convicções e ensinos · 2017-04-17 · para tudo, e não apenas fazer de tudo um assunto de...

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Convicções e Ensinos Título original: Convictions and Teachings Por George Muller (1805-1898) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Abr/2017

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Convicções e Ensinos

Título original: Convictions and Teachings

Por George Muller (1805-1898)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Abr/2017

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M958

Muller, George – 1805-1898 Convicções e ensinos / George Muller Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 71p.; 14,8 x 21cm Título original: Convictions and Teachings 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

3

Uma fé comum (1842)

Eu desejo que todos os filhos de Deus, que podem ler

estes detalhes, possam assim ser levados a uma

confiança maior e mais simples em Deus para tudo

que eles possam precisar sob quaisquer

circunstâncias, e que estas muitas respostas à oração

possam encorajá-los a orar, particularmente no que

se refere à conversão de seus amigos e parentes, ao

seu próprio progresso na graça e no conhecimento,

ao estado dos santos que eles podem conhecer

pessoalmente, ao estado da Igreja de Deus em geral e

ao sucesso da pregação do evangelho.

Especialmente eu os advirto carinhosamente de que

não sejam levados pelo dispositivo de Satanás para

pensar que essas coisas são peculiares a mim mesmo

e não podem ser desfrutadas por todos os filhos de

Deus; pois embora todo crente não seja chamado a

estabelecer Casas para Órfãs, Escolas de Caridade,

etc., e confiar no Senhor por meios, contudo todos os

crentes são chamados, na simples confiança da fé, a

lançar sobre Ele todos os seus fardos, confiar nele

para tudo, e não apenas fazer de tudo um assunto de

oração, mas esperar respostas às suas petições que

pediram de acordo com Sua vontade, e em nome do

Senhor Jesus.

4

(Nota do tradutor: antes de prosseguir com os

escritos do George Muller, vale a pena lembrar que

ele tinha um diário no qual registrou todos os seus

pedidos de oração atendidos por Deus, tendo estes

chegado ao número de cinquenta mil. Tendo sido

contemporâneo de Charles Darwin, que com sua

teoria da evolução negava a existência de Deus,

através de George Muller, de modo especial, Deus

revelava o quanto estava vivo e atuante, pela maneira

extraordinária que atuou através do seu testemunho,

tal como havia feito nos dias dos profetas Elias e

Eliseu em Israel, quando a nação se distanciava dele

em razão do culto que devotava a Baal.)

Não pense, querido leitor, que tenho o dom da fé, isto

é, o dom que lemos em 1 Coríntios 12: 9 e que é

mencionado juntamente com "os dons da cura", "a

obra dos milagres", "profecia "- e que, por isso, posso

confiar no Senhor. De minha íntima alma eu atribuo

a Deus somente que Ele me permitiu confiar nele, e

que ele não permitiu que minha confiança nele

fracassasse. Mas achei necessário fazer estas

observações, para que ninguém pensasse que minha

dependência de Deus era um dom especial dado a

mim, que outros santos não têm direito de procurar;

ou para que não se pensasse que este, na minha

dependência dele, tinha apenas a ver com a obtenção

de dinheiro pela oração e fé. Pela graça de Deus,

desejo que a minha fé em Deus se estenda a tudo: o

mais ínfimo dos meus interesses temporais e

5

espirituais, e a menor das preocupações temporais e

espirituais da minha família, para com os santos

entre os quais trabalho, a Igreja em geral, tudo o que

tem a ver com a prosperidade temporal e espiritual

da minha Instituição. Caro leitor, não pense que eu

alcancei a fé (e menos em outros aspectos) até o grau

em que eu poderia e deveria alcançar.

Por fim, não deixe Satanás enganá-lo ao fazer você

pensar que você não poderia ter a mesma fé, mas que

é apenas para pessoas que estão situadas como eu

estou.

Quando eu perco uma coisa como uma chave, peço

ao Senhor para me direcionar a ela, e eu busco uma

resposta para a minha oração.

Quando uma pessoa com quem marquei um

encontro, não chega na hora, e começo a ser

incomodado por ela, peço ao Senhor que tenha

prazer em apressá-la para mim, e eu procuro uma

resposta.

Quando eu não entendo uma passagem da Palavra de

Deus, eu elevo meu coração ao Senhor, para que Ele

se agrade, por Seu Espírito Santo, em me instruir, e

eu espero ser ensinado, embora eu não estabeleça o

tempo e como deve acontecer.

6

Quando eu estiver ministrando a Palavra, busco a

ajuda do Senhor, e enquanto eu, na consciência de

minha incapacidade natural, bem como de minha

total indignidade, começar este Seu serviço, não

estou abatido, mas de bom ânimo, porque eu procuro

Sua ajuda e acredito que Ele, por amor de Seu amado

Filho, me ajudará.

Oh! Eu lhe suplico, não me considere um crente

extraordinário, tendo privilégios acima de outros

filhos queridos de Deus que eles não podem ter; nem

olhe o meu modo de agir como algo que não faria

para outros crentes. Faça apenas um prova! Mas

fique parado na hora da provação, e você verá a ajuda

de Deus, se você confiar nele.

Mas, há tantas vezes um abandono dos caminhos do

Senhor na hora da provação, e assim o alimento da

fé, os meios pelos quais nossa fé pode ser aumentada,

é perdido.

Fortalecimento da fé (1842)

Isto leva-me ao seguinte ponto importante. Você

pergunta: "Como posso, crente verdadeiro, ter minha

fé fortalecida?" A resposta é esta: "Toda boa dádiva e

todo dom perfeito vem de cima, e desce do Pai das

luzes, com quem não há mudança, nem sombra de

7

variação." (Tg 1:17). Como o aumento da fé é um bom

dom, deve vir de Deus, e, portanto, Ele deve ser

convidado para esta bênção. Entretanto, os seguintes

meios devem ser usados:

1. A leitura cuidadosa da Palavra de Deus, combinada

com a sua meditação. Através da leitura da Palavra

de Deus, e especialmente através da meditação sobre

a Palavra de Deus, o crente torna-se cada vez mais

familiarizado com a natureza e o caráter de Deus, e

assim o vê cada vez mais, em Sua santidade e justiça

– e o quão amoroso, gracioso, misericordioso,

poderoso, sábio e fiel que Ele é. Portanto, na pobreza,

aflição de corpo, luto em sua família, dificuldade em

seu serviço, falta de emprego - ele repousará sobre a

capacidade de Deus para ajudá-lo; porque ele não só

aprendeu de Sua Palavra que Ele é de poder todo-

poderoso e sabedoria infinita, mas também observou

de instância em instância nas Sagradas Escrituras em

que Seu poder onipotente e infinita sabedoria foram

realmente exercitados em ajudar e livrar Seu povo.

Ele descansará sobre a disposição de Deus para

ajudá-lo, porque ele não só aprendeu das Escrituras

que Deus bondoso, misericordioso, gracioso e fiel ele

é, mas porque também viu na Palavra de Deus em

uma grande variedade de casos como Ele provou ser

assim.

E a consideração disto, se Deus se tornou conhecido

para nós através da oração e meditação em Sua

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própria Palavra, nos conduzirá, pelo menos em geral,

a uma certa confiança nele. Assim, a meditação sobre

a Palavra de Deus será um meio especial para

fortalecer nossa fé.

2. Como no que diz respeito ao crescimento de toda a

graça do Espírito, é de extrema importância que

procuremos manter um coração reto e uma boa

consciência e, portanto, não nos habituemos,

conscientemente, às coisas que são contrárias à

Mente de Deus, pois assim também é

particularmente o caso com referência ao

crescimento na fé. Como posso continuar a agir com

fé em Deus em relação a qualquer coisa, se eu

habitualmente estou entristecendo Ele, e procurando

diminuir a glória e a honra daquele em quem

confesso confiar e depender? Toda a minha

confiança para com Deus, toda a minha inclinação

sobre Ele na hora da provação, desaparecerá se eu

tiver uma consciência culpada, e não procurarei

afastar essa consciência culpada, senão continuar a

fazer coisas que são contrárias à mente de Deus. E se,

em qualquer caso particular, eu não posso confiar em

Deus por causa da consciência culpada, então minha

fé é enfraquecida por esse exemplo de desconfiança.

Pois a fé, com cada nova provação, aumenta com a

confiança em Deus e assim recebe ajuda, ou diminui

por não confiar nele - e então há cada vez menos

9

poder de olhar diretamente para Ele, e um hábito de

autodependência é gerado ou encorajado.

Um ou outro destes será sempre o caso em cada

situação particular. Ou confiamos em Deus, e nesse

caso não confiamos em nós mesmos, nem em nossos

semelhantes, nem em circunstâncias, nem em nada

além; ou confiamos em um ou mais desses, e nesse

caso NÃO confiamos em Deus.

3. Se nós, de fato, desejamos que nossa fé seja

fortalecida, não devemos encolher-nos das

oportunidades em que ela possa ser provada; e,

portanto, através da provação, ser reforçada. No

nosso estado natural, não gostamos de lidar com

Deus sozinho. Através de nossa alienação natural de

Deus, nos afastamos dele e das realidades eternas.

Esta propensão se agarra a nós, mais ou menos,

mesmo depois da nossa regeneração. Daí que mais

ou menos, mesmo como crentes, temos esta

inclinação par anos encolhermos quanto a ficar com

Deus somente - de depender dele somente, de olhar

para Ele somente - e ainda esta é a posição em que

devemos estar se quisermos que nossa fé seja

fortalecida.

Quanto mais eu estiver em condições de ser provado

na fé com referência ao meu corpo, à minha família,

ao meu serviço para o Senhor, aos meus negócios,

etc., mais terei a oportunidade de ver a ajuda de Deus

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e a libertação; e no que Ele me ajuda e me livra,

tenderá para o aumento da minha fé.

Por isso, o crente não deve recuar de situações,

posições, circunstâncias, nas quais sua fé possa ser

provada; mas deve alegremente abraçá-las como

oportunidades onde ele pode ver a mão de Deus

estendida em seu favor para ajudá-lo e libertá-lo, e

por meio do que ele poderá assim ter sua fé

fortalecida.

4. O último ponto importante para o fortalecimento

de nossa fé é que deixemos que Deus trabalhe para

nós, quando chega a hora da prova de nossa fé e não

operemos uma libertação nossa. Onde quer que Deus

tenha dado fé, ela é dada, entre outras razões, para o

propósito de ser provada. Sim, por mais fraca que

seja a nossa fé, Deus a provará - só com esta restrição:

que, como em todos os caminhos, Ele conduz

suavemente, gradual e pacientemente, também com

referência à provação de nossa fé.

A princípio, a nossa fé será provada muito pouco em

comparação com o que pode ser depois, pois Deus

nunca nos coloca em mais do que Ele está disposto a

permitir-nos suportar. Agora, quando a prova da fé

vem, estamos naturalmente inclinados a desconfiar

de Deus, e confiar mais em nós mesmos, ou em

nossos amigos, ou em circunstâncias. Preferimos

operar nossa libertação de alguma forma, do que

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simplesmente olhar para Deus e esperar Sua ajuda.

