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CADERNO CRH, Salvador, v. 27, n. 71, p. 393-413, Maio/Ago. 2014 393 Aline Nogueira Menezes Mourão, Andréa Maria Silveira CONTROLE SOCIAL INFORMAL E A RESPONSABILIZAÇÃO DE JOVENS INFRATORES Aline Nogueira Menezes Mourão * Andréa Maria Silveira ** Explicações da criminalidade baseadas em teorias de controle social defendem que o enfra- quecimento dos laços sociais e a não internalização dos padrões morais favorecem o cometi- mento de crimes. O objetivo deste estudo foi verificar se jovens infratores que cumprem medi- das socioeducativas em meio aberto e já passaram, ou não, por medida de internação apresen- tam diferenças na intensidade em que estiveram submetidos a fatores que operam o controle social informal. Foi utilizado um survey aplicado a 243 jovens em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto em Minas Gerais, que compõem a amostra deste estudo. A metodologia de análise incluiu a estimação de modelos de regressão logística binomial. Os resultados apontaram que os socioeducandos que estão submetidos, de forma mais intensiva, a determinados fatores de controle social, apresentam menores chances de estarem em progres- são de medida, ou seja, de terem cumprido algum tipo de medida socioeducativa de internação no passado. PALAVRAS-CHAVE: Controle social. Juventude. Crime. INTRODUÇÃO A criminalidade urbana violenta, envolven- do principalmente jovens, aumentou de forma sig- nificativa no Brasil a partir do período que coinci- diu com o processo de redemocratização do país, ocorrido no final dos anos de 1970 e anos 1980 (Zaluar, 2007). Paralelamente, observou-se o cres- cimento de atividades relacionadas ao tráfico de drogas no país e na América Latina como um todo. Um retrato das consequências dessa situação é o fato de 57% dos homicídios cometidos na cidade do Rio de Janeiro, em 1991, estarem relacionados ao tráfico de drogas (Zaluar, 2004). Em Belo Hori- zonte, os homicídios aumentaram 301% entre 1990 e 2005, grande parte dos quais também relaciona- dos ao consumo e tráfico de drogas e quase sem- pre envolvendo jovens, quer como autores, quer como vítimas (Silveira, 2008). Essa situação engendrou sentimento de medo e insegurança, principalmente nas gran- des cidades e regiões metropolitanas, e uma cres- cente demanda por ordem, maior eficiência e dureza nas ações policiais tomou corpo em cer- tos segmentos. Entre outras parcelas da popula- ção, propagaram-se ideais de justiça social e de defesa dos direitos humanos daqueles que esta- riam, muitas vezes, à mercê do poder discricio- nário das polícias e das instituições de seguran- ça pública, incluindo os jovens em conflito com a lei. Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal N. 8069, de 13 de julho de 1990, apontou diretrizes fundamen- tais para o tratamento do público situado entre doze e dezoito anos de idade que comete uma infração, prescrevendo a aplicação de medidas socioeducativas que considerem a situação parti- cular desses cidadãos como pessoas em desenvol- * Mestranda em Criminologia na Universidade de Ottawa. 120 University Street, Social Sciences Building, room 14002, Ottawa, Ontario, Canada, K1N6N5. [email protected] ** Doutora em Ciências Humanas. Professora do Depar- tamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG. Pesquisadora do Centro de Estu- dos em Criminalidade e Segurança Pública da Universi- dade Federal de Minas Gerais – CRISP/UFMG. Av. Pres. Antônio Carlos, 6627 Unidade Administrativa III. Cep: 31270-901. Belo Horizonte – Minais Gerais – Brasil. [email protected]

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Aline Nogueira Menezes Mourão,Andréa Maria Silveira

CONTROLE SOCIAL INFORMAL E A RESPONSABILIZAÇÃO DEJOVENS INFRATORES

Aline Nogueira Menezes Mourão*

Andréa Maria Silveira**

Explicações da criminalidade baseadas em teorias de controle social defendem que o enfra-quecimento dos laços sociais e a não internalização dos padrões morais favorecem o cometi-mento de crimes. O objetivo deste estudo foi verificar se jovens infratores que cumprem medi-das socioeducativas em meio aberto e já passaram, ou não, por medida de internação apresen-tam diferenças na intensidade em que estiveram submetidos a fatores que operam o controlesocial informal. Foi utilizado um survey aplicado a 243 jovens em cumprimento de medidasocioeducativa em meio aberto em Minas Gerais, que compõem a amostra deste estudo. Ametodologia de análise incluiu a estimação de modelos de regressão logística binomial. Osresultados apontaram que os socioeducandos que estão submetidos, de forma mais intensiva, adeterminados fatores de controle social, apresentam menores chances de estarem em progres-são de medida, ou seja, de terem cumprido algum tipo de medida socioeducativa de internaçãono passado.PALAVRAS-CHAVE: Controle social. Juventude. Crime.

INTRODUÇÃO

A criminalidade urbana violenta, envolven-do principalmente jovens, aumentou de forma sig-nificativa no Brasil a partir do período que coinci-diu com o processo de redemocratização do país,ocorrido no final dos anos de 1970 e anos 1980(Zaluar, 2007). Paralelamente, observou-se o cres-cimento de atividades relacionadas ao tráfico dedrogas no país e na América Latina como um todo.Um retrato das consequências dessa situação é ofato de 57% dos homicídios cometidos na cidadedo Rio de Janeiro, em 1991, estarem relacionadosao tráfico de drogas (Zaluar, 2004). Em Belo Hori-zonte, os homicídios aumentaram 301% entre 1990

e 2005, grande parte dos quais também relaciona-dos ao consumo e tráfico de drogas e quase sem-pre envolvendo jovens, quer como autores, quercomo vítimas (Silveira, 2008).

Essa situação engendrou sentimento demedo e insegurança, principalmente nas gran-des cidades e regiões metropolitanas, e uma cres-cente demanda por ordem, maior eficiência edureza nas ações policiais tomou corpo em cer-tos segmentos. Entre outras parcelas da popula-ção, propagaram-se ideais de justiça social e dedefesa dos direitos humanos daqueles que esta-riam, muitas vezes, à mercê do poder discricio-nário das polícias e das instituições de seguran-ça pública, incluindo os jovens em conflito coma lei.

Nesse sentido, o Estatuto da Criança e doAdolescente (ECA), Lei Federal N. 8069, de 13de julho de 1990, apontou diretrizes fundamen-tais para o tratamento do público situado entredoze e dezoito anos de idade que comete umainfração, prescrevendo a aplicação de medidassocioeducativas que considerem a situação parti-cular desses cidadãos como pessoas em desenvol-

* Mestranda em Criminologia na Universidade de Ottawa.120 University Street, Social Sciences Building, room14002, Ottawa, Ontario, Canada, [email protected]

** Doutora em Ciências Humanas. Professora do Depar-tamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdadede Medicina da UFMG. Pesquisadora do Centro de Estu-dos em Criminalidade e Segurança Pública da Universi-dade Federal de Minas Gerais – CRISP/UFMG.Av. Pres. Antônio Carlos, 6627 Unidade AdministrativaIII. Cep: 31270-901. Belo Horizonte – Minais Gerais –Brasil. [email protected]

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vimento.1 As medidas socioeducativas caracteri-zadas pela não internação do adolescente, como aAdvertência, a Prestação de Serviço à Comunida-de (PSC) e a Liberdade Assistida (LA), são, segun-do o Estatuto, sempre preferíveis àquelas restriti-vas de liberdade. Essas prescrições do ECA sãocoerentes com a perspectiva de que o fortalecimentodos laços entre o indivíduo e sua comunidade levaa resultados muito mais exitosos do que o simplesencarceramento daquele que se encontra em umasituação de conflito com a lei.

Tal perspectiva compartilha do fundamentode teorias sociológicas para as quais quanto maior aidentificação dos indivíduos com o sistema social,seus valores e normas, maior o interesse desses in-divíduos em mantê-lo, maior o seu senso depertencimento comunitário e maior o temor da ex-clusão, da perda da estima e do afeto, da vergonhae da culpa que decorreriam do rompimento com ospadrões morais, via cometimento de um crime. Des-sa forma, o crime ocorreria quando do enfraqueci-mento dos laços que unem o indivíduo à sociedadee da não internalização dos padrões morais da co-munidade. As chamadas teorias do controle socialpressupõem que quanto mais estreitas e intensas asrelações do indivíduo nas esferas tradicionais davida, como na escola, no trabalho, na família e narede de amigos, menores serão as chances de queele incorra em atos desviantes.

