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Controlo Tolerante a Falhas baseado em Estratégias de Modelo Preditivo como Ferramenta para Melhoramento de Sistemas Flexíveis de Distribuição de Água em Canais de Distribuição de Água Pedro Simacek Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientadores: Prof. Miguel Afonso Dias de Ayala Botto Prof. João Miguel Lemos Chasqueira Nabais Júri Presidente: Prof. João Rogério Caldas Pinto Orientador: Prof. João Miguel Lemos Chasqueira Nabais Vogal: Prof. Duarte Pedro Mata de Oliveira Valério Novembro de 2014

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Controlo Tolerante a Falhas baseado em Estratégias de Modelo

Preditivo como Ferramenta para Melhoramento de Sistemas

Flexíveis de Distribuição de Água em Canais de Distribuição de Água

Pedro Simacek

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Orientadores: Prof. Miguel Afonso Dias de Ayala Botto

Prof. João Miguel Lemos Chasqueira Nabais

Júri

Presidente: Prof. João Rogério Caldas Pinto

Orientador: Prof. João Miguel Lemos Chasqueira Nabais

Vogal: Prof. Duarte Pedro Mata de Oliveira Valério

Novembro de 2014

Agradecimentos

A todos que ajudaram e conspiraram a favor deste trabalho,

Que apoiaram mais que os copos de café às piscadas de olhos,

Aos professores Miguel e João pelo suporte e oportunidade,

À Associação dos Beneficiários do Mira por todos os dados e preocupações,

À minha noiva, pelo apoio, amor e conhecimentos,

Aos meus pais, a quem devo tudo isso e mais.

Controle Tolerante a Falhas baseado em Estratégias de Modelo

Preditivo como Ferramenta para Melhoramento de Sistemas Flexíveis

de Distribuição de Água em Canais de Distribuição de Água

Abstract:

Control systems are increasingly embedded in new projects and renewals of water transport systems. Developed

under the Orchestra Project (PTDC/EMS-CRO/2042/2012), sponsored by Fundação para a Ciência e Tecnologia

(FCT), this work aims to create a benchmark for the improvement of several existing distribution water canal

control architectures. By working in a virtual environment, using the Vila Nova de Milfontes’ Irrigation Canal as

a base, two of the most widespread control architectures were design and, after a series of graphical and

numerical comparisons between different controllers, it was possible to develop a series of scenarios and

performance indicators for the evaluation of the developed controllers, as well as the determination of the action

zone limitation of the controllers. Therefore, it was possible to determine, for a given system, the best control

architecture to be implemented. The study shows that the created benchmark is in accordance with the

expectations, enabling a better choice of controllers for such systems.

Key-words: Classic Control, Faults Detection and Isolation, Fault Tolerant Control, Benchmark, Irrigation Canal,

Water Delivery Systems.

Resumo:

O Controle de Sistemas está cada vez mais incluído em novos projetos e renovações de sistemas de transporte

de água. Inserido no Projeto Orchestra (PTDC/EMS-CRO/2042/2012), patrocinado pela Fundação para a Ciência

e a Tecnologia (FTC), este trabalho visa a criação de um benchmark para o aprimoramento das diversas

arquiteturas de controle existentes para serem implementadas. Trabalhando-se em um ambiente virtual, usando

o Canal de Rega de Vila Nova de Milfontes como base, projetou-se as duas das arquiteturas de controle mais

difundidas para tais sistemas e, com isso, após uma série de comparações gráficas e numéricas entre os

controladores, foi possível desenvolver um conjunto de cenários e indicadores de desempenho para a avaliação

dos controladores desenvolvidos, bem como delimitou-se a zona de ação dos controladores, sendo então

possível determinar, para um dado sistema, a melhor arquitetura de controle a ser implementada. O estudo

mostra que o benchmark criado está de acordo com o esperado, possibilitando uma melhor escolha de

controladores para sistemas citados.

Palavras-chave: Controle Clássico, Detecção e Isolação de Falhas, Controle Tolerante a Falhas, Benchmark,

Canal de Rega, Sistemas de Transporte de Água.

I

Índice

1. Introdução ....................................................................................................... 1

1.1. Motivações .............................................................................................................................. 2

1.2. Revisão Literária ...................................................................................................................... 2

1.3. Contributo da Tese .................................................................................................................. 3

1.4. Descrição sumária da tese ....................................................................................................... 3

2. Sistemas de transporte de água ....................................................................... 5

2.1. Objetivos e desafios nos sistemas de controle de água .......................................................... 5

2.2. Modelação de sistemas de transporte de água ...................................................................... 6

2.3. Arquiteturas usuais de controle de sistemas de transporte de água ..................................... 7

2.3.1. Controle Local a Jusante (CLJ) ......................................................................................... 7

2.3.2. Controle Distante a Montante (CDM) ............................................................................. 8

2.4. Os controladores ..................................................................................................................... 9

2.5. Descrição de falhas ................................................................................................................ 10

3. Infraestrutura do canal gerido pela ABM ....................................................... 12

3.1. Descrição do Sistema ............................................................................................................ 12

3.1.1. Equipamento ................................................................................................................. 13

3.1.2. Procedimentos usuais na exploração da infraestrutura ............................................... 14

3.2. Descrição do Simulador ......................................................................................................... 15

3.2.1. Simplificações e Modificações ....................................................................................... 16

3.2.2. Utilização ....................................................................................................................... 18

4. Modelação e Controle.................................................................................... 19

4.1. Definição das Funções de Transferência ............................................................................... 19

4.1.1. Modelo Analítico ........................................................................................................... 19

4.1.2. Identificação do Sistema ............................................................................................... 21

4.1.3. Comparação entre os Modelos ..................................................................................... 22

4.2. Ajuste de Ganho das Funções ............................................................................................... 23

II

4.3. Sintonização dos Controladores PI ........................................................................................ 24

4.3.1. Anti-Wind Up ................................................................................................................. 25

4.3.2. CLJ .................................................................................................................................. 26

4.3.3. CDM ............................................................................................................................... 29

5. Resultados de Simulação................................................................................ 32

5.1. Descrição dos indicadores de desempenho .......................................................................... 32

5.1.1. Desvio do nível de referência ........................................................................................ 32

5.1.2. Desvio do consumo de água .......................................................................................... 33

5.1.3. Energia consumida ........................................................................................................ 34

5.2. Criação de testes padrões para avaliações das arquiteturas ................................................ 34

5.2.1. Tabela de Atrasos .......................................................................................................... 35

5.2.2. Cenários de extração ..................................................................................................... 36

5.3. Desempenho das arquiteturas .............................................................................................. 42

5.3.1. Desvio do consumo de água .......................................................................................... 42

5.3.2. Energia Consumida ........................................................................................................ 43

5.3.3. Desvio do nível de referência ........................................................................................ 45

5.3.4. Comparação entre os modelos ..................................................................................... 52

5.4. Análise do sistema perante a presença de falhas ................................................................. 53

6. Conclusões ..................................................................................................... 57

7. Bibliografia ..................................................................................................... 59

III

Índice de Figuras

Figura 1: Corte Transversal de um canal genérico. Adaptado de Litrico et. al. (2003). .......................... 6

Figura 2: Estrutura de controle CLJ ......................................................................................................... 7

Figura 3: Estrutura de controle CDM....................................................................................................... 8

Figura 4: Aspecto Geral do Controlador ................................................................................................ 10

Figura 5: Esquema Geral da Rede de Canais geridos pela ABM ............................................................ 12

Figura 6: Detalhe das comportas – (A) Comportas Controláveis dos Distribuidores – (B) Comportas do

Canal Principal – (C) Detalhe do escoamento lateral de água nas comportas principais ..................... 14

Figura 7: Aspecto Geral do Simulador ................................................................................................... 15

Figura 8: Gráfico da distribuição das tomadas de água nos quatro primeiros trechos do canal .......... 16

Figura 9: Gráficos das distribuições das tomadas de água implementadas no simulador ................... 16

Figura 10: Representação do segundo trecho do simulador dividido em setores................................ 17

Figura 11: Ensaios do Simulador e definições do modelo IDZ .............................................................. 20

Figura 12:Resposta à variação de caudal na entrada ............................................................................ 21

Figura 13: Resposta à variação de caudal de saída ............................................................................... 21

Figura 14:Níveis de água a jusante do primeiro teste de CLJ ................................................................ 27

Figura 15:Caudais das comportas e de entrada do primeiro teste de CLJ ............................................ 28

Figura 16:Elevação das Comportas do primeiro teste de CLJ ............................................................... 28

Figura 17:Níveis de água do primeiro teste de CDM ............................................................................ 30

Figura 18: Caudais das comportas e de entrada do primeiro teste CDM ............................................. 31

Figura 19: Elevação das comportas no primeiro teste de CDM ............................................................ 31

Figura 20: Linha do tempo de eventos do cenário SP ........................................................................... 36

Figura 21: Níveis de água a jusante de cada piscina do CDM no cenário SP ........................................ 37

Figura 22: Elevação das comportas do CDM no cenário SP .................................................................. 37

Figura 23: Caudais de admissão e nas comportas do CDM no cenário SP ............................................ 37

Figura 24: Linha do tempo de eventos do cenário SS ........................................................................... 38

Figura 25:Níveis de água a jusante de cada piscina do CDM no cenário SS .......................................... 38

Figura 26:Elevação das comportas do CDM no cenário SS ................................................................... 38

Figura 27:Caudais de admissão e nas comportas do CDM no cenário SS ............................................. 39

Figura 28:Linha do tempo de eventos do cenário EP ............................................................................ 39

Figura 29:Níveis de água a jusante de cada piscina do CDM no cenário EP ......................................... 39

Figura 30: Elevação das comportas do CDM no cenário EP .................................................................. 40

Figura 31:Caudais de admissão e nas comportas do CDM no cenário EP............................................. 40

IV

Figura 32:Linha do Tempo de eventos do cenário ES ........................................................................... 40

Figura 33:Níveis de água a jusante de cada piscina do CDM no cenário ES ......................................... 41

Figura 34: Elevação das comportas do CDM no cenário ES .................................................................. 41

Figura 35:Caudais de admissão e das comportas do CDM no cenário ES ............................................. 42

Figura 36: Indicador de desvio do consumo de água para a arquitectura CLJ ...................................... 42

Figura 37: Indicador de desvio do consumo de água para a arquitectura CDM ................................... 43

Figura 38: Indicador de consumo de energia para a arquitectura CLJ .................................................. 44

Figura 39: Indicador de consumo de energia para a arquitectura CDM ............................................... 44

Figura 40: Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CLJ para a piscina 1 ................................ 45

Figura 41: Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CLJ para a piscina 2 ................................ 46

Figura 42:Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CLJ para a piscina 3 ................................. 46

Figura 43:Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CLJ para a piscina 4 ................................. 46

Figura 44:Teste no cenário EP com amplitude -1 do CLJ....................................................................... 47

Figura 45:Teste no cenário SS com amplitude -1 do CLJ ....................................................................... 48

Figura 46: Teste no cenário ES com amplitude -1 do CLJ ...................................................................... 48

Figura 47: Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CDM para a piscina 1 ............................. 49

Figura 48:Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CDM para a piscina 2 .............................. 49

Figura 49:Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CDM para a piscina 3 .............................. 50

Figura 50: Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CDM para a piscina 4 ............................. 50

Figura 51: Teste no cenário SP com amplitude 1 do CDM .................................................................... 51

Figura 52: Detalhe do momento onde ocorre a saturação das saídas do CDM. ................................... 52

Figura 53:Teste com falha de comporta no cenário SS, amplitude 0,75 do CLJ ................................... 53

Figura 54:Teste com falha de comporta no cenário SS, amplitude 0,75 do CDM ................................ 54

Figura 55: Teste com falha de comporta no cenário SS, amplitude -0,75 do CDM .............................. 55

Figura 56:Teste com falha nas extrações no cenário SS, amplitude 1 do CLJ ....................................... 56

V

Índice de Tabelas

Tabela 1: Propriedades dos Troços do Canal de Milfontes ................................................................... 13

Tabela 2: Dados da extração de água nos trechos entre comportas .................................................... 13

Tabela 3: Parâmetros das Funções de Transferência pelo método IDZ ................................................ 20

Tabela 4:Parâmetros das Funções de Transferência pelo método IDZ em tempo Discreto ................. 20

Tabela 5: Parâmetros das Funções de Transferência pelo método de Identificação de Sistemas ....... 22

Tabela 6: Desvio Relativo entre os modelos ......................................................................................... 22

Tabela 7:Ganhos estáticos das comportas ............................................................................................ 24

Tabela 8: Parâmetros das funções de transferência finais ................................................................... 24

Tabela 9: Constantes dos controladores CLJ ......................................................................................... 27

Tabela 10: Constantes dos controladores CDM .................................................................................... 30

Tabela 11:Atrasos a montante e a jusante das tomadas de água em cada piscina .............................. 35

Tabela 12: Desvio máximo dos níveis obtidos nos testes do CDM em relação aos valores de referência

............................................................................................................................................................... 51

Tabela 13: Indicadores de desempenho para testes com falhas na comporta .................................... 54

Tabela 14: Comparação dos indicadores para os testes com falhas da comporta ............................... 55

Tabela 15: Indicadores de desempenho para testes com falhas de extração ...................................... 56

VI

Tabela de Siglas

IDZ Integrator Delay Zero

ARX Autoregressive with Exogenous Inputs

CLJ Controle Local a Jusante

CDM Controle Distante a Montante

ABM Associação de Beneficiários do Mira

FCT Fundação para a Ciência e a Tecnologia

1

1. Introdução

A água sempre é elencada como um dos componentes essenciais para a vida. Além da importância na

satisfação das necessidades corporais, os recursos hídricos são de grande valia para a humanidade, seja no auxílio

higiênico, nos processos alimentícios ou náuticos.

