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i COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADES: O CASO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração Orientador: Prof. Cesar Gonçalves Neto, Ph.D. Rio de Janeiro 2008

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i

COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADES:

O CASO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração Orientador: Prof. Cesar Gonçalves Neto, Ph.D.

Rio de Janeiro 2008

ii

COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADES:

O CASO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE

Wilson Brasil Casado Neto

Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Instituto

COPPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro –

UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre

em Administração – M.Sc.

Aprovada por: Presidente da Banca Prof. Cesar Gonçalves Neto, Ph.D. – Orientador (COPPEAD/UFRJ) Prof. Kleber Fossati Figueiredo, Ph.D. (COPPEAD/UFRJ) Prof. José Manoel Carvalho de Mello, Ph.D. (Universidade Federal Fluminense – UFF)

Rio de Janeiro

2008

iii

À Renata e Daniel

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor César Gonçalves a assistência, a orientação e,

principalmente, a paciência no desenvolvimento deste trabalho.

Aos professores do COPPEAD, mestres que transmitiram não só

conhecimento, mas também valores de vida.

Aos funcionários do COPPEAD, pela ajuda imensurável e amizade, um

obrigado especial a Cida, Simone, Lucianita e Sidney.

A meus amigos de turma, pessoas das quais nunca esquecerei e com quem

mais aprendi nesses últimos dois anos. Um obrigado especial a Bruno

Fonseca, Renata Lobo, Guilherme Quental, Carolina Burnier, Ana Carolina

Pinto, Fábio Vieira, Romulo Pereira e Luiza Curi.

A Sebastião (em memória), Nice (em memória), Wilson (em memória), Geralda,

Adauto, Carlota, Alexandra, Arthur (em memória), Clara, Paulo, Lucy, Ely,

Ângela e Paula - minha família, minha referência e meus verdadeiros ídolos.

Um agradecimento especial à Renata, minha querida mulher, pelo apoio e

amor em todos os momentos desse desafio, e ao Daniel, meu adorável filho,

fonte de toda a minha inspiração.

v

RESUMO

CASADO, Wilson Brasil. COOPERAÇÃO ENTRE EMPRESA E UNIVERSIDADES:

O CASO DA COMPANHIA VALE DO RIO DOCE. Orientador: Cesar Gonçalves

Neto. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2008. Dissertação. (Mestrado em

Administração).

Em um cenário no qual se destaca a inovação tecnológica não só como instrumento

político de desenvolvimento econômico para as nações, mas também como

instrumento estratégico para as empresas, o pequeno número de pesquisadores

trabalhando nas empresas e o baixo grau de interação entre universidades e

empresas em nosso país para o desenvolvimento de inovações tecnológicas

sugerem uma grande contradição uma vez que estas seriam algumas das principais

formas de promoção do desenvolvimento de inovações tecnológicas. Mostrou-se

muito interessante a possibilidade de ampliar este conhecimento a partir do estudo

do caso da Companhia Vale do Rio Doce (VALE), maior empresa privada de nosso

país, evidenciando tipos de cooperação que ocorrem entre a empresa e algumas

universidades.

Assim, através do estudo de caso do programa Convênios com Universidades da

VALE, a pesquisa apresenta um quadro de referência sobre a cooperação entre

universidades e empresas, dando ênfase aos principais motivadores e às principais

barreiras ao processo de cooperação tecnológica entre universidades e empresas.

Para tal utilizamos a metodologia sugerida por Gonçalves Neto (1986), não só a

partir do ponto de vista dos empregados da VALE envolvidos nestes projetos, mas

também a partir do ponto de vista dos professores e pesquisadores das

universidades envolvidos nos casos estudados.

vi

Lista de Figuras: Figura 01: Evolução dos relacionamentos entre universidades e empresas 27

Figura 02: Modelo do processo de cooperação U-E 47

Figura 03: Ciclo de vida de um projeto de Cooperação U-E 105

Figura 04: O estágio de iniciação do processo de cooperação U-E 106

Figura 05: O estágio de aprovação do processo de cooperação U-E 108

Figura 06: O estágio de execução do processo de cooperação U-E 109

vii

Lista de Quadros: Quadro 01: Resumo da Revisão Bibliográfica 52

Quadro 02: Categorias para Análise dos Casos Estudados 53

Quadro 03: Tipos de Cooperação U-E 54

Quadro 04: Principais Motivadores da Empresa para a Cooperação 54

Quadro 05: Principais Motivadores da Universidade para Cooperação 55

Quadro 06: Maiores Barreiras para a Cooperação 56

viii

Lista de Tabelas: Tabela 01: Resultados: Contexto do Projeto – Assuntos 79

Tabela 02: Resultados: Contexto do Projeto – Origem das Idéias de Projetos 80

Tabela 03: Resultados: Natureza – Graus de Risco e Importâncias 81

Tabela 04: Resultados: Natureza – Tipos de Cooperação 82

Tabela 05: Resultados: Urgência 82

Tabela 06: Resultados: Principais Motivadores para a Empresa 83

Tabela 07: Resultados: Principais Motivadores para as Universidades 83

Tabela 08: Resultados: Principais Barreiras para a Empresa 84

Tabela 09: Resultados: Principais Barreiras para as Universidades 84

Tabela 10: Resultados: Categorias da Revisão de Literatura 85

ix

Sumário

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11

1.1 O Tema da Pesquisa ...................................................................................................... 11

1.2 Definição do Problema .................................................................................................. 14

1.3 Objetivos do Estudo ...................................................................................................... 16

1.4 Delimitação do Estudo .................................................................................................. 16

1.5 Relevância do Estudo.................................................................................................... 18

2 COOPERAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADES E EMPRESAS ................................ 19

2.1 Alianças Estratégicas .................................................................................................... 21

2.2 A Cultura Acadêmica ..................................................................................................... 22

2.3 A Importância das Alianças entre Empresas e Universidades ...................................... 31

2.4 Processos de Cooperação Universidade-Empresa ....................................................... 45

2.5 Resumo da Revisão Bibliográfica.................................................................................. 52

3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 57

3.1 Tipo de Pesquisa ........................................................................................................... 57

3.2 Universo, Amostra e Seleção de Sujeitos...................................................................... 60

3.3 Coleta de dados............................................................................................................. 62

3.4 Metodologia para Análise de Resultados ...................................................................... 64

3.5 Limitações do Método ................................................................................................... 65

4 A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE ..................................................................... 69

4.1 O Setor da Mineração no Brasil ..................................................................................... 69

4.2 A Empresa Estudada ..................................................................................................... 70

4.3 Os Casos Estudados ..................................................................................................... 74

5 RESULTADOS .............................................................................................................. 79

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................. 86

6.1 Análise de Resultados Utilizando o Modelo de Cooperação ......................................... 92

x

7 DESENVOLVIMENTO DO QUADRO DE REFERÊNCIA ................................... 104

7.1 Estágio de Iniciação .................................................................................................... 106

7.2 Estágio de Aprovação ................................................................................................. 107

7.3 Estágio de Execução ................................................................................................... 109

7.4 Estágio de Avaliação ................................................................................................... 110

8 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 111

9 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS ..................................................... 113

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 115

11 ANEXOS ...................................................................................................................... 125

11.1 Anexo I: Roteiro de Pesquisa ...................................................................................... 125

11.2 Anexo II: Resumo dos Casos Estudados .................................................................... 136

11

1 Introdução

1.1 O Tema da Pesquisa

A inovação tecnológica é condição essencial para o desenvolvimento de

produtos ou processos capazes de disputar o mercado global. O Brasil possui um

número significativo de cientistas e engenheiros de alto nível realizando atividades

de pesquisa científica e tecnológica. No entanto, conforme citou Rezende1 em

encontro da FIESP, a maioria dos pesquisadores (cerca de 73%) está nas

universidades e centros de pesquisa e apenas 11% nas empresas privadas, reflexo

das políticas industrial e de ciência e tecnologia que, de 1950 até 2000, foram

desenvolvidas paralelamente, ou seja, foram construídas sem conexão.

Combinar inovação tecnológica com crescimento econômico e inclusão social

é o principal desafio dos BRICS2. Segundo dados da Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 1992 a 2005 o crescimento

médio do PIB brasileiro não passou de modestos 2%, em comparação a 9,7% da

China, 6,5% da Índia, 3,8% da Rússia e 3% da África do Sul. Uma diferença

importante entre esses quatro países e o Brasil é a presença de uma política de

Estado para transformar conhecimento em riqueza, uma estratégia que implica 1 Sérgio Rezende foi palestrante do Encontro do Conselho Superior de Tecnologia e Competitividade da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). São Paulo, 2005. http://agenciact.mct.gov.br/index.php/content/view/29652.html. 2 BRICS: Termo criado pelo banco de investimentos Goldman Sachs para designar Brasil, Rússia, Índia e China, considerados os principais países emergentes do mundo. Pelas contas do Goldman Sachs, até 2050, a soma do Produto Interno Bruto (PIB) dos BRICS será superior à receita do G-6 (EUA, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Japão e Itália), bloco que, atualmente, reúne as maiores economias do globo.

12

integrar pesquisadores, empresários e governo num único circuito (Laplane, 2007).

Segundo Laplane, China e Índia têm programas de desenvolvimento de longo prazo,

mandando milhares de bolsistas para os EUA e Europa que, ao retornar, são

colocados no setor produtivo para desenvolver tecnologia; já a Rússia, pelas

recentes e intensas transformações políticas, vive mais no curto prazo; o Brasil, por

sua vez, vive no curtíssimo prazo. Antes de pensar em inovação, as empresas

brasileiras pensam em sobrevivência e o diálogo entre o nosso sistema de ciência e

tecnologia e o sistema produtivo seria então insuficiente.

Apesar deste cenário desanimador, há alguns grupos de pesquisa nas

principais universidades de nosso país que estão sendo muito importantes para

apoiar a capacitação da indústria, tanto no desenvolvimento de produtos e

processos quanto na formação de recursos humanos capacitados em tecnologias

específicas. A participação desses grupos de pesquisas é viabilizada em alguns

casos através de chamadas públicas, como tem sido feito nos setores de petróleo e

de energia (PITCE, 2004). O enquadramento legal de práticas já realizadas se deu

pela promulgação da Lei da Inovação3 em dezembro de 2004, tais práticas

fomentavam estímulos à inovação no setor produtivo e promoção de maiores

investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) por parte das empresas,

estimulando a participação de pesquisadores universitários em projetos de interesse

das empresas. Segundo a nova lei, agora formalmente, os centros de P&D

vinculados ao governo poderiam também exercer a função de articulação,

acompanhamento e avaliação de projetos de pesquisa de grupos universitários,

financiados com recursos específicos de programas para o setor.

3 Lei da Inovação: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm.

13

A fim de transformar esta realidade, alguns programas estão sendo

implementados no Brasil. Dentre os programas de apoio à inovação nas empresas,

coordenados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), estão o Programa

Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos (PNI), o

Projeto Inovar, que contempla a Incubadora de Fundos INOVAR, o Fundo Brasil

Venture, o Portal Capital de Risco Brasil, a Rede INOVAR de Prospecção e

Desenvolvimento de Negócios e o desenvolvimento de programas de capacitação e

treinamento de agentes de capital de risco. Conforme também citado por Rezende

no encontro da FIESP, além destes, há ainda diversos outros programas para

estimular a criação de fundos de capital de risco e oferta de crédito para empresas

inovadoras, a criação de incentivos para contratação de mestres e doutores, assim

como a criação de um ambiente favorável para o desenvolvimento de bons

relacionamentos entre governos, empresas e universidades; e, ainda, a promoção

do aumento da interação universidade-empresa (PITCE, 2004).

Algumas empresas brasileiras, como a Petrobrás, a Companhia Siderúrgica

Tubarão e a Companhia Vale do Rio Doce, estão enfrentando com sucesso os

desafios de competir em um mercado globalizado e, para algumas delas, o

estabelecimento de convênios com universidades é ferramenta importante da

estratégia de diferenciação de seus produtos e processos. As pesquisas

desenvolvidas pelas parcerias entre empresas e universidades têm sido uma dos

principais fontes de inovações colocadas em prática (Noveli e Segatto, 2006), mas o

número de tais parcerias parece ainda pequeno quando comparado aos demais

mecanismos das empresas para fomento de inovações.

14

1.2 Definição do Problema

Em um cenário no qual se destaca a inovação tecnológica não só como

instrumento político de desenvolvimento econômico para as nações, mas também

como instrumento estratégico para as empresas, o pequeno número de

pesquisadores trabalhando nas empresas e o baixo grau de interação entre

universidades e empresas para o desenvolvimento de inovações tecnológicas

sugerem uma grande contradição uma vez que estas seriam algumas das principais

formas de promoção do desenvolvimento de inovações tecnológicas.

Torna-se então relevante procurarmos entender melhor o processo de

desenvolvimento das inovações tecnológicas nas empresas e, especificamente,

como se dá o relacionamento entre empresa e universidade no que se refere a este

processo (Gonçalves Neto, 1986). É importante observar que há uma lacuna de

trabalhos que discutam as relações de grandes empresas brasileiras com as

universidades, principalmente devido à dificuldade de acesso às informações tanto

na empresa quanto nas universidades.

Assim sendo, mostrou-se particularmente interessante a possibilidade de

ampliar este conhecimento a partir do estudo dos casos de projetos de cooperação

da Companhia Vale do Rio Doce (VALE) com universidades, evidenciando os tipos

de ligação que ocorrem no relacionamento desta empresa com universidades, assim

como os motivadores e as barreiras deste relacionamento. A VALE destaca-se no

cenário nacional e internacional, tendo sido protagonista da maior aquisição já feita

15

por uma empresa privada da América Latina, quando comprou a empresa

canadense Inco por US$ 17,7 bilhões. Este destaque é corroborado por vários

indicadores econômicos e sociais e, devido a este destaque, acreditamos que os

casos estudados nesta empresa têm maior chance de serem utilizados como

referências por outras empresas contribuindo com maior sucesso em projetos de

inovação tecnológica em nosso país. As atividades profissionais desenvolvidas pelo

autor desta pesquisa na empresa estudada também motivaram e facilitaram a

realização da pesquisa.

Sendo assim, o tema de pesquisa desta dissertação de mestrado é o

processo de cooperação tecnológica entre universidades e empresas (cooperação

U-E). O problema de pesquisa foi determinado a partir da caracterização do

processo de inovação e das interações que podem ocorrer no processo de

cooperação entre universidades e empresas, especificando os possíveis

motivadores e barreiras do processo.

O problema de pesquisa proposto é traduzido então através das seguintes

questões:

a) Como ocorre o processo de cooperação tecnológica entre a empresa VALE

e as universidades?

b) Quais os principais motivadores e as principais barreiras da cooperação

tecnológica entre a VALE e as universidades, segundo os principais

envolvidos?

16

1.3 Objetivos do Estudo

1.3.1 Objetivo Final

O objetivo final deste estudo é desenvolver um quadro de referência sobre a

cooperação entre universidades e empresas. Este quadro de referência poderá

ser bastante valioso, não só para a própria empresa estudada, a VALE, mas

também para outras empresas e para as universidades interessadas ou envolvidas

em projetos similares.

Para atingir tal objetivo final, iremos: identificar dez casos de cooperação

tecnológica entre a Companhia Vale do Rio Doce e as universidades através de seu

programa corporativo chamado “Convênios com Universidades”; e analisá-los

utilizando como referência inicial o modelo para o processo de cooperação

universidade-empresa de Gonçalves Neto (1986).

1.4 Delimitação do Estudo

O estudo foi realizado em uma única empresa, a Companhia Vale do Rio

Doce, e a população do estudo proposto é constituída de uma carteira de projetos

de cooperação tecnológica do programa corporativo chamado “Convênios com

17

Universidades”. Este programa conta atualmente com quarenta e três projetos em

sua carteira.

Para a seleção da amostra não probabilística pesquisada foram selecionados

dez projetos utilizando-se os seguintes critérios:

i) Estarem entre os maiores convênios em valor financeiro;

ii) Serem projetos recentes (ainda em andamento, ou finalizado a partir do

ano de 2005);

iii) Possuírem temas distintos;

iv) Haver no máximo três projetos de uma mesma universidade;

v) Haver pelo menos dois projetos da Região Norte ou Nordeste do país,

onde se concentram algumas operações da empresa;

vi) Haver meios viáveis (entrevista presencial ou por telefone) de contatar

pelo menos um dos principais envolvidos no projeto (ou o envolvido da

empresa, ou o da universidade, ou ambos).

As universidades envolvidas nesta pesquisa foram: a UFPA (Universidade

Federal do Pará), a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a UFOP

(Universidade Federal de Ouro Preto), a USP (Universidade de São Paulo) e a

UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

18

1.5 Relevância do Estudo

A inovação tecnológica é condição essencial para o desenvolvimento de

produtos ou processos capazes de disputar o mercado global, conforme dissemos

no início desta pesquisa. Este estudo apresenta casos onde é possível verificar a

participação de cientistas e engenheiros de alto nível em atividades de pesquisa

científica e tecnológica aplicadas. O desenvolvimento destas atividades contribui,

conforme veremos, no desempenho das operações da empresa e em seu resultado

econômico mostrando que, além de ser possível, os convênios entre empresa e

universidades garantem retornos positivos para os envolvidos neste processo.

Além disso, considerando principalmente o destaque da VALE no cenário

nacional e internacional, os casos estudados, que evidenciam os tipos de ligação

que ocorrem no relacionamento da empresa com as universidades, parecem ter

maior chance de serem utilizados como referência em outros estudos e em projetos

de cooperação de mesma natureza. Esta contribuição pode representar maiores

investimentos em P&D por parte das empresas – maiores oportunidades de

desenvolvimento dos centros de pesquisas aplicadas das universidades – e, em

última instância, no desenvolvimento de nosso país.

19

2 Cooperação entre Universidades e Empresas

Esta pesquisa tem como foco as parcerias de cooperação tecnológica entre

uma grande corporação, a Companhia Vale do Rio Doce (VALE), e algumas

universidades brasileiras. Estas parcerias se dão de diferentes formas, mas esta

pesquisa tem foco naquelas que se dão através do programa corporativo que se

chama “Convênios com Universidades”.

A cooperação entre universidades e empresas foi examinada sob a ótica das

unidades de relacionamento universitárias por Gonçalves Neto (1986 e 1988),

quando foram discutidas as condições que permitiram a criação de tais unidades,

assim como suas estruturas organizacionais e níveis de atuação no Reino Unido,

isto é, no cenário europeu, em contra-ponto com o cenário americano. Através de

uma série de entrevistas com diretores dessas unidades, obteve-se uma descrição

detalhada de seus objetivos, estrutura, atividades e controle sobre a cooperação,

assim como, uma idéia inicial das principais razões para o sucesso ou fracasso das

colaborações.

Empresas e universidades procuram desenvolver este tipo de relacionamento a

fim de alcançar benefícios mútuos (Henderson et al., 2006) e é isso que

pretendemos investigar nesta pesquisa. No entanto, muitas vezes tem sido

observado que o resultado das parcerias resulta em desilusões para os profissionais

das empresas devido às diferenças próprias da abordagem dos acadêmicos frente

às consultorias tradicionais com as quais eles estão acostumados (Fassin, 2000); do

20

mesmo modo, os profissionais das universidades algumas vezes ficam frustrados,

pois o distanciamento entre as oportunidades empresariais – treinamento e

consultoria – e seus trabalhos acadêmicos faz com que suas expectativas quanto a

pesquisas não sejam atendidas (Van Dierdonck e Debackere, 1988).

Este capítulo tem por objetivo fazer uma visita a algumas pesquisas relevantes

para a discussão deste assunto:

Iniciamos esta revisão pelo assunto alianças estratégicas; afinal, diante de

tantos avanços tecnológicos, já não é possível pensar em desenvolver todo o

conhecimento necessário para a manutenção da competitividade das empresas de

forma isolada, principalmente se levarmos em consideração a dispersão causada

por um mundo cada vez mais globalizado. Estabelecer alianças é fundamental em

um cenário como este, e elas se tornam especialmente relevantes quando

estabelecidas entre a empresa e as universidades, principal berço do conhecimento

necessário para o fomento de inovações.

Em seguida, por entender que as universidades têm características próprias

que influenciarão nestas parcerias, discutimos a cultura acadêmica, assim como

uma breve visão histórica das revoluções acadêmicas recentes, e, em particular,

como estas revoluções se deram nas universidades brasileiras.

Discutiremos então a importância das alianças entre empresas e

universidades para este processo de criação de conhecimento e fomento de

inovações tecnológicas. A fim de entender como se dá o processo de cooperação

21

tecnológica entre estas instituições, vemos o que são os convênios de cooperação

universidade-empresa. Ainda a fim de entender este processo, verificamos os

tipos de cooperação entre universidades e empresas presentes nas pesquisas.

Finalmente, discutimos os principais motivadores para a cooperação universidade-

empresa e as maiores barreiras encontradas nestes processos de cooperação.

2.1 Alianças Estratégicas

“A maior mudança na cultura corporativa, e no modo

como os negócios são conduzidos, deve ser o

acelerado crescimento dos relacionamentos baseados

não em propriedade, mas em parceria” (Drucker, 1996).

Em tempos de economia global, as alianças estão se tornando mais e mais

relevantes. O número de alianças estratégicas quase dobrou nos últimos dez anos e

espera-se que este número cresça ainda mais no futuro (Booz Allen and Hamilton,

1997). As pesquisas americanas mostram números de mais de vinte mil alianças no

mundo dos negócios em apenas dois anos e um crescimento das alianças nos

Estados Unidos de 25% ao ano desde 1997 (Farris, 1999). Uma pesquisa publicada

no Electronic Business mostrou que 80% das empresas da indústria de eletrônicos

desenvolvem alianças estratégicas e a maioria delas está negociando extensões aos

seus acordos (Vyas et al., 1995).

O potencial das alianças estratégicas é enorme e, se implementadas

corretamente, alguns autores defendem que elas podem melhorar agressivamente

22

os resultados operacionais das empresas e sua competitividade (Elmuti et al., 2005).

As empresas estão formando alianças para obter ou desenvolver tecnologia, para

ganhar acesso a mercados específicos, para reduzir riscos políticos e financeiros e

para alcançar ou assegurar vantagens competitivas (Wheelen e Hungar, 2000).

Empresas e universidades americanas têm formado alianças estratégicas com

a intenção de realizar programas de pesquisas cujos resultados possam resolver

problemas práticos do mundo de negócios (Wheelen e Hunger, 2004). Cada vez

mais encontramos um maior número de cientistas das universidades públicas ou

privadas envolvidos em acordos comerciais com empresas. Estes relacionamentos

têm oferecido benefícios para ambas as partes envolvidas e são encorajadas por

diversas políticas públicas (Ervin et al., 2002).

2.2 A Cultura Acadêmica

Quando falamos sobre a cultura acadêmica, o que queremos realmente discutir

é o papel da universidade na sociedade moderna e, em particular, na sua relação

com a sociedade e com as “coisas práticas” do mundo corporativo. Surge então uma

questão subjetiva associada a esta problemática cultural, que se refere ao papel

“científico” da universidade, a partir do qual a ciência encontra seu fim em si mesma,

deixando de lado a questão prática. Como isto é um paradigma da cultura

acadêmica, a discussão sobre esta questão é sempre evitada (Brown, 1985;

Etzkowitz, 1989; McMillan et al., 2000). De acordo com este paradigma, o único

propósito da pesquisa acadêmica é a criação de conhecimento, independente de

23

qualquer aplicação prática (Ndonzuau et al., 2002). Segundo estes autores este

paradigma reconhece apenas duas maneiras de fazer a difusão do conhecimento:

i) Publicações (livros, artigos, conferências, etc.): que contribuem com o

processo coletivo e cumulativo de produção de conhecimento;

ii) Educação: que oferece aos estudantes a oportunidade de aprender as

mais recentes descobertas científicas.

De acordo ainda com esta concepção, a pesquisa acadêmica é claramente um

bem público (Callon, 1994). Este paradigma tem contribuído para um sistema de

valores no qual a academia se opõe à utilização da pesquisa acadêmica para as

aplicações desejadas com as parcerias estratégicas entre universidades e

empresas. Será importante levarmos esta questão em consideração quando mais à

frente discutirmos os tipos de interação entre empresas e universidades e tentarmos

entender se um determinado relacionamento com a empresa é uma parceria da

universidade como instituição ou de seus pesquisadores em iniciativas quase que

independentes (Ndonzuau et al., 2002). Precisamos ressaltar que a cultura

acadêmica é sim uma das razões para o distanciamento entre empresas e

universidades, conforme discutido pelos autores acima, mas também que existem

outras razões, como os diferentes sistemas de recompensas na empresa e na

universidade e diferentes horizontes de tempo para alcance dos resultados

(Gonçalves Neto, 1986).

24

2.2.1 As Revoluções Acadêmicas

“A primeira revolução acadêmica aconteceu no final do

século XIX e início do século XX, quando a pesquisa

acadêmica tornou-se uma função legítima da

universidade. Embora o termo ‘universidade’ tenha sido

utilizado desde o período medieval em referência às

instituições que cuidavam da preservação e

transmissão do conhecimento, a universidade moderna

pode ser descrita pelo modelo de Humboldtian que

enfatiza a interconexão entre ensino e pesquisa, a

universidade e o Estado” (Etzkowitz, 2004).

Segundo o autor, a universidade que tinha por fim ensino e pesquisa emergiu

da junção destas atividades – que antes eram executadas por faculdades e

sociedades científicas respectivamente, e separadamente – em uma única

instituição nos principais países europeus e Estados Unidos.

