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Conversas com a minha Barriga Maria João Silva | Nuno Filipe Lopes

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Conversas com a minha Barriga

Maria João Silva | Nuno Filipe Lopes

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ÍNDICE:

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................3

2 OLHA COMO EU CRESÇO DENTRO DE TI.................................................4

3 LAÇOS PARA A VIDA.........................................................................................9

4 DE CASAL A PAIS...............................................................................................12

5 COMUNICAÇÃO INTRA-UTERINA............................................................15

6 COMO COMUNICAR COM O SEU BEBÉ..................................................18

7 DIÁRIOS DAS NOSSAS CONVERSAS....................................................21

8 BIBLIOGRAFIA.................................................................................................24

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Homem e Mulher passam por situações de cresci-mento individual em conjunto pelo que os momen-tos vividos com afectividade e bem-estar durante a gravidez contribuem para o fortalecimento do casal.

A comunicação intra-uterina com o bebé proporcio-na um maior conhecimento das características de cada elemento da nova família em construção. Não só os pais e o bebé desenvolvem capacidades de comunicação, como aprendem a conhecer os seus ritmos e as suas estratégias para partilhar sentimen-tos e situações do dia-a-dia.

A relação do bebé com o meio ambiente exterior é possível devido às suas capacidades sensoriais e motoras estarem plenamente em funcionamento a partir das 22 semanas de gravidez. Desta forma, pais e bebé encontram-se num diálogo mútuo de conver-sas, movimentos e afectos, iniciando-se assim as tro-cas que vão cimentar a aliança familiar numa relação de vida e para a vida.As técnicas de comunicação intra-uterina foram pen-sadas e desenvolvidas com a ajuda de outros casais grávidos que manifestaram o desejo de conversar com a sua barriga. Mais do que técnicas, são estraté-gias simples de comunicação entre os pais e o bebé, que abrem um canal para a partilha entre o meio ex-terior e o meio intra-uterino…e são tão simples que se tornam naturais.

A partilha de conversas de outros pais com a sua bar-riga poderá ser importante para os casais que iniciam este percurso da comunicação intra-uterina com o seu bebé. Não só entram em contacto com outras realidades e experiências, como estas podem cons-tituir-se como uma motivação para partirem para a sua própria descoberta.

Este é um livro incompleto em que o final da histó-ria se encontra por escrever nas páginas em branco, onde poderá descrever as suas experiêcias e os seus sentimentos, qual parceiro na viagem de uma gravi-dez que esperemos que seja única na forma de viver e de sentir. Tão única e pessoal quanto este livro, que o leitor pode transformar no SEU livro, pois conta a história da sua gravidez.

As experiências vividas com a comunicação intra-uterina devem ser intemporalizadas e registadas para que no futuro não só os pais recordem esta fase das suas vidas como momentos de realização pessoal e de fortalecimento mútuo, mas também para que os partilhem com a família e amigos.

O presente livro resulta da investigação científica com casais e os respectivos bebés ao longo da gravi-dez e pela experiência profissional dos autores como enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde materna e obstetrícia.

Neste sentido, ressaltou da sua experiência profis-sional a importância que a comunicação entre pais e filhos representa para o estabelecimento de uma relação precoce, cujas raízes se desenvolvem para toda a vida.

Boa leitura… boas conversas com a vossa barriga!

A gravidez é sem dúvida um momento único na vida de um casal…. A passagem de casal a pais é um processo complexo que vai sendo edificado ao longo da gravidez e que contribui para a transição de papéis, construindo-se laços que perduram para a vida.

Introdução

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É fascinante pensar como é possível que o corpo humano seja uma máquina tão perfeita. gera vida, torna-a mais complexa e por isso intrigante e maravilhosa na forma como actua e como se exprime.Um dos aspectos mais fascinantes do desenvolvi-mento da vida é o que ocorre ao longo de aproxima-damente 40 semanas de gravidez. A partir de uma pequena célula obtemos uma complexificação celu-lar e funcional que culmina com o nascimento mas que se mantém activa pelo resto dos nossos dias.

Nos finais do século dezanove o método mais sofis-ticado na observação da actividade do bebé dentro do útero era a palpação directa do abdómen mater-no, mais tarde complementada pela utilização do es-tetoscópio.

Até meados do século vinte, o útero era considerado uma fortaleza, ambiente seguro e privilegiado que encerrava o bebé no seu interior, sem que a luz, o ruído ou o toque pudessem ser por ele percebidos e sem que o seu desenvolvimento pudesse ser per-turbado.

Actualmente, com o desenvolvimento tecnológico e o aperfeiçoamento das técnicas ecográficas, é possí-vel obter um conhecimento mais científico sobre as competências do bebé dentro do útero e sobre as for-mas de interacção entre o bebé e o meio envolvente.

gosto muito de me mexer…. O movimento representa um meio de comunicação com o ambiente físico e humano pelo que as mani-festações da actividade do bebé podem ser demons-trativas das percepções e das respostas face à esti-mulação externa.A movimentação do bebé in-útero pode ser dividida, de uma forma geral, em movimentos espontâneos e movimentos intencionais, sendo que o seu apareci-mento se processa em diferentes momentos.

Os primeiros movimentos do bebé são espontâne-os e surgem a partir da oitava semana de gravidez, visíveis através de flexões da coluna com um des-locamento passivo dos membros superiores e infe-riores. Estes últimos permitem ao bebé proceder a uma auto-estimulação e exercitam também o auto-conhecimento. Através desta actividade tão discreta o bebé parte à descoberta do próprio corpo, tocando em si com as mãos e com os pés, principalmente na zona da boca.

