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Controlo em Tempo Real de Sistemas de Drenagem Urbanos Ricardo Manuel de Sá Machado Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientador: Professora Doutora Filipa Maria Santos Ferreira Júri Presidente: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira Orientador: Professora Doutora Filipa Maria Santos Ferreira Vogais: Professor Doutor José Manuel de Saldanha Gonçalves Matos Julho 2014

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Page 1: Controlo em Tempo Real de Sistemas de Drenagem Urbanos · i Resumo Esta dissertação tem como objectivo principal apresentar os aspectos mais relevantes do controlo em tempo real

Controlo em Tempo Real de Sistemas de Drenagem

Urbanos

Ricardo Manuel de Sá Machado

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador: Professora Doutora Filipa Maria Santos Ferreira

Júri

Presidente: Professor Doutor António Alexandre Trigo Teixeira

Orientador: Professora Doutora Filipa Maria Santos Ferreira

Vogais: Professor Doutor José Manuel de Saldanha Gonçalves Matos

Julho 2014

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Resumo

Esta dissertação tem como objectivo principal apresentar os aspectos mais relevantes do controlo em

tempo real (CTR) de sistemas de drenagem urbanos, à luz do estado da arte actual, duma forma

estruturada e compreensível aos leitores não familiarizados com o tema, que possibilite o

desenvolvimento de casos de estudo da aplicação de CTR.

Entre estes aspectos inclui-se a caracterização sumária dos sistemas de drenagem urbanos, seus

problemas e meios de resolução tradicionais; estado da arte e perspectivas de desenvolvimentos

futuros do CTR; enquadramento legal do CTR; definição, vantagens e princípios gerais do CTR;

monitorização e previsão; tipos de CTR e sua comparação; elementos de controlo e formas da sua

utilização; etapas planeamento dum sistema de CTR; simulação dinâmica dos sistemas de

drenagem; métodos de avaliação do potencial do CTR; tipos de algoritmos de CTR e formas do seu

desenvolvimento; dificuldades da aplicação do CTR e exemplos reais de aplicação de CTR.

Concluiu-se que a relevância da aplicação de CTR a sistemas de drenagem urbanos é actualmente

indiscutível, pelo seu potencial de resolução dos problemas típicos destes sistemas (como

inundações, descargas directas para o meio receptor e poluição), e capacidade de minimizar a

necessidade de investimento em infra-estruturas onerosas como reservatórios.

Uma avaliação expedita do potencial do CTR no caso de estudo da frente de drenagem do Terreiro

do Paço-Alcântara, na cidade de Lisboa, concluiu que se justifica explorar com mais detalhe a

aplicação de CTR a essa zona como forma de resolver os problemas aí presentes.

Palavras-chave: controlo em tempo real (CTR), sistemas de drenagem urbanos, estado da arte,

exemplos de aplicação, caso de estudo

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Abstract

The main objective of this thesis is to present the most relevant aspects of real time control (RTC) of

urban sewer systems, in light of the current state of the art, in a structured and comprehensible

manner to readers unfamiliarized with the subject, so as to enable the development of detailed RTC

case studies.

The aspects herein considered include a brief description of urban sewer systems; their problems and

traditional means of resolution of such problems; state of the art and prospects of future developments

in RTC; RTC’s legal framework; definition, advantages and general principles of RTC; monitoring and

prediction; types of RTC and their comparison; control elements and ways to utilize them; stages of

planning an RTC system; dynamic simulation of sewer systems; methods to evaluate RTC potential;

types of RTC algorithms and forms of their development; difficulties in the application of RTC and real

examples of RTC application.

It has been concluded that the relevance of the application of RTC to urban sewer systems is currently

indisputable given its potential to solve the typical problems of these systems (such as floods,

overflows into the receiving environment and its pollution), and its capability to minimize the need for

investment in costly infrastructures such as stormwater tanks.

An expeditious analysis of RTC’s potential in the case study of the Terreiro do Paço-Alcântara

drainage front, in the city of Lisbon, has concluded that it is justifiable to explore in further detail the

application of RTC to this area as a way to solve the problems present therein.

Key-words: real time control (RTC), urban sewer systems, state of the art, application examples,

case study

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Agradecimentos

Agradeço em primeiro lugar à Professora Filipa Santos Ferreira, pela excelência do seu desempenho

como minha orientadora, formação prestada, aconselhamento e dedicação, que asseguraram a

qualidade do trabalho desenvolvido.

Agradeço à CLABSA e em particular ao seu Director Técnico, Pere Malgrat; Director de Exploração e

Manutenção, Jordi Cabot e Pilar Campos, por me terem recebido nas suas instalações em Barcelona,

onde me fizeram uma visita guiada, facultaram informação e documentação importante para

compreensão da aplicação do controlo em tempo real a sistemas de drenagem urbanos.

Agradeço ao Professor José Saldanha Matos pela formação prestada.

Estou grato à SIMTEJO e em particular ao Eng. Pedro Póvoa e Eng.ª Conceição David pela

informação partilhada.

À Eng.ª Cecília Lopes, Ângela Salgado e Miguel Soares agradeço a cooperação na recolha de

informação cadastral e elaboração do modelo de simulação da rede de drenagem de Lisboa.

Ao Professor Manfred Schütze fico grato por ter facultado documentação fulcral sobre controlo em

tempo real e pela formação prestada.

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Índice

1. Introdução .......................................................................................................................................1

1.1. Relevância do tema ........................................................................................................................................ 1

1.2. Objectivos ....................................................................................................................................................... 3

1.3. Estrutura do trabalho ..................................................................................................................................... 4

2. Sistemas de drenagem urbana........................................................................................................5

2.1. Caracterização sumária ................................................................................................................................. 5

2.1.1. Constituição dos sistemas de drenagem urbanos ...............................................................5

2.1.2. Concepções clássica e moderna dos sistemas de drenagem urbana ..................................6

2.1.3. Estado da arte e perspectivas de desenvolvimentos futuros ...............................................7

2.2. Principais problemas ................................................................................................................................... 10

2.3. Meios de resolução dos problemas dos sistemas de drenagem ............................................................. 11

2.4. Legislação aplicável ..................................................................................................................................... 13

2.4.1. Enquadramento................................................................................................................13

2.4.2. Direito Comunitário...........................................................................................................14

2.4.3. Direito Nacional ................................................................................................................16

3.Controlo em tempo real: definições, princípios e elementos de controlo .........................................18

3.1. Definição e vantagens do controlo em tempo real .................................................................................... 18

3.2. Princípios gerais ........................................................................................................................................... 22

3.3. Monitorização e Previsão............................................................................................................................. 25

3.3.1. Introdução ........................................................................................................................25

3.3.2. Equipamentos de Monitorização .......................................................................................26

3.3.3. Previsão ...........................................................................................................................32

3.3.4. Avaliação e tratamento dos dados recolhidos ...................................................................33

3.4. Tipos de CTR e sua comparação ................................................................................................................ 36

3.4.1. CTR Local, Combinado, Global e Integrado ......................................................................36

3.4.2. CTR Manual, Supervisionado e Automático ......................................................................40

3.4.3. CTR Reactivo e Preditivo .................................................................................................42

3.4.4. CTR baseado em volume, em poluição e em imissão .......................................................44

3.4.5. Comparação entre os tipos de CTR ..................................................................................47

3.5. Elementos de controlo e formas da sua utilização.................................................................................... 47

3.5.1. Válvulas reguladoras de caudal ........................................................................................47

3.5.2. Reservatórios e bacias de águas pluviais .........................................................................48

3.5.3. Electrobombas e Estações Elevatórias .............................................................................51

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3.5.4. Descarregadores ..............................................................................................................53

3.5.5. Outros elementos de controlo ...........................................................................................53

3.5.6. Controladores dos actuadores ..........................................................................................53

4. Aplicação de controlo em tempo real a sistemas de drenagem urbanos ........................................55

4.1. Considerações Introdutórias ....................................................................................................................... 55

4.2. Planeamento dum sistema de CTR ............................................................................................................. 55

4.2.1. Etapas Consideradas .......................................................................................................55

4.2.2. Simulação dinâmica do sistema de drenagem ..................................................................61

4.3. Potencial do CTR .......................................................................................................................................... 63

4.3.1. Métodos expeditos de avaliação do potencial do CTR ......................................................63

4.3.2. Métodos detalhados de avaliação do potencial do CTR ....................................................71

4.4. Algoritmos de CTR ....................................................................................................................................... 73

4.4.1. Desenvolvimento offline e online de algoritmos de CTR....................................................73

4.4.2. Optimização linear e não linear ........................................................................................76

4.4.3. Algoritmos Genéticos .......................................................................................................77

4.4.4. Redes Neuronais Artificiais (RNA) ....................................................................................79

4.5. Dificuldades de aplicação do CTR .............................................................................................................. 82

5. Exemplos de aplicação .................................................................................................................84

5.1. Notas introdutórias....................................................................................................................................... 84

5.2. Barcelona, Espanha ..................................................................................................................................... 85

5.2.1. Características gerais do sistema de drenagem................................................................85

5.2.2. Contexto histórico e planeamento.....................................................................................86

5.2.3. Descrição do sistema de CTR actual ................................................................................86

5.2.4. CTR do reservatório de Escuela Industrial ........................................................................89

5.2.5. Resultados do sistema de CTR de Barcelona ...................................................................91

5.3. Québec, Canadá ........................................................................................................................................... 91

5.3.1. Características gerais do sistema de drenagem................................................................91

5.3.2. Contexto histórico e planeamento.....................................................................................92

5.3.3. Implementação do sistema de CTR e resultados ..............................................................93

5.3.4. Descrição do sistema de CTR ..........................................................................................95

5.4. Hildesheim, Alemanha ................................................................................................................................. 97

5.5. Leipzig, Alemanha ...................................................................................................................................... 100

6. Caso de estudo ........................................................................................................................... 102

6.1. Considerações introdutórias ..................................................................................................................... 102

6.2. Caracterização do caso de estudo ............................................................................................................ 103

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6.3. Potencial do CTR em minimizar descargas directas ............................................................................... 108

6.4. Principais conclusões ................................................................................................................................ 113

7. Síntese, conclusões e recomendações ....................................................................................... 114

Bibliografia ...................................................................................................................................... 117

Anexos ........................................................................................................................................... 127

Anexo A: Rede de drenagem actual e prevista de Barcelona ....................................................................... 128

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Abreviações utilizadas neste documento e seu significado ................................................ xi

Tabela 2 – Vantagens e desvantagens de medidores de caudal para águas residuais (adaptada de

(Póvoa, et al., 2011) e (Brito, 2012))..................................................................................................30

Tabela 3 - Passos de planeamento dum sistema de controlo em tempo real (adaptada de (DWA,

2005)) ...............................................................................................................................................57

Tabela 4 - Lista de requerimentos para programas de simulação para estudos prévios e estudos

detalhados de CTR (adaptada de (Schütze, et al., 2008) e (DWA, 2005))..........................................59

Tabela 5 - Avaliação simplificada do potencial de controlo dum sistema de drenagem urbano (fonte:

(DWA, 2005)) ....................................................................................................................................68

Tabela 6 - Propriedades dos sistemas de drenagem urbanos relevantes para o potencial do CTR

(adaptada de (Zacharof, et al., 2004)) ...............................................................................................69

Tabela 7 - Resultados das simulações do sistema drenagem de Hildesheim para quatro cenários e

durante um período de doze dias (adaptada de (Pabst, et al., 2011)) .............................................. 100

Tabela 8 - Avaliação expedita do potencial do CTR na bacia do Terreiro do Paço ........................... 112

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Lista de Figuras

Figura 1 - Um sistema de drenagem urbano operado através de controlo em tempo real (adaptada de

(Schütze, et al., 2002b)) ....................................................................................................................18

Figura 2 - Caudal afluente à ETAR com e sem CTR global com objectivo de equalização do caudal

afluente à ETAR em tempo seco (adaptada de (De Korte, et al., 2009)) ............................................20

Figura 3 - Esquema genérico dum ciclo de controlo com feedback (adaptada de (Ferreira & David,

2014)) ...............................................................................................................................................24

Figura 4 – Utilização da capacidade dos reservatórios dum sistema de drenagem com um sistema

CTR que procura equalizar a utilização da capacidade de armazenamento (adaptada de (De Korte, et

al., 2009)) .........................................................................................................................................24

Figura 5 - Medidor de pressão hidrostático: equipamento (esquerda) e instalação em colector (direita)

(fonte: (Póvoa, et al., 2011)) ..............................................................................................................27

Figura 6 - Medidor de pressão ultrassónico instalado em colector (fonte: (Póvoa, et al., 2011)) .........27

Figura 7 – Medidor de caudal Parshall (esquerda) e medidor ultrassónico instalado em descarregador

(direita) (fonte: (Póvoa, et al., 2011)) .................................................................................................27

Figura 8 - Anel de fixação e sensor pulse doppler (esquerda) e perfil de velocidades (direita) (fonte:

(Póvoa, et al., 2011)).........................................................................................................................28

Figura 9 - Exemplo de instalação de medidor radar com instalação em caleira (esquerda) e em

caneiro (direita) (fonte: (Póvoa, et al., 2011)) .....................................................................................28

Figura 10 - Medidor de velocidade electromagnético instalado em tubagem (fonte: (Póvoa, et al.,

2011)) ...............................................................................................................................................29

Figura 11 - Exemplo dum par de sensores de medição de velocidade do tipo tempo trânsito (fonte:

(Póvoa, et al., 2011)).........................................................................................................................29

Figura 12 - Controlo local de duas válvulas (adaptada de (DWA, 2005))............................................36

Figura 13 - Sistema de controlo global para duas válvulas (adaptada de (DWA, 2005)) .....................38

Figura 14 - Controlo integrado de rede de drenagem e ETAR (adaptada de (DWA, 2005)) ................39

Figura 15 - Esquema dos horizontes temporais aplicados no controlo preditivo baseado em modelo

(adaptada de (Rauch & Harremoës, 1999b)) .....................................................................................44

Figura 16 - Ciclo de controlo com feedback da descarga num sistema de grande dimensão (adaptada

de (DWA, 2005)) ...............................................................................................................................48

Figura 17 - Exemplo da transferência da configuração da rede de drenagem (esquerda) para a

configuração dos blocos de controlo locais e supervisores (direita), segundo um esquema de CTR

global (adaptada de (Schütze & Alex, 2011)).....................................................................................51

Figura 18 - Controlo local dum reservatório com válvula reguladora de caudal a jusante como parte

dum esquema de CTR global (adaptada de (Schütze & Alex, 2011)) .................................................51

Figura 19 - Esquema de CTR duma estação elevatória (adaptada de (Alex, et al., 2008)) .................52

Figura 20 - Funcionamento dos controladores On-Off sem e com histerese (à esquerda e à direita,

respectivamente) para uma variável de controlo genérica X, com valor alvo Xalvo e tolerância Δ no

caso de controlo com histerese (adaptada de (Schütze, 2011a)) .......................................................54

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Figura 21 - Procedimento de planeamento dum sistema de CTR (adaptada de (DWA, 2005),

(Schütze, et al., 2008)) ......................................................................................................................56

Figura 22 - Criação dum modelo simplificado dum sistema de drenagem urbano (adaptada de

(Vanrolleghem, et al., 2005)) .............................................................................................................62

Figura 23 - Modelo do sistema de drenagem urbano integrado, com localização dos sensores,

actuadores. As partes elimináveis do sistema estão assinaladas por caixas a tracejado (adaptada de

(Vanrolleghem, et al., 2005)) .............................................................................................................63

Figura 24 - Processo de desenvolvimento offline dum algoritmo de CTR baseado em regras

(adaptada de (Schütze, et al., 2008) e (Schütze, 2011a)) ..................................................................74

Figura 25 - Processo de desenvolvimento online dum algoritmo de CTR (adaptada de (Schütze, et al.,

2008) e (Schütze, 2011a)).................................................................................................................75

Figura 26 - Esquema da arquitectura da RNA recorrente do tipo Jordan, aplicada ao CTR dum

sistema de drenagem (adaptada de (Darsono & Labadie, 2007)) ......................................................81

Figura 27 – Procedimento de planeamento de um sistema de CTR (adaptado de (DWA, 2005),

(Schütze, et al., 2008)) ......................................................................................................................84

Figura 28 - Os dois ciclos de regulação (fonte: (Escaler, et al., s.d.)) .................................................88

Figura 29 - Funcionamento do ciclo curto (fonte: (Escaler, et al., s.d.)) ..............................................88

Figura 30 - Reservatório de Escuela Industrial (fonte: (EMARLIS, 2006)) ..........................................89

Figura 31 - Funcionamento do ciclo longo (fonte: (Escaler, et al., s.d.)) .............................................90

Figura 32 - Ligação ao ciclo curto de regulação (fonte: (Escaler, et al., s.d.)) .....................................91

Figura 33 - Mapa da cidade de Québec (adaptada de (Fradet, et al., 2011))......................................92

Figura 34 – Localização e volume dos reservatórios de águas pluviais contruídos na Fase 1 (a

vermelho) do projecto de redução de descargas directas no Québec (fonte: (Fradet, et al., 2011)) ....94

Figura 35 - Localização e volume dos reservatórios de águas pluviais construídos na Fase 2 e 3 (a

vermelho) do projecto de redução das descargas directas no Québec (fonte: (Fradet, et al., 2011)) ..95

Figura 36 - Esquema do sistema de drenagem de Hildesheim (adaptada de (Pabst, et al., 2011)).....98

Figura 37 - Comparação entre o caudal afluente à ETAR de Hildesheim simulado e medido, para

verificação da calibração do modelo hidrológico da rede de drenagem elaborado em SIMBA

(adaptada de (Pabst, et al., 2011)) ....................................................................................................99

Figura 38 - Custos da reabilitação do sistema de drenagem de Leipzig, incluindo a remodelação e a

consequente variação da capacidade da ETAR (adaptada de (Sebastião, 2005)) ........................... 101

Figura 39 – Bacias do sistema de drenagem de Alcântara, zonas alta e baixa e principais frentes de

drenagem da zona baixa (fonte: (Salgado, 2013)) (à esquerda) e Rede conceptual da frente de

drenagem do Terreiro do Paço-Alcântara elaborada em SWMM (à direita) ...................................... 103

Figura 40 - Traçado proposto do túnel de desvio de caudal da bacia L para a bacia KM (fonte:

(Câmara Municipal de Lisboa, 2008a)) ............................................................................................ 105

Figura 41 - Representação esquemática, em planta, do sistema interceptor Terreiro do Paço-

Alcântara, com indicação das principais estruturas nas bacias KJ e KM (adaptada de (Urban Water,

2014)) ............................................................................................................................................. 106

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Figura 42 - Câmaras de válvulas de maré da R. do Ouro (esquerda) e da R. Augusta e R. da Prata

(direita) (fonte: (Salgado, 2013))...................................................................................................... 107

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Lista de Abreviações

Na Tabela 1 apresentam-se, por ordem alfabética, as abreviações utilizadas neste documento e o seu

significado.

Tabela 1 - Abreviações utilizadas neste documento e seu significado

Abreviação Significado

CTR Controlo em Tempo Real

CIS Coeficiente de Ineficiência do Sistema

DQA Directiva Quadro da Água

ETAR Estação de Tratamento de Águas Residuais

INSAAR Inventário Nacional de Sistemas de Abastecimento de Água e de Águas Residuais

MBC Método da Bacia Central

MBU Método da Bacia Única

NQA Normas de Qualidade Ambiental

PDR Plano de Desenvolvimento Regional

PEAASAR Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais

PGBH Planos de Gestão de Bacia Hidrográfica

PGD Plano Geral de Drenagem

PGDL Plano Geral de Drenagem de Lisboa

PLC Programmable Logic Controller (Controlador Lógico Programável)

SCADA Supervisory Control And Data Acquisition (sistema automático de supervisão e

aquisição de dados)

SIG Sistema de Informação Geográfica

UE União Europeia

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1. Introdução

1.1. Relevância do tema

Actualmente a gestão dos sistemas de drenagem enfrenta um triplo desafio: não só estão a aumentar

os problemas dos sistemas de drenagem urbanos devido ao facto de nas últimas décadas ter

aumentado a concentração urbana em grandes aglomerados, dificultando o cumprimento dos

objectivos ambientais de protecção dos meios receptores e a prevenção de inundações, como são

escassos os recursos alocados à resolução destes problemas e tendencialmente crescentes as

exigências legislativas relativas aos sistemas de drenagem, particularmente as relacionadas com a

protecção ambiental dos meios receptores ( (Ferreira & Matos, 2011), (United States Environmental

Protection Agency, 2006)). Os sistemas de controlo em tempo real (CTR) podem ajudar a enfrentar

estes problemas.

Os sistemas de CTR servem-se dos actuadores no sistema de drenagem (e.g. válvulas,

electrobombas) para regular dinamicamente o escoamento, em função do seu estado presente

(aferido por sensores como limnímetros) e, por vezes, passado e futuro (utilizando previsões

meteorológicas e simulações em modelos matemáticos do sistema de drenagem), comparado com

um estado ideal correspondente ao cumprimento dos objectivos e metas de desempenho do sistema

de drenagem. A regulação dos actuadores é determinada por um algoritmo de controlo que visa

atingir esses objectivos, que podem incluir a redução da poluição no meio receptor, redução do

volume ou frequência de descargas sem tratamento para o meio receptor (descargas directas), e

redução da carga poluente descarregada no meio receptor ( (Schütze, et al., 2004), (Zacharof, et al.,

2004), (Schütze, et al., 2008), (Schütze & Alex, 2011) citando (Schilling, 1989), (Ferreira & David,

2014) citando (USEPA, 2006)).

Os sistemas de CTR surgem como alternativa ou complemento a investimentos em soluções de

controlo na origem ou de infra-estruturação (e.g. construção de reservatórios de águas pluviais,

aumento da capacidade da estação de tratamento de águas residuais (ETAR)), que são onerosas.

Pode ser preferível recorrer ao CTR para maximizar a utilização dos volumes de armazenamento

existentes, capacidade de transporte na rede e de tratamento na ETAR ( (Pleau, et al., 2005), (United

States Environmental Protection Agency, 2006)). Note-se ainda que as soluções de controlo na

origem como a redução da percentagem de áreas impermeáveis podem não ser muito eficientes

(EMARLIS, 2007b). As soluções estruturais, por sua vez, são melhor aproveitadas aliadas ao CTR,

sendo em alguns casos possível obter as mesmas melhorias com investimentos drasticamente

inferiores. Quando é necessário aumentar a capacidade hidráulica do sistema e não há espaço para

adoptar soluções estruturais, como é comum em meios urbanos densamente edificados, o CTR pode

ser a única solução disponível ao dinamizar a utilização da capacidade existente, equivalendo a um

aumento da capacidade estática (Vanrolleghem, et al., 2005). Além disto, essas soluções tradicionais

de beneficiação dos sistemas de drenagem não são capazes de garantir o controlo da poluição. Já o

CTR, nalgumas das suas formas é capaz do fazer e mesmo de forma directa, fazendo antever a sua

imposição como forma de cumprir a lei.

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2

Embora a capacidade dos sistemas de CTR para melhorar o desempenho dos sistemas de drenagem

urbanos (em particular durante eventos pluviosos) e para ajudar a solucionar os problemas que estes

enfrentam já seja conhecida há várias décadas, a aplicação de tais sistemas tem vindo a ser vista

com crescente interesse pelas entidades gestoras dos sistemas de drenagem (Schütze, et al., 2004).

Tal pode imputar-se a vários factores.

Por um lado, o crescente número de casos de aplicação bem-sucedida de sistemas de CTR e a

experiência adquirida neste sector nas últimas décadas tem provado a eficácia e eficiência desta

abordagem na beneficiação dos sistemas de drenagem urbanos, demonstrando que as dificuldades

inerentes à implementação dos sistemas de CTR são ultrapassáveis e que o resultado final

compensa o trabalho e dinheiro investido ( (Schütze, et al., 2004), (Pabst, et al., 2011), (DWA, 2005),

(Pleau, et al., 2005)). As vantagens dos sistemas de CTR encontram-se hoje bem documentadas,

havendo vários estudos que analisam os seus efeitos nas redes de drenagem, nas ETAR e, em

menor extensão, nos meios receptores ( (Zacharof, et al., 2004) citando (Schilling, 1989), (Schilling,

1994), (Olsson & Newell, 1999), (Beck & Reda, 1994)).

Por outro lado, a viabilidade dos sistemas de CTR tem aumentado com a redução de custos com o

hardware e software associados necessários e com o simultâneo aumento da sua fiabilidade e

robustez ( (Schütze, et al., 2004), (Darsono & Labadie, 2007), (Pleau, et al., 2005), (Labadie & Wan,

2010) citando (Labadie, 2007)). Também os instrumentos de monitorização, indispensáveis ao CTR,

se desenvolveram muito, tornando-se mais exactos e fiáveis ( (Schütze, et al., 2004), (Pleau, et al.,

2005)).

Ao nível do planeamento e implementação dos sistemas de CTR as dificuldades têm vindo a reduzir-

-se com o surgimento de orientações e procedimentos apresentados em manuais e de pacotes de

software dedicados ( (Schütze, et al., 2004), (Schütze, et al., 2008)).

Além disto, surgiram novas abordagens de CTR que se revelam eficazes na melhoria do

desempenho de sistemas de drenagem que não beneficiavam com outras abordagens de CTR mais

antigas (Schütze, et al., 2004). Por exemplo, os sistemas de CTR que fazem um controlo em função

directa da qualidade desejada na água do meio receptor (controlo baseado em imissões, por

oposição a baseado em emissões em que a qualidade é indirectamente controlada através do

volume/carga poluente no ponto de descarga) e que fazem um controlo integrado, i.e. que

consideram todas as partes do sistema de drenagem (rede, ETAR e meio receptor), expandem o

potencial do CTR atingir os objectivos de desempenho destes sistemas (Schütze, et al., 2004).

O interesse nos sistemas de CTR está também fortemente relacionado com a sua capacidade em

ajudar a cumprir a legislação relativa aos sistemas de drenagem, verificando-se que, frequentemente,

o faz simultaneamente reduzindo custos (Schütze, 2011a). Espera-se que, de futuro, se coloquem

problemas acrescidos em termos de garantir a gestão integrada dos sistemas de saneamento e um

nível de serviço que permita obter melhores eficiências e resultados, com menores custos

económicos, sociais e ambientais, e que esses resultados estejam em linha com os objectivos

estratégicos e ambientais dos Planos de Gestão de Bacias Hidrográficas (PGBH) e com a Directiva-

Quadro da Água (DQA) ( (Matos, 2011a), (Vanrolleghem, et al., 2005)).

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No contexto do planeamento e gestão dos sistemas de drenagem em Portugal, o CTR contribui

positivamente para atingir os objectivos do Plano de Desenvolvimento Regional (PDR), Plano

Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais I e II (PEAASAR I e II),

que ainda não foram atingidos no que concerne à satisfação do valor médio de atendimento em

drenagem e tratamento de águas residuais, impostos desde 2000, apesar da progressão do sector

(Matos, 2011a) ao optimizar a utilização dos sistemas de drenagem, potenciando a expansão da área

abrangida pelos mesmos. No âmbito do PEAASAR II, previu-se um investimento total de 4004

milhões de euros, quantia avultada, que se deve tentar reduzir, especialmente dadas as dificuldades

económicas do sector (alguns dos sistemas multimunicipais são mesmo considerados insustentáveis

do ponto de vista financeiro) (Matos, 2011a).

1.2. Objectivos

Esta dissertação tem como principal objectivo expor a informação mais relevante sobre o CTR de

sistemas de drenagem urbanos. É o resultado da constatação da relevância actual deste tema para

resolução dos problemas dos sistemas de drenagem urbanos e optimização do seu funcionamento, e

da carência dum documento estruturado que exponha os principais aspectos do CTR, à luz do estado

da arte, a leitores não familiarizados com o tema. Entre estes aspectos inclui-se a caracterização

sumária dos sistemas de drenagem urbanos, seus problemas e meios de resolução tradicionais;

estado da arte e perspectivas de desenvolvimentos futuros do CTR; enquadramento legal do CTR;

definição, vantagens e princípios gerais do CTR; monitorização e previsão; tipos de CTR e sua

comparação; elementos de controlo e formas da sua utilização; etapas planeamento dum sistema de

CTR; simulação dinâmica dos sistemas de drenagem; métodos de avaliação do potencial do CTR;

tipos de algoritmos de CTR e formas do seu desenvolvimento; e dificuldades da aplicação do CTR.

Os únicos documentos encontrados que se aproximam duma exposição deste tipo são os manuais de

CTR da DWA e da USEPA ( (DWA, 2005) e (USEPA, 2006)), que não apresentam, agregadamente,

toda a informação sobre diversos aspectos relevantes aqui considerados, embora outros sejam

descritos com maior detalhe e apresentem informação sobre aspectos que aqui se consideraram

menos importantes e, por isso, não foram desenvolvidos. Além disso, estes documentos não

exemplificam a aplicação do CTR a casos reais, que se julga fulcral para entender aspectos práticos

da implementação e funcionamento dos sistemas de CTR, visto ser difícil apresentar dum modo

genérico muitas das suas características sem sacrificar a claridade da exposição. Aqui procurou-se

complementar a exposição do tema com exemplos de aplicação, sendo que um dos apresentados

resulta duma visita efectuada à CLABSA, em Barcelona, que permitiu esclarecer melhor detalhes que

não estão claramente documentados.

A elaboração desta dissertação exigiu a consulta dos manuais referidos, dezenas de artigos de

especialidade sobre CTR, e ainda a frequência dum curso promovido pelo FUNDEC sobre modelação

dinâmica de sistemas de drenagem urbanos, no qual se apresentou informação sobre CTR.

Só após recolhida toda esta informação se tornou possível empreender o estudo da aplicação de

CTR a casos de estudo, servindo esta dissertação para estabelecer as condições necessárias para

tal em trabalhos futuros.

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Nesta óptica, avançou-se a avaliação expedita do potencial da aplicação de CTR ao caso de estudo

da frente de drenagem do Terreiro do Paço-Alcântara da cidade de Lisboa. Para realizar esta

avaliação foi ainda necessário recolher e tratar informação cadastral do sistema de drenagem de

Lisboa, tendo sido elaborado a partir dela um modelo da rede de drenagem no programa SWMM, que

poderá ser utilizado para estudos de simulação futuros.

1.3. Estrutura do trabalho

A dissertação divide-se em sete capítulos e um anexo.

O Capítulo 1 é introdutório, expondo-se a relevância do tema, principais objectivos e estrutura do

trabalho.

No Capítulo 2 começa-se pela caracterização sumária dos sistemas de drenagem urbanos, expondo-

se os tipos existentes e seus componentes principais. Apresentam-se as diferenças entre a

concepção clássica e moderna dos sistemas de drenagem urbanos, e o estado da arte do controlo

destes sistemas, bem como as perspectivas de desenvolvimentos futuros. De seguida abordam-se os

principais problemas encontrados nos sistemas de drenagem e meios de resolução. Termina-se com

o enquadramento legal nacional e comunitário, referindo-se as leis e regulamentos relevantes.

No Capítulo 3 começa-se por definir controlo em tempo real (CTR) e apresentar as suas vantagens e

objectivos. Segue-se a exposição dos princípios gerais da sua aplicação, abordando-se depois a

monitorização e previsão utilizadas nos sistemas de controlo, incluindo informação sobre os

equipamentos de monitorização, formas de previsão e a avaliação e tratamento dos dados recolhidos.

São expostos e comparados os vários tipos de CTR existentes e, por fim, descrevem-se os

elementos de controlo disponíveis e formas da sua utilização em CTR.

No Capítulo 4 aborda-se a aplicação de CTR a sistemas de drenagem urbanos, começando pelo

planeamento dum sistema de CTR, onde se expõem as etapas desse processo e considerações

relevantes para a simulação dinâmica do sistema de drenagem. Descrevem-se os métodos de

aferição do potencial do CTR para reduzir o volume de descargas directas e a poluição do meio

receptor, incluindo métodos expeditos e métodos detalhados. Segue-se uma exposição sobre os

algoritmos de controlo, onde se referem os tipos existentes e formas do seu desenvolvimento, tipos

de optimização aplicados e os casos particulares do algoritmo genético e das redes neuronais

artificiais. Encerra-se o capítulo com a enumeração das dificuldades de aplicação do CTR.

No Capítulo 5 descrevem-se quatro exemplos de aplicação reais de sistemas de controlo em tempo

real, além de se mencionarem muitos outros exemplos que se podem consultar na literatura. Os

exemplos apresentados são o de Barcelona, Espanha; Québec, Canadá, e Hildesheim e Leipzig,

Alemanha. A descrição do sistema de Barcelona foi apoiada por uma visita de estudo.

No Capítulo 6 apresenta-se o caso de estudo da frente de drenagem do Terreiro do Paço, avaliando-

se o potencial da aplicação do CTR por um método expedito.

No Capítulo 7 sintetizam-se as conclusões deste trabalho, apresentando-se recomendações futuras.

No Anexo A apresenta-se a rede de drenagem actual e prevista de Barcelona.

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2. Sistemas de drenagem urbana

2.1. Caracterização sumária

2.1.1. Constituição dos sistemas de drenagem urbanos

Os sistemas de drenagem urbanos são constituídos pela rede de drenagem, ETAR e meio receptor.

A maior parte das redes de drenagem têm uma estrutura ramificada, encontrando-se poucas redes

com malhas. A rede de drenagem é composta por ramais de ligação, colectores (que, em geral, vão

crescendo em diâmetro para jusante), câmaras de visita, sarjetas e sumidouros. Podem ainda possuir

outros elementos como reservatórios, bacias de retenção, válvulas, estações elevatórias,

descarregadores, sifões invertidos, desarenadores e, excepcionalmente, túneis e pontes-canal

( (Matos & Monteiro, 2011), (Alex, et al., 2008)). Os ramos da rede de drenagem convergem em

interceptores de grandes dimensões que encaminham o caudal para uma ETAR, onde as águas

residuais são tratadas e depois descarregadas no meio receptor. As estruturas de descarga permitem

limitar o diâmetro dos colectores e enviam o caudal excedente directamente para o meio receptor (em

geral um rio), sem qualquer tratamento. Os reservatórios subterrâneos ou bacias de águas pluviais

contribuem para reduzir as descargas directas, mitigando a sua poluição e evitando a sobrecarga da

ETAR. As águas residuais armazenadas nestes reservatórios e bacias são enviadas para a ETAR

assim que existe capacidade na rede para o fazer. Grande parte das redes de drenagem são

operadas sem qualquer controlo mas já existem sistemas de drenagem operados por sistemas de

controlo em tempo real com um alto grau de sofisticação (Alex, et al., 2008).

Às redes de drenagem podem afluir águas residuais domésticas, comerciais, industriais e pluviais. As

águas residuais domésticas derivam de instalações sanitárias, cozinhas e zonas de lavagem de

roupas, caracterizando-se por conterem grandes quantidades de matéria orgânica e relativa

constância temporal das suas características. As águas residuais industriais provêm de actividades

industriais, caracterizando-se pela diversidade de compostos físicos e químicos contidos e grande

variabilidade temporal das suas características. As águas pluviais resultam de eventos pluviosos e,

em geral, contêm menor carga poluente que os outros tipos, em particular, carga orgânica. As águas

provenientes de regas de espaços verdes, lavagem de vias públicas, pátios e parques de

estacionamento, consideram-se equiparadas a águas pluviais, sendo normalmente recolhidas da

mesma forma, i.e. por sarjetas, sumidouros e ralos (Matos & Monteiro, 2011).

As redes de drenagem classificam-se, conforme a natureza da qualidade das águas residuais que

transportam, em separativas, unitárias, mistas e separativas parciais (também denominadas pseudo-

separativas). As separativas possuem uma rede de colectores para águas residuais domésticas,

comerciais e industriais e outra para águas pluviais ou similares. As unitárias recebem todos os tipos

de caudal numa só rede de colectores. As mistas correspondem aos casos em que parte da rede

funciona como separativa e parte como unitária. Por fim, as pseudo-separativas são as redes onde se

admite, em condições excepcionais, a ligação de águas pluviais (e.g. de pátios interiores), aos

colectores de águas residuais domésticas (Matos & Monteiro, 2011).

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Tradicionalmente, os sistemas de drenagem eram unitários. Depois introduziram-se os sistemas se-

parativos, sendo este o tipo que actualmente é normal utilizar em novos sistemas ou expansões dos

sistemas unitários antigos, o que resulta com frequência em sistemas mistos. Na Holanda é comum

utilizar um sistema separativo melhorado, que tem a diferença de possuir electrobombas para bom-

bear a água pluvial até à ETAR (De Korte, et al., 2009).

Em zonas onde o nível freático está próximo da superfície, a instalação de colectores de grandes

dimensões e a grande profundidade torna-se economicamente inviável. Este problema é contornado,

tanto nos sistemas clássicos como nos modernos, recorrendo a electrobombas que elevam o caudal

escoado. Esta situação é ubíqua na Holanda e também se verifica em Lisboa, nos interceptores ao

longo da margem do rio Tejo. Em geral, as estações elevatórias têm electrobombas suplentes para

assegurar a fiabilidade desejada ( (De Korte, et al., 2009), (Matos & Monteiro, 2011)). Contudo, em

qualquer tipo de rede, sempre que possível o escoamento é feito com superfície livre e não sob

pressão (Matos & Monteiro, 2011).

Em (Matos & Monteiro, 2011) apresenta-se informação detalhada sobre os sistemas de drenagem de

águas residuais, em particular sobre as vantagens e inconvenientes dos tipos existentes destes

sistemas (incluindo soluções não convencionais), componentes constituintes e sua finalidade,

materiais utilizados e respectivas vantagens e inconvenientes, e processo e critérios de concepção e

dimensionamento.

2.1.2. Concepções clássica e moderna dos sistemas de drenagem urbana

A principal diferença entre a concepção moderna dos sistemas de drenagem urbana e a clássica é a

avaliação compreensiva dos impactos ambientais da urbanização sobretudo em relação às águas

superficiais e subterrâneas (Polaskova, et al., 2006).

Na concepção clássica as componentes do sistema de drenagem são concebidas e operadas

separadamente, prestando-se mais atenção à rede de drenagem e à ETAR do que ao meio receptor

( (Schütze, et al., 2004), (Polaskova, et al., 2006)) e ignorando-se as interacções entre as várias

partes, embora a importância da análise do sistema completo já tenha sido notada há algum tempo

( (Zacharof, et al., 2004) citando (Durchschlag, et al., 1991) e (Tyson, et al., 1993)). As estruturas do

sistema de drenagem e tratamento são concebidas como estáticas e as regras de operação são fixas

(Rauch & Harremoës, 1999b). Além disso, nos casos em que é efectuado controlo, geralmente ele é

feito separadamente para cada parte do sistema ( (Schütze, et al., 2004) citando (Schilling, 1989),

(Olsson & Newell, 1999), (Jeppsson, et al., 2002) e (Jumar & Tschepetzki, 2002)). A concepção

estática do sistema de drenagem é feita de modo a assegurar uma drenagem segura da área

abrangida, evitando inundações, e de forma a minimizar o volume de descargas directas como meio

de controlo da poluição no meio receptor (Alex, et al., 2008). O dimensionamento dos volumes dos

reservatórios e da posição estática das válvulas reguladoras de caudal recorre a simulações de séries

de precipitação de longo prazo (Alex, et al., 2008).

A resolução de problemas ambientais no meio receptor e de inundações em áreas urbanas passa por

aumentar os volumes de armazenamento na rede de drenagem e/ou instalar tubagens de maior

diâmetro com capacidade de armazenamento e/ou expandir a capacidade da ETAR. Por exemplo,

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uma solução comum para reduzir a poluição em rios causada por descargas de redes unitárias

consiste em construir um reservatório para armazenamento temporário de águas residuais. Estas são

encaminhadas para a ETAR assim que haja capacidade para o seu tratamento (Zacharof, et al.,

2004). Os sistemas de drenagem são geridos segundo uma abordagem de emissões por oposição à

abordagem de imissões, i.e., controla-se o volume, frequência e/ou carga poluente descarregada no

meio receptor sem avaliar directamente os seus efeitos neste.

Na concepção moderna as componentes do sistema de drenagem podem ser concebidas e operadas

em sincronia, de modo a optimizar o desempenho do sistema integral. A sincronia do controlo do

sistema pode aplicar-se a todas as componentes ou apenas a uma combinação delas, sendo o mais

comum haver uma operação coordenada entre a rede de drenagem e a ETAR. Em casos mais raros

e sofisticados, o meio receptor é incluído neste processo de gestão integrada.

Nesta concepção, o volume existente na rede de drenagem é explorado dinamicamente através de

CTR, produzindo um efeito de aumento do volume estático. Isto acaba por ser mais económico e

pode mesmo ser única solução no caso de zonas densamente edificadas onde é impossível expandir

as infra-estruturas de drenagem (Vanrolleghem, et al., 2005). Contudo, mesmo na concepção

moderna, certos resultados só são atingíveis através do incremento do volume de armazenamento

estático da rede, simplesmente ele é mais bem utilizado ao ser gerido em tempo real. O CTR pode

ser concebido tanto segundo uma abordagem de imissão como de emissão, tal como descrito no

subcapítulo 3.4.4.

2.1.3. Estado da arte e perspectivas de desenvolvimentos futuros

Muitos dos sistemas de drenagem urbanos actuais são geridos com pouco ou nenhum controlo.

Apesar disso, existem já alguns sistemas utilizando sistemas de controlo muito sofisticados (Schütze,

et al., 2004).

Os sistemas de CTR mais evoluídos são totalmente automáticos (embora possuam capacidade de

reverter para tipos de controlo mais simples em situações de emergência ou sempre que os

operadores humanos entenderem prudente fazê-lo). Fazem um controlo baseado em imissões

enquanto consideram múltiplos objectivos (e.g. cumprir os requisitos legislativos relativamente à

qualidade ambiental dos meios receptores, prevenir inundações, minimizar custos operacionais, etc.).

O controlo é feito para todas as partes do sistema de drenagem (rede de drenagem, ETAR e meio

receptor), de modo coordenado e considerando as interacções entre as várias componentes, de

forma a atingir os objectivos de desempenho para a totalidade do sistema. Utilizam previsões

meteorológicas e controlam o sistema de drenagem considerando as previsões do seu

comportamento futuro, apoiando-se para tal em ferramentas de modelação matemática.

Actualmente, as abordagens de controlo integrado consideram simultaneamente as descargas

directas da rede de drenagem e o efluente da ETAR, ao passo que as características dinâmicas do

meio receptor só raramente são incluídas (Polaskova, et al., 2006).

Até agora, a maioria das abordagens de controlo tem lidado com as emissões da rede de drenagem e

da ETAR separadamente, estando a dedicar-se cada vez mais investigação ao controlo baseado em

imissões (Vanrolleghem, et al., 2005), motivadas pelas mudanças legislativas dos últimos anos, em

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particular as introduzidas pela Directiva Quadro da Água (DQA), que estão a levar a uma mudança

dos objectivos operacionais nos sistemas de drenagem, virando o foco para o controlo das imissões e

da qualidade do meio receptor. Esta mudança é acompanhada pela alteração das abordagens de

modelação, sistemas de monitorização, actuadores, estratégias e procedimentos de controlo

(Schütze, et al., 2004). A evolução do CTR no sentido de ajudar a cumprir as novas exigências

legislativas enfrenta ainda grandes desafios provenientes de faltas de conhecimento, por exemplo, da

relação existente entre variáveis quantitativas e qualitativas da água. De facto, até recentemente, a

qualidade do meio receptor era controlada apenas indirectamente, através da redução dos volume

e/ou frequência de emissões, quando na verdade isso não garante a melhor qualidade bioquímica do

meio receptor. Contudo, a investigação nesta área tem produzido resultados e têm surgido novas

abordagens de CTR promissoras (Schütze, et al., 2004). Também a modelação ecológica e previsão

do comportamento de ecossistemas permanece um assunto problemático, ainda que se tenham

conseguido alguns avanços recentemente ( (Vanrolleghem, et al., 2005) citando (Schleiter, et al.,

1999) e (Goethals & De Pauw, 2001)).