Por outro lado, teorias sociológicas da subculturada violência ponderam que, em alguns grupos oucomunidades, os valores transmitidos pelas famíli-as e pares podem ser opostos àqueles convencio-nais. Nesse caso, deve-se considerar a possibilida-de de que a força dos laços entre indivíduo e socie-dade bem como a conformidade com as regras con-vencionais sejam mais frágeis. Zilli (2004) argumentaque, em comunidades nas quais teria surgido umasubcultura de violência, comportamentos violentossão aprendidos em um processo de identificação eassociação às atitudes dos pares, sendo, portanto,valorizados entre esses indivíduos.

O objetivo deste artigo é identificar se exis-tem fatores (características sociodemográficas, decontrole social e tipo de infração cometida) que di-ferenciem adolescentes infratores (1) que foramresponsabilizados através de medida em meio aber-to, daqueles (2) que estão em progressão de medi-da, ou seja, que estão cumprindo medida em meioaberto, mas que foram responsabilizados inicialmen-te através de algum tipo de medida de internação(semiliberdade ou internação). A análise recairá so-bre os socioeducandos em cumprimento de medi-da em meio aberto em Minas Gerais entre os anosde 2008 e 2009. Para mensurar controle social, bus-ca-se, aqui, operacionalizar os principais elementosconceituais da teoria de Travis Hirschi (1969).

O referencial utilizado para a definição doproblema investigado e para a análise dos dadosencontrados no campo de pesquisa orienta-se pe-las proposições das teorias do controle social uti-lizadas para a explicação do fenômeno do crime.

Este estudo não testa as teorias sociológicasdo controle social, mas aplica seus pressupostos paraexplicar como diferentes contextos quanto à submis-são a fatores de controle social informal podem favo-recer trajetórias infracionais distintas e, portanto, le-var a diferentes formas de responsabilização penal.

Na segunda seção deste artigo, apresentada aseguir, é desenvolvido um quadro geral das teoriassociológicas do controle social e, na terceira, apre-senta-se um breve histórico das políticas de trata-mento ao adolescente em conflito com a lei no Brasil.Na quarta seção, é exposta a metodologia empregada.Por fim, na quinta e sextas seções, respectivamente,são apresentados os resultados e a discussão dosprincipais achados do trabalho, bem como a propo-sição de novas possibilidades de estudo e aborda-gens do problema de pesquisa aqui explorado.

TEORIAS DE CONTROLE SOCIAL E CONFOR-MIDADE ÀS NORMAS

Talvez um dos primeiros e mais influentesteóricos do controle, no campo da sociologia, sejaDurkheim. Tomando os “fatos sociais” como obje-

1 Observa-se que o ECA estipula, em parágrafo único, que“Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmen-te este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e umanos de idade” (Título 1, Parágrafo único, ECA).

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to de estudo da sociologia, Durkheim os caracteri-za pelo poder de coerção externa que podem exer-cer sobre os indivíduos. Tal coerção seria expressana forma de sanções ou mesmo pela resistênciaque se opõe à violação, por parte do indivíduo, dedeterminada norma (Durkheim, [1895] 2005, p. 37).Como exemplo, um ato seria criminoso não devi-do a qualquer característica intrínseca a ele, maspelo fato de que ofende a uma consciência coleti-va, sendo, então, socialmente reprovável(Durkheim, [1930] 2008). Tal perspectiva está ali-nhada a outras, também tradicionais e positivistas,acerca do controle social no âmbito da criminologia.De acordo com tais perspectivas, haveria um con-senso nas sociedades que é perpetuado por meiodas primeiras formas de socialização, sendo queas agências externas de controle social apenas sãoacionadas na medida em que são observados ca-sos em que tal processo não se deu de forma ade-quada, resultando em práticas delinquentes(McLaughlin; Muncie, 2006). Observa-se que, por-tanto, teóricos do controle social concentram-se nasdiversas formas de restrições que fazem com que oindivíduo se conforme às regras, e não na razãopor que eles se desviam delas.

Reiss (1951), um dos primeiros teóricos docontrole social, argumentou que a delinquênciapoderia ser definida como uma consequência dafalha das formas de controle social e pessoal queproduzem comportamentos em conformidade comas normas do sistema social, onde também se de-senvolveram formas legais de punição. Como “con-trole pessoal” compreende-se a habilidade de oindivíduo evitar que suas necessidades sejam su-pridas através de atos que vão contra as normas eregras de sua comunidade. Já o “controle social”seria a habilidade de grupos sociais ou institui-ções tornarem suas normas e regras, de fato, efeti-vas. Apesar de não especificar quais seriam osmecanismos de controle pessoal ou social capazesde produzir comportamentos em conformidadecom as normas, o autor afirma que instituições,como a família, têm importante capacidadeexplicativa acerca do fenômeno do crime, uma vezque podem reproduzir regras e valores de forma

eficaz ou não. Com o objetivo de analisar os fato-res de controle social e pessoal que se relacionamà reincidência criminal, Reiss (1951)2 também res-salta que, no caso de reincidência, tais formas decontrole agem de maneira ainda menos expressivasobre o comportamento dos indivíduos.

Mais tarde, no ano de 1965, Briar e Piliavinargumentaram que, além de dar ênfase à importân-cia de instituições sociais, como família e escola, eàs leis como mecanismos de controle, seria tam-bém relevante a consideração do “comprometimentocom a conformidade”.3 Isso implica que a questãocentral para o controle social não seria o medo dasconsequências materiais e da punição que advémda descoberta do ato desviante, mas a apreensãodo indivíduo acerca das consequências negativasque a descoberta da prática de tal ato por outraspessoas pode trazer à sua vida social, vida quedeseja manter e continuar a desenvolver (1965, p.39). Mesmo que o indivíduo queira incorrer emum ato delinquente, o que o impede de realizá-lopode ser a consideração das consequências nega-tivas que isso pode gerar se o fato se tornar públi-co. Para Becker (apud Briar e Piliavin, 1965, p.40), a pessoa comprometida com determinada “li-nha de ação” deve estar atenta ao fato de que elapode gerar consequências diversas, devendo, en-tão, reconhecer que a decisão tomada (de praticarum ato desviante, por exemplo) terá desdobramen-tos que vão além do ato em si.

Em Causes of Delinquency ([1969] 2009),Hirschi busca explicar as causas da prática de atosdelinquentes por meio de sua teoria do controlesocial, utilizando, para isso, dados sobre crimesproduzidos na Califórnia, Estados Unidos.4 Oselementos que ligam o indivíduo à sociedade con-vencional e que poderiam prevenir que ele cometa

2 Em seu estudo, Reiss (1951) utilizou dados da corteoficial juvenil relativos a 1.110 jovens brancosdelinquentes entre os 11 e 17 anos de idade. Esses indi-víduos foram colocados em probation (liberdade assisti-da) entre março de 1943 e outubro de 1944.

3 Tradução de responsabilidade do autor. Do original,“commitment to conformity” (Briar; Piliavin, 1965, p. 39).

4 Os dados analisados e expostos na obra “Causes ofDelinquency”, de Travis Hirschi (1969), são provenien-tes de três fontes, que são os registros escolares, umsurvey “autoaplicado” aos alunos e registros policiais(Hirschi, 2009, p. 39).

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algum ato delinquente seriam, para o autor: (1)“afeição” (attachment to others), (2) “comprometi-mento” (commitment), (3) “envolvimento em ativi-dades” (involvement) e (4) “valores” (belief).

Caracterizando tais elementos, tem-se que a“afeição” seria medida através do quanto um indi-víduo se importa ou não com os desejos e expec-tativas de outras pessoas. Assim, se um indiví-duo é insensível à opinião alheia, seria também,sob esse aspecto, livre para cometer algum desvio(Hirschi, 2009). A “afeição” pode ser relativa a trêstipos de relacionamento com o indivíduo, a saber,a afeição com os pais, com a escola e com os pares(peers). A “afeição” e a importância dada à opiniãoe reação dos pais constituiria um fator de controlee dissuasão frente às oportunidades de cometeratos que os contrariem. A análise dos dados feitapelo autor indica que, dentre aqueles que pratica-ram algum ato delinquente, mais do que não seimportarem com a reação dos pais, talvez sequerpensem sobre a reação deles frente a suas atitudes.Os dados também indicam que, além da impor-tância de os filhos se comunicarem com os pais,por exemplo, contando sobre suas atividades diá-rias, também seria relevante, para uma situação decontrole que os próprios pais exponham aos fi-lhos seus sentimentos frente ao comportamentodeles (Hirschi, 2009, p. 108).