Desta forma é possível percebermos que a activi-dade do bebé parte da sua própria descoberta no meio intra-uterino, pelo que após o nascimento o seu repertório de movimentos mantémse muito seme-lhante ao da actividade intra-uterina. Provavelmente a única diferença residirá na ausência de um meio lí-quido e no consequente efeito da gravidade.

Olha como eu cresço dentro de ti

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A ideia de que a mente e o desenvolvimento intelec-tual apenas começam a ser utilizados e estimulados após o nascimento encontra-se ultrapassada pela observação do desenvolvimento neuronal do bebé e pela forma como este ao longo da gravidez manifes-ta gradualmente respostas e comportamentos mais complexos e diferenciados.

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Mas voltemos à vida intra-uterina… a variedade de movimentos do bebé alarga-se à medida que o seu desenvolvimento vai entrando em etapas mais com-plexas e, a partir das doze semanas, a mão do bebé pode fechar-se, assim como se existir algum tipo de pressão na base do polegar, isso também faz com que ele abra a boca e mova a língua.

É também nesta fase que o bebé começa a engolir líquido amniótico, o que contribui não só para a ma-nutenção do equilíbrio da produção de líquido, mas também para o desenvolvimento dos movimentos respiratórios, sendo que este desenvolvimento é gra-dual e ocorre até às trinta semanas de gravidez.Mas não é só o bebé que comanda a sua actividade de exploração do meio intra-uterino.

Estudos realizados demonstram que a actividade dos bebés aumenta quando as mães estão emocional-mente tensas. Se a emoção é forte, mas breve, ape-nas há um aumento transitório de actividade, mas se a emoção permanecesse durante longos períodos verificava-se um aumento da actividade fetal, que poderia ascender até dez vezes mais do que o normal. As mães referem também frequentemente sentir um aumento na actividade dos bebés quando se encon-tram particularmente cansadas.

conseguimos assim associar a actividade motora dos bebés in-útero com o factor intencionalidade, ou seja a motivação interna que leva o bebé a conduzir o seu processo de aperfeiçoamento e de descoberta, ca-racterística do ser humano.

Tanto para descobrir à minha voltaAté à década de setenta, muitos cientistas continua-vam a defender que o bebé na vida intrauterina ape-nas poderia ser estimulado através do tacto ou da vibração. À medida que o estudo da vida pré-natal se foi desenvolvendo, atingiu-se o conhecimento de que, apesar do ser humano nascer com alguma ima-turidade ao nível do sistema nervoso, reconhece-se que o bebé na sua vida intra-uterina apresenta com-petências para memorizar as experiências que os seus sentidos lhe proporcionam.

A VisãoOs movimentos oculares do bebé iniciam-se entre a 16ª e a 18ª semana de gravidez, evoluindo entre a 23ª e a 24ª para os movimentos oculares rápidos (rEM), os mesmos que temos na segunda fase do nosso sono. Apesar de o útero ser considerado até há bem pouco tempo uma fortaleza impenetrável, a luz que incide sobre o abdómen da mãe atinge a retina do

bebé, estimulando o seu desenvolvimento.Esta actividade ocular associada ao desenvolvimento do bebé e à luz que atravessa a parede abdominal da mãe, principalmente após a abertura das pálpebras (20ª semana), prepara a visão para a vida fora do am-biente uterino.

O PaladarO paladar é também um dos sentidos activos duran-te o período pré-natal e que se vai complexificando durante a gravidez, à medida que o bebé interage com o seu ambiente, visto que ele se desenvolve num meio quimicamente rico que promove o desenvolvi-mento da sua capacidade de resposta aos estímulos.

O facto de engolir diariamente uma grande quantida-de de líquido amniótico (um volume médio entre 210 a 760 ml) permite ao bebé desenvolver a capacidade de captar e experienciar uma grande variedade de indicadores químicos, captando as alterações do am-biente em que se desenvolve.As papilas gustativas do seu bebé surgem por volta da 8ª/9ª semana de gravidez, assim como a sensibili-dade na boca, e a partir da 12ª semana encontram-se perfeitamente aptas a receberinformações externas. Tal como nos refere SÁ (2003, p.73), por volta da 28ª semana de gravidez o feto é capaz de “…dar uma resposta diferenciada a estímu-los desagradáveis que consiga ingerir”.

O OlfactoO olfacto é um dos sentidos que nos permite identifi-car situações, pessoas, objectos e está inclusive rela-cionado com o paladar. No caso do seu bebé, na vida intra-uterina sabe-se que oolfacto está em desenvolvimento activo a partir da 7ª semana de gravidez e que o seu funcionamento é pleno a partir da 22ª semana de gravidez.

Foram realizadas experiências interessantes com recém-nascidos que demonstram que estes reconhe-cem o cheiro do leite materno, apresentando logo nas primeiras horas de vida comportamentos de procura pelo mamilo da mãe quando têm fome. A capacidade de reconhecimento do cheiro da mãe é um factor im-portante e facilitador dos laços a desenvolver entre a mãe e o recém-nascido.Os recém-nascidos não conseguem apenas reconhe-cer o cheiro do leite da mãe como também o prefe-rem em relação ao leite de outras mães, com o mes-mo tempo de pós-parto. Assim é possível perceber que esta capacidade sensorial não pode ser apenas desenvolvida imediatamente após o nascimento e tem início ainda na vida intra-uterina.

A AudiçãoSe pensarmos em toda a actividade que o corpo hu-

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mano tem e em todos os processos mecânicos que realiza é fácil perceber que o meio intra-uterino é rico em estimulação acústica.Desde a comida e bebida que a mãe ingere, passan-do pelos ruídos da sua respiração, da actividade car-diovascular e gastrointestinal e do som da sua voz, temos também os ruídos ambientais vindos das situ-ações diárias que a mãe vive.

