corações sem destino - eliana machado coelho (schellida)

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  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    CORAES SEM DESTINOPsicografia de

    ELIANA MACHADO COELHOPelo Esprito

    SCHELLIDA

    RUBENS, HUMBERTO E LVIA, DEPOIS DE CUIDADOSOPLANEJAMENTO DO PLANO ESPIRITUAL, REENCARNAM ESE REENCONTRAM PARA RESGATAREM OS DESAFETOS DOPASSADO

    Em uma vida passada, Rubens apaixona-se por Lvia, noiva de seuirmo Humberto. Mesmo tendo uma vida desequilibrada pelo jogo,pela bebida e pela promiscuidade, Rubens alimenta o sonho de terLvia em seus braos. Movido pela paixo incontrolvel e pelainveja, decide matar seu irmo, empurrando-o sob as rodas de umtrem. Porm, o crime jamais foi descoberto.

    Anos depois, na espiritualidade, o prprio Humberto ir se empe-nhar para socorrer o irmo nas zonas inferiores e um novoplanejamento reencarnatrio elaborado para Humberto, Rubens eLvia. Mas, desta vez, Humberto que no suportar ver Lvia aolado de Rubens. Alm disso, outros dissabores, na nova encarnao,aborrecem-no: o alcoolismo do pai e seu namoro com Irene, que oengana de todas as formas, s para ficar com ele.

    Humberto, sentindo-se derrotado e intil diante de tanto desgosto,e inconformado com o que vive, acometido por transtornos

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    psicolgicos, deixando-se abater e caindo em profunda depresso.Contudo, contando com ajuda espiritual e apoio psicolgico, oprprio Humberto entende que ele mesmo o nico capaz delibertar-se da depresso e da obsesso em que se encontra.

    Mais uma vez, o esprito Schellida, com psicografia de ElianaMachado Coelho, traz atualssimos ensinamentos em Coraes semDestino. Um romance que aborda temas como depresso, sndromedo pnico e distrbio de ansiedade. Mostra-nos a importncia denos vigiarmos para que nossos sentimentos mais ntimos no setransformem em fonte de desequilbrio e doena. Afinal, overdadeiro amor liberta, traz alegria e paz ao corao.

    Eliana Machado Coelho nasceu em So Paulo, capital, em 9 deoutubro. Desde pequena, Eliana esteve em contato com oEspiritismo. Ainda menina, sempre via a presena de uma lindamoa, delicada, sorriso doce e muito amorosa. Era o esprito

    Schellida, que j trabalhava para fortalecer uma slida parceria comEliana Machado Coelho, prenunciando as tarefas espirituais que

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    ambas deveriam desenvolver conforme o planejamento daespiritualidade.Amparada por pais amorosos, avs, mais tarde pelo marido e filha,Eliana foi estudando a Doutrina Esprita e realizando muitos treinos

    de psicografia sob a orientao de sua mentora at que, em 1997,surge o primeiro livro, uma bela obra do esprito Schellida. A tarefacomeava a tomar forma e hoje a dupla Schellida e Eliana MachadoCoelho encontra-se mais afinada do que nunca.

    Trabalhos parte, as curiosidades sobre Schellida e Eliana soinevitveis. Duas delas so: quem Schellida e de onde surgiu essenome? A mdium responde esclarecendo que esse nome vem deuma histria vivida entre elas e, por tica, deixar a revelao dosfatos por conta da prpria mentora, j que Schellida avisou queescrever um livro contando parte de sua vida terrena e sua ligaoamorosa com Eliana. Por essa estreita ligao com Eliana queSchellida afirmou, certa vez, que se tivesse que escrever livrosutilizando-se de outro mdium, ela assinaria um nome diferente a

    fim de preservar a idoneidade do tarefeiro sem faz-lo passar porquestionamentos constrangedores que colocassem em dvida oprprio trabalho. Segundo Schellida, o que sempre deve prevalecer o contedo moral e os ensinamentos transmitidos em cada livro.Schellida mais uma vez reafirma que a tarefa extensa e h umlongo caminho a ser trilhado por ela e Eliana, que continuaro

    sempre juntas trazendo importantes orientaes sobre o verdadeiroamor no plano espiritual, as conseqncias concretas da Lei de Aoe Reao, a necessidade da harmonizao e, sobretudo, a conquistada felicidade para cada um de ns, pois o bem sempre vence ondeexiste a f.

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    CORAES SEM DESTINO

    Psicografia de

    ELIANA MACHADO COELHOPelo Esprito

    SCHELLIDA

    NDICE

    No plano espiritual1. Planejamento reencarnatrio2. Retornando para casa3. Contrariado com o alcoolismo4. Traio sem remorso5. Confiando em um amigo6. Revelando sentimentos7. A gravidez de Irene8. A firmeza de Lvia10.

    Fugindo da felicidade11.Conseqncia de uma traio12.Vtima de si mesmo13.Gotas de alvio14.Orientaes saudveis15.A palavra pode ser um remdio ou um veneno16.O retorno de Rubens17.As palavras do nimo18.Conversando com doutor Edison19.Viver um dia de cada vez

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    20.O reencontro com Irene21. A insegurana de Lvia22. Conhecendo Flvio23. Nova maneira de viver

    1

    NO PLANO ESPIRITUALLvia havia acabado de deixar o grandioso edifcio da biblioteca e,experimentando um sentimento de alegria indefinvel, caminhavaem direo bela alameda principal quando ouviu o seu nome.Virando-se, avistou Humberto exibindo largo sorriso.

    Acelerando os passos em sua direo, ele a abraou, com expressivaalegria, demonstrando saudade. Afagando-lhe o rosto, com carinho,beijou-a e disse em seguida:Como estou feliz em v-la!Eu tambm! Demorou tanto na crosta terrena dessa vez! Acabei de chegar. Fui at o Ministrio do Auxlio, mas o Diogono estava. Resolvi alguns assuntos por l, depois fui at em casa eminha irm disse que voc estava aqui.Agora foi Lvia que o abraou demoradamente e beijou-lhe a facecom extrema ternura. Em seguida, Humberto sobreps o brao emseus ombros e passaram a caminhar vagarosamente pela caladaladeada de graciosa cerquinha branca que separava um lindogramado verde, com belos canteiros floridos entre as rvores de

    magnfica beleza.

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    Ela, tal qual delicada estudante, segurava um livro apertado aopeito e sustentava agradvel sorriso enquanto o ouvia com ateno.Diante da breve pausa, perguntou:Como esto os amigos e parentes encarnados?

    Alguns com dificuldades para se manterem fiis aos propsitosreencarnatrios. Outros se esforam para reagir s tentaes, venceros obstculos ou desafios. Para isso se lembram e se religam aoCriador atravs das preces. Porm, quando estabilizados e com avida mais calma, esquecem-se de Deus, dos ensinamentos de Jesus eacabam ligando-se novamente a mentes de espritos doentes edesequilibrados pelas prticas, hbitos viciosos e, principalmente,pelos pensamentos infelizes.Eles no atendem s inspiraes elevadas dos espritos bons, no?Mentores, amigos e tarefeiros espirituais de nvel superior, ematividades especficas no campo de orientar atravs de inspiraes,no os abandonam, mas nem sempre so ouvidos. Os encarnados

    no do ateno aos pensamentos sutis, simples e benficos que lheschegam. Como sabe, alguns freqentam uma boa casa esprita.Outros so assduos catlicos e isso positivo para eles, pois areligiosidade e o perodo dirio que dedicam s preces o mesmopara a administrao de fluidos benficos que os livram deimpregnaes indesejveis. No entanto, de tempo em tempo,

    quando a vida fica mais calma, sem dificuldades, eles se esquecemdas preces dirias, deixam de freqentar uma boa casa de orao eacabam atendendo a fora mental inferior, ligando-se vasta redede entidades malficas que querem se vingar, lev-los a amarguras,angstia ou vampiriz-los.

    Eu sei como isso, Humberto. Para muitos encarnados difcilrepelir ou se desligar das tentaes que os levaro ao fracasso em

    todos os sentidos, pois essas tentaes vm disfaradas de alegria,prazeres, comodidades ou diverses.

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    E, eu sei argumentou de modo triste. Peo a Deus que med foras para que, na prxima encarnao, eu consiga vencer osmeus desafios, com f e amor, seguindo os ensinamentos de Jesus.Ah! E como est o senhor Leopoldo? ela perguntoualegremente.Correu tudo bem no reencarne de meu pai! Ele foi recebido commuita alegria.Seu ex-pai! brincou, sorrindo.E! Mas, uma vez pai, sempre pai. Eu no consigo cham-lo desenhor Leopoldo riu. Depois comentou: Eu o acompanhei emtudo. Foi bem emocionante. Todos estavam felizes por ser ummenino e...Humberto continuou contando os detalhes com expresso satisfeitaenquanto caminhavam a passos lentos at a casa onde residiamnaquela colnia.

    * * *

    No aconchego do lar, aps conversarem atualizando algumasnovidades, Humberto apreciava um ch revigorante quando Lvia oolhou de modo srio e avisou: Preciso conversar com voc.

    Ele sentiu-se invadido por algo muito estranho. Um pressentimentoruim pareceu amargur-lo ao mesmo tempo em que seu peitoapertava. O que aconteceu? perguntou calmo.Eu estive pensando e... Bem, diante da dificuldade de todosaqueles que amamos... Para auxili-los, acredito ser melhor eureencarnar.No... murmurou como um lamento. No, meu amor, isso

    no o melhor a fazer agora. Humberto, j falamos sobre isso antes e eu esperava queentendesse. No consigo mais ficar tranqila aqui sabendo das

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    perturbaes dos nossos queridos em outros stios espirituais. AIrene, por exemplo, necessita retornar vida terrena, e eu poderiareceb-la, como tambm poderia receber a Neide, de quem vocgosta tanto.

    Como assim?!Eu poderia receb-las como filhas. Lvia... Uma angstia o invadiu detendo-lhe as palavras.Passados alguns segundos, ele se forou e prosseguiu: Meu bem,ns temos planos! Temos uma histria interrompida que pode serlinda e produtiva mesmo na Terra. Voc sabe que eu no tenhoplanos para reencarnar agora. No me sinto to preparado. Jfalamos sobre isso.Olhando-o de modo singular, ela murmurou sem trgua: Voc fica. Eu vou.Aquela sugesto chegou como um choque. Amargurado,argumentou sussurrando: No planejei isso. No vou suportar v-la longe e...

    Eu tenho que harmonizar a minha conscincia e posso aproveitarpara ajudar a Irene, principalmente.Quem falou que ela quer, de verdade, ser ajudada? Pense! A Irenej perdeu vrias oportunidades de elevao que no deram certo,principalmente por culpa de sua luxria, de sua vaidade e orgulhoque a fazem manipular situaes por causa de seus caprichos.

    No s por isso. Preciso ser mais forte, mais independente e...Lvia, no tenho qualquer dificuldade para reencarnar, mas nogostaria que fosse agora. Olhando-a firme, quis saber: Quempediu ou sugeriu tal idia a voc foi a Irene?No... Quer dizer... Eu fui visit-la e... Ela no pediu diretamente.Ns conversvamos e a idia surgiu. Aproximando-se, afagou-lhe a face fazendo-o virar para que a encarasse: Humberto, a

    Irene foi uma filha querida e uma amiga de sculos. Durante todo oseu tempo na espiritualidade, ela estuda e se empenha paratrabalhar os seus vcios morais, no ser arrogante, vaidosa,

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    imponente... Ela vai conseguir. Eu posso ajud-la. Breve pausa eperguntou: Voc tem alguma mgoa ou ressentimento dela porcausa do passado?No. No tenho ressentimento, mas no quero me envolver em

    qualquer assunto que diga respeito Irene e acredito que voc noprecise se sacrificar tanto. Tudo pode ser diferente. muito amor,mas tambm muita renncia de sua parte, voc a conhece. Repentinamente, ele questionou: Lvia, se eu devo ficar, comquem pretende se unir para receb-la?