A “afeição” à escola, outra instituição con-vencional, sugere que aqueles alunos que decla-ram não gostar da escola e não se importar com aopinião dos professores sobre ele estariam livrespara cometer algum ato delinquente. A “afeição”aos pares, da mesma forma que aos pais e aos pro-fessores, indicaria que quanto mais proximamen-te ligado aos colegas, ou mais respeitado por eles,menor a probabilidade de que um jovem tenhacometido um ato delinquente. Essa relação, noentanto, se dá de forma mais fraca que aquela rela-tiva à afeição aos pais e aos professores. Destaca-se, também, que os dados não permitem afirmarque haveria uma relação íntima e de confiança en-tre pares delinquentes (Hirschi, 2009).

O “comprometimento” seria o elemento quefaria com que o indivíduo considere os custos atre-

lados aos valores convencionais, como carreira eescolaridade, caso opte por um ato desviante, con-siderando todo o tempo e a dedicação investidosem determinada “linha de ação”.5 Desse modo, oindivíduo poderá optar pela conformidade com asnormas na medida em que o desvio coloca em riscoseu investimento social em um futuro em confor-midade com normas convencionais da sociedade.Segundo o autor, em uma sociedade, a maior partedas “linhas de ação” adotadas por indivíduos seri-am as convencionais (Hirschi, 2009, p. 20-21).

Um terceiro elemento considerado pelo au-tor para se pensar a ligação do indivíduo com asociedade é seu “envolvimento” em atividades con-vencionais. O pressuposto é de que uma pessoapode estar tão envolvida em atividades convencio-nais que sequer encontra espaço e tempo para seengajar em comportamentos delinquentes (2009).

O quarto elemento que compõe a teoria docontrole social são os “valores”, ou “crenças” doindivíduo. Os valores que permitem que um indi-víduo cometa um desvio não são motivadores doato em si, uma vez que ele não o pratica com oobjetivo de alcançar fins ilícitos. Desse modo, quan-to menos um indivíduo acredita que deva obede-cer às leis sociais, maior será a probabilidade deincorrer em atos delinquentes (2009).

Em geral, quanto mais uma pessoa se en-contra ligada à sociedade convencional, atravésde algum destes elementos, maior também a chancede estar fortemente ligada através dos demais ele-mentos (2009).

Uma crítica à teoria do controle social deHirschi parte do fato de que seus testes foram rea-lizados por meio de dados transversais, ou seja,dados coletados em um mesmo período. Dessemodo, não seria possível prever, de forma adequa-da, efeitos causais entre variáveis, mas sim corre-lações. Tal crítica foi formulada por Agnew (1985).Segundo esse autor (1985), espera-se que a

5 “Linha de ação” é a tradução própria do autor acerca dotermo “lines of action“, utilizado por Travis Hirschi. Tam-bém é utilizado o termo “lines of activity“, sendo queambos indicam que o indivíduo pode se comprometer,em diferentes níveis, a determinado estilo de vida, ouseja, em conformidade ou não com as regras convencio-nais (considerando as possibilidades extremas).

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delinquência tenha um impacto causal sobre oslaços sociais. Assim, a afeição e respeito aos pais,professores e pares poderiam ser consequência daprática ou não de atos delinquentes. Do mesmomodo, a delinquência poderia também ter um efeitonegativo sobre o comprometimento e envolvimentodo jovem acerca de atividades convencionais, bemcomo sobre sua crença em valores convencionais.Sendo esse o caso, seria relevante um estudo quese pautasse sobre dados longitudinais, de modo apossibilitar a observação de efeitos causais entrevariáveis (Agnew, 1985).

Para verificar qual seria, de fato, o efeito doselementos dos laços sociais de Hirschi sobre adelinquência juvenil, Agnew utilizou um survey

nacional longitudinal aplicado a adolescentes.6

Além da mensuração do efeito das variáveis relati-vas aos laços sociais sobre a prática de atosdesviantes, Agnew também incluiu uma medidada seriedade do desvio cometido, uma vez queKrohn e Massey (1980) já teriam apontado para apossibilidade de que a teoria do controle social deHirschi teria melhor poder de explicação sobredesvios menos graves (Krohn; Massey, 1980 apud

Agnew, 1985).Agnew (1985) confirmou, posteriormente,

que a teoria do controle social seria mais adequadaà explicação de crimes de menor gravidade. Alémdisso, concluiu que a capacidade de explicação dadelinquência cometida no segundo momento dapesquisa, a partir das variáveis de controle socialobtidas no primeiro momento, é de apenas 1,8%.Por fim, apesar de sugerir que a importância dateoria do controle social de Hirschi pode ter sido“exagerada”, o autor atenta para possíveis viesestípicos em análises de painel (Agnew, 1985, p.53).

A próxima seção expõe um breve históricodas políticas de tratamento de adolescentes infra-tores no Brasil. Assim, pode-se conhecer melhoro contexto de análise dos dados utilizados eproblematizar melhor os resultados apresentados.

POLÍTICAS DE TRATAMENTO DO ADOLES-CENTE EM CONFLITO COM A LEI NO BRASIL

O marco da inclusão da questão social dacriança abandonada ou desviante em políticaspúblicas, no Brasil, é a instituição do Código Pe-nal da República de 1890, o qual não diferenciavacrianças e adolescentes e determinava a idade pe-nal aos nove anos de idade. A internação de crian-ças desviantes ou em situação de abandono em ins-tituições especiais era vista como uma importantepossibilidade de regeneração do indivíduo por meiode seu isolamento e educação especializada. Emdecorrência do Código de 1890, foram criadas di-versas instituições7 com tal intuito no Brasil. Noentanto, tais instituições apresentavam uma cultu-ra repressora que, ao longo do tempo, tendeu a sefortalecer com a inclusão do encarceramento de“menores infratores” de 14 a 18 anos, caso não hou-vesse, no local, instituições apropriadas para recebê-los (Marcílio, 2000, p. 415).

Dando continuidade a uma trajetória de po-líticas que consolidavam uma doutrina da situaçãoirregular8 no trato de crianças e adolescentes (Silva;Gueresi, 2003), foi criado, em 1927, o Código deMenores, institucionalizando a expressão “menor”,que já era de uso corrente desde o final do séculoXIX. Era considerada “menor” toda criança ou ado-lescente abandonada material ou moralmente, em

6 O primeiro momento de aplicação do survey se deu nooutono de 1966, nos Estados Unidos, e o segundo, du-rante a primavera do ano de 1968.

7 No ano de 1899, em Belém do Pará, um asilo foi transfor-mado na Colônia Artística, Industrial e Agrícola da Provi-dência, com 400 alunos e 15 oficinas. Em 1902, foi cria-do, em São Paulo, o Instituto Disciplinar de São Paulo.Em 1905, no Rio de Janeiro, foram criadas a ColôniaCorrecional de Dois Rios, destinada a jovens infratores, ea Escola Quinze de Novembro, de caráter preventivo-correcional, direcionada a crianças de nove a quatorzeanos. Em Belo Horizonte, o Instituo João Pinheiro foiinstalado em 1909, tendo como molde a escola-prisãofrancesa ,“Escola de Mettray”, criada em 1840 para jovensdelinquentes e abandonados (Marcílio, 2000, p. 41-42).

8 A predominância, na época, da doutrina da situaçãoirregular no Brasil levou à preferência do uso da privaçãoda liberdade daquelas crianças ou adolescentes que fos-sem considerados incapazes de algum modo, visando àproteção social. A Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979,define como situação irregular o “menor”: (1) privado decondições essenciais à sua subsistência e saúde, seja poromissão ou por impossibilidade dos pais de provê-las; (2)vítima de maus-tratos impostos pelos pais ou responsá-veis; e (3) em perigo moral, seja por encontrar-se em am-biente contrário aos bons costumes, ou por praticar in-fração penal (Artigo 2º, Código de Menores de 1979). Taldoutrina entrou em desuso no final dos anos 1980,passsando a vigorar a doutrina da “proteção integral“.

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consequência da negligência dos pais ou responsá-veis. O Código de 1927 estabelecia que os menores

[...] deveriam ser recolhidos em abrigos apropri-ados, aguardar a realização de minuciosa inves-tigação sobre as causas do abandono, para, emseguida, serem encaminhados às instituições“disciplinares”, as quais seriam responsáveis pelaformação moral, política e profissional de crian-ças e adolescentes (Frontana, 1999, p. 53-54).

Um novo Código de Menores foi criado em1979, através da aprovação da Lei nº 6.697/79, ten-do por principal diferença, em relação àquele doano de 1927, a promoção da adoção das crianças eadolescentes em situação irregular, mais especifi-camente, carentes ou em abandono (Marcílio, 2000).

