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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO CONVENÇÃO COLETIVA NA PROTEÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO: ASPECTOS DESTACADOS JUCELITO CARDOSO Itajaí, 30 de abril de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

CONVENÇÃO COLETIVA NA PROTEÇÃO DO DIREITO DO

TRABALHO: ASPECTOS DESTACADOS

JUCELITO CARDOSO

Itajaí, 30 de abril de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

CONVENÇÃO COLETIVA NA PROTEÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO: ASPECTOS DESTACADOS

JUCELITO CARDOSO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito. Orientador: Professora Mestre Mareli Calza-Hermann

Itajaí, 30 de abril de 2006

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus pela força e

pela vida. Meu especial agradecimento a

equipe de professores do Curso de Direito

como também sua coordenação. Agradeço

a Professora Mestre Mareli Calza-Hermann,

orientadora desta monografia, pela

sugestões e pelo acompanhamento do

trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais, Antonio Patrício

Cardoso e Jucelia Correia Cardoso, por todo

incentivo e por todo amor e carinho que me

deram durante toda minha vida;

aos minhas irmãs, Clarice Cardoso, Cleia

Cardoso e Maria Cristina Cardoso;

aos meus amigos universitários pelo

momentos de dificuldades e alegria, com

eles partilhados ao longo do caminho

percorrido.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí, 30 de abril de 2006

Jucelito Cardoso Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Jucelito Cardoso,

sob o título Convenção Coletiva na Proteção do Direito do Trabalho, foi

submetida em __ de ________de 2006 à banca examinadora composta

pelos seguintes professores: __________________ (___________),

____________________(_____________), __________________ (_____________) e

aprovada com a nota _____, (_________________) .

Itajaí , 30 de abril de 2006

Professora Mestre Mareli Calza-Hermann Orientador e Presidente da Banca

Professora Mestre Mareli Calza-Hermann Coordenação da Monografia

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ROL DE CATEGORIAS

CONTRATAÇÃO A PRAZO VINCULADO A EVENTO PROVISÓRIO: vide

CONTRATO DE TRABALHO POR PRAZO DETERMINADO.

CONTRATO DE TRABALHO OU CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO: “É o

negócio jurídico pelo qual uma pessoa física (empregado) se obriga,

mediante pagamento de uma contraprestação (salário), a prestar

trabalho não eventual em proveito de outra pessoa, física ou jurídica

(empregador) a quem fica juridicamente subordinada.” [Diniz, 1998, V.1,

p.856 ]

CONTRATO DE TRABALHO POR PRAZO DETERMINADO: “ É o acordo tácito ou

expresso, feito, verbalmente ou por escrito, por prazo determinado. Logo,

sua vigência depende de termo prefixado ou da execução de serviços

específicos ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de

previsão aproximada. Pode ser instituído por Convenção e Acordo

Coletivo de Trabalho, em qualquer atividade desenvolvida pela empresa

ou estabelecimento, para admissões que representem acréscimo no

número de empregados, observadas as seguintes condições: a) de serviço

cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo; b)

de atividades empresariais de caráter transitório; e c) de contrato de

experiência.” [Diniz, 1998, V.1,p.857]

CONTRATO DE EXPERIÊNCIA: vide CONTRATO DE TRABALHO POR PRAZO

DETERMINADO.

CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU CONTRATO COLETIVO DE

TRABALHO: “[...] Acordo normativo intersindical celebrado entre categorias

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de empregadores e empregados, estipulando condições de trabalho

suscetíveis de serem aplicadas às relações trabalhistas individuais.” [Diniz,

1998, V.1, p.839]

COSTUME CONTRA LEGEM: “Aquele que se forma em sentido contrário ao

da lei. É o caso da consuetudo abrogatoria, implicitamente revogatória

das disposições legais, da consuetudo ou do costume negativo, que

produz a não-aplicão da lei, em virtude de desuso, uma vez que a norma

legal passa a ser letra morta. Pode ser admitido em casos excepcionais,

como o de desajuste entre a realidade dos fatos e o comando normativo,

desde que atenda aos reclamos da justiça e dos fatos sociais.”[ Diniz, 1998,

V.1, p.909]

COSTUME PRAETER LEGEM: “É costume que se reveste de caráter supletivo,

suprindo a lei nos casos omissos e preenchendo lacunas. É invocado

quando não pode aplicar analogia, nas hipóteses de lacunas, procurando

preencher esse hiato legal pela observância de praticas

consuetudinárias[...]” [ Diniz, 1998, V.1, p.909]

COSTUME SECUNDUM LEGEM: “É o que está previsto em lei, que reconhece

sua eficácia obrigatória.” Podemos dar com exemplo, nosso Código Civil

(Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002) presume que, concorram em partes

iguais os proprietários confinantes , para despesa da construção e

manutenção de muros, cercas e tapumes divisórias em matéria de

construção e conservação, até que prove ao contrario, sendo obrigado

faze-lo conforme os costumes locais. [ Diniz, 1998, V.1, p.909]

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ESTADO LIBERAL: “Aquele que coloca a individualidade da pessoa como

ponto nuclear ou central, assegurando a cada uma todas as liberdades

fundamentais e a livre iniciativa, assumindo a defesa dos direitos

individuais e procurando atingir o máximo de bem-estar comum com um

mínimo de intervenção, inclusive na economia. Visa, portanto, uma

sociedade livre de qualquer gestão ou direção do poder estatal.” [Diniz,

1998, V.2, p.410]

ESTADO SOCIAL: “É aquele que tem poderes de intervenção na liberdade

e na propriedade, apenas na medida em que for necessário para

garantia da existência de pleno emprego e da força de trabalho (Ernst

Rudolf Huber). O Estado social é, portanto, aquele que intervem na seara

socioeconômica, previdenciária, educacional etc., regulando-as, criando

empresas com tais objetivos, ou, ainda, participando do capital de

pessoas jurídicas de direito privado, sem, contudo, retirar a iniciativa e a

criatividade das entidades empresariais particulares.” [Diniz, 1998, V.2,

p.413]

RELAÇÃO DE EMPREGO: “Vínculo contratual entre empregador e

empregado, desde que este venha a prestar serviços não eventuais,

mediante pagamento de um salário.” [Diniz, 1998, V.4, p.413]

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................ XI

INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4

DIREITO DO TRABALHO ..................................................................... 4 1.1 HISTÓRICO .......................................................................................................4 1.1.1 SURGIMENTO DAS TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS – SOCIAIS E POLÍTICAS...............4 1.1.2 APARECIMENTO DO PROLETARIADO ......................................................................6 1.1.3 CONSOLIDAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO ..........................................................9 1.1.4 HISTÓRIA DE DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL: ASPECTOS .....................................12 1.2 CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO.........................................................15 1.2.1 ASPECTOS DO DIREITO DO TRABALHO..................................................................15 1.2.2 CONCEITO EM CONFORMIDADE COM O DIREITO DO TRABALHO..............................17 1.3 FONTES DO DIREITO DO TRABALHO..............................................................18 1.3.1 USO E COSTUMES .............................................................................................18 1.3.2 CONVENÇÕES E ACORDOS COLETIVOS...............................................................20 1.3.3 CONSTITUIÇÃO, LEIS E ATOS DO PODER EXECUTIVO ..............................................23 1.3.4 OUTRAS FONTES ...............................................................................................24 1.4 DOUTRINA DO DIREITO DO TRABALHO ........................................................25 1.5 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO........................26 1.5.1 JURISDIÇÃO ....................................................................................................26 1.5.2 COMPETÊNCIA.................................................................................................27

CAPÍTULO 2 .....................................................................................29

DIREITO COLETIVO DO TRABALHO..............................................29 2.1 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO E SEUS CONFLITO COLETIVO ......29 2.1.1 A FORMAÇÃO DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO.............................................29 2.1.2 OS CONFLITOS COLETIVOS DE TRABALHOS...........................................................30 2.1.3 OS SINDICATOS ...............................................................................................34 2.2 NEGOCIAÇÕES COLETIVAS E O HISTÓRICO DA CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO.......................................................................................................37 2.2.1 HISTÓRICO DA CONVENÇÃO COLETIVA NA HISTÓRIA MUNDIAL..............................37 2.2.2 CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO NO BRASIL ................................................38 2.2.3 DIFERENÇA ENTRE CONVENÇÃO, ACORDO E CONTRATO COLETIVO DE TRABALHO E SEUS RESPECTIVOS CONCEITOS ....................................................................................39 2.2.4 CARACTERÍSTICA DAS CONVENÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO ..............................41

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2.2.5 NATUREZA DAS CONVENÇÕES COLETIVA DE TRABALHO .........................................43 2.3 APLICAÇÕES, VANTAGENS E DESVANTAGENS DA CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO .....................................................................................45 2.3.1 APLICAÇÕES ...................................................................................................45 2.3.2 VANTAGENS ....................................................................................................46 2.3.3 DESVANTAGENS ...............................................................................................46 2.4 QUANTO AO CONTRATO INDIVIDUAL .........................................................48 2.4.1 CONTRATO COLETIVO VERSUS CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO.......................48

CAPÍTULO 3 .....................................................................................51

CONVENÇÃO COLETIVA NA PROTEÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO.........................................................................................51 3.1.1 ANÁLISE DOUTRINÁRIA......................................................................................51 3.1.1.1 Flexibilização do Direito do Trabalho ...................................................51 3.1.2 FUNÇÃO DA CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO DIANTE DA FLEXIBILIZAÇÃO........56 3.2 ANÁLISE NORMATIVA....................................................................................59 3.2.1 CONSTITUIÇÃO CIDADÃ....................................................................................59 3.2.2 CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO – CLT ...................................................63 3.3 JURISPRUDENCIA ...........................................................................................72

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................76

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .................................................79

ANEXOS ............................................................................................82

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xi

RESUMO

O presente trabalho é resultado de estudo, referente à

Convenção Coletiva de Trabalho e seu comportamento frente ao Direito

do Trabalho. Para tanto tece comentários sobre temas como o Direito do

Trabalho, Negociação Coletiva e Flexibilização. Na elaboração do

trabalho foi utilizada pesquisa bibliográfica e o trabalho foi realizado

segundo o método dedutivo. No levantamento inicial procurou-se verificar

os aspectos que levaram ao surgimento do Direito do Trabalho, assim

como, sua consolidação hierárquica no ordenamento jurídico, seu

conceito, suas fontes. No segundo capítulo, abordou-se o aspecto

coletivo do direito, descrevendo a negociação coletiva, e direcionando o

estudo para a Convenção Coletiva de Trabalho. No terceiro procurou-se

estabelecer a conveniência da Convenção Coletiva para o Direito do

Trabalho, e para tanto, se teceu sobre flexibilização dentro do sub-titulo da

análise doutrinaria, continuando com a análise legal e jurisprudencial da

Convenção Coletiva de Trabalho. Concluiu que, na elaboração da

Convenção Coletiva são asseguradas as maiorias das soluções das

demandas da alteração socioeconômica, tendo o Estado o papel como

mantenedor dos direitos mínimos ao trabalhador.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo da

Convenção Coletiva na Proteção do Direito do Trabalho. No presente

trabalho a Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 é

também nominada de Constituição Federal de 1988 e Carta magna. Da

mesma forma a Convenção Coletiva de Trabalho também terá a

nominação de Convenção, Convenção Coletiva. O seu objetivo é

analisar a Convenção Coletiva de Trabalho na conjuntura atual, detendo-

se também sobre o Direito do Trabalho. Desta maneira o trabalho foi

dividido em três capítulos.

No Capítulo 1, trata-se das transformações econômicas

– sociais decorrentes da Revolução Industrial. Surgia a indústria,

desapareciam os artesões e, com as condições de trabalho miseráveis

aparece o proletariado, uma classe social desajustada que chegou a

resultados miseráveis. Nesse cenário de conflito que surge o Direito do

Trabalho, de início com leis esparsas objetivando caráter humanitário –

reduzindo a violência contra mulheres e menores; e em seguida

disciplinado a relação trabalhista. No Brasil a jurisdição para dirimir as

controvérsias e deter poder de dizer o direito nos casos concretos coube a

justiça do trabalho.

No Capítulo 2, trata-se do Direito Coletivo, bem como

seus conflitos, sua formação, as negociações coletivas, e principalmente

aspectos ligados à Convenção Coletiva do Trabalho. O Direito Coletivo

objetiva o interesse coletivo e se manifesta quando existem choques entre

as classes econômica e profissional. Temos a importância dos sindicatos na

seara das negociações coletivas, diante de suas reivindicações, diante de

sua representatividade. A Convenção Coletiva surgiu no Brasil da norma

para o fato, tendo caráter normativo, ganhando grande relevância nos

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dias atuais, conferindo vantagens e desvantagens, alterando

significantemente a liberdade contratual no direito individual.

No Capítulo 3, trata-se da Convenção Coletiva na

proteção do Direito do Trabalho. Traz em seu bojo três sub-capítulos,

análise doutrinaria, legal e jurisprudencial. Diante da realidade política-

econômica, flexibilizar é tema constante de diversos setores. O Consenso

de Washiston (1989) no qual o Brasil se comprometeu a seguir regras

neoliberais impostas pelo FMI, Banco Mundial e BIRD, visam à

desregulamentação das relações trabalhista, recomendando o Estado

Mínimo. A legislação brasileira não é rígida, e os defensores do Estado

Social defendem a intervenção estatal nas relações trabalhistas. Com o

advento da revolução industrial houve a regulamentação do Direito do

Trabalho, desregulamentação visa uma via contraria as garantias

adquiridas. A Convenção Coletiva é resultado da flexibilização da norma,

não sendo derrocados os direitos mínimos.

O presente Relatório de Pesquisa encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das

reflexões sobre o Convenção Coletiva do Trabalho como proteção do

Direito do Trabalho.

Para a presente monografia foram levantadas as

seguintes hipóteses:

� O argumento de fundo no próprio conceito de Convenção Coletiva

entende-se que é o meio de determinação conjunta de trabalho

para encontrar soluções para os problemas sociais e funcionais das

partes buscando um entendimento satisfatório.

� Ao tratar o fenômeno da flexibilização normativa, abre precedente,

assim quebrando, as garantias trabalhistas assegurada pela lei,

enquanto que, a Convenção Coletiva gera proteção ao Direito do

Trabalho por não mexer nos direitos mínimos assegurados.

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Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na

Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de

Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados

expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da

Pesquisa Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

DIREITO DO TRABALHO

1.1 HISTÓRICO

1.1.1 Surgimento das Transformações Econômicas – Sociais e Políticas

É imprescindível estudar a história, pois, quando se

desconhece o passado, pode-se cometer os antigos erros. Para fazer um

estudo do presente e sobre o que pode vir acontecer no futuro é

necessário, então, não perder de vista o passado.

O início da Revolução Industrial aconteceu no século

XVIII e, somente no século XIX, é que começou a construção do conjunto

das relações de produção da sociedade industrial contemporânea.

Sérgio Pinto Martins afirma que a Revolução Industrial

transformou o trabalho em emprego e passou a desenvolver a partir daí o

Direito do Trabalho e o contrato de trabalho. [Martins, 2003, pg. 35]

No entendimento do doutrinador Mauricio Godinho

Delgado, foi no início da Idade Moderna que se verificou o processo de

expulsão do servo da gleba, rompendo as formas servis, lançando no meio

social o trabalhador juridicamente livre dos meios de produção e do

proprietário desses meios. De acordo com o autor é parte fundamental do

Direito do Trabalho a relação empregatícia que surgiu pela larga oferta de

trabalho livre resultante de um determinado contexto histórico específico.

“O elemento nuclear da relação empregatícia (trabalho

subordinado) somente surgiria, entretanto, século após a

crescente destruição das relações servis. De fato, apenas no

período da “revolução industrial” é que esse trabalhador

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seria reconectado, de modo permanente, ao sistema

produtivo (...)”1

O surgimento da indústria modificou as condições de

trabalho, sendo que, o maquinismo possibilitou a utilização de mão-de-

obra não qualificada, sendo empregados crianças e mulheres, reduzindo

a quantidade de mão de obra utilizada, com o surgimento das longas

jornadas de trabalho. O trabalho subordinado, a concentração proletária,

os evidentes problemas sociais é um dos fatores que propiciaram a

emergência do Direito Trabalho.