As universidades americanas foram afetadas de uma maneira muito particular

pela primeira revolução pois, como havia escassez de fundos para pesquisa, o

próprio corpo docente das escolas se viu diante da necessidade de usar a

criatividade para angariar os fundos necessários para os seus trabalhos e, devido a

isso, os professores ganharam autonomia. O novo desafio para as universidades era

responder à queda da oferta de recursos, e para isso precisariam se tornar seletivas

e redefinir seus objetivos estratégicos. Daí a necessidade de reestruturação da

25

universidade para o novo ambiente, com a criação de estruturas organizacionais

adequadas ao fortalecimento da atuação em redes e à comercialização dos

resultados de sua pesquisa além do aumento da oferta de treinamento (Webster,

1994). O desempenho individual dos professores criou uma nova forma de

organização nas universidades que premiavam e estabeleciam poder àqueles que

mais fundos conseguiam levantar. As atividades de busca por suporte para pesquisa

determinavam a evolução da carreira dos acadêmicos, responsáveis pela obtenção

dos fundos para este fim, e resultaram no aparecimento da figura do empreendedor

acadêmico, papel fundamental naquilo que viria a ser a segunda revolução

acadêmica (Etzkowitz, 2004). Tais dificuldades para conseguir levantar fundos

ocorriam claramente também nas universidades européias (Gonçalves Neto, 1986).

Inicialmente, as pesquisas básicas realizadas pelas universidades tinham

pouca possibilidade de aplicação nas empresas (algumas exceções eram

encontradas na agricultura; vide Etzkowitz, 2004) e alguns autores defendiam que o

sistema acadêmico não seria modificado em suas características e funções básicas;

haveria apenas uma acomodação (Peters, 1987). Mas, conforme evidências

apresentadas na pesquisa de Gonçalves Neto (1986), mudanças significativas já

estavam acontecendo nas universidades européias ainda nestes anos 80.

Segundo Etzkowitz, ao longo do século XX este modelo foi sendo

transformado, de modo que o desenvolvimento de pesquisas aplicadas em diversas

áreas tornou-se uma conseqüência natural de causas internas e externas:

necessidade de produção de conhecimento com resultados práticos que fossem

capazes de financiar as pesquisas básicas, e demanda externa por maior utilidade

26

nas pesquisas financiadas com recursos públicos. A partir do desenvolvimento de

pesquisas aplicadas, relacionamentos entre universidades e empresas foram sendo

estabelecidos. Nas últimas décadas do século XX as oportunidades para o

empreendedorismo científico se multiplicaram.

A transferência de conhecimento através das publicações e das atividades de

ensino foi sendo superada por mecanismos formais que não só empacotaram

soluções de tecnologia aplicada, mas também desenvolveram seu potencial

comercial. Entre estes mecanismos são citados: o estabelecimento de novos

arranjos institucionais – complexos e multilaterais – como as instituições criadas

entre universidade, indústria e governo; as políticas de Ciência e Tecnologia (C&T);

e as novas ementas acadêmicas que incluem disciplinas que tratam do assunto

(Anprotec, 2006). Ainda segundo este estudo, nos últimos anos surgiram diversas

oportunidades, não só para o estabelecimento de parcerias estratégicas entre

universidades e empresas, mas também para investidores interessados no fomento

de inovações tecnológicas.

As pesquisas de Etzkowitz apresentam um modelo de evolução das

oportunidades de relacionamento entre universidades e o mundo empresarial que

começa com as interações entre grupos de pesquisas e as empresas, passa por um

escritório para prestação de serviços pelas universidades às empresas, evoluindo

para a utilização de um escritório para administrar diretos autorais, chegando às

incubadoras de negócios, ambos responsáveis por grande parte dos spin-offs

acadêmicos4 das universidades hoje em dia.

4 Spin-off acadêmico: É uma empresa criada para explorar uma propriedade intelectual gerada a partir de uma pesquisa desenvolvida em uma instituição acadêmica. Algumas características

27

Os conceitos deste modelo de evolução já haviam sido discutidos por

Gonçalves Neto (1986 e 1988) em suas pesquisas e foi desenvolvido por outros

autores nos anos seguintes. Etzkowitz (2004) apresentou o modelo a seguir (figura

1).

Figura 01: Evolução dos relacionamentos entre universidades e empresas

Fonte: Etzkowitz (2004)

O acesso direto a grupos de pesquisas permite desde a participação de

estudantes em pesquisas aplicadas nas empresas até trabalhos empreendedores de

pesquisadores da academia, podendo ainda viabilizar a contratação destes

estudantes e pesquisadores pela própria empresa. O estágio seguinte é a criação de

um escritório para prestação de serviços, que assume a responsabilidade por

organizar as interações entre departamentos de pesquisa e empresas interessadas

nas pesquisas, possibilitando contratos de consultoria e pesquisa. Todo este esforço

resulta no empacotamento de soluções de tecnologia e, conseqüentemente, torna-

se necessário a criação de regras para transferência deste conhecimento. Surge importantes são: empresas que se originam em Universidades; empresas que irão explorar inovações tecnológicas, patentes e, também, o conhecimento acumulado por indivíduos durante atividades acadêmicas; empresas que são independentes das Universidades-mãe e que têm fins lucrativos; empresas fundadas por pelo menos um membro da Universidade (professor, estudante ou funcionário) (Araújo et al., 2005).

28

então um escritório de transferência de tecnologia dedicado a identificar, patentear,

ofertar ao mercado e licenciar a propriedade intelectual destas soluções. Finalmente,

conhecimento e tecnologia dão origem a uma nova empresa que é criada a partir da

universidade por um empreendedor; a criação de empresas a partir de pesquisas

acadêmicas foi uma atividade informal durante anos até que, por conta da oferta de

capital de risco para o fomento destas empresas, as universidades criaram

incubadoras de negócios para dar suporte e estrutura a estes novos

empreendimentos. As incubadoras, que surgiram no início da década de 80, estão

presentes atualmente em quase todas as principais universidades do mundo, e

estão cada vez presentes, com casos de sucesso, em países em desenvolvimento

como Brasil, Coréia do Sul, Índia e China (Etzkowitz, 2002). Segundo pesquisa da

Anprotec (2006), os números apontam um crescimento rápido do número de

incubadoras no Brasil: em 1995 tínhamos 27 incubadoras; em 2000, 135 (sendo 62

na região sudeste, 50 na região sul e 23 nas demais regiões); e em junho de 2006

tínhamos 359 (127 na região sudeste, os mesmos 127 na região sul e 105 nas

demais regiões).

A exemplificação do modelo apresentado acima está no surgimento, nos anos

80, de um novo paradigma científico que diminuiu a distância entre inovação e

aplicação tecnológica; o papel das universidades líderes foi fundamental, pois elas

apresentaram ótimos resultados na busca de novas formas organizacionais para

aproximar universidades e empresas; a necessidade de interdisciplinaridade para as

soluções dos problemas das empresas e indústrias levou à intensificação das

interações entre diversos atores e à estruturação de redes (Callon, 1992;

Leydesdorff e Etzkowitz, 1997).

29

Hoje em dia, o uso de alta tecnologia em áreas como biologia e bioquímica

passaram a ser o centro das atenções das pesquisas aplicadas. No entanto, áreas

de pesquisa tradicionais como engenharia e geologia – áreas intimamente ligadas

aos negócios da empresa estudada – mantiveram seus vínculos históricos com as

empresas em seu setor (Etzkowitz e Peters, 1991).

Com o conteúdo aportado pelas pesquisas citadas, podemos dizer que a

segunda revolução acadêmica está relacionada à incorporação do desenvolvimento

econômico e social, regional ou nacional, aos objetivos fins das universidades. No

entanto, é importante lembrar que as revoluções citadas – a primeira e a segunda –

não afetaram as universidades de modo homogêneo e tampouco são

universalmente aceitas (Nelson e Rosenberg, 1993; Leydesdorff e Etzkowitz, 1997).

2.2.2 As Revoluções Acadêmicas nas Universidades Brasileiras

Embora discutir as revoluções acadêmicas faça todo sentido quando falamos

de países europeus e Estados Unidos, entre outros, é necessário observar algumas

especificidades das universidades da América Latina, onde há diversos casos em

que sequer há pesquisa, há apenas ensino (Brisolla et al., 1997). A maior

contribuição destas revoluções para as instituições latino-americanas está na

formação de recursos humanos, principalmente com a participação de empresas

estatais que atuam nos setores tecnologicamente mais avançados e com melhor

dotação de recursos financeiros e humanos (Vessuri, 1994).

30

O modelo brasileiro do empreendedorismo acadêmico pode ser visto como uma

síntese dos modelos europeu e americano. O empreendedor acadêmico surge aqui

a partir de uma estratégia de sobrevivência diante dos cortes nos fundos de

pesquisa no início dos anos 80. Apenas em meados da década de 90 as pesquisas

científicas passaram a fazer parte da missão das universidades brasileiras e os

esforços para a mudança de cultura necessária diante do novo desafio foram

grandes. O modelo de incubadoras de negócios foi importado dos Estados Unidos,

mas foi significativamente adaptado para endereçar problemas sociais e econômicos

(Etzkowitz, 2004). Durante aqueles estudos de Etzkowitz (2004), onde se via

negócios de alta tecnologia no modelo americano, no Brasil se via o fomento de

negócios de prestação de serviços com baixo uso de tecnologias modernas.

Em estudos posteriores, Etzkowitz, Mello e Almeida (2005) mostraram que,

apesar do fomento de negócios de prestação de serviços com baixo uso de

tecnologias modernas, associações de governo, universidades e indústria

combinaram estes objetivos de baixo uso de tecnologias com um modelo de

incubadoras de alta tecnologia em um formato misto. Seus estudos mostraram que

este movimento de incubadoras tecnológicas foi aplicado também a ONG5, grupos

culturais e artísticos, combinando alta tecnologia às necessidades de combate à

pobreza. Como era de se esperar, ainda segundo estes autores, as universidades

lideraram estas incubadoras de alta tecnologia.

5 ONG: Organizações Não Governamentais (ou também chamadas de organizações não governamentais sem fins lucrativos), também conhecidas pelo acrônimo ONG, são associações do terceiro sector, da sociedade civil, que se declaram com finalidades públicas e sem fins lucrativos, que desenvolvem ações em diferentes áreas e que, geralmente, mobilizam a opinião pública e o apoio da população para melhorar determinados aspectos da sociedade (IPEA, 2004).

31

Os estudos de Maculan et al. (2002) apresentam uma pesquisa com 103

empresas de base tecnológica (EBTs) que passaram pelo processo de incubação e

se graduaram. Estas empresas se criaram e estruturaram em torno de novas idéias

de produtos e serviços, com base em conhecimentos específicos sobre uma

determinada tecnologia, de modo que elas introduziram inovações na estrutura

industrial e conseguiram dar valor econômico a conhecimentos científicos adquiridos

na fase de estudo, lembrando que a maior fonte de geração de novos

conhecimentos foram as atividades de pesquisa. As atividades inovadoras das EBTs

são bons exemplos do empreendedorismo acadêmico no Brasil.

Deve-se ressaltar que estas revoluções acadêmicas, embora norteiem nossa

pesquisa rumo aos benefícios das interações entre universidades e empresas,

geram também alguns conflitos relevantes como os citados nas pesquisas de

Gonçalves Neto (1986) e Brisolla et al. (1997): a compatibilização das tarefas dos

pesquisadores relacionadas às interações com as empresas uma vez que continuam

suas atividades na universidade como professores; a participação acionária da

universidade nas novas empresas da incubadora criando possíveis conflitos de

interesse; o redirecionamento dos cursos de pós-graduação para atender aos

interesses de empresas; a promoção do acesso de empresas estrangeiras aos

resultados de pesquisa, em prejuízo das empresas locais.

2.3 A Importância das Alianças entre Empresas e Universidades

O papel das alianças estratégicas é fundamental no processo de inovação para

as empresas. No entanto, este processo de inovação é bastante complexo e reside

32

não só no desenvolvimento de novos produtos, ou no redesenho de processos

produtivos, mas também na criação de novos arranjos entre as esferas institucionais

que propiciem as condições para a inovação (Etzkowitz, 2003).

Sistemas de inovação são baseados em uma economia que privilegia a

inovação e o empreendedorismo (Intarakamnerd et al., 2002). Os sistemas nacionais

de inovação são sistemas de arranjos entre instituições – as agências

governamentais, as universidades e as empresas públicas e privadas (grandes ou

pequenas) – com o objetivo de fomentar a produção de Ciência e Tecnologia dentro

das fronteiras nacionais. Tais arranjos podem ser técnicos, comerciais, legais,

sociais e financeiros, tantos quanto necessários, para promover o desenvolvimento,

a proteção, o financiamento e a regulamentação sobre Ciência e Tecnologia (Niosi

et al., 1996). O foco de nossa pesquisa está nos arranjos entre empresas e

universidades conforme sugerido nos estudos de Gonçalves Neto (1986).

As novas tecnologias, cada vez mais complexas, tornam extremamente difícil

para qualquer empresa possuir as competências e os recursos necessários para

garantir o sucesso no desenvolvimento de tecnologia e comercialização de seus

produtos e serviços (Hamel e Prahalad, 1994; Woo, 2003). Conseqüentemente,

algumas empresas perceberam que as universidades podem ser os parceiros ideais

para viabilizar estes recursos e competências. É possível observar casos na

indústria onde se verifica alta correlação entre as pesquisas básicas e a criação de

novos processos e produtos (Mansfield, 1991). Há também uma forte evidência da

enorme sinergia encontrada entre a expertise acadêmica e as aplicações industriais

na área de biotecnologia (Pisano, 1990).

33

A segunda revolução acadêmica sugere a criação de alianças estratégicas

entre universidades e empresas de modo que seja possível estabelecer parcerias

para viabilizar os recursos e as competências necessárias para o desenvolvimento

das empresas. Se fosse possível sintetizar as revoluções acadêmicas discutidas

anteriormente, poderíamos dizer que os principais fins das universidades modernas

poderiam ser classificados com uma tríade: pesquisa, ensino e serviço (Santoro,

2000). O papel das universidades em pesquisas e no ensino foi discutido pelos

autores citados. Por outro lado, citamos Santoro porque queremos agora dar ênfase

ao serviço, vértice de sua tríade, que em nosso entendimento resume o novo

paradigma da segunda revolução acadêmica, e que está relacionado aos interesses

das empresas na utilização dos resultados das pesquisas aplicadas para resolver ou

superar os problemas e desafios que atualmente preocupam as empresas e que

impactam diretamente as receitas dos negócios e o bem-estar de todos os

envolvidos com as empresas (Lee, 1998).

As alianças entre empresas e universidades, além de viabilizar os recursos e as

competências necessárias para o desenvolvimento dos negócios nas empresas

através do novo paradigma derivado da universidade passar a ter o serviço à

indústria também como fim, fazem parte fundamental dos arranjos necessários para

a sustentação dos sistemas de inovação.

A literatura sobre sistemas de inovação apresenta o sistema de educação como

uma importante origem de conhecimento relevante para atividades inovadoras

(Edquist, 1997; Adeoti, 2002). A universidade é um importante elemento do sistema

34

de educação e é tomado como o agente responsável por gerar o conhecimento

científico básico e aplicado que se torna de domínio público. A indústria é não

apenas gerador de conhecimento aplicado, mas também o principal cliente do

conhecimento científico aplicado gerado em universidade ou outras instituições de

pesquisa. Enquanto as parcerias de P&D entre empresas são muito comuns em

países desenvolvidos, o foco das atividades de P&D em países em desenvolvimento

está nas universidades; de fato, as pesquisas de Adeoti (2002 e 2005) sugerem que

parcerias de P&D entre empresas e universidades são cruciais especialmente

nestes países. Parcerias de P&D para a indústria em países em desenvolvimento

dependem de alianças estratégicas entre empresas e universidades em projetos de

pesquisas específicos relevantes para a indústria. Tais alianças são determinadas

pelas restrições existentes nestes países e seu desenvolvimento será

significativamente afetado por elas (Adeoti, 2005).

Ainda segundo este autor, as deficiências de alianças entre empresas e

universidades são uma restrição facilmente identificável nos países em

desenvolvimento, e isso faz com que invenções relevantes para a indústria não

sejam de fato utilizadas. Além disso, com poucas alianças deste tipo, as pesquisas

ficam restritas ao financiamento público e, conseqüentemente, sofrem com as

limitações de recursos para P&D. Temos também a questão das empresas

multinacionais presentes nestes países, cujas subsidiárias importam tecnologia de

suas matrizes utilizando as inovações em produtos e processos desenvolvidas por lá

(Lall, 1997). Desta maneira, entendendo a importância das alianças entre empresas

e universidades, é fundamental entender que nestes países os sistemas de inovação

dependem de políticas de incentivo que ajudem as empresas locais e as

35

universidades a encontrarem interesses comuns em P&D com retornos atrativos

para ambas as instituições. O conjunto de restrições que dificultam estas alianças

em países em desenvolvimento inclui ainda, além das deficiências de alianças

apropriadas entre empresas e universidades, a infra-estrutura pobre, a falta de

fundos para investimento em pesquisa e as deficiências de capital humano (Adeoti,

2005).

2.3.1 Tipos de Cooperação Universidade-Empresa

Os convênios de cooperação tecnológica entre universidades e empresas

(cooperação U-E) destacam-se como uma das principais formas de contribuição

para os sistemas de inovação. Os diferentes tipos de cooperação têm sido

discutidos bastante na academia.

Em sua pesquisa, Noveli e Segatto (2006) enfatizam que os convênios de

cooperação tecnológica entre universidades e empresas são caracterizados como

um modelo de arranjo interinstitucional entre organizações que têm natureza

fundamentalmente distinta. Esse arranjo pode ter finalidades variadas – desde

interações tênues, como no oferecimento de estágios profissionalizantes, até

vínculos extensos e intensos, como nos grandes programas de pesquisa cooperativa

– e formatos bastante diversos (Plonski, 1994). No entanto, há a percepção de uma

maior aproximação entre os objetivos e posicionamentos distintos de empresa e

universidade, atenuando os reflexos das naturezas distintas dessas organizações

Etzkowitz (1998).

36

Ainda, a percepção da universidade enquanto agente de desenvolvimento

econômico regional se apresenta com obviedade dentro de um contexto no qual o

conhecimento tem se tornado um “ativo” cada vez mais importante, dada que essa

instituição é reconhecidamente uma fonte de geração de novos conhecimentos

(Noveli e Segatto, 2006). Canalizar fluxos de conhecimento em novas fontes de

inovação tecnológica tem se tornado uma tarefa acadêmica, mudando a estrutura e

função da universidade. A realização dos benefícios desta potencial fonte ocorre por

meio das inovações organizacionais tais como escritórios de transferência de

tecnologia, instalações de incubadora e centros de pesquisa com participação

industrial. A mudança na ênfase da concentração na produção e disseminação de

conhecimento para a transferência de tecnologia e a formação de empresas coloca

a universidade em um novo alinhamento com o setor produtivo (Etzkowitz e

Leydesdorff, 1997).

Observa-se atualmente o encurtamento dos ciclos de desenvolvimento de

produtos que demonstra que o processo de inovação caminha cada vez mais “a

passos largos”. Neste contexto, empresas, que muitas vezes não têm conseguido

apenas com recursos internos acompanhar a evolução tecnológica, têm sentido a

necessidade de desenvolverem cooperação com a universidade (Santoro, 2000).

A percepção desses novos fatores fez com que alguns dos autores que

trabalham a temática dos convênios de cooperação tecnológica entre universidades

e empresas re-visitassem seus próprios conceitos. Tal esclarecimento permitiu

imergir o estudo da cooperação entre universidades e empresas não só dentro de

modelos tradicionais de cooperação no qual se fazem necessárias instituições de

37

intermediação, encarregadas de alinhavar objetivos distintos de universidades e

empresas, mas também, trabalhar em novas dimensões: do pesquisador

empreendedor que busca não somente a extensão do conhecimento, mas também,

a capitalização do mesmo, e ainda, lançar um olhar sob a perspectiva da

universidade enquanto agente de desenvolvimento econômico regional (Etzkowitz,

1998). Segundo Etzkowitz, dentro deste contexto, percebe-se desde empresas

informais a empresas formais, passando por spin-offs, empresas tradicionais com

P&D internalizado até às empresas tradicionais que agora buscam externalizar seu

P&D e se relacionarem com a universidade. E, do lado da universidade, vislumbram-

se ambas as possibilidades, tanto do pesquisador não empreendedor, bem como, do

pesquisador que busca a capitalização do conhecimento.

Segundo Cherubini (2006), predominantemente, a cooperação entre

universidades e empresas em todo o mundo se inicia através de conferências e

publicações ou através da prestação de consultoria por parte dos professores

universitários às empresas. Segundo o autor, as relações entre indivíduos requerem

bem menos esforço do que as relações entre instituições, além de no geral serem

mais estáveis (Cherubini, 2006). Além disso, as conferências e publicações são

formas mais baratas de se ter acesso ao conhecimento acadêmico.

A cooperação universidade-empresa pode se dar por meio de diferentes

mecanismos, dependendo principalmente de seus motivadores e dos recursos

disponíveis para tal. A seguir apresentamos os principais tipos de cooperação

encontrados na literatura:

38

2.3.1.1 Conferências e publicações

Troca de informações entre profissionais da academia ou da indústria que se

dá sem o estabelecimento de relações formais entre as instituições, e que acontece

através de apresentações em congressos profissionais, congressos técnicos,

congressos acadêmicos e através de publicações científicas e de negócios (Lee e

Win, 2004).

2.3.1.2 Prestação de serviços técnicos e de consultoria

Prestação de serviços técnicos, aconselhamento e troca de informações

realizados por uma ou mais partes – departamentos, institutos, centros de pesquisa,

entre outros – das universidades. Geralmente há contratos, de curto prazo e

específicos, para formalizar a relação entre as instituições. Docentes e

pesquisadores podem ser contratados para prestar consultorias durante o tempo em

que é permitido que eles trabalhem em atividades externas (OECD, 1999).

2.3.1.3 Programa de Intercâmbio

Transferência de pessoas a fim de levar experiências e informações tanto da

indústria para a universidade quando da universidade para a indústria (Lee e Win,

2004). Segundo estes autores, para o uso adequado deste mecanismo, as

instituições devem aprovar as pessoas e os objetivos específicos do programa, a fim

de evitar os conflitos de interesses principalmente entre as pessoas.

39

2.3.1.4 Joint venture6 de P&D

Contrato de pesquisa e desenvolvimento (P&D) entre um centro de pesquisa da

universidade e uma empresa, ou grupo de empresas, no qual os custos associados

ao contrato são compartilhados conforme especificação. As duas partes envolvidas

podem trabalhar em conjunto desde o estágio de P&D até a comercialização. Deve

haver benefícios mútuos para empresas e universidades e os direitos associados ao

contrato devem estar comercialmente protegidos por um período de tempo. E deve

haver um balanceamento entre pesquisas de alto risco e longo prazo e pesquisas de

curto prazo que possam produzir resultados rapidamente (Moses, 1985).

2.3.1.5 Acordo de cooperação em P&D

Acordo entre os centros de pesquisa de uma ou mais universidades e uma ou

mais empresas no qual a universidade oferece pessoas, apoio administrativo ou

outros recursos, reembolsáveis ou não; a indústria oferece fundos, pessoas,

serviços, apoio administrativo, equipamentos e outros recursos a fim de conduzir

pesquisas específicas ou esforços de desenvolvimento consistentes com a missão

dos centros de pesquisa (Lee e Win, 2004).

2.3.1.6 Licenciamento

Transferência de direitos de propriedade intelectual da universidade para

terceiros que permite seu uso, exclusivo ou não, que é preferido pelas pequenas

6 Joint venture: consórcio ou entidade formada por duas ou mais partes para desenvolver uma atividade econômica. Ambas as partes concordam em investir em conjunto, e compartilhar receitas, despesas e o controle do empreendimento (Wikipedia, 2007).

40

empresas. Aquele que pretende adquirir estes direitos deve apresentar seu plano

para comercialização da invenção (Lee e Win, 2004).

2.3.1.7 Contrato de pesquisa

Contrato de cooperação entre um centro de pesquisa da universidade e uma

empresa a ser executado pelo centro de pesquisa. As empresas oferecem os fundos

necessários para a pesquisa e a universidade oferece seus melhores cérebros.

Contratos que costumam durar de alguns meses a alguns anos (NEDC, 1989).

Através deste contratos de pesquisa, as empresas visam utilizar o potencial único

dos centros de pesquisa em benefícios comerciais. Este é o tipo de cooperação

predominante nos casos estudados de cooperação entre a VALE e as

universidades.

2.3.1.8 Parques tecnológicos e incubadoras

Instalações em áreas específicas, normalmente próximas à universidade, onde

se instalam empresas de alta tecnologia que colaboram entre si e que recebem

assistência oficial durante seus primeiros estágios de desenvolvimento (Quintas et

al., 1992). Os principais fundos de financiamento destes mecanismos vêm de

empresas comerciais e os pesquisadores e empreendedores são oriundos tanto das

universidades quanto da indústria. É o tipo de mecanismo adotado especialmente

pelas empresas de alta de tecnologia.

41

2.3.1.9 Treinamento

Transferência de tecnologia e conhecimento através de treinamentos práticos

onde os estudantes são expostos a metodologias de trabalho requeridas pelas

indústrias. As competências das equipes em campos específicos de conhecimento

são desenvolvidas com treinamentos mais avançados. Treinamentos especiais

também são úteis para preparar os potenciais gestores das empresas em assuntos

de administração e negócios e os empregados em novas tecnologias (Gander,

1987). Muitos centros de pesquisas de universidades possuem programas de

treinamento para disseminar os resultados das pesquisas. É também uma maneira

de reduzir o risco dos centros de pesquisa que, às vezes, acompanha o

licenciamento e projetos de pesquisa.

42

2.3.2 Principais Motivadores para Cooperação U-E

As vantagens do processo de transferência de conhecimento nas cooperações

universidade-empresa caminham em ambos os sentidos, tanto da empresa para a

universidade, quanto da universidade para a empresa (Sanchez e Tejedor, 1995). As

pesquisas de Gonçalves Neto (1986) e Cherubini (2006) apresentam alguns dos

motivadores mais presentes na literatura para a cooperação universidade-empresa.