Durante o processo de redemocratização dopaís e com a promulgação da Constituição Fede-ral de 1988, deixa-se de utilizar a expressão “me-nor” para garantir à “criança” e ao “adolescente”em conflito ou não com a lei, o status de sujeitosde direito. O Estatuto da Criança e do Adolescen-te (1990) marca, no Brasil, a substituição da dou-trina da situação irregular, no trato de crianças eadolescentes, para uma nova doutrina, a da pro-teção integral. No texto do Estatuto, são estipula-dos avanços que, segundo Mendez (1994, apud

Silva; Gueresi, 2003, p.10), são fundamentais paraa efetiva aplicação das medidas socioeducativasali preconizadas. Para o autor, os principais avan-ços seriam: (1) a municipalização das políticas deatendimento direto; (2) a eliminação da reclusãodo indivíduo por motivo de desamparo (antiga“situação irregular”); (3) a participação paritária edeliberativa do governo e da sociedade civil, atra-vés dos Conselhos dos Direitos da Criança e doAdolescente; e (4) a hierarquização da função ju-dicial através da criação dos Conselhos Tutela-res, órgãos permanentes e autônomos que funci-onam como ferramenta da sociedade civil parasalvaguardar os direitos da criança e do adoles-cente.

A aplicação das medidas socioeducativasestipuladas no ECA varia de acordo com o casoapresentado ao juiz, considerando-se o tipo dedelito praticado e o histórico do adolescente infra-

tor. São previstas seis medidas no capítulo IV, arti-go 112, do ECA, e o juiz decide qual delas o ado-lescente deverá cumprir, variando entre uma ad-vertência até medidas de privação de liberdade,como a internação.

Devido à adoção dos princípios de brevida-de, excepcionalidade e respeito à condição peculi-ar de pessoa em desenvolvimento (Artigo 121,ECA), a medida de privação de liberdade só deveser aplicada em último caso, sendo preferível, sem-pre que possível, a adoção de medidas que permi-tam a liberdade do adolescente. Outra medida quecomporta, além da internação, a realização de ativi-dades externas, é o regime de semiliberdade, con-siderado como uma transição entre a internação e amedida de meio aberto (Artigo 120, ECA). A tercei-ra medida que pode ser aplicada é a de meio aberto,incluindo os programas “Prestação de Serviço àComunidade” e “Liberdade Assistida”. A medidade meio aberto é considerada adequada para os ca-sos em que seja necessário “acompanhar, auxiliar eorientar o adolescente” (Artigo 118, ECA), favore-cendo, em grande medida, sua ressocialização nacomunidade e em instituições.

Após a discussão de teorias sobre o contro-le social, bem como uma breve apresentação dohistórico das políticas de tratamento do adoles-cente em conflito com a lei no Brasil, são expos-tos, a seguir, os dados e a metodologia empregadana sua análise, tendo em vista o alcance dos obje-tivos propostos neste artigo.

DADOS E METODOLOGIA

O objetivo deste trabalho consiste em avali-ar os fatores (características sociodemográficas, decontrole social e tipo de infração cometida) quediferenciam socioeducandos que cumprem medi-da em meio aberto em Minas Gerais. A análise re-cairá sobre dois grupos de jovens infratores: (1)socioeducandos que foram responsabilizados di-retamente através de medida em meio aberto, e (2)socioeducandos que estão em meio aberto em regi-me de progressão de medida, sendo esse último

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uma espécie de grupo de tratamento.As hipóteses centrais que guiam este traba-

lho e serão nele testadas podem se delinear da se-guinte forma:

Hipótese 1 – As infrações pelas quais ossocioeducandos que estão em progressão de me-dida foram responsabilizados são caracterizadascomo de maior potencial ofensivo que aquelas co-metidas por socioeducandos que não cumpriramalgum tipo de medida de internação.

Hipótese 2 – Socioeducandos que cumpremmedida em meio aberto e que estão em progressãode medida socioeducativa estiveram submetidos,de forma menos intensiva, a fatores que operamos conceitos da teoria do controle social, como afei-ção, comprometimento, envolvimento e crença.

A fim de testar essas hipóteses, serão utili-zados os dados produzidos durante a pesquisa“Mapeamento Estadual da Qualidade e Efetividadedas Medidas Socioeducativas em Meio Aberto emMinas Gerais”, coordenada pelo Centro de Estu-dos de Criminalidade e Segurança Pública (CRISP/UFMG), no ano de 2008 e início de 2009, emdezenove municípios do estado.9 Nessa pesquisa,foram coletados dados primários qualitativos atra-vés de entrevistas com os adolescentes e com asequipes técnicas dos programas de meio aberto.Também foram produzidos dados quantitativos,coletados com base na metodologia de surveys, comquestionários autoaplicados.

Os questionários foram enviados a trinta edois municípios de Minas Gerais, selecionados porcumprirem os critérios da pesquisa, quais sejam:a aplicação do sistema socioeducativo em meioaberto, abrigando os dois programas (LiberdadeAssistida e Prestação de Serviço à Comunidade),bem como a autorização de aplicação do survey eacesso aos adolescentes. Questionários de dezenove

municípios foram devidamente preenchidos ereenviados ao Centro de Estudos de Criminalidadee Segurança Pública (CRISP) para análise. O nú-mero de respondentes foi suficiente para a pesqui-sa (405), considerando-se um total estimado de1.377 adolescentes em cumprimento de medidasocioeducativa em meio aberto. Ressalta-se que osdados quantitativos utilizados para análise nesteartigo não foram coletados através de uma seleçãoaleatória, o que pode resultar em viés deautosseleção. Não se tratando de uma amostraprobabilística, não se podem fazer inferências parao conjunto dos socioeducandos em meio abertode Minas Gerais. Apesar dessa limitação, a análisequantitativa através da estimação de modelos deregressão logística não se invalida.10 Tampouco seriaadequado limitar as análises dos resultados àssignificâncias estatísticas dos coeficientes estima-dos (Schrodt, 2010). Desse modo, os resultadosdevem ser analisados de modo a verificar se asquestões teóricas abordadas são reforçadas pelosdados aqui utilizados.

De posse dos 405 casos a serem analisados,foram selecionados, para este artigo, apenas aque-les que continham informações acerca de todas asvariáveis a serem utilizadas. A amostra final é com-posta por 243 casos. A análise dos dados foi reali-zada através de métodos de estatística descritiva einferencial.

Para avaliar o efeito de fatores relativos àteoria do controle sobre o fato de o socioeducandoestar em regime de progressão de medida, serãoestimados modelos progressivos de regressãologística binomial. Tal método é adequado a situa-ções em que se busca conhecer a influência dedeterminadas variáveis sobre outra binária, ou seja,sobre uma variável que apresente dois possíveisresultados, podendo adotar valores iguais a zeroou um. Em um modelo de resposta binária, é pos-sível, então, conhecer os efeitos de uma série devariáveis explicativas sobre a probabilidade de res-posta (Wooldridge, 2008, p. 520).

9 Essa pesquisa foi realizada em parceria com a Superin-tendência de Avaliação e Qualidade do Sistema de Defe-sa Social (SASDS), que tinha como objetivo adequar osprogramas que aplicam as medidas socioeducativas emmeio aberto em Minas Gerais às normativas preconiza-das pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) epelo Sistema Nacional de Atendimento Sócio-educativo(SINASE ). Foi financiada com recursos da SASDS e daFundação de Amparo a Pesquisa do Estado de MinasGerais (FAPEMIG).

10 Sobre a utilização de amostras não probabilísticas emestudos quantitativos, ver artigo de Castro, Anastasia eNunes (2009).

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Considerando os pressupostos do métodode regressão logística binomial escolhido para aabordagem do problema de pesquisa, a variáveldependente utilizada é do tipo binária. Tal variá-vel indica se o socioeducando já cumpriu (valorigual a 1), ou não (valor igual a 0), algum tipo demedida de internação no passado. Uma série devariáveis independentes, ou explicativas, foi in-cluída nos modelos de forma progressiva.

Inicialmente, foi estimado um modelo comvariáveis relativas ao tipo de programa em meioaberto ao qual o socioeducando é vinculado (Li-berdade Assistida, Prestação de Serviço à Comu-nidade, ou ambos), o tipo de infração pela qual foiresponsabilizado, e variáveis socioeconômicas(sexo, raça ou cor e idade). Espera-se que os jo-vens que cometeram infrações mais graves apre-sentem maiores chances de estar em progressãode medida. Quanto às característicassociodemográficas, espera-se que jovens do sexomasculino, mais velhos e que se autodeclaram deraça ou cor negra tenham maiores chances de estarem regime de progressão de medida socioeducativa.A partir desse primeiro modelo, também será pos-sível observar o comportamento dos coeficientesestimados nos modelos seguintes, quando são in-cluídos fatores que operacionalizam os elementosde controle social.