    Com o Rubens respondeu temerosa. Voc sabe que tenhomuito a harmonizar e existiram situaes do passado que nosenvolveram e que...Humberto sentiu-se mal. Levantando-se, caminhou vagarosamentepela sala enquanto Lvia o acompanhava com o olhar. Ele esfregouo rosto com as mos e apoiou-as, em seguida, em uma mesa. Olhoupara o alto e rogou baixinho:Senhor, d-me foras!

    Humberto! exclamou, levantando-se rpido. Abra-ando-opelas costas, Lvia apertou-o contra o peito e pediu: Por favor,no fique assim!Virando-se, ele segurou delicadamente os seus braos e a olhoufirme ao indagar:Como quer que eu me sinta?! Sem obter respostas, prosseguiu

    angustiado: O Rubens se debate em sofrimento no Umbral hcerca de meio sculo. Voc bem sabe o quanto eu venho tentandoajudar o meu irmo por todos esses anos. Ele nunca ouviu os meusbons conselhos quando encarnado e agora no diferente. Das rarasvezes em que tive xito em inspir-lo, s consegui fazer com quesentisse um grande arrependimento pela forma como ele viveu,pela vida promscua, pela bebida, pelo jogo, por minha morte... O

    Rubens no tem paz na conscincia por ter me tirado a vida terrenasem que algum, nunca, tivesse desconfiado. Com isso, ele

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    interrompeu a ordem de um grande planejamento reencarnatrio,impedindo, inclusive, a nossa unio. Estvamos noivos, lembra?Como eu poderia esquecer?Foi para ficar com voc que ele me matou. Meu irmo acreditou

    que o tempo a levaria para os braos dele.Mas no foi isso o que aconteceu. Eu errei. Sei que errei quandopercebi os olhares conquistadores do seu irmo e simplesmentesorri em vez de reprov-lo. Foi uma forma de incentivo ao Rubens.J me puni muito por isso. Voc sabe!Sim, eu sei. Calma. No fique assim pediu ao v-la nervosa. Ele estava desequilibrado e sua atitude alimentou suas idias e afascinao por voc.Humberto, eu sei que errei. No entendo por que no o repreendina poca. Na verdade, eu era vaidosa, gostava de ser admirada epensei que fosse, por parte dele, uma atrao passageira pela minhabeleza e meu modo de ser. Tenho certa responsabilidade pelo queele fez a voc e preciso harmonizar isso. Minha conscincia cobra.

    Mas no precisa ser dessa forma, Lvia. Veja, meu desencarne foidifcil. Eu era jovem, repleto de energia e com muitos planos. Graasa Deus e a minha conduta de vida fiquei poucas horas em estado deperturbao. Socorrido com presteza no plano espiritual, muito bemcuidado por amigos que, inclusive, eu ignorava ter, me equilibreirapidamente. Ao entender que ele me matou, eu no quis saber o

    motivo. Fiquei confuso, lamentei muito e aceitei as novas condies.Apesar da dor, da imensa dor da nossa brusca separao, apesar detodo o meu amor por voc, eu procurei entender, pois tiveesperana de um futuro melhor na prxima encarnao. Para nome abalar, fiquei anos sem informaes do lar terreno e de voc.Somente com a chegada de minha me no plano espiritual, eu tivenotcias suas. Soube o motivo pelo qual ele me matou e fui visitar a

    crosta terrena, acompanhando e me inteirando de tudo.

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    No foi fcil, Lvia. O Rubens alterou tanto o nosso destino quevoc, pela dor de me perder, por saudade, ficou debilitadaemocionalmente e, apesar de sua luta para resistir a tamanhosofrimento, sua dor abalou o seu fsico e voc adoeceu. Ficou

    vulnervel e a tuberculose foi mais forte, fazendo-a desencarnarainda muito jovem e em meus braos, na espiritualidade... Pois eu,esprito, acompanhei cada segundo de seu ltimo ano na Terra. Breve pausa e falou sentido. No era para ser assim.Eu sei. Foi voc quem providenciou todo o socorro e sustentaopara eu ser bem acolhida na espiritualidade, Humberto.No! Foi voc quem teve merecimento. Sabe, precisei colocar prova toda minha resignao diante de tudo. Tem idia do que isso?! Foi necessrio eu me conformar com tudo o que aconteceu eeu no sei se, verdadeiramente, consegui perdoar ao meu irmo.Tnhamos um planejamento reencar-natrio lindo! Uma tarefapromissora que ajudaria muitos! Eu queria viver ao seu lado! Alguns segundos e prosseguiu: Foi minha f, foi por acreditar na

    justia Divina que continuei em equilbrio e aguardando o momentode retornarmos a reencarnar para cumprirmos o que planejamos.Agora, mais de cem anos aqui na espiritualidade, ns estudamos,nos equilibramos, trabalhamos com uma finalidade, com umobjetivo que no esse que me prope. Lvia, no me pea, agora,para abrir mo da minha harmonia, pois eu no vou conseguir ficartranqilo aqui, sabendo que voc est encarnada com o propsitode se unir ao meu irmo. Alm do que, no se sabe se ele sair dascondies em que se encontra com brevidade.

    Ns chegamos a comentar sobre a possibilidade de Rubensrenascer como nosso filho. Voc mesmo sugeriu isso para am-loincondicionalmente.Nessa possibilidade estaramos juntos. Um fortalecendo o outro

    para am-lo, ampar-lo e ensin-lo. Mas pelo que vejo voc quer irsozinha para ficar merc dele, que dependente de tantos vcios eimperfeies com inmeros defeitos morais. Ora, Lvia, no posso

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    me conformar com essa idia! Casar-se com o Rubens e receber aIrene como filha, a Neide... Quem mais voc deseja unir nesseplanejamento?! O Lus?! A Cleide?! Ela no respondeu. Vocest se deixando levar pela sugesto da Irene!

    No! Estou atendendo ao meu corao. E pensei tambm no Luse na Cleide. Por que no?Ora, por favor! exclamou em tom moderado, mas contrariado.Humberto, o Rubens ao tirar a sua vida terrena, roubou-nos afelicidade no mundo. Por todos esses anos ele se tortura por issoexperimentando um sofrimento sem igual. agredido por outrosespritos ignorantes que o acusam de assassino! Ele revmentalmente o instante do desencarne do prprio irmo como sefosse ele que estivesse no seu lugar naquele momento. Lentamenteele v e sente o impacto do trem para o qual ele te empurrou. Sentecomo se fosse dele o corpo a ser esfacelado, triturado! Coisa quevoc no experimentou!No porque eu no sou assassino! O que voc queria?!

    Que voc entendesse a minha deciso. Estou entrando com opedido para isso.

    Ento voc j decidiu, Lvia? No est comentando comigo a suaidia? perguntou perplexo, mas sem se alterar.Humberto!... falou implorando sua compreenso e indo aoencontro dele.

    Espere sussurrou, ao espalmar a mo, pedindo que parasse. Espere um pouco. Eu no estou bem. Esse assunto est me abalandoe... Bem, eu preciso sair. No bom continuarmos com essaconversa. Depois falamos a respeito disso.Ele afagou a face de Lvia, olhou-a por alguns segundos e a puxoupara um abrao. Em seguida, beijou-lhe a testa demoradamente e,ao se afastar, disse baixinho:

    Lembre-se de uma coisa: eu te amo muito.Eu tambm te amo murmurou.

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    Virando-se, ele se foi. Lvia, por sua vez, ficou inquieta eangustiada. Retirando-se para seu quarto, deitou-se na cama echorou muito.

    * * *Aps horas de caminhada, cujo tempo foi usado para profundareflexo, Humberto propositadamente deteve-se diante decharmosa residncia na qual a frente era embelezada por um jardimcolorido e gracioso pelas flores harmoniosas.Entrando na casa, logo foi recebido por sua me que sorriu ao v-lo.

    Filho! Pensava em voc! Abraaram-se e a senhora de cabelosgrisalhos, com um coque preso na nuca, conduziu-o,vagarosamente, para que se sentasse. Que notcias me traz,

    Humberto?! No o vejo desde que foi para a crosta acompanhar onascimento de seu pai! Sorrindo ele avisou: Sua bisneta Sara est bem. Recebeu com imensa felicidade o filho

    que nasceu. Seu pai! Meu querido Leopoldo!Por que a senhora no quis acompanhar o retorno dele, me?Teve permisso.Em pensar a que ele se props para no ter tanta cobrana naconscincia que o deixava desesperado! Ah, no! J muita emooacompanhar tudo a distncia. Tenho pensado muito a respeito.Preciso me preparar bastante, pois, cerca de trs anos, ser a minhavez de retornar para, da a alguns anos, me encontrar com ele.Poucos anos antes de desencarnar, por conseqncia do meurepentino desencarne na ltima experincia terrena, o pai seentregou ao vcio do lcool e no o venceu, antecipando o seuretorno ao plano espiritual pelas deficincias causadas em seu

    organismo pela bebida. Quando se desencarna levam-se junto osvcios, os efeitos que eles causam e muito sofrimento, sendonecessria a experincia de venc-los e encarar os seus resultados.

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    O silncio reinou absoluto por longos minutos e, observando-omelhor, a senhora perguntou bondosa: Humberto, o que voc tem filho?Alguns pensamentos inquietantes. No quero incomod-la comisso, me.E quando foi que voc me incomodou?! Deve ser algo bemimportante para deix-lo assim. Eu o conheo, Humberto.

    Dando trgua ao silncio, em minutos, ele lhe contou tudo o que oamargurava, pois confiava nos conselhos da senhora Aurora.Eu entendo, filho murmurou preocupada. Mas no fiquedesgostoso. Pensamentos ansiosos e nervosos emanam substnciasfludicas venenosas que no faro bem a voc nem a ningum. Eubem sei disso. Como padeci com a angstia que eu mesma criei pelafalta de f. No se deixe abater. Ningum est livre.Me falou, olhando-a nos olhos , antes de retornar colnia,eu estive no Umbral e vi o Rubens. Tentei alcanar o seu nvel deconscincia, mas ele est aterrorizado e revoltado com o que vive.

    bem possvel que ele no creia em Deus como deveria. O meu irmoexperimenta muita rebeldia, mesmo com tamanha dificuldade.Ento, o seu reencarne pode ser compulsrio, sem muito tempopara aprender no plano espiritual. Isso pode resultar uma pessoadifcil, tempestuosa, agitada e... Me, ele no ser um bomcompanheiro.

    Voc diz isso baseado na maioria dos casos que v. Porm, podeser diferente com ele.Me, lembre-se de todos os vcios e defeitos morais que ele tem.O Rubens no ser um bom companheiro para ningum, muitomenos para a Lvia.A senhora Aurora puxou sua cadeira para mais perto do rapaz, quese debruou na mesa, e afagou-lhe os cabelos com generosidade

    materna. Alguns minutos se passaram e ela se manifestounovamente: Humberto, meu filho! Levante essa cabea! No se desequilibre!

