coragem de verdade perresia gros

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 A “coragem da verdade” é a express ão utilizada para traduzir o termo grego  parrh êsia, tema dos dois últimos cursos proferidos  pelo filósofo Michel Foucault no Collège de France de 1983 a 1984. A força do termo, a começar pelo título, é explorada em vários matizes na coletânea de artigos coordenada por Frédéric Gros. O eixo central do campo problemático aberto são, de um lado, os pontos de articulação entre teoria e prática, discurso e atos, saberes, poderes e resistências. Por outro lado, o conjunto de textos conecta nossa atualidade com um tipo de atitude ética que remonta à antiguidade clássica: a “coragem da verdade” grega nos conecta com a ética do intelectual e seu papel político. O que seria esta coragem que, para se desdobrar, supõe um dizer verdadeiro? Qual é esta verdade cuja condição de possibilidade não é lógica mas ética? No entanto, estas formulações, que nos  pa re cem es tr an ha s, o ma l ente nd id as po r no ssos es qu em as habituais de compreensão, pois nossa percepção não deixa ver o que lhe é essencial: que escritura e ação, teoria e prática, ética e política estão estreitamente ligadas na perspectiva da  parrh êsia . Não existe um discurso verdadeiro de um lado, neutro e pálido, e, de outro, uma coragem que procuraria causas a serem defendidas. Segundo Gros, Foucault não é filósofo e militante, erudito e resistente. Ele é historiador porque militante, resistente enquanto erudito. Para nossas épocas morosas, que organizaram a grande divisão entre sábios enclausurados dentro de suas especialidades, tornados inaudíveis à força do rigor e da p robidade, e atores sociais tendo seus discursos diluídos e esvaziados à força de querer se fazer entender pela massa, é importante recordar que o saber histórico e  É TICA  DO I  NTELECTUAL COMO C ORAGEM   DA V  ERDADE CARLOS JOSÉ MARTINS UNESP-RIO CLARO GROS, FRÉDÉRIC (COORD.). FOUCAULT LE COURAGE DE LA VÉRITÉ. PARIS : PRESSE UNIVERSITAIRE DE FRANCE, 2002.

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A “coragem da verdade” é a expressão utilizada para traduzir o termo grego  parrhêsia, tema dos dois últimos cursos proferidos

 pelo filósofo Michel Foucault no Collège de France de 1983 a 1984. Aforça do termo, a começar pelo título, é explorada em vários matizesna coletânea de artigos coordenada por Frédéric Gros. O eixo centraldo campo problemático aberto são, de um lado, os pontos de

articulação entre teoria e prática, discurso e atos, saberes, poderes eresistências. Por outro lado, o conjunto de textos conecta nossaatualidade com um tipo de atitude ética que remonta à antiguidadeclássica: a “coragem da verdade” grega nos conecta com a ética dointelectual e seu papel político.

O que seria esta coragem que, para se desdobrar, supõe umdizer verdadeiro? Qual é esta verdade cuja condição de possibilidadenão é lógica mas ética? No entanto, estas formulações, que nos

 parecem estranhas, são mal entendidas por nossos esquemashabituais de compreensão, pois nossa percepção não deixa ver o quelhe é essencial: que escritura e ação, teoria e prática, ética e políticaestão estreitamente ligadas na perspectiva da parrhêsia. Não existeum discurso verdadeiro de um lado, neutro e pálido, e, de outro, umacoragem que procuraria causas a serem defendidas.

Segundo Gros, Foucault não é filósofo e militante, erudito eresistente. Ele é historiador porque militante, resistente enquantoerudito. Para nossas épocas morosas, que organizaram a grandedivisão entre sábios enclausurados dentro de suas especialidades,tornados inaudíveis à força do rigor e da probidade, e atores sociaistendo seus discursos diluídos e esvaziados à força de querer se fazer entender pela massa, é importante recordar que o saber histórico e

 É TICA  DO I  NTELECTUAL  COMO

C ORAGEM   DA V  ERDADE CARLOS JOSÉ MARTINS 

UNESP-RIO CLARO

GROS, FRÉDÉRIC (COORD.). FOUCAULT LE COURAGE DE LAVÉRITÉ. PARIS : PRESSE UNIVERSITAIRE DE FRANCE, 2002.