Actualmente já estão disponíveis programas de computador que simplificam a aplicação de controlo

baseado em imissões (que vem sempre aliado a controlo integrado completo, i.e., que inclui a rede de

drenagem, ETAR e meio receptor), como é caso do WEST (Vanrolleghem, et al., 2005) e do

SYNOPSIS (SYNchronous OPtimisation and SImulation of the urban wastewater System) (Zacharof,

et al., 2004). Outros simuladores integrados existentes estão a ser disponibilizados comercialmente e

estão a ser trabalhados no sentido de terem desempenhos compatíveis com sistemas de CTR.

Espera-se o desenvolvimento de ferramentas de redução dos modelos, modelos caixa preta (e.g.

redes neuronais artificiais e modelos simplificados, que representam comportamentos complexos do

sistema de drenagem dum modo suficientemente exacto), consideração devida dos efeitos relevantes

para o CTR (e.g. tempo de entrada/saída de funcionamento de electrobombas) e rotinas mais

eficientes para resolver as equações modeladas e optimizar o desempenho. Além disso espera-se o

desenvolvimento das capacidades de previsão dos modelos (Schütze, et al., 2004).

A incerteza permanece um problema ao modelar sistemas de drenagem complexos de grandes

dimensões ( (Schütze, et al., 2004) citando (Beck, 1987), (Méthot & Pleau, 1997), (Willems, 2000),

(Duchesne, et al., 2001) e (Rousseau, et al., 2001)). Uma das opções para lidar com ela é adoptar um

tipo de modelo diferente, capaz de lidar intrinsecamente com a incerteza, como os modelos caixa

cinzenta ( (Schütze, et al., 2004) citando (Bechmann, 1999)). Outra opção é manter os modelos

determinísticos de uso disseminado, mas utilizando juntamente uma simulação de Monte Carlo para

simular a propagação da incerteza e assim avaliar a incerteza das variáveis relevantes. Esta

abordagem foi usada com sucesso na concepção e operação de várias ETAR ( (Schütze, et al., 2004)

citando (Rousseau, et al., 2001)) e está sob avaliação a sua utilização na concepção do CTR de

sistemas integrados de drenagem urbana (Schütze, et al., 2004). A incerteza associada à modelação

dos sistemas de drenagem leva a que a robustez do controlador (a sua capacidade de ter um bom

desempenho em condições diferentes das previstas) seja um critério na sua selecção e afinação

( (Pleau, et al., 2005), (Schütze, et al., 2004) citando (Meirlaen, 2002)).

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Relativamente aos dados recolhidos pelos sensores, espera-se que suceda o mesmo que na

operação do tratamento de águas residuais, ou seja, os sensores tornar-se-ão mais focados em

recolher dados relevantes para o problema em mão, capazes de lidar com os problemas de sujidade

e terão menor necessidade de manutenção ( (Schütze, et al., 2004) citando (Jeppsson, et al., 2002)).

A gestão dos dados recolhidos torna-se crucial para os poder utilizar eficientemente, utilizando-se

para esse efeito bases de dados, SIG e interfaces gráficas para apresentação de dados. Um aspecto

que já recebe atenção é a detecção automática de erros nos dados de monitorização e diagnóstico

da sua causa ( (Schütze, et al., 2004) citando (Olsson & Newell, 1999)), de modo a que os sistemas

de CTR possam retroceder para um esquema de controlo alternativo independente dos dados

erróneos (Schütze, et al., 2004) ou corrigir esses dados a tempo dos utilizar no CTR (DWA, 2005).

Em termos de actuadores não se esperam desenvolvimentos importantes. Em vez disso, espera-se

que os actuadores existentes passem a ser utilizados de forma mais criativa e orientada para

objectivos. A excepção pode ser algum desenvolvimento ao nível da implementação de actuadores

em rios (arejamento e controlo do escoamento) já que as condições no meio receptor se tornam cada

vez mais o foco do CTR. Aliás estas ideias já foram aplicadas pelo menos num caso, o rio Sena, em

Paris ( (Schütze, et al., 2004) citando (Krier, 1998)).

A já referida mudança dos objectivos do controlo, impulsionada pelas alterações legislativas, faz

antecipar uma evolução para sistemas de controlo que integram cada vez mais partes do sistema,

utilizando informações de todo o sistema para actuar em diferentes pontos do mesmo. Por essa

razão, as estratégias adoptadas serão do tipo MIMO (multiple input – multiple output). Tal não

significa que sejam necessárias leis e algoritmos de controlo muito complexos. Em vez disso, pode

ser implementada uma combinação de leis de controlo simples, inteligente e supervisionada, do tipo

SISO (single input – single output), facilmente calibradas. Antevê-se que o desenvolvimento,

avaliação e calibração sistemáticos destes procedimentos seja feito com os simuladores integrados

existentes ( (Schütze, et al., 2004) citando (Meirlaen, et al., 2001), (Rauch, et al., 2002) e (Schütze &

Erbe, 2002)). Além disto, consideram-se actualmente novos conceitos para partes individuais do

sistema, e.g. para a operação de estações elevatórias, de modo a optimizar a sua utilização

( (Schütze, et al., 2004) citando (Schütze & Alex, 2003)). A consideração simultânea de objectivos

concorrentes (i.e. objectivos que requerem acções contraditórias sobre o sistema) na determinação

das acções de controlo constitui uma área promissora de desenvolvimento ( (Schütze, et al., 2004)

citando (Rauch & Harremoës, 1999a) e (Schütze, et al., 2002e)), existindo actualmente vários

sistemas que o fazem através da minimização duma função objectivo que traduz os múltiplos

objectivos de controlo, atribuindo pesos ao cumprimento de cada um e considerando ainda um

conjunto de restrições.

Ao nível do envolvimento dos operadores, apesar da progressiva automatização dos sistemas de

controlo, esperam-se esforços consideráveis para manter os operadores/supervisores/gestores no

ciclo de controlo. Assim, haverá uma necessidade crescente de fazer gestão de dados e dispor de

sistemas de apoio à decisão (Schütze, et al., 2004).

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2.2. Principais problemas

Os sistemas de drenagem urbanos são afectados por problemas de diversas naturezas, que colocam

desafios à sua concepção e gestão de modo a cumprir a crescente exigência do seu desempenho

imposta pela lei. De entre esses problemas podem enumerar-se os seguintes:

a) O processo de urbanização provoca uma inevitável mudança dos parâmetros hidrológicos das

bacias hidrográficas, aumentando a área impermeável, reduzindo a capacidade de retenção e de

infiltração da água precipitada. Estas alterações aumentam o risco de ocorrência de inundações

em áreas urbanas e a frequência e volume das descargas directas, acarretando consequências

negativas a nível social, ambiental, económico e infra-estrutural ( (Polaskova, et al., 2006),

(Ferreira & David, 2014), (Wan, et al., 2006)).

b) O aumento da actividade humana tem provocado a poluição da superfície de bacias de drenagem

e o arrastamento desses poluentes pelas escorrências pluviais para o meio receptor, agravando

as condições ambientais (Ferreira & David, 2014).

c) A drenagem rápida e intermitente de águas pluviais pode aumentar excessivamente o caudal

natural em pequenos cursos de água e, ao mesmo tempo, reduzir a recuperação dos aquíferos

subterrâneos e baixar os níveis freáticos naturais ( (Polaskova, et al., 2006), (Wan, et al., 2006)).

d) A eficiência das ETAR em redes unitárias decresce com a afluência de águas pluviais pouco

poluídas, aumentando os custos operacionais ( (Polaskova, et al., 2006) citando (Krejci, 2000)).

e) Os períodos diários de maior intensidade de utilização de água e os eventos de precipitação

provocam picos hidráulicos de afluente à ETAR que reduzem o seu desempenho (De Korte, et al.,

2009).

f) Os eventos de precipitação podem fazer exceder a capacidade dos interceptores (que podem

chegar a entrar em carga) e da ETAR originando descargas directas, o que pode causar

problemas ambientais se a carga de poluentes for excessiva ( (Pleau, et al., 2005), (Darsono &

Labadie, 2007), (Póvoa, 2011), (Póvoa, et al., 2011), (Matos & Monteiro, 2011), (Vanrolleghem, et

al., 2005)). No caso de descargas de redes unitárias os poluentes incluem sólidos suspensos,

coliformes fecais, fósforo, azoto e metais pesados (Pleau, et al., 2005). Em redes unitárias há um

acréscimo de encargos de energia e de exploração em estações elevatórias e ETAR, devido ao

excedente de contribuição pluvial em tempo de chuva (Matos & Monteiro, 2011).

g) Durante eventos pluviosos há um risco acrescido de falhas energéticas que podem pôr em causa

o funcionamento de estações elevatórias, facilitando a ocorrência de inundações na vizinhança

destas (Póvoa, 2011).

h) A afluência ininterrupta de águas residuais às ETAR durante períodos muito longos pode levar a

impactos negativos no meio receptor. Isto manifesta-se não só em termos dum aumento na

quantidade total de carga poluente descarregada mas também da possibilidade de perda de

capacidade da ETAR (i.e. por ressuspensão do manto de lamas do decantador secundário, e

consequente washout de microrganismos) devido a choque de carga ( (Zacharof, et al., 2004)

citando (Lau, et al., 2002) e (Rauch & Harremoes, 1996)).

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i) A água que se infiltra na rede de drenagem pode afectar a operação da ETAR, aumentando os

custos de exploração ( (Matos, 2011b), (Polaskova, et al., 2006)).

j) A existência de ligações cruzadas em sistemas separativos, i.e., ligação de águas residuais

domésticas, comerciais e industriais a colectores de águas pluviais e entrada de caudais pluviais

em colectores de águas residuais, impede a devida separação dos caudais pluviais e residuais

domésticos, comerciais e industriais ( (Matos, 2011b), (Matos & Ferreira, 2011)).

k) Actualmente é comum a coexistência de vários tipos de rede de drenagem (ramificada, malhada,

pseudo-separativa, separativa e unitária) no mesmo sistema de drenagem, tornando mais

complexa a sua gestão. Além disto, este problema é tipicamente acompanhado pela coexistência

de vários tipos de infra-estruturas, de diferentes idades, secções e materiais, e cujas

características não estão devidamente cadastradas ( (Matos, 2011b), (Póvoa, 2011)).

l) As marés e a variação do nível de rios para onde o sistema de drenagem descarrega podem

interferir com o seu funcionamento ao entrar água do meio receptor na rede, dificultando o

escoamento, ou impactando o funcionamento da ETAR (Matos, 2011b).

m) Necessidade de manutenção dos colectores devido a sedimentação, incrustações, assoreamento

(entupimentos e obstruções), assentamentos, acumulação de gordura e filme biológico nas

paredes, intrusão de raízes e colapso total ou parcial da infra-estrutura (Matos, 2011b). Estas

disfunções podem ter vários impactos como inundações de espaços interiores (caves) ou

exteriores, libertação de odores, criação de atmosferas tóxicas e/ou explosivas, corrosão dos

materiais com subsequente erosão e deteriorização da infra-estrutura, interrupção do tráfego

(Matos, 2011b).

n) Até recentemente e ainda em muitos locais, a legislação impunha um limite ao número anual de

descargas directas como única forma de controlo da poluição nos meios receptores.

Frequentemente verifica-se que, mesmo cumprida essa legislação, o volume das descargas é tal

relativamente à capacidade do meio receptor, que este apresenta má qualidade global, registando-

se graves danos ambientais ( (Vanrolleghem, et al., 2005) citando (Wills, 2000)).

o) A gestão das redes de drenagem é dificultada pela imprecisão, erro e ausência de informação

sobre a mesma, em particular, aquela que deve constar nos cadastros, que em geral são pouco

fiáveis (Matos & Ferreira, 2011).

2.3. Meios de resolução dos problemas dos sistemas de drenagem

A resolução dos problemas dos sistemas de drenagem urbanos, em particular, as inundações,

descargas directas e poluição do meio receptor, passa por três tipos de soluções ( (Schütze, et al.,

2008), (DWA, 2005), (Schütze, 2011a), (Ferreira & David, 2014) citando (Vaz, et al., 2011)):

1) Soluções estruturais de expansão do volume de armazenamento do sistema de drenagem,

através da construção de reservatórios, bacias de retenção de água pluviais, colectores de

grande volume e com capacidade de armazenamento ou expansão da capacidade das

ETAR, e soluções estruturais de alteração do desenho da rede de drenagem (incluindo

desacoplamento de partes da rede);

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2) Soluções de controlo na origem, através de soluções “verdes” de renaturalização das bacias

de drenagem para aumentar a infiltração e recarga do solo e controlar o escoamento

superficial;

3) Soluções de controlo em tempo real, que optimizam a gestão do sistema de drenagem, e em

particular a utilização dos volumes de armazenamento existentes (colectores, reservatórios e

bacias de retenção).

Estas soluções podem surgir combinadas, em particular o aumento do volume de armazenamento do

sistema conjugado com a implementação dum sistema de CTR, pois este por si só pode não ser

capaz de atingir as melhorias de desempenho desejadas em termos de capacidade do sistema e, por

sua vez, o CTR reduz o investimento em volume de armazenamento necessário para obter o mesmo

desempenho (Schütze, 2011a).

As soluções estruturais que permitem armazenar um maior volume de águas residuais no sistema de

drenagem, possibilitam o seu tratamento gradual ao manter a ETAR em funcionamento a uma

capacidade superior à normal nos períodos de tempo seco que se seguem a eventos pluviosos. O

lado negativo deste tipo de solução é o grande custo da construção das infra-estruturas e a

dificuldade, ou mesmo impossibilidade, de as implantar num meio urbano densamente edificado.

Salientam-se ainda as seguintes soluções de controlo na origem que visam controlar o escoamento

superficial e promover a infiltração das escorrências pluviais o mais perto possível da sua origem

(Polaskova, et al., 2006):

Retenção, armazenamento temporário e infiltração da água da chuva em áreas verdes;

Retenção, armazenamento temporário e infiltração em valas, trincheiras, canais e câmaras

drenantes;

Infiltração em pavimentos porosos de parques de estacionamento e de ruas;

Bacias de retenção permeáveis cuja água é utilizada para irrigar jardins;

Coberturas ajardinadas.

No Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL) concluiu-se que soluções de controlo na origem

como a redução da percentagem das áreas impermeáveis surtem pouco efeito (EMARLIS, 2007b).

As soluções de controlo em tempo real são mais recentes e estão em franco desenvolvimento, sendo

abordadas em detalhe em capítulos seguintes. São capazes de beneficiar os sistemas de drenagem

urbanos contribuindo especialmente para o controlo directo da poluição descarregada no meio

receptor.

Actualmente verifica-se uma tendência nas cidades modernas em associar soluções estruturais a

soluções de CTR, de forma a optimizar o desempenho do sistema de drenagem e tirar máximo

proveito dos investimentos em infra-estruturas, ao mesmo tempo que estes são reduzidos. No

Capítulo 5 são apresentados vários exemplos de aplicação de sistemas de CTR que ilustram esta

tendência.

A drenagem através de redes separativas é uma tipologia de concepção dos sistemas de drenagem

que também tenta solucionar alguns dos seus problemas típicos, justificando-se por se dar

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escoamento a afluentes de diferente natureza por diferentes colectores (há um colector para águas

residuais domésticas, comerciais e industriais e outro para águas pluviais ou similares) dando-se

diferentes condições de tratamento e destino final a cada efluente resultante. Contudo, na prática é

comum verificarem-se ligações cruzadas, i.e. ligação de efluentes pluviais aos colectores de águas

residuais domésticas e ligação de efluentes domésticos, comerciais e industriais a colectores de

águas pluviais. Tal provoca o funcionamento incorrecto destes sistemas, reduzindo as suas

vantagens teóricas. Além disto, esta solução requer um investimento inicial elevado devido à

necessidade dispor de dois tipos de colectores (Matos & Monteiro, 2011).

2.4. Legislação aplicável

2.4.1. Enquadramento

Em Portugal, o PEAASAR II é o documento que orienta o sector do saneamento de águas residuais

no período de 2007 a 2013 (a ser substituído pelo PENSAAR de 2014 a 2020). Tem como objectivos

estratégicos a universalidade, continuidade e qualidade do serviço, sustentabilidade do sector e

protecção dos valores de saúde pública e ambientais. Alguns dos objectivos operacionais

enquadrados nesta estratégia são os seguintes (Ministério do Ambiente, do Ordenamento do

Território e do Desenvolvimento Regional, 2007):

Servir cerca de 90% da população total do país com sistemas públicos de saneamento de

águas residuais urbanas, sendo que em cada sistema integrado de saneamento o nível de

atendimento desejável deve ser de pelo menos 70% da população abrangida;

Obter níveis adequados de qualidade de serviço, mensuráveis pela conformidade dos

indicadores de qualidade do serviço definidos pela entidade reguladora;

Servir mais de 80% da população equivalente com sistemas de saneamento de águas

residuais cumprindo a legislação em termos de descargas;

Caminhar para a sustentabilidade, optimizando a gestão operacional;

Proteger o ambiente, cumprindo as leis comunitárias e nacionais, e garantindo uma

abordagem integrada na prevenção e controlo da poluição antropogénica.

Segundo o INSAAR (Inventário Nacional de Sistemas de Abastecimento de Água e de Águas

Residuais), em 2002, as percentagens de população servidas por sistemas públicos de drenagem e

de tratamento de águas residuais eram, respectivamente, apenas de 68% e de 58%, havendo índices

de atendimento inferiores em zonas do litoral, de grande densidade populacional, o que se reflectia

em problemas acrescidos de descargas directas (Matos, 2011a). Em 2008, os esforços de melhoria

nesta área já tinham resultado em situações de cobertura de serviço próxima dos países

desenvolvidos da U.E. (índices de drenagem e tratamento de águas residuais, respectivamente de

78% e de 70%) (Matos, 2011a).

Actualmente, em Portugal é a ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos) que

regula os serviços de saneamento de águas residuais, tendo capacidade de intervenção junto das

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entidades gestoras dos sistemas de drenagem, regulamentando o seu funcionamento, qualidade de

serviço, estabelecendo objectivos a atingir e avaliando indicadores de desempenho.

Entre os indicadores da qualidade do serviço para saneamento de águas residuais urbanas contam-

-se os seguintes (ERSAR, 2011):

1) Ocorrência de inundações;

2) Cobertura dos gastos totais (avalia a sustentabilidade económica do serviço);

3) Adequação da capacidade de tratamento (definida como percentagem da capacidade de

tratamento existente nas ETAR que foi utilizada em condições adequadas ao seu

dimensionamento);

4) Eficiência energética de instalações elevatórias (avalia a sustentabilidade ambiental);

5) Destino adequado de águas residuais recolhidas (definido como percentagem do número de

alojamentos localizados na área de intervenção da entidade gestora com serviço de

drenagem para os quais as redes públicas se encontram disponíveis e que se encontram

ligados a destino adequado em termos de tratamento – avalia o nível de sustentabilidade

ambiental em termos de eficiência na prevenção da poluição bem como os seguintes pontos);

6) Controlo de descargas de emergência (definido como a percentagem de descarregadores

com descarga directa para o meio receptor monitorizados e com funcionamento satisfatório);

7) Análise de águas residuais realizadas (definido como percentagem do número total de

análises que foram realizadas das requeridas na licença de descarga ou, na sua ausência,

pela legislação aplicável);

8) Cumprimento dos parâmetros de descarga (definido como a percentagem do equivalente de

população que é servido com ETAR que asseguram o cumprimento da licença de descarga).

A ERSAR intervém ainda no estabelecimento do regime jurídico dos serviços de saneamento de

águas residuais urbanas, da regulação, de qualidade de serviço, de concepção, instalação e

exploração dos sistemas, além de complementar esta legislação com normas técnicas ( (Costa, et al.,

2011) e (ERSAR, 2011)).

Tem-se feito um esforço legislativo no sentido de assegurar a protecção do meio ambiente, em

particular, dos meios receptores de descargas de águas residuais, tanto a nível da U.E. como

nacional, sendo que várias legislações portuguesas resultam da transposição das directivas

europeias para a lei nacional. As leis têm acompanhado a evolução científica nas áreas relevantes e

são gradualmente mais exigentes, tendência que se deverá manter.

De seguida apresentam-se as legislações, a nível comunitário e nacional, mais relevantes para os

sistemas de drenagem urbana e mais influentes na aplicação do CTR.

2.4.2. Direito Comunitário

Directiva 2008/105/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 16 de Dezembro de 2008

(Jornal Oficial da União Europeia, 2008):

Estabelece normas de qualidade ambiental (NQA) no domínio da política da água, para substâncias

prioritárias e para outros poluentes, e altera a Directiva 2000/60/CE. Considera que “A poluição

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química das águas de superfície representa uma ameaça para o ambiente aquático, com efeitos

como toxicidade aguda e crónica para os organismos aquáticos, acumulação no ecossistema e

perdas de habitats e de biodiversidade, além de constituir uma ameaça para a saúde humana. As

causas da poluição deverão ser identificadas e as emissões deverão ser tratadas na fonte, com

carácter de prioridade, da maneira mais eficaz em termos económicos e ambientais.”

Estabelece que os Estados-Membros deverão aplicar as medidas necessárias para reduzir

gradualmente a poluição provocada por substâncias prioritárias e fazer cessar ou suprimir

gradualmente as emissões, descargas e perdas de substâncias perigosas prioritárias.

Directiva 2006/7/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de Fevereiro de 2006 (Jornal

Oficial da União Europeia, 2006):

Relativa à gestão da qualidade das águas balneares e que revoga a Directiva 76/160/CEE. Tem

como objectivo a preservação, protecção e melhoria da qualidade do ambiente, complementando a

Directiva 2000/60/CE. Para tal, p.e., apresenta disposições sobre monitorização e classificação da

qualidade das águas balneares. Estabelece que “O público deverá ser informado apropriada e

oportunamente dos resultados da monitorização da qualidade das águas balneares (…), a fim de

prevenir riscos para a saúde, especialmente no contexto de episódios previsíveis de poluição de curta

duração ou de situações anormais. Deverão ser aplicadas novas tecnologias que permitam a

informação do público, duma forma eficiente e comparável, sobre a qualidade das águas balneares

(…).”

Directiva 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho (Directiva Quadro da Água)

(Eur-Lex, 2000):

A Directiva Quadro da Água (DQA) tem como objectivo estabelecer um enquadramento para a

protecção química, ecológica e quantitativa das águas de superfície interiores, das águas de

transição, das águas costeiras e das águas subterrâneas, entre outros, que:

Evite a continuação da degradação e proteja e melhore o estado dos ecossistemas aquáticos,

e também dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas directamente dependentes dos

ecossistemas aquáticos, no que respeita às suas necessidades em água;

Vise uma protecção reforçada e um melhoramento do ambiente aquático, nomeadamente

através de medidas específicas para a redução gradual das descargas, das emissões e

perdas de substâncias prioritárias e da cessação ou eliminação por fases de descargas,

emissões e perdas dessas substâncias prioritárias, com o objectivo último de reduzir as

concentrações no ambiente marinho para valores próximos dos de fundo para as substâncias

naturalmente presentes e próximos de zero para as substâncias sintéticas antropogénicas;

Estabeleça uma abordagem combinada da regulação de emissões e descargas, através de

valores limite das emissões e padrões de qualidade, além da eliminação de substâncias

particularmente perigosas (Vanrolleghem, et al., 2005);

Contribua para mitigar os efeitos das inundações assim contribuindo para a protecção das

águas marinhas e territoriais, e para a prevenção e eliminação da poluição no ambiente

marinho.

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No caso das águas superficiais, a sua qualidade ecológica é avaliada pela variação da comunidade

biológica presente relativamente àquela que seria a natural em condições de impacto de origem

humana mínimo. Os factores de qualidade dividem-se em elementos biológicos (e.g. composição e

abundância de fauna e flora), hidromorfológicos (e.g. caudal e dinâmicas do escoamento, variação da

profundidade e largura do rio) e físico-químicos (temperatura, oxigenação, salinidade, nutrientes,

etc.). Para a qualidade química da água são apenas considerados dois estados, que correspondem

ao cumprimento ou não da legislação (Vanrolleghem, et al., 2005).

A DQA estabelece ainda como objectivo a gestão integrada de bacias hidrográficas de rios, com

programas de medidas coordenados (Vanrolleghem, et al., 2005).

Directiva 98/15/CE da Comissão de 27 de Fevereiro (Jornal Oficial das Comunidades Europeias,

1998):

Altera a Directiva 91/271/CEE relativamente aos requisitos do anexo I, respeitante a requisitos de

descargas de ETAR em zonas sensíveis sujeitas a eutrofização.

Directiva 91/271/CEE do Conselho, de 21 de Maio (Jornal Oficial da União Europeia, 1991):

Relativa à recolha, tratamento e descarga de águas residuais urbanas, com o objectivo de proteger o

ambiente dos efeitos nefastos destas descargas.

2.4.3. Direito Nacional

Decreto-Lei n.º 130/2012, de 22 de Junho (Diário da República, 2012):

Procede à segunda alteração à Lei n.º 58/2005, que aprova a Lei da Água, transpondo a Directiva n.º

2000/60/CE, e estabelecendo as bases e o quadro institucional para a gestão sustentável das águas.

Decreto-Lei n.º 103/2010, de 24 de Setembro (Diário da República, 2010):

Estabelece as NQA no domínio da política da água e transpõe a Directiva n.º 2008/105/CE e

parcialmente a Directiva n.º 2009/90/CE. Aplica-se à análise e monitorização químicas do estado das

águas superficiais, sedimentos e biota.

Decreto-Lei n.º 198/2008, de 8 de Outubro (Diário da República, 2008):

Altera o Decreto-Lei n.º 152/97, relativamente aos critérios das descargas de águas residuais em

zonas sensíveis sujeitas a eutrofização.

Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro (Diário da República, 2005):

Aprova a Lei da Água, transpondo para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2000/60/CE, e

estabelecendo as bases e o quadro institucional para a gestão sustentável das águas.

Decreto-Lei 149/2004 de 22de Junho (Diário da República, 2004):

Altera o Decreto-Lei n.º152/97, em particular no que refere à lista de identificação de zonas sensíveis

e de zonas menos sensíveis e ao tratamento para descargas em zonas sensíveis.

Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto (Diário da República, 1998):

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Estabelece normas, critérios e objectivos de qualidade com a finalidade de proteger o meio aquático

(em particular das descargas de águas residuais) e melhorar a qualidade das águas em função dos

seus principais usos (e.g., águas balneares, piscícolas, de rega). Não se aplica a águas residuais

urbanas abrangidas pelo Decreto-Lei nº 152/97.

Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho (Diário da República, 1997):

Transpõe para o direito interno a Directiva n.º 91/271/CEE, relativamente ao tratamento de águas

residuais urbanas e sua descarga em meio aquático. Tem como objectivo proteger as águas

superficiais dos efeitos dessas descargas, protegendo o ambiente.

Estabelece que os pontos de descarga das águas residuais urbanas deverão ser escolhidos, dentro

do possível, de modo a minimizar os efeitos no meio receptor. O nível de tratamento a aplicar

depende da sensibilidade do meio receptor.

Decreto Regulamentar n.º 23/95, de 23 de Agosto (Diário da República, 1995):

Aprova e contém o Regulamento Geral dos Sistemas Públicos e Prediais de Distribuição de Água e

de Drenagem de Águas Residuais, que estabelece princípios e regras de concepção,

dimensionamento, construção e exploração destes sistemas. São particularmente relevantes os

critérios de dimensionamento de colectores relativos a velocidades e alturas de escoamento.

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3.Controlo em tempo real: definições, princípios e elementos de

controlo

3.1. Definição e vantagens do controlo em tempo real

O controlo em tempo real de sistemas de drenagem consiste em regular dinamicamente os

actuadores do sistema (e.g. electrobombas, válvulas, descarregadores, comportas, arejadores) em

função do estado presente do sistema e, possivelmente, passado e futuro previsto, comparado com o

estado ideal do sistema que se procura atingir por meio da acção dos actuadores. O estado do

sistema é avaliado através de dados (e.g. níveis de água, caudais, precipitação, concentrações de

poluentes, etc.) recolhidos por um processo de monitorização contínuo, sendo o controlo feito de

imediato quando os dados são recebidos pelo sistema de controlo (e.g. comporta controlada por uma

bóia) ou com um desfasamento temporal pequeno (tipicamente de alguns minutos) devido ao tempo

de cálculo das acções de controlo a tomar. As acções de controlo são determinadas por um algoritmo

de controlo e transmitidas aos actuadores através dum sistema de controlo. O algoritmo reflecte uma

estratégia de controlo que delineia os princípios fundamentais de como o controlo deve ser efectuado

e que é estabelecida com base em objectivos que, por sua vez, são impostos pelas leis e

regulamentos existentes. Os objectivos do CTR podem ser tais como minimizar a poluição no meio

receptor, minimizar o volume de descargas directas e evitar inundações, e as estratégias de CTR

podem ser algo como equalizar a utilização das capacidades de armazenamento na rede de

drenagem e priorizar o tratamento de caudais mais poluídos ( (Schütze, et al., 2008), (USEPA, 2006),

(Schütze & Alex, 2011) citando (Schilling, 1989), (Schütze, et al., 2004), (Zacharof, et al., 2004),

(Schütze, et al., 2002b), (Ferreira & David, 2014) citando (USEPA, 2006)). Na Figura 1 esquematiza-

se a operação dum sistema de drenagem urbano através de CTR.

Figura 1 - Um sistema de drenagem urbano operado através de controlo em tempo real (adaptada de

(Schütze, et al., 2002b))

O CTR de sistemas de drenagem urbanos apresenta grande utilidade a nível ambiental, económico,

social e legal ao melhorar o desempenho destes sistemas. De seguida, listam-se as vantagens da

sua aplicação, que se confundem com os possíveis objectivos da aplicação de sistemas de CTR aos

sistemas de drenagem urbanos:

Objectivos do CTR Estratégia de CTR Algoritmo de CTR

Sistema de Controlo

Sistema de Monitorização

Actuadores

Sistema de

Drenagem

Urbano

Lei e

Regulamentos

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1) Redução da poluição dos meios receptores durante eventos de precipitação, nomeadamente

através da redução da frequência e/ou volume de descargas directas, o que, por sua vez, é

frequentemente conseguido através da optimização do potencial de armazenamento no sistema

de drenagem e da retenção e desvio planeados do escoamento ( (Vanrolleghem, et al., 2005),

(Schütze, et al., 2004), (United States Environmental Protection Agency, 2006), (Lacour &

Schütze, 2011), (Polaskova, et al., 2006), (Schütze, et al., 2008), (Pleau, et al., 2005), (Schütze,

2011a), (Sebastião, 2005), (Schütze & Alex, 2011), (Pabst, et al., 2011), (Alex, et al., 2008),

(DWA, 2005), (Borsányi, et al., 2008), (Darsono & Labadie, 2007) citando (Labadie, 1993)). Note-

se que nos sistemas de drenagem tradicionais com controlo estático é comum haver descargas

directas embora exista em simultâneo capacidade de armazenamento disponível noutros locais

da rede, os quais um sistema de CTR poderia utilizar de modo a mitigar as descargas (Schütze,

et al., 2008).

2) Minimização de cargas poluentes descarregadas para o meio receptor, em particular quando é

utilizada informação sobre a poluição dos caudais no algoritmo de controlo, e.g., ao priorizar o

armazenamento dos caudais mais poluídos ( (Lacour & Schütze, 2011), (Schütze, 2011a), (United

States Environmental Protection Agency, 2006)). Essa informação pode referir-se a níveis de

amónia e de oxigénio dissolvido, em especial no meio receptor, servindo para os controlar e

assim protegendo o ambiente (Zacharof, et al., 2004).

3) Possibilidade de opção por descarga em locais menos sensíveis, ou seja, com maior capacidade

de autodepuração, facilitando a protecção do meio ambiente ( (Sebastião, 2005), (Schütze, et al.,

2008), (Fiorelli & Schutz, 2009), (Borsányi, et al., 2008)). O controlo do local de descarga pode

ser feito através da retenção (e.g. em reservatórios) e desvio planeados do escoamento.

4) Protecção da biota do meio receptor através duma gestão adequada das descargas no mesmo.

Por exemplo, fazendo um controlo que tem em conta que a biota no meio receptor pode ser mais

sensível à distribuição de frequência a longo prazo das descargas mensais médias do que a

eventos hidrológicos extremos individuais. Isto é aplicável em especial a sistemas com grandes

volumes de armazenamento ( (Wan, et al., 2006) citando (Haunert & Konyha, 2001)).

5) Possibilidade de controlar em que locais ocorrem inundações caso sejam inevitáveis, podendo

assim optar-se pelos locais onde provocarão menos danos em termos económicos e/ou

ambientais. Isto é feito através da retenção ou desvio planeado do escoamento ( (Schütze, et al.,

2008), (De Korte, et al., 2009), (DWA, 2005)).

6) Maior capacidade de equalização volumétrica e bioquímica do caudal afluente à ETAR,

optimizando a sua eficácia e eficiência ( (Schütze, et al., 2004), (Sebastião, 2005), (Ferreira &

David, 2014), (Schütze, et al., 2008), (Schütze, 2011a)). Em tempo seco o CTR é especialmente

útil para equalizar volumetricamente o caudal afluente à ETAR, ao tirar partido dos volumes de

armazenamento disponíveis na rede para armazenar caudal nas horas de pico e libertá-lo nos

períodos de menor afluência natural de caudal à ETAR ( (Vanrolleghem, et al., 2005), (De Korte,

et al., 2009)). Em (De Korte, et al., 2009) apresenta-se um estudo que demonstra a capacidade

dum sistema de CTR global em reduzir a amplitude do caudal afluente à ETAR em 70%

relativamente ao cenário sem controlo (ver Figura 2).

Page 32: Controlo em Tempo Real de Sistemas de Drenagem Urbanos · i Resumo Esta dissertação tem como objectivo principal apresentar os aspectos mais relevantes do controlo em tempo real

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7) Melhoria do desempenho dos processos internos das ETAR e minimização dos seus custos

operacionais, e.g. através do controlo do nível de oxigénio presente nos tanques de arejamento,

do controlo preditivo da remoção do azoto e da preservação dos processos biológicos ( (Schütze,

et al., 2004), (Schütze, 2011a), (Schütze, et al., 2004) citando (Alex, et al., 2002)). Por sua vez,

isto ajuda a manter os padrões de qualidade do efluente da ETAR ( (Schütze, et al., 2004),

(Schütze, 2011a)).

8) Obtenção de benefícios ambientais adicionais quando a rede de drenagem e ETAR são

controladas coordenadamente ao optimizar o funcionamento da ETAR, dando prioridade ao

armazenamento e tratamento de afluentes mais poluídos (e.g., caudais provenientes do first

flush) e reduzindo o afluente à ETAR quando ela está sobrecarregada ( (Schütze & Alex, 2011),

(Pabst, et al., 2011), (Schütze, et al., 2008), (Schütze, 2011a), (Póvoa, et al., 2011)).

Figura 2 - Caudal afluente à ETAR com e sem CTR global com objectivo de equalização do caudal

afluente à ETAR em tempo seco (adaptada de (De Korte, et al., 2009))

9) Adaptabilidade a mudanças futuras nos padrões de escoamento, em particular as resultantes das

alterações climáticas e evolução da população ao flexibilizar o controlo do escoamento

( (Borsányi, et al., 2008), (Schütze & Alex, 2011), (Pabst, et al., 2011), (DWA, 2005), (Ferreira &

David, 2014)).

10) Possibilidade de acção rápida e eficaz face a avarias de componentes do sistema de drenagem e

de descargas tóxicas ao detectar estes problemas através de monitorização e fazer uma

regulação apropriada dos actuadores ( (Vanrolleghem, et al., 2005), (Ferreira & David, 2014)).

11) Optimização da operação do sistema de drenagem, ajudando a mantê-lo próximo dum estado

ideal ( (Zacharof, et al., 2004) citando (Beck, 1999))

12) Redução do risco de inundações, nomeadamente através da optimização da utilização da

capacidade de armazenamento disponível na rede de drenagem (bacias de retenção,

reservatórios subterrâneos, colectores de grande dimensão) e previsão das solicitações e

comportamento futuros do sistema de drenagem ( (Vanrolleghem, et al., 2005), (Schütze, et al.,

2004), (Polaskova, et al., 2006), (Ferreira & David, 2014), (Schütze, 2011a), (Borsányi, et al.,

2008)). Normalmente a utilização destes volumes é irregular no tempo e no espaço. O CTR

permite flexibilizar a sua utilização do modo mais conveniente a cada evento pluvioso enquanto

Cau

da

l a

flu

en

te à

ET

AR

(m

3/h

)

Com CTR

Sem CTR

Passos temporais (3 dias)

Page 33: Controlo em Tempo Real de Sistemas de Drenagem Urbanos · i Resumo Esta dissertação tem como objectivo principal apresentar os aspectos mais relevantes do controlo em tempo real

21

nos sistemas tradicionais é habitual a entrada em carga hidráulica de certas zonas da rede

quando existe volume livre noutras zonas, o que compromete a segurança do sistema

( (Sebastião, 2005), (Schütze & Alex, 2011), (Pabst, et al., 2011), (Vanrolleghem, et al., 2005)

citando (Schilling, 1989), (DWA, 2005)). A flexibilização da operação do sistema de drenagem

deve-se em grande parte à introdução da dimensão temporal no processo de controlo, por

oposição ao controlo convencional estático (Schütze, et al., 2008).

13) Redução potencialmente muito grande do investimento necessário para aumentar a capacidade

do sistema de drenagem estático (em particular, conseguem-se as mesmas melhorias de

desempenho do sistema com menores volumes de armazenamento ao optimizar a sua utilização)

((Pleau, et al., 2005), (Darsono & Labadie, 2007), (Alex, et al., 2008), (Zacharof, et al., 2004),

(DWA, 2005), (Labadie & Wan, 2010), (Labadie & Wan, 2010) citando (Wan, et al., 2006),

(Vanrolleghem, et al., 2005) citando (Schilling, 1989), (Polaskova, et al., 2006) citando (Marsalek,

1993), (Schütze, et al., 2008), (Schütze, et al., 2008) citando (Weyland, 2002) e (Erbe, et al.,

2005), (Schütze, et al., 2004) citando (Schilling, 1994) e (Lavallé, et al., 2001)). Esta poupança

pode ser obtida logo no investimento inicial caso o CTR seja contemplado na fase de projecto do

sistema de drenagem (Sebastião, 2005). Nos casos em que o CTR seja suficiente para dispensar

a construção de volumes de armazenamento, evitam-se também todos os incómodos que estas

obras acarretam como interrupção de serviços (Darsono & Labadie, 2007).

14) O CTR é uma alternativa mais económica que a conversão de sistemas unitários em separativos

e é menos incómoda pois não acarreta tantas obras e interrupções do serviço. Os sistemas

separativos tendem a perder o interesse pois verifica-se que frequentemente as águas pluviais

têm cargas poluentes semelhantes às águas residuais. Além disso, na prática é comum serem

feitas ligações cruzadas, misturando caudais pluviais com residuais domésticos, comerciais e

industriais, reduzindo o efeito desejado de separação de caudais. Nalguns casos, a separação de

caudais pluviais e residuais pode mesmo resultar num incremento da poluição do meio receptor já

que as águas pluviais misturadas com as residuais podem ter sido previamente tratadas,

enquanto num sistema separativo é frequente as águas pluviais serem descarregadas no meio

receptor sem qualquer tratamento (Darsono & Labadie, 2007).

15) Melhoria da informação disponível aos cidadãos e aos trabalhadores dos sistemas de drenagem,

aumentando a sua segurança através de sistemas de alerta (e.g. em zonas balneares, painéis

electrónicos com avisos em tempo real sobre a adequabilidade da água para práticas balneares;

alerta de subida no nível da água/cheias iminentes aos trabalhadores) (Sebastião, 2005).

16) Redução dos custos de exploração e manutenção do sistema devido ao seu melhor

conhecimento e aproveitamento ( (Sebastião, 2005), (Schütze, et al., 2004), (Zacharof, et al.,

2004), (Schütze, 2011a), (Borsányi, et al., 2008)). Os custos de exploração podem ser reduzidos

aumentando da eficiência energética e.g. através da optimização do funcionamento das

electrobombas ( (Schütze & Alex, 2011), (Pabst, et al., 2011), (Ferreira & David, 2014), (Schütze,

et al., 2008)). Os custos de manutenção podem ser reduzidos por redução da sedimentação nos

colectores/reservatórios, controlando a velocidade mínima do escoamento e provocando

Page 34: Controlo em Tempo Real de Sistemas de Drenagem Urbanos · i Resumo Esta dissertação tem como objectivo principal apresentar os aspectos mais relevantes do controlo em tempo real

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correntes de varrer que limpam a rede ( (Schütze, et al., 2004), (Ferreira & David, 2014), (DWA,

2005), (Schütze, et al., 2008)).

17) Flexibilização da operação do sistema de drenagem, maximizando o período temporal em que os

objectivos do controlo são verificados, minimizando a extensão dos desvios do comportamento do

sistema relativamente ao seu estado ideal e maximizando o potencial de recuperação do sistema

de estados adversos ( (Schütze, et al., 2008), (Schütze, 2011a), (Zacharof, et al., 2004) citando

(Schütze, et al., 2002a)).

18) Elevação da qualidade da água do meio receptor acima dos mínimos estabelecidos ( (Zacharof,

et al., 2004) citando (Schütze, et al., 2002a)).

Das vantagens enunciadas decorre ainda que o CTR ajuda a cumprir a legislação referente a

sistemas de drenagem e a sua progressiva exigência (Alex, et al., 2008), o que, por sua vez, tem

consequências económicas benéficas já que se evitam multas resultantes do incumprimento da lei.

3.2. Princípios gerais

A optimização da gestão dos sistemas de drenagem exige o seu conhecimento detalhado, bom

planeamento e operação que coordene integralmente o ciclo da água. Assim, em geral os sistemas

de CTR são constituídos por sensores (e.g. medidores de caudal, limnímetros), actuadores (e.g.

válvulas, comportas), controladores (que regulam os actuadores) e sistema de transmissão de dados.

Em sistemas mais completos, podem estar integrados um modelo de previsão meteorológica, e um

modelo de simulação calibrado do escoamento no sistema de drenagem. Nos casos mais sofisticados

o modelo de simulação tem ainda a capacidade de modelar a propagação de variáveis descritivas da

qualidade das águas residuais.

Excepto nos sistema de CTR mais simples, é típico efectuar a gestão do sistema de drenagem a

partir dum centro de controlo onde estão localizadas as salas de computadores de controlo com um

sistema automático de supervisão e aquisição de dados (SCADA), o qual inclui toda a informação

cadastral da rede exaustiva, detalhada e actualizada, apoiada num sistema de informação geográfica

(SIG), os modelos de simulação e ainda o algoritmo de controlo. Este é um elemento central do CTR,

que traduz os objectivos de desempenho do sistema de CTR em instruções de actuação sobre

variáveis do sistema ( (Ferreira & David, 2014), (DWA, 2005), (Rauch & Harremoës, 1999a)).