Segundo Amauri Mascaro Nascimento a questão social

florescera na relação: trabalhadores versos indústria, devido a

desumanização e marginalização da classe operária, sujeita a longas

jornadas de trabalho; utilização de mão de obra infantil e feminina, muito

mais barata, forçando a pagamentos irrisórios devidos a necessidades

sociais.

“A expressão questão social não havia sido formulada antes

do século XIX, quando os efeitos do capitalismo e as

condições da infra – estrutura social se fizeram sentir com

muita intensidade, acentuando-se um amplo

empobrecimento dos trabalhadores, inclusive dos artesões,

pela insuficiência competitiva em relação a industria que

florescia. (...) A família viu-se atingida pela mobilização da

mão de obra feminina e dos menores pelas fábricas. Os

desníveis de classes sociais fizeram-se sentir de tal modo que

o pensamento humano não relutou em afirmar a existência

de uma séria perturbação ou problema social.”2

É inquestionável que a busca de manifestação

justrabalhista começa com o maquinismo do século XIX devido à

1 DELGADO Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho, p. 35.1999.

2 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho: Historia e Teoria Geral do Direito do Trabalho: Relações Individuais e Coletivas do Trabalho, p. 09. 2004

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emergência de uma categoria social dominante capaz de gerar

normatização jurídica.

Com a Revolução Industrial criaram-se novos métodos

de produção, abalando todo o sistema social. Dissolveram-se todas as

relações sociais antigas e as novas relações foram permeadas pela

insegurança, as relações de propriedade passaram por modificações em

proveito da burguesia, surgiu então, o proletariado.

1.1.2 Aparecimento do Proletariado

A princípio tínhamos uma Sociedade onde as riquezas

estavam concentradas nas mãos da nobreza e cada feudo era auto-

suficiente. Os comerciantes se fortaleceram, enriqueceram, e derrubaram

esta estrutura feudal, criando uma nova organização. Os meios de

produção passaram então para suas mãos e os antigos artífices foram

descaracterizados, transformaram-se em operários. Segundo Karl Marx, a

indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da

corporação patriarcal na grande fábrica do industrial capitalista.

Transformou os operários em escravos da classe burguesa, escravos da

máquina e do dono da fábrica.

No campo, o estímulo à produção com técnicas e

instrumentos inovadores e o desaparecimento dos pequenos proprietários

fizeram com que levas de camponeses se transferissem para as cidades

formando um grande contingente de mão de obra disponível.

Com a escassez de emprego, essa volumosa

quantidade de mão de obra de baixíssimo preço foi absorvida pelas

minas, que constituíram a vanguarda, recebendo a maior parte deste

contingente migratório. Sergio Pinto Martins, em sua obra, apresenta -se:

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“Com o surgimento da máquina a vapor, houve a

instalação das industrias onde existisse carvão, como

ocorreu com a Inglaterra. Bem retrata o trabalho abusivo

que eram submetidos os trabalhadores nas minas Emile Zola,

em Germinal. O trabalhador prestava serviços em

condições insalubres sujeito a incêndio, explosões,

intoxicação por gases, inundações, desmoronamentos,

prestando serviços por baixos salários e sujeito as várias

horas de trabalhos além de oito. Ocorriam muitos acidentes

de trabalho, além de várias doenças decorrentes dos gases,

da poeira, do trabalho em local encharcado,

principalmente a tuberculose, asma e a pneumonia.

Trabalhavam direta ou indiretamente nas minas

praticamente toda a família, o pai, a mulher, os filhos, filhos

dos filhos, etc. Eram feitos contratos verbais vitalício ou

então enquanto o trabalhador pudesse prestar serviços,

implicando verdadeira servidão. Certos trabalhadores eram

comprados e vendidos com seus filhos. Os trabalhadores

ficavam sujeito a multas, que absorviam seu salário. Isso só

terminou por meio dos decretos parlamentares de 1774 e

1779, quando foram suprimidas essas questões nas minas

escocesas.”3

Tendo o proletariado, o trabalho como uma

necessidade vital e familiar, tornando-se uma classe social desajustada,

sem patrimônio, o qual levou a resultados de desumanização e

despersonalização. No mesmo entendimento Amauri Mascaro

Nascimento esclarece:

“O proletário é um trabalhador que presta serviços em

jornadas que variam de 14 a 16 horas, não tem

oportunidades de desenvolvimento intelectual, habita em

condições subumanas, em geral nas adjacências do próprio

local da atividade, tem prole numerosa e ganha salário em

troca disso tudo.”4

3 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, p. 36. 2003

4 NASCIMENTO, op. cit., p. 12. 2004

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Conforme Amauri Mascaro Nascimento foi Saint –

Simon a utilizar pela primeira vez o termo proletário no sentido moderno. A

procura de significado, proletariado, dar-se-á no meio a realidade da

situação de total desproteção e do distanciamento de outra parcela da

população devido a diferenças gritantes de vida e trabalho. [Nascimento,

2004, pg 12]

A indignidade das condições de trabalho levava,

muitas vezes, ao contrato de compra e venda de menores, mesmo contra

a vontade dos pais.

“(...) as próprias paróquias – unidade administrativa civil

inglesa, subdivisão territorial do condado criada pela

denominação Lei dos Pobres – encarregavam-se,

oficialmente, de organizar esse tráfico, de tal modo que os

menores se tornaram fonte de renda nacional. (...) No

sórdido intercambio, tal paróquia podia especificar que o

industrial teria de aceitar, no lote de menores, os idiotas, em

proporção de um para cada vinte. (...) Se os menores não

cumpriam suas obrigações na fábrica, os vigilantes

aplicavam-lhes brutalidade (...)”5

Da mesma forma o citado autor descreve a situação

das mulheres, que constituíam mão-de-obra mais barata, cercadas de

más condições sanitárias, impossibilitadas de adquirir cultura intelectual e

de criar seus filhos.

As condições de trabalho eram estabelecidas pelo

patrão e o contrato de trabalho estabelecido verbalmente. O patronato

tinha autonomia para dar por encerrado ou modificado o contrato de

trabalho, conforme sua vontade.

É no século XIX que se formam na Europa e no Estados

Unidos às condições para a formação do trabalho subordinado e da

5 NASCIMENTO, op. cit., p. 12. 2004

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concentração proletária. Como necessidade premente para amenização

dos distúrbios sociais advindos dessas novas relações, surgem também, as

primeiras iniciativas da normatização do Direito do Trabalho.

1.1.3 Consolidação do Direito do Trabalho

Para o surgimento do Direito do Trabalho temos fatores

de caráter econômicos, sociais e políticos.

Dos fatores econômicos temos o trabalho assalariado e

a implementação de uma nova organização produtiva. Também se

associa ao mesmo fator a concentração industrial, responsável pela

utilização maciça de mão de obra.

Como fatores sociais temos o surgimento do

proletariado e de todos os problemas que evidencia a questão social. As

marcas do fracasso da ordem social, a falta do modo de como combate-

lo (esse fracasso) e as perturbações causadas aos diversos grupos sociais.

E os fatores políticos são evidenciados pelas ações

objetivando fixar preceitos para a contraprestação e gerenciamento da

mão de obra, componente indispensável para tão novo sistema de

produção.

“(...)do ponto de vista político, são fatores que conduziram

ao surgimento do Direito do Trabalho as ações gestadas e

desenvolvidas no plano da sociedade civil e do Estado no

sentido de fixar preceitos objetivos para a contratação e

gerenciamento da força de trabalho componente do

sistema produtivo então estruturado. No plano da

sociedade civil, tem fundamental relevância a descoberta

pelos trabalhadores da ação coletiva (ao invés da simples

ação individual), como instrumento de atuação quer no

âmbito político (perante o Estado, principalmente), quer no

âmbito essencialmente profissional (perante o empregador

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10

ou empregadores, portanto). Em seguida, o

aperfeiçoamento dessa estratégia coletiva de ação,

mediante a formação e consolidação de organizações

coletivas de trabalhadores, seja sindicais, seja mais

nitidamente política.”6

No contexto histórico temos pressões e mobilizações

vindas dos trabalhadores organizados, desta criando-se uma linha de

atuação Estatal. As respostas jurídicas vinham através do Direito Civil da

época, não sendo adequado, e menos justa à relação empregatícia.

Havia uma desigualdade na relação entre as partes. O

Direito Civil não tinha nenhum preceito protecionista, tratando as partes

sem diferenciação, não levando em consideração o papel coletivo

exercido pelo empregador.

“O Direito Civil tratava ambos os sujeitos da relação de

emprego como seres individuais, ocultando, em sua

equação formalística, a essencial qualificação de ser

coletivo detida naturalmente pelo empregador.”7

Os trabalhadores passaram a agir coletivamente se

contrapondo ao estatutário jurídico liberal civilista.

“(...) numa etapa seguinte, o Direito do Trabalho europeu e

norte-americano passaria a incorporar também em seu

universo normativo a resposta jurídica dada pelo Estado ao

avanço dessa organização obreira vinda de baixo(...)”8

Conforme Amauri Mascaro Nascimento, devidos aos

abusos que vinham sendo cometidos foram às minas que constituíram

uma frente exposta ao problema trabalhista, propiciando o

6 DELGADO, op. cit., p. 38. 1999 7 DELGADO, op. cit., p. 40. 1999 8 DELGADO, op. cit., p. 41. 1999

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11

desenvolvimento de associações e outras iniciativas destinadas desde

logo a fazer reivindicações.

Devemos especificar os marcos importantes para a

formação e consolidação do Direito do Trabalho. Marcos estes divididos

em fases e quem melhor conceitua é o doutrinador Maurício Godinho

Delgado:

“A primeira fase é a das manifestações incipientes ou

esparsas, que se estende do inicio do século XIX (1802), com

o Peel’s Act inglês, até 1848. A segunda fase (da

sistematização e consolidação do Direito do Trabalho)

estende-se de 1848 até 1919. A terceira fase, da

oficialização do Direito de Trabalho, inicia-se em 1919,

avançando ao longo do século XX.”9

A fase das manifestações incipientes ou esparsas inicia-

se com o diploma inglês voltado a certas restrições da utilização infantil no

trabalho. É a fase em que as leis têm apenas caráter humanitário e

objetivavam apenas reduzir a violência brutal contra os menores e as

mulheres. Nesta fase o operariado não tem força expressiva, incapaz de

fazer pressão necessária a uma consistência para formação de um ramo

jurídico especializado.

A segunda fase é caracterizada pela sistematização e

consolidação do ramo jurídico especializado. Inicia-se com o “Manifesto

Comunista” (1848), o movimento cartista na Inglaterra e pela Revolução

Francesa (1848) estendendo-se até o processo seguinte a I Guerra

Mundial, com a criação da OIT (1919) e a promulgação da Constituição

de Weimar (1919). É de fato traduzido a primeira grande ação coletiva

dos segmentos dominados, generalizando para o mundo do direito uma

série de reivindicações, transformando-as em preceitos de ordem jurídica.

9 DELGADO, op. cit., p. 43. 1999

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12

A terceira fase identifica-se com a oficialização do

Direito do Trabalho tendo seus marcos iniciais como a Constituição de

Weimar e a criação da OIT. O Direito do Trabalho incorpora-se à matriz das

ordens jurídicas dos países desenvolvidos democraticamente, havendo a

dinâmica de atuação dos trabalhadores de um lado, e do outro, a

estratégia do estado criando normas jurídicas.

Com maior relevância tem após a Primeira Guerra

Mundial o surgimento do Constitucionalismo, a criação da OIT –

Organização Internacional do Trabalho (1919) e a Declaração Universal

dos Direitos do Homem (1948).

“ A partir do término da Primeira Guerra Mundial, surge o

que pode ser chamado de constitucionalismo social, que é

a inclusão nas Constituições de preceitos relativos à defesa

social da pessoa, de normas de interesses sociais e de

garantia de certos direitos fundamentais.”10

As primeiras Constituições a lançar os preceitos em seu

bojo, tratando o tema trabalhista são as do México em 1917 e de Weimar

em 1919.

1.1.4 História de Direito do Trabalho no Brasil: aspectos

Com a proclamação da República começaram

algumas iniciativas que contribuíram para o desenvolvimento da

legislação trabalhista.

Em meados de 1890 havia uma grande concentração

de operários no Rio de janeiro e São Paulo, a maioria de imigrantes

italianos, portugueses e espanhóis. Apesar das reivindicações existentes

por melhoria de salário, redução de jornada e protesto contra maus-tratos,

o Poder Público inspirado pelo princípio liberalista mantinha-se alheio. A

10 MARTINS, op. cit., p 37. 2003

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greve de maior repercussão aconteceu em São Paulo em 1917, ao todo,

operários de 13 cidades aderiram ao movimento. Ela começou em 12 de

junho e terminou em 15 de julho, sendo acordados aumentos salariais,

garantias da manutenção do trabalho, reconhecimento do direito de

reuniões e um comprometimento do Poder Público quanto a providencia

de disposições legais sobre o trabalho, menores no trabalho e proteção

do trabalhador. [Nascimento, 2004, p.63]

As posições políticas eram predominantemente

influenciadas pela filosofia liberalista segundo a qual a interferência do

Estado feria a liberdade, o que não contribuiu “para a evolução jurídica

na ordem trabalhista”. Apenas em 1926, a Emenda Constitucional n° 28,

art. 54, atribuiu competência ao Congresso Nacional de legislar sobre o

trabalho e surgiram diversas iniciativas de regulamentação sobre as

relações de trabalho.

“[...] O papel do Estado nos regimes livres é assistir como

simples espectador à formação dos contratos e só intervir

para assegurar os efeitos e as conseqüências dos contratos

livremente realizados. Por esta forma o Estado não limita,

não diminui, mas amplia a ação de liberdade e de

atividade individual, garantindo os seus efeitos”.11

Essa época distinguiu-se pela preocupação social e

influência dos movimentos europeus. Amauri cita Evaristo de Moraes como

um doutrinador proeminente que preconizou em 1905 a intervenção do

Estado na economia, nas relações sociais e regulamentação do “direito

operário”, como fixação da jornada de trabalho, reconhecimento dos

sindicatos como colaboradores do Poder Público, Convenções Coletivas,

Tribunais Trabalhistas, cooperativismo e seguridade.

As primeiras normatizações eram referentes a proteção

de menores (Decreto 1313/1891 e Decreto 17934-A/1927) e ao sindicalismo 11 NASCIMENTO, op.cit., p. 66. 2004

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(Decreto 979/1903 e Decreto Legislativo 1637/1907), influenciadas pelas lei

de arbitragem da Nova Zelândia. A norma sobre locação de serviços do

Código Civil (Lei n° 3071) de 15 de janeiro de 1919 serviu de base para a

elaboração do Direito do Trabalho. Significativa também é a lei (Lei n°

4682/1923) que cria a caixa de aposentadoria e pensões para ferroviários,

que trata da estabilidade para estes trabalhadores quando completam 10

anos na atividade, o Decreto 16027 que cria o Conselho Nacional do

Trabalho, órgão consultivo dos poderes públicos e a Lei 4982 de 1925 que

dispõem sobre as férias. [Martins, 2003, p.62-63]

Influenciado pelo corporativismo italiano, em 1930,

com Getúlio Vargas, acontece uma maior intervenção do estado nas

relações de trabalho, levando a uma reestruturação da ordem jurídica. Foi

criado o Ministério do Trabalho, Industria e Comércio, instituída a Carteira

Profissional e normatizada a jornada de trabalho.