Em seguida, foram estimados mais quatromodelos de forma progressiva, cada um incluin-do variáveis que buscam operacionalizar os qua-tro elementos da teoria do controle social, deHirschi. O elemento “afeição” foi tratado atravésda inclusão de variáveis que captam o quanto oindivíduo se importa com os desejos e expectati-vas de outras pessoas. Assim, as variáveis inclu-ídas questionam (1) o bom relacionamento com amãe e com o pai, ou responsáveis de ambos ossexos, e (2) com que frequência o socioeducandoouve elogios da família e dos amigos. A hipótesepara essas variáveis é de que aqueles que decla-ram ter laços mais fortes com familiares e amigostenham menores chances de estar em progressãode medida socioeducativa.

O elemento relativo ao “comprometimento”,

que indica o quanto o indivíduo investe em ativida-des que levariam a um futuro em conformidade comas normas sociais, foi operacionalizado por meio doquestionamento sobre (1) se o indivíduo estuda, (2)sua expectativa de escolaridade, e (3) se tem um tra-balho remunerado. A hipótese é de que os jovensque trabalham, estudam e têm expectativas de conti-nuar estudando têm menores chances de estar emprogressão de medida, já que teriam característicasmais expressivas do elemento “comprometimento”.

A operacionalização do elemento “envol-vimento” foi realizada por meio de variáveis queindicam a frequência do indivíduo em cursos, está-gios e outras atividades do próprio programa demeio aberto no qual está inserido. Esse elementobusca avaliar o grau de inserção do indivíduo ematividades que ocupariam seu tempo, em detrimen-to de envolvimento em atividades delinquentes. Ahipótese para essas variáveis é de que aqueles indi-víduos que apresentam maior frequência nas ativi-dades do programa têm menores chances de estarem progressão de medida socioeducativa.

Por fim, no quinto e último modelo estima-do, o elemento “valores” ou “crença” foi opera-cionalizado por meio das perguntas sobre (1) se oindivíduo declara ter alguma religião e (2) sobresua crença de que o programa socioeducativo pos-sa ajuda-lo a ter uma vida melhor no futuro. Esseelemento da teoria do controle de Hirschi buscaavaliar em que medida o indivíduo acredita emvalores, instituições e regras sociais. Assim, espe-ra-se que aqueles que declaram ter uma religião eque acreditam no potencial positivo do programasobre sua vida apresentem menores chances deestar em regime de progressão de medidasocioeducativa. Nos Quadros 1a e 1b estão carac-terizadas as variáveis utilizadas nas análises.

A partir da seleção da amostra e com basenas variáveis selecionadas, a análise estatísticainferencial foi realizada com base na seguinteequação: Pr(Y=1|B) = P log[P/(1–P)] = $

0 +

($1G

2 +$

2G

3)+ $

3 (tipo de infração cometida) +

$4 (sexo) + $

5(cor) + $

6(idade) + $

7(bom relacio-

namento com a mãe) + $8(bom relacionamento

com o pai) + ($9F

2 + $

10F

3)+ ($

11A

2 + $

12A

3) +

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(expectativa de escolaridade) +$

15(trabalha) + ($

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2 + $

17C

3) + $

18(religião) +

$19

(crença no programa) + 2t + ,

i , em que G

= Tipo de programa que participa; F=Frequência com que recebe elogios da família;A= Frequência com que recebe elogios dos ami-gos; e C= Frequência nos cursos, estágios eoutras atividades do programa.

RESULTADOS

A análise descritiva dos dados por meio defrequências e percentuais dos indivíduos da amos-tra, bem como os percentuais relativos àqueles quejá cumpriram medida de internação, são úteis paraa compreensão da distribuição desses indivíduospelas variáveis incluídas neste estudo. Na Tabela

Quadro 1a. - Descrição das variáveis utilizadas para análise, MG – 2008-2009

Fonte: Pesquisa “Mapeamento Estadual da Qualidade e Efetividade das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto em Minas Gerais”,CRISP, 2009

Variáveis que indicam o tipo de crime pelo qual o indivíduo foi responsabilizado

Variáveis binárias, indicando o tipo de crime cometido (furto, roubo, roubo a mãoarmada, tentativa de homicídio, homicídio, lesão corporal, porte de drogas, usode drogas e porte de armas), sendo atribuído valor igual a 1 para o cometimento dainfração, e 0 para o não cometimento

Tipo de infração pela qual foiresponsabilizado

Variáveis que indicam o tipo de programa socioeducativo em meio aberto cumprida

Variáveis sobre o controle social - Características do elemento “afeição”

Tipo de programa cumprido

Variáveis binárias, indicando o tipo de programa socioeducativo cumprido peloindivíduo (Liberdade Assistida, Prestação de Serviço à Comunidade, ou ambos osprogramas), sendo atribuído valor 1 para o cumprimento do programa, e 0 para onão cumprimento

Relacionamento com a mãe

Variável binária, sendo atribuído valor igual a 1 para aqueles adolescentes quetêm um relacionamento bom ou muito bom com a mãe, e 0 para os que têm umarelacionamento ruim, ou que não têm mãe

Relacionamento com o paiVariável binária, sendo atribuído valor igual a 1 para aqueles adolescentes quetêm um relacionamento bom ou muito bom com o pai, e 0 para os que têm umarelacionamento ruim, ou que não têm pai

Frequência com que ouve elogiodos pais

Três variáveis binárias, indicando se o respondente “sempre” ouve elogio dospais, “às vezes” ouve elogio dos pais, ou “nunca” ouve elogio dos pais. Valoresiguais a 1 para respostas “sim”, e 0 para “não”

Frequência com que ouve elogiodos amigos

Três variáveis binárias, indicando se o respondente “sempre” ouve elogio dosamigos, “às vezes” ouve elogio dos amigos, ou “nunca” ouve elogio dos amigos.Valores iguais a 1 para respostas “sim”, e 0 para “não”

Variáveis sobre o controle social- Características do elemento “comprometimento”

EstudaVariável binária, sendo atribuído valor igual a 1 para aqueles adolescentes queestudam, e 0 para os que não estudam

Expectativa de escolaridadeVariável binária, sendo atribuído valor igual a 1 para aqueles que têm expectativasde aumentar sua escolaridade, e valor igual a 0 para aqueles que não pretendemvoltar a estudar ou continuar a estudar

TrabalhaVariável binária, sendo atribuído valor igual a 1 para aqueles adolescentes quetêm trabalho remunerado, e 0 para os que não trabalham

Variáveis sobre o controle social - Características do elemento “envolvimento”

Frequência nos cursos, estágios eoutras atividades do programa quefaz

Três variáveis binárias, indicando se o respondente “sempre” frequenta asatividades, cursos e estágios, “às vezes” frequenta, ou “nunca” frequenta. Valoresiguais a 1 para respostas “sim”, e 0 para “não”

Variáveis sobre o controle social - Características do elemento “valores”

ReligiãoVariável binária, sendo atribuído valor igual a 1 para aqueles adolescentes quedeclararam ter alguma religião, e 0 para aqueles que declararam não ter religião

Potencialidades do programa paraseu futuro

Variável binária, sendo atribuído valor igual a 1 para aqueles adolescentes queacreditam que a medida em meio aberto trará benefícios para sua vida, e 0 paraaqueles que não acreditam que o programa lhe trará benefícios

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1, é apresentada a distribuição de frequências epercentuais dos indivíduos por categorias das va-riáveis de controle relativas ao programa ao qual évinculado, ao tipo de infração cometida e às carac-terísticas sociodemográficas.

A amostra é composta por 243 adolescentessocioeducandos, sendo que a maior parte deles édo sexo masculino (87,6%) e declara ser de cor ouraça negra (68,7%). A idade varia entre 12 e 21anos de idade, sendo a média igual a 16,3 anos de

idade. Dentre os socioeducandos da amostra, 27,9%estavam em progressão de medida, ou seja, já cum-priram algum tipo de medida de internação. Quan-to ao tipo de programa ao qual estavam vincula-dos, 60,1% participavam do Liberdade Assistida(LA), 25,9% do Prestação de Serviço à Comunida-de (PSC), e 14% estavam vinculados a ambos osprogramas (LA e PSC).