Um dos principais usos da água, desde o surgimento das primeiras civilizações, foi para a agricultura. Desde

a Mesopotâmia, as grandes civilizações vêm-se apropriando dos recursos hídricos naturais para suprir a produção

de alimentos e abastecimento de água para o povo, principalmente, e posteriormente desenvolver o

saneamento básico.

Por considerável tempo, a utilização da água tanto para consumo como para despejo de dejetos ocorria de

forma inconsequente. Foi ao desvencilhar, ou considerar meios de tratamento, das questões sanitárias dos

corpos de água, que o processo do uso da água para consumo em seu estado natural apresentou soluções de

transporte eficazes, possibilitando seu uso mesmo por populações distante de fontes naturais ou ainda com

escassez desse vital elemento.

A canalização da água foi uma das vias de grande importância para o surgimento das grandes cidades.

Contudo, com o êxodo rural causado pela industrialização em meados dos séculos XIX e XX, os processos agrícolas

de pequeno porte acabaram por dar lugar aos grandes latifúndios, o que culminou em uma necessidade hídrica

diferente às existentes nesta época.

Com isso houve o surgimento da demanda por água em localidades onde não havia fácil acesso, e o seu

transporte foi um dos grandes desafios para o contexto hídrico, pois a tecnologia e conhecimento neste ramo,

até então, não havia passado por grandes avanços do que era utilizado pelo povo Romano em seus milenares

aquedutos.

A construção de canais de irrigação no início do século XX disseminou-se pelas diferentes regiões de inúmeros

países, em diversos continentes – cada qual com suas diferenciações técnicas e tecnológicas – fazendo com que

o mapa hidrográfico de cada país sofresse consideráveis alterações. E esse feito deu-se, principalmente, para dar

vazão às necessidades dos latifundiários.

Inicialmente os canais de condução de água eram feitos de modo rústico. Na atualidade, os corpos de água

artificiais carregam tecnologias de ponta e incentivam cada vez mais pesquisas e investimentos nas áreas

hídricas. Sendo esse um ramo que, de início, era restrito aos poucos campos da engenharia, como a civil, hoje

engloba quase todos os ramos da engenharia.

Na engenharia mecânica, principalmente no que diz respeito à área voltada ao controle de sistemas, pode-

se destacar grande inovação sobre os processos de transporte de água, criando uma nova visão do que antes era

tido como um problema de origem civil. Hoje, cada canal passa por um rigoroso processo de personalização, com

a finalidade de se instaurar uma solução ótima ao local. Esse processo considera desde a complexidade dos

2

sistemas a serem implementados até as suas mais diversas peculiaridades, a considerar como base os

levantamentos socioeconômicos e ambientais que cada sistema precisa.

Visando estabelecer novas ferramentas de otimização mecânica para os sistemas de rega, o trabalho

desenvolvido nesta tese baseia-se no controle da ação das comportas do canal de Vila Nova de Milfontes, no

Alentejo Português, com a finalidade de explorar o melhor aproveitamento hídrico do mesmo, em uma série de

testes realizados em ambiente virtual.

1.1. Motivações

Os canais de rega em funcionamento no mundo hoje são, em suma, oriundos de décadas passadas, onde os

processos computacionais automatizados ainda não eram difundidos ao uso em qualquer projeto a ser realizado,

o que coloca grande parte dos canais de irrigação atuais em defasagem tecnológica com o que está disponível

no mercado.

Além disso, é de senso comum, atualmente, que a água não é um recurso renovável, sendo a mesma um

elemento impossível de ser reposto em caso de escassez. As questões ambientais abriram uma nova mentalidade

para seu consumo, sendo o desperdício uma falta grave em qualquer uso que se dá a água.

O projeto Orchestra, realizado em conjunto com as equipas de investigação do IDMEC-IST, NuHCC-Évora,

INESC-ID, ISR, ABM e patrocinado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, propõe o estudo, suporte,

aprimoramento, renovação e desenvolvimento de tecnologias para diversos canais de rega em Portugal.

Esta dissertação inseriu-se no projeto Orchestra com a finalidade de estudar, em um ambiente virtual

previamente elaborado, possíveis mudanças na arquitetura das comportas e do sistema de controle das mesmas

no Canal de Vila Nova de Milfontes, gerenciado pela Associação dos Beneficiários do Mira (ABM), com a

finalidade de promover um melhor gerenciamento dos recursos hídricos do canal, evitando desperdícios tanto

nas condições normais de operação quanto em casos de falhas do sistema.

1.2. Revisão Literária

O projeto baseia-se em ambientes de MatLab e Simulink, principalmente no simulador desenvolvido no

âmbito do referido Projeto Orchestra.

Inicialmente, para o desenvolvimento dos controladores deste estudo, definiu-se o sistema físico por detrás

do canal, seguindo o trabalho proposto por Nabais et. al. (2011), que fornece o modelamento utilizado pelo

simulador bem como noções gerais do modelamento de canais, e Litrico e Fromion (2004), com a proposta do

modelo IDZ, considerado um meio mais simples e preciso de modelar o sistema.

3

Como ponto de partida para a definição dos controladores, foram estudados os trabalhos de Litrico et. Al.

(2003) e Ooi e Weyer (2008), ambos trabalhos fundados nas premissas do controle clássica que serviram como

inspiração e fundamentação para os controladores elaborados, bem como, de modo mais específico, o trabalho

de Bohn e Atherton (1998), Ghoshal e John (2010) e Li, Park e Shin (2007), todos tratando sobre métodos de

como trabalhar com a saturação do controlador, melhorando sua performance.

Após a definição dos controladores, o estudo de Nabais, Mendonça e Botto (2013) foi inspiração para o

entendimento e aplicação de possíveis falhas no sistema.

Além disso, consultou-se o sitio da MathWorks para avaliação de funcionalidades e opções de funções para

o melhor uso das ferramentas de MatLab e Simulink.

1.3. Contributo da Tese

Visando um melhor aproveitamento hídrico de canais de rega, o trabalho inspira-se no Canal de Vila Nova de

Milfontes para criar uma metodologia de controle de comportas almejando o menor desperdício de água

possível, bem como o estabelecimento dos limites de atuação em cada cenário provável que um canal poderia

enfrentar.

O trabalho realizado, contribuindo da forma prevista, oferece uma alternativa para o planejamento de futuras

modificações no sistema de controle e nas comportas para o Canal de Rega de Vila Nova de Milfontes. O

desenvolvimento das arquiteturas de Controle Distante a Montante (CDM) e Controle Local a Jusante (CLJ) e a

comparação dos seus desempenhos corrobora com um posicionamento sobre as vantagens e desvantagens

destas arquiteturas, bem como com a criação de um benchmark para futuros testes de eficiência destes sistemas.

1.4. Descrição sumária da tese

O objetivo deste estudo foi a comparação das metodologias clássicas de controle de sistemas flexíveis de

entrega de água em canais de rega, sendo desenvolvidos, testados e ambientados no simulador em Simulink do

Canal de Milfontes, afim de criar um benchmark para novos modelamentos.

Para alcançar tal objetivo, o estudo dos sistemas hídricos envolvidos foi de vital importância. Primeiramente,

houve o estudo das leis que se baseou o simulador (foco deste estudo), bem como, em continuação, a definição

das funções de transferência do próprio simulador. Para tal, duas metodologias distintas foram usadas: um modo

teórico, inspirado na teoria proposta por Litrico e Fromion (2004), e um modo mais prático, fazendo a

identificação do sistema por via de testes realizados no simulador.

4

Com a definição desses parâmetros, obtendo-se uma função de transferência para cada trecho do canal,

houve a fase de definição dos diversos controladores e suas propriedades. Após definidas as especificações de

cada controlador (margem de ganho e fase), os mesmos foram sincronizados utilizando as ferramentas

disponíveis nas bibliotecas do MatLab.

Por fim, estabeleceu-se uma tabela de atrasos, que fornece dentro desse âmbito, os espaçamentos entre a

abertura de uma tomada de água e a percepção desta perturbação nas comportas – a montante e a jusante da

referida tomada. Tal tabela proporcionou a criação dos testes padrões que os diversos modelos foram

submetidos, a fim de comparar sua eficácia bem como seus limites de ação, criando, assim, o benchmark.

Os testes foram realizados, cada método de controle foi avaliado e comparado, bem como preparado para

uma repetição. Na sequência foram submetidos aos mesmos avaliadores em situações onde houvessem falhas

diversas no sistema.

Com isso, pode-se comprovar a eficácia dos controladores na hipótese inicial de se controlar sistemas de

demanda flexível de água, de um modo sem desperdícios e com baixo consumo energético, mesmo sobre ações

adversas e imprevisíveis no sistema.

Este documento encontra-se dividido em seis capítulos, a saber:

• Capítulo 1: Apresenta-se uma visão geral do trabalho e sua contextualização.

• Capítulo 2: Define-se as premissas que envolvem os sistemas de transporte de água, bem como os

controladores utilizados no trabalho.

• Capítulo 3: Apresentação do Canal de Vila Nova de Milfontes e o Simulador utilizado para a

realização dos testes.

• Capítulo 4: Expõe os resultados obtidos pela sintonização dos controladores, bem como o processo

de obtenção destes.

• Capítulo 5: Destina-se à explicação dos cenários criados aos quais as arquiteturas de controle

desenvolvidas foram submetidas, bem como os indicadores que avaliaram o desempenho destas.

Os resultados dos testes também são mostrados nesta parte.

• Capítulo 6: Conclusão do trabalho e considerações finais.

5

2. Sistemas de transporte de água

Sistemas de transporte de água podem ser divididos em dois grupos: os canais abertos e os canais fechados.

Os canais fechados, tais quais os sistemas de serviços de água para uma cidade, transportam-na por meio de

dutos fechados, com pressão variável e, assim, com maior controle dos parâmetros do escoamento. No caso de

estudo, o Canal de Vila Nova de Milfontes é aberto, onde a superfície da água está exposta ao ambiente, sendo,

então, o escoamento do fluido regido pelas equações de Saint-Venant e pelas propriedades geométricas e

hidráulicas do canal.

2.1. Objetivos e desafios nos sistemas de controle de água

Para um eficiente controle de corpos de água, tem-se por parâmetros a sua capacidade de atender a

demanda dos consumidores, bem como a preservação ambiental. Atender a demanda inclui não apenas a

manutenção das águas para as saídas padrões, definidas no projeto inicial do canal, bem como as possíveis falhas

na qual o canal estará sujeito com o passar do tempo. No âmbito ambiental, a eficiência do controle depende do

mínimo desperdício de água, fazendo assim o seu uso consciente.