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    Ele se ergueu e ps-se a fit-la com olhos brilhantes.O que eu posso fazer, me? Ficar feliz com isso?!Foi voc quem me ensinou a respeitar e aceitar a opinio dealgum. Disse que ns temos o livre-arbtrio, mas Deus quem

    dirige o nosso destino.Estou contrariado, me.Nunca o vi assim, filho, e no estou gostando. Onde est a sua f?Onde est o seu respeito opinio alheia? Por que no respeita eaceita o desejo da Lvia? diferente!No, no ! falou firme. Tocando-lhe o ombro para faz-loencar-la, dona Aurora argumentou: Quando eu vivi na Terra, naltima encarnao, e experimentei a provao de perder o meu filhomais novo num suposto acidente, pensei que eu fosse enlouquecer.Na verdade, morri em vida. Senti sua falta de uma formaimpressionante. Pensava ouvir os barulhos que fazia dentro de casae acreditava que era voc. Sentia o seu cheiro nas roupas, o seu

    perfume, preparava o seu prato... Como difcil perder um filho!Voc estava noivo. Seu pai o ajudou a comprar uma boa casa e tinhamuitos planos. De repente, a notcia de sua morte: atropelado porum trem. O seu irmo, o Rubens, no imagina como eu sofri. Aindamais quando ele sugeriu que voc se suicidou. Oh, meu filho!... Lamentou com lgrimas nos olhos. Como fiquei desesperada!Quanta dor! Vivi uma angstia e um desgosto pelo resto de meusdias terrenos. No atendi aos conselhos recebidos. No procurei serativa. Entreguei-me tristeza e ao desespero. Nada amenizava aminha dor. Fui egosta demais. S pensava na minha dor e no meimportava nem com o seu pai, que se entregou bebida porquesofria tambm. Neguei-me at para os seus irmos e me tornei umfardo para eles que se cansaram da minha depresso. Eu s queria

    ter voc de volta. Cinco anos aps o seu desencane, eu vim para aptria espiritual. Permaneci em um estado semelhante ao de umsono profundo, por mais de um ms e fui assistida por nossos

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    amigos. Ao reencontr-lo, quanta felicidade! Meu filho queridoestava bem! Estava lindo como sempre! Foi ento que eu soube queo seu irmo o havia matado. Breve pausa e continuou: Humberto, voc me acompanhou e me socorreu por causa das

    minhas vibraes desesperadas que geravam fluidos pesarosos. Porisso precisei permanecer, por mais de um ano, em pavilheshospitalares. Voc e minha me, sua av, me sustentaram o nimo eme fizeram reconhecer que o desespero de nada serviria a no serpara o meu desequilbrio, para a minha inutilidade e o risco de eume atrair para grande sofrimento no Umbral. O meu egosmo foi oque me atirou na depresso e me deixou intil diante da dor. Eu seique precisarei reparar isso. O tempo foi passando e eu me recuperei.Aprendi muito e me tornei operante. Depois, novamente, fiqueiabalada pelo seu pai, por ele vivenciar longa e dolorosa perturbaono Umbral e tudo por conta de seu vcio no lcool, que lhe roubou asade fsica, encurtando os seus dias terrenos. Porm a culpa maiorfoi minha por no estar ao lado dele, por no ouvi-lo e por no

    dividirmos a mesma dor. As condies deprimidas, das quais nome esforcei para sair, tiveram um grande peso para o seu pai. Eleno agentou e comeou beber daquele jeito. Por isso eu precisoajud-lo e acompanh-lo na prxima encarnao.

    Foram suas insistentes vibraes e visitas ao meu pai que ofizeram sair de regio de tamanha dor e o levaram a ser socorrido

    na colnia onde ele se recomps, se equilibrou, se recuperou eaprendeu. O seu amor e a sua viglia impulsionaram foras ao meupai e o fizeram reagir e orar.Mas o mesmo no aconteceu ao seu irmo. Quando encarnado,meu pobre Rubens tirou a sua vida, tentou convencer Lvia a umromance com ele e s deixou a pobre moa em paz quando soube desua grave doena. Depois ele se casou, traiu a Neide com vrias

    mulheres, infestou-se de energias doentias e, espiritualmente,nojosas, que vivem encrostadas em seu corpo espiritual at hoje.Colaborou para o nascimento de cinco filhos. Trs com a prpria

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    esposa. Os outros dois, pobrezinhos, tiveram uma vida ingrata porculpa do Rubens. Alm disso, ele responsvel, indiretamente, porcinco abortos, e esse um crime muito grave, cujas mes mataram oprprio filho por saberem ou desconfiarem que ele, um homem

    casado, no lhes daria assistncia.O Lus e a Cleide foram os filhos concebidos fora do casamento.Estou sabendo disse Humberto.Sim. A Cleide, muito meiga e dcil, aceitou a vida infelizproposta pelo pai que a abandonou sorte ingrata do mundo.Ainda mocinha, na ocasio da morte de sua mezinha, procuroupelo Rubens, mas ele no a reconheceu nem a apoiou, deixando-a merc de um mundo cruel. Quanto ao Lus, filho do Rubens aindacom outra mulher, nunca perdoou ao pai pelo abandono, pela vidadesgraada. Eles vo precisar ter contato em algumas encarnaes,mas no podero ser muito prximos. Alguns instantes desilncio e continuou:

    Humberto, meu filho, voc foi capaz de entender e aceitar o seu

    irmo, mesmo no estando de acordo com o que ele fez, vemmostrando o seu amor atravs de tanta assistncia e tentativa desocorro ao Rubens. Agora, no consegue respeitar o desejo da Lvia! No sei se amo o meu irmo como deveria, me. Para comprovarisso, s o tendo muito prximo quando reencarnado sob a bnodo esquecimento. A verdade que eu tenho muito medo disso.

    Com o esquecimento, ser que eu posso ir contra todos os meusprincpios e desejar o seu mal? Sabe o que isso significaria? Temono suportar essa provao. Sem ouvir qualquer resposta,prosseguiu: Quanto Lvia... Bem, com ela muito diferente. Atonde sei, eu e a Lvia sempre fomos almas afins. Ns noscompletamos. Em muitas oportunidades de vida terrena, ns nosunimos como um casal, tivemos filhos... Temos uma histria!

    Viemos nos ajudando na caminhada evolutiva. Eu a amo muito! Detodo o meu corao! De todo eu, esprito! Amo-a muito! E como seela fosse metade do meu ser! Veja, se, por determinada razo evo-

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    lutiva ou de harmonizao, precisasse se unir a outro, lgico queeu aceitaria, entenderia e a ajudaria, como j aconteceu. Mas no seise o caso, pois esse outro o Rubens. Alguns instantes ecomentou: Vivemos um sentimento puro, uma vida salutar e

    temos planos elevados com os quais auxiliaremos muitos! Noentanto, agora, ela quer se unir a ele e receber criaturas conhecidas eamigas dentro da nossa compreenso evolutiva, mas no deles ecom as quais a Lvia no tem dbitos ou obrigaes. Num passado remoto a Irene j foi filha da Lvia.

    Sim, me, eu sei. Mas...Acho que sei por que a Lvia quer fazer isso.Por qu? Explique-me, por favor!Aqui, no plano espiritual, sabemos que no to difcil, quantona vida terrena, trabalharmos algo que nos faa declinar. Quandovocs estavam noivos e de casamento marcado, a Lvia, que semprefoi muito bonita e elegante, precisava se sentir mais confiante, maissegura, por isso aceitava os olhares, os elogios e os cortejos do

    Rubens. Ela no sabia que, com essa atitude, incentivava-o a umapostura e comportamento errado. Por causa disso, ele teveesperana de conquistar a noiva do irmo. A Lvia deveria t-locolocado em seu devido lugar, adverti-lo e no ter se calado etrocado olhares e sorrisos. Esse comportamento alimentou odesequilbrio do Rubens que decidiu mat-lo para ficar com ela. Ele

    tinha muita inveja de voc e ningum sabia disso.Quando estamos encarnados, filho, acreditamos que nossospensamentos, bem como as coisas mais sigilosas que fazemos,nunca sero descobertos por algum. Quanto engano! Ao chegar aoplano espiritual, Lvia deparou-se com voc que sabia exatamentede tudo. Apesar de am-lo, de ador-lo, ela admitiu e, de certaforma, aceitou os cortejos do futuro cunhado, pensando que jamais

    seria descoberta, que seria algo inocente e sem conseqncias.Estava enganada. Isso a atormenta desde quando voc desencarnou.Desde aquela poca, o seu inconsciente a culpava e foi por isso que

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    adoeceu. Agora essa situao do passado a tortura a ponto dequerer reparar, porque os seus atos custaram a interrupo de suasvidas terrenas.

    Era bem possvel que o Rubens tentasse algo contra mim mesmosem o incentivo de Lvia, pois trazia sentimentos do passado e eraisso que ele precisava harmonizar e no o fez.Sim. Eu sei. Em tempos remotos, tambm por inveja de voc, oRubens fez de sua vida um inferno. Roubou-lhe a esposa e lhe tiroua paz. Nessa poca, voc era casado com a Irene, que no resistiu sms tendncias e o traiu, o abandonou jovem e com os doisfilhinhos pequenos, o Flvio e a Neide, os netos que eu no quis teajudar a cuidar naquela poca, porque eu no fiz gosto ao seucasamento com a Irene.Vivi uma experincia extremamente difcil e infeliz. Quantasvezes pensei em acabar com tudo. Nossa!...S no o fez porque a Lvia, em esprito, esteve com voc dia enoite. Ininterruptamente sustentou-o com todo o seu amor, dando-

    lhe foras para resistir a to dura provao.A possibilidade de ver Lvia vivendo ao lado do Rubens meatormenta.No deixe que isso acontea, Humberto. Sabe qual ser oresultado.Estou pensando em ir falar com o Srgio ou com o Diogo. Elessempre foram meus amigos e vo saber como me aconselhar.Faa isso, filho incentivou animada.Alguns segundos e Humberto ofereceu leve sorriso, segurou asmos dela entre as suas e as beijou agradecido.Obrigado, me. Como valoroso ter quem nos oua, oriente eestimule ao que certo.Conte comigo, filho. Fao tudo por voc! Obrigado. Levantando-se, decidiu: Agora preciso ir.Aps abra-la, com ternura, beijou-a e se foi.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    * * *

    Retornando sua casa, Humberto recolheu-se a um pequenoaposento cujas paredes eram literalmente forradas de livros.Acomodando-se atrs da escrivaninha de aparncia antiga, que,alm dos objetos necessrios ao estudo, era decorada por graciosovaso com flores, apoiou os cotovelos, sustentou a fronte com asmos e permaneceu ali, quieto e em prece, por longo tempo.Suave batida porta o chamou ao momento presente. Erguendo orosto, ajeitou-se e permitiu:Entre!Com licena, meu irmo? pediu uma mulher aparentandomeia idade. Cabelos levemente grisalhos emolduravamagradavelmente seu rosto simptico e sorridente.Seu nome era Jlia. Havia sido filha de dona Aurora e irm deHumberto, na ltima encarnao. Esboando generoso sorriso, elepediu: Entre, Jlia! Por favor, minha irm! Eu queria mesmo conversarcom voc.Delicadamente ela fechou a porta, garantindo privacidade. Puxouuma cadeira, sentou-se frente a ele e perguntou: No vai fazer a refeio conosco?

    No respondeu com simplicidade. Em seguida, considerou emtom brando para ensin-la: Creio que j deve saber sobre a

    deciso de Lvia e, como no poderia ser diferente, estou abalado. E,aqui, no se senta mesa aquele cujas ondas vibratrias produzemfluidos pesarosos, o que verdadeiro veneno se misturado aosfluidos salutares das substncias alimentares. Isso nos intoxica.Nesta colnia, sei da existncia de residentes que, por noprecisarem, se isentam, quase por completo, das substncias

    alimentares, mas nunca totalmente e jamais das nutriesespirituais! sorriu. Aprendi tambm que os tarefeiros doMinistrio do Auxlio no podem, sobremaneira, dispensar a

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    nutrio de concentrados fludicos apresentados como caldos, frutase sucos. E voc, Humberto, como considervel prestador de serviono Auxlio, despende imensa quantidade de energia e necessitarep-las.