O tipo mais frequente de infração pela qual oadolescente alegou ter sido responsabilizado foi o

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furto (26,3% dos adolescentes), seguido do porte dedrogas (20,6%). Em terceiro lugar, o uso de drogasrepresentou 17,3% dos socioeducandos, e o roubo àmão armada, 11,5% deles. A infração de lesão cor-poral foi praticada por 9,9% dos adolescentes, e oporte de armas e o roubo foram ambos alegados, cadaum, por 8,6% dos indivíduos. Por fim, o homicídioe a tentativa de homicídio foram praticados por 4,1%da amostra (1,2% e 2,9%, respectivamente).

A Tabela 2 apresenta a distribuição defrequências e percentuais dos indivíduos por va-riáveis independentes que buscam operacionalizaros elementos da teoria do controle social, deHirschi (1969). No âmbito do elemento “afeição”,a maior parte dos indivíduos declara ter um bomrelacionamento com a mãe ou responsável do sexofeminino (91,4%). Em relação aos pais, ou respon-sável do sexo masculino, esse percentual é menor(66,7%). Quando questionados sobre a frequênciacom que ouvem elogios por parte dos familiares,25,9% dizem que sempre ouvem, 62,1% dizemreceber elogios às vezes, e 11,9% alegam nuncaserem elogiados. Os percentuais são semelhantesquando se trata dos elogios recebidos por partedos amigos, sendo que 20,2% disseram que sem-pre recebem elogios, 67,1% disseram que às vezes

recebem elogios, e 12,8% disseram que nunca fo-ram elogiados pelos amigos.

Quanto ao elemento “comprometimento”,46,9% dos socioeducandos estudam, e 78,2% es-peram continuar estudando ou esperam voltar aestudar. Os que têm um trabalho remunerado re-presentam 44,4% da amostra. Quanto à frequênciaem atividades oferecidas pelos programassocioeducativos em meio aberto, 54,3% dos indiví-duos alegam frequentar sempre tais atividades,25,9% dizem que frequentam às vezes, e 19,7%nunca frequentam. As variáveis que operacionalizamo elemento “valores” ou “crenças” indicam que76,5% dos indivíduos têm alguma religião, e que93% acreditam que o programa ao qual está vincu-lado pode ser importante para seu futuro.

Os percentuais de socioeducandos que jácumpriram algum tipo de medida de internação,por categoria das variáveis de interesse, são apre-sentados na Tabela 3. Dentre os adolescentes queestavam vinculados ao programa Liberdade Assis-tida, 32,9% estavam em progressão de medida, ouseja, já cumpriram algum tipo de medida deinternação. Para os que estão vinculados ao pro-grama Prestação de Serviços à Comunidade, essepercentual é de apenas 12,7%. Para aqueles que

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cumprem os dois programas, o percentual é maisalto (35,3%).

Quanto ao tipo de infração cometida, as queapresentam maior percentual de indivíduos queestavam em progressão de medida foram: roubo àmão armada (46,4%); porte de drogas (44%); e rou-bo (42,9%). O porte de armas e o homicídio apare-cem em quarto lugar, com 33,3% dos indivíduosem progressão de medida, em cada. Em seguida, atentativa de homicídio apresenta um percentualde 28,6% de indivíduos que já cumpriraminternação. Dentre os que cometeram furto, essepercentual é de 25%, e, para o uso de drogas,23,8%. O menor percentual de socioeducandosque já cumpriu medida de internação estava entreaqueles que foram responsabilizados por lesãocorporal (4,2%). Esta análise descritiva dos dadosfornece, de antemão, indícios de confirmação dahipótese de que os indivíduos que cometem infra-ções mais graves apresentam maiores chances deestar em progressão de medida.

Quanto às variáveis sociodemográficas, oscoeficientes também se comportaram de modo a darindícios de confirmação das hipóteses estabelecidas.Dentre os adolescentes do sexo masculino, 29,1%já cumpriram medida de internação, enquanto que,entre as mulheres, esse percentual é de 20,0%.Quando analisada a cor ou raça declarada por aque-les que se consideram pretos ou pardos (negros),29,9% estavam em progressão de medida. Para osbrancos, esse percentual foi de 23,7%.

Quanto às variáveis relativas ao elemento“afeição”, percebe-se que, enquanto a qualidadedo relacionamento com o pai não apresentavapercentuais muito diferentes entre os que já cum-priram ou não medida de internação, o relaciona-mento com a mãe mostrou-se relevante. Dentre osque alegavam ter um bom relacionamento com amãe, 29,7% estavam em progressão de medida,enquanto que, dentre os que tinham um relacio-namento ruim com a mãe, apenas 9,5% já cumpri-ram medida de internação. Tal resultado não for-nece indícios de confirmação da hipóteseestabelecida. A análise da frequência com que oindivíduo ouve elogios da família não apresentou

percentuais muito diferentes de indivíduos que jácumpriram medida de internação. No entanto,observa-se que há um percentual levemente maiorde indivíduos em progressão de medida dentreaqueles que nunca ou que às vezes recebem elogi-os da família, indicando possibilidade de confir-mação da hipótese. Quanto à frequência com queos adolescentes ouvem elogios dos amigos, aque-les que alegam nunca os terem recebido apresen-tam um percentual um pouco maior do que aque-les que sempre recebem elogios, também apontan-do para uma confirmação da hipótese. Nesse caso,o menor percentual está entre os que às vezes rece-bem elogios.

Em relação ao elemento “comprometimen-to”, a variável que questiona se o jovem estuda ounão, indica que, dentre aqueles que não estudam,há um maior percentual de indivíduos que já cum-priu medida de internação (31,8%, em oposição a23,7%), indicando uma confirmação da hipóteseestabelecida. O contrário se dá quanto à expectativade continuar estudando, quando o percentual deindivíduos em progressão de medida é maior entreos que demonstram pretender continuar a estudar(28,9%, contra 24,5%). Do mesmo modo, opercentual de adolescentes em progressão de medi-da é maior dentre os indivíduos que trabalham(29,6%, contra 26,7%, dentre os que não trabalham).

As variáveis de “envolvimento” indicam quequanto mais o indivíduo frequenta as atividadesoferecidas pelos programas, maior é o percentualdaqueles que estão em progressão de medida. En-quanto 31% dos que sempre frequentam as ativi-dades já cumpriram medida de internação, dentreos que nunca frequentam, esse percentual é de22,9%. Esse resultado aponta para uma possívelnão confirmação da hipótese, já que se observaum maior percentual de adolescentes em progres-são de medida dentre aqueles que frequentam maisas atividades.

Por fim, no âmbito do elemento “valores”ou “crença”, o fato de o indivíduo declarar ter ounão uma religião não impactou de forma significa-tiva o fato de estar ou não em progressão de medi-da. Quanto à crença de que o programa ao qual

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está vinculado trará benefícios à sua vida, observa-se uma possibilidade de confirmação da hipótese,já que há um maior percentual de indivíduos emprogressão de medida dentre aqueles que não acre-ditam nesse potencial do programa em meio aberto.

Após a análise das estatísticas descritivas,foram estimados, de forma progressiva, modelos deregressão logística para verificar de que modo deter-minados fatores, mantendo-se constantes outrasvariáveis, influenciam o fato de o socioeducandoestar em progressão de medida, ou seja, de já tercumprido, no passado, algum tipo de medida deinternação. Utilizando o pacote estatístico SATA,foram estimados cinco modelos, sendo que, a cadanovo modelo, foi acrescido um grupo diferente devariáveis. Além disso, foi verificado que não háproblema de multicolinearidade entre as variáveisincluídas nos modelos estimados (analisando asmedidas de “tolerância” e “VIF” através do coman-do “collin” no pacote estatístico Stata), que elesapresentam um bom ajuste (teste de significância“goodness-of-fit” através do comando “lfit”) e queo uso do método de regressão logística é adequado(teste “linktest”, que testa a especificação do mo-delo). Os resultados dos modelos estimados estãoexpostos nas Tabelas 4a e 4b, que apresentam as ra-zões de chance, o intervalo dessas razões de chance,e as significâncias estatísticas dos coeficientes.

O primeiro modelo inclui variáveis que in-dicam o programa ao qual o socioeducando estávinculado, o tipo de infração pela qual foi respon-sabilizado, e características como sexo, idade e raçaou cor. Em seguida são estimados modelos queincluem, de forma sequencial, grupos de variáveisrelativas a cada elemento da teoria do controle so-cial, a saber, “afeição” (Modelo 2), “comprometi-mento” (Modelo 3), “envolvimento” (Modelo 4) e“valores” (Modelo 5).

A análise do primeiro modelo estimado in-dica que os socioeducandos que participam do pro-grama Liberdade Assistida (LA) possuem maioreschances de estar em progressão de medida, quandocomparados aos adolescentes que participam doprograma Prestação de Serviço à Comunidade (PSC).Aqueles que participam somente do LA possuem

uma chance 235% maior de terem cumprido medi-da de internação do que aqueles do PSC.