A informação cadastral armazenada deve incluir a cartografia urbana relevante, com dados completos

da rede de drenagem e instalações associadas. Deve também existir uma base de dados com a

informações como localização, características, dados hidráulicos, altimetria e estado de conservação

de elementos como colectores, bacias de águas pluviais, reservatórios, actuadores, estações

elevatórias e sensores. Devem ainda conhecer-se as zonas sob intervenção e respectivas áreas de

afectação ( (Sebastião, 2005), (EMARLIS, 2006)).

O modelo de simulação permite analisar o comportamento do sistema de drenagem, em particular

permite identificar pontos críticos e definir estratégias futuras de controlo a utilizar para optimizar a

gestão do sistema em função dos objectivos definidos. Tipicamente as estratégias passam pelo

máximo aproveitamento da capacidade de armazenamento existente e consequente diminuição do

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volume de descargas directas e minimização de custos operacionais (Sebastião, 2005). Na prática

esta estratégia pode ser implementada utilizando, por exemplo, o princípio da equalização da

utilização da capacidade de armazenamento, descrito adiante.

O modelo de simulação requer informação cadastral do sistema de drenagem e, de forma a simular o

escoamento nos colectores, necessita de dispor de hidrogramas de afluência de águas residuais e

pluviais nas várias entradas da rede de drenagem. Tais dados podem obter-se através de modelos de

previsão da precipitação associados a modelos hidrológicos de transformação da precipitação em

escoamento superficial e hidrogramas característicos de produção de águas residuais. No caso de se

modelar a qualidade da água, é necessário dispor adicionalmente de informação quantitativa sobre a

mesma (Sebastião, 2005). Os modelos hidrológicos simulam o escoamento superficial com base em

dados de precipitação e características da superfície da bacia hidrográfica, obtendo-se hidrogramas

de escoamento superficial, os quais são utilizados como dados de entrada nos modelos hidráulicos.

Os modelos hidráulicos permitem estudar o comportamento do escoamento na rede de drenagem,

baseando-se nas equações de Saint-Vennant ou nas suas várias simplificações. Em geral, requerem

uma grande quantidade de informação para representar correctamente o escoamento na rede de

drenagem (Sebastião, 2005). Os vários tipos de modelos hidrológicos e hidráulicos são expostos, por

exemplo, em (Ferreira, et al., 2011).

O controlo do sistema de drenagem apresenta três níveis: o da gestão, o do sistema e o do campo.

Ao nível da gestão definem-se os objectivos operacionais gerais e determina-se a estratégia de

controlo. Ao nível do sistema, definem-se os valores alvo variáveis no tempo, dentro dos ciclos de

controlo e estabelece-se o algoritmo de controlo (e.g. conjuntos de regras). Ao nível do campo têm-se

os controladores que aplicam uma lei de controlo dos actuadores (e.g., com ou sem histerese –

descritas no subcapítulo 3.5.6), de modo a minimizar os desvios dos valores alvo (Schütze, 2011a).

O controlo de qualquer processo dos sistemas de drenagem requer a existência de sensores para

medir as variáveis do processo controlado, um actuador para ajustar o processo e um controlador

para regular o actuador. Na Figura 3 esquematiza-se o funcionamento genérico dum dispositivo de

controlo, onde as setas simples indicam o sentido de transmissão da informação e as setas duplas

indicam a direcção do escoamento. O controlo é feito num ciclo com feedback em que um sensor

mede a variável de controlo, sendo esta comparada com o valor alvo e, em função da diferença entre

estes valores, o controlador calcula a resposta adequada do actuador (que pode ser e.g. uma válvula

ou uma comporta). Este influencia directamente o processo a controlar e o controlador recebe

feedback dum sensor (o mesmo ou outro a jusante do processo controlado), permitindo-lhe avaliar se

a regulação do actuador teve o efeito desejado ou se tem de haver nova regulação até se atingir o

valor alvo da variável de controlo ( (Ferreira & David, 2014), (Rauch & Harremoës, 1999a)).

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Figura 3 - Esquema genérico dum ciclo de controlo com feedback (adaptada de (Ferreira & David, 2014))

A Figura 4 ilustra a aplicação do princípio da equalização da capacidade de armazenamento a um

sistema de drenagem com vários reservatórios, através dum sistema de CTR. Numa situação ideal as

curvas representativas da percentagem de utilização da capacidade dos reservatórios estariam todas

sobrepostas. Na realidade o que se verifica é uma tendência para a sua sobreposição mas sem

chegar a ocorrer totalmente. Esta estratégia de controlo tende a resultar num menor volume de

descargas directas pois quando estas ocorrem os reservatórios tendem a estar todos perto da sua

máxima capacidade (De Korte, et al., 2009). Isto é bem ilustrado pelo sistema de CTR estudado em

(Pabst, et al., 2011) (cuja forma de controlo se apresenta em maior detalhe no subcapítulo 3.5.2).

Figura 4 – Utilização da capacidade dos reservatórios dum sistema de drenagem com um sistema CTR

que procura equalizar a utilização da capacidade de armazenamento (adaptada de (De Korte, et al.,

2009))

Um factor determinante do sucesso deste princípio é a relação espacial dos reservatórios, sendo

mais eficaz para reservatórios em série ou que, em paralelo, revelem poder influenciar-se em termos

hidráulicos (Borsányi, et al., 2008).

Se o sistema de drenagem estiver sujeito a precipitação uniforme no espaço, a aplicação deste

princípio pode não surtir grande efeito pois a equalização tende a ocorrer mesmo sem CTR, como

concluído nos estudos em (Schütze & Alex, 2011) e (Borsányi, et al., 2008). Nesta situação podem

obter-se melhores resultados seguindo o princípio de regular os reservatórios da rede de modo a

evitar descargas directas no reservatório mais a jusante da rede, logo a montante da ETAR,

procurando simultaneamente maximizar o uso deste. Neste caso o efluente dos reservatórios (e

Passos temporais

Cap

acid

ade

utiliza

da

(%

)

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doutros elementos como bombas) a montante é controlado de modo a ser inversamente relacionado

com a percentagem de volume utilizado do reservatório da ETAR e dando prioridade à vazão dos

elementos a montante mais perto de exceder a sua capacidade (Borsányi, et al., 2008).

Por outro lado, na presença de precipitação não-uniforme no espaço, a aplicação do princípio de

equalização da utilização da capacidade de armazenamento numa rede com reservatórios muito

distantes pode não produzir bons resultados pois, assim que um reservatório começa a encher,

outros em áreas com menor afluência de caudal vão também tentar encher em vez de esvaziar

antecipando potenciais picos de precipitação a que estarão sujeitos. Este problema pode ser

contornado se forem incluídas previsões meteorológicas no algoritmo de controlo e devidamente

levadas em conta no grau de equalização da utilização da capacidade dos reservatórios, ou aplicando

este princípio a grupos de reservatórios suficientemente próximos para ser passível ignorar a

distribuição espacial da precipitação (Fiorelli & Schutz, 2009).

Além disto, se os reservatórios forem subdimensionados, quando os seus tempos de esvaziamento

são muito diferentes ou quando a maioria dos reservatórios estiverem cheios, pode ser preferível

utilizar o princípio da equalização dos tempos de esvaziamento dos reservatórios, em vez de

equalizar a utilização das capacidades de armazenamento, ou conjugar este princípio a um objectivo

secundário de minimizar o volume armazenado nos reservatórios (Fiorelli & Schutz, 2009).

Há outras estratégias de minimização das descargas directas que podem ser eficazes quando intro-

duzem este objectivo de forma explícita no algoritmo de controlo, podendo trazer outras vantagens

como a antecipação de picos de caudal e a possibilidade de mitigar descargas em locais mais sensí-

veis. Contudo, este princípio só é eficazmente aplicado até ao limite do conhecimento dos caudais

futuros, o que só pode ser melhorado com previsões meteorológicas e maior monitorização dos cau-

dais nos pontos de entrada na rede ( (Fiorelli & Schutz, 2009), (Borsányi, et al., 2008)).

Para reduzir a poluição do meio receptor pode seguir-se o princípio de equalização volumétrica do

caudal afluente à ETAR, num valor igual à sua capacidade de tratamento (considerado estático ou

dinâmico). Tal tem como vantagem esvaziar os reservatórios da rede quando o afluente à ETAR é

inferior à sua capacidade. Por outro lado, faz oscilar os caudais efluentes dos reservatórios, não

afecta estruturas que não drenam directamente para a ETAR e pode desacelerar o esvaziamento dos

reservatórios, causando descargas directas. Para melhorar o funcionamento desta estratégia pode

limitar-se a variação dos efluentes dos reservatórios (Fiorelli & Schutz, 2009).

Os sistemas de CTR podem ser concebidos de forma a seguir vários destes princípios em

simultâneo, atribuindo-se diferentes graus de prioridade a cada dado que, em geral, geram respostas

do sistema antagónicas. Podem ainda incorporar-se no controlo muitos outros dos objectivos,

apresentados no Capítulo 3.1.

3.3. Monitorização e Previsão

3.3.1. Introdução

A monitorização do sistema de drenagem urbano é uma componente indispensável à sua gestão e,

em particular, aos sistemas de CTR. A informação recolhida pela monitorização permite conhecer o

estado do sistema de drenagem, sendo utilizável para a sua modelação matemática, simulação,

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diagnóstico e avaliação do desempenho, optimização da gestão operacional, além de suportar as

actividades de manutenção ((Ferreira & David, 2014), (Póvoa, et al., 2011)). A monitorização fornece

ainda dados base utilizáveis para dimensionamento das linhas de tempo húmido das ETAR (Póvoa,

et al., 2011).

Os equipamentos de monitorização devem ser instalados em secções criteriosamente seleccionadas

da rede de drenagem, com o objectivo de recolher e armazenar, de forma contínua, informação

referente ao estado do sistema (e.g. nível do escoamento, precipitação). A informação recolhida,

quando não utilizada directamente por actuadores com controlo local, pode ser transmitida

remotamente a um centro de controlo, auxiliando a tomada de decisões de controlo das diversas

infra-estruturas do sistema através dos actuadores (e.g. válvulas, comportas, electrobombas). Mesmo

no caso de sistemas de controlo remoto é aconselhável que exista um dispositivo de armazenamento

de dados local para evitar perda de dados por falhas de comunicação com o centro de controlo

( (Póvoa, et al., 2011), (United States Environmental Protection Agency, 2006)). Os sensores devem

ainda ser robustos e de fácil manutenção ( (Ferreira & David, 2014), (Schütze, 2011a)).

3.3.2. Equipamentos de Monitorização

Na rede de colectores, os principais elementos monitorizados são níveis e velocidades do

escoamento, caudais e concentrações de poluentes (e.g. carga de sólidos suspensos totais através

da turvação) (Ferreira & David, 2014). Para efeitos da implementação dum sistema de CTR deve-se

inventariar os equipamentos de monitorização existentes e/ou necessários instalar, anotando a sua

localização, estado de conservação (idade), capacidade de serem melhorados, princípios de

medição, gama de valores passíveis de ser medidos, exactidão, fiabilidade e método de transferência

de dados (DWA, 2005).

A medição do caudal exige, em escoamento sob pressão, apenas a medição da velocidade do

escoamento já que a área de escoamento é conhecida. No escoamento em superfície livre, além da

velocidade, é necessário medir o nível do escoamento para calcular a área de escoamento. Isto

reflecte-se na exactidão da medição do caudal, sendo comum ter um erro inferior a 5% no caso de

escoamento sob pressão e entre 5 a 15% quando é em superfície livre (Póvoa, et al., 2011).

Entre os instrumentos de medição da altura do escoamento destacam-se os seguintes ( (Ferreira &

David, 2014), (Schütze, 2011a), (Póvoa, et al., 2011), (Brito, 2012), (United States Environmental

Protection Agency, 2006)):

Os sensores de pressão (ver Figura 5), que se baseiam no princípio da hidrostática e são

especialmente úteis em secções onde possa ocorrer entrada em carga dos colectores ou

inversão no sentido do escoamento, mas têm a desvantagem de serem instalados no fundo

do colector onde tende a haver acumulação de sedimentos;

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Figura 5 - Medidor de pressão hidrostático: equipamento (esquerda) e instalação em colector (direita)

(fonte: (Póvoa, et al., 2011))

Os sensores ultrassónicos (ver Figura 6), que medem a altura de escoamento através do

tempo de percurso entre a emissão duma onda sonora de elevada frequência (gerada por um

transdutor, ligado a uma unidade de controlo), e a recepção do eco no sensor, após ser

reflectida pela superfície do líquido, sendo instalados na parte superior do colector e

necessitando, por isso, de menor manutenção que os sensores de pressão.

Figura 6 - Medidor de pressão ultrassónico instalado em colector (fonte: (Póvoa, et al., 2011))

Nas ETAR é comum medir o caudal de escoamentos em superfície livre através da altura do

escoamento em descarregadores (de soleira delgada, soleira espessa, Venturi ou canal Parshall –

ver Figura 7) conhecendo a sua curva de vazão ( (Póvoa, et al., 2011), (Brito, 2012)).

Figura 7 – Medidor de caudal Parshall (esquerda) e medidor ultrassónico instalado em descarregador

(direita) (fonte: (Póvoa, et al., 2011))

Para medição da velocidade do escoamento destacam-se os seguintes equipamentos ( (Ferreira &

David, 2014), (Póvoa, et al., 2011), (Brito, 2012)):

Sensores por efeito de Doppler (ver Figura 8), que são constituídos por um elemento transmissor

que emite um sinal (acústico ou electromagnético) de frequência conhecida, sendo a velocidade

do escoamento obtida por variação da frequência entre a emissão e captação das ondas, após as

partículas em suspensão e bolhas de ar reflectirem parte das ondas emitidas (a frequência das

ondas é alterada devido ao movimento das partículas que as reflectem – efeito de Doppler). A

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velocidade obtida pelo efeito de Doppler é a máxima da secção transversal, pelo que é depois

corrigida por um factor que a transforma em velocidade média. Este factor deve ser aferido com

um sensor de velocidade portátil para determinar o seu valor para períodos com diferentes

padrões de escoamento (Verão e Inverno) e diferentes locais de implantação. Existem dois tipos

destes sensores: os pulse Doppler e os peak Doppler, sendo que os primeiros emitem um

impulso pulsado e permitem obter o perfil de velocidades, mas não para a totalidade da altura da

secção, o que limita a sua aplicação.

Figura 8 - Anel de fixação e sensor pulse doppler (esquerda) e perfil de velocidades (direita) (fonte:

(Póvoa, et al., 2011))

Os sensores por efeito radar (ver Figura 9), embora normalmente não chamados sensores

Doppler, também se baseiam neste efeito. Diferem dos outros sensores pelo facto do impulso ser

enviado na frequência rádio, que são menos afectadas pela temperatura ambiente. Estes

sensores instalam-se na parte superior da secção hidráulica e utilizam a superfície do

escoamento como meio de reflexão das ondas rádio. Aqui obtém-se a velocidade superficial, que

é convertida em velocidade média por factores aferidos com base em verificações no terreno.

Figura 9 - Exemplo de instalação de medidor radar com instalação em caleira (esquerda) e em caneiro

(direita) (fonte: (Póvoa, et al., 2011))

Sensores electromagnéticos (ver Figura 10), que são sensores de elevada exactidão na

medição do valor da velocidade do escoamento, mas que têm a desvantagem de terem

custos muito elevados em grandes diâmetros. Estes sensores possuem um magneto que

permite, com base na lei de Faraday, determinar a velocidade, que é proporcional à corrente

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gerada. São também utilizados em forma portátil para verificar velocidades durante

operações de montagem, campanhas e manutenções preventivas e correctivas.

Figura 10 - Medidor de velocidade electromagnético instalado em tubagem (fonte: (Póvoa, et al., 2011))

Sensores de tempo trânsito (ver Figura 11), que emitem ultrassons e baseiam-se no princípio que

o tempo necessário para um impulso acústico atravessar um meio (águas residuais) entre um par

de sensores dispostos ao longo do colector é proporcional à velocidade do meio. Estes sensores

obtêm a velocidade média.

Figura 11 - Exemplo dum par de sensores de medição de velocidade do tipo tempo trânsito (fonte:

(Póvoa, et al., 2011))

Na Tabela 2 resumem-se características de medidores de caudal para águas residuais,

mencionando-se alguns modelos existentes no mercado.

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Tabela 2 – Vantagens e desvantagens de medidores de caudal para águas residuais (adaptada de (Póvoa,

et al., 2011) e (Brito, 2012))

Medidor de caudal

Vantagens Desvantagens

Electromagnéticos para secção parcialmente cheia (ex: ABB partimag e Krohne tidal flux)

Exactidão (melhor para escoamentos sob pressão)

Repetibilidade Sem partes salientes Apenas O&M correctiva Melhor fiabilidade Menos sensível às características do

fluido Menos sensível às condições

hidráulicas

Instalação difícil e onerosa Custo elevado para tubagens de

diâmetro superior a 500 mm Velocidade mínima 0,5 – 1 m/s e

nível mínimo de 10% do diâmetro do colector

Medição de nível por eléctrodos impossibilita o tratamento e validação de dados por métodos Scattergraph

Inflexível a mudanças de localização

Avaria: reposição do espaço físico do medidor

Peak Doppler (ex: ADS Flowhawk CS1)

Instalação Custos de investimento Medição das variáveis de altura e

velocidade Repetibilidade Mudança de local Adequado a efluentes com SST

elevados Environmental technology

verification (ETV) da EPA

Calibração/manutenção/tratamento de dados obrigam a elevados custos de exploração

Com partes salientes que alteram o perfil do escoamento para alturas de escoamento baixas

Probabilidade de ocorrência de interferências entre frequências

Altura mínima do escoamento de 50 mm

Pulse doppler (ex: ADS Flowhawk CS2 e Nivus OCM Pro)

Instalação (possível pelo exterior do colector)

Medição das variáveis de altura e velocidade

Repetibilidade Mudança de local

Calibração/manutenção/tratamento de dados obriga a elevados custos de exploração

Dependência de sólidos suspensos totais

Probabilidade de ocorrência de interferências entre frequências

Altura mínima do escoamento de 150 mm

Menor exactidão

Radar (ex: Flowtronic Flodar)

Instalação Sem partes salientes Medição de altura e velocidade Manutenção interventiva Flexibilidade de instalação para

várias aplicações e gama de diâmetros

Mudança de local Velocidades elevadas

Instalação em câmaras de visita com caleiras não solidárias com os troços de tubagem

Variações de nível acentuadas (montantes de canal Parshall ou jusantes de condutas elevatórias)

Entradas em carga

Tempo de trânsito (ex: Flowtronic Flosonic)

Boa exactidão (erro < 2%) Boa fiabilidade Repetibilidade Manutenção interventiva Princípio de operação bem definido Flexibilidade de adaptação à secção Instalação possível com colector em

funcionamento

Inflexível a mudanças de local Investimento Presença de bolhas de ar Condições de colocação

(alinhamentos a montante e a jusante) mais exigentes que nos sensores electromagnéticos, em especial nos modelos com um só feixe

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A selecção do tipo de sensores para medir o caudal deve ponderar a sua adaptabilidade ao local de

implantação e não a do local ao tipo de sensor. A escolha do local e equipamento de medição em

sistemas de drenagem deve ter em conta os critérios e factores seguintes ( (Póvoa, et al., 2011),

(Brito, 2012)):

Escolher troços rectos com inclinação constante (preferivelmente inferior a 2%), sem

singularidades e afastados de curvas, cotovelos, obstáculos, confluências ou repartições de

caudais;

Devem realizar-se campanhas prévias de medição do nível e velocidade do escoamento, por

períodos mínimos diários, para definir a gama de caudais/velocidades/níveis do escoamento;

Deve considerar-se se o escoamento é em superfície livre ou sob pressão;

Erro de medição pretendido (em sistemas de canal aberto, deverá ser assumido um erro de

medição na ordem de 10%);

Custos de investimento e de exploração/manutenção;

Redundância de sensores;

Padronização e calibração dos aparelhos;

Perda de carga induzida no escoamento pelos equipamentos de medição;

Representante do fornecedor em Portugal;

Rede de comunicações existente;

Alimentação através da rede eléctrica ou de baterias. No último caso é necessário considerar

que maiores frequências de amostragem obrigam a mudar de bateria mais frequentemente.

Os sensores da qualidade da água podem monitorizar diversas variáveis como o oxigénio dissolvido

(OD), sólidos suspensos totais (SST), carência química de oxigénio (CQO), carência bioquímica de

oxigénio aos 5 dias (CBO5), contaminação fecal (E. Coli ou EF). Estas variáveis caracterizam os

efeitos de curto prazo no meio receptor. Os efeitos de longo prazo são avaliados por outras variáveis

como a concentração de nutrientes (em particular de fósforo e azoto), concentração de metais

pesados, herbicidas, produtos farmacêuticos e de disruptores endócrinos (químicos que alteram o

funcionamento hormonal de mamíferos). Para sensores que meçam variáveis como SST ou CQO

pode ser difícil ter frequências de amostragem adequadas a um sistema de CTR, pelo que se está a

tornar comum a utilização de sensores que permitam uma monitorização contínua de parâmetros

substitutos que permitem estimar aquelas variáveis, como sejam os sensores de turvação, para o

caso dos SST, e a espectrofotometria UV-Vis, para aferir os SST e a CQO. Outras variáveis como a

temperatura, pH, potencial redox e OD podem ser monitorizadas em contínuo, sendo tal frequente

nas ETAR (Brito, 2012). A aferição da poluição através da turvação tem a vantagem de ser rápida e

simples mas é dúbia uma vez que há muitos poluentes altamente tóxicos incolores e, como tal,

indetectáveis através da turvação, sendo preferível a espectrofotometria.

Os espectrofotómetros UV-Vis baseiam-se no princípio de cada composto dissolvido nas águas

residuais apresentar características específicas de absorvência da luz ultravioleta e visível em função

da respectiva estrutura molecular, comprimento de onda e concentração na amostra. A absorvência

na gama de radiação UV pode ser bem correlacionada com a presença de matéria orgânica

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dissolvida em termos de carbono orgânico total (COT), desde que a turvação esteja abaixo dum

determinado limite. Também é possível estabelecer relações com a CBO5 e CQO. A medição sobre

uma gama de radiações UV-Vis é preferível à medição pontual a determinados comprimentos de

onda. Este tipo de sensor tem a vantagem de não requerer reagentes ou preparação da amostra,

mas a qualidade das leituras é afectada pela presença de bolhas de ar, turbulência, velocidades

muito reduzidas e obstrução da janela óptica (que deve ser mantida limpa por um dispositivo de ar

comprimido) (Brito, 2012).

Os sensores de qualidade da água para uso em CTR devem ser colocados em locais representativos

da rede, ter em conta a variação da altura do escoamento, da velocidade e eventual estratificação do

caudal, e ser colocados a distância suficiente de ligações a montante para assegurar a mistura de

caudais. Estes sensores têm sempre de ser complementados com medições do caudal para se poder

quantificar a carga poluente no sistema de drenagem (Brito, 2012).

A medição da intensidade da precipitação é feita através de udómetros e, em alguns casos, de

radares meteorológicos. Os udómetros mais usados são os de receptáculo basculante, sendo

possível obter leituras com frequências elevadas (p.e., 1 min) mas discretas no espaço, obrigando a

interpolação de valores para locais entre os udómetros da rede de monitorização da precipitação. Os

radares são mais úteis quando a cobertura da área não é a desejável em termos de densidade de

udómetros disponíveis. Contudo, é necessário haver uma constante comparação e calibração das

medições do radar e no solo, para validar as medições de radar, que podem ter uma incerteza

elevada e significativa à escala duma bacia de drenagem urbana. Os radares permitem estimar com

maior precisão a distribuição espacial da precipitação e ainda prever a sua duração e intensidade,

pelo que o seu uso é um aspecto que distingue muitos sistemas de CTR, que deixam de ser apenas

reactivos, passando a ser preditivos ( (Ferreira & David, 2014), (Schütze, 2011a), (Brito, 2012)).

3.3.3. Previsão

De acordo com (Hénonin, et al., 2010) (citado por (Ferreira & David, 2014)), os sistemas de previsão

de cheias em tempo real podem ser agrupados em quatro grupos, de acordo com o tipo de

informação de base utilizado:

Previsão baseada somente em informação histórica de eventos pluviosos e cenários

empíricos. É um sistema relativamente simples no que toca à tecnologia envolvida, em que o

tratamento da informação disponível é a chave para a definição dos cenários. Estes são

definidos com base em registos de eventos passados e no conhecimento da rede ou de

serviços de emergência.

Previsão baseada em informação sobre precipitação e cenários pré-simulados. À informação

recolhida é associado um cenário pré-simulado, o qual envolveu recolha e tratamento de

dados, permitindo antever situações problemáticas. É um sistema que necessita de ser

revisto sempre que surjam alterações estruturais na rede ou no seu funcionamento hidráulico.

Previsão baseada em dados recolhidos em tempo real. A previsão da precipitação é utilizada

como dado de entrada num modelo online do sistema de drenagem. Baseia-se na modelação

em tempo real para prever o funcionamento do sistema de drenagem. Em geral envolve um

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modelo hidrológico integrado com um modelo hidráulico da rede. É um sistema que depende

fortemente da qualidade da previsão meteorológica e da sua calibração, que em alguns casos

pode ser mantida em contínuo, assegurando uma melhor previsão.

Previsão com controlo em tempo real dos actuadores do sistema de drenagem (através de

controladores com feedback). Além dos aspectos mencionados no ponto anterior, este tipo de

sistema compreende um controlo automático e remoto dos actuadores existentes na rede de

drenagem, baseado na previsão do modelo. Este sistema requer sensores e equipamento de

transmissão remota de dados e é o sistema de previsão mais complexo.

3.3.4. Avaliação e tratamento dos dados recolhidos

Os dados recolhidos pelo sistema de monitorização têm como principais finalidades a calibração e

validação do modelo matemático do sistema de drenagem e possibilitar a utilização dum sistema de

CTR. No caso de sistemas de drenagem já monitorizados, normalmente estão disponíveis séries de

dados longas. Se não existirem dados disponíveis pode ser necessário fazer um programa de

medições preliminares para calibração e validação do modelo (DWA, 2005).

Contudo, antes se utilizarem os dados é necessário verificar a sua qualidade, avaliando

especialmente a adequabilidade dos dados de controlo a uma estratégia de controlo online (DWA,

2005). É essencial que os dados recolhidos sejam tanto quanto possível livres de erros e lacunas e

que sejam suficientemente exactos. A experiência mostra que estes problemas práticos ocorrem com

frequência. Os dados recolhidos devem ser verificados relativamente aos seguintes aspectos antes

de serem utilizados para efeitos do planeamento, calibração e validação de modelos de simulação

e/ou posterior utilização num sistema de CTR:

a) Valores extremos (outliers), dados falseados devido a perturbações e erros de transmissão,

valores nulos ou negativos, valores constantes, incrementos constantes, etc.;

b) Lacunas temporais de dados;

c) Variações bruscas de valores (ruído);

d) Escala da medição demasiado grosseira (quantização);

e) Amplitude de medição demasiado pequena;

f) Intervalo de amostragem demasiado grande;

g) Erros de calibração do zero da escala;

h) Erros em ganho de sinal.

Pontos a) e b)

Ao verificar os dados estes erros são geralmente identificados com facilidade. Se a frequência e

extensão dos erros for limitada, podem calcular-se e usar-se valores substitutos (e.g., por

interpolação entre os valores adjacentes utilizáveis). Isto faz sentido, por exemplo, se um evento de

escoamento superficial da precipitação com lacunas na sua série de dados não puder ser ignorado.

As ferramentas de avaliação de dados têm de possuir funções adequadas (manuais ou autómatas)

para resolver tais problemas (DWA, 2005). Os valores extremos podem ser detectados com base em

dados históricos que permitem definir limites inferior e superior da variável observada, não devendo

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ser descartados só por serem anormais mas antes analisados relativamente às causas que podem

estar na sua origem, o que é específico a cada variável medida. Por exemplo, uma descarga

industrial pode provocar valores raros mas reais de parâmetros da qualidade da água, que não

devem ser rejeitados antes de replicar a análise ao mesmo volume de água residual para verificar se

a leitura foi correcta ( (Póvoa, et al., 2011), (Brito, 2012), (United States Environmental Protection

Agency, 2006)).

Ponto c)

As variações bruscas dos valores dos dados registados podem ser causadas por sondas mal

colocadas, e.g. sondas Doppler em zonas com ressalto hidráulico ou medidores do nível da água

ultrassónicos em áreas com ondas e/ou aparecimento de espuma. Tais erros no posicionamento dum

aparelho são difíceis de corrigir pois obrigam à sua recolocação ou a mudanças estruturais que

eliminem as perturbações na origem do mau funcionamento. Outra razão para a flutuação dos dados

pode ser por falha dos princípios de medição (e.g. medidores de caudal por indução magnética

colocados em tubagens de concepção antiga com escoamento em superfície livre).

A utilização de dados com este tipo de erros é aceitável provando-se que o valor médio das medições

não é significativamente falso, podendo esta demonstração ser feita por comparação com outras

medições de suporte, possivelmente temporárias. Contudo, a necessidade de atenuação das

flutuações leva à falsificação do comportamento temporal resultante (e.g. quando se recalcula o

afluente à bacia) (DWA, 2005).

Ponto d)

Actualmente a maior parte dos dados recolhidos são convertidos para formato digital algures no

processo de medição, transmissão e armazenamento. Ao processo de conversão de formato

analógico para digital está inerente um certo número de intervalos de quantificação, sendo a

quantização usual mais grosseira constituída por 256 intervalos, a que corresponde uma exactidão de

0,4% (1:256). À luz da exactidão dos sensores alcançável nos colectores, de 1% a 15%, isto parece

suficiente. Contudo, se as medições se restringirem a uma pequena amplitude da gama de valores

observáveis pelo sensor, este nível de exactidão pode revelar-se insuficiente para os cálculos

efectuados com os dados (e.g. cálculos do volume de descarga directas baseados em medições da

altura da água na bacia de retenção) ou se forem feitas avaliações que usam diferenças temporais

nas medições (cálculos de tendências).

Frequentemente ocorre uma perda de exactidão adicional ao reduzir o número de casas decimais ao

exportar dados para ficheiros ASCII (e.g. níveis de descargas com precisão até ao centímetros em

vez de até ao milímetro).

O impacto de escalas de medição demasiado grosseiras pode resultar em problemas similares

àqueles descritos no Ponto c) (DWA, 2005).

Ponto e)

Se a amplitude de medição do sensor for demasiado pequena, os valores reais que caem fora dessa

gama serão registados pelo sensor como valores extremos da sua gama de medição.

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Tal limitação, além de resultar numa perda de informação, pode limitar os valores alvos de controlo.

Por exemplo, não pode ser dado nenhum valor alvo de descarga da bacia que exceda o valor

extremo da gama de medição do respectivo medidor de descarga, mesmo se forem possíveis valores

mais altos do ponto de vista hidráulico. Um regulador local tentaria alcançar estes valores fora da

gama, por exemplo, através da abertura cada vez maior da válvula de regulação de caudal (DWA,

2005).

Ponto f)

O intervalo de amostragem tem de estar ajustado à dinâmica do processo monitorizado. Por exemplo,

para registar picos de caudal afluente e de efluente, é tolerável um intervalo de 5 minutos no máximo,

embora um intervalo de 1 minuto possa alcançar um resultado muito melhor. Em qualquer caso deve

assegurar-se que os dados registados representam a média do intervalo registado.

Se os caudais efluentes forem calculados com base nos níveis do escoamento registados, os valores

médios têm de ser calculados com uma alta resolução temporal, pois de outro modo irá resultar um

volume de descarga demasiado pequeno devido à forte relação não linear entre estas variáveis. Se

os cálculos de descarga baseados em níveis do escoamento forem executados apenas para efeitos

de avaliação (isto pode fazer sentido já que a calibração poderá ser feita mais facilmente), é tolerável

um intervalo de registo máximo de 1 minuto.

A recolha de dados pelo chamado Método Delta constitui uma alternativa apropriada para a definição

de intervalos de amostragem dos dados armazenados (DWA, 2005).

Ponto g)

Os erros de calibração do zero da escala ocorrem primariamente em medições do nível da água. A

detecção do erro pode ser facilmente feita por comparação com uma medição manual e caso se

confirme a sua existência ele pode ser compensado no conjunto de dados registados.

Para medições do nível de água que sejam utilizadas no cálculo de volumes de descargas, é crucial

ter um zero de referência. O nível de soleiras de descarregadores pode ser detectado no registo do

nível da água com base em curvas características (achatamento de curvas de vazão de enchimento e

de esvaziamento se ocorrer uma descarga) (DWA, 2005).

Ponto h)

Os erros de ganho de sinal resultam em faltas de exactidão. Para medições do nível da água em

bacias com estruturas de descarga, é possível fazer uma verificação analisando as curvas

características (mencionadas no ponto anterior) nas medições. Se o nível do coroamento da soleira

em relação ao zero de referência da medição for conhecido, estes valores podem ser comparados

(diferença entre o valor medido e real) (DWA, 2005).

Existem inúmeros métodos de processamento dos dados de sensores e diagnóstico de falhas, que

podem envolver tratamentos matemáticos, recurso a modelos de simulação, comparações com dados

de sensores noutros pontos da rede e com dados históricos. Por exemplo, usam-se gráficos de

dispersão para analisar dados referentes a altura e velocidade do escoamento ( (Brito, 2012), (United

States Environmental Protection Agency, 2006)). A análise de parâmetros da qualidade da água é,

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em geral, mais complexa podendo mesmo recorrer a redes neuronais artificiais. No caso de

espectrofotómetros UV-Vis, os espectros podem ser comparados com um espectro padrão fornecido

pelo fabricante ou construído para o local de implantação do sensor com base em dados históricos

(Brito, 2012).

3.4. Tipos de CTR e sua comparação

3.4.1. CTR Local, Combinado, Global e Integrado

Nesta secção apresentam-se os tipos de CTR classificados quanto ao grau de abrangência de

elementos do sistema de drenagem que englobam. A exposição é feita no sentido crescente do grau

de abrangência (CTR local, combinado, global e integrado) e é ilustrada com alguns exemplos e

estudos que evidenciam as capacidades de cada tipo de CTR e facilitam a sua comparação.

O CTR Local é aquele em que os actuadores (e.g. válvulas) são operados de modo independente

entre si, em função de medições locais dos parâmetros de controlo (tornando dispensável o controlo

remoto) e tipicamente através de ciclos de controlo com feedback ( (Schütze, et al., 2004), (Ferreira &

David, 2014), (DWA, 2005), (United States Environmental Protection Agency, 2006)). Os parâmetros

de controlo podem ser fixos e optimizados para as condições locais.

Na Figura 12 exemplifica-se o funcionamento dum sistema de CTR local aplicado a duas válvulas de

regulação do caudal. Cada válvula é controlada independentemente pela respectiva unidade de

controlo, em função do caudal medido imediatamente a jusante da válvula e do valor alvo de abertura

da válvula obtido pela unidade de controlo.

Figura 12 - Controlo local de duas válvulas (adaptada de (DWA, 2005))

Sendo este o método de CTR mais simples em termos de abrangência, ele é mantido em sistemas

mais avançados, tipicamente desenvolvidos após utilização de CTR local, como salvaguarda para

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situações de emergência ou de mau funcionamento desses sistemas. Nesse caso, o controlo passa a

este nível hierarquicamente inferior e é possível que os actuadores sejam controlados remotamente a

partir dum centro de controlo que recebe informação dos respectivos sensores, mas sem qualquer

coordenação entre as suas acções individuais (Marquès, et al., s.d.).

Este tipo de controlo pode ser suficiente, ou mesmo o mais indicado pela sua simplicidade relativa

(desde que isso não afecte os resultados obtidos), em especial para sistemas simples e com poucos

actuadores, pelo que não é geralmente o mais adequado para cidades grandes ( (Schütze, et al.,

2004), (Pleau, et al., 2005), (Puig, et al., 2009), (Cembrano, et al., 2004)). A simplicidade do CTR

local traz ainda a vantagem duma acção mais rápida dos controladores e também mais fiável pois

não está sujeita a erros de comunicação com um centro de controlo (Marquès, et al., s.d.).

É frequente a utilização do termo CTR Combinado ao falar de sistemas de contro global ou integrado

do modo aqui definido adiante. Este termo é também usado em referência a sistemas de controlo que

estão algures entre o local e o global, isto é, em que há controlo coordenado entre apenas alguns

elementos do sistema, estando os restantes sujeitos a controlo local. Este parece ser o uso mais

apropriado do termo e é nesta acepção que ele aqui se utiliza, contudo não existe ainda uma

terminologia uniformizada nesta área.

O CTR Global é aquele em que a acção de todos os actuadores é coordenada entre si em função do

estado global actual ou futuro simulado do sistema de drenagem. Para tal, os sensores enviam

informação a actuadores localizados noutras partes do sistema (e não apenas ao actuador mais

próximo) ou, preferencialmente, enviam a sua informação a um centro de controlo que processa e

analisa toda essa informação e, em função dela, envia ordens aos actuadores, podendo alterar os

valores alvo dos ciclos de controlo locais, e coordena a acção dos actuadores de modo a atingir

determinado(s) objectivo(s) ( (Schütze, et al., 2004), (Ferreira & David, 2014), (DWA, 2005), (United

States Environmental Protection Agency, 2006)). Na Figura 13 exemplifica-se um sistema de controlo

global remoto aplicado à operação de duas válvulas. A informação recolhida é enviada para um

centro de controlo que a processa e estabelece valores alvo para o conjunto de unidades de controlo,

de modo a operar as válvulas da forma mais eficaz ao cumprimento dos objectivos do sistema.

O controlo global pode ser particularmente útil para maximizar a utilização dos volumes de

armazenamento disponíveis quando o controlo local não o consegue fazer ( (DWA, 2005) citando

(Schilling, 1990)). Isso tende a ocorrer em sistemas de drenagem mais complexos onde se registe

pelo menos uma das seguintes características: grande heterogeneidade espacial da precipitação,

várias estruturas de descarga, volumes de armazenamento dispersos pela rede, várias ETAR, redes

emalhadas, restrições ao nível ou caudal do escoamento e muitos actuadores (Pleau, et al., 2005).

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Figura 13 - Sistema de controlo global para duas válvulas (adaptada de (DWA, 2005))

Em (De Korte, et al., 2009) apresenta-se um estudo que compara os resultados obtidos por controlo

local e global quando o objectivo é reduzir o volume de descargas directas. O sistema estudado é

composto por cinco bacias de drenagem convergentes numa só ETAR, possuindo muitas estações

elevatórias entre sub-bacias, que constituem o elemento central de controlo do escoamento ao variar

o caudal bombeado de 0% a 100% da sua capacidade máxima. O algoritmo de controlo global foi

concebido segundo o princípio de equalização da utilização da capacidade de armazenamento. O

controlo local consiste apenas em evitar descargas directas a nível local. O desempenho dos

diferentes tipos de controlo foi aferido por aplicação do Método da Bacia Única (MBU), descrito no

Capítulo 4.3.2, que estima um limite inferior teórico do volume de descargas directas numa rede de

drenagem, e comparando com esse valor de referência os resultados obtidos para cada tipo de

controlo, para uma simulação com uma série de precipitação de 10 anos. Neste estudo verificou-se

que, em certos eventos de precipitação, o controlo local obtinha melhores resultados em certas

zonas. Contudo, os resultados de longo prazo mostram que o controlo global tem um desempenho

apenas 70% pior que o melhor desempenho teórico dado pelo MBU enquanto para o controlo local

esse valor sobe para 110%.

Em (Alex, et al., 2008) apresenta-se outro estudo que utiliza o mesmo princípio de equalização da

utilização da capacidade de armazenamento disponível em reservatórios do sistema de drenagem,

concluindo-se que o controlo global aplicado reduz o volume de descargas directas para um valor

muito próximo do mínimo teórico dado pelo Método da Bacia Central (MBC), que é semelhante ao

MBU e é descrito no Capítulo 4.3.2. Uma análise aprofundada revela ainda que o único factor que

impede que se atinja esse valor mínimo são as limitações físicas da operação das válvulas

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reguladoras de caudal, inferindo-se que os resultados obtidos pelo controlo global estão muito

próximos do melhor que se pode obter na realidade.

O CTR Integrado é aquele em que a rede de drenagem, a ETAR e, na sua forma completa, também

o meio receptor, são controlados simultaneamente e em coordenação. Em casos raros inclui ainda a

parte da produção de águas residuais (incluindo formas de controlo na fonte). A informação do estado

da ETAR e meio receptor pode também ser utilizada apenas para definir as decisões de controlo na

rede de drenagem (DWA, 2005). É o tipo de controlo mais complexo e avançado da actualidade em

termos de abrangência e permanece o foco de várias investigações ( (Schütze, et al., 2004), (Ferreira

& David, 2014)). Na Figura 14 esquematiza-se um sistema de controlo integrado que recolhe

informação da rede de drenagem, ETAR e meio receptor num centro de controlo, operando os

actuadores da rede de drenagem e da ETAR em função do estado global do sistema.

Figura 14 - Controlo integrado de rede de drenagem e ETAR (adaptada de (DWA, 2005))

A necessidade de utilizar controlo integrado em sistemas de drenagem modernos e complexos está a

tornar-se urgente devido ao seu crescente número de estruturas controladas, variabilidade das

condições operacionais e aumento das exigências do desempenho do sistema. Comparando com o

controlo local e global, este tipo de controlo é o que mais potencial apresenta para cumprir

eficazmente a legislação relativa a sistemas de drenagem, em particular as exigências da DQA sobre

qualidade química e ecológica da água dos meios receptores, já que permite analisar aspectos

quantitativos e qualitativos das águas residuais e controlar as condições ambientais do meio receptor

ao levar em conta os efeitos da rede de drenagem e ETAR sobre este ( (Vanrolleghem, et al., 2005),

(Schütze, et al., 2004) citando (Schütze, et al., 2002c), (Rauch & Harremoës, 1999a), (Meirlaen &

Vanrolleghem, 2002), (Meirlaen, et al., 2002) e (Nilsen & Nilsen, 2002), (Polaskova, et al., 2006)

citando (Harremoës & Rauch, 1996)). Como ficou demonstrado num estudo, o controlo integrado

pode melhorar o desempenho de vários sistemas de drenagem nos quais nem o controlo local nem o

global aparentavam ser capazes do fazer ( (Schütze, et al., 2004) citando (Schütze, et al., 2002f)).

Vários outros estudos de simulação demonstraram que o controlo integrado pode aumentar as

melhorias de desempenho introduzidas pelo CTR no sistema de drenagem ( (Zacharof, et al., 2004)

citando (Schütze, et al., 1999)). Por exemplo, em Trebic, na República Checa, estudou-se a

implantação dum sistema de CTR integrado concluindo-se que permite utilizar melhor a capacidade

Informação

Controlo

Informação

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de armazenamento da rede de drenagem unitária, minimizando as descargas directas (Polaskova, et

al., 2006).

A capacidade dos modelos integrados em quantificar de forma explícita os efeitos de diferentes

opções de controlo do sistema sobre o meio receptor potencia a sua utilização tanto para melhoria

como para concepção dum sistema de drenagem (Vanrolleghem, et al., 2005).

No caso de se querer controlar a qualidade da água, como é regra neste tipo de controlo, tem de se

ter em conta os vários factores que afectam a qualidade da água no meio receptor (qualidade e

quantidade de descargas de águas residuais domésticas, industriais, comerciais e pluviais, e fontes

de poluição difusas como a água proveniente de campos agrícolas). Estes factores requerem

ferramentas de modelação particulares ( (Vanrolleghem, et al., 2005) citando (Rousseau, et al.,

2005)).

As simulações contínuas de longo prazo em modelos integrados podem ser efectuadas recorrendo a

modelos de escoamento e de qualidade da água relativamente simples. Os modelos hidráulicos mais

complexos levam a tempos de computação demasiado longos e excesso de dados para análise.

