição2009

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Coral é Coisa SériaPor Réges MarthCopyright 2009

Copyright 2008 por Réges Marth

Todos os direitos reservados na língua portuguesa para Réges Marth

Salvo menção em contrário, as referências bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Edição Contemporânea

ISBN - 978-85-909828-0-7

Organização e Revisão:Verônica Bareicha e Mirian Duarte Santana Weige Marth

Revisão Final:Mirian Marth

Projeto gráfico, capa e diagramação:Ruth Pimentel

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Agradecimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9

Dedicatór ia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13

Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17

1. Como Tudo começou . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21

2. O que é louvor? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3. Viagens, festas, eventos, amigos e af ins . . . . .43

4. O Ensaio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67

5. Repertór io - A inf luência da música . . . . . . . . . . .93

6. O formato do seu Coral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109

7. O Maestro, a pele . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .145

8. A Oração bêbada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .163Bibl iograf ia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .175

Índice

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GAgradecimentos

ostaria de agradecer ao tempo. Foi ele quem me possibilitou passar

dias à frente de diferentes corais como; o Jovem de Novo Hamburgo,

da Igreja da Floresta em Porto Alegre; o Coral Jovem do UNASP C2, do

Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus 2; o Coral Jovem

do IABC, do Instituto Adventista Brasil Central. Também as diferentes

escolas que atuei com professor de música e regente de seus corais.

Destas escolas tive o privilégio de formar 12 corais que estão em funcio-

namento até o presente momento da publicação deste livro. Em espe-

cial ao Coral Jovem do Rio que atualmente dedico, com muito prazer, o

meu tempo ao seu ministério.

Gostaria de agradecer também aos erros. Foram eles que, apesar de

todo o constrangimento e preocupação, causaram a reação necessária

para superação das adversidades, sem contar que grande parte das ex-

periências deste livro, foram escritas com base neles. Não posso deixar

de mencionar os projetos. Seus desafios e adrenalina foram o combus-

tível deste livro também.

Preciso mencionar algumas pessoas. Aos mestres Vandir Schäffer e

Ellen Boger Stencel por seus conselhos e suporte profissional e acadêmi-

co. Ao Pastor Eliezer Vargas por me ter convidado e confiado o primeiro

coral. Ao Pastor Elton Bravo por ser inspiração em fazer música sem

ser músico. Ao casal Isaias e Marta Manhaes, nos conhecemos a pouco,

mas nossa amizade tem sido solida em meio as desafios. Obrigado pelo

apoio. Quero ainda agradecer ao Elias Barreiro, presidente do Coral Jo-

vem do Rio e sua família. E um grande amigo e apoiador deste projeto.

Sinto que preciso agradecer a mais pessoas deste querido coral, porém

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os números se estenderia muito, e sei que ainda viveremos muita coisa

juntos. A minha revisora Verônica Bareicha, seu talento e motivação

tornaram este escritor corajoso o suficiente para terminar este livro. E

ainda, a Ruth Pimentel que diagramou este livro minuciosamente.

Quero ainda agradecer a Silvana D. Marth (in memória) que a mais de

uma década atrás me inspirou a anotar as dificuldades e necessidades

que passam os Corais, bem como sugestões e atitudes tomadas para se

manter um Coral, pois um dia elas seriam úteis. Ela estava certa e hoje

estão escritas na forma de um livro. Obrigado.

Por fim, como sendo o Alfa e o Omega, a Deus meu agradecimento

por cada fôlego.

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ADedico este livro...

meus pais, Vilson e Esmeralda. Quem nasceu numa cidade pequena

há pouco mais de 30 anos atrás, onde a principal atividade é a agricultu-

ra, sabe que pra se ser alguém é preciso tornar-se médico ou continuar

trabalhando com os pais. Contudo, meus pais nunca viram a vida dessa

maneira. A sabedoria consiste em saber o que fazer com o conhecimen-

to, e vocês me ensinaram a ser livre. Livre pra fazer. Livre pra pensar.

Livre! As desvantagens às vezes são enormes, mas em todas elas vocês

foram presentes em amor, em ajuda, em consolo e em conselho. O que

mais desejo é honrá-los por toda a minha vida. Sinto-me orgulhoso por

meus pais serem as pessoas mais sábias que conheço. Amo vocês.

Aos meus irmãos, Rogério e Márcio. Sempre precisei de apoio para

construir a minha autoestima, e ainda mais nesse novo caminho como

escritor. Me impressiona o fato de vocês nunca deixarem de dizer que

daria certo, e sempre me erguerem em todos os momentos. Vocês são

os meus melhores amigos e isso, pra mim, é um privilégio. Amo vocês.

Ao primogênito, Henry. Somente Deus é testemunha de quantas

vezes você me manteve vivo. Por tudo que já passamos juntos você é a

pessoa mais forte do mundo. É o meu grandão! Te amo.

Ao caçula, Heitor. Você é o reencontro com a alegria. A casa cheia.

Ainda não consegue nem entender estas palavras, mas quando isso

acontecer, saberá que o tom de alegria deste livro, foi inspirado por

você. Te amo.

A minha bela, Daisy. Eu já havia desistido de muita coisa, e uma delas

era de amar. As palavras somem... Ficam pequenas quando penso em

você. Mais do que uma declaração de amor é um agradecimento por

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aceitar ser minha enquanto sou seu. Te amo.

Ao meu Deus. És único. És aquele que excede os meus sonhos. De-

téns o curso de minha vida, e neste, já por vezes me assombrei. Mas

hoje, louvo grandemente Teu nome por este livro, minha família aqui

apresentada, e especialmente por minha vida. Aceite Senhor minha

gratidão. Abençoe estas páginas. Te amo.

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MIntrodução

inha intenção é partilhar com você algumas reflexões, sugestões

e as experiências vividas com a música, principalmente música Coral.

Meu objetivo é introduzir conceitos, dar informações, compartilhar fa-

tos que aprendi e julgo importantes para a formação de um Coral.

Para se ler Coral é Coisa Séria não é necessário conhecimento teóri-

co de música nem experiência. Esta não é uma leitura técnica. Embora,

você vá encontrar em suas linhas assuntos relacionados com a psicolo-

gia, neurologia e neurofisiologia, regência, técnica vocal e arte. Analiso

também um pouco de filosofia e teologia, e compartilho uma leve ex-

periência sobre como pensar como compositor e arranjador. Apresento

uma visão geral de um corista, regente e comunidade religiosa. Penso

que com esses elementos, podemos criar objetivos reais que mostrem

para onde estará indo o louvor a Deus.

E por que quero compartilhar essas coisas com você?

Sinceramente acredito que qualquer ser humano, por mais débil e

fraco que se apresente, em nome de Jesus é capaz de vencer a Lúcifer

através do louvor. Não posso concordar com afirmações do tipo: “Lúci-

fer era músico no céu e por isso ele sabe como distorcer a música”.

Esse tipo de declaração nos leva a uma posição defensiva. Para mim,

isso é comodismo, uma forma de nos acuar e fazer com que deixemos

de louvar a Deus.

Para tanto, é necessário que se valorize o seu conhecimento e a sua

cultura, não somente a minha. Será com a ciência que temos de Deus

e de nós mesmos que chegaremos a uma conclusão dos fatos que nos

cercam.

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Tenho certeza que, após esta leitura, entrar em uma igreja, sentar-se

e ouvir um Coral cantando será uma experiência espiritual com sobrie-

dade emotiva, razão e fé, e será melhor ainda se você estiver fazendo

parte do coro.

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Lembro de pegar minha “Ficha de inscrição” e ao preenchê-la ficar pensando no motivo de se querer tanto cantar em um Coral. Me questionei se valia a pena todo o nervosismo e so-frimento pelo qual estávamos passando. Enquanto aguardava a minha vez de entrar na pequena sala para ser testado vocal-mente, ouvi as histórias mais incríveis e mirabolantes...

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C

Como Tudo Começou

oral é só pra gurizada se juntar e se divertir”, disse Gabriel, “pelo

menos, na minha igreja é assim”.

Eu não quis, naquele momento, discordar dele. Mas essa não era a

minha realidade. Para mim, Coral era coisa séria. Muito séria.

Veja bem, nasci na pequena e pacata cidade de Camaquã, no inte-

rior do estado do Rio Grande do Sul. Uma bucólica cidade a pouco mais

de 100 km da capital, Porto Alegre. Como muitos adventistas, ‘nasci na

igreja’. Lembro de meu pai contando lindas histórias sobre meu bisavô,

um pioneiro naquela região. Também conhecia a história de como ele

conhecera a minha mãe, que viera de uma família tradicional batista.

Certo dia, ouvi meus pais falando que haviam comprado um órgão

eletrônico para a igreja. Eu não sabia ao certo o que era. Meu conheci-

mento em música se restringia aos cultos familiares onde minha mãe

tocava gaita (acordeão) e, com sua voz de contralto, despretensiosa-

mente feliz, cantava melodias cristãs, apoiada pelo 2° tenor quase rouco

e suave de meu pai. A conversa sobre o órgão eletrônico foi mais longe

ainda, tanto que depois de algum tempo, por várias sextas-feiras à noite

me entreguei ao sono nos bancos da pequena igreja. Como uma criança

após um dia inteiro no parque de diversões, mas em um ensaio, ao som

do órgão elétrico e das quatro vozes do Coral.

Quando tinha meus 10 anos, criaram um grupo infantil maravilhoso!

Nós não tínhamos playback e nem órgão para nos acompanhar. Mas um

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violão! Aquilo era demais, e o ápice daquela experiência foi uma viagem

que fizemos até Porto Alegre para a FAMG1 , para participar de um con-

gresso. Isso foi inesquecível!

Mais tarde, eu e meu irmão mais velho fomos para o colégio interno, o

IACS (Instituto Adventista Cruzeiro do Sul), e lá, Coral era outra história.

Poucos lugares no mundo possuem o luxo de ter admiradores tão an-

tagônicos como os internatos. Alguns dizem que: “mudaram a sua vida

para sempre”, ou “foi a melhor coisa que me aconteceu”, e ainda “um

lar”, “uma oportunidade que eu agarrei”. Outros não conseguem olhar

com tamanho entusiasmo: “Só perdi tempo na minha vida”, “Hitler se

inspirou nos internatos para montar seus campos de concentração”, “se

pudesse colocaria uma bomba nessa escola”. Independente da opinião,

a verdade é que esse é um período extremamente marcante.

Ele marca por muitos motivos, e um deles é a música. Não importa a

cidade de onde vim ou nasci. Não importa o meu gosto musical, nem a

minha cultura. Nem minha religião e o quanto eu conheço a respeito de

Deus, todos podem cantar. Indiscutivelmente, todos querem entrar no

Coral. No caso citado, o Coral Jubal. Hoje, Coral Jovem do IACS.

Qual a razão?

Os alunos querem fazer parte do Coral para ficar juntos; amigos,

namorados, futuros amigos, futuros namorados. Também para viajar,

para ser admirado no internato como o ‘cara que passou no teste do

Coral’. Aliás, isso faz destes, quase que cantor ‘profissional’. Outro fato

interessante é que no início do ano, ao voltar para o Coral, os veteranos

contam histórias mirabolantes, como se fosse um livro ‘best seller’ de

aventura nunca escrito.

Com tudo isso em jogo, fomos lá, eu e meu irmão, fazer o teste. Toda-

via, os objetivos dos alunos eram muito diferentes dos meus...

1 FAMG - Federação Adventista da Mocidade Gaúcha.

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O Primeiro Teste:

Naquele ano, 1989, o teste estava sendo realizado no pavilhão de

esportes. Um prédio retangular onde havia arquibancadas laterais e no

centro uma quadra de vôlei que nas olimpíadas estudantis era a grande

atração. Lá também aconteciam os programas dos Grêmios Masculino e

Feminino, sendo que nessas ocasiões colocavam cadeiras sobre a quadra

em dois blocos longinquamente separados: a da direita de quem entra no

pavilhão era para os rapazes e a da esquerda, consequentemente, para

as moças. O pavilhão possuía um palco, não muito grande, mas alto o su-

ficiente para que todos, mesmo os que estivessem ao fundo, pudessem

ver perfeitamente o que se passava lá em cima. Em cada lado do palco,

parecendo colunas, havia duas salas. A da direita estava ocupada por um

piano e pelo Maestro Vandir Schäffer. Era lá e com ele o meu teste.

A fila para o teste vocal era enorme, lembrava em muito as filas do

INSS. Como em internato a idade média é de adolescentes, dá para se

ter uma ideia das diferentes reações que se pode observar. Confesso

que só penso nelas agora que sou um adulto. A grande maioria na fila se

conhecia somente por ter se esbarrado em algum lugar do campus, ou

eram colegas de quarto. A verdade é que em um internato no início do

ano quase ninguém se conhece, o que dava vantagem para os cantado-

res do ‘já ganhei’ aparecerem sem ser questionados.

“Cantava em um grupo muito bom em minha igreja, por isso acho

que não terei dificuldades em passar no teste vocal”. -Disse um à frente

na fila.

“Já fiz solos difíceis em muitas igrejas importantes”. Retrucou outro,

com um pouco de arrogância.

“Eu estudo música há dois anos”. - Ouvi uma moça dizer a uma colega

da fila, enquanto olhava para todos com muita admiração.

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“Tão confiantes”, pensava eu.

Logo atrás das autoafirmações vinham as sessões de terror.

“O cara é um carrasco”. - Amedrontavam alguns veteranos que não

precisavam fazer o teste. “Ele é um Maestro muito competente, só passa

se for muito bom”.

Atrás de mim ouvi o comentário de que “alguém já desmaiara fa-

zendo o teste com ele...” e também; “o que mais acontece é de as ‘gurias’

saírem chorando”.

Como se fosse uma profecia de cumprimento imediato saiu da

pequena sala uma moça chorando, e foi aí que conheci a face do car-

rasco: Professor Vandir Schäffer. Um alemão – como eu. Não colocava

muito medo. Devia ter entre 1,75m a 1,80m de altura, cabelos lisos im-

pecavelmente penteados para o lado e um bigode.

“Próximo!” - Disse ele sem nenhum sorriso.

“Só o que faltava era sorrir depois de fazer alguém chorar” - mur-

murei.

Quem estava do meu lado, cochichou:

“Com essa calma, ninguém desconfia que lá dentro daquela sala, ele

acaba com qualquer um”.

Depois de alguns minutos, lembro de pegar minha “Ficha de Ins-

crição” e ao preenchê-la ficar pensando no porquê daqueles adoles-

centes quererem tanto o Coral. “Vale a pena todo o sofrimento?”

Enquanto divagava em questões, ouvi mais uma vez o Prof. Vandir

Schäffer:

“Próximo!”

Observei o rosto do rapaz que saía da sala de tortura vocal e estava

confiante.

“Será que ele passou? Mas o resultado não é daqui a uma semana?”

- Indaguei.

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Isto foi num Sábado à tarde. Meu irmão mais velho, Rogério, estava

comigo na fila de espera. Ele era o próximo e já havia escolhido e trei-

nado o seu hino. Eu também: “Jesus Sempre Te Amo”, n° 290 do hinário

Cantai ao Senhor, em Fá Maior.

“É... Esse não é muito grave e ninguém o escolheu ainda”. – pensei

em voz alta.

Acho incrível que em todos os testes vocais que fiz e presenciei, os hi-

nos são sempre os mesmos. Naquele dia, com aquela escolha diferente,

esperava conquistar um pouco a simpatia do ‘meu’ carrasco musical.

“Próximo!”

E lá se foi o meu irmão.

O meu nervosismo por ele era grande, quase tanto quanto por mim

mesmo. Quando ele saiu não tive coragem de olhá-lo e fui direto para a

sala. Afinal de contas, não poderia me deixar abalar por nada.

A sala era improvisada. O professor entrou fechando a porta, dei-

xando trancada a vontade de fugir daquele confronto entre a voz e o

ouvido.

Nós nos cumprimentamos e falamos sobre coisas que não me lem-

bro, talvez pela minha ansiedade em terminar logo o teste. Comecei a

cantar. A voz falhou: “Será que devo dizer que estou rouco? Já sei; gripa-

do!... Ou talvez, estivesse sofrendo de laringite crônica momentânea, que

provavelmente passaria depois de alguns segundos, talvez até mesmo

após o teste?”

Antes que eu abrisse a boca, ele disse calmamente:

“Acalme-se meu jovem, é um simples teste de voz, não precisa ficar

nervoso, você está indo bem”.

Certo. Eu estava nervoso. Nenhuma desculpa daria certo, pois estava

na cara, ou melhor, na minha voz o meu nervosismo.

Cantei afinado. Fiz o teste de percepção. Sem problemas.

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Começou o teste de extensão... Que fracasso! Eu já deveria ter ima-

ginado; com 13 anos a voz não amadureceu ainda. Naquele momento eu

soube: não ia conseguir!

“Muito bem, meu jovem, tudo certo... Você está mudando de voz e

ainda não tem condições de cantar no Coral Jubal”.

As palavras do Professor Vandir Schäffer soaram com uma frieza

profissional tamanha que tive a sensação de estar me congelando.

“Tente no próximo ano”. - Ordenou o professor com seu cabelo im-

pecável, já me conduzindo até a porta de saída.

“Próximo!”

Tive a sensação de estar saindo de uma sauna seca finlandesa a 60Co.

Também não sentia os meus pés. Meu irmão me esperava logo abaixo

das escadarias do palco. Rapidamente percebi que para ele a resposta

do teste não fora diferente da minha. Num gesto de defesa, afirmei para

mim mesmo:

“Quero esquecer isso. Cantar não é uma coisa somente para profis-

sionais, principalmente quando se canta para Deus”.

Essa foi a minha primeira frustração musical.

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28 I Coral é Coisa Séria I

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Page 33: Coral é Coisa Séria

A maravilha de se conhecer a Deus envolve crescimento. Muitos pensam que a Palavra de Deus, revelação Dele para nós, é mera coincidência. No entanto, se pensarmos assim, estaremos limitando a inteligência divina. Com o passar do tempo, Deus foi melhorando o louvor do homem, mostrando que este é mais do que ruídos, mais do que ações e gestos corporais. Até mesmo mais do que música!

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J

O que é louvor?

á faz um bom tempo que me preocupo com a forma como algumas

pessoas encaram os corais de nossas igrejas. Já presenciei, por exemplo,

a liderança de um Coral mais preocupada com a disciplina do que com a

música. Ou, os líderes estarem mais interessados no sucesso musical do

que na espiritualidade. Ou ainda, mais apreensivos com a música do que

com as pessoas. Penso que se faz necessário pensar no melhor para o

todo, ou seja, no melhor para as pessoas do Coral da igreja.

Infelizmente, é comum encontrar pessoas que defendem o seu

gosto musical, e se esquecem de apoiar o convívio saudável entre os

coristas. Aliás, a escassez de pessoas que apoiem esse tipo de trabalho

é cada vez maior. Estamos envoltos num forte redemoinho de certezas

e convicções em nada fundamentados e totalmente irrelevantes para

Deus. Ao ponto de alguns entenderem que é melhor acabar com um

Coral, grupo, ou músico e suas músicas, do que se sujeitar a ação calma

e amorosa do Espírito Santo. Prospera o falso argumento de que músi-

ca na igreja é algo muito complicado, que gera muitos conflitos e que-

bra princípios.

A minha primeira experiência com Coral foi bem conflitante, porém,

com o tempo pude notar que as coisas não soam assim tão simples

como a afirmação comum: “o objetivo é louvar a Deus em primeiro lugar,

e Ele não nos exige um louvor perfeito, com afinação e técnica perfeita!”

Não é errado pensar assim, mas soa mais como uma desculpa para não

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encarar as questões técnicas musicais do que, como um assunto de es-

piritualidade no louvor. Na verdade, digo que soa como desculpa porque

eu mesmo já usei essa frase, com esta finalidade.

No 8° Encontro de Músicos realizados no UNASP c2, assisti a uma

palestra com o Professor Valdecir Lima. Quem o conhece, sabe de seus

talentos e conhecimentos sobre música e poesia. Já tive o privilégio de

ter aulas com ele, e admiro muito o seu conhecimento e capacidade. O

assunto daquela noite foi “O que é Louvor”.

“Bem, é um assunto muito fácil” pensei, “ele não deve ter muito sobre

o que falar! Afinal a Bíblia diz no Salmo 150.6: ‘Todo ser que respira louve

ao Senhor’ e em quase todos os demais capítulos do livro de Salmos há

uma forte relação de louvor com o cântico, ou com o tocar instrumentos.

Enfim... Louvar tem a ver com música e pronto!”

Mas logo no começo da palestra, o Professor Valdecir começou a

despejar passagens bíblicas e textos do Espírito de Profecia que apre-

sentavam uma visão mais profunda e precisa do louvor. O palestrante

verteu também uma frase que talvez seja lugar comum, mas que me-

xeu comigo e nunca me esqueço de sua profundidade: “Nós louvamos a

Deus com a nossa vida!”

Essa simples afirmação fez borbulhar diversas perguntas, dentro de

mim. E comecei a procurar respostas para elas.

No Dicionário Aurélio, da língua Portuguesa, a palavra louvor ou lou-

var tem a ver com exaltar, glorificar, bendizer, avaliar, elogiar.

Na Bíblia, no Antigo Testamento aparecem as seguintes palavras que

significam louvor:

Hãlal: está relacionada com “fazer ruído”;

Yãdhã: associado a ações ou gestos corporais que acompanham o

louvor; e

Zãmar: refere-se à música cantada ou tocada.

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34 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 35

No Novo Testamento a palavra Eucharistein quer dizer literalmente

agradecer e é usada numa forma íntima, pessoal. Já Eulogein quer dizer

bendizer e, é usado para um tratamento formal.

Outra coisa que observei foi que na Bíblia em quase todas as referên-

cias encontradas sobre louvor; Deus aparece para ser louvado pelo seu

poder, supremacia, criação, bondade, perdão, milagres e maravilhas. Se

você tirar um tempo e ler as menções sobre louvor ficará assustado ao

saber que o louvor não significa apenas cantar.

Você pode me dizer: “Ah, eu já sabia...”

Acontece que muitos pensam que o louvor só é expresso com a músi-

ca, com a voz. Então, eu pergunto: “desde quando trovões e ondas do

mar têm voz?” Respondo: “eles fazem Hãlal – ruído – o vento também

louva a Deus embalando as folhas das árvores suave ou ferozmente:

Yãdhã – ações ou gestos corporais – e o ser humano pode somente

Zamãr? Não”.

A maravilha de se conhecer a Deus envolve crescimento. Muitos pen-

sam que a Palavra de Deus é uma coincidência. No entanto, se pensar-

mos assim, estaremos limitando a inteligência divina. Com o passar do

tempo, Deus foi melhorando o louvor do homem, mostrando que este é

mais do que ruídos, mais do que ações e gestos corporais. É mais do que

música! É bendizer – Eulogein - em um culto formal em nossa igreja e

agradecer - Eucharistein - em oração pessoal, onde você abre o coração

a Deus como a um amigo.

Existem dois relatos bíblicos sobre louvor que sempre me emo-

cionam. O primeiro é quando o povo de Israel liberto da escravidão

atravessa o Mar Vermelho, e após o milagre, as mulheres louvam a

Deus. Naquela ocasião, Miriã e Moisés compuseram um cântico de lou-

vor (Êxodo 15).

O segundo é sobre Paulo e Silas na prisão (Atos 16.19-40). Apesar

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de encarcerados, louvaram a Deus. Isto resultou em um terremoto e na

conversão do carcereiro. Por isso, durante muito tempo acreditei que

louvar a Deus estivesse relacionado com música. Contudo, louvor não é

somente isso.

Observe esses dois relatos, e raciocine comigo; qual era condição

física do local em que aquelas pessoas se encontravam? Os instrumen-

tos musicais diferenciaram esses eventos? E as condições eram boas ou

más para aquelas pessoas louvarem? Qual é o porquê desses louvores?

E os seus frutos?

Quero falar um pouco mais sobre a palestra que ouvi do Professor

Valdecir. Ele abordou a história relatada no livro de Mateus, capítulo 21.

Você se lembra? Jesus entra triunfalmente em Jerusalém, e depois ex-

pulsa do templo os cambistas. Acontecendo isso, as crianças começaram

a exclamar: “Hosana ao filho de Davi” (verso 15), e então os sacerdotes

e escribas se indignaram. Prevendo um tumulto popular e político, dis-

seram: “Estás ouvindo o que estão a dizer?” (verso 16) e Jesus então

responde: “Sim. Nunca lestes que: ‘Da boca dos pequeninos e das crian-

cinhas de peito tiraste o perfeito louvor’?”

O professor Valdecir discorreu muito, naquela noite, sobre este texto.

E você pode conferir mais sobre a opinião dele, em um de seus poemas

que o Maestro Lineu Soares criou a canção e o Quarteto Arautos do Rei

interpretou e gravou. A frase final de seu poema é “por isso louvo com

minha vida; o meu louvor é ser feliz”.

Perguntas difíceis

Eu gostaria de lembrar um pouco do que você leu antes de chegar

até aqui. No primeiro capítulo nos deparamos com uma realidade:

alguns corais nos transparecem ser mais um clube social do que um

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Coral. Só bagunça, conversa, e há alguns coristas não querendo que

o ensaio termine, porque se isso acontecer, eles terão de ir mais cedo

para casa e não poderão continuar a tão deliciosa conversa, ou o flerte,

ou a programação de sábado à noite. Ou... E os motivos são nume-

rosos.

Contudo, sinceramente acredito que poucas coisas irritam mais um

regente do que o desinteresse. Esse é o Coral ‘clube de amigos’. Por outro

lado, temos o Coral ‘perfeito’. Ensaios técnicos, coristas sérios em seus

objetivos, afinação, pontualidade e etc. Nesse tipo de Coral é possível

ouvir uma agulha cair no chão, não porque o regente quer, mas porque

a música é a coisa mais sagrada. Sem dúvida esse é o tipo de Coral ideal

para regentes estressados.

Tudo bem, sejamos coerentes. Não existem apenas estes dois tipos

de Coral. Contudo, é grande o número de pessoas que enxergam ape-

nas estas ‘filosofias’ de Coral. Quer ver? Mencione o nome de um Coral

que tenha, em sua maioria, componentes da 3° idade e que gosta muito

de cantar músicas como “A minha esperança está no Senhor”. Você co-

nhece algum com esse perfil? Então cite qual Coral, hoje, onde a idade

média é entre 15 a 26 anos vibra energicamente cantando “99 ovelhas”?

Vamos tentar mais uma vez: será que você conhece um Coral em que a

idade dos coristas está entre 13 e 65 anos? E nesse Coral, os ensaios são

silenciosos ou mais barulhentos? Exatamente isso que você está pen-

sando; Coral é coisa séria.

Estas perguntas precisam ser respondidas com muito cuidado, para

evitar conclusões generalizadas como a de Gabriel e frustrações como

a minha em meu primeiro teste que levava a crer que para Deus não

importa a qualidade musical. Iremos avaliar no próximo capítulo algu-

mas coisas que ajudarão a chegar a um equilíbrio, mas antes disso o

Coral precisa entender bem o seu objetivo: louvar a Deus.

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38 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 39

Compartilhando: O Coral está vivo, isto é louvor!