Mas se não esperarmos pacientemente a ajuda de

Deus, se trabalharmos em uma libertação nossa,

então, na próxima provação da nossa fé, será assim

novamente: estaremos mais uma vez inclinados a

livrar-nos - e assim, com cada novo exemplo dessa

espécie, nossa fé diminuirá.

Enquanto, pelo contrário, se ficássemos parados

para ver a salvação de Deus, ver Sua mão estendida

em nosso favor, confiando somente nele, então nossa

fé seria aumentada; com cada novo caso em que a

mão de Deus é estendida em nosso favor na hora da

provação de nossa fé, e esta seria aumentada ainda

mais. O crente, portanto, se deseja ter sua fé

fortalecida, ele deve especialmente dar tempo a

Deus, que prova sua fé para mostrar ao seu filho, no

final, quão disposto Ele é para ajudá-lo e libertá-lo,

no momento em que é bom para ele.

A vida da fé (1855)

Trecho retirado de "A Autobiografia de George

Muller"

Se alguém deseja viver uma vida de fé e confiança em

Deus, deve:

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1. Não apenas dizer que confia em Deus, mas deve

realmente fazê-lo. Muitas vezes, os indivíduos

professam confiar em Deus, mas abraçam todas as

oportunidades onde podem, direta ou indiretamente,

dizer a alguém sobre sua necessidade. Não digo que

é errado dar a conhecer a nossa situação financeira,

mas dificilmente demonstra confiança em Deus

expor as nossas necessidades para que outras

pessoas nos ajudem. Deus nos tomará em nossa

palavra. Se confiarmos nele, devemos estar

satisfeitos em permanecer com Ele somente.

2. O indivíduo que deseja viver deste modo deve estar

satisfeito se ele é rico ou pobre. Ele deve estar

disposto a viver em abundância, ou na pobreza. Ele

deve estar disposto a deixar este mundo sem

quaisquer bens.

3. Ele deve estar disposto a tomar o dinheiro no

caminho de Deus, não apenas em grandes somas,

mas em pequenas quantidades. Muitas vezes eu tive

um único centavo dado a mim. Recusar tais sinais de

amor cristão, teria sido desagradável.

4. Ele deve estar disposto a viver como mordomo do

Senhor. Se alguém não der das bênçãos que o Senhor

lhe dá, então o Senhor, que influencia o coração de

Seus filhos para dar, logo faria com que esses canais

fossem secos. Minha renda aumentou ainda mais

quando eu determinei que, com a ajuda de Deus,

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Seus pobres e Sua obra seriam ajudados pelo meu

dinheiro. Desde então, o Senhor se agradou em me

confiar mais.

Os Princípios de Fé do Ministério (1824)

1. Consideramos cada crente ligado, de uma maneira

ou de outra, a ajudar a causa de Cristo. Temos

mandado bíblico para esperar a bênção do Senhor

em nosso trabalho de fé e de amor. Embora de acordo

com Mateus 13: 24-43, 2 Timóteo 3: 1-13 e muitas

outras passagens, o mundo não se converta antes da

vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, ainda, enquanto

Ele se demora, todos os meios bíblicos devem ser

empregados para a reunião dos eleitos de Deus.

2. O Senhor nos ajuda, não pretendemos buscar o

patrocínio do mundo; isto é, nunca pretendemos

pedir a pessoas não convertidas de classe ou riqueza

que apoiem esta instituição, porque isto, nós

consideramos, seria desonroso para o Senhor. "Em

nome de nosso Deus, estabeleceremos nossas

bandeiras" (Salmo 20: 5). Só Ele será nosso patrono.

Se Ele nos ajuda, prosperaremos; se Ele não está do

nosso lado, não teremos sucesso.

3. Não pediremos dinheiro aos incrédulos (2

Coríntios 6: 14-18); embora não nos sintamos

autorizados a recusar suas contribuições, se eles, por

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sua própria iniciativa, deveriam oferecer-lhe (Atos

28: 2, 10).

4. Rejeitamos totalmente a ajuda dos incrédulos na

administração ou na execução dos assuntos da

instituição (2 Coríntios 6: 14-18).

5. Pretendemos nunca alargar o campo de trabalho

mediante a contração de dívidas (Rom 13.8) e,

posteriormente, apelar à ajuda da Igreja de Deus,

porque consideramos que isto se opõe à letra e ao

espírito do Novo Testamento. Mas, em oração

secreta, Deus ajudando-nos, levaremos as

necessidades da instituição ao Senhor e agiremos de

acordo com os meios que Deus nos dará.

6. Não queremos dizer o sucesso da instituição pela

quantidade de dinheiro dado ou pelo número de

Bíblias distribuídas, mas pela bênção do Senhor

sobre a obra (Zacarias 4: 6), e esperamos isso na

proporção em que Ele nos ajudará a esperar por Ele

em oração.

7. Enquanto evitamos a separação desnecessária dos

outros, desejamos continuar simplesmente de

acordo com a Escritura sem comprometer a verdade;

ao mesmo tempo, agradecer receber qualquer

instrução que os crentes experientes, após a oração

sobre o terreno bíblico, possam ter que nos dar sobre

a instituição.

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O Reino e os Tesouros

Buscando Primeiro o Reino (1844)

"Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça; e

todas estas coisas vos serão acrescentadas." (Mateus

6:33)

Depois de nosso Senhor, nos versos anteriores, ter

apontado Seus discípulos para "as aves do céu" e "os

lírios do campo", para que não se preocupem com as

necessidades da vida, acrescenta: "Portanto, não vos

inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que

havemos de beber? ou: Com que nos havemos de

vestir? (Pois a todas estas coisas os gentios

procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que

precisais de tudo isso."(Mat 6: 31-32).

Observe aqui particularmente que nós, os filhos de

Deus, devemos ser diferentes dos ímpios, daqueles

que não têm Pai Celestial e que, portanto, tornam o

seu grande negócio, a sua primeira preocupação

ansiosa - o que eles devem comer, o que eles devem

beber, e com o que eles devem ser vestidos. Nós,

filhos de Deus, devemos, como em todos os outros

aspectos também neste particular, ser diferentes do

mundo e provar ao mundo que cremos que temos um

16

Pai Celestial que sabe que precisamos de todas essas

coisas.

Deve remover toda a ansiedade de nossas mentes, o

fato de que nosso Pai Todo-Poderoso, que está cheio

de amor infinito para nós, Seus filhos, e que nos

provou Seu amor inescrutável no dom de Seu Filho

unigênito e Seu poder onipotente em o ressuscitar

dos mortos, sabe que temos necessidade destas

coisas.

No entanto, há uma coisa que devemos atender em

relação às nossas necessidades temporais. É

mencionado em nosso verso: "Mas buscai primeiro o

reino de Deus e a sua justiça". O grande negócio que

o discípulo do Senhor Jesus tem de se preocupar

(pois esta palavra foi dita aos discípulos, aos crentes

professos) é buscar o reino de Deus, isto é, procurar,

como eu o vejo, a prosperidade interna da Igreja de

Deus. Se, de acordo com a nossa capacidade e

segundo a oportunidade que o Senhor nos dá,

buscamos ganhar almas para o Senhor Jesus, isto

parece-me ser estar buscando a prosperidade externa

do reino de Deus. E se nós, como membros do corpo

de Cristo, procuramos beneficiar nossos

companheiros no corpo, auxiliando-os na graça e na

verdade, ou cuidando deles de qualquer maneira

para sua edificação, isto é estar buscando a

prosperidade interna do Reino de Deus.

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Mas, em conexão com isso, temos também de "buscar

a Sua justiça", o que significa (como foi dito aos

discípulos, àqueles que têm um Pai Celestial e não

aos ímpios), procurar ser cada vez mais semelhante a

Deus, procurar ser interiormente conformado à

mente de Deus.

Se estas duas coisas forem atendidas (e elas implicam

também que não somos preguiçosos nos negócios),

então nos encontramos sob aquela preciosa

promessa: "E todas estas coisas [que são comida,

roupa ou qualquer outra coisa que seja necessária

para esta vida presente] vos será acrescentada."

Não é para atender a estas duas coisas que obtemos

a bênção, mas em atendê-las.

Faço-lhe agora, meu caro leitor, algumas perguntas

em todo o amor, porque eu procuro seu bem-estar.

Eu não quero colocar estas perguntas para você sem

colocá-las primeiro para o meu próprio coração. Você

faz com que seja seu principal negócio, sua primeira

grande preocupação, buscar o reino de Deus e Sua

justiça?

As coisas de Deus - a honra do Seu nome, o bem-estar

de Sua Igreja, a conversão dos pecadores e o lucro de

sua própria alma – é seu principal objetivo? Ou será

que o seu negócio, a sua família ou as suas próprias

preocupações temporais, de alguma ou de outra

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forma, ocupam principalmente a sua atenção? Nunca

conheci um filho de Deus que agisse de acordo com a

passagem acima, em cuja experiência o Senhor não

cumpriu Sua promessa: "Todas estas coisas vos serão

acrescentadas".

Tesouros no céu (1844)

"Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça

e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam

e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde

nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os

ladrões não minam nem roubam. Porque onde

estiver o teu tesouro, aí estará também o teu

coração.” (Mateus 6: 19-21)

Observe, querido leitor, os seguintes pontos a

respeito desta parte do testemunho divino:

1. É o Senhor Jesus, nosso Senhor e Mestre, que fala

isto como o legislador do Seu povo - Aquele que tem

infinita sabedoria e amor insondável para nós, que,

portanto, sabe o que é para o nosso real bem-estar e

felicidade, e quem pode exigir de nós qualquer

requisito que não seja inconsistente com o amor que

o levou a dar Sua vida por nós. Recordando então

quem é que nos fala nestes versículos, vamos

considerá-los:

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2. Seu conselho, Seu pedido afetuoso e Seu

mandamento para nós Seus discípulos é: "Não

acumuleis tesouros na terra". O significado

obviamente é que os discípulos do Senhor Jesus,

sendo estranhos e peregrinos na terra, isto é, nem

pertencendo à terra nem esperando permanecer

nela, não devem procurar aumentar suas posses

terrenas, seja no que for que essas posses possam

consistir . Esta é uma palavra para crentes pobres,

bem como para crentes ricos.

3. Nosso Senhor diz a respeito da terra que é um lugar

"onde a traça e a ferrugem corrompem, e onde os

ladrões minam e roubam". Tudo o que é da terra, e

de qualquer forma conectado com ela, está sujeito à

corrupção, à mudança, à dissolução. Não há

realidade ou substância permanente em outra coisa

senão nas coisas celestiais. Muitas vezes, a cuidadosa

acumulação de bens terrenos termina em perdê-los

em um momento pelo fogo, pelo roubo, por uma

mudança de preocupações financeiras, pela perda de

trabalho, etc.

Mas suponha que tudo isso não acontecesse ainda,

ainda assim, em pouco tempo, e sua alma será

exigida de você (Lucas 12:20); ou ainda em pouco

tempo, e o Senhor Jesus voltará. E que lucro você

terá, querido leitor, se você cuidadosamente

procurou aumentar suas posses terrenas?