Segundo o trabalho destes autores os motivadores para as empresas seriam:

i) Acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados

(recrutamento), inclusive com treinamentos práticos ajustados às

necessidades da indústria;

ii) Acesso a uma grande variedade de treinamentos de pós-graduação,

onde os profissionais em treinamento já trazem experiência de

mercado, e onde a própria empresa ajuda a desenhar os cursos;

iii) Acesso à infra-estrutura da universidade e à expertise7 de seu staff8;

iv) Acesso à pesquisa, consultoria, base de conhecimento da universidade;

v) Melhor imagem pública da empresa junto à comunidade, fazendo com

que mais estudantes talentosos serão atraídos para a sua indústria;

vi) Obtenção de conhecimento técnico;

vii) Obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis anteriormente ou

por outros meios;

7 Expertise: trata-se daquelas características, competências e conhecimentos de uma pessoa ou de um sistema, que distingue os experientes (ou experts) dos novatos ou aqueles com menos experiência (Wikipedia, 2007). 8 Staff: usado para se referir a um grupo de pessoas, como, por exemplo, empregados ou voluntários, de uma mesma organização (Wikipedia, 2007).

43

viii) Acesso às fronteiras da ciência;

ix) Acesso às pesquisas científicas com viés preditivo;

x) Terceirização de atividades de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D);

xi) Melhoria da qualidade de seus produtos ou serviços;

xii) Carência de recursos para execução de projetos;

xiii) Cortes de custos;

xiv) Acesso a novos mercados;

xv) Melhoria de eficiência operacional.

Para as universidades estas vantagens seriam:

i) Oportunidade de acesso às necessidades do Mercado;

ii) Oportunidade de desenvolver atividades fontes de receitas através da

comercialização de serviços (consultoria) e produtos com a tecnologia

desenvolvida no projeto;

iii) Oportunidade de oferecer experiências práticas aos seus estudantes na

indústria de modo que o aprendizado em sala de aula possa estar

relacionado a casos reais de empresas;

iv) Oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

(novas idéias para dissertações de mestrado e teses de doutorado);

v) Acesso a mercados protegidos ou de difícil acesso;

vi) Exposição ao ambiente de negócios;

vii) Melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias;

viii) Criação de valor social;

ix) Desenvolvimento de novos produtos e criação de spin-offs;

x) Acesso a recursos financeiros;

44

xi) Lançamento de patentes;

xii) Curiosidade científica.

2.3.3 Maiores Barreiras para Cooperação U-E

Segundo os estudos de Cherubini (2006), o aparentemente óbvio

relacionamento entre empresa e universidades, na prática, apresenta muitas

dificuldades ainda não superadas. As principais barreiras encontradas nas

pesquisas são:

i) Diferenças de objetivo principal;

ii) Diferenças de finalidade ou foco;

iii) Diferenças estruturais;

iv) Diferenças culturais;

v) Diferenças na natureza da investigação;

vi) Burocracia da empresa;

vii) Burocracia da universidade;

viii) Baixo grau de interdisciplinaridade;

ix) Pequeno tamanho de alguns laboratórios;

x) Inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos; e

xi) Diferenças em uma perspectiva cultural.

45

2.4 Processos de Cooperação Universidade-Empresa

Vimos anteriormente os principais tipos de cooperação encontrados na

literatura, assim como os principais motivadores para esta cooperação, verificando

que a cooperação universidade-empresa pode se dar por meio de diferentes

mecanismos. Torna-se relevante também, verificar como de fato se dá o processo

de cooperação, abordagem encontrada nas pesquisas de alguns autores.

As pesquisas de Ostrom et al. (1995) e Thompson et al. (2003) discutem os

benefícios, desafios e responsabilidades dos três parceiros de cooperação –

universidade, comunidade e governo – e os três estágios do processo de

cooperação entre eles – iniciação, deliberação e implantação. Esta pesquisa foi

aplicada em um cenário do mundo real, onde as parcerias aconteciam para fomentar

ou suportar programas de desenvolvimento social em comunidades carentes dos

Estados Unidos.

Algumas pesquisas também descrevem processos de cooperação

universidade-empresa. Entre estas, a pesquisa de Gonçalves Neto (1986) descreve

o processo de cooperação entre universidades e empresas britânicas. O autor

propôs um modelo para este processo de cooperação, e por se tratar de um

processo muito semelhante, o modelo proposto pelo autor parece ser adequado

para utilizarmos na análise do programa “Convênios com Universidades” da VALE.

46

2.4.1 Modelo Conceitual para o Processo de Cooperação U-E

A pesquisa de Gonçalves Neto (1986) apresenta um modelo simples para o

processo de cooperação universidade-empresa. Segundo o modelo sugerido, as

idéias que se tornam projetos de cooperação podem ter origem tanto nas

universidades quanto nas empresas; tais idéias são avaliadas pelas empresas não

só sob a ótica comercial, mas também científica. Se as idéias têm valor comercial e

são cientificamente relevantes ou interessantes, então estas idéias deverão ser

consideradas pela empresa, isto é, as idéias se transformam em necessidades para

a empresa.

De acordo com o modelo proposto, a empresa então verifica se é possível

atender a estas necessidades com os seus recursos internos (não só pessoas, mas

também equipamentos e instalações), e verifica também quais as prioridades

atribuídas às novas necessidades. Dependendo destes dois fatores – recursos

internos e prioridades – serão tomadas as decisões de iniciar ou não projetos de

cooperação com universidades.

Para completar o processo sugerido pelo modelo, se a decisão for por iniciar

um projeto, então as idéias originais, assim como os fatores envo lvidos na decisão

pela cooperação, são examinadas com maior detalhe; se a decisão final pela

cooperação universidade-empresa for positiva, então a empresa buscará os

recursos acadêmicos adequados àquele projeto e discutirá a forma de cooperação e

os termos do acordo.

47

Gonçalves Neto (1986) desenvolveu este modelo para representar o processo

de decisão que leva à cooperação entre universidades e empresas. O modelo é

apresentado em forma de diagrama na figura 2, e será descrito com maiores

detalhes a seguir. O autor desta pesquisa espera que, a exemplo do que fez

Gonçalves Neto (1986), este modelo seja de considerável ajuda na análise dos dez

casos de cooperação entre a VALE e diferentes universidades.

Figura 02: Modelo do processo de cooperação U-E

Fonte: Gonçalves Neto (1986)

48

2.4.1.1 Origem das Idéias

Como mencionado anteriormente, as idéias de projetos de cooperação podem

ser originadas tanto nas empresas quanto nas universidades. Estas idéias que vêm

das empresas podem vir, ocasionalmente, de áreas operacionais da empresa, mas

na maioria das vezes, elas surgem do desdobramento de uma pesquisa que se

iniciou internamente (Gonçalves Neto, 1986). Ainda segundo este autor, as idéias

que nascem nas universidades são, geralmente, a continuação de algum projeto

acadêmico que o próprio acadêmico tem interesse em vê-lo se transformar numa

aplicação prática, e, em alguns casos, idéias nascem de visitas às empresas.

2.4.1.2 Análise Inicial

A primeira análise feita pela empresa (ou seu departamento de P&D) trata do

entendimento da viabilidade técnica ou científica da idéia, assim como a verificação

de seu valor comercial. Esta análise normalmente envolve uma equipe técnica e

uma equipe de gestão, e não é necessariamente um exercício exaustivo, o objetivo

é analisar a idéia frente a outras iniciativas e programas de pesquisa da empresa

(Gonçalves Neto, 1986).

2.4.1.3 Análise de Recursos

Se a idéia tem valor comercial e tem significância técnica, o próximo passo é

verificar se há recursos internos (pessoas e infra-estrutura) que possam ser

utilizados para implementar a idéia. O papel desta análise na decisão por cooperar

não é tão simples quanto pode parecer (Gonçalves Neto, 1986). Segundo o autor,

49

embora possa haver recursos disponíveis, eles podem ser necessários como

recursos para outras iniciativas que tenham maior prioridade, isto é, a análise dos

recursos internos não é uma questão apenas de existência, mas também de

disponibilidade.

Além disso, a ausência de recursos também não é por si só um indicador de

que a cooperação com universidades é a melhor alternativa: sem um mínimo de

expertise interno, a empresa não será capaz de absorver qualquer conhecimento,

tampouco passar para a universidade as informações do negócio necessárias para a

execução do projeto (Gonçalves Neto, 1986).

2.4.1.4 Prioridade

Uma vez que, do ponto de vista de recursos, a cooperação parece ser a melhor

alternativa, é necessário confrontar estas idéias com outras que já existam ou com

iniciativas dos departamentos de P&D (Gonçalves Neto, 1986). Segundo o autor,

prioridade tem mais a ver com o valor comercial da idéia, mas não apenas, pois

deve-se considerar também o alinhamento com outros interesses como os objetivos

estratégicos da empresa.

Para Gonçalves Neto (1986), as empresas preferem projetos de cooperação

com universidades quando a prioridade do projeto é baixa. Além disso, segundo o

autor, esta decisão leva também em consideração o risco científico do projeto uma

vez que as universidades estão mais preparadas para lidar com idéias que tratem de

fronteiras do conhecimento, e, ainda, o interesse acadêmico no projeto uma vez que

50

a empresa acredita que a comunidade acadêmica é mais entusiasmada com

projetos que promovam oportunidades como a publicação de artigos e a oferta de

estudos de casos para o ensino.

2.4.1.5 Motivadores para Cooperação

O terceiro conjunto de fatores importantes para a cooperação são os

motivadores para a cooperação, que são aqueles fatores que não estão

relacionados à cooperação universidade-empresa especificamente, mas que afetam

a decisão pela cooperação, isto é, são fatores que fazem da cooperação

universidade-empresa uma “boa coisa a ser feita” (Gonçalves Neto, 1986). Na seção

2.3.2 foram apresentados os principais motivadores na empresa para cooperação

universidade-empresa encontrados na literatura.

2.4.1.6 Recursos Acadêmicos

Quando as idéias surgem nas universidades, é possível esperar que os

acadêmicos certos para executar aquele projeto já sejam conhecidos. Mas quando a

idéia surge na empresa, Gonçalves Neto (1986) ainda sugere em seu modelo que

ainda há mais uma etapa importante antes de se decidir pela cooperação: encontrar

os recursos acadêmicos adequados para aquele projeto. Esta procura, segundo o

autor, é normalmente feita através da própria rede de relacionamento dos

profissionais da empresa, mas, em alguns casos, recorre-se aos escritórios que as

próprias universidades costumam ter com o propósito de tratar as parcerias de

cooperação com empresas. Aliás, é importante ressaltar que Gonçalves Neto (1986)

51

destaca, em sua pesquisa, os escritórios das universidades que funcionam como

intermediários na cooperação entre as universidades e as empresas.

2.4.1.7 Participação Acadêmica

A participação acadêmica no processo de decisão pelo projeto de cooperação

até este ponto é muito pequena, só então os acadêmicos são perguntados sobre o

interesse pela oportunidade de cooperação (Gonçalves Neto, 1986). Esta análise

por parte dos acadêmicos, segundo o autor, se resume a análise dos benefícios que

a cooperação pode trazer para a universidade. Na seção 2.3.2 foram apresentados

os principais motivadores nas universidades para cooperação universidade-empresa

encontrados na literatura.

2.4.1.8 Projeto de Cooperação Universidade-Empresa

Finalmente, segundo o modelo sugerido por Gonçalves Neto (1986), o estágio

de decisão pode ser visto como um processo bem estruturado, e todos os aspectos

acima parecem contribuir com a decisão. No entanto, circunstâncias particulares

fazem com que, às vezes, algum destes fatores tenha muito maior influência na

decisão que os demais, alterando inclusive a seqüência de decisões do processo.

52

2.5 Resumo da Revisão Bibliográfica

O processo de análise dos resultados da pesquisa – vide metodologia mais

adiante – inclui o entendimento do significado de cada entrevista, apontando pontos

que chamaram a atenção e, por fim, atribuindo a cada categoria levantada na

revisão bibliográfica os dados encontrados nas entrevistas. Por isso, apresentamos

no quadro abaixo um resumo da revisão bibliográfica para posterior referência na

análise dos resultados – vide quadro 1.

Quadro 01: Resumo da Revisão Bibliográfica

Categorias Autores

Alianças Estratégicas Drucker (1996) Elmuti et al. (2005) Wheelen e Hunger (2004)

As Revoluções Acadêmicas e a Universidade Brasileira

Gonçalves Neto (1986) Etzkowitz (1998) Etzkowitz (2004) Etzkowitz, Mello e Almeida (2005) Noveli e Segatto (2006)

Os Tipos de Cooperação entre Universidades e Empresas

Edquist (1997) Adeoti (2002 e 2005) Lall (1997) Sanchez e Tejedor (1995) Cherubini (2006) Lee e Win (2004)

Os Principais Motivadores para Cooperação

Gonçalves Neto (1986) Sanchez e Tejedor (1995) Cherubini (2006)

As Maiores Barreiras para Cooperação Cherubini (2006)

Modelo Conceitual para o Processo de Cooperação U-E Gonçalves Neto (1986)

53

A descrição dos casos de cooperação da pesquisa de Gonçalves Neto (1986)

se dá conforme um novo conjunto de categorias de análise dos resultados,

inspiradas no modelo sugerido pelo autor – apresentado na seção 2.4.1. Os casos

estudados do programa “Convênios com Universidades” são descritos com a mesma

estruturação; estas novas categorias estão apresentadas a seguir no quadro 2.

Quadro 02: Categorias para Análise dos Casos Estudados

Categorias Observações

Contexto do projeto

Qual o assunto do projeto e quais as áreas (da empresa e da universidade) envolvidas Qual a idéia que originou o projeto e de onde surgiu esta idéia Como é o contrato de cooperação

Natureza do projeto

Como foram realizadas a análise inicial e a análise de recursos Qual o grau de risco (complexidade do projeto e significância do investimento) do projeto para a empresa e para as universidades Qual a importância do projeto para a empresa e para as universidades Qual o tipo de cooperação U-E

Urgência do projeto Qual a prioridade do projeto para a empresa e para as universidades

Motivadores para cooperação Quais os motivadores para a cooperação para a empresa e para as universidades

Equipe do projeto Quais as características das equipes (e demais recursos, se for o caso) do projeto pela empresa e pelas universidades

As principais características de cada categoria apresentada no quadro 2 estão

descritas na coluna observações. Os quadros seguintes contêm os valores

encontrados na literatura para algumas das categorias apresentadas nos quadros

acima e são adaptações dos quadros apresentados pelos diversos autores

54

envolvidos na revisão de literatura. Estes valores contribuem com a análise dos

resultados da pesquisa uma vez que os dados encontrados nas entrevistas serão

confrontados com a literatura.

Quadro 03: Tipos de Cooperação U-E

Tipos de cooperação

Conferências e publicações

Prestação de serviços técnicos e de consultoria

Programa de Intercâmbio

Joint venture de P&D

Acordo de cooperação em P&D

Licenciamento

Contrato de pesquisa

Parques tecnológicos e incubadoras

Treinamento

Quadro 04: Principais Motivadores da Empresa para a Cooperação

Motivadores

Acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados, inclusive com treinamentos práticos ajustados às necessidades da indústria

Acesso a uma grande variedade de treinamentos de pós-graduação, onde os profissionais em treinamento já trazem experiência de mercado, e onde a própria empresa ajuda a desenhar os cursos

Acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu staff

Acesso à pesquisa, consultoria e dados da base de conhecimento da universidade

Melhor imagem pública da empresa junto à comunidade onde ela atua, fazendo com que mais estudantes talentosos serão atraídos para a sua indústria

Obtenção de conhecimento técnico

Obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis anteriormente ou por outros meios

55

Motivadores

Acesso às fronteiras da ciência

Acesso às pesquisas científicas com viés preditivo

Terceirização de atividades de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D)

Melhoria da qualidade

Carência de recursos para execução de projetos

Cortes de custos

Acesso a novos mercados

Melhoria de eficiência operacional

Quadro 05: Principais Motivadores da Universidade para Cooperação

Motivadores

Oportunidade de acesso às necessidades do Mercado

Oportunidade de desenvolver atividades fontes de receitas através da comercialização de serviços (consultoria) e produtos com a tecnologia desenvolvida no projeto

Oportunidade de oferecer experiências práticas aos seus estudantes na indústria de modo que o aprendizado em sala de aula possa estar relacionado a casos reais de empresas

Oferecer acesso da indústria tanto à ciência básica quanto a pesquisas aplicadas

Acesso a mercados protegidos ou de difícil acesso

Exposição ao ambiente de negócios

Melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias

Criação de valor social

Desenvolvimento de novos produtos e criação de spin-offs

Acesso a recursos financeiros

Lançamento de patentes

Curiosidade científica

56

Quadro 06: Maiores Barreiras para a Cooperação

Barreiras

Diferenças de objetivo principal

Diferenças de finalidade ou foco

Diferenças estruturais

Diferenças culturais

Diferenças na natureza da investigação

Burocracia da empresa

Burocracia da universidade

Baixo grau de interdisciplinaridade

Pequeno tamanho de alguns laboratórios

Inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos

Diferenças em uma perspectiva cultural

O resumo da revisão bibliográfica e os quadros apresentados, assim como o

modelo de referência apresentado, foram utilizados como referencial para

construção dos roteiros de entrevistas apresentados no Anexo I – itens A e B.

57

3 Metodologia

O estudo se baseou na metodologia de estudo de casos múltiplos, de natureza

exploratória e qualitativa, e teve como instrumento de coleta de dados, roteiros de

entrevista semi-estruturados e dados documentais. Utilizou-se análise de conteúdo

dos dados obtidos nas entrevistas, bem como análise documental dos dados

secundários e desenvolveu-se a síntese de cruzamento dos casos. A pesquisa de

campo foi realizada com empregados da Companhia Vale do Rio Doce (VALE) e

pesquisadores das universidades envolvidas nos casos estudados – UFPA

(Universidade Federal do Pará), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),

UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), USP (Universidade de São Paulo) e

UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) – e compreendeu a seleção de dez

convênios da empresa com universidades cujos resumos estão apresentados no

Anexo II da pesquisa.

3.1 Tipo de Pesquisa

O método escolhido para conduzir o presente trabalho foi o da pesquisa

qualitativa. A pesquisa qualitativa é, de acordo com Goodyear (2000):

i) uma tentativa de capturar o sentido que reside internamente e que

estrutura o que dizemos sobre o que fazemos;

ii) uma exploração, uma elaboração e uma sistematização do significado

de um fenômeno identificado;

58

iii) uma representação que clarifica o significado de uma questão ou

problema delimitado.

Creswell (2003) explica a abordagem qualitativa como emergente,

interpretativa, interativa e normalmente realizada através de observações ou

entrevistas com questões abertas, no local de trabalho ou residência do

entrevistado.

Apesar da diversidade de abordagens, encontram-se alguns pontos comuns

entre as pesquisas qualitativas normalmente realizadas (Goodyear, 2000):

i) o uso de pequenas amostragens, não sendo incomum amostras

inferiores a 20 entrevistados;

ii) as amostragens não probabilísticas, sendo o resultado desprovido de

confiabilidade de estatística;

iii) as entrevistas não direcionadas, sendo a discussão de grupo e a

entrevista em profundidade os seus métodos fundamentais de coleta de

dados;

iv) o pesquisador participante, uma tendência abertamente reconhecida na

pesquisa qualitativa, na qual os pesquisadores são parte dos dados;

v) os dados acessíveis, já que o uso de linguagem cotidiana torna as

pesquisas qualitativas mais acessíveis aos não-pesquisadores do que

as pesquisas quantitativas.

59

Mas para a classificação do tipo de pesquisa a ser realizada, também será

utilizada a taxionomia de Vergara (2006), que a classifica quanto aos fins e quanto

aos meios. Quanto a seus fins, este estudo pode ser entendido como:

i) uma pesquisa exploratória: na medida em que será realizada em uma

área em que ainda não há grande conhecimento acumulado e

sistematizado. Sendo assim, este trabalho não apresenta hipóteses,

sendo as conclusões esperadas para o final da pesquisa;

ii) uma pesquisa descritiva: uma vez que expõe características de uma

determinada empresa e seus empregados, sem necessariamente tentar

explicar os seus fenômenos.

Quanto aos meios investigativos, o presente trabalho pode ser entendido como:

i) um estudo de caso: circunscrito a uma única empresa que será

estudada em profundidade e detalhamento;

ii) uma pesquisa de campo: já que será realizado no ambiente da

empresa e universidades, onde serão realizadas as entrevistas com

objetivo de compreensão da cultura, práticas e valores organizacionais;

iii) uma pesquisa bibliográfica: já que faz uso – na fundamentação teórica

e na descrição da empresa – de materiais publicados em livros,

dissertações, teses, revistas, jornais e Internet.

60

3.2 Universo, Amostra e Seleção de Sujeitos

A definição do universo de pesquisa determina o conjunto de elementos

(empresas ou projetos ou pessoas, por exemplo) que possuem características que

serão objeto de estudo (Vergara, 2006). O estudo foi realizado em uma única

empresa: a Companhia Vale do Rio Doce (VALE) – empresa brasileira com

presença global, segunda maior mineradora diversificada do mundo (DNPM, 2007),

com sede no Rio de Janeiro e com operações nas mais diversas localidades do

Brasil e do mundo, embora predominantemente nos estados de Minas Gerais e

Pará; e o universo do estudo proposto é constituída da carteira de projetos de

cooperação tecnológica do programa corporativo chamado “Convênios com

Universidades”. Este programa conta atualmente com quarenta e três projetos em

sua carteira.

A empresa foi escolhida tendo em vista:

i) o acesso do autor da pesquisa aos diretores da empresa;

ii) o acesso do pesquisador aos envolvidos nos convênios com

universidades;

iii) o reconhecimento público da contribuição econômica e social do

trabalho que é realizado pela companhia. A empresa acumula diversos

prêmios de desempenho corporativo e relacionamento com a

comunidade.

61

Quanto à amostra, trata-se de uma parte deste universo, escolhida de acordo

com algum critério de representatividade (Vergara, 2006). A amostra pesquisada é

de dez projetos de cooperação tecnológica escolhidos dentre o universo de 43

projetos. Para a seleção da amostra foram utilizados os seguintes critérios:

i) Estarem entre os maiores convênios em valor financeiro;

ii) Serem projetos recentes (ainda em andamento, ou finalizado a partir do

ano de 2005);

iii) Possuírem temas distintos;

iv) Haver no máximo três projetos de uma mesma universidade;

v) Haver pelo menos dois projetos da Região Norte ou Nordeste do país,

onde se concentram algumas operações da empresa;

vi) Haver meios viáveis (entrevista presencial ou por telefone) de contatar

pelo menos um dos principais envolvidos no projeto (ou o envolvido da

empresa, ou o da universidade, ou ambos).

Diante do critério de diversidade regional escolhido acima, as universidades

envolvidas com os projetos da amostra foram UFPA, UFRJ, UFOP, USP e UFMG.

No que tange a seleção de sujeitos para o processo de pesquisa, algumas

escolhas foram feitas pelo pesquisador (delimitando os diferentes atores envolvidos

nos convênios selecionados, de forma a aproveitar ao máximo seus conhecimentos)

e outras foram sugeridas pelo coordenador do programa. Para cada um dos dez

projetos selecionados para amostra foram escolhidos: um envolvido no projeto pela

empresa, sendo este o ponto focal do projeto na empresa; e um envolvido no

projeto pela universidade, normalmente o principal pesquisador ou líder da

62

equipe de pesquisa do projeto. Diante da oportunidade e da relevância foram

entrevistados também: o coordenador do programa “Convênios com Universidades”;

e o executivo responsável pelo programa.

Foram realizadas vinte e duas entrevistas, pessoalmente ou por telefone,

envolvendo visitas aos escritórios de Belo Horizonte e São Luís da VALE, e aos

campi das universidades envolvidas.

3.3 Coleta de dados

Para este trabalho, cuja primeira etapa foi de investigação documental, foram

pesquisados o website corporativo, as matérias publicadas pela mídia (jornais e

revistas) e os press-releases divulgados à imprensa nos últimos cinco anos.

Posteriormente conduziu-se uma pesquisa de campo, caracterizada por uma

abordagem qualitativa. Foram realizadas, pessoalmente ou por telefone, no próprio

local de trabalho dos entrevistados, vinte e duas entrevistas, que seguiram pautas

semi-estruturadas de forma a capturar aspectos que surgissem naturalmente e a

reduzir a interferência do pesquisador no levantamento das questões relevantes da

perspectiva dos próprios entrevistados.

As entrevistas foram individuais, ocorreram nos meses de março, abril e maio

de 2007, e tiveram duração aproximada de sessenta minutos. As entrevistas não

foram gravadas, pois esta foi uma condição imposta pela empresa para autorizar as

entrevistas com os seus empregados. Os registros das entrevistas foram realizados

por meio de anotações feitas pelo entrevistador. Os nomes dos entrevistados foram

63

omitidos (nos resumos dos casos são apresentadas apenas algumas iniciais dos

entrevistados para orientação e referência do autor da pesquisa) e a

confidencialidade assegurada ao início de cada conversa. Nestas entrevistas,

procurou-se adotar um estilo clínico e não-diretivo (Goodyear, 2000), na medida em

que o entrevistador tentou minimizar sua presença e impacto sobre o respondente.

Nesta abordagem, as regras básicas propostas por Goodyear (2000) foram

seguidas: não foram feitas perguntas que sugerissem respostas; não foram feitas

perguntas ambíguas; não foram atribuídos acertos ou erros às respostas; não foi

emitida opinião por parte do entrevistador.

3.3.1 Roteiros de Entrevista

Conforme já mencionado, os dados foram coletados através de entrevistas

individuais. Para a realização das entrevistas, foram utilizados dois roteiros semi-

estruturados (Anexo I – itens A e B) em forma de questionários, elaborados para dar

suporte ao entrevistador e de modo a cobrir os pontos relacionados ao referencial

teórico e às perguntas da pesquisa.

Ambos os roteiros apresentam as questões necessárias ao mapeamento dos

tipos de interação entre a empresa pesquisada e as universidades envolvidas além

dos principais motivadores e maiores barreiras de acordo com os conceitos

levantados na revisão bibliográfica. As diferenças entre os itens A e B surgiram da

necessidade de adaptar o questionário quando o entrevistado era um empregado ou

prestador de serviços da VALE ou um professor, pesquisador ou aluno de uma das

universidades envolvidas.

