controle quÍmico de doenÇas do algodoeiro

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CONTROLE QUÍMICO DE DOENÇAS DO ALGODOEIRO Fabiano Victor Siqueri – Engº. Agr. Pesquisador da área de Proteção de Plantas. [email protected] Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso – FUNDAÇÃO MT. São relatados na literatura pelo menos 250 patógenos na cultura do algodoeiro, sendo mais de 90% fungos, 16 tipos de vírus, dois micoplasmas, 10 nematóides e uma bactéria. No Estado de Mato Grosso, duas das doenças fúngicas mais importantes são a ramulose, causada pelo fungo Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides e o Falso oídio ou mancha de ramularia, causada pelo fungo Ramularia areola, além de uma bacteriana, a mancha angular (Cia & Araújo, 1999) . A ocorrência de doenças sobre a cultura do algodoeiro vem aumentando ao longo dos últimos anos. Em geral as condições climáticas das regiões produtoras favorecem em geral a sua ocorrência, principalmente em Mato Grosso. Com isso, o manejo de doenças se tornou de suma importância para a manutenção do sucesso alcançado com a cultura em grandes extensões de área. As doenças podem afetar tanto a produção do algodoeiro como a qualidade da fibra e das sementes. Evidentemente os danos são proporcionais ao poder destrutivo de cada patógeno e à intensidade com que ocorre a doença. Entre os diversos fatores que limitam o rendimento do algodoeiro, as doenças ocupam lugar de destaque, e em alguns casos o prejuízo pode ser total. Embora de difícil mensuração, sabe-se que são grandes os prejuízos acarretados pela incidência das diversas doenças na cultura. Mesmo assim, a produtividade vem aumentando significativamente ao longo dos últimos anos, principalmente em Mato Grosso, passando de 215 @/ha na safra 01/02 para cerca de 239 @/ha na safra 04/05 (CONAB, 2005). Dentre as causas que podem ser apontadas para este visível aumento, são a melhoria do manejo cultural como um todo, o aumento da experiência com a cultura por parte dos envolvidos

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CONTROLE QUÍMICO DE DOENÇAS DO ALGODOEIRO

Fabiano Vic tor S iquer i – Engº . Agr . Pesquisador da área de Proteção de Plantas. fab ianos iquer [email protected] Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuár ia de Mato Grosso – FUNDAÇÃO MT.

São relatados na l i teratura pelo menos 250 patógenos na cul tura do

algodoeiro, sendo mais de 90% fungos, 16 t ipos de vírus, dois micoplasmas, 10 nematóides e uma bactér ia. No Estado de Mato Grosso, duas das doenças fúngicas mais importantes são a ramulose, causada pelo fungo Col letotr ichum gossypi i var. cephalospor io ides e o Falso oídio ou mancha de ramular ia, causada pelo fungo Ramular ia areola, além de uma bacter iana, a mancha angular (Cia & Araújo, 1999) .

A ocorrência de doenças sobre a cul tura do algodoeiro vem aumentando ao longo dos úl t imos anos. Em geral as condições c l imát icas das regiões produtoras favorecem em geral a sua ocorrência, pr incipalmente em Mato Grosso. Com isso, o manejo de doenças se tornou de suma importância para a manutenção do sucesso alcançado com a cultura em grandes extensões de área.

As doenças podem afetar tanto a produção do algodoeiro como a qual idade da f ibra e das sementes. Evidentemente os danos são proporcionais ao poder destrut ivo de cada patógeno e à intensidade com que ocorre a doença.

Entre os diversos fatores que l imi tam o rendimento do algodoeiro, as doenças ocupam lugar de destaque, e em alguns casos o prejuízo pode ser tota l . Embora de di f íc i l mensuração, sabe-se que são grandes os prejuízos acarretados pela incidência das diversas doenças na cultura.

Mesmo assim, a produt iv idade vem aumentando signi f icat ivamente ao longo dos úl t imos anos, pr incipalmente em Mato Grosso, passando de 215 @/ha na safra 01/02 para cerca de 239 @/ha na safra 04/05 (CONAB, 2005). Dentre as causas que podem ser apontadas para este v isível aumento, são a melhor ia do manejo cul tural como um todo, o aumento da exper iência com a cultura por parte dos envolv idos

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tecnicamente com ela, e, sem dúvida, o correto manejo integrado de doenças. Sabe-se que o método mais econômico e seguro de controle de doenças é o emprego de cul t ivares resistentes. Todavia, nem sempre existem fatores de resistência disponíveis para determinado patógeno, ou, quando isso ocorre, o mater ia l pode não apresentar resistência múlt ip la às pr incipais doenças que ocorrem em determinada região (Tabela 1). Tabela 1 - Resistência de cul t ivares de algodoeiro às doenças, Fundação MT,