A normatização para uma base sindical autônoma e

da estruturação de sindicatos, federações e confederações é construída

de 1931 a 1934 (Dec 19770/1931, Dec 24694/1934, Dec 24694/1934 e

Constituição de 1934), sendo que a partir de 1937, a organização sindical

moldou-se ao corporativismo italiano, intervenção direta do Estado, tendo

o mesmo o poder punitivo sobre os sindicatos, restringindo greves e

pressões dos trabalhadores. A Justiça do Trabalho foi constituída

oficialmente em 1941, composta das Juntas, Conselhos Regionais do

Trabalho e o Conselho Nacional do Trabalho, que em 1946 passaram a ser

integrantes do Poder Judiciário como Tribunais Regionais do Trabalho e

Tribunal Superior do Trabalho. [Martins, 2003, p.72-75]

A primeira organização de todas as leis trabalhistas

aconteceu com a Lei n° 62 de 1935 direcionadas para comerciário e

industriários. Porém em 1943, no dia 1º de maio, foi promulgada a

Consolidação das Leis do Trabalho - CLT (Decreto-lei 5,452/43), que não se

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15

caracterizou como uma simples compilação das leis existentes, mas

acrescentou inovações, sendo a mesma, alterada e complementada por

diversos decretos. Em 1964 é garantido o direito de greve, em 1966 é

criado o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e em 1970 o

Programa de Integração Social (PIS).

A Constituição Federal de 1988 apresentou algumas

modificações sobre a auto-organização sindical e a autonomia de

administração, ficando os mesmo livres da interferência do Estado. Dessa

forma começa uma tendência da transferência das regulamentações dos

normativos oficiais para as negociações coletivas, sem afetar os direitos

adquiridos pelos trabalhadores, combinando vantagens.

1.2 CONCEITO DE DIREITO DO TRABALHO

1.2.1 Aspectos do Direito do Trabalho

Conforme Martins, os conceitos do Direito do Trabalho

podem envolver diferentes aspectos podendo ser subjetivos, objetivos ou

mistos.

“Os conceitos do Direito do Trabalho podem envolver os

seguintes aspectos: (a) subjetivos, em que se verificam os

tipos de trabalhadores. Alguns autores entendem que

seriam todos os trabalhadores e outros apenas os

trabalhadores subordinados; (b) objetivos, em que será

considerada a matéria do Direito do Trabalho e não os

sujeitos envolvidos. Para alguns autores diria respeito a todas

as relações de trabalho, enquanto outros afirmam que

envolveria apenas a relação de trabalho subordinado; (c)

mistos, envolvendo pessoas e objetos.”12

Para Amauri existe a diversidade dos aspectos

subjetivos causados pela superação do contrato padrão.

12 MARTINS, op. cit., p. 45. 2003

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“Há tendências contemporâneas sustentando que no

Direito do Trabalho existe uma diversidade de formas de

trabalho criadas em decorrência da superação do

contrato-tipo padronizado do início da sociedade industrial

– e que não mais corresponde a todas as necessidades do

moderno processo de bens de prestação de serviços na

sociedade cibernética e da comunicação a distância –

como o teletrabalho, a subcontratação, o cooperativismo

associativo e o voluntariado de fins assistenciais ou

solidaristas.”13

O mesmo autor discursa, ainda, sobre os aspectos

subjetivos, explanando os vários tipos, além do trabalho profissional

prestado de maneira não eventual ao mesmo empregador.

“A continuidade, no entanto, é requisito que divide duas

fronteiras de tratamento humano, o trabalho eventual e o

não eventual, aquele incluído, pela doutrina predominante,

em nossa disciplina, este, o trabalho fixo, evidentemente

típico do seu âmbito. Desdobra-se a discussão para outros

tipos, como o religioso – em princípio uma atividade não

profissional, mas que em alguns casos profissionalizou-se –, o

desportivo – durante muito tempo exclusivamente amador e

fins não profissionais, na atualidade, todavia, transformando-

se em rendoso campo de trabalho remunerado para uma

minoria destacada –, o penitenciário – que tem sido

acoplado a fins comerciais, com êxito em muitos casos, ao

associar duas diferentes finalidades, a punitiva e a

reeducativa, quando o trabalho é exercido como

penalidade de prestação de serviço a comunidade.”14

Amauri esclarece que sob o prisma das diretrizes

sociais, o trabalhador é a razão do ser, exclusiva do Direito do Trabalho,

configurando como direito de classe, enquanto que o segmento de

pessoas em posição social de desvantagem, um direito especial tendente

a favorecer os excluídos. [Nascimento, 2004, p.8] 13 NASCIMENTO, op. cit., p. 06. 2004

14 NASCIMENTO, op. cit., p. 06 - 07. 2004

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17

1.2.2 Conceito em Conformidade com o Direito do Trabalho

O surgimento do Direito do Trabalho adveio da nova

relação de trabalho (subordinado) e pelas conquistas adquiridas através

do tempo pelas massas operárias.

O Direito do Trabalho é resultado de pressões e fatos

sociais resultando as normas jurídicas.

“Os fatos econômicos - trabalhistas que se seguiram à

Revolução Industrial, consistentes na formação de um

aglomerado de trabalho em torno da maquina a vapor,

então descoberta, constituem, sem dúvida, a base sobre a

qual nossa disciplina foi construída.”15

Sendo produto cultural do século XIX é de função

primordial do Direito do Trabalho a melhoria das condições de pactuação

da força de trabalho na ordem socioeconômica, constituindo, um

complexo coerente de institutos, princípios e normas jurídicas. A

subordinação é o enfoque da ordem jurídica, atuando sobre o modo da

prestação pactuada.

Há na Sociedade contemporânea a superação do

contrato tipo: causadas pelos novos meios de comunicação; novos postos

de trabalhos. Trazem novos alinhamentos para o conceito do Direito do

Trabalho.

“Novas ciências se desenvolvem na crista da revolução

tecnológica, como a eletrônica, a microeletrônica, a

cibernética, a robótica e a informática, tendo o

computador como seu núcleo central, que assumiu a

mesma importância da máquina a vapor na Primeira

Revolução Industrial”.16

15 NASCIMENTO, op. cit., p. 05. 2004 16 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho, p.136. 1994.

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Dentro do conceito de Martins sobre o Direito do

Trabalho, ele visualiza as situações análogas, com a finalidade de

assegurar melhores condições de trabalho, pretendendo tratar das

situações que tem semelhança com o trabalho subordinado.

“Direto do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e

instituições atenuantes à relação de trabalho subordinado e

situações análogas, visando assegurar melhores condições

de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as

medidas de proteção que lhe são destinadas”.17

O Direito do Trabalho é o conjunto de princípios, donde

a palavra conjunto explicita a amplitude abrangida por esta área jurídica

específica. É dado tratamento específico a disciplina, verificando, sua

autonomia, sua organização. Da mesma forma as fontes, formas vertentes

do direito que têm grande importância para formação do Direito do

trabalho.

1.3 FONTES DO DIREITO DO TRABALHO

1.3.1 Uso e Costumes

O costume é a reiteração constante de uma conduta,

hábito ou prática geralmente observada. Está pratica aceita como direito

pode se referir a todo o sistema trabalhista, a uma categoria específica ou

mesmo restrita a uma única empresa.

Conforme Maurício Godinho Delgado os costumes são

classificados de três maneiras.

“A Ciência do Direito, como se sabe, classifica os costumes

em três tipos, de acordo com sua harmonização à norma

jurídica heterônoma estatal (costumes secundum legem, praeter legem e contra legem). Tal tipologia sofre nítida

17 MARTINS, op. cit., p. 45. 2003

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adequação à área justrabalhista. É que, ao contrario do verificado no Direito Civil, os costumes trabalhistas contra legem podem ter plena validade, desde respeitado o critério hierárquico especial vigorante no Direito do Trabalho. Desse modo, consubstanciado o costume

trabalhista norma jurídica mais favorável que a oriunda de

preceito legislativo, prevalece sobre este, com caráter de

imperatividade. Tal critério de aferição de validade apenas

não subsiste se o conflito normativo instaurar-se com

respeito a normas proibitivas expressas do Estado, que

sempre hão de prevalecer em face de matiz soberano de

que tais normas se encouraçam em sua incidência os casos

concretos”.18

Encontramos no artigo 8° da CLT menção aos “usos e

costumes”, referência usada para suprir lacunas na falta de dispositivos

legais e contratuais.

Podemos observar dois artigos da CLT que versa sobre

costumes, de forma implícita. O primeiro, o artigo 443 da CLT, donde o

contrato poderá ser feito de forma tácita ou expressa. Não é necessário

que o contrato individual de trabalho seja feito de forma escrita, podendo

neste caso, seguir por força de costume. O segundo artigo, 460 da CLT,

donde verificamos que não ajustado valor do salário a receber o

empregado terá direito ao que fizer serviço semelhante.

“Art. 460. (CLT) Na falta de estipulação do salário ou não

havendo prova sobre a importância ajustada, o

empregado terá direito a perceber salário igual ao daquele

que, na mesma empresa, fizer serviço equivalente, ou do

que for habitualmente pago para serviços semelhante.”

O doutrinador Sergio Pinto Martins esclarece em sua

obra que por força do Costume e Habitualidade no pagamento de

verbas, estas integrarão o salário.

18 DELGADO, op. cit., p. 123. 1999

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“As horas extras passaram a integrar outras verbas (férias,

13º salário, FGTS, DSR’s, aviso prévio etc.) por força do

costume, da habitualidade no seu pagamento. Nesse

sentido, é tranqüila a jurisprudência (En. 45, 63, 94, 151 e 172

do TST). Inicialmente, não havia previsão sobre tais fatos na

legislação, que posteriormente passou a adotá-la. Logo,

naquele primeiro momento tínhamos um costume praeter legem, que veio suprir as lacunas da legislação.”19

Da mesma forma as prestações in natura, prestada de

forma habitual, integrarão ao salário por força do contrato ou costume

conforme o artigo 458 da CLT. Delgado observa neste caso que são as

que a lei manda observar – secundum legem.

1.3.2 Convenções e Acordos Coletivos

A CLT em seu artigo 611 define.

“Art. 611. (CLT) Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo

de caráter normativo, pelo qual dois ou mais sindicatos

representativos de categorias econômicas e profissionais

estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das

respectivas representações, às relações individuais de

trabalho.”

O artigo declina claramente que o acordo normativo é

entre sindicato(s) patronal(s) e o(s) sindicato(s) dos empregados donde as

negociações resultam em nível de categoria, levadas a termos por seus

sindicatos.

O acordo coletivo é tratado no parágrafo 1° do

mesmo artigo (art. 611, CLT).

“Art. 611, § 1°. (CLT) É facultado aos Sindicatos

representativos de categorias profissionais celebrar Acordos

Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente

19 MARTINS, op. cit., p. 65. 2003

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categoria econômica, que estipulem condições de

trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das

empresas acordantes às respectivas relações de trabalho. ”

O Acordo Coletivo é o acordo normativo entre um

sindicato representativo de categoria profissional e empresa(s), sem a

participação do sindicato patronal, donde as negociações resultam em

nível de empresa, com efeito, somente aplicáveis à empresa e

trabalhadores envolvidos. Apesar de os acordos se restringirem ao

sindicato e a(s) empresa(s) envolvida(s), ele cria direitos, deveres,

garantias, obrigações que devem ser observadas. No universo jurídico

brasileiro a figura típica do Acordo Coletivo integraliza as fontes do Direito

do Trabalho.

A força vinculante da Convenção Coletiva

corresponde à noção de lei no sentido material. A Convenção Coletiva

atingem todos os integrantes da mesma categoria dentro do território dos

respectivos sindicatos. Seu caráter normativo atinge também os

profissionais da categoria que não estão filiados ao sindicato. A figura

típica da Convenção Coletiva de Trabalho é incontestável como a fonte

do Direito do Trabalhista.

A Convenção Coletiva não pode contrariar a

Constituição Federal, as leis ordinárias, as leis complementares, as leis

delegadas, os decretos-leis, os decretos legislativos e acordos marcos. É

indiscutível que tais institutos prevalecem sobre o regulamento da

empresa e o contrato individual de trabalho.

“Art. 619. (CLT) Nenhuma disposição de contrato individual

de trabalho que contrarie normas de Convenção ou

Acordo Coletivo de Trabalho poderá prevalecer na

execução do mesmo, sendo considerada nula de pleno

direito. ”

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Ainda no sentido da prevalência dos contratos

coletivos favorecendo o trabalhador temos o artigo 444 da CLT.

“Art. 444. (CLT) As relações contratuais de trabalho podem

ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em

tudo quanto não contravenha às disposições de proteção

ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam

aplicáveis e às decisões das autoridades competentes. ”

A Convenção Coletiva e o Acordo Coletivo de

Trabalho estão no mesmo nível hierárquico, sendo admitido, maior

relevância da Convenção sobre o Acordo quando advir ser mais

favorável ao trabalhador.

“Art. 620. (CLT) As condições estabelecidas em Convenção,

quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas

em Acordo. ”

O doutrinador Amauri Mascaro Nascimento ressalta

que a Convenção e Acordo Coletivos apesar de serem de nível

hierárquico inferior ao das leis, poderão prevalecer sobre elas quando

estipularem condições mais favoráveis aos empregados.

“(...) pela supremacia das leis de ordem pública, porque

nesse caso a Convenção Coletiva não poderá derrogar a

lei (...). A submissão, nesse caso, é um imperativo de

intangibilidade das estruturas institucionais e uma

decorrência normal do princípio da graduação da

positividade jurídica. Pode, no entanto, a Convenção

Coletiva mencionar disposições mais favoráveis que aquelas

das leis e regulamentos em vigor não revestidos do caráter

de norma de ordem publica.”20

Desta forma podemos observar a importância dada

por todos os instrumentos para proteger o trabalhador.

20 NASCIMENTO, op. cit., p. 1119. 2004

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1.3.3 Constituição, Leis e Atos do Poder Executivo

A Constituição é a ordem máxima, norma de ordem

superior, onde estabelecem os direitos, deveres e garantias sociais, da

forma de governo, a divisão e limitação dos Poderes.

Conforme a hierarquia das leis, a Constituição é a Lei

Maior, à qual as outras leis devem se adequar. Pela hierarquia, pela ordem

de importância, seguem as emendas à Constituição, e as leis, etc..

Conforme o artigo 22, I, da Constituição Federal de

1988, é privativo da União legislar sobre Direito do Trabalho. A Carta

Magna de 1988 versa sobre vários direito dos trabalhadores, do artigo 7°

ao 11, sendo indiscutível, que as demais normas irão se originar dela, por

vezes delimitando a sua forma de elaboração e seu campo de atuação.

[Martins, 2003, p.62]

A CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO – CLT,

Decreto – lei n. 5.452/43, reúne a maioria das normas que regulam as

atividades laborais. A CLT é uma compilação de Leis que veio reunir,

organizar e sistematizar as legislações esparsas existentes anteriores ao ano

de 1943, e suas posteriores modificações. Existe também legislação não

consolidada que outorga direitos aos trabalhadores, como a Lei n°

5859/72 (FGTS) e Lei n° 7418/95 (Vale Transporte). [Martins, 2003, p. 63]

Dos atos do Poder Executivo temos como exemplo

clássico à medida provisória que tem força de lei. Conforme o artigo 84, IV

da Constituição Federal de 1988, o Poder executivo tem competência

para expedir decretos e regulamentos.

Ainda existe a possibilidade de remeter instrução pra a

execução das leis, decretos e regulamentos pelo Ministério do Trabalho,

conforme artigo 87, parágrafo único, II, CF/88.

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1.3.4 Outras Fontes

São também considerados Fontes do Direito do

Trabalho: sentença normativa, regulamento de empresa, disposições

contratuais e normas internacionais.

A definição de sentença normativa é dada pelo artigo

162, § 1º do CPC.

“Art. 162, § 1º. (CPC) Sentença é o ato pelo qual o juiz põe

termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa. ”

Quando a sentença é proferida em dissídios individuais,

a decisão do magistrado restringe-se ao âmbito das partes envolvidas

sendo denominada de sentença individual. Quando o dissídio é coletivo a

sentença atinge uma categoria econômica –profissional, sendo assim,

denominada de sentença normativa. Na Constituição Federal de 1988

encontramos a competência à Justiça do trabalho para estabelecer

normas e condições de trabalho.

“Art. 114, § 2º. (CF/88) Recusando-se qualquer das partes à

negociação ou à arbitragem, é facultado aos respectivos

sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do

Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as

disposições convencionais e legais mínimas de proteção ao

trabalho. ”

No âmbito empresarial temos o regulamento de

empresa, preparado unilateralmente pelo empregador, regula as

condições de trabalho, disciplinando as relações entre os sujeitos do

contrato. Sergio Pinto Martins esclarece que o regulamento de empresa

vincula não só os empregados atuais, mas os que forem admitidos nos

seus quadros. [Martins, 2003, p.64]

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As disposições contratuais são determinações inseridas

no contrato de trabalho. Estas disposições não podem contrariar as

disposições de proteção do trabalho conforme o artigo 444 da CLT.