O método mais utilizado para cumprir com os objetivos do controle hídrico é fixando-se valores de referências

aos níveis de água a jusante do canal, os quais seriam a ponderação adequada para atender a demanda sem que

haja o desperdício da água acumulada no sistema. Além disso, nota-se que nesta ponderação encaixa-se o

desprendimento de energia envolvido no controle do sistema, que também deve, idealmente, ser minimizado.

Porém, dependendo da geometria do canal e dos limites de segurança encontrados, algumas simplificações

podem causar inconvenientes na modelação matemática do problema. Obter o modelo com base nas equações

de Saint-Venant requer aproximações da realidade, e isso torna-se um desafio para canais onde haja áreas de

represamento da água, dada a não-linearidade destes fenômenos.

A geometria do canal também pode tornar a sintonização dos controladores um desafio, dado que o atraso

relativo entre a descarga de caudal a montante e a chegada das águas aos pontos distantes deste é diretamente

proporcional ao comprimento do canal.

Por fim, a separação física do canal por comportas também cria um cenário dificultoso ao controle, pois a

ação de cada segmento do canal acarreta perturbações tanto nas piscinas a montante quanto a jusante.

6

2.2. Modelação de sistemas de transporte de água

Dado um trecho de um canal genérico, temos o corte transversal exemplificado na Figura 1.

Definimos y(x,t) como a variação do nível no ponto x em relação ao seu valor de referência nas condições de

funcionamento, bem como q(x,t) como a variação do caudal no ponto x em relação ao caudal nominal daquele

ponto. Portanto, pensando no controle dos níveis nas extremidades do canal, temos:

���0, �����, �� = � �� �� �� ��� ���0, �����, �� = � �� �� �� ��� ������ = � � (1)

Onde a matriz P representa a matriz das funções de transferência cujas variáveis de entrada são as variações

dos caudais nas extremidades do canal.

Portanto, o modelamento do canal dá-se na definição de cada membro da matriz P, o que pode ocorrer por

métodos analíticos, como base em simplificações das equações de Saint-Venant, ou de modo empírico, como

por métodos de identificação de sistemas.

Exemplos desses métodos são o modelo Integrator Delay Zero (IDZ), proposto por Litrico em Simplified

Modeling of Irrigation Canals for Controller Design, Journal of Irrigation and Drainage Engineering (2004).

Para os modelos a criados neste estudo, as funções de transferência da matriz P, aproximadas a partir das

funções de Saint-Venant, serão funções de primeiro grau com atraso, seguindo a fórmula a seguir:

�� = ����� � ���� (2)

Onde os atrasos �� são considerados nulos para os membros da diagonal principal da matriz P, enquanto !� são os respectivos ganhos das funções.

Figura 1: Corte Transversal de um canal genérico. Adaptado de Litrico et. al. (2003).

7

2.3. Arquiteturas usuais de controle de sistemas de transporte de água

Para o devido funcionamento de um sistema de transporte de água deve-se considerar que, ao realizar-se

uma extração em qualquer ponto deste, existirá água para suprir a demanda pedida naquela zona que sofreu a

retirada, bem como a garantia que as tomadas de água a jusante deste ponto irão sofrer escassez.

Tendo essa afirmação como base, garantir a existência de água a jusante em um trecho entre comportas e

assegurar também o caudal de continuidade para o próximo trecho, é suficiente para sustentar o funcionamento

do canal.

Sendo assim, as arquiteturas usuais para o controle destes sistemas baseiam-se na regulação do nível a

jusante de cada trecho entre comportas de um dado canal, sendo possível regulá-lo utilizando qualquer uma das

comportas que o limitam.

2.3.1. Controle Local a Jusante (CLJ)

Esta arquitetura de controle visa controlar o nível de água a jusante de uma piscina do canal tendo como a

variável controlada a abertura da comporta local, ou seja, da comporta a jusante da piscina.

A Figura 2 exemplifica visualmente a estrutura de controle.

Figura 2: Estrutura de controle CLJ

Nesta arquitetura, os controladores agem de forma independente, sem que haja comunicação entre cada um

deles.

8

Contudo, o sistema de controle previsto não controla a admissão de água no canal, o que poderia ocasionar

problemas caso houvessem variações nas extrações ao longo do canal. Tendo em conta que tais variações são

demandas dos usuários do canal e que, de acordo com a ABM, tais pedidos devem ser feitos com, no mínimo,

um dia de antecedência. A central sempre terá o perfil de extrações de água com 24 horas de antecedência, ou

seja, haverá a realização da variação do caudal de entrada manualmente com base neste perfil.

Tal variação do caudal de entrada dá-se diferentemente em cada piscina. Sabendo-se os tempos de atraso

entre a admissão de água e a sua efetiva chegada à jusante de cada piscina, cria-se o perfil desse caudal ao longo

do dia, afim de anular as variâncias das extrações com vistas a minimizar a influência delas nos níveis do canal.

Para essa arquitetura, espera-se uma resposta mais rápida e precisa do sistema, dado que não há atrasos

entre a tomada de ação dos controladores e a sua influência.

Porém, dado que os controladores não se comunicam, pode ocorrer o que é relatado como um

comportamento “egoísta” dos controladores onde, com uma dada ação extrema de um controlador, pode

acarretar a escassez ou a inundação da piscina a jusante dele.

2.3.2. Controle Distante a Montante (CDM)

O Controle Distante a Montante é uma arquitetura de controle onde se controla o nível a jusante de uma

dada piscina manipulando o caudal de admissão daquela piscina. A estrutura de controle é evidenciada na Figura

3.

Nesta arquitetura, com base no nível e a referência deste a jusante de uma piscina, atua-se na comporta a

montante. Nota-se, também, a ação Feedfoward no sistema, integrando os controladores. Tal ação mostra-se

Figura 3: Estrutura de controle CDM

9

necessária para diminuir os efeitos de acoplamento entre as piscinas, que são significativos para esta arquitetura

de controle.

O efeito de acoplamento entre as piscinas mostra-se mais forte neste caso, pois os tempos de atraso entre a

ação de uma comporta e a influência desta nos níveis próximos a montante e nível distantes a jusante são muito

díspares. Ao realizar uma ação, o nível a montante da comporta percebe a influência imediatamente, porém,

como é de responsabilidade da comporta anterior regulá-lo, nota-se uma certa propagação das perturbações no

contra fluxo do canal, assim justificando-se a necessidade da ação do Feedfoward no sistema.

Um diferencial nesta arquitetura é que não há a necessidade de criação do perfil de extração de água nem

do perfil de admissão de água no canal, dado que a admissão de água é uma variável controlada pelo sistema. A

princípio, tal propriedade impede que haja escassez de água no sistema pois, não se importando as extrações

realizadas, o caudal de admissão do canal poderá suprir a demanda.

2.4. Os controladores

Em todas as arquiteturas implementadas, serão implantados controladores do tipo Proporcional-Integral (PI).

A saída de cada controlador, ou seja, a variação da elevação das comportas, terão valores máximos e mínimos.

A posição da comporta não deve ultrapassar o nível de água a montante dela (ponto de saturação superior) nem

ser menor do que zero (ponto de saturação inferior). Dado isso, a saída de cada controlador deve ser tal que a

elevação total não extravase tais saturações.

Com a saturação do controlador, a resposta do mesmo pode ser comprometida para casos onde o valor do

acumulador integral seja muito alto, o que implica na necessidade da implementação do Anti-Wind Up no

sistema.

O Anti-Wind Up é uma ferramenta utilizada nos controladores para que, em caso de saturação de sua saída,

haja um descarregamento da ação integral do controlador, afim de que a valor de saída do controlador seja igual

ao limite de saturação, impedindo que a ação integral fiquei sobrecarregada. Com isso, qualquer alteração da

variável de entrada do controlador, a resposta deste seria imediata, sem a necessidade de descarregar a ação

integral, dado que isto já foi realizado pela proteção Anti-Wind Up.

Os controladores a serem sintonizados têm as mesmas características em ambas as arquiteturas a serem

apresentadas, diferenciando apenas seus parâmetros. O modelo implementado em MatLab/Simulink tem o

aspecto representado na Figura 4.

10

A entrada do bloco do controlador é a diferença entre o valor atual do nível de água a jusante e o valor de

referência deste nível da piscina a qual está sendo controlada. Os blocos Mode e Logic representam variáveis

computacionais, que permitem a permuta da arquitetura do controlador.

Os ganhos Kp e Ki representam, respectivamente, os valores dos ganhos proporcional e integral do

controlador, bem como os ganhos Feed e Klim representam os ganhos de Feedfoward e do Anti-Wind Up.

Apesar da ação de Feedfoward estar implementada de modo uno para ambas as arquiteturas, o CLJ não se

aproveitará desse recurso, dado que o ganho Feed terá valor nulo neste caso. Como previsto no caso CDM, o

sinal do Feedfoward é o valor da saída do controlador seguinte.

Para a definição dos valores destas constantes, serão definidos os valores da margem de ganho e da margem

de fase para cada arquitetura, bem como avaliados, de modo iterativo, para que sejam encontrados os valores

que melhor respondem às necessidades do sistema. Para tal, será utilizada a ferramenta PID Tuner fornecida

pelo MatLab.

2.5. Descrição de falhas

Em sisteamas de transporte de água, que contam com diversos equipamentos eletromecânicos e atuações

humanas, além de estarem sujeitos a diversos intempéries, existem, substancialmente, três tipos de falhas,

citadas a seguir:

Figura 4: Aspecto Geral do Controlador

11

• Falhas de Sensor de nível

Os sensores de nível ao longo de um canal são vitais para seu funcionamento, principalmente aqueles

localizados nos níveis aos quais se desejam controlar.

Um sensor é susceptível a uma série de fatores internos e externos que podem acarretar em falhas da leitura

dos níveis.

Tais fatores podem estar relacionados desde a sua estrutura eletrônica, como quedas no fornecimento de

energia, bem como fatores ligados ao canal e seu arredor, como, por exemplo, a existência de sedimentos no

leito do canal, que interfeririam em sensores que utilizem a pressão da coluna de água para adquirir os dados do

nível.

Vale notar que este tipo de falha não será estudado neste trabalho.

• Falhas de Atuação

As comportas são a ferramenta chave para o controle do nível em canais e rios. Contudo, tal como os sensores

de nível, as comportas estão sujeitas a uma série de fatores internos e externos que podem alterar o seu

funcionamento.

Por ser um equipamento mais complexo, existem mais variáveis que permitem ocorrer erros e acabar por

fazer o sistema todo entrar em falha.

Sabe-se que erros dos sensores, descontinuidade da rede elétrica e sedimentos no canal podem causar falhas

das comportas mas, além destes, erros nos sensores de posição, sobre tensões e falhas catastróficas da estrutura,

até a falta de manutenção podem acarretar em falhas na atuação das comportas.

• Variações das Extrações de Água

As extrações de águas, por mais que algumas vezes sejam bem quistas e esperadas, podem ser consideradas

falhas no sistema. Quando há extrações que fogem à demanda esperada, o sistema pode não ser capaz de lidar

com isso e, por esse fato, opta-se por classifica-las como falhas.

Tais variações das extrações podem ser entendidas como tomadas de água ilegais pelo canal ou fugas da

estrutura civil por rachaduras, bem como elevados índices de precipitação ao longo do canal.

12

3. Infraestrutura do canal gerido pela ABM

O sistema de canais gerido pela ABM (Associação dos Beneficiários do Mira) fornece água a grandes culturas,

em especial de frutas vermelhas, em uma região que equivale de vital importância econômica para o país.

As duas redes de rega principais

são as relacionadas com o Canal de

Vila Nova de Milfontes e o Canal de

Odeceixe, ambos com a água

proveniente da Barragem de Santa

Clara, sendo ela armazenada, em

primeira instância, no Reservatório de

Odeceixe. O Canal de Milfontes

abastece a região a norte do

reservatório enquanto o Canal de

Odeceixe segue a sul.

O Canal de Milfontes, foco do

estudo, tem seu início no Reservatório

de Milfontes, que é abastecido pelo

Reservatório de Odeceixe pela Central

da Bugalheira, como evidenciado no

esquema geral da rede de canais gerida

pela ABM.

O desnível entre os reservatórios é utilizado pela Central da Bugalheira para aproveitamento hidrelétrico,

sendo que também é da responsabilidade da central o controle e gerenciamento do Canal de Milfontes.

