coordenação pedagógica

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1 COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA SUMÁRIO Apresentação ................................................................................................................ O Papel do Coordenador Pedagógico: Desafios e Possibilidades ............................... . A Coordenação Pedagógica na Perspectiva do Pensamento Complexo ...................... Projeto Político Pedagógico: Construção e Organização do Trabalho Pedagógico ...... A Coordenação Pedagógica e a Formação Contínua de Professores .......................... As Múltiplas Implicações da Prática do Coordenador Pedagógico ............................... APRESENTAÇÃO Prezados alunos, Globalização, novas tecnologias de informação e comunicação, avanços da ciência e da tecnologia são fenômenos que gestam mudanças sociais, culturais, políticas, econômicas que, por sua vez, exigem da escola novos saberes, novas posturas, novas propostas educativas.

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Page 1: coordenação pedagógica

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COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

SUMÁRIO

Apresentação ................................................................................................................

O Papel do Coordenador Pedagógico: Desafios e Possibilidades............................... .

A Coordenação Pedagógica na Perspectiva do Pensamento Complexo......................

Projeto Político Pedagógico: Construção e Organização do Trabalho Pedagógico......

A Coordenação Pedagógica e a Formação Contínua de Professores ..........................

As Múltiplas Implicações da Prática do Coordenador Pedagógico ...............................

APRESENTAÇÃO

Prezados alunos,

Globalização, novas tecnologias de informação e comunicação, avanços da

ciência e da tecnologia são fenômenos que gestam mudanças sociais, culturais,

políticas, econômicas que, por sua vez, exigem da escola novos saberes, novas

posturas, novas propostas educativas.

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Como se configura a atuação do Coordenador Pedagógico, nesse contexto de

mudanças?

Este livro propõe-se a oportunizar um tempo/espaço aos estudantes do Curso

de Pós-Graduação lato sensu em Coordenação Pedagógica para refletir, pensar,

dialogar e assumir um caminho no exercício desse significativo papel em escolas de

Educação Básica.

O livro compõe-se de cinco capítulos que abordam a Coordenação

Pedagógica desde as perspectivas: teórica, metodológica e prática com a

intencionalidade de provocar a caminhada, que é própria de cada um, do contexto

onde atua ou atuará, de suas crenças, de suas forças e de suas concepções

teóricas.

O primeiro capítulo intitulado O Papel do Coordenador Pedagógico:

Desafios e Possibilidades aborda de forma geral o objeto de estudo, e abre

aspectos históricos sobre a trajetória da Coordenação Pedagógica na educação

brasileira.

Na seqüência, o segundo capítulo, denominado A Coordenação Pedagógica

na Perspectiva do Pensamento Complexo, expressa a configuração pedagógica

do pensamento complexo à luz do pensamento de Edgar Morin e as possibilidades

da Coordenação Pedagógica para romper com modelos pedagógicos repetitivos,

mecânicos e previsíveis.

O terceiro capítulo, Projeto Político Pedagógico: Construção e

Organização do Trabalho Pedagógico , apresenta o compromisso do Coordenador

Pedagógico no processo de elaboração, implantação e avaliação do Projeto Político-

Pedagógico da escola.

Em continuidade, o capítulo quatro A Coordenação Pedagógica e a

Formação Contínua de Professores embrenha-se em questões relativas à

formação contínua dos professores, como uma significativa atuação do Coordenador

Pedagógico em prol das mudanças que o contexto social, cultural, político e

econômico, está a exigir da escola.

Finalizamos com o quinto capítulo, denominado As Múltiplas Implicações da

Prática do Coordenador Pedagógico, que, numa simbiose entre teoria e prática,

coloca a atuação do coordenador pedagógico, num contexto abrangente,

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visualizando na prática, as implicações da dialética educacional e seus

determinantes para que as mudanças sejam efetivadas na escola.

Considerem este livro como uma porta aberta, um caminho que gera outros

caminhos, outras buscas, outros estudos, outras articulações ao estudo da

Coordenação Pedagógica.

Contem com a nossa solidariedade durante toda a trajetória de construção

desse conhecimento. A tecnologia nos aproxima o que o espaço nos distancia,

Bons estudos.

Profª Fabiana de Oliveira Machado

Profª Ana Jamila Acosta

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O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO: DESAFIOS E POSSI BILIDADES

Fabiana de Oliveira Machado 1 Ana Jamila Acosta2

Confiança com coragem Vibração com fantasia e mais dia e menos dia a lei do circo vai mudar, Todos juntos somos fortes... Não há nada pra temer. [...] E no mundo dizem que são tantos saltimbancos como nós

(Bacalov; Bardotti; Chico Buarque).

Prezados alunos,

O coordenador pedagógico muito antes de receber esse nome, existia na

escola com as mais diferentes denominações e funções. Às vezes atuava como

fiscal, era ele quem checava o que ocorria em sala de aula e normatizava o que

podia ou não ser feito. Não tinha muito conhecimento pedagógico e não conseguia

criar vínculos, pois não era visto pelos colegas como alguém confiável para

compartilhar experiências.

Outras vezes o coordenador pedagógico era um mero atendente, sem campo

específico de atuação, apagando focos de incêndio e, perdido no cotidiano escolar,

não conseguia construir propostas que envolvessem o grupo em um trabalho

coletivo.

O coordenador pedagógico ao passar dos anos se faz cada vez mais

necessário e começa a se explicitar para muitos dos envolvidos que vários estilos de

coordenar os trabalhos nas escolas estão em construção.

Certa inquietação acompanha essas práticas singulares e às vezes isoladas,

demonstrando de diferentes maneiras a importância de definir espaços, os quais

ainda não estão assegurados e, por muitas vezes, são ameaçados pelas relações

de poder que permeiam o ambiente escolar. Estas diferentes maneiras estão

1 Pedagoga. Especialista em Orientação Educacional e Supervisão Escolar. Assessora pedagógica no serviço técnico pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Canoas - RS. 2 Pedagoga. Especialista em Tecnologia Educacional e Administração de Recursos Humanos, Dra. em Educação pela Universidade de Santiago de Compostela - Espanha.

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implícitas nas ações do coordenador, que todos os dias tem a difícil tarefa de ligar e

interligar pessoas.

Por outro lado, já é possível perceber um movimento criativo e com iniciativas

próprias, que por não estar institucionalizado, está em processo de construção e

conquista do seu próprio espaço. Nesse sentido, é preciso um tempo de

acomodação das conquistas e avaliação da prática, pois o aprendizado vem de

buscas por respostas, práticas pedagógicas e relações do cotidiano escolar que

influenciam diretamente no trabalho pedagógico.

Junto a essa multiplicidade de ações do coordenador pedagógico, é

necessário um trabalho que valorize a análise da realidade através da interligação

dos olhares de todos os atores do contexto escolar, objetivando um movimento de

aprender através da construção coletiva da realidade.

É assim que vai se delineando o sentido de ser um coordenador de processos

de aprendizagem e de desenvolvimento tão complexos como os que vivenciamos

diariamente nas escolas. O trabalho deve estar sempre direcionando para o coletivo.

Portanto, é necessário que o coordenador esteja consciente de que é um

mediador dos diferentes atores escolares, com o objetivo de construir um projeto

político-pedagógico coerente com a realidade escolar, buscando assim garantir que

de seus diferentes lugares, a comunidade escolar apresente suas expectativas e

sugestões em relação a eventuais mudanças e construa um efetivo trabalho em

torno do projeto político-pedagógico da escola.

No decorrer desse trabalho é claro que haverá muitas discordâncias e

resistências à mudança. Mas é assim, com divergências de opiniões, que a escola

construirá uma proposta significativa e coerente ao contexto escolar.

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MOVIMENTO DE CONSTRUÇÃO COLETIVA

DIREÇÃOCOORDENADOR

PEDAGÓGICO PROFESSOR

ALUNO

APRENDIZAGEM CONHECIMENTO

FAMÍLIA

Figura 1: Movimento de construção coletiva no cotidiano escolar

A figura 1 ilustra o movimento que deve ocorrer no cotidiano escolar para que

seja atingido o principal objetivo da escola: o aluno.

A linguagem ocupa destaque no âmbito escolar, pois quando o coordenador

pedagógico age em determinado contexto e suas ações se concretizam pela

mediação através da linguagem, sendo ele um articulador entre os aspectos

pedagógicos e administrativos, é primordial que desenvolva um trabalho co-

participativo envolvendo todos os seguimentos da escola.

Supervisor ou coordenador, como seja definido no seu campo de atuação,

necessita ter a visão de todo o universo escolar para que possa intervir e articular as

condições necessárias para o desempenho profissional do professor e,

conseqüentemente, para o bom andamento do processo ensino-aprendizagem.

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TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA NO B RASIL

A idéia de um trabalho pedagógico, de viés fiscalizador, inicia-se, no Brasil,

com as escolas jesuíticas. O documento Ratio Studiorium, publicado em 1599,

determinava, rigorosamente, a organização das escolas jesuítas localizadas em

qualquer parte do mundo, de modo a dar uma unidade de atuação e assegurar os

interesses da Igreja Católica. Os jesuítas, no dizer de Manacorda (1999, p. 202),

“campeões máximos na luta da Igreja Católica contra o protestantismo”, precisavam

assegurar o cumprimento das regras estabelecidas no Ratio Studiorum. Assim, as

escolas possuíam o Prefeito de Estudos que configurava uma idéia fiscalizadora do

cumprimento das regras estabelecidas pelo Ratio Studiorum.

As Reformas Pombalinas que traziam em seu bojo idéias anticlericais,

influenciadas pelo movimento doutrinário denominado enciclopedismo∗, resultou na

expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas colônias. Assim, em 1759 toda a

organização das escolas jesuíticas, no Brasil, foi extinta e que na época consistia

em: 17 colégios e seminários, 25 residências, 36 missões, “sem contar os

seminários menores e as escolas de ler e escrever, instaladas em quase todas as

aldeias e povoações onde existiam casas da companhia de Jesus” conforme

Azevedo (1964, p. 530).

O Brasil ficou sem sistema organizado de ensino durante largo período. Em

1772, o governo lançou as aulas régias que consistiam no ensino de disciplinas

isoladas como cálculo, letras, artes, latim, grego e retórica, ministrado por leigos,

padres e capelães.

Em 1799, Portugal autorizou ao Vice-rei o direito de “nomear anualmente um

professor para visitar as aulas e informar-lhe sobre o estado da instrução”

(AZEVEDO, 1964, p. 542). Esses professores fiscalizavam o funcionamento das

escolas, os métodos de ensino, o comportamento dos professores e o

aproveitamento dos alunos. Percebe-se a presença do pensamento fiscalizador, no

momento em que, pela primeira vez na história, o governo assume os encargos da

educação no Brasil.

Em 1808, a Coroa Portuguesa, fugindo da ocupação francesa, instalou-se no

Brasil, sob regência de Dom João VI. Com o objetivo de atender as necessidades ∗ Enciclopedismo: tendência que conduz ao acúmulo sistemático de conhecimentos nos diversos ramos do saber.

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culturais e educacionais da nobreza que compunha a corte, Dom João VI implantou

várias medidas no âmbito educacional e cultural.

Nenhuma medida foi tomada para beneficiar as condições culturais, sociais e

econômicas da população. Assim, as aulas régias mantiveram-se durante todo

período.

A primeira lei para instrução pública, promulgada em 1827, determinava a

criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades vilas e vilarejos e

propunha um método de ensino mútuo, de origem inglesa. Nesse método, os alunos

mais adiantados, sob supervisão de professores, instruíam os demais colegas.

Percebe-se, neste período histórico que caracteriza o Primeiro Império, a função

fiscalizadora exercida pelo professor.

Em 1854, o governo imperial, estabeleceu mecanismo de controle e inspeção

em todas as escolas, colégios, e instituições de ensino, através da criação da

Inspetoria Geral de Instrução Pública Primária e Secundária da Corte, administrada

por um Inspetor Geral, a quem cabia a fiscalização e padronização das rotinas

escolares e vigilância sobre os professores. Cabia-lhe, também, informar,

anualmente, ao governo a situação da instrução primária e secundária, nas

províncias.

Considerando que o município onde se localizava a Corte servia de modelo,

cada província organizou também mecanismos próprios de fiscalização das escolas

e dos professores.