    O amor o verdadeiro alimento do esprito! sorriu generoso.Sem dvida! Contudo voc possui um perisprito e esse corpoespiritual precisa de foras compatveis a esse plano. Se no deve seunir aos demais para se alimentar, permita-me trazer a sua refeioaqui.Sustentando sorriso agradvel, ele disse:O conhecimento est deixando-a mais esperta, Jlia! Tempos atrsvoc no era assim!Humberto falou com doura , voc chegou h pouco detarefa rdua. Alimente-se, para no esgotar as energias, ou eu voucontar para a nossa me.Ele riu gostoso e respondeu:

    Depois. Com expressiva preocupao, que tentava disfarar, oirmo comentou aps alguns minutos: A Lvia deve tercomentado contigo sobre a deciso dela.Sim, comentou.Jlia, estou inquieto, apreensivo, preocupado e com um maupressentimento. No estou me sentindo bem.Estou surpresa por v-lo falar assim. Sempre o admirei por suafora interior, seu bom nimo, sua f nos momentos mais instveis,sua convico no bem e nos pensamentos positivos. Voc sempre foicapaz de compreender as pessoas.Sempre, no. Eu no atiro a primeira pedra. Somente quem nuncaerrou pode faz-lo e eu, minha irm, tive incontveis experinciasterrenas nas quais cometi vrios erros e precisei harmonizar cadaum deles. No estou julgando a Lvia. E que meus planos eram

    outros no que diz respeito a ajudar o Rubens.O caso o seguinte: aqui, na espiritualidade, quando olhamos parao nmero de erros que cometemos, ficamos tristes e nos

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    arrependemos. Depois queremos corrigir tudo de uma vez e nosachamos capacitados para superar todos os desafios. No entanto,quando encarnados, vacilamos e no somos to fortes parasuportarmos as provaes. Acredito que esse o caso de Lvia.

    Humberto, eu sei o quanto a atividade mental do encarnadomuda quando os seus propsitos so dominados pela falta deperdo, pelos vcios morais e no pelos desejos evolutivos. Todosns somos vtimas e herdeiros de ns mesmos. Sempre pedimos aDeus que nos alivie das dores em vez de rogarmos por fora paravencermos os desafios. Quando estamos bem situados nasatividades terrenas, no nos lembramos de agradecer ao Pai, muitomenos de ajudar um irmo. Quase ningum observa e entende asantificante bno da oportunidade terrena. O normal ouvirmossomente splicas e reclamaes a respeito das provaes vividas. Eufalo isso por mim, principalmente. Breve pausa e contou: Quando encarnada, poca em que fomos irmos, fui vaidosa aoextremo. S pensava em ver e ressaltar a beleza fsica, disputar

    tarefas empresariais mais apropriadas ao esprito masculino e davapouca importncia para o prximo mais prximo. Sabe, senti suafalta quando desencarnou no suposto acidente de atropelamento detrem. Contudo eu no ofereci aos nossos pais a ateno que deveriae de que eles precisavam, principalmente para a nossa me, todesesperada, to aflita e inconsolvel. Ao ficar intimamenteinsatisfeita por causa das reclamaes dolorosas de nossa mezinha,por causa da exibio de sua dor de forma angustiosa, eudemonstrava o meu pobre egosmo, minha baixeza espiritual eminha pouca evoluo moral quando no compreendia, quandoachava que a me no pensava nos outros filhos vivos. Eu sabiasorrir, ser atenciosa, compreender e consolar somente os conhecidose amigos fora de casa. No queria entender ou admitir que minha

    caridade deveria ser com os mais prximos, pois esses so os quenos fazem renovar e aprender. So para com esses que temosdbitos urgentes ou eles no estariam to prximos. Somente hoje

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    eu vejo que vivi uma vida egosta e sem propsitos, sempre fugindodas responsabilidades morais. Casei-me. Tive uma vida abastada eno deixei faltar qualquer proviso material para minha me.Porm, eu mesma, nunca estava presente. No fui diferente com os

    meus filhos, que sempre deixei sob os cuidados dos melhoresempregados. No tratei bem nem o meu marido. Depois dofalecimento de nossa me, gozei o resto da juventude e a chegadada maturidade com falsa alegria at meu marido acreditar queprecisava ter ao lado uma mulher to esperta e bela quanto eu haviasido. Aos poucos fiquei limitada ao lar. Os filhos tambm foram meesquecendo e eu no tinha qualquer atribuio que me satisfizesse.Doenas foram me consumindo. Os melhores mdicos eenfermeiros foram pagos para ficarem ao meu lado, mas pouco euvia meu marido e meus filhos. Todo aquele tempo presa ao leito mefez refletir muito. Eu no desejo isso a ningum. Quantoarrependimento quando se est sobre uma cama sofrendo! Eudesejava mudar tudo, mas no podia. Desencarnei. Permaneci

    longos anos em estado de perturbao. Esse Umbral da conscincia to terrvel que somente as preces ensinadas por nossa me mealiviavam a mente e eu encontrava a f. A f de sair daquelascondies. Depois de tanto orar, eu entrei em uma faixa vibratriaonde consegui ver voc, que muito ficou ao meu lado, utilizando aspreces que a nossa mezinha nos ensinou para me fazer elevar ospensamentos. Lgrimas rolaram na face de Jlia e sua vozembargou ao dizer: Eu que nunca havia feito uma oraoverdadeiramente sentida por voc, nem em vida nem aps a suapartida. O que fiz a voc foram preces decoradas, palavras repetidassem a menor ateno, sem sentimento. Voc me trouxe para essacolnia e para junto de nossa me. Depois de me recuperar, empavilhes hospitalares e regeneradores, trouxe-me para a sua casa,

    sob os seus cuidados, os de nossa me e a ateno carinhosa deLvia.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Eu estava triste, arrependida por tudo o que no fiz, pelaoportunidade de vida desperdiada. Mesmo assim, recebi, pormisericrdia, ateno e tratamento que no merecia. Equilibrei-me,estudei, aprendi e, at onde sei, nem voc nem a Lvia precisariam

    me dar assistncia, porm o fazem com amor e h tanto tempo!Voc era um esprito um tanto rebelde e que no dava ateno aoschamados do Alto. Precisou vivenciar a dor e o sofrimento paracomear a aprender. Por v-la disposta e verdadeiramente animadaa reparar o que fez de errado, decidimos lhe oferecer aoportunidade do convvio para que aprendesse mais rpido.E por acaso, Humberto, no ser essa oportunidade de convvio,para que aprenda mais rpido, que a Lvia quer dar ao Rubens?Ele a fitou de modo indefinido, mas sem dizer nada. Em seguida,fugiu-lhe ao olhar.Jlia sorriu generosa. Levantou-se e avisou: Vou buscar a sua refeio.

    2

    PLANEJAMENTO REENCARNATRIO

    No dia seguinte, Humberto aguardava pacientemente pelo amigode longas eras.O gabinete de Diogo era invadido por luminosidade caridosa,levemente colorida e recortada alegremente pelos vitrais

    triangulares. As janelas largas, em forma de arco, deixavam suavebrisa perfumada penetrar no recinto, ao mesmo tempo que a vistade graciosas trepadeiras floridas meneavam nas laterais.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Repentinamente a porta foi aberta e ouviu-se a voz contente doamigo sorridente:Querido Humberto! Como est?! perguntou, abraando-o ebeijando-lhe o rosto ao estapear suas costas.

    Bem, Diogo! E voc? timo! Soube que chegou ontem. Eu no estava aqui por causade tarefas urgentes nos pavilhes hospitalares, justamente naEnfermaria dos Perturbados. Problemas srios?! preocupou-se Humberto. Agora tudo est sob controle. Voc nos fez falta, hein! sorriu. Quando retomar a chefia, de acordo com as condies dosinternos, aconselho aliviar as medidas disciplinares rgidas que oSrgio tomou com meu total apoio.

    O que aconteceu?Os recolhidos na Enfermaria dos Perturbados, por causa dosvcios terrenos no superados, se amotinaram com exignciasabsurdas e abominveis s vibraes desta colnia. O nosso velho

    conhecido Adamastor, cujos vcios de violncia, de agressividade ereferente ao sexo no vence, mesmo custa de longo tratamentoespiritual, liderou os demais e, juntos, chegaram a agredirenfermeiros e tarefeiros do pavilho. Fui chamado. Diante dascircunstncias, apoiei as medidas drsticas que o Srgiodeterminou. Toda alimentao e qualquer tipo de recomposio

    fludica foi suspensa. A enfermaria foi fechada. Ningum saiu ouentrou l por oito longos dias. Os internos se transformaram emverdadeiros loucos, mas enfraqueceram. Ao v-los sem foras,adentramos e isolamos Adamastor, como tambm os mais ligadosdiretamente a ele. Os demais, amedrontados, ficaram maisrespeitosos e foram separados de acordo com o grau de risco querepresentam aos trabalhadores.

    Assim que eu reassumir a chefia, vou solicitar o vigor de mtodosde espiritualizao desses enfermos. Vejo essa necessidade halgum tempo e j deveria ter investido em medidas a respeito. Os

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    assistentes tcnicos dessa enfermaria solicitaram o planejamentoreencarnatrio de Adamastor pelo fato desse irmo no se regenerare causar excessivo desgaste a todos ns.Como amigo, aconselho o planejamento reencarnatrio de muitos

    outros ali, no s de Adamastor. Esses espritos rebeldes e teimososdificilmente se regeneram aqui. Eles causam problemas terrveis eatrapalham, inclusive, a recomposio dos demais. Esto aquiporque, quando apresentam o desejo de melhorar, necessitam seracolhidos para tratamento e outra colnia, com menos estrutura,no consegue suprir suas necessidades. Somente uma colnia com oporte da nossa pode faz-lo.Esse motim s refora minha deciso a respeito do planejamentoreencarnatrio. Olhando-o, esboou suave sorriso no semblantepreocupado e solicitou: Precisarei do seu apoio, Diogo.Conte comigo! Tenho idias novas para trabalhos dereajustamento que j apresentei Governadoria. Eles devem chegarpara a sua apreciao na prxima semana.

    timo!Mas me conta, Humberto, como foi a excurso terrena? Quais asnovidades?Acompanhei de perto o nascimento de meu pai, recebido comimensa alegria. Ele sorriu ao lembrar: Em pensar que Sararecebe o bisav como filho e ignora isso... Aps segundos,continuou: De resto, sem grandes novidades. Os encarnadoscontinuam teimosos, vaidosos, orgulhosos e no admitem isso.Como sabe, eles querem materializar o esprito e no espiritualizar amatria. Com isso, desequilibram-se, agridem o corpo fsico eencurtam a encarnao.E triste ver o ser humano desejando viver mais, desejando viverbem, ser saudvel e ao mesmo tempo no se importando nem

    admitindo que desencarna antecipadamente quando fuma, bebe,come sem necessidade, se droga, se irrita, sente raiva, fica

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    contrariado e outras coisas mais. Quando faz isso, a pessoa est sematando, se suicidando aos poucos.

    E no me venha dizer, hoje, que isso suicdio inconsciente, no!Todo mundo j sabe que comer demais mata, fumar mata, ingerir

    bebida alcolica mata, usar droga mata, ficar irritado, com raiva,contrariado... mata! De alguma forma a criatura humana destriclulas ou neurnios quando foge ou excede o ritmo natural davida, seja esse ritmo de um processo fsico ou emocional.Na Enfermaria dos Perturbados lembrou Humberto encontramos centenas e centenas de casos assim. Alis, todos ali seexcederam nos vcios. Irritar-se um vcio, a raiva outro. Muitosainda no admitem isso. Tenho medo de, quando encarnado, medeixar levar pela contrariedade que gera irritao e raiva.Sentir raiva ou sentir irritao o mesmo que beber um copo deveneno e esperar que o outro morra!Humberto riu e ambos foram interrompidos por batidas porta. Aoolharem...