3.1. Descrição do Sistema

O Canal de Vila Nova de Milfontes estende-se por 24 362 metros, contendo 7 comportas para seu controle.

Na concepção do canal, a engenharia civil dividiu-o em 4 troços, sendo o primeiro a parte compreendida a

montante da primeira comporta, o segundo a porção entre a primeira e a segunda comporta, o terceiro

correspondente ao trecho entre a segunda e quarta comporta e o quarto troço a região a jusante da quarta

comporta. As propriedades de cada troço estão listadas na tabela a seguir:

Figura 5: Esquema Geral da Rede de Canais geridos pela ABM

13

Tabela 1: Propriedades dos Troços do Canal de Milfontes

Troço I Troço II Troço III Troço IV

Comprimento 8792,5 4442,1 4796 6331 m

Caudal a Montante 5,698 3,419 2,32 0,639 "#/s

Nível de Água a Jusante 2,07 1,71 1,48 0,91 m

Coeficiente de Manning 0,014 0,014 0,014 0,014 -

Inclinação do rasto 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 -

Secção Trapezoidal Trapezoidal Trapezoidal Trapezoidal -

Largura da Base 1,7 1,4 1,2 0,75 m

Inclinação das espaldas 1/1 1/1 1/1 1/1 -

Dados fornecidos pela ABM

As extrações de água realizadas no canal principal são separadas em três vertentes: Extrações Diretas;

Distribuidores; Regadeiras. As extrações diretas são tomadas de água do consumidor final diretamente ao canal,

as regadeiras são pequenas ramificações do canal por onde a água escoa sem que seja possível controlar o fluxo,

e os distribuidores são ramificações de maior porte (que constam com suas próprias tomadas de água) onde há

o controle de vazão por comportas no canal principal. Os caudais nominais de extração, bem como a distribuição

da extração em cada trecho entre comportas é dada por:

Tabela 2: Dados da extração de água nos trechos entre comportas

Troço 1 Troço 2 Troço 3 Troço 4

Trecho 1 Trecho 2 Trecho 3 Trecho 4 Trecho 5 Trecho 6 Trecho 7

Pontos de Extração 19 15 15 16 6 6 6 -

Caudal Máximo 1110 670 180 1260 80 130 140 l/s

Caudal Mínimo 20 20 20 20 20 20 20 l/s

Porcentagem

das Extrações

feitas por:

Distribuidores 78,4% 48,6% 32,7% 74,1% 0,0% 0,0% 25,6% -

Regadeiras 15,8% 42,3% 41,8% 16,5% 82,6% 83,3% 61,5% -

Tomadas Diretas 5,9% 8,7% 25,5% 9,4% 17,4% 16,7% 12,8% -

Fonte: Nabais (2014)

3.1.1. Equipamento

A sala de controle do canal, situada na Central da Bugalheira, utiliza o software SCADA para gerenciar o

canal. Tal programa permite aos operadores visualizarem dados do canal em tempo real, bem como executar

ordens para as comportas controláveis remotamente.

14

As comportas controláveis, no momento, são as que regulam o fluxo de água entre o canal e os

distribuidores ligados a ele, como exemplificado na Figura 6A.

As comportas principais do canal, exemplificadas na Figura 6B, são do tipo escoamento-afogado, contudo,

devido a sua arquitetura, podemos notar o escoamento lateral de água, como na Figura 6C. A ação de controle

em cada comporta é do tipo proporcional, sendo atuadas de forma autônoma por compensação entre o nível da

água a montante da comporta e pela ação da gravidade nos contrapesos, sendo impossível o controle manual

destas.

Atualmente, algumas comportas principais do canal contam com instrumentação para medição do nível

a montante e a jusante delas, sendo que apenas alguns destes sensores foram renovados nos últimos anos.

3.1.2. Procedimentos usuais na exploração da infraestrutura

O gerenciamento, atualmente, foca-se na demanda de água dos clientes. Os pedidos são oficializados com,

pelo menos, um dia de antecedência, e o pedido registra a quantidade de água e o horário de início da tomada

desta.

Com isso, sabendo de antemão as extrações a serem realizadas, suas intensidades, horários e posições no

canal, é possível regular a quantidade de água localmente, com a abertura antecipada do caudal de admissão do

canal, considerando essa abertura antecipada em relação ao horário de requisição do pedido, baseando-se nos

tempos de atraso do transporte da água da admissão até a tomada de água.

Figura 6: Detalhe das comportas – (A) Comportas Controláveis dos Distribuidores – (B) Comportas do Canal

Principal – (C) Detalhe do escoamento lateral de água nas comportas principais

15

3.2. Descrição do Simulador

O trabalho a ser realizado basear-se-á num ambiente virtual do canal de Vila Nova de Milfontes, desenvolvido

no âmbito do projeto Orchestra, para a obtenção dos resultados necessários. O Simulador visa uma fiel

representação do canal, respeitando as normas as quais o projeto original do canal foi submetido, bem como as

leis físicas envolvidas no processo de transporte da água.

A implementação do Simulador foi feita em Simulink, considerando-se a precisão da ferramenta e a facilidade

de obtenção de dados do modelo.

O Simulador, cujo aspecto geral encontra-se representado na Figura 7, divide-se em duas partes essenciais:

o Controlador e a Dinâmica. A Dinâmica, trabalho majoritário da criação do Simulador, tem como variáveis de

entrada as condições de fronteira de cada trecho do canal, as vazões de entrada e saída de cada trecho, bem

como a elevação das comportas, enquanto suas variáveis de saída são os níveis a montante e jusante de cada

trecho, assim como o caudal de saída de cada comporta.

O Controlador, foco majoritário deste trabalho, tem por variáveis de entrada os valores dos níveis a jusante

de cada trecho e os valores de referência deles, sendo a saída do bloco o caudal de admissão do canal e as

elevações das comportas.

Figura 7: Aspecto Geral do Simulador

16

3.2.1. Simplificações e Modificações

Diversas simplificações e modificações foram necessárias para a implementação do Simulador.

Primeiramente, o Simulador compreende apenas os quatro primeiros trechos do canal, já que estes

correspondem a 90% do fluxo de água total do sistema. Outro fato que influenciou na desconsideração dos

demais trechos foi que, logo a montante da quarta comporta, existe uma tomada de água cujo valor do caudal

ultrapassa o valor do caudal a continuar pelo canal, tornando a simulação do restante do canal obsoleta para

obtenção de dados.

Outra simplificação implementada foi em relação as posições das tomadas de água no canal. As extrações em

cada trecho são realizadas de forma distribuída, e não uniforme, por toda a extensão do canal, em 65 locais

distintos, como mostrado na Figura 8, o que tornaria impraticável a implementação real delas em Simulink.

Assim sendo, optou-se por dividir cada trecho em partes de comprimento igual e realizar a extração de cada

fração do trecho a jusante dela. Os trechos foram divididos em 7, 9, 7 e 6 setores, respectivamente do primeiro

trecho ao quarto, totalizando 29 setores. A Figura 9 mostra a nova divisão e os valores das extrações nominais

realizadas em cada setor.

Figura 8: Gráfico da distribuição das tomadas de água nos quatro primeiros trechos do canal

Figura 9: Gráficos das distribuições das tomadas de água implementadas no simulador

17

A Figura 10 exemplifica, de modo

visual, o segundo trecho do canal e seus

9 setores, onde as válvulas representam

as tomadas de água a jusante de cada

setor.

Assim sendo, o canal de Vila Nova de

Milfontes foi reduzido a 29 setores,

sendo que existem três tipos de setores:

os primeiros de cada trecho, cujas

condições de fronteira são o fluxo de

água a montante e o nível a jusante,

chamados de “QY”; os últimos de cada trecho, cujas condições de fronteira são o nível de água a montante e o

fluxo a jusante, chamados de “YQ”; os intermediários de cada trecho, cujas condições de fronteira são os níveis

de água a montante e a jusante, chamados de “YY”. No total, encontramos no simulador quatro setores do tipo

“QY”, quatro do tipo “YQ” e 21 do tipo “YY”.

Nota-se, ainda, a presença de 25 nós de interligação de níveis de água, que ocorrem quando se ligam setores

do tipo YY a qualquer outro, e 3 nós de interligação de caudal, que ocorrem nas entre os trechos, ou seja, quando

se ligam setores do tipo “YQ” aos “QY”.

Além das simplificações das extrações e extensão do canal, também se optou por um modelo mais simples

de comportas. Primeiramente, o efeito de escoamento lateral das comportas foi eliminado, considerando-as

comportas de escoamento afogado do tipo guilhotina, onde o fluxo a passar pela comporta é regido pela

equação:

$ = %& . (). *2,*-. − -0 (3)

Onde:

Q: Caudal de saída da comporta

cd: Coeficiente de descarga da comporta

Ag: Área submersa de passagem do caudal

g: Aceleração da gravidade

Yu: Nível a montante da comporta

Yd: Nível a jusante da comporta

Figura 10: Representação do segundo trecho do simulador dividido em

setores

18

As comportas simuladas portam-se como se controladas eletronicamente, diferente da ação de controle

hidrodinâmica atualmente implementada. Por conta disso, as comportas movimentar-se-iam pela ação de um

atuador e, com isso, sujeitas a saturação da velocidade de abertura e fecho.

3.2.2. Utilização

O funcionamento adequado do simulador depende dos valores numéricos do projeto real do canal, tais quais

suas dimensões, coeficientes e valores no ponto de operação, além dos dados do teste a ser realizado, como os

valores dos controladores e as variáveis de entrada.

Em suma, um script desenvolvido no ambiente do MatLab carrega todas as constantes utilizadas pelo

simulador em sua área de trabalho, assim como auxilia na definição das variáveis de entrada: o tempo de

simulação, a variação do caudal de entrada do canal, a variação das extrações laterais de água e as propriedades

dos controladores. Vale lembrar que todas as condições iniciais do simulador são as condições de funcionamento

estabelecidas no projeto real do Canal de Vila Nova de Milfontes.

Após o término da simulação, basicamente todos os dados gerados pelo simulador podem ser visualizados.

Contudo, os valores que o script principal guarda na memória são as variáveis principais de saída e alguns valores

de entrada, para comparação com os dados iniciais. Tais variáveis são, entre outras: o caudal de entrada, as

extrações laterais de água, os níveis de água pelo canal, as aberturas das comportas e os seus caudais.

19

4. Modelação e Controle

Considerando que as arquiteturas usuais de controle baseiam-se no nível a jusante do canal, temos, a partir

da equação 1:

���, 1� = ����0, 1� + �����, 1� = ���� + ���� (4)

Assim sendo, o primeiro termo da soma representa o CDM e o segundo termo o CLJ, sendo u a variável de

entrada e p a função de transferência, como já supracitado.

A sintonização dos controladores necessita do conhecimento prévio das funções de transferência para cada

arquitetura, sendo, então, necessárias oito funções de transferência, duas para cada trecho entre comportas do

canal, para que então a sintonização dos controladores seja feita de forma mais eficiente.

4.1. Definição das Funções de Transferência

Dois métodos para se definir as funções de transferência foram utilizados no simulador a ser trabalhado, a

fim de se estabelecer um critério de comprovação da real magnitude delas: um baseando-se em dados coletados

pelo simulador e dos estudos em Identificação de Sistemas, que crê-se serem os mais fiéis, dado o menor número

de aproximações e simplificações, um método analítico, formulado por Litrico et. al. (2004), a fim de estabelecer

um parâmetro não-computacional de comparação dos resultados.

4.1.1. Modelo Analítico

Assim como definido por Litrico et. al. (2004), o método IDZ foi aplicado a uma série de dados obtidos com o

simulador. O ensaio foi realizado nas condições padrões de funcionamento do canal simulado. Primeiramente,

realizou-se a separação de cada trecho do canal, encontrando-se o ponto onde difere o escoamento com nível

de água constante e o escoamento onde há represamento da água, definidos na Figura 11 pelas linhas negras.