64

3.4 Metodologia para Análise de Resultados

As premissas propostas por Creswell (2000) em seu trabalho de metodologia

da pesquisa são referências para este estudo de caso. Segundo o autor, o

pesquisador deve: manter sempre o senso do todo, lendo todas as anotações feitas

durante as entrevistas cuidadosamente; entender o significado de cada entrevista,

apontando pontos que chamaram a atenção; e, por fim, atribuir a cada categoria

levantada na revisão bibliográfica os dados encontrados nas entrevistas.

A documentação e a análise do conteúdo dos dez projetos que compuseram os

estudos de caso da pesquisa foram realizadas seguindo a metodologia desenvolvida

por Gonçalves Neto (1986) e apresentada na revisão de literatura desta pesquisa.

As categorias para análise adicionadas à pesquisa segundo esta metodologia

incluem: contexto do projeto, natureza do projeto, urgência do projeto, motivadores

para cooperação, e equipe do projeto.

Importante mencionar que, não houve uma etapa quantitativa em nossa análise

e, conseqüentemente, nenhum tratamento estatístico para ser feito com os dados

levantados. Apresentamos, entretanto, tabelas com o conteúdo das entrevistas

realizadas, resultado do uso da metodologia descrita acima.

65

3.5 Limitações do Método

Todo método de pesquisa possui vantagens e desvantagens, pontos fortes e

fracos. Portanto, a metodologia qualitativa utilizada apresenta fragilidades em

algumas etapas, mas também justificativas para seu uso, características que

precisam ser levantadas e, na medida do possível, contornadas pelo pesquisador.

Para Creswell (2003), as entrevistas em profundidade apresentam vantagens –

os participantes podem fornecer informações históricas sobre o tema investigado e o

pesquisador pode conduzir a entrevista, controlando o levantamento das

informações – mas também apresentam algumas desvantagens:

i) As informações podem ser filtradas através da visão do entrevistador;

ii) A presença do entrevistador pode gerar viés às respostas;

iii) As pessoas não são igualmente articuladas e perceptivas, sendo a

performance em entrevistas distinta a cada entrevistado.

Para Blake e Mouton (1982), Bass (1990) e Aaker, Kumar e Day (1998), apud

Hilal (2002), tratam-se de limitações da pesquisa qualitativa:

i) As entrevistas semi-estruturadas requerem habilidade por parte do

entrevistador para estabelecer empatia e credibilidade com o

entrevistado;

ii) As entrevistas estruturadas podem apresentar problemas quanto ao

registro das informações fornecidas pelos respondentes,

66

especificamente no caso em que as entrevistas não podem ser

gravadas;

iii) Quanto às pesquisas qualitativas em geral, os resultados de pequenas

amostras podem não ser representativos da população como um todo;

iv) Tipicamente, as pesquisas qualitativas contêm uma considerável dose

de ambigüidade nos seus resultados, permitindo interpretações

subjetivas por parte do pesquisador;

v) Por não existir um sistema de comunicação validado consensualmente,

os resultados da análise podem ser desvirtuados pelas próprias

concepções do pesquisador;

vi) O pesquisador acaba por ter de utilizar-se de sua intuição e experiência

para trazer à tona informações e dimensões vitais;

vii) As atitudes do entrevistador durante a entrevista podem influenciar os

resultados.

Mas torna-se necessário, fazer algumas outras ressalvas e considerações em

relação a este estudo de forma genérica:

i) Quanto maior o envolvimento e participação maior é a oportunidade de

enriquecimento do estudo. Em decorrência de uma limitação de tempo,

e dada à complexidade da tarefa de mapeamento, este estudo não se

propõe a esgotar a análise dos convênios com universidades da

empresa pesquisada, que está permanentemente em evolução;

ii) Este estudo pode ser replicado, mas há uma dificuldade de

generalização, já que não podermos afirmar que os resultados desta

67

pesquisa valem para outras organizações (ou mesmo para esta

organização em um outro momento histórico) já que se trata de um

estudo de caso, com foco em uma única empresa, em um dado período

de tempo;

iii) A escolha da amostra e dos sujeitos, mesmo que considerando

pessoas de diferentes níveis hierárquicos, tempo de empresa, formação

e área de atuação, pode não representar o todo, ou seja, a amostra não

tem confiabilidade estatística e, portanto os resultados deste trabalho

não podem ser estendidos;

iv) Não existe um sistema (ou framework) para o tema pesquisado que

agrupe os diversos aspectos e conceitos enfatizados nas diversas

perspectivas em pesquisa organizacional. Desta forma, o pesquisador

precisa escolher um único arcabouço teórico que melhor se aplique ao

seu trabalho ou fazer uso dos diversos inputs para construção de sua

própria abordagem;

v) O pesquisador precisa estar permanentemente cuidadoso, já que a sua

interpretação tem forte influência sobre os resultados do trabalho, assim

como sua percepção sobre cada entrevista e as conseqüentes

categorias selecionadas. O pesquisador precisa manter-se aberto a

todas as informações que apareçam, procurando não deixar que o seu

próprio sistema de referência direcione os resultados de sua pesquisa;

vi) Além disso, as conclusões não podem ser diretamente aplicadas a

outras empresas.

68

Por fim, consideradas as limitações do método, a utilização da metodologia

qualitativa neste trabalho tem sua justificativa fundamentada em Newsted et al.

(1988, apud Hilal, 2002):

i) Facilidade de aplicação;

ii) Simplicidade para codificar e obter resultados;

iii) Possibilidade de generalização das respostas a outros membros da

população estudada;

iv) Maior facilidade de comparação de respostas e tendências.

Sendo assim, podemos dizer que apesar das limitações e ressalvas inerentes

ao estudo, o método capturou a realidade da empresa, de acordo com o objetivo

inicial.

69

4 A Companhia Vale do Rio Doce

4.1 O Setor da Mineração no Brasil

A Mineração foi reconhecida pelo governo federal como um dos três pilares

de sustentação do desenvolvimento do País, com objetivos estratégicos bem

definidos, sempre norteados pelas dimensões democráticas, econômica, social,

ambiental e do desenvolvimento regional integrado e sustentável, particularmente

com relação à diminuição da vulnerabilidade externa da nossa economia conforme

publicado pela DIDEM (2007).

Segundo este informe, os indicadores de desempenho do Programa

Mineração e Desenvolvimento Sustentável, apontam resultados excepcionais da

Indústria Extrativa Mineral, haja vista que os índices apurados pelo IBGE

alcançaram uma variação positiva da ordem de 9,78% (2005) e 5,95% em 2006,

bem superiores ao PIB nacional que ficaram na casa de 2,94% (2005) e 3,7% em

2006. O Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado pelo Governo

Federal no início de 2007 prevê investimentos públicos e privados da ordem de R$

503,9 bilhões, até 2010, sobretudo na melhoria e aumento da eficiência logística (R$

58,3 bi), social e urbana (R$ 173,8 bi) e energética (R$ 274,8 bi) que certamente

ensejará uma nova onda de oportunidades de investimentos em mineração no

Brasil. Assim é previsto que parte expressiva desses investimentos em infra-

estrutura (rodovias, ferrovias, portos) e saneamento básico, tenha como maior

beneficiária a Indústria de Construção Civil.

70

Ainda segundo esta publicação, é nesse ambiente de retomada do

crescimento sustentável do Brasil, que se discute a definição dos objetivos setoriais,

visando a construção do novo Plano Plurianual de Investimentos, voltados para

geologia e mineração. Este setor, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, tem

se esforçado na avaliação do desempenho da política mineral e na identificação de

demandas do setor produtivo e da sociedade, buscando hierarquizar prioridades e

projetá-las na definição de Programas Setoriais e Ações executivas. Desta forma, o

DNPM deverá manter as Ações relacionadas às atribuições cartoriais da Autarquia,

e ainda promover uma inovação com a definição de outras ações voltadas ao

fomento, ao extensionismo mineral para o pequeno produtor e à inserção do Setor

Mineral no modelo de desenvolvimento econômico vigente no País.

A sobrevivência dos empreendimentos de mineração, no desafiador cenário

da competitividade global na atualidade, exige dos tomadores de decisões a

definição de objetivos, no exercício de planejamento estratégico, em permanente

atenção aos grandes movimentos de mercado. Saber aproveitar as oportunidades

de negócios, em particular no atual momento de boom da Economia Mineral

Mundial, é uma tarefa da maior relevância, seja para os gestores públicos, seja para

os executivos da iniciativa privada.

4.2 A Empresa Estudada

A Companhia Vale do Rio Doce (VALE) destaca-se no cenário nacional e

internacional, tendo sido protagonista da maior aquisição já feita por uma empresa

privada da América Latina, quando comprou a empresa canadense Inco por US$

71

17,7 bilhões, conforme citado anteriormente, e de acordo com relatório do

Departamento de Relações com Investidores divulgado para o Mercado. Os

relatórios divulgados pelo Departamento de Relações com Investidores informam

que a VALE ocupa a posição de maior empresa privada do País em valor de

mercado, ultrapassando o valor de US$ 100 bilhões em 1o de agosto de 2007,

ficando atrás, no cenário nacional, da Petrobrás, empresa de economia mista

(pública e privada).

Além disso, a empresa passou a ocupar a posição de segunda maior

empresa de mineração do mundo, atrás apenas da empresa anglo-australiana BHP

Billiton, após a aquisição da empresa canadense Inco, segundo o guia de

investimento da DNPM (2007).

A fim de alcançar estes resultados de destaque a empresa põe em prática

alguns processos de gestão, com destaque para a Gestão da Inovação. Em edição

recente do Jornal Vale, ferramenta de comunicação interna e externa da empresa,

foi publicados uma matéria com o tema Gestão da Inovação.

“A Gestão da Inovação na VALE é tratada com

prioridade e as iniciativas apresentadas a seguir

mostram qual é o Valor das Inovações para a empresa:

por trás de novidades tecnológicas, estudos,

criatividade e proteção ao capital intelectual. De que

forma a tecnologia é utilizado para alavancar novo

projeto mineral? A resposta está no trabalho elaborado

72

pela área de Desenvolvimento e Tecnologia que realiza

parcerias com centros de pesquisa e universidades,

identifica tendências e oportunidades tecnológicas no

mercado global, busca a proteção de suas invenções

por meio do registro de patentes, além de promover a

capacitação contínua da equipe em parceria com a

Valer”.

A empresa possui grandes parcerias em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D),

possuindo um departamento cuja missão está diretamente associada a isso, o

Departamento de Desenvolvimento de Projetos Minerais. Estas parcerias,

apresentadas no Plano Diretor de Tecnologia (PDTec) da tecnologia, são

estabelecidas com grandes centros de pesquisa e importantes universidades.

Para garantir a difusão do conhecimento são realizados grandes

investimentos em capacitação – treinamentos técnicos, participação em seminários,

cursos de pós-graduação de curto e longo prazos, etc. – e em programas de Gestão

do Conhecimento através da universidade corporativa, a Valer.

“As Instituições Parceiras são fundamentais neste

processo, são firmados convênios com instituições de

pesquisa e universidades... destaques do evento

ficaram por conta da troca de idéias entre os

coordenadores dos Departamentos de Engenharia de

Minas, Metalurgia e Química da UFMG e a equipe

73

técnica da VALE, que resultaram na identificação de

possíveis projetos de pesquisa tecnológica de longo

prazo. ‘Esperamos estimular pesquisas de mestrado e

doutorado relativas à Tecnologia Mineral que

representem desafios para as próximas gerações’,

afirma Maria Cristina”.

O valor das inovações aparece de maneira clara na visão da empresa: “Ser a

maior empresa de mineração do mundo e superar os padrões consagrados de

excelência em pesquisa, desenvolvimento, implantação de projetos e operação

de seus negócios”.

Além das parcerias realizadas pelos departamentos de P&D da empresa, foi

criado o programa “Convênios com Universidades”, através do qual qualquer idéia

de um empregado pode ser fomentada através de convênios já estabelecidos com

as principais universidades do país. A coordenação deste programa é

responsabilidade do Departamento de Acompanhamento e Gestão de Ferrosos e

pode ser utilizado por todas as áreas de negócios da empresa. Para alcançar os

objetivos desta pesquisa foi realizada a identificação e a análise de dez projetos

deste programa.

74

4.3 Os Casos Estudados

Apresentamos a seguir um resumo de todos os dez projetos deste programa

que serviram como casos para esta pesquisa. Os detalhamentos de cada um dos

casos são apresentados no Anexo II deste trabalho.

Caso 1: Avaliação da Integridade Estrutural de Pontes e Viadutos (UFPA)

Diante do aumento da demanda por transporte ferroviário para suportar as

operações da empresa na região norte do país, um dos desafios das equipes de

engenharia é dimensionar os custos das obras de expansão de infra-estrutura de

ferrovias. O projeto trata da realização da avaliação estrutural das quarenta e cinco

pontes e oito viadutos ferroviários da Estrada de Ferro Carajás e do

desenvolvimento de uma metodologia de avaliação de pontes e viadutos.

Caso 2: Modelagem Numérica e Inversão de Dados Tensoriais (UFRJ)

A atividade de exploração geofísica normalmente demanda alguma incerteza e

grandes investimentos. Novas técnicas e ferramentas podem significar um fator

decisivo na identificação de alvos de pesquisa, reduzindo riscos sem adicionar altos

custos, e aumentando a eficiência de programas de sondagem exploratória. O

projeto trata da proposição de novas técnicas e ferramentas computacionais para

programas de sondagem exploratórios.

75

Caso 3: Modelamento Geológico Estrutural de Depósito Ferrífero (UFOP)

Os estudos de Geologia, de Geotecnia e de Planejamento de Lavra de Curto Prazo

e de Longo Prazo são subsidiados pelo modelamento geológico de depósitos de

minério de ferro. O projeto trata do modelamento geológico estrutural dos depósitos

ferríferos de Brucutu e Dois Irmãos e da elaboração de um banco de dados

contendo as coordenadas geográficas das estações, as medidas de contatos

geológicos e os elementos estruturais relevantes para o condicionamento da

geometria destes depósitos.

Caso 4: Estudo de Lastro de Ferrovia com Escória (UFOP)

Nas operações ferroviárias as sinalizações para o uso adequado de desvios e para

evitar desastres são feitas através de circuitos elétricos instalados nas vias. Uma das

causas de falhas neste sistema de sinalização é a condução elétrica pela escória

que serve de lastro nas ferrovias, principalmente quando chove, causando a

emissão de falsos alertas. O projeto trata da determinação quantitativa e qualitativa

da composição química da escória, realização de ensaios de laboratório e de

campo, e verificação e monitoramento de seu comportamento e desempenho.

76

Caso 5: Estudo de Processo Biológico para Redução de Sulfato (UFOP)

A remoção de sulfato é um problema real para as empresas que necessitam

adequarem seus efluentes aos padrões ambientais vigentes. Os métodos

tradicionais de remoção de sulfato apresentam sérios problemas: a utilização de

metais pesados contaminantes e poluentes. O projeto de pesquisa visa dar

continuidade aos estudos realizados em reatores anaeróbios utilizando as bactérias

redutoras de sulfato (BRS), alternativa mais promissora para tratamento de efluentes

industriais e de soluções sintéticas.

Caso 6: Estudo de Modelação de Complexo Portuário (USP)

O desenvolvimento da região Norte como pólo exportador passa pela necessidade

de expansão dos portos locais. Destacam-se nesse cenário os terminais marítimos

maranhenses responsáveis por parte significativa dos embarques na região. O

projeto trata dos estudos de modelagem necessários para o planejamento da

ampliação do Terminal Marítimo da Ponta da Madeira, em São Luís, e também para

os estudos de viabilidade para construção de novos portos.

77

Caso 7: Desenvolvimento de Simulador Ferroviário (USP)

A formação de mão-de-obra especializada é um dos pontos-chave para o

desenvolvimento da infra-estrutura logística para suportar a expansão dos negócios

do país. Uma destas demandas por especialização envolve os maquinistas que

operam as estradas de ferro da empresa. O projeto trata do desenvolvimento e

implantação de um sistema computacional de simulação de realidade virtual para a

operação de trens ferroviários e treinamento de maquinistas.

Caso 8: Desenvolvimento de Tecnologia Georadar (UFMG)

O transporte de carga por linha férrea causa uma rápida deterioração da superfície

da via ocasionando um aumento nos custos para a conservação da linha devido à

queda de produtividade da operação ferroviária e à probabilidade de interrupção dos

serviços. O projeto trata da aplicação da técnica geofísica Georadar na

caracterização das qualidades e da composição dos lastros ao longo da Estrada de

Ferro Vitória–Minas a fim de melhorar o planejamento das manutenção necessárias

para melhorar o desempenho dessas operações.

78

Caso 9: Desenvolvimento de Estudos de Análise Ergonômica (UFMG)

A construção de uma nova forma de análise de riscos e de uma prática

prevencionista mais eficaz para lidar com os acidentes normais pode se dar

recorrendo à metodologia de análise ergonômica do trabalho, propondo uma

abordagem produtiva da segurança: manter a segurança ao invés de controlar os

riscos. O projeto trata da identificação das causas das falhas operacionais e

proposição de medidas preventivas na execução das tarefas operacionais em pátios

de manobra e carregamento de composições ferroviárias na VALE.

Caso 10: Diagnóstico de Emissão de Dióxido de Carbono (UFMG)

Atualmente há um aumento de consciência da necessidade da proteção do meio

ambiente, onde o ser humano é o seu mais importante componente. Toda a indústria

mineral tem que analisar detalhadamente os problemas relativos à saúde de um

modo mais amplo, devendo ter em mente que o processo de beneficiamento mineral

é seguro para a saúde, somente quando ele é bem controlado. O projeto trata da

análise técnica da emissão das usinas de beneficiamento de minério de ferro no

complexo de mineração da VALE no município de Itabira.

79

5 Resultados

O conteúdo das entrevistas com os envolvidos nos dez projetos do programa

“Convênios com Universidades” estudados está apresentado adiante no Anexo II

deste documento. Este capítulo apresenta tabelas-resumo com parte relevante deste

conteúdo. Nestas tabelas, este conteúdo é apresentado de acordo com as

categorias levantadas na revisão bibliográfica e apresentadas anteriormente. Tendo

como foco o objetivo da pesquisa, começamos a apresentação destes dados pelas

categorias do quadro 2 – as que surgiram a partir do modelo sugerido por Gonçalves

Neto (1986) – e só depois apresentamos os dados das categorias do quadro 1 –

revisão bibliográfica inicial.

Apresentamos um resumo do contexto do projeto através de duas tabelas: a

tabela 1 contém, para cada um dos casos, o assunto do projeto e os departamentos

das universidades envolvidos no projeto.

Tabela 01: Resultados: Contexto do Projeto – Assuntos

Caso 1 Avaliação de Estruturas Engenharia Civil

Caso 2 Modelagem Numérica Geologia

Caso 3 Modelagem Geológico GeologiaCaso 4 Estudo de Materiais para Indústria Engenharia Civil

Caso 5 Estudo de Processo Biológico Engenharia Química

Caso 6 Modelagem de Portos Engenharia Naval e Oceânica

Caso 7 Simulador Ferroviário Engenharia de Computação

Caso 8 Desenvolvimento de Tecnologia Geologia

Caso 9 Análise Ergonômica Engenharia de Produção

Caso 10 Análise Ambiental Engenharia de Meio Ambiente

Casos DepartamentoAssunto

80

A tabela 2 contém, para cada um dos casos, onde se deu a origem das idéias

que resultaram em projetos. O conteúdo das tabelas 1 e 2 nos ajudam a entender o

contexto dos projetos.

Tabela 02: Resultados: Contexto do Projeto – Origem das Idéias de Projeto

Em todos os casos estudados, havia contratos guarda-chuva de cooperação

entre a VALE e cada uma das universidades, aliás, a empresa possui contratos

como estes, não só com as universidades envolvidas nos casos estudados, mas

também com outras universidades do país. Para cada projeto de cooperação é

criado um aditivo ao contrato guarda-chuva, para tratar do escopo específico

daquela iniciativa. As pessoas-jurídicas acadêmicas envolvidas nos contratos são

fundações que foram criadas, entre outros motivos, para desburocratizar as relações

institucionais das universidades (todas as universidades envolvidas nos casos

estudados são instituições públicas federais).

Caso 1Aplicação da metodologia de Avaliação de Estruturas já conhecida Pesquisador da universidade apresentou projeto

Caso 2Proposição de novas técnicas e ferramentas computacionais para programas de sondagem exploratórios

Sugestão de empregado da empresa para desenvolvimento de sua pesquisa de mestrado

Caso 3 Aplicação da metodologia de Modelamento Geológico já conhecida

Repetição de um trabalho recorrente que teve origem em uma iniciativa da empresa para treinar estudantes e recrutá-los posteriormente

Caso 4 Buscar ajuda na universidade para pesquisa de novos materiais para uma aplicação específica Empregado da empresa teve a iniciativa

Caso 5Buscar ajuda na universidade para pesquisa de novos processos biológicos para uma aplicação específica Empregado da empresa teve a iniciativa

Caso 6Utilizar notoriedade reconhecida da universidade em Modelagem Empregado da empresa teve a iniciativa

Caso 7 Utilizar notoriedade reconhecida da universidade em Simulação

Empregado da empresa teve a iniciativa

Caso 8 Utilizar notoriedade reconhecida da universidade em Desenvolvimento de Tecnologia

Empregado da empresa teve a iniciativa

Caso 9 Aplicação da metodologia de Análise Ergonômica já conhecida

Pesquisador da universidade apresentou projeto

Caso 10 Utilização do laboratório da universidade para Análise Ambiental Empregado da empresa teve a iniciativa

Casos Idéia Origem

81

As informações sobre a natureza do projeto mostram como foram realizadas a

análise inicial e a análise de recursos dos projetos estudados. Em todos os casos, a

área da empresa que está interessada no projeto é responsável por fazer um estudo

de viabilidade econômica que deve conter, não só o resultado financeiro esperado

para o projeto, mas também o valor técnico-científico da idéia, deixando claro, ainda,

que recursos – internos e externos – são necessários para a execução do projeto. A

coordenação do programa “Convênio com Universidades” é responsável por validar

este estudo.

As informações de natureza incluem também o grau de risco de cada projeto,

sua importância – tanto para a empresa quanto para as universidades – e quais os

tipos de cooperação U-E encontrados. A tabela 3 apresenta as informações de grau

de risco e importância dos projetos.

Tabela 03: Resultados: Natureza – Graus de Risco e Importâncias

A tabela 4 apresenta os tipos de cooperação encontrados.

Empresa Universidade Empresa Universidade

Caso 1 Média Alta

Caso 2 Risco Baixo Risco Médio Baixa Alta

Caso 3 Média Alta

Caso 4 Risco Baixo Risco Alto Alta Alta

Caso 5 Risco Baixo Risco Alto Alta Alta

Caso 6 Baixa Alta

Caso 7 Risco Alto Risco Médio Média Alta

Caso 8 Baixa Alta

Caso 9 Média Alta

Caso 10 Baixa Alta

CasosImportância

Risco Baixo

Risco Baixo

Risco Médio

Risco Baixo

Risco Baixo

Risco

Risco Baixo

82

Tabela 04: Resultados: Natureza – Tipos de Cooperação

A tabela 5, apresentada a seguir, mostra as informações de urgência do

projeto – componente da prioridade do projeto – sob os dois diferentes pontos de

vista: o da empresa e o da universidade, evidenciando suas principais diferenças.

Tabela 05: Resultados: Urgência

Caso 1Contrato de pesquisaPrestação de serviços técnicos e de consultoria

Caso 2Contrato de pesquisaPrograma de intercâmbioConferências e publicações (dissertação de mestrado)

Caso 3Contrato de pesquisaPrograma de intercâmbioPrestação de serviços técnicos e de consultoria

Caso 4Contrato de pesquisaConferências e publicações (dissertação de mestrado)

Caso 5Contrato de pesquisaConferências e publicações (tese de doutorado)

Caso 6Contrato de pesquisaPrestação de serviços técnicos e de consultoria

Caso 7Prestação de serviços técnicos e de consultoriaTreinamento

Caso 8 Prestação de serviços técnicos e de consultoria

Caso 9Contrato de pesquisaPrestação de serviços técnicos e de consultoria

Caso 10 Prestação de serviços técnicos e de consultoria

Casos Tipos

Empresa Universidade

Caso 1 Média Baixa

Caso 2 Baixa Baixa

Caso 3 Baixa BaixaCaso 4 Alta Alta

Caso 5 Média Média

Caso 6 Baixa Baixa

Caso 7 Alta Baixa

Caso 8 Baixa BaixaCaso 9 Baixa Baixa

Caso 10 Baixa Baixa

CasosUrgência

83

Os motivadores para cooperação são foco de atenção especial neste estudo,

e as tabelas com os resultados dos motivadores citados pelos entrevistados estão

apresentadas a seguir. Os motivadores são apresentados na tabela 6 – principais

motivadores para a empresa – e na tabela 7 – principais motivadores para a

universidade.

Tabela 06: Resultados: Principais Motivadores para a Empresa

Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986), Cherubini (2006) e Sanchez e Tejedor (1995)

Tabela 07: Resultados: Principais Motivadores para as Universidades

Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986), Cherubini (2006) e Sanchez e Tejedor (1995)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10Acesso estudantes xAcesso treinamentos

Acesso infra-estrutura/expertise x x xAcesso base de conhecimento x x x x x x x xImagem pública da empresa x x x xConhecimento técnico x x x x xTecnologias não disponíveis x x x xFronteiras da ciência x x xPesquisas preditivas x xTerceirização de P&D

Melhoria da qualidade x x xCarência de recursos x x xCortes de custos

Acesso a novos mercados

Eficiência operacional x x x xOutros

Casos Estudados no Programa de Convênios com Universidades da CVRD

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10Acesso necessidades mercado x x x x x xNovas fontes de receitas x x x x xExperiências práticas estudantes x x x xOferecer acesso à ciência básica x x x x x x x xAcesso a mercados protegidos

Exposição ao mercado x x x xCompetências de implementação x x x x xCriação de valor social x xCriação de spin-offs

Acesso recursos financeiros x x x x x x x x x xLançamento de patentes x xOutros

Casos Estudados no Programa de Convênios com Universidades da CVRD

84

De mesmo modo, são também as barreiras para cooperação, foco de atenção

especial neste estudo, e as tabelas com os resultados das barreiras citadas pelos

entrevistados estão apresentadas a seguir. As barreiras são apresentadas na tabela

8 – principais barreiras para a empresa – e na tabela 9 – principais barreiras para as

universidades.