O ensaio transcorreu normalmente. Eu havia chegado ao meu obje-

tivo daquela noite e ainda me sobrava um tempinho para conversar com

o grupo. Pedi para que todos se sentassem nos degraus do estrado e

comecei a falar sobre a importância de expressarmos o louvor a Deus

com todo o nosso corpo - Yãdhã.

“As pessoas quando olham para vocês não querem ver o diafragma

trabalhando de forma correta na respiração. Elas talvez nem consigam

distinguir a sua voz, da voz do companheiro ao lado. Quem dirá saber

se o seu timbre é bonito ou se você está cantando afinado”. Respirei

um pouquinho e rapidamente passei o olhar para ver se não estava

começando a falar demais, prossegui: “As pessoas querem, consciente

ou inconscientemente, ver você vibrando com o Deus da música que você

canta. Não precisamos de muito pra isso, precisamos de duas coisas...”

dei mais uma pausa rápida e percebi que alguns me olhavam intrigados.

“Primeiro: precisamos perder a timidez, a vergonha. Precisamos olhar

nos olhos das pessoas que estão nos escutando. E segundo: Deus”.

Antes de poder dizer alguma palavra para continuar, uma corista me

interrompeu e disse:

“Mas Réges, é só ler a letra, ouvir a música que não tem como não

se empolgar. As nossas músicas são uma declaração direta de amor a

Deus!”

Com essa interrupção percebi que não somente os olhares, mas as

mentes estavam se voltando de uma maneira mais sensível para o as-

sunto. Aos poucos foram surgindo mais opiniões e sugestões de como

fazer para que o Coral melhorasse a sua expressão e a necessidade de

isso ser algo espontâneo. Mas foi no finalzinho dessa pequena conversa

que surgiu uma opinião que conseguiu terminar com o assunto.

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38 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 39

Alguém disse: “Não adianta tentar expressar o louvor a Deus se o

coração não tem nada dEle, se não temos comunhão; não temos o que

oferecer”.

Percebi que a afirmação daquela pessoa era para atingir coristas que

aparentemente não tinham nenhuma comunhão com Deus, que não

liam a Bíblia e muitas vezes vinham à igreja só porque o Coral iria cantar.

Alguns integrantes de nosso Coral saiam à noite para festas em boates,

bebiam e se envolviam com as coisas do mundo de maneira perigosa.

Contudo, a afirmação me pareceu uma verdade; não podemos louvar

a Deus sem nada dEle no coração. Fiquei atordoado com a frase e per-

cebi que para alguns, essa verdade soava como uma acusação. Não me

lembro direito o que fiz em seguida, mas quis terminar rapidamente o

assunto... Onde poderíamos chegar com tudo aquilo?

Depois da oração final e de algumas despedidas fui direto para o

carro. Estava sozinho, e como de costume liguei o som. Sai da gara-

gem onde estava e peguei a primeira rua à esquerda até a sinaleira (os

gaúchos chamam assim o semáforo). Fiquei ali aguardando o sinal ficar

verde. Bem na esquina, do outro lado da rua, havia uma concessionária

Mercedes Benz. Não pude deixar de pensar: “que carros lindos!” Quem

me conhece sabe que não sou do tipo ‘quero o carro do ano’, mas quem

não gostaria de andar em uma Mercedes novinha em folha? Quem não

quer ter potência, conforto, tecnologia, segurança...? Sonhei por alguns

segundos “ah, uma Mercedes, essa sim tem muito a oferecer”.

O sinal abriu, e eu segui até entrar na próxima à direita e seguir por

uma avenida. E foi aí que me ocorreu um pensamento:

“Uma Mercedes tem o que oferecer porque a fábrica que a projetou

pensou nos mínimos detalhes. Mas... E se alguém ganhar uma Mercedes

e não cuidar dela, em pouco tempo não passará de um carro com cara

de velho e mal cuidado. E Deus? Ele não me criou pensando nos mínimos

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detalhes? Não me deu o direito de ser o dono da minha vida? E por mais

que eu não cuide da minha vida, por maior que seja a irresponsabilidade

comigo mesmo, e acabe parecendo um ‘carro velho e mal cuidado’ eu

ainda sou criação dEle. Ainda assim tenho algo para oferecer a Deus: a

minha vida!” Essa ideia me deu uma nova perspectiva de louvor.

“Nós louvamos a Deus com a nossa vida”, ratificou o Professor Val-

decir Lima. Pense comigo: nós expressamos melhor nossa música lou-

vando com o que temos, seja isso bom ou não para os homens. Mas para

Deus é louvor, e é isso que ele quer. Se um dia eu despedaçar a minha

vida, arruiná-la ao último fio, como o ladrão na cruz, e não tiver nada para

Deus, ainda assim Ele me olha e diz: “você está vivo e isso é louvor!”

O mesmo se aplica ao Coral, não é diferente. O Coral está vivo e isso

é louvor! Podemos visitar asilos, orfanatos, arrecadar alimentos, realizar

vigílias, jejuar, pregar e uma infinidade de atividades... Você pode acres-

centar ou retirar o que quiser desta lista, mas jamais esquecer que um

Coral vive para louvar. Esta é sua missão. Este é o objetivo. Antes de en-

saiar, louve! Antes de cantar, louve! Antes de realizar algum projeto co-

munitário, louve! Antes de uma atividade social, louve! Qualquer coisa

que o Coral venha a fazer, antes, deve louvar.

Um dito popular reza assim: “Quem não sabe para onde navega

qualquer porto pode ser o seu cais”. Qualquer Coral que não saiba com

profundidade o seu objetivo; louvar a Deus; com certeza irá se apegar

a outras pequenas coisas que darão a aparência de se estar indo para

o porto certo. Eu mesmo já cometi esse erro, até alvo de batismo colo-

quei em um dos corais que regi. Na verdade, Coral nenhum converte ou

anima a sociedade J.A ou Escola Sabatina e, não é fazendo trabalho mis-

sionário que dará a certeza de se estar indo para o porto certo. Acredito

que a função mais próxima do Coral na igreja seja semear, e a mais pre-

cisa seja preparar o terreno para a semente.

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Acho que alguns ficarão um pouco chocados com essa afirmação por

isso gostaria que você refletisse comigo:

Antes do Mar Vermelho se abrir, o povo de Israel estava louvando?

Não. Acho que eles estavam apavorados. Agora, logo após a vitória, eles

louvaram a Deus. Por quê? A reposta parece um tanto óbvia, mas será

que o louvor deles não estava mais para uma festa? Exatamente. Deus

quer que vivamos, e quando estamos alegres com as bênçãos que Ele

nos dá, temos mais é que comemorar!

Quando Paulo e Silas estavam na prisão cantando, à conversão do

carcereiro se deu pelos hinos dos apóstolos? Claro que não. E seu Coral

quer converter alguém pelos hinos? Não parece um pouco presunço-

so? O que realmente converteu o carcereiro foi o Espírito Santo que se

manifestou na prisão porque eles estavam ligados a Deus e motivados

pelo sacrifício de Cristo louvando, ou foi a música? O Coral não tem que

cantar para ‘converter’ mas para ‘convencer’. Não importa o motivo, a

vitória ou a derrota, a paz ou a guerra, o trabalho ou as férias, o Coral

precisa convencer que a nossa vida está ligada a Deus pelo sacrifício de

Cristo. Assim, o Espírito Santo estará pronto para operar maravilhas. Fa-

çamos disso o nosso louvor. Façamos da nossa vida; música.

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Existem muitos motivos para as pessoas cantarem em corais. Bom seria para o Maestro que todos fossem músicos. Bom seria para o pastor que todos fossem missionários. Se-ria ótimo para a igreja que todos fossem zelosos e fiéis a con-gregação. A prefeitura seria beneficiada diante do batalhão de pessoas que se disporiam a ajudar os mais carentes. Os pais e nós, jovens, estaríamos seguros por estar numa festa sem brigas e bebidas alcoólicas. Felizmente, jamais será assim. Por isso, quanto mais diversos forem os motivos pelos quais as pessoas procuram o Coral, melhor...

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45

I

Viagens, festas, eventos, amigos e afins...

magine um lugar onde não se escuta o barulho de motores. Sem

buzinas ou horário de ‘rush’. Sem semáforos nem policiais de trânsito.

Imaginou?

Talvez você conheça uma porção de pequenas cidades, ou até vilare-

jos assim. Mas recentemente eu conheci a ilha de Paquetá, localizada a

apenas 15 quilômetros do centro da cidade do Rio de Janeiro.

Em minha opinião, o Rio de Janeiro é a cidade mais linda do Brasil.

Há muitos pontos turísticos e o povo carioca é de uma simpatia incom-

parável! Lembro-me de quando cheguei à cidade. Certo dia, estava indo

para o trabalho e fiquei na dúvida sobre o melhor caminho e pedi infor-

mação a um cidadão. Qual não foi minha surpresa ao ele se oferecer, por

cortesia, para entrar no carro e me conduzir até o destino. Veja bem, eu

estava esperto, o senhor que entrou em meu carro deveria ter um pouco

mais de 60 anos, não tinha nada nas mãos e estava fazendo uma cami-

nhada. Em qualquer lugar do mundo, aceitar um desconhecido em seu

carro numa cidade que você não conhece, é perigoso, sei disso. Contudo,

quero apenas demonstrar como é a índole do morador comum, do Rio

de Janeiro.

Outra vantagem, que percebo em morar aqui, é me sentir em férias

o ano inteiro. Para mim, casar uma cidade grande com muitas belezas

naturais é um privilégio raro! Aliás, este capítulo e muitas outras partes

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deste livro foram escritos sob a paisagem das praias de Copacabana e

Barra da Tijuca.

Agora, se você conhece ou não o Rio de Janeiro, vindo pra cá, não

perca o passeio para a ilha de Paquetá.

A ilha de Paquetá fica na Baia de Guanabara. Pra se chegar até lá, só

utilizando um barco. O local de embarque fica bem no centro da cidade e,

se você tiver um tempinho de sobra, aproveite pra conhecer os museus

e as igrejas que ficam nessa região próxima ao porto de embarque.

No caminho para a ilha passamos por debaixo da ponte Rio-Niterói.

Cruzar a ponte de carro é muito interessante. Ver as cidade do Rio de Ja-

neiro e Niterói sobre a Baia de Guanabara é algo estonteante. Agora, quan-

do passei por debaixo da ponte foi que percebi o grande conhecimento

desprendido para erguê-la. Não é tarefa simples manter esta ponte em

pé. São treze quilômetros de extensão, fora a largura, suspensos no ar. Pra

você ter uma ideia, o vão central está fixo sobre gigantescas boias, o que

permite um leve movimento da ponte para que ela seja capaz de sofrer

rajadas de vento sem danificar a sua estrutura. Aliás, a ponte é muito alta,

ao ponto de os carros, caminhões e ônibus parecerem pequenas miniatu-

ras, - quando vistos de baixo - como se fossem brinquedos da ‘Hot Wells’.

Passar por debaixo da ponte foi algo que me fez prender o fôlego.

Chegando à ilha, você enxerga um estacionamento de bicicletas,

táxis puxados por bicicletas; e charretes, muitas charretes. A primeira

informação que se tem, quando se chega a Paquetá é que os carros não

transitam por lá. A ilha é pequena, mas de uma beleza única. Por exem-

plo; existem muitas pedras que parecem ter sido arremessadas ao mar,

pequenas enseadas com apenas pequenos barcos de pescadores locais

ancorados, areias finas, águas calmas e muitas crianças. Com quase cin-

co mil habitantes, a ilha é um refúgio do barulho sem estar longe de uma

cidade grande.

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Você pode estar dizendo: “Réges, vamos voltar ao livro?”

Claro, mas se você não percebeu, acabei de deixar uma boa dica de

viagem para o seu Coral.

O objetivo deste capítulo é conversar um pouco sobre os motivos que

levam as pessoas a participar de um Coral. Existem algumas razões que

me induzem a pensar que seria melhor essa pessoa ficar em casa, mas

na verdade, se bem compreendido, cada motivo pode ser uma oportu-

nidade de amizade, de testemunho e até mesmo de resgate para Cristo.

Quero abordar apenas aqueles motivos mais comuns, e vamos começar

com o mais cotado, a amizade.

Amigos – A história de Rossano

Era um sábado à tarde, quente, de verão sulista. Lá estava eu, re-

começando os testes. A fila era imensa, e essa situação me empolga-

va, por isso, ‘mandava ver’ na seleção das vozes. Em alguns testes me

lembrava de meu primeiro e do quanto ele me incomodou, conforme

descrevi no primeiro capítulo. Minha intenção nunca foi de que as pes-

soas tivessem a mesma sensação ruim que um dia sentira. Contudo,

cada teste realizado é uma prova de que quanto mais direto e sincero

eu for, melhor será para quem está sendo avaliado. Talvez uma pequena

conversa antes do teste deixe a pessoa mais a vontade. Assim ela pode

ficar mais tranquila, se isso for possível. Em suma, entendi que a maneira

como o professor Vandir realizou o meu teste foi a melhor, pois colo-

cou a minha real situação vocal, com sinceridade. No final de cada teste

sempre me via na mesma situação, a pessoa saindo aliviada da ‘sessão

tortura’ e eu, na porta, chamando:

“Próximo!”

Foi num desses ‘próximo’ que conheci o Rossano. Minha primeira im-

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pressão dele foi chocante: um jovem de cabelos compridos - bem abaixo

dos ombros -, com roupas folgadas e estilo rebelde, jeans, mascando

chiclete, e olhando como se estivesse com sono ou desconfiado. Sua

primeira palavra:

“E aeeee!?”

Confesso a você que meu primeiro pensamento foi: “E aeee? Cai

fora!” Tentei ser o mais polido possível, mas acho que fui falso mesmo.

Não consegui ser cordial. Olhei para ele e respondi com um tom de

quem não esta acreditando no que vê:

“É você o próximo?”

“Sim”. - Respondeu Rossano.

“Ok! Então, vamos ao teste”.

Para mim, aquela história de conversar com a pessoa antes do teste

se tornou rapidamente em papo furado, tendo a minha frente o Ros-

sano. A primeira impressão que tive dele foi muito ruim e não consegui

lidar com ela. Em algum lugar dentro de mim, tinha certeza que aquele

perfil de cantor de rock era fachada e ele não teria condição de entrar

no Coral, reprovando já nas primeiras notas.

“Muito bem Rossano, o que você gostaria de cantar pra começarmos

o teste?” - Perguntei.

“Olha só, faz tempo que não venho à igreja então... Não sei nada

desses hinos aí”...

“Você conhece Deus é tão bom?” – Assim que falei, percebi que tinha

deixado escapar uma oportunidade de descartá-lo do Coral.

“Acho que sim, pra falar a verdade os caras me ensinaram ali fora essa

‘musiquinha’, daí pode ser...” – ele me disse com ar despreocupado.

Aquela frase me deixou muito irritado: “os caras me ensinaram”,

como se o teste fosse a coisa mais banal, como se eu fosse insignifi-

cante. O meu cérebro já havia maquinado tudo e o ‘momento da vin-

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gança’ estava apenas começando. Hoje tenho vergonha do preconceito

que tive naquela ocasião. Ser alguém que possui um conhecimento mais

profundo das verdades divinas não me permite desejar e agir mal contra

um filho de Deus, aliás, um irmão meu.

Sem dica nenhuma do momento de começar a cantar, fazendo uma

introdução esquisita, olhei pra ele esperando seu erro. Mas fui surpreen-

dido! Ele era afinado. O pior só estava começando.

Ele se manteve afinado em toda a música. Eu até tentei, mudei de

tom e depois ainda abaixei misteriosamente a tonalidade, mas ele era

afinando e minha estratégia não deu certo. Terminando o teste, conver-

sei mais um pouco.

“Muito bem Rossano, você é afinado. Onde você aprendeu a cantar?

Já estudou música?”

“Ah! Sim! Eu tenho uma banda de rock e toco guitarra”.

Isso era um ultraje! Um roqueiro?

“Por que você está aqui fazendo teste para o Coral, então?” - Per-

guntei como se não fosse possível ter uma banda de rock e condições de

cantar em um Coral.

“Meus amigos me chamaram. Quando criança era Adventista, e daí

eles falaram que o Coral ‘tava legal’, daí eu vim ver no que é que dá!” -

Respondeu como se não tivesse interesse nenhum no assunto.

“‘Tá’ bom. Vamos a segunda parte do teste, percepção e extensão”. -

Respondi contrariado com o que ouvira.

Eu teria que dar um jeito de reprová-lo aí, mas nada feito! Rossano

era um ótimo tenor e estaria sendo totalmente desonesto se o repro-

vasse. Não havia o menor motivo, e ele mesmo sabia que cantava bem.

Foi então que me ocorreu uma ideia perfeita pra tirá-lo do caminho, e

melhor, sem precisar ser o culpado.

“Rossano, olhe só. Sua voz é muito boa e você canta tenor, mas temos

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um probleminha”.

Olhei com ar de quem já ganhou e disse:

“Você precisa cortar o cabelo. O ensaio é na próxima sexta-feira e

você precisa estar com o cabelo cortado, ok?”

“ ‘Vixe’... Preciso mesmo?” - Questionou ele.

“É uma norma da igreja”. - Respondi me esquivando da responsabili-

dade, mas por dentro cantando vitória. Fui me colocando em pé, já indo

na direção da porta para chamar o próximo. Apertei a mão dele e disse

até logo.

“Próximo!”

Terminei os testes.

A semana passou e chegou o primeiro ensaio. Todos estavam eufóri-

cos, pois o Coral contava com um bom número de coristas e os planos

para o ano eram muito promissores. Enquanto as pessoas entravam

para o ensaio, fiz questão de cumprimentar o máximo possível de coris-

tas. Foi quando percebi uma pessoa diferente junto dos tenores. Rapida-

mente perguntei para a secretária.

“Escute, quem é aquele lá no meio dos tenores com a cabeça quase

raspada?”

“Não lembra?” – Ela me respondeu como se já estivesse esperando

a pergunta.

“Não!” – Respondi impaciente.

“É o Rossano, só que ele cortou o cabelo. Eu nem acredito que ele fez

isso. Na verdade, ninguém sabe por que ele está aqui, já que está desli-

gado das coisas da igreja”.

Mas eu soube. Deus tocara o seu coração, e ele estava atendendo a

um convite divino.

Confesso mais uma vez, que tenho aversão de mim mesmo ao lem-

brar minha atitude com Rossano. Ele nem imagina que isso aconteceu.

Page 53: Coral é Coisa Séria

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Possivelmente, deverá ficar surpreso ao ler parte de sua história pelos

meus olhos. Contudo, Deus estava trabalhando comigo também, pois

durante toda a minha vida Ele tem me quebrado e mostrado que o seu

amor não condena e nem separa, simplesmente ama. A Bíblia fala que

se eu digo ‘estou na luz e não amo meu irmão, estou, na verdade, em

trevas’ (I João 2.9-11). Só a Deus compete julgar.

Alguns meses juntos no Coral fez com que, eu e Rossano, nos tornás-

semos bons amigos. Muitas vezes conversamos sobre música e ele me

contou algumas coisas de sua vida pessoal. Nunca esqueci uma vez em

que marcamos um pequeno ensaio em meu apartamento, pois sua gui-

tarra e violão que antes tocavam música rock, agora tocavam para o

Coral. Durante esse ensaio, ele me disse que nunca se esquecera do meu

pedido para que cortasse o cabelo como condição de ingresso no Coral.

Porém não fora eu que o motivara a fazer, mas Deus. Em seu coração,

Rossano sabia que não bastava aceitar o convite e continuar como esta-

va. Por isso, gradativamente, Deus o transformou e foi dando instruções

de como ser uma nova criatura. E por mais ‘doidas’ e difíceis que fossem

as mudanças, ele estava atendendo e seguindo.

De modo algum quero dizer que cabelos longos refletem alguma

coisa negativa ou falha no caráter de alguém. Tenho minhas convicções

sobre o assunto. Porém, era regra para entrar no Coral, e ainda se cos-

tuma pedir aos membros da IASD para cortar o cabelo, assim como em

algumas áreas profissionais exige-se certas posturas, principalmente

naquelas onde a seriedade na aparência tem muito valor.

Três anos mais tarde, Rossano pôde dar um grande testemunho jun-

tamente com o Coral. O Jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS), estava

preparando uma matéria que tratava dos jovens e a religião. O Coral Jo-

vem de Novo Hamburgo foi escolhido como uma das fontes de pesquisa

para o argumento da matéria.

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A jornalista responsável acompanhou o Coral em uma excursão para

a cidade de Caxias do Sul e ficou impressionada com a nossa alegria e

resolveu entrevistar várias pessoas do grupo, entre elas, o Rossano.

A matéria saiu na edição dominical de 03 de janeiro de 1999. Nela

havia algumas fotos, e uma delas era do Rossano segurando uma Bíblia.

Para mim, é emocionante ler sua entrevista e ela servirá de testemunho

também para este livro. Vou transcrevê-la integralmente para você:

“Quem conhece Rossano de vista não imagina as revoluções que a

religião vem causando em sua vida. Tímido, ele fala pouco, mas observa

bastante. Toda essa sensibilidade lhe rendeu uma descoberta que mu-

dou por completo sua visão de mundo. Os dias que antes eram só para

diversão são hoje dias de muitas outras atividades.

- Eu passava a semana inteira ocioso. Só pensava em festa e saía toda

a noite para beber e gastar dinheiro. Nossa! Eu gastava cerca de R$ 50,00

numa noite. Hoje eu penso no futuro – conta.

Estudante de comércio exterior na Unissinos, Rossano Torman, 20

anos, começou a frequentar o grupo da juventude Adventista por mera

curiosidade. Mesmo diante das orientações baseadas em princípios

Bíblicos, que podem até parecerem rígidas para quem está de fora, não

desanimou. Os jovens adventistas devem guardar os sábados para a

adoração a Deus. Nada de estudo, trabalho ou festas. As meninas são

aconselhadas a não usarem joias, e nem maquiagem. Os meninos pro-

curam não deixar os cabelos compridos. Tanto era a alegria da garotada

que ele logo se enturmou e descobriu aquilo que tanto necessitava: ami-

zade. Com o tempo, o desejo de conviver com esses meninos e meninas

foi deixando-o mais perto de quem a religião tanto falava: Deus.

- Deus pra mim, agora, é todo o motivo da minha felicidade – diz, com

um enorme sorriso no rosto.

Um dia desses, Rossano encontrou os antigos amigos e aceitou as-

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sistir uma partida de futebol na casa de um deles. Não imaginava a dis-

tância que os separava. Não tinham mais o que conversar. Ao ver a caixa

de cerveja e os cigarros de maconha em cima da mesa, inventou uma

desculpa e se mandou.

- Eles já estavam me tirando para careta – queixa-se.

Felizmente a relação com os pais melhorou muito. Apesar de descren-

ça inicial na perseverança do filho, eles o apoiaram.

Rossano é tenor no Coral Jovem Adventista de Novo Hamburgo e or-

gulha-se disto. O canto foi uma paixão que adquiriu no coral. Foi através

das apresentações que começou a conviver mais com os jovens cantores.

Fazer jantares na casa de alguém e jogar Imagem e Ação até tarde foram

alegrias simples proporcionadas pelo grupo e que o deixam com os olhos

marejados só de lembrar.

(Edição do dia 03 de janeiro de 1999).

Rossano é um forte exemplo da influência de um Coral na vida dos

jovens, e uma lição para que busquemos incessantemente por amigos

que estão fora da igreja.

Contudo, não podemos sair por aí buscando pessoas para o Coral

como se fosse uma ‘sangria desatada’. É necessário que se fale de todas

as responsabilidades para com a igreja, e uma conversa aberta servirá

de divisor entre os que sinceramente querem se voltar a Deus, apoiados

pelo Coral, e os que estão querendo somente passar um tempo.

No Manual da Igreja Adventista do 7° Dia, na página 73, encontramos

um comentário importante ao qual à liderança da igreja precisa estar

atenta:

“... Os membros do coro ocupam uma posição relevante (ou seja, sa-

liente, proeminente, ressaltada) nos cultos da igreja. A capacidade de

cantar é apenas uma das qualificações que devem possuir. Devem ser

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membros da igreja, ou da Escola Sabatina ou da Sociedade dos Jovens

Adventistas e, em sua aparência pessoal e em sua maneira de vestir e

decoro. Pessoas de consagração duvidosa ou de caráter questionável,

ou as que não se vistam convenientemente, não devem ter permissão

para participar das atividades musicais dos cultos” (grifo meu).

Para mim, é muito linda a história do Rossano. Note que ele não es-

colheu somente cantar no Coral, mas cantar para Jesus também. Ele

aceitou as orientações que foram desde a sua aparência pessoal até a

sua responsabilidade espiritual.

Não podemos esquecer que assim como o Espírito Santo moveu o

coração de um filho para que voltasse ao lar, o arqui-inimigo também

usará pessoas para tirar da igreja e do Coral, jovens que são tementes a

Deus. A Bíblia aconselha:

“Filho meu, se os pecadores querem seduzir-te, não o consintas. (...)

Porque os seus pés correm para o mal e se apressam a derramar sangue”

(Provérbios 1.10 e 16).

Em The Youth’s Instructor, 5 de Julho de 1894, o Espírito de Profecia

mais uma vez adverte: “Não é seguro para o professo cristão associar-se

aos descuidosos e negligentes; pois fácil é vir e considerar as coisas com

eles, e perder todo o senso do que significa ser seguidor de Jesus. Guar-

dem-se particularmente neste ponto – não ser influenciados e desviados

por aqueles que, vocês tem razão de conhecer por suas palavras e obras,

não estão em ligação com Deus”.

Um constante alerta. Um delicado dom. A amizade nas mãos do

inimigo será o início de um trágico tempo de escuridão. Solidão e de-

pressão são os conselheiros desse tipo de convívio. Porém, a amizade

nas mãos de Deus é ponto de união. Um espírito de simpatia e alegria

dominará os ensaios e apresentações e muitas pessoas sentirão vontade

de participar do convívio social desse grupo que atrai não somente pela

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54 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 55

música, mas também pelo “amor de Cristo que a cada dia mais brilha, e

chegará ao dia em que será dia perfeito” (I Pedro 1.19).

Com isso, termino este tópico dizendo que, a amizade dentro do Co-

ral pode ser a mola propulsora do trabalho missionário. “Os que experi-

mentam o amor de Cristo não podem ficar ociosos na vinha do mestre.

Verão oportunidades para ajudar aos outros a se aproximarem de Cristo.

Participando do amor de Cristo, trabalharão pela salvação de outros.

Que toda a pessoa imite o Modelo, e se tornem todos missionários no

mais alto sentido, ganhando pessoas para Jesus” (The Youth’s Instructor,

20 de Outubro de 1892).

“Vós sois minhas testemunhas” (Isaías 43.10).

Viagens, festas, eventos...

Na introdução deste capítulo, apresentei a ilha de Paquetá como

sendo um lugar diferente no Rio de Janeiro, onde você pode levar o seu

Coral. Durante o período em que trabalhei no UNASP c2 como regente

do Coral Jovem, tive o privilégio de realizar uma viagem para a região sul

do país, no mês de junho, onde faz muito frio nessa época.