20

Com isso, seguindo a metodologia proposta, obtiveram-se as seguintes funções de transferência:

�� = ���.� �3.� ; �� = − �3.� (5)

Tabela 3: Parâmetros das Funções de Transferência pelo método IDZ

Piscina 1 Piscina 2 Piscina 3 Piscina 4

A (103) 29,42 16,97 9,86 6,78

τ (103) 2,044 1,184 0,790 0,555

Para o melhor funcionamento do simulador, optou-se sintonizar os controladores no tempo discreto,

portanto, a sua sintonização foi dada de mesmo modo. Para tal, houve a necessidade de converter as funções de

transferência.

Utilizando as ferramentas fornecidas pelo MatLab, as conversões foram feitas com base no tempo amostral

do simulador, que é de 10,3 segundos, fazendo uso do método Matched, onde se conserva o número de polos e

zeros da função. Os resultados foram:

�� = 5�6 �.789�� 789 ; �� = − �.789

�� 789 (6)

Tabela 4:Parâmetros das Funções de Transferência pelo método IDZ em tempo Discreto

Piscina 1 Piscina 2 Piscina 3 Piscina 4

K (10-4) 3,50 6,07 10,45 15,20

T 198 115 77 54

Figura 11: Ensaios do Simulador e definições do modelo IDZ

21

4.1.2. Identificação do Sistema

O primeiro passo para a definição das funções de transferência pelos princípios da Identificação de Sistema

é obter a série temporal a ser analisada. Dado o acoplamento entre cada piscina do canal, o uso do simulador

completo causaria problemas na leitura dos dados, portanto, criou-se um outro modelo em Simulink onde cada

piscina foi analisada de modo separado.

A série de dados foram obtidas utilizando cada piscina em seu funcionamento normal, fazendo a variação do

caudal de entrada e de saída de cada uma, separadamente. Ao variar o caudal de entrada, pode-se analisar a

função de transferência :;< e, ao variar-se o caudal de saída, a função :;;. A variação dos caudais, em cada

série, foi de 0.3 =>

� , e sua resposta temporal foi analisada pela ferramenta de análise do MatLab (System

Identification Tool).

Para uma simulação de duas horas, as respostas encontram-se nas Figuras 12 e 13.

Com isto, aplicou-se a System Identification Tool, utilizando o método ARX para identificar a função de

transferência de cada série.

Encontrou-se, então, os seguintes resultados, para os casos de variação do caudal de entrada e saída, já em

tempo discreto:

�� = 5�6 �0.789�� 789 ; �� = − �?.789

�� 789 (7)

Figura 12:Resposta à variação de caudal na entrada

Figura 13: Resposta à variação de caudal de saída

22

Tabela 5: Parâmetros das Funções de Transferência pelo método de Identificação de Sistemas

Piscina 1 Piscina 2 Piscina 3 Piscina 4

Kl (10-4) 5,70 8,00 10,28 14,43

Kd (10-4) 3,73 7,63 10,56 14,47

T 204 117 77 55

4.1.3. Comparação entre os Modelos

Para se comparar os modelos, fez-se o desvio relativo de cada ganho obtido pela identificação do sistema em

relação aos dados teóricos do modelo IDZ, apresentados na tabela a seguir.

Tabela 6: Desvio Relativo entre os modelos

Variação em: Piscina 1 Piscina 2 Piscina 3 Piscina 4

Kl 62,74% 31,75% -1,63% -5,07%

Kd 6,63% 25,77% 1,05% -4,80%

T 3,03% 1,74% 0,00% 1,85%

Como visto, os atrasos em ambos os modelos mostram-se muito próximos, bem como os ganhos nas piscinas

3 e 4. Nas piscinas 1 e 2, nota-se um agravamento do erro, contudo, em ambos os casos, notamos que os ganhos

encontram-se na mesma escala de grandeza.

Tais desvios dão-se devido ao fato que, tanto na piscina 1 quanto na piscina 2, o efeito de represamento da

água está em seu extremo. Como visto na Figura 11, a primeira piscina quase não apresenta represamento, o

que altera o valor referente ao ganho da função de transferência ligada à extração de água a jusante dela. Em

contra partida, a segunda piscina apresenta um represamento muito maior que as demais, o que acarreta em

erros tanto no cenário de extração a jusante quanto de admissão a montante dela.

Contudo, o modelo teórico, por envolver mais aproximações da realidade, foi tomado apenas como base

quanto a magnitude dos ganhos e atrasos e, estando de acordo com os valores obtidos pela identificação do

sistema, pode-se garantir que o modelo identificado está adequado a resolução do problema.

23

4.2. Ajuste de Ganho das Funções

As funções de transferência obtidas no tópico anterior refletem a relação entre a variação do nível a jusante

de uma dada piscina e a variação dos caudais de entrada e saída da mesma, contudo, o simulador valer-se-á da

variação da abertura da comporta, e não do caudal que por ela passa.

Para tal, ajustou-se o ganho das funções de transferência com um ganho estático obtido através da

linearização da equação da comporta.

A comporta em questão, com escoamento afogado, tem a equação definida por (1).

Sendo o canal trapezoidal, temos que a área aberta da comporta é dada por:

() = 6@A� B) = �A@CDEF� B) = G. B) + HEC� (8)

Onde:

T: Comprimento superior da área da comporta.

B: Comprimento da base da comporta.

s: Tangente do ângulo de inclinação lateral do canal

B): Elevação da comporta.

Fazendo a linearização, vemos:

$ = $I + %& . *2,*-.J − -0J. �G + �HEK� ��B) − B)J� (9)

��1� = %& . *2,*-.J − -0J. �G + �HEK� � ℎ)�1� (10)

Onde:

-.J: Nível a montante da comporta no ponto de operação.

-0J: Nível a jusante da comporta no ponto de operação.

B)J: Elevação da comporta no ponto de operação.

$J: Caudal nominal da comporta.

q(t): Variação de caudal na comporta com relação ao ponto de operação.

h(t): Variação de elevação da comporta em relação ao ponto de operação.

24

Então, o ganho estático para a conversão de caudal para a elevação da comporta é dado por:

M) = %& . *2,*-.J − -0J. �G + �HEK� � (11)

Os resultados obtidos para os ganhos foram:

Tabela 7:Ganhos estáticos das comportas

Comporta 1 Comporta 2 Comporta 3 Comporta 4

Ka 5,5216 3,6444 3,2652 2,1823

Assim sendo, as funções de transferências que regem a arquitetura de controle CLJ serão dadas pela

multiplicação do ganho da respectiva comporta pela função de transferência :;; da piscina onde a comporta

está localizada a jusante. Já para a arquitetura CDM, a função de transferência final será a multiplicação de :;<

com o ganho da comporta a montante daquela piscina. Nota-se, que no caso CDM, a admissão da primeira piscina

é dada diretamente por um caudal, sendo, então, desnecessário o ajuste de ganho para esse caso.

Lembrando que as equações têm a forma dada pela equação 5, os parâmetros ajustados de cada uma são:

Tabela 8: Parâmetros das funções de transferência finais

Piscina 1 Piscina 2 Piscina 3 Piscina 4

Kl (10-4) 31,45 29,14 33,57 31,49

Kd (10-4) 3,73 42,15 38,48 47,25

T 204 117 77 55

4.3. Sintonização dos Controladores PI

A sintonização dos controladores foi dividida em dois grupos, tendo duas etapas cada um. Cada controlador,

para o seu funcionamento, necessita de quatro parâmetros: o ganho proporcional; o ganho integral; o ganho de

Anti-Wind Up; ganho do Feedfoward.

25

Dividiu-se esses parâmetros em dois grupos, a serem analisados separadamente, um com os ganhos centrais

de controladores PI (proporcional e integral), e um com os ganhos adicionais (Anti-Wind Up e Feedfoward).

A sintonização foi feita com base na ferramenta PID Tuner fornecida no MatLab.

A primeira etapa de sintonização foi feita com base nos parâmetros sugeridos por Litrico (2003). Após esta

primeira fase, os testes foram realizados no simulador a fim de atestar que os parâmetros escolhidos estavam

de acordo com a resposta esperada.

Dados os primeiros resultados, verificou-se a necessidade de atualização dos parâmetros de sintonização.

Um estudo das causas das respostas divergirem da esperada foi feito e, com isso, realizou-se uma sintonização

minuciosa a fim de se obter os melhores resultados para os controladores.

4.3.1. Anti-Wind Up

Nos primeiros testes, onde houve a saturação nos controladores, o valor do ganho do Anti-Wind Up se

mostrou ineficaz ao problema, decorrendo erros computacionais que impediam o andamento com os testes.

A funcionalidade do Anti-Wind Up prevê a descarga do integrador do controlador em casos onde haja a

saturação do mesmo, com isso, optou-se por definir um método lógico para definir a magnitude do seu ganho.

Dada a fórmula do controlador:

NOP1�@� = QN-�@�. MR + �N-�@� − NOP1� . M?�=�. M� + S�T − O�U�V (12)

N-� . MR + S� = O�U�V + NOP1� (13)

Onde:

NOP1�: Diferença entre o valor real do controlador e o valor de saída dada a saturação no instante i.

N-�@�: Diferença entre o nível de água e a referência no instante i.

S�: Valor da parte integradora do controlador no instante i.

O�U�V: Valor de saturação no instante i.

Como o valor da diferença do nível e a referência em instantes consecutivos é baixa, e assumindo que é

desejável que não haja saturação na próxima iteração, podemos inferir que:

N-�@� =W N-� (14)

26

NOP1� + �N-� − NOP1� . M?�=�. M� = NOP1�@� = 0 (15)

M?�= = ��� + XY�XZ[\� (16)

Pela equação 10, nota-se que:

XY�XZ[\� ~ W � �^ (17)

Com isso, arbitrariamente escolheu-se:

M?�= = _�� (18)

���^ ≤ a ≤ �J�^ (19)

Diversos valores de C foram testados a fim de que cada arquitetura contasse com o valor desta constante que

condissesse com o efeito esperado do Anti-Wind Up.

4.3.2. CLJ

Para a sintonização dos controladores nesta arquitetura, primariamente, definimos que o ganho de fase do

controlador deveria ser maior de 60° e que a margem de ganho deveria ser próxima dos 12 dB, como sugerido

por Litrico (2003).

Com tais parâmetros, com o tempo amostral de 10,3 segundos, os controladores encontrados foram:

a = MR + M� 6F7�� (20)

27

Tabela 9: Constantes dos controladores CLJ

Controlador

1 2 3 4

Kp 171,97 184,89 161,13 171,72

Ki 2,248 2,405 2,096 2,234

Klim 0,022 0,021 0,024 0,022

Kff 0 0 0 0

Vale lembrar que o ganho do Feedfoward é nulo pois, nesta arquitetura, tal funcionalidade não se mostrou

necessária.

Para tais dados, realizou-se um teste no simulador. Tal teste tenta reproduzir a variação diária nas extrações

de água que podem ocorrer no canal, de modo apenas a avaliar o correto funcionamento do controlador.

Os resultados de tal teste encontram-se nas Figuras 14, 15 e 16.

Figura 14:Níveis de água a jusante do primeiro teste de CLJ

28

Que confirmam a eficácia dos parâmetros calculados para o controlador.

Figura 16:Elevação das Comportas do primeiro teste de CLJ

Figura 15:Caudais das comportas e de entrada do primeiro teste de CLJ

29

4.3.3. CDM

Tal como na arquitetura CLJ, utilizaram-se parâmetros sugeridos por Litrico (2003) para a primeira avaliação

do controlador, com que seriam a margem de fase acima de 60° e a margem de ganho em torno dos 8 db.

Contudo, logo nos primeiros testes, notou-se que o tempo de assentamento dos controladores era

extremamente alto.

Portanto, optou-se por sintonizar o controlador com a margem de ganho do sistema em torno dos 8 dB mas

com a margem de fase próxima aos 45°.

Para o ganho do Feedfoward, utilizou-se a fórmula:

Mbb� = c de�f9Ke�K (21)

Tal fórmula relaciona a raiz quadrada do caudal nominal da comporta seguinte com da comporta onde o

controlador i atua, dado que, como a saída do controlador é a variação da elevação da comporta, temos, pela

equação 1, que:

$ ~W B)� (22)

A constante F é dada pela fórmula:

c = 1,4 . 6i6� (23)

Essa constante serve para compensar o atraso dos controladores, dado que o Feedfoward não o faz, ao

relacionar o atraso do controlador i com o menor atraso do sistema. O valor numérico da expressão foi

determinado a fim de limitar o máximo valor de F a 1.