Existem modelos da qualidade da água complexos mas sofrem de incertezas significantes e

dificuldades na sua utilização, pelo que acabam por não se justificar (Zacharof, et al., 2004).

O CTR integrado tem a dificuldade acrescida de coordenar diferentes partes do sistema de drenagem

que podem ser da responsabilidade de diferentes departamentos ou mesmo de diferentes empresas

(Schütze, et al., 2004).

3.4.2. CTR Manual, Supervisionado e Automático

Nesta secção apresentam-se os vários tipos de CTR em relação ao seu grau de automação, por

ordem crescente de complexidade (CTR manual, supervisionado e automático).

O CTR Manual é aquele em que os actuadores são controlados directamente pelos operadores. Em

princípio, este tipo de controlo está sempre presente como opção em qualquer sistema de CTR com

maior grau de automação, pois pode ser necessário em emergências ou quando o sistema mais

avançado não funcione, havendo uma transferência para este nível de controlo hierarquicamente

inferior ( (United States Environmental Protection Agency, 2006), (Schütze, et al., 2004)). Como

facilmente se compreende, este tipo de controlo não é adequado a sistemas complexos com grande

número de actuadores.

O CTR Supervisionado é aquele em que os actuadores são ajustados por controladores

automáticos, sendo os seus estados definidos ou aprovados por operadores ou por um sistema de

supervisão ( (Schütze, et al., 2004), (United States Environmental Protection Agency, 2006)). Os

centros de controlo com supervisão permanente contam com operadores cuja experiência lhes

permite intervir nas decisões de controlo até certo ponto. Estas intervenções podem antes ser

simuladas em paralelo para verificar se os seus resultados serão os desejados e, com base nisso,

decidir fazer essa intervenção ou outra (eventualmente não alterar as decisões do algoritmo

implantado). Os operadores podem ainda tomar decisões tendo em conta informações que lhes estão

disponíveis mas que não estão integradas no algoritmo de controlo automático (e.g. previsões

meteorológicas). Este tipo de controlo rege-se pelo princípio de que todas as tarefas automatizadas

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devem ser executadas pelo sistema de controlo enquanto os operadores se focam exclusivamente na

tomada de decisões. ( (Polaskova, et al., 2006) citando (Schütze, et al., 1998)).

O controlo supervisionado tem as seguintes desvantagens (Polaskova, et al., 2006):

São necessários anos de prática para os operadores obterem a experiência adequada e a

transferência dessa experiência a novos operadores não é fácil;

Ao contrário do controlo de sistemas hidrológicos de grande dimensão, e.g. albufeiras, ou

sistemas com tarefas de controlo regulares como as ETAR, as intervenções de controlo sobre

o sistema de drenagem são efectuadas irregularmente e sob pressão dada a rapidez de

tomada de decisão necessária;

Essas decisões dos operadores podem resultar em mau funcionamento do sistema,

inundações, danos e perda de vidas, e a imputação de responsabilidade legal por esses

problemas pode ser pouco clara.

O CTR Automático é aquele em que os actuadores são controlados dum modo totalmente

automático ( (United States Environmental Protection Agency, 2006), (Schütze, et al., 2004)),

correspondendo ao maior grau de automação possível num sistema de CTR.

O controlo automático é menos frequente que o controlo supervisionado (Polaskova, et al., 2006).

Para ser implementado é necessário estabelecer regras que determinam os parâmetros de controlo

com base numa avaliação sistemática de potenciais intervenções. Por exemplo, ao controlar dois

reservatórios de águas pluviais em série podem utilizar-se regras como: “Se o reservatório de

montante não estiver cheio e o reservatório de jusante estiver cheio, fechar as saídas de caudal do

reservatório de montante” (Polaskova, et al., 2006). Neste aspecto, o controlo automático difere do

supervisionado pelo facto do estabelecimento de regras ser exaustivo, de modo a que o sistema seja

capaz de tomar decisões automáticas em todas as situações possíveis, exceptuando-se somente os

casos de falhas que obriguem o sistema a reverter para um nível hierárquico de controlo inferior que

requeira operadores humanos. Essas falhas podem ser, e.g., avarias do sistema de controlo

automático ou no sistema telemétrico.

Durante o controlo, a informação registada pelos sensores (valores observados do parâmetro de

controlo e, possivelmente, valores do parâmetro de falha) é enviada a um computador central. As

acções de controlo são determinadas com base nesses dados e de acordo com a estratégia de

controlo adoptada, sendo enviados aos actuadores (Polaskova, et al., 2006). Aqui a diferença em

relação ao controlo supervisionado reside na independência do sistema de controlo em relação a

operadores humanos no processo de tomada de decisão, o que não significa que estes não possam

intervir e alterar as decisões do algoritmo de controlo. Aliás, o mais provável e aconselhável é que o

possam fazer.

Nos controlos supervisionado e automático põem-se algumas exigências adicionais para assegurar a

sua fiabilidade, embora mais críticas no caso do último. É necessário estarem disponíveis substitutos

para elementos importantes, como computadores centrais, ou deve ser possível lidar com a sua falha

transferindo o controlo para um nível hierárquico inferior (e.g. passar de controlo global para controlo

local). Como regra geral, em caso de falha do sistema controlo, é necessário manter o sistema num

estado que seja, no mínimo, idêntico ao sistema não controlado. Isto é importante do ponto de vista

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legal quando é necessário apurar responsabilidades e montantes de indeminização por danos

relacionados com o funcionamento do sistema de drenagem. A comparação com o sistema não

controlado para averiguação da responsabilidade por danos baseia-se na informação sobre a sua

concepção, dimensionamento e potenciais falhas (Polaskova, et al., 2006).

3.4.3. CTR Reactivo e Preditivo

Nesta secção apresentam-se os tipos de CTR existentes em relação à consideração ou não de

estados do sistema de drenagem que não o presente, e do efeito das acções de controlo a tomar

sobre o estado futuro do sistema.

O CTR Reactivo é aquele em que a regulação dos actuadores é feita como resposta ao estado

presente do sistema de drenagem, sem levar em conta o historial de estados passados do sistema,

nem o efeito das acções de controlo a tomar sobre o estado futuro do sistema, nem as solicitações

futuras previstas (e.g. precipitação). Este tipo de controlo pode, então, dispensar simulação do

comportamento do sistema de drenagem e, em geral, está associado às formas mais simples de

controlo (United States Environmental Protection Agency, 2006).

O CTR Preditivo é aquele em que o controlo é feito em função da previsão do comportamento futuro

do sistema de drenagem através de simulações num modelo computacional. Estas simulações têm

de representar um período de tempo suficiente para aferir o desempenho do sistema em termos dos

objectivos definidos. Como os dados de entrada no modelo de simulação são uns de origem exógena

(e.g. precipitação) e outros correspondem a decisões de controlo, esta abordagem permite examinar

a cada passo temporal de controlo (e.g. a cada 5 min) os impactos duma série de potenciais acções

de controlo alternativas e determinar a estratégia de controlo óptima ao longo dum horizonte de

previsão. Alternativamente, a determinação da estratégia de controlo óptima pode basear-se em

algoritmos de optimização diversos (e.g. algoritmo genético). Determinada essa estratégia óptima, ela

é aplicada através dos actuadores e o procedimento repete-se ( (Rauch & Harremoës, 1999b), (Puig,

et al., 2009), (Schütze, et al., 2008), (Cembrano, et al., 2004), (Schütze, et al., 2004) citando (Fuchs,

et al., 1997), (Rauch & Harremoës, 1999a) e (Jumar & Tschepetzki, 2002)).

Os horizontes temporais são um ponto-chave de qualquer técnica de optimização no contexto de

controlo preditivo. A abordagem mais rigorosa é correr o algoritmo de optimização a cada passo

temporal de controlo e determinar a estratégia de controlo óptima até ao fim do evento, i.e. até escoar

todo o caudal do sistema ou até ocorrerem as condições mais adversas em termos de qualidade no

meio receptor. Contudo, isto pode requerer um grande tempo de computação em sistemas

complexos, pois pode ser necessário avaliar os efeitos no sistema de drenagem dum grande número

de opções de controlo possíveis, tornando-se inviável para fazer um controlo em tempo real. A

solução é definir horizontes temporais que balancem o compromisso entre tempo computacional e

grau de optimização da estratégia de controlo determinada ( (Rauch & Harremoës, 1999b), (Schütze,

et al., 2008), (Schütze, et al., 2004), (Marquès, et al., s.d.)). De seguida definem-se os vários

horizontes temporais considerados no controlo preditivo e esquematiza-se a sua relação na Figura

15.

Page 55: Controlo em Tempo Real de Sistemas de Drenagem Urbanos · i Resumo Esta dissertação tem como objectivo principal apresentar os aspectos mais relevantes do controlo em tempo real

43

O horizonte de previsão corresponde ao intervalo de tempo necessário para avaliar o desempenho do

sistema em termos dos objectivos definidos (em geral, através duma função objectivo, que se procura

minimizar ou maximizar), pelo que especifica o período de simulação. Deste modo, o tipo de

objectivos definidos é condicionante na extensão do horizonte de previsão. Por exemplo, há uma

diferença notória entre o tempo necessário para determinar o volume de descargas total e o para

avaliar a qualidade da água no meio receptor (e.g. a concentração mínima de oxigénio dissolvido

pode ocorrer cerca de 24h após o fim do evento pluvioso) ( (Rauch & Harremoës, 1999b) citando

(Harremoës, 1982)).

O horizonte de previsão exógeno (forecast horizon, na língua inglesa) é a extensão de tempo na qual

há especificação de dados de entrada exógenos. Quando a optimização é feita offline (em simulação)

para efeitos de planeamento, os dados de entrada exógenos são conhecidos na duração total do

evento e este horizonte deixa de ser relevante. Já em aplicações em tempo real este horizonte tem

uma duração limitada e no intervalo entre seu fim e o fim do horizonte de previsão, arbitram-se

valores para os dados exógenos (em geral arbitra-se um valor fixo). As previsões podem basear-se

em radares meteorológicos, udómetros ou medições no sistema aliadas a modelos determinísticos ou

estocásticos. Não é possível generalizar a influência do horizonte de previsão exógeno nos

resultados, tendo de ser avaliada caso a caso ( (Rauch & Harremoës, 1999b), (Puig, et al., 2009),

(Cembrano, et al., 2004)).

O horizonte de controlo corresponde ao intervalo de tempo durante o qual se optimizam as acções

dos actuadores. O CTR traz o máximo benefício possível quando a optimização é conduzida durante

todo o horizonte de previsão. Contudo isto leva ao máximo número de variáveis de decisão e,

consequentemente, a um grande tempo de computação. Assim, é frequentemente necessário reduzir

a duração do horizonte de controlo em relação ao horizonte de previsão. No intervalo entre o

horizonte de controlo e o horizonte de previsão, os actuadores funcionam em geral dum modo fixo

pré-definido (Rauch & Harremoës, 1999b).

O intervalo de amostragem expressa a frequência com que os valores alvo dos actuadores são

renovados e coincide com a frequência com que o algoritmo de optimização é corrido. Assim, para a

melhor estratégia de controlo encontrada, só as decisões calculadas para este tempo passado desde

o início duma corrida do algoritmo de optimização são efectivamente aplicadas. A optimização da

gestão do sistema aumenta com a redução deste intervalo, acompanhado dum aumento do tempo de

computação ( (Rauch & Harremoës, 1999b), (Puig, et al., 2009), (Marquès, et al., s.d.), (Cembrano, et

al., 2004)).

Vários estudos indicam que a utilização de controlo preditivo, mesmo com os erros inerentes às

previsões, é preferível ao controlo reactivo ( (Cembrano, et al., 2004), (Figueras, et al., 2002),

(Labadie, 2004) citando (Labadie, et al., 1981), (Mishalani & Palmer, 1988) e (Georgakakos, 1989)).

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Figura 15 - Esquema dos horizontes temporais aplicados no controlo preditivo baseado em modelo

(adaptada de (Rauch & Harremoës, 1999b))

3.4.4. CTR baseado em volume, em poluição e em imissão

No contexto das descargas em meios receptores podem considerar-se duas abordagens: a de

emissão e a de imissão. A primeira baseia-se em determinar a carga poluente máxima no ponto de

descarga (e.g. descarregador da ETAR), volume de descarga máximo ou frequência de descarga

máxima no meio receptor (pouco frequente). A segunda baseia-se na determinação duma medida

directa da qualidade da água do meio receptor, como a CBO5, que não deve ultrapassar um limite

definido em nenhum ponto do meio receptor (Polaskova, et al., 2006).

Nesta secção apresentam-se os tipos de CTR classificados quanto à abordagem em que baseiam o

controlo, de emissão ou de imissão, e, dentro das abordagens de emissão, apresentam-se os dois

tipos existentes de utilização mais comum: CTR baseado em volume e em poluição. O CTR baseado

em frequência segue um funcionamento análogo ao baseado em volume mas por ser pouco comum e

escassamente documentado não é aqui apresentado. Na prática, mesmo quando estão definidos

objectivos de redução da frequência de descargas directas, tal é conseguido com a implantação dum

CTR baseado em volume como no exemplo de aplicação apresentado no Capítulo 5.3 ( (Fradet, et

al., 2011), (Pleau, et al., 2005), (Borsányi, et al., 2008)).

O CTR baseado em volume é aquele que se concebe uma estratégia de modo a minimizar o volume

de águas residuais e pluviais afluentes ao meio receptor, através do seu armazenamento e

tratamento. O sucesso desta abordagem está documentado por vários autores como em (Pleau, et

al., 2005) e (Pleau, et al., 2001) (citados por (Vanrolleghem, et al., 2005)). Um dos argumentos

utilizados para dar preferência a este tipo de controlo em vez dos baseados em poluição ou imissão é

que necessita apenas de medições muito simples como níveis de água e caudais a jusante de

válvulas reguladoras de caudal, enquanto os outros tipos de controlo requerem medições de poluição

que se revestem de grandes dificuldades, incertezas e tendem a ser escassas ( (Alex, et al., 2008),

(Schütze, 2011a), (Darsono & Labadie, 2007)). Além disso, a experiência mostra que as soluções de

CTR baseado em volume normalmente também resultam em bons resultados em termos de

Horizonte de previsão

(conclusão de todos os efeitos sobre o sistema de drenagem)

Horizonte de previsão exógeno

(dados de entrada exógenos conhecidos)

Dados de entrada exógenos arbitrados

(e.g. precipitação nula)

Horizonte de controlo

Optimização de valores alvo dos actuadores

Estratégia de controlo fixa

(e.g. abertura máxima em todas as válvu-las reguladoras de caudal)

t0 t0 + Ts

Intervalo de amostragem

Tempo t (discretizado)

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minimização da poluição do meio receptor (Alex, et al., 2008), ainda que não haja garantias que tal

suceda (Darsono & Labadie, 2007). No Capítulo 5 apresentam-se em detalhe exemplos de aplicação

reais deste tipo de CTR.

O CTR baseado em poluição procura minimizar a quantidade total de poluentes afluentes ao meio

receptor. São ainda poucos os sistemas de CTR deste tipo e tal deve-se essencialmente a dois

factores: falta de séries de medições contínuas da qualidade da água e dificuldade de modelação da

qualidade da água nos sistemas de drenagem ( (Lacour & Schütze, 2011) citando (Kanso, et al.,

2005)). Está sob investigação a possibilidade de monitorização contínua da qualidade da água

através de sensores ópticos e em particular da carga de sólidos suspensos através da medição da

turbidez e da espectrofotometria, que já foi usada em Portugal com bons resultados ( (Brito, 2012),

(Lacour & Schütze, 2011) citando (Grünning, et al., 2002), (Lawler, 2005), (Mels, et al., 2004),

(Langeveld, et al., 2005) e (Fletcher & Deletic, 2007)). De modo a garantir séries de medições fiáveis

e exactas da turbidez e doutros parâmetros de qualidade da água indirectamente aferidos através de

espectrofotometria, desenvolveram-se protocolos de calibração e manutenção ( (Brito, 2012), (Lacour

& Schütze, 2011) citando (Joannis, et al., 2007)).

Um dos meios para reduzir a carga poluente afluente ao meio receptor é dar prioridade ao

armazenamento de águas mais poluídas, descarregando outras menos poluídas no meio receptor

quando não há possibilidade das armazenar e tratar também ( (Vanrolleghem, et al., 2005) citando

(Weinreich, et al., 1997), (Lacour & Schütze, 2011) citando (Gogien, et al., 2004)).

Em (Lacour & Schütze, 2011) apresenta-se um estudo que aplica esta abordagem a um caso

simples, aferindo a poluição pela turbidez, e que evidencia a possível utilidade de considerar algum

tipo de medição da qualidade da água para reduzir o impacto ambiental das descargas no meio

receptor. Nas simulações modelaram-se os efeitos de sedimentação e re-suspensão, considerando-

se ou não o efeito de first flush. Neste estudo compararam-se três tipos de CTR: local baseado em

volume, local baseado em poluição e global baseado em volume (utilizando o princípio da

equalização da utilização da capacidade de armazenamento), verificando-se que todos melhoravam o

desempenho do sistema sem CTR. Concluiu-se que o CTR local baseado em poluição era o que

melhor resultado dava em termos de carga poluente descarregada no meio receptor mas

apresentando uma melhoria marginal comparada com o CTR global baseado em volume. Este

revelou como vantagem uma redução muito maior do volume descarregado. Tendo em conta a

grande incerteza comportada pelos sensores de poluição e a grande diferença de volume

descarregado, o CTR global baseado em volume é elegível como meio de controlo indirecto da

poluição, possivelmente com os melhores resultados na realidade.

Observou-se ainda que a consideração do efeito de first flush não conduz necessariamente a melhor

controlo da poluição, possivelmente devido à informação sobre poluição recolhida no momento em

que ele ocorre influenciar decisões de controlo noutros locais e instantes, em que o efeito é menos

pronunciado ou inexistente. Contudo, este assunto carece investigação adicional.

O CTR baseado em imissão procura optimizar a qualidade do meio receptor de forma directa, pelo

que se distingue do CTR baseado em poluição, que o faz de forma indirecta. Isto significa que se

utilizam sensores de qualidade no meio receptor, cuja informação é directamente utilizada para

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manipular os actuadores da rede de drenagem, ETAR e mesmo do meio receptor (no caso dum rio

podem ser descarregadores, electrobombas e arejadores) ( (Vanrolleghem, et al., 2005) citando

(Erbe, et al., 2002a), (Rauch & Harremoës, 1999b)).

O facto de se evitar o controlo indirecto da qualidade da água através do volume ou frequência de

descargas directas é importante pois, em investigações efectuadas, não foi encontrada uma grande

correlação entre a redução do volume de descargas directas e o aumento do oxigénio dissolvido no

meio receptor, que é um parâmetro crucial da avaliação da qualidade da água ( (Rauch & Harremoës,

1999b), (Zacharof, et al., 2004)), apesar de não ser o único nem necessariamente o mais

condicionante. Mesmo o controlo baseado em poluição não garante a qualidade da água no meio

receptor. Por exemplo, devido a diferentes capacidades de diluição e de degradação de diferentes

meios receptores, a mesma carga poluente descarregada dum sistema de drenagem pode ter neles

diferentes efeitos. Além disso, o momento em que se faz a descarga pode desempenhar um papel

importante (Zacharof, et al., 2004).

No contexto legal actual, as abordagens de controlo tradicionais tornam-se insuficientes por não

garantirem a qualidade ecológica do meio receptor ( (Vanrolleghem, et al., 2005) citando (Butler &

Schütze, 2005)). Neste aspecto o controlo baseado em imissão é visto como uma abordagem

promissora por vários estudos ( (Vanrolleghem, et al., 2005) citando (Bauwens, et al., 1996), (Rauch

& Harremoës, 1999b) e (Schütze, et al., 2002d)). O CTR baseado em imissão é assim uma melhor

forma de assegurar o cumprimento das novas exigências legais relativamente à qualidade química e

ecológica dos meios receptores, em particular se apoiado por modelação ecológica e análise de

incertezas (Vanrolleghem, et al., 2005).

A concepção e calibração dum esquema de CTR baseado em imissão, com o objectivo de aferir o

efeito geral sobre o meio receptor, requerem um modelo matemático integrado do sistema de

drenagem (rede de drenagem, ETAR e meio receptor), sendo assim indissociável do CTR integrado

completo. As três componentes do sistema de drenagem têm correspondência a subsistemas do

modelo, que correm em simultâneo, permitindo que os estados actuais e previstos do meio receptor

sejam utilizados para determinar acções de controlo em todas as partes do sistema. Já numa

simulação sequencial isto é impossível pois o estado do meio receptor é o último cálculo a ser feito

em cada passo da simulação (Vanrolleghem, et al., 2005).

O controlo baseado em imissão tem a desvantagem de ser mais oneroso que o baseado em volume,

pois requer mais sensores e modelos de simulação mais complexos, cujo desenvolvimento e

implementação são mais trabalhosos e morosos. Isto faz com que muitas vezes este tipo de CTR

seja posto de lado pelas entidades gestoras, optando-se por esquemas de CTR mais simples (Pleau,

et al., 2005).

Há autores, como (Rauch & Harremoës, 1999b), que chamam a este tipo de controlo baseado em

poluição, não distinguindo a forma directa ou indirecta como o controlo da qualidade do meio receptor

é executada. Neste texto, faz-se essa distinção, englobando o CTR baseado em poluição e em

volume no CTR baseado em emissão, por oposição ao baseado em imissão.

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3.4.5. Comparação entre os tipos de CTR

Em princípio, quantos mais elementos e variáveis do sistema de drenagem são incorporados no

sistema de CTR, maior será o seu potencial em atingir os objectivos definidos. Quanto à abrangência

de elementos do sistema de drenagem e grau de coordenação da sua acção, o desempenho dos

sistemas de CTR tende a crescer na ordem seguinte: local, combinado, global, integrado ( (Puig, et

al., 2009), (Darsono & Labadie, 2007)). Quanto ao número de variáveis, o CTR preditivo é mais

vantajoso que o reactivo, pois considera as variáveis correspondentes aos valores futuros de

determinados parâmetros. Quanto à base do controlo, o CTR baseado em imissão tende a ser mais

vantajoso que os CTR baseados em emissão (volume ou poluição) pois é o único que controla

directamente os parâmetros do meio receptor, estando apto a fazer cumprir a legislação relativa à sua

qualidade. Entre as abordagens de emissão, o controlo baseado em poluição tem potencial para

bater o baseado em volume no que toca ao cumprimento das leis sobre qualidade do meio receptor.

Contudo, o seu desempenho relativo depende muito de como é feita a monitorização e modelação da

poluição no escoamento.

A vantagem dos tipos de controlo com maior potencial teórico pode ser marginal relativamente a um

sistema menos complexo, podendo então justificar-se a opção por um sistema mais simples pela

facilidade e menor custo da sua implementação. É uma análise que tem de ser feita caso a caso.

A comparação entre tipos de controlo não é linear pois, embora teoricamente um sistema de controlo

que, por exemplo, integre mais informação tenha maior potencial para atingir os objectivos definidos,

na prática o seu desempenho está intrinsecamente ligado à forma como é implementado e, em

especial, à concepção do algoritmo de controlo (Rauch & Harremoës, 1999b). Por esta razão,

afirmações como “o controlo global é melhor que o controlo local” não são universais. Pode somente

dizer-se que um determinado sistema de controlo global tem um melhor desempenho que um

determinado sistema de controlo local, para um certo sistema de drenagem.

3.5. Elementos de controlo e formas da sua utilização

3.5.1. Válvulas reguladoras de caudal

Na maior parte das redes de drenagem, as válvulas são dos elementos mais importantes para

operações de controlo. Elas permitem regular o caudal efluente de elementos de retenção como

reservatórios, bacias e colectores com capacidade de armazenamento. Em geral, os respectivos

controladores estão implantados localmente por razões de fiabilidade e de descentralização dos

sistemas de controlo (DWA, 2005).

Em sistemas de maior dimensão faz sentido distinguir entre os seguintes diferentes estados

operacionais (DWA, 2005):

Estado inactivo, durante condições de tempo seco;

Estado de alerta, quando há sinais da presença de precipitação (e.g. aumento do caudal) ou

previsão da sua ocorrência iminente. Este estado é sobretudo necessário no caso de válvulas

de regulação de caudal grandes para as levar duma posição neutra a uma posição de

prontidão a actuar (standby);

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Estado activo, quando o caudal é regulado pela válvula para o valor alvo definido.

Se necessário, isto pode ser reformulado com estados operacionais de manutenção dos valores alvo

do nível da água e com níveis de esvaziamento escalonados no caso de sistemas de múltiplos

elementos de retenção.

A Figura 16 apresenta o princípio de funcionamento dum ciclo de CTR duma válvula reguladora de

caudal, típico em colectores de grande diâmetro, onde a instalação de medidores de caudal directos

através de sifão e válvulas não é possível. A descarga no fim do desenvolvimento do colector é

regulada para um valor alvo através da posição da válvula à saída do reservatório. As regras de

actuação da válvula têm de ser desenvolvidas tomando em conta o tempo de reacção na rede de

drenagem. A par da medição indispensável da descarga controlada, a qualidade do sistema de

controlo pode ser melhorada com medições adicionais do nível de água a montante, h, e de possíveis

afluências laterais (DWA, 2005).

Figura 16 - Ciclo de controlo com feedback da descarga num sistema de grande dimensão (adaptada de

(DWA, 2005))

No caso da configuração típica utilizada em implementações directas da válvula e medições de

caudal, a concepção do ciclo de controlo com feedback é, geralmente, menos crítica e mais simples,

dispensando medições adicionais (DWA, 2005).

3.5.2. Reservatórios e bacias de águas pluviais

Os reservatórios e as bacias de águas pluviais são elementos distintos essencialmente apenas em

termos construtivos. Os reservatórios são estruturas fechadas de betão armado, tipicamente

subterrâneas, enquanto as bacias de águas pluviais são elementos a céu aberto, frequentemente

apenas com alguns elementos de betão armado, de resto sendo quanto muito resultado de

operações de terraplenagem de modo a dar-lhes a dimensão e forma desejadas. Neste texto o que é

dito para um elemento também é aplicável ao outro, pois o seu funcionamento é idêntico.

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Numa rede de drenagem unitária, os reservatórios de águas pluviais servem para reter parte das

águas residuais, antes das descarregar na rede ou no meio receptor. Estes reservatórios podem

dividir-se em dois grupos (Polaskova, et al., 2006). O primeiro consiste nos reservatórios de retenção

concebidos para optimizarem a diferença entre os seus volumes afluentes e efluentes. São utilizados

para balançar os caudais quando o afluente máximo é superior ao efluente potencial. O segundo

grupo engloba os reservatórios flow-through, de sedimentação, de retenção e combinados. Nos

reservatórios flow-through o afluente deve transbordar da rede e escoar através do reservatório, de

preferência durante todo o período em que a rede está sobrecarregada, servindo para deter

contaminantes sedimentáveis de grandes dimensões. Os reservatórios de sedimentação têm

propriedades de retenção e de limpeza da água e a são atravessados pela totalidade do caudal. Os

reservatórios de retenção armazenam o primeiro transbordamento da rede, servindo o propósito de

reter o first flush. Se esgotarem a sua capacidade, descarregam águas não tratadas para a rede ou

meio receptor. Um reservatório combinado é essencialmente um sistema de reservatórios de

retenção e de flow-through ( (Polaskova, et al., 2006) citando (Kolatsch & Schilling, 1990)).

Tipicamente os reservatórios de águas pluviais possuem um dispositivo regulador do caudal efluente

(um orifício com uma determinada secção ou uma válvula reguladora de caudal) e um descarregador

de excedentes (e.g. de soleira espessa). Quando o caudal efluente dos reservatórios é regulável, é

frequente aplicar-se CTR local, com o objectivo de prevenir a utilização desnecessária da capacidade

de armazenamento do reservatório (Alex, et al., 2008).

A operação dos reservatórios está intrinsecamente ligada à das válvulas reguladoras de caudal. Tal é

bem ilustrado pelo algoritmo de CTR global reactivo baseado em volume apresentado em (Schütze &

Alex, 2011). Este algoritmo parte da configuração de blocos de controlo que seguem a configuração

da rede de drenagem, simplificando-a de modo a incluir apenas os elementos controláveis da rede

(ver Figura 17). Cada elemento controlável tem no máximo outro elemento controlável directamente a

jusante e pode ter vários directamente a montante. Se um controlador local (CL) tiver outros a

montante instala-se um controlador supervisor (CS) junto dele, para coordenar as suas acções. Cada

elemento controlável pode receber afluentes controláveis e não controláveis de magnitude à partida

desconhecida, vindos de bacias de drenagem a montante (Alex, et al., 2008).

Esta abordagem torna simples a concepção deste sistema de CTR para boa parte dos sistemas de

drenagem, até porque além da informação básica sobre o sistema (como volumes de

armazenamento e caudais máximos admissíveis), o algoritmo de controlo requer um pequeno número

de parâmetros de entrada ( (Schütze & Alex, 2011), (Alex, et al., 2008)).

O algoritmo de controlo (ilustrado na Figura 17 e Figura 18) requer a utilização de controladores

locais (LC) para cada actuador da rede de drenagem (válvulas reguladoras do caudal efluente de

reservatórios), sendo eles por sua vez coordenados entre si através de controladores supervisores

(SC) (veja-se a Figura 18). Utilizando as informações locais (níveis da água e caudais), cada

controlador local regula o caudal efluente do seu reservatório, qout, e envia ao primeiro controlador

supervisor a jusante um valor de caudal desejado, qw, i.e. que a rede a jusante deve ter capacidade

de receber. Por seu turno, como ilustrado na Figura 17, o controlador supervisor determina e envia

aos controladores locais directamente a montante o valor do máximo caudal efluente dos

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reservatórios por eles controlados, qmax, e ainda o valor alvo do nível de água desses reservatórios,

href, com base nos pedidos de caudal e níveis de água dos reservatórios a jusante. Os controladores

locais directamente a montante do controlador supervisor recebem esta informação e de acordo com

ela controlam o nível do reservatório e do seu caudal efluente. A cadeia de interacções entre os

controladores do sistema assegura um controlo global, sendo possível assegurar o princípio de

equalização de utilização da capacidade de armazenamento dos reservatórios, minimizando do

volume de descargas directas ( (Schütze & Alex, 2011), (Alex, et al., 2008)).

Quando há descarga de excedentes num reservatório, a sua válvula passa para a posição de máxima

abertura. De modo a manter seguro o comportamento local de cada reservatório nunca se permite

que o seu caudal efluente máximo corresponda a uma posição da válvula que não a de abertura

máxima. Se o controlador supervisor definir um href maior que zero, o controlador local passa a actuar

de modo a atingir esse nível (Alex, et al., 2008).

Cada controlador local tem capacidade de reverter para CTR local (e.g. quando falha a comunicação

entre controladores), fixando o valor de qmax no caudal efluente máximo nominal da válvula, href em

zero e qw torna-se irrelevante ( (Schütze & Alex, 2011), (Alex, et al., 2008)). Esta configuração é

também usada em tempo seco (Alex, et al., 2008).

O algoritmo de controlo dos controladores supervisores baseia-se num modelo de previsão do volume

de armazenamento do elemento controlado e em duas funções objectivo que implicam um

desempenho óptimo quando todos os reservatórios são enchidos em sincronia e todas as limitações

aos caudais são utilizadas de modo uniforme.

De forma a atingir o objectivo de enchimento dos reservatórios em sincronia, o controlador supervisor

define o valor de href de todos os reservatórios directamente a montante como o valor do nível de

água no reservatório a jusante destes (com limites e uma histerese on/off). Isto assegura que os

reservatórios a montante começam a encher assim que tal acontece para o de jusante. Para

sincronizar os reservatórios no sentido inverso é o controlador local que entra em acção, e.g. quando

um reservatório a montante começa a encher, o seu controlador local envia ao controlador supervisor

a jusante um valor de qw superior ao máximo caudal nominal efluente para tentar esvaziar o

reservatório e enviar mais caudal para jusante. Isto equalizaria os níveis de ambos os reservatórios

mas, como a rede a jusante tem capacidade limitada e o reservatório de jusante pode já estar cheio,

o seu controlador supervisor tem de verificar se qw é acomodável e limitar o seu valor para qmax, que

considera as restrições de capacidade de transporte e de armazenamento.

O objectivo de uniformização das limitações aos caudais é implementado ao fazer o controlador

supervisor considerar todas as capacidades de transporte disponíveis nos ramos a montante

controláveis e o armazenamento disponível no reservatório a jusante, e alocando-as aos ramos de

montante que estão a pedir capacidade extra (qw > caudal efluente nominal máximo).

O cumprimento de ambos os objectivos assegura a equalização da utilização da capacidade dos

reservatórios e que quaisquer descargas directas ocorrem aproximadamente em simultâneo e que

nenhum caudal é desnecessariamente limitado quando existe capacidade de transporte e

armazenamento para o acomodar. Esta forma de operação procura assegurar a minimização do

volume de descargas directas ( (Alex, et al., 2008) citando (Einfalt & Stölting, 2002)).

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Figura 17 - Exemplo da transferência da configuração da rede de drenagem (esquerda) para a

configuração dos blocos de controlo locais e supervisores (direita), segundo um esquema de CTR global

(adaptada de (Schütze & Alex, 2011))

Figura 18 - Controlo local dum reservatório com válvula reguladora de caudal a jusante como parte dum

esquema de CTR global (adaptada de (Schütze & Alex, 2011))

3.5.3. Electrobombas e Estações Elevatórias

As estações elevatórias introduzem um número de caudais controláveis e, em muitos casos, utilizam

um volume de armazenamento significativo em colectores e no poço de bombagem. É ainda

frequente terem descarregadores associados. Assim, as estações elevatórias são elementos que

potenciam várias acções de controlo, trazendo vantagens na sua integração no sistema de CTR.

Possuindo todos os elementos mencionados podem ser operadas de modo semelhante ao dum

reservatório como apresentado na Figura 18 e inseridas no mesmo tipo de esquema de controlo

global resumido na Figura 17. A diferença é que qmax passa a indicar um valor variável para o máximo

caudal bombeado (Alex, et al., 2008).

Nas estações elevatórias convencionais as electrobombas são operadas em função dos níveis de

água. As electrobombas vão sendo consecutivamente ligadas ou desligadas consoante se vão

ultrapassando determinados níveis de água e entre cada um desses níveis o caudal das

electrobombas accionadas varia linearmente com o nível (utilizando-se para isso variadores de

velocidade). Este tipo de controlo utiliza ainda uma histerese de modo a evitar oscilações. Em

estações elevatórias com muitas electrobombas, o gráfico que descreve a relação entre o nível da

água e o caudal torna-se complicado, com intervalos pequenos entre cada nível de entrada/saída de

funcionamento de electrobombas. A definição destes níveis é frequentemente feita recorrendo à

experiência e intuição dos operadores, o que leva a soluções subjectivas, dificilmente óptimas e

comportamento potencialmente instável. O estabelecimento dos níveis de entrada/saída de

afluente adicional

qw1 qw2

href1, qmax1

href3, qmax3

qw3

CL1 CL2

CL3

CL4

CS2 CS4 Res.1 Res.2

Res.4 Res.3

qin

qout

qdescarga

Controlador Local

Q

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52

funcionamento das electrobombas, ou de outras condições de controlo mais complexas, constitui uma

parte focal da estratégia de controlo da estação elevatória e frequentemente afecta a estratégia de

controlo da totalidade do sistema (Alex, et al., 2008).

Ao conceber uma estratégia de controlo, e especialmente no contexto de CTR global ou integrado

(e.g. para a coordenação de sistemas de electrobombas entre si ou em combinação com a ETAR), é

recomendável desenvolver uma abordagem modular para o controlo das electrobombas individuais

(DWA, 2005). O controlo convencional de estações elevatórias descrito é, devido ao seu conceito um

tanto estático, pouco adequado ao CTR. É preferível considerar separadamente as sub-tarefas de

determinação do caudal total da estação elevatória com base nas condições e solicitações do sistema

(e.g. usando um sistema de controlo global) e de distribuição do caudal total da estação elevatória

pelas electrobombas individuais (ver Figura 19), enquanto se consideram as condições de fronteira

do sistema de controlo das electrobombas ( (DWA, 2005), (Alex, et al., 2008)). Isto não só assegura

que se evitam as referidas curvas características de operação complicadas mas providencia também

uma maior flexibilidade do sistema de controlo, bem como uma formulação mais fácil de estratégias

alternativas para casos de falha de electrobombas individuais ( (DWA, 2005) citando (Schütze &

Alex, 2003)).

A abordagem para este problema, ilustrada na Figura 19, passa por definir primeiro um controlador do

nível da água que altera o valor alvo do caudal total da estação elevatória, qalvo. Subsequentemente,

um controlador de distribuição estabelece valores alvo para o caudal de cada electrobomba, de modo

a que totalizem o valor alvo para a estação elevatória. Esta distribuição leva em conta o estado de

funcionamento recente das electrobombas e uma histerese ( (Alex, et al., 2008) citando (Schütze &

Alex, 2003)). O controlador de nível permite a especificação duma lei de controlo apropriada (na

Figura 19 ilustra-se a situação correspondente a um controlador proporcional não linear) que

considere um nível de referência, href, e um caudal máximo bombeado pela estação elevatória, qmax.

Figura 19 - Esquema de CTR duma estação elevatória (adaptada de (Alex, et al., 2008))

qalvo qi

h

qalvo

h

href qmax

qalvo Controlador do

nível

Controlador

de

distribuição

Controlador da bomba 1

Controlador da

bomba 2

Controlador da

bomba 3

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53

A formulação matemática das leis do controlador de nível é complexa e requer conhecimentos sobre

o funcionamento dos vários tipos de controladores utilizáveis para o efeito (proporcionais,

proporcionais-integrais e proporcionais-integrais-derivativos). Em (Alex, et al., 2008) apresentam-se

algumas informações a este respeito.

3.5.4. Descarregadores

O requerimento de manter um certo nível do escoamento pré-definido pode exigir a instalação de

descarregadores com comportas móveis. Estes dispositivos são melhor conservados minimizando o

número de movimentos das comportas (ciclos de accionamento), sendo útil para tal a definição duma

gama de tolerância para o valor alvo num controlador on/off com histerese (ver Capítulo 3.5.6). A

experiência prática demostra que o número de ciclos de accionamento pode ser significativamente

reduzido com esta abordagem, enquanto a qualidade do controlo, avaliada como função da

concretização do valor alvo, não é influenciada negativamente (DWA, 2005).

Em sistemas de CTR local reactivo as comportas do descarregador podem ser reguladas

automaticamente em função no nível da água, utilizando um sistema mecânico com uma bóia

colocada a montante da comporta (Polaskova, et al., 2006).

3.5.5. Outros elementos de controlo

Além dos elementos de controlo mencionados existem outros utilizados nas ETAR como os

dispositivos de adição de químicos, alimentação do tanque de nitrificação e de arejamento, sendo

este também utilizado no meio receptor em sistemas mais avançados (Schütze, 2011a).

3.5.6. Controladores dos actuadores

Os controladores dos actuadores classificam-se consoante a tolerância do valor alvo em

controladores on-off sem ou com histerese, e quanto ao grau de resposta que dão relativamente ao

estado observado da variável de controlo em controladores P, PI, PID ou ainda fuzzy. Descrevem-se

de seguida estes tipos de controladores.

Controlador On-Off sem histerese: o controlador é activado/desactivado consoante o valor da

variável de controlo está acima ou abaixo do valor alvo. Se o valor medido da variável sofrer

oscilações em torno do valor alvo, mesmo que pequenas, o controlador pode ser activado e

desactivado com uma frequência indesejada e produzir efeitos dinâmicos indesejados no

escoamento. Estas oscilações podem ocorrer naturalmente, e.g., no caso da variável de controlo ser

o nível do escoamento as oscilações podem ser o resultado de ondas, turbulência ou espuma

(Schütze, 2011a).

Controlador On-Off com Histerese: é semelhante ao anterior mas menos afectado por flutuações

da variável de controlo. Neste caso é definida uma tolerância em torno do valor alvo. Se o controlador

estiver fora desse intervalo, estando activado/desactivado só vai ser desactivado/activado se o valor

medido da variável de controlo ultrapassar a extremidade oposta desse intervalo de valores. Assim,

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54

enquanto o valor medido da variável de controlo oscila dentro desse intervalo, o estado do actuador

não é alterado (Schütze, 2011a).

O funcionamento dos controladores On-Off sem e com histerese é ilustrado na Figura 20 (à esquerda

e direita, respectivamente), para uma variável de controlo genérica, X, com valor alvo Xalvo. No caso

com histerese, Δ é a tolerância.

Figura 20 - Funcionamento dos controladores On-Off sem e com histerese (à esquerda e à direita,

respectivamente) para uma variável de controlo genérica X, com valor alvo Xalvo e tolerância Δ no caso de

controlo com histerese (adaptada de (Schütze, 2011a))

Controlador P (Proporcional): A lei de controlo gera uma acção do actuador proporcional ao erro

(diferença entre o valor alvo da variável de controlo e o seu valor observado pelo sensor), dada por

, em que é a constante de proporcionalidade ( (Vanrolleghem, et al., 2005), (Schütze,

2011a)).

Controlador PI (Proporcional Integral): Neste caso, a lei de controlo gera uma acção do actuador

que é dada pela soma da parcela proporcional ao erro com uma parcela que integra o erro passado,

evitando erros estacionários, dada por ⁄ ∫ ( (Vanrolleghem, et al., 2005),

(Schütze, 2011a)).

Controlador PID (Proporcional Integral Derivativo): Neste caso, além das parcelas consideradas

nos controladores PI, é ainda somada uma parcela derivativa do erro que analisa a sua tendência

futura, sendo a expressão total dada por ⁄ ∫ , onde e

são constantes de integração e derivação, respectivamente ( (Vanrolleghem, et al., 2005), (Schütze,

2011a), (United States Environmental Protection Agency, 2006)).

Controlador Fuzzy: A lei de controlo gera uma acção do actuador baseada em descrições

qualitativas das variáveis do processo (Vanrolleghem, et al., 2005).

on

off

Xalvo X Xalvo X

on

off

Xalvo-Δ Xalvo+Δ

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55

4. Aplicação de controlo em tempo real a sistemas de drenagem

urbanos

4.1. Considerações Introdutórias

Tendo-se apresentado os temas mais importantes sobre o funcionamento do CTR nos capítulos

anteriores, apresenta-se nos seguintes informação relevante à sua aplicação aos sistemas de

drenagem urbanos, começando-se pelo planeamento dum sistema de CTR e simulação do sistema

de drenagem. Uma das etapas centrais do planeamento é a avaliação do potencial do CTR, que se

descreve em detalhe no Capítulo 4.3. Outro passo importante é o da escolha e desenvolvimento do

algoritmo de CTR, apresentando-se no Capítulo 4.4 informação sobre este tema. No Capítulo 4.5

termina-se com considerações sobre as principais dificuldades da aplicação do CTR aos sistemas de

drenagem.

4.2. Planeamento dum sistema de CTR

4.2.1. Etapas Consideradas

Em (DWA, 2005) propõe-se um procedimento de planeamento dum sistema de CTR, que se

esquematiza na Figura 21, completada pela Tabela 3, onde se resumem os aspectos relevantes de

todo o processo de planeamento, por ordem temporal. O objectivo da Figura 21 e da Tabela 3 é

fornecer um esquema aos gestores do sistema de drenagem, listando e descrevendo as etapas

necessárias ao planeamento dum sistema de controlo. Contudo, como as características de cada

projecto são diferentes, estes elementos devem ser tomados apenas como guia, e adaptados a cada

caso, embora, em princípio, os passos enunciados devam ser considerados (DWA, 2005).