O som mais frequente que o bebé ouve é o da pulsa-ção da artéria da mãe que fornece sangue ao útero, sendo seguido pelo som do sopro da placenta. ima-ginem o som do vento a soprar numa janela durante uma tempestade… Este é som do sopro da placenta com que o feto se familiariza ao longo da gravidez.Mesmo assim, a vibração é o estímulo mais potente, capaz de provocar mudanças da actividade do seu bebé, assim como nos batimentos do seu coração.

O seu bebé recebe assim estes estímulos internos, juntamente com os externos, sob a forma de sonori-dades convertidas em pressões sobre o corpo e so-bre o líquido do seu ouvido interno.Estudos feitos por diversos investigadores provaram a preferência do bebé pela voz familiar da sua mãe, o efeito tranquilizador da exposição ao som dos bati-mentos cardíacos da mãe após o nascimento e a pre-ferência do bebé por ouvir o som de histórias familia-res ou por músicas familiares, que haviam sido lidas ou ouvidas pela mãe durante a gravidez. Logo nas primeiras horas depois do parto, o recém-nascido é capaz de dirigir o olhar e por vezes até virar mesmo a cabeça na direcção de um som. O seu limiar auditivo absoluto, isto é, a intensidade sonora mais fraca que pode perceber, é muito parecido com a dos adultos, podendo distinguir sons muito próximos pela sua in-tensidade ou pela sua frequência.

Sabendo que desde os primórdios da vida intra-ute-rina que o seu bebé distingue a sua voz das restantes, pode-se então colocar com mais convicção a ques-tão da experiência intensa que caracteriza a vida in-tra-uterina do bebé.

De acordo com POciNHO (1999), o feto já tem ca-pacidade a partir do 6º mês de gravidez para dis-tinguir e identificar sílabas, para além de que o recém-nascido poderá distinguir a língua materna de outras línguas, e a atenção que demonstra é um exemplo de que a prefere face a outras.Por tudo isto e pelo que pode vir a experimentar…converse com a sua barriga!

É para acordar a que horas?!Quem pensa que os bebés no seu esconderijo intra-uterino estão sempre a dormir ou sempre acor-dados, desengane-se…foi possível observar na vida intra-uterina, os quatro estados de sono-vigília ca-racterísticos no recém-nascido, através da visualiza-ção de movimentos dos olhos e da boca, juntamente com a contagem dos batimentos cardíacos fetais, à 35ª/37ª semana de gravidez.

Os estados comportamentais do bebé na vida intra-uterina repetem-se ciclicamente, mas não foi possível observar nenhum ritmo dia/noite como os adultos têm. Da mesma forma não foi possível pro-var que a periodicidade da actividade do bebé este-ja relacionada com a sua idade, sexo e/ou o peso à nascença. No entanto, existem suspeitas de que esta actividade possa estar relacionada com característi-cas psicológicas próprias do bebé, associadas à acti-vidade e às emoções pelas quais a mãe passa. Pode ser que vocês sejam os próximos a ajudarem-nos a provar esta suspeita…E qual não foi a grávida que quis descansar depois de um dia agitado e que não o conseguiu porque o pequenote quer “brincadeira”?! Pois é, se calhar não sabia que a causa de tanta agitação na altura da mãe querer relaxar é causada pelo ácido láctico (lembra-se das cãibras? É o mesmo ácido que as provoca), produzido pelos músculos, em período de activida-de, que atinge o seu máximo durante o período de repouso que se segue. consequentemente temos um bebé estimulado a mexer-se quando a mãe procura descansar…

Já vimos então que os estímulos externos e internos desencadeiam as respostas que o nosso bebé vai desenvolvendo e complexificando ao longo da gra-videz, estimulando a produção de pensamentos para adequar as suas respostas.

O período que decorre desde o 5º mês de gravidez e os 24 meses após o nascimento foi denominado por SÁ (2003, p.96), de “função placentária”, visto que compara a função da placenta durante o desenvolvi-mento intra-uterino com o efeito do desenvolvimen-to psicológico precoce na construção da vida mental do bebé.imagine que os estímulos que o bebé recebe na vida intra-uterina vão sendo armazenados na sua memó-ria. gradualmente ele vai criando uma capacidade de resposta cada vez mais adequada e que lhe permite obter recursos psicológicos para reagir aos aconte-cimentos positivos e negativos da sua vida futura. Neste sentido, estamos a contribuir para que mesmo que uma criança fique deprimida face a um acon-tecimento doloroso, terá a segurança e os recursos

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internos suficientes para reagir a esta situação e mo-bilizar sentimentos positivos e de esperança que lhe permitem ultrapassar a experiência. Somos todos se-res humanos mas cada um mora na casa que é o seu corpo e a sua alma de forma distinta. E esta é uma verdade que também se adapta à vida intra-uterina do seu bebé.

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Recordações para mais tarde:

• O seu bebé é diferente de todos os outros. Tudo porque ao longo da gravidez, ele descobre-se a si e ao mundo, construindo uma individualidade marcada, que pode ser observada através de padrões dos seus movimentos e comportamen-tos e da forma como vai “conversando” com os pais e amigos.

• A voz do pai e principalmente a voz da mãe (que é mais frequentemente ou-vida pelo bebé, mesmo que o diálogo não seja a ele dirigido), afecta a vida intra-uterina, facto este que se pode constituir como o início daquela ligação tão especial e repleta de carinho para o resto da vida.

• Desfrute do carinho e das “conversas” privilegiadas com o seu bebé e aproveite estes momentos de trocas para namorar com o pai e deixar que ele descubra o seu filhote.

• Para reflectir deixamo-vos as palavras de FREUD (1990, p.77): “…entre a vida intrauterina e a primeira infância há mais continuidade do que o acto do nasci-mento nos permite saber”.