Nota-se que, como o primeiro controlador do CDM não lida com elevações de uma comporta, mas sim com

o caudal de entrada do canal, a raiz quadrada da fórmula não se aplica, ou seja:

Mbb9 = c e9Ke�jK (24)

Com isso, encontrou-se os valores a seguir para os ganhos do controlador:

30

Tabela 10: Constantes dos controladores CDM

Controlador

1 2 3 4

Kp 8,030 1,238 2,088 2,376

Ki (10-4) 5,3160 1,3542 12,545 22,666

Klim 1222,733 3129,107 199,283 110,295

Kff 0,2334 0,5515 0,9071 0

Aplicou-se a esta arquitetura o mesmo teste utilizado na arquitetura CLJ, afim de comprovar sua eficácia.

Os resultados de tal teste encontram-se apresentados nas Figuras 17, 18 e 19.

Figura 17:Níveis de água do primeiro teste de CDM

31

Que confirmam a eficácia dos parâmetros calculados para o controlador.

Figura 18: Caudais das comportas e de entrada do primeiro teste CDM

Figura 19: Elevação das comportas no primeiro teste de CDM

32

5. Resultados de Simulação

Nesta sessão, mostrar-se-ão os indicadores de desempenho utilizados em cada teste, bem como a explicação

dos cenários dos mesmos aos quais cada arquitetura de controle foi submetida, bem como os resultados.

5.1. Descrição dos indicadores de desempenho

Os indicadores de desempenho serão agrupados de três formas: Desvio do nível de referência; Desvio do

consumo de água; Energia Consumida.

Tais indicadores têm por finalidade avaliar a eficiência de cada arquitetura tanto na esfera ambiental quanto

no âmbito técnico.

5.1.1. Desvio do nível de referência

Este indicador tem por finalidade quantificar quanto uma dada arquitetura foi capaz de manter os níveis ao

longo do canal. Para tal, serão calculados as médias e os desvios padrões da diferença dos níveis a jusante de

cada piscina com o valor de referência deste nível e serão avaliados conforme os resultados.

Sendo assim, temos que os indicadores terão as fórmulas:

k=� = ∑QY��m�Tn − o�p� (25)

kq� = r∑�sY��m��tV��uvb�wC�n�� (26)

Onde:

-��x�: Nível de água a jusante da piscina i da amostra k.

o�p�: Referência do nível a jusante da piscina i.

n: Número total de amostras

33

Para tal índice, quanto menores forem os módulos dos valores obtidos, melhor o desempenho da arquitetura

para um dado teste, pois entende-se que, com um menor módulo da média e da variância, mais próximos do

valor de referência mantiveram-se os resultados.

5.1.2. Desvio do consumo de água

Com uma variação das extrações de água pelo canal, é de se esperar que os caudais de entrada e saída deste

se alterem. Contudo, afim de quantificar a eficiência dos controladores na economia de água, comparou-se as

entradas totais de água e as extrações totais no canal em relação aos seus valores nominais.

Portanto, para tal, determinou-se:

k0[ = y e�j 0\ y ez{|F 0\}y e�jjzV�j~U 0\ y ez{|FjzV�j~U 0\} (27)

Onde:

$�n: Caudal de entrada no canal.

$�njzV�j~U: Caudal de entrada no canal nas condições nominais.

$I.\�: Somatória dos diversos caudais das extrações de água ao longo do canal.

$I.\�jzV�j~U: Somatória dos diversos caudais das extrações de água ao longo do canal nas condições

nominais.

Para tal indicador, valores próximos ao unitário representam que o controlador desempenhou seu trabalho

com eficiência próxima que o caso nominal, assim sendo, valores menores que 1 representam um melhor

desempenho e valores acima de 1 representam um desprendimento maior de água para o funcionamento

correto do controlador.

34

5.1.3. Energia consumida

Sabendo que o trabalho realizado pela movimentação das comportas é diretamente proporcional à energia

gasta pelos atuantes, podemos escrever tal indicador como:

kv = ∑ ∑ |∆��,�.�[�,�@)�|nE (28)

Onde:

∆��: Movimento realizado pela comporta i entre os momentos j+1 e j.

P�,�: Aceleração da comporta i no momento j.

g: Aceleração da gravidade.

ng: Número de comportas computadas para o cálculo.

Como este indicador reflete diretamente a energia gasta, o desempenho do controlador será melhor dado

um menor valor do indicador.

5.2. Criação de testes padrões para avaliações das arquiteturas

Para a avaliação das arquiteturas de controle, diversos testes foram realizados com a finalidade de descobrir

se os limites de ação dos controladores, bem como cada arquitetura, comporta-se aos diversos cenários testados.

Para tal avaliação, foram criados quatro cenários de extração de água ao longo do canal, cada qual com uma

sincronização diferente nas aberturas e encerramentos das variações dos caudais das tomadas de água. Para

além disso, cada cenário será testado em oito diferentes amplitudes de extração, onde todas as tomadas de água

serão afetadas com a mesma amplitude.

A amplitude de extração, adimensional, foi modelada a ter valores entre -1 e 1, sendo que o valor mínimo

corresponde a extração mínima possível, o valor máximo a maior extração local possível e o valor nulo à extração

local nominal, a qual será utilizada apenas como o cenário padrão para comparação, relações descritas nas

fórmulas a seguir.

−1 ≤ P" ≤ 1 (29)

$I.\� = P" . s$I.\�,V~� − $I.\�,jzV�j~Uw + $I.\�,jzV�j~U (30)

Onde:

35

$I.\�: Extração no ponto i.

$I.\�,V~�: Extração máxima possível no ponto i.

$I.\�,jzV�j~U: Extração nominal no ponto i.

5.2.1. Tabela de Atrasos

Para a criação de cenários onde a influência das variações das extrações de água fosse máxima nos níveis a

jusante de cada piscina, afim de forçar o controlador ao limite, notou-se a necessidade da definição de quanto

tempo demoraria para que, ao variar o caudal de uma determinada tomada de água, os níveis a montante e a

jusante desta tomada sofressem a sua influência.

Para cada uma das tomadas de água, então, realizou-se uma simulação, a partir das condições nominais e

com as comportas fixas (sem ação de controle), variando-se apenas aquela tomada. Dados os resultados, foi

possível determinar os tempos de atraso da influência de cada tomada de água em relação aos níveis a montante

(Tu) e a jusante (Td) dela. Os resultados estão apresentados na tabela a seguir, em minutos.

Tabela 11:Atrasos a montante e a jusante das tomadas de água em cada piscina

Piscina 1 Piscina 2 Piscina 3 Piscina 4

Tomada Tu (min) Td (min) Tu (min) Td (min) Tu (min) Td (min) Tu (min) Td (min)

1 6,68 28,50 2,57 16,13 2,05 10,47 2,73 7,37

2 13,90 23,87 5,32 13,90 4,97 8,58 4,63 5,83

3 21,28 18,88 8,40 12,02 7,20 6,87 6,52 4,28

4 28,50 14,25 11,67 9,95 10,63 5,15 8,58 2,92

5 36,05 9,45 14,58 7,88 12,70 3,27 10,30 1,37

6 43,08 4,45 17,52 5,83 15,45 1,72 12,87 0,00

7 50,82 0,00 21,12 3,78 18,20 0,00 - -

8 - - 24,20 1,72 - - - -

9 - - 26,95 0,00 - - - -

36

Vale notar que o valor do atraso da última tomada de cada piscina em relação ao nível a jusante é nulo dado

que essas tomadas são posicionadas no mesmo ponto onde é feita a medição do nível.

5.2.2. Cenários de extração

Os cenários criados visam forçar os controladores em duas situações distintas: o caso de uma variação

máxima no nível a ser controlado; o caso de uma série de variações de amplitudes distintas no nível a ser

controlado.

Tais cenários, ainda, podem representar uma influência em conjunto dos níveis ou uma influência

sequencial, isto é, um primeiro caso onde todos os níveis sofrem a influência das variações das tomadas de água

ao mesmo tempo ou onde a influência de um nível a montante é passada de forma sequencial aos níveis a

jusante.

Todos os cenários podem ser divididos em quatro partes: a tomada de ação (variação das extrações);

tempo de resposta dos controladores; volta às condições nominais; novo tempo de resposta dos controladores.

Em todos os testes, o tempo simulado é de 24 horas, sendo que as três primeiras etapas ocorrem até às

12 horas de simulação e as horas restantes são para a quarta parte do cenário, onde os controladores devolvem

o sistema às condições padrões de funcionamento.

Assim sendo, foram criados quatro cenários, a serem descritos abaixo.

• Abertura Sincronizada com Influência Pontual Máxima (SP)

Figura 20: Linha do tempo de eventos do cenário SP

A Figura 20 representa a linha do tempo de eventos do cenário SP. Este procura forçar todos os controladores

ao mesmo tempo. Para tal, as variações ocorrem simultaneamente em todas as piscinas, de forma sequencial

(ou seja, sincronizadas de acordo com a Tabela de Atrasos) com a finalidade de que, em um dado momento, a

variação em cada tomada de água influencie o nível a jusante da piscina onde a tomada se localiza ao mesmo

tempo.

37

As Figuras 21, 22 e 23 mostram os resultados do teste realizado com amplitude 0,25 com arquitetura CDM

para este caso, onde as linhas verticais mostram os momentos onde há variação das tomadas de água, no qual

nota-se a sobreposição das ações nas piscinas.

Figura 21: Níveis de água a jusante de cada piscina do CDM no cenário SP

Figura 23: Caudais de admissão e nas comportas do CDM no cenário SP

Figura 22: Elevação das comportas do CDM no cenário SP

38

• Abertura Sincronizada com Influência Sequencial (SS)

Figura 24: Linha do tempo de eventos do cenário SS

A Figura 24 apresenta a linha do tempo de eventos do cenário SS, que procura forçar os controladores de

forma que o nível controlado por cada um apresente a variação máxima possível. Com isso, a influência que um

nível sofre com a variação dos caudais de extração é propagada ao nível a jusante.

Este efeito em cascata é gerado ao variar as extrações em cada piscina sincronizadamente, como no caso

anterior, mas, ao invés das aberturas sincronizadas ocorrerem simultaneamente entre as piscinas, elas ocorrem

de modo sequencial.

As Figuras 25, 26 e 27 mostram os resultados do teste realizado com amplitude 0,25 com arquitetura CDM

para este caso, onde as linhas verticais mostram os momentos onde há variação das tomadas de água, onde fica

evidente a tomada de ação nas piscinas sequencialmente.

Figura 25:Níveis de água a jusante de cada piscina do CDM no cenário SS

Figura 26:Elevação das comportas do CDM no cenário SS

39

• Abertura Estática com Influência Pontual Máxima (EP)

Figura 28:Linha do tempo de eventos do cenário EP

A linha do tempo de eventos do cenário EP está apresentada na Figura 28. O cenário EP procura explorar a

capacidade dos controladores de lidar com perturbações em série simultaneamente. O objetivo desse teste é

alcançado ao variar os caudais de todas as extrações de água ao mesmo tempo. Com isso, cada nível a jusante

de cada piscina será afetado pelas influências das tomadas de água de forma sequencial.

As Figuras 29, 30 e 31 mostram os resultados do o teste realizado com amplitude 0,25 com arquitetura CDM

para este caso, onde a linha vertical mostra o momento onde há variação em todas as tomadas de água do canal.

Figura 27:Caudais de admissão e nas comportas do CDM no cenário SS

Figura 29:Níveis de água a jusante de cada piscina do CDM no cenário EP

40

• Abertura Estática com Influência Sequencial (ES)

Figura 32:Linha do Tempo de eventos do cenário ES

O cenário ES, cuja linha do tempo de eventos está na Figura 32, bem como o cenário anterior, procura estudar

a capacidade do controlador em resolver as perturbações em série que o acarretariam. Porém, diferentemente

Figura 31:Caudais de admissão e nas comportas do CDM no cenário EP

Figura 30: Elevação das comportas do CDM no cenário EP

41

do caso anterior, onde todos as perturbações nos níveis aconteceriam simultaneamente, aqui há o efeito cascata,

onde as perturbações de uma piscina são propagadas à piscina a jusante.