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Meu irmão, se houvesse uma partícula de benefício

real a ser derivada disso, não teria Aquele, cujo amor

para nós foi provado ao máximo, ter desejado que

você e eu deveríamos ter isto? Se, no mínimo,

pudesse tender ao aumento da nossa paz, ou alegria

no Espírito Santo, ou mente celestial, então Ele, que

deu a Sua vida por nós, teria nos ordenado, para

"juntar tesouros sobre a terra"!

4. Nosso Senhor não nos manda simplesmente não

acumular tesouros na terra; se não tivesse dito mais

nada, este mandamento poderia ser abusado, e as

pessoas achariam nisso uma desculpa para seus

hábitos extravagantes, seu amor ao prazer e seu

hábito de gastar tudo o que têm ou podem obter

sobre si mesmos. Isso não significa, então, como é a

frase comum, que devemos "viver de acordo com

nossa renda"; porque Ele acrescenta: "Mas ajuntai

para vós tesouros no Céu".

Há tal coisa como estar no Céu, tão verdadeiramente

como há assentamento na terra; se não fosse assim,

nosso Senhor não teria dito isso. Assim como as

pessoas colocam uma soma após outra no banco, e é

atribuído a seu crédito, e eles podem usar o dinheiro

depois - tão verdadeiramente o centavo, o dólar, os

cem dólares, os dez mil dólares, dado para e pelo

amor de Cristo, aos pobres irmãos ou de alguma

maneira despendidos na obra de Deus - Ele marca no

livro da recordação; ele considera que está no céu. O

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dinheiro não está perdido; é depositado no banco do

céu - ainda assim, enquanto um banco terreno pode

quebrar ou através de circunstâncias terrenas,

podemos perder nossas posses materiais, o dinheiro

assim assegurado no Céu não pode ser perdido. Mas

esta não é de modo algum a única diferença; noto

mais alguns pontos.

Tesouros depositados na terra trazem junto com eles

muitos cuidados; os tesouros depositados no Céu

nunca trazem cuidado.

Os tesouros depositados na terra nunca podem

permitir a alegria espiritual; os tesouros depositados

no Céu trazem consigo paz e alegria no Espírito

Santo, mesmo agora.

Os tesouros depositados na terra, na hora da morte,

não podem dar paz e conforto, e quando a vida acaba,

eles são tirados de nós; os tesouros depositados no

Céu trazem ação de graças porque fomos

considerados dignos de servir ao Senhor com os

meios com que Ele se agradou nos confiar como

mordomos.

E quando esta vida tiver terminado, não seremos

privados do que estava ali guardado, mas quando

formos para o Céu, iremos para o lugar onde estão os

nossos tesouros, e lá os encontraremos.

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Muitas vezes ouvimos dizer quando uma pessoa

morreu: "ele morreu valendo tanto." Mas sejam quais

forem as frases comuns no mundo, é certo que uma

pessoa pode morrer valendo cinquenta mil libras

esterlinas, como o mundo considera - e mesmo assim

esse indivíduo não pode possuir à vista de Deus mil

libras esterlinas, porque ele não era rico para com

Deus, não depositou tesouros no Céu.

Caro leitor, a sua alma deseja ser rica para com Deus,

e juntar tesouros no Céu? O mundo passa e a sua

concupiscência. (1 João 2:17). Ainda um pouco, e

nossa mordomia será tirada de nós. Neste momento,

temos a oportunidade de servir ao Senhor com nosso

tempo, nossos talentos, nossa força corporal, nossos

dons e também com nossa propriedade; mas em

breve esta oportunidade pode cessar. Oh, como em

breve pode cessar! Antes que isso seja lido por

alguém, eu posso ter morrido; e no dia seguinte

depois de ter lido isso, querido leitor, você pode ter

morrido! E, portanto, enquanto temos a

oportunidade, sirvamos ao Senhor.

Eu creio, e por isso falo. Minha própria alma está tão

plenamente assegurada da sabedoria e do amor do

Senhor para conosco, seus discípulos, como

expressos nesta Palavra, que por Sua graça eu sinto a

preciosidade do mandamento, e faço a minha alma

não somente desejar depositar tesouros na terra, mas

23

crendo como eu faço o que o Senhor diz, eu desejo ter

graça para juntar tesouros no Céu.

5. O Senhor acrescenta finalmente: "Porque onde

estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso

coração". Onde deveria estar o coração do discípulo

do Senhor Jesus, senão no Céu? Nosso chamado é

um chamado celestial; nossa herança é uma herança

celestial; nossa cidadania está no Céu; mas se nós

crentes no Senhor Jesus erguemos tesouros na terra,

o resultado necessário disso é que nossos corações

estarão sobre a terra - e o fato de fazer isso prova que

eles estão lá! Também não será de outra forma até

que haja um cessar de juntar tesouros na terra.

O crente que deposita tesouros na terra pode, no

princípio, não viver abertamente no pecado; ele em

alguma medida ainda pode trazer alguma honra ao

Senhor em certas coisas. Mas, as tendências

prejudiciais deste hábito se mostrarão cada vez

maiores, enquanto o hábito de acumular tesouros no

Céu atrairia o coração cada vez mais para o céu. Este

hábito estaria continuamente fortalecendo sua

natureza nova, sua natureza divina, suas faculdades

espirituais, porque chamaria suas faculdades

espirituais em uso, e assim elas seriam fortalecidas -

e ele iria mais e mais, enquanto ainda no corpo, ter

seu coração no Céu e colocado sobre as coisas

celestiais. E assim, a acumulação de tesouros no Céu

24

traria consigo, mesmo nesta vida, preciosas bênçãos

espirituais como recompensa da obediência.

Mordomia

O filho de Deus foi comprado com o "precioso sangue

de Cristo" (1 Pedro 1:19) e é inteiramente

propriedade dele, com tudo o que possui: sua força

física, sua força mental, sua capacidade de toda

espécie, seus talentos, sua propriedade, etc., pois está

escrito: "Vocês não são seus, porque são comprados

com preço" (1 Coríntios 6: 19-20).

Essas coisas, portanto, não são nossas próprias no

sentido de usá-las como nosso coração natural deseja

que façamos, quer gastá-las na gratificação de nosso

orgulho, nosso amor de prazer ou indulgências

sensuais, ou para juntar dinheiro para nós mesmos

ou nossos filhos, ou usá-lo de qualquer maneira

como naturalmente gostamos. Mas, temos de estar

diante de nosso Senhor e Mestre, cujos mordomos

somos, para procurar averiguar Sua vontade - como

Ele nos mandará usar o produto do nosso chamado.

Mas, este é realmente o espírito em que os filhos de

Deus geralmente estão envolvidos em seu chamado?

É muito conhecido que não é o caso! Podemos, então,

admirar-nos de que até mesmo os próprios filhos de

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Deus devem ser encontrados em grande dificuldade

em relação às suas circunstâncias e ser encontrados

tantas vezes queixando-se de estagnação ou

competição no comércio e as dificuldades dos

tempos? Lhes foram dadas preciosas promessas

como: "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua

justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas"

(Mateus 6:33), ou "mantenham a sua vida livre do

amor ao dinheiro e contentai-vos com o que tendes,

porque ele disse: nunca vos deixarei, nem vos

desampararei.” (Hebreus 13: 5).

Não é óbvio o suficiente que, quando nosso Pai

Celestial vê que Seus filhos fazem ou usariam o

produto de nossa vocação como nossa mente natural

desejaria, Ele não pode nem sequer confiá-los a nós,

ou então ser obrigado a diminuí-los? Nenhuma mãe

sábia e afetuosa permitirá que seu bebê brinque com

uma navalha ou com fogo, por mais que a criança

deseje tê-los. Da mesma forma, o amor e a sabedoria

de nosso Pai Celestial não nos confiarão meios

financeiros (a não ser por meio de castigo ou para

mostrar-nos finalmente a sua completa vaidade), se

Ele vê que não desejamos possuir a fim de que

possamos gastá-los como Ele pode nos mostrar pelo

Seu Espírito Santo, através de Sua Palavra.

Em conexão com isso eu dou algumas dicas para o

leitor crente em três passagens da Palavra de Deus.

26

Em 1 Coríntios 16: 2, encontramos escrito aos irmãos

em Corinto: "No primeiro dia da semana cada um de

vós ponha de parte o que puder, conforme tiver

prosperado, guardando-o, para que se não façam

coletas quando eu chegar." Uma contribuição para os

santos pobres na Judéia devia ser feita, e os irmãos

em Corinto foram exortados a pôr algo de lado e

armazená-lo a cada Dia do Senhor, de acordo com a

medida de prosperidade que o Senhor tivesse se

agradado em conceder-lhes em sua vocação durante

a semana.

Ora, os santos de nossos dias também não devem agir

de acordo com esta palavra? Não há passagem na

Palavra de Deus que nos diga que não o façamos, e

está totalmente de acordo com o nosso caráter de

peregrino, não apenas uma ou duas vezes, ou quatro

vezes por ano, para ver o quanto podemos dar ao

pobres santos, ou para a obra de Deus de qualquer

maneira, mas para tentar liquidá-lo semanalmente.

Poderia também ser dito por um irmão cujo salário é

pequeno: "Devo também dar de acordo com meus

ganhos? Eles já são tão pequenos que minha esposa

só pode com a maior dificuldade conseguir torná-los

suficientes para a família." Minha resposta é: você já

considerou, meu irmão, que a razão pela qual o

Senhor é obrigado a deixar que seus ganhos

permaneçam tão pequenos, pode ser o fato de você

gastar tudo com vocês mesmos e que, se Ele lhes

27

desse mais, você só o usaria para aumentar o

conforto de sua própria família, ao invés de olhar

para ver quem entre os irmãos está doente, ou quem

não tem trabalho algum, para ajudá-los, ou como

pode ajudar a obra de Deus em casa e no exterior?

Há uma grande tentação para um irmão, cujos

salários são pequenos, afastar a responsabilidade de

ajudar os santos necessitados e doentes, ou ajudar na

obra de Deus e colocá-la sobre os poucos irmãos e

irmãs ricos com quem está associado, e assim roubar

sua própria alma!

Pode-se perguntar: "Quanto devo dar da minha

renda?" A décima parte, ou a quinta parte, ou a

terceira parte, ou metade, ou mais? " Minha resposta

é, Deus não estabelece nenhuma regra sobre este

ponto. O que fazemos devemos fazer alegremente e

não por necessidade (2 Coríntios 9: 7).

Mas se até mesmo Jacó, com o primeiro amanhecer

da luz espiritual (Gênesis 28:22), prometeu a Deus o

décimo de tudo que Ele devia dar a Ele, quanto

devemos crer no Senhor Jesus para fazer por Ele?

Cujo chamado é celestial, e que sabemos

distintamente que somos filhos de Deus e co-

herdeiros com o Senhor Jesus!

Todavia, todos os filhos de Deus dão até a décima

parte do que o Senhor lhes dá? Em conexão com 1

28

Coríntios 16: 2, gostaria de mencionar duas outras

porções.

2 Coríntios 9: 6 "Aquele que semeia com moderação

também ceifará com moderação, e quem semeia

generosamente colherá abundantemente". É certo

que nós, filhos de Deus, somos tão abundantemente

abençoados em Jesus, pela graça de Deus, que não

devemos precisar de estímulo para as boas obras. O

perdão de nossos pecados, tendo sido feitos para

sempre filhos de Deus, tendo diante de nós a casa do

Pai como nosso eterno lar glorioso - estas bênçãos

devem ser motivos suficientes para não nos

restringirmos no amor e gratidão para servir a Deus

em abundância todos os dias de nossa vida.