    Srgio1, meu amigo! exclamou Humberto com expressivasatisfao. Eles se abraaram demoradamente e, ao se afastarem,Humberto perguntou: Como esto as coisas?! Foi difcil ficar nomeu lugar?!Foi bem tranqilo! brincou, rindo. O Diogo te contou o queaconteceu?

    _ Estvamos falando sobre isso. Creio que os internos daquelaenfermaria, ao perceberem a minha ausncia, resolveram se rebelar acreditando que encontrariam facilidade na segurana e maisregalias. Chefiei esse departamento somente na sua ausncia, Humberto, epor curto perodo, mas observei que alguns irmos ali, talvez, sejamincompatveis at para o nvel desta colnia.

    1 N.A.E. O nome dos personagens do plano espiritual no ser trocado quando estiveremno plano fsico para facilitar o reconhecimento deles pelo leitor.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Quando eu assumi essa enfermaria, Srgio, eles j se encontravaml. Na esperana de se regenerarem, foram mantidos a pedidosespeciais de parentes chegados. Contudo eles no se recuperaram einsistem mentalmente nos vcios. Eu estava justamente falando ao

    Diogo sobre os aconselhamentos que recebi de tcnicos e assistentescom funes especficas, nessa enfermaria, a respeito do reencarnede Adamastor.Eu aconselho o planejamento reencarnatrio de muitos outros ali,no s dele disse Diogo.No quer me auxiliar nisso, Srgio? pediu Humberto.Como no?! Gosto muito de funes relacionadas aoplanejamento reencarnatrio, setor onde trabalho com imensasatisfao desde quando me afastei das tarefas de socorrista no Valedos Suicidas.Eu soube que no est mais na admirvel equipe de socorro novale. Por que solicitou afastamento?Estou planejando o meu reencarne, por isso quero ficar maispresente na colnia, para aperfeioamento e estudo.Srio?! Vai reencarnar?! Voc me avisou sobre isso, mas eu nosabia que seria to rpido!Em alguns anos, espero. Talvez uns vinte! tornou Srgio. Acredito que a oportunidade ideal tanto para mim quanto para aDbora, que deve me acompanhar.

    Qual o tipo de tarefa pretende abraar na vida terrena? Psiclogo,como comentou?

    A princpio, no respondeu Srgio. Eu preciso ocupar umaposio de equilbrio sentindo o que ser superior e ao mesmotempo subalterno. Experimentar a presso ostensiva de muitadisciplina. Alm disso, pelo fato de eu ter desertado do ExrcitoImperial, quando fiz parte dele, na prxima encarnao, devo

    exercer funo relacionada segurana pblica, provavelmente,policial militar. Aps o perodo necessrio, nessa funo, devoabraar a minha paixo e me voltar para a rea psicolgica. Sabe

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    como , quando a conscincia cobra, s se tem paz corrigindo asfaltas do passado. Quero ampliar os conhecimentos na reapsicolgica e desenvolver auxlio nos mais diversoscomportamentos da mente. Minha inteno, no desenvolvimento

    intelectual, , na espiritualidade, trabalhar com irmos que noentendem o uso da psique ou dos pensamentos e utilizam a energiade criaes mentais destrutivas, atravs da fora do pensamento,sem saber.Nesse instante, Diogo os interrompeu:Peo licena, mas tenho horrio marcado para uma reunio naGovernadoria. Gostaria muito que os amigos continuassem oassunto.Diogo, no vamos incomodar se prosseguirmos com a conversaaqui em sua sala? Eu gostaria muito de conversar com o Srgio, poisesse assunto est me interessando.Fiquem vontade! Por favor!Dizendo isso, Diogo se retirou e Humberto mencionou:

    Srgio, preciso falar com voc sobre algo que me incomoda.Percebo que voc a criatura ideal, no s por ser um grandeamigo, mas pelas experincias que tem. Sua orientao muitoimportante para mim.Srgio sorriu e ficou bem vontade, acomodado em um sof,enquanto Humberto ocupava uma cadeira frente a ele.Alm da Dbora, quando estiver encarnado, quem mais estarperto de voc? perguntou Humberto.O Tiago ser meu irmo! informou alegre. Mas logo Srgiofechou o sorriso e comentou: A Lcia ser minha irm e... A Lcia?! questionou Humberto, surpreso.. Quem sabe, como minha irm, ela se torne menos rebelde, maiscompreensiva.

    A Lcia uma criatura bem difcil e se compara Irene. Breveinstante e se alegrou: Faz tempo que no vejo o Tiago! Como eleest?!

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    timo! Como sempre! Ningum derruba o seu alto astral! OTiago est em excurso terrena, visitando nossos pais. No sei comono se encontraram.Por acaso o seu pai no ser o senhor Edison, ser? sorriu.Biologicamente, no. Ele j est encarnado, como sabe. Vamos nosencontrar, pois ele faz questo de me ajudar, me dar a sustentao ea orientao que no pde oferecer, em uma vida passada, comopai. Eu o considero muito, voc sabe! Para mim, ele um paiespiritual!Imagino! Tambm gosto muito dele. E quanto ao seu mentorespiritual?Ah! sorriu. No poderia deixar de ser o querido Wilson!Como eu o respeito, o amo! Nossa! Ele a criatura que far tudo pormim. Peo a Deus para eu ter f, bom nimo e pensamentoselevados para sempre ser digno de estar em sintonia com o Wilson.Srgio, eu o admiro e o considero muito. Eu o amo a ponto dedizer que, se eu estivesse encarnado, gostaria que voc fosse o meu

    mentor! Sei que a minha particularidade dever ser resolvida pormim. Entretanto, voc sabe o quanto valioso o bom conselhovindo de irmo amigo como voc, o Diogo... que eu estouprecisando de uma luz na conscincia para no me desequilibrar.Para mim, o assunto srio.O que est acontecendo? perguntou o amigo preocupado.A Lvia se sente incomodada. A conscincia lhe cobra pelocomportamento inadequado no passado e ela quer reencarnar. Emprincpio os seus planos so unir-se ao Rubens.Ao Rubens?! surpreendeu-se, por conhecer toda a histria. Exatamente. o seguinte...Em alguns minutos, Humberto contou ao amigo os planos de Lviae tudo o que o incomodava nos planos da companheira.

    Ao final, o silncio imperou por minutos e Srgio quissaber:Voc tem algum tempo livre agora?

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Sim, tenho.Ento vamos at o Ministrio da Reencarnao, pois eu tive umaidia. L, munido de equipamento em que posso lhe mostrarmelhor as suposies, voc poder entender muito bem algumas

    sugestes. Vamos? Claro! Vamos, sim! animou-se.Uma energia salutar envolveu Humberto que ficou bem disposto eansioso pelo fato do amigo ter alternativas melhores para lhesugerir.Aps horas reunido com Srgio, Humberto estava pensativo, pormmais sereno. O que voc acha? perguntou Srgio.Precisamos conversar com a Lvia. Quero a opinio dela. Contudoj posso afirmar que temo ficar to perto de Rubens, vendo-o toligado Lvia desse jeito.Veja, Humberto, ns s planejamos de uma forma visando a quetudo siga um curso harmonioso. Entretanto, encarnado e com o

    poder do livre-arbtrio, ns podemos mudar tudo e alterar o cursode nossas vidas e da vida dos outros. Aqueles que nos acompanhamna encarnao terrena podem nos ajudar ou prejudicar. Alm doque, so somente planos reencarnatrios superficiais. Lgico quens nos aplicaremos por anos para ajustarmos toda essa situao. Eu gostaria muito que voc me ajudasse nesses detalhes, Srgio.

    Confio no seu bom senso.Eu prometo que vou te ajudar. No s aqui, mas tambm noplano fsico. Ficaremos bem prximos.Ser o meu mentor encarnado se eu vacilar? perguntou srio.Serei. Eu prometo. Os amigos sorriram. Trocaram rpidoabrao e Srgio props: Vamos contar para a Lvia? Lgico! Vamos at em casa agora!

    Sem demora eles seguiram para a casa de Humberto.

    * * *

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Aps longa conversa e explicaes sobre propostas e possibilidades,Lvia perguntou:O planejamento reencarnatrio feito com muitos anos deantecedncia. Mas entendi que esses planos so para breve. Daqui

    uns vinte ou vinte e cinco anos! E os nossos pais?O senhor Leopoldo est encarnado. Sei que no foi planejado queele e dona Aurora recebessem Humberto e Rubens como filhos.Duvido muito que a dona Aurora se negue a ser me dos dois equanto ao senhor Leopoldo, com o decorrer dos anos, poder sertrazido at aqui no estado de sono e questionado a respeito. Pelosdesejos evolutivos, certamente ir concordar.No ser arriscado o Humberto e o Rubens serem irmos depoisde tudo?Isso seria ideal! O Humberto seria testado no seu perdo ao irmoe possessividade quanto a voc, Lvia. Pelo que entendi e senti, atagora, o Humberto precisa trabalhar a questo de admitir vocperto do Rubens. Para voc, Lvia...

    Srgio, o importante para mim seria ter um pai severo e exigente.Fui muito mimada, dependente. Vivi verdadeiramente como umadondoca e recebi tudo nas mos. Isso me impediu de ser forte, deter opinio e de crescer. Seria muito importante para a minhaevoluo se eu precisasse lutar pelo meu ideal, por minhasconquistas e ter um pai que exigisse de mim uma boa conduta. Osproblemas e as dificuldades vo fazer com que minha mente noseja preenchida com futilidades. Alm disso, por me sentir toculpada por tudo que provoquei ao Humberto, eu quero estarpronta para auxili-lo, orient-lo e ampar-lo no que for preciso.O bom para voc no receber muito apoio familiar. Isso a farcrescer, ser mais forte, evoluir... No se ligar Irene com laosconsanguneos, seria o melhor. Fitando-a firme, reforou a

    explicao: Veja, essas so s suposies e bem superficiais. Umplanejamento reencarnatrio algo para ser muito bem estudado eestruturado. Todos os envolvidos, como nesse caso, precisaro

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    chegar a um acordo, um consentimento para se harmonizarem,aliviarem as conscincias e evolurem. Esse o objetivo!Quando estamos encarnados, Srgio, tudo fica diferente.Pensamos e agimos diferente. Eu estava conversando isso com a

    Dbora ontem, l na biblioteca justificou-se Lvia. Por isso eupreciso de um pai severo e de uma me que no me apie. Serdifcil, mas compreendo e aceito para eu no me desviar dos meusideais. No meu caso, eu no posso e no quero me deixar iludir pelabeleza fsica, material e me inclinar para a vaidade, para o orgulho.Srgio ofereceu suave sorriso e explicou:O que belo, o que bonito deve ser agradvel aos sentidos e noser um instrumento de vaidade, arrogncia ou inveja. Acho que abeleza fsica deve ser interessante, no seu caso, voc precisar saberlidar com ela. O Rubens dever se atrair por voc e, novamente,essa atrao ser pela beleza exterior.E difcil aprender a nos equilibrarmos com a beleza. uma provato difcil quanto a da fortuna! Podemos nos tornar vaidosos,

    orgulhosos, arrogantes e imponentes. Exatamente! A vaidade e o orgulho andam de braos dadosenquanto a arrogncia corre atrs dos dois. No d para ter um semter o outro. Encarnado, sob o vu do esquecimento, o nossoinconsciente se revela sutilmente e por isso que atramos para nso que precisamos para nos corrigirmos. Se voc atraiu para si uma

    pessoa agressiva, que no te respeita nem te ama, porque estfaltando amor e carinho de voc para com voc mesma. Esse sum exemplo. Enquanto voc no se amar, no se respeitar, noprocurar o melhor, os caminhos no vo se abrir para que encontree se ligue a pessoas melhores.Aproveitando a breve pausa, Humberto questionou:E quanto ao Rubens? Ser que conseguiremos tir-lo daquela

    condio?Temos alguns anos pela frente e, enquanto eu no reencarnar,vou ajud-lo no que for preciso para tir-lo desse estado de