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filosófico, com suas exigências próprias, e o engajamento político,com suas vicissitudes, puderam um dia se enriquecer e se nutrir mutuamente. Os estudos empreendidos nesta coletânea emprestamvárias pistas para a reconstrução desta prática, da qual a obra deFoucault é um grande testemunho, através da figura do diagnosticador do presente engajado em sua atualidade política. Para tanto, sãotematizados os problemas da ética do intelectual e seu engajamento

 político, dos quais destacamos, a seguir, algumas passagens.Em seu artigo A parrhêsia em Foucault (1982 – 1984), Gros se

ocupa em fazer uma contextualização do conceito de  parrhêsia nosúltimos cursos ministrados pelo filósofo no Collège de France,

demonstrando em nuances históricas e conceituais como este reclamaum outro estilo de atitude ético-política, que ele acabará por definir nãocomo uma moral de filósofo, mas como uma ética de intelectual engajado.

Segundo Gros, este laço entre coragem e verdade teriaconstituído para Foucault uma espécie de complexo fundamental, umagrade de leitura indissociável entre obra e vida, que simultaneamentesustenta a escritura dos livros e a ação política. O autor lembra aimportância do tema para Foucault, relacionando-o ao fato de ter 

 permitido reatravessar o campo do político a partir do problema daestruturação das condutas dos outros, bem como o campo ético atravésdo problema da estruturação da relação a si: como governar a si mesmo.Outrossim, segundo o comentador, Foucault também estaria seinterrogando sobre o estatuto de sua própria palavra, sobre seu papelde intelectual público e os riscos de sua função.

O artigo de Philippe Artièrs - Dizer a atualidade. O trabalhodo diagnóstico em Michel Foucault  – que abre o livro, nos revela o

quanto as dimensões ética e política estiveram estreitamente ligadasna trajetória intelectual de Michel Foucault. O autor se propõe ademonstrar como as intervenções de Foucault na cena política e socialtêm sempre em vista uma atitude de diagnóstico. Ele recolhe, de umlado, os enunciados e frases do filósofo que circunscrevem e lapidamesta atitude e, de outro, descreve as experiências concretas doengajamento político do filósofo. A exemplo, veja-se esta passagemsobre o papel do intelectual tomada de empréstimo ao filósofo:

“O intelectual me parece atualmente não ter o papel de dizer verdades, de dizer verdades proféticas para o porvir. Talvez odiagnosticador do presente (...) pode tentar fazer as pessoasentenderem o que está se passando, nos domínios precisos onde ointelectual é competente. Pelo pequeno gesto que consiste em deslocar 

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o olhar, ele torna visível o que é visível, faz aparecer o que é próximo,tão imediato, tão intimamente ligado a nós que, por esta razão, nósnão o vemos. (...) O físico atômico, o biólogo para o meio ambiente, omédico para a saúde devem intervir para fazer saber o que se passa,fazer o diagnóstico para anunciar os perigos e não justamente parafazer a crítica sistemática, incondicional, global.”1

Segundo Artièrs, esta operação do diagnóstico consistiria em“Diagnosticar as forças que constituem nossa atualidade e que aindaa agitam”2 e “Espreitar a emergência das forças que se sublevam”3 .O comentador também destaca outras exigências requeridas por estaatitude filosófica. Este trabalho do diagnóstico implicaria não só uma

outra maneira de ver o presente, mas uma outra modalidade de práticade si, uma relação singular do diagnosticador com seu próprio corpo,um face a face com a atualidade. Isto implicou, por vezes, no caso deFoucault, o confronto físico com as forças da ordem, trate-se da guardanacional francesa, dos policiais espanhóis ou da polícia alemã. A

 partir dos anos 70, Foucault intervém várias vezes diretamente sobrea atualidade política e social, francesa e estrangeira – luta em tornodas prisões, apoio aos dissidentes soviéticos, aos prisioneiros

espanhóis, ao advogado alemão Klaus Croissant, etc.Por várias vezes, para produzir o diagnóstico, Foucault sedeslocava para se colocar sobre o terreno dos acontecimentos. Ofilósofo viveu por longo tempo no estrangeiro (Suécia, Tunísia,Polônia) e não cessou de se lembrar da importância de suas viagens

 para seu trabalho, deslocamentos que ele multiplicou a partir dosanos 70 (Brasil, Iran, Japão, Canadá, Estados Unidos...)

Outra característica apontada desta “ascética do intelectual”

é o exercício de desprendimento. Esta atitude tem como conseqüênciacolocar em questão seu próprio estatuto de autor e das funções quelhe são atribuídas. Tal exercício se expressa seja no uso irônico de

 pseudônimos, como também na recusa da função de intelectualuniversal da qual inúmeras vezes se tentou investi-lo. E, como últimonível deste desprendimento, o abandono das formas tradicionais dedifusão do pensamento erudito em proveito de outros veículos de

1 Gros, F. (org.) Foucault le courage de la vérité. Paris, Presse Universitaire deFrance, 2002, p. 18. A seguir abreviado por CV.2 CV p. 12.3 Ibid. p. 13.