Verifica-se que a idéia fiscalizadora atravessa a educação desde os jesuítas

até o final do Império e, como vemos, mantém-se até ao governo, liderado pelos

militares.

À luz de seus estudos sobre história da educação brasileira, na sua opinião, com o

advento da República, houve mudanças significativas na trajetória da educação

brasileira?

Discuta essa problemática com mais colegas do curso.

No período da primeira república, a educação manteve as mesmas bases

trazidas desde a Colônia e o Império. Nos primeiros anos do regime republicano, o

contexto educacional não sofreu alterações significativas. A fiscalização, orientação,

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controle e inspeção do processo educacional consistia em tarefa do inspetor escolar,

“provável ancestral do coordenador pedagógico” (ROMAN, 2001, p. 12).

Nos anos 20, surge a figura dos técnicos em educação. A propagação, no

Brasil, dos ideais da Escola Nova e a criação da Associação Brasileira de Educação

(ABE) impulsionaram essa categoria profissional. Medina (2002) denominou, entre

os quatro momentos que identificou, como sendo o primeiro momento da

coordenação pedagógica no Brasil.

Em 1925, por decreto federal, foi criado o Departamento Nacional do Ensino e

o Conselho Nacional de Ensino. Esse decreto marca o início da criação de órgãos

específicos para o trato de assuntos educacionais, pois até então, esses assuntos

estavam vinculados a outras repartições, tais como Ministério da Justiça e Negócios

Interiores, Ministério da Instrução, Correios e Telégrafos.

A separação entre o âmbito administrativo e técnico sinaliza a condição para

a desvinculação da figura do supervisor da figura do diretor e do inspetor.

É quando se quer emprestar à figura do inspetor um papel predominantemente de orientação pedagógica e de estímulo à competência técnica, em lugar da fiscalização para detectar falhas e aplicar punições, que esse profissional passa a ser chamado de supervisor (SAVIANI, 2008, p. 26-27).

Ao trazermos a palavra de Saviani com a denominação supervisor, cabe-nos

esclarecer que, conforme Rangel (2008), a coordenação é também um designativo

que se atribui a conduta supervisora que cria e estimula oportunidade de

organização comum e de integração do trabalho em todas as suas etapas. A palavra

pedagógica delimita o âmbito de atuação. Por isso, tratamos como coordenação

pedagógica o que os autores Medina e Saviani denominam supervisão.

A ascensão de Getúlio Vargas à presidência da República em 1930, cuja

política definiu os rumos do Brasil para uma sociedade capitalista de caráter

nacionalista, promoveu uma seqüência de reformas educacionais. Dentre essas

reformas, destaca-se a criação de cursos de Pedagogia para, além de formar

professores para as disciplinas específicas dos cursos de formação de professores,

formar técnicos em educação, cujas funções não eram claramente definidas. Este

período configura, para Medina (2002), o segundo momento da coordenação

pedagógica no Brasil.

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A partir de 1964, um golpe civil e militar implantou o regime autoritário no

Brasil. Para ajustar a educação aos interesses do regime, foram implantadas novas

reformas na educação brasileira. Entre elas, a reformulação do curso de Pedagogia

orientando-o para a criação de habilitações, centradas no âmbito técnico,

particularizadas por função: administração, inspeção, supervisão e orientação. E

também para a formação de professores para os cursos de formação do magistério.

Para Saviani (2008), a formação dessas funções era garantir a eficiência e a

produtividade do processo educativo.

E isso seria obtido por meio da racionalização que envolvia o planejamento do processo sob o controle de técnicos supostamente habilitados, passando os professores a plano secundários, isto é, subordinação racional dos meios (SAVIANI, 2008, p. 30).

Aqui configura-se o terceiro momento da coordenação pedagógica, no Brasil,

conforme identificação de Medina (2002).

A estruturação do curso de Pedagogia em habilitações, entre elas a

supervisão configura a perspectiva de profissionalização dessa função, ancorada na

demanda e a especificação das características da profissão, desenhadas pelos

cursos de Pedagogia.

No final do período autoritário, inicia - se questionamentos no Brasil sobre o

papel dos especialistas em educação e, em especial do coordenador pedagógico,

identificado por Medina (2002) como o quarto e último momento da coordenação

pedagógica.

E a transição para o quinto momento?

Finalizamos, com o pensamento de Ferreira (2008, p. 237), com o qual

compartilhamos, e que, talvez, possa responder essa indagação:

Um novo conteúdo, portanto, se impõe, hoje, para a supervisão educacional: novas relações se estabelecem e novos compromissos desafiam os profissionais da educação a uma nova prática não mais voltada só para a qualidade do trabalho pedagógico e suas rigorosas formas de realização, mas também e, sobremaneira, compromissada com a construção de um novo conhecimento – o conhecimento emancipação -, com as políticas públicas e a administração da educação no âmbito mais geral.

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ATIVIDADES

1. Pensando na caminhada histórica da educação e nas funções exercidas

pelo coordenador pedagógico, construa um quadro comparativo entre a

coordenação pedagógica de ontem e a dos tempos atuais.

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA

ONTEM ATUALMENTE

2. Ainda considerando a função do coordenador pedagógico, selecione os

papéis de ontem que permanecem sendo exercidos atualmente, destacando entre

eles os fundamentais para a escola atingir seu principal objetivo.

REFERÊNCIA COMENTADA

FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Supervisão Educacional : para uma escola de qualidade. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2008.

A obra desvela a Supervisão Educacional em suas múltiplas faces: conceitual,

histórica, política e técnica, possibilitando a compreensão da problemática que

envolve essa função na educação brasileira e que se encontra em processo de

questionamento para a definição de sua identidade.

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REFERÊNCIAS

ACOSTA, Ana Jamila. Educação dos Trabalhadores e a Competitividade Industrial no Brasil – 1930-1990 . Tese Doutoral. Santiago de Compostela (ES): USC, 2004.

ALARCÃO, Isabel (Org.) Escola Reflexiva e Nova Racionalidade . Porto Alegre (RS): Artmed, 2001.

ALMEIDA, Laurinha Ramalho de; PLACCO, Vera Maia Nigro de Souza. O Coordenador Pedagógico e o espaço de mudança . São Paulo: Loyola, 2001.

AZEVEDO, Fernando. A Cultura Brasileira . 4.ed. São Paulo: Melhoramentos, 1964.

FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Supervisão Educacional : para uma escola de qualidade. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2008.

MANACORDA, Mário Alighiero. História da Educação : da antigüidade aos nossos dias. 7.ed. São Paulo: Cortez, 1999.

MEDINA, Antonia da Silva. Supervisão escolar, da ação exercida à ação repensada . 2.ed. Porto Alegre: AGE/RS, 2002.

RANGEL, Mary. Supervisão: do sonho à ação – uma prática em transformação. In: FERREIRA, N.S.C. (Org.). Supervisão Educacional : para uma escola de qualidade. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2008.

ROMAN, Marcelo Domingues. O professor coordenador pedagógico e o cotidiano escolar : um estudo de caso etnográfico. Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2001.

SILVA, Naura Syria F. Corrêa da. Supervisão Educacional : uma reflexão crítica. 12.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1987.

SAVIANI, Demerval. A supervisão educacional em perspectiva histórica: da função à profissão pela mediação da idéia. In: FERREIRA, N.S.C. (Org.). Supervisão Educacional : para uma escola de qualidade. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2008.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Coordenação do trabalho pedagógico – Do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2007.

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AUTO-AVALIAÇÃO

Marque a alternativa correta, conforme o enunciado proposto às questões:

1. Junto a multiplicidade de ações do coordenador pedagógico, é necessário

um trabalho que:

a) valorize a análise da realidade

b) favoreça o individualismo;

c) proponha conteúdos fragmentados;

d) desconsidere os saberes dos professores;

e) controle as práticas dos professores.

2. Os vestígios de uma ação pedagógica de caráter fiscalizador são

identificados na educação brasileira desde o período:

a) Vargas

b) Imperial

c) inicial da República

d) ditatorial

e) colonial

3. No governo Vargas, os cursos de Pedagogia formavam técnicos em

educação, cujas funções:

a) eram definidas pelo governo;

b) eram definidas pelas escolas;

c) eram definidas pelos cursos de Pedagogia;

d) não eram claramente definidas;

e) eram claramente definidas.

4. O decreto que marca o início da criação de órgãos específicos para o trato

de assuntos educacionais:

a) vincula a figura do supervisor a do inspetor;

b) desvincula a figura do supervisor da figura do diretor e do inspetor;

c) extingue a função supervisora;

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d) vincula a figura do diretor à figura a do inspetor;

e) extingue a função inspetora.

5. As habilitações no curso de Pedagogia foram criadas para:

a) garantir a eficiência e a produtividade do processo educativo;

b) beneficiar os professores;

c) privilegiar os diretores das escolas;

d) favorecer a aprendizagem dos alunos;

e) assegurar a solidariedade entre os supervisores.

6. Na década de 1920 a categoria profissional de Técnicos em Educação foi

impulsionada:

a) pelo regime Vargas;

b) pelos jesuítas;

c) por Dom João VI;

d) pela criação da Associação Brasileira de Educação;

e) pela ditadura militar.

7. O coordenador pedagógico precisar estar consciente de que é:

a) um mediador dos diferentes atores escolares;

b) um professor que atua em sala de aula;

c) um fiscal do trabalho dos professores;

d) um controlador das práticas pedagógicas;

e) um auxiliar do diretor.

8. No método de ensino mutuo a função fiscalizadora era exercida:

a) pela comunidade;

b) pelo Imperador;

c) pelos professores;

d) pelos pais;

e) pelos jesuítas.

9. Os cursos de Pedagogia foram criados no governo Vargas para:

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a) formar professores e técnicos em educação;

b) fiscalizar as práticas docentes;

c) atender os membros do governo;

d) extinguir os cursos de formação para o magistério;

e) formar secretários de escola.

10. O Coordenador Pedagógico não criava vínculos porque:

a) tinha diferentes denominações;

b) construída propostas coletivas;

c) os professores não o consideram confiável;

d) promovia reuniões com os professores;

e) atendia às demandas dos pais.

Respostas: 1. a

2. e

3. d

4. b

5. a

6. d

7. a

8. c

9. a

10. c

Page 16: coordenação pedagógica

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A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA NA PERSPECTIVA DO PENSAMEN TO

COMPLEXO

Ana Jamila Acosta1

Podemos dizer que conhecemos algo quando compreendemos seu conteúdo intencional.

(Dussel)

Prezados alunos,

Este capítulo aborda a atuação do coordenador pedagógico na perspectiva do

pensamento complexo.

O capítulo compõe-se de três enfoques: o primeiro trata do conceito e,

princípios do pensamento complexo; o segundo, da escola nessa ótica e o terceiro

engendra a atuação da coordenação pedagógica na perspectiva do pensamento

complexo.

No decorrer do capítulo sugerimos atividades que pretendem oportunizar

reflexões sobre a abordagem em desenvolvimento. No final, apresentamos

sugestões de atividades para auto-avaliação da aprendizagem, deste capítulo, como

também, referenciamos obra para aprofundamento dos estudos.

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Atualmente, todos nós, homens e mulheres, propomos e argumentamos a

favor de uma educação, mais humana, mais harmoniosa com o meio ambiente,

solidária, compreensiva da diferença que há entre os seres que habitam o planeta,

com valores guiados pela paz, pela liberdade e pela justiça social.

Prioritariamente, a capacidade de enfrentar realidades complexas e incertas,

que formam a sociedade atual demanda aos educadores uma nova forma de pensar

a educação, uma nova narrativa em educação, que dê respostas a esse novo

mundo ordenado pela globalização e pelo avanço tecnológico.

Os processos educativos apresentam-se como complexos, propiciando

mudanças não pensadas e situações imprevisíveis que fazem os educadores 1 Pedagoga. Especialista em Tecnologia Educacional e Administração de Recursos Humanos, Dra. em Educação pela Universidade de Santiago de Compostela - Espanha.

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distanciarem-se da concepção de uma educação linear e estável. Para alcançar esta

educação, os avanços no âmbito das ciências naturais e sociais indicam para o

paradigma da complexidade.