As normas internacionais são abrangentes,

envolvendo os tratados e as convenções da OIT, que obrigam seus

signatários. A Constituição Federal de 1988 estabelece que o tratado

ratificado complementa, altera e revoga o Direito Interno.

“Art. 5º, § 2º. (CF/88) Os direitos e garantias expressos nesta

Constituição não excluem outros decorrentes do regime e

dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a Republica Federativa do Brasil seja

parte. ”

É privativo ao Presidente da Republica celebrar

tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do

Congresso Nacional conforme o artigo 84, VIII da CF/88.

As figuras jurídicas das fontes se qualificam,

distinguindo-se com marcas próprias do Direito do Trabalho, vindo exercer

alterações, confirmar direitos, demonstrar deveres, modificando,

influenciando a justiça social. Não obstante a jurisprudência tem seu papel

genuíno na estrutura jurídica de criador de direito. O exame no âmbito

justrabalhista de algumas jurisprudências uniformizadas pelo Tribunal

Superior do Trabalho demonstra claramente a inquestionável força

jurídica.

1.4 DOUTRINA DO DIREITO DO TRABALHO

O Direito do Trabalho é resultado de um período

conflitante entre patrões e empregados no bojo da Sociedade, resultado

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26

em normas e doutrinas, tendo principalmente a doutrina cunho

marcantemente reivindicatório.

“É interessante lembrar que, em seus primórdios, o Direito do

Trabalho foi confundido com a política social. Estudavam-no

cientistas sociais e outras pessoas que mais poderiam ser

chamadas de revolucionários, tanto oriundos das

faculdades, como dos parlamentos. Não havia diferença

clara, até por falta de suficiente elaboração científica, entre

os dois ramos do conhecimento. Os reformadores foram

sendo, pouco a pouco, substituídos pelos juristas, voltados

para o estudo da própria norma.” 21

São muitas obras que tratam do assunto tanto em

nosso país como no exterior. Podemos citar as obras brasileiras que

constituem clássico sobre o tema, como José Martins Catharino, Cesarino

Jr., Amauri Mascaro Nascimento, Octavio Bueno Magano, Orlando Gomes

e Elson Gottschalk, Evaristo de Moraes Filho. Dos doutrinadores estrangeiros

podemos citar, Mario de La Cueva, Paul Pic, Paul Durand, Gino Giugni.

[Martins, 2203, p. 50]

Com a maturidade científica procede a autonomia

didática do Direito do Trabalho, sendo principalmente, através da doutrina

que é contemporizada a aplicação do direito com as necessidades atuais

dentro da jurisdição trabalhista.

1.5 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

1.5.1 Jurisdição

O estudo da jurisdição está ligado ao Estado, donde

este, chamou para si o poder de dizer o Direito. A justiça é colocada sobre

a tutela Estatal, sendo funcional, imperativa e imparcial.

21 MARTINS, op. cit., p 37. 2003

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27

A tutela jurisdicional do Estado é uma característica da

soberania nacional, solucionando casos controversos, tendo poder

coercitivo sobre execuções de suas decisões.

Conforme Amauri Mascaro Nascimento a Jurisdição

Trabalhista é o estudo desenvolvido na disciplina pelo Direito Processual do

Trabalho, tendo varias características como a competência originaria dos

Tribunais Regionais do trabalho para conhecer e decidir sobre os

processos de dissídios coletivos; é especial sendo pertencente à Justiça da

União, competente para dirimir controvérsias trabalhistas; e tendo poder

normativo assegurado pela Constituição Federal de 1988 (artigo 114).

1.5.2 Competência

A competência é uma parcela da jurisdição, onde os

juizes têm poderes de dizer o direito nos casos concretos que lhe são

submetidos. É através da competência que é exercida a jurisdição, sendo

indicado, limitado e distribuído aos juizes para que a exerçam.

É de competência da justiça do trabalho as

controversas relativas às relações empregatícias, envolvendo empregados

(CLT, artigo 643), os trabalhadores rurais (CF/88, artigo 7º), empregados

domésticos (CF, artigo 7º, parágrafo único), trabalhadores temporários (Lei

nº 6.019/74, artigo 19), trabalhadores avulsos (CLT, artigo 643), parceiros,

meeiros e arrendatários que não exerçam trabalho autônomo (Lei nº

4.504/64), pequenos empreiteiros (CLT, artigo 652, III), empregados públicos

não – estatutários (Lei nº 9.962/00) e execução ex officio de contribuições

previdenciária decorrentes de sentenças trabalhistas (CF/88, artigo 114,

§3º) (EC 20, de 15/12/1998).

Desta forma realizamos o estudo sobre o Direito do

Trabalho passando pela sua história e abordando aspectos importantes.

Na continuidade deste trabalho abordaremos sobre a Convenção

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28

Coletiva de Trabalho, tratando o tema em questão, trazendo a tona a

grande relevância e importância que tem na relação das categorias

econômica – profissional.

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29

CAPÍTULO 2

DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

2.1 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO E SEUS CONFLITO COLETIVO

2.1.1 A Formação do Direito Coletivo do Trabalho

O Direito Coletivo não trata da soma dos Direitos

Individuais, mas o interesse coletivo, objetivando a satisfação, com

uniformidade, de uma classe trabalhadora. Depois da Revolução Industrial

o operariado sentiu a necessidade de unir-se para ganhar força frente à

nova realidade que se apresentava. A união dos economicamente fracos

tornou-os mais fortes, dando origem às primeiras leis sociais e às entidades

sindicais.

“Pouco antes de o Poder Público abandonar o “ laisser faire,

laisser aller”, já os agrupamentos de trabalhadores estavam

dotados de força suficiente para arrancar dos empresários

acordos coletivos objetivando a suavização das condições

de trabalho. ”22

O Direito Coletivo de Trabalho tem como principal

objetivo o estudo das associações profissionais: sindicatos; negociações

coletivas de trabalho e; os conflitos do trabalho, entre os quais a greve,

bem como as formas de preveni-los.

No Brasil a legislação trabalhista e a Justiça do

Trabalho surgiram como conseqüência de longo processo de luta e de

reivindicações operárias, sob forte influência do que se desenvolvia no

22 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de Direito do Trabalho, p. 333. 2000

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mundo, dos princípios de proteção ao trabalhador, defendidos pelo Papa

Leão XIII em sua encíclica Rerum Novarum, de 1891.

Verificamos que o ideal de igualdade jurídica entre

patrões e empregados não surte mais efeito, dentro do contexto da

chamada sociedade globalizada, ocasionando o início de mais conflitos

no meio social.

“Nesses paises também se manifestou a fenomenologia

que atualmente nos enche de perplexidade; neles, o Estado

faz-tudo cedeu o lugar ao Estado – mínimo que defere aos

particulares maiores espaços para, sozinhos, resolverem seus

problemas e suas divergências. ”23

Esses princípios liberais são caracterizados pelo recuo

do Estado no setor econômico e pela maior abertura da nossa economia

às permutas internacionais. [Saad, 2000, pg 334]

Na atualidade as diretrizes do nosso país seguem para

a construção do Estado - mínimo, baseada nas idéias neoliberais,

devastando ao casuísmo a legislação trabalhista brasileira e o modelo

sindical.

2.1.2 Os Conflitos Coletivos de Trabalhos

Os conflitos coletivos se manifestam quando existem

choques de interesses entre a classe econômica e a profissional,

geralmente desencadeada por interesses econômicos e em torno de

pretensões bem definidas.

Existem várias formas de soluções de conflitos coletivos

sendo greve, Acordo e Convenção Coletiva de Trabalho, Arbitragem.

23 SAAD. op. cit., p. 335. 2000

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As comissões intersindicais ou de um grupo de

empresas serão reguladas por Convenção ou Acordo Coletivo de

Trabalho. As Comissões de Conciliação Prévia tem a atribuição de tentar

solucionar os Conflitos Individuais de Trabalho e é regulada pela lei n.

9.958, de 12 de janeiro de 2000, instituindo a criação facultativa nas

empresas, no grupo de empresas e nos sindicatos.

Os Acordos e Convenções Coletivas de Trabalho

surgem das negociações coletivas, sendo respectivamente, a primeira

entre empresa e classe profissional, a segunda entre as classes

intersindicais.

A greve é um instrumento eficiente e talvez a única

arma dos assalariados contra o poder econômico dos patrões, neste

sentido, os operários tomaram consciência de que sua união lhes gerava

melhores condições de reivindicação e os movimentos grevistas foram

utilizados com freqüência.

Para Sergio Pinto Martins a greve é um risco a que o

trabalhador se sujeita, entretanto, dependerá de cada legislador, caso a

permitir, entende-se como direito ou liberdade, ou então, um delito, caso

a proibir. [Martins, 2003, pg 822]

A greve nos regimes totalitários era proibida, nos

democráticos se afigura como elemento imprescindível de diálogo.

Portanto é considerada a ultima solução, para a categoria trabalhista se

fazer ouvir, quando esgotados todos os recursos.

Atualmente é direito garantido constitucionalmente,

sendo regulada pela Lei nº 7783/89, que em seu artigo 2º a define.

"Art. 2º (Lei n. 7783/89) - Para os fins desta Lei,

considera-se legítimo exercício do direito de greve a

suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou

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32

parcial, de prestação pessoal de serviços a

empregador."

Conforme o preceito constitucional (art. 7º, XXXIV, CF),

a greve é assegurada apenas ao trabalhador subordinado, podendo ser

também exercido pelo trabalhador avulso. Ainda a Carta Magna

considera a greve como Direito Social dos Trabalhadores, tratando-se de

um direito fundamental.

“Art. 9º (CF/88) - É assegurado o direito de greve,

competindo aos trabalhadores decidir sobre a

oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam

por meio dele defender.”

§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e

disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis

da comunidade.

§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às

penas da lei.”

Acrescente-se que a paralisação no emprego deve ser

temporária, para não caracterizar abandono de emprego o que constitui

justa causa.

A Arbitragem voluntária não foi ainda regulada pela

legislação ao passo que a Arbitragem compulsória é desempenhada pela

Justiça do Trabalho. A Constituição Federal prevê:

“Art. 5º (CF/88) - Todos são iguais perante a lei, sem distinção

de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

(...)

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33

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário

lesão ou ameaça a direito;”

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 114,

prevê a solução compulsória pela Justiça do Trabalho dos Conflitos

Coletivos de Trabalho. É feita menção no mesmo dispositivo constitucional

sobre arbitragem voluntária.

“Art. 114 (CF/88) - Compete à Justiça do Trabalho processar

e julgar:

[...]

§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão

eleger árbitros.

§ 2º - Recusando-se qualquer das partes à negociação

coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de

comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza

econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o

conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de

proteção ao trabalho, bem como as convencionadas

anteriormente.

[...]”.

Quanto às controvérsias nas Negociações Coletivas,

são disciplinadas pela Justiça Do Trabalho.

“Art. 625 CLT. As controvérsias resultantes da aplicação de

Convenção ou de Acordo celebrado nos termos deste Título

serão dirimidas pela Justiça do Trabalho”.

As espécies de Dissídios Coletivos visam a interpretação

da Lei, dos Acordos e Convenções Coletivas de Trabalho, e das Sentenças

Normativas. São reconhecidas unanimemente pela doutrina e

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34

jurisprudência tendo a nomenclatura de Dissídio Coletivo de Natureza

Jurídica.

A CLT dispõe sobre Dissídio Coletivo em seus artigos 856

a 875.

“Art. 857 (CLT) - A representação para instaurar a instância

em dissídio coletivo constitui prerrogativa das associações

sindicais, excluídas as hipóteses aludidas no Art. 856, quando

ocorrer suspensão do trabalho”.

Passamos ao estudo do Sindicato, pois, sua

importância é incontestável dentro do Direito Coletivo.

2.1.3 Os Sindicatos

Sindicato é definido como associação de classes com

o intuito de alcançar modificações nas relações de trabalho. Segundo o

artigo 511 da CLT:

“Art. 511 (CLT) - É lícita a associação para fins de estudo,

defesa e coordenação de seus interesses econômicos ou

profissionais de todos os que, como empregadores, agentes

ou trabalhadores autônomos, ou profissionais liberais,

exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão

ou atividade ou profissões similares ou conexas”.

No cenário mundial o reconhecimento oficial do

Sindicalismo deu-se a partir de 1871 conforme ensina Amauri Mascaro

Nascimento.

“O reconhecimento oficial dos sindicatos, na Inglaterra,

deu-se em 1871, com a Lei dos Sindicatos. Floresceu o

“tradeunionismo”. Na França, em 1884, com a lei de

Waldeck-Rousseau, permitindo pessoas da mesma profissão

ou de profissões conexas constituírem-se livremente em

associações sem autorização do governo, desde que os

seus objetivos fossem exclusivamente a defesa dos interesses

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profissionais e econômicos. Aos sindicatos profissionais foi

reconhecida personalidade civil [...]”.24

Amauri Mascaro Nascimento ainda esclarece que no

Brasil o Direito Sindical revela claramente três fases distintas, o

anarcossindicalismo, o intervencionismo ou corporativismo sindical, e o

sindicalismo autônomo. [Nascimento, 2004, pág. 990-991]

A primeira fase, o anarcossindicalismo, foi entre o

período de 1890 e 1920 e fundamentou-se em idéias que contestava a

autoridade e as Leis do Estado. Eram baseados em princípios trazidos para

o nosso país através de imigrantes, principalmente, italiano. [Nascimento,

2004, pág. 990]

Em 1903 foi aprovada a primeira Lei Sindical

contemplando os trabalhadores rurais, sendo para muitos estudiosos uma

forma de deixar o Brasil mais atraente para os imigrantes. Da Lei aprovada

em 1907 originou-se direito de associação para os trabalhadores urbanos

e sua elaboração foi influenciada pela lei francesa de 1884. [Saad, 2000,

pág. 336]

“Anote-se [...] o pensamento socialista predominante no 1º

Congresso Operário de 1906, que aprovou propostas de

resistência ao patronato e de ação direta dos

trabalhadores”.25

A segunda fase, intervencionismo ou corporativismo

sindical, deu-se a partir de 1930, aproximando o sindicato do Estado,

atribuindo as responsabilidades da vida pública ao mesmo, dando a

representação de categoria para efeitos jurídicos e políticos, transferindo

prerrogativas do Estado. [Nascimento, 2004, pág. 991]

24 NASCIMENTO, op.cit., p. 29. 2004 25 NASCIMENTO, op.cit., p. 991. 2004

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Em 19 de março de 1931 o Decreto n. 19.770 instituiu o

sindicalismo unitário, que se manteve até a promulgação da Constituição

Federal de 1934, que instaurou o pluralismo sindical, precedida do Decreto

n. 24.694 que disciplinava a atividade sindical, instituindo que, um

sindicato poderia se organizar somente quando representasse um terço

da categoria. [Saad, 2000 pág. 337-338]

A Constituição Federal outorgada em 1937,

estabeleceu novamente o sindicalismo único, sendo estruturado pelo

Decreto – Lei n. 1402 de 5 de junho de 1939. Apesar de nascer no Estado

Novo permanece até os dias atuais a linha que induz o sindicalismo, sendo

respeitada a unicidade como preconiza a CLT – “só pode ser

representada, em dada base territorial, por um único sindicato” [Saad ,

2000, pág. 338]

“A CLT (1943) é fruto dessas concepções sobre relações

coletivas de trabalho, incorporando as leis que a

antecederam e que passaram a ser seus textos, a saber, a

Lei n. 1.402 (1939), sobre organização sindical, o Decreto-lei

n. 2.381 ( 1940), sobre enquadramento sindical, e o Decreto-

lei n. 2.377 (1940), sobre contribuição sindical, bases legais

do Direito Coletivo corporativista, que exerceu uma

influencia marcante em nosso pensamento e na realidade

sindical brasileira, a ponto de sobrevive ao regime da

Constituição democrática de 1946. os poderes conferidos

pela CLT ao Estado permitiam forte interferência na

liberdade sindical [...] ”.26

A abertura política é que caracteriza a terceira fase, o

sindicalismo autônomo, donde resultam diferentes relações entre

Sindicatos e Estado, até então desconhecidas. Ocorreu a aferição do

Sindicato pela Constituição Federal de 1988, de maior autonomia e novos

princípios, tendo ainda restrições. [Nascimento, 2004, pág. 993 -994]

26 NASCIMENTO, op.cit., p. 993. 2004

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A mola propulsora dos grandes e ruidosos movimentos

coletivos ao longo das décadas foram a necessidade permanente de

ajuste de salários dentro do processo inflacionário.