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Laços para a vida

Diz o dicionário de língua portuguesa que um laço é um nó que se desata facilmente. Nada mais certo quando falamos de relações afectivas. Ter uma rela-ção afectuosa com alguém pressupõe que cuidemos do outro como de uma flor. As relações devem ser regadas, alimentadas e visitadas com regularidade. Senão os laços que são nós, desatam-se e perde-se a ligação entre as pontas.Entre pais e filhos este nó forma-se ainda antes da concepção, quando homem e mulher se unem num projecto de amor e vida. Depois, durante a vida in-útero este nó vai ficando mais apertado e espera-se que perdure a longo da vida.

No entanto, cabe aos pais este primeiro aconchego no nó. E que melhor altura para o fazer senão en-quanto o seu bebé passa de embrião a feto e um po quinho mais tarde ao recémnascido que irá segurar nos braços.Os laços que se constroem são designados pe-los estudiosos de várias formas: vinculação, apego, bonding… mas todos convergem para a mesma ex-plicação: a procura e manutenção da proximidade, a reciprocidade das trocas verbais e não-verbais e os sentimentos que são habitualmente positivos entre pais e filhos. A vinculação está relacionada com um conjunto de comportamentos naturais demonstra-dos pelo bebé, para estimular a proximidade com a principal figura prestadora de cuidados. Nestes com-portamentos podem-se incluir o choro, a procura de contacto visual, o sorriso e a procura de aconchego físico. isto implica que, até antes do nascimento, o bebé possui capacidades que permitem a identifica-ção, de forma selectiva, da mãe e que ao proporcio-nar segurança e conforto estamos a abrir caminho para o desenvolvimento da exploração do mundo que se iniciou ainda no ambiente intra-uterino.Mas para que se estabeleça esta proximidade é ne-cessário que o adulto, mãe ou pai ou outra figura que cuide do bebé, responda de forma rápida e adequa-

da aos sinais específicos emitidos por ele. A relação que se estabelece entre os bebés e os pais na vida intra-uterina vai contribuir precisamente para esta adequação entre sinais do bebé e respostas dos pais, visto que como já vimos os comportamentos dos be-bés durante a gravidez são muito semelhantes aos que acontecem após o nascimento.

cANAvArrO (2001, p.258) diz-nos que “...contra-riando a imagem da passividade psicológica da mu-lher grávida em relação ao feto, é hoje consensual que se começa a formar durante a gravidez uma liga-ção afectiva ao bebé, falando-se, então, em vincula-ção pré-natal”. Esta vinculação pré-natal consiste nos laços que lentamente se vão formando entre os pais e o bebé e estão associados aos três trimestres da gravidez e aos seus acontecimentos.A primeira fase está relacionada com a descoberta e aceitação da sua gravidez. Há apenas pequenas alte-rações corporais na mãe, como os enjoos, a ausência de menstruação e a sonolência. Mas o bebé ainda não se faz sentir, os movimentos são imperceptíveis e as ecografias são ainda os únicos testemunhos desta pequena vida em crescimento.

Nesta fase, ocorre a inversão de papéis, ou seja, os filhos assumem o papel de pais, passando à situa-ção de cuidadores do seu filho. Os pais podem re-cordar a própria infância e a forma como os seus pais agiam em relação a eles, com o intuito de os superar no desempenho do seu papel. O sentido da crescen-te responsabilidade que o gerar e o cuidar de uma criança requer, pode caminhar de mãos dadas com sentimentos de euforia.

A segunda fase, acontece por volta 20ª semana de gravidez e está associada aos primeiros movimentos do bebé sentidos pela mãe. É esta nova realidade que vai ajudar os pais a reconhecerem o bebé como um ser diferente da mãe e a noção de que poste-

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riormente se irá separar dela. Estes acontecimentos estão rodeados de alguma euforia mas também au-mentam as dúvidas da mãe e as suas fantasias com o bebé tornam-se mais específicas, passando a relacio-nar comportamentos e respostas a características da sua personalidade.

Existe mesmo uma designação de bebé imaginá-rio, relacionada com os acontecimentos vividos pe-los pais durante a gravidez, ao sentirem o seu bebé como um ser vivo (através das imagens das ecogra-fias, do som do coração do bebé, da sensação dos movimentos do bebé), cujo desenvolvimento se está lentamente a processar e que dentro de pouco tem-po passará a ser o bebé real.

Desenvolve-se assim o envolvimento sócio-emocio-nal entre o bebé e os seus pais bem como a capa-cidade destes para amar, sentir o bebé e apresentar uma sensibilidade aumentada a ele, sendo uma altura excelente para iniciarem uma conversa dirigida a si próprios e ao bebé.

Existem três canais de comunicação entre os pais e o bebé durante a gravidez.

O primeiro canal é o da comunicação fisiológica que se dá pela passagem do alimento através do cordão umbilical; o segundo, é a comunicação comporta-mental onde o bebé pode manifestar, através de mo-vimentos, o seu desconforto, actividade ou respostas a “conversas”; o terceiro é o da simpatia, do sentimen-to de aceitação e diz respeito à sensação física e emo-cional que afecta o bebé durante a gravidez.Apesar do primeiro canal ser por excelência um ex-clusivo da mãe, os restantes canais podem ser desen-volvidos, estimulados e sentidos pelo pai ou por uma pessoa significativa que acompanha a gravidez.

Nas últimas semanas de gravidez, ocorre a terceira fase da vinculação pré-natal, na qual é característico os pais consolidarem a ideia do seu futuro filho como um indivíduo real, tendo o bebé um papel impres-cindível para a sua própria individualização, através dos seus movimentos, ritmos e níveis de actividade intra-uterina.