O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE

O historiador, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin foi quem introduziu o

conceito de pensamento complexo na perspectiva de construir um novo modo de

pensar e de racionalizar desde a perspectiva da complexidade dos fenômenos.

Atividade 1

Faça uma enquete com seus amigos sobre o significado da palavra complexo.

Em termos corriqueiros, a palavra complexo refere-se à idéia de complicado,

de algo emaranhado, composto de múltiplos aspectos e de difícil compreensão.

A etimologia da palavra complexidade tem origem no latim, provém de

complectere, cuja raiz plectere significa ligar, entrelaçar, tecer em conjunto. Alude ao

ofício de cesteiro, que consiste em formar um círculo unindo e juntando o princípio e

o fim das varas de vime. O prefixo com acrescenta o sentido da dualidade, isto é, a

existência de dois princípios ou posições contrárias, opostas que se entrelaçam

intimamente, contudo sem invalidar sua dualidade.

O dicionário Houaiss de Língua Portuguesa (2001, p. 776) assim define

complexo:

Diz-se de ou conjunto, tomado como um todo mais ou menos coerente, cujos componentes funcionam entre si em numerosas relações de interdependência ou de subordinação, de apreensão muitas vezes difícil pelo intelecto e que geralmente apresentam diversos aspectos.

Assim, o termo complexo indica a qualidade que possui alguma coisa ao estar

formada por um número maior de elementos estreitamente organizados entre si:

fenômenos, situações, comportamentos, processos, estruturas, outros.

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À luz do ponto de vista de Morin (2003, p. 61) o pensamento complexo é

animado, permanentemente, por uma “tensão entre a aspiração a um saber não

fragmentado, não dividido, não reducionista, e o reconhecimento do caráter

inacabado e incompleto de qualquer conhecimento”. A análise clássica de

explicação e estudos dos fenômenos ou dos sistemas complexos recorta, separa e

reduz o objeto estudado.

Percebe-se então, que o pensamento complexo reconhece a qualidade do

incompleto, do inacabado de todo o conhecimento, da incapacidade para conseguir

a certeza total, da formulação de leis eternas e a concepção de uma ordem

absoluta. Para esse pensador, todo o conhecimento tem em si mesmo a marca da

incerteza.

O pensamento complexo consiste num modo de pensar ativo e crítico. Crítico

porque provoca o repensar das coisas da ciência; ativo porque apropria-se e

questiona os conceitos científicos, como também os transforma. E, ainda, porque

busca articular os saberes dos diversos âmbitos da ciência para construir conceitos

e princípios que se inserem em uma construção mais ampla do conhecimento

humano (CONTRERAS, 2006).

Em síntese, o pensamento complexo favorece o estudo das relações e das

casualidades múltiplas, inclusive contraditórias, da realidade.

A ESCOLA NA PERSPECTIVA DO PENSAMENTO COMPLEXO

A humanidade atravessa uma época de muitas, grandes e vertiginosas

mudanças em todos os âmbitos da atividade humana o que tem levado a

indagações sobre a finalidade da escola. No dizer de Demo (2007), há um

distanciamento evidente entre a escola e o mundo das crianças e dos adolescentes,

o que estaria exigindo uma radical redefinição da escola. Entendemos que esse

distanciamento da escola não é somente do mundo das crianças e adolescentes,

mas da realidade social, política, econômica, ética, política, cultural do local e do

global.

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Em 1999, a UNESCO∗ solicitou a Morin a sistematização de reflexões que

possibilitassem o repensar da educação para o século XXI. O renomado pensador

francês sistematizou suas reflexões em sete eixos que denominou de saberes e que

são: as cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; os princípios do conhecimento

pertinente; ensinar a condição humana; ensinar a identidade terrena; enfrentar as

incertezas; ensinar a compreensão; a ética do gênero humano.

Esses eixos favorecem a reflexão de todos os envolvidos em educação sobre

as finalidades da educação, conforme breve síntese de cada saber:

- As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão. Morin (2007) afirma que

todo o conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. Cabe a educação mostrar

que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e

pela ilusão e identificar a procedência desses erros, ilusões e cegueiras.

O conhecimento, sob forma de palavra, de idéia, de teoria, é o fruto de uma tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento e, por conseguinte, está sujeito a erro. Este conhecimento, ao mesmo tempo tradução e reconstrução, comporta a interpretação, o que introduz o risco do erro na subjetividade do conhecedor, de sua visão de mundo e de seus princípios de conhecimento (MORIN, 2007, p. 20).

- Os princípios do conhecimento pertinente: requer-se da educação, a

promoção do conhecimento capaz de vincular as partes ao todo, contrapondo-se ao

conhecimento fragmentado e reducionista. Quer dizer, ensinar conhecimentos

significativos para a vida das pessoas a partir de seu meio, mas alargando-os a um

contexto amplo, transcultural e planetário. “O parcelamento e a compartimentação

dos saberes impedem aprender o que está tecido junto” (op. cit., p. 45).

- Ensinar a condição humana: implica em restaurar, na educação, a condição

humana. À educação cabe desenvolver o conhecimento que resulte na tomada de

consciência “da condição comum a todos os humanos e da muito rica e necessária

diversidade dos indivíduos, dos povos, das culturas, sobre nosso enraizamento

como cidadãos da Terra” (op. cit., p. 61).

- Ensinar a identidade terrena; o objetivo fundamental e global de toda a

educação consiste em “civilizar e solidarizar a Terra, transformar a espécie humana

em verdadeira humanidade”, conforme Morin (op. cit., p. 78). Assim, a educação do

∗ UNESCO - United Nations Educational Scientific and Cultural Organization. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

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20

século XXI visa à solidariedade e à comiseração recíproca, de indivíduo para

indivíduo para indivíduo, de todos para todos.

- Enfrentar as incertezas; o processo educativo precisa gestar estratégias que

possibilitem o enfrentamento dos imprevistos, do inesperado e da incerteza.

”Saibamos, então, esperar o inesperado e trabalhar pelo improvável” (MORIN, 2007,

p. 92).

- Ensinar a compreensão; cabe à educação o estudo das raízes, das

modalidades e dos efeitos de incompreensão, identificando as causas do racismo,

da xenofobia, do desprezo. “Considerando a importância da educação para a

compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o

desenvolvimento da compreensão pede a reforma das mentalidades” (op. cit.,, p.

17).

- A ética do gênero humano: a educação que objetive o desenvolvimento

“verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das

autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de

pertencer à espécie humana” (op. cit., p. 17). Com esta afirmação, Morin aponta

para as três unidades que compõem a condição humana:

indivíduo/sociedade/espécie.

Assim, prioritariamente, cabe à educação educar para a construção de uma

sociedade-mundo, constituída por “cidadãos protagonistas, envolvidos de forma

consciente e crítica na construção de uma civilização planetária” (MORIN; MOTTA;

CIURANA, 2003, p. 107).

À luz desses sete saberes, Contreras (2006) propõe incorporar as seguintes

finalidades à educação, as quais ampliamos às escolas em geral:

Educar para a era planetária no sentido formar cidadãos comprometidos

com a construção de uma civilização viável a longo prazo, solidária em sua

diversidade, com uma consciência de superação do “enclaustramento local, das

suas culturas, das suas etnias e das suas nações” (MORIN, 2003, p. 96).

Religar saberes no sentido de situar os conhecimentos nos contextos que

dão luz ao seu sentido, situando-os na realidade global da qual fazem parte, o que

demanda competência para contextualizar, globalizar e antecipar esses

acontecimentos.

Page 21: coordenação pedagógica

21

Formar para a vida no sentido de desenvolver a sensibilidade, o sentimento

de pertencimento, o gozo de viver a vida, superando uma concepção de educação

fundamentada somente para o treinamento e profissões demandas pelo mercado.

Todo o conhecimento, mesmo o utilitarista deve ser permeado pela estética, as

artes, a filosofia, a ética, a poesia.

Promover a democracia cognitiva no sentido da escola desenvolver meios

e estratégias para a socialização e a difusão dos conhecimentos, fora dos

mecanismos de mercado e promover que os conhecimentos científicos, sobretudo

aqueles que têm especial incidência na qualidade de vida das sociedades, sejam

patrimônio da humanidade. Percebe-se que na sociedade atual, há concentração

dos conhecimentos científicos e tecnológicos em restritos setores, principalmente

nas grandes corporações industriais. Percebe-se ainda, o alargamento da distância

entre os que têm acesso à educação e os que não têm. Cabe à escola desenvolver

meios para que os conhecimentos sobre os problemas transcendentais da

humanidade sejam socializados, principalmente aqueles que têm especial incidência

sobre a qualidade de vida das sociedades.

Educar para a incerteza : no sentido da escola educar para uma realidade

que não está sujeita a um conjunto de fenômenos regidos por ações e efeitos

lineares, determinados e previsíveis e por verdades absolutas. O processo educativo

requer educar para a incerteza, isto é, para as indeterminações, para os imprevistos,

para a não linearidade. Conforme Morin (2000, p. 56) “convém fazer a convergência

de diversos ensinamentos, mobilizar diversas ciências e disciplinas para ensinar a

enfrentar a incerteza”.

Atividade 2

Reúna cinco amigos e reflita com eles se, nas experiências escolares vivenciadas,

havia evidências em relação ao alcance desses objetivos.

Page 22: coordenação pedagógica

22

E a escola, diante desse desafio?

O paradigma que tem predominado na escola fundamenta-se numa visão

simples, reducionista e limitada da formação humana. Fundamentada nesse

paradigma, a escola “reduz a educação à escolarização; a avaliação a uma bateria

de provas; reduz a experiência de vida aos livros texto; a aprendizagem ao alcance

de objetivos; simplifica a globalidade do mundo em disciplinas isoladas; o desejo à

imobilidade nas cadeiras; a criação à repetição e memorização” (CERVERÓ, 2006,

p. 95). Dessa forma, conforme a autora, esta simplificação, reducionismo e controle

têm favorecido a formação de trabalhadores obedientes, de sujeitos consumistas e

com consenso social.

Por mais que a escola pretenda antecipar, controlar e dominar os processos e

os sujeitos da educação, a complexidade, as incertezas, as contradições também

perpassam pela sua vida. Perpassa também, a tensão entre a fragmentação dos

saberes e a multidimensionalidade da vida real (ALARCÃO, 2000).

A concepção de escola reflexiva, já abordada, configura uma “organização

que continuadamente se pensa a si própria, na sua missão social e na sua estrutura,

e se confronta com o desenrolar da sua atividade num processo simultaneamente

avaliativo e formativo” (ALARCÃO, 2000, p. 13).

Uma escola que se pensa, se confronta e avalia a sua própria missão e

práticas favorece o entrelaçamento com as finalidades propostas à educação por

Contreras (2006). Por quê? Porque a escola que pensa, que se reavalia, tem

ambiente propício a mudanças.

O COORDENADOR PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA DO PENSAMEN TO

COMPLEXO

A escola que se quer reflexiva, demanda uma ação da coordenação

pedagógica que supere a perspectiva tradicional linear, hierarquizada e burocrática e

que, numa visão inovadora, concretize um trabalho coletivo, centrado nas

problemáticas escolares, geradas pela complexidade, pelas incertezas, pelas

contradições e pela tensão entre os saberes fragmentados e a

multidimensionalidade da vida real que, como já vimos, perpassam pela escola.