A relação de poder é alterada pela nova realidade. Se

antes o sindicato se sentava à mesa para negociar conquistas, hoje tem

que usar a pouca força que lhe resta para evitar o processo de

reconquista da classe econômica. Antes o sindicato podia ameaçar com

a greve, estava protegido pela norma estatal, que impedia a revisão,

para pior, das cláusulas convencionais. Hoje se sente ameaçado por uma

versão piorada e disfarçada de lockout - pois a empresa pode fechar suas

portas a qualquer momento.

As reivindicações partiam de um patamar já

estabelecido, atualmente recomeçam do zero. O sindicato deixou de ser

de ataque e passou a ser de resposta ou defesa.

2.2 NEGOCIAÇÕES COLETIVAS E O HISTÓRICO DA CONVENÇÃO COLETIVA

DE TRABALHO

2.2.1 Histórico da Convenção Coletiva na História Mundial

As Convenções Coletivas de Trabalho desenvolveram-

se na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, partindo dos fatos para a

norma enquanto que nos subdesenvolvidos o processo foi inverso, ou seja,

da norma para os fatos. Somente veio ter importância nos paises

subdesenvolvidos a partir da industrialização. A Organização Internacional

do trabalho (OIT) é mais especifica ao afirmar que as Convenções

Coletivas de Trabalho tiveram seu início na Inglaterra.

De acordo com Amauri Mascaro Nascimento

desenvolveu-se em dois períodos:

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“Desenvolveu-se em dois períodos, na fase contratual,

subseqüente às primeiras conquistas das classes

trabalhadoras por meio de greves, sabotagens e outras

ações coletivas contra os empregadores, surgindo como

um instrumento de pacificação espontâneo, fruto do

próprio meio econômico – profissional, e em uma fase

regulamentar, caracterizado por sucessivas leis estatais,

visando incorporar e consolidar as convenções coletivas de

trabalho no ordenamento jurídico.”27

O Código Civil holandês de 1909, o Código Federal das

Obrigações da Suíça de 1912, a Lei alemã sobre contrato de tarifa de

1918 e a Lei francesa de 25 de março de 1919 foram as primeiras leis do

continente europeu que depuseram sobre a Convenção Coletiva de

Trabalho. [NASCIMENTO, 2004, pg 1108-1109]

Ao contrário da maioria dos países, no ordenamento

jurídico dos Estados Unidos a jurisprudência tem maior relevância e

regulam os direitos de fato, abrangendo quase a totalidade das normas

regulamentadoras das relações.

Em via de regra, nos demais paises, nem todo o direito

foi criado na mesa de negociações, mas sim, a maior parte, de suas

normas nasceram do Estado protecionista.

2.2.2 Convenção Coletiva de Trabalho no Brasil

No Brasil a Convenção Coletiva de Trabalho originou-

se da norma para os fatos (acontecimentos), exercendo o sindicato, antes

da Constituição Federal de 1988, função delegada pelo poder público.

Seu surgimento foi com o Decreto nº 21.761, de 23-8-1932, já possuindo

efeito normativo, sendo baseado na Lei francesa de 1919.

27 NASCIMENTO, op. cit., p. 1108. 2004

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Somente veio ter âmbito constitucional com a Carta

Magna de 1934, e passou ter nomenclatura Convenção Coletiva de

Trabalho a partir da Constituição Federal de 1937.

O dispositivo constitucional de 1988 reconhece além

das Convenções Coletivas, os Acordos Coletivos de Trabalho.

A CLT , quando aprovada utilizou o nome Contrato

Coletivo, sendo somente dada nova relação aos artigos 611 a 625,

através do Decreto-lei n. 229, de 28/02/67.

2.2.3 Diferença entre Convenção, Acordo e Contrato Coletivo de Trabalho

e seus respectivos conceitos

A Convenção e o Acordo Coletivo de Trabalho são

espécies de negociação coletiva. A Convenção Coletiva de Trabalho é

intersindical, é mais abrangente, realizada entre os sindicatos das

categorias profissionais e econômicas. O Acordo Coletivo de Trabalho é

realizado entre o sindicato profissional e uma ou mais empresas da

correspondente categoria econômica.

A Convenção Coletiva é tratada no caput do artigo

art. 611, CLT.

“Art. 611. (CLT) Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo

de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos

representativos de categoria econômicas e profissionais

estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das

respectivas representações, às relações individuais de

trabalho.”

Segundo Sérgio Pinto Martins, a recomendação n.91

da OIT, apresenta a definição de Convenção Coletiva de Trabalho como:

“todo acordo escrito relativo às condições de trabalho ou

emprego, celebrado entre um empregador, um grupo de

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empregadores ou uma ou varias organizações de

empregadores , por um lado, e, por outro, uma ou várias

organizações representativa de trabalhadores ou, na falta

delas, por representantes dos trabalhadores interessados,

devidamente eleitos e autorizados por eles, de acordo com

a legislação do respectivo país.”28

Conforme, a Consolidação das Leis do Trabalho, no art.

611, é atribuído aos instrumentos coletivo efeito normativo com aplicação

erga omnes.

Quanto aos termos, Acordo, Convenção e Contrato

Coletivo de Trabalho são encontrados no conteúdo da CLT as três

expressões. Ela adotava somente a expressão CONTRATO COLETIVO DE

TRABALHO até ser alterada pelo Decreto – Lei n. 229/68, dando nova

redação aos artigos 611 a 625 da CLT, mudando para CONVENÇÃO

COLETIVA DE TARABALHO. A expressão Contrato Coletivo de Trabalho

ocorre em vários artigos da CLT que não foram alterados pelo Decreto –

Lei n. 229/68, dentre eles os artigos 59, 71, 235, 462, etc.

O Contrato Coletivo de Trabalho foi a primeira

designação dada ao pacto coletivo, surgindo com o Decreto – Lei n.

21.761 de 23 de agosto de 1932, sendo baseada na Lei francesa de 1919.

“No Direito Comparado, prevalece à denominação de

Contrato Coletivo de Trabalho ao ajuste em que patrões e

empregados estabelecem novas condições de trabalho,

que sempre respeitam ao mínimo estabelecido nas normas

legais imperativas.

Assim, será contrato coletivo de trabalho aquele que

tenha, como partes, um patrão ou muitos patrões e os

empregados de uma ou muitas empresas”29

28 MARTINS, op. cit., p. 45. 2003 29 SAAD, op. cit., p. 382. 2000

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41

Pode-se dizer que as expressões CONVENÇAO

COLETIVA DE TRABALHO e CONTRATO COLETIVO DE TRABALHO são

sinônimas.

A figura do Acordo Coletivo de Trabalho somente

existe no Brasil, sendo que, em outros paises inexiste está diferenciação.

É imprescindível dissertar sobre o artigo 620 da CLT – “as

condições em Convenção, quando mais favoráveis, prevaleceram sobre

as estipuladas em Acordo” – donde previu critério valorativo sobre as

negociações coletivas quando simultaneamente e concomitantemente

concorrem entre si, sendo assim, dadas devidas atenções a aplicação da

norma mais favorável.

2.2.4 Característica das Convenções Coletivas de Trabalho

Dentre as características das Convenções Coletivas de

Trabalho podemos salientar o caráter normativo, obrigatoriedade da

participação sindical e inserção nos contratos individuais de trabalho.

O caráter normativo é caracterizado pelo fato da

Convenção Coletiva de Trabalho vincular toda a categoria em questão,

salvo se a Convenção dispor ao contrario. Desta característica extrai-se

que a Convenção Coletiva de Trabalho tem natureza de norma jurídica

integrando fontes do Direito do Trabalho.

Outra característica é assegurada pela Constituição

Federal de 1988 em seu artigo 8º, VI, é a obrigatoriedade da participação

dos sindicatos das categorias econômicas e profissionais nas Convenções

Coletivas de Trabalho.

A terceira característica é reflexo da natureza de

norma jurídica, donde, as Convenções Coletivas de Trabalho se aplica às

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relações de emprego, inserindo-se nos contratos individuais de trabalho

dentro do ambiente da categoria profissional em questão.

Amauri Mascaro Nascimento intitula as características

das Convenções Coletivas de Trabalho como elementos da definição

legal. Além de aprofundar as características já supra citadas ele disserta

sobre outros pontos.

“São elementos da definição legal: a) a natureza

autocompositiva e consensual das convenções coletivas,

que são ato negocial bilateral, resultando, portanto, do

ajuste de vontade entre os representantes dos grupos

trabalhistas e empresariais; b) a natureza de norma jurídica,

apesar de não ser elaborada pelo Estado, mas por ele

autorizada e reconhecida, integrando o sistema jurídico

com eficácia e validade de aplicação assegurada pelos

órgãos jurisdicionais, não tendo poder, no entanto, de

revogar lei, mas podendo dispor de modo mais favorável ao

trabalhador, desde que não existam leis sobre a mesma

matéria e que sejam proibitivas; c) os sujeitos que

participam da negociação, dispondo a Constituição

Federal de 1988, art. 8ª, VI, que é obrigatória a participação

dos sindicatos naquela; d) os seus níveis , que são dois, a

categoria e a empresa, resultando, respectivamente, do

primeiro as convenções coletivas de trabalho e do segundo

os acordos coletivos; e) o seu conteúdo, que é obrigacional,

quando se tratar de cláusulas estabelecendo direitos e

deveres que vinculam direta ou indiretamente as próprias

obrigações estipulantes, e normativo, constituído das

cláusulas destinadas a fixar normas para os contratos

individuais de trabalho, salariais ou de outra natureza; f) o

seu âmbito de aplicação, que é o representativo pelas

organizações convenientes.”30

30 NASCIMENTO, op. cit., p. 1109-1110. 2004

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43

Após analisarmos as características das Convenções

Coletivas de Trabalho fica indiscutível sua obrigatoriedade, passamos a

dissertar sobre a sua natureza.

2.2.5 Natureza das Convenções Coletiva de Trabalho

Amauri Mascaro Nascimento arrola três principais

teorias sobre a natureza das Convenções Coletiva de Trabalho –

concepção contratual, regulamentar e mista. [Nascimento, 2004,pg 1110]

Na teoria da concepção contratual a Convenção

Coletiva, é sustentado o caráter obrigacional, originado das partes

contratantes e somente aplicáveis no âmbito restrito destas.

Pela teoria da concepção regulamentar, a

Convenção Coletiva, destina-se a estabelecer modelos que servirão de

norma na estipulação de contratos individuais de trabalho.

E pela teoria da concepção mista, a natureza da

Convenção Coletiva é contratual e regulamentar. Contratual quanto a

sua elaboração – emanada do acordo de vontade; regulamentar quanto

aos efeitos que alcançam não só os signatários mas toda a categoria.

Sergio Pinto Martins classifica da mesma forma que

Amauri Mascaro Nascimento e ambos discordam quanto o

posicionamento da legislação brasileira.

Sergio Pinto Martins afirma que a teoria mista explica

melhor a natureza da Convenção Coletiva de Trabalho, já que tenta

mesclar as teorias contratuais com as teorias normativas.

“(...) A Convenção Coletiva seria contratual, quanto de sua

elaboração, pois há um acordo de vontades entre os

pactuantes decorrentes de negociação, mas também seus

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44

efeitos são normativos, valendo para toda categoria, tanto

para os sócios como para os não sócios do sindicato .”31

Amauri Mascaro Nascimento optou pela teoria

contratualista, sendo que entende as Convenções Coletivas de Trabalho

como normas jurídicas de natureza econômica – profissional.

“Por acordo de caráter normativo só se poderá entender

todo aquele que, a exemplo da lei, for eficaz, mesmo ultra-

estipulante. Portanto, aplicam-se as convenções coletivas a

todos, empregados e empregadores, desde que

pertençam ao âmbito da representação profissional ou

econômica dos sindicatos convenientes. Assim, o direito

brasileiro filia-se a corrente normativista. As convenções

coletivas são normas jurídicas. Aproximam-se mais das leis

do que dos contratos. Os seus efeitos, inconfundíveis,

impedem que a posição contratualista mantenha-se entre

nós. Note-se que os efeitos das convenções coletivas

recaem sobre a categoria de empregados ou de

empregadores e não somente sobre os empregados eu

empregadores filiados aos seus respectivos sindicatos.”32

Fica evidenciada a natureza normativa da Convenção

Coletiva de Trabalho quando o artigo 611 da CLT menciona seu caráter

normativo, aplicando-se a toda a categoria. Verificamos também no

artigo 444 da CLT quando dispõe que o contrato individual não pode

contrariar a Convenção Coletiva de Trabalho.

“Art. 444. (CLT) - As relações contratuais de trabalho podem

ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em

tudo quanto não contravenha às disposições de proteção

ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam

aplicáveis e às decisões das autoridades competentes.”

31 MARTINS, op. cit., p. 799. 2003 32 NASCIMENTO, op. cit., p. 1112-1113. 2004

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45

Mediante a natureza normativa verificada diante dos

artigos, não resta mais dúvida, passando agora a analisar suas aplicações.

2.3 APLICAÇÕES, VANTAGENS E DESVANTAGENS DA CONVENÇÃO

COLETIVA DE TRABALHO

2.3.1 Aplicações

As Convenções Coletivas de Trabalho são aplicadas

no ambiente das categorias profissionais e econômicas pactuadas sendo

observados tanto os sócios como os não sócios. É importante salientar que

mesmo o trabalhador não filiado ao sindicato é alcançado pelo efeito

normativo, verificando o efeito erga omnes, tendo sua aplicabilidade

restrita aos limites da categoria a que se referem.

Sergio Pinto Martins classifica a aplicação da norma

em duas teorias, da acumulação e do conglobamento.

“[...] A teoria da acumulação envolve a aplicação de

cláusulas de convenções coletivas diferentes ao mesmo

tempo, ou seja, é possível aplicar a cláusula primeira da

Convenção A ou a cláusula segunda da Convenção B,

utilizando-se da norma mais favorável ao trabalhador. A

teoria do conglobamento diz respeito a se utilizar da

Convenção Coletiva em seu conjunto, globalmente. Assim,

havendo duas normas coletivas, aplica-se a que for mais

favorável ao trabalhador em seu conjunto, e na cláusula

por cláusula, isoladamente. De acordo com as

circunstância, poder-se-á optar pela aplicação global de

determinada Convenção ou pela acumulação de cláusulas

mais favoráveis ao trabalhador. O mais correto é a

aplicação da norma coletiva que, em sua globalidade,seja

mais favorável ao empregado, pois é impossível que se

fique pinçando cláusulas de várias normas coletivas ao

mesmo tempo; daí por que se falar na aplicação da norma

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46

coletiva que for mais favorável em sua globalidade em

relação a outra norma coletiva”33.

Deve-se interpretar com base na vontade das partes e

com vistas da elaboração da norma.

2.3.2 Vantagens

Conforme Sergio Pinto Martins desde a origem das

Convenções Coletivas de Trabalho, existem vantagens para os

convenentes:

“(...) para o empregador, era uma forma de negociação

pacífica, sem perigo da ocorrência de greves; (b) para o

empregado, era o reconhecimento, pelo empregador, da

legitimidade e representatividade do sindicato nas

negociações, com a conseqüente conquista de novos

direitos para os trabalhadores; (c) para o Estado, era uma

forma de não interferência, em que as próprias partes

buscavam a solução de seus conflitos, culminando com um

instrumento de paz social.”34

A Convenção Coletiva, nos dias atuais, além de

regular as negociações patronais e empregatícias, se apresenta como

uma ferramenta para a flexibilização da norma trabalhista. Embora

existam controvérsias entre vários autores, quanto à flexibilização do

Direito do Trabalho, ser ou não, uma vantagem.