Na Figura 21 o processo de planeamento é dividido em três fases: considerações iniciais, análise

preliminar e projecto de execução.

Na primeira fase começa-se por definir os objectivos do sistema de drenagem. Por trivial que pareça,

esta tarefa pode envolver numerosas discussões com a empresa gestora do sistema de drenagem

sobre objectivos ambientais, questões económicas e de financiamento, etc.. Em seguida, avalia-se se

o potencial de controlo (relativamente aos objectivos definidos) justifica analisar mais detalhadamente

a implantação dum sistema de CTR. Para isso podem utilizar-se os métodos expeditos de avaliação

do potencial de controlo descritos no Capítulo 4.3.1. Concluindo-se que há suficiente potencial de

CTR procede-se à análise preliminar, caso contrário o procedimento é terminado e desenvolvem-se

soluções convencionais. Enquanto a primeira fase é relativamente fácil de executar e pode ser feita

directamente pela entidade gestora do sistema de drenagem, as fases seguintes exigem

conhecimentos especializados, podendo haver necessidade de contratar um consultor ( (DWA, 2005),

(Schütze, et al., 2008)).

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56

Figura 21 - Procedimento de planeamento dum sistema de CTR (adaptada de (DWA, 2005), (Schütze, et

al., 2008))

1ª Fase

Definir objectivos da gestão do sistema de drenagem (ver Capítulo 3.1)

Redução da poluição de meios receptores

Minimização de custos de in-vestimento e de encargos

Optimização das operações no

sistema de drenagem

O sistema indicia ter potencial para CTR? (ver Capítulo 4.3)

Planeamento tradicional

NÃO

SIM 2ª Fase

Obtenção de dados adicionais

Infra-estruturas, sensores, dispositivos de controlo

Disponibilidade de progra-mas de simulação e de da-dos de monitorização

Aspectos organizacionais Aspectos legais

Dados base suficientes?

Recolha adicional de dados

NÃO

SIM

Estudo prévio com CTR

Planeamento alternativo sem CTR

Comparação de alternativas

O CTR é a melhor solução?

Estudo detalhado convencional

Definição de objectivos do controlo

Definição de cenários de simulação (e.g. eventos pluviosos)

Estimativa aproximada do potencial do CTR

Concepção de algoritmos de controlo

Definição da localização de sensores e actuadores

Compilação de diferentes algoritmos de controlo

Formulação e simulação de algoritmos de controlo

Clarificação do quadro jurídico

Realização dos objectivos

Economia

NÃO

Estudo detalhado com CTR 3ª Fase Planeamento detalhado do algoritmo de

controlo

Passos de planeamento para a implementação prática do sistema de CTR

SIM

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Tabela 3 - Passos de planeamento dum sistema de controlo em tempo real (adaptada de (DWA,

2005))

Nº Etapa Comentários/Explicações

Trabalhos Preparatórios

1 Motivação O sistema de CTR vai, para um caso específico, ser comparado com soluções convencionais como possível alternativa.

2 Descrição geral Objectivos

Formulação geral dos objectivos alcançáveis com um sistema de CTR. Descrição por alto as condições de fronteira organizacionais, administrativas e técnicas. Realização duma discussão básica com as autoridades regulatórias.

3 Entidades envolvidas O proponente do projecto nomeia gestores de projecto, coordenadores de projecto, assessores e outros envolvidos (partes interessadas).

4 Planeamento do projecto Estabelecimento dum plano de projecto com pacotes de trabalho, durações, responsabilidades, calendário de relatórios, etapas e documentação.

Enquadramento do Planeamento

5 Descrição do sistema de drenagem em estudo

Descrição geral da bacia de drenagem, rede de drenagem, ETAR, condições de operação, topografia, etc., relevantes para os objectivos.

6 Dados do sistema: rede de drenagem, estruturas de armazenamento e de descarga, ETAR

Compilação de dados técnicos (sistema de drenagem existente, dados do seu projecto, escoamento superficial, etc.). Definição do âmbito (ver Nº10) através das tarefas efectivas e abordagem planeada (modelo de simulação).

7 Instalações operacionais Levantamento de estruturas, equipamentos técnicos, equipamentos de monitorização e de controlo.

8 Dados de monitorização (precipitação e escoamento superficial)

Compilação dos dados base sobre eventos de precipitação e escoamento em tempo seco, divididos entre águas residuais domésticas e caudal de infiltração. Se necessário, estes têm de ser suplementados por campanhas de medição adicionais.

9 Verificação dos dados compilados

Verificação e avaliação dos dados relativamente à sua coerência antes do seu uso.

10 Estabelecimento da abordagem Descrição das vantagens do sistema de CTR (considerando os objectivos definidos) e do meio da sua demonstração. Normalmente selecciona-se um programa de simulação adequado. Dependendo dos objectivos definidos é provável serem necessários diferentes programas de simulação.

11 Preparação dos dados Os dados recolhidos têm de ser integrados no programa de simulação.

12 Avaliação da situação actual e comparação com experiências práticas

Avaliação da situação actual usando o programa de simulação. Os resultados têm de ser relacionados com experiências operacionais (e medições). Os parâmetros e estrutura do modelo têm de ser adaptados onde necessário e o processo tem de ser repetido.

Estudo Prévio

13 Definição de valores de objectivos quantificáveis

No item 2 estabeleceu-se que os objectivos tinham de ser formulados genericamente. Agora, os valores dos objectivos têm de ser quantificados em detalhe (e.g. frequência / volume de descargas, concentrações de poluentes no meio receptor).

14 Selecção de cenários de simulação

Relativamente à abordagem planeada (modelo de simulação), os dados sobre precipitação necessários têm de ser integrados (eventos isolados, séries temporais).

15 Elaboração de estratégias de controlo

Elaboração de regras de cálculo para a determinação da cronologia dos valores dos objectivos, sob consideração de limitações estruturais, operacionais e técnicas.

16 Simulação do sistema de CTR Prova da eficácia da estratégia de controlo através duma simulação

17 Enquadramento legal Prova da eficácia, descrição da estratégia de controlo, consequências e riscos em caso de falhas.

18 Viabilidade organizacional Supervisão do sistema (se necessário, qualificação do pessoal), acordo dos objectivos operacionais, estabelecimento das responsabilidades.

19 Medições estruturais/técnicas Volumes de armazenamento livres, requisitos técnicos para melhorias ou substituições, escopo do fornecimento e dos serviços.

20 Equipamento de monitorização e de controlo

Condição dos equipamentos técnicos, calendários para substituições e melhorias, função e tecnologia, centro de controlo,

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Tabela 3 - Passos de planeamento dum sistema de controlo em tempo real (continuação) escopo do fornecimento e dos serviços. Comparação de alternativas

21 Solução convencional como base para comparação

Para provar as vantagens dum sistema de CTR, têm de ser desenvolvidas soluções convencionais (e.g. bacias de retenção adicionais) com as quais também se possam atingir os objectivos formulados.

22 Comparação do desempenho As alternativas (sistema de CTR, convencional) são avaliadas em relação ao seu nível de observância dos objectivos definidos. Além disso, têm de ser aqui considerados benefícios secundários como melhorias operacionais, flexibilidade e desempenho futuro.

23 Comparação de custos Os custos do sistema de CTR são comparados com um sistema operado convencionalmente (investimentos, custos operacionais e de manutenção).

24 Avaliação dos resultados Visão global, comentando as alternativas.

25 Selecção da alternativa Selecção da melhor alternativa com base nos resultados. Projecto de execução

26 Condições de enquadramento para aprovação

Sumarização dos requisitos legais e administrativos para o sistema de CTR após acordo com as autoridades devidas.

27 Condições de aprovação Prova de cumprimento e garantia sustentada dos requisitos das devidas autoridades.

28 Comportamento durante falhas, potencial e risco de falha

Consideração da falha de componentes individuais do sistema (fiabilidade, disponibilidade, segurança, tolerância de erro aceitável, resultado de erros humanos).

29 Verificação de documentação de aprovação

Conceito de aplicação e métodos operacionais do sistema de CTR

Implementação

30 Estruturas Especificações de desempenho sumarizadas

31 Equipamento técnico Especificações de desempenho sumarizadas

32 Equipamento de monitorização e de controlo

Especificações de desempenho sumarizadas

Na segunda fase, que constitui a análise preliminar, é necessário recolher informações adicionais

sobre o sistema de drenagem como o cadastro detalhado da rede, inventário de equipamentos de

monitorização e de controlo, disponibilidade de modelos de simulação do sistema actual e

enquadramento legal (procedimentos necessários para aprovação do projecto e apuramento de

responsabilidade), regulamentar e organizacional (planos de contingência, formação do pessoal e

aquisição, processamento e gestão de dados) (Schütze, 2011a). Neste momento tornam-se muito

importantes as discussões com os operadores do sistema de drenagem, pois, em geral, eles

possuem experiência e conhecimentos sobre o sistema que não estão documentados (DWA, 2005).

Além disso, a sua participação neste processo facilita a sua aceitação do sistema de controlo que for

implantado e que eles gerirão. É ainda necessário descrever o estado e desempenho actual do

sistema de drenagem para comparação com as soluções de controlo a desenvolver. Quando os

dados forem suficientes pode elaborar-se o estudo prévio do sistema com CTR em simultâneo com

um planeamento alternativo sem CTR ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)). O estudo prévio segue

os seguintes passos: 1) especificação de critérios de avaliação do estudo de simulação, 2)

elaboração do modelo de simulação e 3) especificação de algoritmos de controlo. De seguida

descrevem-se em maior detalhe estes passos:

1) Os critérios de avaliação do estudo de simulação podem incluir, consoante os objectivos definidos

na primeira fase do planeamento, volumes ou cargas poluentes de descargas directas, critérios

de qualidade do efluente da ETAR, qualidade da água do meio receptor e custos operacionais

(DWA, 2005) ou outros como os apresentados no Capítulo 3.1.

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59

2) A elaboração do modelo de simulação é necessária para a simulação e comparação dos vários

cenários de controlo. Na sumarizam-se os requerimentos do programa de simulação para sua

utilização no estudo prévio e no projecto de execução (da terceira fase do planeamento), embora

eles variem com o projecto. Em muitas situações é possível utilizar um modelo do sistema de

drenagem já existente (que pode ter sido criado com o PGD), desde que represente

adequadamente o estado actual do sistema, embora se deva ponderar se ele pode ser utilizado

na fase do projecto de execução ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)). Para o estudo prévio é

suficiente um modelo simplificado do sistema de drenagem mas mantendo a representação de

todos os elementos importantes, sendo por vezes aceitável um modelo hidrológico ( (Schütze, et

al., 2008), (Polaskova, et al., 2006)). No Capítulo 4.2.2 apresentam-se métodos de simplificação

dos modelos de simulação que permitem tornar o cálculo mais expedito. Por fim, o modelo tem de

ser calibrado e verificado para o sistema actual (Polaskova, et al., 2006).

Tabela 4 - Lista de requerimentos para programas de simulação para estudos prévios e estudos

detalhados de CTR (adaptada de (Schütze, et al., 2008) e (DWA, 2005))

Requerimentos

De especial importância para:

Estudo

prévio

Projecto de

execução

Capacidade de modelação das acções de controlo e da mudança dos

valores alvo X X

Programa aprovado pelas entidades licenciadoras X

Representação correcta das acções de controlo e seus impactos no

escoamento X X

Cálculo dos critérios definidos para avaliação do desempenho do

sistema de controlo (e.g. frequência de descargas, volumes de

descarga, poluição dos meios receptores)

X X

Flexibilidade na definição de algoritmos de controlo e (se aplicável) da sua interacção com a ETAR e outras componentes do sistema de drenagem urbano

X

Adequabilidade para simulações de longo prazo X X

Simulação hidrodinâmica – consideração dos efeitos hidrodinâmicos que podem ocorrer, especialmente durante intervenções de controlo (e.g. curvas de regolfo/ressalto hidráulico, entrada em carga de colectores)

X

Possibilidade de calibração e validação X

(Consoante o projecto – se aplicável) Possibilidade de associar a

rotinas de optimização ou a bases de dados externas X X

(Consoante o projecto – se aplicável) Possibilidade de associar a um

sistema de controlo de processos X

3) A especificação dos algoritmos de controlo deve considerar os tipos de CTR existentes (e.g. local,

global, integrado) e deve ainda ser simulado o estado actual do sistema para servir de cenário de

referência. Certos autores recomendam começar por estudar soluções envolvendo apenas CTR

local e posteriormente estudar a aplicação de formas de CTR mais complexas apenas nas partes

do sistema de drenagem onde se espere que tal resulte em melhorias ( (Polaskova, et al., 2006),

(Schütze, et al., 2008) citando (Schütze & Einfalt, 1999)), pois é frequente conseguir-se grandes

melhorias com sistemas de CTR simples (Schütze, et al., 2008).

Terminados os estudos prévios destas alternativas, elas devem ser comparadas em termos de

desempenho e custos. Concluindo-se preferível a implantação dum sistema de CTR, prossegue-se

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60

com o projecto de execução da solução de CTR mais promissora (caso se tenham analisado várias).

Caso contrário desenvolve-se o projecto de execução duma solução convencional. A análise

económica pode envolver métodos de comparação de custos, análise de custo-benefício e de eficácia

de custos. Isso implica estimar os custos com equipamentos de CTR (sistemas de monitorização,

controlo e comunicação) e os custos operacionais (e.g. trabalhadores e seu treino, manutenção,

energia). Contudo, só se deve considerar a parte dos custos directamente associada com o sistema

de CTR. Por exemplo, não se considera custos com sensores necessários para cumprir requisitos

legais sem ligação ao sistema de CTR ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008), (Schütze, 2011a)).

Além dos aspectos económicos, a comparação de alternativas deve levar em conta efeitos benéficos

adicionais do CTR como a segurança operacional, aceitação do sistema pelos operadores, melhor

manutenção e estabilidade dos processos da ETAR devido a maior equalização do caudal afluente, e

a capacidade adicional de reacção a solicitações exteriores (Schütze, et al., 2008).

Na terceira fase do planeamento do sistema de CTR elabora-se o projecto de execução, onde se

planeia em detalhe a infra-estrutura de controlo, elabora-se o algoritmo de controlo final, fazem-se as

preparações necessárias para obter aprovação das autoridades e uma análise de risco ( (DWA,

2005), (Schütze, et al., 2008)).

No planeamento detalhado da infra-estrutura de controlo especificam-se os detalhes das estruturas

de controlo a construir, sensores e sistemas de controlo a implementar, incluindo o sistema de

comunicação associado ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

A elaboração do algoritmo de controlo final exige que, além de finalizar o seu modo de funcionamento

para condições operacionais normais, se contemplem os cenários de falhas, utilizando um modelo de

simulação detalhado. Essas falhas incluem e.g. o mau funcionamento de electrobombas, comportas e

sensores. O modelo de simulação deve ser capaz de modelar efeitos hidrodinâmicos (como regolfos,

efeitos da operação de electrobombas e válvulas) e deve ter sido calibrado e verificado para o

sistema de drenagem actual para possibilitar a comparação dos resultados ( (DWA, 2005), (Schütze,

et al., 2008), (Polaskova, et al., 2006)).

As preparações necessárias para obter aprovação das autoridades incluem a compilação de

documentos relevantes como a proposta formal do sistema de controlo a implantar contendo a

descrição da estratégia de controlo e modo de operação ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

Deve ser efectuada uma análise de risco para todas as partes do sistema de drenagem afectadas

pela implementação do sistema de CTR, aliás ela pode ser necessária para efeitos legais. Esta

análise inclui a consideração dos modos de falha possíveis e respectivos impactos ( (DWA, 2005),

(Schütze, et al., 2008)). Em (DWA, 2005) apresentam-se detalhes sobre este tipo de análise e ainda

sobre outros aspectos importantes para o planeamento dum sistema de CTR como aspectos

organizacionais e calibração dos modelos de simulação.

Em geral, o tempo total para completar todas as etapas do planeamento (resumidas na Tabela 3)

pode ser estimado entre 6 a 18 meses. Isto inclui não só o tempo de trabalho mas também os

processos de coordenação relevantes entre todas as entidades envolvidas (concelhos, autoridades,

planeadores e gestores), o que tomará uma porção significativa do tempo total. Tal significa que a

verdadeira quantidade de trabalho para cada parte envolvida é muito menor. Contudo, se faltar

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61

informação de base, este período pode ser significativamente mais longo pelo que é recomendável

envolver no planeamento todas as entidades participantes e afectadas desde o início (DWA, 2005).

4.2.2. Simulação dinâmica do sistema de drenagem

A modelação mais realista dos sistemas de drenagem (aquela que consegue ir ao detalhe de calcular

a propagação de ondas) implica a utilização das equações de Saint-Venant completas, que são

resolvidas através de algoritmos complexos de integração numérica, os quais tornam o cálculo lento.

Tal pode revelar-se um problema quando se deseja executar simulações de longo prazo ou resolver

problemas de optimização, especialmente no contexto de controlo em tempo real (Vanrolleghem, et

al., 2005).

No caso da concepção e optimização de estratégias de controlo, em geral é necessário executar

muitas simulações até encontrar uma solução sub-óptima satisfatória. Daí a necessidade de possuir

um modelo de cálculo expedito que permita encontrar essa solução dentro dum período de tempo

razoável. Em (Vanrolleghem, et al., 2005) apresentam-se dois métodos para reduzir o tempo de

simulação durante a optimização das estratégias de controlo: utilização de modelos que não utilizam

todos os termos das equações de Saint-Venant e utilização de modelos simplificados através de

relocação das fronteiras físicas e temporais.

A simplificação dos modelos por exclusão de termos das equações de Saint-Venant justifica-se pela

possibilidade de assim obter uma modelação física dos fenómenos hidráulicos menos realista mas

suficientemente boa para o tipo de estudo em causa, com a vantagem de ser mais célere. O

desenvolvimento de modelos de simulação dinâmica requer uma grande quantidade de dados já que

a maior parte dos seus parâmetros não tem significado físico. A menos que estes dados já estejam

disponíveis, isso implica realizar campanhas de medições, que são onerosas e demoradas

(Vanrolleghem, et al., 2005) citando (Vanrolleghem, et al., 1999)). Contudo, este problema pode ser

contornado ao utilizar o seguinte método para construir o modelo simplificado ( (Vanrolleghem, et al.,

2005) citando (Meirlaen, et al., 2001)):

1. Definir o sistema sob estudo, as suas fronteiras e o problema a ser resolvido;

2. Recolher dados relativos ao sistema para calibrar um modelo complexo (com todos os termos

das equações de Saint-Venant);

3. Calibrar e validar o modelo;

4. Gerar dados com o modelo complexo para calibrar o modelo simplificado;

5. Calibrar e validar o modelo simplificado.

Na Figura 22 esquematiza-se a aplicação deste conceito à modelação dum sistema de drenagem

incluindo a rede de drenagem, ETAR e meio receptor. Este método já foi aplicado com sucesso em

vários estudos, nomeadamente no Rio Zwalm, na Bélgica (Vanrolleghem, et al., 2005).

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62

Figura 22 - Criação dum modelo simplificado dum sistema de drenagem urbano (adaptada de

(Vanrolleghem, et al., 2005))

A utilização de modelos simplificados através de relocação de fronteiras físicas e temporais é o

segundo método para aumentar a rapidez dos modelos de simulação de sistemas de drenagem, com

um mínimo de alteração dos resultados dados pelo modelo complexo.

Há quatro meios de criar um modelo simplificado utilizável para conceber e optimizar uma estratégia

de controlo ( (Vanrolleghem, et al., 2005) citando (Meirlaen, et al., 2002)):

1. Relocalizar as fronteiras de montante do sistema controlado para os pontos imediatamente a

montante dos actuadores mais a montante

2. Relocalizar as fronteiras de jusante do sistema para os pontos imediatamente a jusante dos

sensores mais a jusante utilizados na estratégia de controlo

3. Reduzir adicionalmente a complexidade do modelo com base em análises de sensibilidade às

acções de controlo

4. Relocalizar as fronteiras temporais de modo a excluir fases iniciais e finais da optimização

Na Figura 23 apresentam-se de forma conceptual os diferentes meios de simplificação do modelo.

Ilustra-se o facto de partes de montante da rede de drenagem poderem ser eliminadas quando os

actuadores a jusante não influenciam o seu comportamento (ou de modo desprezável, como se pode

averiguar com uma análise de sensibilidade). A zona de montante do rio pode ser eliminada já que

nenhum comportamento do sistema de drenagem devido à estratégia de controlo irá influenciar esta

parte do rio. A parte do rio a jusante do último sensor pode ser eliminada já que as acções de controlo

não serão tomadas com base no que aí acontece. Contudo, isto só é válido se o sensor estiver no

ponto onde o parâmetro que se mede atinge o seu valor mais crítico – como poderia ser o caso da

concentração de amónia, mas já não o do oxigénio dissolvido, cujo ponto de menor valor é

desconhecido à partida. Por fim, os períodos de tempo seco no início e no fim do período simulado

podem ser excluídos na fase de optimização da estratégia de controlo (Vanrolleghem, et al., 2005).

Realidade:

Modelo complexo:

Modelo simplificado:

Recolha de dados

Geração virtual de dados

Bacia e rede de drenagem reais ETAR real Meio receptor real

Modelo complexo de escoamento

superficial/rede de drenagem

Modelo complexo da ETAR (ASM1, ASM2,

ASM3,…)

Modelo complexo do meio receptor (Isis, Mike11, Duflow-

Eutrof1,…)

Modelo simplificado do escoamento superficial / rede de drenagem

Modelo simplificado da ETAR

Modelo simplificado do meio receptor

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63

Figura 23 - Modelo do sistema de drenagem urbano integrado, com localização dos sensores,

actuadores. As partes elimináveis do sistema estão assinaladas por caixas a tracejado (adaptada de

(Vanrolleghem, et al., 2005))

4.3. Potencial do CTR

4.3.1. Métodos expeditos de avaliação do potencial do CTR

O potencial do CTR dum sistema drenagem urbano define-se como a capacidade do sistema de

controlo em atingir os objectivos de controlo definidos. Mais concretamente designa o potencial de

melhorar o desempenho dum sistema de drenagem através dum sistema de CTR, quando

comparado com o seu desempenho num cenário de referência (e.g., sistema estático, sem CTR)

(Zacharof, et al., 2004).

Antes da implementação dum sistema de CTR é, em geral, necessário fazer uma análise extensa,

incluindo modelação e simulação detalhadas, para avaliar o potencial do CTR. Este tipo de estudos

tendem a ser onerosos e podem concluir que o CTR não é indicado para o sistema de drenagem

considerado. Por isso, é desejável dispor dum método expedito de avaliar o potencial do CTR e, em

função do resultado obtido, poder-se-á justificar ou não um estudo de viabilidade mais detalhado

(Zacharof, et al., 2004).

Existem vários métodos expeditos propostos por diferentes autores. Um deles consiste num sistema

de pontuação de fácil aplicação, que avalia o potencial do CTR em controlar o escoamento numa

rede de drenagem ( (Zacharof, et al., 2004) citando (Schilling, 1994)). Contudo, como este

procedimento não leva em conta a qualidade da água, a ETAR e o meio receptor, não é aplicável à

avaliação do potencial do CTR para o sistema de drenagem completo. Estão em desenvolvimento

métodos expeditos que levam em conta todas as componentes do sistema (Zacharof, et al., 2004),

apresentando-se de seguida dois que já se podem aplicar.

Inicialização

Optimização em

Tempo húmido

Tempo seco

Tempo

Rio

ETAR

De

sca

rga

De

sca

rga

Actuador

Actuador

Se

nso

r

De

sca

rga

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64

Em (DWA, 2005) e (Schütze, et al., 2008) sugere-se um método expedito de avaliação do potencial

de controlo de sistemas de drenagem urbanos, que consiste na utilização da Tabela 5. Nesta tabela

estão presentes vários critérios simples de avaliação do potencial de controlo, correspondentes a

características da bacia de drenagem, produção de águas residuais, sistema de drenagem,

comportamento da rede de drenagem, meio receptor e ETAR. Para cada critério faz-se uma

avaliação qualitativa ou quantitativa e atribui-se uma pontuação. A soma destas pontuações permite

ter uma ideia se se justifica implementar um sistema de CTR, segundo os critérios indicados no final

da tabela. Ao utilizar esta tabela devem considerar-se possíveis desenvolvimentos futuros

(expansões, densidade habitacional e alterações de propriedades.

Este procedimento não deve ser encarado como rigoroso (Schütze, et al., 2008). De facto, em

(Schütze & Alex, 2011) refere-se que ele indicou um alto potencial de CTR para um sistema de

drenagem, quando as posteriores simulações detalhadas revelaram que, para precipitação com

distribuição espacial uniforme, o potencial era muito baixo. Aliás, mesmo o máximo potencial teórico

(dado pelo Método da Bacia Central, explicado no Capítulo 4.3.2), de redução do volume de

descargas directas era de apenas 4% relativamente ao caso não controlado. Considerando

precipitação não-uniforme, esse potencial teórico subia para cerca de 20%.

Os critérios da Tabela 5 englobam-se em critérios referentes à bacia de drenagem, produção de

águas residuais, rede de drenagem, comportamento da rede de drenagem, meio receptor e ETAR,

sendo explicados em maior detalhe nos parágrafos seguintes.

A. Bacia de Drenagem:

Em geral, em bacias de drenagem grandes, a precipitação tem distribuição não uniforme, o que tende

a resultar numa utilização não uniforme do sistema de drenagem, em particular quando há grandes

tempos de percurso envolvidos. O volume de armazenamento disponível nalgumas partes do sistema

de drenagem pode ser usado para reduzir a carga poluente descarregada noutras partes. Além disso,

a flexibilização da utilização da capacidade da rede permite equalizar e maximizar o caudal afluente à

ETAR e priorizar caudais mais poluídos. Uma forma de aferir a dimensão duma bacia de drenagem e

tempos de percurso envolvidos é pelo comprimento do seu colector principal, aumentando o potencial

com o seu comprimento ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

Os sistemas de drenagem estão projectados para solicitações e condições de fronteira específicas.

Em áreas urbanas em desenvolvimento, os caudais são inferiores aos do horizonte de projecto e

provavelmente os volumes de armazenamento não são utilizados optimamente. Com CTR é possível

reagir flexivelmente aos diferentes graus de desenvolvimento da área, pelo que a diferença entre a

área de desenvolvimento actual e a do horizonte de projecto é um critério relevante para avaliar o

potencial do CTR ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

B. Produção de Águas Residuais:

A existência de bacias de drenagem com zonas com águas pluviais particularmente poluídas tende a

aumentar o potencial do CTR em reduzir a poluição descarregada no meio receptor, pois pode

priorizar-se o escoamento destas águas para a ETAR, ou armazená-las descarregando águas

provenientes de áreas menos poluídas em vez destas se inevitável ( (DWA, 2005), (Schütze, et al.,

2008)).

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A variabilidade temporal e espacial da produção de águas residuais é outro factor do potencial do

CTR. Em particular, no que respeita à variabilidade da qualidade da água, os caudais afluentes de

partes do sistema de drenagem com redes separativas ou de fontes pontuais de águas residuais

altamente poluídas podem causar concentrações de poluentes muito superiores em certas zonas do

sistema de drenagem. Novamente, o CTR possibilita a regulação de caudais de forma dinâmica, com

o intuito de prevenir descargas provenientes dessas zonas ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

C. Rede de Drenagem:

O controlo sobre o sistema é exercido através dos actuadores (e.g. electrobombas, válvulas, etc.).

Assim sendo, é óbvio que o potencial aumenta com o número de actuadores existentes, já que tal

aumenta o número de acções de controlo possíveis. Se tais dispositivos de controlo já se

encontrarem disponíveis no sistema, o CTR pode realizar-se facilmente através de apenas algumas

adições com respeito a dispositivos de medição e de controlo ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

Os colectores principais de grandes dimensões e pequena inclinação aumentam o potencial do CTR

pois podem activar-se neles volumes de armazenamento adicionais através de cascatas. A activação

do volume de armazenamento dos colectores em áreas com declives acentuados só é possível até

determinado ponto e/ou com grande despesa (pois exige mais cascatas para obter a mesma

capacidade que num colector menos inclinado com o mesmo diâmetro). Além disso, os colectores

com grande inclinação costumam ter diâmetros mais pequenos ( (DWA, 2005), (Schütze, et al.,

2008)).

As malhas fechadas na rede de drenagem possibilitam a distribuição do caudal através de vários

ramais da rede, flexibilizando a gestão do escoamento e aumentando o potencial do CTR ( (DWA,

2005), (Schütze, et al., 2008)).

Em geral, quando os caudais afluentes e efluentes dum reservatório são regulados dum modo

estático (e.g. através de válvulas reguladoras de caudal com posição fixa) a sua utilização é irregular.

O CTR ajuda a regularizar a utilização dos reservatórios e quanto maior o seu número (e de

colectores com capacidade de armazenamento), maior o potencial de equalização da utilização da

sua capacidade, o que permite reduzir o volume de descargas directas ( (De Korte, et al., 2009),

(DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

Se existirem vários descarregadores no sistema de drenagem, é possível reagir a diferentes

condições de modo mais flexível. Assim, quanto mais descarregadores um sistema de drenagem

possuir, maiores benefícios se poderão tirar do CTR ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

O potencial do CTR aumenta com o volume de armazenamento disponível em reservatórios, bacias e

colectores com capacidade de armazenamento, pois estes elementos permitem evitar descargas

directas e reduzir a poluição no meio receptor. A capacidade de activar grandes volumes de

armazenamento caracteriza-se por uma boa relação custo-benefício porque parte dos custos do CTR

são custos fixos e não têm relação com o volume de armazenamento do reservatório/bacia/colector

( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

Se o volume de armazenamento específico (razão entre o volume de armazenamento total e a área

impermeável) for pequeno, os reservatórios encherão mesmo durante pequenos eventos de

precipitação, não havendo grande margem para optimização da sua utilização através do CTR no

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66

sentido da redução do volume de descargas directas. Assim, o potencial do CTR aumenta com o

volume de armazenamento específico ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

Se existirem vários interceptores afluentes à ETAR, é expectável que não sejam utilizados

uniformemente durante eventos pluviosos. O CTR pode ajudar a melhorar a utilização dos

interceptores menos solicitados, aumentando o potencial com o número de interceptores afluentes à

ETAR ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

D. Comportamento da Rede de Drenagem:

No caso de precipitação intensa, frequentemente há áreas que são inundadas enquanto outras áreas

têm capacidade de transporte suficiente. Se não existirem zonas com restrições hidráulicas na rede

(como estrangulamentos), tal inundação indica que os recursos disponíveis não estão a ser utilizados

de forma óptima. Esta situação pode ser melhorada com CTR ao optimizar a utilização de volumes de

armazenamento e redireccionar o escoamento para zonas com capacidade de transporte,

aumentando o potencial do CTR com o número de áreas onde se verificam inundações (Schütze, et

al., 2008).

A utilização irregular dos reservatórios indica que os volumes disponíveis não são utilizados de modo

óptimo. Se tal ocorrer em vários reservatórios, um CTR global, possibilitando a operação dinâmica de

válvulas reguladoras de caudal em função do estado actual da rede, pode melhorar a situação. Se tal

se verificar apenas num reservatório, pode bastar um CTR local. Assim, o potencial do CTR aumenta

com o número de reservatórios com utilização irregular (DWA, 2005).

Uma grande variabilidade do caudal descarregado indica um uso não óptimo da capacidade de

armazenamento. Quanto maior for a não uniformidade do comportamento da descarga, maiores as

melhorias expectáveis com respeito à utilização da capacidade de armazenamento (e.g,. através do

CTR de válvulas de regulação de caudal) e, portanto, maior o potencial do CTR ( (DWA, 2005),

(Schütze, et al., 2008)).

E. Meio Receptor:

O potencial do CTR aumenta com as diferenças de capacidade de transporte dos meios receptores,

pois o CTR pode ser utilizado de modo a descarregar picos hidráulicos nos meios receptores com

maior capacidade de transporte ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

De modo semelhante, o potencial do CTR aumenta com as diferenças de capacidade de diluição nos

meios receptores pois o CTR permite, por exemplo, operar as válvulas de regulação de caudal nos

reservatórios, priorizando descargas para meios receptores com maior capacidade de diluição

( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

O potencial do CTR aumenta com a sensibilidade dos meios receptores pois devem evitar-se

descargas directas nos meios receptores sensíveis ou pelo menos reduzir significativamente seu

volume e o CTR ajuda a fazê-lo ao flexibilizar o controlo do sistema de drenagem, em particular

optimizando a utilização dos volumes de armazenamento existentes ( (DWA, 2005), (Schütze, et al.,

2008)).

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67

F. ETAR:

Em certos casos, a ETAR é capaz de tratar mais do que o caudal máximo admissível de projecto

fww,QCW QWW,aM+Qinf,AM, mesmo durante períodos mais longos e sem prejudicar a eficácia do

tratamento. Na expressão anterior QWW,aM é o caudal de tempo seco afluente à ETAR, Qinf,AM é o

caudal afluente à ETAR proveniente da precipitação e infiltração e fww,QCW é um factor específico a

cada caso para estimar o máximo caudal de tempo seco afluente à ETAR (definido na norma alemã

ATV-DVWK-A 198E). O resultado pode ser uma redução das descargas do sistema de drenagem. O

CTR integrado permite um aumento do caudal afluente à ETAR dependendo da sua capacidade de

tratamento actual ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

Se a ETAR for sensível a picos hidráulicos ou de poluentes, o CTR pode assistir no incrementar lento

do caudal afluente à ETAR durante a precipitação ao gerir melhor a utilização dos volumes de

armazenamento do sistema de drenagem. O CTR integrado da rede de drenagem e ETAR possibilita

a reconciliação de requisitos contraditórios desses subsistemas e favorece a optimização da

operação do sistema total ( (DWA, 2005), (Schütze, et al., 2008)).

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Tabela 5 - Avaliação simplificada do potencial de controlo dum sistema de drenagem urbano (fonte:

(DWA, 2005))

Critério Avaliação

A. Bacia de Drenagem Pontuação (valor entre parêntesis)

A.1 Bacia drenagem (comprimento do colector principal)

Longo > 5 km (2) Médio (1) Curto < 1 km

(0)

A.2 Diferença entre a área de desenvolvimento actual e a do horizonte de projecto

Grande (2) Pequena (1) Nenhuma (0)

B. Produção de águas residuais Pontuação

B.1 Áreas com maior poluição no escoamento superficial

Várias (2) 1 – 2 (1) Nenhuma (0)

B.2

Variabilidade temporal e espacial da produção de águas residuais (e.g. produtores de águas residuais altamente poluídas, ligações provenientes de sistemas separativos)

Alta (2) Média (1) Nenhuma (0)

C. Rede de drenagem Pontuação

C.1 Número de actuadores (e.g. válvulas) Vários (4) 1 -2 (2) Nenhum (0)

C.2 Declive de colectores principais que servem grandes áreas

Horizontal < 0,2 % (4) Médio (2) Íngreme > 0,5%

(0)

C.3 Malhas fechadas do sistema de drenagem

Várias (4) 1 – 2 (2) Nenhuma (0)

C.4 Número de reservatórios (reservatórios e colectores com capacidade de armazenamento ≥ 50 m

3)

>4 (4) 1 – 4 (2) 0 (0)

C.5 Número de descarregadores > 6 (4) 2 – 6 (2) < 2 (0)

C.6 Volume de armazenamento total (reservatórios e colectores com capacidade de armazenamento)

> 5000 m3 (4) 2000 – 5000 m

3 (2) < 2000 m

3 (0)

C.7 Volume de armazenamento específico (razão entre o volume de armazenamento total e a área impermeável)

> 40 m3/ha (4) 20 - 40 m

3/ha (2) < 20 m

3/ha (0)

C.8 Número de interceptores afluentes à ETAR

> 2 (3) 2 (1) 1 (0)

D. Comportamento da rede de drenagem Pontuação

D.1 Áreas de inundação localizadas Várias (2) 1 – 2 (1) Nenhuma (0)

D.2 Número de reservatórios com utilização irregular

> 1 (4) 1 (2) Nenhum (0)

D.3 Variabilidade do caudal descarregado Significativa(4) Média (2) Insignificante

(0)

E. Meio receptor Pontuação

E.1 Diferenças de capacidade de transporte dos meios receptores

Fortes (4) Médias (2) Nenhumas (0)

E.2 Diferenças de capacidade de diluição nos meios receptores (e.g. práticas balneares, piscicultura, áreas protegidas)

Significativas (4) Médias (2) Insignificantes

(0)

E.3 Sensibilidade do meio receptor Muito sensível (2) Menos sensível

(0) F. ETAR Pontuação

F.1 Caudal afluente admissível de águas residuais de redes unitárias (*)

>>fww,QCW QWW,aM + Qinf,aM (3)

>fww,QCW QWW,aM + Qinf,aM (1)

<fww,QCW QWW,aM

+ Qinf,aM (0)

F.2 Sensibilidade da ETAR a picos hidráulicos ou de poluentes

Muito sensível (2) Menos sensível (0)

(*) A determinação do caudal de águas residuais de redes unitárias possível e correspondente factor fww,QWC relacionam-se com a norma ATV-DVWK-A 198E Pontuação:

0-24 Possivelmente não se justifica implementar controlo 25-35 Possivelmente justifica-se implementar controlo > 35 Justifica-se implementar controlo

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Em (Zacharof, et al., 2004) apresenta-se um software de avaliação expedita do potencial do CTR

para melhorar a qualidade da água do meio receptor, avaliada em função da redução da duração dos

períodos de incumprimento dos valores limite das concentrações de oxigénio dissolvido (OD) e de

amónia, relativamente a um cenário base sem CTR.

No desenvolvimento desta ferramenta começou-se por listar as propriedades dos sistemas de

drenagem que pareciam relevantes para avaliar o potencial do CTR (ver Tabela 6). Depois,

seleccionaram-se seis dessas propriedades (as indicadas a negrito), dois valores para cada (normal e

modificado) e fizeram-se simulações com todas as combinações possíveis dos seus valores, num

sistema de drenagem de estudo, para aferir a importância relativa das propriedades. Simularam-se

três tipos de controlo: estático (cenário base), local e integrado.

Tabela 6 - Propriedades dos sistemas de drenagem urbanos relevantes para o potencial do CTR

(adaptada de (Zacharof, et al., 2004))

Elemento do sistema Propriedade

Volume de armazenamento Quantidade total Distribuição espacial

Rede de drenagem Tempo de escoamento

Coeficiente de escoamento da bacia da rede de drenagem

Topologia da rede, inclinação, velocidade de escoamento

Descarregadores de excedentes

Número Localização dos descarregadores (incluindo os da ETAR)

ETAR Esquemas de tratamento e opções de controlo

Meio receptor Caudal base (capacidade de diluição)

Variação do caudal base e da sua qualidade Coeficiente de escoamento da bacia do meio receptor Número, localização e tipo de meios receptores

A análise estatística dos resultados permitiu ordenar as propriedades escolhidas segundo a sua

influência no potencial do CTR de modo decrescente: volume total de armazenamento, caudal base

do meio receptor (capacidade de diluição), localização dos descarregadores, coeficiente de

escoamento da bacia, tempo de escoamento na rede de drenagem e distribuição espacial do

armazenamento. Concluiu-se que o controlo integrado tem maior potencial e que pode introduzir

melhorias muito grandes. Este maior potencial justifica-se, em parte, por se verificar uma grande

influência nos resultados do caudal base do meio receptor e da localização dos descarregadores.

A partir dos resultados fez-se uma regressão linear entre os valores das propriedades do sistema de

drenagem e a redução da duração dos períodos de incumprimento do limite de OD no meio receptor,

para o cenário base e para o controlo integrado. Depois, fez-se uma regressão linear entre a variação

das propriedades do sistema e o potencial do CTR estabelecido nas simulações, tendo-se obtido um

coeficiente de regressão R2=0,9, indicando uma boa correlação. Com base nesta regressão,

desenvolveu-se a ferramenta de cálculo automático do potencial do CTR, em função duma escala

qualitativa dos seis parâmetros mais influentes escolhidos.

Posteriormente, averiguou-se o efeito nas concentrações de amónia do controlo que tinha como

objectivo somente minimizar a duração dos períodos com OD inferior ao limite, e estabeleceu-se o

potencial do CTR em função das concentrações de amónia. Os resultados não foram tão positivos,

verificando-se que o controlo integrado introduzia melhorias marginais ou piorava os níveis de amónia

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relativamente ao cenário base. Tal compreende-se, em parte, por o controlo ter sido feito sem levar

em conta a concentração de amónia, e evidencia a fraca correlação entre o controlo do OD e da

amónia. Observou-se ainda que os sistemas de drenagem com grande potencial em termos da

concentração do OD têm potencial neutro em termos da concentração de amónia, e que quando o

potencial do CTR da amónia é muito positivo ou negativo, assume valores medianos para o oxigénio.

Concluído este estudo, alargou-se o espaço dos parâmetros, utilizando-se agora três valores (baixo,

normal e alto) para cada uma das seis propriedades do sistema. Estudaram-se todas as combinações

possíveis, verificando-se que o coeficiente de regressão agora obtido era muito mais fraco, tornando

este alargamento do espaço paramétrico menos útil para avaliar o potencial do CTR.

Por fim, aplicou-se a ferramenta de avaliação do potencial do CTR (com base no critério do OD) a

treze casos de estudo reais. A ferramenta confirmou haver alto potencial em quatro sistemas de

drenagem que efectivamente tinham um sistema de CTR, e também em quatro outros sem CTR mas

com características semelhantes às dos primeiros. Os sistemas com CTR tinham em comum bacias

hidrográficas, caudal base do meio receptor e tempo de escoamento na rede predominantemente

pequenos, enquanto o volume total de armazenamento era sempre grande. Os sistemas sem CTR

mas com alto potencial tinham características semelhantes excepto o volume total de

armazenamento, que era baixo. Esta aparente contradição evidencia, na verdade, que a combinação

de propriedades e não apenas os seus valores individuais, pode determinar o potencial do CTR.

O estudo apresentado em (Lacour & Schütze, 2011) evidencia o maior potencial do CTR em reduzir a

carga poluente descarregada (aferida pela turbidez) quando existem reservatórios distribuídos pela

rede de drenagem, reforçando o procedimento de avaliação do potencial do CTR descrito em (DWA,

2005) e a importância deste critério afirmada em (Zacharof, et al., 2004).

Em (Polaskova, et al., 2006) refere-se que o potencial do CTR em melhorar o desempenho dum

sistema de drenagem varia com as características deste do seguinte modo:

Aumenta com a dimensão do sistema;

Diminui com o aumento da inclinação do terreno e da rede que o serve;

Quando há muitos descarregadores no sistema, as medidas são condicionadas pelo

comportamento sub-óptimo do sistema para as várias situações operacionais.

O primeiro ponto está de acordo com os dois métodos apresentados anteriormente. O segundo ponto

está de acordo com o primeiro método e é também mencionado no segundo como uma das

propriedades dos sistemas de drenagem relevantes para avaliação do CTR embora não sejam

tecidos comentários sobre a forma da sua influência.