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 publicação. Assim é que, a partir dos anos 70, Foucault privilegia os jornais como meio de expressão.

Este trabalho do diagnóstico exige, por fim, tanto uma outra prática de si, como um outro estilo de escritura. Para cada novodiagnóstico uma nova escrita é requerida. Uma escrita-acontecimento. O que configurará uma espécie de “jornalismoradical”, “uma escrita sem metáforas, direta: uma escritura-arma.”4

Como se Foucault aceitasse que o acontecimento lhe ditasse seu próprio discurso durante a operação de diagnóstico. Este tipo de prática deu lugar a ruidosas polêmicas e incompreensões, poissugeria a morte do intelectual tal como havia sido pensado por 

quase um século. É a figura messiânica do intelectual universal queé posta em crise por uma tal postura.

O artigo  A tarefa do intelectual: o modelo socrático deFrancesco Paolo Adorno articula de forma muito apropriada os dois

 pólos explorados pelos dois outros anteriormente mencionados.Primeiramente demarcando a diferença entre o intelectual específicoe o intelectual universal, depois, abordando a noção paradoxal de“ontologia crítica de nós mesmos” que suscitou numerosas reações

e, finalmente, mostrando como ética e política se entrecruzam semcessar no trabalho intelectual.Estabelecendo a noção de “intelectual específico” por 

oposição à noção de “intelectual universal” – aquele que seria odetentor da consciência de toda sociedade, portador  a priori daverdade e da justiça – a questão passa a ter como foco: qual é oimpacto específico real do papel que o intelectual desempenha sobrea sociedade e qual tipo de relação este estabelece entre seu trabalho

teórico e sua prática de vida?Uma Política da verdadeÉ sobretudo no domínio conexo entre política e verdade que

se situa a problemática ética do intelectual. Portanto, de acordo comFoucault, a tarefa ético-política do intelectual diria respeito sobretudoà política da verdade e os efeitos de poder que lhe são correlatos. Aeste propósito o comentador nos alerta: “A função política dointelectual está portanto estreitamente ligada ao problema da

 produção da verdade”5 .

4 CV p. 33.5 CV p. 38.

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É porque se considera que a verdade é um produto, o resultadode um jogo de forças, e que não existe, por conseqüência, uma naturezada verdade nem uma essência da verdade se refletindo no mundo,que o intelectual só pode ser específico.

Segundo Adorno, trata-se de um trabalho que exclui qualquer tipo de pré-figuração do futuro e onde o trabalho do historiador torna-se absolutamente fundamental, pois é justamente graças à históriaque se pode problematizar e subtrair um fundamento fictício. Nas

 palavras de Foucault:“O que a razão experimenta como sendo sua necessidade,

ou melhor, aquilo que as diferentes formas de racionalidade

experimentam como lhes sendo necessário, pode-se fazer  perfeitamente a sua história e reencontrar a rede de contingênciasde onde emergiu; o que, no entanto, não quer dizer que essas formasde racionalidade sejam irracionais; isso quer dizer que elas são feitas

 por um conjunto de práticas e de história humanas, e posto que taiscoisas foram feitas, elas podem, à condição de que se saiba comoelas foram feitas, ser desfeitas.”6

Abordando o problema sob o ângulo da função crítica do

intelectual o filósofo nos propõe: “A questão crítica, hoje, deve ser revertida em questão positiva: no que nos é dado como universal,necessário, obrigatório, qual é a parte que é contingente e devido aimposições arbitrárias?”7

Ao caracterizar o estilo de crítica filosófica que empreende,Foucault estabelece uma relação estreita entre o trabalho detransformação da realidade e um trabalho sobre nós mesmos.

“Eu caracterizaria, portanto, o éthos filosófico próprio àontologia crítica de nós mesmos como uma prova histórico- prática dos limites que nós podemos ultrapassar, e, portanto,como trabalho de nós mesmos sobre nós mesmos enquantoseres livres.”8

Em suma, segundo Adorno, Foucault procura fazer da ética a pedra de toque da prática filosófica. Trata-se de fazer da ética nãouma elaboração teórica em si. Também não se trata de desprezar suas

6 CV p. 40.7 CV p. 49.8 idem

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conseqüências políticas, mas, pelo contrário, tomar em conta aconotação ética da prática política permite colocar uma questão aindamais profunda: “se, enquanto intelectual, um indivíduo toma uma

 posição ‘política’, qual vínculo existiria entre o que ele diz e o que elefaz? Qual é a relação entre sua posição ‘política’, seu trabalho deintelectual e sua vida enquanto filósofo?” De acordo com ocomentador, estas questões implicam um importante aprofundamentoda ação do intelectual, bem como do critério de sua credibilidade.