Page 23: coordenação pedagógica

23

No diálogo do coordenador com demais gestores e professores surgem

formas para encaminhar um processo educativo que rearticule, reintegre e religue o

que as disciplinas isoladas vêm fragmentando. Dentre as múltiplas possibilidades,

Martinez (2006) aponta a formação de grupos de estudos como uma das condições

que favorecem:

− a construção e geração de conhecimentos interdisciplinares, isto é, a

interação de duas ou mais disciplinas que pode ir desde a simples

comunicação até a integração recíproca de conceitos fundamentais e da

teoria do conhecimento;

− propagação de uma visão que favoreça a explicação e compreensão da

realidade local e global, sem fragmentações, num grau máximo de

relações entre as disciplinas (SABALA, 2002);

− a elaboração de materiais didáticos utilizáveis por duas ou mais disciplinas

que interagem;

− divulgação de uma visão que permita a explicação e a compreensão, dos

fenômenos locais e globais, numa perspectiva complexa;

− criação de condições favoráveis ao uso das novas tecnologias de

informação e comunicação que contribuam para entendimento global dos

fenômenos e objetos de conhecimento;

− elaborações textuais que integrem, relacionem e entrelacem

conhecimentos de duas ou mais disciplinas, configurando a

interdisciplinaridade;

− criação de espaços permanentes de diálogo entre todos os componentes

da comunidade escolar, viabilizando a troca de saberes e de experiências

pedagógicas que contribuam para a compreensão global da realidade;

− manutenção de intercâmbios com instituições locais, nacionais e

internacionais que assegurem uma visão integral da realidade local e

mundial;

− favorecimento ao desenvolvimento de um processo de ensino e

aprendizagem que promova a autonomia dos estudantes;

− compartilhamento de métodos de trabalho que transformem os originais e

gestem inovações metodológicas ao processo de ensino-aprendizagem;

Page 24: coordenação pedagógica

24

− geração de soluções inéditas e inovadoras para o encaminhamento de

respostas aos problemas e objetos de estudos.

Enfim, o coordenador pedagógico, numa ação de caráter problematizador,

compartilhará com seus pares, na escola, estudos, pesquisas e perspectivas em

relação ao conhecimento, na busca de outro sentido às teorias, aos currículos, aos

métodos e as práticas educativas, fazendo um esforço a contracorrente de uma

educação que tem sido reduzida a um conjunto de procedimentos programáticos,

previsíveis, repetitivos e mecânicos (SANTOS REGO, 2006).

CONCLUSÃO

Este capítulo abordou o pensamento complexo na perspectiva da

coordenação pedagógica, considerando que o objeto de seu trabalho é a produção

do professor. Num mundo em vertiginosas mudanças, os fundamentos do

pensamento complexo poderão contribuir na aproximação da escola ao mundo das

crianças e dos adolescentes, conforme Demo (2007), já referido. Ao que

acrescentaríamos: aproximar a escola do mundo de todos nós: homens, mulheres,

crianças, adolescentes de qualquer raça, crença, religião.

Page 25: coordenação pedagógica

25

ATIVIDADES

Organize um roteiro de entrevista direcionado a dois professores de escolas

diferentes, sobre as finalidades da educação à luz do pensamento complexo.

Entreviste esses professores e verifique se há indícios de que essas idéias de

pensamento complexo perpassam nas práticas docentes desses professores.

Organize um roteiro de entrevista direcionado a dois coordenadores

pedagógicos de escolas diferentes para constatar se as suas práticas na

coordenação da escola, apontam para o desenvolvimento de idéias relacionadas ao

proposto por Morin para a educação.

REFERÊNCIA COMENTADA

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro . São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2007.

O livro aborda temas fundamentais para a educação deste século XXI.

Possibilita a todos os que fazem educação (professores, gestores, funcionários,

alunos e pais) ou que por ela se interessam, uma reflexão sobre a realidade e as

possibilidades educativas que conduzem à educação para a paz.

Page 26: coordenação pedagógica

26

REFERÊNCIAS

ALARCÃO, Isabel (org). Escola Reflexiva e supervisão; uma escola em desenvolvimento e aprendizagem . Porto, PT: Porto, 2000.

CERVERÓ, Virginia Ferrer. De Penélope Y Antigona y viceversa: los desaprendizages del professorado para la complejidad educativa. In: SANTOS REGO, Miguel A.; GUILLAUMIN TOSTADO (Editores). Avances em complejidad Y educación : teoria y práctica. Barcelona (ES): Octaedro, 2006.

CONTRERAS, Octávio Ochoa. Apuntes para uma educación universitária del siglo XXI desde la perspectiva del pensamiento complejo. In: SANTOS REGO, Miguel A,; GUILLAUMIN TOSTADO (Editores). Avances em complejidad Y educación : teoria y práctica. Barcelona (ES): Octaedro, 2006.

DEMO, Pedro. O porvir : desafio das linguagens no século XXI. Curitiba, Pr: IBPEX, 2007.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa . Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

MARTÍNEZ, Margarita Edith Canal. El grupo Acadêmico de trabajo desde la perspectiva do pensamiento complejo. In: SANTOS REGO, Miguel A,;GUILLAUMIN TOSTADO (Editores). Avances em complejidad Y educación : teoria y práctica. Barcelona (ES): Octaedro, 2006.

MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar e reforma, reformar o pensamento . Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

______. Introdução ao pensamento complexo . 4.ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2004.

______. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 12.ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2007.

MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria . Porto Alegre: Sulina, 1995.

MORIN, Edgar; MOTTA, Raúl; CIURANA, Émilio-Roger. Educar para a era planetária . Lisboa: Instituto Piaget, 2003.

SABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo : uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002.

SANTOS REGO, Miguel Anxo; TOSTADO, Arturo Guillaumín. (Editores). Avances em complejidad Y educación : teoria y práctica. Barcelona (ES): Octaedro, 2006.

Page 27: coordenação pedagógica

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AUTO-AVALIAÇÃO

Marque com um x, as opções que estão corretas:

1. O pensamento complexo favorece a fragmentação das disciplinas.

2. O pensamento complexo favorece a elaboração de projetos

interdisciplinares.

3. A capacidade de enfrentar realidades complexas e incertas, que formam a

sociedade atual demanda aos educadores uma nova forma de pensar a

educação.

4. Os processos educativos apresentam-se como complexos, propiciando

mudanças pensadas e situações previsíveis que fazem os educadores não

se distanciarem da concepção de uma educação linear e estável.

5. O termo complexo significa a qualidade que possui alguma coisa ao estar

formada por um número maior de elementos estreitamente organizados

entre si: fenômenos, situações, comportamentos, processos, estruturas,

outros.

6. O pensamento complexo reconhece a qualidade do completo, do acabado

de todo o conhecimento, da capacidade para conseguir a certeza total, da

formulação de leis eternas e a concepção de uma ordem absoluta.

7. à luz do pensamento complexo cabe á educação o estudo das raízes, das

modalidades e dos efeitos de incompreensão, identificando as causas do

racismo, da xenofobia, do desprezo.

8. A escola já superou o paradigma fundamentado numa visão simples,

reducionista e limitada da formação humana.

9. O processo educativo precisa construir estratégias que possibilitem o

enfrentamento dos imprevistos, do inesperado e da incerteza.

10. A escola que se quer reflexiva, demanda uma ação da coordenação

pedagógica que, numa visão inovadora, concretize um trabalho coletivo,

centrado nas problemáticas escolares, geradas pela complexidade, pelas

incertezas, pelas contradições e pela tensão entre os saberes

fragmentados e a multidimensionalidade da vida real.

Respostas : 2, 3, 5, 7, 9, 10.

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PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: CONSTRUÇÃO E ORGANIZAÇ ÃO DO

TRABALHO PEDAGÓGICO

Fabiana de Oliveira Machado1

Prezados alunos,

O presente capítulo tem a intenção de refletir sobre o papel social da escola e

algumas dimensões do projeto político pedagógico, quando compreendido como a

própria organização do trabalho pedagógico da escola. Os aspectos que serão

abordados levantarão questionamentos pertinentes à construção do projeto político-

pedagógico e a importância do coordenador como articulador na organização do

trabalho pedagógico.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer. Porque sou do tamanho do que vejo. E não, do tamanho da minha altura...

(Fernando Pessoa)

Na década de 70 as instituições de ensino sofreram violentas críticas

sociológicas e passaram a ser identificadas como reprodutoras da desigualdade

social, e o diploma, tanto almejado e por poucos alcançado, deixava de ser o mito da

ascensão social. Tudo isso contribuiu muito para desestabilizar os educadores, pois

o papel da escola já não estava mais tão evidente e sua função social deveria ser

redefinida.

A partir dos anos 80, ocorrem algumas mudanças em torno da função social

da escola, passando a ser vista como um importante espaço na concretização das

1 Pedagoga. Especialista em Orientação Educacional e Supervisão Escolar. Assessora pedagógica no serviço técnico pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Canoas - RS.

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29

políticas educacionais, deixando de ser a continuidade da mantenedora, ou seja, já

começa a dar alguns passos rumo à autonomia.

Canário (1992) coloca que com este espaço a escola passa a ser reconhecida

como uma organização social, inserida num contexto local, com uma identidade e

cultura próprias, um espaço de autonomia a construir e descobrir, susceptível de se

materializar num projeto educativo.

Atualmente a sociedade vive uma grande transformação de valores, como o

consumismo exagerado, a lei do mais esperto, mais forte, a política do descartável,

que atingem diretamente a educação, refletindo na família, que procura compensar

suas faltas com materialismo ou exagerando nas atividades extracurriculares de

seus filhos, muitas vezes deixando de transmitir valores e dar limites.

Como conseqüência, podemos observar a desresponsabilização social que

ocorre, pois a família e a sociedade delegam à escola a função de educar e cobram

dela todos os fracassos sociais que por ventura venham ocorrer, porém é ilusão

acreditar que somente a escola dará conta da formação integral do indivíduo.

Educação é responsabilidade que compete à sociedade em seu conjunto,

exige o compromisso e a responsabilidade compartilhada da sociedade e da

comunidade na qual a escola está inserida.

A escola precisa estar atenta ao seu contexto, sua comunidade, seus valores,

interesses e necessidades e não se eximir de suas responsabilidades, procurando

cumprir o seu papel da melhor forma possível.

O cotidiano escolar apresenta a natureza das práticas, das ações

desenvolvidas, realizadas em seu interior, pois na medida que se conhece a

realidade da escola é possível entender melhor as decisões que a escola efetiva

através de seus diferentes atores.

O cotidiano da escola envolve não só questões específicas do currículo

escolar, mas também todas as questões de relações de poder, do saber, de afeto,

de emoção, que estão em determinado tempo, fazendo parte da vida do aluno e do

professor.

A fim de que se concretize a função educativa da escola, gerenciando da

melhor maneira possível às diversas relações que perpassam pelo cotidiano escolar,

é de fundamental importância que o coordenador pedagógico:

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30

− Compreenda a escola como reflexo de uma postura filosófica/política e

ideológica de um contexto histórico e cultural, no qual encontra-se

inserida.

− Compreenda a função da escola como organismo social, capaz de

reproduzir ou transformar práticas sociais e contextos socioeconômicos e

políticos vigentes.

Portanto, é necessário que as questões sobre a educação sejam repensadas

em conjunto com toda sociedade: família, escola, comunidade e que todos se

comprometam com sua parcela de responsabilidade para que futuramente não

tenhamos que sofrer com as conseqüências desse atual jogo de empurra, onde há

vítimas e culpados. Não podemos esquecer que é “a formação” das futuras

gerações que está em jogo, esperando e dependendo de bases sólidas e

consistentes.

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

No sentido etimológico, a palavra projeto vem do latim projectu, que significa

lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa, empreendimento. Redação

provisória de lei. Plano geral de edificação (FERREIRA, 1975, p. 1144).

A Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996 diz que

o projeto político pedagógico é um documento de referência. Por meio dele, a

comunidade escolar exerce sua autonomia pedagógica, administrativa e financeira.

Também chamado de proposta pedagógico, projeto educativo ou plano global, o

projeto político-pedagógico pode ser definido como o documento que rege a escola,

com normas e fundamentos que norteiam a prática pedagógica.

Além da Lei de Diretrizes de Bases Nacional (LDBEN), o projeto político

pedagógico deve considerar as orientações contidas nas diretrizes curriculares

elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação e nos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN).

Fazendo referência a visão de documento Alarcão (2001) coloca que o projeto

pedagógico da escola, na sua dimensão de produto, é um documento. Mas esse

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31

projeto/documento resulta de um processo sobre a missão da escola e o modo como

ela se organiza para cumprir essa missão. Mas, é também resultado de um processo

de vontade para concretizar, na ação, um projeto delineado, o que faz com que ele,

uma vez aprovado, se constitua como referência sistemática de atuação e avaliação.

Por ser o projeto pedagógico um documento de referência da escola nos

aspectos legais e pedagógicos, cabe ao coordenador a articulação no campo

pedagógico, organizando a reflexão, a participação e os meios para viabilizar a

execução teórica e prática do projeto.