Nossa primeira parada foi na cidade de Curitiba (PR). E me recordo

de uma corista que veio de Rondônia – estado que tem como caracterís-

tica climática o oposto da região sul – e teve dificuldade de encarar as

constantes chuvas e frio, pois nunca enfrentara temperaturas tão baixas

em sua vida.

Eu acho fascinante experimentar sensações, ir a lugares diferentes,

provar sabores novos! Apesar de este mundo ser contaminado pelo

pecado, ele ainda possui coisas muito bonitas! Logo após estarmos em

Curitiba, fomos para Porto Alegre, serra gaúcha e por fim Florianópolis.

Dentre as coisas mais divertidas que existem num Coral, as viagens e

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56 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 57

passeios são as mais empolgantes.

Em 1999, o Coral Jovem de Novo Hamburgo esteve em Jurerê, Flo-

rianópolis (SC), para participar do 1º Campori de jovens da União Sul

Brasileira, cantando. Foi uma alegria só do começo ao fim!

Desse evento, temos um fato muito inspirador da manifestação do

Espírito Santo. No sábado à tarde, o Coral foi convidado a participar

dos projetos comunitários do evento com uma apresentação no Shop-

ping Beira-Mar. Enquanto nos preparávamos para o miniconcerto, uma

das coristas estava se arrumando no banheiro – pelo jeito as mulheres

nunca se cansarão do espelho; e dentro do banheiro dava pra escutar o

Coral aquecendo a voz e passando o som. - Ao lado da corista havia uma

mulher escutando quieta a música. De repente, ela começou a pergun-

tar coisas sobre o Coral e sobre a letra das canções, sem mais nem me-

nos a emoção daquela mulher se manifestou em forma de lágrimas. Ela

questionou sobre quem e de onde era o Coral, e qual era o objetivo da

mensagem que estávamos cantando. Instantes depois, a corista levou-a

para junto do Coral e apresentou a nova amiga ao Pastor Eliezer Vargas,

que mais tarde iniciou uma série de estudos bíblicos com ela.

Perceba; de um evento podem surgir grandes experiências espirituais

que fortalecerão todo o grupo.

Lembro ainda de outra viagem que fiz com o Coral de Novo Hambur-

go, ao país vizinho, Uruguai. Foi maravilhoso conhecer outra cultura e

ver como vivem nossos irmãos de lá. Foi marcante para mim, e creio que

para o Coral também, ver a empolgação e alegria com que os alunos do

IAU – Instituto Adventista del Uruguay – aplaudiram e se emocionaram

com as músicas.

Recentemente, fui surpreendido na festa que o Coral Jovem do Rio

faz para recepcionar os novatos no início do ano. A alegria, as brincadei-

ras, o Karaokê, o jantar vegetariano, as imitações, enfim... Muitas coisas

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56 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 57

deliciosas e divertidas. Eu era um dos novatos... E no começo da festa já

me senti muito à vontade.

Preciso abrir um parêntese quanto a este hábito do Coral Jovem do

Rio, as festas e eventos sociais que eles realizam são excelentes! Um

Coral com atividades sociais intensas proporciona grandes resultados

que se manifestam nas apresentações, pois, normalmente não nos sen-

timos inibidos em cantar ao lado de alguém que temos proximidade. O

clima de descontração e naturalidade para cantar, aumenta.

É certo que muitos entram no Coral por causa dessas atividades. En-

tão, é preciso viver e sentir as experiências de viagens, eventos, festas e

muito mais, com Cristo e com nossos colegas de coro.

O Maestro

Quando pensei neste item, não fazia ideia de que tantas pessoas

prestavam atenção a ele. Talvez, por ser músico e apaixonado por minha

profissão, não tenha percebido isso acontecer comigo, mas conversando

com alguns amigos eles me contaram de coristas que estavam dispostos

a tudo para se aproximar de um Maestro e poder dizer: “canto em tal

Coral, o meu Maestro é ‘fulano de tal’”.

Já mencionei que trabalhei no UNASP c2, e vou contar mais uma ex-

periência desse período. Estudei naquela instituição em 1993, e tenho

ótimas lembranças da Universidade. Entretanto, naquela época a músi-

ca ainda estava engatinhando, assim como toda a instituição. Porém,

no ano de 2000 tudo já era diferente, inclusive no aspecto musical. Uma

das diferenças era que o Maestro Lineu Soares já estava trabalhando no

UNASP c2. Como sabemos, ele é conhecido como compositor e produ-

tor. Para minha surpresa, em 2000, tive o privilégio de ser convidado

para reger o Coral Jovem. Vi que alguns alunos do Ensino Médio esta-

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58 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 59

vam na expectativa de poder participar do Coral regido pelo Lineu; o

Coral para os universitários.

Admito que fiquei um pouco frustrado. No fundo, eu gostaria de ter

recebido o mesmo interesse pelo Coral que iria reger. Mas eu sabia que,

o Lineu Soares é um músico de altíssima qualidade e competência. Eu

mesmo, se fosse aluno, teria me esforçado ao máximo para participar

do seu Coral.

Logicamente, participar de um Coral com um Maestro de maior

qualificação e competência é muito interessante. Se alguém escolhe um

Coral por esse motivo, deve pensar em aprender ao máximo. ‘Sugar’

cada palavra dita para o crescimento vocal e também musical. Aprender

como dominar um grupo. Como resolver situações difíceis e quais as

características positivas para auxiliar o Maestro e seus colegas de Coral.

Pode acontecer de você ir para algum lugar e lá precisarem de ajuda

na formação, ou melhoria de um Coral. Assim, você terá experiência e

dicas para dar, contribuindo de forma significativa. Agora, cuidado! Essa

atitude pode estar ligada a vaidade, e tal característica é egocentrismo.

Com o tempo, você poderá estar vivendo em um ambiente falso, ou

ganhando um rótulo de ser exibido. É sempre bom refletir sobre nossas

escolhas para que possamos tirar o melhor de cada momento e em hora

oportuna estar à disposição para partilhar o que se aprendeu.

Gravações – CD, DVD...

Está na moda gravar CD. E agora, os DVD’s. Sabe se lá, onde vamos

parar quanto à forma de registrar música nos dias tecnológicos em que

vivemos... Muitos se incomodam quando alguém aparece com este as-

sunto. Afinal, o que há de especial em gravar? Muita coisa. Como esta-

mos falando mais especificamente de Coral de igreja, sem sombra de

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58 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 59

dúvida, gravar significa testemunhar.

Se eu fosse parar para contar relatos de pessoas que foram abençoa-

das por escutar alguma música gravada, o número de folhas deste livro

seria multiplicado grandemente. A força da música vai além daquilo que

podemos mensurar, e aliadas ao rádio e a TV rompem fronteiras!

Só para ilustrar, recebi recentemente uma mensagem de um irmão

do Peru. Ele foi motivado a aceitar Jesus, pela influência de uma com-

posição que Deus me deu. Eu jamais sonhei que teria algum dia, uma

música minha sendo cantada ou tocada, em outro país. No entanto, um

CD não se resume a apenas isso. Pode se ganhar muito em relaciona-

mento com músicos, crescimento técnico, unidade, repertório, conheci-

mento musical e, principalmente, divulgação da filosofia do Coral.

Em 1999, o Coral de Novo Hamburgo gravou o seu primeiro CD. Te-

nho vivo na memória os ensaios extras que marcamos para as terças,

sextas, sábados e alguns domingos pela manhã. Os ensaios estavam

sempre cheios. Talvez você questione: “por quê? Poderia um Coral can-

tar para Deus com interesse apenas na gravação de um CD?” Vamos

pensar nestas questões olhando outros aspectos.

O período de gravação do CD é um bom momento para a direção e o

Maestro desenvolverem o espírito de grupo e aumentar a qualidade do

Coral. É uma ótima ocasião para aumentar o número de ensaios, cobrar

pontualidade e dedicação. Se houver sabedoria, cada estágio do proces-

so de gravação será um elemento de união para o grupo e superação de

desafios. Os primeiros ensaios com o playback, as primeiras horas dentro

de estúdio gravando o vocal... Com aquelas inúmeras repetições, do tipo;

“alguém respirou na hora errada”. Até a primeira música estar gravada e

a empolgação contagiante de cada corista com o resultado final.

Por vezes, se tem problemas com alguém que vive achando que pode-

ria ser diferente, ou que, seria melhor do outro jeito; o arranjo não ficou

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60 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 61

bom. Entretanto, não se preocupe com isso, sempre haverá alguém para

criticar o seu trabalho. Assim como sempre existiu o ‘sabe tudo’. Há algo

que poderá ajudar no processo de gravação de um CD; se você não é

produtor ou arranjador, peça ajuda a um. Diminuirá em muito a sua dor

de cabeça e suas ideias serão melhoradas. Pela experiência que esse

profissional tem, ele só enriquecerá o seu projeto.

Ao se fazer um projeto desses, um grande problema é o custo. Tive

experiências dolorosas com patrocinadores e colaboradores que se

ausentaram no momento prometido. Muito cuidado! Planeje-se, or-

ganize estratégias para buscar os fundos necessários para uma grava-

ção de qualidade e não permita que a falta de planejamento financeiro

transforme um projeto de bênçãos, em uma dor de cabeça contínua.

O Coral Jovem do Rio também adotou uma estratégia interessante

na confecção do seu primeiro DVD – Sonhos. Com o aumento maciço

no número de ensaios e tendo a obrigação de saber todas as músicas

na ponta da língua, porque não dá pra ‘voltar’ uma imagem errada, foi

adotado um percentual de presença obrigatório. Lembro-me de que o

Coral tinha no começo do ano 120 coristas, mas somente 78 alcançaram

o mínimo de presença nos ensaios para participar da gravação do DVD.

Também a unidade que se formou, causada pelo excesso de reuniões

e pela grandiosidade que significou este projeto, foi extremamente po-

sitiva. Contudo, não faltaram as desavenças e queixas durante todo o

processo. E é importante que isso aconteça, porque talvez, em alguma

dessas queixas se perceba um erro que será solucionado há seu tempo.

Tudo isso é normal. E se as críticas forem feitas com ética, tornam-se até

necessárias.

Se você quer deixar o trabalho de seu grupo registrado, seja auda-

cioso! Olhe além! Planeje e execute o projeto com perfeição nas datas e

nos prazos. Meu desejo é que Deus abençoe o seu projeto.

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Autoridade, vitrines e egos

Agora o assunto vai ficar pesado.

Existem pessoas que tem um verdadeiro fascínio por liderança, ou-

tras querem apenas o ‘poder’. Explico a minha afirmação.

O verdadeiro líder é aquele que sabe motivar as pessoas. É aquele

que orienta. Une. Vê o grupo. O verdadeiro líder acha difícil ser líder. Erra

e assume. O nome dele vem por último, contudo é o mais lembrado.

Temos, de maneira antagônica, outro tipo de líder, onde a bandeira

identifica claramente todas as atitudes a serem seguidas. Ele está certo

sempre. Seus objetivos são mais nobres do que as pessoas. É eficaz, mas

não funciona muito bem num Coral.

Nos diferentes corais em que trabalhei, a cada ano alguns membros

da liderança eram trocados. E isso sempre é positivo, apesar de mudan-

ças gerarem atrito. Os anos mais positivos foram aqueles onde o líder

tinha a visão do grupo. É preciso procurar por líderes assim.

Nas inúmeras formações de diretoria que pude acompanhar, a que

melhor funciona é aquela que o corista escolhe. Aconteceu comigo.

Talvez, por falta de ambiente em outras áreas da igreja, um grupo de

pessoas que nunca vestiu a camisa do Coral, resolveu entrar na diretoria.

A opinião do Coral era maciça para que não se permitisse a participação

dessas pessoas na direção. Sabendo disso, essas pessoas mudaram o

que sempre fora costume naquele Coral, onde o diretor e demais mem-

bros da diretoria eram indicados pelos coristas e a comissão da igreja

fazia a devida análise para aprovar ou não.

É incrível onde pode chegar o ser humano para se sentir melhor

que os outros. Houve manipulação da comissão da igreja, e a opinião

dos coristas foi rejeitada. O desconforto foi tão grande do Coral com

a sua igreja, que por um bom tempo não houve um clima saudável en-

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tre irmãos. Eu também não consegui suportar o transtorno que essa di-

vergência causou dentro do Coral, e por consequência, me afastei do

mesmo. Quando essas pessoas perceberam o que fizeram, também não

assumiram o Coral, e tudo ficou largado a mercê de quem quisesse. Por

que isso? Por uma simples questão de ser alguém o diretor, e não estar

numa diretoria.

Mas Deus é incrível! Se Ele quer alguma coisa, não há homem que o

impeça. Da mesma forma é quando Ele não quer. Este Coral permanece

firme com seu trabalho. E até onde eu saiba tais pessoas nunca entra-

ram na diretoria.

Outro aspecto que quero abordar é que nunca haverá unidade numa

diretoria. Embora seja ambivalente, essa falta de unidade é saudável. Con-

tudo, quando você tem uma diretoria que trabalha todo o tempo em lado

oposto ao do Coral, o desgaste é imenso e poderá ser destruidor também.

Veja; o líder não trabalha a partir das suas dificuldades, e sim, pelas

suas qualidades em agregar as pessoas e ser audacioso com o Coral.

Uma boa dica pra saber quem no seu Coral tem esse perfil é lembrar o

que Lao Tsé disse sobre liderança:

"O sábio não se exibe, e vejam como é notado. Renuncia a si mesmo

e jamais será esquecido”.

Então pense: o seu líder, ou você, é mais falado ou mais lembrado?

Não somente cantar

O primeiro, e maior motivo que leva alguém a escolher um Coral é

o canto. Na verdade, o canto não é opção. Coral vive de cantar. Atual-

mente, tenho pensado em expandir a parte artística do Coral. Ir além do

canto. Estou desenvolvendo duas ideias e quero partilhá-las como uma

sugestão para você.

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62 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 63

A primeira é desenvolver um Ministério de louvor durante o recital.

Misturar o canto técnico com o congregacional. É interessante ver a par-

ticipação efetiva do público. Quem sai ganhado é o Coral pela aproxima-

ção da plateia com o artista.

A segunda é misturar arte cênica com o canto. Me chamou atenção

uma peça na internet que era executada em cima de uma canção. Minha

esposa também assistiu e sugeriu: “Por que não fazer uma versão para o

Coral cantar e acharmos entre os coristas, pessoas que gostem de interpre-

tar? Ao invés de usar um playback, cantaríamos e encenaríamos tudo!”

Fizemos e deu certo. Ou melhor, ficou muito bom!

Tenho uma composição que compara a nossa vida com uma tela de

pintura. Penso em encontrar um artista plástico bom, para que, enquan-

to a música estiver sendo executada, o rosto de Jesus seja pintado. Ter-

minada a música, a tela estará pronta. Creio que é importante ter essa

visão de crescimento artístico.

Desenvolva os dons

Existem mais motivos que levam as pessoas a cantar em corais. Bom

seria para o Maestro que todos fossem músicos. Bom seria para o Pastor

que todos fossem missionários. Seria ótimo para a igreja que todos fos-

sem zelosos e fiéis a congregação. A prefeitura seria beneficiada diante

do batalhão de pessoas que se dispõem a ajudar os mais carentes. Os

pais e nós jovens; por pouco tempo mais posso ainda me incluir nessa

categoria; estaríamos seguros por estar numa festa sem brigas e bebidas

alcoólicas. Felizmente, jamais será assim.

Quanto mais diversos forem os motivos porque as pessoas procuram

o Coral, melhor. É indispensável, no entanto, que se procurem as dife-

rentes áreas e os diferentes dons para ampliar a extensão de alcance do

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64 I Coral é Coisa Séria I

seu projeto. Não limite seu Coral a música. Evite focalizar uma estratégia

somente. Desenvolva os dons. Seja uma luz e não a esconda dentro de

uma igreja, coloque-a no alto do monte. Que Deus dê sabedoria para

você reger a sinfonia de talentos que estão à disposição em seu Coral.

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Oito ensaios para saber uma música é pouco? Seria o ner-vosismo, ou a expectativa o causador do esquecimento da letra e da música? O que eu, como Maestro, poderia fazer nos ensaios e durante a apresentação para ter resultados mais eficientes? Porque os ensaios são frustrantes mas tudo dá certo na apresentação? Qual o problema com o meu ensaio? Como ensaiar um Coral?

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69

A

O Ensaio

expectativa só era menor que o medo. Seria o 1º Festival de Corais

das Escolas Adventistas do Rio Grande do Sul, e eu estaria participando

dele como regente do recém formado Coral da Escola Adventista de Ca-

nudos. Escola esta, localizada na cidade de Novo Hamburgo.

O Centro de Convenções da PUC em Porto Alegre era o palco do

evento. Uma emissora de TV local transmitiria ‘flashes’ da programa-

ção. Tudo parecia muito grande. Havia um grande número de corais

representando suas escolas e eu estava preocupadíssimo com o meu.

Havíamos trocado a música que apresentaríamos, apenas duas sema-

nas antes. Tivemos oito ensaios e isto me pareceu pouco. Havia coristas

manifestando pequenos erros frequentemente, ou melhor, esquecimen-

tos de letra, harmonia e etc.

Para amenizar o meu excesso de preocupação, reuni o Coral atrás do

ônibus e dei uma ‘passadinha’ na canção.

“‘Vixe’! A gente ensaia, ensaia e ensaia e parece que vocês não apren-

dem? Sempre erram na mesma hora e no mesmo lugar!” – explodi ir-

ritado.

Mas não sei porquê, nessas horas de maior irritação aparecem aque-

las criançinhas obedientes da pré-escola com um sorriso lindo e digno

de pena, e puxam você pela calça, perguntando:

“Tio, eu posso ir ao banheiro?”

Que raiva! Eu estava a ponto de estourar de tanta ansiedade!

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Tudo bem que era música nova, mas havíamos ensaiado, estávamos

exaustos de repetir e ainda assim alguns estavam mais perdidos do que

‘ratos em queijaria’.

Chegou a nossa vez de cantar.

O Coral subiu no palco. Cantou sem erros. Tive o privilégio de colher

os frutos do esforço através do reconhecimento de colegas e demais

profissionais que estavam no evento, mas... Eu estava extenuado.

O desgaste nas duas semanas que anteviram o evento fora muito

grande, principalmente os instantes antes da programação. Isso me fez

refletir sobre o problema. Surgiram perguntas que precisavam urgente

de respostas: “será que eles não gostaram da música? Porque não de-

coraram? Porque demoraram a aprender? Oito ensaios para saber uma

música seria pouco? Seria o nervosismo, ou a expectativa o causador

do esquecimento? O que eu, como Maestro, poderia fazer nos ensaios e

durante a apresentação para ter resultados mais eficientes? Porque deu

certo na apresentação? Qual o problema com o meu ensaio?”

Na verdade, a pergunta que resumiria todas é a seguinte: “como en-

saiar um Coral?”

Não foi fácil para mim, responder a esta pergunta. Este assunto é

importantíssimo para os músicos; especialmente os regentes; e existe

pouco material com comentários ou estudos. Cheguei à conclusão de

que ainda existe muita coisa a se aprender sobre como ensaiar.

Então, tive que percorrer um caminho extenso, onde a leitura me

roubou um longo tempo, todavia compensador. Nessa ‘viagem’ em

busca de respostas, naveguei por ‘águas diferentes da música’ que, aju-

daram muito na elaboração dos ensaios. Adentrei por conhecimentos

tais como neurofisiologia, pedagogia, gestão de pessoas e propaganda.

À medida que ia aprendendo alguns conceitos básicos dessas áreas, tra-

duzia-os para a música e tentava aplicá-los aos ensaios.

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Admito que as sequências de frustrações foram muitas, durante esse

processo. No entanto, percebi coisas positivas, pequenos detalhes que

foram se somando e mostrando como ensinar um Coral a cantar com o

mínimo possível de estresse e o máximo de competência.

Quero compartilhar minhas descobertas com você. Porém, tome cui-

dado ao ler sobre estas pequenas dicas, todas elas precisam ser inseri-

das dentro da realidade do Coral e do regente. Saber ensinar nos ensaios

não significa saber fazer um Coral cantar ou dar qualidade musical. São

pequenas ferramentas para serem utilizadas na memorização e no en-

volvimento racional e emocional do corista. Qualidade e repertório são

assuntos para os próximos capítulos.

Nas próximas linhas, quero primeiramente, apresentar-lhe alguns

conhecimentos retirados da neurofisiologia. Gostaria de falar com você

sobre a memória, de como aprendemos e algumas curiosidades de como

funciona o nosso cérebro.

Neurofisiologia

“O pensamento é o resultado da estimulação de diferentes partes do

córtex ao mesmo tempo”. 1

Minha pesquisa teve início baseando-se na ideia de que o pensamen-

to deveria ocorrer de maneira frenética durante o ensaio. Porém, mais

tarde, analisando o córtex, descobri que a memória é mais importante

e que esta se assemelha em muito com o pensamento. De qualquer for-

ma, tanto o pensamento como a memorização das músicas, ocorrem no

córtex.

Para ser mais prático, podemos descrever que o córtex é ‘constituído

pelas camadas de neurônios situados imediatamente abaixo do osso do

crânio, formando um arco que sai logo por trás da testa, abrange o topo

e os lados, e termina onde a cabeça e a nuca se juntam, conforme você

1  Oliviera, Maria Aparecida Domingues de. Neurofisiologia do Comportamento.  Pág. 102; Editora da Ulbra; 1999.

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pode ver na ilustração:

O córtex constitui cerca de 80% do cérebro humano e possui regiões

especializadas para determinadas funções, como a associação de pala-

vras com objetos ou a formação de relações e a reflexão sobre elas’2.

É com uma das regiões do córtex – o córtex auditivo – que ouvimos e

interpretamos os diferentes sons e processos de comunicação, como a

música.

Outra estrutura importantíssima que precisamos conhecer são os

neurônios, já que são eles que ‘trabalham’. Eles possuem prolongamen-

tos, às vezes, com vários centímetros, chamados de Dendritos, como

você pode ver:

2 Ratey, Dr. John J. O Cérebro. Um Guia Para o Usuário. Pág.32 e 33; Editora Objetiva; 2001.

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São através dos Dendritos que se formam as redes de comunica-

ções com outros neurônios. A transferência de informação é feita por

substâncias químicas produzidas nas pontas (terminações) dos axônios,

denominadas de Neurotransmissores. Na verdade, a comunicação em

si acontece ai, onde um axônio entra em comunicação (neurotransmis-

sores) com Dendritos de outro axônio, e a isso chamamos de Sinapse. É

possível aos neurônios conseguirem se comunicar com muitos outros

neurônios, às vezes 10.000 (dez mil) a 100.000 (cem mil)3.

Para nós é importantíssima essa comunicação entre os neurônios,

pois na prática isso é o nosso pensamento, a nossa memória, a nossa

existência, pois ‘se penso logo existo’, ou seja, se há Sinapse, logo tenho

noção do que está acontecendo comigo e a minha volta.

Então, quando um neurônio do córtex auditivo é acionado ele precisa

saber o que vem a significar essa informação. Para tanto, procura outros

neurônios e pergunta se ‘alguém’ reconhece – Sinapse. Sendo a reposta

positiva; a interpretação é feita. Às vezes, vários neurônios respondem

a pergunta e isso geralmente acontece quando a pessoa detém muito

conhecimento, seja em área específica ou não, podendo assim dar vá-

rios significados a primeira informação.

É dessa maneira que se diferem as pessoas que leem, pesquisam e

estudam, pois há uma gama de informações registradas entre essa rede

de neurônios. É assim que o indivíduo é capaz de produzir várias respos-

tas, e essas respostas podem ser chamadas ou percebidas na forma de

pensamentos, ideias, criações, planejamento, inteligência e sucesso.

Achei muito interessante quando descobri que com a idade e a busca

do conhecimento, o córtex vai ficando mais espesso pela formação de

novas estruturas nessa rede de comunicações, e o contrário acontece

quando ele não é utilizado; o córtex se atrofia.

Bem, tudo isso é muito interessante e importante, mas não nos servirá

3 Izquierdo, Ivan. Memória. Págs. 12 à 15; Editora Artmed; 2002.

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em nada se não soubermos a respeito da memória. A definição mais ex-

plicativa e sucinta que achei, está no livro Memória, do Dr. Iván Izquierdo.

Veja só:

“Memória é a aquisição, a formação, a conservação e a evocação

de informações. A aquisição é também chamada de aprendizagem. Só

se grava aquilo que for aprendido. A evocação é também chamada de

recordação, lembrança e recuperação. Só lembramos aquilo que grava-

mos, aquilo que foi aprendido” (grifo meu).

“Podemos afirmar que somos aquilo que recordamos”.

Destaco também outra frase interessante para você pensar e pesqui-

sar mais tarde:

“Também podemos dizer que somos aquilo que esquecemos”.

Existem vários tipos de memória. Porém, quero destacar somente

aquelas que envolvem uma função que está relacionada com o nosso

assunto, e a primeira delas é a Memória do Trabalho.

A Memória do Trabalho é diferente das demais porque não deixa tra-

ços e ‘não produz arquivos’. Ela é breve e fugaz, serve para ‘gerenciar a

realidade’. Também avalia se vale a pena ou não registrar um evento,

ou se este já ocorreu4. Ela é imediata. Dura de poucos segundos a no

máximo três minutos. A principal função é analisar as informações que

chegam ao cérebro e compará-las com as demais memórias, Declarati-

vas, Procedurais, as de Curta e Longa duração5.

Um exemplo interessante é quando um regente mostra uma nova

frase de aquecimento vocal que você nunca escutou antes, e você

repete. Essa capacidade de reagir ao novo conhecimento é função da

Memória do Trabalho. O que os regentes esperam é que você escolha

armazenar a informação em uma memória mais longa.

Outro tipo de memória é a Memória Declarativa que serve para re-

gistrar fatos, eventos ou conhecimento. É Declarativa porque podemos

4 Izquierdo, Ivan. Memória.Págs. 19; Editora Artmed; 2002.5 Izquierdo, Ivan. Memória.Págs. 51; Editora Artmed; 2002.

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declarar e relatar algo. Elas podem ser Memórias Declarativas Episódicas

– referentes a eventos como um recital do Coral – ou Memórias Decla-

rativas Semânticas – referentes a conhecimentos gerais. Ainda existem

as Memórias Procedurais, ou seja, a memória dos procedimentos. En-

volvem as memórias de capacidades ou habilidades motoras ou senso-

riais. É o que chamamos de hábito. Os exemplos são: andar de bicicleta,

nadar, ou tocar piano6.

Em resumo, a Memória de Trabalho é ‘on-line’. Usa poucas vias ner-

vosas e varia de instante em instante. Já as memórias Declarativas e Pro-

cedurais envolvem mais as emoções, ansiedade e estado de ânimo.

Um recurso muito importante que o corista pode fazer uso é a memória

‘priming’, a memória que trabalha por meio de ‘dicas’. Ela é muito usada

pelos músicos. Acontece quando um fragmento de uma imagem, de uma

poesia, de gestos, de cheiro, de som, nos faz lembrar toda uma obra7.