Quanto ao tipo de infração cometida, as maio-res chances de estarem em progressão de medidaestão entre os adolescentes que praticaram roubo(258%), roubo à mão armada (216%) e porte de dro-gas (184%). Aqueles responsabilizados por lesãocorporal apresentam menores chances de terem cum-prido anteriormente alguma medida de internação,apresentando uma chance 94,6% menor de estar emprogressão de medida. Observa-se que, em confor-midade com a Hipótese 1 definida anteriormente,aqueles que cometem infrações de menor potencialofensivo, como a lesão corporal, têm menores chancesde estar em progressão de medida socioeducativa.Os jovens que foram responsabilizados por infra-ções mais graves, principalmente roubo, roubo à mãoarmada e porte de drogas, apresentam maioreschances de já terem cumprido alguma medida deinternação. As demais variáveis incluídas no mode-lo não apresentaram significância estatística para ex-plicar o fato de o socioeducando estar ou não emprogressão de medida.

No segundo modelo estimado, quando fo-ram incluídas variáveis relativas ao elemento “afei-ção”, a magnitude e a significância estatística dosfatores relativos ao tipo de programa e tipo de in-fração cometida pelo adolescente se mantiveramsemelhantes ao padrão observado no primeiro mo-delo. Quanto às variáveis de “afeição” incluídas,apenas o bom relacionamento com a mãe e o fato dereceberem, às vezes, elogio dos amigos apresenta-ram significância estatística. Aqueles adolescentesque declaram ter um “bom relacionamento com amãe” têm chances 397% maiores de estar em pro-gressão de medida, quando comparados àqueles quenão têm um bom relacionamento com a mãe. Osadolescentes que, às vezes, recebem elogio dos ami-gos têm uma chance 64,5% menor de já ter cumpri-do medida de internação, quando comparados àque-les que nunca recebem elogio dos amigos.

O terceiro e quarto modelos estimados incluemvariáveis que operacionalizam, respectivamente, os con-ceitos de “comprometimento” e “envolvimento”. Emambos, os coeficientes das variáveis relativas ao pro-

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grama, à infração cometida, e ao elemento “afeição”comportaram-se de maneira semelhante aos mode-los anteriormente estimados. No entanto, as variá-veis relativas aos conceitos de “comprometimento”e “envolvimento” não possuem razões de chanceestatisticamente significativas.

Por fim, o último modelo, mais completo,inclui as variáveis referentes ao elemento “crença”ou “valores”. Os coeficientes estimados indicamque o indivíduo que acredita que o programa podeser importante para seu futuro tem uma chance68,9% menor de estar em progressão de medida,em comparação com aqueles que não acreditamem tal potencial do programa. Esse resultado con-firma a hipótese de que aqueles que apresentamcaracterísticas mais fortes do elemento “valores”ou “crença” têm menores chances de estar em pro-gressão de medida socioeducativa.

Observa-se que, portanto, os fatores maisrelevantes para explicar o fato de o adolescenteestar em progressão de medida incluem: estar vin-culado apenas ao programa Liberdade Assistida;ter sido responsabilizado pela prática de roubo,roubo à mão armada, porte de drogas ou lesão cor-poral; ter um bom relacionamento com a mãe; nãoreceber elogio dos amigos; e não acreditar que amedida à qual está vinculado para o cumprimentode sua pena trará benefícios à sua vida.

DISCUSSÃO

O artigo buscou analisar de que modo fato-res relacionados à teoria do controle social deHirschi (1969), controlados por fatores de caracte-rísticas pessoais e de tipo de infração praticada,podem explicar a responsabilização de adolescen-tes em conflito com a lei através de medidas deinternação ou apenas em meio aberto, no estadode Minas Gerais, Brasil. Os dados utilizados paraa análise não foram produzidos com a finalidadede operacionalizar os conceitos teóricos de Hirschi(1969). Portanto, o que aqui se buscou foi contri-buir para uma reflexão mais profunda sobre o con-texto de responsabilização de adolescentes em con-

flito com a lei, testando as hipóteses definidas ecumprindo o objetivo proposto.

A descrição dos resultados obtidos através dosmodelos de regressão logística estimados concentrou-se nas razões de chance que apresentam significânciaestatística. Contudo todos os coeficientes expostosnas Tabelas 4a e 4b devem também ser consideradosem termos de sua relevância sociológica.

A Hipótese 1 estabelecida neste trabalho,que admite o caráter mais grave das infrações co-metidas por adolescentes que estão em progressãode medida, ou seja, que já cumpriram algumamedida de internação, foi confirmada. Aqueles queforam responsabilizados pelas infrações de roubo,roubo à mão armada e posse de drogas são os queapresentaram maiores chances de estar em progres-são de medida. Já os socioeducandos que foramresponsabilizados por lesão corporal e uso de dro-gas têm menores chances de já ter cumprido medi-da de internação, diminuindo as chances de o indi-víduo estar em progressão de medida, respectiva-mente, em 94,6% e em 22%. Todas as razões dechance dessas infrações citadas foram estatisticamen-te significativas, com exceção de “uso de drogas”.Os coeficientes estimados para aqueles que pratica-ram tentativa de homicídio, homicídio, furto e por-te de armas também não são estatisticamente signi-ficativos. No entanto, os resultados indicam que hámaiores chances de adolescentes que praticaram taisinfrações estarem em progressão de medida, o quetambém corrobora a Hipótese 1.

Quanto à Hipótese 2, que trata da maiorexpressão de elementos de controle social naque-les indivíduos que apenas cumpriram medida emmeio aberto, a análise dos dados corroborou, emparte, tal hipótese. Inicialmente, as variáveis rela-tivas ao elemento “afeição” comportaram-se de acor-do com a hipótese, com exceção daquela que dizsobre o bom relacionamento com a mãe. Tal variá-vel, cuja razão de chance foi estatisticamente sig-nificativa em todos os modelos, indica que os ado-lescentes que têm um bom relacionamento comsua mãe têm maiores chances de estar em progres-são de medida, resultado que deve ser investigadode forma mais cuidadosa em estudos posteriores.

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Uma hipótese que se pode levantar de antemãorefere-se à possibilidade de que o adolescente in-frator que progride na medida socioeducativa, ouseja, que passa para outra de menor rigor, já apre-sente laços mais fortes com sua mãe, em compara-ção àqueles que apenas cumprem a medida deinternação, sem passar pela progressão de medi-da. Para medir tal resultado, seria importante umestudo cuja amostra inclua indivíduos tanto emcumprimento de medida de internação quanto emmeio aberto, de modo a avaliar, de fato, a diferençaem termos de “afeição” entre esses dois grupos.Quanto a esse resultado, pode-se também consi-derar que a ausência da figura paterna pode viracompanhada de uma maior propensão de o ado-lescente satisfazer necessidades materiais mater-nas, merecendo essa hipótese ser explorada emestudos posteriores.

Ainda dentro do elemento “afeição”, aque-les que sempre recebem elogios da família têmchances 51% menores de estar em progressão demedida, em comparação com aqueles que nuncarecebem elogios da família. Esse padrão se repetepara aqueles que, às vezes, recebem elogio da fa-mília, em comparação com os que nunca recebemtais elogios. Em relação aos adolescentes que ale-gam sempre receber elogios dos amigos, eles apre-sentam 30% a menos de chance de estar em pro-gressão de medida em comparação com os quenunca recebem elogios. Apesar de esses coeficien-tes não serem estatisticamente significativos, de-monstram-se relevantes e corroboram a hipótesedeste trabalho. Já os adolescentes que alegam que,às vezes, recebem elogios dos amigos, apresentamuma chance 64% menor de ter cumpridointernação, em comparação com os que nunca re-cebem elogios (dessa vez, observam-se razões dechance estatisticamente significativas em todos osmodelos estimados).

Dentro do elemento “comprometimento”, oscoeficientes das variáveis que indicam se osocioeducando estuda e se trabalha corroborarama hipótese, apesar do menor impacto do coeficien-te dessa última (o adolescente que estuda tem umachance 34,8% menor de estar em progressão de

medida, e o que trabalha, uma chance 7,4% me-nor). Já quanto à expectativa de escolaridade, oscoeficientes indicam que, apesar da pequena dife-rença, aqueles que esperam continuar estudandotêm uma chance 9,2% maior de estar em progres-são de medida. No entanto, nenhum desses coefi-cientes é estatisticamente significativo.