Durante a construção, será exigido dos participantes e principalmente dos

coordenadores os três níveis de competências que fazem parte da formação

humana: conceitual, procedimental e atitudinal.

Vasconcellos (2007) define como dimensão conceitual ter conhecimento,

clareza para discernir e elaborar a síntese pessoal, bem como favorecer a coletiva.

O coordenador deve demonstrar inteligência no trato das questões, saber

argumentar, não ficar preso aos aspectos formais, mas buscar que o assunto que

está sendo discutido no momento seja pertinente ao que está na pauta.

O autor faz referência à dimensão procedimental como sendo o campo de

formação e domínio por parte da coordenação pedagógica é relativo ao saber-fazer,

encontrar caminhos para concretizar aquilo que se busca (métodos, técnicas,

procedimentos, habilidades).

E por fim, destaca a dimensão atitudinal como a mais difícil de ser trabalhada,

justamente por envolver valores, interesses, sentimentos, disposição interior e

convicções.

A construção do projeto político-pedagógico passa pela autonomia da escola

e pela capacidade de delinear sua própria identidade, devendo ficar claro que a

escola é um lugar de debate e diálogo, fundado na reflexão coletiva.

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO

A importância desses princípios está em garantir sua operacionalização nas estruturas escolares, pois uma coisa é estar no papel, na legislação, na proposta, no currículo, e outra é estar ocorrendo na dinâmica interna da escola, no real, no concreto.

(Ilma Veiga)

Page 32: coordenação pedagógica

32

O projeto político-pedagógico é o resultado do trabalho coletivo da

comunidade escolar. Sua construção passa por várias etapas e pela divisão do

trabalho, tentando sempre fugir da fragmentação, visando um trabalho

interdisciplinar.

O projeto político-pedagógico pode ser visto como uma forma de organização

do trabalho pedagógico que busca facilitar o processo de aprendizagem e melhorar

a qualidade de ensino. Esta organização se dá em dois níveis: no da escola como

um todo e no da sala de aula na prática diária do professor.

No caso específico do coordenador pedagógico, sua função primeira é articular o grupo de professores para elaborar o Projeto Político-Pedagógico da escola. Levar os professores a definir objetivos comuns e a persegui-los em conjunto é tarefa que não será atingida se não houver a constituição de um grupo coeso, embora a coesão seja um processo lento e difícil. Na verdade, relações interpessoais confortáveis são recursos que o coordenador usa para que os objetivos do projeto sejam alcançados (ALMEIDA, 2001, p. 78).

Quando o coordenador pedagógico planeja suas ações, atribui um sentido a

seu trabalho (dimensão ética) e destina-lhe uma finalidade (dimensão política) e

nesse processo de planejamento explicita seus valores, organiza seus saberes para

realizar suas intenções político-educacionais. Exerce, portanto a consciência de sua

sincronicidade.

Esse movimento é gerador de nova consciência, que aponta para novas

necessidades, gera novas interrogações, propicia novas construções e novas

transformações. “Conversar com o professor é um trabalho que dá muito trabalho!”.

Isto porque o coordenador tem de desalojar práticas instaladas e se propor dar

espaço para o professor falar sobre suas percepções (CLEMENTI, 1997).

A esse movimento, que ocorre de maneira crítica e simultânea produzindo a

compreensão do fenômeno educativo, Placco (1994) denomina sincronicidade. Esse

processo dinâmico é responsável pela mediação da ação pedagógica, e para que

essa mediação alcance as metas definidas, ou seja, assuma a práxis de sua

transformação, “a sincronicidade deve ser vivida num processo consciente e crítico”.

Portanto, o trabalho do coordenador pedagógico é de fundamental

importância na articulação das ações educativas. As ações do coordenador bem

planejadas e articuladas com a comunidade escolar podem fazer a diferença entre o

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33

sucesso e o fracasso das ações da escola, conseqüentemente o sucesso do

processo ensino e aprendizagem e da relação professor e aluno.

FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR

E eu, pensando em tudo isto, Fiquei outra vez menos feliz... Fiquei sombrio e adoecido e soturno Como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça E nem sequer de noite chega.

(Fernando Pessoa)

Com o passar dos anos a atualização do professor é cada vez mais

necessária, para que possa dar conta de toda a demanda do cotidiano escolar e

assumir uma prática pedagógica coerente com o projeto político pedagógico.

Mas, infelizmente nem sempre é possível estar atualizado e se formos elencar

os motivos pelos quais a escola vem perdendo seu espaço, entraríamos numa

discussão infindável e cairíamos no que costumamos presenciar no universo

escolar, muitas queixas e insatisfações por parte de alunos, pais, professores e

gestores.

Precisamos analisar a situação sem buscar justificativas para o não fazer,

mas sim criar alternativas que possam ser fundamentais para a inquietação contínua

e busca de novos saberes.

Para enfrentarmos a situação que nos encontramos atualmente é necessário

voltar na história da Educação e questionar a formação dos professores,

apresentando como ponto de partida para as reflexões a qualidade de ensino e a

prática docente.

Figueiredo (1996) fala sobre a expressão “formação de professores” e

questiona o que é formar? O terreno das representações surge como fundamental

quando indagamos acerca dos pressupostos que orientam as ações no campo da

formação docente: a perspectiva do formar como um processo que proporciona

referências e parâmetros, superando a sedução de modelar uma forma única, e que

oferece um continente e uma matriz a partir das quais algo possa vir a ser.

A formação contínua do professor passa a ser um estudo constante de

inquietações sem receitas prontas, geradas no cotidiano da escola. Um momento

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34

oportuno para a realização deste estudo pode ser durante as reuniões pedagógicas,

pois em vez de abordar assuntos fragmentados e burocráticos deveriam ser

desenvolvidos estudos pertinentes ao fazer pedagógico.

A transformação das reuniões pedagógicas em momentos de formação é

tarefa da equipe diretiva da escola, pois como coordenadores desse processo

devem oportunizar a comunicação e interação entre os pares, resgatando a

dimensão coletiva do trabalho educativo.

Vasconcellos (2007) enfatiza que assistir uma palestra de vez em quando não

é o suficiente para o educador enfrentar os desafios do cotidiano escolar, é

necessário estar sempre estudando, lendo, buscando novos conhecimentos.

ATIVIDADES

Pesquisa de Campo

Dirija-se a uma escola pública ou privada e entreviste a Equipe Diretiva, sobre

a organização do trabalho pedagógico no cotidiano escolar e seus entraves na

articulação da construção do Projeto Político Pedagógico.

Questões para entrevista

Equipe Diretiva: Formação, tempo de atuação no Magistério e na função de

coordenação?

1. O que a escola acredita em termos de Educação?

2. Que tipo de aluno a escola está formando?

3. Que caminhos a escola utilizará para alcançar seus objetivos?

4. O que é o Projeto Político-Pedagógico para a escola e como é retomado?

5. Qual a visão de currículo da escola?

6. Como é realizado o Conselho de Classe?

7. Como a escola vê a avaliação?

Estruture a pesquisa em forma de relatório, tecendo uma análise crítica frente

aos dados coletados: filosofia, formação do educando, metodologia, construção e

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35

retomada do Projeto Político-Pedagógico, currículo, conselho de classe e avaliação.

Bom trabalho!

REFERÊNCIAS COMENTADAS

CANÁRIO, R. (org). Nota de apresentação ao livro Inovação e Projeto E ducativo de Escola . Lisboa, EDUCA, 1992.

O autor ressalta que a partir da década de 80 os estabelecimentos de ensino

assumem uma posição de destaque nos discursos e nas práticas educativas, como

resultado das tendências convergentes em três níveis distintos: nível investigativo,

de mudança educacional e de formação.

CLEMENTI, Nilba. A atuação do orientador : fatores intervenientes. Dissertação de Mestrado. PUC, São Paulo, 1997.

A autora salienta alguns fatores que intervêm na atuação do coordenador

pedagógico, ressaltando a interlocução como um dos papéis do coordenador. Fala

sobre a proposta de trabalho do coordenador, seu papel de acompanhar o projeto

pedagógico e formar os professores, destacando as facilidades e dificuldades

encontradas no decorrer deste trabalho.

FIGUEIREDO, Luiz Cláudio. Revisitando as psicologias . Petrópolis, Vozes, 1996.

O autor faz indagações sobre a formação docente, dando ênfase a diversas

dimensões da formação, as quais não podem ser pensadas em uma direção única,

pois esse “formar” favorece uma postura crítica diante das múltiplas interpretações e

ações que têm sido desenvolvidas na formação de professores. Portanto devem ser

apontadas as dimensões fundamentais dessa formação para a construção de um

projeto que proporcione referências e suporte pedagógico ao corpo docente.

Page 36: coordenação pedagógica

36

REFERÊNCIAS

ALARCÃO, Isabel (Org.). Escola Reflexiva e Supervisão: uma escola em desenvolvimento e aprendizagem . Porto (PT): Porto Editora, 2001.

ALARCÃO, Isabel. Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva . 5.ed. São Paulo: Cortez, 2007.

ALMEIDA, Laurinha Ramalho de; PLACCO, Vera Maia Nigro de Souza. O Coordenador Pedagógico e a Formação Docente . São Paulo: Loyola, 2000.

ALMEIDA, Laurinha Ramalho de; PLACCO, Vera Maia Nigro de Souza. O Coordenador Pedagógico e o espaço de mudança . São Paulo. Loyola, 2001.

CANÁRIO, R. (org). Nota de apresentação ao livro Inovação e Projeto E ducativo de Escola . Lisboa: EDUCA, 1992.

CLEMENTI, Nilba. A atuação do orientador : fatores intervenientes. Dissertação (Mestrado). PUC, São Paulo, 1997.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa . 5.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.

FIGUEIREDO, Luiz Cláudio. Revisitando as psicologias . Petrópolis: Vozes, 1996.

PLACCO, Vera M. N. de Souza. Formação e prática do educador e do orientador : confrontos e questionamentos. Campinas: Papirus, 1994.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Coordenação do trabalho pedagógico : Do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2007.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento : Plano de Ensino-Aprendizagem e Projeto Pedagógico. São Paulo: Libertad, 1995.

VEIGA, Ilma Passos A. Projeto Político-Pedagógico da escola: uma construção coletiva. In: VEIGA, Ilma. Projeto Político-Pedagógico da escola : uma construção possível. Campinas: Papirus,1995.

Page 37: coordenação pedagógica

37

AUTO-AVALIAÇÃO

Assinale a alternativa correta:

1 - Durante os encontros para a construção do projeto político pedagógico em

uma escola, alguns tópicos foram considerados como os mais importantes. Dentre

estes, destaca-se o conhecimento da realidade dos estudantes e, por isso, no

planejamento das atividades foi preciso levar-se em conta:

(a) A realidade expressa nos programas escolares.

(b) O meio ambiente das classes mais favorecidas daquela região.

(c) O contexto sociocultural específico da realidade dos alunos.

(d) O modelo social idealizado pelos pais dos alunos da escola.

2 – Durante a construção do projeto político-pedagógico, será exigido dos

participantes e principalmente do coordenador pedagógico os três níveis de

competências que fazem parte da formação humana:

(a) Assiduidade, pontualidade e responsabilidade.

(b) Conceitual, procedimental e atitudinal.

(c) Necessidade, possibilidade, probabilidade.

(d) Comunicação, interação, articulação.

Respostas: 1. c, 2. b

Page 38: coordenação pedagógica

38

A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA E A FORMAÇÃO CONTÍNUA DE

PROFESSORES

Ana Jamila Acosta1

Que vale o pensamento humano, esforçado e vencido, na turbulência das horas?

(Cecília Meireles)

Prezado(a) acadêmico(a),

Este capítulo tem a intencionalidade de abordar temas que abrangem a

formação contínua de professores à luz da atuação do Coordenador Pedagógico em

Escolas de Educação Básica.

O capítulo compõe-se de três âmbitos: no primeiro abordaremos a gênese da

formação continua dos professores; a seguir, a atuação do Coordenador Pedagógico

nesse processo e, finalizamos com a elaboração de Projeto de Formação Contínua

de Professores na Escola Básica.

No decorrer do capítulo sugerimos atividades que pretendem oportunizar

reflexões sobre a abordagem em desenvolvimento. No final, apresentamos

sugestões de atividades para auto-avaliação da aprendizagem deste capítulo.