Um último assunto sobre memória que temos de tratar são as

memórias de curta e longa duração que, pelos seus nomes já pode-

mos deduzir como funcionam. A memória denominada de curta dura-

ção estende-se desde os primeiros segundos ou minutos seguintes ao

aprendizado, entre 3 e 6 horas; quer dizer, o tempo que a memória de

longa duração leva para ser efetivamente construída8. Ou seja, ela é o

abrigo temporário, a cópia, para que haja condições de reposta do indi-

víduo enquanto a memória de longa duração se forma. A memória de

longa duração se assemelha em muito com a de curta duração, porém,

hoje podemos afirmar que as duas não são iguais, ocorrendo de modo

paralelo e independente. A memória de longa duração pode levar horas,

dias, meses e até anos para ser esquecida, porém se nessa memória se

formar um ‘enagrama’9 , que é a modificação permanente de uma estru-

6 Izquierdo, Ivan. Memória.Págs. 22 à 24; Editora Artmed; 2002.7 Izquierdo, Ivan. Memória.Págs. 25; Editora Artmed; 2002.8 Izquierdo, Ivan. Memória.Págs. 53; Editora Artmed; 2002.9  Oliviera, Maria Aparecida Domingues de. Neurofisiologia do Comportamento.  Pág. 124 e 125; Editora da Ulbra; 1999.

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tura dos neurônios, essa consolidação será para sempre.

Digamos que as memórias de um trauma, um acidente, podem deixar

marcas que nunca mais sairão, apenas lá no céu, quando Cristo enxugará

todas as nossas lágrimas, ou poderíamos dizer, apagará todos os nossos

traumas. Mas veja, Cristo não mencionou nada sobre apagar as nossas

boas recordações, como o primeiro beijo, o nascimento de um filho e

outras marcas gostosas de nossa vida.

Estudos psicológicos também demonstram que a repetição da mesma

informação, como por exemplo, o processo educativo; acelera e poten-

cializa a transformação da memória de curta para a memória de longa

duração10. As experiências indicam que a repetição por 5 a 10 minutos

do mesmo tipo de informação geram uma consolidação mínima. Se a

repetição acontecer durante uma hora ou mais ela evolui para a con-

solidação máxima. Sendo assim, nossa memória ‘curta’ guarda as infor-

mações por até 6 horas, porque se acontecer de a memória de longa

duração não conseguir ‘gravar’, ela pode recorrer à memória de curta

duração para terminar o processo.

Uma dica

Vamos imaginar que a música que vamos aprender é “Deus é tão

bom”. Vamos ensinar as quatro vozes tradicionais.

Por onde começar? Pela voz mais fácil. No caso, eu começaria com

as Sopranos.

É preciso lembrar que se quero acionar a memória de longa duração

eu preciso fazer com que a melodia fique gravada na memória de curta

duração por até 6 horas. Por isso teremos que repetir até obter o som

mais homogêneo e seguro de se ouvir. Depois passo para outra voz que

podem ser as Contraltos.

10  Oliviera, Maria Aparecida Domingues de. Neurofisiologia do Comportamento.  Pág. 123; Editora da Ulbra; 1999.

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Porém, se você demorar muito com as Contraltos poderá ter um

problema de esquecimento por parte das Sopranos. Vale a pena, pedir

a atenção de todas as vozes ao mesmo tempo, mesmo aquelas que não

estejam sendo ensaiadas no momento, por dois motivos:

1°. As vozes seguem uma lógica melódica e rítmica. E se, eu tenho

noção da melodia e do ritmo, aprender a minha voz será mais fácil. A

última voz que aprender deverá ter uma aprendizagem mais rápida do

que a primeira.

2°. Os processos da memória ‘priming’ poderão estar sendo treina-

dos enquanto outra voz ensaia.

É importantíssimo usar frases curtas para ensinar, evitando os trechos

longos. Só a primeira frase ‘Deus é Tão Bom’ será o suficiente. Frases

longas cansam quem está esperando a vez e isso pode gerar conversas,

desânimo ou esquecimento por substituição de informação.

Terminado as Contraltos e Sopranos passe para os Tenores. Eles

aprendendo, passe o trio e depois vá para o Baixo. Se eles estiverem

prestando a atenção desde o começo, será preciso poucas passadas

para fixar. Então, antes de passar para a próxima frase, passe com todo

o Coral.

Uma dica muito legal também, é você ir ensinando as vozes com a

dinâmica da música desde a primeira vez. Isso resulta em uma interpre-

tação mais natural com o decorrer da música.

Eu ainda tinha uma dúvida com relação à neurofisiologia: “porque os

coristas esqueciam?”

De acordo com a neurofisiologia, se não houver interesse ou necessi-

dade por parte do indivíduo em aprender, é quase certo a não fixação,

ou consolidação do conhecimento em qualquer uma das memórias. É

com esse problema que saímos da neurofisiologia e passamos para a

pedagogia.

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Pedagogia

Há um pensamento muito difundido no meio educacional que diz:

“aprende-se melhor aquilo que se ama”.

Deste ponto de vista a solução torna-se bem prática. Devemos, - como

dirigentes, maestros, líderes de coro, - fazer o máximo para que o maior

número possível de coristas ame o Coral. Como regente, é necessário

fazer com que cada corista ame seu repertório. Mas como? Repito; trata-

rei sobre repertório nos próximos capítulos. Neste momento, quero falar

sobre amar o que se aprende. Em nosso caso, não é apenas uma canção

ou repertório, nem a estrutura do Coral, mas sim, amar o ensaio.

É preciso valorizar o ensaio desde os 15 minutos antes de começar

até meia hora após o término. É de responsabilidade da direção do Co-

ral, em especial do regente, pensar em conforto, organização, partitu-

ras, integração, estrutura, instrumentos, som. Enfim... Tudo o que for

pertinente ao momento do ensaio para que o corista se sinta envolvido.

Ele precisa perceber que há um interesse em sua pessoa e não somente

em seu trabalho como cantor.

Essa é uma das funções da pedagogia nas escolas: criar um ambiente

que propicie o aprendizado; e os ensaios precisam ser pensados assim

também.

Como regente e diretor do Coral atuamos de maneira semelhante à

de professores e pedagogos. Já trabalhei um bom tempo como profes-

sor em sala de aula, - e pelo jeito não sairei dela tão cedo -, por isso,

sei o quanto são chatos e enjoativos aqueles debates sobre educação,

avaliação, disciplina e outros elementos importantes que envolvem o

assunto aprendizado.

Porém, ao ler sobre a Filosofia da Educação Adventista não há como

ficar parado, sem reagir as suas palavras. Ela é totalmente prática, pois

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poderíamos resumi-la em duas palavras: Redenção e restauração. Des-

sa perspectiva, os objetivos educacionais cristãos são mais amplos do

que os da educação secular. A educação cristã busca preparar os jovens

para o mundo presente e o mundo porvir11. Devemos pensar sobre o

princípio: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si

mesmo”; como tônica para a construção do ambiente de aprendizado

das canções. Assim como cada aluno, o corista – sendo o aluno do re-

gente – deve saber que Deus quer restaurar não somente o mundo, mas

a vida de cada ser humano. Ele deve se sentir seguro e amado por Deus,

podendo sim, usar a música para manifestar essa grande obra divina.

Você não imagina por quanto tempo, eu levei os ensaios achando que

essa era apenas uma teoria com palavras bonitas.

Compartilhando: Eu escolhi Jesus

Lembro-me de um encontro de músicos do qual participei no estado

de Santa Catarina. Uma de minhas responsabilidades era ensaiar o Coral

do encontro. Durante os ensaios, me esforcei para dar o máximo de di-

cas e técnicas para os participantes. De repente, comecei a comentar so-

bre a letra da música, mais especificamente o coro que diz o seguinte:

“Nosso Louvor (a Deus) por sempre estar ao nosso redor.

A gratidão por tanto amor e proteção

Por Seu poder mudar nossa vida

Eu escolhi viver com Jesus”.

(Eu Escolhi Jesus. Letra e música: Réges Marth. Copyright Março de 2000).

“Você sente que Deus está ao seu redor?” – perguntei

11  Knight, George R.; Filosofia e Educação. Uma introdução da Perspectiva Cristã; pág. 256 e 257 Imprensa Universitária Adventista. Centro Universitário Adventistas de São Paulo; 2001.

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As pessoas balançaram a cabeça positivamente. Eu comentei que era

extremamente grato pela proteção dEle, e então pedi um testemunho

de alguém que sentiu o amor de Deus mudar a sua vida. Estas palavras;

o amor de Deus, parecem mágicas. Alguns minutos em silêncio, e lem-

bro que não foi preciso testemunho algum. Pude perceber que todos

queriam falar alguma coisa, porém nos olhávamos sem precisar falar.

A linguagem naquele momento era a dos sentidos; dos bons sentimen-

tos. Eliezer Vargas que liderava o encontro comentou comigo que foram

poucos os momentos de sua vida em que havia presenciado o movi-

mento de Deus, de forma tão clara, entre as pessoas. E completou: “só

faltou tirarmos os nossos sapatos...”

Deus estava ali, ardendo em nossos corações. O ambiente que Deus

criou foi de que todos estavam sendo transformados por Ele. Era claro

aos nossos olhos, e para mim, na pele também. Inclusive, enquanto es-

crevo, relembro bem do 'arrepio que senti em meu braço'. Deus estava

ali, naquela hora, dizendo:

“Estou ao redor de vocês. Eu os amo e os protejo. Vou mudar a vida de

vocês até a perfeição do céu!”

Então, não perdi mais tempo e perguntei:

“Quem quer mais uma vez escolher viver com Jesus? Por favor, cante

essa música com essa escolha no coração”.

Sabe o que aconteceu? É lógico que ao cantarmos, todos estavam mais

empolgados. Assim, teve mais volume, mais concentração, mais dinâmica.

A música sem dúvida foi executada muito melhor em todos os aspectos,

porém, quem não estava cantando àquela hora – era o meu caso, apenas

regi – percebeu a escolha de cada um. E lhe garanto: foi fantástico!

Uma vez criado um ambiente de amor e segurança para o cantor,

devemos pôr em prática o elemento externo mais importante para o

aprendizado:...

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A Curiosidade

“A curiosidade é a fonte da motivação da mente.” “A curiosidade é

o princípio da inteligência.” Eu diria mais, a curiosidade deve ser a linha

tema de cada ensaio.

Como? Preste a atenção nestes números e depois quero dar mais

alguns exemplos práticos.

Estudos revelam que nós conseguimos reter em média 10% do que

lemos; 20% do que ouvimos; 30% do que vemos; 50% do que ouvimos e

vemos; 70% do que ouvimos dizer e logo discutimos; e 90% do que ou-

vimos dizer e logo praticamos. E ainda mais, aprendemos muito usando

nossos sentidos, sendo que 83% através da vista, 11% através do ouvido;

3,5% através do olfato; 1,5% através do tato e 1% através do paladar.

Sabe-se ainda que em média as pessoas que estão sendo ensinadas por

um método oral e visual (necessariamente os dois métodos juntos se

não os valores seriam alterados) retêm 85% do que aprenderam durante

3 horas e após três dias ainda estarão gravadas em sua memória 65%

daquilo que foram ensinadas12.

Avaliando como funcionamos internamente; a memória - como

aprendemos, e a curiosidade – fica fácil melhorar o ensaio.

Um regente é obrigado a ensinar pelo método oral, e é fácil acres-

centar um método visual, como por exemplo, o uso da partitura; a

expressão corporal do regente e a do corista com a música. Este item

implica em além de ativar o córtex visual, a interatividade e a cinesiolo-

gia, o movimento. Levando o indivíduo a praticar e ver o que aprendeu;

tecnologias de comunicação em áudio visual, pondo a partitura em uma

tela, usando vídeo clipes para ilustrar uma dinâmica. É importante que

os coristas vejam a articulação vocal e a respiração do regente. Deixe

que eles vejam também o ritmo da música no seu corpo; nas mãos, nos

12 Marks, Sikberto R. Ruptura da Mente; pág. 174, 1998.

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pés, ou até em outros movimentos maiores.

Uma dica muito importante da medicina é que após 45 minutos de

estudo a pessoa precisa desopilar, especialmente com o corpo. Por isso

é interessante organizar ‘o momento do abraço’, ou outra dinâmica de

grupo após 30 minutos de ensaio, ou após um objetivo alcançado.

Experimente também, começar a ensaiar a música pelo coro, ou pelos

acordes finais. Comece com os Baixos, e depois com os Contraltos. Deixe-

os apreensivamente curiosos a respeito do que vai acontecer no ensaio.

Certamente, tudo isso vai demandar um líder para o grupo. Ou como

dizem, um ‘gestor de pessoal’. A liderança em muitas pessoas é nata.

Outras adquirem pela necessidade do ambiente ou profissão. No en-

tanto, a liderança de um Coral de igreja é diferente da convencional se

assemelhando em muito com a de Jesus. Trata-se de uma causa sem

recompensa, aparentemente. Temos em Cristo o nosso melhor exemplo

em gestão de pessoas, suas ideias não culminavam em uma igreja ou

ação missionária, mas sim, na própria morte, na salvação. Ou seja, o

Coral não tem como objetivo um recital ou a gravação de um DVD, mas

sim, participar ativamente no ministério de Cristo, mostrando o cami-

nho da salvação.

Liderança e Disciplina

Liderança e disciplina são dois assuntos que andam juntos, embora

sejam diferentes. Já ouvi alguém dizer que se você tem liderança e disci-

plina você tem poder. Mas não é bem assim. O doutor em Psicologia, Dr.

Belizário Marques declarou que: “... dinheiro não compra amor, nem a

força conquista o afeto. Não é domínio que vai despertar o carinho. Não

é imposição que provoca a simpatia e muito menos a ternura. Uma pes-

soa não pode ter amor e respeito daquele a quem subjuga”13.

13 Marques Belisário. Revista Vida e Saúde; Ano 68, N° 11; Novembro de 2006

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Acho que é uma boa hora para você pensar, refletir sobre como anda

a sua liderança e disciplina. Existem várias maneiras de uma pessoa con-

seguir a liderança de um grupo. No caso do regente, a liderança passa a

ser do tipo ‘especialista’. Essa liderança é conferida ao regente por que

ele é o especialista, o profissional que detém o conhecimento e a habili-

dade de conduzir o Coral a interpretação de uma peça musical. Esse tipo

de liderança tem a vantagem de ser democrática, mas é preciso esforço

para conquistá-la.

Conheço corais onde o pianista ou mesmo os coristas poderiam reger

melhor que o Maestro. Mas a capacidade de liderança dele sobre o

grupo fala mais alto do que a sua qualidade musical. Por quê? Simples...

Ele conquistou a confiança do grupo.

Às vezes uso esta frase nos ensaios: “Se eu errar, errem comigo!”

Tenha certeza do que você está fazendo. Estude música. Treine a

regência. Decore a letra e as dinâmicas. Peça ajuda para quem tem mais

experiência e, principalmente: seja humilde. Se for preciso, peça descul-

pas. Essa liderança pega o coração das pessoas e você ganha de brinde

a disciplina do Coral.

Falando em disciplina... Este assunto costuma ‘dar muito pano pra

manga’... Alguns colegas de trabalho fazem ensaio sem nenhum ‘piu’.

Sinceramente, eu não sei como eles conseguem. Não faço o tipo que

gosta de bagunça no ensaio. Contudo, não consigo entender porque

exagerar no silêncio, se os cantores não recebem nada para estar ali. Al-

guns estão vindo de casa, ou direto do trabalho ou da escola, e precisam

ficar parados como se estivessem na mira de um carrasco?

O melhor exemplo de disciplina e liderança de ensaio que presenciei

não foi de um músico. E confesso... Tenho lutado para realizar ensaios

com a qualidade do trabalho que vi.

Lembro com carinho, a primeira vez que assisti o Coral Jovem da Igre-

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ja da Floresta, na cidade de Porto Alegre (RS). Eles são muito divertidos

e empolgados. O regente, na época, era o Pastor Élton Bravo. Eu imagi-

nava que os ensaios deveriam ser a maior bagunça, mas estava profun-

damente enganado. Tive o privilégio de assistir a um ensaio, com o Pas-

tor Elton, do começo ao fim. E digo pra você que até este momento, foi

o melhor ensaio que já presenciei. Mais parecia um culto de louvor. O

clima do começo ao fim era de alegria, e o bom humor era contagiante.

A qualquer momento ele parava o ensaio e todo mundo começava a

se abraçar. Amigos. Depois, dava uma ‘dura’ no pessoal para todos se

concentrar no que estavam cantando por que Deus não se agradaria de

qualquer coisa cantada e aí começava a orar.

No ensaio a que assisti, depois da oração, o ensaio recomeçou e eles

passaram uma música já pronta. Ela ficou muito boa, todos gostaram e

se empolgaram. Foi então que aconteceu o mais impressionante: o Pas-

tor aproveitou o momento de euforia e pediu que todos se abraçassem

e começou a orar novamente.

Lembro de algumas de suas palavras: “Bom Deus não somos nada,

somos pó, e Tu estás habitando no meio dessa galera. Obrigado! Obriga-

do pela música que cantamos agora, aqueceu o nosso coração. Nos ale-

gramos, e queremos com essa oração devolver toda a nossa gratidão

pela Tua salvação conquistada na cruz. Perdoa nosso coração pecador e

aceite o nosso louvor. Obrigado Pai, em Nome de Jesus, amém”.

Entendi que ensaios assim, não geram problemas de disciplina e muito

menos de liderança. A razão é porque quem lidera é o Senhor Jesus!

Uma dica: Agilidade e Dinamismo

Você pode aproveitar algumas destas dicas para não deixar o en-

saio com um ‘buraco’, um tempo ocioso. Se o ensaio para, torna-se ma-

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çante e as conversas vão surgindo. Se isso está acontecendo em seu

Coral, haja rápido. É questão de dois ou três ensaios para as pessoas

não virem mais.

Outro ponto importante é não perder a paciência durante o ensaio. É

normal alguns dias, o Coral não estar concentrado e consequentemente

não rendendo. Não se desgaste. Esteja pronto para mudar o ritmo do

ensaio ou talvez até a música. Em dias assim, já usei a estratégia de con-

versar com eles sobre os projetos, assuntos espirituais, traçar novos pla-

nos, orar por alguém e até ouvir ou relatar testemunhos.

Preste atenção ao que você promete. Nunca cometa o erro de não

cumprir com o que fala. Se o Coral sentir que você não é de confiança,

jamais será o líder e a indisciplina virá mais rápido do que espera.

Mas talvez você tenha um problema maior ainda. Uma pessoa ou

duas, talvez mais; não param de atrapalhar o ensaio. O que fazer? Quan-

do se trabalha em escola ou em internatos, a gente lida mais fácil com

esse problema por que é só pedir para que essas pessoas se retirem.

Mas com um irmão de nossa igreja não é tão simples assim.

Lembro-me de ter um corista que sempre estava pronto para con-

versar na pior hora. Também, ele sempre era do contra. Sabe aquela

pessoa que adoraria estar mandando naquilo que você está fazendo e

sem medir escrúpulos faz de tudo para que as coisas não andem? Pois

é. Esse era o meu problema. Tive a mesma dúvida sobre o que fazer, e

foi então que pedi ajuda ao Pastor da igreja. O conselho que recebi não

foi muito ‘gostoso’, mas resolveu: conversa franca. Recordo que após o

ensaio chamei para uma conversa o ‘meu problema’, e depois de alguns

minutos o ‘meu problema’ tornou-se meu amigo. Graças a Deus!

O ser humano é carente por natureza, e alguns não conseguem se

controlar. Por isso, a direção do Coral e o regente devem estar aten-

tos para ouvir, não no meio do ensaio, mas em outros momentos. A

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liderança precisa estar pronta para agir com transparência, mansidão e

sinceridade.

A melhor dica que eu poderia dar é: torne o ensaio dinâmico e ágil

para que ninguém fique parado. Deixe tempo para abraços, recados, ani-

versários, comemorações. Chegue mais cedo e não tenha pressa para

sair. Assim, você terá tempo para ouvir a todos e transformar problemas

em amigos. E não se esqueça, mude o seu ensaio para um culto de louvor

que a disciplina será como a de Cristo. Quando Pedro o negou: somente

um olhar e a frase: “apascenta as minhas ovelhas” (João 21. 15 - 25).

A melhor liderança é a de Cristo; ela se baseia em amor. Siga o exem-

plo. E no amor dele, conquiste as pessoas.

Marketing

Mas a pergunta persiste: “como ensaiar um Coral?”

Parece mais fácil realizar os ensaios sabendo do potencial da mente

humana, como ela aprende e memoriza as informações através da

repetição e o que precisamos fazer para que ela fique o maior tempo

possível na nossa memória. Também verificamos que o interesse, a cu-

riosidade, é uma ferramenta que impulsiona e motiva o nosso apren-

dizado. Além disso, se o ambiente for de amor conseguiremos fazer com

que, as pessoas ajam sobre aquilo que estão aprendendo. Para tanto,

ouvir as pessoas e conquistá-las passam a ser as maiores armas para

termos um Coral que responda as nossas expectativas.

Você pode me perguntar: “isso dá certo em todos os ensaios? Em to-

dos os corais?” Respondo: “se não se tornar uma rotina, dá certo sim”.

A primeira vez que li sobre marketing imaginei que compreendesse

apenas propaganda, mas não. O marketing pesquisa a opinião das pes-

soas, forma a imagem do produto, descobre erros e acertos, ajuda a es-

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tabelecer o caminho para se chegar ao objetivo que se estipulou, busca

recursos. Marketing é estratégia.

Sei de um Coral que afixou a sua logomarca no ônibus que os conduzia

a um evento. As pessoas ficaram curiosas e perguntavam se o ônibus era

do Coral. Veja; uma ideia tão pequena com respostas visuais positivas.

O marketing bem pensado é uma saída para evitar a monotonia que

às vezes acomete os corais. É preciso pensar que um Coral de igreja não

tem um rodízio de coristas. As trocas são mínimas e se, o Coral tem cinco

anos é provável que a maioria das pessoas que esteve no primeiro en-

saio, ainda esteja hoje no Coral. Então, começam as perguntas sobre

como fazer o trabalho. E talvez, a mais dura delas seja: “o que vou fazer

de diferente?”

Respondo: “vamos fazer marketing!”

Como praticar marketing no ensaio?

À medida que você for realizando os ensaios, faça análises do seu

trabalho e peça para a direção ajudar. Esteja aberto a críticas e mudan-

ças. Coloque objetivos bem definidos e que possam ser alcançados. Não

sonhe muito para que não ocorra de as pessoas se desanimarem rápi-

do. Mas não seja medíocre também. Conheça bem os pontos fortes do

Coral e os aperfeiçoe. Seja realista quanto aos pontos fracos e busque

a melhor saída. Invista nas pessoas, na estrutura do trabalho. Seja essa

estrutura de som, ou estrado, becas, e etc. É preciso criar uma ‘mania’

pelo Coral com camisetas, chaveiros, bonés, canetas, coisas baratas e

de fácil acesso. Realize uma ‘pesquisa de mercado’ com seus coristas e

a sua igreja; descubra se eles estão gostando do repertório, do ensaio,

dos projetos, das viagens. Peça a sugestão deles. Faça constantes encon-

tros sociais. Sua equipe precisa estar unida, coesa, e relacionamentos se

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constroem com relacionamentos. Inove. Seja criativo. Não tenha medo

e seja ousado!

Estas dicas e outras mais, eu já li em livros e ouvi em várias palestras.

Imagino que também não sejam novidades para você. Eu já experimen-

tei várias e elas têm me ajudado muito a não cair no problema dos en-

saios enfadonhos e do repertório nostálgico. Use e abuse delas e tenha

certeza de que farão muito bem a você e ao Coral.

Mas agora, gostaria que você observasse esta prática abaixo.

Reflita...

Quero usar a ideia do escritor Max Lucado, em seu livro Moldado por

Deus. Ali ele fala sobre o marketing de Jesus.

“O movimento de Jesus estava destinado a falhar desde o início.

Para começar, só participavam 12 homens. Incrivelmente poucos,

quando levamos em consideração que o país deles tinha uma popula-

ção de quatro milhões. Além disso, a maioria era ignorante e pobre. Tra-

balhadores braçais, incultos demais para iniciar um motim que pudesse

mudar alguma coisa.

Poucos, se é que alguns haviam viajado para além das fronteiras de

seu país. Não tinham experiência nem cultura. Sua nação se encontrava

dominado por outros. O povo estava cansado. O governo cheio de cor-

rupção. Sua religião era praticamente superficial.

A estratégia do movimento foi sem dúvida desastrosa. Não esta-

beleceram uma sede. Ninguém fez uma pesquisa em nível profissional.

Os planos foram todos impulsivos. Os líderes nem sequer conseguiam

concordar com a definição exata da sua missão.

Além de tudo o movimento não era prático, mas sim desanimado,

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extremo e absurdo. Ele exigia demasiado, cedo demais.

Faltava-lhes trato.

Não tinham paciência com as tradições.

Queriam uma inversão das classes sociais.

Davam vantagens em excesso às mulheres e a grupos minoritários.

O movimento estava destinado a falhar. Mas isso não aconteceu. Ele não

só teve sucesso como ultrapassou qualquer outro movimento na história

mundial. Num período de 30 anos a mensagem de Jesus Cristo entrara em

cada porto, cidade e pátio do globo. Era contagioso. Era um organismo em

movimento. Pessoas chegaram a morrer para vê-lo continuar.

Embora devesse ter falhado, teve sucesso. E continua sendo bem

sucedido. O movimento de Deus jamais cessa”14.

O seu Coral é um movimento de Deus?

Uma dica: o ensaio na prática

Na realidade, há muita coisa ainda a ser discutida sobre o ensaio.

Mas se você prestar atenção nestas primeiras dicas, com certeza, estará

começando o seu ensaio com a perspectiva de qualidade musical e de

espiritualidade.

Gostaria de deixar ainda, últimas sugestões sobre a prática do ensaio

na forma de um roteiro de ensaio. Logicamente que não será uma regra

a seguir, pois como mencionamos, é importante fazer com que cada en-

saio seja diferente do outro.

Sexta feira - Ensaio do coral

Horário de início: 20h

19h45m - Regente e direção do Coral chegam para uma rápida con-

14 Lucado Max; Moldado por Deus; pág. 141 e 142; Editora Vida Cristã; 2000.

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versa sobre alguma possível novidade e recebem os coristas.

20h - Pontualmente começa o culto que deve durar no máximo 10

minutos. Poderá começar com um cântico com os coristas e depois 5

minutos de meditação e uma mensagem musical. É finalizado com uma

oração.

20h10m - O regente passa a programação de objetivos do ensaio, e já

começa o aquecimento vocal.

20h20m - Ensaio. Hora de colocar em prática o que foi preparado

para o Coral.

20h50m - Pausa para alguma dinâmica de grupo, comunicados por

parte da direção do Coral, aniversariantes. Um momento para descon-

trair o ensaio.

21h - Retomada do ensaio com a repetição do que foi ensinado an-

teriormente.

21h30m - Preparar o Coral para o término do ensaio. Pode ser a exe-

cução do que foi feito durante todo o ensaio, ou a recapitulação de músi-

cas do repertório que já são dominadas pelo Coral. Criar um clima espiri-

tual para encerrar.

21h40m - Oração Final. É interessante incluir um momento para pe-

didos e agradecimentos. Orar com todo o Coral.