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    conscincia, o Umbral. Sei que podemos contar com a colaboraodo Tiago, especialista nesse assunto. Ser muito importante eproveitoso o Rubens desejar reencarnar para reparar os erros. Emais importante ainda se restabelecer o quanto antes para

    entender o que aconteceu a ele, por que aconteceu e tambmaprender e se preparar para a harmonizao que precisa fazer.Quando socorrido, talvez, ele no tenha condies de vir paraesta colnia, mas j sei onde poder ser recebido disse Humbertomais animado.timo! O sofrimento dele, nesse estado de perturbao, foiimenso. Acredito que, quando se libertar desse estado, o mnimo detempo de terapia espiritual j o ajudar a se recompor e equilibrar amente, pois, pelo que conheo, o Rubens inteligente e podemostirar proveito benfico disso. Srgio silenciou por algunsinstantes observando o casal se entreolhar com expectativa epreocupao. Logo comentou: Pensem bem e falem com osenvolvidos. Depois ser preciso vocs requererem, junto ao

    Ministrio da Reencarnao, o pedido e a justificativa para oreencarne de ambos a fim de que tudo se d no tempo certo.E o pedido para a reencarnao dos demais? Alguns no estonessa colnia.Veja, Lvia, cada colnia espiritual possui o seu sistema deorganizao. Aqui ns temos um ministrio especializado somenteem planejamento reencarnatrio. No caso dos demais, a colniaonde esto o Ministrio do Auxlio que cuida disso no setor deplanejamento reencarnatrio. Eles devero fazer a solicitao por le, logo que o pedido de vocs for aceito, entraremos em contato coma colnia onde eles esto para justificar a necessidade de os unirmoso mximo possvel para esse reencarne. Existe uma movimentaoenorme para um trabalho como esse. Porm, se isso o que vai

    aliviar as conscincias, se esses reencarnes contribuiro para aevoluo e a elevao de muitos, sem dvida, as governadorias iroaprovar e tudo ser feito a tempo explicou Srgio.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Minha conscincia me cobra muito. Sinto-me abalada. s vezes,quase doente por causa das recordaes dos meus deslizes infantis ede tudo o que fiz indiretamente ao Humberto. Eu acabei com umplanejamento reencarnatrio. Destru nossos sonhos e provoquei

    muito sofrimento a todos. Eu amava o Humberto e jamais poderiaimaginar que aquilo que eu estava permitindo ao Rubens oincentivava a um plano macabro para eliminar o irmo. Como errei.No sei como o Humberto me perdoa pelo que fiz.Errar todos ns erramos. E Deus to bom e justo que nos deixacorrigir. Quanto a te perdoar, eu no te perdo, Lvia, no tenho oque te perdoar. Eu s compreendo, pois j agi assim e at pior. Oque sinto por voc muito forte, muito intenso, por isso estarei aoseu lado. Vamos neutralizar todo esse peso de nossas conscincias,aprender a entender e a perdoar de verdade. No ser fcil. Poroutro lado, vou me empenhar para uma harmonizao com a Irene.Serei testado no limite das minhas foras e voc tambm. Sereitestado para compreender e aceitar o meu irmo ao seu lado.

    Sinto medo. Podemos mudar de idia quando encarnados pelovu do esquecimento tornou ela.No mudamos de idia quando o que sentimos verdadeiro e oque estamos fazendo muito necessrio afirmou Srgio. Epreciso que pensem muito. Reflitam bastante sobre a unio naTerra. Cada um de vocs ser testado em sua fidelidade. A vaidade,o cime, o orgulho e a inveja so vcios morais que o Rubens e aIrene no vencem custa de experincias simples. Pelo que sei e osconheo at agora, eles so capazes de prejudicar algum s paraserem os melhores, os vitoriosos. Devemos questionar, entretanto,se esse perodo de sofrimento no Umbral serviu para o Rubens serhumilde ou no. No que diz respeito ao livre-arbtrio, tudo podeacontecer quando algum no vence os vcios morais. Os atos que

    cometemos e os vcios que adquirimos como o cime, a gula, oalcoolismo, o tabagismo entre outros so vcios frutos da vaidade,do orgulho, da inveja... A criatura normalmente no se domina at

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    perder completamente o controle de si mesma e, junto com essesdesequilbrios, no s prejudica a prpria existncia como tambm avida daquele ou daqueles que esto mais prximos. Esse o problema, Srgio. Eu confio em mim, na Lvia, mas

    tenho motivos para no crer no cumprimento das promessas epropostas que os demais vo fazer, principalmente o Rubens e aIrene. Todos os envolvidos que mencionamos, aqui, nessapossibilidade de planejamento, vo concordar com o reencarne, semdvida! Voc, melhor do que eu, sabe como ! Milhares de criaturasimploram, desesperadamente, por uma oportunidade de reencarnarpara no continuarem sentindo imensa perturbao, o desequilbrioe a inenarrvel dor na conscincia, que viva, real, sem iluses eque no se esquece por um s segundo, aqui, no plano espiritual.Essas criaturas querem se livrar dessas aflies e das angstiasperturbadoras causadas pelas cobranas dos erros do passado.Acreditam poder suportar qualquer dor e sofrimento na vidaterrena, que so bem mais suaves do que as tempestuosas im-

    presses pelos dbitos impregnados no perisprito, na mente. Aovoltarmos do plano fsico endividados, aqui, a aflio intensa,enlouquecedora e o arrependimento desesperador. E por isso quemuitos encarnados tm medo da morte. Assim que retornamos paraa ptria espiritual, o arrependimento tardio de quase nada adianta,a no ser para mostrar um pouco de evoluo adquirida, exibindo oreconhecimento dos nossos erros e a conscientizao de saber queser preciso corrigi-los. Porm, quando arrependido e desesperado,o esprito implora por uma oportunidade de corrigir o seus erros.Mas, encarnado, no d a menor ateno aos chamados dereparao. A vaidade, o orgulho e a ambio o dominam e, aoconhecerem, a lei de causa e efeito, que a necessidade de terem deharmonizar o que desarmonizaram, ele pensa: "Ah! No deu para

    eu corrigir nessa vida, vou deixar para corrigir na prxima!" Ir-responsvel! No pensa que, com essa atitude, tiram de outracriatura a oportunidade nessa experincia terrena e prejudica muita

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    gente. No leva em considerao o empenho e a dedicao deinmeros amigos encarnados e desencarnados que se esforarampara ajud-lo. Encarnada, a pessoa no tem respeito por todo rduoe dificultoso planejamento reencarnatrio e pe tudo a perder.

    Quando no, ainda culpa o prximo pelos seus erros, pela suaincompetncia. Isso verdade! concordou Srgio. A pessoa no imagina oquanto ela implora para viver a vida que vive com todos osdesafios, dificuldades e limitaes humanas. Ignora como insistiuexperimentar a experincia terrena tal qual como vive, pois, s apsharmonizar os seus dbitos, passar a ter paz espiritual. No entanto,desperdia a oportunidade, o tempo. Utiliza erroneamente osatributos que lhe foram confiados e acaba adquirindo mais dbitos emuito sofrimento consciencial.Um silncio profundo dominou o recinto at Humberto concluir: Por isso devemos orar muito e nos conscientizarmos do querealmente queremos e somos capazes. Orar para que, quando

    encarnado, no nos desviemos do que ser de timo proveito para anossa evoluo, pois, muitas vezes, o acontecimento ruim oremdio para o nosso mal. o que nos faz crescer.Com certeza! concordou o amigo. Bem... J tarde e eupreciso ir. A Dbora est me esperando. Pensem muito a respeito detudo o que conversamos e lembrem-se de todas as possibilidades.Depois me procurem. Vo l a minha casa para conversarmos. Setudo der certo, como supomos aqui, continuaremos com a nossa boae velha amizade quando reencarnarmos riu. Ser muito bom!Sempre nos demos muito bem!Sem dvida, Srgio! Vamos orar para que saibamos a melhordeciso a tomar, depois conversaremos. Muito obrigado pela suaateno e ajuda! disse Humberto, grato.

    Fiquem com Deus!Os amigos se despediram e Srgio se foi. Aquela noite foi longapara Humberto e Lvia, que conversaram muito a respeito de tudo.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    * * *

    O tempo foi passando. Com os anos, Rubens foi socorrido e levadopara uma colnia adequada ao seu estado consciencial. Oarrependimento corria-lhe mente perturbada e sofrida.Em uma das vezes em que foi visit-lo, em um pavilho hospitalar,Humberto dizia piedoso: Tudo j passou, Rubens. No fique assim. Voc no faz idia do que vivi, nem de como vivo agora. horrvel ver e sentir o sofrimento que eu te provoquei.

    Minha mente ficou confusa. Nem acredito que fiquei todos esses

    anos naquele vale sombrio. Eu no sabia quando era dia ou noite.Sentia fome, frio, desespero... Desejei morrer, mas isso no se pode.Descobri que a morte no existe. Nunca me viu ou ouviu quando me aproximava de voc?No. Nunca. Eu pensava em voc e um arrependimento terrvelme torturava. Foi pouco antes de eu ser trazido para c que intensa

    f tomou conta de mim e comecei a rezar diferente. Algo forteenchia o meu peito de esperana e de vontade e eu comecei a orarcomo nunca tinha feito antes. Senti-me tonto, aliviado e uma coisaleve envolveu o meu corpo... Da eu te vi. Vi os outros. Osofrimento, a dor e todo o peso do horror vivido diminuram, masainda tenho crises que me assombram. A conscincia me di. Porfavor, Humberto, no pense que estou me queixando, s estou

    comentando. Sei que sofri por minha culpa, por minha leviandade...Foram muitos anos em estado de perturbao terrvel, Rubens.Mas, agora, vai se recompor.Estou to arrependido por tudo... Arrependido por ter vividocomo vivi...Sempre h um jeito de se corrigir o erro.

    Eu me iludi. Fui arrogante, orgulhoso, prepotente... Sempre tiveinveja de voc. Quando voc e a Lvia estavam juntos, eu... ochoro o interrompeu.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    No se torture, meu irmo!Voc tinha tudo, Humberto! Sempre teve! E merecia! Mas eu...Em vez de conquistar e batalhar pelo que eu queria, achei que seriamais fcil tirar de voc. Acreditei que, se voc no estivesse no meu

    caminho, eu poderia ficar com a sua noiva. Afinal, ela correspondia,com sorrisos enigmticos, aos meus olhares, aos meus elogios e...Bem, eu pensei que se no estivesse no meu caminho eu ficaria comela, com a casa que o pai te ajudou a conseguir e... novamentechorou. Aps te matar, vivi dias amargos. A Lvia no me quis eficou doente. Depois que ela morreu fugi para a bebida... Casei e fuileviano, traidor, agressivo... Fiz tanta coisa errada!...Tudo tem como ser corrigido.Ser?! Ser que esse sofrimento tem fim?! Acredita que Deus te criou para v-lo errar e deix-lo sofrereternamente? Se assim fosse, voc no estaria aqui, arrependido. Seique est sofrendo, mas sente-se mais aliviado. O irmo ficoupensativo e Humberto prosseguiu: Bem, vamos falar de coisas

    boas! A me vir visit-lo amanh! sorriu.Mas...E a Lvia tambm.Humberto! No sei como receb-las! Estou com vergonha de tudoo que fiz! Meu Deus! Olha o meu estado!Esse um momento que no pode ser mais adiado, Rubens. Ame est prestes a reencarnar e deseja muito v-lo. A Lvia tambmtem seus arrependimentos e quer se desculpar. Alm disso, agoraque est mais consciente, preciso te contar e ao mesmo tempo tefazer uma proposta, pois falta somente voc para concordar comtudo. Uma proposta?! Voc se sente mesmo arrependido e quer corrigir os seus erros?