A GÊNESE DA FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS PROFESSORES

A aprendizagem organizacional consiste na capacidade das organizações de

criar, adquirir e transferir conhecimentos, conforme já estudado na disciplina

Pensamento Administrativo Contemporâneo (RIBEIRO; GARAFFA, 2007).

A aprendizagem nos meios organizacionais faz-se necessária diante de um

contexto caracterizado por mudanças, incertezas e instabilidade que por sua vez

geram novas demandas sociais, culturais, econômicas e políticas.

E a escola?

1 Pedagoga. Especialista em Tecnologia Educacional e Administração de Recursos Humanos, Dra. em Educação pela Universidade de Santiago de Compostela - Espanha.

Page 39: coordenação pedagógica

39

A análise do pensamento de Alarcão (2000, p. 13), sobre a conceituação da

escola como “uma organização que continuamente se pensa a si própria, na sua

missão social e na sua estrutura, e se confronta com o desenrolar da sua atividade

num processo avaliativo e formativo” permite considerar que a escola que ela

classifica de reflexiva, constitui-se numa organização de aprendizagem, num

processo permanente de repensar-se, avaliar-se e promover as mudanças que o

contexto local e mundial exige.

Assim, para caracterizar-se como uma organização de aprendizagem, não

basta à escola qualificar o aluno, mas também todos os seus integrantes, tendo

como destaque o professor, através de um processo permanente de formação,

coordenado pelo Coordenador Pedagógico.

Atividade 1

Expresse aqui, seu ponto de vista:

- as escolas em geral, estão conscientizadas da necessidade de aprendizagem

contínua de seus professores?

Discuta suas idéias com três colegas.

Por que destaque à aprendizagem dos professores?

Porque os professores são profissionais imprescindíveis nos processos de

mudança da sociedade, proporcionando, através de sua atuação docente,

contribuição à formação humanística, cultural, ética, científica e tecnológica de seus

alunos: crianças, adolescentes e jovens. Caso a escola deixe os professores fora do

âmbito das decisões pedagógicas e curriculares, estas não se efetivarão, não

gerarão efeitos na sociedade, razão pela qual governo, mantenedoras, instituições

de ensino superior e escolas deve investir na sua formação e desenvolvimento

profissional.

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40

De acordo com o pensamento de Pimenta e Severino (2005), a

democratização do ensino, no Brasil, passa pela formação, valorização e condições

de trabalho do professor. Daí a importância de investimento no contínuo

desenvolvimento dos professores.

Page 41: coordenação pedagógica

41

Ainda segundo esses autores,

o processo de valorização profissional envolve formação inicial e continuada, articulada, identitária e profissional. Essa formação identitária é epistemológica, ou seja, reconhece a docência como um campo de conhecimentos específicos configurados em quatro grandes conjuntos (PIMENTA; SEVERINO, 2005, p. 13).

Esses quatro conjuntos são constituídos de conteúdos

− das diversas áreas do saber e do ensino (das ciências humanas e

naturais, da cultura e das artes);

− didático-pedagógicos vinculados à prática docente;

− de saberes pedagógicos mais abrangentes;

− vinculados ao esclarecimento do sentido da existência humana individual,

com sensibilidade pessoal e social.

A construção das propostas de formação continuada dos professores deve

reconhecer a capacidade dos professores de participar e decidir. Dessa forma, não

há o risco de a prática docente constituir-se apenas na execução das determinações

pedagógicas e curriculares propostas por outras instâncias educativas: gestores,

mantenedoras, outras.

As ações de participação e decisão requerem dos professores uma

superação de uma eventual uma visão precária do conhecimento, matéria prima de

seu fazer pedagógico, conforme o pensamento de Becker (2003).

Esse autor ainda questiona as condições do professor para propor e dialetizar

as relações entre professor e aluno, entre ensino e aprendizagem, entre ciência e

conhecimento, se ele, professor, não possui uma visão dialética. E continua

questionando como um professor, cujo embasamento epistemológico é

anticonstrutivista e antiinteracionista, pode conceber o conhecimento como uma

construção.

Assim, o professor só se efetivará como agente de mudanças “se ampliar sua

consciência sobre a própria prática, a de sala de aula e a da escola como um todo, o

que supõe os conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade” (PIMENTA;

SEVERINO, 2005, p. 13).

Page 42: coordenação pedagógica

42

Atividade 2

Faça uma enquete junto aos seus conhecidos sobre as lembranças mais marcantes

que têm de seus professores.

A FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS PROFESSORES COMO ESPAÇO

PRIVILEGIADO DE ATUAÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO

A elaboração de propostas para a formação contínua de professores

configura uma das mais significativas atuações do coordenador pedagógico nesse

espaço de mudanças que constitui-se a escola.

A pesquisa realizada por Medina (2002) aponta a produção do professor

como o objeto de trabalho do coordenador pedagógico. Essa produção manifesta-se

na aprendizagem do aluno. Assim, o coordenador pedagógico contribui para um

desempenho docente mais qualificado, opondo-se a uma atuação linear,

hierarquizada e burocrática.

Segundo Medina (2002, p. 155) o coordenador pedagógico “assume uma

posição de problematizador do desempenho docente”. Dessa forma, expressa um

posicionamento de indagar, comparar, responder, opinar, duvidar, questionar,

apreciar, revelar situações de ensino em geral e, em especial, as classes regidas

pelo professor.

O coordenador pedagógico, no dizer de Medina (2002, p. 159),

que tiver como ponto de partida e de chegada o pensamento de que a escola, como instituição social, precisa ser pensada dialeticamente, cria um espaço novo e diferente daquele que, historicamente, foi ocupado e que se caracterizou pelo controle e, também, também, como refúgio burocrático.

Esse posicionamento problematizador do desempenho docente, torna o

coordenador pedagógico um agente de mudanças e ao mesmo tempo constitui-se

num imenso desafio. E como enfrentá-lo?

A garantia de efetividade da atuação do coordenador pedagógico na

intencionalidade de qualificar o trabalho docente depende de muitos fatores. Entre

eles, destacam-se:

Page 43: coordenação pedagógica

43

− reflexão contínua sobre as mudanças na sociedade que se refletem na

escola, demandando novos saberes, novos posicionamentos, novas

metodologias;

− definição da intencionalidade e planejamento do trabalho a ser

desenvolvido;

− estabelecimento de canais de comunicação e colaboração consistentes

com os professores criando um clima de confiança de modo que os

professores possam reconhecer seus saberes e os aspectos que

necessitam ser superados e aperfeiçoados;

− articulação do trabalho de formação contínua ao projeto político

pedagógico da escola para que o professor tome consciência de sua ação

sobre o contexto no qual atua;

− identificação de espaços/tempo em que a formação continuada dos

professores se concretize;

− aceitação dos professores em suas singularidades, tanto individuais

quanto coletivas.

Ainda, segundo o pensamento de Thurler (2002, p. 90) os professores

precisam ser considerados como:

[...] atores plenos de um sistema que eles devem contribuir para transformar, no qual devem engajar-se ativamente, mobilizando o máximo de competências e fazendo o que for preciso para que possam ser construídas novas competências a curto ou médio prazo.

A autora citada argumenta a favor de um processo de formação contínua

duradouro contrapondo-se a algumas ações de formação concentradas em poucos

dias, em jornadas intensivas. Propõe uma concepção de formação contínua mais

abrangente composta por um conjunto de formas de interação e de cooperação que

possibilitem a criação de condições para a pesquisa-ação, a prática reflexiva e a

profissionalização interativa e estimulem a sinergia das competências profissionais

de todos.

Page 44: coordenação pedagógica

44

Atividade 3

Efetue uma entrevista com um coordenador pedagógico de uma escola de

Educação Básica. Pergunte sobre as facilidades e dificuldades em desenvolver, na

escola, um projeto de formação contínua dos professores.

A ELABORAÇÃO DE UM PROJETO DE FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS

PROFESSORES

A proposição de um projeto de formação contínua, mesmo que sobre a

liderança do coordenador pedagógico, não prescinde do apoio dos demais gestores

da escola e será elaborado de acordo com as demandas identificadas pelo coletivo

da escola.

A elaboração do projeto configura um processo de construção de

conhecimentos e compreensão da realidade vinculado à construção do

compromisso para transformar e inovar a escola, como, também, prever

tempo/espaço e recursos para executá-lo, sustentado nos seguintes princípios à luz

do pensamento de Sánchez Núñez (2008):

− realista - focalizar na realidade educativa da escola, detectando as

necessidades de mudanças e contrapondo-se a qualquer desvinculação

do projeto de formação contínua da prática educativa desenvolvida na

escola;

− coerente - de modo que as estratégias que serão propostas sejam

adequadas aos objetivos propostos pelo projeto;

− flexível - de forma que diante de determinadas circunstâncias haja a

possibilidade de introduzir ações que sejam de interesse imediato dos

professores e não previstas no projeto;

− viável - adequado aos recursos e possibilidades disponíveis na escola;

− processo de aprendizagem dinâmico - garantindo a aprendizagem em

serviço e a aplicação do aprendido na prática;

− articulação entre a teoria e a ação de forma que a teoria sirva de

referência à prática e a prática à teoria;

Page 45: coordenação pedagógica

45

− auto-avaliação como estratégia de melhoria da prática docente,

promovendo o coletivo dos professores e o desenvolvimento cooperativo;

− consideração dos saberes e experiências dos professores para que

possam, depois de analisadas e avaliadas, desencadear processo de

melhora na prática docente;

− assessoramento e apoio individualizado aos professores com o objetivo de

oportunizar aos reflexões e a solução de problemas surgidos na prática

docente;

− aprendizagem entre iguais de forma que os professores possam

compartilhar saberes e práticas e debater problemas comuns;

− apoio institucional de modo que o projeto de formação docente componha

o plano global da escola;

− diversidade dos agentes no desenvolvimento do programa possibilitando a

participação de outros profissionais: gestores, especialistas, professores

convidados, outros.

O processo de elaboração do projeto envolve um processo de maturação de

idéias, caracterizado por observações, análises, comparações, indagações,

reflexões e sistematizações. Assim, consiste num processo gradual que requer

reflexão, contínuas retomadas, compreensão das problemáticas que envolvem o

processo de ensino e aprendizagem e dos múltiplos aspectos que constituem as

problemáticas detectadas na escola. A participação do coletivo dos professores na

sua elaboração configura-se como condição fundamental para vencer as

resistências e as tensões que possam emergir, além de promover o envolvimento e

a sinergia fundamental para a eficaz implementação do projeto (LÜCK, 2003).

ELEMENTOS DO PROJETO DE FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS PROFE SSORES

A elaboração do projeto fundamenta, organiza, sistematiza e direciona a

proposta de formação contínua de professores.

A estrutura de qualquer projeto fundamenta-se no método científico, razão

pela qual, tem em sua estrutura os mesmos elementos, conforme. No entanto,

Page 46: coordenação pedagógica

46

dependendo de sua finalidade, pode ter variações, destacando aspectos

considerados importantes.

Elementos básicos de um projeto

1. Identificação do projeto

2. Descrição da situação-problema

3. Proposição de objetivos

4. Definição de metas

5. Delineamento de método, estratégias e procedimentos

6. Especificação de cronograma

7. Identificação de recursos e custos

8. Proposição de monitoramento e avaliação (LÜCK, 2003, p. 92).

Sugestão de elementos para compor um Projeto de For mação Contínua

de Professores

1. Identificação do Projeto

− visa apresentar as informações básicas para a caracterização do projeto:

título, escola, setor, responsáveis pela execução, clientela, duração.

2. Justificativa

− consiste na descrição da realidade específica, através da caracterização

de das situações que demandam ação de inovação, de melhoria ou de

transformação na escola.

3. Proposição de objetivos

− determina os resultados que se pretende alcançar com a realização do

projeto, alcançáveis no tempo previsto.

4. Definição de metas

− consiste na especificação quantitativa do projeto.

Page 47: coordenação pedagógica

47

5. Fontes que subsidiaram a elaboração do projeto

− identificam a procedência do projeto, tais como: Plano Global da Escola,

Projeto Político Pedagógico, demandas expressas pelos professores,

pelos alunos, pela comunidade escolar em geral, estudos teórico, outros.