Em (Ferreira & David, 2014) refere-se um estudo onde se comparou o potencial de redução do

volume de descargas directas em duas situações: aumento da capacidade de armazenamento de

água e introdução dum sistema de CTR conjugado com o anterior. Verifica-se que a aplicação de

CTR reduz consideravelmente a necessidade de capacidade de armazenamento adicional para obter

a mesma percentagem de redução do volume de descargas directas. Contudo, embora em ambos os

casos se verifique um aumento da redução de descargas directas com o aumento da capacidade de

armazenamento, quanto maior é o volume de armazenamento do sistema de drenagem, menor é o

potencial do CTR pois a redução adicional do volume de descargas do sistema com CTR vai-se

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atenuando relativamente ao cenário sem CTR com o mesmo volume de armazenamento. Esta

observação pode ajudar a explicar os resultados observados no estudo apresentado em (Zacharof, et

al., 2004) (ainda que este se refira ao potencial do CTR em reduzir a poluição no meio receptor),

anteriormente mencionado, em que se verifica um grande potencial para sistemas de drenagem com

pequenos volumes de armazenamento.

4.3.2. Métodos detalhados de avaliação do potencial do CTR

Para além dos métodos expeditos de avaliação do potencial do CTR, existem métodos mais

detalhados, de aplicação mais morosa, mas úteis para uma avaliação mais objectiva do potencial de

redução do volume de descargas directas, e que presenteiam ainda a vantagem de dar um cenário

de referência para comparação entre sistemas de controlo alternativos. Estes métodos focam-se na

capacidade de armazenamento existente em reservatórios e bacias, bem como em colectores de

grande diâmetro passíveis de utilização para armazenamento. Em (DWA, 2005) apresentam-se as

seguintes abordagens, por ordem crescente de esforço de aplicação:

a) Com base nas medições existentes e, possivelmente, nas de cálculos do Plano Geral de

Drenagem (PGD), determina-se a capacidade de armazenamento remanescente disponível na

rede de drenagem para diferentes eventos de precipitação. Isto pode dar uma ideia inicial do

potencial do controlo.

b) Uma estimativa grosseira do potencial do CTR na redução do volume de descargas directas

baseia-se num simples balanço de volumes calculado do seguinte modo ( (DWA, 2005) citando

(Schilling, 1990)): O volume de descarga inevitável, ocorrendo na rede de drenagem durante um

evento, é igual ao volume total que entra na rede menos a soma do máximo volume que a ETAR

pode tratar nesse período de tempo com o volume de armazenamento existente na rede. O

volume resultante (se positivo) necessita ser descarregado mesmo utilizando o sistema de

controlo mais eficaz. Deste modo, pode estimar-se um limite superior da máxima redução da

descarga alcançável para um evento seleccionado. Um exemplo da aplicação deste método é

dado em (Weyland, 1999) (citado por (DWA, 2005)).

c) Determinação do máximo potencial de controlo teoricamente alcançável através do Método da

Bacia Central ou do Método da Bacia Única (semelhante ao primeiro), explicadas adiante.

Estas abordagens verificam se os objectivos de redução do volume de descargas directas podem ser

alcançados utilizando um sistema de CTR ou se são necessárias medidas adicionais. Além disso,

permitem avaliar os resultados de modificações futuras e o potencial de controlo associado.

Concluindo-se que o potencial de controlo é suficientemente grande, deve então elaborar-se

diferentes algoritmos de controlo e avaliar o seu desempenho através de simulações.

Método da bacia central (MBC)

O Método da Bacia Central (MBC) constitui uma abordagem mais detalhada, embora ainda

aproximada, da determinação do máximo potencial de controlo teoricamente alcançável (em termos

de redução do volume de descargas directas), comparando com a estimação da capacidade de

armazenamento e com a estimação do volume de armazenamento que pode ser activado. Este

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método é apresentado por (Einfalt & Simon, 2001) (citados por (DWA, 2005)) e permite a

determinação dum limite superior da máxima redução alcançável do volume de descargas directas

por qualquer forma de controlo (isto é matematicamente demonstrável) ( (DWA, 2005), (Schütze &

Alex, 2011)), de acordo com o seguinte processo:

Estabelece-se um modelo de simulação simples no qual o volume de armazenamento total da

rede está localizado num único reservatório no ponto final da rede de drenagem (“bacia central”),

mantendo o resto da estrutura da rede inalterada. Assume-se que as águas residuais podem ser

recolhidas nesta bacia central sem quaisquer restrições ao longo das estruturas de controlo. Se

necessário, as restrições hidráulicas são eliminadas no processo de simulação para evitar

descarga directas na simulação, e.g. aumenta-se a capacidade de transporte da rede de

drenagem de modo a não ocorrerem descargas de excedentes e inundações (DWA, 2005).

Simulam-se diferentes eventos para estimar o comportamento da rede hipotética: quando, para

um evento, o tamanho da bacia central não for suficiente para evitar descargas directas desta

bacia, tal significa que mesmo com um sistema de CTR ideal não é possível evitar a descarga na

rede real. Ou seja, esse volume de descargas directas corresponde ao mínimo teoricamente

alcançável (DWA, 2005). Deve utilizar-se uma série de precipitação de longo prazo (e.g. 10 anos)

para obter um resultado representativo do funcionamento do sistema (Alex, et al., 2008).

Na realidade, este mínimo volume de descargas nunca é alcançável pois o seu cálculo não levou em

conta as restrições hidráulicas na rede de drenagem, atrasos temporais na interacção dos elementos

de controlo com o escoamento, e a ocorrência de erros de controlo (e.g. diferença entre valores alvo

e valores reais de parâmetros de controlo) ( (Schütze & Alex, 2011), (Alex, et al., 2008)).

Método da bacia única (MBU)

O Método da Bacia Única (MBU) serve para obter um valor mínimo de referência para o volume total

de descargas directas dum dado sistema de drenagem. Este valor é obtido através do volume total de

descargas directas obtido na simulação duma única bacia de drenagem com o mesmo caudal de

águas residuais, área impermeável, volume de armazenamento e capacidade de bombeamento que a

totalidade do sistema de drenagem original ( (De Korte, et al., 2009) citando (De Korte, et al., 2004)).

Este método é comparável ao Método da Bacia Central ( (De Korte, et al., 2009) citando (Einfalt &

Stölting, 2002)).

Segundo (De Korte, et al., 2009), o MBU é capaz de fornecer o valor exacto do volume total de

descargas directas quando comparado com o obtido na simulação de sistemas de drenagem

ramificados de grandes dimensões, sujeitos a controlo local e concebidos segundo critérios de

dimensionamento básicos. Tal foi demonstrado ao estudar um sistema de drenagem composto por 4

bacias hidrográficas paralelas de igual tamanho, cada uma composta por 3 sub-bacias em série de

igual tamanho, com sistemas de drenagem concebidos segundo os critérios básicos. Contudo, as

simulações de sistemas de drenagem reais apresentam resultados muito diferentes, sendo que o

volume total de descargas directas nos mesmos excede o volume obtido através da aplicação do

MBU. Isto deve-se às características do sistema real que reduzem o seu desempenho.

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Este método pode ser utilizado em estudos que visem comparar o desempenho de vários sistemas

de CTR e/ou outras medidas de melhoramento do desempenho de sistemas de drenagem. Se o

objectivo for a redução do volume de descargas directas, as várias alternativas podem ser

comparadas através do Coeficiente de Ineficiência do Sistema (CIS ou SIC no acrónimo inglês), que

é dado pela razão entre o volume de descargas directas no sistema estudado e no sistema de

referência utilizado no MBU, com o mesmo volume de armazenamento e capacidade de

bombeamento para a ETAR. Por definição o valor mínimo do CIS é 1. Para que o valor do CIS seja

válido, é necessário que seja determinado utilizando séries de precipitação longas (10 a 25 anos), já

que apenas alguns eventos de precipitação podem não ser representativos do comportamento a

longo prazo do sistema estudado (De Korte, et al., 2009). Note-se que este tipo de estudo não é

directamente aplicável quando o objectivo de melhoria do desempenho do sistema de drenagem é

relativo a parâmetros de qualidade da água, pois não existe uma relação directa entre volume de

águas residuais descarregadas sem tratamento e carga poluente descarregada no meio receptor. O

mesmo se pode dizer relativamente à aplicação do MBC. Ainda assim, podem ser úteis na fase inicial

dos estudos pois a redução do volume de descargas tende a reduzir a poluição dos meios receptores

embora não o garanta.

4.4. Algoritmos de CTR

4.4.1. Desenvolvimento offline e online de algoritmos de CTR

Após escolher os objectivos e tipo de controlo a implantar é necessário escolher e desenvolver um

algoritmo de controlo. Há duas formas principais de desenvolvimento e expressão de algoritmos de

CTR: offline e online, podendo ainda utilizar-se uma combinação de ambas ( (Schütze, et al., 2008),

(Alex, et al., 2008), (Schütze, et al., 2004), (Borsányi, et al., 2008), (Ferreira & David, 2014) citando

(Schütze, et al., 2002c) e (Schroeder & Pawlowsky-Reusing, 2004)).

Os algoritmos de CTR desenvolvidos offline são concebidos previamente à sua utilização no sistema

de controlo. O controlo baseia-se em regras desenvolvidas e parametrizadas de modo empírico ou

utilizando optimização matemática ( (Alex, et al., 2008) citando (Fuchs & Beeneken, 2005), (Schütze,

et al., 2002e)). As regras podem ser de lógica convencional (do tipo se-então) com parâmetros

numéricos, de lógica difusa (ou fuzzy) ou utilizar matrizes de decisão ( (Schütze, et al., 2008),

(Schütze, 2011a)). Como ilustrado na Figura 24, o conjunto de regras ou parâmetros de controlo é

desenvolvido correndo iterativamente um modelo de simulação do sistema de drenagem para um

algoritmo de controlo pré-definido e, em função dos resultados das simulações, o algoritmo é alterado

até se atingirem resultados desejados. Alternativamente a este processo laborioso de tentativa e erro

podem aplicar-se métodos de optimização matemática, determinando-se os valores óptimos dos

parâmetros das regras de controlo para os objectivos definidos ( (Schütze, 2011a), (Schütze, et al.,

2008) citando (Schütze & Einfalt, 1999) e (Schütze, et al., 2002c)). A grande vantagem de correr o

modelo de simulação offline é que assim este pode ter grande complexidade pois o tempo de

computação não é um factor relevante. Isto permite uma modelação mais realística e a avaliação dos

impactos a longo prazo das acções de controlo (Schütze, et al., 2008). O algoritmo encontrado é

então implementado no sistema de CTR. O facto do algoritmo de controlo estar definido previamente

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à entrada em funcionamento do sistema de CTR não impede que contemple previsões de solicitações

ao sistema de drenagem (e.g. precipitação), simplesmente a resposta a essas previsões não é

determinada com base em regras criadas no momento, mas no algoritmo já definido.

Figura 24 - Processo de desenvolvimento offline dum algoritmo de CTR baseado em regras (adaptada de

(Schütze, et al., 2008) e (Schütze, 2011a))

Os algoritmos de CTR desenvolvidos online (esquematizados na Figura 25) utilizam um modelo do

sistema de drenagem para prever o seu comportamento futuro e um mecanismo de escolha da

sequência e conjunto de acções de controlo a tomar mais adequadas (e.g. um método de

optimização matemática), o que pode ser avaliado, por exemplo, através duma função multiobjectivo

( (Borsányi, et al., 2008), (Alex, et al., 2008) citando (Pleau, et al., 2001), (Cembrano, et al., 2004) e

(Papageorgiou & Messmer, 1985)). A cada passo de controlo é corrido o modelo de simulação para

um conjunto de possíveis sequências e conjuntos de acções de controlo, aplicando-se o primeiro

conjunto de acções de controlo da solução optimizada encontrada pelo algoritmo de optimização

(Schütze, 2011a). Em geral esta abordagem surge associada aos sistemas de CTR preditivos,

incluindo previsões meteorológicas, sendo também possível surgir aliada à utilização de sistemas de

controlo baseados em lógica difusa (ou fuzzy), que permite evitar a necessidade de especificação a

priori da estrutura de regras operacionais, e assim desenvolver estratégias de decisão baseadas em

métodos estocásticos como os algoritmos genéticos (Labadie & Wan, 2010). A lógica fuzzy distingue-

se da lógica booleana por ser capaz de lidar com informação imprecisa, incorporando o conceito de

verdade parcial, i.e. considerando valores compreendidos entre totalmente verdadeiro (1) e

totalmente falso (0) (Aziz, 2014).

Sistema de drenagem

Sensores

Actuadores

Algoritmo de

controlo

Modelo de simulação

Avaliação

Teste de regras /

parâmetros

Fase de

concepção

Fase de

aplicação online

Desenvolvimento do algoritmo utilizando simulações (uma vez)

Previsão de estados

futuros do sistema

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75

Figura 25 - Processo de desenvolvimento online dum algoritmo de CTR (adaptada de (Schütze, et al.,

2008) e (Schütze, 2011a))

O desenvolvimento offline de algoritmos de controlo (e.g. controlo baseado em regras) tem como

vantagens ser menos exigente em termos computacionais durante a operação em tempo real;

permitir considerar horizontes temporais maiores e por isso os efeitos a longo prazo do controlo;

poder ser mais adequado para CTR integrado; o tempo de corrida do programa tende a ser rápido;

possibilita a definição expedita de estratégias em caso de falha do sistema de CTR e as decisões do

sistema são mais facilmente entendidas pelos operadores, aumentando a sua aceitação do sistema.

Contudo, os conjuntos de regras podem ser bastante complexos e concepção difícil ( (Schütze,

2011b), (Schütze, 2011a)), e tal não implica que sejam mais eficazes que algoritmos mais simples.

Por exemplo, em (Schütze & Alex, 2011) refere-se que a utilização dum algoritmo baseado em

regras, com um alto grau de sofisticação, não obtinha melhores resultados nas simulações em termos

de minimização do volume de descargas directas, relativamente a um algoritmo genérico também

baseado em regras mas de concepção relativamente simples (ver Capítulo 3.5.2), ainda que tivesse

vantagens em termos de priorização de locais de descargas directas.

O desenvolvimento online permite uma consideração mais exacta do estado presente do sistema e

calcular a decisão de controlo óptima para cada passo temporal; é mais flexível e não requer o

estabelecimento dum conjunto de regras, embora frequentemente requeira simplificações

significantes ( (Schütze, 2011b), (Schütze, 2011a), (DWA, 2005)).

Em qualquer dos casos, a utilização de modelos de optimização pode ser um problema dada a sua

típica complexidade matemática quando comparada com modelos de simulação, o que dificulta a sua

compreensão e a das acções de controlo propostas. Além disso, muitos modelos de optimização não

se prestam à incorporação de risco e incerteza. A grande variedade de algoritmos de optimização

existente levanta ainda a questão de qual o melhor para cada situação particular, o que nem sempre

é fácil apurar a priori ( (Labadie, 2004), (Fiorelli & Schutz, 2009)).

Em geral, os algoritmos de optimização utilizados no CTR são de optimização linear; optimização

não-linear ou algoritmos genéticos. Nos subcapítulos seguintes referem-se estes algoritmos , bem

como as redes neuronais artificiais, que são simultaneamente um algoritmo de controlo e de

optimização (Labadie, 2004).

Sistema de

drenagem

Sensores

Actuadores

Modelo de

simulação

Definição de objectivos Fase de concepção

Fase de

aplicação Optimização

estado do sistema

previsão

Optimização das decisões de controlo a cada passo temporal

decisão de controlo

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4.4.2. Optimização linear e não linear

A programação linear é a ferramenta clássica de resolução do problema de optimização do CTR de

sistemas de drenagem. Contudo, requer uma linearização rigorosa que obriga a simplificar muito o

comportamento real dos sistemas de drenagem, o que pode ser aceitável para simulação do

escoamento na rede de drenagem mas nem sempre o é para os processos que ocorrem na ETAR e

meio receptor. Como resultado, a optimização linear só é capaz de fornecer soluções sub-óptimas

para o problema real, mesmo sendo óptimas nos termos em que a optimização é formulada ( (Rauch

& Harremoës, 1999b) citando (Nelen, 1993) e (Rohlfing, 1994)).

Os métodos de optimização não-linear baseiam-se, em geral, em métodos do gradiente ou numa

procura directa aliados a um modelo determinístico do sistema de drenagem, podendo ser vistos

como uma forma de controlo preditivo baseado num modelo (Rauch & Harremoës, 1999b). A

optimização não-linear permite uma formulação flexível duma função multiobjectivo e respectivas

restrições, possibilitando visar o desempenho óptimo da totalidade do sistema de drenagem em

relação ao conjunto de objectivos hierarquizados expressos nessa fórmula, inclusivamente relativos a

parâmetros da qualidade da água ( (Rauch & Harremoës, 1999b) citando (Rauch & Harremoes,

1996)).

Para exemplificar um caso comum duma função multiobjectivo, considere-se um sistema de

drenagem (apresentado em (Cembrano, et al., 2004)), com os seguintes objectivos de controlo, por

ordem de importância: minimizar inundações, minimizar descargas directas (sem comprometer o

primeiro objectivo) e, por fim, drenar o máximo de caudal possível para a ETAR sem comprometer os

dois primeiros objectivos. Considere-se ainda que se usa CTR global preditivo. Assim, a função pode

ser um somatório ponderado ao longo do horizonte de controlo, como expresso na equação (1), em

que o primeiro termo é um somatório de funções quadráticas do caudal instantâneo em cada colector,

penalizando desvios positivos dos caudais de projecto; o segundo termo é um somatório dos volumes

de descargas directas a cada intervalo de amostragem; e o terceiro termo é o volume instantâneo em

cada reservatório. Minimizando a função, optimiza-se o desempenho do sistema de drenagem.

∑∑(

)

Na equação anterior, é o número de intervalos de amostragem do horizonte de controlo; indica o

intervalo de amostragem; identifica cada colector; é o caudal no colector no intervalo de

amostragem e o índice denota o valor desejável para este caudal de acordo com o projecto;

identifica o local de descarga directa; é o volume de descarga directa no local no intervalo ;

identifica os reservatórios; é o volume armazenado no reservatório no instante ; e são os

pesos do segundo e terceiro objectivos, respectivamente (Cembrano, et al., 2004).

A forma quadrática dos termos de penalização bem como os pesos utilizados, garantem que o

objectivo de prevenção de inundações toma precedência sobre os outros. Os pesos são escolhidos

de modo dar mais importância ao segundo objectivo que ao terceiro e os seus valores são atribuídos

com base em análises de sensibilidade apoiadas por simulações. Note-se que estes pesos não têm

de ser fixos, podendo variar para diferentes condições do sistema, e.g. sob influência de precipitação

(1)

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muito intensa ou pouco intensa ( (Cembrano, et al., 2004), (Fiorelli & Schutz, 2009)). A necessidade

de utilização dos pesos prende-se com o facto dos objectivos serem antagónicos.

A função multiobjectivo está sujeita a restrições como sejam um conjunto de equações lineares

relativas aos balanços de massa, equações não-lineares relativas aos descarregadores, valores limite

de aberturas de comportas, caudais máximos e volumes máximos armazenáveis nos reservatórios

(Cembrano, et al., 2004).

4.4.3. Algoritmos Genéticos

Um algoritmo genético constitui um método estocástico de procura de soluções sub-óptimas para

problemas heurísticos, inspirado no conceito de evolução biológica dos sistemas naturais. Estes

algoritmos imitam alguns processos genéticos conhecidos que permitem aos sistemas naturais

melhorar-se e tornar-se robustos, como a selecção e recombinação, embora no algoritmo se

apliquem a cadeias de caracteres (análogas aos cromossomas dos sistemas biológicos). Isto implica

que o algoritmo genético não utiliza as variáveis de decisão do sistema de controlo sujeitas a

optimização, mas sim uma sua codificação, em geral código binário. A codificação é um dos aspectos

críticos da aplicação deste algoritmo pois liga-o ao problema a resolver ( (Rauch & Harremoës,

1999b), (Labadie & Wan, 2010), (Imperial College of London, 2014), (Wan, et al., 2006)).

Na prática, o algoritmo genético imita a selecção natural ao aplicar um processo de selecção a uma

“população” de cadeias que representam diferentes estratégias de controlo, sendo usual ter entre 40

a 100 cadeias. A primeira geração de cadeias é gerada aleatoriamente e novas gerações são criadas

consecutivamente a partir da anterior. De modo a manter o tamanho da população constante, a

geração “parente” de cadeias é substituída pela geração dos seus “filhos” quando esta é criada. O

algoritmo termina após um número pré-definido de ciclos de reprodução ou quando é atingido um

outro critério de paragem. As operações genéticas básicas aplicadas na evolução são selecção,

cruzamento e mutação ( (Wan, et al., 2006), (Rauch & Harremoës, 1999b), (Imperial College of

London, 2014)).

A selecção é o processo pelo qual cadeias individuais são escolhidas para serem copiadas para a

próxima geração, tratando-se dum processo probabilístico que leva em conta o desempenho das

cadeias e que imita a selecção natural no sentido em que as strings com melhor desempenho têm

maior probabilidade de “sobreviver” ao processo de evolução (i.e., de transmitir informação à geração

seguinte). Há vários métodos de selecção como o da roleta e o torneio. O desempenho de cada

cadeia é avaliado por uma função objectivo que liga o algoritmo genético ao problema a resolver.

Após a selecção segue-se o processo de recombinação das características de pares de cadeias

seleccionadas para reprodução (de forma análoga à reprodução sexual), que envolve as operações

de cruzamento e mutação ( (Rauch & Harremoës, 1999b), (Labadie & Wan, 2010)).

O cruzamento é uma técnica que se aplica ao processo de reprodução com uma determinada

probabilidade, consistindo a sua forma mais simples numa troca dos dígitos homólogos do par de

cadeias contados a partir duma dada posição. Por exemplo, tendo as cadeias 101000 e 010111, e

estabelecendo que se trocam apenas os últimos três algarismos, as cadeias geradas seriam 101111

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e 010000. A ideia subjacente a este processo é que cadeias com um alto desempenho contêm blocos

de informação “genética” valiosos. Como essas cadeias são seleccionadas para reprodução com

maior frequência, o processo de cruzamento ajuda a espalhar esses blocos (partes duma boa

solução) pelas gerações seguintes ( (Rauch & Harremoës, 1999b), (Imperial College of London,

2014)).

A mutação é aplicada como uma determinada probabilidade (muito baixa) a cada string duma nova

geração, alterando para o valor binário oposto os dígitos em que o teste de probabilidade mutação foi

confirmado. Isto ajuda a manter a diversidade da população ( (Rauch & Harremoës, 1999b), (Labadie

& Wan, 2010), (Imperial College of London, 2014)).

A concepção da codificação é o problema central do algoritmo genético pois, como referido, é o que

faz a ligação entre este e o problema a resolver. Apresenta-se de seguida um método de codificação

possível exposto em (Rauch & Harremoës, 1999b).

Se cada cadeia representa uma estratégia de controlo ela tem de conter o valor das variáveis de

controlo ao longo do horizonte de controlo, podendo ser constituída como um vector com a dimensão

dada pela multiplicação do número de actuadores do sistema de drenagem (a cada qual corresponde

uma variável de controlo por passo de controlo) pelo número de passos de controlo dados até ao fim

do horizonte de controlo. Contudo, o valor das variáveis é tipicamente um decimal não negativo com

um limite superior (e.g. máxima abertura duma comporta), sendo necessário convertê-lo em código

binário. Tal pode ser feito alocando um número pré-definido de dígitos binários, n, para representação

do valor de cada variável, o que permite representar um número inteiro de 0 a 2n-1 que, por seu turno,

pode ser mapeado para ter correspondência a um valor da variável de controlo. Quanto maior o

número de dígitos binários alocados para representar uma variável, maior será a suavidade da

discretização imposta por este processo. Dando um exemplo, imagine-se que existem dois

actuadores com variáveis compreendidas entre 0 e Xmax,1 e Xmax,2, respectivamente, e que a resolução

binária é de 3 bits. A cadeia 010111100101 representa uma estratégia de controlo, em que os

primeiros 6 dígitos representam os valores alvo dos actuadores 1 e 2 no instante t0, respectivamente,

e os seguintes dígitos, o mesmo para o instante t0+1. Os valores inteiros representados pela cadeia

são, por ordem: 2, 7, 4 e 5. O mapeamento a valores reais das variáveis pode ser feito multiplicando

cada um destes valores pelo respectivo valor máximo da variável Xmax,i e dividindo pelo maior número

inteiro representável pelos algarismos binários alocados à variável, neste caso 7. Assim tem-se um

conjunto discreto de valores da variável de controlo representáveis, entre 0 e o seu máximo. Note-se

que, deste modo, a verdadeira dimensão da cadeia tem de ser multiplicada pelo número de bits

alocados à representação de cada variável (Rauch & Harremoës, 1999b).

Para melhorar a fiabilidade do algoritmo genético usa-se a estratégia de elitismo, que consiste em

assegurar-se que a cadeia com melhor desempenho de cada geração sobrevive sempre ao processo

de selecção. Isto procura assegurar que o pior desempenho do sistema de CTR não é pior que o do

sistema não controlado ( (Rauch & Harremoës, 1999b), (Labadie & Wan, 2010)).

O algoritmo genético pode ser utilizado num contexto de CTR preditivo e, portanto, pode ser

associado a um modelo determinístico de simulação do sistema de drenagem que recebe dados

exógenos (e.g. precipitação) e produz dados relativos ao estado do sistema ao longo do tempo em

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função das acções de controlo propostas pelo algoritmo genético. Cada nova corrida do algoritmo

genético para procurar a sequência de acções de controlo sub-óptima, a cada novo passo de

controlo, deve servir-se da última geração de cadeias da corrida anterior como geração inicial, para

acelerar o processo de optimização ( (Rauch & Harremoës, 1999b), (Labadie & Wan, 2010)).

As principais vantagens do algoritmo genético são a liberdade de formulação do modelo

determinístico e a sua fiabilidade como algoritmo de optimização, evitando desempenhos do sistema

controlado inferiores aos do não controlado. Além disso, é uma técnica de optimização

computacionalmente simples, robusta e que não requer computação de derivadas das funções a ser

optimizadas, sendo muito útil para resolução de problemas muito complexos (Rauch & Harremoës,

1999b).

4.4.4. Redes Neuronais Artificiais (RNA)

As Redes Neuronais Artificiais (RNA) baseiam-se no funcionamento das redes neuronais biológicas

do nosso cérebro, constituindo modelos computacionais no domínio da inteligência artificial, capazes

de aprendizagem de máquina e reconhecimento de padrões. Em geral, são sistemas que

representam neurónios artificiais (nós) interconectados capazes de computar dados de entrada e

produzir uma resposta, utilizando pesos adaptativos e sendo capazes de aproximar funções não-

lineares, mas não há uma definição formal unívoca de RNA (Gershenson, 2014). Os pesos

representam a força da ligação entre cada par de nós e são activados durante as fases de treino e

previsão. Os nós encontram-se distribuídos por camadas, sendo o exemplo mais simples uma RNA

com três camadas: a primeira contém os nós que recebem os dados de entrada, a segunda recebe

dados da primeira, processa-os e envia-os à terceira camada, que produz os dados de saída. Em

redes mais complexas existem mais camadas intermédias entre as de entrada e saída (The

University of Wisconsin Madison, s.d.). Este tipo de rede denomina-se feedforward (porque o fluxo de

dados se faz sempre na direcção do input para o output), mas existem também RNA de outros tipos,

como as recorrentes, em que neurónios da mesma camada podem estar ligados entre si e mesmo

enviar informação do seu output para o seu input ou para o input de camadas anteriores, sendo este

tipo mais útil para CTR (Darsono & Labadie, 2007).

Uma RNA caracteriza-se por três tipos de parâmetros: 1) o padrão de interconecção entre diferentes

camadas de nós, 2) o processo de aprendizagem para actualização dos pesos das ligações e 3) a

função que transforma o input ponderado dum nó no seu output (Jha, 2013).

Matematicamente, a função dum neurónio ( ), define-se como a composição doutras funções ( ),

também elas definidas como a composição doutras funções. Isto pode ser representado sob a forma

duma rede com nós e setas indicando as dependências entre variáveis (ver Figura 26). Um tipo de

composição comum para ( ) é a soma ponderada não-linear, genericamente expressa como

( ) (∑ ( )) (2)

onde representa uma função de activação pré-definida e é o peso de ( ).

A capacidade de aprendizagem das RNA consiste na sua habilidade em, dada uma tarefa a resolver

e uma classe de funções, encontrar um subconjunto de funções que resolvem o problema dum modo

óptimo de acordo com determinados critérios de optimização (e.g. definidos por uma função de custo

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que se procura minimizar). A aprendizagem pode ser do tipo supervisionado, não supervisionado ou

de reforço. A aprendizagem supervisionada é a mais relevante para o CTR e ocorre quando é dado

um conjunto inputs e outputs à RNA, pretendendo-se encontrar as funções que melhor reproduzem

os outputs para os inputs fornecidos. Tal pode ser avaliado, por exemplo, através do erro quadrado

médio. Exemplos de tarefas que levam a este tipo de aprendizagem são o reconhecimento de

padrões e regressão ( (Jha, 2013), (The University of Wisconsin Madison, s.d.)).

As grandes vantagens das RNA são a sua rapidez de computação, capacidade de generalização,

resistência a falhas e capacidade de simular, ainda que de forma não explícita, todos os processos

complexos que ocorrem nos sistemas de drenagem, sendo úteis para resolver problemas de difícil

computação baseada em regras ( (Darsono & Labadie, 2007), (Gershenson, 2014), (Jha, 2013)).

As principais dificuldades na utilização de RNA são as seguintes: necessidade de recorrer a

conhecimento especializado dada a sua complexidade; escolha do algoritmo, que quanto mais

complexo mais problemas traz na fase de treino; escolha do algoritmo de treino, o qual pode exigir

muita experimentação; e o grande volume de dados necessários para treinar o algoritmo.

As RNA são modelos caixa negra, ou seja, não representam explicitamente os processos físicos que

ocorrem nos sistemas de drenagem, pelo que do lado dos operadores há o problema de poder não

ser claro o motivo das acções de controlo propostas pelo algoritmo ( (Darsono & Labadie, 2007),

(Labadie, 2004), (Jha, 2013)).

Uma RNA é uma potencial alternativa a modelos de simulação da rede de drenagem cujo tempo de

cálculo é demasiado longo para ser compatível com um sistema de CTR. Contudo, para treinar a

RNA é necessário primeiro gerar dados offline com simulações num modelo realista da rede de

drenagem, que deve consistir num modelo de escoamento superficial, modelo dinâmico da rede de

drenagem e módulo de optimização das acções de controlo. Dependendo do tipo de CTR que se

deseje implementar pode ser necessário incluir modelos de simulação da qualidade da água,

previsões meteorológicas e modelos de simulação do comportamento da ETAR e meio receptor

(Darsono & Labadie, 2007).

Considerando um caso de CTR reactivo baseado em volume em que os actuadores são todos

comportas, pode utilizar-se uma RNA recorrente com arquitectura do tipo Jordan, como a da Figura

26. Como ilustrado, o controlo é feito apenas através da posição das comportas existentes na rede de

drenagem e em função da distribuição espacial da precipitação passada e presente e das posições

actuais das comportas. Na Figura 26 é o peso da ligação entre o nó da camada de input i e o nó j

da camada intermédia; é o peso da ligação entre o nó j da camada intermédia e o nó k da

camada de output; ( ) é o output do nó k da camada de output no instante t, que serve de input

interno à camada de input no próximo passo temporal; é o peso de viés aplicado ao nó j na

camada intermédia, é o peso de viés aplicado ao nó k da camada de output e ( ) é o input

externo que entra no nó i da camada de input no instante t. Tipicamente, o cálculo ( ) utiliza um

conjunto de funções de activação do tipo sigmóide.

A escolha do número de nós na camada intermédia da RNA pode efectuar-se em função do menor

erro entre os outputs da RNA e do modelo offline. A camada de nós de viés (Bias) serve para

introduzir um grau adicional de manipulação dos dados pelos nós.

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81

Figura 26 - Esquema da arquitectura da RNA recorrente do tipo Jordan, aplicada ao CTR dum sistema de

drenagem (adaptada de (Darsono & Labadie, 2007))

O treino da RNA deve ser do tipo supervisionado, tendo como objectivo estimar os pesos das

ligações entre nós e os pesos de viés (bias), servindo-se para isso de conjuntos de dados de input e

output, correspondentes a eventos pluviosos, gerados pelo modelo offline. Este calcula as posições

óptimas das comportas para o passo de cálculo definido, conhecendo à partida as solicitações ao

sistema de drenagem para a totalidade de cada evento pluvioso. Ao treino está subjacente um

algoritmo de optimização (e.g., por gradiente), que gera pesos aleatórios na primeira iteração e os vai

ajustando até minimizar o erro entre os outputs da RNA e os do conjunto de dados de treino.

Terminado o treino, valida-se o modelo comparando o output da RNA quando fornecida um conjunto

de inputs não utilizados no seu treino, com o output gerado pelo modelo offline (Darsono & Labadie,

2007).

Em (Darsono & Labadie, 2007) utiliza-se uma RNA deste tipo, verificando-se ser capaz de fazer um

CTR muito semelhante ao do modelo de controlo óptimo offline, sem quaisquer dados de previsão

meteorológica. Apesar do evento pluvioso utilizado para validação ser diferente dos usados na fase

de treino, porções do primeiro são semelhantes a partes dos outros e a capacidade de

reconhecimento de padrões da RNA permite-lhe explorar essas semelhanças.

Consoante se registam novos eventos pluviosos, os respectivos dados podem ser utilizados para

correr o modelo offline e, com os dados gerados, treinar mais a RNA.

Inputs internos (aberturas prévias de comportas )

Inputs externos (distribuição

espacial da precipitação actual)

Camada intermédia

Camada de output

Camada de input

Abertura actual de comportas

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Este tipo de RNA pode ser desenvolvida para incluir como input medições em tempo real de níveis de

escoamento, caudais, previsões meteorológicas e informação relativa à ETAR e ao meio receptor,

constituindo-se um modelo de CTR integrado (Darsono & Labadie, 2007).

4.5. Dificuldades de aplicação do CTR

Apesar das utilidades dos sistemas de CTR, a sua aplicação reveste-se de várias dificuldades,

designadamente:

Os dados de entrada do sistema de controlo sofrem variações, frequentemente desconhecidas e

de difícil previsão (precipitação, produção de águas residuais) (Schütze, 2011a);

As medições são difíceis (especialmente da qualidade das águas residuais), muitos dos sensores

utilizados são pouco exactos e requerem manutenção (Schütze, 2011a);

O sistema tem de lidar com diferentes horizontes temporais (segundos/minutos a

semanas/meses), pois as acções de controlo são tomadas em pequenos intervalos de tempo mas

devem contar com os efeitos no sistema a médio e longo prazo (e.g. acumulação de poluição no

meio receptor, custos de exploração e manutenção) (Schütze, 2011a);

Características do sistema de drenagem complexas e altamente não lineares (Schütze, 2011a);

A implementação física das soluções de CTR requer equipamentos de monitorização, tecnologias

de controlo, equipamentos hidráulicos e eléctricos e sistemas de transmissão de dados, que em

geral não estão disponíveis nos sistemas de drenagem convencionais e são onerosos (Schütze,

et al., 2008);

Responsabilidades administrativas repartidas consoante a parte do sistema (rede de drenagem,

ETAR e meio receptor) (Schütze, 2011a).

Os estudos de planeamento de sistemas de CTR podem ser dispendiosos e morosos, requerendo um

modelo computacional do sistema, que tem de ser elaborado, calibrado e verificado com base em

séries de dados de monitorização ( (Schütze, et al., 2004), (Pabst, et al., 2011)). A elaboração do

modelo requer um conhecimento profundo do sistema de drenagem que é obtido através da consulta

dos cadastros (frequentemente repletos de erros) e Planos Gerais de Drenagem. Frequentemente

não há dados de monitorização disponíveis, obrigando a fazer campanhas de medição e,

provavelmente, adquirir e instalar equipamentos de monitorização (Schütze, et al., 2008). O próprio

processo de planeamento é apontado como uma das dificuldades encontradas pelos gestores de

sistemas de drenagem pela sua complexidade, contudo têm-se desenvolvido manuais que servem de

apoio a este processo (Schütze, et al., 2008), como é o caso de (DWA, 2005).

A maioria dos algoritmos de CTR aplicados a casos reais são soluções individuais intransferíveis para

outros sistemas, não havendo uma solução típica pronta a aplicar a qualquer sistema de drenagem

( (Pabst, et al., 2011), (Schütze, et al., 2008), (Ferreira & David, 2014), (Schütze, 2011a)). Tem-se

investido em projectos que visam solucionar esta dificuldade, procurando criar uma forma genérica de

concepção e implementação de sistemas de CTR, de que é exemplo o projecto ADESBA (Adaptation

and development of a pre-configured control box for real time control of urban drainage systems), que

tem como objectivo facilitar a implementação do sistema de CTR através dum algoritmo de controlo

genérico pré-configurado dependente dum pequeno número de parâmetros de entrada, e contido

Page 95: Controlo em Tempo Real de Sistemas de Drenagem Urbanos · i Resumo Esta dissertação tem como objectivo principal apresentar os aspectos mais relevantes do controlo em tempo real

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numa caixa de controlo física pré-assemblada. A validade deste algoritmo (descrito em detalhe em

(Alex, et al., 2008) e (Schütze, et al., 2005), citados por (Pabst, et al., 2011)) foi confirmada e já se

aplicou este método de implementação de sistemas de CTR em Hildesheim, na Alemanha (Pabst, et

al., 2011). Este exemplo de aplicação de CTR é apresentado em maior detalhe no Capítulo 5.4.

A maioria das descrições de algoritmos de CTR disponíveis fornece explicações muito superficiais.

Como consequência, os desenvolvedores de sistemas de CTR têm de o fazer com base na sua

intuição e experiência, o que constitui uma tarefa morosa e exigente em termos de recursos, sendo

um motivo frequente do abandonamento da hipótese de desenvolvimento e dum sistema de CTR (

(Schütze & Alex, 2011), (Schütze, 2011a), (Alex, et al., 2008), (United States Environmental

Protection Agency, 2006)).

Grande parte dos programas de simulação disseminados possui limitações em termos da

representação dos conceitos de CTR. Alguns permitem implantar esses conceitos através de regras

simples do tipo se-então e de tabelas de consulta, outros fornecem ferramentas específicas de

representação de conceitos de controlo e.g., baseadas em regras do tipo fuzzy. Contudo, em geral,

não existe possibilidade de implantar conceitos de controlo arbitrários e, excepto o SIMBA (utilizado

no ADESBA), nenhum programa permite a utilização da linguagem de programação utilizada nos PLC

(Programmable Logic Controllers), que materializam o sistema de CTR (Alex, et al., 2008).

Certos autores referem como grandes obstáculos à aplicação de CTR a dificuldade em obter

benefícios económicos do melhoramento do desempenho ambiental dos sistemas de drenagem e

ainda o receio da possibilidade do sistema de controlo operar de modo inseguro ( (Alex, et al., 2008),

(Schütze, et al., 2008), (United States Environmental Protection Agency, 2006)). Contudo, quanto ao

primeiro ponto, pode argumentar-se que só é válido para sistemas de drenagem que já cumprem os

requisitos mínimos de desempenho ambiental, pois a legislação comunitária contempla multas pelo

seu incumprimento, ficando em jogo a diferença entre o seu valor e o do investimento num sistema de

CTR capaz de evitar essas penalizações.

A demonstração da eficácia dum sistema de CTR é outra questão problemática dada a não

reprodutibilidade dos eventos pluviosos. Isto significa que o desempenho dos sistemas de CTR não é

avaliável somente através de estudos de simulação. Em (Pabst, et al., 2011) menciona-se o

desenvolvimento duma ferramenta para ajudar a superar este problema, através da comparação de

dados entre eventos reais controlados e não controlados.

A aplicação de CTR em tempo seco para equalizar o caudal afluente à ETAR pode aumentar a

sedimentação e quantidade de objectos flutuantes nas partes da rede utilizadas para armazenamento

de águas residuais, obrigando a considerar a agravação de custos de limpeza no estudo económico

(De Korte, et al., 2009).

A área do CTR carece duma terminologia clara e uniformizada, dificultando a cooperação entre

profissionais das diferentes áreas do CTR e a introdução a este tema (Schütze, et al., 2004), sendo

frequente utilizarem-se terminologias iguais com significados distintos e denominações diferentes

para aspectos técnicos iguais.

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5. Exemplos de aplicação

5.1. Notas introdutórias

Os primeiros sistemas de CTR foram estudados e implementados nos anos 70 do século passado,

em várias cidades europeias e americanas, sendo a maior parte do tipo local reactivo ( (Pleau, et al.,

2005) citando (Schilling, 1989)). No início dos anos 90, em Seattle já existia um sistema de CTR

global preditivo e supervisionado mas foi abandonado em 1995 devido à falta de fiabilidade dos

sensores, motores das comportas e sistema de comunicação, lentidão dos computadores,

indisponibilidade e inexactidão dos modelos hidráulicos e hidrológicos e dificuldade do sistema em

reagir a situações de emergência (Pleau, et al., 2005).

Mais recentemente, o CTR de volumes de armazenamento em série com a rede de drenagem em

redes unitárias, através de comportas, electrobombas e descarregadores, para minimizar o volume de

descargas directas, foi aplicado com sucesso em várias cidades incluindo Milwaukee, EUA; Tielt,

Bélgica; Saverne, França e Ense-Bremen, Alemanha ( (Darsono & Labadie, 2007) citando (Loucks, et

al., 2004), (Pleau, et al., 2005), (Vanrolleghem, et al., 2005), (Vasquez, et al., 2005) e (Weyland,

2002)). Em Amsterdão, na Holanda, está em implementação um protótipo do sistema de CTR

baseado em volume “SmaRTControl”, que seguirá as orientações dum manual Holandês comparável

ao manual Alemão DWA-M180 (De Korte, et al., 2009). Em (Schütze, 2011a) refere-se uma solução

de CTR baseado em volume para o sistema de Leverkusen, Alemanha, como alternativa ao

investimento em reservatórios e extensão da capacidade da ETAR, com o potencial, relativamente à

situação não controlada, de reduzir em 50% o volume de descargas directas e a frequência de

pequenos eventos desse tipo, comportando um investimento de apenas 1% do necessário na solução

convencional.

São conhecidos exemplos de aplicação de CTR integrado no Québec, no Canadá, e em Odenthal, na

Alemanha ( (Schütze, et al., 2004) citando (Nilsen & Nilsen, 2002) e (Erbe, et al., 2002b)).

Em (Pleau, et al., 2001) e (Scheer, et al., 2004) (citados por (Schütze, et al., 2008)) encontram-se

exemplos de sistemas de CTR preditivos em planeamento ou em operação. Também em Viena,

Áustria (Sebastião, 2005) e em Paris, França (Sebastião, 2005) existem sistemas deste tipo.

Em (Sebastião, 2005) refere-se a existência de sistemas de CTR em Chicago, Detroit e Seattle, nos

EUA; em Montreal e Edmonton, no Canadá, e em Tóquio, Japão. Em (Sebastião, 2005) refere-se o

sistema de CTR de Copenhaga, Dinamarca.

Em (Sebastião, 2005) referem-se sistemas de CTR em Praga, República Checa; Bolton, Reino Unido;

Bordéus, França e Berlim, Alemanha. Apenas na Alemanha existem 34 sistemas de CTR (Schütze, et

al., 2008).

Nos capítulos seguintes apresentam-se alguns exemplos de aplicação de sistemas de CTR a

sistemas de drenagem reais. Os exemplos foram seleccionados pelo detalhe da informação

encontrada, actualidade e relevância para o entendimento dos desafios e benefícios alcançáveis com

a implementação deste tipo de soluções.