Tabela 08: Resultados: Principais Barreiras para a Empresa

Fonte: adaptado de Cherubini (2006)

Tabela 09: Resultados: Principais Barreiras para as Universidades

Fonte: adaptado de Cherubini (2006)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10Diferenças de objetivo

Diferenças de finalidade

Diferenças estruturais

Diferenças culturais xDiferenças na natureza

Burocracia da empresa x x x x x x x xBurocracia da universidade xPouca interdisciplinaridade

Laboratórios pequenos

Gestão inadequada dos acordos

Perspectiva cultural x x x x x x x xOutros x

Casos Estudados no Programa de Convênios com Universidades da CVRD

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10Diferenças de objetivo

Diferenças de finalidade x x x xDiferenças estruturais

Diferenças culturais x x x x x xDiferenças na natureza

Burocracia da empresa x x x x x x x x x xBurocracia da universidade

Pouca interdisciplinaridade

Laboratórios pequenos

Gestão inadequada dos acordos xPerspectiva cultural

Outros

Casos Estudados no Programa de Convênios com Universidades da CVRD

85

Em relação às equipes do projeto, todos os entrevistados são profissionais de

nível superior com pelo menos um curso de pós-graduação. Alguns projetos

contaram com a participação de alunos de graduação e alguns técnicos para

execução de trabalhos de campo, mas estas pessoas tinham pouca interação com

os empregados da VALE. Todos os projetos contavam com um ponto focal bem

definido e praticamente todo contato entre as instituições se dava através deles.

Além da apresentação dos resultados deste capítulo seguindo o modelo

sugerido por Gonçalves Neto (1986), apresentamos abaixo um resumo dos dados

encontrados nas entrevistas e atribuídos a cada categoria levantada na revisão

bibliográfica conforme proposta de Creswell (2000). A tabela 10 apresenta alguns

pontos sobre as categorias apresentadas no quadro 1 da revisão bibliográfica.

Tabela 10: Resultados: Categorias da Revisão de Literatura

Alianças Estratégicas “Nossos melhores empregados vêm das universidades”“Podemos desenvolver o relacionamento com as comunidades dos locais onde atuamos”

As Revoluções Acadêmicas e a Universidade Brasileira

“Uma pesquisa acadêmica como esta não tem mesmo uma aplicação prática direta"Fonte de recursos para financiamento das atividades acadêmicas

Os Tipos de Cooperação entre Universidades e Empresas

Importância das alianças entre empresas e universidadesPrestação de consultoria por parte dos professores universitários às empresas

As Principais Motivações para Cooperação

11 entre 15 das motivações encontradas na literatura foram citadas pela empresa9 entre 11 das motivações encontradas na literatura foram citadas pela universidade

As Maiores Barreiras para Cooperação

7 entre 11 das barreiras encontradas na literatura não foram citadas pela empresa1 barreiras não encontrada na literatura foi citada pela empresa7 entre 11 das barreiras encontradas na literatura foram citadas pela universidade

Categorias Resultados

86

6 Análise dos Resultados

O levantamento de informações dos dez casos estudados se deu através de

documentos que foram disponibilizados e de entrevistas com os envolvidos nos

projetos do programa “Convênios com Universidades” da VALE. Os resultados deste

levantamento foram apresentados no capítulo anterior e representam um resumo

das informações relevantes sobre os casos apresentadas adiante no Anexo II deste

documento. Iniciaremos este capítulo apresentando as análises dos dados

encontrados nas entrevistas e atribuindo-os a cada categoria levantada na revisão

bibliográfica conforme sugerido por Creswell (2000). O item 6.1 deste capítulo

apresenta a análise seguindo o modelo de cooperação sugerido por Gonçalves Neto

(1986), incluindo a análise dos motivadores e das barreiras para cooperação

universidade-empresa, um dos focos deste estudo.

Além das informações sobre os casos, foram realizadas duas entrevistas que

enriqueceram este capítulo de análise: uma com o coordenador do programa,

profissional sênior de carreira técnica da VALE; e outras com seu chefe direto, um

executivo do corpo gerencial da empresa.

Segundo o executivo da empresa, o presidente da VALE entende as parcerias

com universidades como alianças estratégicas. “O programa Convênios com

Universidades foi criado para facilitar o relacionamento com universidades, que

segundo nosso presidente, Roger Agnelli, são fundamentais em nossa estratégia de

crescimento, não só porque é de lá que vêm nossos melhores empregados, mas

87

também porque através delas podemos desenvolver o relacionamento com as

comunidades dos locais onde atuamos”, disse o executivo. O coordenador do

programa transmitiu a mesma mensagem com outras palavras, estando de acordo

com os estudos de Drucker (1996) que citam o acelerado crescimento dos

relacionamentos baseados em parceria. No entanto, apenas um outro entrevistado,

um professor da Universidade de São Paulo (USP), citou o relacionamento entre as

instituições como uma parceria estratégica, mas, diferente dos executivos, ele não

mencionou estudantes nem relações com a comunidade, mas sim que a importância

estratégica desta relação está no desenvolvimento do conhecimento científico

aplicado à realidade das empresas, com palavras que claramente nos levam a

pensar na gestão da inovação tecnológica.

Alguns autores citam o potencial das alianças estratégicas em melhorar

agressivamente os resultados operacionais das empresas (Elmuti et al., 2005) e

também a formação de alianças estratégicas com a intenção de realizar programas

de pesquisas cujos resultados possam resolver problemas práticos do mundo de

negócios (Wheelen e Hunger, 2004). Em nossa pesquisa vimos projetos que visam a

melhoria dos resultados operacionais (quatro entre dez entrevistados citaram isso

como motivadores) e também a resolução de problemas práticos do mundo

empresarial (seis entre dez entrevistados citaram isso como motivadores). No

entanto, apenas um entrevistado citou o convênio entre a VALE e as universidades

como estratégico para alcançar estes objetivos.

A cultura acadêmica, que implica em características próprias das

universidades, tem influência direta nos resultados da pesquisa, como diziam alguns

88

autores de nossa revisão bibliográfica. Um professor da Universidade Federal de

Ouro Preto (UFOP) disse claramente que a tese de doutorado teria um fim em si

mesma e, quando estávamos conversando sobre as barreiras encontradas,

comentou: “ainda não consegui fazê-la entender (a engenheira da VALE) que uma

pesquisa acadêmica como esta não tem mesmo uma aplicação prática direta”.

As evoluções das oportunidades de relacionamento entre universidades e o

mundo empresarial, que surgiram das revoluções acadêmicas, conforme

pesquisas de Etzkowitz (2004), entre outros, puderam ser claramente observadas

em nosso estudo: todas as universidades envolvidas no estudo possuem grupos de

pesquisas, prestam serviços de consultoria, de alguma maneira administram seus

direitos autorais e possuem incubadoras de negócios. No entanto, conversando

especificamente sobre os projetos dos dez casos estudados, apenas dois

professores da UFOP (dois casos entre dez) citaram o interesse no lançamento de

patentes a partir dos resultados dos projetos, e nenhum dos entrevistados falou

sobre a possibilidade de criação de uma empresa (spin-off) para comercializar

serviços ou produtos criados. Ainda relacionado às revoluções acadêmicas, dois

entre dez entrevistados destacaram a criação de valor social como um dos

motivadores do projeto uma vez que estes projetos impactam diretamente o

desenvolvimento da infra-estrutura de transportes do país, de acordo com a

percepção da universidade como agente de desenvolvimento econômico regional

dos estudos de Noveli e Segatto (2006) e Etzkowitz (1998).

Todos os entrevistados pelas universidades, sem qualquer exceção, citaram o

acesso a recursos financeiros como motivador para o projeto com a VALE: em três

89

de dez entrevistas, antes de serem provocados pelo entrevistador, este havia sido o

único motivador citado. Nos estudos de Etzkowitz, Mello e Almeida (2005) vimos

que, apesar do fomento de negócios de prestação de serviços com baixo uso de

tecnologias modernas, as instituições interessadas combinaram isso com um modelo

de incubadoras de alta tecnologia em um formato misto: três entre dez casos,

embora não por meio de incubadoras, envolviam fronteiras da ciência e quatro entre

dez envolviam tecnologias não disponíveis por outros meios, segundo os

entrevistados, em universidades brasileiras, sugerindo que alguns dos projetos

envolviam pesquisas sofisticadas. Entretanto, os demais casos sugerem que,

conforme os estudos de Velho (1995), algumas interações ainda vêm sendo

demandadas para atividades de adaptação de tecnologias importadas para as

condições locais, acesso a recursos humanos especializados e consultorias,

conforme pôde ser observado nos projetos analisados que envolviam a USP:

fomento de negócios que envolvem tecnologias conhecidas, que são mais

estruturados, que envolvem investimentos maiores, e que já haviam sido

desenvolvidos em outras empresas.

Em nossa pesquisa, quando quatro entre dez entrevistados citaram que o

acesso a tecnologias não disponíveis por outros meios era fator de motivação para o

programa “Convênios com Universidades”, ficou claro o reconhecimento da

importância das alianças entre empresas e universidades para a execução dos

projetos da empresa. Isso sugere que estavam certos em suas pesquisas Hamel e

Prahalad (1994) e Woo (2003), que disseram que é extremamente difícil para

qualquer empresa possuir as competências e os recursos necessários para garantir

o sucesso no desenvolvimento de tecnologia e comercialização de seus produtos e

90

serviços. Além disso, três entre dez entrevistados apontaram o acesso ao expertise

da universidade, e também três entre dez entrevistados apontaram a carência de

recursos internos, como motivadores para os convênios, percebendo que as

universidades podem ser os parceiros ideais para viabilizar estes recursos e

competências.

Embora, curiosamente, nenhum dos entrevistados da VALE citou o acesso a

treinamentos como motivador para a cooperação com universidades, cinco entre dez

destes entrevistados apontou como motivador o desenvolvimento interno de

conhecimento técnico em acordo com os estudos de Edquist (1997) e Adeoti (2002)

que disseram que o sistema de educação é uma importante origem de

conhecimento relevante para atividades inovadoras. Nossas análises também estão

em acordo com os estudos de Adeoti (2005) que diziam que a universidade é um

importante elemento do sistema de educação e é tomado como o agente

responsável por gerar o conhecimento científico básico e aplicado que se torna de

domínio público, e isso pôde ser visto quando cinco entre dez entrevistados citaram

a oferta de ciência básica e pesquisas aplicadas como motivador para o

desenvolvimento dos projetos.

O potencial máximo das alianças entre a VALE e as universidades está muito

longe de ser alcançado. O programa Convênios com Universidades possui

atualmente quarenta e três projetos em andamento; e o programa Seis Sigma

atualmente possui cerca de trezentos projetos em andamento. Esta comparação

aponta claramente uma deficiência no programa Convênios com Universidades, pois

sugere que há muitas outras oportunidades de projetos além dos que existem

91

atualmente. E, por isso mesmo, permite a afirmação do início deste parágrafo, que

está de acordo com os estudos de Lall (1997) que cita este pouco aproveitamento

das oportunidades de cooperação.

Os convênios entre empresa e universidade na VALE se dão através do

programa corporativo “Convênios com Universidades”. Segundo o coordenador

deste programa, todo e qualquer projeto se inicia com um contato direto entre a

VALE e a universidade, ou entre a universidade e a VALE, sem qualquer

intermediário, apontando para as duas primeiras maneiras de iniciar o

relacionamento entre empresa e universidades apresentados nos estudos de

Sanchez e Tejedor (1995) e Gonçalves Neto (1986).

É predominante, entre os tipos de cooperação entre universidades e

empresas em todo o mundo, a prestação de consultoria por parte dos professores

universitários às empresas, segundo estudos de Cherubini (2006), e nosso estudo

mostrou que sete dos dez casos estudados são relacionados a serviços de

consultoria. Entretanto, as relações se dão através de um contrato de cooperação

entre as instituições, não entre indivíduos, o que é também notado por também sete

entre dez casos estarem associados a contratos de pesquisa; embora as relações

entre indivíduos requeiram bem menos esforço, os contratos do programa

Convênios com Universidades possuem características – contratos guarda-chuva –

que desburocratizam a contratação de novos projetos. Segundo o coordenador do

programa, é possível que existam relacionamentos entre a empresa e universidades

por meio de relações entre indivíduos, pois ainda não foi implementado qualquer

mecanismo que coíba esta prática, no entanto, ele garante, que a contratação direta

92

de um professor ou pesquisador não requer menos esforço que fazê-lo através do

programa.

Dentre os nove mecanismos de transferência de tecnologia por meio da

cooperação entre universidades e empresas encontrados nos estudos de Lee e Win

(2004), atualmente são utilizados, segundo os entrevistados, os seguintes – não

necessariamente através do programa Convênios com Universidades: conferências

e publicações; prestação de serviços técnicos e de consultoria; programa de

Intercâmbio; contrato de pesquisa; e treinamento.

6.1 Análise de Resultados Utilizando o Modelo de Cooperação

As entrevistas com as pessoas envolvidas com o projeto, pela empresa ou pela

universidade, nos sugerem que há um padrão na maneira como os projetos de

cooperação são iniciados: profissionais da empresa resolvem procurar as

universidades para ajudá-los a superar um desafio, em geral porque a notoriedade

da universidade é reconhecida ou porque não há outros recursos disponíveis; ou,

professores e pesquisadores, através de iniciativas pessoais, apresentam para as

empresas seus projetos de pesquisa. Parece haver um padrão também na maneira

como estas idéias são aprovadas para se tornar ou não um projeto de cooperação

universidade-empresa; e, ainda, parece haver um padrão no modo como os projetos

são executados. Entretanto, não percebemos qualquer padrão no modo como eles

são avaliados. No processo de cooperação com universidades da VALE, através do

programa “Convênios com Universidades”, o gestor do programa coordena um ciclo

de vida de projeto maior que aquele sugerido por Gonçalves Neto (1986) em seu

93

modelo. Os estágios do ciclo de vida dos projetos de cooperação U-E do programa

são: iniciação, aprovação, execução e avaliação.

Utilizando-se do modelo de cooperação sugerido por Gonçalves Neto (1986)

apresentamos os resultados das entrevistas no capítulo 5, e a partir das informações

contidas lá sobre o contexto dos projetos, a natureza do projeto, a urgência do

projeto, e a equipe do projeto, chegamos finalmente à discussão sobre os

motivadores para cooperação e as barreiras encontradas, objeto principal de

nossa pesquisa.

A partir do contexto dos projetos pudemos observar que a maioria das idéias

de projetos partiu dos empregados da VALE, sugerindo que o trabalho da

coordenação do programa está funcionando melhor para dentro da empresa que

para as universidades. Observamos também que os assuntos tratados em todos os

projetos estão relacionados aos desafios reais e atuais da empresa, e todos os

projetos foram desenvolvidos pelas escolas de Engenharia ou pelos departamentos

de Geologia das universidades. Várias oportunidades de cooperação com os demais

departamentos das universidades devem estar deixando de serem aproveitadas

como, por exemplo, departamentos de administração (escolas de negócios)

poderiam estar contribuindo com os modelos de gestão corporativos da empresa.

Ainda a partir destes contextos, verificamos que sempre que uma idéia nasce

em uma área de negócio da empresa, a própria área identifica a necessidade da

empresa associada àquela idéia; os casos nos quais a idéia veio do professor ou

pesquisador, este apresentou a idéia para a coordenação do programa, e esta

94

coordenação identificou a área de negócios da empresa que se interessaria pela

idéia; a área de negócio da empresa é que apresenta a proposta de projeto com seu

estudo de viabilidade e a justificativa para a necessidade de utilização de recursos

de universidades no projeto. Assim pudemos verificar como se deu o que chamamos

de estágio de iniciação da cooperação no programa estudado.

Os resultados sobre a natureza do projeto mostram que, independente do tipo

de cooperação escolhido, há mais projetos viáveis na empresa do que recursos

disponíveis para implementá-los. Desse modo, independente de haver uma análise

de viabilidade bastante completa, o que importa de fato para a tomada de decisão

por iniciar a cooperação é o conteúdo econômico do estudo. O fator recursos

internos funciona apenas como uma informação extra para o gestor do programa. O

grau de risco do projeto também não parece ter relevância no processo de decisão,

pois os entrevistados não falam sobre o assunto.

Para os entrevistados das universidades, todos os projetos são de importância

alta, explicitando uma motivação tão grande pelos projetos que sugere que eles

realmente escolheram o projeto que gostariam de participar. Como a busca por

recursos acadêmicos é realizada, em geral, por meio de redes de relacionamento

pessoais, a chance de ser encontrar o interesse do acadêmico é muito grande.

Quanto à urgência do projeto, há um cenário muito claro de que os

acadêmicos não têm a preocupação do tempo como fator crítico, visto que a

urgência de oito em dez projetos é baixa enquanto, para a empresa, seis em dez

são de baixa urgência.

95

Ainda a partir da contribuição dos entrevistados quanto à natureza e urgência,

vimos que a etapa de análise do projeto é menos criteriosa, ou menos sofisticada,

que o processo apresentado no modelo de Gonçalves Neto (1986). No programa

estudado os entrevistados citaram os seguintes critérios de análise das propostas de

projetos: validação técnica e econômica; validação das justificativas para

cooperação com universidades; se aprovada a proposta da área, priorização dos

projetos, e solicitação de proposta com detalhamento técnico e condições

comerciais; se aprovada a proposta da universidade, apresentação de evidências

dos recursos necessários para o projeto, e elaboração do contrato para início do

projeto. Assim pudemos verificar como se deu o que chamamos de estágio de

aprovação da cooperação no programa estudado, que difere em pontos

significativos do modelo proposto.

Os principais motivadores para o desenvolvimento dos projetos dos casos

estudados foram mapeados utilizando como referência as compilações

apresentadas nos estudos de Gonçalves Neto (1986), Cherubini (2006) e Sanchez e

Tejedor (1995). Os resultados dos motivadores foram apresentados anteriormente e

são analisados a seguir.

Os motivadores mais citados pelos entrevistados, sob o ponto de vista da

empresa, apresentados na tabela 6, foram o “acesso à pesquisa, consultoria e

dados da base de conhecimento da universidade” (oito entre dez), e a “obtenção de

conhecimento técnico” (cinco entre dez) visando à capacitação dos engenheiros e

pesquisadores internos. Isto sugere a percepção sobre a importância das parcerias

96

com universidades, como citado anteriormente. Contribui com esta percepção o

motivador “obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis anteriormente ou por

outros meios”, citado por quatro entre dez entrevistados; e também “carência de

recursos para execução de projetos”, citado por quatro entre dez entrevistados,

referindo-se a recursos humanos.

Também citado por quatro entre dez entrevistados, temos os motivadores

“melhor imagem pública da empresa junto à comunidade onde ela atua” e “melhoria

de eficiência operacional”, ambos associados aos valores da VALE e aos objetivos

estratégicos do programa Convênios com Universidades. Curiosamente, os

motivadores “acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados” e “acesso

a uma grande variedade de treinamentos”, também associados a estes objetivos,

foram citados uma e nenhuma vez, respectivamente.

Os motivadores ”acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de

seu staff”, “acesso às fronteiras da ciência” e “melhoria da qualidade”, citados por

três entre dez entrevistados, e ainda “acesso às pesquisas científicas com viés

preditivo”, citado por dois entre dez entrevistados, sugerem a associação ao uso de

tecnologias mais sofisticadas.

Três motivadores – “terceirização de atividades de P&D”, “cortes de custos” e

“acesso a novos mercados” – não foram citados uma vez sequer. Sugerem que: as

atividades de P&D as empresa não estão associadas ao programa Convênios com

Universidades; e a empresa não busca projetos através dos convênios orientada a

corte de custos.

97

E há ainda alguns aspectos que não podem deixar de ser considerados neste

processo de decisão por projetos de cooperação universidade-empresa como o

interesse de profissionais das empresas em suas próprias pesquisas acadêmicas, e

também os interesses dos pesquisadores em obter recursos com serviços de

consultoria ou em desenvolver projetos que lhes permitam publicar artigos ou

alavancar pesquisas futuras, como verificamos nas entrevistas.

A tabela 7 apresenta os principais motivadores pelo ponto de vista da

universidade. O motivador “acesso a recursos financeiros” foi citado por todos os

entrevistados, sugerindo claramente que para as universidades os convênios são

uma importante ferramenta de financiamento de suas atividades. Contribuem

também com esta sugestão os motivadores “oportunidade de acesso às

necessidades do Mercado”, com citação de seis entre dez entrevistados,

“oportunidade de desenvolver atividades fontes de receitas através da

comercialização de serviços e produtos” e “melhorias nas competências de

implementação de novas tecnologias”, com citação de cinco entre dez entrevistados,

e ainda “exposição ao ambiente de negócios” com citação de quatro entrevistados.

No entanto, apesar de entender os convênios como oportunidades de

financiamento, nossa pesquisa sugere que estas iniciativas empreendedoras

envolvem tecnologias já conhecidas ou menos sofisticadas, corroborada com

apenas duas citações para o motivador “lançamento de patentes” e nenhuma

citação sequer para o motivador “desenvolvimento de novos produtos e criação de

spin-offs”.

98

O segundo motivador mais citado, com oito entre dez entrevistados, foi

“oferecer acesso da indústria tanto à ciência básica quanto a pesquisas aplicadas”,

sugerindo a força de uma das funções mais antigas e tradicionais das universidades,

a difusão do conhecimento. Também uma das funções mais antigas, o ensino, pôde

ser corroborado com o motivador “oportunidade de oferecer experiências práticas

aos seus estudantes na indústria” recebendo quatro citações. Por outro lado, a

pesquisa sugere que funções mais modernas não são tão claramente reconhecidas

como o motivador “criação de valor social” que foi citado por apenas dois

entrevistados.

Já o motivador “acesso a mercados protegidos ou de difícil acesso” não foi

citado sequer uma vez, neste caso sugerindo apenas que a indústria na qual a VALE

está inserida não tem características de proteção ou difícil acesso.

Todos os entrevistados das equipes dos projetos são profissionais de nível

superior com pelo menos um curso de pós-graduação, de modo que as diferenças

de conhecimento entre eles não eram significantes para o projeto. Alguns membros

das equipes são alunos de graduação e técnicos, mas estas pessoas tinham pouca

ou nenhuma interação com os empregados da VALE. Todos os projetos contam com

um ponto focal bem definido e reconhecido em cada instituição e a maioria do

contato entre as instituições se dava através deles.

Após a análise acima sobre o contexto dos projetos, a natureza dos

projetos, a urgência dos projetos, e a equipe dos projetos, e também a

99

discussão sobre os motivadores para cooperação, vamos iniciar a discussão sobre

as principais barreiras encontradas. O modelo de cooperação sugerido por

Gonçalves Neto (1986), entretanto, não inclui esta categoria de análise. Para isso

então, recorremos à revisão de literatura sobre o assunto.

Assim como os principais motivadores, as principais barreiras encontradas na

execução dos projetos de cooperação entre a VALE e as universidades foram

mapeadas utilizando como referência as compilações apresentadas nos estudos de

Cherubini (2006). As primeiras duas entrevistas revelaram um problema que se

repetiria em quase todas as demais: os entrevistados não falavam sobre barreiras,

só citavam as coisas positivas do convênio. Uma explicação razoável estava no fato

de que eles não conheciam o entrevistador e não se sentiam confortáveis em falar

mal de relações com as quais eles continuavam envolvidos. Os entrevistados se

manifestaram apenas quando lhes foi apresentada a lista de possíveis barreiras –

vide roteiros de entrevista no anexo I – conforme levantado no referencial teórico.

Do ponto de vista da empresa, conforme apresentado na tabela 8, oito entre

dez entrevistados citaram a barreira “diferenças em uma perspectiva cultural”

referindo-se recorrentemente ao fato de que os acadêmicos não eram sensíveis às

suas necessidades de tempo de resposta, de urgência. Também tivemos oito

citações de “burocracia da empresa”, sugerindo que, apesar de o coordenador do

programa citá-lo como uma ferramenta para evitar a burocracia, ou a ferramenta não

está sendo eficiente com relação a isto ou isso não foi percebido pelos usuários do

programa.

100

Ainda tivemos uma citação da barreira “diferenças culturais”, associada a

problemas de comunicação entre os envolvidos; e uma citação de “burocracia da

universidade”, em um caso onde o contrato do convênio demorou a ser assinado por

falta de um representante da universidade na ausência de outro.

Ainda tivemos uma citação da barreira “diferenças culturais”, associada a

problemas de comunicação entre os envolvidos; e uma citação de “burocracia da

universidade”, em um caso onde o contrato do convênio demorou a ser assinado por

falta de um representante da universidade na ausência de outro.

Houve uma citação que não foi enquadrada nas barreiras citadas por Cherubini

(2006): um dos entrevistados queixou-se da qualidade dos produtos gerados pela

universidade, chegando a dizer “é por isso que não costumo contratar serviços com

as universidades, eles são muito bons de teoria, mas os produtos finais sempre

deixam a desejar”. Outras barreiras não foram citadas uma vez sequer: “diferenças

de objetivo principal“; “diferenças de finalidade ou foco“; “diferenças estruturais“;

“diferenças na natureza da investigação“; “baixo grau de interdisciplinaridade“;

“pequeno tamanho de alguns laboratórios“; e “inadequada habilidade das empresas

em gerenciar os acordos“.

A tabela 9 apresenta as barreiras do ponto de vista dos entrevistados das

universidades, que foram unânimes em citar como barreira a “burocracia da

empresa”, referindo-se não à parte contratual, mas à execução do projeto,

reclamando principalmente dos procedimentos necessários para entrar nas

101

instalações da empresa. Em um caso o pagamento do acordo não foi realizado por

problemas administrativos.