6. Referências teóricas que sustentam o projeto

− referem-se aos fundamentos teóricos que sustentam o projeto.

7. Princípios que norteiam o Projeto

− expressam aos princípios que fundamentam o projeto, tais como:

realismo, coerência, flexibilidade, viabilidade, articulação teoria e prática,

outros.

8. Etapas

− consiste na descrição das etapas de elaboração do projeto, tais como:

− levantamento as necessidades de formação contínua dos professores,

delineamento do projeto,

− apresentação e discussão com os professores e demais gestores da

escola; efetivação de reformulações sugeridas,

− execução do projeto.

9. Desenvolvimento do Projeto

− refere-se ao traçado dos múltiplos tempos e espaços que constituirão a

efetivação do Projeto, considerando a disponibilidade e recursos

disponíveis na escola:

Exemplos :

− Grupos de estudos sobre um tema específico

− Grupo de Estudos para análise do pensamento educativo de autor ou

autores selecionados pelos professores

− Oficinas pedagógicas

− Mini-fóruns

− Orientações individuais

Page 48: coordenação pedagógica

48

− Orientações ao desenvolvimento de carreira

− Plenárias pedagógicas

− Outras.

10. Especificação do cronograma

− refere-se à especificação do tempo a ser disponibilizado ou necessário à

execução do projeto.

11. Identificação de recursos e custo

− refere-se a descrição dos recursos e custos necessários à efetivação do

projeto

12. Proposição de monitoramento e avaliação

− refere-se ao conjunto de procedimentos de monitoramento da execução

do projeto e avaliação e dos resultados, para assegurar a sua execução,

no tempo previsto, com os recursos disponíveis, e, acima de tudo,

identificar a necessidade de medidas corretivas durante o processo, de

modo que se assegure, no decorrer de toda a sua execução, o alcance

dos objetivos e das metas previstas (LÜCK, 2003)

CONCLUSÕES

Neste capítulo busca-se desenvolver conteúdos relativos à formação contínua

de professores, numa ação coletiva orientada pelo coordenador pedagógico.

Aborda, também, a elaboração do projeto, com a descrição dos princípios para sua

elaboração e os elementos que o compõe.

Acreditamos que um processo de formação contínua dos professores

contribui para a mudança e melhoria nos processos de ensino e aprendizagem das

escolas, cujos resultados, em conseqüência refletir-se-ão na sociedade brasileira.

Page 49: coordenação pedagógica

49

ATIVIDADES

Entrevista

Encontre uma escola de Educação básica e faça uma entrevista com o

Coordenador Pedagógico sobre o dia a dia de seu trabalho. Verifique se há

indicações que ele tem como meta de trabalho a formação contínua de Professores

em quais dimensões ele atua: burocráticas ou pedagógicas.

Análise de filme

Assista o filme Mentes Perigosas e analise a postura da coordenadora

pedagógica e do diretor quanto à mudanças na escola.

REFERÊNCIA COMENTADA

MEDINA, Antonia da Silva. Supervisão Escolar : da ação exercida à ação repensada. Porto Alegre, RS: Age, 2002.

O livro, fundamentado numa experiência de pesquisa-ação, aborda o objeto

de ação do supervisor pedagógico, a metodologia de trabalho a ser empregada e as

relações entre supervisor e professor.

Page 50: coordenação pedagógica

50

REFERÊNCIAS

ALARCÃO, Isabel (org.). Escola reflexiva e supervisão. Uma escola em desenvolvimento e aprendizagem. Porto, PT: Porto, 2000.

ALARCÃO, Isabel (org.). Escola Reflexiva e Nova Racionalidade . Porto alegre, RS: Artmed, 2001.

ALMEIDA, Larinda Ramalho de; PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza (org). O coordenador pedagógico e questões de contemporaneid ade. São Paulo: Loyola, 2007.

BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e a aprendizagem escolar . Porto Alegre, RS: Artmed, 2003.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa . Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

LIMA, Maria do Socorro Lucena; GOMES, Marineide de Oliveira. Redimensionando o papel dos profissionais da educação: algumas considerações. In: PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro. Professor Reflexivo no Brasil : gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002.

LÜCK, Heloisa. Metodologia de projetos : uma ferramenta de planejamento e gestão. 3.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

MEDINA, Antonia da Silva. Supervisão escolar, da ação exercida à ação repensada . 2.ed. Porto Alegre, RS: AGE, 2002.

RIBEIRO, Rosane Santos; GARAFFA, Iria Margarida. Pensamento administrativo na contemporaneidade . Canoas: Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Pró-Reitoria de Ensino a Distância, 2007.

SÁNCHEZ NÚÑEZ, José Antônio. Formación Inicial Para La Docencia Universitária. Revista Iberoamericana de Educación (ISSN: 1681-565 3). Disponível em: <http://www.rieoei.org/deloslectores/sanchez.PDF>. Acesso em: 18 mar. 2008.

THURLER, Mônica Gather. O desenvolvimento profissional dos professores: Novos Paradigmas, Novas práticas. In: PERRENOUD, Philippe; THURLER, Mônica Gather et al. As competências para ensinar no Século XXI : a formação de professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002.

PIMENTA, Selma Garrido; SEVERINO, Antônio Joaquim. Apresentação da coleção. In: PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior . São Paulo: Cortez, 2005.

Page 51: coordenação pedagógica

51

VASCONCELLOS, Celso dos S. Para onde vai o professor? Resgate do professor como sujeito de transformação. São Paulo: Libertad, 2005.

Page 52: coordenação pedagógica

52

AUTO-AVALIAÇÃO

Marque a alternativa correta:

1. A escola que continuamente se pensa a si própria na sua missão social e

na sua estrutura configura-se como escola:

a - dinâmica

b - reflexiva

c - tradicional

d - técnica

e - ativa

2. A elaboração de propostas para formação contínua dos professores é

liderada na escola:

a - pelos pais

b - pelos alunos

c - pelo coordenador pedagógico

d - pelo psicólogo

e - pelo orientador educacional

3. Um dos princípios que sustentam a elaboração de um projeto para

formação contínua de professores é:

a - realismo

b - tradição

c - folclore

d - ação

e - dinamismo

4. O princípio, na elaboração do projeto para formação contínua de

professores, que possibilita introduzir ações que sejam de interesse imediato dos

professores é:

a - articulação teoria e prática

b - coerência

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c - flexibilidade

d - realismo

c - dinamismo

5. O elemento de um projeto que caracteriza as situações que demandam

ação de inovação, de melhoria ou de transformação da escola é:

a - identificação do projeto

b - justificativa

c - proposição de objetivos

d - metodologia

e - recursos

6. A especificação quantitativa do projeto consiste em:

a - referências teóricas

b - etapas do projeto

c - definição de metas

d - elaboração de objetivos

e - especificação de recursos e equipamentos

7. A escola configura-se como organização de aprendizagem quando:

a - realiza reuniões sistemáticas com os professores

b - se pensa a si própria na sua missão social e na sua estrutura

c - realiza reuniões com os pais

d - avalia os alunos

e - organiza eventos comunitários

8. A construção de propostas de formação continuada dos professores deve

reconhecer:

a - capacidade dos professores de praticar e decidir

b - a atuação linear e hierarquizada dos professores

c - a atuação burocrática dos professores

d - a avaliação dos alunos

e - a fragmentação dos saberes

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9. O professor se efetivará como agente de mudanças se:

a - estudar muito

b - conhecer metodologias de ensino contemporâneas

c - ampliar sua consciência sobre a própria prática

d - aplicar provas difíceis aos alunos

e - trabalhar isolado do coletivo da escola

10. O coordenador pedagógico cria um espaço novo e diferente em sua

atuação quando:

a - realiza atividades burocráticas na escola

b - considera a escola como instituição social que precisa ser pensada

dialeticamente

c - realiza reuniões com pais e alunos

d - escuta os lamentos dos professores.

e - envolve-se em problemáticas administrativas

Respostas :

1. b

2. c

3. a

4. c

5. b

6. c

7. b

8. a

9. c

10. b

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55

AS MÚLTIPLAS IMPLICAÇÕES DA PRÁTICA DO COORDENADOR

PEDAGÓGICO

Fabiana de Oliveira Machado1

Estimados alunos,

O coordenador pedagógico dentre suas várias atribuições possui um dos mais

fundamentais papéis, o de ser mediador de todo o processo pedagógico, articulando

as diferentes relações inerentes do cotidiano escolar, organizando o produto da

reflexão dos segmentos, do planejamento e da avaliação da prática. O presente

capítulo tem o objetivo de enfocar o papel do coordenador pedagógico no contexto

escolar abordando aspectos como: formação do pedagogo, planejamento, avaliação

e acompanhamento pedagógico.

AS IMPLICAÇÕES HISTÓRICAS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

A Pedagogia, no Brasil, vive um grande paradoxo: enquanto é verificada uma imensa pedagogização da sociedade com o impacto das inovações tecnológicas, da informática dos meios de comunicação, da difusão cultural e científica e da propaganda; no meio educacional ela se encontra no descrédito, assim como a atividade docente.

(José Carlos Libâneo)

Há uma tradição na história da formação de professores no Brasil, segundo a

qual o pedagogo é alguém que ensina algo e o curso de pedagogia seria um curso

de formação de professores para as séries iniciais. Essa idéia permanece viva na

experiência de muitos que não entendem, ou não tiveram a oportunidade de

perceber que a Pedagogia se ocupa com todo o processo educativo e ao mesmo

tempo é uma diretriz orientadora da ação educativa. Dentro dessa visão “o

Pedagogo” é um profissional que atua em várias instâncias da prática educativa,

direta ou indiretamente ligadas à organização de saberes e ações pedagógicas.

1 Pedagoga. Especialista em Orientação Educacional e Supervisão Escolar. Assessora pedagógica no serviço técnico pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Canoas - RS.

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56

Segundo Libâneo, o grande paradoxo em que nos encontramos hoje em

relação à Pedagogia, está extremamente ligado a ampliação e inovações

tecnológicas, as quais, trazem atrativos pedagógicos bem claros e perceptíveis,

deixando o meio educacional com mais descrédito ainda.

Partindo disso, como administrar nossa identidade de Pedagogo com este

complexo campo de trabalho que é a Educação? O qual nos leva, muitas vezes, a

coordenadas inseguras, perda de sentido e de referências.

Afinal de contas, qual o papel do Pedagogo? Diversas são as reclamações que emergem do cotidiano dos coordenadores: sentem-se sozinhos, lutando em muitas frentes, tendo que desempenhar várias funções. Qual seria sua efetiva identidade profissional? A sensação que se têm, com freqüência é de que são ‘bombeiros’ a apagar os diferentes focos de ‘incêndio’ na escola, e no final do dia vem o amargo sabor de que não se fez nada de muito relevante [...] Sentem ainda o distanciamento em relação aos professores, a desconfiança, a competição, a disputa de influência e de poder (VASCONCELLOS, 2007, p. 85).

Considerando o tradicional distanciamento na formação e na prática dos

pedagogos, não se tem mediação adequada entre as diferentes linguagens

produzidas nesses diversos âmbitos de atuação do Pedagogo.

É necessária a busca por sua identidade, para que possa dar um novo

significado em sua prática, tentando superar as dificuldades encontradas neste

campo de trabalho, as quais, muitas vezes decorrentes de limitações próprias e/ou,

dificuldades em traduzir em suas práticas a riqueza de seus conhecimentos.

Portanto, devemos analisar as causas de tais atitudes, nos localizando no

movimento da história, a fim de entender como chegamos ao descrédito da prática

pedagógica. Devemos reconhecer que as propostas de mudança, muitas vezes

foram implantadas de cima para baixo, sob o amparo do tecnicismo, num contexto

de desqualificação da formação e desvalorização profissional.

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57

OS MÚLTIPLOS PAPÉIS DO COOORDENADOR PEDAGÓGICO

Concepção sócio-histórica

Múltiplas ações

Professor

Aluno

Família

Comunidade

Papel

Articulação

teoria

professor

aluno

Intervenção

teórica

pedagógica

Prática cotidiana

Mediação

conhecimento

ações educativas

Cultural – social –comunidade

Auto-avaliação sua proposta / prática

COORDENADORPEDAGÓGICO

Figura 2: Os diversos papéis do coordenador pedagógico no contexto escolar. Fonte: Formação continuada das equipes diretivas da rede Municipal de Canoas, Coordenada pelo Serviço Técnico-Pedagógico do Departamento de Educação. Assessoria: Christiane Martinatti Maia.