BrAZELTON e crAMEr trazem-nos uma frase inte-ressante quando dizem que “Quanto mais os pais se convencem de que o bebé que vai nascer é um indiví-duo capaz e interactivo, mais confiam na capacidade do bebé para sobreviver ao trabalho de parto e ao nascimento” (2004, p.43).Ocorre então o nascimento que deve ser reconheci-do como um acontecimento centrado na família. É um dos momentos cruciais para o desenvolvimento do processo de criação de laços entre mãe-pai-bebé,

no qual pela primeira vez os dois ou os três se encon-tram face a face, havendo o confronto entre o bebé das fantasias e o bebé real. O parto é um momen-to que assinala a comunicação de uma interacção já existente e que a partir desse momento se deve fortalecer. É como chegarmos ao primeiro patamar e espetarmos a bandeira numa montanhaque queremos continuar a escalar.

Os laços emocionais que foram sendo criados ao lon-go da gravidez devem passar por uma reorganiza-ção, de modo a que cada membro se adapte à nova estrutura familiar. É como se as capacidades motoras e sensoriais do bebé e as fantasias poderosas dos pais se encontrassem e procurassem um equilíbrio.

O trabalho de parto e o parto são momentos de grande ansiedade para os pais. Não só está prestes a desvanecer-se a sensação de fusão biológica com o bebé, mas também a imagem do bebé imaginário (perfeito) deve ser adaptada às características espe-cíficas do bebé real. Há que dominar o medo de fazer mal ao bebé indefeso e aprender a tolerar e a desfru-tar as suas exigências, dada a sua dependência total da mãe e pai. Tudo isto requer do casal um grande esforço psicológico, sendo fundamental o apoio, a compreensão e a comunicação entre si.

Deixamo-vos com uma frase de vicENTE, para que possam reflectir sobre o papel dos laços que se vão construindo com o vosso bebé ao longo da gravidez e no poder que a comunicação iniciada precocemen-te, na vida intra-uterina tem nas vossas relações para a vida.“É a criação de um filho imaginário, originário nas suas fantasias impregnadas de afectos e de expec-tativas. É a dependência e a simbiose, é o sentido que vai sendo dado pela qualidade da interacção, é o conter e transformar das angústias que vai permi-tir ao bebé desenvolver o sentimento de existir e o evoluir das suas próprias capacidades sensoriais e relacionais.”

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Recordações para mais tarde:

• A gravidez é uma fonte inesgotável de emoções fortes. Não culmina com o nascimento do bebé porque os sentimentos crescem, amadurecem e perduram para a vida.

• A origem biológica dos laços estabelecidos durante a gravidez leva a crer que já com os primeiros movimentos do bebé, a procura de uma relação de proximida-de com os pais se encontra em desenvolvimento.

• Esta relação de atenção à actividade do bebé e as “conversas” que os pais têm com ele contribuem para que se sintam mais activos e competentes no seu pa-pel de cuidadores.

• As “conversas” mãe-pai-bebé são estratégias positivas de fortalecimento da re-lação do casal e da construção do bebé como pessoa real e o ponto de partida para a busca da sintonia e equilíbrio familiar.

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A maternidade foi desde sempre, tal como é hoje, indispensável à preservação da vida humana, podendo ser considerada como um período de desenvolvimento, em que tanto o homem como a mulher vivem uma crise de construção do seu novo papel: o de pais.A noção de crise está relacionada com a mudança e toda a mudança é geradora de stress. Esta mudança implica perdas e ganhos, associadas às representa-ções que a gravidez e a parentalidade comportam para cada homem e mulher, às adaptações que tem de levar a cabo para integrar este novo papel e re-quer também respostas mentais, emocionais e com-portamentais.

Quando o stress é ultrapassado e surge a reorganiza-ção, o casal passa para níveis de desenvolvimento e de funcionamento superiores, passando a reflectir e a encontrar estratégias para a sua vida presente e fu-tura em conjunto. Esta etapa caracteriza-se pelo de-senvolvimento da parentalidade em que o casal deixa progressivamente de viver um para o outro e passa a preocupar-se com a vinda de uma nova vida.A parentalidade, ou a motivação que leva os pais a cuidarem e a tomarem conta do seu bebé não apare-ce de forma imediata. Desenvolve-se de forma sub-til e está relacionada com alguns acontecimentos da gravidez.

De Casal a Pais

A primeira fase está associada à notícia de confirma-ção da gravidez. Mesmo que a gravidez seja planea-da, a sua confirmação levanta sempre um misto de emoções. Pode surgir uma alegria extrema e/ou a an-siedade perante a responsabilidade que se avizinha. claro que as manifestações de alegria dos amigos ou família são importantes para que esta ansiedade não ganhe tanta importância nesta fase inicial. Mas tran-quilizem-se os marinheiros de primeira vez porque é natural que se sintam confusos…

É também nesta fase inicial da gravidez, que homem e mulher vão à procura dos seus ideais de pais, seja através dos seus próprios pais, seja de amigos próxi-mos com os quais se identificam em termos de atitu-des e de escolhas como pais. É um olhar para o es-pelho e projectar no presente o futuro e o passado…começam então as primeiras certezas de que uma nova vida está em crescimento, com personalidade e comportamento próprios. São os primeiros movi-mentos do bebé que despertam primeiro na mãe e depois no pai o sentimento de que o seu bebé é real, é individual e já tem algumas vontades próprias…que às vezes não vão ao encontro das dos pais…mas que fazem com que se iniciem as trocas, as conversas e as expectativas, tão importantes para a relação de afecto e proximidade da família.Na construção de um novo papel como homem e mulher, pai e mãe, surge também a reavaliação da relação. As expectativas que cada um forma acerca do outro vão ser pensadas e analisadas, a fim de que cada um se convença de que o outro irá desempe-nhar de forma satisfatória o seu papel. É fundamental o diálogo, a partilha, o carinho e a compreensão. A mulher por vezes sente-se aprisionada no seu estatu-to de grávida, cansada e com dificuldade em conju-gar várias funções de super-mulher. É necessário que saiba partilhar as suas dificuldades e que o compa-nheiro seja tolerante e que faça com que a mulher se sinta cuidada e amada.