    Sim! Claro que sim! expressou-se emocionado.Ento eu proponho a parar de pensar nos erros do passado eplanejar o futuro.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Como assim?! perguntou curioso.Veja, Rubens, o nico meio de aliviar a conscincia corrigindoos erros. E o nico jeito de corrigir os erros reencarnando.Se eu pudesse... Se eu tivesse a chance de reparar o passado... Oh!

    Meu Deus! Quero viver de novo e fazer tudo certo! Se eu tiver essaoportunidade!...Todos teremos. S que isso no assim de imediato. Tudo muito bem planejado. Sabe, a nossa me vai reencarnar em breve.No estava em seu planejamento reencarnatrio nos receber, masaceitou faz-lo, apesar de toda dificuldade que enfrentar por contade nossos desafios, provas e expiaes. Ficou feliz e at prope areceber a Neide como filha, uma vez que foi a neta que ela noaceitou no passado.Tudo est certo, ento?! Vou reencarnar para corrigir os meuserros e me livrar dessa angstia, desse desespero que sinto?!Calma. Reencarnar, voc vai, mas no algo to simples comoparece. Precisa se recuperar, sair deste hospital, se dispor a

    aprender para se equilibrar e se dispor a fazer tudo corretamente.No basta apenas reencarnar para no ter mais a angstia e odesespero. Se quando estiver encarnado, voc no fizer o que certo, ao retornar para a ptria espiritual, suas dores na conscinciavoltaro com a mesma intensidade e, s vezes, piores por terperdido a oportunidade.

    Rubens pareceu ganhar vida. Imediatamente seus olhos brilharam. Puxa! Como eu quero ser diferente! Farei de tudo para me livrardesses pesadelos que me consomem! Deixar de sentir os reflexos doque fiz a voc, do que fiz de errado quando encarnado, mesmo queseja para passar por um sofrimento parecido, ser um grande alvio.Os dois continuaram conversando por longo tempo e Humbertoexplicou qual era o planejado e o irmo ainda ressaltou:

    Humberto, fique tranqilo, eu juro! Eu prometo que serei umbom companheiro para Lvia enquanto Deus me permitir ficarencarnado! Serei fiel, digno, responsvel, gentil! Acredite!

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Eu vou procurar acreditar, mas isso depende de voc, meu irmo.Como era de se esperar, Rubens oferecia toda a ateno s palavrasde Humberto. Encontrava-se ansioso e arrependido o suficientepara ter essa oportunidade de se livrar de todo o sofrimento e dor

    causados por seus erros, por sua vida sem f e, principalmente, semamor ao prximo.

    * * *A tarde, o sol estava quase se apagando para o dia que morria.Rubens escutava o rudo rpido e confuso da corredeira, cujos

    borrifos cintilantes bailavam cristalinos pelos ltimos raios de sol.Achegava-se sentado sobre uma pedra e com os ps descalos narelva verdinha salpicada de flores. Trazia os pensamentoscarregados de idias e planos para o futuro enquanto olhava asguas correndo e espumando.De repente algo lhe chamou a ateno. A aproximao serena, no

    caminhar suave de dona Aurora o fez se virar, ale-grando-se aomurmurar: Me! A senhora aqui?!Vim te visitar, filho. Como est? perguntou, beijan-do-lhe aface de traos sofridos.Estou bem, me. No tanto como eu gostaria, mas muito melhordo que j estive.O rosto belo e agradvel da gentil senhora ofereceu-lhe suavesorriso e ela comentou:Sinto-me feliz por sua recuperao to rpida. Espero que osestudos e a dedicao s tarefas simples iluminem sua mente ealiviem o seu corao alm de servirem como exemplo eaprendizagem.

    Me, at hoje, no te pedi desculpas por tudo que a fiz sofrer lgrimas correram em sua face. Por favor, me perdoe por tudo.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Na verdade, filho, o que eu quero que voc se harmonize, secorrija. A sua paz, o seu bem-estar me deixam feliz e satisfeita.Estou me esforando para no errar de novo. Sabendo que sereiirmo do Humberto, eu no posso falhar. Ele uma criatura que eu

    prejudiquei muito e tudo por inveja, cime e tantos outros vciosmorais. Por outro lado, vejo que a Lvia sofre at hoje por minhacausa. No levei em conta que ela tinha um compromisso com omeu irmo. Por isso, nessa oportunidade de ficar ao lado de Lvia,quero trat-la com amor, respeito, fidelidade. Quero corrigir todosos meus erros. Sei que ser difcil para o Humberto nos ver juntose... tenho medo por ele, que se sentir abalado. Ser difcil ele v-lacom outro, ou melhor, comigo. Me, se o meu irmo se deixardominar pelo dio, pela raiva, pela contrariedade... poder desejarme matar e, fazendo isso, perder toda uma vida!Ele ser testado no limite de suas foras. Precisar vencer o cimee entender o amor incondicional, concedendo o perdo. Eu confioem seu irmo. Ele uma criatura elevada. O que mais me preocupa

    voc e a Irene. Juntos, por puro vcio no prazer, temo que vocsprejudiquem o Humberto e a Lvia.No, me! Nunca mais! Sofri o suficiente para no deixar mais osprazeres mundanos me dominarem. Experimentei tanta dor edesespero que vou ser fiel ao meu irmo, a minha companheira.Roguei tanto para ter uma oportunidade de aliviar minhas doresque no vou desperdiar.Peo a Deus que voc aproveite mesmo essa chance, filho, paraque no sofra mais!Eu tenho muito que agradecer senhora por me aceitar comofilho novamente, mesmo sabendo de tudo o que ter deexperimentar por minha causa. Sei que vai sofrer muito por mim, eat pelo Humberto, quando as provas e expiaes comearem.

    No era para eu ter filhos nessa experincia de vida e isso memagoaria muito. Quando recebi a proposta de t-los novamente,fiquei muito feliz. Experimentarei uma grande dor, mas saberei que

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    foi para ajud-lo na evoluo. Ao mesmo tempo, terei aoportunidade de receber aqueles a quem, um dia, neguei ajuda,Neide e Flvio, que foram meus netos, filhos de Humberto e Irene,quando ela o abandonou para fugir com voc. Humberto passou

    todos os tipos de privaes e necessidades, alm dos flagelos daalma. E eu virei as costas para o meu filho e os meus netosacreditando que no eram problema meu. Realmente no eram, maspassaram a ser quando eu tive condies e no ajudei, no amparei.Tudo o que estava acontecendo na vida do Humberto, somado minha falta de amparo, quase o levou a cometer uma loucura comele e com os filhos. Agora eu vou corrigir tudo isso, apesar da dor.Naquele momento, o cu tornava-se levemente escurecido e asnuvens, entremeadas de cores, desmanchavam no horizonte. O soldesapareceu completamente e um azul firme e denso descia,deixando as primeiras estrelas cintilarem.Dona Aurora olhou o firmamento por alguns segundos enquanto osilncio reinou. Rubens, agora em p a sua frente, conservava olhar

    vivo com expectativa de que ela dissesse mais alguma coisa. Vim aqui me despedir de voc, filho. Vou me recolher parareencarnar em poucos dias. Envolvendo-o em demorado abrao,a senhora beijou-lhe o rosto a medida que lgrimas banhavam suasfaces. Ao se afastar, ela afagou-lhe carinhosamente o rosto e aindapediu: Rogue por f, para voc crer em Deus, para que,encarnado, oua as inspiraes de seu mentor amigo e confie nosplanos de Deus. Esse propsito reencarnatrio para que vocvena a inveja, o orgulho, a arrogncia e tantas outras mazelas. Ecerto que todos ns precisaremos e iremos nos propor a vencer osnossos vcios. No fique preocupado ou pensando no que os outrostm para corrigir. Preocupe-se com o que voc precisa fazer para semelhorar.

    Obrigado, me disse com lgrimas correndo na face. Deus o abenoe, Rubens. Eu te amo, filho. Comeava, ali, aconcretizao do planejamento reencar-

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    natrio de todos.Na espiritualidade, muitas promessas de melhoria ntima foramfeitas. O desejo de no sofrer mais pelas faltas cometidas eraintenso. Porm, o livre-arbtrio de cada um poderia mudar muito o

    destino de todos.

    3RETORNANDO PARA CASA

    Naquela tarde de vero, o sol escaldante no oferecia trgua. Apesardisso, dona Aurora se empenhava, na cozinha, para fazer o bolopredileto de seu filho Humberto, que estava para chegar.

    A empresa em que o rapaz trabalhava o havia mandado para a filialdo Nordeste e por isso ele ficou meses longe da famlia.Me, como se no bastasse o calor horrvel que est fazendo, asenhora ainda fica com esse forno ligado!!! O inferno maisfresquinho do que aqui! reclamou Neide, filha mais nova dedona Aurora.No estou com o forno ligado, no senhora! J desliguei faztempo! T fazendo um bolo gelado pro seu irmo! Ele adora! Daquia pouco o Humberto t a! Tomara que d tempo de gelar!Ah! S porque o Humberto chega hoje, a gente precisa morrer decalor?! Deixa de coisa, menina! Liga o ventilador pra mim! Neide foipegar o aparelho. Aps lig-lo, ouviu o barulho do porto e gritou

    alegre: O Humberto chegou!!!

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Dona Aurora tirou o avental, s pressas, e correu para receb-lo. Sque Neide passou sua frente e se jogou nos braos do irmo,beijando-o.Em seguida, o filho abraou-se me, que demonstrava sua

    saudade em forma de carinho e lgrimas.Humberto era um rapaz alto, com um corpo bem apropriado suaaltura. Olhos verdes, grandes, brilhantes e expressivos. Cabeloslisos e aloirados. Muito bonito. Comunicativo, amvel e atencioso.Gostava de ser prestativo e sempre presente. Ora, me! No chora! pedia sorrindo e trazendo os olhosumedecidos pela emoo. Como voc est magro!!! Abatido!!!O que isso, me?! No estou no! riu. Depois perguntou: Como esto todos?O Rubens est de namorada nova! anunciou Neide,empolgada. Ele foi l na casa dela!Que legal! Estou sabendo. Mas falando em namorada... E a Irene?

    Cad a minha namorada?! brincou.Ela ligou, filho! Disse que, onde estava, o trnsito ficou terrvel epor isso iria demorar.timo! Preciso de um banho urgente! disse. Puxando as malasem direo ao seu quarto, perguntou: E o pai?J chegou do servio, mas... saiu avisou dona Aurora,entristecida. J sei! O pai foi para o bar! concluiu Humberto. Talvez, filho. Mas conta, por que no quis que a gente fosse tebuscar no aeroporto?

    No, me! No quis dar trabalho. O vo atrasou. Alm disso, oservio de txi prtico e timo.Indo atrs de Humberto, Neide reclamava:

    Eu tambm no entendi essa sua deciso! O Rubens ou o paipoderia ter ido te buscar.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Colocando a mala sobre a cama, Humberto a abriu, tirou um pacotee a interrompeu dizendo:Veja! Eu trouxe isso para voc!Ai! Que blusa linda!!! exclamou Neide ao abrir o embrulho.

    E essa para a senhora, me!Puxa, filho! No precisava se preocupar!...Nossa! Aqui est to calor quanto l! reclamou ele.Isso porque voc no foi at a cozinha! avisou a irm. Ame ficou com o forno ligado at agora!Oba!!! Booooolo!!! Hoje vou comer o meu bolo predileto!!! Esozinho!!! exclamou Humberto, rindo e esfregando as mos aoadivinhar o que sua me havia preparado.E o seu bolo mesmo, filho! Agora vai tomar um banho pra voccomer alguma coisa! Voc deve estar com fome e cansado!Cansado eu estou, mesmo! No vi a hora de chegar aqui em casa.O rapaz, bem humorado, pegou uma muda de roupa, a toalha e foipara o banheiro.