Mas, enquanto isso acontece, o Senhor, no entanto,

nos apresenta em Sua Palavra Sagrada motivos pelos

quais devemos servi-Lo, negar a nós mesmos, usar

nossa propriedade para Ele, etc - e a última passagem

mencionada é uma daquele tipo.

O versículo é verdadeiro, tanto com referência à vida

que é agora, e a que está por vir. Se tivermos usado

com moderação nossa propriedade para Ele, haverá

um pequeno tesouro depositado no Céu e, portanto,

uma pequena quantidade de capital será encontrada

no mundo vindouro - no que diz respeito à colheita.

Novamente, colheremos generosamente se

buscarmos ser ricos para com Deus, usando

29

abundantemente nossos meios para Ele, seja em

ministrar às necessidades dos santos pobres, ou usar

de outra forma nossos meios financeiros para Sua

obra.

Queridos irmãos, são realidades! Muito em breve

virá o tempo de colheita, e então será a questão de

saber se vamos colher com moderação ou

generosamente.

Mas, enquanto esta passagem se refere à vida futura,

ela também se refere à vida que agora é. Assim como

agora o amor de Cristo nos constrange a dar daquilo

com que o Senhor nos confia, assim será a colheita

presente, tanto no que diz respeito às coisas

espirituais e temporais. Deve-se, pois, encontrar em

um irmão a falta de entrar em sua posição como

meros servos do Senhor em seu chamado e não

prestar atenção às advertências do Espírito Santo

para dar aos que estão em necessidade ou para ajudar

a obra de Deus; então esse irmão pode ficar surpreso

que ele encontre grandes dificuldades em seu

chamado, e que ele não possa ser bem sucedido? Isto

é de acordo com a Palavra do Senhor. Ele está

semeando pouco - e, portanto, colhe com moderação.

Mas, se o amor de Cristo constranger um irmão a

semear generosamente, ele mesmo nesta vida

colherá abundantemente, tanto no que diz respeito

às bênçãos em sua alma e no que diz respeito às

30

coisas temporais. Considere, a este respeito, a

seguinte passagem que, embora tirada do Livro dos

Provérbios, é verdadeira sobre os crentes sob a atual

dispensação também: "Ao que distribui mais se lhe

acrescenta, e ao que retém mais do que é justo, é para

a sua perda. A alma generosa prosperará e aquele que

atende também será atendido." (Provérbios 11: 24-

25)

Em conexão com 1 Coríntios 16: 2, eu também

direcionaria meus irmãos no Senhor à promessa feita

em Lucas 6:38: "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida,

recalcada, sacudida e transbordando vos deitarão no

regaço; porque com a mesma medida com que medis,

vos medirão a vós."

Isso se refere, evidentemente, à dispensação presente

e, evidentemente, em seu significado primário às

temporais.

Agora, ajude alguém com o amor de Cristo a agir de

acordo com esta passagem; que ele no primeiro dia

da semana dê como o Senhor lhe fez prosperar, e ele

verá que o Senhor agirá de acordo com o que está

contido neste versículo. Se o orgulho nos constrange

a dar, se a autojustiça nos torna liberais, se o

sentimentalismo nos induz a dar ou se damos

enquanto estamos em estado de insolvência, então

não podemos esperar que esse versículo seja

cumprido em nossa experiência. Nem devemos dar a

31

qualquer momento para o motivo de receber

novamente de outros, de acordo com este versículo.

Mas, se de fato o amor de Cristo nos constrange a dar

de acordo com a habilidade que o Senhor nos dá,

então teremos este versículo cumprido em nossa

experiência, embora este não tenha sido o motivo que

nos induziu a dar.

De alguma forma, o Senhor nos retribuirá

abundantemente através da instrumentalidade de

nossos semelhantes, o que estamos fazendo por Seus

pobres santos ou de qualquer maneira pela Sua obra;

e descobriremos que no final não somos perdedores

nem mesmo com referência a coisas temporais,

enquanto damos liberalmente das coisas desta vida.

Aqui pode-se observar: se é para que, mesmo nesta

vida, e com respeito às coisas temporais é verdade,

que "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada,

sacudida e transbordando vos deitarão no regaço;

porque com a mesma medida com que medis, vos

medirão a vós.", e que" aquele que semeia

generosamente colherá também generosamente",

então, no final, o povo mais liberal seria

extremamente rico.

Quanto a isso, devemos ter em mente que o momento

em que as pessoas começam a dar por motivo de

receber mais do Senhor, através da

instrumentalidade de seus semelhantes, do que elas

32

deram; ou no momento em que as pessoas desejavam

mudar o seu caminho, e não mais continuar

semeando generosamente, mas com moderação para

aumentar suas posses, enquanto Deus lhes permite

colher generosamente, o rio da generosidade de Deus

para com elas não mais continuaria fluindo.

Deus lhes tinha fornecido abundantemente com

meios porque Ele os viu agir como mordomos para

Ele. Ele lhes tinha confiado um pouco que eles

usaram para Ele, e Ele, portanto, lhes confiou mais;

e se eles tivessem continuado a usar o muito também

para Ele, Ele teria ainda mais abundantemente os

usado como instrumentos para espalhar Sua graça. O

filho de Deus deve estar disposto a ser um canal pelo

qual as dádivas de Deus fluem, tanto no que diz

respeito às coisas temporais, quanto às espirituais.

Este canal é estreito e raso no início, pode ser; ainda

há espaço para algumas das águas da generosidade

de Deus para passar. E se alegremente nos

rendermos como canais, para este propósito, então o

canal se torna mais e mais profundo, e as águas da

graça de Deus podem passar mais abundantemente.

Descartando a linguagem figurativa é assim: a

princípio poderemos ser instrumentais em dar 5

dólares, 10 dólares, 20 dólares, 50 dólares, 100

dólares ou 200 dólares - mas depois duplique. E se

ainda somos mais fiéis em nossa mordomia, depois

de um ano ou dois quatro vezes mais, talvez oito

33

vezes mais, talvez vinte vezes ou cinquenta vezes

mais.

Não podemos limitar a medida em que Deus pode

nos usar como instrumentos para comunicar

bênçãos, tanto temporais como espirituais, se

quisermos nos render como instrumentos ao Deus

vivo, e nos contentarmos em ser apenas

instrumentos e dar a Ele toda a glória.

Mas, no que diz respeito às coisas temporais, será

assim: se andarmos de acordo com a mente de Deus

nestas coisas, enquanto mais e mais nos tornarmos

instrumentos de bênção para os outros, não

procuraremos enriquecer-nos, o último dia de outro

ano encontra-nos ainda no corpo, para possuir não

mais do que no último dia do ano anterior ou mesmo

consideravelmente menos - enquanto nós temos, no

entanto, no decorrer do ano os instrumentos de dar

em grande parte a outros através dos meios que o

Senhor nos confiou.

Quanto à minha alma, pela graça de Deus, seria um

fardo para mim achar que eu estava crescendo em

possessão terrena, pois seria uma prova clara de que

eu não estava agindo como um mordomo para Deus,

e não estava me rendendo como canal para as águas

da bondade de Deus passarem. Também não posso

deixar de prestar meu testemunho aqui, que em

qualquer medida fraca que Deus me permitiu agir de

34

acordo com essas verdades nos últimos sessenta e

quatro anos, achei que era proveitoso, mais

proveitoso para minha própria alma e, a coisas

temporais, nunca fui um perdedor em fazê-lo, mas eu

tenho abundantemente encontrado a verdade de 2

Coríntios 9: 6, Lucas 6:38, e Provérbios 11: 24-25

verificada na minha própria experiência.

Só tenho que me arrepender de ter agido tão pouco

de acordo com o que agora venho afirmando, mas

meu propósito é, com a ajuda de Deus, passar o resto

de meus dias praticando essas verdades mais do que

nunca. E estou certo de que, quando eu for levado ao

fim de minha peregrinação terrena, seja pela morte,

seja pela aparição de nosso Senhor Jesus Cristo, não

terei o menor arrependimento em fazê-lo. Eu sei que

se eu morrer e deixar minha querida filha para trás,

o Senhor vai abundantemente prover para ela e

provar que houve uma melhor disposição feita para

ela do que seu pai poderia ter feito, se ele tivesse

procurado segurar sua vida ou depositar dinheiro

para ela. (Nota do primeiro Editor: O Senhor é o

melhor provedor, no entanto, o fornecimento de

nossas próprias famílias é um dever, cuja negligência

é condenada em termos fortes em 1 Timóteo 5: 8).

Parceria com Deus

35

"E verdadeiramente nossa comunhão é com o Pai, e

com Seu Filho Jesus Cristo." (1 João 1: 3)

Observação:

1. As palavras comunhão, comunhão, coparticipação

e parceria significam o mesmo.

2. O crente no Senhor Jesus não só obtém o perdão

de todos os seus pecados, não só se torna justo diante

de Deus, não só é gerado de novo, nascido de Deus e

participante da natureza divina e, portanto, filho de

Deus e um herdeiro de Deus - mas também está em

comunhão ou em parceria com Deus. Agora, no que

diz respeito a Deus e nossa posição no Senhor Jesus,

temos esta bênção de uma vez por todas; nem

permite um aumento ou uma diminuição. Assim

como o amor de Deus para com os crentes, Seus

filhos, é inalterável (quaisquer que sejam as

manifestações desse amor), e como Sua paz conosco

é a mesma (por mais que nossa paz possa ser

perturbada). Com relação ao nosso estar em

comunhão ou parceria com Ele: permanece

inalterável o mesmo, no que diz respeito a Deus.

3. Mas, então há uma comunhão experimental, ou

parceria, com o Pai e com Seu Filho, que consiste no

seguinte: que tudo o que possuímos em Deus, como

parceiros de Deus, é trazido para baixo em nossa vida

diária, é apreciado, experimentado e usado. Esta

36

comunhão experimental, ou parceria, permite um

aumento ou uma diminuição na medida em que a fé

está em exercício, e em que estamos entrando no que

temos recebido no Senhor Jesus.

A medida em que desfrutamos dessa comunhão

experimental com o Pai e com o Filho é sem limite;

pois sem limite podemos fazer uso da nossa parceria

com o Pai e com o Filho, e atrair pela oração e pela fé

da plenitude inesgotável que há em Deus.

Tomemos alguns exemplos para ver o trabalho

prático desta parceria experimental com o Pai e com

o Filho. Suponha que haja dois pais crentes que não

foram levados ao conhecimento da verdade até

alguns anos depois de o Senhor lhes ter dado vários

filhos. Seus filhos foram educados em caminhos

pecaminosos, maus, enquanto os pais não conheciam

o Senhor. Agora os pais colhem como semearam.

Eles sofrem de ter dado um exemplo maligno diante

de seus filhos; pois seus filhos são indisciplinados e

se comportam de maneira inadequada.