21h45m - Regente e direção ficam a disposição para atender a coris-

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tas e também discutir algum item que tenha surgido.

Que Deus abençoe o seu trabalho. E, bom ensaio!

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É importante que o Coral, mas principalmente os músicos, saiba que seu papel em um recital é conduzir a igreja para o louvor. Não é mostrar o que sabe ou o que gosta. Por isso, o seu gosto pessoal e o gosto do Coral estão em terceiro plano, pois, o segundo pertence à igreja onde você vai cantar e o primeiro a Deus.

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Convido você para neste momento refletir junto comigo. Certamente,

você já ouviu muitas discussões sobre música. Por vezes, até torna-se in-

teressante ouvir argumentações e repostas sobre os temas polêmicos que

sempre levam a viagens musicais delirantes, como se qualquer música

tivesse todas as intenções maléficas ou benéficas que as pessoas dizem ter.

Durante muito tempo, me peguei sendo ‘abduzido’ pela música e por

suas influências positivas ou negativas. Eu me perguntava: “Será que é

isso mesmo? Como será que as pessoas conseguem ver tanto problema

e tanta bênção nisso?”

O engraçado é que com o tempo, essas polêmicas tornaram-se sem

valor para mim. De tudo que já escutei e pesquisei sobre música, tenho

como fato: ela não é neutra. Assim como cada ser humano também não

o é. É difícil pensar que os compositores, os arranjadores e os produ-

tores fazem música sem sofrer influência alguma. Se for o caso, pensar

em nada já é uma posição. Vamos conversar, neste capítulo, um pouco

sobre o repertório.

Você sabe o porquê e quanto do seu repertório influência o Coral? E

o público que o assiste?

Você já parou para escutar com entendimento as músicas que canta?

Se sim, está percorrendo o primeiro e mais importante caminho da

escolha de repertório. Se não, prepare-se para excluir muita coisa que

já escolheu.

Repertório - A influência da Música

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96 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 97

Preste atenção aos detalhes

Quando escuto música, me torno uma pessoa que gosta de imagi-

nar. Por proteção? Talvez, mas a verdade é que passo a ‘viajar’! Gosto

de pensar que a intenção das pessoas que criaram a música, e do in-

térprete, foi mostrar que a música possui um encanto, certa magia. Es-

sas pessoas; e me incluo entre os diversos compositores, arranjadores,

produtores e intérpretes; querem conquistar a nossa atenção, emoção,

razão... Capturar todos os nossos sentidos para aprisionar a nossa mente

aos sons. Por isso, quero saber e sentir tudo o que uma canção oferece

e a razão de ela existir.

Quando passei a fazer dessa forma de escuta um hábito, descobri

muita coisa pobre na música. Algumas coisas até simples e banais, toda-

via não nos damos conta do que estamos cantando. Como por exemplo:

“Atirei o pau no gato-to-to...” Já pensou nisso? Que selvageria! Outras

vezes, a letra que utilizamos tem posturas machistas: “Quando a mãe

diz; venha cá, quem que corre? Quem que corre?” Você já ouviu a versão

dessa canção com o pai? “Quando o pai diz; venha cá...” Pois é... Nem

eu. Então cabe a pergunta: “Será por que a presença dos pais não é bem

vinda na educação espiritual das crianças?” Talvez seja por isso que, me

olhavam de maneira estranha quando eu entrava na ‘escolinha’ com os

meus filhos.

Sei que existem questões impressas na letra de uma canção como a

liberdade poética, as expressões, as gírias, os elementos culturais da fala

de um povo, e estas, entram na música sem pedir licença e têm o seu

valor. Por isso pergunto: “a letra, ou melhor, a poesia do seu repertório

é bela? É profunda? Tem conteúdo e é coerente com a fé e as doutrinas

que você professa?” E lhe peço: “Por favor, releia com atenção o seu

texto musicado”.

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Contudo, não é somente na letra que encontramos erros e proble-

mas. Infelizmente.

Existem pessoas que conseguem escutar hinos que do começo ao fim

possuem somente dois acordes, - não são poucos os hinos que conse-

guem ter no máximo três acordes. Isso não quer dizer que seja algo ruim,

mas particularmente, penso que são musicalmente pobres. Falando em

pobreza na música, acho insuportável ouvir alguns duetos tradicionais

(ou seria melhor usar o termo ‘antigos’?) do meio cristão onde tudo se

canta em terça1. Nem o gênero sertanejo que venera essa forma musi-

cal, consegue ser tão fiel a ela.

E já que agora estamos falando em fidelidade, admiro aquelas pes-

soas que conseguem escutar hinos com quatro estrofes onde a melodia

é sempre a mesma. Explico: são aqueles hinos que as estrofes têm duas

frases e uma linha melódica para cada frase. Depois começa o coro com

a primeira frase melódica diferente, porém o fim, ou seja, a resposta

a frase inicial do coro, é igual à primeira frase da música. A coisa é até

difícil de explicar, mas o fato é que sua melodia é muito repetitiva. É can-

sativa. Vou dar como exemplo o hino “Assentado aos pés de Cristo”.

Falamos em poesia, harmonia e melodia, e como esquecer o ritmo?

É muito difícil perceber diferentes ritmos em nossos cultos. Quero es-

clarecer que não me refiro a estilos musicais como rock, samba, valsa.

Parece que o ritmo na igreja se define como sendo lento, mais ou me-

nos lento e rápido. Se for lento é solene. Se rápido, é utilizado apenas

para os jovens. Se for mais ou menos lento dá para ser usado para adul-

tos e jovens.

1 Terça se refere ao intervalo de terça. Na teoria musical, intervalo é a diferença de altura entre os sons ou a relação existente entre duas alturas. Em outras palavras, o espaço que separa um som do outro. No caso do exemplo citado, o intervalo é formado por notas simultâneas, chamado de intervalo harmônico. E refere-se à terça por conter três notas dentro deste intervalo. Cabe lembrar que o gênero musical sertanejo em seu início se valia muito deste tipo de harmonia. Atualmente, este estilo já se distanciou e muito de sua forma original.

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98 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 99

Mas meu amigo; música é muito mais que isso. Pense comigo; nada

do que Deus criou é simples. Pegue a folha de uma árvore e você terá

uma infinidade de pequenos detalhes, compondo o todo. Detalhes invi-

síveis ao olho humano, mas trabalhados harmoniosamente por um cria-

dor poderoso. Vou além... O nosso corpo, a nossa mente está repleta

desses detalhes. Já pensou em quantas habilidades você tem? Em quan-

tas coisas pode fazer? Por exemplo: dirigir e cantar ao mesmo tempo.

Isso sem falar nos talentos como pintar, escrever, interpretar e tantos

outros. O que quero dizer é que somos criaturas inteligentes, ricas e

complexas. Então, como podemos fazer música de forma pobre, repeti-

tiva, comum?

Querido amigo, se o repertório do seu Coral se encontra dentro des-

tas características e conceitos, é preciso uma revisão de ideias, urgente-

mente!

Mas chega de ver as coisas somente do ponto de vista negativo, va-

mos à prática.

Porque detalhes técnicos são importantes

A música que você escolheu, ou está para escolher, é pobre nos ele-

mentos de harmonia, melodia, ritmo e poesia? Se for, a minha primeira

sugestão não é jogá-la fora, e sim, reescrever ou dar um novo arranjo,

uma nova cara para ela. Porém, se não tiver conserto, aí sim, jogue fora.

“Mas por quê? A falta de ‘qualidade’ nesses elementos musicais atra-

palha?” Na verdade, não. A questão vai além do gosto musical. Estamos

falando que a falta de elementos musicais mais trabalhados, mais pen-

sados, deixa a capacidade de ‘influência musical’ do seu repertório, se-

veramente prejudicada. Uma prova disso é que existem músicas simples

que fazem sucesso, porém foram muito bem pensadas. Tiveram uma

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98 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 99

razão em seus detalhes mais comuns, deixando para nós uma música

que impregna a mente e o coração. Essa é a magia da música! E é exa-

tamente aí que, descobrimos que ela não é neutra. Os bons músicos

correm atrás desse tipo de música.

Outro cuidado que precisamos ter é o bom senso. Algo raro. Se o

domínio técnico fosse tão eficiente, todos iriam se encantar com a

música erudita. Mas é na busca pela qualidade que ouvimos muitos de-

sastres musicais.

Respeite a capacidade musical dos seus cantores

Imagine que estamos dando início a um projeto musical. Temos em

torno de 30 coristas e uma pianista que consegue tocar as ‘23 peças

fáceis de Bach’. Destes, diria que em torno de 10% possuem conheci-

mento significativo em música. Com esses dados prontos, vamos à es-

colha do repertório. Estamos pensando com muito carinho para que

tenhamos uma qualidade boa em nossa seleção, e chegamos a primeira

sugestão que é a música “Verdade” do Cd “Testemunhar” do UNASP

C2. Que música ótima! Lindíssima, porém, uma péssima escolha para o

nosso projeto.

Um grande problema na escolha do repertório é a capacidade que

o seu Coral tem de interpretar uma música. Observe sim, com carinho,

para que seja uma música rica, mas veja se o arranjo não está muito

agudo ou grave; se a harmonia não é muito complexa para o seu grupo.

Se você possui, ou é possível, utilizar mais vozes além do Soprano, Con-

tralto, Tenor e Baixo. Enfim, o Coral dá conta de interpretar? Porque se

não der, você corre o risco de as pessoas não estarem a fim de ‘pagar

mico’, e logo o número de coristas se reduzirá, tornando a sua vida ainda

mais complicada.

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100 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 101

O que fazer então? Existem duas saídas simples:

1°) Procure mais, pesquise até encontrar o ideal.

2°) Invista no arranjo.

A música “Verdade”, a pouco mencionada, pode ser cantada por um

Coral pequeno e inexperiente, contanto que se faça um arranjo próprio

para esse grupo. Com certeza, a atenção a esse ponto tornará possível

a interpretação dessa música, o que resultará em coristas motivados a

novos desafios, e inclusive, novos cantores.

Tenha sensibilidade para ver além da música

Acredito que a observação destes pequenos pontos poderá ajudá-lo,

em muito, na escolha de boas músicas. Logicamente que cada música

representa um desafio. Mesmo em um pequeno grupo de 30 pessoas

você terá opiniões diferentes. Até porque, ‘gosto cada um tem o seu, e

não se discute’. Quero dizer que talvez a música seja perfeita, mas o Co-

ral não goste. E aí? Calma. Saiba que você não irá agradar a todos, mas

será importantíssimo que todos do Coral cantem seu repertório como

se fossem apaixonados por cada música. Para que isso ocorra, você pre-

cisa ser sensível a eles também.

Por isso: pergunte!

Procure se aproximar dos coristas para ouvir deles as músicas que

eles escutam em casa e quais eles mais gostam. Procure escolher o seu

repertório em torno dessas informações.

Também, o perfil do seu Coral já lhe dirá muita coisa. Por exemplo:

Coral infantil precisa de músicas com temas leves, mais simples nos ar-

ranjos vocais, e de um ritmo inocente, ‘cantabile’. Agora, se você está

envolvido num Coral da 3° idade, músicas tradicionais, com temas pro-

fundos e racionais que englobem uma maturidade melódica e harmonia

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100 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 101

tradicional, serão mais fáceis para a aceitação e interpretação do grupo.

Procure mostrar ‘a cara do Coral’ no repertório. Tenha o cuidado para

não ser repetitivo na escolha, porque o seu recital poderá se tornar en-

fadonho. É importante inovar um pouco, mas com cautela. Uma música

inovadora que não foi aceita pelo grupo poderá pôr em dúvida todo o

seu repertório, trazendo o foco para si e não para o grupo, e isso é algo

muito negativo.

Em corais com características mais jovens, músicas ‘picantes’ sempre

são bem-vindas. Porém, tempero demais é intragável! O público não di-

gerirá muito bem esse excesso. E com o tempo, os coristas também não.

Recentemente, tive que enfrentar um problema diferente do que eu

estava acostumado com relação ao repertório. “Deus espera por você”

é uma canção que compus num estilo ‘reggae’. Ela tem uma história em

torno de sua criação, pois não sou um admirador deste estilo.

Certa vez, eu estava em um ônibus e entrou uma garota acompa-

nhada por sua mãe. A mulher descarregou um acervo completo de

adjetivos diminutivos pejorativos sobre a filha. A cena toda foi tão in-

tensa que, a menina chegou ao ponto de não estar nem disposta a rea-

gir. Resumindo, a mãe desceu do ônibus, que seguiu viagem, e nossa

personagem ficou sozinha, sentada na poltrona com música ‘rolando’

nos fones de ouvido.

Eu estava algumas poltronas atrás dela, e curioso, sobre o que acon-

teceria. De repente, meus ouvidos perceberam a música que soava: era

um ‘reggae’. Esticando-me mais um pouco, pude perceber que ela esta-

va chorando. Sem ter o que fazer, e nem dizer, peguei um papel e caneta

e comecei a escrever esta canção.

Contei sucintamente o como da composição porque essa canção tem

levado muitos a pensar em como realmente Deus está esperando por

todos nós, e como Ele faz tudo para alcançar o nosso coração.

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102 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 103

Entretanto, ao ensaiá-la, alguns membros do Coral, a princípio, não

gostaram do ‘reggae’.

Os argumentos tanto a favor como contra são ‘alfinetantes’. Todavia,

um deles me levou a pensar:

“Maestro, temos uma grande maioria de pessoas no Coral que não se

sente confortável em cantar esta música. Eles estão pedindo que você a

retire da programação!” – Foi o que o porta-voz dos ‘incomodados’ me

falou.

“Opa! Que ‘legal’!” – pensei.

Imagine você; minutos antes de começar a apresentação chega ao

seu conhecimento esta importante informação. A pergunta a seguir

é: “se eu não der a importância devida e agir como planejei, terei um

motim?”

Enquanto ele continuava a dar informações sobre o problema, rapi-

damente busquei na memória a reação dos coristas nos ensaios ante-

riores, e não conseguia perceber a ‘grande maioria’ descontente. Since-

ramente, nem a minoria.

Resolvi tomar uma atitude drástica. Chamei o Coral, coloquei a situa-

ção e perguntei:

“Coral! Gostaria de propor um voto para uma música. O que vocês

acham: 'Deus espera por você' deve sair ou não do repertório?”

Eu sabia que se a resposta fosse para retirar a música do repertório,

com todo o pesar teria de fazê-lo. Agora, se fosse ao contrário, ninguém

mais poderia reclamar dela. Para minha alegria, somente duas pessoas

levantaram a mão se manifestando contrariamente, e a música ficou.

A ferramenta mais importante é o bom senso. Tenha humildade para

acatar qualquer escolha. Tenha claro, em sua mente, o seu gosto musi-

cal. Contudo, seja inteligente para escolher um repertório que agrade ao

coro e ao público também. Aliás, o público é outro elemento importante

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102 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 103

na hora da sua escolha.

Todas às vezes que vou apresentar uma música numa igreja que não

conheço, procuro escolher músicas que estão no meio termo dos gostos

extremos. Com isso consigo uma ‘aceitação geral’. Procuro ter uma con-

versa com o Pastor, ou o ancião local, para me colocar mais a par daquilo

que a igreja como um todo gosta de ouvir.

Muitos músicos cometem o erro de cantar aquilo que eles gostam ou

estão acostumados. Mas se você não for de outro país com uma cultura

diferente, o máximo que conseguirá é uma minoria que acha interes-

sante o seu projeto, e uma grande maioria aborrecida.

É importante que o Coral, mas principalmente os músicos, saibam

que seu papel num recital é o de conduzir a igreja para o louvor. Não o

de mostrar o que sabe e o que gosta. Por isso, o seu gosto pessoal e o

gosto do Coral estão em terceiro plano, pois o segundo pertence à igreja

que você vai cantar e o primeiro a Deus. Claro que existem igrejas que

são mais preocupadas com uma música que fuja daquilo que lhes parece

ser mais correto, e há outras que são ecléticas em seu estilo. Salomão

afirma que há um tempo para tudo debaixo do sol (Eclesiastes 3). Então,

você não precisa ter pressa. Creia; Deus vai abrir as portas do tempo

para tudo.

A sensibilidade divina

Ao escolher um repertório, você precisa levar em consideração a

qualidade da poesia, da melodia, da harmonia, do ritmo; da capacidade

do grupo em interpretar e conseguir executar a música; do gosto do

Coral; do gosto do público; mas e Deus? Perceba que o início de tudo

parte de um princípio importantíssimo!

É terrível achar que a música que escolhemos para cantar é uma

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104 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 105

música que Deus irá aceitar. “Que é o homem para que tanto o estimes,

e ponha nele a tua atenção?” (Jó 7.17) “Somos nada, somos pó” (Salmo

103.14). Muitas vezes, subimos ao púlpito de nossas igrejas para minis-

trar o louvor e achamos que Deus está aceitando. “Mas, será?” “Como

saber?” “Por um acaso não estamos enojando a Deus com a nossa busca

pela qualidade?” “Deus precisa do nosso louvor?” Essas perguntas sem-

pre me soaram muito difíceis. Tornam-me um nada, mas é o que sou e

o que tenho. Nada.

Quando partimos do princípio que, somos nós que precisamos de

Deus, somos nós quem precisamos do louvor, somos nós quem temos

de conhecer uma nova música, somos nós quem precisamos ouvir

e obedecer, fazemos uma grande descoberta. É o nosso contato com

Deus que poderá nos fornecer o repertório que precisamos para cantar.

E este virá com toda a qualidade musical, com toda a aprovação do Coral

e do público. E claro, com todo o poder de Deus. É diferente quando o

Senhor escolhe o repertório, pois Ele capacita o músico nessa escolha e

as músicas passam a ter uma influência positiva sem limites para quem

procura adorar a Deus através do louvor.

Recentemente, tive o privilégio de estrear como regente de um dos

corais de referência no Brasil. Como era a primeira apresentação do ano,

procurei preparar o Coral com o maior esmero técnico possível porque

sei que, Deus é um Deus perfeito e gosta que façamos tudo conforme as

nossas forças. Planejei e procurei pôr em prática o quê a experiência me

ensinou. Mas... As coisas não estavam dando muito certo. Meu planeja-

mento foi ruindo... Primeiro; a banda que iria acompanhar o Coral, não o

fez. Segundo; a pianista oficial teve que viajar e tivemos que substituí-la,

e em cima da hora nunca é bom. O terceiro ponto é que era início de

semana de oração e não tivemos como organizar a posição do Coral à

frente da igreja e nem como passar o som.

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104 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 105

Em outros tempos, com essa ‘pequena crise’ eu estaria quase surtan-

do. Contudo, sabia que Deus não estava preocupado com nada daquilo.

Meu coração me dizia que Ele estava vendo o melhor de cada corista e

o meu melhor também. Mas confesso; eu estava ansioso. Porém, Deus

não queria que me preocupasse, e na verdade Ele nunca nos quer preo-

cupados e ansiosos; pois o louvor pertence a Ele, e quem precisa louvar

sou eu.

Lembro-me de que instantes antes de cantar, o Coral se reuniu, fize-

mos o aquecimento vocal, passamos as músicas ‘acapella’, e conversa-

mos um pouco sobre o louvor, oramos e nos entregamos a Deus.

Meu ouvido de músico percebeu alguns erros durante a apresenta-

ção. Mas sabe, o meu coração estava tão aquecido e feliz por estar lou-

vando que pude sentir a aprovação e a presença do Senhor. E não só isso,

os coristas estavam vibrantes, alegres, e acredito que como eu, sentiram

o ‘mover de Deus’. De repente, um som me surpreende. Será que eu es-

tava ouvindo aquilo mesmo? Espere aí, a igreja onde estávamos cantan-

do não era do tipo conservador. Na verdade, ela sempre apoiou o nosso

Ministério. Porém, eu bem sabia que eles não estavam acostumados a

se manifestar após uma música, mas algo diferente aconteceu. Sincera-

mente, creio que foi um trabalho do Espírito Santo. Bem ali, no meio da

música, enquanto o Coral declarava que Deus é santo, a igreja inteira

se manifestou: ‘amém!’ Não foi um simples amém. Nem tão pouco um

amém forte, mas foi o momento de entrega de diferentes corações em

seu louvor a Deus.

Lembre-se: somos nós quem precisamos louvar ao Senhor!

É Deus quem precisa escolher o repertório do seu Coral.

Será Deus quem moverá as pessoas que estão escutando, tornando o

seu Coral um veículo da atuação do Espírito Santo. Deus dará diferentes

respostas para cada música que você ensaiar, mas se estiver atento, sa-

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106 I Coral é Coisa Séria I

berá se a música é a certa para o seu repertório. Ore. Escute outras opi-

niões. Procure conselhos de músicos, pastores, irmãos e de seus coris-

tas. Seja sensível a resposta do público. Procure sempre o melhor para

Deus, e acredite-me; o seu repertório será um repertório de sucesso!

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106 I Coral é Coisa Séria I

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Que formato o seu Coral vai ter? E a liderança? Quem esco-lher e por quê? Organização e planejamento. Duas palavrinhas importantes para o trabalho de um Coral alcançar sucesso. Desde as fichas para o teste vocal até as vocalizes no ensaio, tudo deve ser preparado com carinho e antecedência.

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111

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111

D

O formato do seu Coral

epois de conversarmos a respeito de aspectos teóricos, com exem-

plos práticos, analisaremos agora, alguns passos necessários para dar iní-

cio às atividades do Coral, ou o recomeço do trabalho em mais um ano.

O primeiro passo, logicamente, é montar a diretoria do Coral.

O começo de tudo – Diretoria e planejamento

Basicamente o que se precisa é de um diretor, secretário, tesoureiro,

líder espiritual e líder social, o apoio do Pastor e um Maestro. Quanto

maior o Coral, igualmente maior será o número de líderes para abaste-

cer as necessidades que a estrutura carece. Em contrapartida, se para

o Coral, ter um número maior de pessoas envolvidas com o seu funcio-

namento é melhor, para a diretoria é pior; resulta naquela situação que

comumente dizemos: ‘muito cacique para uma tribo só’.

Quando estamos escolhendo uma diretoria de Coral é importante le-

var em consideração alguns detalhes. Por exemplo:

O líder em questão tem espírito de liderança?

Ele se identifica com a função e com o Coral?

É capaz de montar uma equipe ou conseguirá envolver o Coral?

E o Coral, aceitará positivamente o líder?

O líder tem opinião pessoal ou fica em cima do muro?

Ou seja, ele agrega valores com boas ideias, realização de atividades,

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112 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 113

é um formador de opinião e trabalha para a unidade do Coral?

Nessa busca por nomes, devemos descartar motivos como:

“Ele precisa se envolver”, ou ainda, “está se afastando da igreja, e

isso pode ser um começo, ou um retorno”, e também; “ele é amigo dos

outros líderes do Coral”.

Ou seja, se os motivos para a escolha são baseados em; “estamos com

pena do rapaz...” “queremos integrá-lo a igreja, via Coral” ou “queremos

aproximá-lo das coisas do céu”; dará errado. Apesar da nobreza desses

motivos, eles só levarão a futuras decepções. Como alguém vai ajudar

um grupo de pessoas se é ele quem precisa da ajuda desse grupo?

Diretoria boa é aquela onde reina a ética. Ela possui opiniões diver-

gentes, contudo a unidade é restabelecida nas decisões tomadas em

consenso pela maioria; onde persiste a autonomia e há respaldo da dire-

toria para tal. Se você está em posição de líder, saiba cobrar resultados

e valorizar os pontos positivos. E, dos pontos negativos, valorize apenas

os comentários sobre as soluções.

Então, com a diretoria escolhida, faça reuniões que definam os

objetivos do Coral a curto, médio e longo prazo. Os objetivos em curto

prazo envolvem os testes, seleção dos novatos, agenda de pelo menos

um semestre e as primeiras músicas do repertório. Os de médio prazo

têm haver com eventos sociais, viagens e agenda; a ser cumpridas as

datas especiais do Coral e do calendário; bem como o repertório para

essas ocasiões. Em longo prazo, soam os projetos como grandes viagens,

gravações e qualquer outra ideia que envolva custos altos, tempo e re-

pertório específico.

Além disso, é imprescindível discutir sobre as regras que serão usa-

das principalmente pela secretaria e tesouraria do Coral. Regras como

número de faltas permitidas em ensaios e apresentações; após quanto

tempo de atraso será considerado falta. Se houver mensalidade, a razão

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112 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 113

dela existir. Por exemplo, o custo ou a despesa com fotocópias das par-

tituras. E havendo mensalidade, qual o valor e a data limite para o paga-

mento da mesma.

Também é importante definir já nas primeiras reuniões um projeto

mais arrojado e apresentá-lo ao Coral. O objetivo não é motivar, pois

todo o início ou recomeço, já tem motivação por si só, mas sim, aplicar

esse projeto em dois ou três meses após o início do trabalho.

Quando recomecei as atividades do Coral Jovem do IABC, lancei o

desafio de uma viagem meses após o primeiro ensaio. Loucura! No en-

tanto, sabia que era possível, pois eu tinha uma estratégia. A razão é

porque nos dois primeiros meses geralmente trabalhamos duro na cons-

trução do repertório do Coral. Depois desse tempo são realizadas so-

mente pequenas apresentações nas proximidades. É normal, por essas

razões, uma queda no rendimento e na motivação. E, uma boa viagem

pode ser o motivador para todo o semestre. E quer saber? Deu certo.

Então, sugiro a você: construa um projeto que seja possível realizar.

Um projeto que motive o corista a investir tempo, dinheiro e paciên-

cia. Bem como os mantenha animados nos demais projetos, em todo o

tempo.

Teste Vocal

O teste vocal geralmente é uma comédia. É só falar em teste que

todo o mundo estremece. Você já se perguntou o por quê? Você pode

pensar que o motivo é porquê a voz está sendo analisada. E, na verdade

a resposta está quase correta. O maior problema não está evidente; é

algo quase inconsciente.

O ato de cantar é um ato de exposição daquilo que temos e somos

interiormente. Ele revela muita coisa do ‘eu’, como se nos deixasse nus.

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114 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 115

Obviamente, aqueles que já estão acostumados a cantar tendem a estar

mais calmos no teste, por uma questão de segurança pessoal. Contudo,

quem nunca cantou terá medo. Quem já foi reprovado, possivelmente

terá um trauma.

Independente do histórico, quando cantamos estamos expondo nos-

so interior, nossa arte, e além do medo de alguns acharem que nossa

arte é feia, estamos mostrando nosso estilo musical, o gosto pela letra

e ainda, mostramos que escolhemos estar ali. Em outras palavras, esta-

mos nos expondo.

Em primeira instância, o teste dá uma ‘pista’ de como será o com-

portamento das pessoas no Coral. E ainda, se você avaliar o perfil dos

testes, terá uma boa dica da melhor direção a tomar para a escolha do

repertório.

É vital para o regente realizar o teste vocal para conhecer as vozes

com as quais trabalhará. No teste, também descobrimos qual a voz do

corista, quantos têm dificuldades em aprender e quem tem dificuldade

na afinação. Conhecemos também os possíveis solistas, e principal-

mente, a extensão vocal do coro e sua capacidade musical para a rea-

lização dos arranjos e construção do repertório.