O primeiro caso apresentado, do sistema de CTR de Barcelona, destaca-se por ter sido o único cuja

recolha de informação se apoiou numa visita guiada proporcionada ao signatário pelos engenheiros

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da entidade gestora, a CLABSA. Esta visita decorreu ao longo de dois dias, tendo-se visitado

reservatórios subterrâneos de retenção de águas pluviais e o centro de controlo, além de terem sido

feitas apresentações sobre o funcionamento do sistema de CTR implementado e prestados

esclarecimentos detalhados sobre o mesmo pelos engenheiros. A CLABSA forneceu ainda

documentação detalhada sobre o sistema de CTR que complementou e, por vezes, substituiu os

artigos disponíveis ao público geral, que não estão actualizados ou correspondem a soluções

propostas que nunca chegaram a implementar-se.

Os outros exemplos apresentados correspondem aos sistemas do Québec, no Canadá, e de

Hildesheim e Leipzig, na Alemanha.

5.2. Barcelona, Espanha

5.2.1. Características gerais do sistema de drenagem

Barcelona tem clima mediterrâneo, com uma precipitação anual média de 600 mm, com distribuição

temporal e espacial muito irregular, apresentando frequentemente precipitações de alta intensidade

(155 mm/h em 20 min), chegando a registar-se 40% da precipitação total anual em períodos de dois a

três dias e 15% em apenas uma hora.

O sistema de drenagem de Barcelona serve 1,6 milhões de habitantes numa área de 100 km2, a que

corresponde uma densidade populacional de 16.000 hab/km2. A área metropolitana tem mais 1,5

milhões de habitantes numa área de 400 km2.

A rede de drenagem, cuja planta actual e prevista se apresenta no Anexo A, desenvolve-se por

1.670 km de colectores, que afluem a duas ETAR. Os interceptores paralelos à costa têm declives

reduzidos, perdendo capacidade de transporte. Cerca de metade da rede tem colectores com secção

superior a 1 m2 e muito poucos têm o diâmetro mínimo permitido na rede pública, de 400 mm. A rede

foi dimensionada para precipitação com período de retorno de 10 anos, estimada com base em séries

longas de precipitação e curvas IDF.

O mar mediterrâneo não tem praticamente marés pelo que a rede não é afectada por elas.

Actualmente o sistema compreende 10 reservatórios subterrâneos e 2 bacias de retenção

(perfazendo 500 000 m3 de armazenamento), 26 estações elevatórias, 54 válvulas de regulação do

caudal, 4 estações de controlo da qualidade da água, 186 limnímetros (de ultrassons – que

funcionam mal para alturas de escoamento grandes e quando há correntes de ar – de radar e de

pressão – com funcionamento satisfatório mesmo quando os colectores entram em carga, permitindo

aferir o nível das inundações), 24 udómetros e 38 comportas para derivação ou retenção de caudal.

O caudal é medido indirectamente através do nível da água em vez de se utilizarem medidores de

caudal que não funcionam suficientemente bem. Toda a informação relativa a estes elementos é

controlada em tempo real.

A cidade tem um alto grau de impermeabilização e zonas de montanha a 10 km da costa, com

declives de 30% a 40% que suavizam em direcção ao litoral, com declives de 0,1%, havendo grandes

acumulações de água nas zonas baixas. Montjuïc é um monte junto à costa que coloca o problema

de obrigar o desvio do escoamento vindo das montanhas em direcção à costa. A cidade é delimitada

pelos rios Besòs e Llobregat, com caudais pequenos e irregulares, e com água de fraca qualidade. A

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costa foi transformada, possuindo hoje 4 km de praia. As praias afectadas pelos efluentes do sistema

têm água de boa qualidade em tempo seco.

5.2.2. Contexto histórico e planeamento

Até ao início dos anos 90, Barcelona enfrentava problemas de inundações, que ocorriam durante

chuvadas com períodos de retorno de apenas 1 ano, e de descargas directas de excedentes que

poluíam o meio receptor.

Em 1997, o PGD de Barcelona tinha como objectivos principais evitar inundações para chuvadas com

período de retorno de 10 anos, ou de 50 anos em pontos críticos, e reduzir a um terço o número de

descargas directas. Para tal planeou-se a construção 10 comportas de desvio de caudal, 33 km de

grandes colectores e 13 reservatórios, aumentando em 735 000 m3 a capacidade de armazenamento.

Os custos associados a estas infra-estruturas perfaziam, à data, 331 M€. Foi ponderada a hipótese

de armazenamento nos colectores, dada a sua grande capacidade, mas tal nunca se concretizou, em

especial devido aos problemas de manutenção que daí surgiriam e por se verificar que durante os

eventos de precipitação que provocam descargas directas e/ou inundações, grande parte do volume

desses colectores já era naturalmente utilizado.

Em 2006 propuseram-se objectivos mais exigentes em termos ambientais: reduzir as descargas

directas de modo a que o tempo em que as águas balneares estão interditas a práticas balneares, de

acordo com a respectiva legislação comunitária, fosse reduzido dos então 5% para 1,5%. Continuou

planeada a construção de mais reservatórios e colectores.

O primeiro controlo sobre a rede foi do tipo manual local, utilizando painéis eléctricos junto aos

actuadores (usando-se geradores a gasóleo em caso de falha eléctrica) e controlo físico dalguns

actuadores (e.g. abertura duma comporta por efeito da pressão da água a montante ou pelo seu peso

próprio). Depois, passou-se a um controlo semi-automático através da adição de bóias que permitem

accionar os actuadores quando o nível do escoamento passa certos limites. Quando se começaram a

utilizar PLCs implantou-se um sistema de controlo local supervisionado por operadores nas estações

de controlo remotas. Posteriormente implantou-se controlo remoto, existindo um centro de controlo na

CLABSA, com um sistema SCADA, que envia ordens às estações de controlo remotas e onde

operadores supervisionam o sistema e, quando necessário, o operam manualmente a partir do centro

de controlo. Esta supervisão centralizada permite aos operadores alterar as decisões do sistema de

modo a tentar sincronizar as acções de actuadores independentes, acabando por ser um sistema de

controlo quási-global.

5.2.3. Descrição do sistema de CTR actual

Actualmente, a maior parte da rede tem este último tipo de controlo, havendo uma zona em que a

rede tem um controlo remoto do tipo combinado. Em caso de falha do tipo de controlo, este baixa

para nível hierárquico operável mais alto, sendo a hierarquia crescente na ordem em que o sistema

de controlo foi desenvolvido.

Há ainda uma coordenação básica entre a rede de drenagem e uma das ETAR, embora não seja um

controlo integrado. A título ilustrativo refere-se o reservatório de Taulat, imediatamente a montante da

ETAR e paralelo à rede de drenagem, armazena os efluentes que a ETAR não tem capacidade para

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tratar até esgotar a sua capacidade. Quando o efluente da rede de drenagem que chega à ETAR

diminui abaixo da sua capacidade máxima, o reservatório complementa o que falta para utilizar a

capacidade total da ETAR. Este reservatório possui um medidor de qualidade da água (avaliado pela

concentração de oxigénio dissolvido) que proporciona aos operadores tomadas de decisão sobre

prioridade de afluentes à ETAR, procurando-se tratar à água mais poluída quando é inevitável uma

descarga directa.

Utilizam-se imagens de radar para fazer previsões meteorológicas que melhorem a actuação em

tempo real. Fazem-se previsões entre 1 a 2 horas, consoante a velocidade de deslocamento da

tempestade, contudo é difícil fazer previsões tão boas quando a tempestade se desenvolve

directamente sobre a cidade, como acontece frequentemente neste clima, em vez de vir da sua

vizinhança. O sistema de previsão meteorológica não está ainda integrado no sistema de controlo

automático (não é preditivo) mas as suas informações são consideradas pelos operadores no centro

de controlo para apoiar a supervisão do sistema e a tomada de decisões.

O sistema de CTR actua dinamicamente entre 60 a 100 dias por ano, consoante a precipitação.

De modo a seguir a DQA desenvolveu-se um sistema que prevê a qualidade das águas balneares e

fornece essa informação em tempo real aos cidadãos, num sítio de internet e em painéis electrónicos

nas praias.

O actual desafio é expandir o controlo remoto global do sistema e automatizá-lo, contudo esta tarefa

tem-se revelado bastante exigente e só poderá ser implantado decisivamente quando se desenvolver

um algoritmo robusto e bem entendido pelos operadores do sistema.

O sistema de CTR modela a rede de drenagem e o escoamento superficial até às sarjetas e

sumidouros com os programas MOUSE e InfoWorks, e modela o comportamento do meio receptor e

estima o impacto ambiental de descargas directas com o programa COWAMA.

Os reservatórios são o elemento central do sistema de CTR, sendo o seu objectivo prioritário reduzir

as inundações a jusante. Os objectivos secundários são reduzir as descargas directas e a poluição do

meio receptor. Assim, os reservatórios podem ter uma função anti-inundação, anti-poluição ou

ambas. Os primeiros armazenam as águas pluviais que excedem a capacidade de transporte dos

colectores a jusante, evitando inundações. Os segundos, em geral mais pequenos, são geridos

apenas de forma a evitar descargas directas no meio receptor, não prevenindo necessariamente

inundações, enchendo durante a chuvada e esvaziando depois para tratar as águas residuais na

ETAR.

O CTR local implantado utiliza dados de sensores ligados directamente às estações de controlo de

cada reservatório. Alguns destes sensores não se encontram no reservatório nem junto às comportas

mas nos colectores mais próximos.

A estratégia de controlo estabeleceu-se através de simulação hidráulica offline com MOUSE e

concepção das regras do sistema de controlo com MATLAB SIMULINK.

Antes de estabelecer as regras de controlo dum reservatório simulou-se o comportamento do sistema

de drenagem sob diferentes condições de precipitação, nível inicial no reservatório e abertura da

comporta de saída. Os resultados obtidos permitiram avaliar o comportamento hidráulico do

reservatório e colectores nas suas imediações, identificar os pontos críticos onde ocorrem inundações

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e relacioná-los com os pontos onde existem limnímetros ligados à estação remota. Estabeleceram-se

relações entre nível e caudal dos pontos de controlo (onde estão os limnímetros), entre caudal no

ponto de controlo e caudal efluente do reservatório, e entre caudal efluente do reservatório e nível no

reservatório. Sabendo o nível no reservatório e a abertura da sua comporta de saída, é possível

estimar o nível nos pontos de controlo. Assim, é possível avaliar a abertura óptima da comporta em

função do nível no reservatório e na rede de drenagem.

O CTR da abertura das comportas dum reservatório é feito através de dois ciclos, um longo, com um

passo temporal maior (e.g., 8 minutos), e um curto, com passo temporal inferior (e.g. 1 minuto), tal

como esquematizado na Figura 28.

Figura 28 - Os dois ciclos de regulação (fonte: (Escaler, et al., s.d.))

O ciclo longo dá a posição inicial das comportas ao ciclo curto, que utiliza um controlador PID de

modo a evitar as suas oscilações. O ciclo curto faz uma estimativa mais exacta da posição óptima. Os

parâmetros óptimos do controlador PID obtêm-se com simulações no MATLAB SIMULINK. Estas

permitem ainda validar as estratégias de controlo obtidas no MOUSE, detectar instabilidades na

posição das comportas e conhecer o atraso a aplicar à actuação das mesmas. A regulação do ciclo

curto consiste na comparação do nível da água real nos pontos de controlo com um nível limite

teórico que se deseja manter. Ao exceder esse limite nalguns dos pontos de controlo, obtém-se,

através das relações anteriormente estabelecidas com MOUSE, uma nova correcção da posição das

comportas. Uma vez estabelecida tal posição, ela é corrigida a cada passo temporal deste ciclo, de

acordo com o nível real no ponto de controlo mais crítico, através do controlador PID. A Figura 29

esquematiza o funcionamento do ciclo curto.

Figura 29 - Funcionamento do ciclo curto (fonte: (Escaler, et al., s.d.))

Ordens às

comportas

Rede de drenagem na proximidade do reservatório

Níveis no reservatório e pontos de controlo

Módulo de decisão de ordens

Período de execução: 8 min

Necessário ajuste com

PID? Sim

PID

Não

Período de execução: 1 min

Medição do nível da água real no ponto de controlo (com sensor)

Comparação: diferença entre

medição e nível desejado

Correcção da posição das

comportas (actuador) Ordem da posição das comportas

Controlador PID

Mudança do nível da água

no ponto de controlo Valor alvo (nível da água desejado

no ponto de controlo mais crítico)

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5.2.4. CTR do reservatório de Escuela Industrial

Para ilustrar o funcionamento do sistema de CTR, apresenta-se o caso do reservatório subterrâneo

de Escuela Industrial (ver Figura 29), com volume total de 35 000 m3 e capacidade de

armazenamento de 27 000 m3, uma comporta de desvio de caudal, uma comporta de entrada, um

descarregador de excedentes e uma comporta de saída, com caudais máximos de 11, 23, 24 e

5 m3/s, respectivamente. Os limnímetros utilizados para gestão deste reservatório estão instalados a

montante da comporta de desvio de caudal e das comportas de entrada e de saída do reservatório,

no interior do reservatório e a jusante da comporta de saída (um dos sensores está a 600 m desta

comporta). Consideram-se três níveis de controlo no interior do reservatório: crítico (nível superior de

águas pluviais), não crítico (nível inferior de águas pluviais) e nível superior das águas residuais

domésticas. A jusante da comporta de saída consideram-se apenas dois limites: crítico e não crítico

(com os significados anteriores). Existem ainda limnímetros digitais, por segurança, a montante das

comportas e no reservatório.

Figura 30 - Reservatório de Escuela Industrial (fonte: (EMARLIS, 2006))

Fazem-se dois tipos de regulação, normal e de segurança. A de segurança entra em acção quando

são excedidos os níveis de água máximos digitais ou há falhas das estações remotas, falhas

eléctricas, falhas nas comportas ou falhas dos limnímetros. Nesta regulação as comportas de desvio

de caudal e de entrada ficam abertas, desviando caudal para o reservatório, e a comporta de saída

fecha, evitando a saída de água do reservatório. A regulação normal usa-se enquanto o nível da água

a montante e a jusante do reservatório está abaixo do nível máximo digital e desde que não haja

falhas que impliquem regulação de segurança. Para cumprir os objectivos de prevenção de

inundações e minimização de descargas directas, esta regulação funciona, durante a ocorrência de

eventos de precipitação, em primeiro lugar enchendo o reservatório (a menos que já esteja cheio)

para evitar o risco de inundações a jusante e, em segundo, esvaziando-o o mais rápido possível, sem

causar inundações a jusante, para estar preparado para a próxima chuvada. O ciclo longo funciona

do modo esquematizado na Figura 31 e a sua ligação ao ciclo curto, já referido, é feita da forma

apresentada na Figura 32.

Uma vez determinada a posição da comporta de saída em função do nível nos pontos de controlo a

jusante, esta posição é corrigida a cada minuto com o controlador PID.

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Figura 31 - Funcionamento do ciclo longo (fonte: (Escaler, et al., s.d.))

Não está a chover (nível a montante do reservatório < Nível superior das águas residuais domésticas)

Comporta de desvio aberta Comporta de entrada aberta Comporta de saída 25% aberta

Está a chover Regulação:

Nível a montante do reservatório < Nível não crítico (nível inferior das águas pluviais) 1)

Reservatório a encher ou Nível nos pontos de controlo ≥ Nível crítico

Reservatório a esvaziar e Nível nos pontos de controlo < Nível crítico

Comportas de desvio e de entrada abertas Comporta de saída fechada

Comportas de desvio e de entrada abertas Comporta de saída inicialmente 25% aberta, regulada em função dos níveis a jusante (*)

2) Nível não crítico ≤ Nível a montante do reservatório < Nível crítico

Reservatório a encher Reservatório a esvaziar

Níveis nos pontos de controlo < Nível crítico

Pelo menos 1 nível num ponto de controlo ≥ Nível crítico

Níveis nos pontos de controlo < Nível crítico

Pelo menos 1 nível num ponto de controlo ≥ Nível crítico

Comportas de desvio e de entrada abertas Comporta de saída inicialmente 25% aberta, regulada em função dos

níveis a jusante (*)

Comportas de desvio e de entrada abertas Comporta de saída fechada

Comportas de desvio e de entrada abertas Comporta de saída inicialmente 50% aberta, regulada em função dos níveis a

jusante (*)

Comportas de desvio e de entrada abertas Comporta de saída fechada

3) Nível a montante do reservatório ≥ Nível crítico

Níveis nos pontos de controlo < Nível crítico

Pelo menos 1 nível num ponto de controlo ≥ Nível crítico

Comportas de desvio e de entrada fechadas

Comporta de saída inicialmente 75% aberta,

regulada em função dos níveis a jusante (*)

Comportas de desvio, de entrada e de saída fechadas

(*) Ver Figura 32

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91

Figura 32 - Ligação ao ciclo curto de regulação (fonte: (Escaler, et al., s.d.))

5.2.5. Resultados do sistema de CTR de Barcelona

A implantação de CTR já permitiu reduções de custos importantes na resolução dos problemas da

rede de drenagem de Barcelona (e.g., evitou-se a construção dum colector de grande diâmetro e

extensão, com um custo de 155 M€), obtendo-se as mesmas melhorias através de construção dum

reservatório e sua operação com CTR do tipo local custando 56 M€. O CTR tem ainda a vantagem de

ajudar a contornar a dificuldade em construir infra-estruturas numa cidade densamente edificada.

O sistema de CTR permite reduzir o volume dos reservatórios relativamente a uma situação não

controlada, para obter as mesmas melhorias de desempenho. Há estudos que indicam uma

economia de 30% nos investimentos feitos para atingir estas melhorias ao utilizar um sistema de CTR

(Malgrat, 2011).

Em 2011 o sistema de CTR permitia reduzir os sólidos suspensos poluentes descarregados no meio

receptor em 1 000 ton/ano e verificava-se uma redução das zonas anóxicas nas águas portuárias.

O sistema de CTR do reservatório de Taulat (com capacidade para 80 000 m3) já permite reduzir em

70% as descargas directas na sua zona da rede, comparando com a situação inicial não controlada,

para chuvadas com um período de retorno de 0,3 anos (Escaler, et al., 2005).

O tipo de gestão da rede de drenagem de Barcelona já foi aplicado com sucesso a cidades com

população de 2000 a 2 milhões de habitantes, ilustrando a sua adaptabilidade a diferentes condições.

5.3. Québec, Canadá

5.3.1. Características gerais do sistema de drenagem

A cidade de Québec situa-se na margem Norte do rio St. Lawrence e é atravessada pelo rio St.

Charles (ver Figura 33). Tem uma população de 500 mil habitantes numa área de 500 km2, a que

corresponde uma densidade populacional de 1 000 hab/km2. A rede de drenagem é unitária e possui

cerca de 130 km de colectores com diâmetros entre 0,25 a 2,44 m, que servem duas bacias

hidrográficas independentes, a oriental e a ocidental, cada uma com a sua ETAR. A ETAR oriental

Comparação de níveis a jusante da comporta de saída (diferença entre nível medido e desejado não crítico - Δh)

Algum Δh < 0 ?

Manter a posição inicial da comporta

Transformação de nível em caudal e determinação do caudal desejado em cada ponto de controlo

Transformação do caudal desejado em cada ponto de controlo em caudal efluente do reservatório

Comparação de caudais Caudal efluente do reservatório = mínimo dos caudais obtidos no passo anterior Valor alvo = nível desejado no ponto de controlo que determina o caudal (ponto de controlo mais crítico)

Sim

Não

Determinação da posição da comporta de saída

Execução da ordem PID

Nível a montante do reservatório

Valor alvo

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92

tem capacidades de tratamento primário e secundário de 8,04 e 4,34 m3/s, respectivamente, e a

ocidental de 5,83 e 3,5 m3/s. Ambas ETAR fazem tratamento terciário no Verão através de raios UV e

as suas capacidades são afectadas pela maré do rio St. Lawrence. Tanto a rede oriental como a

ocidental descarregam nos rios St. Lawrence e St. Charles. Certos descarregadores da rede ocidental

descarregam na praia Jacques-Cartier e, da rede oriental, na baía de Beauport (ver Figura 33), locais

particularmente importantes. Quase metade dos descarregadores de excedentes da rede oriental

descarregam na secção de jusante do rio St. Charles e os da parte mais oriental da rede

descarregam na baía de Beauport ( (Fradet, et al., 2011), (Pleau, et al., 2005)).

Figura 33 - Mapa da cidade de Québec (adaptada de (Fradet, et al., 2011))

5.3.2. Contexto histórico e planeamento

Nos anos 70 e 80, os rios St. Charles e St. Lawrence, no Québec, encontravam-se gravemente

poluídos por descargas não tratadas das redes unitárias e por lixo abandonado por pessoas. No

trecho final do rio St. Charles a concentração de coliformes fecais excedia valores de

50 000 CF/100ml após eventos pluviosos, quando o limite para práticas balneares é de

200 CF/100ml. Durante o Verão ocorria em média mais duma descarga directa a cada cinco dias,

quando o objectivo era não ultrapassar quatro em todo o Verão ( (Pleau, et al., 2005), (Fradet, et al.,

2011) citando (Villeneuve, et al., 1992)). No rio St. Lawrence a frequência de descargas directas limite

estava estabelecida como duas por Verão sendo também ultrapassada. Estes limites foram

estabelecidos de acordo com o tipo de uso das massas de água a jusante das descargas (Pleau, et

al., 2005).

Esta situação levou a que se concebesse um plano de controlo das descargas e reabilitação dos rios

para os tornar utilizáveis pelo público para práticas balneares ( (Pleau, et al., 2005), (Fradet, et al.,

2011)).

Rio St. Charles – 8 m3/s

Baía Beauport

ETAR Ocid. ETAR Ori.

Rio St. Lawrence – 12.000 m

3/s

Praia Jacques-Cartier

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93

Os estudos de planeamento, iniciados em 1988 e terminados em 1997, incluíram campanha de

medição, modelação hidrológica e hidráulica da rede de drenagem e soluções que permitissem atingir

os objectivos ambientais definidos do modo mais económico (Pleau, et al., 2005).

A campanha de medição feita no final dos anos 80 cobriu o período do Verão e registou 25 eventos

pluviosos. Os seus dados foram utilizados para calibrar e validar o modelo de simulação da rede de

drenagem. Esta passou a ter 25 locais de medição do caudal permanentes, tendo-se monitorizado 54

locais de descarga directa e tirado 700 amostras para análise de qualidade da água nos locais

principais de descarga directa em mais de 12 eventos pluviosos ( (Fradet, et al., 2011) citando

(Villeneuve, et al., 1992)).

Fizeram-se simulações usando controlo estático e CTR global preditivo, para o qual se desenvolveu o

programa de optimização por programação não-linear Csoft. Ambas as soluções foram desenvolvidas

até cumprirem os objectivos ambientais que tinham sido definidos nos anos 80 por estudos sobre

difusão e diluição de poluentes seguindo uma abordagem de emissões. Segundo essa abordagem, a

frequência de descargas directas durante o Verão não deveria exceder duas e quatro para os rios St.

Lawrence e St. Charles, respectivamente ( (Pleau, et al., 2005), (Fradet, et al., 2011)). Para a

abordagem tradicional de controlo estático as simulações demonstraram serem necessários para

cumprir os objectivos, 5 reservatórios e 1 túnel, perfazendo 34.000 m3 de armazenamento, na rede

ocidental e, para a rede oriental, 12 reservatórios e 1 túnel perfazendo 198.000 m3 de

armazenamento. Já para a abordagem com CTR seriam necessários apenas 14 reservatórios

perfazendo 132.000 m3 de armazenamento, reduzindo o investimento necessário (incluindo a

implantação do sistema de CTR) para 50% relativamente à abordagem anterior, pelo que se escolheu

implantar este sistema de CTR (Pleau, et al., 2005).

5.3.3. Implementação do sistema de CTR e resultados

A implementação do sistema de CTR consistiu num projecto-piloto e mais três fases. O projecto-piloto

(1998-2001) serviu para confirmar os resultados dos estudos de simulação. Não envolveu a

construção de reservatórios, sendo apenas instalados 17 sensores e 5 reguladores de caudal para

utilizar totalmente a capacidade de dois túneis existentes (18.000 m3) e maximizar o caudal tratado na

ETAR. Seguiu-se a Fase 1 (2002-2005) em que se procurou reduzir as descargas directas da rede

ocidental, construindo-se 7 reservatórios (40.300 m3), 9 estações de CTR e 15 pontos de

monitorização. As Fases 2 e 3 decorreram em simultâneo (2004-2009), adicionando-se 7

reservatórios (81.000 m3) e 4 estações de CTR (Fradet, et al., 2011).

A utilização dos volumes de armazenamento disponíveis nos túneis permitiu desde o projecto-piloto

reduzir em 60% a frequência de descargas directas e em 50% o volume destas em cinco locais de

descarga principais, com um mínimo de custos. Durante a implementação do CTR foram instalados

no território ocidental 4 medidores de caudal, 13 udómetros e 5 estações de controlo local. As

estações de controlo local foram instaladas nos 5 principais pontos de descargas directas e permitem

o controlo dinâmico do escoamento. A monitorização do comportamento do sistema de drenagem

durante os dois anos finais do projecto-piloto permitiu concluir que o sistema de CTR reduzira em

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94

cerca de 80% o volume de descargas directas e em 43% a sua frequência relativamente às

simulações sem CTR para as mesmas solicitações ao sistema de drenagem (Fradet, et al., 2011).

O sistema de CTR foi inicialmente recebido com apreensão pelos operadores. Foi-lhes ministrada a

formação teórica e prática necessária para serem capazes de utilizar o sistema de CTR e foram

agendadas rotinas de inspecção e manutenção das novas instalações (Pleau, et al., 2005).

Na Figura 34 mostra-se a localização e volume dos reservatórios construídos na Fase 1 (a vermelho).

Os reservatórios Jones e Suète, combinados com a capacidade dos túneis existentes, asseguram

que não se excede duas descargas directas por Verão no rio St. Lawrence e na praia Jacques-

Cartier. Os restantes cinco reservatórios construídos nesta fase contribuem para a redução das

descargas directas no rio St. Charles, totalizando um terço do volume necessário para atingir o

objectivo de limitar as descargas nesse rio a um máximo de quatro por Verão. Todos os reservatórios

enchem e esvaziam por gravidade excepto os de Laurentian e St. Sacrement que são esvaziados por

electrobombas, e o de Nord-Ouest que é enchido por electrobombas. Os reservatórios são

constituídos por uma câmara de entrada e outra de saída, um açude e vários compartimentos

paralelos. Possuem um sistema de limpeza que provoca correntes de varrer nesses compartimentos

de acordo com uma sequência automática ou por comando remoto dos operadores no centro de

controlo (Fradet, et al., 2011).

Figura 34 – Localização e volume dos reservatórios de águas pluviais contruídos na Fase 1 (a vermelho)

do projecto de redução de descargas directas no Québec (fonte: (Fradet, et al., 2011))

No Verão de 2005 avaliou-se o desempenho do sistema de CTR face aos quatro eventos pluviosos

que ocorreram nesse período, com períodos de retorno entre 2 meses a 5 anos. Os eventos

pluviosos com período de retorno inferior a 6 meses não provocaram descargas directas no rio St.

Lawrence, como esperado pois os reservatórios tinham sido dimensionados para esse período de

retorno com base em estudos de simulação. Os dados monitorizados permitiram observar que só

ocorriam descargas directas quando todos os volumes de armazenamento estavam completamente

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95

utilizados, significando que o volume de descargas directas tinha sido eficazmente minimizado

(Fradet, et al., 2011).

Nas Fases 2 e 3, executadas em simultâneo, procurou-se cumprir o requisito de não mais de quatro

descargas directas por Verão no rio St. Charles. Para tal construíram-se 4 estações de controlo e 7

reservatórios ao longo desse rio (ver Figura 35), cuja operação foi integrada no sistema de CTR.

Todos estes reservatórios são ou enchidos ou esvaziados por electrobombas. A avaliação do

desempenho do sistema de CTR com estas novas componentes ainda não foi executada. O projecto

de reabilitação do rio St. Charles foi concluído neste período, tendo incluído a renaturalização das

margens do rio, criação de parques percorridos por ciclovias e percursos de caminhada ao longo do

rio. Este projecto surtiu o efeito desejado, atraindo pessoas e criando habitats que propiciaram a

fruição de vida selvagem (Fradet, et al., 2011).

Figura 35 - Localização e volume dos reservatórios de águas pluviais construídos na Fase 2 e 3 (a

vermelho) do projecto de redução das descargas directas no Québec (fonte: (Fradet, et al., 2011))

O sistema de CTR permitiu reduzir em 43% o volume de armazenamento e em 50% o investimento

necessários para obter os mesmos resultados comparando com a abordagem tradicional de controlo

estático. O sistema de CTR continua a ser melhorado adicionando novos sensores e melhorando o

sistema de telemetria com novas tecnologias. Para o futuro está prevista a despoluição da baía de

Beauport e da zona mais a leste da cidade (Fradet, et al., 2011).

5.3.4. Descrição do sistema de CTR

O sistema de CTR possui estações locais onde actuadores (e.g. comportas, electrobombas) ou

equipamento de monitorização (e.g. udómetros, limnímetros, medidores de caudal) estão ligados a

um PLC. A informação recolhida pelas estações é enviada a um centro de controlo, através de ondas

rádio e cabos de fibra óptica, para ser utilizada pelo subsistema de suporte à decisão (o Csoft) no

cálculo dos valores alvo óptimos dos actuadores ( (Fradet, et al., 2011), (Pleau, et al., 2005)).

O sistema de CTR utiliza um sistema SCADA, software de controlo global preditivo, um modelo de

simulação hidrológico-hidráulico não linear, um algoritmo de programação não linear (para

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96

optimização) e um subsistema de previsão meteorológica. O sistema de CTR é totalmente

automático, ficando os operadores encarregues de monitorizar o sistema e alarmes e de operar as

ETAR (Pleau, et al., 2005).

O sistema SCADA permite ao operador acompanhar em tempo real o comportamento hidráulico do

sistema de drenagem, ao apresentar numa interface gráfica todos os valores medidos (e.g. níveis,

abertura de comportas, caudais, intensidade de precipitação), valores alvo enviados para os

controladores locais, previsões meteorológicas, capacidades de tratamento primário e secundário nas

ETAR, se a operação está a ser feita para tempo seco ou húmido e alarmes. Os operadores podem

reverter para controlo local partes individuais do sistema e/ou controlá-las manualmente através do

centro de controlo. No caso de falhas de comunicação, dos sensores ou em caso de alarmes, as

estações locais fazem uma regulação de segurança dos actuadores ( (Fradet, et al., 2011), (Pleau, et

al., 2005)).

O programa de controlo utiliza o modelo de simulação para calcular caudais e níveis na rede de

drenagem ao longo dum horizonte de previsão de duas horas e, por sua vez, estes dados são

utilizados pelo algoritmo de optimização para calcular os valores alvo dos actuadores. Estes valores

(e.g. caudais e níveis) são enviados pelo sistema telemétrico às estações de controlo locais, onde

são aplicados assim que os respectivos PLC transformam os caudais e níveis desejados em valores

da abertura das comportas (Pleau, et al., 2005).

O problema de optimização é descrito por uma função multi-objectivo sujeita a condições de fronteira

e que se tenta minimizar. A função inclui os seguintes objectivos por ordem decrescente de

prioridade: minimizar o risco de inundações (há um nível crítico que não deve ser ultrapassado),

minimizar descargas directas (optimizando a utilização das capacidades de armazenamento),

maximizar o caudal tratado na ETAR, minimizar a utilização da capacidade de armazenamento na

rede de drenagem e minimizar a variação dos valores alvo (como forma de minimizar custos

energéticos). Além destes objectivos de controlo globais, são utilizados pesos em objectivos de

controlo locais de modo a favorecer o esvaziamento de volumes de armazenamento com baixa

capacidade de vazão e a protecção contra descargas directas em certos pontos da rede. Utiliza-se

também um parâmetro de incerteza para contar com o facto das previsões de longo prazo serem

mais incertas que as de curto prazo, dando mais peso a estas ( (Fradet, et al., 2011), (Pleau, et al.,

2005)).

As condições de fronteira do problema de optimização traduzem os limites do sistema de drenagem

físicos (e.g. capacidade de transporte e volumes máximos dos reservatórios) e operacionais (e.g.

limitação do caudal numa secção para evitar entrada em carga e valores alvo limitados pelo

operador). Em geral, o problema de optimização é resolvido em menos dum minuto, apesar de

envolver milhares de restrições e variáveis. Os valores alvo são estabelecidos a cada 5 minutos com

os dados de monitorização mais recentes disponíveis ( (Fradet, et al., 2011), (Pleau, et al., 2005)).

O modelo de simulação é actualizado sempre que são feitas alterações no sistema de drenagem. Por

exemplo, em 2009 adicionaram-se dois medidores de caudal à rede e foram de imediato integrados

no sistema de CTR, passando a utilizar-se também os seus dados para calibração em tempo real do

modelo (Pleau, et al., 2005).

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97

O subsistema de previsão meteorológica faz previsões de curto prazo e de alta resolução, através de

imagens de radar e dados dos udómetros (Pleau, et al., 2005).

A robustez do sistema de CTR é melhorada através de várias ferramentas como de validação e

filtragem de dados de monitorização e calibração em tempo real do modelo de simulação. Em termos

de equipamento, em pontos críticos de monitorização utilizam-se sensores redundantes para o caso

de haver falha nalgum e, quando possível, de tipos diferentes (Pleau, et al., 2005).

Em tempo húmido o controlo é feito de modo dinâmico, utilizando-se ciclos de controlo com feedback

na regulação dos actuadores. Em caso de falhas de comunicação, os actuadores afectados revertem

para um esquema de CTR local concebido com o objectivo de minimizar o risco de inundação e de

danos à rede de drenagem. O sistema de CTR permite (até certo ponto) controlar a distribuição

espacial e temporal de descargas directas inevitáveis, aliviando o seu impacto na qualidade da água

dos meios receptores (Pleau, et al., 2005). O controlo foi concebido de modo a que os volumes de

armazenamento só comecem a esvaziar assim que o afluente à ETAR seja inferior à capacidade do

tratamento secundário da ETAR (Fradet, et al., 2011).

Em tempo seco o controlo passa a ser estático, posicionando-se as comportas de modo a evitar

retenção de água nas estruturas de armazenamento. Este modo de operação foi concebido de forma

a minimizar o consumo energético e a maximizar a vida útil dos actuadores ao minimizar o seu

accionamento (Pleau, et al., 2005).

O sistema de CTR é capaz de levar em conta alterações na capacidade da ETAR, por exemplo,

quando há necessidade de pôr fora de serviço partes da mesma para operações de manutenção

como limpeza de biofiltros (Pleau, et al., 2005).

5.4. Hildesheim, Alemanha

A cidade de Hildesheim, no norte da Alemanha, serve uma população de 104 000 habitantes numa

área de cerca de 93 km2, a que corresponde uma densidade populacional de 1 118 hab/km

2. O

sistema de drenagem é misto (parte unitário, parte separativo), e possui um volume de

armazenamento total de 17 200 m3, a que corresponde um volume de armazenamento específico de

26 m3/m

2 de área impermeável. A precipitação anual média é de 580 mm e o meio receptor é o rio

Innerste que tem um caudal médio de 8,15 m3/s ( (Pabst, et al., 2011), (Schütze & Alex, 2011),

(Schütze, 2011a)).

Na Figura 36 apresenta-se o esquema do sistema de drenagem de Hildesheim. A ETAR deste

sistema tem capacidade para uma população equivalente de 240 000 habitantes. A rede de

drenagem unitária tem dez sub-bacias com nove reservatórios de águas pluviais e um descarregador

de tempestade. O reservatório Schützenallee destaca-se pela sua capacidade de 3 822 m3 e área

impermeável servida de 140 ha, correspondendo a um volume de armazenamento específico muito

baixo (cerca de 0,003 m3/m

2). Excepto o reservatório Bergmühlenstrasse e o descarregador Groβe

Venedig, todos os reservatórios e respectivos descarregadores têm registos, com uma resolução

temporal dum minuto, do nível da água e caudal a montante da válvula reguladora de caudal. De

resto, há um reservatório de águas pluviais imediatamente a montante da ETAR e três pontos de

confluência da rede separativa com a rede unitária (Pabst, et al., 2011).

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Em 2002, calculou-se a configuração estacionária óptima das válvulas reguladoras de caudal de

quatro reservatórios para minimizar o volume de descargas directas, simulando uma série de

precipitação de 10 anos com o programa KOSIM. Em 2007, a configuração das válvulas passou a ser

optimizada dinamicamente ( (Pabst, et al., 2011) citando (Seggelke, 2002)). Em 2010, fizeram-se

melhorias ao implantar um sistema de CTR desenvolvido no projecto ADESBA (Adaptation and

development of a pre-configured control box for real time control of urban drainage systems), que tem

o objectivo de facilitar a implementação de CTR através do recurso a um algoritmo de controlo

genérico pré-configurado, dependente dum pequeno número de parâmetros de entrada, contido

numa caixa de controlo física pré-assemblada. O conceito de algoritmo de controlo genérico utilizado

possibilita a concepção do sistema de controlo seguindo uma abordagem modular, i.e., os elementos

de controlo do sistema de drenagem são considerados como módulos aos quais se podem aplicar

caixas de controlo idênticas. Este algoritmo rege-se pelo princípio de equalização da utilização da

capacidade de armazenamento disponível na rede de drenagem, de forma a minimizar o volume de

descargas directas (Pabst, et al., 2011). A validade do algoritmo (descrito no subcapítulo 3.5.2 e em

detalhe em (Alex, et al., 2008)) foi confirmada por estudos de simulação em várias redes de

drenagem ( (Alex, et al., 2008), (Pabst, et al., 2011) citando (Schütze & Haas, 2010)).

Figura 36 - Esquema do sistema de drenagem de Hildesheim (adaptada de (Pabst, et al., 2011))

A concepção do algoritmo de controlo no sistema de Hildesheim serviu-se de simulações em SIMBA

(baseado no módulo Simulink do programa MATLAB), com um modelo hidrológico da rede de

drenagem baseado no previamente concebido no KOSIM, tendo-se procedido à sua calibração e

verificação ( (Pabst, et al., 2011), (Alex, et al., 2008)). A Figura 37 apresenta a comparação entre o

ETAR Hildesheim

Reservatório da ETAR

Sistema

separativo

Sistemas

separativos

Descarregador Gr. Venedig

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99

caudal afluente à ETAR simulado e medido. A diferença do volume afluente à ETAR ronda os 7%

para o total da rede e, considerando apenas a rede unitária, reduz-se para 1%, podendo ser

explicada pela infiltração de água na rede separativa (Pabst, et al., 2011). Conclui-se que a calibração

é bastante boa.

O SIMBA facilitou bastante a passagem da simulação à implementação do sistema de CTR ao

fornecer um módulo que permite a descrição de funções de automação na linguagem utilizada nos

PLC, expedindo este processo e minimizando os erros ( (Pabst, et al., 2011) citando (Ogurek, et al.,

2008)).

As caixas de controlo do sistema ADESBA estão concebidas para uso tanto como unidades de

controlo local, como unidades de controlo integradas num sistema de CTR mais complexo,

comunicando entre si ou com um centro de controlo. No sistema de Hildesheim, o centro de controlo

fica na ETAR. As caixas de controlo têm capacidade de armazenamento e gestão de dados, interface

gráfica para visualização de informação e configuração do módulo de controlo ( (Pabst, et al., 2011)

citando (Peikert, et al., 2010).

Figura 37 - Comparação entre o caudal afluente à ETAR de Hildesheim simulado e medido, para

verificação da calibração do modelo hidrológico da rede de drenagem elaborado em SIMBA (adaptada de

(Pabst, et al., 2011))

Na Tabela 7 apresentam-se os resultados das simulações para o mesmo período temporal da Figura

37, considerando-se quatro cenários: 1) caso base, em que as válvulas têm configuração estática não

optimizada; 2) válvulas com configuração estática optimizada em quatro dos reservatórios; 3) sistema

de CTR do projecto ADESBA aplicado aos quatro reservatórios anteriores; e 4) igual ao caso anterior

mas aplicado a nove reservatórios. Relativamente ao cenário base, a redução do volume de

descargas directas cresce bastante com o grau de sofisticação do sistema de controlo, atingindo

quase 40% no último cenário. Observa-se ainda que a aplicação do sistema ADESBA aumenta muito

a utilização da capacidade do reservatório da ETAR (Pabst, et al., 2011).

Cau

dal aflu

en

te (

m3/d

ia)

Dias (23/7/2007-3/8/2007)

Medido

Simulado

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100

Tabela 7 - Resultados das simulações do sistema drenagem de Hildesheim para quatro cenários e

durante um período de doze dias (adaptada de (Pabst, et al., 2011))

Válvulas estáticas Sistema de CTR do ADESBA

Sem optimização

Com optimização em 4 reservatórios

Aplicado a 4 reservatórios

Aplicado a 9 reservatórios

Redução do volume descarregado

- 10,5% 29,1% 38,0%

Máxima utilização da capacidade do reservatório da ETAR

34% 38% 84% 100%

A eficácia do sistema de CTR do ADESBA foi confirmada por simulações de longo prazo (dez anos),

em cenários de precipitação uniforme e não uniforme (neste caso há uma melhoria marginal dos

resultados), verificando-se reduções na ordem dos 30% do volume de descargas directas e da

emissão de carga poluente relativamente ao caso base de controlo estático, mas apenas ligeiramente

crescentes no sentido de maior complexidade do sistema. Observou-se ainda que as reduções de

volume e de carga poluente eram proporcionais embora um controlo baseado em volume não tenha

capacidade para assegurar que tal acontece.

A aplicação do MBC demonstrou que o potencial do CTR é maior quando a precipitação é não

uniforme e que quantos mais reservatórios forem controlados maior é o volume de descargas

reduzível ( (Pabst, et al., 2011), (Schütze & Alex, 2011)). A possibilidade de priorizar os efluentes

dalguns reservatórios faz antever um aumento adicional do potencial de minimização da carga

poluente descarregada ( (Schütze & Alex, 2011), (Alex, et al., 2008), (Pabst, et al., 2011) citando

(Lacour & Schütze, 2010)). Outras formas de aumentar o potencial do sistema são a incorporação de

previsões de precipitação e do comportamento do escoamento no sistema (em particular tempos de

escoamento). É ainda possível integrar a priorização de locais de descarga de modo a trazer

benefícios ambientais (Schütze & Alex, 2011).

Os bons resultados obtidos e evidente versatilidade e adaptabilidade das caixas de controlo

desenvolvidas apontam para a sua aplicabilidade a qualquer rede de drenagem ramificada com

volumes de armazenamento, com um mínimo de esforço ( (Pabst, et al., 2011), (Alex, et al., 2008)).

Em 2010 iniciou-se o desenvolvimento deste sistema para acomodar CTR baseado em poluição,

optimizar a eficiência energética do sistema de drenagem (em particular nas estações elevatórias),

equalizar o caudal afluente à ETAR e conjugar tudo isto com a redução de descargas directas (Pabst,

et al., 2011).