2005. Reação as Doenças Cultivares Empresa VIR RLE RLA BACT ALT

CNPA ITA90-2 EMBRAPA S MS MR S MR BRS Aroeira EMBRAPA R R MR MS R BRS Sucupira EMBRAPA R R MS MR MR BRS Cedro EMBRAPA R S S S - DP ACALA 90 Delta Pine S MS MR S MR Delta Opal Delta Pine R S S R MR Sure Grow 821 Delta Pine S MS S S MR Delta Penta Delta Pine MS S S MS - MAKINA Syngenta S MR MR AS - FABRIKA Syngenta S S MR MS - FIBERMAX 966 Bayer MS MS MR R - COODETEC 406 Coodetec R MS MS R S COODETEC 407 Coodetec MS MR MR R R FMT-701 FMT R MR MR R MR FMT-702 FMT R MR MR R MR FMT-501 FMT R MS MS R MR RLE= Ramulose ; V IR= V i rose “Doença Azu l ” ; BACT= Xanthomonas axonopod is ; ALT= A l ternar ia sp ; RLA= Ramulár ia .

No caso do Mato Grosso, as pr incipais doenças que necessi tam de

complemento químico para o seu controle são a ramulose (Col letotr ichum gossypi i

var. cephalospor io ides ) , mancha de ramular ia (Ramular ia areola ) e, em alguns casos, a mancha angular (Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum ) . Estas

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doenças estão entre as mais importantes para o Estado (Tabela 2) . Dentre as medidas de controle recomendadas para a mancha angular , as cul turais são as mais indicadas. Porém, há a demanda por parte dos produtores por informações sobre a v iabi l idade do controle químico, devido à var iedade mais plantada no Estado (Del ta Pine Acala 90/ ITA 90) ser susceptível, ocasionando o aumento da incidência desta doença nos úl t imos anos. Tabela 2 – Importância de algumas doenças por Estados produtores de algodão*.

Estados Produtores Doença PR SP MG/GO MT MS Murcha de fusar ium 4 5 3 1 2 Nematóides 4 5 4 2 2 Mancha angular 4 3 3 4 3 Ramulose 4 3 4 5 4 Outras manchas (ramular ia) 3 3 4 5 4 Mosaico das nervuras 4 3 4 5 5 Podr idão de maçãs 2 2 3 4 4 Murchamento avermelhado 3 3 3 3 3

* Escala de notas: 1-sem impor tânc ia ; 2-pequena imor tânc ia ; 3-mediananmente impor tante, necess i tando precauções e es tudos; 4- impor tante, demandando medidas de cont ro le ; e 5-mui to impor tante, inv iab i l izando a cu l tura se não houver cont ro le . Fonte: C ia & Fuzat to (2000) .

Nessas condições, devem ser adotadas medidas complementares, v isando atenuar ou prevenir os danos ocasionados. Entre estas medidas destacam-se: a prof i lax ia, o controle cul tural e o controle químico.

Pensando-se em um manejo químico para as doenças que atacam o algodoeiro, é necessár io que se observe alguns i tens para a obtenção de um resultado sat is fatór io, como por exemplo histór ico da ocorrência de doenças na região, conhecimento da et io logia dos agentes causais destas doenças foco (disseminação, t ransmissão, etc.) e a real ização das apl icações no momento adequado. Apesar de não exist i r a inda um “nível de controle” determinado pela pesquisa of ic ia l para que se faça a 1ª apl icação, nem a sua repet ição, exper imentos real izados pela Fundação MT vêm mostrando consis tentemente que além do monitoramento da lavoura por parte de técnicos bem tre inados, é essencial que se

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real ize apl icações de produtos ef icazes, com níveis ainda baixos das doenças no campo. Esta estratégia tem se mostrado bastante sat isfatór ia, pr incipalmente para ramulose e mancha de ramular ia. Para ramulose, estes níveis se caracter izar iam como ocorrência de mancha “estre lada” em poucas reboleiras no ta lhão. Para ramular ia, a presença de poucas lesões (menos de 5 % de área fo l iar atacada) da doença no baixeiro da planta ser ia o momento mais indicado para o iníc io do controle. No caso da bacter iose, é necessár io que se faça, a lém das medidas cul turais e prof i lát icas, como uso de sementes sadias, t ratamento de sementes e rotação de cul turas, t ratamento fo l iar prevent ivo com produtos específ icos, protetores e erradicantes.