2.3.3 Desvantagens

A Constituição Federal de 1988, no Capítulo II, Dos

Direitos Sociais, apresenta a possibilidade da Convenção Coletiva de

Trabalho flexibilizar, no tocante a redução de salários, redução e

33 MARTINS, op. cit., p 800. 2003 34 MARTINS, op. cit., p 791. 2003

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compensação da jornada de trabalho, e permissão de jornadas superiores

além das 6 horas nos turnos ininterruptos.

“Art. 7º (CF/88) São direitos dos trabalhadores urbanos e

rurais, além de outros que visem à melhoria de sua

condição social:

(...)

VI – irredutibilidade de salário, salvo o disposto em

Convenção ou Acordo Coletivo;

(...)

XIII – duração de trabalho normal não superior a oito horas

diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a

compensação de horários e a redução da jornada,

mediante Acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho”

XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em

turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação

coletiva.”

Como podemos verificar na história do Direito, as

garantias fundamentais foram arduamente conquistadas durante

décadas de lutas sociais e expressam o mínimo exigido. A norma abre

uma brecha para as negociações coletivas de trabalho flexibilizando

direitos, desta forma, a norma vem regularizar a deflação. Ou seja, a

norma, criada para salvaguardar empregos de um setor em crise, passa a

ser generalizada para os demais setores, virando de exceção para regra

prática.

Desta forma o Direito do Trabalho de atenuador passa

ser nos dias atuais regulador das relações de trabalho, deixado de ser

construído pela classe dominada, mas pela classe econômica. Surge o

paradoxo, a oferta de emprego diminui enquanto a produção aumenta,

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48

pelo fato de a classe dominada ser a cada dia mais dispensável, resultado

de inúmeros processos como a informatização, terceirização, automação,

globalização, etc.

A computação interliga empresa, agiliza a rápida

disseminação de informação e viabiliza a terceirização e automação. O

maquinismo dando espaço para a robótica, onde as linhas de montagens

controladas por software – inteligência artificial – dizimam a mão de obra

assalariada. A terceirização divide o coletivo operário que se fragmenta

entre empresas da rede. Por sua vez a globalização, ultima tendência

mundial, gera conflitos de mercado, por muitas vezes internacionalizado

empresas que se tornam voláteis, mudando de paises em detrimento ao

direito trabalhista.

2.4 QUANTO AO CONTRATO INDIVIDUAL

2.4.1 Contrato Coletivo Versus Contrato Individual de Trabalho

Sempre foi um tema polêmico a liberdade contratual

dentro do Direito Individual do Trabalho. Na relação de emprego o poder

econômico do empregador colocava o empregado em desvantagem,

tendo a função do Direito Individual do Trabalho proteger o empregado

dessa desigualdade natural.

Quanto ao Direito Individual, há dois artigos que

limitam claramente a liberdade contratual, os artigos 9º e 468 da CLT. O

último, aliás, impede que o empregado exerça de forma ampla sua

liberdade de escolha, considerando lícita à alteração das respectivas

condições por mútuo consentimento, há ainda, assim desde que não

resultem, direta ou indiretamente, em prejuízos ao empregado, sob pena

de nulidade.

“Art. 9º (CLT) - Serão nulos de pleno direito os atos

praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar

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a aplicação dos preceitos contidos na presente

Consolidação.”

“Art. 468 (CLT) - Nos contratos individuais de trabalho só é

lícita a alteração das respectivas condições por mútuo

consentimento, e ainda assim desde que não resultem,

direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena

de nulidade da cláusula infringente desta garantia.”

No Direito Coletivo, encontramos dois dispositivos

expressos que comprovam tal preocupação do legislador ao restringir a

liberdade de pactuação das partes:

“Art. 444 (CLT) - As relações contratuais de trabalho

podem ser objeto de livre estipulação das partes

interessadas em tudo quanto não contravenha às

disposições de proteção ao trabalho, aos contratos

coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das

autoridades competentes”.

“Art. 619 (CLT) - Nenhuma disposição de contrato

individual de trabalho que contrarie normas de

Convenção ou Acordo Coletivo poderá prevalecer na

execução do mesmo, sendo considerada nula de

pleno direito”.

A liberdade contratual no Direito Individual do Trabalho

sofre sérias e justificadas restrições, mas, a questão se altera

significativamente quanto a liberdade contratual do Direito Coletivo do

Trabalho.

Os efeitos ultra contraentes e erga omnes das

convenções coletivas não eram entendidas pela doutrina civilista

conservadora. Mas difícil era entender a autonomia privada coletiva.

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“[...] admite que a submissão do contrato individual de

trabalho à Convenção Coletiva não exclui a

possibilidade de inserção naquela de derrogações a

esta, desde que se trate de condições mais favoráveis

ao assalariado”.35

O Contrato Individual de Trabalho não pode revogar

os convênios coletivos, mas pode completá-lo.

A CLT prevê a revisão e a denuncia acolhendo a teoria

da imprevisão dos contratos. A revisão do contrato justifica-se por

anormalidades ocasionadas por forças de acontecimentos imprevisíveis,

que alterem o estado de fato, na época da celebração do contrato.

35 NASCIMENTO, op.cit., p. 1116. 2004

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CAPÍTULO 3

CONVENÇÃO COLETIVA NA PROTEÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO

3.1.1 Análise Doutrinária

3.1.1.1 Flexibilização do Direito do Trabalho

O contrato de trabalho pressupõe a contratação do

empregado por tempo completo e indeterminado, em caráter estável e

permanente, por um único empregador, usufruindo, o empregado, as

melhorias em função do aperfeiçoamento de sua qualificação e do

tempo de serviço.

Modelo este que vem sofrendo desestabilização

devido às constantes transformações do cenário econômico mundial. A

globalização possibilita a contratação da mão-de-obra onde esta se

mostra mais vantajosa economicamente. Este cenário tem como

conseqüência um aumento do desemprego e um aumento da produção

com utilização de pouca mão-de-obra, propiciado pelo grande

desenvolvimento tecnológico. Em razão de todas estas alterações, surge a

discussão acerca da flexibilização das relações de trabalho.

Nos dicionários são encontradas apenas as palavras

flexibilidade, do latim flexibilitate, significando a qualidade de ser flexível,

maleável, bem como a palavra flexibilizar, definido como o ato de tornar

flexível. Amauri Mascaro Nascimento define que a Flexibilização:

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“é o afastamento da rigidez de algumas leis para permitir,

diante de situações que o exijam, maior dispositividade das

partes para alterar ou reduzir os seus comandos.”36

Segundo Letícia Barga Santos, “a Flexibilização busca a

elaboração da regra, jamais sua eliminação.”37

Segundo José Torjálio do Amaral:

“A flexibilização tem por escopo, exatamente, propiciar o

rápido ajustamento do complexo normativo laboral às

mudanças decorrentes das flutuações econômicas,

evoluções tecnológicas ou quaisquer outras alterações que

requeiram imediata adequação da norma jurídica”38

Para o referido pesquisador, existem duas posturas

doutrinárias acerca da flexibilização, a primeira vê a flexibilização como a

possibilidade de redução dos direitos dos trabalhadores (posição

neoliberal), enquanto que a segunda entende que essa possibilidade

deve se restringir a uma adaptação circunstancial às oscilações da

conjuntura sócio-econômica.

Na doutrina de Amauri Mascaro NASCIMENTO pode-

se distinguir três correntes que se posicionam sobre a questão da

flexibilização das relações de trabalho – flexibilista, Antiflexibilista e

Semiflexibilista. [Nascimento, 2004, pg. 148, 149]

Na corrente flexibilista o Direito do Trabalho passa por

três fases distintas. A primeira fase relaciona-se à conquista dos direitos

trabalhistas entendendo que eles devem ser assegurados. Na segunda,

temos o momento promocional e na terceira, ocorre à adaptação dos

direitos trabalhistas à realidade dos fatos, como é feito nas convenções 36 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho, p.67, 2003. 37 SANTOS, Letícia Aparecida Barga. Flexibilização Laboral e o Princípio Protetor, p.81-82,

2000. 38 AMARAL. José Torjálio do. Flexibilização: geradora ou não do desemprego. Eis a

questão, p.41, 2001

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coletivas de trabalho desenvolvendo cláusulas in mellius e in pejus, na

tentativa de dar atendimento às condições de cada época e de cada

setor. Há sujeição à situação econômica. Quando a economia estiver

normal aplica-se a lei. Quando apresentar crises flexibiliza-se as regras

trabalhistas tanto para pior como para melhor.

“(...) É a posição, no Brasil, dentre outros, Robortella, ao

mostrar a natureza cambiante da realidade econômica,

com o que uma norma pode ser socialmente aceita num

período de abastança, mas absolutamente nociva numa

sociedade em crise e desemprego. ”39

A corrente antiflexibilista entende que as idéias são

propostas por mero pretexto para reduzir os direitos dos trabalhadores.

Conforme Mauri Mascaro Nascimento é a posição adotada, no Brasil, por

Orlando Teixeira Costa, dentre outros, que vislumbra a possibilidade do

agravamento das condições dos hipossuficientes, sem qualquer

contribuição para o fortalecimento das relações de trabalho.

Quanto a corrente semiflexibilista a autonomia coletiva

tem valorização plena, devendo a flexibilização começar por meio das

negociações coletivas. Neste tipo de flexibilização há uma

desregulamentação do Direito Coletivo do Trabalho, permanecendo a

existência de uma norma legal mínima, estabelecendo regras básicas,

ficando o restante para determinação das convenções e acordos

coletivos.

Segundo Dallegrave Neto os países da América Latina,

inclusive Brasil, comprometeram-se a seguir diretrizes neoliberais impostas

pelo FMI, Banco Mundial e BIRD. O Consenso de Washiston, reunião

realizada no ano de 1989, que tem como umas de suas diretrizes:

“1 – flexibilização dos direitos individuais trabalhistas; 39 NASCIMENTO, op. cit., p. 148. 2004

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2 – estimulo à livre negociação entre patrão e

empregado, com limitações ao direito de greve e ao

poder sindical;(...)”40

Segundo Noronha Nassif, do Consenso de Washiston

saiu a recomendação de que os países em desenvolvimento

implantassem o “Estado mínino”, reduzindo ao mínimo as interversões

sociais. [Nassif, 2001, pg. 35]

Neste contexto neoliberal visa à desregulamentação

das relações trabalhistas para que as partes envolvidas e o mercado de

trabalho passem a estabelecer as regras. Na desregulamentação tudo é

traduzido em linguagem matemática sem a preocupação com as

questões sociais.

Trata-se dos defensores do Estado liberal que

defendem as idéias neoliberais discursado sobre a rigidez da legislação

trabalhista brasileira como o entrave para inserção dos trabalhadores no

mercado formal. Também é visto como obstáculo à maior

competitividade empresarial e como fator de agrave de desemprego. Em

seu artigo José Eduardo Alcântara cita José Pastore que apresenta sua

dissertação com argumentos neoliberais.

“O excesso de rigidez da Constituição, Consolidação das

Leis do Trabalho (CLT) e Justiça do Trabalho está

provocando uma reação selvagem por parte do mercado.

Mais de 55% da nossa força de trabalho já está à margem

da lei, sem nenhuma proteção, lembrando-se que, nesse

caso, o Estado nada arrecada, ficando apenas com ônus

de socorrer essas pessoas na doença e na velhice. A

40 DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Inovações na legislação trabalhista. Aplicação e

análise crítica p.21. 2000

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‘flexibilidade selvagem’ é o resultado da combinação de

pouco investimento com muita rigidez”.41

O desemprego é considerado ‘natural’ para todos os

neoliberais em nome da competitividade fundada nas qualidades

anárquicas do mercado. Verificamos que para os neoliberais a

flexibilização é sinônimo de desregulamentação.

O doutrinador Süsseking vem nos advertir que se faz

necessária à intervenção estatal nas relações trabalhistas, na necessidade

à efetivação dos princípios formadores da justiça social e a preservação

da dignidade humana. O mesmo autor esclarece que a flexibilização é

apenas um degrau das escadarias que levam a desregulamentação,

sendo que, a flexibilização permite, ainda que básica, a intervenção

estatal, com normas gerais das quais garante a dignidade do trabalhador.

[Süsseking, 1999, pg. 44, 48]

Para Amauri Mascaro Nascimento,

desregulamentação é vocábulo que deve ser restrito ao Direito Coletivo

do Trabalho, aplicando-se ao Direito Individual a palavra flexibilização. A

desregulamentação seria a política legislativa de redução da

interferência da lei nas relações coletivas de trabalho, para que se

desenvolvam segundo o princípio da liberdade sindical e das

representações de trabalhadores. [Nascimento, 2004, pg 156, 157]

Os juristas defensores do Estado Social defendem a

intervenção estatal nas relações trabalhistas na medida necessária para

formar os princípios de justiça social e a dignidade humana.

Para José Eduardo Alcântara é um mito a rigidez da

legislação trabalhista.

41 DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Direito do Trabalho Contemporâneo: flexibilização e

efetividade p.83. 2003

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“(...)um amplo leque de modalidades contratuais, previstas

na própria Consolidação ou mesmo em legislação esparsa,

estão disponíveis ao empregador. A regra geral, que seria a

contração por tempo indeterminado, admite variadas

exceções, como o contrato experimental e a contratação

a prazo vinculada a evento provisório (CLT, art. 443, § 2o,

alíneas “a”, “b” e “c”) ou mesmo sem essa vinculação (Lei

n. 9.601, de 21 de janeiro de 1998). Autoriza-se, ainda, a

contratação por empresa interposta para fazer face a

acréscimo extraordinário de serviço ou necessidade

transitória de substituição do pessoal regular (Lei n. 6.019, de

3 de janeiro de 1974)”.42

Não existe na legislação brasileira nenhuma aberração

que precise ser urgentemente corrigida estando os principais direitos

trabalhistas em conformidade a normatização verificada a nível

internacional. [Dallegrave, 2003, pg. 99]

A nossa legislação encontra-se flexibilizada, tendo a

nossa Constituição Federal de 1988 as sementes da modernidade,

tutelando a negociação coletiva.

3.1.2 Função da Convenção Coletiva de Trabalho diante da Flexibilização

Diante do moderno fenômeno da globalização o

Direito do Trabalho enseja a flexibilização, de onde, o estado atrofia-se em

detrimento do modelo negociado pelas entidades sindicais.

A flexibilização tem como personagens principais

empregados e empregadores, a quem a Constituição Federal de 1988

abriu imensos espaços para o entendimento direto, atribuindo aos

sindicatos importante papel neste novo cenário.

42 DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Direito do Trabalho Contemporâneo: flexibilização e

efetividade, p.84, 2003.

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O Direito Brasileiro preconiza o princípio da unicidade

sindical, consagrado pela Constituição Federal, com o qual só é possível

numa mesma base territorial de apenas uma entidade sindical, seja ela,

econômica ou profissional. É inegável a importância do sindicato, visto

que, as negociações coletivas realizadas por elas têm efeito vinculativo e

normativo na respectiva base territorial, abrangendo todos aqueles

pertencente às categorias representadas, sejam filiados ou não a

entidade sindical.

O nosso legislador segue a postura doutrinária onde

flexibilizar direitos deve se restringir a uma adaptação circunstancial às

oscilações da conjuntura sócio-econômica, garantindo direitos básicos e

deixando ressalvas com relação às decisões de convenções ou acordos

coletivos.

Segundo José Torjálio do Amaral, alguns doutrinadores

são contra qualquer flexibilização, alegando que a mesma precariza

ainda mais as relações de trabalho, pela falta de sindicatos fortes e

representativos capazes de negociar em pé de igualdade, com grandes

empresas ou sindicatos patronais.

“A intervenção da entidade sindical que representa os

trabalhadores é essencial à validade do ato e assim foi

previsto para colocar os empregados a salvo de eventuais

pressões.”43

Seria necessária uma reforma do sistema sindical,

implementando total liberdade e autonomia, para que fortes e legítimos,

os sindicatos, assumam o papel negocial, como ocorre nos países

desenvolvidos, discutindo os interesses dos representados, em igualdade

de condição, flexibilizando direitos e condições de trabalho, além das

garantias mínimas asseguradas pelo Estado.