O que agora deve ser feito? Precisam os pais serem

tão desesperados? Não! A primeira coisa que eles têm

a fazer é confessar seus pecados a Deus, no que diz

respeito a negligenciar seus filhos enquanto eles

estavam vivendo em pecado; e depois lembrar que

eles estão em parceria com Deus, e, portanto, para

ser de boa coragem, embora eles sejam em si mesmos

37

totalmente insuficientes para a tarefa de gerir os seus

filhos. Eles não têm em si nem a sabedoria, a

paciência, a longanimidade, a gentileza, a mansidão,

o amor, a decisão e a firmeza, nem qualquer outra

coisa que possa ser necessária para lidar com seus

filhos corretamente.

Mas o Pai Celestial tem tudo isso. O Senhor Jesus

possui tudo isso. E eles estão em parceria com o Pai

e o Filho e, portanto, podem obter pela oração e pela

fé tudo o que precisam da plenitude de Deus. Eu digo

"pela oração e pela fé", pois temos que dar a conhecer

a nossa necessidade a Deus em oração, pedir a Sua

ajuda e então temos de crer que Ele nos dará o que

precisamos. Oração por si só não é suficiente.

Podemos orar sempre, mas se não acreditarmos que

Deus nos dará o que precisamos, não temos razão

para esperar que receberemos o que pedimos.

Então, esses pais precisarão pedir a Deus que lhes dê

a sabedoria necessária, a paciência, a longanimidade,

a mansidão, o amor, a decisão, a firmeza e tudo

quanto julgarem que eles precisam. Eles podem, com

humilde ousadia, lembrarem ao Pai Celestial que Sua

Palavra lhes assegura que estão em parceria com Ele,

e como eles mesmos estão faltando nesses detalhes,

peça-Lhe que suprima sua necessidade - e então eles

têm que acreditar que Deus fará e receberão

conforme a sua necessidade.

38

Tomemos outro exemplo: suponhamos que estou tão

situado em meu negócio que, dia a dia, surgem tais

dificuldades que continuamente encontro que tomo

passos errados, por causa dessas grandes

dificuldades. Como o caso pode ser alterado para

melhor? Em mim não vejo remédio para as

dificuldades. Ao olhar para mim mesmo, não posso

esperar nada além de cometer ainda mais erros, e,

portanto, tribulação e provação parecem estar diante

de mim. E ainda não preciso desesperar. O Deus vivo

é meu parceiro; eu não tenho suficiente sabedoria

para enfrentar essas dificuldades, a fim de ser capaz

de saber que medidas tomar, mas Ele é capaz de me

direcionar.

O que eu tenho, portanto, a fazer é isto: a

simplicidade para divulgar o meu caso perante meu

Pai Celestial e meu Senhor Jesus Cristo. O Pai e o

Filho são meus parceiros. Tenho que abrir meu

coração a Deus, e pedir-lhe que, como Ele é meu

parceiro, e eu não tenho sabedoria em mim para

enfrentar todas as muitas dificuldades que

continuamente ocorrem no meu negócio – que Ele

tenha o agrado de guiar, e dirigir-me e me fornecer a

sabedoria necessária. E então eu tenho que acreditar

que Deus vai fazer isso, e ir com boa coragem para o

meu negócio, e esperar a sua ajuda na próxima

dificuldade que possa diante de mim. Eu tenho que

olhar para a orientação, eu tenho que esperar

conselho do Senhor; e, com a certeza que eu o faço, o

39

terei. Descobrirei que não estou nominalmente, mas

realmente em parceria com o Pai e com o Filho.

Outra instância: existem dois pais crentes com sete

filhos pequenos. O pai trabalha em uma fábrica, mas

não pode ganhar mais de dez dólares por semana. A

mãe não pode ganhar nada. Estes dez dólares são

muito pouco para o fornecimento de alimentos

nutritivos e saudáveis para sete crianças em

crescimento e seus pais, e para fornecer-lhes as

outras necessidades da vida. O que deve ser feito

nesse caso? Certamente não encontrar falhas no

patrão, que pode não ser capaz de pagar mais salários

- e muito menos murmurar contra Deus. Mas os pais

têm em simplicidade para dizer a Deus, seu parceiro,

que os salários de dez dólares por semana não são

suficientes na Inglaterra para prover nove pessoas

com tudo o que precisam, para que sua saúde não

pode ser prejudicada. Eles têm que lembrar a Deus

que Ele não é um mestre duro, não um ser cruel - mas

um Pai amoroso, que provou abundantemente o

amor de Seu coração no dom de Seu Filho unigênito.

E eles têm em simplicidade infantil que pedir a Ele,

que ou Ele iria ordenar ao patrão para que possa ser

capaz de permitir mais salários, ou que o Senhor iria

encontrar-lhes outro lugar onde o pai seria capaz de

ganhar mais, ou que Ele lhes fornecesse de quaisquer

outros meios, conforme possa parecer bom a Ele.

40

Eles têm que pedir ao Senhor em simplicidade

infantil repetidas vezes por isso, se Ele não responder

ao seu pedido de uma vez; e eles têm de crer que

Deus, seu Pai e parceiro, lhes dará o desejo de seus

corações. Eles têm que esperar uma resposta às suas

orações; dia após dia eles têm que olhar para fora, e

repetir o seu pedido até que Deus o conceda. Tão

certo como eles acreditam que Deus lhes concederá

seu pedido - assim certamente será concedido.

Novamente, suponhamos que desejo mais poder

sobre meus pecados assustadores; suponha que

desejo mais poder contra certas tentações; suponha

que eu deseje mais sabedoria, ou graça, ou qualquer

outra coisa que eu possa precisar em meu serviço

entre os santos, ou em meu serviço para os não

convertidos. O que tenho que fazer é usar meu ser em

comunhão com o Pai e com o Filho.

Assim como, por exemplo, um velho funcionário fiel

- hoje em dia associado a uma empresa imensamente

rica, apesar de não ter propriedade - não seria

desencorajado, embora ele próprio não tenha

dinheiro, mas se consolaria com as imensas riquezas

possuídas por aqueles que tão generosamente

acabaram de trazê-lo em parceria.

Devemos nós, filhos de Deus e servos de Jesus Cristo,

confortar-nos por estar em comunhão ou parceria

com o Pai e o Filho - embora não possamos ter nosso

41

próprio poder contra nossos pecados assediantes,

embora não possamos resistir às tentações que estão

diante de nós em nossa própria força, e embora não

tenhamos nem graça nem sabedoria suficientes para

nosso serviço entre os santos ou para os não

convertidos. Tudo o que temos a fazer é recorrer ao

nosso parceiro, o Deus vivo. Pela oração e pela fé

podemos obter toda a ajuda e bênçãos espirituais e

temporais necessárias. Em toda a simplicidade

temos que abrir nosso coração diante de Deus, e

então temos que crer que Ele nos dará de acordo com

nossa necessidade.

Mas, se não acreditamos que Deus nos ajudará,

poderíamos estar em paz?

Precisamos crer que nosso parceiro infinitamente

rico, o Deus vivo, nos ajudará em nossa necessidade,

e não apenas estaremos em paz, mas acharemos que

a ajuda que precisamos será concedida a nós.

Não permita que a consciência de toda a sua

indignidade o impeça, caro leitor, de acreditar no que

Deus disse a respeito de você. Se você é realmente um

crente no Senhor Jesus, então este privilégio

precioso, sendo em parceria com o Pai e o Filho, é

seu, embora você e eu sejamos inteiramente indignos

dele. Se a consciência de nossa indignidade nos

impedisse de crermos o que Deus disse sobre aqueles

que dependem e confiam no Senhor Jesus para a

42

salvação, então descobriremos que não há uma só

bênção com a qual fomos abençoados no Senhor

Jesus de que, por causa de nossa indignidade,

poderíamos derivar qualquer conforto ou paz

estabelecidos.

O Estudo das Escrituras

Os benefícios da meditação (1842)

Há muito tempo, o Senhor me ensinou uma verdade,

independentemente da instrumentalidade humana,

tanto quanto sei, cujo benefício não perdi - embora

agora, ao preparar a oitava edição para a imprensa,

há mais de quarenta anos faleceu.

A questão é esta: vi mais claramente do que nunca

que o primeiro grande e primordial negócio ao qual

eu devia assistir todos os dias era ter minha alma

desfrutando da presença e favor de Deus. A primeira

coisa a se preocupar não era o quanto eu poderia

servir ao Senhor, como eu poderia glorificar o Senhor

- mas como eu poderia ter minha alma em um estado

feliz, e como meu homem interior poderia ser

nutrido. Pois eu poderia procurar estabelecer a

verdade diante dos não convertidos, procurar

beneficiar os crentes, buscar aliviar os aflitos, de

outra forma procurar me comportar como se torna

43

um filho de Deus neste mundo; e ainda, não sendo

feliz no Senhor, e não sendo nutrido e fortalecido no

meu homem interior dia a dia, tudo isso não poderia

ser atendido em um espírito correto.

Antes dessa época, minha prática tinha sido, pelo

menos por dez anos antes, como uma coisa habitual,

me entregar à oração depois de me vestir pela manhã.

Agora eu vi que a coisa mais importante que eu tinha

a fazer era me entregar à leitura da Palavra de Deus e

meditar sobre ela, para que assim meu coração

pudesse ser consolado, encorajado, advertido,

reprovado, instruído; e que assim, enquanto

meditava, meu coração pudesse ser levado à

comunhão experimental com o Senhor.

Comecei, portanto, a meditar no Novo Testamento

desde o início, de manhã cedo. A primeira coisa que

fiz, depois de ter pedido em poucas palavras a bênção

do Senhor sobre Sua preciosa Palavra, foi começar a

meditar sobre a Palavra de Deus, procurando, por

assim dizer, em cada versículo para obter bênção dela

- não por causa do ministério público da Palavra, não

para pregar sobre o que eu tinha meditado, mas para

obter alimento para minha própria alma. O resultado

que eu encontrei é quase invariavelmente isto: que

depois de alguns minutos minha alma foi levada à

confissão, ação de graças, intercessão ou súplica; de

modo que, embora eu não fosse, por assim dizer,

entregar-me à oração, mas à meditação - contudo,

44

quase imediatamente mais ou menos em oração.

Quando, assim, tenho feito por um tempo confissão,

intercessão ou súplica, ou agradeço - continuo com

as próximas palavras ou versos, transformando tudo,

enquanto continuo, em oração para mim ou para os

outros, como a Palavra pode me conduzir; mas ainda

continuamente mantendo diante de mim que o

alimento para minha própria alma é o objeto da

minha meditação.

O resultado disto é que sempre há muita confissão,

ação de graças, súplica ou intercessão misturados

com minha meditação - e que o meu homem interior

quase invariavelmente é nutrido e fortalecido de

forma sensata, e que, durante o café da manhã, com

raras exceções, estou em um estado de coração

pacífico, senão feliz.

Assim também o Senhor tem o prazer de dar-me o

que, muito em breve, eu achei ser alimento para

outros crentes, embora não fosse por causa do

ministério público da Palavra que me dei à

meditação, mas ao benefício do meu próprio homem

interior.