Na verdade, estou mais preocupado com aqueles que acham que não

conseguem realizar o teste. Enquanto escrevo, penso principalmente no

leitor que gostaria de ter um Coral e talvez, faça parte de uma pequena

congregação. E tenha o interesse de cantar com seus irmãos, contudo

não possui experiência alguma, ou ainda, não sabe tocar ou ler as no-

tas musicais. Minha primeira dica seria: estude. Procure ajuda de um

profissional da música e consiga ao menos aprender a localizar as notas

em uma escala musical no piano ou violão. É importante você ter no

mínimo, esta referência.

Além disso, para você realizar um teste vocal que atinja os seus ob-

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114 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 115

jetivos, é necessário saber qual é o perfil do seu Coral. Por exemplo: o

primeiro Coral de igreja que trabalhei, o teste vocal era somente para

conhecer o corista e determinar a voz que cantaria. Contudo, nos corais

de internato, a realização do teste era baseada na escolha da voz pela

qualidade. E acreditem-me, dava ‘dó’ ver os alunos nervosos, no momen-

to do teste. Não foram poucos os testes que pararam em virtude do ner-

vosismo. As pessoas precisam respirar, tomar água, se acalmar. É um fato

real; existem avaliações que nos dão pavor e desespero. O que geralmente

acontece nas igrejas é que os novos corais estão sendo formados não para

ser uma referência musical, mas sim uma opção de convívio entre os ami-

gos e irmãos, onde a música é o elo. De um modo geral, as pessoas têm

medo de ser reprovadas. E vamos confessar; quem não tem?

Então, preste atenção a um detalhe quando você anunciar o teste

vocal. Explique o que de fato você vai fazer, e para quem é o teste. A

filosofia do seu Coral terá como base a qualidade vocal, ou idade, ou es-

colaridade, ou lugar e etc... Uma vez definido o público alvo, as pessoas

automaticamente se colocarão a disposição ou não da sua avaliação.

Ficha teste – Modelos e explicações

Agora que você já sabe a importância do teste vocal, vamos executá-lo.

Você vai precisar que alguém distribua e explique como preencher a

ficha teste. Também terá que escolher qual o critério de ordem, se será

de chegada ou numérico. Nessa hora é normal surgir algum alvoroço,

mas não se preocupe porque é apenas ansiedade. As coisas tendem a se

acalmar assim que a primeira pessoa estiver pronta para o teste. Então,

é só encaminhá-la, com a ficha devidamente preenchida, à sala onde o

teste acontecerá.

Dentro da sala é importante ter privacidade. Mesmo que alguém

Page 118: Coral é Coisa Séria

116 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 117

1° Tabela: Objetivo: selecionar vozes com mais experiência musical:

Ficha de Inscrição e Teste Vocal

Nome: _______________RG:_________ SSP:______ CPF: _____________ Nacionalidade:___________Naturalidade:__________Data de Nascimento:__/__/__ Estado Civil: _________Cônjuge:___________Filho(s): __________________ Filiação: Pai______________ Mãe________________Endereço:__________________________________Complemento:___________Bairro: ______________Cidade: _____________________ UF: ___________Tel. Res.:______________ Tel. Cel.: ______________E-mail: ____________________________________Escolaridade:________________________________Religião: ____________________ Batizado:________Igreja que frequenta: __________________________

queira ser acompanhado, é melhor que cada candidato venha sozinho.

O teste não deve ser assistido ou ouvido por ninguém. A não ser você.

Falando nisso, alguns maestros optam por montar uma bancada, e nela

estariam: o diretor do Coral, algum músico convidado para auxiliar na

avaliação; o pianista e o Maestro. Essa é uma boa opção para quem não

tem experiência no assunto, ou quer mais uma opinião.

Deixo, abaixo, duas sugestões de ficha de inscrição e teste vocal.

Você pode acrescentar ou retirar itens de acordo com o perfil do Coral

que vai trabalhar. Coloquei também uma rápida explicação a respeito

de cada item.

No primeiro modelo estamos trabalhando com um teste vocal que

mostre melhor as qualidades da voz do indivíduo. Na segunda tabela, o

modelo tem como objetivo dar informações que mostrem as qualidades

das vozes sem muita experiência. Então, vamos lá:

Page 119: Coral é Coisa Séria

116 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 117

Estas perguntas são fundamentais para descobrir o que eles pensam

e querem. Com certeza, também, ajudarão durante os ensaios, pois

apontarão, por exemplo, nomes para formar uma banda para o Coral.

Ou ainda a capacidade para ter a primeira linha diretiva quanto ao estilo

de música que a maioria do grupo prefere. E também, obter informações

preciosas dos pontos positivos e negativos do passado que, analisados

com sabedoria resultarão em mais acertos e menos erros.

Este primeiro item pode parecer minucioso demais, contudo, se você

recolher estes dados agora, quando precisar de alguma autorização de

cada corista - uma viagem, uma gravação, por exemplo -, você já terá os

dados pessoais e como entrar em contato com cada um deles.

Já estudou música?____ Com quem?_________ Que instrumento?______ Quanto tempo?____Estuda música?____ Com quem? _________ Que instrumento?_______ Quanto tempo? _____ Domina algum instrumento? ____ Qual? _________ Já cantou um solo? __________________Já participou de algum Coral?_____ Qual? _______________ Cantou qual voz?____________Assistiu algum concerto ou evento musical nos últimos quatro meses?___ Qual? ____________Que estilos de música você ouve e gosta? ________________________________________ Dê exemplos do seu gosto musical:_____________________________________________Por que você quer cantar neste Coral? __________________________________________O que gostaria que acontecesse neste ano no Coral? ________________________________

Aos veteranos:

O que mais lhe marcou neste Coral no ano anterior? ________________________________Qual a música que você mais gosta do repertório? Por quê? ___________________________Que sugestão você daria para melhorar o trabalho do Coral? __________________________

Page 120: Coral é Coisa Séria

118 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 119

Nestes itens estão as suas anotações com relação ao potencial de

cada voz. Escute calmamente cada um. Seja atencioso e gentil procu-

rando deixar a pessoa o mais à vontade possível.

Gosto de separar o teste em duas partes; na primeira, a pessoa es-

colhe uma canção para interpretá-la. Sempre aconselho que a música

escolhida seja conhecida, assim poderei acompanhá-la ao piano, mesmo

que tocando ‘de ouvido’; ou que ela traga a partitura. Qual a razão para

isso? Quando acompanho ao piano, sinto que as pessoas ficam um pou-

co mais seguras quanto à afinação melódica, e com isso posso alterar

a tonalidade, variar o ritmo, mudar a harmonia e outras ferramentas

que me possibilitam perceber a sensibilidade e a reação dela em relação

a esses elementos musicais. Avalio a interpretação como um todo, e o

quanto a voz foi clara e qual a impressão que me causou.

No segundo momento, passo para a parte técnica. E avalio da seguinte

forma:

Timbre - começo vendo qual é o seu real alcance, e se este se man-

tém da mesma forma como cantou a música. Imediatamente faço ano-

tações quanto a suas características, se é uma voz rouca – timbre que

tem muito ar junto com o som -, ou nasal – timbre característico por

emitir som ‘pelo nariz, uma voz mais estridente -, ou lisa – timbre sem

vibrato, com voz limpa -, enfim, os detalhes e estilos de cada voz.

Percepção - toco no piano cinco ou seis notas aleatórias e peço para

que a pessoa reproduza o som ‘acapella’. Se ela conseguir, vou difi-

cultando um pouco mais, até conhecer o seu limite.

Comparando os testes vocais com o desempenho dos coristas, cons-

tatei que as pessoas com capacidade de cantar o maior número de no-

tas aleatórias com intervalos de meios tons tendem a ter facilidade não

somente no aprendizado, mas também em decorar a melodia de sua

voz. Além de se manterem afinadas enquanto aprendem uma música. Já

Page 121: Coral é Coisa Séria

118 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 119

observei casos de pessoas que cantaram afinadas a música no teste, no

entanto, não conseguiram fazer o teste de percepção. Essa caracterís-

tica geralmente pertence àqueles cantores com pouca experiência vo-

cal. Os famosos ‘cantores de chuveiro’. Pessoas amantes da música, mas

que por algum motivo não costumam cantar. Não me lembro de algum

destes causar problemas de afinação para o Coral, a não ser o fato de

demorarem um pouco mais no aprendizado e terem dificuldade de se

manter afinados ao lado de uma voz diferente, enquanto aprendem a sua

voz. Cabe aí, uma pequena observação para o posicionamento destes,

nos ensaios e nas apresentações; é melhor que estejam sempre no meio

do seu naipe, e nunca ao lado de uma voz diferente. No teste de percep-

ção, também é possível perceber o senso de afinação das notas. É bem

diferente cantar uma canção, afinado do que notas aleatórias afinadas.

Depois, defina qual o tipo de voz da pessoa. Nesta sugestão de teste

você tem a sugestão de seis vozes, e dependendo de suas ambições mu-

sicais fique à vontade para acrescentar mais vozes, ou até mesmo mudar

os nomes, se preferir. Eu ainda deixo em aberto o item solista. Se a voz

me interessar neste aspecto, faço as devidas anotações. O item obser-

vações, eu uso se ouvi alguma coisa interessante ou diferente na voz, ou

se alguém precisa de alguma atenção específica.

Por último, o resultado. Preencha este item após a pessoa sair da sala,

para evitar que alguém veja. Qualquer resposta previamente dita, ou es-

piada, poderá ser comentada com alguém que ainda não fez o teste, e

isso pode alterar a expectativa das pessoas quanto ao mesmo.

Quero lembrá-lo de que um teste bem aplicado apresenta elementos

suficientes para dar início à escolha de repertório, objetivos musicais e

também a escolher os projetos que necessite do perfil do Coral.

Se você juntar as duas etapas do teste e fizer um comparativo de suas

notas, e elas forem boas, poderá trabalhar energicamente em busca de

Page 122: Coral é Coisa Séria

120 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 121

Da mesma forma que no modelo anterior, a resposta a estas pergun-

tas me darão ótimas diretrizes para o trabalho.

Este item segue igual

ao anterior em todas

as questões, pela im-

portância futura dela,

previamente explicado.

qualidade musical com o Coral que está se formando.

Ficha de Inscrição e Teste VocalNome:______________RG:________ SSP:______ CPF: _____________ Nacionalidade:__________Naturalidade: ________Data de Nascimento:__/__/__ Estado Civil: _______Cônjuge:________Filho(s): __________________ Filiação: Pai: _____________ Mãe_____________Endereço:________________________________Complemento:_____________Bairro: __________Cidade: _____________________ UF: ________Tel. Res.:____________ Tel. Cel.: _____________E-mail: _________________________________Escolaridade: _____________________________Religião: __________________ Batizado: _______Igreja que frequenta:________________________

2° Tabela: Objetivo de selecionar vozes iniciantes:

Page 123: Coral é Coisa Séria

120 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 121

A alteração acontece aí, não somente por suprimirmos alguns itens,

mas também pela forma como executamos este teste. Dependendo do

caso, acompanhar alguém ao piano mais atrapalha do que ajuda. Se este

preferir cantar ‘acapella’, deixo que ele fique à vontade. Quanto à exe-

cução, presto atenção na cor do timbre e como soou toda a música, não

sendo muito criterioso. Na segunda etapa, faço o teste de extensão para

identificação da voz e já a defino. Contudo, se aparecer a possibilidade

de ser um solista, me detenho um pouco mais, e uso elementos da outra

tabela para identificar melhor as qualidades da voz da pessoa. Faço as

observações e a anotação do resultado da mesma forma que no teste

anterior.

Bem, são exemplos simples para você conseguir por a ‘mão na mas-

sa’ e dar início ao seu Coral.

Separação dos naipes vocais

Um problema que pode ser previsto no teste vocal é o equilíbrio do

volume das vozes. Eu prefiro trabalhar com muito mais mulheres a ho-

Page 124: Coral é Coisa Séria

122 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 123

mens. Por exemplo, num Coral de 100 vozes procuro ter 35 sopranos, 30

contraltos, 20 tenores e 15 baixos. Mas, não é uma regra. Aliás, uma regra

que sempre funcionou comigo é durante o teste, marcar em uma folha

separada, as pessoas que passaram no teste, anotando na sua voz se a

afinação é ótima ou média – colocando os não tão afinados como ava-

liação média. E por quê? Porque assim consigo visualizar e consequen-

temente equilibrar os resultados, e ainda, trabalhar com a “compensação

de qualidade”, ou seja, se já tenho um número bom de baixos, no entan-

to eles são fracos, surgindo baixos de qualidade eu aumento o número

para tentar equilibrar os extremos. Gosto também de aproveitar as vozes

Mezzo e Barítono para equilibrar um pouco mais, já que estas vozes são

versáteis e no estilo gospel, do momento, são muito adaptáveis.

A extensão vocal dos naipes

Outro assunto que ‘dá pano pra manga’ quando se conversa com

profissionais de música, na área de Canto, é sobre a definição das vozes.

Não são poucos os casos em que ao chegar num Coral, após os testes vo-

cais, foi preciso trocar uma pessoa de voz. Se usarmos a ideia das vozes

mezzo e barítono como ‘coringas’, isso não seria praticamente um pro-

blema. Contudo, às vezes acontecem erros drásticos. As tabelas que se

tem na música formal também não ajudam muito. Só para exemplificar,

nós conhecemos 1° tenor e 2° tenor. Na verdade, deveríamos conhecer

no mínimo os seguintes tenores: contra tenor, tenor ligeiro, tenor lírico

e tenor dramático. São em torno de 25 tipos de classificação de voz. Por

isso, às vezes, a gente ‘bate a cabeça’ ao tentar definir quem canta o

quê. Complicado não é?

Então, os padrões de extensão vocal que estou habituado a usar são

os seguintes:

Page 125: Coral é Coisa Séria

122 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 123

Soprano: Lá3 (A3) ao Dó5 (C5) natural até o Lá5(A5) com falsete ou

voz de cabeça.

Mezzo: Sol3 (G3) ao Si4 (B4) natural até o Fá5 (F5) com falsete ou voz

de cabeça.

Contralto: Mi3 (E3) ao Lá4 (A4) natural até o Mi (E5) com falsete ou

voz de cabeça.

Tenor: Lá2 (A2) ao Lá4 (A4) natural até o Dó4(C4) com falsete ou voz

de cabeça.

Barítono: Fá2 (F2) ao Sol4 (G4) natural até o Dó4 (C4) com falsete ou

voz de cabeça.

Baixo: Mib2 (Eb2) ao Mi4 (E4) natural até o Sol4 (G4) com falsete ou

voz de cabeça.

BAIXO

BARITONO

TENOR

CONTRALTO

MEZZO

SOPRANOS

Page 126: Coral é Coisa Séria

124 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 125

Como não estamos tratando de técnica vocal, estamos deixando de

lado alguns padrões técnicos. Só para explicar; a extensão vocal abrange

itens como a forma e volume das cavidades de ressonância; o compri-

mento e espessura das pregas vocais; o timbre; características mor-

fológicas; capacidade respiratória, e etc...

Quero apenas sugerir que você olhe e perceba o que precisa para

criar um padrão para seleção de vozes do Coral. E creio que esta tabela

nos fornece uma boa linha de pensamento.

Saliento somente o uso das palavras ‘natural’ e ‘falsete’ ou ‘voz de

cabeça’. Chamamos de voz natural aquela que não sofre alteração no

seu timbre tanto na região grave como na aguda. A voz falsete é a que

substitui a voz que passa do limite da extensão natural substituindo o

som natural por um som ‘falso’ que é mais suave. A voz de cabeça é

aquela intermediária, sendo ela um pouco mais suave que a natural e,

ao contrário, mais forte do que a falsete. Logicamente que para domi-

nar essas formas de timbre é necessário estudar a técnica em uma aula

de canto, e este não é o nosso foco. Estas informações são apenas o

começo de sua pesquisa.

É importante prestar atenção ao seguinte: a passagem da voz natu-

ral para o falsete ou a voz de cabeça, nos homens, é bem perceptível.

Porém, acontece ao contrário com as mulheres. Não são raros os casos

de mulheres que tem a habilidade de deixar a voz natural quase igual

ao falsete ou a voz de cabeça. Preste atenção nas notas limites entre

uma e outra voz. Nos homens essa qualidade é bem mais perceptível,

pois a diferença básica dessas duas vozes é a seguinte: a voz de cabeça

tem mais força, sendo mais semelhante à voz natural. A voz falsete soa

leve, e em muitos casos, falsa. Essa qualidade de força é muito boa nos

homens para explorar agudos em uníssonos com as mulheres, principal-

mente nos barítonos e 2° tenores, por darem ‘peso’ ao som.

Page 127: Coral é Coisa Séria

124 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 125

Discutir sobre este assunto, por vezes é mais complexo do que se ima-

gina, pois cada voz possui o seu DNA. É única. Sendo assim, cada indi-

víduo deve ser motivado a cantar sempre da melhor maneira possível.

Tendo estes dados em mãos, você estará pronto para escolher os

seus coristas e começar, ou recomeçar, com o ‘pé direito’. Não se es-

queça de valorizar o resultado do teste. Exponha a lista de aprovados

em um lugar bem visível, divulgue na internet, faça um ‘barulho’!

Igualmente é interessante você ter contato pessoal com os aprova-

dos, talvez com um cartão, ou uma carta, contendo o nome e a voz de

cada um. Se quiser, deixe mais atraente o material, coloque a foto do

corista como se fosse uma carteirinha; valorize o material humano que

você tem!

Técnica vocal e aquecimento

Está aí um assunto que aprendi a dar valor quando eu comecei a can-

tar de novo. No começo do livro, mencionei rapidamente meu momento

como cantor. Na verdade, não foi rápido não, foi só aquele momento

mesmo. Cantava na igreja de minha cidade natal quando criança, e de-

pois, nunca mais! Você pode me perguntar: “por quê?” Porque sou tími-

do e escuto a minha voz. Em outras palavras, tenho ‘desconfiômetro’.

Há um dito popular que diz: “Nunca diga nunca!” E um dia, por ‘falta

de material humano’ acabei voltando a cantar com um trio. Foi uma

experiência extremamente prazerosa e nela percebi a importância do

aquecimento vocal e a repetição de exercícios e posicionamentos do

corpo como um todo para a melhora do som produzido.

Não podemos esquecer que antes de ser um timbre bonito, ou não, a

voz é a expressão do indivíduo. E como tal, podemos dizer que a maneira

como a pessoa fala, se porta, pronuncia, respira, interage com outros

Page 128: Coral é Coisa Séria

126 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 127

através da voz, diz muito sobre quem é ela. “A voz é a expressão sonora

da personalidade do indivíduo e o reflexo de seu estado psicológico”1.

Acredito que o maior desafio da técnica vocal em corais não seja o

aquecimento da voz, mas a expressão dela. É muito complicado esse

processo, por isso sugiro a seguinte estratégia: comece aquecendo a voz

com diferentes vocalizes, pois sabemos que um atleta que não faz aque-

cimento muscular antes de entrar para a competição, corre um sério

risco de lesão muscular. O mesmo acontece com um ‘atleta da voz’. O

aquecimento diminui a índices relevantes os problemas de rouquidão,

dores e calos nas pregas vocais. É importante fazer um simples e famoso

vocalize: ‘lá, lá, lá’.

Dicas:

No ensaio, você precisa trabalhar com no mínimo quatro elementos

técnicos. Relaxamento e alongamento, postura, respiração e dicção. Va-

mos tratar cada um deles.

Relaxamento e alongamento - independente do horário do ensaio

vivemos em dias que a qualquer momento sofremos tensões. Por isso,

relaxe os coristas com um abraço. Lembro que incidentalmente surgiu

o momento do abraço, afetuosamente chamado de momento do ‘upa’,

em um dos corais que trabalhei. O abraço é recheado de benefícios, en-

tre eles o relaxamento e a sociabilização. Cuide para que esse abraço

não seja muito demorado, porque um momento para interação e re-

laxamento, poderá virar um ‘happy hour’. Na sequência, lembre-se de

alguns exercícios das aulas de Educação Física para alongar a coluna,

pescoço e os ombros. Lembre também que a importância do alonga-

mento é ‘liberar’ alguns músculos que estão tensos. Ocorrendo isso, é

possível fazer com que o corpo inspire e expire mais solto.

1 Coelho, Helens W. Técnica Vocal para Coros; Pag. 13; Editora Sinodal; 4° Edição, 1999.

Page 129: Coral é Coisa Séria

126 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 127

Postura - se durante o aquecimento vocal ou até mesmo durante o

ensaio, o corista ficar sentado de qualquer jeito, ou quando em pé, es-

corado, ou ainda com os ombros caídos, desleixado, enfim; se a postura

for descompromissada e sem motivação, será exatamente isso que ele

mostrará quando o Coral cantar. A postura correta seja sentada ou em

pé, deixa a região abdominal livre, ajuda a reagir melhor aos comandos e

pedidos do Maestro, sem contar que tal postura evita bocejar, esmore-

cer e ainda os mantêm mais alerta.

Tome cuidado para não deixar o Coral com cara de ‘soldadinhos’.

Uma postura correta não significa uma postura reta. Até porque nossa

coluna é torta, semelhante a um ‘S’. Uma boa postura para cantar deve

ser sempre com a planta do pé inteira no chão. Se estiver sentado, a

melhor maneira é pedir que o corista jogue o peso do corpo sobre o

‘bumbum’; não nas coxas como é o costume. Também que levante leve-

mente os ombros e mantenha o olhar e a cabeça à altura do Maestro,

olhando para o horizonte. Da mesma forma devemos estar quando em

pé, modificando apenas o lugar em que colocamos o peso do corpo que

agora apesar de estar com todo o pé no chão, deverá ser colocado nos

calcanhares, e os pés na posição de ‘dez para as duas’.

Lembrando sempre que as posturas corretas ao cantar seguem essas

diretrizes, porém a máxima sempre deverá ser o equilíbrio e a liberdade.

Acontecem apresentações onde o palco é pequeno para que o Coral

possa ter liberdade e equilíbrio. Percebo que quando isso acontece, a

afinação e a vibração do Coral são prejudicadas.

Respiração - esta é a grande vilã da afinação. Uma má respiração im-

plica diretamente em queda na afinação, perda de clareza e qualidade

do som. É importantíssimo este item para o Coral.

Existem três formas usuais de respiração no cantar. Resumidamente são:

1 – Respiração Clavicular: Percebemos quando há movimentos nos

Page 130: Coral é Coisa Séria

128 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 129

ombros, tórax, e clavícula. Esse movimento também faz com que o dia-

fragma seja levemente pressionado para dentro. Não é uma boa opção

por limitar a quantidade de ar a ser inspirado e diminui a capacidade de

controle de saída do ar.

2 – Respiração Diafragmática: É quando ‘enchemos a barriga’ de

ar, estamos empurrando o diafragma para baixo e consequentemente

usando somente o abdômen para a respiração.

3 – Respiração Intercostal Diafragmática: Ela é, basicamente, a jun-

ção das duas formas de respiração, evitando apenas o movimento da

clavícula. Essa é melhor maneira de se respirar no momento de cantar.

Devemos, então, entendê-la.

Nessa respiração, você inspira usando toda a capacidade muscular

do tórax e do abdômen, e controla o processo de esvaziamento com o

músculo diafragma.

Explicar a respiração intercostal diafragmática é fundamental, mas

não adianta saber na teoria, é preciso prática. Tenho percebido que mui-

tas pessoas sabem de tudo sobre a respiração intercostal diafragmática,

porém nunca sentiram o próprio diafragma trabalhando.

O problema é que apesar de o diafragma ser um músculo passivo

de controle, ele faz parte do sistema nervoso parassimpático. Ou seja,

ele sofre influência mais do sistema nervoso que trabalha automatica-

mente, como por exemplo, o coração. Porém, até certo ponto, podemos

manipulá-lo, assim como manipulamos nossa respiração. Querendo pa-

rar de respirar conscientemente podemos fazê-lo, porém na hora em

que faltar o ar querendo ou não, o sistema nervoso parassimpático

ordena a respiração. Por esse motivo a respiração diafragmática é um

pouco difícil de acontecer. Mas não se desespere; preste a atenção em

alguns exercícios que o ajudarão em muito, e mãos à obra.

Em primeiro lugar vamos localizar e sentir o diafragma. Vou tentar dar

Page 131: Coral é Coisa Séria

128 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 129

algumas dicas para isso. Comece inspirando levemente, e depois com o

som de ‘S’, expire. À medida que o ar for acabando, você perceberá sua

caixa torácica encolher e o abdômen diminuir até chegar à sensação de

que acabou o ar, mas não pare aí! Segure o fôlego e não respire. Tente

empurrar mais ar ainda para fora do seu corpo. É nesse momento que

podemos sentir uma força centralizada, quatro dedos abaixo do osso

esterno no tórax, como se fosse um cinto em volta do abdômen, esse é

o diafragma.

Outro exemplo bacana é o susto. Na realidade, o susto e o grito são

exemplos de atuação direta do diafragma. Mas acredito que gritar du-

rante o ensaio provocará no mínimo um desconforto para os ouvidos,

então é melhor optar pelo susto. Geralmente conto uma história apa-

vorante e na hora do grito peço para todos imitarem os movimentos de

susto e antes de gritarem todos ficam como ‘estátua’. Só então, após

alguns segundos, com a força de um grito liberamos o ar com o som do

‘S’. Analise seu corpo e os músculos que estão envolvidos nessas duas

situações, e rapidamente perceberá o seu músculo diafragmático.

Outro problema que abrange a respiração é o habito de inspirar e ex-

pirar erroneamente. Há quem defenda a ideia de que é preciso inspirar

pelo nariz e expirar pela boca. Realmente esse processo é o melhor, mas

talvez não o seja na hora de cantar. Precisamos de ar quando canta-

mos, e alguém que apresente um desvio de septo nasal, não conseguirá

inspirar adequadamente pelo nariz. As pregas vocais precisam vibrar,

portanto na hora de cantar, inspire como e com o que for possível, da

melhor maneira.

Uma boa capacidade respiratória não significa ficar um bom tempo

segurando o som de uma mesma nota, mas sim terminar esse som da

mesma forma que se começou. Para tanto, é necessário aprender a con-

trolar a saída de ar.

Page 132: Coral é Coisa Séria

130 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 131

Um bom e tradicional exercício que funciona é deitado, coloque

um livro sobre o peito e outro sobre o abdômen. Inspire e cuide para

que não haja movimento do tórax, mas somente o do abdômen. Logo

após alguns segundos, elimine lentamente o ar com o som de ‘S’ ainda

cuidando que haja somente movimentos abdominais. Repita esse exer-

cício várias vezes aumentando o seu tempo de execução, pois é um dos

mais eficazes exercícios para sentir o trabalho do músculo diafragma e

de outros músculos do abdômen.

A maior necessidade na respiração é treinar o tempo e a quantidade

de ar que precisamos eliminar durante o canto. Faça o seguinte: toque a

nota Mi bemol, e num determinado pulso conte até nove com a mesma

respiração. Fácil, não é? Agora aumente para a nota Mi e conte até 12.