43 AMARAL. op. cit., p.49, 2001

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A Convenção Coletiva de Trabalho é uma maneira de

flexibilização e seu efeito normativo é indiscutível entre os doutrinadores.

Amauri Mascaro Nascimento faz várias diferenciações entre lei e a

Convenção sendo a primeira sobre a extensão de sua aplicabilidade. A lei

tem a aplicação mais genérica a todos os trabalhadores que encaixem

nas suas aplicações, por sua vez, a Convenção são aplicáveis em espaço

geográfico limitado, numa reduzida quantidade de empregados. O

segundo elemento é sobre a formação, que no caso da lei é incumbência

estatal de competência dos órgãos legislativo, a Convenção, são as

próprias partes interessadas e envolvidas que a elaboram. O terceiro

elemento diferenciador diz a respeito mais diretamente à hierarquia entre

elas, é a supremacia da ordem publica que não poderá ter seu teor

derrogado por Convenção. Por fim, aponta diferenciação dos aspectos

da fonte que é heterônoma, a lei imposta pelo estado, e autônoma, das

convenções por serem fontes negociáveis. [NASCIMENTO, 2004, pg 319]

“ Quanto à chamada modernização do Direito do Trabalho,

é necessário registrar que os países que vêm adotando-a,

como, por exemplo, no continente europeu, o Estado

continua intervindo para assegurar direitos mínimos

fundamentais do cidadão. Ademais, lá existe um

sindicalismo forte, reconhecido e prestigiado pelo próprio

Estado.

(...)

No Brasil, entretando, vivemos uma situação totalmente

adversa, com um sindicalismo, em grande parte, ainda

muito incipiente e incapaz de bancar importantes

conquistas trabalhistas, além do que está previsto em lei.”44

44 AMARAL. op. cit., p.51, 2001

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59

Os teores normativos das leis e das convenções podem

ser o mesmo e o que irá determinar a aplicabilidade de uma ou outra são

as regras da norma mais benéfica.

“o estado não já meramente tolera a existência de

convenções, mas reconhece-as explicitamente como fonte

do Direito, junto às dele emanadas, hierarquizando-as junto

a elas e impondo seu cumprimento como norma, dotando,

assim, a Convenção de eficácia normativa (...)”45

Na hierarquia a lei está colocada acima da

Convenção, por regra, não podem estabelecer normas que diminuam os

direitos previstos em lei, salvo se ela permitir. Mas essa postura hierárquica

é suprimida quando dá lugar a norma mais favorável, fazendo desta

maneira a prevalência de pactos coletivos, inferiores hierarquicamente,

prevalecendo sobre leis dotada de toda sua pujança por sua origem

estatal.

3.2 ANÁLISE NORMATIVA

3.2.1 Constituição Cidadã

A Constituição Promulgada em 1988, conhecida

também como a “Constituição Cidadã” ocorre num contexto em que o

país saia do regime militar. Ela vem desta forma fortalecer os direitos

sociais e políticos, direitos estes que haviam sofrido restrições na ditadura.

O presidente da Assembléia Constituinte, Ulisses Guimarães, no discurso de

promulgação da Constituição de 1988, declarou: “Temos ódio à ditadura.

Ódio e nojo”.

É pela primeira vez que uma Constituição já traz em

seu texto a possibilidade de reformas que começam a ser votada pelo

Congresso Nacional a partir de 1992, adequaram cada vez mais o País as

45 OLEA, Manuel Alonso. Introdução ao direito do trabalho, p.403. 1997

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regras econômicas do mercado internacional.

Na Constituição Federal de 1988, dentro do “Título II”

sobre “Dos Direitos Sociais” encontramos elencados em vários incisos a

disposição da Convenção Coletiva de Trabalho como modo modificativo

da relação contratual de trabalho.

Os juristas brasileiros entendem que a flexibilização não

poderá ser feita sobre direitos mínimos assegurados constitucionalmente

ao trabalhador, salvo quando a própria Lei Maior a permitir, como nos

incisos VI, XIII, XIV do art. 7º da Constituição Federal.

“Art. 7º (CF/88) - São direitos dos trabalhadores urbanos e

rurais, além de outros que visem à melhoria de sua

condição social:

(...)

VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em

Convenção ou Acordo Coletivo;

(...)

XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas

diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a

compensação de horários e a redução da jornada,

mediante acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho;

XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em

turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação

coletiva;

(...)

XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos

de trabalho;

(...)”

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A Carta Magna também dispõe da participação dos

empregados na gestão da empresa com a participação dos lucros.

O artigo 7º da Constituição Federal disserta que a

participação nos ganhos e participação na gestão da empresa é feita de

forma excepcional, na forma da lei. A norma constitucional suprimiu a

integração do empregado no crescimento da empresa, apesar de ser de

ordem imediata, depende de lei para ser instituída. Da mesma forma o §

4º do artigo 218 da Carta Magna, faz referencia ao apoio da lei que

estimulará as empresas na participação do empregado em ganhos

econômicos resultantes da sua produtividade.

“Art. 7º (CF/88) - São direitos dos trabalhadores urbanos e

rurais, além de outros que visem à melhoria de sua

condição social:

XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da

remuneração, e, excepcionalmente, participação na

gestão da empresa, conforme definido em lei;

Art. 218 CF. O Estado promoverá e incentivará o

desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação

tecnológicas.

§ 4º - A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam

em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País,

formação e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e

que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao

empregado, desvinculada do salário, participação nos

ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu

trabalho.”

O Capítulo dos Direito Sociais apresenta a obrigatoriedade dos

sindicatos a participarem das negociações coletivas devido à importância

social que o eles exercem. Os sindicatos são entidades privadas, não

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pertencentes ao Estado, sendo a Convenção Coletiva criada no âmbito

privado.

“Art. 8º (CF/88) - É livre a associação profissional ou sindical,

observado o seguinte:

(...)

VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas

negociações coletivas de trabalho;

(...)”

É inegável que as negociações servem como

mecanismos para tentar desafogar o judiciário, devido ao grande número

de processos. Mas são em vão quando não sanam os conflitos, sendo

obrigados, a apreciação do judiciário para dirimir as controvérsias e

soluções.

“Art. 114 (CF/88) - Compete à Justiça do Trabalho processar

e julgar:

(...)

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação

coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de

comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza

econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o

conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de

proteção ao trabalho, bem como as convencionadas

anteriormente.”

Dentro dos princípios de flexibilização e da autonomia

privada coletiva consagrados pela Constituição Federal, confere mais

liberdade para negociar aos sindicatos e as entidades patronais.

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Dinâmica que o Legislativo não consegue acompanhar com suas edições

de leis, não podendo atender à multiplicidade de casos decorrentes da

relação trabalhista.

O princípio da norma mais favorável ao trabalhador

não é absoluto. Temos dois casos ou exceções resultantes de imperativos.

A primeira ocorre diante de leis proibitivas, sendo que, o Estado através de

lei pode vedar outras normas jurídicas sendo a Convenção Coletiva

inaplicável por contrariar a lei. Ocorre quando o Estado fixa norma relativa

à política salarial e indexação da economia impedindo estipulações

contrárias nas negociações coletivas. O segundo caso ocorre diante de

leis de ordem pública na sua função de garantia maior da Sociedade,

não sendo sua proibição necessariamente expressa.

3.2.2 Consolidação das Leis do Trabalho – CLT

A Norma Constitucional Hierarquicamente em grau a

Norma Constitucional a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, dispõe

sobre as Convenções Coletivas de Trabalho em seus artigos 611 a 625.

Analisaremos alguns dos artigos citados.

O artigo 612 da CLT não faz menção a escrutínio

secreto e para sua celebração devemos verificar sua deliberação de

Assembléia Geral, verificando em primeira convocação, por maioria de

2/3 dos mesmos, ou, em segunda convocação com quorum de 1/3.

“Art. 612 (CLT) - Os Sindicatos só poderão celebrar

Convenções ou Acordos Coletivos de Trabalho, por

deliberação de Assembléia Geral especialmente

convocada para êsse fim, consoante o disposto nos

respectivos Estatutos, dependendo a validade da mesma

do comparecimento e votação, em primeira convocação,

de 2/3 (dois terços) dos associados da entidade, se se tratar

de Convenção, e dos interessados, no caso de Acordo, e,

em segunda, de 1/3 (um terço) dos mesmos.

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64

Parágrafo único. O "quorum" de comparecimento e

votação será de 1/8 (um oitavo) dos associados em

segunda convocação, nas entidades sindicais que tenham

mais de 5.000 (cinco mil) associados.”

As Convenções Coletivas de Trabalho são formadas

pelas cláusulas normativas e obrigacionais. As primeiras correspondem às

condições de trabalho, e as segundas concernentes às obrigações entre

as partes convenentes, ou seja, os sindicatos pactuantes. Uma cláusula

que prevê multa ao sindicato pelo descumprimento de uma a

Convenção tem caráter obrigacional, ao passo que, uma cláusula que

assegura aumento salarial para a categoria tem caráter normativo.

As cláusulas obrigacionais por sua vez podem ser

típicas que corresponde o dever de paz e de influencia, e atípicas que

tratam de mecanismo de administração da Convenção Coletiva. Uma

infringência por meio de greve é clausula típicas e quanto à instituição de

comissão de dirimir controvérsias é clausula atípica da Convenção

Coletiva de Trabalho.

O artigo 613 da CLT contém as relações de clausulas

que deve conter as Convenções Coletivas de Trabalho sendo esta

relação meramente exemplificativa, podendo ser incluída quantas

cláusulas que se achem necessário na negociação coletiva.

Exemplificativa, mas necessários para que os mesmos tenham validade

jurídica.

“Art. 613 - As Convenções e os Acordos deverão conter

obrigatoriamente:

I - Designação dos Sindicatos convenentes ou dos Sindicatos

e emprêsas acordantes;

II - Prazo de vigência;

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65

III - Categorias ou classes de trabalhadores abrangidas pelos

respectivos dispositivos;

IV - Condições ajustadas para reger as relações individuais

de trabalho durante sua vigência;

V - Normas para a conciliação das divergências sugeridas

entre os convenentes por motivos da aplicação de seus

dispositivos;

VI - Disposições sobre o processo de sua prorrogação e de

revisão total ou parcial de seus dispositivos;

VII - Direitos e deveres dos empregados e empresas;

VIII - Penalidades para os Sindicatos convenentes, os

empregados e as empresas em caso de violação de seus

dispositivos.

Parágrafo único. As convenções e os Acordos serão

celebrados por escrito, sem emendas nem rasuras, em

tantas vias quantos forem os Sindicatos convenentes ou as

empresas acordantes, além de uma destinada a registro.”

A parte normativa é sem dúvida a parte mais

significativa e atende os interesses históricos – sociais, sendo sua finalidade

geral e ampla, que na prática objetiva-se basicamente pelo salário, a

jornada de trabalho e as férias.

A parte obrigacional exerce uma função ampliativa e

extensiva da Convenção Coletiva, delatar sua competência para além

da parte exclusivamente pertinente ao contrato de trabalho. No aspecto

obrigacional a liberdade contratual das associações coincide com sua

autonomia individual.

A Convenção Coletiva de Trabalho cria obrigação de

onerar prevendo diretos e obrigações para os contratos individuais e

comportando-se mais como lei do que contrato. É previsto na CLT prazo

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para sua assinatura, vigência, modos de divulgação. O prazo máximo de

vigência das Convenções Coletivas de Trabalho é de dois anos,

prorrogável por igual período.

“Art. 614 - Os Sindicatos convenentes ou as empresas

acordantes promoverão, conjunta ou separadamente,

dentro de 8 (oito) dias da assinatura da Convenção ou

Acordo, o depósito de uma via do mesmo, para fins de

registro e arquivo, no Departamento Nacional do Trabalho,

em se tratando de instrumento de caráter nacional ou

interestadual, ou nos órgãos regionais do Ministério do

Trabalho e Previdência Social, nos demais casos.

§ 1º As Convenções e os Acordos entrarão em vigor 3 (três)

dias após a data da entrega dos mesmos no órgão referido

neste artigo.

§ 2º Cópias autênticas das Convenções e dos Acordos

deverão ser afixados de modo visível, pelos Sindicatos

convenentes, nas respectivas sedes e nos estabelecimentos

das empresas compreendidas no seu campo de aplicação,

dentro de 5 (cinco) dias da data do depósito previsto neste

artigo.

§ 3º Não será permitido estipular duração de Convenção ou

Acordo superior a 2 (dois) anos.”

Para ter vigência, Convenções Coletivas devem ser

depositadas na Delegacia Regional do Trabalho – DRT. O deposito é

meramente administrativo, vedado pela norma constitucional a

interferência na atividade sindical (artigo 8, I, da CF), sendo sua vigência

contada pela mera entrega.

O deposito é para fins de registro, arquivamento e

publicidade, ficando a disposição de qualquer pessoa que compareça

naquela repartição publica e requisitar cópias.

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“Art. 615 - O processo de prorrogação, revisão, denúncia ou

revogação total ou parcial de Convenção ou Acordo ficará

subordinado, em qualquer caso, à aprovação de

Assembléia Geral dos Sindicatos convenentes ou partes

acordantes, com observância do disposto no art. 612.

§ 1º O instrumento de prorrogação, revisão, denúncia ou

revogação de Convenção ou Acordo será depositado para

fins de registro e arquivamento, na repartição em que o

mesmo originariamente foi depositado observado o disposto

no art. 614.

§ 2º As modificações introduzidos em Convenção ou

Acordo, por força de revisão ou de revogação parcial de

suas cláusulas passarão a vigorar 3 (três) dias após a

realização de depósito previsto no § 1º.”

Da mesma forma da Convenção Coletiva, o

instrumento de prorrogação, revisão, denúncia ou revogação da norma

coletiva será depositado até oito dias na mesma repartição em que a

original foi arquivada, para fins de registro, arquivamento e publicidade,

ficando a disposição de qualquer pessoa que compareça naquela

repartição publica.

A negociação é fundada na autonomia privada

coletiva visando um procedimento mais simples, ágil, sem muitos tramites

comparados a de elaboração legislativa. A descentralização atende as

peculiaridades das partes sendo um instrumento de aceitação plena pelo

interessados. Em primazia na negociação da norma coletiva devemos

destacar que as partes devem agir de boa-fé, tendo disciplina e respeito,

garantido liberdade para exposição de idéias.

Frustrada pela recusa da negociação coletiva, cabe a

DRT convocar as partes para negociação, não aplicando nenhuma

penalidade para quem descumpriu.

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Os dissídios de natureza econômicas decorrente do

parágrafo 4 do artigo 616 da CLT, do artigo 2 e do artigo 114 da

Constituição Federal, donde verificamos respectivamente o pressuposto

da negociação prévia e da competência da justiça do trabalho para

conciliar e julgar os dissídios coletivos.

“Art. 616 (CLT) - Os Sindicatos representativos de categorias

econômicas ou profissionais e as empresas, inclusive as que

não tenham representação sindical, quando provocados,

não podem recusar-se à negociação coletiva.

§ 1º Verificando-se recusa à negociação coletiva, cabe aos

Sindicatos ou empresas interessadas dar ciência do fato,

conforme o caso, ao Departamento Nacional do Trabalho

ou aos órgãos regionais do Ministério do Trabalho e

Previdência Social, para convocação compulsória dos

Sindicatos ou empresas recalcitrantes.

§ 2º No caso de persistir a recusa à negociação coletiva,

pelo desatendimento às convocações feitas pelo

Departamento Nacional do Trabalho ou órgãos regionais do

Ministério de Trabalho e Previdência Social, ou se malograr a

negociação entabolada, é facultada aos Sindicatos ou

empresas interessadas a instauração de dissídio coletivo.

§ 3º - Havendo Convenção, Acordo ou sentença normativa

em vigor, o dissídio coletivo deverá ser instaurado dentro

dos 60 (sessenta) dias anteriores ao respectivo termo final,

para que o novo instrumento possa ter vigência no dia

imediato a esse termo.