A diferença então entre minha prática anterior e

minha atual é esta: anteriormente, quando eu me

levantava, começava a orar o quanto antes, e

geralmente passei todo o meu tempo até o café da

manhã em oração, ou quase todo o tempo. Em todos

45

os casos, quase invariavelmente comecei a orar,

exceto quando sentia que minha alma era mais do

que normalmente estéril, caso em que eu lia a Palavra

de Deus para o alimento, ou para o refrigério, ou para

uma renovação do meu homem interior, antes de me

entregar à oração.

Mas qual foi o resultado? Costumo passar um quarto

de hora, meia hora ou mesmo uma hora de joelhos,

antes de me dar consciência de ter obtido conforto,

encorajamento, humilhação de alma, etc, e muitas

vezes, depois de ter sofrido muito de vagar de mente

durante os primeiros dez minutos, ou um quarto de

hora, ou mesmo meia hora, só então começava

realmente a orar.

Eu quase nunca sofro desta maneira. Para o meu

coração ser florescido pela verdade, sendo trazido em

comunhão experimental com Deus, falo a meu Pai e

a meu Amigo (vil, embora eu seja, e indigno dele!)

sobre as coisas que Ele trouxe diante de mim em Sua

Palavra preciosa.

Muitas vezes me surpreende que eu não tenha visto

isso mais cedo. Em nenhum livro eu já li sobre isso.

Nenhum ministério público jamais me apresentou o

assunto. Nenhuma comunicação privada com um

irmão me excitou a este assunto. E, no entanto,

agora, já que Deus me ensinou este ponto, é tão claro

para mim como qualquer coisa, que a primeira coisa

46

que o filho de Deus tem de fazer de manhã a manhã

é obter alimento para seu homem interior. Como o

homem exterior não é apto para o trabalho por algum

tempo, a não ser que tomemos comida, e como esta é

uma das primeiras coisas que fazemos pela manhã,

assim deve ser com o homem interior. Devemos levar

comida para ele.

Ora, qual é o alimento para o homem interior? - não

a oração, mas a Palavra de Deus; e aqui novamente

não a simples leitura da Palavra de Deus, de modo

que ela só passa através de nossas mentes, assim

como a água percorre um cano - mas considerando e

meditando sobre o que lemos, ponderando sobre ele

e aplicando-o em nossos corações.

Quando oramos, falamos com Deus. Oração, a fim de

ser continuado por qualquer período de tempo de

forma diferente, de um modo formal, requer, em

termos gerais, uma medida de força ou desejo de

Deus. E a ocasião, portanto, quando este exercício da

alma pode ser executado mais eficazmente, é depois

que o homem interior foi nutrido pela meditação na

Palavra de Deus, onde encontramos o nosso Pai

falando a nós, para nos encorajar, instruir-nos,

humilhar-nos, repreender-nos. Podemos, portanto,

meditar proveitosamente nas Escrituras com a

bênção de Deus, embora nós possamos ser

espiritualmente fracos. Não, quanto mais fracos

somos, mais precisamos de meditação para o

47

fortalecimento de nosso homem interior. Há assim

muito menos a ser temido quanto à mente vaguear,

do que se nós nos entregarmos à oração sem ter tido

previamente o tempo para a meditação.

Insisto particularmente neste ponto, por causa do

imenso lucro espiritual e do refrigério que tenho

consciência de ter derivado dele, e eu,

carinhosamente e solenemente, suplico a todos os

meus companheiros crentes que ponderem sobre

este assunto. Pela bênção de Deus, atribuo a este

modo, a ajuda e a força que tive de Deus para passar

em paz através de provações mais profundas, do que

jamais tive antes. E depois de ter agora acima de

quarenta anos agido deste modo, posso muito

plenamente, no temor de Deus, recomendá-lo.

Como é diferente quando a alma é refrigerada e feliz

no início da manhã, do que é quando, sem

preparação espiritual, o serviço, as provações e as

tentações do dia vêm sobre nós!

Preparação para a Pregação (1830)

Aquilo que agora considero o melhor modo de

preparação para o ministério público da Palavra, a

partir de profunda convicção e da experiência da

bênção de Deus sobre ela, é o seguinte:

48

Peço ao Senhor que Ele tenha graciosamente prazer

em me ensinar sobre qual assunto eu falarei, ou que

parte de Sua Palavra vou expor. Às vezes acontece

que um assunto, ou uma passagem, está em minha

mente; nesse caso, pergunto-lhe se devo falar sobre

isso. Se, depois da oração, me sinto convencido de

que devo fazê-lo, fixo-o, contudo, de modo que desejo

deixar-me aberto ao Senhor para mudá-lo, se Ele

quiser. Frequentemente entretanto, ocorre que eu

não tenho nenhum texto ou assunto em minha mente

antes que eu me dê à oração. Neste caso, eu espero

algum tempo por uma resposta, tentando ouvir a voz

do Espírito para me direcionar. Se, então, uma

passagem ou um assunto for trazido à minha mente,

eu novamente peço a Ele, e que às vezes

repetidamente, seja Sua vontade, que eu fale sobre

ele.

Frequentemente acontece que eu não só não tenho

texto ou assunto, mas também não obtenho um após

uma ou duas ou mais vezes orando sobre ele. O que

eu faço é continuar com minha leitura regular das

Escrituras, orando enquanto leio, para um texto. Tive

até de ir ao lugar da reunião sem um texto, e

consegui-o talvez apenas alguns minutos antes de eu

ir falar; mas nunca faltei à assistência do Senhor no

tempo da pregação, desde que eu o tivesse procurado

em particular.

49

Agora, quando o texto foi obtido, seja um ou dois ou

mais versículos, ou um capítulo inteiro, peço ao

Senhor que Ele se digne de me ensinar pelo Seu

Espírito Santo enquanto medito sobre ele. Nos

últimos sessenta e três anos, achei o plano mais

lucrativo, meditar com a caneta na mão, escrevendo

os contornos, como a Palavra é aberta para mim. Isso

eu faço por causa da clareza, como sendo uma ajuda

para ver o quanto eu entendo a passagem. Eu muito

raramente uso qualquer outro recurso como

comentários. Minha principal ajuda é a oração. Eu

nunca em minha vida comecei a estudar uma única

parte da verdade divina sem ganhar alguma luz sobre

isso, quando eu realmente fui capaz de me entregar à

oração e à meditação sobre ela. Creio firmemente:

que ninguém deve esperar ver muito bem resultante

de seus trabalhos, se não é muito dado à oração e à

meditação.

O que eu achei mais benéfico no ministério público

da Palavra está exposto as Escrituras. Isso pode ser

feito de duas maneiras, ou entrando minuciosamente

no rolamento de cada ponto que ocorre na porção -

ou dando os contornos gerais e, assim, levando os

ouvintes a ver o significado e a conexão do todo. Os

benefícios que eu vi resultantes da exposição são os

seguintes:

1. Os ouvintes são assim, com a bênção de Deus,

levados às Escrituras. Isso os induz a trazer suas

50

Bíblias, e tenho observado que aqueles que, a

princípio, não as trouxeram, foram depois induzidos

a fazê-lo; de modo que em pouco tempo poucos

tinham o hábito de vir sem elas. Isso não é pouca

coisa, pois tudo o que em nossos dias levará os

crentes a valorizarem as Escrituras é importante.

2. A explicação das Escrituras é, em geral, mais

benéfica para os ouvintes do que se em um único

verso, ou meio verso, ou duas ou três palavras de um

verso - algumas observações sejam feitas, de modo

que a porção da Escritura é escassamente qualquer

coisa menos que um lema para o assunto.

3. A exposição das Escrituras deixa aos ouvintes um

elo de ligação, de modo que a leitura de novo da parte

da Palavra que foi exposta traz à sua lembrança o que

foi dito - e assim, com a bênção de Deus, deixa uma

impressão duradoura em suas mentes. Explicar a

Palavra de Deus traz pouca honra ao pregador do

ouvinte não iluminado ou descuidado, mas tende

muito para o benefício dos ouvintes em geral.

Simplicidade de expressão, enquanto a verdade é

estabelecida, é de extrema importância.

Deve ser o objetivo do professor, por assim dizer, que

as crianças e as pessoas que não sabem ler, possam

compreendê-lo, na medida em que a mente natural

possa compreender as coisas de Deus.

51

Também deve ser considerado que, se o pregador se

esforça para falar de acordo com as regras deste

mundo, pode agradar a muitos, especialmente aos

que têm um gosto literário. Mas, na mesma

proporção, é menos provável que ele se torne um

instrumento nas mãos de Deus para a conversão dos

pecadores ou para a edificação dos santos. Pois nem

a eloquência nem a profundidade do pensamento

tornam o pregador verdadeiramente grande - mas

uma vida de oração, meditação e espiritualidade que

o tornem "um vaso apto para o uso do mestre" (2

Timóteo 2:21) e apto a ser empregado tanto na

conversão dos pecadores como na edificação dos

santos.

Discernindo a Vontade de Deus

Reimpresso de "George Muller - Homem de Fé e

Milagres", de Basil Miller

Se alguém perguntou ao Sr. Muller como ele

procurou conhecer a vontade de Deus, em que nada

foi empreendido, nem mesmo a menor despesa, sem

se sentir certo de que ele estava na vontade de Deus.

Nas palavras seguintes ele deu sua resposta.

1. Procuro, no início, colocar meu coração em tal

estado que ele não tenha vontade própria em relação

52

a uma determinada matéria. Nove décimos das

dificuldades são superadas quando nossos corações

estão prontos para fazer a vontade do Senhor,

qualquer que seja. Quando alguém está

verdadeiramente nesse estado, geralmente falta

apenas um pouco para o conhecimento da Sua

vontade.

2. Tendo feito isso, não deixo o resultado para

sentimentos ou simples impressões. Se assim for, eu

me obrigo a grandes delírios.

3. Eu busco a vontade do Espírito de Deus através ou

em conexão com a Palavra de Deus. O Espírito e a

Palavra devem ser combinados. Se eu olhar para o

Espírito sozinho, sem a Palavra, eu também fico

aberto a grandes delírios.

4. Em seguida tomo em consideração as

circunstâncias providenciais. Estas claramente

indicam a vontade de Deus em conexão com Sua

Palavra e Espírito.

5. Peço a Deus em oração para revelar Sua vontade

para mim corretamente.

6. Assim, através da oração a Deus, do estudo da

Palavra e da reflexão - eu chego a uma provação

deliberada de acordo com o melhor de minha

capacidade e conhecimento. E se minha mente está

53

assim em paz, e continua assim depois de duas ou

três petições mais, eu procedo em conformidade.

Em questões triviais, e em transações envolvendo

questões mais importantes - eu encontrei este

método sempre eficaz.

E este plano funcionou? Pergunta-se. Deixe o

depoimento do Sr. Muller responder. "Nunca me

lembro", escreveu ele três anos antes de sua morte,

"em todo o meu curso cristão, um período agora de

sessenta e nove anos e quatro meses, que sempre

sinceramente e pacientemente procurei conhecer a

vontade de Deus pelo ensino do Espírito Santo,

através da instrumentalidade da Palavra de Deus,

mas sempre fui dirigido corretamente, mas se

houvesse falta de honestidade de coração e de retidão

diante de Deus, ou se eu não esperasse

pacientemente por Deus para instrução, ou se eu

preferisse o conselho dos meus semelhantes às

declarações da Palavra do Deus vivo, cometeria

grandes erros."