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Não se esqueçam que a segurança emocional da grá-vida é muito importante para a criação de um am-biente harmonioso que, por sua vez, influenciará po-sitivamente o desenvolvimento do vosso bebé.Já numa fase final da gravidez a mulher passa por sentimentos de ambivalência em que surge a vonta-de de manter o seu bebé protegido do mundo dentro de si e o desejo de terminar a gravidez devido aos desconfortos físicos que pode sentir. Surge também o receio associado ao momento do trabalho de parto e parto, devido às histórias e conversas que as mulhe-res partilham entre si em que normalmente ganham mais relevo situações menos positivas que intimidam e assustam a grávida.

Também o momento do pós-parto está associado à transição dos papéis de homem e mulher para pai e mãe. A mãe por se ver confrontada com o cansa-ço e as incertezas de quem passou por uma situação repleta de emoções e por existirem sempre dúvidas relativamente aos cuidados a prestar ao recém-nas-cido, à alimentação, ao padrão de sono/descanso e às próprias necessidades da mãe/casal. O pai por se sentir por vezes um pouco afastado destes momen-tos de partilha entre mãe e bebé, seja pelas rotinas da maternidade ou por se sentir inseguro na forma como embala ou (não) “adivinha” as necessidades do seu filho.

O pai é então um dos elementos fundamentais nos sentimentos experimentados pela mulher grávida e pelo bebé durante a gravidez. A longa espera, somada à falta de experiências fí-sicas concretas durante a gravidez, aumenta fre-quentemente o stress que os homens experimentam durante este período. Existem factores que podem afectar a forma como ultrapassam estas dificuldades: a relação com a companheira e a sua capacidade de adaptação à introdução de um novo membro na fa-mília; os recursos económicos do homem e as variá-veis que o influenciam, como a idade e a educação; os sistemas de apoio de que dispõe, como família, amigos e emprego; a aceitação do papel de pai e os esforços que realiza para se preparar; a saúde do bebé e da mãe.

O homem pode controlar alguns destes factores mas nunca todos. O assumir do novo papel pressupõe um stress considerável para o novo pai. A maior parte da informação que recebe é através da sua companhei-ra, do enfermeiro ou do médico, dado que, ao contrá-

rio da mulher, não experimenta do mesmo modo, as alterações físicas da gravidez.

Para o homem, ter um filho pode ser o reflexo do de-sejo da continuidade de si mesmo e o converter-se em pai pode ser um símbolo de independência da sua própria família. Assim, pode reviver uma infância feliz através do seu filho ou proporcionar um crescimen-to diferente do seu em que considerou existirem falhas educacionais ou relacionais com o seu próprio pai.Por outro lado, permite satisfazer os desejos dos fu-turos avós de terem netos, através da continuidade familiar e ainda aproximar o casal, visto viverem em comum a experiência da parentalidade.É então fundamental que o casal converse sobre a importância que têm todas as tarefas de preparação para o nascimento e sobre os ajustes que têm que ser efectuados após o mesmo e que devem ser feitos a dois numa atmosfera de carinho, entreajuda e com-preensão.

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Recordações para mais tarde:

• A transição de casal para pais assinala um momento de transformação com o sentido de oportunidade e de mudança, com vista ao desenvolvimento do ciclo evolutivo familiar.

• Mulher e Homem, Mãe e Pai vivem sentimentos por vezes confusos e ambíguos em que a alegria se mistura frequentemente com a ansiedade e as preocupações relacionadas com a responsabilidade de “tomar conta” de uma nova vida.

• É natural que cada membro do casal experimente momentos individuais de re-flexão, fundamentais para analisarem a sua conduta como pais e pensarem na forma como irão desempenhar o seu papel de educadores.

• Estratégias simples como o diálogo, a partilha de sentimentos e de receios e a manifestação de carinho e preocupação um pelo outro são muito importantes para que o casal converse de forma harmoniosa não só com a sua barriga grá-vida de amor, mas também entre si, cúmplices de uma caminhada geradora de vida.

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Comunicação Intra-Uterina

É do domínio do senso comum a existência de várias formas de comunicação. Todas elas são testemunhas preciosas da passagem de conhecimentos, experiên-cias e sentimentos no seio da comunidade em que nos inserimos, incutindo-nos as regras, os valores e as tradições pelas quais nos regemos.

O conceito de comunicação pode ser definido como um processo pelo qual ideias e sentimentos se trans-mitem de indivíduo para indivíduo, tornando possível a interacção social.É fundamental para o Homem, enquanto ser social, e para a cultura. Pode dar-se através de expressões corporais e faciais, sons inarticulados, palavras e sím-bolos.

intimamente ligado ao conceito da comunicação en-contramos o conceito da interacção, importante para a relação entre os pais e o bebé, na medida que em que quando existe interacção, existe também inten-cionalidade na comunicação feita com e para o bebé. A interacção entre os pais e o bebé é normalmente correspondida e intencional: a correspondência está relacionada com o papel que o bebé tem na comu-nicação com o ambiente exterior; a intencionalidade desenvolve-se quando o bebé toma consciência que o seu comportamento tem um valor comunicativo e pode ser usado propositadamente, afectando o com-portamento dos pais.