Seis entre dez entrevistados citaram “diferenças culturais” referindo-se a

problemas de dificuldades de comunicação e dificuldades de relacionamento

interpessoal. Houve um caso, um dos mais complexos do ponto de vista tecnológico,

com problemas mais sérios, no qual os envolvidos da empresa e da universidade

não se falavam mais e a equipe do projeto teve de ser trocada. Neste caso foi citada

a barreira “inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos”. Tivemos

ainda quatro entre dez entrevistados citando “diferenças de finalidade” referindo-se a

falta de compromisso dos envolvidos com o projeto na empresa, dizendo que eles

preteriam os compromissos com o processo por outros compromissos na empresa.

As demais barreiras não tiveram uma citação sequer: “diferenças de objetivo

principal“; “diferenças estruturais“; “diferenças na natureza da investigação“; “baixo

grau de interdisciplinaridade“; “pequeno tamanho de alguns laboratórios“; “diferenças

em uma perspectiva cultural“; e, por último, “burocracia na universidade”, que sugere

que os envolvidos das universidades estão satisfeitos com seus procedimentos para

estabelecer acordos ou parcerias com instituições privadas.

Além das categorias de análise levantadas na revisão bibliográfica, e baseados

no fato de que o escopo de gestão da coordenação do programa “Convênios com

Universidades” está além do modelo de cooperação utilizado como referência,

analisamos também as informações de outras duas categorias de análise: a

execução do projeto e os resultados do projeto.

102

As informações de execução do projeto levantadas nas entrevistas mostraram

que todos os projetos tinham o escopo e o plano inicial bem definido e em acordo, o

que parece ter sido razão para minimizar as barreiras. Os encontros regulares entre

as equipes dos projetos eram previstos em todos os planos, mas não foi observado

o costume de cumprir a realização destes encontros, isso não parece ter sido,

porém, causa de problemas significativos para os projetos.

Segundo os entrevistados, os contratos de cooperação tecnológica eram

apenas o ponto de partida para a execução do projeto, quando então os

coordenadores do projeto eram indicados – por parte da empresa e por parte da

universidade – e estes mesmos faziam a mobilização dos recursos necessários para

o projeto, além do estabelecimento da rotina de execução e acompanhamento do

projeto. Assim pudemos verificar como se deu o que chamamos de estágio de

execução da cooperação no programa estudado, estágio presente em todos os

casos analisados, mas que não foi apresentado no conteúdo do modelo proposto

por Gonçalves Neto (1986).

A duração dos projetos foi bem variada, havendo projetos de três meses a dois

anos de duração, e ainda as pesquisas de doutorado que tinham duração ainda

maior. Dentre os dez casos apenas dois tiveram problemas significativos de

cumprimento do que foi planejado conforme apresentado a seguir.

Os resultados do projeto, segundo os entrevistados, atenderam às

expectativas dos envolvidos nos projeto, sugerindo que seus objetivos foram

103

alcançados apesar das barreiras encontradas, isto é, aqueles projetos que ainda

estão em andamento ou ainda não apresentaram resultados ou os resultados

parciais estão adequados; aqueles projetos que já foram concluídos foram dados

como projetos de sucesso, até mesmo com o que se propunha a patentear o produto

tem o processo de patente em andamento conforme planejado. Dois casos

particulares mereceram uma atenção diferenciada: o caso 4, o único que apresentou

problemas sérios de andamento por problemas de entendimento entre as equipes,

mas que ainda assim mantém os envolvidos empolgados com os resultados

parciais; e o caso 7 que tem problemas sérios de cronograma, mas cujos envolvidos

não estão dando relevância ao problema. Sugerindo que a importância do projeto

perdeu importância.

Embora, como citado anteriormente, nem todos os projetos tivessem resultados

já apresentados, entrevistados de todos os projetos citaram um processo de

avaliação do projeto que deve ocorrer sempre doze meses após o enceramento do

projeto e tem o objetivo de verificar se os resultados alcançados foram aderentes

aos estudos de viabilidade realizados. Os empregados envolvidos no projeto são

avaliados com indicadores de desempenho associados a estes projetos. Assim

pudemos verificar como se deu o que chamamos de estágio de avaliação da

cooperação no programa estudado, estágio que está ou estará presente em todos

os casos analisados, segundo os entrevistados, mas que não foi apresentado no

conteúdo do modelo proposto por Gonçalves Neto (1986).

104

7 Desenvolvimento do Quadro de Referência

O processo de cooperação entre a VALE e as universidades através do

programa “Convênios com Universidades” pôde ser analisado nesta pesquisa com

referência no modelo sugerido por Gonçalves Neto (1986). Mas pudemos perceber

que o escopo de gestão deste programa não é todo contemplado pelo modelo da

literatura conforme apontamos ao longo da análise de resultados, deixando claro

que os estágios do processo de cooperação observado são diferentes daqueles

sugeridos pelo modelo de referência.

Por isso, concluímos que é necessário fazer uma adaptação deste modelo para

que o que foi aprendido com esta pesquisa possa ser utilizado, não só pela própria

VALE, mas também por outras empresas e pelas universidades envolvidas em

programas semelhantes. Assim, criamos um quadro de referência sobre a

cooperação entre universidades e empresas a partir da adaptação do modelo

utilizado na pesquisa.

Consideramos, para desenvolver o quadro de referências, que o modelo de

iniciação da cooperação proposto por Gonçalves Neto (1986), seria desdobrado em

dois estágios: o estágio de iniciação; e o estágio de aprovação. Podemos dizer que

o primeiro estágio tem por principal objetivo endereçar todos os motivadores para o

projeto de cooperação; e o estágio seguinte, permite a identificação de vários fatores

que indicam o surgimento de barreiras ao projeto. A estes estágios, que já são

contemplados no modelo da literatura, adicionamos outros dois: estágio de

105

execução, que é acompanhado na VALE pela coordenação do programa, e que

permite o aprendizado para mitigar barreiras nos projetos de cooperação; e estágio

de avaliação, que contribui com o entendimento completo do processo de

cooperação, e é utilizado para medir o desempenho do empregados envolvidos no

projeto. A figura 3 é o diagrama que representa o quadro de referência proposto, e

em seguida explicamos o novo modelo.

Figura 03: Ciclo de vida de um projeto de Cooperação U-E

Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986)

106

O processo de cooperação U-E através do programa “Convênios com

Universidades” da VALE pode ser representado pelo diagrama acima. Este, a

exemplo do modelo da literatura, é um modelo bem simples, mas que pode ser

utilizado por outras empresas e universidades interessadas em processos de

cooperação universidade-empresa.

7.1 Estágio de Iniciação

Figura 04: O estágio de iniciação do processo de cooperação U-E

Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986)

Idéias que podem se tornar projetos de cooperação universidade-empresa

(cooperação U-E) podem ter origem na empresa ou na universidade; estas idéias

são analisadas pela empresa sob aspectos comerciais e também científicos. Idéias

com valor comercial e científico devem ser considerados pela empresa e passam a

fazer parte das necessidades da empresa.

107

Conforme representado na figura 4, quando uma idéia nasce em uma área de

negócio da empresa, a própria área deve identificar se há alguma necessidade da

empresa associada àquela idéia; quando a idéia vem de alguma universidade, o

professor ou pesquisador deve apresentar a idéia para a coordenação do programa

“Convênios com Universidades”; a coordenação do programa deve identificar as

áreas de negócios da empresa que podem se interessar pela idéia, e encaminhá-la

para estas áreas; novamente a área deve identificar se há alguma necessidade da

empresa associada a esta idéia; havendo a necessidade, a área de negócio deve

apresentar uma proposta de projeto com seu estudo de viabilidade e a justificativa

para a necessidade de utilização de recursos de universidades no projeto. Este

estágio de iniciação está representado na figura 4.

7.2 Estágio de Aprovação

Todas as propostas de projetos de cooperação U-E apresentadas pelas áreas

de negócios devem ser analisadas pela coordenação do programa “Convênios com

Universidades”. Estas análises devem seguir os seguintes critérios: validação

técnica e econômica dos estudos de viabilidade feitos pelas áreas de negócios; e

validação das justificativas para utilização de recursos das universidades. A

coordenação do programa tem apoio de outras áreas da empresa – avaliação de

investimentos, desenvolvimento de processos minerais, etc. – para fazer estas

análises. Se a proposta da área de negócio for aprovada, a coordenação do

programa deve priorizar – a urgência do projeto não é utilizada para analisar se o

projeto deve ou não ser objeto de cooperação U-E – os projetos e solicitar proposta

108

com detalhamento técnico e condições comerciais para as universidades. Se a

proposta da universidade for aprovada e a área de negócio envolvida apresentar

evidências de que possui os recursos necessários – provisão orçamentária,

pessoas, etc. – para o projeto, a coordenação do programa deve providenciar o

contrato para início do projeto de cooperação entre a VALE e a universidade,

completando o estágio de aprovação representado no modelo da figura 5.

Figura 05: O estágio de aprovação do processo de cooperação U-E

Fonte: adaptado de Gonçalves Neto (1986)

109

7.3 Estágio de Execução

Os contratos de cooperação tecnológica são o ponto de partida para a

execução do projeto. Deve ser definido no contrato o coordenador do projeto por

parte da empresa e o coordenador por parte da universidade, e, tão logo o contrato

esteja assinado, os coordenadores devem mobilizar os recursos necessários para o

projeto e estabelecer a rotina de execução e acompanhamento do projeto. O projeto

se encerra com a entrega de todos os produtos definidos em contrato. A figura 6

representa o estágio de execução do processo de cooperação.

Figura 06: O estágio de execução do processo de cooperação U-E

Fonte: adaptação de Gonçalves Neto (1986)

110

7.4 Estágio de Avaliação

O estágio final do processo de cooperação U-E no programa “Convênio com

Universidades” é o de avaliação. Esta avaliação acontece doze meses após o

enceramento do projeto e tem o objetivo de verificar se os resultados alcançados

estão conforme os estudos de viabilidade realizados, permitindo a avaliação dos

empregados envolvidos no projeto. Este estágio permite também um maior

conhecimento sobre o processo de cooperação como um todo.

111

8 Conclusão

Os dois projetos que apresentaram problemas de execução são exatamente

os dois que são classificados pela empresa como urgente. É possível concluir que

os projetos urgentes para a empresa parecem não serem idéias para a cooperação

com universidades, cujo senso de urgência é culturalmente diferente. O novo

modelo proposto não prevê este tipo de avaliação, a urgência continua sendo

apenas um critério para priorização dos projetos, mas não para interferir na decisão

de executá-lo por cooperação ou não.

Em um cenário no qual se destaca a inovação tecnológica como instrumento

estratégico para as empresas, verificamos de fato que, embora não tenha sido

informado pela empresa o número de pesquisadores em seu quadro de

empregados, pudemos verificar que o potencial dos seus programas de cooperação

tecnológica com universidades está muito aquém da capacidade, confirmando a

sugestão de uma grande contradição. Este déficit está não só na quantidade de

projetos, mas também na qualidade dos mesmos, uma vez que, entre os casos

estudados, são poucos os que tratam de fato do desenvolvimento de inovações

tecnológicas.

112

É importante ressaltar que a pesquisa foi aplicada somente em uma empresa,

a VALE, que se encontra atualmente diante de um contexto muito favorável, pois as

margens praticadas para seus produtos são altas e isso faz com que os recursos

financeiros da empresa não represente um real gargalo para seus investimentos.

Ficou claro que o Programa Convênio com Universidades poderia ser utilizado de

maneira mais intensa, a oferta de recursos, embora a pesquisa não tivesse qualquer

pretensão de investigar esta questão, leva à utilização de outros meios para

resolução de problemas e fomento de inovações.

113

9 Sugestões para Futuras Pesquisas

Como o principal objetivo desta pesquisa está na sugestão de um novo

modelo para a cooperação universidade-empresa, o quadro de referência, a

principal sugestão é a aplicação ou a experimentação deste modelo em outras

empresas a fim de entendê-lo em um universo maior.

Um dos maiores desafios para o autor desta pesquisa foi não perder o foco

nos objetivos definidos inicialmente. A descoberta de novos assuntos muito

interessantes, não só a partir da revisão bibliográfica sobre Gestão da Inovação, que

é tão abrangente, mas também a partir da exploração das práticas de uma empresa

que possui cerca de 40 mil empregados próprios, recorrentemente convidava o autor

a visitar questões fora dos objetivos da pesquisa.

As relações investigadas nos estudos de caso desta pesquisa envolviam duas

instituições: a Empresa e a Universidade. Uma sugestão para futuras pesquisas é

trazer para este cenário de relações o Governo, e explorar com isso um conjunto de

interações mais complexo, onde mais interesses devem ser considerados.

Os estudos de caso desta pesquisa foram todos associados a projetos do

programa Convênios com Universidades. Como sugestão para estudos de caso que

também explorem a Gestão da Inovação, temos as outras iniciativas da VALE, com

destaque para o desenvo lvimento do Plano Diretor de Tecnologia (PDTec), o

Monitoramento Tecnológico, e a Proteção de Patentes.

114

Outra sugestão é um estudo de caso que acompanhe o desenvolvimento de

projetos de cooperação ao longo do tempo, para explorar melhor e com mais

profundidade os relacionamentos entre os atores envolvidos. É possível ainda

explorar os resultados dos projetos, e entender como projetos bem desenvolvidos e

com resultados bons são utilizados para melhorias em outras oportunidades na

empresa, que significa entender se disciplinas de Gestão do Conhecimento são

utilizadas para alavancar os resultados do programa.

De um modo mais amplo, uma conseqüência natural deste trabalho é abrir as

portas da Companhia Vale do Rio Doce a estudos avançados em administração,

fomentando diversas pesquisas sobre os assuntos relacionados às práticas de

gestão implementadas na Companhia Vale do Rio Doce, a fim de enriquecer os

conhecimentos das áreas de pesquisa relacionadas.

115

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acesso: 10 de maio de 2007.

125

11 Anexos

11.1 Anexo I: Roteiro de Pesquisa

Antes do contato inicial do entrevistador por telefone, foi enviado uma mensagem

introdutória para cada um dos entrevistados. A mensagem foi a seguinte:

“MENSAGEM AOS ENTREVISTADOS

Estamos realizando um pesquisa sobre cooperação tecnológica entre empresas e

universidades. Estamos interessados especificamente nos projetos desenvolvidos entre a

Companhia Vale do Rio Doce e algumas universidades através do programa corporativo

“Convênios com Universidades”.

A pesquisa faz parte de um projeto de dissertação de mestrado cujo problema de

pesquisa proposto pode ser traduzido através das seguintes questões:

(a) “Como ocorre o processo de cooperação tecnológica entre a empresa VALE e

as universidades?” – como se dá de fato o relacionamento entre a empresa e as

universidades;

(b) “Quais as principais vantagens e desvantagens da cooperação tecnológica

entre a VALE e as universidades para os principais envolvidos?” – principais vantagens e

principais desvantagens desta cooperação para a empresa, para as universidades e para a

sociedade.

126

Além disso, a Companhia Vale do Rio Doce está interessada em entender como

melhorar sua estratégia de parcerias com universidades e identificar oportunidades de

melhorias para o programa “Convênios com Universidades”.

Contamos com sua colaboração para o sucesso desta pesquisa.”

Após o envio desta mensagem o entrevistador entrou em contato com cada um dos

entrevistados a fim de organizar uma agenda de entrevistas. As entrevistas, realizadas

pessoalmente ou por telefone, foram conduzidas baseadas nos roteiros apresentados a

seguir. Apesar de os roteiros estarem em forma de questionário, eles não foram

apresentados aos entrevistados, apenas o entrevistador os utilizou como referência.

11.1.1 Item A: Empregados da Empresa VALE

Roteiro para os envolvidos no projeto pela VALE

1) Qual é o seu nome?

2) Em que área da empresa você atua?

Operações de Ferrosos Operações de Não-Ferrosos

Operações de Logística Operações de Participações

Planejamento e Gestão Pesquisa & Desenvolvimento / Tecnologia

Finanças Serviços Compartilhados, TI ou RH

Outros

3) Você participa ou participou em qual projeto do programa “Convênios com Universidades”? Citar o nome da universidade envolvida no projeto.

127

4) Além da participação no programa “Convênios com Universidades”, a empresa e você têm ou tinham algum envolvimento com esta ou outras universidades? Se sim, citar qual o envolvimento.

Relações pessoais informais (rede de relacionamento entre profissionais, etc.)

Relações pessoais formais (aluno de graduação, aluno de pós-graduação,

professor, pesquisador, consultor, etc.)

Outros convênios entre a empresa e universidades diferentes do programa

“Convênios com Universidades”

Contratos de prestação de serviços específicos entre a empresa e universidades

Convênios ou contratos de prestação de serviços específicos entre a empresa e

outras instituições que fazem as interações com universidades

Outros

5) Você participa ou já participou de outros projetos de “Convênios com Universidades”? Se sim, citar o número de projetos e as universidades envolvidas.

6) Para o projeto citado na questão 3, como, onde e quando surgiu a demanda que motivou a criação de um projeto no programa “Convênios com Universidades”?

7) Como se deu o processo de aprovação deste projeto?

8) Quais são ou eram os objetivos deste projeto? O projeto é de pesquisa básica ou aplicada? Há ou havia algum produto ou entrega definido?

128

9) Qual é ou era o escopo deste projeto? Qual o conteúdo da pesquisa?

10) Porquê este projeto é ou era importante para a empresa?

11) Qual é ou era a complexidade tecnológica do projeto e o grau de inovação associado à pesquisa? Há ou havia algum risco associado ao projeto?

12) Qual é ou era a urgência deste projeto?

13) Qual a importância de envolver uma universidade para colaborar com este projeto?

14) Em vez de uma universidade, o colaborador deste projeto poderia ser outra instituição (uma outra empresa, um centro de pesquisa não acadêmico, um profissional autônomo, etc.)?

15) Seria possível executar este projeto apenas com recursos internos da empresa?

16) Quem são ou eram os envolvidos da empresa neste projeto? Citar seus cargos (analista, engenheiro, gerente, etc.) e as áreas em que atuam caso sejam diferentes da sua.

17) Quem são os envolvidos da universidade neste projeto? Citar suas funções (aluno, pesquisador, professor, etc.) e seus títulos acadêmicos, se for o caso.

129

18) Como acontecem ou aconteciam as interações entre as equipes da empresa e da universidade? Citar os meios de contatos e a freqüência dos contatos e, ainda, a qualidade destas interações.

19) Quais as principais dificuldades encontradas nas interações entre as equipes da empresa e da universidade durante este projeto?

Dificuldades de comunicação

Dificuldades de relacionamento interpessoal

Falta de compromisso dos envolvidos na universidade com o projeto

Falta de qualidade nos produtos do projeto

Outros

20) Quais os resultados alcançados até agora com o projeto? Os objetivos estão sendo alcançados?

21) Para você ou sua área na empresa, quais são os principais motivadores para a cooperação tecnológica com universidades?

Acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados

Acesso a uma grande variedade de treinamentos de pós-graduação

Acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu staff

Acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade

Melhor imagem pública da empresa junto à comunidade

Obtenção de conhecimento técnico

Obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios

Acesso às fronteiras da ciência

Acesso às pesquisas científicas com viés preditivo

130

Terceirização de atividades de P&D

Melhoria da qualidade

Carência de recursos

Cortes de custos

Acesso a novos mercados

Melhoria de eficiência operacional

Outros

22) Para você ou sua área na empresa, quais são as principais barreiras à cooperação tecnológica com universidades?

Diferenças de objetivo principal

Diferenças de finalidade ou foco

Diferenças estruturais

Diferenças culturais

Diferenças na natureza da investigação

Burocracia da empresa

Burocracia da universidade

O baixo grau de interdisciplinaridade

O pequeno tamanho de alguns laboratórios

A inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos

Diferenças em uma perspectiva cultural

Outros

131

11.1.2 Item B: Pesquisadores das Universidades Envolvidas

Roteiro para os envolvidos no projeto pela universidade

1) Qual é o seu nome?

2) Em que universidade você atua? Citar o departamento da universidade.

3) Quais atividades acadêmicas seu departamento desenvolve?

Atividades de pesquisa científica em ciência básica

Atividades de pesquisa científica em pesquisas aplicadas

Comercialização dos resultados de suas pesquisas

Lançamento e administração de patentes

Difusão de conhecimento através de publicações

Difusão de conhecimento através de educação e ensino

Prestação de serviços de consultoria

Administração de incubadoras de tecnologia e de negócios

Participação financeira em empresas

Ensino de empreendedorismo para seus alunos

Outros

4) Você participa ou participou em qual projeto do programa “Convênios com Universidades” da Companhia Vale do Rio Doce?

132

5) Além da participação no programa “Convênios com Universidades”, a universidade ou o seu departamento têm ou tinham algum envolvimento com a VALE? Se sim, citar qual o envolvimento.

Relações pessoais informais (rede de relacionamento entre profissionais, etc.)

Relações pessoais formais (contratos não institucionais direto com a empresa

como professor, pesquisador, consultor, etc.)

Outros convênios entre a universidade e a VALE diferentes deste programa

(programas de treinamento, cursos de graduação, cursos de especialização, cursos

de pós-graduação, etc.)

Contratos de prestação de serviços específicos entre a universidade e a VALE

Convênios ou contratos de prestação de serviços específicos entre a

universidade e outras instituições que fazem as interações com empresas

Outros

6) Você participa ou já participou de outros projetos do programa “Convênios com Universidades” da VALE? Se sim, citar o número de projetos.

7) Para o projeto citado na questão 3, como, onde e quando surgiu a demanda que motivou a criação de um projeto no programa “Convênios com Universidades”?

8) Como se deu o processo de aprovação deste projeto?

9) Quais são ou eram os objetivos deste projeto? O projeto é de pesquisa básica ou aplicada? Há ou havia algum produto ou entrega definido?

10) Qual é ou era o escopo deste projeto? Qual o conteúdo da pesquisa?

133

11) Porquê este projeto é ou era importante para a universidade?

12) A negociação do projeto envolveu bolsas de estudos para os estudantes da universidade? Se sim, que tipos de bolsas?

13) Qual é ou era a complexidade tecnológica do projeto e o grau de inovação associado à pesquisa? Há ou havia algum risco associado ao projeto?

14) Qual é ou era a urgência deste projeto?

15) Qual a importância de desenvolver um projeto em cooperação com uma empresa?

16) A universidade poderia ter desenvolvido em este projeto com a cooperação de uma outra instituição (uma instituição governamental, uma outra universidade, um profissional autônomo, etc.)?

17) Seria possível executar este projeto apenas com recursos internos da universidade?

18) Quem são os envolvidos da universidade neste projeto? Citar suas funções (aluno, pesquisador, professor, etc.), seus departamentos, caso sejam diferentes do seu, e seus títulos acadêmicos, se for o caso.

134

19) Quem são ou eram os envolvidos da empresa neste projeto? Citar seus cargos (analista, engenheiro, gerente, etc.) e as áreas em que atuam.

20) Como acontecem ou aconteciam as interações entre as equipes da universidade e da empresa? Citar os meios de contatos e a freqüência dos contatos e, ainda, a qualidade destas interações.

21) Quais as principais dificuldades encontradas nas interações entre as equipes da universidade e da empresa durante este projeto?

Dificuldades de comunicação

Dificuldades de relacionamento interpessoal

Falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto

Outros

22) Quais os resultados alcançados até agora com o projeto? Os objetivos estão sendo alcançados?

23) Para você ou seu departamento na universidade, quais são os principais motivadores para a cooperação tecnológica com empresas?

Oportunidade de acesso às necessidades do mercado

Desenvolvimento de atividades fontes de receitas (serviços e produtos)

Oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes

Oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

Acesso a mercados protegidos ou de difícil acesso

Exposição ao ambiente de negócios

Melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias

Criação de valor social

135

Criação de spin-offs

Acesso a recursos financeiros

Lançamento de patentes

Outros

24) Para você ou sua área na empresa, quais são as principais barreiras à cooperação tecnológica com universidades?

Diferenças de objetivo principal

Diferenças de finalidade ou foco

Diferenças estruturais

Diferenças culturais

Diferenças na natureza da investigação

Burocracia da empresa

Burocracia da universidade

O baixo grau de interdisciplinaridade

O pequeno tamanho de alguns laboratórios

A inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos

Diferenças em uma perspectiva cultural

Outros

136

11.2 Anexo II: Resumo dos Casos Estudados

11.2.1 Caso 1: Avaliação da Integridade Estrutural de Pontes e

Viadutos

CONTEXTO DO PROJETO

Diante do aumento da demanda por transporte ferroviário para suportar as

operações da empresa na região norte do país, um dos desafios das equipes de

engenharia é dimensionar os custos das obras de expansão de infra-estrutura de

ferrovias. O projeto "Avaliação da Integridade Estrutural de Pontes e Viadutos

Ferroviários ao Longo da Estrada de Ferro Carajás" trata da realização da avaliação

estrutural das quarenta e cinco pontes e oito viadutos ferroviários da Estrada de

Ferro Carajás e do desenvolvimento de uma metodologia de avaliação de pontes e

viadutos.

O projeto envolveu a gerência de engenharia de manutenção de transportes da

Diretoria Executiva de Logística da VALE e o Núcleo de Ins trumentação e

Computação Aplicado à Engenharia – NiCAE – da Universidade Federal do Pará

(UFPA). Este é um dos três projetos ativos sob o convênio guarda-chuva de

cooperação tecnológica entre a VALE e a UFPA através da Fundação de Amparo e

Desenvolvimento da Pesquisa – FADESP.

137

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. aumentar a eficiência do processo de avaliação dos projetos de

engenharia ferroviária, oferecendo aos tomadores de decisão

informações mais confiáveis; e

b. desenvolver o relacionamento da empresa com a comunidade através

dos convênios com universidades locais;

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Mecânica

Computacional e Análise Experimental de Estruturas;

b. contribuir para o desenvolvimento do parque industrial da região

amazônica, atendendo a demanda por serviços especializados de

grandes empresas localizadas nesta região;

c. aprimorar a qualidade de ensino em Engenharia em nível de

graduação e pós-graduação, através de acesso a recursos para

reaparelhamento de laboratórios e do aprimoramento técnico e

profissional para os membros participantes, principalmente os alunos.

NATUREZA

138

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como

de risco baixo porque o assunto é de domínio dos pesquisadores envolvidos no

projeto e, do ponto de vista de tecnologia, não apresenta complexidade significativa.