Ficou um pouco mais difícil, mas está tranquilo. Tente então a nota Fá e

conte num pulso um pouco mais lento até 15, e será bem provável que

o ar fique exprimido. Veja o exemplo abaixo:

Veja o exemplo abaixo:

1

Exercício de Respiração

2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6

7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

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130 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 131

Repita o mesmo exercício, e você verá que dessa vez não houve pro-

blema. O que este exercício nos mostra não é caso inspire melhor, con-

seguirá realizar o exercício. Na verdade, o nosso cérebro, após a primei-

ra experiência, calcula o tempo e a quantidade de ar de que precisa para

realizar o exercício completo. Isso revela a importância de definir no

ensaio, os momentos de respiração nas frases musicais, e enfatizá-los.

Porque dessa forma, o cérebro estará decorando o quanto de ar será

preciso inspirar, e o quanto e como será expirado.

Outro exemplo prático é pegar um verso Bíblico e colocar ritmo nas

palavras. Todos irão recitar o verso sem pausa para respirar. Com o pas-

sar do tempo vão aumentando a intensidade do exercício deixando o

ritmo das palavras mais lento.

Os famosos exercícios de ‘tsi’ também são bem-vindos. Faça sequên-

cias rítmicas, como no exemplo abaixo:

'Tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi'

'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi'

'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi' 'tsi'

1

Exercício de Respiração

2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6

7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

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132 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 133

Logo em seguida termine com longas e calmas inspirações e expira-

ções.

Articulação e ressonância (dicção) – Imagine comigo brasileiros de

diversos pontos do país, conversando:

“Más que Barbaridade, tchê!”

“Vamuxx falarrr sobre dicção no Brasil?”

“PoRquê é estranho, né? Sô...”

“Isso que nóis nem falamo dus miner q num termin as palavr”.

Em um país com dimensões continentais como é o Brasil, torna-se

difícil falar sobre este assunto.

É só você imaginar como a palavra ‘porta’ seria falada por um gaúcho,

um paulista, e um carioca. Só em pensar já começo a rir sozinho. Vamos

lá então:

Gaúcho – Com um ‘r’ só, bem destacado e puxado.

Paulista – (do interior, principalmente de Piracicaba) – PoRta (aquele

som de caipira).

Carioca – Porrta.

Agora misture tudo e tente imaginar cariocas tentando imitar pau-

listas, e paulistas a gaúchos, e estes, os cariocas. Parece que temos três

dialetos.

A música tende a disfarçar os sotaques. Ou exibi-los como nas músi-

cas regionalistas, como as Romarias Nordestinas, por exemplo. Os

maiores problemas que temos são em relação aos ‘s’, ‘l’, ‘r’ e algumas

vogais. Existem outras dificuldades que estão se tornado cada vez mais

comuns, tanto que já aconteceu comigo com a palavra ‘espera’, quando

percebi o Coral estava cantando ‘ispera’, sem contar as frases ‘meu ar’

soando ‘meu a’. Isso são reflexos vindos de culturas, gírias, modismos

linguísticos que ficam gravadas na própria fisiologia da pessoa. Por isso,

em algumas regiões é fácil sonorizar o ‘r’ e em outras não.

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132 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 133

Esses ‘modismos’ por vezes ajudam. A palavra ‘digno’ por exemplo,

em finais de frase com sustentação, soa melhor como ‘dignu’, mas não

ocorre o mesmo se juntar com outras palavras e executá-la rapidamente,

como ‘digno é o Senhor’.

Dentre os exercícios que podemos utilizar para melhorar a dicção es-

tão o ‘prrr’ e o ‘brrr’. Aliás, estes dois exemplos são bons para aquecer

e desaquecer a voz. Peça também para pronunciar exageradamente o

‘a,e,i,o,u’, forçando a abertura da mandíbula, o que permitirá o alonga-

mento dos músculos. Sobre as vogais é importante saber que o ‘a’ é exe-

cutado de maneira simples, somente abrindo a boca. Já o ‘é’, ‘e’, ‘i’ soam

sob a influência da língua, e ‘ó’, ‘o’, ‘u’ com os lábios em movimento.

Agora, se você tem problemas com a pronúncia do seu Coral e não

tem uma fonoaudióloga para lhe assessorar, uma boa maneira é a leitu-

ra em voz alta da letra das músicas. Faça com calma, pedindo que todos

articulem ao máximo cada sílaba, e toda a vez que ouvir um som com

problema, volte e mostre como deve ser pronunciado e cantado.

Dentro deste assunto cabe falarmos sobre ressonância. Quando Deus

nos criou, Ele deixou em nossa face vários ossos que são ‘ocos’ para

usarmos como ‘amplificadores’ e ‘caixa de som’. Vou explicar melhor:

Quando cantamos, todo o corpo vibra, principalmente os ossos da

face, do crânio e do peito. Alguns ossos possuem sulcos que acabam

amplificando a vibração do som produzida pelas pregas vocais. Esses

ossos ocos, ou sulcos, são os chamados ‘Seios da Face’. Quando estamos

articulando claramente e emitindo o som da maneira correta, os seios

da face vibram e ressoam as frequências ampliando a sua vibração, tor-

nando possível aumentar o volume do som sem grande esforço vocal. A

habilidade de cantar usando os ressonadores da face, com a respiração

Intercostal Diafragmática é a famosa voz empostada.

A maioria das pessoas leigas no canto, nem imaginam como fazer isso.

Page 136: Coral é Coisa Séria

134 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 135

Comece então a demonstrar como usar os ressonadores da seguinte

maneira:

1° - Tranque o nariz com a mão e peça pra falarem as vogais. À medida

que pronunciam, diferentes partes da face vão vibrar, e cada um deverá

identificar as vogais que mais salientam o som nasal. Depois, peça para

movimentar a mandíbula e a língua de maneira diferente em cada vogal

prestando atenção no movimento que o som faz em cada situação.

2° - Com os dentes cerrados e a língua presa ao fundo da boca, repe-

tir o nome das vogais e perceber o movimento que o som faz na face.

3° - Deixando a mandíbula solta (mole e caída) diga as vogais e peça

para cada um analisar o seu som.

4° - Com a mandíbula ainda solta repita o exercício anterior, porém

com a cabeça bem inclinada para frente e depois para trás.

Esse será o primeiro contato de alguns com o som da própria face.

Aproveite a oportunidade para falar novamente sobre a importância da

postura e da respiração correta, da clareza na articulação das palavras e

do aquecimento vocal.

Após o aquecimento – Para que servem os exercícios técnicos

Agora começa o trabalho técnico.

Me diverti muito assistindo aos filmes Mudança de Hábito I e II. A

versão da canção Happy Day então, nem se fala, virou uma ‘febre’, uma

‘paixão’! Lembra dessa cena? O Coral de alunos ‘rebeldes’, agora com-

portados, cantando com timidez e vergonha, ainda mais o solista. Foi

quando de repente, a maestrina (interpretada por Woopy Goldberg)

interrompe o curso normal da música e começa um movimento muito

usado nos aquecimentos: Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, e o Coral repetiu.

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Lembra? Ao começarem a segunda estrofe o som, o clima, a postura de

todos melhorou e surge então à hilariante e inesperada nota agudíssima

do tenor. Nossa! Muito legal!

O que funcionou no filme foi o aquecimento? Deixando o filme de

lado, vamos falar sobre vocalizes.

O aquecimento vocal só é completo se ele abranger toda a extensão

das pregas vocais. Quando cantamos notas agudas, às pregas se fecham

mais, deixando uma pequena parte vibrando, e acontece o contrário com

as notas graves. Funciona mais ou menos como o violão, quanto mais

grave a nota, mais longa é a corda. Quanto mais aguda, mais curta a corda.

Este princípio rege todos os instrumentos. Quanto mais longo o tubo, mais

grave o som. Como você pode ver na tuba, no trombone. E quanto mais

curto, mais agudo. Como é o caso da Flauta Transversal e do Flautim.

Quem toca qualquer instrumento sabe que, para começar a tocá-lo

é necessário o aquecimento do mesmo. Se afiná-lo sem aquecê-lo, logo

nos primeiros movimentos, o instrumento mudará sua afinação devido à

dilatação do metal. Em lugares onde o inverno é mais rigoroso, por vezes

é necessário parar o concerto para que os instrumentos sejam afinados

novamente. Com a nossa voz é quase a mesma coisa.

Encare o ‘aquecimento do instrumento’ como a ‘limpeza da voz’. Isso

mesmo, limpeza. Quando estamos falando não usamos extensões ex-

tremas da voz, isso significa que somente uma parte das pregas vocais

está sendo usada. Assim, as extremidades ficam mais lubrificadas. Essa

lubrificação, que serve para evitar o ressecamento e proteger, acaba ab-

sorvendo diferentes substâncias e ficando muito espessa, prejudicando

a vibração limpa da voz. É geralmente quando tentamos cantar com as

pregas nesse estado que em seguida acontece a vontade de tossir. Aliás,

evite tossir ou arranhar a garganta. Apesar de limpar as cordas, esse

movimento machuca a musculatura e resseca as pregas, podendo com o

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tempo inflamar. As pregas ficam avermelhadas; ou até se formam ‘calos’,

que nada mais são do que a falta de capacidade de fechar a passagem de

ar para a vibração correta do som.

Outro fator que aumenta a concentração desse líquido são alguns

alimentos contendo açúcar e gordura em excesso (chocolate, doces em

geral, alimentos gordurosos), e líquidos com temperaturas muito quen-

tes ou frias, por causa do choque térmico. Com isso, movimentos de no-

tas que começam na região grave e vão para o agudo, e vice-versa, são

ótimos para limpeza da voz, mas não devem ser feitos de qualquer jeito.

Se você não domina a questão do aquecimento vocal, é melhor começar

com uma melodia não muito aguda e nem muito grave e ir aumentando

a tonalidade aos poucos, do que sair cantando vocalizes; podendo assim

machucar as pregas vocais.

Além do mais, o trabalho de técnica vocal deve ser voltado a atacar as

dificuldades do Coral como um todo ou em cada música. Não esquecen-

do que a primeira dificuldade sempre será a limpeza e aquecimento da

voz. Se for necessário melhorar a extensão vocal, faça trabalhos que en-

volvam alternâncias de notas agudas e graves. Se faltar volume, trabalhe

com sons que mecham com os ressonadores da face. Se o problema for

percepção e afinação, exercícios que envolvam distâncias de meio tom

e saltos, e assim por diante.

Exemplos de exercícios técnicos

Vou deixar alguns exercícios para trabalhar algumas dessas dificul-

dades.

1. O famoso Lá, Lá, Lá. Deverá ser executado com auxílio do piano,

subindo e descendo tonalidades de meio em meio tom. Para trabalho de

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A e i o u o i e a Piano A e i o

u o i e a Piano A e i o u o i continua...

La,

La, la, la.

la la la la la la la la Piano Lá la la la

la la la la la Piano La la la la la la la continua...

percepção é interessante você saltar para diferentes tonalidades, como

por exemplo, de Dó maior pra Fá sustenido maior.

2. Trabalho com vogais. Segue a mesma ideia do exemplo anterior,

ficando a articulação e o posicionamento.

3. Trabalho com vogais e percepção de vozes femininas e masculinas:

segue a mesma ideia do anterior, porém os homens começam na região

aguda e as mulheres normalmente. A inversão também pode acorrer..

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La, la la la la la la Piano Lá la

la la la la la Piano La la la la la continua...

La, la la la la la la Piano Lá la

la la la la la Piano La la la la la continua...

A e i o u o i e a Piano A e i o

u o i e a Piano A e i o u o i continua...

4. Percepção de intervalos longos: com este exercício desenvolver-

emos o salto de uma 8°. Tenha cuidado na afinação desta nota, lemb-

rando que não tem como você subir e descer a tonalidade tanto quanto

nos exercícios anteriores.

5. Percepção de intervalos longos em tom menor: idem ao anterior,

porém com a alteração do 3° grau da escola. Prestar atenção no salto e

no meio tom.

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La, la la la la la la Piano Lá la

la la la la la Piano La la la la la continua...

6. Meio tom: um exercício simples e muito útil. Cuide para que seja

executado lentamente e o mais afinado possível.

7. Vi, vi, vi: trabalha com o som mais nasal. Deve ser executado rapi-

damente.

Lá la la la la la la la la Piano Lá la la la

la la la la la Piano La la la la la la la continua...

La la la la

Vi vi vi vi vi vi vi vi vi Piano Vi vi vi vi

vi vi vi vi vi Piano Vi vi vi vi vi vi vi continua...

8. Mâ, mi: Nasal e aberto.

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9. Brem, prim: ajuda a sentir a vibração na face. Além disso, sua se-

quência ascendente de notas vai até a quarta, reforçando um trabalho

de percepção.

10. Zi-u zi-u: trabalhamos com os sons de ‘z’, é importante cuidar no

som do ‘i’ neste exercício.

Ma mi ma mi ma mi ma mi ma Piano Ma mi ma mi

ma mi ma mi ma Piano Ma mi ma mi ma mi ma continua...

Brem prim brem prim brem prim brem prim brem Piano Brem prim brem prim

brem prim brem prim brem Piano Bremprim brem prim brem prim brem continua...

Zi u zi u zi u zi u zi Piano Zi u zi u

zi u zi u zi Piano Zi u zi u zi u zi continua...

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11. Na-o: trabalha com a abertura do ‘a’ para o movimento labial.

12. Escala: com este exercício estamos desenvolvendo a extensão

vocal do Coral.

Na o na o na o na o na Piano Na o na o

na o na o na Piano Na o na o na o nacontinua...

Zi u zi u zi u zi u zi Piano Zi u zi u

zi u zi u zi Piano Zi u zi u zi u zi continua...

Dó ré mi fá sol lá si dó dó Piano Dó ré mi fá

sol lá si dó dó Piano Dó ré mi fá sol lá si continua...

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O único cuidado que você precisa ter é não exigir demais das vozes.

Geralmente, os corais de igreja são feitos de pessoas que não são

cantores profissionais e a falta de cuidado no aquecimento e trabalho

técnico vocal poderá prejudicar imensamente a voz dos cantores, refle-

tindo em rouquidão, ou efeitos como voz ‘rachada’ e cansada.

Peça também para que os coristas façam uso abundante de água, e

inclusive, levem uma garrafinha com água para o ensaio.

Anime-se!

Com a diretoria afinada no discurso; o Coral motivado nos projetos;

o ensaio sendo pensado e preparado do começo ao fim; o repertório

escolhido levando em consideração os objetivos e limitações do Coral...

Só falta acontecer o primeiro ensaio.

Valorize também esse momento. Torne o primeiro ensaio inesquecí-

vel para o corista. Escolha alguém que possa deixar uma mensagem ins-

piradora, geralmente um Pastor ou músico da admiração dos coristas

são os que mais agradam.

Encontre um vídeo motivador. Se possível, faça um vídeo dos me-

lhores momentos do ano anterior. Comece com uma música nova.

Deixe um momento para os novatos. Diferentes brincadeiras podem

aproximar os novatos dos veteranos. Lembro de já ter feito ‘torta na

cara’ com perguntas que somente veteranos sabiam a resposta. Tam-

bém criamos um juramento para os novatos sendo uma cláusula ‘de-

ver fidelidade ao veterano’. Divertido. Em algum momento do ensaio

é interessante uma pausa para oração em dupla, orientando que seja

um veterano com um novato, e ainda, que eles conversem um pouco e

orem juntos pelo Coral.

Ao terminar, repita rapidamente as orientações para o próximo en-

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saio, e peça que a diretoria fique para conversar sobre o feedback deles

com relação ao Coral, nesse primeiro ensaio.

Anime-se. É o começo, ou recomeço, de um ano certamente, repleto

de bênçãos!

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Maestro, você é a pele do seu Coral! Maestro, coloque-se na situação de pele! Seja o elemento de união entre os órgãos para uma forma estética bela. Ouça todo o Coral, suas quei-xas, seus elogios. Transpire, proteja, sinta!

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T

O Maestro, a pele

alvez você já tenha reparado que procuro começar cada assunto com

uma experiência ou um fato para introduzir a ideia e situá-lo melhor no

conteúdo, mas desta vez, quero fugir a regra. E como...

“Assim como carne, intestinos e vasos sanguíneos estão encerrados

em uma pele que torna a visão do homem suportável, também as agi-

tações e paixões da alma estão envolvidas pela vaidade, ela é a pele

da alma” (Nietzche).

Não se incomode em ler de novo e refletir.

Já falamos muito sobre as diferentes estruturas que tornam o Coral

um ‘organismo vivo’. Dissecamos cada órgão, mas ainda falta um que

protege, envolve e modela todos os demais. Não é que seja o mais im-

portante, e jamais o será, porém é o que mantém todos unidos e esta-

belece a forma que o Coral terá.

Assim como a pele protege e envolve os órgãos, ela também é res-

ponsável pelo tato, transpiração e manutenção do calor dentre suas

principais funções. Uma pele enrugada, manchada, com cravos e es-

pinhas, doente, representa muito mal o organismo que a compõe. Da

mesma forma, ela deve ser coerente com seu organismo. E não adian-

tam plásticas, maquiagens, roupas lindas e de grife, tratamentos de em-

belezamento da pele que essas formas de ‘disfarces estéticos’ sempre

são revelados pelo tempo e pela ‘saúde dos outros órgãos’.

Qual é o seu tipo de pele? Que sinais existem na sua pele? De tra-

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balho? Se você comparar a pele de minhas mãos com as de meu pai,

descobrirá que as dele são mais ásperas e grossas que as minhas. Porém,

me orgulho das mãos de meu pai. São elas que testificam o zelo e cui-

dado que teve pela minha família e por mim. Não quero dizer que calos

signifiquem trabalho, mas cada pele justifica o trabalho que tem, seja ela

por excesso de desgaste ou de cuidados.

Falando em pai o que dizer então da pele de Jesus? E as cicatrizes dos

pregos, dos açoites? Com certeza não acharemos feia, pelo contrário,

nos levará a comoção.

Maestro, você é a pele do seu Coral! Maestro, coloque-se na situação

de pele! Seja o elemento de união entre os órgãos para uma forma esté-

tica bela. Ouça todo o Coral, suas agitações e paixões, suas queixas, seus

elogios. Transpire, proteja, sinta! Encha o coral de orgulho.

Maestro como pele ressecada

Fico incomodado quando vejo um Coral acuado pelo Maestro. Já par-

ticipei de cursos e encontro de músicos em que os maestros se impõem

com grosseria para provar que estão lá porque merecem. Qualquer um

que discorde ou questione as ordens do Maestro deverá ser humilhado

até ser colocado em seu ‘devido lugar’. Já ouvi respostas do tipo: “quer

reger no meu lugar?” “Estudei tantos anos e fiz tais cursos e tal coisa pra

um fulaninho como você vir aqui e duvidar do que estou fazendo, que

audácia!” “Você sabe com quem está falando? Então é melhor se colo-

car no seu devido lugar!”

Sinceramente, eu não perco meu tempo em participar de um ambi-

ente com problemas de estima mal resolvidos e autoafirmação de ego.

Sabe, o resultado final dessas atitudes são falta de diálogo, desgaste e

frieza. É sentir as coisas somente na mente e nunca no coração. É uma

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pele ressecada, fria e pálida que com o tempo, o organismo que a com-

põe adoecerá com manchas e feridas de ressentimentos. Sabe, as pes-

soas hoje não reagem mais como há 10 anos. Ninguém mais quer partici-

par de ambientes com atitudes tão autoritárias e autoafirmativas.

Maestro, seja pele! Domine as suas vaidades da alma e as do seu

Coral também. Mas não uma pele que não sabe se impor! Ser como o

exemplo anterior é ruim, mas ser o inverso é pior ainda. A insegurança

deixa exposto o corpo.

Maestro como pele frágil

Um amigo Maestro perdeu o seu emprego, e conversando um pouco

com ele, percebi rapidamente o problema. Ele afirmava que tentava le-

var os ensaios na maior democracia, perguntando quase tudo aos coris-

tas ou membros da direção. Essa postura leva a situações embaraçosas,

por isso, evite perguntas ao Coral como: “escuta, está muito agudo?”

“Querem mudar a nota?” “Então, qual a música que vamos cantar ago-

ra?” Nem afirme: “Eu não sei por que foi escrito assim esse arranjo!”

“Não fui eu quem escolhi!” “Não aprendi ainda essa música”. “Não gosto

dessa música”.

Colocações dessa natureza resultam em comentários como: “ele é o

Maestro e não sabe nada?” “Se ele não sabe do arranjo, o que vai ser

de nós?” “Como ele escolhe um repertório que não gosta?” E mais, logo

chegará o dia em que um corista porá em dúvida alguma situação ou

arranjo, e se não souber responder, nem resolver o problema, resultará

em um mal-estar horrível! As agitações da alma, a vaidade... Você como

Maestro precisa estar atento a isso para ser pele.

Se você estiver passando por uma situação assim, saiba que a solução

é simples. Vá para o ensaio sabendo o que irá fazer. Algumas coisas você

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pode colocar em discussão porque realmente é importante a participa-

ção de todos, mas tenha o cuidado de expô-las com limites, pois você é o

responsável e, teoricamente, o que sabe do assunto. Se outros decidirem

por você, e lá na frente algo sair errado, o culpado será o Maestro, e não

seus coristas. Quando ficar na dúvida de que música cantar, por exem-

plo, rapidamente faça uma escolha por voto, vence a maioria: “quem

quer tal música, levanta a mão!” Conte e faça o mesmo com a outra. A

maioria vence. Se mesmo assim, continuarem as dúvidas, escolha você

e pronto. As pessoas poderão até se incomodar de não terem cantado a

música que gostariam, mas não terão a chance de dizer que houve falta

de oportunidade. Um erro comum é achar que nesses casos, não ouvir o

corista resolve. Na verdade, a solução acontece fazendo exatamente ao

contrário. É você ouvindo e estando preparado para responder a tudo,

pois você sabe o que quer e para onde está indo.

Jamais um Maestro deverá perguntar ao Coral algo que ele tem

dúvida. “Pessoal ficou bom?” “Gostaram assim?” “Querem que mude o

arranjo?” Perguntas assim, deixam um ar de insegurança e podem com-

prometer sua influência sobre o grupo. Escute o que você está fazendo.

Se alguns não gostaram, mas você alcançou o seu objetivo com o Coral,

tudo ficará bem e assunto encerrado. Todavia, se você mesmo não gos-

tou, seja sincero com o Coral e pense na solução. Podendo ser feita na

hora, ótimo, se não, leve pra casa e traga a solução no próximo ensaio.

Algumas situações embaraçosas

Agora, em todos os corais existem aqueles que sabem mais que o

Maestro – e não há problema algum nisso – mas parece que alguns

desses querem provar isso para o Coral inteiro. Então, seja mais esperto.

Deixe a pessoa fazer a observação que ela acha importante e depois

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com calma, diga que prefere fazer do seu modo, que vai seguir como

está ensinando por tal e tal motivo. Depois, continue o ensaio como

você planejou.

Trabalhei num Coral onde um corista tinha este perfil. Adorava me

questionar e provocar com conversas extremamente ruidosas, polêmi-

cas. Eu o observei. Percebi que sua intenção era uma repreensão em

público. Todavia, fiz exatamente o contrário. Não dei valor às coisas que

fazia e dizia. Quando tinha alguma observação, eu o escutava com muita

atenção e respondia calmamente, explicando que sabia o que estava

fazendo e onde queria chegar. Imediatamente seguia o planejado. Por

fim, ele desistiu. Escolheu sair do Coral e isso aconteceu naturalmente,

sem termos tido nenhuma discussão.

O mais importante é saber o que se está fazendo. Para isso: prepare-

se! Estude! Chegue ao ensaio antes e esteja atento a tudo!

Porém, algumas circunstâncias precisam de um pulso um pouco mais

firme. Vivi um caso em que trabalhando na renovação de um repertório,

um corista questionava todas as mudanças, a tal ponto que foi preciso

me impor mais. Veja, só me impus porque sabia que a diretoria e o Coral

já estavam fartos com as interrupções e questionamentos que ele fa-

zia. A história que relato a seguir, não é motivo de jactância. É apenas

um exemplo de uma situação extrema em que tive que tomar uma pos-

tura enérgica. Em um dos ensaios, esse corista argumentou arrogante-

mente:

“Réges, olha só, nosso Maestro anterior fazia de outra maneira nessa

música porque ficava melhor”.

O sangue me subiu a cabeça e não me contive:

“Réges, é para os íntimos. Aqui sou o seu Maestro. E, por favor, o

Maestro anterior está em tal cidade trabalhando com tal Coral. Com

certeza, você será bem recebido lá. Agora, estando aqui, será conforme

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a partitura que está em suas mãos”.

Bem, ele saiu do Coral e nunca se mudou de cidade.

Acho até que minha experiência parece final de filme americano onde

o bandido bate, bate, e no final o mocinho dá um ‘tapinha’ ganhando a

luta. Graças a Deus, nem sempre é preciso agir assim.

Agora estou contando os louros dessas situações, porém, passei por

muitas outras, extremamente desastrosas por não saber me impor e

nem conduzir as diferentes situações. Sobre este assunto, temos sempre

o que aprender, e por enquanto o que aprendi foi que se tivesse ouvido

sempre os coristas nas suas dúvidas, inclusive os ‘chatos’, me posicio-

nando claramente e mostrando meus objetivos com calma e respeito,

teria evitado muitos desgastes.

Uma pele flácida e sensível a doenças e inflamações, precisa de muita

roupa para cobri-la e protegê-la por ser muito sensível, ficando ainda ex-

posta a vaidade de coristas. Maestro com este perfil tem pouco tempo

de vida no Coral.

“Mas então, o ideal é o meio termo?” Sim e não.

Eu estava participando da primeira reunião de diretoria do Coral,

quando o Maestro anterior chegou para me passar algumas dicas. Todas

preciosas, mas uma em especial, chamou a minha atenção:

“Réges, cuidado com o fulano. Ele é o problema de disciplina no Coral”.

Fiquei preocupado e anotei o nome da pessoa, e confesso que me

frustrei. A pessoa a quem o Maestro se referiu era conhecido no Co-

ral pelo seu apelido e eu não sabia. Passaram-se seis meses até que eu

descobrisse que o ‘problema disciplinar’ era meu amigo.

Mas por que isso? Simples. Todo o ser humano gera empatia e an-

tipatia já no primeiro contato visual. Por algum motivo esse ‘problema

disciplinar’ teve antipatia com os maestros anteriores. Mas comigo não e,

nem eu com ele. Da mesma forma que tive problemas de antipatia com

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coristas que não tiveram a mesma sensação com outros maestros. Já ouvi

pessoas me dizerem que preferem outro Maestro a mim, não por causa

da minha competência ou não, mas simplesmente por que gostavam mais

do outro. Simples assim. Nem Jesus agradou a todos, não acha um obje-

tivo muito grande querer que o Coral o respeite em cem por cento?