As Figuras 33, 34 e 35 mostram os resultados do teste realizado com amplitude 0.25 com arquitetura CDM

para este caso, onde as linhas verticais mostram os momentos onde há variação das tomadas de água,

evidenciando-se que todas as tomadas de uma piscina sofrem uma variação em um dado momento, mas as ações

nas piscinas são realizadas de modo sequencial.

Figura 34: Elevação das comportas do CDM no cenário ES

Figura 33:Níveis de água a jusante de cada piscina do CDM no cenário ES

42

5.3. Desempenho das arquiteturas

As comparações serão feitas para cada indicador de desempenho, bem como estudadas as causas para dados

comportamentos de cada arquitetura. Os gráficos a serem apresentados mostrarão a evolução de um indicador

com o aumento da amplitude de extração para um dado cenário. No total, foram realizados 32 testes além do

teste em condições nominais, ou seja, cada um dos quatro cenários foi testado em oito valores de amplitude.

5.3.1. Desvio do consumo de água

Os valores do ��� encontrados estão apresentados nas Figuras 36 e 37.

Figura 35:Caudais de admissão e das comportas do CDM no cenário ES

0,985

0,990

0,995

1,000

1,005

1,010

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

��� - CLJ

SP SS EP ES Amplitude

ηda

Figura 36: Indicador de desvio do consumo de água para a arquitectura CLJ

43

A análise dos gráficos, em ambos os casos, mostra uma relação linear entre o indicador e a amplitude de

extração, contudo, nota-se uma inclinação menor da reta no caso do CLJ para quando há excesso de água no

sistema (amplitudes negativas), o que representa um desempenho melhor para tais casos.

Como o caudal de admissão no CLJ é feito de forma manual, com base no perfil das extrações de água diárias,

consegue-se uma sincronização mais precisa de quando se deve variar o caudal com o início das influências das

tomadas de água em cada piscina. Somando-se à resposta rápida dos controladores ao fato de que esvair uma

piscina de água é uma ação mais rápida do que enchê-la, acarretam no fenômeno mencionado.

Entretanto, a variação do indicador, em ambos os casos, é no máximo de 1,5% do valor nominal, ou seja,

ambas as arquiteturas se mostraram eficazes na poupança de água e relativamente constantes, tornando-as

aceitáveis no âmbito ambiental. Porém, mesmo que seja baixa a variação do consumo, a maior economia de

água no sistema dá-se quanto maior sua requisição. Posto em uma situação real, o aumento do consumo dá-se

na época de maior estiagem, ou seja, é de suma importância que haja maior economia de água.

Um outro ponto, dado que a água é o produto a ser comercializado, nota-se também certa vantagem nesse

perfil de desempenho, pois economiza-se mais água quando ela é menos disponível no reservatório que alimenta

o canal.

5.3.2. Energia Consumida

Os resultados encontrados para o �� estão apresentados nas Figuras 38 e 39.

0,985

0,990

0,995

1,000

1,005

1,010

1,015

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

��� - CDM

SP SS EP ESAmplitude

ηda

Figura 37: Indicador de desvio do consumo de água para a arquitectura CDM

44

Para incluir o caudal de admissão neste caso, considerou-se modelá-lo como se fosse uma comporta igual a

primeira do canal, ou seja, utilizando o ganho estático definido no tópico 4.2 para ajustes dos valores.

Os resultados, como esperados, mostram uma relação direta entre o indicador e o módulo da amplitude na

qual o teste foi realizado. Nota-se, porém, um consumo maior de energia para as amplitudes positivas. Como

supracitado, tal fenômeno acontece porque a ação de esvaziar uma piscina é menos custosa que enchê-la.

0

5

10

15

20

25

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�e - ClJ

SP SS EP ES

ηe (m2/s2)

Amplitude

Figura 38: Indicador de consumo de energia para a arquitectura CLJ

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�e - CDM

SP SS EP ES

ηe (m2/s2)

Amplitude

Figura 39: Indicador de consumo de energia para a arquitectura CDM

45

Em ambos os casos, apenas 4 comportas são amplamente movimentadas. No caso do CDM, a última

comporta é fixa, e no caso CLJ, a admissão do canal sofre alterações pontuais e mínimas, portanto, podemos

excluir tais diferenças arquitetônicas como as causas para a diferença.

Nota-se que a arquitetura CLJ consome entre 20% e 40% mais energia que a arquitetura CDM. Em uma análise

mais profunda, como a dos ganhos dos controladores, tanto integral quanto proporcional, em cada arquitetura

mostra que são esperados movimentos de maior amplitude e em maior frequência no caso CLJ, o que é apontado

como a causa do elevado consumo energético.

5.3.3. Desvio do nível de referência

Para avaliarmos e compararmos cada arquitetura no seu desempenho técnico, inicialmente, estudar-se-á

isoladamente cada arquitetura e, enfim, com base nesse estudo, compará-las, devido a quantidade de dados

obtidos neste indicador de desempenho.

• CLJ

Para esta arquitetura, os valores da média dos desvios de nível e seus desvios padrões, para cada piscina,

estão apresentados nas Figuras 40 a 43, em milímetros.

0,000

0,020

0,040

0,060

0,080

0,100

0,120

0,140

0,160

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�r - CLJ - Piscina 1

SP SS EP ES

ηr (mm)

Amplitude-0,0016

-0,0014

-0,0012

-0,0010

-0,0008

-0,0006

-0,0004

-0,0002

0,0000

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�m - CLJ - Piscina 1

SP SS EP ES

ηm (mm) Amplitude

Figura 40: Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CLJ para a piscina 1

46

0,000

0,002

0,004

0,006

0,008

0,010

0,012

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�m - CLJ - Piscina 2

SP SS EP ES

ηm (mm)

Amplitude

0,000

0,020

0,040

0,060

0,080

0,100

0,120

0,140

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�r - CLJ - Piscina 2

SP SS EP ES

ηr (mm)

Amplitude

Figura 41: Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CLJ para a piscina 2

0,000

0,010

0,020

0,030

0,040

0,050

0,060

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�r - CLJ - Piscina 3

SP SS EP ES

ηr (mm)

Amplitude-0,0004

-0,0003

-0,0002

-0,0001

0,0000

0,0001

0,0002

0,0003

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�m - CLJ - Piscina 3

SP SS EP ES

ηm (mm)

Amplitude

0,000

5,000

10,000

15,000

20,000

25,000

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�r - CLJ - Piscina 4

SP SS EP ES

ηr (mm)

Amplitude-7,000

-6,000

-5,000

-4,000

-3,000

-2,000

-1,000

0,000

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�m - CLJ - Piscina 4

SP SS EP ES

ηm (mm) Amplitude

Figura 42:Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CLJ para a piscina 3

Figura 43:Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CLJ para a piscina 4

47

Tais resultados mostram, para a maioria dos testes, valores realmente baixos para as médias e desvios, o que

mostra que os controladores são capazes, na maioria dos casos, de controlar os níveis com excelência. Contudo,

notou-se que o desempenho do sistema de controle depende tanto do cenário quanto da amplitude as quais o

simulador foi submetido.

Como os gráficos mostram, os módulos dos erros são diretamente proporcionais ao módulo da amplitude de

extração, como era esperado. Contudo, notou-se uma grande discrepância entre os resultados para diferentes

cenários.

Os cenários SS e ES apresentaram os piores resultados para esta arquitetura, enquanto o cenário EP

demonstrou alguns casos onde o erro também era bastante agravado. Como as falhas no cenário SP são os

menores, notamos que a arquitetura não tem problemas para lidar com grandes influências pontuais, porém,

quando existe uma sequência de influências consecutivas ou a sobreposição de influências das piscinas a

montante, o controlador acaba por ter piores resultados.

Dado que as influências seguem em sua maior força no sentido a jusante, era de se esperar que o nível da

quarta piscina fosse o que mais sofresse com tais influências. Nos testes com cenários SS, EP e ES, com elevados

módulos de amplitude, notou-se que os erros na quarta piscina foram, pelo menos, três ordens de grandeza mais

elevados.

As Figuras 44, 45 e 46 apresentam os resultados dos testes para tais cenários com amplitude -1:

Figura 44:Teste no cenário EP com amplitude -1 do CLJ

48

Figura 45:Teste no cenário SS com amplitude -1 do CLJ

Figura 46: Teste no cenário ES com amplitude -1 do CLJ

49

Como os resultados mostram, quando as variações das tomadas de água cessam, ocorre a saturação do

controlador da última piscina. Ao fechar a comporta completamente, a ação de controle mostra que não se foi

possível controlar o nível nestes casos, o que acarreta na queda do nível da quarta piscina.

Tal ação acarreta no problema de continuidade do canal, dado que a continuação do mesmo depende do

caudal de saída, responsável pela última comporta.

A mudança no fluxo e dos níveis de água ao longo do canal alteram o comportamento dos atrasos de um

modo não contabilizado na variação do caudal de admissão do canal, o que, somado com a ação das comportas

anteriores, acarreta no problema evidenciado. Solucionar-se-ia o problema com uma ação mais forte ou mais

antecipada no caudal de entrada. Tal solução, porém, precisa ser ponderada com os ideais de consumo exigidos,

dado que o mesmo seria afetado.

• CDM

Para esta arquitetura, os valores da média dos desvios de nível e seus desvios padrões, para cada piscina,

estão apresentados nas Figuras 47 a 50, em milímetros.

-0,600

-0,400

-0,200

0,000

0,200

0,400

0,600

0,800

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�m - CDM - Piscina 1

SP SS EP ES

ηm (mm)

Amplitude

0,000

20,000

40,000

60,000

80,000

100,000

120,000

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�r - CDM - Piscina 1

SP SS EP ES

ηr (mm)

Amplitude

Figura 47: Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CDM para a piscina 1

-1,200

-1,000

-0,800

-0,600

-0,400

-0,200

0,000

0,200

0,400

0,600

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�m - CDM - Piscina 2

SP SS EP ES

ηm (mm)

Amplitude

0,000

10,000

20,000

30,000

40,000

50,000

60,000

70,000

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�r - CDM - Piscina 2

SP SS EP ES

ηr (mm)

Amplitude

Figura 48:Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CDM para a piscina 2

50

O primeiro fato a evidenciar nesta arquitetura é a semelhança dos indicadores em todos os cenários a que

foi submetida.

Os desvios das médias em cada piscina, na maioria dos testes, apesar de serem mais elevadas que as da outra

arquitetura, acabam por enquadrar-se de forma aceitável ao problema. Contudo, nota-se valores muito elevados

dos desvios padrões, proporcionalmente ao aumento do módulo da amplitude dos testes.

Considerando-se três desvios padrões, afim de compreender 99.7% dos resultados de um modo estatístico,

notamos que o desvio máximo estatístico do nível controlado em cada piscina em relação ao seu nível de

referência é:

Figura 49:Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CDM para a piscina 3

-2,500

-2,000

-1,500

-1,000

-0,500

0,000

0,500

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�m - CDM - Piscina 4

SP SS EP ES

ηm (mm)

Amplitude

0,000

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

12,000

14,000

16,000

18,000

20,000

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�r - CDM - Piscina 4

SP SS EP ES

ηr (mm)

Amplitude

-20,000

-15,000

-10,000

-5,000

0,000

5,000

-1 -0,75 -0,5 -0,25 0 0,25 0,5 0,75 1

�m - CDM - Piscina 3

SP SS EP ES

ηm (mm)

Amplitude

Figura 50: Gráficos dos indicadores de desvio dos níveis do CDM para a piscina 4

51

Tabela 12: Desvio máximo dos níveis obtidos nos testes do CDM em relação aos valores de referência

Piscina

1 2 3 4

�r (m) 0,096 0,061 0,044 0,019

3.�r (m) 0,288 0,184 0,132 0,056

Ref (m) 2,07 1,71 1,595 1,48

% 13,91% 10,76% 8,25% 3,79%

No pior caso, na piscina 1, ocorrem desníveis de até 14% em relação ao nível de referência o que, apesar de

não comprometer o funcionamento do controlador, acaba não sendo aceitável para a resolução do problema.

Contudo, a ação do controlador pouco interfere nestes picos, dado que eles ocorrem no período compreendido

pelo atraso do sistema.