Incentivo àqueles com família e amigos não

convertidos

De "A Autobiografia de George Muller"

54

Para encorajar os crentes que são provados por terem

parentes e amigos não convertidos, relatarei a

seguinte circunstância que eu sei que é verdadeira. O

Barão von Kamp, que vivia na Prússia, havia sido

discípulo do Senhor Jesus por muitos anos. No ano

de 1806, grande sofrimento financeiro veio sobre

muitos milhares de tecelões na área. Eles não tinham

emprego porque todo o continente estava em um

estado de instabilidade por causa da guerra. O barão

acreditava que era a vontade do Senhor usar sua

riqueza para prover a esses pobres tecelões o

trabalho para salvá-los da ruína completa. Não havia

apenas perspectiva de ganho pessoal, mas sim a

perspectiva certa de perda imensa. No entanto, ele

encontrou emprego para cerca de seis mil tecelões.

Mas o barão não se contentou simplesmente com

isso. Ele também queria ministrar às almas desses

tecelões. Ele colocou os crentes como supervisores

sobre sua imensa preocupação. Os tecelões foram

instruídos em coisas espirituais, e ele pessoalmente

compartilhou a verdade do evangelho com eles. O

trabalho continuou por um bom tempo até que,

finalmente, por causa da perda da maior parte de sua

propriedade, ele foi obrigado a pensar em desistir.

Mas, nessa época, seu precioso ato de misericórdia

tinha provado seu valor para o governo. Foi

retomado por eles e continuou até que os tempos

mudaram. O Barão von Kamp foi nomeado diretor.

55

Este querido homem de Deus não se contentou com

isso. Viajou através de muitos países para visitar as

prisões para melhorar a condição física e espiritual

dos prisioneiros. Ele também ajudou alunos pobres

na Universidade de Berlim, especialmente aqueles

que estudaram teologia, a fim de conquistá-los para

o Senhor.

Um dia um jovem talentoso ouviu falar da bondade

do barão idoso para os estudantes. Ele escreveu ao

barão pedindo sua ajuda, porque seu próprio pai não

podia mais sustentá-lo. Pouco tempo depois, o jovem

Thomas recebeu uma resposta amável do barão

convidando-o a vir a Berlim.

Mas, antes que esta carta chegasse, o jovem

estudante soubera que o Barão von Kamp era um

"pietista" ou "místico", como os verdadeiros crentes

eram desdenhosamente chamados na Alemanha. O

jovem Thomas estava profundamente envolvido na

filosofia, raciocinando sobre tudo, questionando a

verdade da revelação, questionando até a existência

de Deus. Não gostava da perspectiva de ir buscar

ajuda ao velho barão. Ainda assim, ele pensou que

poderia tentar, e se ele não gostasse, ele não era

obrigado a permanecer em conexão com ele.

Thomas chegou a Berlim em um dia em que o barão

estava fora da cidade a negócios. Começou a falar

sobre suas filosofias ao administrador do barão. O

56

mordomo, no entanto, era um crente, e ele

transformou a conversa em coisas espirituais. Por

fim chegou o barão. Ele recebeu Thomas da maneira

mais afetuosa e familiar. O barão ofereceu-lhe um

quarto em sua casa e um lugar em sua mesa enquanto

Thomas estudava em Berlim. Thomas aceitou a

oferta. O barão buscava de todas as formas tratar o

jovem estudante da maneira mais afetuosa e amável,

servi-lo tanto quanto possível e mostrar-lhe o poder

do evangelho em sua própria vida. Ele fez tudo isso

sem discutir com ele ou mesmo falar diretamente

com ele sobre sua alma.

Obviamente, Thomas tinha uma mente cética, e o

barão evitou entrar em qualquer discussão com ele.

O aluno costumava dizer a si mesmo: "Gostaria de

poder entrar em discussão com esse velho tolo e

mostrar-lhe como suas crenças são irracionais". Mas

o barão evitou. Quando o barão ouvia o jovem aluno

voltar para casa à noite, ia ao encontro dele e o servia

da maneira que pudesse, ajudando-o mesmo a tirar

as botas. Assim, este discípulo humilde e idoso

continuou por algum tempo.

Enquanto Thomas ainda procurava uma

oportunidade para discutir com ele, ele se perguntou

como o barão poderia continuar a servi-lo. Certa

noite, quando Thomas voltou para a casa do barão, o

barão se fazia seu criado como de costume. O

estudante não pôde conter-se mais e explodiu,

57

"Barão, como você pode fazer tudo isso? Você vê que

eu não me importo com você. Como você pode

continuar a ser tão gentil comigo e me servir assim?"

O barão respondeu: "Meu querido amigo, aprendi

com o Senhor Jesus, e gostaria que você lesse o

Evangelho de João. Boa noite".

O estudante agora, pela primeira vez em sua vida,

sentou-se e leu a Palavra de Deus com um coração

aberto e uma vontade de aprender. Até aquele

momento, ele nunca lera as Sagradas Escrituras a

menos que quisesse descobrir argumentos contra

elas. Deus o abençoou; desde esse tempo ele se

tornou um seguidor do Senhor Jesus e tem

continuado na fé desde então.

Discurso aos jovens convertidos

Como alguém que há cinquenta anos conhece o

Senhor e trabalhou em palavras e doutrinas, eu

deveria ser capaz em alguma pequena medida para

dar uma mãozinha a esses jovens crentes. E se Deus

condescender apenas a usar o reconhecimento de

meus próprios fracassos a que me refiro e da minha

experiência, como uma ajuda para os outros em

caminhar no caminho para o Céu, confio que sua

vinda aqui não será em vão.

58

Lendo a Palavra

Um dos pontos mais importantes é o de atender à

leitura cuidadosa e com oração, da Palavra de Deus,

e à meditação sobre ela. Gostaria, portanto, de

chamar sua atenção particular para um versículo na

Epístola de Pedro, onde somos especialmente

exortados pelo Espírito Santo através do apóstolo,

sobre este assunto. Por causa da conexão, vamos ler

o primeiro versículo: "Deixando, pois, toda a malícia,

todo o engano, e fingimentos, e invejas, e toda a

maledicência, desejai como meninos recém-

nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele

crescerdes para a salvação." (1 Pedro 2: 1-2).

O ponto particular a que me refiro está contido no

segundo verso, "como bebês recém-nascidos,

desejem o leite sincero da palavra". Como o

crescimento na vida natural é alcançado pelo

alimento apropriado, assim na vida espiritual; se

desejamos crescer, esse crescimento só deve ser

alcançado através da instrumentalidade da Palavra

de Deus. Não é aqui afirmado, como alguns podem

estar muito dispostos a dizer, que "a leitura da

Palavra pode ser importante em algumas

circunstâncias". É da Palavra e somente da Palavra

que o apóstolo fala, e nada mais.

59

Você diz que a leitura deste folheto ou desse livro

muitas vezes lhe faz bem. Eu não questiono. No

entanto, a instrumentalidade que Deus tem

especialmente prazer em nomear e usar é a da

própria Palavra. Só na medida em que os discípulos

do Senhor Jesus Cristo atendem a isso, eles se

tornarão fortes no Senhor; e na medida em que é

negligenciado, até agora eles serão fracos.

Há uma coisa como bebês que são negligenciados, e

qual é a consequência? Eles nunca se tornam homens

ou mulheres saudáveis, por causa dessa negligência

precoce. Talvez, e é uma das formas mais dolorosas

dessa negligência - obtêm comida imprópria e,

portanto, não alcançam o pleno vigor da maturidade.

Assim também, com respeito à vida divina. É um

ponto extremamente importante que obtnhamos o

alimento espiritual certo no início daquela vida. O

que é esse alimento? É "o leite sincero da palavra"

que é o alimento apropriado para o fortalecimento da

nova vida.

Ouça, então, meus queridos irmãos e irmãs, alguns

conselhos com respeito à Palavra.

Leitura Consecutiva

Em primeiro lugar, é da maior importância que

leiamos regularmente a Escritura. Não devemos

60

pegar a Bíblia e escolher capítulos como quisermos

aqui e ali, mas devemos ler com cuidado e

regularmente. Falo de forma acertada e como alguém

que conheceu a bem-aventurança de ler a Palavra nos

últimos quarenta e seis anos. Digo quarenta e seis

anos, porque durante os primeiros quatro anos de

minha vida cristã não li cuidadosamente a Palavra de

Deus. Eu costumava ler um tratado ou um livro

interessante, mas eu não sabia nada do poder da

Palavra. Eu li muito pouco disso, e o resultado foi

que, embora um pregador, então, ainda não fiz

nenhum progresso na vida divina. E por quê? Apenas

por esta razão: negligenciei a Palavra de Deus. Mas,

agradou a Deus, através da instrumentalidade de um

irmão cristão amado, despertar em mim um fervor

pela Palavra, e desde então tenho sido um amante

dela.

Deixe-me, então, pressionar sobre você o meu

primeiro ponto, o de frequentar regularmente a

leitura através das Escrituras. Eu não suponho que

todos vocês precisem da exortação. Muitos, creio, já

o fizeram, mas falo em benefício daqueles que não o

fizeram. Aos que eu digo: Meus queridos amigos,

comecem de uma vez. Comece com o Antigo

Testamento, e quando você leu um capítulo ou dois,

e está prestes a deixar, coloque um marcador para

que possa saber onde você parou. Eu falo em toda a

simplicidade para o benefício daqueles que podem

ser jovens na vida divina.

61

Da próxima vez que você ler, comece no Novo

Testamento, e novamente coloque um marcador

onde você parar. E assim continue, sempre lendo

alternadamente o Velho e o Novo Testamento.

Assim, pouco a pouco, você lerá toda a Bíblia; e

quando tiver terminado, comece novamente no

início.

Por que isso é tão importante? Simplesmente para

que possamos ver a conexão entre um livro e outro

da Bíblia, e entre um capítulo e outro. Se não lemos

dessa maneira consecutiva, perdemos uma grande

parte do que Deus nos deu para nos instruir. Além

disso, se formos filhos de Deus, devemos estar bem

familiarizados com toda a vontade revelada de Deus,

toda a Palavra. "Toda a Escritura é dada por

inspiração e é proveitosa" (2 Timóteo 3:16). E muito

pode ser adquirido, assim, lendo cuidadosamente

toda a vontade revelada de Deus.

Suponhamos que um parente rico morresse e nos

deixasse, talvez, alguma terra, casas ou dinheiro;

devemos nos contentar em ler apenas as cláusulas

que nos afetam particularmente? Não, teríamos o

cuidado de ler todo o direito. Quanto mais, então, em

relação à vontade revelada de Deus devemos ter

cuidado para lê-la totalmente, e não apenas um e

outro dos seus capítulos ou livros.

62

E esta leitura cuidadosa da Palavra de Deus tem essa

vantagem: que nos impede de fazer um sistema de

doutrina nossa, e de ter nossas próprias visões

favoritas, o que é muito pernicioso. Muitas vezes

estamos aptos a colocar demasiada ênfase em certas

visões da verdade que nos afetam particularmente. A

vontade do Senhor é que conheçamos toda a Sua

mente revelada.