 Nas palavras de Foucault destacadas pelo mesmo: “A chave da atitude política pessoal de um filósofo, não é às suas idéias que se deve pedir, como se delas se pudesse deduzir, é à sua filosofia como vida,

é à sua vida filosófica, é à seu éthos.”9

Ética do Intelectual

Poderíamos, por fim, sintetizar esta ética do intelectualretomando uma vez mais as palavras de Foucault em algumas de suaselaborações lapidares:

“Ser capaz permanentemente de se desprender de si mesmo (oque é o contrário de uma atitude de conversão)(...) Este trabalho demodificação de seu próprio pensamento e do pensamento dos outros

se afigura como a razão de ser dos intelectuais”.10

Problematizar os limites históricos que nos constituem, deforma a possibilitar a nossa abertura para novas experiências ético-

 políticas. Tornar possível o ultrapassamento de uma determinadaexperiência. Qual seria, por conseguinte, o trabalho do intelectualdiante de uma tal empreitada?

“O trabalho de um intelectual não é modelar a vontade políticados outros; é, através das análises que faz nos domínios que são

seus, reinterrogar as evidências e os postulados, sacudir os hábitose as maneiras de pensar, dissipar as familiaridades aceitas, retomar amedida das regras e das instituições ...”11

“Sonho com um intelectual destruidor das evidências euniversalidades, que localiza e indica nas inércias e coações do

9 CV p.5210 FOUCAULT, M., O cuidado com a verdade, In: ESCOBAR, C.H. O dossier:últimas entrevistas, 1984, p. 81.11 FOUCAULT, M., idem, p.83.12  FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Coletânea de artigos, conferências eentrevistas. Org., intr. e rev. técnica de Roberto Machado. 3a. ed., Rio de Janeiro:Graal, 1982, p. 242.

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 presente os pontos fracos, as brechas, as linhas de força; que semcessar se desloca, não sabe exatamente onde estará ou o que pensaráamanhã, por estar muito atento ao presente”12

Uma ética do desprendimento e não da conversão. Uma éticada singularidade e não de uma lei universal invariante. Uma ética doacontecimento e não de um transcendental. Tal é a difícil e arriscadaatitude ética que Foucault nos desafia a adotar diante dos perigosque nos fazem face.

Circunscrevendo os limites epistemológicos, políticos e éticosque historicamente nos configuram, o intelectual pode melhor precisar e diagnosticar os perigos que nos ameaçam, ficando o seu papel

ético e político assim interpelado segundo Foucault: “(...) a escolhaético-política que temos que fazer a cada dia é determinar qual é o

 perigo principal”13 .Como ressalta Adorno em seu texto, o parrhêsiaste é alguém

que, quando enuncia uma verdade, se coloca em posição de perigo: ésua coragem que se mostra em sua ação de dizer a verdade. Ademais,a enunciação da verdade é sempre a enunciação de uma crítica quevisa um poder.

Em tempos tão morosos tanto em termos éticos, quanto políticos, talvez seja este tipo de coragem que nos falte... Melhor,talvez seja este um estilo de coragem a reinventar...

De acordo com Foucault, o fio que pode nos reatar a essainterrogação crítica que se enraíza na modernidade e que problematizade uma só vez a relação ao presente, o modo de ser histórico e aconstituição de si mesmo como sujeito autônomo, não é a fidelidadea uma doutrina, é sobretudo a reativação permanente de uma atitude.

Essa atitude, pode se caracterizar como uma atitude-limite, onde énecessário estar nas fronteiras. Ela libertará, da contingência quenos fez ser o que nós somos, a possibilidade de não mais ser, fazer ou

 pensar o que nós somos, fazemos e pensamos. Ela procura relançar tão longe e tão abrangente quanto possível o trabalho indefinido daliberdade.14

13 Sobre a genealogia da ética. In: ESCOBAR, C.H. O dossier: últimas entrevistas,1984, p.44.14 Martins, C.J. Ontologia, história e modernidade na obra de Michel Foucault.In: Cadernos de filosofia contemporânea, número 3, Rio de Janeiro – abril de2000, p. 32.