Outro ponto relevante nota-se quando se aplicam os testes com amplitude igual a 1 ao CDM, pois os desvios

das médias nas últimas duas piscinas se agravam.

Tal comportamento pode ser explicado ao observar-se os resultados de um dos testes, como nas Figuras 51

e 52, onde mostra-se claramente a saturação da ação de controle.

Figura 51: Teste no cenário SP com amplitude 1 do CDM

52

A saturação causa um maior tempo de assentamento para o nível controlado, o que resulta em um maior

erro deste.

5.3.4. Comparação entre os modelos

Ambas as arquiteturas de controle mostraram-se eficientes a variações moderadas das amplitudes das

extrações de água quanto aos cenários de extrações desenvolvidos, mas ambos mostraram falhas quando as

amplitudes são elevadas aos extremos.

O indicador de consumo de água mostrou que a variação do consumo é mínima nos diversos testes realizados.

Além disso, notou-se que o desempenho dos sistemas foi menor que o desempenho nominal apenas para os

casos onde se diminui a extração de água nas tomadas.

Quanto ao consumo energético resultado pela movimentação das comportas, notou-se uma melhor

eficiência da arquitetura CDM, com aumento de eficiência a 20% e 40% maiores.

No quesito técnico, o CLJ mostrou-se mais eficiente que o CDM, apresentando erros muito menores. Apesar

da eficiência em estabilizar os níveis após uma perturbação ser menor no CDM, o mesmo cumpre o que era

suposto.

Entretanto, em ambos os casos, notou-se que em amplitudes extremas há a presença de erros maiores devido

à saturação dos controladores. Nestes casos, avaliou-se o comportamento “egoísta” dos controladores CLJ, onde

houve o completo fechamento de uma comporta, o que impossibilitou a continuidade de caudal à jusante do

Figura 52: Detalhe do momento onde ocorre a saturação das saídas do CDM.

53

canal estudado. Este mesmo problema não ocorreu no caso dos controladores CDM, o que mostra uma enorme

vantagem nesta arquitetura.

Em todos os testes onde os indicadores não foram satisfatórios, notou-se a presença de saturação na saída

do controlador. Portanto, podemos dizer que a zona segura de ação dos controladores, ou seja, onde os

indicadores são completamente satisfatórios, é onde não ocorre a saturação dos mesmos. Além disso, como os

indicadores refletem diretamente alguns pontos do projeto de um canal, deve-se sempre testar o projeto com o

benchmark criado afim de atestar, com segurança, se os controladores criados são eficientes para os limites

estabelecidos no processo de design de um canal.

5.4. Análise do sistema perante a presença de falhas

Tendo em vistas os testes já realizados, escolheu-se o cenário SS para realizar os testes com falhas no sistema

pois este mostrou-se o mais penoso para as arquiteturas de controle.

Nesta etapa, foram realizados dois testes, a título de se entender o funcionamento das falhas em cada

arquitetura. Primeiramente, criou-se uma falha na comporta responsável pelo controle de nível da segunda

piscina, em cada arquitetura.

O teste de falha da comporta assume que a comporta não responderá a nenhuma ação tomada pelo

controlador desde o início da simulação. A amplitude das extrações de água utilizada para tal teste foi de 0,75,

pois os testes anteriores mostraram-se eficazes para estas condições.

Os resultados para as arquiteturas CLJ e CDM, respectivamente, foram:

Figura 53:Teste com falha de comporta no cenário SS, amplitude 0,75 do CLJ

54

Tais resultados tiveram os seguintes indicadores de desempenho:

Tabela 13: Indicadores de desempenho para testes com falhas na comporta

�m por Piscina (mm) �r por Piscina (mm)

�a �e (m2/s2) 1 2 3 4 1 2 3 4

CLJ 0,995 28,236 -0,001 61,543 0,000 0,000 0,090 58,504 0,027 0,064

CDM 0,973 333,703 -1,669 -165,737 -123,988 -56,867 24,522 103,692 119,124 70,932

Como pode-se notar, ambos os casos continuaram com valores dos indicadores de consumo de água normais,

porém, os demais fatores mudaram significativamente.

No caso do consumo energético, nota-as que o CLJ consumiu menos energia (dado que apenas 3 comportas

foram movimentadas). Contudo, no caso do CDM, houve um aumento da energia de quase 6 vezes. Tal fato

explica-se pois, quando em saturação, a ação do Anti-Wind Up do controlador acaba fazendo a comporta

realizar movimentos de pequena amplitude, mas de alta frequência, o que contribui para o incrível

aumento do consumo energético, mesmo sendo considerada uma comporta a menos para o cálculo.

Na arquitetura do CLJ, notou-se um desvio dos indicadores de nível apenas na piscina 2, a qual o

nível a ser controlado era responsabilidade da comporta defeituosa. Porém, no caso CDM, notou-se

que tanto o nível da segunda piscina quanto os das piscinas a jusante desta apresentaram erros

significantes. Tal fato deu-se pois, o nível a montante de uma dada comporta nesta arquitetura, é o

Figura 54:Teste com falha de comporta no cenário SS, amplitude 0,75 do CDM

55

mesmo de saturação do controlador. Quando o nível da segunda piscina não foi controlado e, no caso,

diminuiu, a segunda comporta entra em saturação e deixa de controlar o nível a jusante da terceira

piscina, criando um efeito dominó pelo sistema.

Quando se realizou o mesmo teste, mas com amplitude das extrações igual -0,75, nota-se uma

diferença dos resultados no caso CDM:

Tabela 14: Comparação dos indicadores para os testes com falhas da comporta

�m por Piscina (mm) �r por Piscina (mm)

Amp �a �e(m2/s2) 1 2 3 4 1 2 3 4

CLJ 0,75 0,995 28,2 -0,001 61,543 0,000 0,000 0,090 58,504 0,027 0,064

-0,75 1,008 25,2 -0,001 -60,154 0,000 -0,003 0,090 56,922 0,028 0,102

CDM 0,75 0,973 333,7 -1,669 -165,737 -123,988 -56,867 24,522 103,692 119,124 70,932

-0,75 1,013 22,2 0,864 285,871 -1,378 0,001 38,294 297,453 11,950 6,593

Como evidenciado, o CLJ acaba por ter o mesmo desempenho em ambos os testes, mas o CDM apresenta

uma melhora significativa nas piscinas onde ainda há o controle sendo realizado. Analisando a Figura 55 a seguir,

pode-se descobrir o motivo:

Nota-se que não há a saturação dos controladores para este caso, o que justifica a melhor atuação da

arquitetura.

Figura 55: Teste com falha de comporta no cenário SS, amplitude -0,75 do CDM

56

O segundo teste recria o cenário SS com amplitude 1 para o caso onde haja extrações de água não previstas

pelo sistema. Devido ao fato que a arquitetura CDM não sofreria efeitos sobre isso, já que a ciência prévia das

extrações não é necessária, este teste aplicou-se apenas a arquitetura CLJ.

Neste teste, as variações das extrações da primeira piscina não serão contabilizadas para a variação do caudal

de entrada, criando-se assim a falha.

Os resultados estão apresentados na Figura 56.

E, para este caso, obtivemos os seguintes indicadores:

Tabela 15: Indicadores de desempenho para testes com falhas de extração

�m por Piscina (mm) �r por Piscina (mm)

�a �e (m2/s2) 1 2 3 4 1 2 3 4

CLJ 0,960 38,869 -0,002 0,000 0,000 -10,004 0,133 0,018 0,049 28,146

Este ensaio acaba por ter índices parecidos com os obtidos pelo mesmo ensaio mas sem a presença de falhas.

Contudo, notou-se maior tempo de encerramento da quarta comporta, um período de aproximadamente 4

horas, o que no teste sem falhas era de 2,5 horas.

Com isso, pode-se afirmar que, para a arquitetura CLJ, as falhas de extrações de água são muito mais

importantes que as falhas passíveis de se acontecerem nas comportas, dada a independência de cada

controlador desta arquitetura. Em contra partida, o CDM, em sua definição, consegue corrigir autonomamente

as variações nas tomadas de água, contudo, como o sistema é mais interdependente, acaba por sofrer maiores

danos caso uma comporta falhe.

Figura 56:Teste com falha nas extrações no cenário SS, amplitude 1 do CLJ

57

6. Conclusões

Os sistemas de transporte de água têm representado, ao longo dos anos, um dos sistemas mais importantes

para a sociedade e um assunto recorrente quando se trata do meio ambiente. O uso consciente da água é uma

pauta mundial e o planejamento dos meios por onde ela circula tornaram-se cada vez mais avançados e precisos.

O estudo realizado teve por finalidade confrontar as arquiteturas de controle mais usuais para os sistemas

de transporte de água, valendo-se do Canal de Rega de Vila Nova de Milfontes. Ao criar cenários onde os diversos

sistemas pudessem ser testados, juntamente com indicadores genéricos para comparação, pode-se estabelecer

o benchmark para os canais de rega.

Para obter os resultados, explorou-se exaustivamente a área de controle de sistemas para o desenvolvimento

das arquiteturas, investigando cada variável dos sistemas a fundo e, assim, escolhendo sistemas eficientes e

funcionais para o desenvolvimento dos testes.

O benchmark criado baseia-se em noções básicas de estatística, transporte de fluidos e mecânica clássica,

onde os indicadores desenvolvidos compreendem os principais pontos de projeto de um sistema de controle, de

um modo amplo para que, independente da arquitetura escolhida, seja possível comparar qualquer sistema e,

assim, escolher o mais apropriado para cada caso.

A arquitetura de Controle Distante a Montante (CDM) mostrou-se menos suscetível às diferenças de cenários

de extração, sendo os seus indicadores proporcionais apenas às amplitudes das variações das tomadas de água

pelo canal. Contudo, nota-se um sistema onde a integração dos controladores é grande, ou seja, no caso de

falhas estruturais, os erros de um controlador acabam por se propagar para toda a estrutura.

Em contra partida, a arquitetura de Controle Local a Jusante (CLJ) mostra que, por ter uma resposta mais

rápida e precisa, além do fato de que o caudal de admissão do canal é feito manualmente, seus indicadores

variam de um cenário para outro, além de variar devido às amplitudes de extração pelo canal. Por ter seus

controladores isolados um dos outros, falhas estruturais acarretam erros pontuais no sistema, o que não

comprometem a integridade do canal. Por outro lado, como seu funcionamento depende do correto manuseio

do caudal de admissão, as falhas por extrações de água não conhecidas acabam por causar problemas de

continuidade do canal, o que foi relatado como um comportamento “egoísta” desta arquitetura, onde foi

observado a descontinuidade de caudal dada uma amplitude de extração máxima.

Avaliando-se pontualmente cada controlador, o CLJ mostra-se mais adequado ao controle de nível, onde

apresenta maior precisão. Contudo, compreendendo-se o funcionamento completo do canal, dada a

necessidade de implementação manual do caudal de entrada no caso CLJ, entende-se que o CDM é um sistema

mais autônomo e mais versátil, dado, também, que a mudança entre os cenários não acarretava na variação dos

indicadores de desempenho.

58

Ambas as arquiteturas apresentam boas margens de economia de água ao longo dos testes, com pequena

vantagem para o CLJ. O consumo energético, entretanto, mostra-se díspar entre as arquiteturas, sendo o CDM,

em casos normais, mais vantajoso que o outro sistema. Entretanto, ambos os sistemas de controle apresentaram

os piores resultados nos testes onde ocorreu a saturação dos controladores, ou seja, conclui-se que, para a

implementação correcta de uma dada arquitetura, os limites de ação delas não devem ultrapassar a zona de

saturação.

Com os resultados, enfim, nota-se que cada controlador tem suas vantagens e desvantagens, sendo que para

cada projeto devem ser estudados os limites tanto do canal a ser desenvolvido tanto os controladores a serem

usados no mesmo, afim de se escolher a arquitetura mais propícia ao caso.

Conclui-se que o trabalho realizado corrobora com o projeto e avaliação de sistemas de transporte de água,

tanto para os sistemas novos quanto para a renovação de canais antigos, uma vez que apresenta o benchmark

necessário para a realização dos ensaios, aos quais os controladores devem ser submetidos e aprovados,

garantindo, assim, uma melhor implementação destes sistemas em casos reais.

59

7. Bibliografia

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