Novamente, a variedade nas coisas de Deus é de

grande importância; e Deus se agradou em nos dar

esta variedade no mais alto grau. O filho de Deus, que

segue este plano, será capaz de se interessar por cada

parte da Palavra. Suponha que alguém diga: "Vamos

ler Levítico". Muito bem, meu irmão. Suponha que

outro diga: "Vamos ler a profecia de Isaías". Muito

bem, meu irmão. E outro diz: "Vamos ler o Evangelho

segundo Mateus". Muito bem, meu irmão. Eu posso

apreciá-los todos; e seja no Antigo Testamento ou no

Novo Testamento, seja nos profetas, nos Evangelhos,

nos Atos ou nas Epístolas, acolhê-la-ei com agrado e

acolherei a leitura e o estudo de qualquer parte da

Palavra divina.

E isso será de particular vantagem para nós, se nos

tornássemos operários na vinha de Cristo, porque ao

expor a Palavra poderemos nos referir a cada parte

dela. Apreciaremos igualmente a leitura da Palavra,

seja do Antigo ou do Novo Testamento, e nunca nos

cansaremos dela.

63

Como já falei, conheci a bem-aventurança deste

plano durante quarenta e seis anos, e embora agora

tenha quase setenta anos de idade e, embora eu tenha

me convertido há quase cinquenta anos, posso dizer

pela graça de Deus que mais do que nunca, amo a

Palavra de Deus, e tenho maior prazer do que nunca

em lê-la. E embora eu tenha lido a Palavra quase cem

vezes, nunca me cansei de lê-la, e isto é mais

especialmente lendo-a regularmente,

consecutivamente, dia a dia - e não apenas lendo um

capítulo aqui e ali, Como meus próprios

pensamentos poderiam ter me levado a fazer.

Lendo a Palavra em oração

Novamente, devemos ler a Escritura em oração, sem

jamais supor que somos suficientemente inteligentes

ou sábios o suficiente para entender a Palavra de

Deus pela nossa própria sabedoria. Em toda a nossa

leitura das Escrituras, procuremos cuidadosamente

ter a ajuda do Espírito Santo; vamos pedir, por amor

de Jesus, que Ele nos ilumine. Ele está disposto a

fazê-lo.

Você não pode, portanto, se surpreender com a

minha seriedade em pressionar isso sobre você,

quando você já ouviu o quão precioso foi para o meu

coração, e quanto me ajudou.

64

Medite na Palavra

Mas, novamente, não basta ter somente leitura com

oração, mas também devemos meditar na Palavra.

Não é simplesmente lê-la, não simplesmente orando

por meio dela. É tudo isso, mas além disso é ponderar

sobre o que eu tinha lido. Isso é muito importante. Se

você simplesmente ler a Bíblia e não mais, é como

água correndo em um lado de um tubo, e para fora

no outro. A fim de ser realmente beneficiado por ela,

devemos meditar sobre ela.

Não podemos todos, naturalmente, passar muitas

horas, ou mesmo uma ou duas horas, cada dia desta

maneira. Nosso negócio exige nossa atenção. No

entanto, por mais curto que seja o tempo que você

puder reservar, empregue-o regularmente na leitura

com oração e meditação sobre a Palavra, e você vai

achar que vai ser de bom uso.

Em conexão com isso, devemos sempre ler e meditar

a Palavra de Deus com referência a nós mesmos e

nosso próprio coração. Isto é profundamente

importante, e eu não posso pressioná-lo muito

fervorosamente sobre você.

Nós costumamos ler a Palavra com referência aos

outros. Os pais a leem em referência a seus filhos, e

os filhos a seus pais; ministros leem para suas

congregações, professores da escola dominical para

65

suas classes. Oh! Esta é uma maneira pobre de ler a

Palavra; se lida desta maneira, ela não vai lhes

beneficiar. Digo-o de forma deliberada e

aconselhada: quanto mais cedo for desistido, melhor

para suas próprias almas.

Leia a Palavra de Deus sempre com referência ao seu

próprio coração, e quando você tiver recebido a

bênção em seu próprio coração, você será capaz de

dá-la aos outros. Se vocês trabalham como

evangelistas, como pastores ou como visitantes,

superintendentes das escolas dominicais,

professores, ou em qualquer outra atividade em que

procuram trabalhar para o Senhor, tenham cuidado

para permitir que a leitura da Palavra tenha uma

distinta referência ao seu próprio coração.

Ao ler, pergunte a si mesmo: "Como isso me convém,

seja por instrução, por correção, por exortação, ou

por repreensão (2 Timóteo 3:16), como isso me

afeta?" Se você assim ler e receber a bênção em sua

própria alma, como em breve fluirá para fora para os

outros!

Leia em Fé

Outro ponto. É da maior importância na leitura da

Palavra de Deus, que a leitura seja acompanhada com

66

fé. "A palavra pregada não lhes aproveitou, porque

não foi misturada com a fé naqueles que a ouviram."

(Heb 4: 2). Como com a pregação, assim com a

leitura; deve ser misturada com a fé. Não apenas lê-

la como você leria uma história, que você pode crer

ou não; não apenas como uma declaração, que você

pode dar crédito ou não; ou como uma exortação, à

qual você possa ouvir ou não, mas como a vontade

revelada do Senhor, isto é, deve recebê-la com fé.

Recebida assim, ela nos alimentará, e nós vamos

colher benefício. Só assim nos beneficiará;

obteremos dela saúde e força na proporção em que a

recebemos com fé real.

Seja Praticante da Palavra

Por fim, se Deus nos abençoa ao ler Sua Palavra, Ele

espera que devamos ser filhos obedientes e que

devemos aceitar a Palavra como Sua vontade e levá-

la à prática. Se isso for negligenciado, você verá que

a leitura da Palavra, mesmo que acompanhada de

oração, meditação e fé, fará um pequeno bem.

Deus espera que sejamos filhos obedientes, e que nos

faça praticar o que Ele nos ensinou. O Senhor Jesus

Cristo diz: "Se conheceis estas coisas, bem-

aventurados sois se as praticardes" (João 13:17). Na

67

medida em que praticamos o que nosso Senhor Jesus

ensinou, somos também filhos felizes de Deus.

Somente em tal medida podemos honestamente

procurar a ajuda de nosso Pai, assim como buscamos

fazer Sua vontade.

Se houver um único ponto que eu gostaria de ter

espalhado por todo o país e por todo o mundo, é

apenas esse: que devemos buscar, amados amigos

cristãos, não ser ouvintes da Palavra somente, mas

"praticantes da Palavra" (Tiago 1:22). Não duvido

que muitos de vocês tenham procurado fazer isso já,

mas falo particularmente aos irmãos mais novos e

irmãs que ainda não aprenderam a força total disso.

Oh! Procure observar fervorosamente a isso; é de

grande importância. Satanás procurará com muita

seriedade pôr de lado a Palavra de Deus; mas

procuremos praticá-la e agir sobre ela.

A Palavra deve ser recebida como um legado de Deus,

que nos foi comunicado pelo Espírito Santo.

A Plenitude da Revelação dada na Palavra

E lembre-se que, para o leitor fiel desta Palavra

bendita, ela revela tudo o que precisamos saber sobre

o Pai, tudo o que precisamos saber sobre o Senhor

Jesus Cristo, tudo sobre o poder do Espírito, sobre o

68

mundo ímpio em que nos encontramos, tudo sobre o

caminho para o Céu e a bem-aventurança do mundo

vindouro. Neste livro abençoado temos todo o

evangelho e todas as regras necessárias para a nossa

vida e guerra cristã.

Vejamos então que a estudemos com todo o nosso

coração, e com oração, meditação, fé e obediência.

Oração

O próximo ponto sobre o qual falarei por alguns

momentos tem sido mais ou menos já referido; é o da

oração. Você pode ler a Palavra e parece

compreendê-la muito plenamente - contudo, se você

não tem o hábito de esperar continuamente em Deus,

você fará poucos progressos na vida divina. Não

temos, naturalmente, em nós qualquer coisa boa, e

não podemos esperar, sem a ajuda de Deus, agradá-

Lo. Portanto, é a vontade do Senhor que devamos

sempre possuir nossa dependência dEle em oração.

O bendito Senhor Jesus Cristo nos deu um exemplo

neste particular. Ele deu noites inteiras à oração.

Encontramo-lo na montanha solitária varando a

noite em oração. E como em todos os aspectos Ele

deve ser um exemplo para nós, e em particular sobre

este ponto. A velha e corrupta natureza ainda está em

69

nós apesar de nascermos de novo; portanto, temos de

vir em oração a Deus para ajuda. Temos de nos

apegar ao poder do Todo-Poderoso.

Temos que orar a respeito de tudo. Não

simplesmente. . .

Quando grandes problemas vêm,

Quando a casa está em chamas,

Quando uma esposa amada está a ponto de morrer,

Ou queridos filhos ficam doentes.

Não simplesmente nessas ocasiões, mas também em

pequenas coisas.

Desde muito cedo, façamos de tudo uma questão de

oração, e que seja assim durante todo o dia e toda a

nossa vida. "Não vos inquieteis por coisa alguma,

mas em tudo, com oração e súplica, com ação de

graças, apresentai os vossos pedidos a Deus, e a paz

de Deus, que transcende todo entendimento,

guardará os vossos corações e vossos pensamentos

em Cristo Jesus". (Filipenses 4: 6,7).

Uma senhora cristã disse ultimamente que há trinta

e cinco anos ela me ouviu falar sobre este assunto em

Devonshire, e que então eu me referi a orar sobre

pequenas coisas. Eu tinha dito que supondo que deve

70

ser difícil desatar o nó, e você não pode cortá-lo;

então você deve pedir a Deus para ajudá-lo, até

mesmo para desatar o nó. Eu mesmo tinha esquecido

as palavras, mas ela se lembrou delas, e tinha sido

uma grande ajuda para ela uma e outra vez.

Então eu diria a vocês, meus amados amigos, que não

há nada muito pequeno para orar. Nas coisas mais

simples ligadas à nossa vida diária e caminhada,

devemos nos entregar à oração; e teremos o vivo e

amoroso Senhor Jesus para nos ajudar.

Mesmo nos assuntos mais insignificantes, eu me

entrego à oração; e muitas vezes pela manhã, mesmo

antes de sair do meu quarto, tenho duas ou três

respostas à oração desta maneira.

Os jovens crentes, no início da vida divina em suas

almas, aprendem com simplicidade infantil a esperar

por Deus em tudo! Trate o Senhor Jesus Cristo como

seu Amigo pessoal, capaz e disposto a ajudá-lo em

tudo. Quão abençoado é ser carregado em Seus

braços amorosos o dia inteiro!

Eu diria que a vida divina do crente é composta de

um grande número de pequenas circunstâncias e

pequenas coisas. Todos os dias nos trazem uma

variedade de pequenas provações; e se buscarmos

colocá-las de lado em nossa própria força e

sabedoria, descobriremos rapidamente que estamos

71

confusos. Mas se, pelo contrário, levarmos tudo a

Deus, seremos ajudados e nosso caminho será

tornado claro. Assim, nossa vida será uma vida

abençoada!