    Algum tempo depois, ele chegava sala, perguntando:Me! Cad os meus chinelos?!Esto aqui! respondeu a senhora.

    E eu tambm!!! disse Irene sorrindo ao ir abra-lo. _ Quesaudade meu amor!Correspondendo ao carinho, ele a beijou com ternura, e depois

    falou:Puxa! Como bom te ver!E l?! Espero que no precise mais voltar!Acho que no. Na segunda-feira vou empresa e retomo meulugar. Esses ltimos dez meses foram bem cansativos. Durante asemana, enquanto eu trabalhava, tudo bem, mas quando chegava ofinal de semana... Era um tdio! No tem coisa pior do que ficar

    longe de casa, da famlia...Nesse tempo todo voc s veio pra c cinco vezes!!!Voc contou?!

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Lgico! Eu estava louca de saudade!Eu tambm. Nem acredito que estou em casa, paraficar! Pensei que chegaria aqui antes de voc, mas peguei um trnsito!

    E a loja de roupa no novo shopping? Est dandocerto?Ah!!! No poderia ser melhor! As vendas esto timas! Puxa!Agora tenho trs lojas! E estou pensando em abrir mais uma! riusatisfeita. Sinto-me to realizada!Estou feliz por voc, meu bem. bom que se ocupe com algo quegoste sorriu ele. Adoro o que fao! Trouxe uma coisa para voc! Vou pegar! avisou, levantando-see indo at o quarto. Sem demora, retornou, dizendo: Espero quegoste!

    Irene abriu o embrulho e admirou:Ai! Que linda! Quando vi a blusa da sua irm e da sua me

    pensei: se ele no trouxe uma pra mim, vai ver! riu.Eu no iria tratar diferente as trs mulheres da minha vida! disse, abraando-a com carinho.Nesse momento, insatisfeita com o comentrio, Irene fechou osorriso sem que ele percebesse.Logo a ateno se voltou para o senhor Leopoldo, que acabava de

    chegar.Aaaah! Eu sabia que voc tinha chegado! exclamou o senhorcom voz grogue, pois havia bebido.Oi, pai! Tudo bem? perguntou Humberto, nada. animado, indo sua direo para abra-lo.Seu pai era um homem vencido pela bebida. Marcado peloalcoolismo. Havia perdido o respeito dos amigos e familiares

    devido s situaes difceis e aos dramas que provocava.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Est tudo bem, Humberto! No ............ no podia t diferente! respondeu. Mas, ao dar o prximo passo, tropeou no prprio p, efoi amparado pelo filho.Calma, pai. Vai devagar falou o filho, segurando-o firme.

    melhor o senhor se deitar aconselhou entristecido.O homem estava to embriagado que no sabia o que responder.Ele no conseguia pensar direito e Humberto o levou para o quarto.Ao retornar, trocou olhar com Irene e foi direto para a cozinhaavisar sua me.Dona Aurora respirou fundo e, sentindo forte amargura, foi at oquarto para cuidar do marido.De volta para a sala, Humberto reclamou:Parece que isso no vai mudar nunca. Estou cansado de ver omeu pai assim.Ele havia parado de beber.Ele sempre pra de beber, Irene, por uma semana, um ms...depois volta. No tem opinio. No firme nas decises.

    Vendo-o chateado, ela props:Quer sair?! Dar uma volta? Meu carro est a fora! sorriu.Primeiro vou comer aquele bolo gelado que s a minha me sabefazer! riu de um modo travesso e foi para a cozinha, dizendo: Depois vamos dar uma volta, sim. Mas eu quero voltar cedo. Estouto cansado e gostaria de dormir at!...

    Irene no gostou dos modos alegres de Humberto, que era bemcaseiro, mas nada disse e s o acompanhou.

    * * *Bem mais tarde, Humberto estava deitado em sua cama quando oirmo chegou.

    Rubens o cumprimentou com um sorriso e perguntou:Como esto as coisas?

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Bem! Tudo tranqilo! respondeu, indo abra-lo. Depois sedeitou novamente e ainda falou: Eu no via a hora de voltar pracasa. O queridinho da mame no fica longe de casa, no ?! O irmo

    fechou o sorriso e perguntou em um tom chateado: Por que voc sempre me chama de queridinho da mame? Nome sinto bem com isso.

    Por que voc ! A me no fala em outra coisa, h uma semana, ano ser na sua volta. At a Lvia percebeu!Lvia?! E o nome da sua nova namorada?

    E. E uma garota muito legal. Vai conhecer. Ela j te conhece detanto a me falar em voc.No se importa em traz-la aqui, por causa do pai?No comeo fiquei com receio, mas depois...Hoje mesmo o pai chegou daquele jeito.Agora, todo dia ele t assim! disse Rubens.Com jeito moderado, um tanto constrangido, Humberto

    aconselhou:Toma cuidado, meu irmo. V se no faz como o pai.Por que me diz isso?! perguntou, quase irritado. que eu vejo que voc gosta de beber um pouco. Sei que notenho nada com isso, mas falo para o seu bem. De repente, sem queperceba, pode comear a aumentar as doses, a freqncia com que

    bebe... bom se prevenir enquanto cedo.Qual , Humberto?! Eu sei me cuidar!Tudo bem. J entendi. Virando-se, falou: Boa noite! Olha, cara, pode deixar que eu me cuido, t?!O outro no disse nada. Rubens apagou a luz e saiu do quarto.

    * * *

    Mais de uma semana havia se passado.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Era sexta-feira de manh quando a campainha tocou, insistente, nacasa de dona Aurora. Humberto levantou, entorpecido pelo sono, efoi ver quem era.Ao ir at o porto, deparou-se com uma moa bonita, estatura baixa,

    pele alva e bem tratada, cabelos castanho-escuros, longos e lisos,que escondiam seus belos olhos castanhos expressivos, vermelhosde tanto chorar.Pois no?! desconfiado e estranhando a cena, ele perguntoucom a voz rouca pelo sono.Por favor... A dona Aurora est? quis saber a moa educadacom voz doce e embargada.Eu no sei... Perdoe-me... Quem voc? perguntou em tombrando. Sou a Lvia, namorada do Rubens. Ah!... Sim! sorriu. Um minuto! Vou pegar a chave paraabrir o porto. Em instantes ele voltou e a fez entrar. Logo seapresentou: O meu nome Humberto. Sou irmo do Rubens.

    A moa apertou sua mo e desatou a chorar. Sem saber como agir,ele disse: Venha! Entre! J na sala, ele a fez sentar e solicitou queaguardasse. Imediatamente foi at o quarto de sua irm e noencontrou ningum. Procurou algum pelo resto da casa, e nada.Voltando cozinha, pegou um copo com gua, foi at a sala e oentregou moa, pedindo: Tome, Lvia. Vai se sentir melhor.Com as mos trmulas, ela pegou o copo e tomou alguns goles,vagarosamente, depois falou: Desculpe-me. Eu no sabia o que fazer nem para onde ir.Decidi vir pra c.

    que no tem mais ningum em casa. Eu tirei quinze dias defrias, por isso estou aqui hoje. Acordei agora e no sei onde minha

    me est. Os meus irmos e o meu pai j devem ter sado paratrabalhar e... O que te aconteceu? Ser que posso ajudar?

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Cheguei ao servio hoje e fui demitida contou, sentida,controlando as emoes.Sem saber o que fazer, Humberto falou com brandura:Sinto muito. Mas no fique assim. Voc arrumar outro emprego

    em breve.Talvez. O mais difcil ser enfrentar o meu pai. Ele no vaientender. Minha me tambm... deteve as palavras.Desculpe-me, Lvia, eu no a conheo nem a seus pais, mas, hojeem dia, no se pode ser to radical, to duro. Foi um acontecimentoindependente da sua vontade.Sim, eu sei. Mas que voc no conhece o meu pai. Esse empregoera muito importante para mim. Pago meus estudos e...Algumas lgrimas rolaram em seu rosto triste e, ao v-la chateada,ele comentou:Olha, de repente isso foi bom. Pode encontrar coisa melhor.Quem sabe?! Voc tem um currculo?!Tenho.

    O Rubens ou eu mesmo podemos entreg-lo para a empresa ondetrabalhamos e para conhecidos, quem sabe!Obrigada, Humberto. Estou to confusa, agora, mas vou cuidardisso. No sei como vou para casa com essa notcia.No sei a que horas minha me vai chegar. Nem sei aonde ela foi. Consultando o relgio, comentou: So quase onze horas. Sequiser, pode esper-la. Se no... Eu estou com o carro da Irene,minha namorada, e... Se esperar eu tomar um banho e me arrumar,posso te levar para casa.No. No precisa. Acho que vou indo.No ser incmodo nenhum! E s um minuto! Nesse instante,dona Aurora chegou e logo ficou cientede tudo o que aconteceu.

    Humberto, por sua vez, sentiu-se aliviado, pois ela, imediatamente,confortou a moa dando-lhe toda a ateno.

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Mais tarde, a pedido de sua me, o rapaz foi lev-la para casa. Antesde Lvia descer do carro, ele pediu:D-me um currculo seu! Vou ver o que posso fazer para teajudar.

    Obrigada, Humberto. Assim que eu atualiz-lo te entrego.Desculpe-me por tudo.No tem porque se desculpar.Obrigada mais uma vez. Tchau sorriu agradecida.Tchau.Ele permaneceu olhando-a entrar em casa.De imediato, seus pensamentos ficaram confusos. Reparou o jeitodcil, sua beleza generosa que se tornava encantadora com seumodo recatado e delicado de ser.Sentiu-se tocado, como se j a conhecesse de algum lugar. Haviasimpatizado com a moa mesmo tendo conversado to pouco comela. Foi uma atrao inexplicvel. Sua voz suave e seu sorrisoagradvel foram marcantes. Algo de que ele no iria se esquecer.

    Humberto respirou fundo, sacudiu a cabea afugentando ospensamentos, ligou o carro e partiu.

    Era noite quando o telefone tocou na casa de dona Aurora, e o filhoatendeu:Pronto!Rubens?! Sou eu, Lvia!

    No! Aqui o Humberto!Desculpe-me, Humberto. que sua voz to parecida com a dele.E verdade. Todos se confundem. E a, Lvia?! Tudo bem?! Vocest mais calma?!Um pouco mais calma, porm muito preocupada. O Rubens est?No. Ainda no chegou.Tudo bem. Quando ele chegar, diga que eu liguei.Digo sim Lembrando-se a tempo, ele perguntou: Ah! No seesquece de me trazer um currculo!

  • 5/28/2018 Cora es Sem Destino - Eliana Machado Coelho (Schellida)

    Lgico que no. Estou atualizando-o e, assim que estiver pronto,o primeiro ser seu. Obrigada por sua ateno. Nem nosconhecemos direito e voc tentando me ajudar!Gostaria que algum fizesse isso por mim, caso eu estivesse em

    uma situao como a sua. Fique tranqila. Vou fazer o que puder! Onde voc trabalha, Humberto?Em uma indstria farmacutica. Estou de frias no momento,mas, ao retornar, na semana que vem, verei como posso te ajudar.S que a empresa fica longe do bairro onde moramos.Tudo bem. Distncia no problema. Preciso do emprego.Desculpe minha curiosidade, voc faz o qu?

    _ Um dos diretores. Trabalho na rea financeira. Lvia ficousurpresa, no pensava que ele ocupasse um cargo to considervel,porm disfarou ao perguntar: _ Viaja s