Doenças fúngicas secundár ias, que vem atacando a cul tura de maneira errát ica nos úl t imos anos, como mirotécio (Myrothecium ror idum ) , ferrugem (Phakopsora gossypi i) e mela (Rhizoctonia solani ) , quando aparecerem e não forem controladas pelas medidas adotadas para as doenças mais importantes, deverão ser t ratadas especif icamente.

Mui tos produtos vem sendo lançados ou posic ionados por parte da indústr ia de agroquímicos para o contro le de doenças na cul tura do algodoeiro. Até a safra 2002/2003 basicamente os produtos ut i l izados para o controle de ramulose eram os mesmos que controlavam sat isfator iamente também a mancha de ramular ia, com exceção dos t r iazóis, que não possuem boa ef ic iência para ramulose. Desde então, em exper imentos, e também em lavouras comercia is, vem se constatando, com muita f reqüência, uma queda de performance das estrobi lur inas no controle da mancha de ramular ia, no iníc io na região de Campo Verde, e em exper imentos real izados nesta safra, ver i f icou-se que na região da Serra da Petrovina também estes produtos não at ingiram a ef icácia de anos anter iores no controle da doença. Estudos real izados há 3 safras demonstram claramente isso. Na úl t ima safra (2004/2005) fo i desenvolv ido, em parcer ia com o IAPAR e apoio f inanceiro do FACUAL (Fundo de Apoio à cul tura do algodão), um Projeto para ident i f icação de um possível mutante resistente às estrobi lur inas do fungo Ramular ia areola presente nas lavouras do Mato Grosso.

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Entre os produtos mais indicados para o controle da mancha de ramular ia encontram-se os t r iazóis, como di fenoconazole, tetraconazole, f lut r iafo l e tebuconazole pr incipalmente; os benzimidazóis, como carbendazim e t iofanato metí i l ico, isolados ou em combinação com os estano orgânicos, como o t r i feni l acetato de estanho.

Para ramulose, as estrobi lur inas, como azoxystrobin, pyraclostrobin e t r i f loxystrobin, puras ou em combinações com tr iazóis, e os benzimidazóis, como carbendazim e t iofanato metí i l ico, isolados ou em combinação com os estano orgânicos, como o t r i feni l acetato de estanho, tem se mostrado como ferramentas muito ef ic ientes no controle desta doença.

Sempre se recomenda, independentemente da doença “chave”, que se efetue a rotação de grupos químicos no programa de apl icação, v isando a prevenção da resistência.

No controle da mancha angular ou bacter iose, resultados muito díspares tem sido encontrados em exper imentos. A resposta ao contro le químico var ia conforme o local , a var iedade e o ano agrícola. De um modo geral, os maiores danos são causados através de diminuição de área fo l iar das plantas, seja através de manchas nas fo lhas ou através de queda das mesmas (“b lack arm”) , e também por apodrecimentos de estruturas reprodut ivas, pr incipalmente maçãs. Apl icações de produtos à base de cobre, em doses baixas, em intervalos curtos, de 7 a 10 dias, prevent ivamente, combinados com apl icações de ant ib iót icos (entre uma e duas) vem sendo prát ica corr iqueira em lavouras comercia is, dando resul tados re lat ivamente sat is fatór ios.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS O controle químico de doenças fúngicas e bacter ianas deverá ser o úl t imo

recurso a ser ut i l izado no manejo de doenças no algodoeiro; O monitoramento através de inspeções no campo é essencial no sucesso do

controle químico de doenças do algodoeiro; Devido a ramular ia e a ramulose, na maior ia dos casos, ocorrerem

concomitantemente, produtos ou combinações de produtos que tenham boa performance para as duas doenças deverão ser ut i l izados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CIA, E. ; ARAÚJO, A.E. Doenças do algodoeiro. In: Mato Grosso Liderança e

competit ividade . Rondonópol is , 1999. p. 100-112. (Fundação MT/EMBRAPA, Boletim, 03).

CIA, E. ; FUZATTO, M. G. Doenças da cultura do algodoeiro no Brasi l . In: Anais do I CONGRESSO INTERNACIONAL DO AGRONEGÓCIO DO ALGODÃO/V SEMINÁRIO ESTADUAL DA CULTURA DO ALGODÃO, 2000, Cuiabá. I CONGRESSO INTERNACIONAL DO AGRONEGÓCIO DO ALGODÃO/V SEMINÁRIO ESTADUAL DA CULTURA DO ALGODÃO , Cuiabá: Fundação Mato Grosso, 2000. p. 175-187.