A figura 2 define as múltiplas ações do coordenador pedagógico, fazendo um

paralelo entre sua prática e a concepção sócio-histórica do contexto escolar.

É destacado no esquema da figura 2, o trabalho do coordenador pedagógico

como um dos principais eixos que norteiam o processo pedagógico, valorizando a

análise da realidade através da ligação e interligação de todos atores do contexto

escolar, objetivando um movimento de construção e reconstrução coletiva,

enfatizando algumas das principais ações deste profissional:

a) Articulação - Realizar a análise e avaliação diagnóstica, articulando-se

com os múltiplos atores envolvidos, visando identificar a solução para

situações-problema da escola, devendo ser capaz de ler, observar e

congregar as necessidades dos que atuam na escola. As idéias devem ser

construídas, discutidas e implementadas por todos os envolvidos. O

coordenador deve articular e motivar a adesão e o compromisso do grupo.

Page 58: coordenação pedagógica

58

b) Intervenção - Direcionar o grupo, a manter o foco nos aspectos da

realidade escolar, buscando relacionar teoria e prática, desencadeando

um trabalho de acompanhamento da ação docente, que privilegie a

reflexão crítica da prática do professor, movimentando-o para a mudança,

enquanto pesquisador de sua própria prática.

c) Mediação - Resgatar a dimensão coletiva do trabalho educativo,

considerando as experiências, os interesses e o modo de trabalhar do

professor, bem como criar condições para questionar sua prática e

disponibilizar recursos para modificá-la; para isso é necessário possuir

conhecimentos gerais e específicos que lhe permitam desempenhar uma

série de atividades que visem à melhoria constante do processo de ensino

aprendizagem.

d) Auto-avaliação - A estratégia de acompanhamento e avaliação da ação

pedagógica estrutura-se como um processo, ou seja, numa contínua

análise da prática, na busca de esclarecimento e compreensão, reflexão e

solução para os problemas, como forma de obter a qualidade do processo

educativo.

Vasconcellos (2007) define como um dos principais papéis da supervisão a

disposição de criar condições para que o professor descubra a melhor forma de

ajudar o aluno a aprender.

Alarcão (2001) salienta que função do supervisor, também pode ser

compreendida como um processo em que um professor, em princípio mais

experiente e mais informado, orienta um outro professor ou candidato a professor no

seu desenvolvimento humano e profissional.

PLANEJAMENTO

O planejamento se configura como um dos mais importantes elementos do

processo pedagógico, devendo ser utilizado como ponto de partida para se conhecer

Page 59: coordenação pedagógica

59

melhor e refletir sobre a realidade em que se pretende atuar. Podemos dividir o

planejamento em diferentes etapas, em primeiro momento selecionando os meios

para intervir tendo em vista a mudança pretendida, em um segundo momento

fazendo a reflexão sobre os resultados obtidos, por fim construindo uma nova

proposição de metas. Isto significa dar prioridade ao planejamento como um

processo dialético (ação-reflexão-ação), deixando de lado os registros meramente

formais, estáticos, distantes da realidade.

Um plano não é mais que um documento de trabalho, cuja importância é somente momentânea; quando surge sob forma impressa, está ultrapassado. O estabelecimento de um plano, isto é, o exercício do pensamento planificador, é algo infinitamente mais importante que um livro elegantemente apresentado e intitulado: ’Plano de Seis Anos’ (FRIEDMANN, 1959, p. 348).

Esse mesmo autor, refere-se a diferentes modos de pensamento a nível da

planificação: pensamento objetivo, analítico, integrativo, projetivo, experimental e

utópico, referindo-se também a imaginação estética.

Pensando nas modificações que historicamente foram delineando a

educação, podemos observar que o ato de planejar com tendências burocratizantes,

enfatizou muito mais o produto final, ou seja, a papelada contendo gráficos mais

complicados possíveis e objetivos definidos conforme a visão do professor do que o

aluno seria capaz de atingir, contribuíram muito para a descrença no planejamento.

Por isso hoje a tarefa de planejar é bem mais complexa, não se trata de ter

condições de planejamento, mas de se resgatar o significado e dar a importância

devida a este elemento indispensável para o sucesso do Projeto Político-

Pedagógico.

Assim, estaremos dando um sentido bem mais profundo e coerente à seleção

de conteúdos, dos procedimentos metodológicos e dos instrumentos de avaliação,

assegurando sua perfeita integração.

Segundo Vasconcellos (2007), é no cotidiano escolar que estas grandes

dimensões do planejamento costumam se traduzir para o professor, quando ele se

preocupa com “o quê” vai ser ensinado, como vai ser trabalhado, por quê e para quê

vai ser trabalhado e como vai se saber se os alunos estão assimilando ou não e o

que fazer diante disto.

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Podemos perceber que para planejar é necessário o conhecimento da

realidade do contexto escolar, analisando e selecionado conteúdos que contribuirão

para um ótimo desenvolvimento do ensino-aprendizagem. Utilizando uma

metodologia diversificada e adequada às necessidades do educando, os professores

constatarão se houve ou não crescimento na aprendizagem, refletindo assim, em

novas estratégias na prática pedagógica.

ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO

A minha abertura ao querer bem significa a minha disponibilidade à alegria de viver. Justa alegria de viver, que, assumida plenamente, não permite que me transforme num ser ‘adocicado’ nem tampouco num ser arestoso e amargo.

(Paulo Freire)

A atuação do coordenador no cotidiano escolar requer uma sistematização

mais visível, como forma de possibilitar a melhoria da sua intervenção ao longo do

ano letivo. Com o registro das situações encontradas, das intervenções feitas, das

leituras sugeridas, das reflexões efetuadas na escola, o coordenador terá subsídios

mais concretos para dar continuidade às suas ações e intervenções na prática

pedagógica desenvolvida pelo professor, tornando-se cada vez mais um parceiro

deste profissional e assim, contribuindo significativamente na construção de um

projeto educativo que resulte no sucesso do aluno.

Neste sentido, é importante refletirmos sobre a diferença de acompanhar e

fiscalizar, pois normalmente ao acompanhar o trabalho do professor muitas vezes o

coordenador pedagógico é visto como um fiscal, função esta que não trará muitos

créditos para o desenvolvimento significativo e de interação para a construção

coletiva do projeto escolar.

Um dos fundamentais passos do acompanhamento pedagógico é a avaliação,

portanto avaliar o processo pedagógico conduz à reflexão com dados concretos

sobre o que acontece de fato na escola, possibilitando obter informações úteis ao

nível de sala de aula, tendo em vista os objetivos estabelecidos para o processo de

escolarização.

Deixar de acompanhar e avaliar a escola pode significar deixá-la num

caminho que produza como conseqüência final a sua ineficácia.

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Avaliar tem com certeza três lados: aluno, professor e os demais membros da

equipe pedagógica da unidade escolar. Avaliar o aluno traz sempre consigo a

avaliação da prática pedagógica do professor e do trabalho pedagógico

desenvolvido pela escola. Assim, se há problemas de aprendizagem, há também

problemas de ensino e de organização da gestão escolar.

É importante também oferecer suporte e auxílio para a prática no cotidiano

escolar, e para isso será necessário que o coordenador pedagógico utilize freqüente

e diversificado instrumento de avaliação para acompanhar mais sistematicamente o

processo educativo, propondo intervenções na prática do professor, a fim de

contribuir para atingir a excelência no ensino-aprendizagem.

Assim, o papel do coordenador pedagógico como parceiro do professor e da

equipe escolar, é estar levando o grupo a refletir sobre a proposta pedagógica

desenvolvida na escola e orientar o fazer pedagógico.

Para isso, é importante que no acompanhamento pedagógico seja observado:

− As necessidades de aprendizagem dos alunos.

− O trabalho coletivo respeitando o ponto de vista dos colegas.

− A Interação com a comunidade escolar (interna e externa).

− A visão integrada e dinâmica do currículo em relação à realidade.

− O trabalho na perspectiva interdisciplinar.

ATIVIDADES

1. Historicamente, o curso de Pedagogia, no Brasil tem sido marcado por

momentos de altos e baixos, com uma sucessão de indefinições e com

repercussões no campo do conhecimento e da formação profissional do pedagogo.

Com base nos estudos realizados e nos questionamentos que surgiram durante as

temáticas abordadas nas aulas, produza um texto considerando as diferentes

possibilidades atuais de atuação do coordenador pedagógico, analisando o espaço

de atuação desse profissional como um articulador do processo ensino-

aprendizagem na escola.

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REFERÊNCIAS COMENTADAS

FRIEDMANN, J. Étude et pratique de la planification. In: Revue Internationale des Sciences Sociales , XI (3), Paris, 1959.

O autor refere-se ao planejamento como um processo dialético, onde a

exigência do plano como documento escrito só terá importância se for o resultado da

reflexão e discussão dos professores sobre a realidade da instituição que estão

atuando, ou seja, o plano do professor deve partir das necessidades reais do

contexto sociocultural do aluno.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública – a pedagogia crítica social dos conteúdos . São Paulo: Loyola, 1985.

O autor ressalta que o primeiro compromisso da atividade profissional de ser

professor (o trabalho docente) é certamente de preparar os alunos para se tornarem

cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho e na vida cultural e política. O

trabalho docente visa também a mediação entre a sociedade e os alunos. Libâneo

afirma que, como toda a profissão, o magistério é um ato político porque se realiza

no contexto das relações sociais. O autor propõe que entendamos o processo de

ensino como visando alcançar resultados tendo com ponto de partida o nível de

conhecimentos dos alunos e determinando algumas características como: o ensino é

um processo, por isto obedece a uma direção, este processo visa alcançar

determinados resultados como domínio de conhecimentos, hábitos, habilidades,

atitudes, convicções e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas, dando ao

ensino este caráter bilateral, combinando as atividades do professor com as do

aluno.

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REFERÊNCIAS

ALARCÃO, Isabel (Org.). Escola Reflexiva e Supervisão: uma escola em desenvolvimento e aprendizagem . Porto (PT): Porto Editora, 2000.

ALARCÃO, Isabel (Org.) Escola Reflexiva e Nova Racionalidade . Porto Alegre (RS): Artmed, 2001.

ALMEIDA, Laurinha Ramalho de; PLACCO, Vera Maia Nigro de Souza. O Coordenador Pedagógico e o espaço de mudança . São Paulo: Loyola, 2001.

FRIEDMANN, J. Étude et pratique de la planification. In: Revue Internationale des Sciences Sociales , XI (3), Paris, 1959.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública – a pedagogia crítica social dos conteúdos . São Paulo: Loyola, 1985.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Coordenação do trabalho pedagógico – Do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2007.

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AUTO-AVALIAÇÃO

Marque as afirmações abaixo com V para Verdadeiro e F para Falso:

A – [ ] O campo de atuação do Pedagogo é limitado e muitas vezes caindo na

rotina com tarefas repetitivas e nada flexíveis.

B – [ ] Articular é realizar a análise e avaliação diagnóstica, visando identificar a

solução para situações-problema da escola, devendo ser capaz de ler, observar e

congregar as necessidades de todos que atuam na escola.

C – [ ] Para realizar um planejamento com objetivos bem definidos e coerentes, é

necessário o conhecimento da realidade do contexto escolar, analisando e

selecionado conteúdos que contribuirão para o um ótimo desenvolvimento do ensino

aprendizagem.

D – [ ] O Pedagogo é um profissional que atua em várias instâncias da prática

educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização de saberes e ações

pedagógicas.

E – [ ] O planejamento se configura, como um dos maiores entraves do processo

pedagógico, devendo ser utilizado esporadicamente em seu campo de atuação.

F – [ ] A avaliação é um dos fundamentais passos do acompanhamento

pedagógico, pois conduz à reflexão com dados concretos sobre o que acontece de

fato na escola, tendo em vista os objetivos estabelecidos para o avanço do processo

ensino-aprendizagem e do trabalho pedagógico.

Respostas: A.F; B.V; C.V; D.V; E.F; F.V