O meio termo procura o equilíbrio. Neste caso, o Maestro ideal é

aquele que protege, transpira, aquece e modela o Coral, que tem seus

objetivos bem claros e definidos, independente se isso desagrada a al-

guns. Se você quer ter sucesso como Maestro, faça isso; proteja cada

coristas dando a eles segurança na sua regência, certeza na voz que

estão cantando, sendo aberto a dúvidas de coristas e firme na criação

artística da música mostrando claramente qual o objetivo. Um Maestro

que transpira carregando o estrado (tablado), o som, ajudando na orga-

nização dos departamentos, trabalhando de ‘sol a sol’, e por fim, estando

sempre alegre e motivado. Essas duas últimas atitudes, principalmente,

mantêm o Coral aquecido. Um bom Maestro sabe dar não a sua ‘cara’

ao Coral, mas a ‘cara’ dos coristas. É claro que o estilo musical de cada

Maestro aparece, mas quando falamos de modelar o Coral e oferecer

beleza, estamos falando de segurança e identidade. Um Coral que gosta

do som que a união produz e tem a cara do Maestro.

A regência: Técnica básica

“Ei Réges, você sabe que nosso Coral ficou sem Maestro?” – Abor-

dou-me uma jovem senhora.

“Ah é? Não sabia, não. Por quê?” - Perguntei.

“A pessoa que estava regendo se desentendeu com a diretoria. No

último ensaio disse para todo o Coral que ficar lá na frente ‘balançando

as mãos’ qualquer um faz, que ele queria ser mais, e a diretoria do Coral

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não deixava. Queria liberdade total nas decisões do Coral, e como isso

não era possível, optou por sair!” – Respondeu-me.

Fiquei indignado! Não sei quanto a você, mas em todos os corais que

participei como corista, o Maestro ‘balançava as mãos’ e fazia toda a

diferença. Aliás, quando cantávamos sem ele, nunca saía com a mesma

qualidade. Qualquer um pode ‘balançar as mãos’ na frente do Coral, me-

nos aqueles que sabem o que significa isso. Não há outra maneira de

fazer o seu coro cantar conforme o ensaio se você não souber lembrá-

los na apresentação. No terceiro capítulo falamos da memória ‘priming’.

Você lembra? Aquela que acontece com uma dica, seja de algumas no-

tas na partitura, seja algumas palavras num poema. Pois é, a memória

‘priming’ pode ser o gesto do Maestro também.

Por diversas vezes, tive de reger o Coral estando ao piano. Não é igual.

Falta garra no cantar, exatidão nos cortes, a dinâmica é quase nula e

a tensão é muito maior. Na verdade, quando se está regendo fazemos

muito mais do que marcar o andamento e os cortes corretamente. É

importante que saibamos de algumas atribuições do Maestro a começar

pelo gestual. Essa movimentação acontece com o corpo todo, por isso

vou começar falando sobre o trabalho sem as mãos.

Postura - tecnicamente, os pés devem estar levemente afastados.

Quando um pé fica a frente do outro pode demonstrar insegurança,

mas há controvérsias nessa postura, pois ela também pode ser de tran-

quilidade. Particularmente altero a posição dos pés de acordo com a

música. Quando for alguma música de grande dificuldade, mantenho-

me alinhado com os pés levemente afastados. Em peças mais simples,

ritmadas, fico mais a vontade como se quisesse ‘combinar’ com o estilo

da música.

O corpo deve ficar ereto transparecendo um porte elegante. Tenha

cuidado para a sua postura não acabar sendo diferente da do Coral. Um

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porte elegante é acima de tudo condizente com o ambiente. A formali-

dade ou informalidade de um concerto não deve ditar a sua postura,

mas sim, as características do seu Coral.

Juntamente com um porte elegante, está o vestuário. Perceba o

seguinte: sempre é bom que o Maestro faça regência de terno, e este

preferencialmente, preto. Mas você está em um programa jovem, seus

coristas estão usando a camiseta com a logomarca do Coral. Em conse-

quência disso, qual seria o seu traje? Sugiro que você se vista como eles.

E qual deveria ser a melhor postura?

A cabeça deve estar erguida. É preciso ver seus coristas nos olhos.

Esse olhar dará ao Coral confiança ou não, em você. Além disso, possibi-

lita que todos o enxerguem pelos seus olhos. Poderá acontecer de você

perceber o nervosismo dos coristas momentos antes de cantar, nesse

caso, não perca tempo e converse rapidamente com eles. Descontraia.

Peça concentração no que eles estão fazendo e que olhem para você.

Tome com seus olhos a responsabilidade do momento, depositando

neles a sua confiança.

Já comentei anteriormente sobre uma frase que costumo usar: “se

eu errar, errem comigo!”

Nós estávamos nos apresentando em uma vigília e havíamos termi-

nado de cantar a primeira música. Olhei para o pianista e pedi a nota

sol, pois na próxima música o Coral cantaria um compasso ‘acapella’ e

depois a banda entraria. Ele deu a nota. Eu olhei para o Coral. Fiz o movi-

mento de ‘respirar’ e dei a entrada. Todos entraram. Marquei a entrada

do piano, e na sequência olhei para a banda que também entrou. Tudo

certo. Foi aí que eu vi algo muito estranho: o que o trio que iria inter-

pretar a música juntamente com o Coral estava fazendo no meio dos

coristas? Já era para eles terem pegado os microfones!

Foi quando eu me ‘toquei’. Eu não dera tempo para que eles saíssem

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1 2 3

1 2

da posição no meio do Coral e já começara a música. Na verdade, o Coral

inteiro não estava entendendo nada, mas erraram comigo, e me senti

orgulhoso deste erro. Parei a música. Esperei que todos se posicionas-

sem e então recomeçamos.

A postura influência em muito na confiança do corista em seu Maes-

tro. Nunca se envergonha de um erro. Erros existem para descobrir o

caminho da vitória. Parafraseando, eu nunca tive tanto orgulho de um

erro como esse, pois todos confiaram em mim, e erraram comigo. Tive

orgulho de ser o culpado.

O gestual

Em qualquer curso de regência básica que você for, começará apren-

dendo os movimentos dos braços nos compassos binários, ternário,

quaternário e composto. As formas básicas de gestos ainda são as mes-

mas, o que atualmente tem se diferido é o papel do Maestro quanto aos

seus gestos e algumas mudanças por causa do excesso de contratempo

que a música atual possui, alterando assim a questão do ponto de cada

tempo para um centro. Confira nas figuras abaixo:

Ternário:

Binário:

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Quaternário:

Composto Binário:

Composto Quaternário:

1 e e 2 e e 3 e e 4 e e

1 e e 2 e e

1 2 3 4

De um modo geral seus gestos devem indicar claramente o anda-

mento da música, bem como seus pontos de entrada, cortes e dinâmica.

Seja discreto. O seu braço direito deve atuar como o metrônomo e o

esquerdo indicador de todos os demais detalhes.

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Cuide para que seus gestos sejam discretos tanto para o público como

para o Coral. Não há mérito em grandes movimentos. Por essa razão a

batuta é indicada nos casos onde o Coral é muito grande, e fica difícil

para todos perceberem os movimentos do Maestro. A batuta torna-se

uma extensão do braço, evitando assim movimentos bruscos.

Outro detalhe: evite conversar com o Coral durante a música. A fala

deverá ser o último recurso. O cantar junto pode ajudar na questão da

letra, principalmente em músicas que os coristas não estão totalmente

seguros no texto. Porém, ao cantar junto, você não conseguirá ouvir as

outras vozes, portanto, limite o uso do canto.

Piano, Banda e Orquestra - a relação do Maestro com outros músi-

cos instrumentistas é por vezes muito melindrosa. Volta e meia existem

pequenas resistências por gostos pessoais em relação ao arranjo, anda-

mento e até mesmo na dinâmica. Acontece muito de o pianista saber

mais que o Maestro. Sendo assim, geralmente é ele quem dita o anda-

mento, o clima da música e dependendo da maneira como toca, influên-

cia na dinâmica também. Quando a situação é inversa, gera problema

com o desempenho do Maestro que acaba se preocupando muito com

o piano e pouco com o Coral.

Em qualquer situação a conversa sempre é o melhor caminho. O

Maestro deve procurar a solução. Uma sugestão é definir as funções e

limites de atuação de cada um, nunca com arrogância ou autoridade,

mas com respeito ao colega de profissão.

Um pouco diferente é a relação do Maestro com uma banda, pois

geralmente os instrumentistas não recebem nada por este trabalho, seja

do tamanho ou da forma que for. Como várias pessoas se dispõem a

acompanhar o Coral , é importante que o Maestro saiba valorizar seus

músicos tratando-os de forma diferente. Não estou falando de criar uma

sessão de privilegiados do Maestro, mas sim, do próprio Coral ter um

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grupo específico de pessoas que auxiliem os músicos no processo de

montar, desmontar e carregar os instrumentos. Responsabilizar pessoas

que possam buscar e levar, bem como resolver alguns problemas de

deslocamento de certos instrumentos grandes ou pesados que precisam

de cuidado especial para o transporte.

É importantíssimo o Coral entender e ver à dificuldade que é encon-

trar instrumentistas dispostos a assumir tal compromisso; reunir um

grupo de pessoas específicas com condições de ser uma banda. Conse-

quentemente, é preciso se dar muito valor ao que significa ter músicos

tocando para o Coral.

Quando você é chamado...

A primeira vez que ouvi o The Brooklyn Tabernacle Choir não me

ocorreu nem de longe a possibilidade de sua história ser tão miracu-

losa. Esse Coral, como qualquer Coral de grande porte tem suas regras

de ensaio. A presença e a participação são muito rígidas. Sua agenda é

recheada de grandes eventos, porém a maioria deles acontece em sua

própria igreja. Fazer parte deste Coral é um privilégio, porém, requer

muita responsabilidade. Imagine então o Maestro? Estar nessa função,

nesse Coral, deve ser no mínimo desafiador para um músico.

O Brooklyn é um bairro que tem representação étnica de todo o

mundo. Contudo, é um bairro pobre e violento. Quando os ouvi, de-

duzi o mesmo que todos deduzem a respeito dos americanos; “eles têm

muito dinheiro e são muito competentes no que fazem”. Isso justificaria

o motivo pelo qual o Coral do Brooklyn é um Coral grande e de prestígio.

Mas foi assim, pelo menos não no começo.

Jim Cymbala é o Pastor da igreja do Brooklyn. E Carol, sua esposa, a

Maestrina do coro. Quando chegaram ao Brooklyn à igreja estava aban-

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160 I Coral é Coisa Séria I

donada e não existia um Coral. Jim possuía pouca experiência como Pas-

tor, Carol era muito tímida e sabia somente o básico de música. Carol

Cymbala nunca havia sonhado em dirigir um Coral, e sabia que não tinha

condições técnicas para fazê-lo. Ela não fazia ideia de que um dia, pos-

suiria qualidades de compositora e teria postura de liderança perante

220 coristas.

O The Brooklyn Tabernacle Choir é hoje uma referência mundial na

música gospel com Carol Cymbala sendo a Maestrina.

O que eu quero dizer com esta história?

No começo do capítulo anterior comentei que estava preocupado

com aqueles que não possuem experiência ou conhecimento em música

e estão dispostos a começar um Coral em sua igreja. É uma grande res-

ponsabilidade ser maestro. Porém, observe o exemplo de Carol Cym-

bala. Quando Deus chama, Deus capacita.

Se você está com medo de aceitar o desafio de ser Maestro de um

Coral, mas Deus não o está deixando em paz, não se preocupe, Ele pro-

verá todas as coisas. Faça a sua parte. Estude. Ore. Trabalhe. Seja hu-

milde. Não desanime. Corra atrás. E acredite: Deus fará maravilhas por

e com você.

Agora, não se deixe levar pelo pensamento de que o Maestro só ‘ba-

lança as mãos’ na frente do Coral. Isso é limitar o próprio Coral. Prepa-

rar repertório, ensaio, recital, pianista, banda, solistas, não me parecem

pouca coisa também. Um ditado antigo muito usado pelos gregos reza

assim: “Deixai-me fazer as canções de uma nação, que pouco me im-

porta quem faz as suas leis”1.

Reflita na sua condição de Maestro. De tudo que se foi falado neste

livro, à pessoa que mais tem poder de influência sobre o Coral é o Maes-

tro. Cabe então, uma reflexão do tamanho desta responsabilidade.

E... Mãos à obra, Maestro!

1 Grout, Donal J e Palisca, Claude V. Historia da Música Ocidental; Pág 21; Editora Gradiva

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“Todo o ato, toda a ação de justiça, misericórdia e be-nevolência, produz música no céu”. (Ellen White)

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165

A

A oração bêbada

música faz parte do culto a Deus nas cortes celestiais, e devemos

esforçar-nos, em nossos cânticos de louvor, por nos aproximar tanto

quanto possível da harmonia dos coros celestiais. O devido treino da

voz é um aspecto importante da educação, e não deve ser negligen-

ciado. O cântico como parte do culto religioso, é um ato de adoração, da

mesma forma que a prece. O coração deve sentir o espírito do cântico, a

fim de dar-lhe a expressão correta” (Patriarcas e Profetas, página 594).

Ler este parágrafo me torna pequeno para continuar o trabalho. Sin-

to isso porquê, se a música faz parte do culto a Deus lá no seu trono de

glória, todo o meu esforço somado com o do Coral, será ínfimo. Esse es-

forço sequer será lembrado como humanos que tentaram se aproximar

do coro dos anjos. Por quê?

Elementar: Deus é perfeito. Os anjos são perfeitos. A música no céu

é perfeita.

A mesma escritora explica que numa de suas visões ela não gos-

taria de voltar a terra porque era escura e fria. Ela comenta brevemente

que a voz do homem tem um som áspero e desafinado a ponto de não

poder compará-la com as vozes que se escutam no céu. (Testemunhos

vol. I p. 146).

Você me permite compartilhar algo que pode ser interpretado como

uma utopia?

Sempre sonhei muitas coisas maravilhosas com a música. Antes mes-

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mo de saber tocar piano, já me imaginava tocando hinos e ministrando

louvores, e esse sonho comecei a perseguir.

Lembro-me da primeira composição, o primeiro grupo e do primeiro

Coral. Tudo estava em harmonia, pois sonhava fazer essas coisas na cau-

sa de Deus. Até que certo dia, ousei pensar diferente e perguntei: “como

será que Deus vê a nossa música e o modo como nós cantamos? O que

será que O agrada? Qual tipo de trabalho musical Deus valoriza?”

A resposta era para ser simples, mas não foi. E confesso; ainda pro-

curo outras repostas a perguntas que derivaram a destas.

Durante as páginas deste livro, procurei enfatizar a importância de se

buscar louvor, de ele ser o objetivo do Coral. Logo no começo apresentei

algumas palavras usadas na Bíblia para representar o louvor, e como elas

evoluíram no seu sentido com o decorrer do tempo. O louvor seria uma

reposta? Não. Como já falamos; louvor não é apenas música.

Então, pensei que poderia ser algo semelhante à inauguração do tem-

plo de Israel por Salomão. Muitos instrumentos, grandes corais, músicos

preparadíssimos. Certamente, houve aprovação divina. Mas como fica-

riam então as pequenas igrejas, os pequenos grupos, os cultos de família?

Eles não têm como ter uma superprodução ao seu dispor para agradar a

Deus. Então o louvor deles não é aceito?

Sinceramente, eu estava pensando muito nisto; “o que seria música

para Deus? Como Deus usa a música?” Então me disseram: “pelos seus

frutos o conhecereis.” Quanto mais eu desenvolvia meu trabalho, mais

frutos eu colhia, e isso me levava à conclusão de que estava no cami-

nho certo. Era evangelismo e qualidade musical, a resposta. Quando via

alguém se emocionando, abrindo o coração a Deus ao escutar o Coral

cantando, mais seguro me sentia de que a música divina era a música

que levava a entrega do coração a Deus. Até que um dia, descobri que al-

guns dos meus hinos prediletos eram de origem ‘mundana’. Inclusive, um

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compositor de uma dessas canções, se intitulava o ‘Cristo reencarnado’.

Então orei, e me aquietei.

Há alguns anos atrás, reencontrei um querido amigo que já tinha sido

meu corista. Foi muito bom esse momento porque relembramos muita

coisa boa que passamos juntos, no Coral. Foi quando ele me surpreen-

deu, com uma revelação que trouxe algumas das respostas que estava

procurando.

“Réges, não sei se você vai lembrar, mas um dia você me pediu pra

fazer uma oração no Coral. Eu achei aquilo muito esquisito, e pensei: ‘O

quê? Eu? O Maestro tá ficando maluco? Nunca pediu pra que eu fizesse

oração? Logo hoje?” – Ele me contou.

“Claro que não lembro”. – respondi achando graça. Afinal, era apenas

uma oração.

“Pois é, amigo. O seu pedido me pegou de surpresa mesmo! Eu não

tinha condições nenhuma de orar. Orei com vergonha dos amigos, do

Coral, e principalmente de Deus”. – Continuou o comentário mudando

o tom de voz. – “Naquele dia, eu havia saído direto da balada para a

igreja, para cantar com o Coral... E ‘tava’ com a cara cheia de cerveja”.

– Desabafou.

Os instantes seguintes foram de silêncio. Em minha cabeça surgiam

muitas indagações e algumas acusações. Pensamentos que se mostra-

vam perdidos diante daquela revelação. Como pode alguém ter a ca-

pacidade de entrar na igreja e representar a Deus, bêbado? Que ultraje!

Lembrei do Rossano, de meus preconceitos, e ao mesmo tempo veio a

minha mente quem era esse jovem e, como sempre fora sincero com

as coisas de Deus, nunca escondendo que na época estava pisando em

terreno perigoso, longe das coisas sagradas.

Ele seguiu com a sua história.

“Amigo... Não gosto de lembrar. Mas confesso que ali, naquela ora-

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ção, minha mente e meu coração ficaram desordenados. E depois, en-

quanto o Coral entrava para cantar, uma grande batalha aconteceu den-

tro de mim. Quase não consegui cantar as músicas porque cada palavra

da poesia era um convite para que eu saísse de cima do muro e esco-

lhesse a vida”. – Relatou.

E continuou: “Não foi de um dia pro outro, mas a mudança aconte-

ceu. Eu tenho meus defeitos ainda, mas sinto que Deus fala comigo sem-

pre com amor. Aprendi que Deus não condena, mas faz de tudo pra que

a gente ande por onde Ele nos faça feliz. Ele quer que a gente se salve!”

– ele concluiu tranquilamente.

Nossa conversa se estendeu em muito ainda, mas ficou comigo uma

frase: “Deus faz de tudo para que a gente ande por onde Ele nos faça

feliz, para que a gente se salve”.

Querido leitor, desculpe se vou desapontá-lo... Mas nós valorizamos

demais a música. Por vezes, confundimos as emoções que sentimos ao

ouvi-la ou cantá-la como sendo algo divino. Vou explicar melhor:

Deus é amante do belo. Lembro-me da primeira vez que subi ao

Corcovado, no Cristo Redentor. O que se vê é lindo! O mar, a floresta

da Tijuca, a lagoa Rodrigo de Freitas, as praias, o Pão de Açúcar, a pon-

te Rio-Niterói. Não há quem fique de boca fechada diante da cena. O

queixo cai mesmo diante da beleza do cenário. É notável como todos

são afetados pela beleza do lugar. As pessoas se alegram, tiram fotos, se

abraçam, falam alto, pulam. A beleza nos comove. Deus nos fez amantes

do belo. Deus fez a música.

Não há nada de errado em se envolver com a beleza do Cristo Reden-

tor, assim como não há nada de errado em se envolver com a beleza de

um hino. Deus criou essas coisas para nós!

Davi cantou no salmo 121: “Olho para os montes e pergunto de onde

vem o meu socorro. O meu socorro vem de Deus que fez o céu e a terra”.

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168 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 169

Quando olho a natureza e sua beleza eu reconheço que há um Deus, e

Ele faz todo o possível para me salvar.

Quando uso a música para louvar a Deus, descubro que Ele faz tudo

para me salvar! E quando olho para a música, a pura música, descubro

que ela faz parte de todo um contexto dos planos de Deus. E com que

intenção? Única e exclusivamente para me salvar. E como sei disso?

A oração ‘bêbada’ me confirma esta ideia.

Meu amigo, existe muitas coisas disputando a nossa atenção. Há os

argumentos materiais como carros, computadores, móveis, roupas e

muito mais. Existem ainda outros, como viagens, estudos, negócios e

investimentos. Não podemos esquecer a família, os amigos e a igreja. Há

muito mais ainda, porém, em cada caso temos influências que querem

nos conquistar para algum exército na batalha espiritual, onde todos es-

tão envolvidos.

É lógico que a música é terreno perigosíssimo, pois o seu poder está

além de nosso controle consciente. Tenho estudado muito sobre a in-

fluência da música, e sei que ela não é neutra e nem inocente. Além dis-

so, creio que a música é a maior ferramenta para a globalização. Atual-

mente, fica difícil saber a que religião pertence alguns gêneros e cantores,

e ao que vemos em algumas igrejas é o certo se misturar com o errado,

aliás, o que é certo e errado em música?

Logicamente que estou muito polêmico neste capítulo, mas a minha

intenção é que você reflita sobre seus próprios conceitos a respeito de

música. Qual é o valor que a música tem em seu coração?

“Quando permitimos que a música tome o lugar da devoção e ora-

ção, isto é uma maldição terrível”1.

A música tem muito poder. Pode afugentar o inimigo, acalmar o cora-

ção, desviar a tentação, unir, divertir. Pode mudar uma nação, como foi

aqui no Brasil com o movimento ‘Tropicália’, onde ‘somos todos iguais

1 White, Ellen – Testemunies Vol. 1 pág 506. Casa Publicadora Brasileira

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braços dados ou não’. Mas detendo o poder da música nas mãos, Deus

quer que você a use para a salvação. Fica fácil perder o primeiro amor e

colocar os seus pés no caminho dos palcos, da fama, do estrelato!

O maior aliado do músico, membro da diretoria do Coral, Pastor,

corista é a música. Com tudo, também é o seu maior inimigo.

Transforme cada ato da sua vida em um ato para a salvação de al-

guém.

Aprendi que Deus fez um mundo perfeito e deu de presente para o

homem, e este mundo era lindo. Aprendi que Deus dá o mesmo valor à

música do que dá a todas as outras coisas que ele criou. Aprendi tam-

bém que, após a queda de Adão e Eva, os esforços divinos estão todos

voltados para a salvação de cada um de nós, pois Ele não quer que ne-

nhum de nós se perca. E Deus quer que, eu aprenda que tudo o que está

ao meu redor é para a minha salvação e para a salvação de outros.

Cada palavra escrita na Bíblia é para a nossa salvação.

Cada tijolo, cada banco, cada microfone de uma igreja são para a

nossa salvação.

Cada departamento da igreja é para a nossa salvação.

Cada Coral é para a nossa salvação.

Cada música é para a nossa salvação.

Perceba que existe um todo, e este é a nossa salvação.

Olhe para a sua vida em todos os aspectos, exclua a música e você

perceberá que Deus ainda está tentando salvá-lo. Exclua o Coral, e Deus

ainda continuará com inúmeros projetos atuando em conjunto para a

nossa salvação.

Olhando desta forma, percebi que somente uma coisa mais me in-

teressava.

“Senhor, quero produzir a música do céu aqui na terra! Quero canções

que ajudem mais pessoas a se decidir por Cristo. Quero um Coral que sai-

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170 I Coral é Coisa Séria I I Coral é Coisa Séria I 171

ba ser semeador da salvação em qualquer terreno. Senhor, me ensina!”

Eu estava preparando uma palestra sobre louvor para a igreja de

Botafogo, no Rio de Janeiro, e procurava alguma coisa para ilustrar o

ato de louvar como sendo parte de uma vida, não somente música. E

deparei-me com essa citação de Ellen White:

“Todo o ato, toda a ação de justiça, misericórdia e benevolência,

produz música no céu”2.

A música no céu é diferente da que produzimos aqui na terra.

Faça seu melhor no Coral, independente se na posição de corista ou

diretoria, de Maestro ou conselheiro, faça o seu melhor. Trate a todos

com justiça, misericórdia e benevolência. Tenha atitude. Faça música no

céu!

Quando Cristo nos desenhou do barro, colocou em nós todas as pos-

sibilidades para desenvolver a mente, os sentidos. Nos deu uma curio-

sidade sem fronteiras. Não houve limites para a felicidade, o amor, e

a vida. Tudo era possível. Tudo era um sonho. Mas nós o perdemos.

Contudo, Deus sente dor e saudade pela nossa ausência e por nossas

escolhas.

Então, Cristo veio. Viveu o nosso pesadelo. Morreu a nossa morte. E

se vivemos hoje, vivemos pela dor de suas pisaduras.

Agora temos de novo um sonho. Abre-se através da história momen-

tos e vidas que reclamam um novo céu e uma nova terra. Clamamos:

“Justiça, Senhor! Misericórdia, Deus! Seja bondoso conosco em nossas

lutas. Louvamos com nossas vidas. Cantamos a nossa salvação. Adora-

mos o Teu nome, Deus”.

Como sendo as últimas palavras deste livro, gostaria que você moti-

vasse seu coração para atentar para as coisas do céu. Fazer parte de um

Coral é estar envolto nas intenções divinas de preparar você para o céu.

Cada conselho, cada dica, cada experiência aqui narrados são pequenos

2 White, Ellen –Serviço Cristão. Pág. 100. Casa Publicadora Brasileira

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172 I Coral é Coisa Séria I

pingos de chuva em terra seca, ou gotas de um manancial que é ou será

o vida do seu Coral.

Seja quais forem as suas escolhas perante os desafios de um Coral,

custe o que custar, leve o tempo que for, todos nós temos de novo o

sonho.

Meu desejo é que a nossa vida, aqui, produza músicas lindíssimas

no céu, para quando lá estivermos, formarmos todos, um Grande Coral

tendo como Maestro o nosso Senhor Jesus Cristo.

Isso não é utopia, é um fato!

Deus o abençoe!

Amém.

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172 I Coral é Coisa Séria I

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175

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DAVIDSON, F. – O Novo Comentário da Bíblia; Edição em 1 Volume –

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DOUGLAS, J.D. – O Novo Dicionário da Bíblia; Edição em 1 Volume –

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MARQUES, Belisário. - Revista Vida e Saúde; Ano 68, N° 11; Novembro

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MED, Bohumil – Teoria da Música, 4° Edição – Editora Musimed.

MURADAS, Atilano – A Música Dentro e Fora da Igreja – Edirora Vida.

OLIVEIRA, Maria Aparecida Domingues de – Neurofisiologia do Compor-

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RATEY, John J. – O Cérebro. Um Guia para o Usuário – Editora Objetiva.

RUSCHEL, Agostinho – Manual do Corista – Casa Publicadora Concérdia

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WHITE, Ellen – Música. Sua Influência na vida do Cristão – Casa Publica-

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WHITE, Ellen – Serviço Cristão - Casa Publicadora Brasileira.

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WISNIK, José Miguel – O Som é o Sentido – Companhia das Letras.

WITT, Marcos – O Que Fazemos com Estes Músicos? – Editora W4 En-

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ZSCHECH, Darlene – Adoração Extravagante – Editora Atos.

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176 I Coral é Coisa Séria I

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De uma coisa estou convicto, quando todos os interessados se uni-

rem para desenvolver o Ministério da Música, nossas igrejas estarão

repletas de pessoas sendo influenciadas pelo poder do Amor de Deus, e

movidas pelo Espírito Santo entregarão suas vidas a Jesus Cristo, nosso

Salvador. Talvez uma visita ao nosso site seja o primeiro passo para esta

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