5.5. Leipzig, Alemanha

Leipzig situa-se num terreno bastante plano, rodeada de poucas linhas de água que recebem as

descargas da rede de drenagem unitária e da ETAR, sendo frequentes inundações e problemas

ambientais. Para responder a estes problemas decidiu-se remodelar a ETAR e optimizar a rede

(através de CTR, reservatórios, elementos de monitorização e regulação), procurando-se a relação

ideal entre o investimento feito em cada parte do sistema para atingir uma determinada diminuição

das descargas, já que uma variação na capacidade dum dos sistemas tem o desempenho limitado

pelo da outra parte. Esta relação foi encontrada com ajuda de modelos de simulação, tendo em conta

a necessidade de construir reservatórios, consoante a dimensão do sistema de monitorização e de

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regulação (para aproveitar a capacidade de armazenamento dos colectores que, em partes da

cidade, chegam aos 3 m de diâmetro), e consoante a capacidade da ETAR. Tomou-se em conta o

aumento significativo dos custos de expansão da ETAR a partir duma determinada capacidade e

devido a limitação de espaço e/ou de equipamento. Concluiu-se que a capacidade ideal da ETAR era

superior ao valor obtido pelos métodos de dimensionamento tradicionais alemães (caudal máximo

igual a duas vezes o caudal de ponta em tempo seco) que desconsideram a rede de drenagem de

onde provém o caudal afluente. O sistema de CTR iniciou-se em 2002, com a instalação de válvulas,

para aproveitar o volume de armazenamento dos colectores, e de medidores da altura do

escoamento, estando estes elementos ligados a um centro de controlo (Sebastião, 2005). Na Figura

38 apresenta-se os custos de investimento evidenciando a relação óptima.

Figura 38 - Custos da reabilitação do sistema de drenagem de Leipzig, incluindo a remodelação e a

consequente variação da capacidade da ETAR (adaptada de (Sebastião, 2005))

Caudal afluente à ETAR (m3/h)

Custo

do

In

vestim

en

to (

€)

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102

6. Caso de estudo

6.1. Considerações introdutórias

Neste capítulo é estudada a frente de drenagem do Terreiro do Paço-Alcântara, começando-se pela

caracterização do caso de estudo, seguida da avaliação do potencial do CTR para reduzir o volume

de descargas directas, por aplicação dum método expedito, e encerra-se com as principais

conclusões.

Para realizar esta avaliação do potencial do CTR foi necessário recolher e tratar informação cadastral

do sistema de drenagem de Lisboa, tendo uma equipa elaborado a partir dela um modelo da rede de

drenagem no programa SWMM, que poderá ser utilizado para estudos de simulação futuros. A

informação cadastral foi cruzada e complementada com outras fontes como o PGDL e documentos

do LNEC, tendo-se verificado a existência de alguns erros cadastrais e situações dúbias que só

podem ser validadas in situ, tal como inclinações negativas em colectores. A entidade gestora do

sistema de drenagem de Lisboa, a SIMTEJO, incorporou posteriormente esse modelo em SWMM

para desenvolver estudos de simulação.

Para o desenvolvimento do caso de estudo teve-se em consideração a informação constante no

PGDL, nomeadamente no que se refere à análise o desempenho do sistema de drenagem, com

identificação dos principais problemas e proposta de soluções alternativas, bem como os principais

colectores aí identificados que constituem a rede conceptual modelada (colectores com diâmetro

superior a 600 mm) e infra-estruturas associadas.

Grande parte dos investimentos previstos no PGD de Lisboa concentram-se no sistema de Alcântara,

o que se deve em grande parte ao facto de haver muitas zonas antigas da cidade abrangidas pelo

mesmo, que são problemáticas e carecem de reabilitação (EMARLIS, 2007b). Muitos eventos de

precipitação provocam entrada em carga dos colectores e afluência de caudal à ETAR superior à sua

capacidade. Há um elevado risco de inundação dalgumas estações elevatórias e registam-se

problemas de paragem das mesmas durante eventos de precipitação. As alterações climáticas

surgem como um novo problema pois provocam a subida dos níveis de maré nas frentes ribeirinhas

(Póvoa, et al., 2011).

A SIMTEJO, entidade gestora do sistema de drenagem de Lisboa, tinha necessidade de inteligência

artificial que permitisse a gestão dos sensores, devidamente integrada com modelos matemáticos

como ferramenta de apoio à decisão (Póvoa, et al., 2011). Tal está a ser solucionado através dum

sistema SCADA, recentemente desenvolvido para a bacia de Alcântara, constituído por um sistema

de alerta em tempo real de inundações e descargas directas, que fornece informação

atempadamente à entidade gestora e aos serviços de protecção civil (Matos, et al., 2014). Este

sistema possui uma plataforma de consulta em tempo real dos dados de monitorização e um

subsistema de previsão do comportamento do sistema de drenagem apoiado por simulação integrada

de modelos matemáticos da rede de drenagem, ETAR e meio receptor, com base nas previsões

meteorológicas das próximas 48 h.

O sistema de monitorização possui 30 medidores de caudal na bacia de Alcântara e 6 na ETAR, 4

udómetros e 3 medidores da qualidade da água através de espectrofotometria UV-Vis (dois na ETAR

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e um no estuário, perto do principal descarregador de Alcântara). Existe ainda um limnímetro numa

zona da Baixa frequentemente sujeita a inundações.

O modelo de simulação tem capacidade de modelar a sedimentação na rede através dum modelo

determinístico, bem como SST, CQO e CF na ETAR, através dum modelo semi-empírico. No estuário

é modelada a contaminação microbiológica (CF e E. Coli). Assim, as simulações permitem estimar os

volumes e cargas poluentes das descargas directas, e modelar a qualidade da água em todo o

sistema de drenagem.

A informação de monitorização disponibilizada em tempo real e as resultantes previsões do

comportamento do sistema de drenagem simuladas permitem aos gestores tomar decisões

importantes sobre o controlo das estações elevatórias e ETAR, com vista a minimizar as inundações,

descargas directas e custos operacionais das estações elevatórias (Matos, et al., 2014).

6.2. Caracterização do caso de estudo

A bacia do Terreiro do Paço pertence à zona baixa do sistema de drenagem do concelho de Lisboa e

ao sistema de Alcântara (ver Figura 39). A rede da bacia de Alcântara tem cerca de 81,2 km de

colectores, sendo 60% da rede unitária e o restante do tipo pseudo-separativo ou separativo. A rede

de drenagem apresenta uma grande variedade de tipos de secção, idades e materiais.

Figura 39 – Bacias do sistema de drenagem de Alcântara, zonas alta e baixa e principais frentes de

drenagem da zona baixa (fonte: (Salgado, 2013)) (à esquerda) e Rede conceptual da frente de drenagem

do Terreiro do Paço-Alcântara elaborada em SWMM (à direita)

As águas residuais da bacia do Terreiro do Paço são recolhidas por um interceptor até à estação

elevatória das Agências donde são enviadas para a ETAR de Alcântara. A bacia divide-se nas sub-

bacias J, L, M1, KM e KJ (ver Figura 39), servindo cerca de 100 000 habitantes numa área de

11,60 km2, a que corresponde uma densidade populacional de 8 620 hab/km

2. Em 2010, a SIMTEJO

concluiu um conjunto de obras de ampliação e beneficiação desta parte do sistema de drenagem, que

permitiram a intercepção dos efluentes de tempo seco transportados pelos colectores unitários da

J

L

M1

KJ KM

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Rua do Ouro, Rua Augusta e Rua da Prata, de modo a eliminar as descargas directas para o rio Tejo

em tempo seco ( (Salgado, 2013), (EMARLIS, 2007b)).

A rede conceptual da bacia J definida no PGD de Lisboa tem cerca de 8,3 km de colectores (a rede

total tem uma extensão de 54 km) e serve aproximadamente 18 000 habitantes, numa área de

250 ha. A gama de diâmetros mais comum é de 1 a 2 metros. Há dois colectores principais em

paralelo ao longo da Av. da Liberdade, que convergem na R. 1º de Dezembro, percorrendo a R. do

Ouro até à câmara de válvulas de maré da R. do Ouro, no Terreiro do Paço. Um outro colector

principal percorre a R. de Santa Marta, R. das Portas de Santo Antão e R. Augusta até à câmara de

válvulas de maré da R. Augusta e da R. da Prata, no Terreiro do Paço. Esta bacia possui colectores

em mau estado de conservação e com problemas hidráulicos. Na R. das Pretas é frequente haver

inundações devido a drenagem superficial insuficiente. Segundo um estudo apresentado em

(EMARLIS, 2007a), para um período de retorno de 10 anos, há entrada em carga dos colectores da

R. de Santa Marta, R. Portas de Santo Antão e Praça D. Pedro IV. Além disto um troço tem

velocidade inferior à regulamentar e 50% dos colectores têm velocidades elevadas (num troço

atingem-se 8 m/s).

A rede total da bacia L tem cerca 80 km de colectores e a rede conceptual cerca de 4,6 km (ver

Figura 39), que servem uns 58 400 habitantes numa área de 347 ha, sendo a gama de diâmetros

mais frequente de 400 a 600 mm. O colector principal tem origem na Calçada Arroios, passa pelo

Martim Moniz e pela R. da Prata, sendo interceptado pela câmara de válvulas de maré da R. Augusta

e R. da Prata. Regista-se a ocorrência de problemas de inundações frequentes na Praça da Figueira,

resultantes do estrangulamento aí existente e da falta de capacidade de transporte do colector a

jusante. Isto motivou, no âmbito do PGDL, o estudo da criação dum reservatório a montante do

Martim Moniz, de modo a que os efluentes não excedessem a capacidade de transporte a jusante

(EMARLIS, 2007a), e a proposta da construção dum túnel de desvio de caudal (ver Figura 39) com

início no Martim Moniz até ao Tejo, na zona de Santa Apolónia da bacia KM, passando ao longo da

R. dos Cavaleiros e Largo do Terreirinho, seguindo pela Calçada de Santo André até ao Largo

Rodrigues Faria, e depois pela R. Museu de Artilharia, R Jardim do Tabaco, Beco da Praia da Galé e

Av. Infante D. Henrique (Câmara Municipal de Lisboa, 2008a). O túnel teria um diâmetro de 2,5 m,

declive de 0,4 a 0,5% e capacidade para um caudal de 15 m3/s, suficiente para evitar inundações nas

secções a jusante da bacia L. Esta obra seria uma das mais onerosas das previstas no PGDL,

estimando-se um custo de 27,3 M€. A solução do reservatório teria um custo de 9 M€ e seria

implantada no Largo do Intendente, em paralelo à rede, a 18 m de profundidade e com uma

capacidade de 22 800 m3, que garante o controlo de cheias com períodos de retorno de até 10 anos

(EMARLIS, 2007b). A solução do túnel, apesar de mais onerosa e complexa, tem a vantagem de

solucionar os elevados caudais afluentes ao Terreiro do Paço, não interferir com o escoamento da

rede actual, não apresentar impactos sociais significativos e não ter custos de exploração (EMARLIS,

2007b). A solução do reservatório tem vantagens ambientais e hidráulicas, contudo escasseia espaço

para a sua implantação, suscitando receio pela estabilidade dos edifícios vizinhos e tem custos de

exploração associados à necessidade de bombagem. Por estas razões, o PGDL considera preferível

a solução do túnel (Câmara Municipal de Lisboa, 2008a).

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Figura 40 - Traçado proposto do túnel de desvio de caudal da bacia L para a bacia KM (fonte: (Câmara

Municipal de Lisboa, 2008a))

O colector principal recebe ainda os efluentes de dois troços, um com origem na Praça do Chile e que

percorre a R. António Pedro, e outro que drena a Av. Almirante Reis e intercepta o colector principal

no Martim Moniz. Para um período de retorno de 10 anos, os colectores da R. de Arroios, R.

Regueirão dos Anjos, Praça da Figueira e Martim Moniz entram em carga. Além disso, no Martim

Moniz a velocidade é inferior ao limite legal e em 50% da rede excede-se a velocidade máxima (em

dois colectores atinge-se 8 m/s) (EMARLIS, 2007a).

Os colectores da R. do Ouro, R. da Prata e R. Augusta são interceptados perpendicularmente por

colectores secundários de diferentes secções e materiais, constituindo uma rede emalhada. A rede

de drenagem da Baixa é constituída por saiméis pombalinos, de pedra, em forma de U invertido e

com soleira plana (EMARLIS, 2007a).

Existem quatro secções de monitorização, instaladas nos colectores da R. Augusta, Praça da

Figueira, R. do Ouro (junto ao Rossio) e no cruzamento entre a R. do Ouro e a R. de Santa Justa.

Nas duas primeiras mede-se o caudal e o nível da água, havendo um dispositivo de armazenamento

de dados e um sistema de transmissão de dados via GSM.

A rede das bacias J e L é unitária e serve uma área urbana com alto grau de impermeabilização.

A bacia M1 tem apenas 46,3 ha e serve 7 800 habitantes através duma rede unitária com dois

colectores principais afluentes à bacia K. A rede tem uma extensão total de cerca de 12,7 km, sendo

a gama de diâmetros mais comum de 400 a 600 mm. Os colectores são de betão, em geral com

secção circular, e com razoável estado de conservação e funcionamento. Existe um conjunto de

câmaras de desvio de caudal e descarregadores instalados em zonas fora da influência da maré e

dotados de válvulas do tipo vórtice, que limitam os caudais desviados a um determinado valor. A rede

a jusante transporta os caudais domésticos até ao Terreiro do Paço através de duas estações

elevatórias munidas de válvulas reguladoras do caudal e uma delas tem um by-pass (Câmara

Municipal de Lisboa, 2008a). Estas são as estações elevatórias do Terreiro do Trigo e da Estação

Fluvial, representadas na Figura 41 (EE TT e EE, respectivamente), onde se representa também o

sistema interceptor nas bacias KJ e KM.

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As bacias KJ e KM recebem os colectores principais das bacias a montante (J, L e M1,

respectivamente), sendo em geral de construção em betão recente e com funcionamento razoável.

Para o período de retorno de 10 anos, há entrada em carga de colectores nas bacias M1, KJ e KM,

mas não se excedem limites de velocidade (EMARLIS, 2007a).

Figura 41 - Representação esquemática, em planta, do sistema interceptor Terreiro do Paço-Alcântara,

com indicação das principais estruturas nas bacias KJ e KM (adaptada de (Urban Water, 2014))

A câmara de válvulas da R. do Ouro que recebe os caudais da bacia J provenientes do colector da

Av. da Liberdade (ver Figura 42), possui três compartimentos e um volume de 350 m3. No primeiro,

desvia-se o caudal de tempo seco para o interceptor até à estação elevatória das Agências. No

segundo, existem duas válvulas de maré do tipo bico de pato, circulares com 1,8 m de diâmetro

nominal, junto à soleira da câmara, e duas válvulas de maré rectangulares de batente, junto à

cobertura e à parede de separação com o primeiro compartimento. No terceiro compartimento existe

uma válvula de controlo de caudal que permite variar o caudal desviado até duas vezes o caudal de

ponta de tempo seco.

A câmara de válvulas da Rua Augusta e Rua da Prata (ver Figura 42) recebe os efluentes do colector

da Rua das Portas de Santo Antão (bacia J) e da Avenida Almirante Reis (bacia L), tem uma

organização semelhante à da câmara anterior mas maior volume (492 m3). A parede de separação

entre o primeiro e segundo compartimentos tem doze válvulas de maré, sendo seis de batente,

instaladas junto à cobertura da câmara, e seis de bico de pato, juntas à soleira. No terceiro

compartimento existe uma válvula de controlo de caudal. As válvulas de batente, junto à cobertura

das câmaras, foram instaladas para eventual mau funcionamento das válvulas de bico de pato,

possibilitando ainda maximizar da secção transversal do escoamento.

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A estação elevatória das Agências (EE AG na Figura 41) eleva as águas residuais da frente de

drenagem Terreiro do Paço-Alcântara, encaminhando-as para a ETAR de Alcântara. Possui quatro

grupos electrobomba accionadas automaticamente em função dos níveis nos poços de bombagem.

Em tempo seco (assim considerado para níveis mais baixos nos poços de bombagem) as águas são

elevadas alternadamente por duas bombas, com capacidade para variar o caudal entre 0,2 m3/s a

0,5 m3/s. Em tempo húmido (assim considerado para níveis mais elevados nos poços de bombagem),

as duas electrobombas funcionam em simultâneo para caudais até 1 m3/s. A partir desse valor entram

em acção as duas outras electrobombas, sendo o caudal que estas elevam enviado para um

emissário submarino que descarrega no rio Tejo. O caudal de ponta de tempo seco da bacia de

drenagem do Terreiro do Paço é cerca de 0,55 m3/s. Contudo, em tempo húmido, para precipitações

com período de retorno relativamente pequeno, é normal a afluência de caudais superiores a 30 m3/s,

valor que excede largamente os 6,6 m3/s de capacidade da ETAR em tempo húmido, o que implica a

necessidade de utilizar volumes de armazenamento na rede para evitar descargas directas

(SIMTEJO, 2014). As câmaras de válvulas foram projectadas para efectuar o desvio de quatro vezes

o caudal de ponta de tempo seco, i.e. 2,2 m3/s, mas a estação elevatória das Agências tem

capacidade para elevar apenas metade desse caudal, sendo o restante descarregado no rio Tejo

após um processo de gradagem que visa minimizar a poluição provocada pelas primeiras chuvadas,

através dum curto emissário submarino (ver Figura 41), assegurando maior diluição da descarga.

Ainda assim, as descargas de águas residuais domésticas que ocorrem a nível do sistema de Lisboa

em tempo seco apresentam elevadas concentrações de poluentes (em particular de SST, CQO,

CBO5 e coliformes fecais), prejudicando mais a qualidade da água do estuário do Tejo que as

descargas que ocorrem em tempo de chuva, apesar de em determinadas circunstâncias, no que se

refere sobretudo aos SST e CF, a contribuição das escorrências pluviais ser significativa (EMARLIS,

2007a).

Figura 42 - Câmaras de válvulas de maré da R. do Ouro (esquerda) e da R. Augusta e R. da Prata (direita)

(fonte: (Salgado, 2013))

O meio receptor da rede estudada é parte da margem direita do estuário do rio Tejo que, ao contrário

da margem esquerda na mesma zona, não está classificada como sensível pelo Decreto-Lei n.º

198/2008 (Diário da República, 2008), havendo apenas interesse em assegurar as condições de

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qualidade da água para actividades de recreio com contacto indirecto (por exemplo, vela e pesca

desportiva).

O estuário está sujeito à influência da maré, o que se reflecte na operação do sistema de drenagem,

tornando necessária a utilização de válvulas de maré nas infra-estruturas implantadas a cotas sob a

influência da maré, de forma a evitar a afluência de caudais estuarinos no sistema de drenagem.

Apesar da elevada capacidade de diluição do estuário (a este propósito note-se que as plumas de

descargas pontuais dispersam rapidamente, sendo apenas claramente identificáveis as de origem

fluvial), a sua capacidade de escoar os nutrientes que recebe é baixa (o tempo de residência ronda

as 3 semanas) (EMARLIS, 2006).

6.3. Potencial do CTR em minimizar descargas directas

Tendo em conta os problemas da área em estudo descritos no Capítulo 6.1. resta determinar a

melhor forma de os resolver. O PGDL propõe apenas soluções de reabilitação, construção de

estruturas como o reservatório do Intendente e o túnel do Martim Moniz, e soluções de controlo na

origem (que admite serem pouco eficazes). Interessa então avaliar o potencial do CTR em eliminar os

problemas de inundações e descargas directas, implicitamente assumidos prioritários no PGDL. Não

sendo aqui possível desenvolver um estudo completo desta matéria, pode aplicar-se o método

expedito de avaliação do potencial do CTR, apresentado no Capítulo 4.3.1, que consiste na utilização

da Tabela 5. Nessa tabela estão presentes vários critérios simples de avaliação do potencial de

controlo, correspondentes a características da bacia de drenagem, produção de águas residuais,

sistema de drenagem, comportamento da rede de drenagem, meio receptor e ETAR. Para cada

critério faz-se uma avaliação qualitativa ou quantitativa e atribui-se uma pontuação. A soma destas

pontuações permite ter uma ideia se se justifica implementar um sistema de CTR. Segue-se a

explicação da pontuação atribuída a cada critério para o cenário P, correspondente à situação

presente, e para dois cenários futuros: cenário T, correspondente ao cenário com o túnel proposto no

PGDL, e o cenário F, em que além do túnel são feitas outras alterações pequenas ao sistema como a

implementação de actuadores nos colectores para os utilizar como volumes de armazenamento e um

desvio que liga o fim do túnel ao interceptor de Santa Apolónia. Nalguns casos em que a pontuação é

indiferente do cenário considerado, não se lhes faz referência. Na Tabela 8 apresenta-se a pontuação

atribuída a cada critério para ambos os cenários.

A.1. No cenário P, o colector principal da bacia L tem um comprimento de 3,2 km e o da bacia J tem

cerca de 2,9 km, pelo que se considerou o comprimento do colector principal como médio. Nos

cenários T e F o túnel tem cerca de 2 km, não alterando a pontuação.

A.2. A zona estudada tem uma grande densidade de construção, não havendo possibilidade de

desenvolvimentos significativos até ao horizonte de projecto. Há alguma desertificação de habitações

antigas, o que pode resultar em menor produção de águas residuais domésticas no futuro. Contudo, é

difícil prever a evolução desta situação pois têm-se tomado medidas de incentivo à reabitação destas

zonas. Considerou-se que a situação se manterá estável e sem desenvolvimentos, o que está

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também de acordo com o PGDL que prevê a estabilização da população de Lisboa (Câmara

Municipal de Lisboa, 2008b).

B.1. Há falta de dados para poder fazer uma boa caracterização da variação espacial da poluição nas

bacias de drenagem de Lisboa, contudo os dados apresentados em (Queiroz, 2012) apontam para

uma relativa homogeneidade dos parâmetros da poluição em Lisboa. Assim decidiu-se atribuir

pontuação mínima neste critério.

B.2. Apesar de existirem troços de rede separativa, eles encontram-se essencialmente no Terreiro do

Paço e zonas vizinhas recentemente reabilitadas, e acabam por ser misturados com o caudal

predominante da rede unitária, pelo que a existência de troços separativos não deve ser considerada

na avaliação deste critério. Ainda assim, verifica-se uma variabilidade temporal e espacial da

produção média para as águas residuais e alta para as águas pluviais. Como estas últimas

constituem uma fracção do caudal muito maior quando há precipitação, atribuiu-se pontuação

máxima neste critério.

C.1. Nas câmaras de válvulas do Terreiro do Paço há um total de 16 válvulas de maré e duas

válvulas reguladoras de caudal, que podem ser utilizadas para regular o caudal descarregado.

Existem ainda três estações elevatórias: a do Terreiro do Trigo, a da Estação Fluvial e a das

Agências. As duas primeiras têm três electrobombas e a última tem quatro, e todas têm válvulas

reguladoras de caudal. Estes actuadores pecam por estar demasiado concentrados na mesma zona

da rede, o que limita o efeito do seu controlo no total da zona analisada. Se futuramente se utilizarem

colectores a montante para armazenar caudal através da introdução de válvulas, o potencial do CTR

será maior. Mesmo assim, como o número de actuadores excede 4, considerou-se a pontuação

máxima neste critério.

C.2. De acordo com a informação recolhida no cadastro e PGDL, os colectores principais que servem

grandes áreas (neste caso os das bacias J e L) têm inclinações médias íngremes, pelo que se

atribuiu a pontuação mínima a este critério para o cenário P. Nos cenário T e F, o túnel tem declive

médio mas como é apenas um dos principais colectores atribuiu-se pontuação entre a média e a

mínima.

C.3. Nos cenários P e T existem várias malhas fechadas na Baixa, contudo a sua extensão é

pequena e estão numa área pequena, pelo que é questionável o proveito que se pode tirar delas. Por

este motivo, atribuiu-se pontuação média a este critério. No cenário F, o túnel proposto no PGDL

pode ser munido de actuadores de forma a servir de volume de armazenamento e passar a ter um

desvio para o interceptor que encaminha caudal para a ETAR, junto de Santa Apolónia. Isto permitiria

uma grande flexibilização do escoamento ao aproveitar o tempo de percurso no túnel e a sua

capacidade de armazenamento para evitar descargas directas e inundações noutras partes da rede.

Assim, atribuiu-se pontuação máxima neste cenário.

C.4. Podem considerar-se análogos a reservatórios os volumes de armazenamento existentes na

estação elevatória das agências, câmara de carga do emissário e câmaras das válvulas de maré,

pelo que se atribuiu pontuação máxima neste critério. Nos cenário T e F, o túnel previsto no PGDL

terá um volume de cerca de 9 800 m3 e um declive médio, podendo ser utilizado para

armazenamento, aumentando ainda mais o potencial, embora a pontuação já não se altere. No

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cenário F deve considerar-se que em todas as bacias existem colectores com volume superior a

50 m3, sendo que alguns têm um volume muito elevado. O colector da R. Arroios tem um volume de

cerca de 1 700 m3; o da R. António Pedro tem 4 600 m

3; o da R. da Prata tem 18 800 m

3; o do lado

Este da R. Palma tem 1 800 m3; o da R. Augusta tem 10 000 m

3 e o da R. Conde Redondo tem

145 m3. Todos os colectores mencionados têm troços muito íngremes que tornam mais difícil e

onerosa a sua utilização como volumes de armazenamento, contudo este factor já foi tido em conta

no critério C.2. A pontuação mantém-se a máxima.

C.5. Existem oito descarregadores na zona analisada, pelo que se atribuiu pontuação máxima neste

critério. Nos cenários T e F existe mais um descarregador, correspondente ao túnel.

C.6. No cenário P existe um total de cerca de 2 200 m3 de volume disponível para armazenamento,

distribuído pela estação elevatória das agências, câmara de carga do emissário e câmaras de

válvulas de maré no Terreiro do Paço, atribuindo-se pontuação mínima a este critério. Nos cenários T

e F o túnel proposto no PGDL adicionaria 9 800 m3 de volume de armazenamento, passando a

pontuação à máxima. No cenário F o potencial pode ser ainda maior tendo em conta que nos

colectores principais da rede existem cerca de 40 000 m3, dos quais uma porção poderá ser utilizada

para armazenamento ao instalar válvulas e cascatas nos colectores.

C.7. No cenário P, com os 2 200 m3 de armazenamento disponíveis, para ter um volume de

armazenamento específico de 20 m3/ha, a zona estudada teria de ter uma área impermeabilizada de

apenas 15%, o que está longe da realidade, pelo que neste cenário a pontuação neste critério é

mínima. No cenário T, considerando mais o volume de armazenamento do túnel, esse valor subiria

para 86% o que já estará um pouco acima do valor real – note-se que esta zona tem um coeficiente

do método racional entre 0,7 a 0,85. Contudo, neste cenário a área impermeabilizada teria de ser

inferior 43% para se obter uma pontuação máxima neste critério, pelo que a pontuação é média.

Seriam necessários entre 7 300 a 11 500 m3 de armazenamento activado nos colectores,

respectivamente para percentagens de impermeabilização entre 70 a 85%, para obter pontuação

máxima neste critério, o que parece possível obter nos cerca de 40 000 m3 existentes nos colectores

principais. Assim atribuiu-se pontuação máxima no cenário F.

C.8. Há três interceptores afluentes à ETAR de Alcântara (um que vem de Benfica, outro do Terreiro

do Paço/Cais do Sodré e outro de Algés), pelo que se atribuiu pontuação máxima neste critério.

D.1. Em todas as bacias analisadas há várias zonas onde ocorrem inundações, nalgumas mesmo

com precipitações de baixo período de retorno, nomeadamente na R. das Pretas, R. de Santa Marta,

R. Portas de Santo Antão, Praça D. Pedro IV, Praça da Figueira, R. de Arroios, R. Regueirão dos

Anjos, Terreiro do Paço. No Largo Martim Moniz também se verificam inundações mas devem-se

essencialmente ao estrangulamento aí existente, situação que deve ser resolvida pela sua eliminação

embora o CTR também possa dar uma ajuda. Assim, considerou-se pontuação máxima neste critério.

D.2. Apesar de não haver reservatórios podem considerar-se como tal os volumes de

armazenamento existentes na estação elevatória das Agências, câmara de carga do emissário e

câmaras de válvulas de maré. São volumes pequenos para os caudais envolvidos, especialmente em

tempo de chuva, sendo a utilização dos seus volumes de armazenamento irregular. Tendo em conta

que o volume totalizado por estes elementos é inferior ao dum reservatório típico atribuiu-se apenas

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111

pontuação média neste critério. Não havendo previsão de construção de mais reservatórios nem

informação sobre as alterações sobre a regularidade da sua utilização com alterações futuras,

utilizou-se a mesma pontuação em todos os cenários.

D.3. Os descarregadores têm um comportamento não uniforme significante, há descargas não só em

tempo húmido como também em tempo seco e o caudal descarregado varia com o nível a montante.

Não havendo informação sobre os efeitos das alterações futuras na rede sobre o comportamento dos

descarregadores, atribuiu-se a mesma pontuação em todos os cenários.

E.1. Só existe um meio receptor para as bacias estudadas (o rio Tejo) pelo que se considerou a

pontuação mínima neste critério.

E.2. O mesmo que E.1.

E.3. Como referido no Capítulo 6.2. o meio receptor não está classificado como sensível, pelo que se

atribuiu pontuação mínima a este critério.

F.1. Não tendo acesso à norma ATV-DVWK-A 198E para utilizar efectuar o cálculo para este critério,

recorreu-se à consideração de que a capacidade da ETAR em tempo húmido é de 6,6 m3/s, mas,

como referido no Capítulo 6.2, em tempo de chuva mesmo uma precipitação com pequeno período

de retorno faz com que se exceda largamente capacidade da ETAR, chegando caudais na ordem dos

30 m3/s ao Terreiro do Paço. Nos cenários futuros, mesmo a existência de maior volume de

armazenamento não será suficiente para reduzir este caudal abaixo do caudal admissível à ETAR,

pois a capacidade de armazenamento esgotar-se-á rapidamente. Além disso ainda há que considerar

as contribuições das outras duas frentes de drenagem para o afluente à ETAR. Assim considerou-se

pontuação mínima neste critério em todos os cenários.

F.2. A ETAR de Alcântara tem uma linha de tempo seco e outra de tempo húmido, pelo que não

deverá ser muito sensível a picos hidráulicos. Quanto a picos de poluentes não se dispõe de

informação. Considerou-se pontuação mínima neste critério em todos os cenários.

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112

Tabela 8 - Avaliação expedita do potencial do CTR na bacia do Terreiro do Paço

Critério Pontuação (valor entre parêntesis)

A. Bacia de Drenagem Cenário

P Cenário

T Cenário F

A.1 Bacia drenagem (comprimento do colector principal) Médio (1)

A.2 Diferença entre a área de desenvolvimento actual e a do horizonte de projecto

Nenhuma (0)

B. Produção de águas residuais

B.1 Áreas com maior poluição no escoamento superficial Nenhuma (0)

B.2

Variabilidade temporal e espacial da produção de águas residuais (e.g. produtores de águas residuais altamente poluídas, ligações provenientes de sistemas separativos)

Alta (2)

C. Rede de drenagem

C.1 Número de actuadores (e.g. válvulas) Vários (4)

C.2 Declive de colectores principais que servem grandes áreas

Íngreme > 0,5% (0) Médio a

íngreme (1)

C.3 Malhas fechadas do sistema de drenagem 1 – 2 (2) Várias (4)

C.4 Número de reservatórios (reservatórios e colectores com capacidade de armazenamento ≥ 50 m

3)

>4 (4)

C.5 Número de descarregadores > 6 (4)

C.6 Volume de armazenamento total (reservatórios e colectores com capacidade de armazenamento)

2000 – 5000 m3 (2)

> 5000 m3

(4)

C.7 Volume de armazenamento específico (razão entre o volume de armazenamento total e a área impermeável)

< 20 m

3/ha (0)

20 - 40 m

3/ha (2)

> 40 m3/ha

(4)

C.8 Número de interceptores afluentes à ETAR > 2 (3) D. Comportamento da rede de drenagem

D.1 Áreas de inundação localizadas Várias (2)

D.2 Número de reservatórios com utilização irregular 1 (2)

D.3 Variabilidade do caudal descarregado Significativa (4) E. Meio receptor

E.1 Diferenças de capacidade de transporte dos meios receptores

Nenhumas (0)

E.2 Diferenças de capacidade de diluição nos meios receptores

Insignificantes (0)

E.3 Sensibilidade do meio receptor Menos sensível (0)

F. ETAR

F.1 Caudal afluente admissível de águas residuais de redes unitárias

<fww,QCW QWW,aM + Qinf,aM (0)

F.2 Sensibilidade da ETAR a picos hidráulicos ou de poluentes

Menos sensível (0)

PONTUAÇÃO TOTAL: 30 32 39

Pontuação:

0-24 Possivelmente não se justifica implementar controlo 25-35 Possivelmente justifica-se implementar controlo > 35 Justifica-se implementar controlo

De acordo com os critérios apresentados no final da Tabela 8, as pontuações totais obtidas significam

que é provável justificar-se a implementação de CTR nos cenários presente (P) e futuro com o túnel

proposto no PGDL (T). No cenário futuro (F), em que além do túnel se incluem actuadores para criar

mais volumes de armazenamento na rede e se constrói um desvio do túnel para o interceptor em

Santa Apolónia, o método indica que se justifica implementar CTR.

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113

6.4. Principais conclusões

A conclusão de que se pode justificar utilizar CTR na área estudada pode parecer surpreendente

tendo em conta a falta de volumes de armazenamento na zona analisada e os problemas de

inundações e descargas directas verificados. Contudo, esta avaliação não se centra apenas na

resolução destes problemas, mas no conjunto de problemas resolúveis na globalidade do sistema, ou

seja, rede de drenagem, ETAR e meio receptor.

De qualquer forma, o próximo passo lógico é aplicar métodos detalhados de determinação do

potencial do CTR, como o MBC ou o MBU, e, caso se mantenha uma indicação de bom potencial,

estudar mais aprofundadamente a implementação dum sistema de CTR centrado na resolução dos

problemas prioritários. Caso o seu desempenho não seja suficientemente bom, deve-se então

estudar a sua conjunção a soluções estruturais, especialmente a construção de reservatórios. Em

tempo de chuva é certo que haverá situações frequentes em que a inexistência de maior volume de

armazenamento resultará em descargas directas pois, como se viu, o caudal afluente ao Terreiro do

Paço excede largamente a capacidade da ETAR e esta é apenas uma das três frentes de drenagem

que a ela afluem. O caudal mencionado, 30 m3/s é capaz de encher 54 000 m

3 em apenas

30 minutos, volume superior ao que existe disponível actualmente e mesmo ao que se teria com a

construção do túnel e aproveitamento da totalidade do volume nos colectores principais.

Dois locais potenciais para a construção de reservatórios são o Parque Eduardo VII e o Campo

Mártires da Pátria. O primeiro tem uma grande área disponível e está perto da cabeceira da bacia J,

podendo ser útil para prevenir inundações e descargas de excedentes a jusante. O segundo situa-se

na bacia L, um pouco a montante do Martim Moniz, podendo também ser utilizado resolver os

mesmos problemas ocorrentes nessa zona. Investigou-se ainda a possibilidade de construção de

reservatórios em zonas de prédios devolutos que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) tencionasse

reabilitar ou transformar em espaços verdes, contudo não são conhecidos tais planos. Sabe-se

apenas que toda a zona estudada faz parte da área de reabilitação urbana definida pela CML.

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114

7. Síntese, conclusões e recomendações

A relevância da aplicação de CTR a sistemas de drenagem urbanos é actualmente indiscutível. Além

da capacidade do CTR para resolver os problemas típicos destes sistemas, é frequente justificar-se a

sua aplicação como meio de redução do investimento necessário em soluções estruturais, como a

construção de reservatórios, para atingir as mesmas melhorias. Como ilustrado pelos exemplos de

aplicação apresentados e literatura consultada, a redução de custos atingível é muito variável, sendo

habituais reduções entre 30% a 60%, existindo mesmo casos em que a aplicação de CTR reduz a

quase totalidade do investimento necessário para obtenção das melhorias desejadas. As melhorias

de desempenho também oscilam muito, havendo estudos em que certas formas de CTR são

descartadas por não serem capazes de introduzir melhorias e casos em que o desempenho é

francamente incrementado.

A aplicação de CTR tende ainda a ser impulsionada pelas crescentes exigências legais impostas aos

sistemas de drenagem, com vista à protecção do ambiente, e pela progressiva agravação dos

problemas neles verificados devido à concentração das populações em grandes aglomerados

urbanos, mais susceptíveis a inundações devido à impermeabilização das bacias de drenagem. As

soluções convencionais tendem a ser ineficazes e ineficientes, especialmente quando se procura

controlar directamente a qualidade do meio receptor e optimizar o funcionamento das ETAR. O CTR

potencia uma gestão optimizada orientada para estes aspectos, frequentemente reduzindo os custos

associados.

Muitos dos problemas antes associados à utilização do CTR já foram ultrapassados, verificando-se

cada vez mais o surgimento de soluções que facilitam a sua aplicação. Os principais problemas

remanescentes prendem-se com sistemas de CTR de maior complexidade, como os integrados,

baseados em poluição ou imissão e automáticos. Contudo, a aposta em investigação nestas áreas

promete desenvolvimentos importantes. Um exemplo disso é a aplicação da espectrofotometria como

forma eficaz de monitorização em tempo real de parâmetros da qualidade da água (Brito, 2012). Além

disso, os benefícios económicos e de desempenho dos sistemas de drenagem obtidos em inúmeros

exemplos de aplicação demonstram a imperatividade das empresas gestoras vencerem a inércia de

implementar sistemas de CTR, mesmo que nas suas formas mais simples (que até podem ser as

mais indicadas).

O CTR pode ser utilizado com vários objectivos, sendo os mais comuns a minimização do volume de

descargas directas, ocorrência de inundações e poluição do meio receptor. Além destes objectivos, o

CTR é também utilizado como forma de optimização do funcionamento das ETAR e minimização dos

custos de manutenção e de exploração. Estes e outros objectivos são potenciados pela capacidade

do CTR em controlar dinamicamente o escoamento na rede de drenagem através de actuadores,

com base na informação recolhida por sensores. Frequentemente os sistemas de CTR apoiam-se em

sistemas SCADA centralizados, que recebem e tratam os dados monitorizados e, com base em

simulações do sistema de drenagem em modelos computacionais, determinam as acções de controlo

a tomar nos actuadores para cumprir os objectivos de desempenho do sistema de drenagem. Alguns

dos sistemas de controlo incluem subsistemas de previsão meteorológica.

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115

A comparação dos vários tipos de CTR leva à conclusão que, embora haja uma lógica empírica de

aumento do potencial dos tipos de CTR com a quantidade e variedade de informação que incorporam

e, portanto, com a sua complexidade, não é possível a priori determinar qual o tipo de CTR mais

apropriado para solucionar os problemas dum sistema de drenagem. Tal tem de ser aferido com base

em estudos de simulação. As soluções mais simples têm as vantagens de serem mais fáceis de

desenvolver e menos onerosas, o que podem ser factores preferenciais para as entidades gestoras.

O processo de planeamento dum sistema de CTR, apresentado no Capítulo 4.2, mune as entidades

gestoras dum guia para abordarem esta questão, podendo adaptá-lo à sua realidade. A utilização de

modelos de simulação que não utilizam todos os termos das equações de Saint-Venant e utilização

de modelos simplificados através de relocação das fronteiras físicas e temporais, resultam em

abordagens eficazes para redução do tempo de computação das simulações, que formam parte

integral dos estudos de planeamento. Outro aspecto central deste processo é a avaliação do

potencial de CTR, que deve primeiro ser efectuada por um método expedito, como o de atribuição

duma pontuação com base em critérios de avaliação simples presentes numa tabela, apresentado no

capítulo 4.3.1. Decidindo-se prosseguir o estudo da aplicação do CTR, podem utilizar-se métodos

mais detalhados de avaliação do potencial do CTR, como os métodos da bacia única e da bacia

central.

No planeamento é necessário estudar e optar pelo tipo do algoritmo de CTR (online, offline ou misto)

a implementar e método de optimização a utilizar. O desenvolvimento offline de algoritmos de

controlo é computacionalmente mais rápido; permite considerar os efeitos de longo prazo do controlo;

possibilita a definição de estratégias em caso de falha do sistema de CTR e as decisões do sistema

são mais fáceis de entender, aumentando a sua aceitação pelos gestores. Contudo, o conjunto de

regras utilizado pode ser bastante complexo. O desenvolvimento online permite uma consideração

mais exacta do estado presente do sistema e calcular a decisão de controlo óptima para cada passo

temporal; é mais flexível e não requer o estabelecimento dum conjunto de regras, embora

frequentemente requeira simplificações significantes.

A aplicação do CTR reveste-se de várias dificuldades como a necessidade de séries longas de dados

de monitorização, investimento na rede de monitorização e transmissão de dados, conhecimento

profundo da informação cadastral e modelo computacional do sistema de drenagem; imprevisibilidade

das solicitações ao sistema; inexactidão dos sensores e necessidade de efectuar a sua manutenção;

comportamento complexo e altamente não linear dos sistemas de drenagem, que dificulta a sua

modelação; repartição das responsabilidades administrativas consoante a parte do sistema de

drenagem; morosidade e custo dos estudos de planeamento de sistemas de CTR; escassez de

algoritmos de CTR prontos a aplicar a qualquer sistema de drenagem e dificuldade da sua

concepção; limitação da capacidade dos programas de simulação em representar conceitos de CTR;

obtenção da aceitação do sistema de CTR pelos operadores e receio que o funcionamento incorrecto

do sistema de CTR cause problemas.

Apesar destas dificuldades, o CTR já é usado em inúmeros sistemas de drenagem a nível global. Um

exemplo de aplicação interessante é o do sistema de CTR de Barcelona, que permitiu reduzir em

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116

60% o investimento necessário em infra-estruturas para reduzir as descargas de excedentes,

inundações e poluição do meio receptor.

A aplicação dum método de expedito de avaliação do potencial do CTR ao caso de estudo da frente

de drenagem do Terreiro do Paço-Alcântara da cidade de Lisboa permitiu concluir que se justifica

estudar detalhadamente a implementação dum sistema de CTR. Assim sendo, devem seguir-se as

etapas de planeamento descritas no capítulo 4.2.1. O passo inicial de tais estudos seria aplicar

métodos detalhados de determinação do potencial do CTR, como o MBC ou o MBU, e, caso se

mantenha uma indicação de bom potencial, estudar mais aprofundadamente a implementação dum

sistema de CTR centrado na resolução dos problemas prioritários. Caso o seu desempenho não seja

suficientemente bom, deve-se então estudar a sua conjunção a soluções estruturais, especialmente a

construção de reservatórios. Note-se que tendo-se verificado que a afluência de caudal ao Terreiro do

Paço é capaz de exceder a capacidade da ETAR de Alcântara para períodos de retorno relativamente

baixos, e tendo em conta que esta é apenas uma das três frentes de drenagem que afluem a esta

ETAR, justifica-se estudar soluções que promovam o incremento de volumes de armazenamento. E

tal sucede independentemente do potencial do CTR pois, mantendo-se esse caudal, num curto

espaço de tempo esgota-se a capacidade de armazenamento existente na bacia do Terreiro do Paço

e mesmo a capacidade futura considerando as propostas do PGDL e a possibilidade de

armazenamento nos colectores.

Não havendo nenhuma indicação clara da necessidade de formas de CTR mais complexas (tal como

a utilização irregular de vários reservatórios), deve começar-se por estudar uma solução mais simples

de CTR local, possivelmente reactivo, baseado em volume e com foco na minimização das

inundações, cuja resolução é implicitamente assumida como prioritária no PGDL. Caso não se

encontre uma solução neste enquadramento, deve então proceder-se ao estudo de formas de CTR

cada vez mais complexas, até encontrar uma solução satisfatória. Note-se que soluções de CTR

global ou integrado exigem a consideração de toda a rede de drenagem de Lisboa, pelo que, antes

de estudar tais soluções, dever-se-ia reavaliar o potencial do CTR por um método expedito.

Naturalmente, este procedimento é aplicável a quaisquer outros casos de estudo de sistemas de

drenagem urbanos considerados relevantes para trabalhos futuros.

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Anexos

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Anexo A: Rede de drenagem actual e prevista de Barcelona

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