O bebé na vida intra-uterina pode ouvir sons, engolir liquido amniótico, sonhar, reconhecer a voz da mãe e do pai. Estudos realizados na área das competências fetais mostram que prefere a voz familiar, apresen-tando um comportamento inteligente. Sendo a crian-ça, antes do nascimento, um ser dotado de sentimen-tos, de recordações e de consciência, tudo o que lhe acontece durante a gravidez tem grande importância na formação e na estruturação da sua personalidade.

O sucesso da comunicação/interacção com o seu bebé depende de uma estimulação mantida e repe-tida ao longo do seu crescimento, visto que a inter-pretação que cada bebé colhe das suas experiências intra-uterinas de comunicação é que vai promover o início da construção dos laços emocionais. como já falámos anteriormente, é interessante, que é a mãe de forma involuntária, a dar os primeiros contributos sonoros no interior da sua barriga: os primeiros sons que o bebé ouve são o bater do coração materno e a circulação do sangue nas suas veias e artérias.

Os bebés no meio intra-uterino possuem uma capa-cidade extraordinária de se darem a conhecer a eles próprios e a nós mesmos, visto que se expressam espontaneamente através da sua actividade, ou seja, sempre que com a visão na ponta dos dedos, desco-brem o outro e se descobrem nele.As hipóteses de expressão do seu bebé são carac-terizadas por um conjunto de experiências pessoais únicas, que poderão ser entendidas como a sua for-ma de linguagem para os pais, linguagem essa que se multiplica, aperfeiçoa e diferencia à medida que o bebé vai interagindo com o meio que o rodeia.

A comunicação intra-uterina é realizada de uma for-ma fisiológica, comportamental e/ou empática:Fisiológica: esta forma de comunicação acontece de forma natural, uma vez que está relacionada com as trocas de nutrientes e de oxigénio, num sistema em que a placenta e o cordão umbilical actuam como suportes à comunicação.

Comportamental: consiste nas reacções que a mãe, o pai e o bebé vão desenvolvendo face aos estímu-los. Estas reacções são únicas para cada família, mãe, pai e bebé, tendo em conta que cada pessoa tem a sua forma de sentir e de expressar as suas emoções. Assim, existem bebés que se movimentam com a voz do pai ou com as suas carícias na barriga da mãe. Por

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outro lado, outros bebés ficam mais serenos quando ouvem a voz do pai, só se movimentando com a esti-mulação materna.

Empática: está relacionada com os estados de tran-quilidade e/ou ansiedade maternos devido à produ-ção de hormonas pelo organismo de acordo com os estados de stress ou de relaxamento. Desta forma, esta via de comunicação contém também aspectos característicos das anteriores.

Assim, as técnicas de comunicação intra-uterina de-vem ser realizadas num momento de tranquilidade propício à convivência da família, para que mãe, pai e bebé desfrutem da troca de sentimentos positivos e para que estes laços se perpetuem após o nascimen-to. Por sua vez, o bebé vai reconhecer estes momen-tos de serenidade e reproduzir o seu comportamento de acalmia nos primeiros meses de vida.

A melhor altura para o desenvolvimento de laços intra-uterinos é a partir das 22 a 24 semanas de gravidez, uma vez que o bebé já possui capacidade de ouvir, sentir e responder aos estímulos do mundo exterior. É importante que esta comunicação se torne num hábito familiar de relaxamento e troca de experiências, ou seja uma constante diária da vida do casal, para que este comece a construir a passagem de casal para pais.

Os comportamentos e expressões que o bebé apre-senta ao nascer e nos primeiros anos de vida podem mostrar o tipo de mensagens que recebeu enquanto se desenvolvia na barriga da sua mãe e de que forma esta experiência o influenciou. Mais uma razão para que os pais conversem com a sua barriga e transmi-tam os seus sentimentos de afecto…

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Recordações para mais tarde:

• A comunicação intra-uterina deve ser realizada a partir das 22 a 24 semanas de gravidez pois é o momento a partir do qual o seu bebé já possui capacidade para ouvir, sentir e responder aos estímulos do meio ambiente.

• A comunicação intra-uterina deve fazer parte do dia-a-dia do casal, devendo ser reservado um momento de tranquilidade e disponibilidade da mãe e do pai.

• A comunicação intra-uterina ao ser realizada em momentos de tranquilida-de estimula o bebé a desenvolver comportamentos de serenidade no meio intra-uterino que se poderão prolongar após o nascimento.

• A qualidade dos laços construídos entre os pais e o bebé no processo de troca e partilha de estímulos é muito importante, visto que afectos positivos geram sentimentos de segurança e de prazer.

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A forma de comunicar com o seu bebé durante a vida intra-uterina está relacionada com o desenvolvimento dos cinco sentidos que vai sendo manifestada pelo bebé a partir das 22 semanas de gravidez. A realização desta comunicação é própria da forma de ser e estar de cada ser humano, o que faz com que cada mãe e/ou pai as coloque em prática de acordo com as suas disposições e momentos pessoais.É necessário ter em conta que as técnicas de comu-nicação intra-uterina se constituem como linhas con-dutoras, adaptáveis de acordo com a forma como o casal se relaciona e com as suas necessidades em ter-mos da passagem de casal a pais.