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Segundo o entrevistado da universidade, o projeto tem urgência baixa, pois

ele pode iniciar imediatamente ou ser postergado para outro momento sem impacto

significativo nos planos da universidade. No entanto, ele tem importância alta

considerando os motivadores do projeto e, em especial, a relevância que existe em

ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte financeiro correspondente.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência média, pois,

apesar de não representar riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou

ambientais, ele pode significar resultados econômicos relevantes em novos projetos

de expansão da malha ferroviária. Ele possui importância média porque está

associado aos objetivos estratégicos de redução de custos de modo sustentável.

EQUIPE DO PROJETO

O engenheiro A.A.A. é o coordenador técnico pela VALE e é o único

empregado da empresa envolvido diretamente no projeto. A coordenadora técnica

139

do projeto por parte da UFPA é a professora R.A.C.S., doutora em Engenharia Civil

e especialista em dinâmica das estruturas, e a equipe técnica principal responsável

pela execução dos trabalhos conta ainda com os seguintes participantes: o professor

D.R.C.O., doutor em Engenharia Civil e especialista em estruturas de concreto; o

professor L.A.C.M.V., doutor em Engenharia Civil e especialista em análise

experimental de estruturas; o professor R.M.S., doutor em Engenharia Civil,

especialista em engenharia de estruturas e em mecânica computacional; o

engenheiro S.D.R.A., mestre em Engenharia Civil na área de dinâmica das

estruturas; o professor A.N.M., doutor em Engenharia Civil e especialista em fadiga

de estruturas e ligações; o professor J.P.R.N., mestre em Engenharia Civil e

especialista em estruturas metálicas e em projeto de grandes estruturas; o professor

R.J.F.M.C., doutor em Engenharia Civil e especialista em estruturas de concreto

armado; o professor S.J.R.J., doutor em Engenharia Civil e especialista em

otimização de estruturas de concreto armado; o professor J.A.A.J., doutor em

Engenharia Civil e especialista em fundações e mecânica dos solos; o professor

G.J.A., doutor em Engenharia Civil e especialista em geotecnia. Há uma equipe de

campo dedicada aos trabalhos de inspeção, instrumentação e monitoração das

estruturas, formada por dois destes professores, um engenheiro civil especialista em

estruturas, dois alunos de mestrado e iniciação científica vinculados ao NiCAE, dois

técnicos de nível médio, e operários para serviços auxiliares.

Foram entrevistados o engenheiro A.A.A., coordenador técnico do projeto pela

VALE, e a professora R.A.C.S., coordenadora técnica do projeto por parte da UFPA.

A entrevista com o engenheiro da empresa se deu no escritório da empresa em Belo

Horizonte e, com a professora, se deu por telefone.

140

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de pessoal interno);

b. obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios

(empresas de consultoria ou prestação de serviços, conhecimento

interno da empresa, etc.);

c. melhoria da qualidade (o processo de avaliação atual assume

premissas conhecidamente inadequadas); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. oportunidade de acesso às necessidades do mercado

(desenvolvimento de atividades alinhadas às necessidades do

mercado);

b. oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes;

c. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

(publicação do aprendizado com o projeto);

d. exposição ao ambiente de negócios (criação de uma metodologia que

possa vir a ser utilizada por outras empresas); e

e. acesso a recursos financeiros (obtenção de recursos para pesquisas e

melhorias na infra-estrutura da universidade).

141

EXECUÇÃO DO PROJETO

As etapas do projeto são: Análise Preliminar, Análise do Material Construtivo,

Análise Numérica, Monitoramento Estrutural, Calibração do Modelo Numérico,

Análise da Resistência à Fadiga da Estrutura, e Avaliação e Re-Adequação do

Projeto Estrutural Original. O projeto possui um escopo bem definido, com entregas

parciais ao final de cada uma das etapas acima.

O projeto, planejado para durar 6 meses, iniciou em fevereiro de 2007 e está

com previsão de encerramento para o final do mês de setembro de 2007, com

apenas um pequeno atraso em relação ao plano inicial. O engenheiro da empresa

encontra-se uma vez a cada duas semanas para uma reunião de acompanhamento

do projeto com a equipe da universidade – a coordenadora e o líder da equipe de

campo – no escritório da empresa em Carajás, no Pará. Eventualmente, este

encontro é realizado no campus da universidade em Belém.

RESULTADOS DO PROJETO

Ambas as partes estão entusiasmadas com o projeto. As etapas que já foram

concluídas são: Análise Preliminar, Análise do Material Construtivo, Análise

Numérica, Monitoramento Estrutural, e Calibração do Modelo Numérico. Os

resultados destas etapas foram apresentados em encontro com os patrocinadores

142

do projeto e, segundo o coordenador do projeto, eles estão satisfeitos com os

resultados apresentados. As etapas restantes – Análise da Resistência à Fadiga da

Estrutura, e Avaliação e Re-Adequação do Projeto Estrutural Original – serão, no

entanto, as que realmente importam no que diz respeito à quantificação do retorno

do projeto e, portanto, estão sendo esperadas com maior ansiedade.

BARREIRAS ENCONTRADAS

Os entrevistados não falaram espontaneamente sobre quaisquer barreiras para

a realização do projeto. A partir da utilização do roteiro de entrevista ambos

entrevistados citaram o que eles puderam entender como barreiras:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. diferenças em uma perspectiva cultural (decisões técnicas da equipe

de projeto não focadas em resultado); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. burocracia da empresa (dificuldades de acesso a instalações).

É relevante citar, como pode ser observado nas descrições a seguir, que este

caso foi o único que aconteceu de acordo com o cronograma, com ambas as partes

cumprindo suas tarefas sem atrasos significativos. Por isso mesmo acredito que não

falaram espontaneamente sobre barreiras.

143

11.2.2 Caso 2: Modelagem Numérica e Inversão de Dados

Tensoriais

CONTEXTO DO PROJETO

A atividade de exploração geofísica normalmente demanda alguma incerteza e

grandes investimentos. Novas técnicas e ferramentas podem significar um fator

decisivo na identificação de alvos de pesquisa, reduzindo riscos sem adicionar altos

custos, e aumentando a eficiência de programas de sondagem exploratória. O

projeto “Modelagem numérica e inversão de dados tensoriais de aerogradiometria

gravimétrica no Quadrilátero Ferrífero – Minas Gerais e Carajás – Pará” trata da

proposição de novas técnicas e ferramentas computacionais para programas de

sondagem exploratórios.

O projeto envolveu a pesquisa de um empregado do Departamento de

Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos da VALE e o Departamento de

Geologia – IGEO/CCMN – da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Havia

um convênio guarda-chuva de cooperação tecnológica entre a VALE e a UFRJ,

através da Fundação Universitária José Bonifácio, que foi o instrumento utilizado

para o financiamento da pesquisa.

144

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. capacitar seu empregado, oferecendo acesso a técnicas e ferramentas

modernas não disponíveis na empresa; e

b. motivar seu empregado, investindo em sua formação com cursos de

longa duração e de titulação avançada.

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Geologia;

b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que

tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.

NATUREZA

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de

risco médio porque o assunto envolve tecnologias ainda não dominadas, e foi

considerado de risco baixo pela empresa porque envolve um investimento baixo e

não está associado a nenhuma meta estratégica ou gargalo operacional.

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como programa de intercâmbio, pois o empregado da empresa ficou

afastado de suas atividades profissionais e dedicado exclusivamente à pesquisa

145

durante o projeto, e conferências e publicações, uma vez que o trabalho da

dissertação de mestrado do autor está disponível.

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Assim como no caso anterior, segundo o entrevistado da universidade, o

projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou ser postergado

para outro momento sem impacto significativo nos planos da universidade. No

entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do projeto e, em

especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte

financeiro correspondente.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele

não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou

ambientais. Ele possui importância baixa também porque não está associado a

nenhum objetivo estratégico ou gargalo operacional.

EQUIPE DO PROJETO

O projeto foi desenvolvido pelo geólogo e pesquisador M.A.B., empregado da

VALE licenciado para cursar o mestrado na UFRJ; o projeto em questão foi sua

pesquisa para obtenção do título de mestre. A pesquisa foi orientada pelos

professores S.C.J. e D.H. do Departamento de Geologia da UFRJ. A Coordenação

Técnica do projeto era constituída pelo professor S.C.J., da UFRJ, e por N.B.,

também geólogo e superior imediato do autor da pesquisa na VALE.

146

Foram entrevistados o geólogo M.A.B., autor da pesquisa e empregado da

VALE, e o professor S.C.J. do Departamento de Geologia da UFRJ, orientador da

pesquisa. A entrevista com o geólogo da empresa se deu no escritório da empresa

em Belo Horizonte e, com o professor, se deu por telefone.

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa (relatado pelo autor da pesquisa):

a. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de pesquisador

interno);

b. acesso às fronteiras da ciência (descoberta de novas técnicas e

metodologias para pesquisa geológica);

c. melhoria da qualidade (maior eficiência, através de novas técnicas, nos

processos de pesquisa geológica); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

(publicação do aprendizado com o projeto);

b. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias

(utilização das técnicas e metodologias pesquisadas na VALE); e

c. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para

os alunos de pós-graduação).

147

EXECUÇÃO DO PROJETO

As etapas da pesquisa foram: obtenção de créditos em disciplinas de mestrado;

treinamento e aprendizado em programação Matlab e Fortran; implementação de

algoritmos para modelagem direta de dados do tensor de gradiometria gravimétrica

aérea; geração de modelos sintéticos análogos às estruturas estimadas do

Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais; proposição de técnicas de inversão dos

dados do tensor de gradiometria gravimétrica e regularização via Condição de

Picard, Curva-L e Tikhonov; aplicação a dados reais adquiridos e cedidos pela

VALE, utilizando levantamentos aéreos do tipo 3D-FTG; elaboração de artigos

técnico-científicos para publicação em revistas especializadas; redação e defesa

pública da dissertação de mestrado.

Atualmente o pesquisador está trabalhando nas duas últimas etapas, com

artigos inscritos como candidatos nas principais publicações da área e sua defesa

de dissertação de mestrado planejada para setembro de 2007. O trabalho total está

previsto para durar vinte meses e ficou dentro da diferença discutida como aceitável

durante o planejamento inicial do projeto que previa uma duração total de dezoito

meses.

148

RESULTADOS DO PROJETO

O trabalho de pesquisa têm sido elogiado, segundo o professor orientador,

pelos demais pesquisadores que tiveram acesso a ele. Segundo o professor, os

resultados desta pesquisa de mestrado são comparáveis às teses de doutorado

desenvolvidas no departamento.

O autor do trabalho está muito feliz com os resultados e as oportunidades de

publicação que estão surgindo, mas recusou o convite de continuar o estudo em

nível de doutorado porque espera ter oportunidades de aplicar a experiência

desenvolvida na academia dentro da empresa VALE.

BARREIRAS ENCONTRADAS

Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o

andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a

conclusão do projeto. Foram eles:

i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:

a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio e sua

liberação da empresa para cursar o mestrado foi longo demais);

b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões

sobre o viés da pesquisa, os orientadores buscavam as fronteiras da

ciência e o autor uma aplicação prática para o trabalho); e

149

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto (ao

longo do projeto o autor da pesquisa se envolveu com outras

atividades da empresa não relacionadas ao projeto);

b. burocracia da empresa (as mesmas dificuldades apontadas pelo autor

da pesquisa).

150

11.2.3 Caso 3: Modelamento Geológico Estrutural de Depósito

Ferrífero

CONTEXTO DO PROJETO

Os estudos de Geologia, de Geotecnia e de Planejamento de Lavra de Curto

Prazo e de Longo Prazo são subsidiados pelo modelamento geológico de depósitos

de minério de ferro. O projeto “Modelamento Geológico Estrutural do Depósito

Ferrífero de Brucutu e Dois Irmãos” trata do modelamento geológico estrutural dos

depósitos ferríferos de Brucutu e Dois Irmãos e da elaboração de um banco de

dados contendo as coordenadas geográficas das estações, as medidas de contatos

geológicos e os elementos estruturais relevantes para o condicionamento da

geometria destes depósitos.

O trabalho foi solicitado por geólogos do Departamento de Ferrosos Sudeste da

VALE ao Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal

de Ouro Preto (UFOP). O convênio guarda-chuva de cooperação tecnológica entre a

VALE e a UFOP, através da Fundação Gorceix, fundação de apoio à Universidade

Federal de Ouro Preto, é o mais utilizado no Programa de Convênios com

Universidades da empresa. A Escola de Minas da UFOP é a que tem mais tradição

no país na formação de Engenheiros de Minas e a VALE conta com vários ex-alunos

desta escola em seu quadro de empregados.

É comum surgirem demandas como esta: este é um trabalho de apoio às

atividades profissionais da empresa, através de um projeto de iniciação científica,

151

que envolve a participação de um aluno de graduação que conhecerá na práticas

atividades diretamente relacionadas aos seus estudos.

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. desenvolver a imagem da empresa diante da comunidade científica;

b. desenvolver o relacionamento com a UFOP, universidade que

tradicionalmente forma empregados da empresa; e

c. conhecer estudantes que possam vir a integrar seu quadro de

empregados;

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. enriquecer a formação de seus alunos de graduação;

b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que

tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.

NATUREZA

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como

de risco baixo porque o assunto é de domínio dos pesquisadores envolvidos no

projeto e não apresenta complexidade tecnológica significativa.

152

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como programa de intercâmbio, pois houve dedicação integral de

estudantes da universidade ao projeto em período de férias escolares, e também

como prestação de serviços técnicos e de consultoria .

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Assim como nos casos anteriores, segundo o entrevistado da universidade, o

projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou ser postergado

para outro momento sem impacto significativo nos planos da universidade. No

entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do projeto e, em

especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte

financeiro correspondente.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele

não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou

ambientais. Ele possui importância média porque, apesar de não estar associado a

nenhum objetivo estratégico ou gargalo operacional, está relacionado com a

formação de alunos que historicamente são selecionados para o quadro de

empregados da empresa.

EQUIPE DO PROJETO

A equipe executora do projeto inclui o geólogo e professor I.E., o aluno de

graduação bolsista G.Q., um geólogo da VALE e um ajudante de campo para

153

auxiliar o levantamento geológico e coleta de amostras para análises geoquímicas.

Para constituir a Coordenação Técnica do projeto, fica indicado o professor I.E. por

parte da UFOP, e o geólogo J.C.V.C. por parte da empresa.

Foram entrevistados o geólogo J.I.R., de uma das equipes de planejamento de

lavra de longo prazo da VALE e solicitante do trabalho, e o professor I.E., geólogo,

com larga experiência em mapeamento geológico, análise estrutural e análise

tectônica do Departamento de Geologia da UFOP. A entrevista com o geólogo da

empresa se deu no escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor, se

deu por telefone.

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa (relatado pelo autor da pesquisa):

a. acesso aos estudantes de graduação mais bem preparados (os alunos,

além do curso de alto nível, passam a conhecer as operações da

empresa);

b. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da

universidade (conhecimentos e técnicas conhecidas disponibilizadas

para a empresa);

c. melhor imagem pública da empresa junto à comunidade

(principalmente, neste caso, à comunidade científica);

154

d. carência de recursos (principalmente de mão-de-obra técnica

qualificada); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes; e

b. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de iniciação

científica para os alunos de graduação).

EXECUÇÃO DO PROJETO

As etapas da pesquisa foram: levantamento e revisão bibliográfica sobre a

geologia da região de Brucutu e Dois Irmãos; mapeamento geológico-estrutural;

confecção de mapas e seções geológicas; confecção do relatório final do

mapeamento.

O trabalho durou seis meses e foi desenvolvido pelo aluno na própria

universidade. O aluno, quando ia a campo, visitava apenas as áreas pesquisadas,

não indo aos escritórios da empresa. As interações se davam por telefone ou correio

eletrônico.

RESULTADOS DO PROJETO

Este projeto foi completado com sucesso e atualmente o aluno de graduação

possui outra bolsa de iniciação científica para desenvolvimento de projeto em outra

área de conhecimento. A continuidade da iniciativa por si só expressa o seu

sucesso.

155

BARREIRAS ENCONTRADAS

Os entrevistados não citaram barreiras quando lhes foi perguntado, mas

quando apresentados os itens do roteiro de entrevista, ambos citaram os seguintes:

i) Do ponto de vista do coordenador do projeto pela empresa:

a. burocracia da universidade (o tempo para aprovação do convênio e

disponibilização da equipe foi longo demais); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto (os

profissionais da empresa diversas vezes não estavam disponíveis

quando solicitados); e

b. burocracia da empresa (os recursos necessários ao projeto que

deveriam ser disponibilizados pela empresa atrasaram muito).

156

11.2.4 Caso 4: Estudo de Lastro de Ferrovia com Escória

CONTEXTO DO PROJETO

Nas operações ferroviárias as sinalizações para o uso adequado de desvios e

para evitar desastres são feitas através de circuitos elétricos instalados nas vias.

Uma das causas de falhas neste sistema de sinalização é a condução elétrica pela

escória que serve de lastro nas ferrovias, principalmente quando chove, causando a

emissão de falsos alertas. O projeto “Estudo de Lastro de Ferrovia com Escória de

Aciaria” trata da determinação quantitativa e qualitativa da composição química da

escória, realização de ensaios de laboratório e de campo em situ nas condições de

uso, verificação e monitoramento de seu comportamento e desempenho, e

determinação da condutividade elétrica em função da composição química da

escória, assim como na presença de outros contaminantes na via.

O projeto envolveu a pesquisa de um aluno de mestrado do Departamento de

Engenharia Civil da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

e a Gerência de Segurança da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFMV) da VALE. O

instrumento utilizado para o financiar a pesquisa foi o convênio guarda-chuva de

cooperação tecnológica entre a VALE e a UFOP já citado no caso anterior.

157

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. obter conhecimento técnico não disponível por outro meios para

solucionar um problema grave de segurança e produtividade na

empresa; e

b. melhorar a produtividade da empresa através de uma maior capacidade

de transporte ferroviário (redução de paralisação do trafego ferroviário,

e eliminação das restrições de velocidade devido a manutenção de

linha decorrente da escória).

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de

Engenharia Civil;

b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que

tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.

NATUREZA

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de

risco alto porque o assunto envolve fronteiras do conhecimento e é

tecnologicamente complexo, e, pela empresa, foi considerado de risco baixo

porque, apesar da complexidade, envolve um investimento baixo.

158

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como conferências e publicações, uma vez que o trabalho da

dissertação de mestrado do autor foi publicado e é base de conhecimento para

novos projetos da empresa.

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Assim como nos casos anteriores, segundo o entrevistado da universidade, o

projeto tem urgência alta, pois, embora ele possa ser postergado para outro

momento, isso causaria um impacto relevante no caráter inovador da iniciativa, há

inclusive a expectativa de lançamento de patentes dos produtos deste projeto. E tem

importância alta também considerando os motivadores do projeto e, em especial, a

relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte financeiro

correspondente.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência alta, pois ele está

associado a riscos de passivos operacionais associados à segurança dos

empregados, e econômicos devido aos custos maiores na operação. Ele possui

importância alta porque está associado aos objetivos estratégicos de redução de

custos e aos gargalos operacionais de produtividade da ferrovia.

EQUIPE DO PROJETO

O projeto está sendo desenvolvido por G.M., autor da pesquisa de mestrado e

bolsista do projeto, e G.F., professor coordenador do projeto e orientador da

159

pesquisa. Para constituir a Coordenação Técnica pela UFOP, foi indicado o

professor G.F., e pela VALE, o engenheiro P.L.S.

Foram entrevistados o professor G.F., doutor em Engenharia Civil e orientador

da dissertação de mestrado da pesquisa em questão, e o Engenheiro de Segurança

P.L.S., empregado da VALE. A entrevista com o geólogo da empresa se deu no

escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor, foi uma entrevista no

campus da UFOP, em conjunto com o professor V.A.L., envolvido no caso 5 que

está apresentado adiante.

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu

staff (foram utilizados laboratórios da universidade para análises

específicas que não poderiam ser realizadas internamente);

b. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da

universidade (conhecimento específicos não disponíveis internamente);

c. acesso às fronteiras da ciência (descoberta de novas composições

para escória);

d. melhoria de eficiência operacional; e

ii) Do ponto de vista da universidade:

160

a. oportunidade de acesso às necessidades do mercado (necessidade

real de uma grande empresa);

b. desenvolvimento de atividades fontes de receitas (prestar serviços a

outras empresas através de novas tecnologias pesquisadas para

produção dos materiais utilizados como lastro na infra-estrutura de

transportes);

c. oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes;

d. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

(publicação do aprendizado com o projeto);

e. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias;

f. criação de valor social (desenvolvimento de infra-estrutura de

transporte);

g. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para

os alunos de pós-graduação);

h. lançamento de patentes.

A entrevista no campus da universidade foi realizada com os envolvidos em

dois projetos diferentes, o resultado acima é a contribuição dos dois entrevistados,

não foi possível diferenciar suas respostas associando-as com os diferentes

projetos.

EXECUÇÃO DO PROJETO

As etapas da pesquisa foram: assinatura do convênio que estabelece as

obrigações entre as partes; planejamento e revisão bibliográfica a fim de especificar

161

os equipamentos que serão utilizados nas instrumentações de campo e nos testes

de laboratório; monitoramento por meio de visitas mensais aos desvios situados ao

longo da EFVM na cidade de Coronel Fabriciano; tratamento do banco de dados;

ensaios de laboratório na UFOP; ensaios de campo; análises; emissão de relatório

técnico para VALE.

O projeto está atrasado em mais de seis meses. Os encontros periódicos

planejados para fazer o acompanhamento do projeto raramente acontecem. A

previsão de entrega do relatório técnico é dezembro de 2007.

RESULTADOS DO PROJETO

Apesar de problemas significativos de cronograma, os testes de laboratório

apresentaram resultados importantes quanto a novas composições para a escória.

Não foi possível avaliar resultados parciais, mas as expectativas de ambas as partes

são muito altas.

BARREIRAS ENCONTRADAS

Ao longo do projeto houve sérios problemas de relacionamento entre os

envolvidos no projeto. Como eram necessários deslocamentos para os trabalhos de

campo os pesquisadores enfrentaram vários problemas administrativos. Houve

necessidade de interferência de executivos para que o projeto continuasse e

atualmente os ânimos parecem estar controlados.

162

Os problemas citados estão representados nas seguintes barreiras:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. dificuldades de relacionamento interpessoal (discussões de projetos

foram levadas para o lado pessoal);

b. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio e sua

liberação da empresa para cursar o mestrado foi longo demais);

c. diferenças em uma perspectiva cultural (o envolvido pela empresa é

bastante exigente e muito focado em resultado);

d. falta de qualidade nos produtos do projeto (não aceitação de alguns

produtos do projeto); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto

(queixas de ausência do “cliente”, informações essenciais não

passadas em tempo adequado);

b. dificuldades de relacionamento interpessoal (discussões de projetos

foram levadas para o lado pessoal);

c. burocracia da empresa (dificuldade de acesso às instalações da

empresa, reservas de hotéis não realizadas, roteiros de viagem com

informações erradas); e

d. A inadequada habilidade das empresas em gerenciar os acordos

(queixas de não cumprimentos das tarefas negociadas no acordo com

responsabilidade da empresa).

163

11.2.5 Caso 5: Estudo de Processo Biológico para Redução de

Sulfato

CONTEXTO DO PROJETO

A remoção de sulfato é um problema real para as empresas que necessitam

adequar seus efluentes aos padrões determinados pela resolução CONAMA nº 20

de 1986. Os métodos tradicionais de remoção de sulfato apresentam sérios

problemas: a utilização de metais pesados contaminantes e poluentes. A alternativa

mais promissora e que já vem sendo aplicada industrialmente envolve o uso de

bactérias redutoras de sulfato (BRS). O projeto de pesquisa “Processo

Biotecnológico para Redução de Sulfato” visa dar continuidade aos estudos

realizados em reatores anaeróbios utilizando as BRS para tratamento de efluentes

industriais e de soluções sintéticas.

O projeto envolveu a pesquisa de um aluno de doutorado do Departamento de

Engenharia Química da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto

(UFOP) e o Departamento de Pesquisa Mineral da VALE. O convênio de

cooperação citado nos dois casos anteriores foi o instrumento utilizado para o

financiamento da pesquisa.

164

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. obter conhecimento técnico não disponível por outro meios para

solucionar um problema grave de segurança e produtividade na

empresa; e

b. estar aderente às políticas da empresa de crescimento sustentável e

de responsabilidade sócio-ambiental;

c. melhorar os processo de tratamento de efluentes da empresa, não só

para atender às normas ambientais, evitando passivos ambientais; e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Química

e Engenharia Química; e

b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que

tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.

NATUREZA

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de

risco alto porque o assunto envolve fronteiras do conhecimento e é

tecnologicamente complexo, e foi considerado de risco baixo pela empresa porque,

apesar da complexidade, envolve um investimento baixo .

165

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como conferências e publicações, uma vez que o trabalho da tese de

doutorado do autor será publicado e é base de conhecimento para novos projetos da

empresa.

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Segundo o entrevistado da universidade, o projeto tem urgência média, pois,

embora seja possível postergá-lo para outro momento sem impacto significativo nos

planos da universidade, ele está associado a oportunidades de lançamento de

patentes. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do

projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na

VALE e o aporte financeiro correspondente.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência média, pois

apesar de estar associado a riscos de passivos ambientais, a solução atual respeita

os limites toleráveis e permitidos pela legislação específica. Possui, porém,

importância alta porque está associado aos objetivos estratégicos de crescimento

social e ambientalmente sustentável.

EQUIPE DO PROJETO

O projeto está sendo desenvolvido por S.N.M., autora da pesquisa de

doutorado e bolsista do projeto, e V.A.L., professor coordenador do projeto e

166

orientador da pesquisa. Para constituir a Coordenação Técnica pela UFOP foi

indicado o professor V.A.L. e a pesquisadora G.S.P.P. pela VALE.