Os coeficientes das variáveis que buscamrepresentar o elemento “envolvimento”, além denão apresentarem significância estatística, não con-firmam a hipótese. Adolescentes que alegam nun-ca frequentar as atividades do programa têmchances 22,8% menores de estar em progressãode medida. De forma semelhante, aqueles que, àsvezes, participam das atividades do programa têmchances 26,6% menores de estar em progressãode medida. Observa-se que os adolescentes quesempre participam das atividades dos programassocioeducativos têm maiores chances de estar emprogressão de medida. Esse resultado, no entan-to, precisa ser investigado melhor, dado que asatividades referidas pela variável são oferecidas pelaprópria instituição, ou seja, pode haver um viésadvindo do controle social institucional exercidopelo programa. Uma hipótese que se levanta paratrabalhos futuros refere-se à possibilidade de que oindivíduo que quer progredir na medidasocioeducativa, ou seja, passar do meio fechado parao aberto, precise se envolver em atividades ofereci-das pelo programa. Desse modo, tendo já progredi-do para o meio aberto, continua participando dasatividades, com a finalidade de não mais regredirpara o meio fechado e poder finalizar o cumprimen-to da medida socioeducativa que lhe foi imposta.

Quanto ao elemento “valores”, a variávelutilizada, que trata da crença do indivíduo de queo programa trará benefícios a seu futuro, confir-mou a hipótese e é estatisticamente significativa.Assim, aqueles que acreditam que o programa possatrazer benefícios para sua vida têm uma chance68,9% menor de estar em progressão de medida,em comparação com aqueles que não acreditamem tal potencial do programa. Esse coeficiente con-firma a hipótese de que aqueles que apresentamcaracterísticas mais fortes do elemento “valores”

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ou “crença” têm menores chances de estar em pro-gressão de medida socioeducativa. No entanto,ressalta-se que esse resultado também pode estarrelacionado ao fato de a variável se referir a umacrença no próprio programa que o adolescentecumpre. De fato, a variável utilizada trata de umacrença em instituições, como indica a teoria. En-tretanto, trata-se também da própria instituição pormeio da qual o indivíduo está sendo responsabili-zado. Assim, o elemento “crença” poderia não ser,nesse caso, um fator que leva a uma menor chancede que o indivíduo incorra em infrações que le-vem a uma responsabilização por medida deinternação, mas sim um resultado do fato de terpassado, ou não, por um ou outro programa (pas-sar por internação ou somente pelos programasem meio aberto).

Os resultados estão em sintonia parcial coma teoria de Hirschi. Os jovens que estavam em re-gime de progressão de medida estavam submeti-dos, de forma menos intensa, a fatores de controlesocial, principalmente a “afeição”, o “comprometi-mento” e “valores/ crença”. Contudo, acreditamos,como Agnew (1985), que resultados mais consis-tentes podem ser obtidos por meio da realização deum estudo com dados longitudinais, produzidosem momentos diferentes, de modo a captar, de fato,possíveis relações causais entre características doselementos de controle social, em um primeiro mo-mento, e a forma de responsabilização a que o ado-lescente em conflito com a lei foi submetido.

Cabe, ainda, ressaltar uma limitação destetrabalho, relativa ao fato de a amostra desocioeducandos não ter sido composta de formaprobabilística. Então, os resultados estão sujeitosa um viés de autosseleção, uma vez que apenasforam utilizados para análise os questionários de-vidamente respondidos e devolvidos pelas insti-tuições de cumprimento de medidasocioeducativa. Desse modo, não se pretendeu fa-zer inferências para o conjunto total desocioeducandos em Minas Gerais no ano de 2009,mas sim verificar em que medida os dados dispo-níveis contribuem para problematizar esse contex-to a partir de proposições teóricas anteriormente

analisadas. Outros estudos apontam para a possi-bilidade de se trabalhar com amostras não aleatóri-as e para a potencialidade de análises que não sepautem somente no objetivo de fazer inferênciaspara o total de uma dada população (Castro;Anastasia; Nunes, 2009; Schrodt, 2010).

Além disso, os resultados devem ser pon-derados pela possibilidade de que alguns indiví-duos façam parte de comunidades ou grupos ondeos valores transmitidos, no âmbito familiar ou co-munitário, são opostos àqueles disseminados emesferas convencionais da sociedade. Para Zilli(2004), a violência advinda das práticas do tráficode drogas, por exemplo, tornou-se parteconstitutiva do arcabouço simbólico e cultural dosmoradores de algumas comunidades. As chama-das subculturas da violência envolvem comporta-mentos violentos que são apreendidos em um pro-cesso de identificação e associação. Assim, o re-curso ao uso da violência por determinado indiví-duo irá variar de acordo com o quanto ele absor-veu os valores culturais associados à violência(Wolfgang; Ferracuti apud Zilli, 2004). Se tal com-ponente subcultural estiver presente para algunscasos analisados neste trabalho, o elemento de“afeição” aos familiares ou aos pares, por exem-plo, pode ser um fator de estímulo à prática deatividades ilegais e desviantes, já que o indivíduobuscará satisfazer as expectativas de pais ou ami-gos cujas atividades mais valorizadas podem fugiraos padrões convencionais da sociedade ou se re-lacionarem à prática de crimes.

Recebido para publicação em 05 de janeiro de 2012

Aceito em 04 de julho de 2013

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INFORMAL SOCIAL CONTROL AND THEACCOUNTABILITY OF JUVENILE

OFFENDERS

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Explanations about criminality based onsocial control theories suggest that the weakeningof social bonds and the non-internalization of moralstandards increase the likelihood of delinquency.The goal of this study was to verify whetherjuvenile offenders participating in non-custodialsocio-educational programs, having or notpreviously served custodial sentences, displaydifferences in regard to the intensity with whichthey have been subjected to elements of informalsocial control. A survey applied to juvenilesparticipating in non-custodial socio-educationalprograms in Minas Gerais was used, with a sampleof 243 individuals. The analysis methodologyincluded descriptive statistics as well as theevaluation of binomial logistic regression models.The results indicated that the individualsparticipating in socio-educational programs – whoare more intensively subjected to certain socialcontrol factors – display a lower probability of beingin rehabilitation, that is, of having already serveda custodial sentence in the past.

KEY WORDS: Social control. Youth. Crime.

CONTRÔLE SOCIAL INFORMEL ETRESPONSABILISATION DE JEUNES

DÉLINQUANTS

Aline Nogueira Menezes MourãoAndréa Maria Silveira

Les analyses de la criminalité qui se fondentsur les théories du contrôle social défendent quel’appauvrissement des liens sociaux et la non-internationalisation des moeurs favorisent laperpétration de crimes. L’objectif de cette étude futde vérifier si de jeunes délinquants, qui font l’objetde mesures socio-éducatives en milieu noncarcéral, ayant ou non déjà fait l’objet de mesuresd’emprisonnement, présentent des différencesselon l’intensité de soumission aux facteursd’opération du contrôle social informel. Nous avonsréalisé une enquête sur des jeunes qui font l’objetde mesures socio-éducatives non carcérales dansl’Etat de Minas Gerais. Notre étude est composéed’un échantillon de 243 individus. Laméthodologie de l’analyse comprend l’estimationdes modèles de régression logistique binomiale.Les résultats ont démontré que les jeunes sousmesure sociale, soumis de forme intensive à desfacteurs déterminés de contrôle social, présententmoins de chance de progression de mesure.

MOTS-CLÉS: Contrôle social. Crime. Jeunesse.

Aline Nogueira Menezes Mourão – Mestranda em Criminologia na Universidade de Ottawa. Integrou oCentro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública CRISP/UFMG (2009 a 2012), participando depesquisas nas áreas de prevenção à violência e criminalidade. Tem experiência na área de Sociologia, comênfase em Sociologia do Crime, atuando principalmente nos seguintes temas: criminalidade, segurança,políticas públicas, controle social. Publicações recentes: The impact of payment source and Hospital Type on

Rising Cesarean Section Rates in Brazil, 1998 to 2008. In: Birth: Issues on Perinatal Care; Seguro-desempre-

go e formalidade no mercado de trabalho brasileiro. In: REBEP – Revista Brasileira de Estudos de População.

Andréa Maria Silveira – Doutora em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Minas Gerais Profes-sora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Federal de Minas Gerais. Integra oCentro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública CRISP/UFMG, desenvolvendo pesquisas na área deprevenção a violência e criminalidade. Suas mais recentes publicações, são: Effectiveness and Evaluation of

Crime Prevention Programs in Minas Gerais. Stability: International Journal of Security and Development, v.1, p. 1-18, 2014; Mapa das Mortes Violentas: uma perspectiva comparada na América Latina. Ciência Hoje,v. 51, p. 30-33, 2013

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