A MúsicaA música constitui-se como uma ponte ou um ca-nal facilitador da aproximação entre o casal e o seu bebé. Permite construir de forma consciente ou in-consciente um espaço agradável de partilha de sen-timentos. Uma das características mais importantes desta forma de comunicação é a sonoridade da músi-ca escolhida bem como o ritmo que deve ser sempre semelhante. Não é importante o tipo de música em si mas o facto de ser agradável e relaxante para ambos

Como comunicar como seu Bebé

os pais. Existem casais que escolhem música clássica, de relaxamento, hip-hop, entre outras. Na prática os resultados obtidos são semelhantes pois desde que se sintam tranquilos e que desfrutem do momento, o seu bebé também o irá sentir.Desfrutando de um momento de ligação profunda com os sentimentos do seu bebé, o casal disponibili-za-se interiormente e absorve através da música um clima de tranquilidade e de partilha de afectos.A associação da música a períodos de tranquilidade e serenidade faz com que o casal se encontre mais disponível para a troca de estímulos com o bebé e para o seu próprio autoconhecimento.O desenvolvimento gradual da audição e da sensibi-lidade facilita ao bebé a associação destes períodos de relaxamento ao estímulo musical, o que condicio-nará no futuro o seu comportamento. Assim é mais provável que após o nascimento o bebé associe a música ao relaxamento e se acalme quando reconhe-cer este estímulo já tão familiar.

Nesta lógica, o momento de partilha em família de um estímulo musical que seja agradável e harmonio-so para todos, promove nos pais uma maior concen-tração nas formas de expressão utilizadas pelo bebé. O bebé, ao sentir-se envolvido num momento de carinho, e de disponibilidade dos pais para consigo, poderá desenvolver um sentimento positivo quando ouve a música utilizada durante a gravidez.

As conversas com o bebéAs conversas com o bebé constituem-se como uma fonte de estímulos externos relacionados com os di-álogos dos pais. A mãe, é a figura cuja voz é ouvida pelo bebé durante mais tempo durante a gravidez, pelo imperativo biológico associado, uma vez que sempre que esta fala, mesmo que o discurso não seja direccionado ao bebé, ele ouve. Os pais ao direccio-narem as suas conversas para o bebé ajudam a forta-lecer os laços emocionais, responsável posteriormen-

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te pelo reconhecimento e preferência que o bebé manifesta pelas vozes que lhe foram significativas ao longo da gravidez. Outra mais valia será a serenida-de sentida pelos casais, que proporciona uma maior disponibilidade para a comunicação com o seu bebé, o que, os motiva a investir gradualmente mais nes-te tipo de comunicação. É reconhecido que o bebé depois de nascer e nos momentos seguintes vira a cara na direcção das vozes que lhe são familiares o que poderá estar relacionado com as conversas com a barriga que os pais mantiveram ao longo da gravi-dez. Este reconhecimento entre pais e bebé ajuda a mãe e o pai a sentirem-se mais capazes de enfrentar este novo desafio da parentalidade.

Tocar na barrigaO toque é uma das vias de transmissão do afecto que permite o desenvolvimento e aprofundamento das relações de confiança. Ao tocar transmitem-se pressões, texturas, temperaturas e sensações, todas elas apreendidas pelo sistema sensorial do ser que é tocado.Durante a vida intra-uterina, os exercícios de relaxa-mento feitos pela mãe podem também ser sentidos como formas de toque para o bebé, pois através des-tes ele consegue sentir o estado emocional materno, seja de tranquilidade ou ansiedade.Neste sentido, é também conhecido que o bebé sen-te a diferença entre os vários toques realizados na barriga da mãe. Os pais referem que o seu bebé res-ponde de forma diferente ao toque da mãe e/ou ao toque do pai, bem como de uma pessoa que não seja próxima. À medida que vão realizando esta técnica de comunicação intra-uterina os pais sentem tam-bém uma maior serenidade, associada ao tempo e espaço que dedicam para estar em família e para se sentirem despertos para os seus estímulos e para a forma como estes influenciam a resposta do seu bebé.

O facto dos pais se disponibilizarem para o investi-mento na relação com o seu filho contribui para que se sintam mais tranquilos com o desenvolvimento do seu papel, bem como mais conscientes do impac-to dos seus comportamentos na relação com o seu bebé.

Pensamentos para o seu bebéEsta forma de comunicação intra-uterina privilegia a mãe pois ela é a única que pode ter pensamen-tos positivos direccionados para o seu bebé. Estes pensamentos são benéficos pois a nível fisiológico há uma resposta hormonal associada ao relaxamento e à tranquilidade.

É fundamental que exista uma disponibilidade afecti-va da mãe e que esta se concentre no seu bebé, nos benefícios que este momento de partilha e de esti-

mulação representam para a vida intra-uterina.Todo este fenómeno de sonhar acordado contribui para uma maior aproximação entre os desejos dos pais e a relação afectiva que se constrói, direcciona-do as percepções de carinho e ternura para o bebé. A realização desta forma de comunicação pode con-tribuir para a saúde emocional e física do bebé, pois ocorre uma troca de sentimentos positivos caracteri-zada pela atracção entre a mãe e o bebé.

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Recordações para mais tarde:

• Existem quatro formas de comunicar com a vida intra-uterina do seu bebé: músi-ca, conversas com o bebé, toque na barriga, pensamentos para o bebé.

• Podem ser feitas em simultâneo, o importante é que o momento seja de relaxa-mento e tranquilidade e que faça parte do dia-a-dia do casal.

• A forma como o bebé reage a cada uma das técnicas condiciona também a forma como os pais encaram cada uma delas, tornando agradável e entusias-mante uma técnica, que através da interpretação da resposta do bebé, também lhe aparenta agradar.

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Diários das nossas conversas

As experiências dos outros são muitas vezes motivadoras de reflexão para os nossos sonhos e desejos pessoais. Quando a informação está escrita apenas no papel é por vezes difícil transportá-la para a nossa realidade e percebermos que é possível transformar a teoria em prática.Os testemunhos na primeira pessoa contribuem para que os pais que consultam o nosso blog vejam nos outros a motivação que poderão começar a sentir em si próprios.Por isso desafiamo-vos a irem registando as vossas experiências e a enviarem-nas para o nosso correio electrónico e/ou blog: [email protected] ehttp://comunicaointra-uterina.blogspot.com/

Era uma vez…

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