§ 4º - Nenhum processo de dissídio coletivo de natureza

econômica será admitido sem antes se esgotarem as

medidas relativas à formalização da Convenção ou Acordo

correspondente.”

A hierarquia das normas trabalhista deve observar a

regra mais favorável, aplicando-se as disposições mais benéficas. Desta

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forma a negociação coletiva que dispõe mais benefícios sobre o contrato

individual prevalece tanto de forma hierárquica como pela regra mais

favorável.

“Art. 619 (CLT) - Nenhuma disposição de contrato individual

de trabalho que contrarie normas de Convenção ou

Acordo Coletivo de Trabalho poderá prevalecer na

execução do mesmo, sendo considerada nula de pleno

direito.

Art. 620. As condições estabelecidas em Convenção

quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas

em Acordo.”

Mesmo dispondo da regra mais favorável devemos ter

em pauta a orientação do enunciado 277 do TST, onde verificamos que as

normas coletivas vigoram no prazo assinado, não integrando de forma

definitiva os contratos individuais.

O artigo 621 da CLT induz a participação nos lucros da

empresa que seja permitida e estabelecida pela Convenção Coletiva,

readequando as peculiaridades da empresa. A participação é uma forma

de complementação do salário, um pagamento condicionado na

ocorrência de lucros da empresa. Atualmente temos a lei 10.101/2000

prevendo a participação nos lucros e resultados da empresa, dando

ciência de que o pagamento não tem natureza salarial.

“Art. 621 (CLT) - As Convenções e os Acordos poderão incluir

entre suas cláusulas disposição sobre a constituição e

funcionamento de comissões mistas de consulta e

colaboração, no plano da empresa e sobre participação,

nos lucros. Estas disposições mencionarão a forma de

constituição, o modo de funcionamento e as atribuições

das comissões, assim como o plano de participação,

quando for o caso.”

As cláusulas da Convenção Coletiva são incorporada

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no contrato de trabalho sendo indevido e sancionado por multa as

clausulas do contrato individual contrarias.

“Art. 622 (CLT) - Os empregados e as empresas que

celebrarem contratos individuais de trabalho,

estabelecendo condições contrárias ao que tiver sido

ajustado em Convenção ou Acordo que lhes for aplicável,

serão passíveis da multa neles fixada.

Parágrafo único. A multa a ser imposta ao empregado não

poderá exceder da metade daquela que, nas mesmas

condições seja estipulada para a empresa.”

Dentro da CLT que dispõe sobre as Convenções

Coletivas de Trabalho existem dois momentos que verificamos a

interferência do estado, no primeiro, com seu poder disciplinar impõe

multa aos que não cumprirem a negociação coletiva e no segundo caso

integra o artigo 616, parágrafo 4 da CLT de onde se admite o dissídio

coletivo. A convocação do DRT que confere o artigo 616 parágrafo 2 da

CLT, para as partes negociarem representa mera convocação, não

impondo nenhuma penalidade para os que não comparecerem.

Conforme Octavio Bueno Magano, observância

quanto à condição mais favorável está sofrendo contrate com a crise

econômica, sendo que, em conflito com a política econômica –

financeira ou salarial do governo torna-se ineficaz, característica

apontada pelo artigo 623 da CLT.

“Art. 623 (CLT) - Será nula de pleno direito disposição de

Convenção ou Acordo que, direta ou indiretamente,

contrarie proibição ou norma disciplinadora da política

econômico-financeira do Governo ou concernente à

política salarial vigente, não produzindo quaisquer efeitos

perante autoridades e repartições públicas, inclusive para

fins de revisão de preços e tarifas de mercadorias e

serviços.

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Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, a nulidade será

declarada, de ofício ou mediante representação, pelo

Ministro do Trabalho e Previdência Social, ou pela Justiça do

Trabalho em processo submetido ao seu julgamento.

Art. 624. A vigência de cláusula de aumento ou reajuste

salarial, que implique elevação de tarifas ou de preços

sujeitos à fixação por autoridade pública ou repartição

governamental, dependerá de prévia audiência dessa

autoridade ou repartição e sua expressa declaração no

tocante à possibilidade de elevação da tarifa ou do preço

e quanto ao valor dessa elevação.”

O papel flexibilizador da norma constitucional através

da Convenção Coletiva de Trabalho vem garantir varias vantagens para

a classe trabalhadora organizada, mas, excepcionalmente, nada impede

que venha a cumprir como redutor de vantagens. Verificamos que na

maioria das vezes as negociações coletivas de trabalho vêm assegurar as

condições profissionais frente às crises econômicas, vindas oras reduzindo

salários, oras reduzindo jornadas de trabalhos, surgindo naquele momento

como o mantenedor da garantia de emprego. O prazo de vigência,

revisão e revogação da negociação coletiva possibilitam a readequação

dos direitos frente a oscilações econômicas.

Quanto ao artigo 625 da CLT somente serão apreciadas pela Justiça

do Trabalho às controvérsias decorrentes das normas coletivas relativas às

condições de trabalho e relações entre empregado e empregador.

“Art. 625 (CLT) - As controvérsias resultantes da aplicação

de Convenção ou de Acordo celebrado nos termos deste

Título serão dirimidas pela Justiça do Trabalho.”

Temos também a disposição da Lei n. 8.984 que

compete a Jústiça do Trabalho quando existir dissídios decorrentes da

negociação coletiva, ou seja, entre os sindicatos, estes e empregadores

ou trabalhador.

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3.3 JURISPRUDENCIA

Jurisprudência é o conjunto de soluções dadas às

questões de direito, sobre um mesmo caso característico, prolatados em

modo reiterado e constante, por órgão jurisdicional colegiado, num

mesmo foro ou Justiça. Os órgãos colegiados são da Justiça Trabalho os

Tribunais Regionais do Trabalho e o Tribunal Superior do Trabalho.

As ações oriundas da relação de trabalho, as ações

que envolvam o direito de Greve e a representação sindical entre outra

alencadas no artigo 114 da Constituição Federal de 1988, é de

competência da justiça do trabalho.

Ementa: AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE CONVENÇÃO

COLETIVA DE TRABALHO. COMPETÊNCIA. É da Justiça do

Trabalho a competência para processar e julgar ação de

cumprimento de CCT, movida pelo sindicato contra a

empresa, situação que, se não era clara diante da

interpretação do artigo 114 da Constituição Federal, ficou

esclarecida com a edição da Lei nº 8.984, de 7 de fevereiro

de 1995. Acórdão 2813/1997 - Juiz Cesar Nadal Souza -

Publicado no DJ/SC em 07-04-1997, página: 177. Processo: Nº: RO -V 008309/1995

O limite da vigência da Convenção Coletiva transita

entre a definição da lei e a previsão da norma coletiva. Tanto ao

cumprimento de uma obrigação ou a proibição a certa conduta se dá ao

tempo a ação da norma que está em vigor. A estabilidade do emprego e

a retroatividade não são presumíveis, precisando ser expressa na norma

negociada. [Lopes p.214]

Ementa: CONVENÇÃO COLETIVA. VIGÊNCIA. Dispõe o art.

613 da CLT, entre outras obrigatoriedades, que as

convenções e acordos deverão dispor quanto ao prazo de

vigência. Transcorrido o prazo, as cláusulas neles insertas

deixam de ter eficácia. Acórdão 1563/1999 – TRT – 12a Reg. –

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Juiz Dilnei Ângelo Biléssimo - Publicado no DJ/SC em 03-03-1999, página: 211. Nº: RO -VA 006427/1998

Quanto à compensação de jornada em trabalhos

insalubres através da negociação coletiva, dispensa-se a inspeção prévia

da autoridade competente em matéria de higiene do trabalho, conforme

matéria sedimentada jurisprudencial com a edição do enunciado n.

349/TST. A Constituição Federal de 1988 exige somente que seja estipulado

em Acordo ou Convenção Coletiva para a validade do regime de

compensação.

Ementa: BANCO DE HORAS. TRANSPARÊNCIA NAS REGRAS

ATINENTES À SUA EXECUÇÃO. O acordo de flexibilização de

jornada de trabalho encontra respaldo na própria

Constituição da República, que, em seu art. 7º, inciso XIII,

fixa o módulo de 44 horas semanais de trabalho, mas

também faculta as compensações de horário, mediante

acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho. Não obstante,

a compensação da jornada constitui exceção à regra geral

de pagamento das horas que extrapolam o limite legal.

Como exceção que é, e a fim que se reconheça validade

ao regime do banco de horas, impõe-se a indicação

precisa das diretrizes que deverão ser observadas quando

da adoção do sistema, não havendo como relegar ao

arbítrio da empresa a definição dos critérios atinentes ao

prazo de apuração e fechamento do banco de horas,

limite de extrapolamento da jornada, proporção das horas

compensadas com aquelas trabalhadas, dentre outros.

Assim, não havendo transparência na definição das regras

relativas à execução do banco de horas, impõe-se

reconhecer sua invalidade. Acórdão 3280/2006 – TRT – 12a

Reg. - Juíza Gisele P. Alexandrino - Publicado no DJ/SC em

17-03-2006, página: 309. Processo: Nº: 00708-2004-020-12-00-1

Ementa: JORNADA DE COMPENSAÇÃO. VALIDADE.

Existindo previsão em Convenção Coletiva de Trabalho para

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a adoção do regime de compensação de horários de 12 x

36 horas, encontra-se satisfeita a previsão legal inserida no

inciso XIII do artigo 7º da CF, sendo indevido o pagamento,

como extras, das horas laboradas além da oitava diária. Acórdão 1182/2006 – TRT – 12a Reg. - Juíza Lourdes Dreyer - Publicado no DJ/SC em 31-01-2006, página: 255. Processo: N:00841-2004-016-12-009

Quanto à política salarial, as alterações introduzidas na

ordem econômica de alcance geral podem afetar as vigências das

normas coletivas, alterando as circunstâncias básicas em que foram

negociadas, ou extirpando a ordem jurídica em que se baseava algum

dos dispositivos. Mas se na realidade fática a norma coletiva não for

contra o interesse do Estado quanto à política salarial, deve ser manter os

reajustes que da negociação coletiva.

Ementa: CELESC. CONCESSÃO DE REAJUSTES SALARIAIS

PREVISTOS NOS AJUSTES COLETIVOS COM A FINALIDADE DE

QUITAR AS PROMOÇÕES ESTABELECIDAS EM PLANO DE

CARGOS E SALÁRIOS. VALIDADE DA NEGOCIAÇÃO. Ainda

que a CELESC tenha implementado por meio de plano de

cargos e salários a concessão de promoções horizontais por

antigüidade e por merecimento, bem como verticais, não

há falar em pagamento de diferenças nesse particular,

tendo em vista que a entidade sindical representante dos

funcionários da empresa negociou acerca dessas

promoções por meio de reajustes salariais devidamente

concedidos. Trata-se de prestigiar as negociações coletivas

que devem prevalecer com respaldo na Constituição

Federal (art. 7º, inc. XXVI). Acórdão 3657/2006 – TRT – 12a Reg

- Juíza Lília Leonor Abreu - Publicado no DJ/SC em 28-03-2006, página: 387. Processo: Nº: 08651-2004-001-12-00-0

No terreno da flexibilização a quem a constituição

federal de 1988 abriu espaço para entendimento reclama-se uma

flexibilidade normativa, a jurisprudência vem afirmando, conforme José

Torjálio do Amaral:

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“EMENTA – INSTURMENTOS NORMATIVOS – TEORIA DA FLEXIBILIZAÇÃO – A proteção dos trabalhadores não se

faz apenas pela imposição da observação regidas aos

preceitos de leis, que regem as relações de emprego,

mas sobretudo pela proteção de seu maior direito, que

é o Direito ao Trabalho, sendo está a tendência de

pensamento universal consubstanciada na Teoria da

Flexibilização.(TRT 3a R – RO 10,056/94 – 1a T. – Rel. Juiz

Paulo Roberto Sifuentes Costa 0 DJMG 14.10.1994.”46

A Convenção Coletiva vem a ser um instrumento da

flexibilização, onde os trabalhadores representados pelos sindicatos, como

agente nas negociações, vão definir as condições desta flexibilização.

A jurisprudência está sempre discernindo sobre conflitos

ainda não resolvidos, isso faz com que se amplie e renove a norma. Como

dito anteriormente, a lei já está flexibilizada. A jurisprudência vem dar

soluções a casos concretos não bem definidos na lei, ou onde podem

existir várias interpretações, verificando se a flexibilização sugerida pelos

convenientes não fere as garantias mínimas dos trabalhadores e não

extrapolem a parâmetros regulamentares da lei.

46 AMARAL, op. cit., 2001. p.43.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de monografia visa a conclusão do curso

em bacharel em direito. Tem como tema à Convenção Coletiva de

Trabalho como Proteção do Direito do Trabalho.

No projeto foram levantadas duas hipóteses que foram

consideradas conclusivas.

A Convenção Coletiva é o meio para encontrar

soluções para os problemas funcionais das partes buscando um

entendimento satisfatório. Numa Convenção temos dois agentes, o

sindicato dos trabalhadores e o sindicato patronal, são partes contrárias

que buscam amenizar problemas bem definidos. Os patrões reduzem

custos com aumento da produtividade e da concorrência, os

trabalhadores garantem seus direitos e definem novas conquistas.

Como visto durante a pesquisa, este processo é uma

forma de resolver ou prevenir certos conflitos sociais, gerados pelo embate

direto entre as duas partes, sem a intervenção do Estado.

As flexibilizações nas negociações são garantidas pela

norma jurídica, que mantêm um limite para a mesma, mas se evidencia

que diante de um quadro de mudanças sociais tão díspares, onde o

desemprego impera, força a flexibilização das garantias mínimas do

trabalhador. A garantia da proteção trabalhista fica por conta de dois

fatores: a força de luta dos sindicatos durante a elaboração das

convenções e o mínimo estabelecido em lei. Hoje o sindicato não luta por

novas conquistas, mas para que seus direitos sejam garantidos.

Estes embates entre estas duas forças são

considerados problemas sociais. Frente à realidade social, como

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globalização, desenvolvimento tecnológico, concorrências e outros

fatores já descritos no corpo do trabalho, figura a seguinte situação: As

empresas lutam para se manter no mercado, buscando vencer a

concorrência, baixando custos, que incluem mão-de-obra e

produtividade; os trabalhadores buscam estabilidade no emprego,

garantias das conquistas já estabelecidas e melhorias salariais que

garanta sua dignidade enquanto trabalhador. Estes problemas não

resolvidos são problemas sociais, a empresa que não consegue se

estabelecer no mercado gera desemprego, quanto aos trabalhadores,

sem garantias, sem emprego, gera um desconforto social. Tudo isso leva,

conseqüentemente a problemas sociais, o que não pertence ao escopo

deste trabalho.

Quanto a segunda hipótese podemos salientar que a

Convenção Coletiva vem a ser um instrumento da flexibilização, onde os

trabalhadores representados pelos sindicatos, como agente nas

negociações, vão definir as condições desta flexibilização. A

maleabilidade concedida pelas negociações coletiva é limitada pela

carta magna que proporciona a adaptabilidade do Direito do Trabalho às

varias situações econômicas sem ferir os direitos mínimos e ensejando

novas conquistas, ou garantindo o que já está estabelecido.

Conclui-se que frente à realidade social busca cada

vez mais garantir a sobrevivência das empresas, mesmo que para isso, seja

necessário reduzir garantias já concedidas ao trabalhador. Aliás, como já

discutido, as idéias neoliberais, tão defendidas pelo patronato, visualizam

uma flexibilização total, sem restrições e selvagem.

A flexibilidade, discutida nas convenções, por parte

dos empregados busca a garantias de seus direitos e mais reivindicações

concernentes a suas necessidade.

A quebra de garantia, objetivando a

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desregulamentação, tão apregoada por alguns, se torna irreal, porque as

convenções como flexibilização, confere ao trabalhador reivindicar

soluções mais plausíveis, cabendo a norma jurídica manter as garantias

mínimas pré-estabelecidas. O sindicato profissional luta em reprimir

neoliberalismo e estabelecer pelas convenções soluções contundente a

realidade atuais e profissionais, procurando desta forma o equilíbrio.

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REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

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ANEXOS