Foram entrevistados o professor V.A.L., doutor em Engenharia Química e

orientador da tese de doutorado da pesquisa em questão, e a engenheira G.S.P.P.,

doutora em Engenharia Química e pesquisadora da VALE. A entrevista com a

engenheira da empresa se deu no escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o

professor, conforme citado anteriormente, foi uma entrevista no campus da UFOP,

em conjunto com o professor G.F., doutor em Engenharia Civil e orientador da

dissertação de mestrado da pesquisa do caso anterior.

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu

staff (foram utilizados laboratórios da universidade para análises

específicas que não poderiam ser realizadas internamente);

b. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da

universidade (conhecimento específicos não disponíveis internamente);

c. acesso às fronteiras da ciência (descoberta de novos processos de

redução de sulfato); e

167

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. oportunidade de acesso às necessidades do mercado (necessidade

real de uma grande empresa);

b. oportunidade de oferecer experiências práticas aos estudantes;

c. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

(publicação do aprendizado com o projeto);

d. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias;

e. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para

os alunos de pós-graduação);

f. lançamento de patentes.

A entrevista no campus da universidade foi realizada com os envolvidos em

dois projetos diferentes, o resultado acima é a contribuição dos dois entrevistados,

não foi possível diferenciar suas respostas associando-as com os diferentes

projetos.

EXECUÇÃO DO PROJETO

As etapas da pesquisa foram: obtenção de créditos para titulação de doutorado;

revisão bibliográfica; coleta de amostras de BRS; isolamento e caracterização

bacteriana; ensaios em batelada; ensaios em contínuo; redação de artigos; redação

da tese.

A pesquisa de doutorado está no fim de seu segundo ano, de um total previsto

de quatro. Atualmente a pesquisadora está escrevendo artigos com os primeiros

168

resultados das análises. A previsão de defesa da tese de doutorado é dezembro de

2009.

RESULTADOS DO PROJETO

Nenhum resultado foi apresentado para a VALE até o momento. Mas o

andamento do projeto está conforme o plano inicial. As expectativas de ambas as

partes são muito altas.

BARREIRAS ENCONTRADAS

Poucas foram as barreiras relatadas pelos envolvidos neste projeto. Mas é

relevante lembrar que a entrevista com o professor foi em conjunto com o de outro

projeto que teve muitos problemas, de modo que ele parece ter sido contaminado

pelo outro. As barreiras citadas foram:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio foi longo

demais e houve um problema de atraso no pagamento da bolsa de

doutorado por problemas administrativos);

b. diferenças em uma perspectiva cultural (o foco dos pesquisadores não está

em resultados); e

169

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto (queixas de

ausência do “cliente”);

b. burocracia da empresa (dificuldade de acesso às instalações da empresa,

pagamentos da bolsa de doutorado não efetuados).

170

11.2.6 Caso 6: Estudo de Modelação de Complexo Portuário

CONTEXTO DO PROJETO

O desenvolvimento da região Norte como pólo exportador passa pela

necessidade de expansão dos portos locais. Destacam-se nesse cenário os

terminais marítimos maranhenses, operados que VALE, responsáveis por parte

significativa dos embarques, não somente dos produtos da empresa, mas também

carga geral, principalmente agrícola, produzidos na região. O projeto “Modelagem

Numérica Hidrodinâmica e Sedimentológica do Complexo Portuário do Maranhão”

trata dos estudos de modelagem necessários para o planejamento da ampliação do

Terminal Marítimo da Ponta da Madeira, em São Luís, e também para os estudos de

viabilidade para construção de novos portos.

O projeto envolveu o estudo e o uso de técnicas avançadas de modelagem por

dois pesquisadores do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e a Gerência de Portos do

Departamento de Projetos de Engenharia da VALE. O projeto foi criado através do

convênio guarda-chuva de cooperação tecnológica entre a VALE e a USP, através

da Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP).

171

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. desenvolver a imagem da empresa diante da comunidade científica;

b. obter conhecimento técnico não disponível por outro meios; e

c. melhorar a produtividade da empresa através de práticas de

modelagem e simulação.

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de

Engenharia e Computação;

b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que

tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.

NATUREZA

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de

risco médio porque o assunto envolve tecnologias ainda não dominadas, e também

foi considerado pela empresa de risco médio porque, além da complexidade,

envolve um investimento relevante.

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.

172

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Assim como quase todos os casos anteriores, segundo o entrevistado da

universidade, o projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou

ser postergado para outro momento sem impacto significativo nos planos da

universidade. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do

projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na

VALE e o aporte financeiro correspondente.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele

não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou

ambientais. Ele possui importância baixa também porque não está associado a

nenhum objetivo estratégico ou gargalo operacional.

EQUIPE

A equipe do projeto era composta por dois especialistas: um professor com

doutorado e especialista em Hidráulica Marítima, coordenador do projeto; e outro

professor com doutorado e especialista em Hidráulica Marítima e Modelagem

Numérica em Hidráulica.

Foram entrevistados o engenheiro C.F., especialista em Portos da VALE, e o

professor P.A., doutor em Engenharia Naval, e coordenador técnico do projeto pela

USP. A entrevista com o engenheiro da empresa se deu em um escritório da

empresa no Rio de Janeiro e, com o professor, se deu por telefone.

173

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade;

b. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de pessoal interno);

c. obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios

(empresas de consultoria ou prestação de serviços, conhecimento interno

da empresa, etc.);

d. melhoria da qualidade (os estudos de viabilidade dos portos atualmente não

contempla simulações sofisticadas); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. oportunidade de acesso às necessidades do mercado (desenvolvimento de

atividades alinhadas às necessidades do mercado);

b. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

(publicação do aprendizado com o projeto);

c. exposição ao ambiente de negócios (utilização de uma metodologia que

possa vir a ser utilizada por outras empresas);

d. criação de valor social (apoio a projetos de desenvolvimento de infra-

estrutura de transportes que permite o desenvolvimento de toda uma região

do país); e

e. acesso a recursos financeiros (obtenção de recursos para pesquisas e

melhorias na infra-estrutura da universidade).

174

EXECUÇÃO DO PROJETO

O escopo do projeto inclui o desenvolvimento de três fases: Modelagem

numérica do píer IV, V, VI e VII, e obras fixas associadas; Modelagem numérica de

Bacabeiras; Estudo da evolução hidrossedimentológica e morfológica da zona

portuária e de seu entorno. As etapas do projeto são: Levantamento de dados;

Sistematização dos dados barimétricos; Caracterização do clima; Calibração fina do

modelo; Execução de modelagem numérica; e Emissão de Relatórios.

O projeto, planejado para durar doze meses, foi concluído com sucesso em

catorze meses, no início de 2007, com apenas um pequeno atraso em relação ao

plano inicial. Ao longo do projeto os envolvidos pouco se encontraram, apesar de

terem planejado encontros periódicos, mas isso não afetou significativamente o

andamento do projeto devido ã pouca interdependência das atividades do projeto.

RESULTADOS DO PROJETO

Apesar de um pequeno atraso em relação ao plano inicial, todos os produtos do

projeto foram entregues com a qualidade esperada, fazendo com o projeto

alcançasse o sucesso desejado.

175

BARREIRAS ENCONTRADAS

Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o

andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a

conclusão do projeto. Foram eles:

i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:

a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do projeto dentro do

convênio foi longo demais); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;

b. burocracia da empresa (o projeto já estava informalmente aprovado, mas o

tempo para a aprovação formal do projeto foi longo demais).

176

11.2.7 Caso 7: Desenvolvimento de Simulador Ferroviário

CONTEXTO DO PROJETO

A formação de mão-de-obra especializada é um dos pontos-chave para o

desenvolvimento da infra-estrutura logística para suporta r a expansão dos negócios

do país. Uma destas demandas por especialização envolve os maquinistas que

operam as estradas de ferro da empresa. O projeto “Pesquisa e Desenvolvimento de

Simulador de Realidade Virtual para a Operação de Trens Ferroviários e

Treinamento de Maquinistas” trata do desenvolvimento e implantação de um sistema

computacional de simulação de realidade virtual para a operação de trens

ferroviários e treinamento de maquinistas que inclui a dinâmica longitudinal e

transversal do trem, os sistemas de tração, os sistemas de freio do trem e a via

férrea com sinalização e controle.

O projeto envolveu a área de engenharia e implantação de projetos da Diretoria

Executiva de Logística da VALE e a Escola Politécnica da Universidade de São

Paulo (USP). Este projeto também foi criado através do convênio guarda-chuva de

cooperação tecnológica entre a VALE e a USP citado no caso anterior.

177

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. desenvolver a imagem da empresa diante da comunidade científica;

b. obter conhecimento técnico não disponível por outro meios; e

c. melhorar a produtividade da empresa através de práticas de

modelagem e simulação.

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de

Engenharia e Computação;

b. desenvolver o relacionamento com a VALE, empresa que

tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas.

NATUREZA

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pela universidade como de

risco médio porque o assunto envolve tecnologias ainda não dominadas, ainda que

conhecidas e com projeto similar já desenvolvido, e foi considerado pela empresa de

risco alto porque, além da complexidade, envolve um investimento significativo.

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria e também

como treinamento.

178

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Assim como quase todos os casos anteriores, segundo o entrevistado da

universidade, o projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou

ser postergado para outro momento sem impacto significativo nos planos da

universidade. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do

projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na

VALE e o enorme aporte financeiro ao projeto.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência alta, pois ele está

associado a riscos de passivos sócio-econômicos através do atendimento à

comunidade local e formação de mão-de-obra qualificada. Ele possui importância

média porque está associado a objetivo de desenvolvimento da comunidade local.

EQUIPE

Foram entrevistados o Engenheiro F.M.O. e o Prof. R.S .B., pontos focais do

projeto na VALE e na USP, respectivamente. A entrevista com o engenheiro da

empresa se deu em um escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor,

se deu por telefone.

179

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa (relatado pelo autor da pesquisa):

a. acesso à base de conhecimento da universidade;

b. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de pesquisador interno);

c. obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios;

d. acesso às pesquisas científicas com viés preditivo (utilização de

simuladores para antecipação de problemas);

e. melhoria da eficiência operacional (maior eficiência, através da simulação,

na operação da ferrovia); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. acesso às necessidades do mercado;

b. desenvolvimento de atividades fontes de receitas;

c. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

(publicação do aprendizado com o projeto);

d. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias

(utilização das técnicas e metodologias pesquisadas na VALE); e

e. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para os

alunos de pós-graduação).

180

EXECUÇÃO DO PROJETO

As etapas do projeto são: Levantamento detalhado de requisitos;

Desenvolvimento da simulação; Arquitetura do projeto e software. O sistema está

sendo desenvolvido a partir do conhecimento da equipe de modelos e sistemas, e

de informações fornecidas pela VALE e seus fornecedores, e, ainda, eventuais

ensaios.

O projeto, planejado para durar vinte e quatro meses, está com seu

cronograma atrasado em seis meses devido à dificuldade de refinamento de escopo

na fase de levantamento detalhado. Apesar disso os envolvidos não expressaram

insatisfações mesmo quando provocados pelo entrevistador.

RESULTADOS DO PROJETO

Até o momento das entrevistas o projeto não havia apresentado qualquer

resultado, estava bem atrasado, e apesar disso nenhum dos envolvidos demonstrou

preocupação.

BARREIRAS ENCONTRADAS

Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o

andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a

conclusão do projeto. Foram eles:

181

i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:

a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do projeto dentro do

convênio foi longo demais);

b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões sobre o

viés da pesquisa, o simulador precisou de muitos ajustes para representar a

realidade de fato ao invés de um excelente modelo teórico); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;

b. burocracia da empresa (o tempo para a aprovação formal do projeto foi

longo demais).

182

11.2.8 Caso 8: Desenvolvimento de Tecnologia Georadar

CONTEXTO DO PROJETO

Atualmente na área de transporte de carga tem-se que a manutenção da linha

de tráfego é um dos aspectos cruciais tanto para garantir a continuidade do fluxo de

materiais quanto para a economia de recursos em sua recuperação. No caso de

transporte por linha férrea, ocorre uma rápida deterioração da superfície em função

de vários fatores, ocasiona um aumento nos custos para a conservação da linha

devido à queda de produtividade da operação ferroviária e à probabilidade de

interrupção dos serviços. O projeto “Desenvolvimento de Tecnologia Georadar para

Verificação in situ da Integridade das Subestruturas de Linhas Férreas da VALE”

trata da aplicação da técnica geofísica Georadar na caracterização das qualidades e

da composição dos lastros ao longo da Estrada de Ferro Vitória–Minas a fim de

melhorar o planejamento das manutenções necessárias para melhorar o

desempenho dessas operações.

O projeto envolveu a área de engenharia e implantação de projetos da Diretoria

Executiva de Logística da VALE e o Instituto de Geociências, do Departamento de

Geologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O projeto foi criado

através do convênio guarda-chuva de cooperação tecnológica entre a VALE e a

UFMG, através da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP).

183

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. aumentar a eficiência do processo de avaliação dos projetos de engenharia

ferroviária, oferecendo aos tomadores de decisão melhores valores para

indicadores como, por exemplo, disponibilidade física da via; e

b. desenvolver o relacionamento da empresa com a comunidade através dos

convênios com universidades locais; e

c. capacitar pessoal interno em tecnologias não dominadas e de conhecimento

não disponível.

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolver projetos de cooperação com a VALE, empresa que

tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas;

b. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Engenharia e

Computação; e

c. desenvolver capacitação em implantação da Tecnologia Georadar.

NATUREZA

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como

de risco baixo porque o assunto é de domínio dos pesquisadores envolvidos no

projeto, apesar da complexidade tecnológica, e não implica em investimentos

relevantes.

184

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Assim como quase todos os casos anteriores, segundo o entrevistado da

universidade, o projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou

ser postergado para outro momento sem impacto significativo nos planos da

universidade. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do

projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na

VALE e o aporte financeiro ao projeto.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele

não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou

ambientais. Ele possui importância baixa também porque não está associado a

nenhum objetivo estratégico ou gargalo operacional.

EQUIPE

Foram entrevistados o Engenheiro A.V. e o Prof. Dr. P.R.A.A., pontos focais do

projeto na VALE e na UFMG, respectivamente. A entrevista com o engenheiro da

empresa se deu em um escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor,

se deu por telefone.

185

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa (relatado pelo autor da pesquisa):

a. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade

(conhecimentos e técnicas conhecidas disponibilizadas para a empresa);

b. melhor imagem pública da empresa junto à comunidade (principalmente,

neste caso, à comunidade científica);

c. obtenção de conhecimento técnico (capacitação de engenheiros e

pesquisadores internos);

d. obtenção de serviços de tecnologia não disponíveis por outros meios;

e. acesso às pesquisas científicas com viés preditivo (antecipação de

manutenções preventivas a partir da verificação da estrutura das linhas

férreas);

f. carência de recursos (principalmente de mão-de-obra técnica qualificada); e

g. melhoria da eficiência operacional (evitar a indisponibilidade da ferrovia

devido a descarrilamentos); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. acesso às necessidades do mercado;

b. desenvolvimento de atividades fontes de receitas;

c. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

(publicação do aprendizado com o projeto);

d. melhorias nas competências de implementação de novas tecnologias

(utilização das técnicas e metodologias pesquisadas na VALE); e

e. acesso a recursos financeiros.

186

EXECUÇÃO DO PROJETO

A execução do projeto se deu quatro fases: fase 1 – conhecer o equipamento

GSSI e observar se o mesmo possui viabilidade técnica de utilização para aquisição

dos dados; fase 2 – execução dos levantamentos Georadar ao longo dos pontos e

linhas escolhidos; fase 3 – teste completo da linha EFVM; fase 4 – treinamento da

equipe (aquisição, processamento e interpretação).

O projeto está na fase final de execução – a de capacitação da equipe da

empresa – com pequeno atraso de um mês dentro do período planejado de doze

meses.

RESULTADOS DO PROJETO

Apesar de um pequeno atraso em relação ao plano inicial, os produtos do

projeto – definição de padrões de estruturação da área onde ocorreu o

escorregamento, e implantação de uma rotina do Georadar na manutenção da

EFVM – foram entregues com a qualidade esperada, fazendo com o projeto

alcançasse o sucesso desejado.

187

BARREIRAS ENCONTRADAS

Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o

andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a

conclusão do projeto. Foram eles:

i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:

a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio foi longo

demais);

b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões sobre o

viés da pesquisa); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;

b. burocracia da empresa.

188

11.2.9 Caso 9: Desenvolvimento de Estudos de Análise Ergonômica

CONTEXTO DO PROJETO

A maioria das abordagens da segurança, das mais convencionais às mais

críticas, dedica atenção exclusivamente à análise dos acidentes. Parece ser natural

que a prevenção de acidentes deva partir da compreensão dos próprios acidentes

mas, para isso, é necessário que ocorram acidentes para que se aprenda como

evitá-los. A construção de uma nova forma de análise de riscos e de uma prática

prevencionista mais eficaz para lidar com os acidentes normais pode se dar

recorrendo à metodologia de análise ergonômica do trabalho, propondo uma

abordagem produtiva da segurança: manter a segurança ao invés de controlar os

riscos. O projeto “Análise Ergonômica de Falhas Funcionais em Tarefas

Operacionais Ferroviárias” trata da identificação das causas das falhas operacionais

e proposição de medidas preventivas na execução das tarefas operacionais em

pátios de manobra e carregamento de composições ferroviárias na VALE. Para

desenvolver este projeto, foram realizados estudos de caso a fim de identificar os

diversos mecanismos de regulação dos trabalhadores, em situações onde os riscos

são reconhecidos.

O projeto envolveu as áreas de operações das vias permanentes da Diretoria

Executiva de Logística da VALE e o Departamento de Engenharia de Produção, da

Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Este

projeto foi estabelecido através do convênio guarda-chuva de cooperação

tecnológica entre a VALE e a UFMG citado no caso anterior.

189

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. identificar as causas das falhas funcionais que podem levar a acidentes com

perdas humanas, materiais ou de produção durante a realização de tarefas

operacionais ferroviárias;

b. propor medidas para a prevenção das falhas identificadas, através da

transformação das condições materiais, organizacionais de realização das

tarefas e dos comportamentos dos operadores; e

c. desenvolver o relacionamento da empresa com a comunidade através dos

convênios com universidades locais.

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolver projetos de COOPERAÇÃO com a VALE, empresa que

tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas;

b. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Engenharia e

Ergonomia; e

c. desenvolver capacitação em implantação de projetos.

NATUREZA

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como

de risco baixo porque o ele trata de estudos em assunto que é de domínio dos

190

pesquisadores envolvidos e, do ponto de vista de tecnologia, não apresenta

complexidade significativa.

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Assim como nos casos anteriores, segundo o entrevistado da universidade, o

projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou ser postergado

para outro momento sem impacto significativo nos planos da universidade. No

entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do projeto e, em

especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na VALE e o aporte

financeiro correspondente.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele

não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou

ambientais. Ele possui importância média porque está associado ao objetivo

estratégico de acidentes zero.

EQUIPE DO PROJETO

A equipe do projeto conta com o Engenheiro J.M.B., ponto focal do projeto na

VALE. As análises serão desenvolvidas pelo Prof. F.P.A.L. (Engenheiro de Produção

e Doutor em ergonomia) e, eventualmente, com participação de especialistas da

191

UFMG vinculados ao Laboratório de Ergonomia, cuja formação seja adequada ao

escopo deste trabalho.

Foram entrevistados o Engenheiro J.M.B. e o Prof. Dr. F.P.A.L., pontos focais

do projeto na VALE e na UFMG, respectivamente. A entrevista com o engenheiro da

empresa se deu em um escritório da empresa em Belo Horizonte e, com o professor,

se deu por telefone.

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. acesso à infra-estrutura física da universidade e à expertise de seu staff;

b. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade

(conhecimento específicos não disponíveis internamente);

c. melhor imagem pública da empresa junto à comunidade onde ela atua;

d. melhoria de eficiência operacional; e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolvimento de atividades fontes de receitas;

b. oferecer acesso da indústria à ciência básica e pesquisas aplicadas

(publicação do aprendizado com o projeto);

c. exposição ao ambiente de negócios;

d. acesso a recursos financeiros (obtenção de bolsas de pesquisas para os

alunos de pós-graduação).

192

EXECUÇÃO DO PROJETO

A execução do projeto de análise ergonômica contempla 3 etapas: Pré-

diagnóstico com a avaliação das situações de trabalho que podem levar a falhas

funcionais; Realização de um estudo piloto em duas situações típicas, a fim de

identificar as causas específicas das falhas funcionais; Acompanhamento da

implementação das recomendações.

O pré-diagnóstico foi realizado durante dois meses, com a entrega à empresa

de um relatório parcial. Atualmente está acontecendo a realização dos estudos piloto

que está planejado para ocorrer durante dois meses, quando então será feita uma

reunião com os responsáveis e pessoal técnico da empresa que ficará encarregado

da implementação das recomendações. O acompanhamento e a avaliação dos

resultados se dará através de visitas e reuniões periódicas mensais.

RESULTADOS DO PROJETO

O andamento do projeto está ocorrendo dentro do planejado e o relatório

parcial do projeto entregue ao final da fase de pré-diagnóstico foi muito elogiado pelo

coordenador do projeto pela empresa.

193

BARREIRAS ENCONTRADAS

Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o

andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a

conclusão do projeto. Foram eles:

i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:

a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio foi longo

demais);

b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões sobre o

viés da pesquisa); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;

b. burocracia da empresa.

194

11.2.10 Caso 10: Diagnóstico de Emissão de Dióxido de Carbono

CONTEXTO DO PROJETO

Atualmente há um aumento de consciência da necessidade da proteção do

meio ambiente, onde o ser humano é o seu mais importante componente. Toda a

indústria mineral tem que analisar detalhadamente os problemas relativos à saúde

de um modo mais amplo, tanto do lado do trabalhador quanto das comunidades ao

redor das suas operações, devendo ter em mente que o processo de beneficiamento

mineral é seguro para a saúde, somente quando ele é bem controlado. A análise das

emissões é o primeiro passo para a execução dos planos de ações necessários para

se atingir o controle ambiental das operações. O projeto “Diagnóstico de Emissão de

Dióxido de Carbono na VALE” trata da análise técnica da emissão das usinas de

beneficiamento de minério de ferro no complexo de mineração da VALE no

município de Itabira.

O projeto envolveu a gerência de meio-ambiente do Departamento de

Operações de Ferrosos Sudeste da VALE e o Departamento de Engenharia de Meio

Ambiente, da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG). Este projeto também foi estabelecido através do convênio guarda-chuva de

cooperação tecnológica entre a VALE e a UFMG citado nos dois casos anteriores.

195

OBJETIVOS

Dentre os objetivos deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar os

seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. identificar os níveis de impacto de suas operações no meio-ambiente a fim

de executar planos de ação que visem o desenvolvimento sustentável;

b. desenvolver o relacionamento da empresa com a comunidade através dos

convênios com universidades locais.

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. desenvolver projetos de COOPERAÇÃO com a VALE, empresa que

tradicionalmente oferece recursos para apoio a pesquisas;

b. desenvolver atividades de pesquisa e extensão nas áreas de Meio

Ambiente; e

c. desenvolver capacitação em implantação de projetos.

NATUREZA

Quanto à sua natureza, o projeto foi considerado pelos dois entrevistados como

de risco baixo porque o assunto é de domínio dos pesquisadores envolvidos e, do

ponto de vista de tecnologia, não apresenta complexidade significativa.

Quanto ao tipo de interação entre empresa e universidade, o projeto pode ser

classificado como prestação de serviços técnicos e de consultoria.

196

URGÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Assim como quase todos os casos anteriores, segundo o entrevistado da

universidade, o projeto tem urgência baixa, pois ele pode iniciar imediatamente ou

ser postergado para outro momento sem impacto significativo nos planos da

universidade. No entanto, ele tem importância alta considerando os motivadores do

projeto e, em especial, a relevância que existe em ter projetos desenvolvidos na

VALE e o aporte financeiro ao projeto.

Segundo o entrevistado da empresa, o projeto tem urgência baixa, pois ele

não está associado a riscos de passivos operacionais, econômicos, sociais ou

ambientais. Ele possui importância baixa também porque não está associado a

nenhum objetivo estratégico ou gargalo operaciona l.

EQUIPE DO PROJETO

Foram entrevistados o professor G.A.C.F., doutor em Engenharia Ambiental, da

UFMG, e a engenheira C.V.D., especialista em energia. A entrevista com o

engenheiro da empresa se deu em um escritório da empresa em Belo Horizonte e,

com o professor, se deu por telefone.

197

MOTIVADORES PARA COOPERAÇÃO

Dentre os motivadores deste projeto, segundo os entrevistados, podemos citar

os seguintes:

i) Do ponto de vista da empresa:

a. acesso à pesquisa, consultoria e base de conhecimento da universidade

(conhecimento específicos não disponíveis internamente);

b. melhor imagem pública da empresa junto à comunidade onde ela atua;

c. carência de recursos para execução de projetos; e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. oportunidade de desenvolver atividades fontes de receitas através da

comercialização de serviços;

b. exposição ao ambiente de negócios;

c. acesso a recursos financeiros.

EXECUÇÃO DO PROJETO

A execução do projeto de diagnóstico ocorreu em três meses conforme

planejado e dentro dos prazos acordados inicialmente. Durante este período os

coordenadores do projeto se encontraram apenas duas vezes: no início do projeto e

na entrega do diagnóstico.

198

RESULTADOS DO PROJETO

Todos os produtos do projeto foram entregues sem qualquer atraso e com a

qualidade esperada, fazendo com o projeto alcançasse o sucesso desejado.

BARREIRAS ENCONTRADAS

Os entrevistados citaram poucos, mas importantes, pontos que dificultaram o

andamento do projeto e em alguns momentos representaram riscos para a

conclusão do projeto. Foram e les:

i) Do ponto de vista do autor da pesquisa:

a. burocracia da empresa (o tempo para aprovação do convênio foi longo

demais);

b. diferenças em uma perspectiva cultural (houve longas discussões sobre o

viés da pesquisa); e

ii) Do ponto de vista da universidade:

a. falta de compromisso dos envolvidos na empresa com o projeto;

burocracia da empresa.